Identidade e Obra Do Espírito Santo No Novo Testamento

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REVERENDO

JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO


JOHN HEBERT DOS SANTOS FIDELIS

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO DE ACORDO COM O NOVO


TESTAMENTO

Trabalho apresentado atendendo as exigências


da matéria Teologia Bíblica do Novo
Testamento. Prof. Rev. Jair de Almeida.

São Paulo
2024
2

SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 2

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3

1. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO DE ACORDO COM O NOVO TESTAMENTO ........ 4

1.1. A natureza do Espírito Santo ...................................................................................... 4

1.2. O papel do Espírito Santo ........................................................................................... 6

1.3. A missão do Espírito Santo......................................................................................... 8

1.4. A relação do Espírito Santo e a Igreja ...................................................................... 10

1.5. A promessa contínua do Espírito Santo .................................................................... 11

1.6. O Espírito Santo na Redenção .................................................................................. 12

2. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 13

3. BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 14
3

INTRODUÇÃO

De fato, essa comprovação franca e objetiva da Palavra devia ser fartamente suficiente
para produzir a fé, se não fosse impedida por nossa cegueira e obstinação. Na verdade,
tal é a propensão de nossa mente para as coisas inúteis que ela não pode jamais
aproximar-se da verdade de Deus; tal é sua ignorância que sempre se faz cega à sua luz.
Consequentemente, a Palavra sem a iluminação do Espírito Santo torna-se sem efeito.
De onde também se faz claro que a fé é muito superior ao entendimento humano. E não
bastará que a mente tenha sido iluminada pelo Espírito de Deus, mas que também o
coração seja fortificado e sustentado pelo seu poder.1

O presente artigo, portanto, tem como objetivo explorar de forma resumida a obra do
Espírito Santo de acordo com o Novo Testamento.

Serão examinadas as funções e ações do Espírito Santo, destacando seu papel na


redenção, na edificação da igreja e na vida do crente. Além disso, será abordada a importância
da dependência contínua no Espírito Santo como uma das Pessoas da Trindade.

Em suma, como será visto de forma breve a seguir, o Novo Testamento revela uma
imagem rica e multiforme do Espírito Santo.

1 Calvino, Institutas, III.2.33.


4

1. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO DE ACORDO COM O


NOVO TESTAMENTO

1.1. A natureza do Espírito Santo


O primeiro ponto a ser considerado é a natureza do Espírito Santo como uma Pessoa
Divina coeterna com o Pai e o Filho. O Espírito Santo do hebraico rûah, e do grego pneuma to
hagion, refere-se como uma das três Pessoas da Trindade, juntamente com o Pai e o Filho. Isso
significa dizer, portanto, que o Espírito Santo é desde toda a eternidade, em igualdade com o
Pai e o Filho. Ele não é uma das criações, mas coexiste eternamente com as outras Pessoas da
Trindade. O Espírito Santo participou do ato da criação do universo (Gn 1.2; Jó 26.13).

No entanto, há debates sobre a doutrina bíblica da Trindade que teve o seu


desenvolvimento gradativo na história da Igreja

As controvérsias que se originaram ao longo dos quatro primeiros séculos diziam


respeito principalmente ao Filho. Em 325 d.C., o Concílio de Niceia declarou apenas o
seguinte acerca da terceira pessoa da Trindade “E cremos no Espírito Santo”. Em 381
d.C., o segundo Concílio de Constantinopla acrescentou “Senhor e Doador da vida, que
procede do Pai e com o Filho e que falou por meio dos profetas”. Em 589 d.C., o terceiro
Sínodo de Toledo acrescentou “filioque” (“e o Filho”), de modo a afirmar que o Espírito
Santo procede não apenas do Pai, mas também do Filho. Essa foi a principal causa de
cisão entre a igreja ocidental e oriental, uma vez que a primeira afirmava, enquanto a
última negava, que o Espírito Santo procede tanto do Pai quanto do Filho. 2

Nesse sentido, independentemente dos debates ao longo da história, conforme o Novo


Testamento, podemos observar que há evidências da Trindade. Berkhof comenta que

É perfeitamente natural que as provas neotestamentárias fossem mais claras que as do


Antigo Testamento, uma vez que ele registra a encarnação do Filho de Deus e o
derramamento do Espírito Santo. Há diversas passagens em que as três pessoas são
expressamente mencionadas, como no batismo de Jesus (Lc 3.21-22), nos sermões de

2 UNGER, Merril F. Dicionário Bíblico Unger. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, p.412.
5

despedida de Jesus (Jo 14.16), na grande comissão (Mt 28.19), na bênção apostólica
(2Co 13.13), e também em outras passagens (p.ex., Lc 1.35; 1Co 12.4-6 e 1Pe 1.2).3

Portanto, embora o Espírito Santo seja distinto do Pai e do Filho em Sua pessoa, Ele não
pode ser separado deles em Sua obra e essência. Agostinho de Hipona comenta que “o Espírito
Santo procede principalmente do Pai, pelo dom que o Pai fez ao Filho [...], e conjuntamente
procede de ambos”.4 As três Pessoas da Trindade, portanto, são uma só essência divina e
trabalham juntas em perfeita harmonia (Jo 15.26; 14.26; 16.13-15; Fp 1.19; At 11.15-17).
Alister MacGrath comenta que

Uma das razões pelas quais tantos cristãos permanecem intrigados com a doutrina da
Trindade é porque estão presos a um modelo resumido da visão de Deus. Mas o
verdadeiro Deus é indomável – ele é um Deus que alarga nossa mente e estimula o nosso
coração em louvor e adoração. É por isso que o culto é uma parte tão importante da vida
cristã. Ele nos recorda que Deus é mais do uma ideia – muitíssimo mais. O Deus vivo e
amoroso incendeia nosso coração, razão e imaginação.5

A compreensão do Espírito Santo como uma Pessoa Divina é crucial pois nos permite
entender que Ele não é uma força impessoal ou simplesmente uma influência, mas é Deus em
Sua plenitude, com vontade, inteligência e poder divinos (At 5.3-4; 28.25-27; Hb 9.14; 1 Co
2.11; 12.11; Hb 9.14).

De acordo com Wayne Grudem “o fato de que Deus é três pessoas significa que o Pai
não é o Filho; eles são pessoas distintas. Significa que o Pai não é o Espírito Santo – eles são
pessoas distintas -, além de indicar que o Filho não é o Espírito Santo”.6 Não apenas isso, o
Espírito Santo também é uma Pessoa. De acordo com o Novo Testamento, o Espírito Santo é
qualificado como uma Pessoa. Berkhof comenta que

[...] ele é claramente designado como pessoa (Jo 14.16,17-26; 15.26; 16.7-15; Rm 8.26).
Características pessoais lhe são atribuídas, tais como inteligência (Jo 14.26; 15.26; Rm
8.16), afeição (Is 63.10; Ef 4.30), e vontade (At 16.7; 1Co 12.11). Além disso, ele
executa atos próprios de uma pessoa, como falar, sondar, testificar, mandar, revelar, agir
no homem, interceder (Gn 1.2; 6.3; Lc 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; At 8.29; 13.2; Rm
8.11; 1Co 2.10-11). Finalmente, há passagens em que o Espírito Santo é distinto de seu
próprio poder (Lc 1.35; 4.14; At 10.38; Rm 15.13; 1Co 2.4).7

3 BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã (Portuguese Edition) (p. 76). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
4 AGOSTINHO, A Trindade, 15.26.47, p. 550 Apud FERREIRA, Franklin. Agostinho de A a Z / Franklin Ferreira – São Paulo:
Editora Vida, 2007, p. 96.
5 MACGRATH, Alister. A fé e os credos. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 60.
6 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática ao alcance de todos / Wayne Grudem; tradução de Maurício Bezerra Santos Silva.

– 1.ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019, p. 53.


7 BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã (Portuguese Edition) (p. 80). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
6

Ele é descrito com atributos e ações que são características de uma Pessoa. Conforme o
Novo Testamento o Espírito Santo tem vontades, inteligência, autoconsciência, liberdade,
desejos e sentimentos (Mt 12.31-32; At 7.51; 1 Co 2.10; 12.11; Ef 4.30; 1 Ts 5.19). John Frame
destaca que “[...] o Espírito é uma pessoa divina, não uma força impessoal. Isso é óbvio para a
maioria de nós à medida que lemos a Bíblia, mas algumas seitas tentam negar que o Espírito
seja uma pessoa. Acreditam que o Espírito é uma coisa, não um ser pessoal; um tipo de força
ou poder de Deus, mas não uma pessoa”.8

1.2. O papel do Espírito Santo


De início, é importante destacar que foi o Espírito Santo quem inspirou os autores do
Novo Testamento. Toda a Escritura foi dada por inspiração de Deus por meio do Espírito Santo.
John Frame comenta que

Os escritores do Novo Testamento frequentemente citam palavras do Antigo Testamento


como palavras de Deus ou do Espírito Santo (Mt 15.4; Hb 1.5ss; 3.7; 5.6; 7.21; etc.).
Paulo fala de suas próprias palavras como palavras ensinadas pelo Espírito (1Co 2.13),
e afirma que Cristo está falando nele (2Co 13.3). Sua mensagem aos tessalonicenses é
a palavra de Deus (1Ts 2.13). E, finalmente, ele diz na passagem clássica sobre a
inspiração: “Toda a Escritura [referindo-se aos escritos sagrados do Antigo Testamento
dos quais fala no parágrafo anterior] é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça (2Tm 3.16).9

Os autores do Novo Testamento, portanto, falaram inspirados pelo Espírito Santo.


Podemos destacar também que o Espírito Santo desempenhou um papel importante na vida e
obra de Jesus. Essa verdade pode ser identificada facilmente nos evangelhos sinópticos. George
Eldon Ladd comenta que

Mateus (1:8) e Lucas (1:35) atribuem o nascimento de Jesus ao poder criador do Espírito
Santo. Todos os três Evangelhos relatam a pregação de João Batista, de que o batismo
com o Espírito Santo seria uma missão do que havia de vir (Mc 1:8). Todos os
Evangelhos relatam o batismo de Jesus e a descida do Espírito Santo “como pomba”.
Todos os três Evangelhos relatam que o Espírito conduziu ao deserto por um período de
quarenta dias. Mateus declara que o poder de Jesus sobre os espíritos malignos lhe fora
dado pelo Espírito Santo (Mt 12:20); os outros dois Evangelhos deixam esse aspecto
implícito, ao preservarem a declaração sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. Muito
embora isso aconteça em contextos diferentes, Mateus (12:18) e Lucas (4:18) apontam
para o cumprimento da profecia de que o Messias seria dotado com o Espírito. Lucas
cita uma promessa de que o Pai dará o Espírito aos discípulos de Jesus (Lc 11:13).
Ambos, Mateus (10:20) e Lucas (12:12), preservam uma importante declaração de que,
quando os discípulos de Jesus se defrontassem com a perseguição formal, não deveriam
preocupar-se com o que haveria de dizer, pois “na mesma hora vos ensinará o Espírito

8 FRAME, John. Teologia Sistemática (volume 2) (Portuguese Edition) (p. 429). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
(Itálicos do autor).
9 BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã (Portuguese Edition) (pp. 42-43). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
7

Santo o que vos convenha falar” (Lc 12:12). Marcos preserva a essência dessa
declaração no Sermão do Monte (Mc 13:11).10

Em suma, podemos dizer que “os Sinópticos concordam que Jesus foi dotado pelo
Espírito, a fim de cumprir sua missão messiânica, e que esta missão incluía uma doação geral
do Espírito, e que seus discípulos seriam capacitados pelo Espírito para fazer frente a quaisquer
dificuldades que pudessem encontrar”.11

O Espírito Santo, portanto, atuou ativamente no ministério de Jesus. Isso é verdade não
apenas nos Evangelhos Sinópticos, mas também no Evangelho de João. De acordo com o
Evangelho de João “[...] Jesus desenvolveu a sua missão no poder do Espírito pelo fato de que,
após sua ressurreição, Ele conferiu o Espírito Santo aos discípulos, a fim de equipá-los para o
ministério, que envolvia o perdão dos pecados dos homens”.12

De acordo com o Novo Testamento, é ele quem revela a verdade divina (Jo 14.26; 16.13;
1 Co 2.10-13). O Espírito Santo foi prometido por Jesus antes de Sua ascensão e foi enviado
pelo Pai e pelo Filho para estar presente na vida dos crentes. Isso é evidenciado na passagem
bíblica em João 3.5-6 e 14.16-17. O Espírito Santo é responsável pela regeneração espiritual
dos crentes, tornando-os novas criaturas em Cristo e concedendo-lhes vida espiritual (Tt 3.5).

O Novo Testamento também destaca que o Espírito Santo desempenha uma variedade
de funções fundamentais. Ele é enviado pelo Pai e pelo Filho como Consolador e Auxiliador. É
ele quem ilumina a verdade das Escrituras no coração dos crentes. O pastor e reformador de
Genebra João Calvino comenta que

[...] o testemunho do Espírito é superior a toda razão. Ora, assim como somente Deus é
testemunha idônea de si mesmo em sua Palavra, também assim a Palavra não produzirá
fé nos corações humanos antes que, neles, seja selada pelo testemunho interior do
Espírito. Portanto, é necessário que o mesmo Espírito que falou pela dos profetas
penetre em nosso coração, para que nos persuada de que eles proclamaram fielmente o
que lhes foi divinamente ordenado [...] aqueles a quem o Espírito Santo interiormente
ensinou aceitam firmemente à Escritura.13

10 LADD, George Eldon, 1911. Teologia do Novo Testamento. Tradução: Degmar Ribas Júnior. São Paulo: Hagnos, 2003, p.
417.
11 LADD, George Eldon, 1911. Teologia do Novo Testamento, p. 417.
12 Ibidem, p. 418.
13 Calvino, Institutas, I.7.4,5.
8

O Espírito Santo, portanto, é quem aplica as verdades bíblicas no coração do crente. Ele
regenera, vivifica, santifica e capacita os crentes a viverem e a testemunharem a Palavra de
Deus. Outras atividades podem ser atribuídas ao Espírito Santo. De acordo com Wayne Grudem

Outras atividades pessoais são atribuídas ao Espírito Santo, como ensinar (João 14.26),
testemunhar (Romanos 8.26-27), sondar as profundezas de Deus (1Coríntios 2.10),
conhecer os pensamentos de Deus (1Coríntios 2.11), proibir ou não permitir certas
atividades (Atos 16.6-7), falar (Atos 8.29; 13.2), avaliar e aprovar um plano de ação
sábio (Atos 15.28) e se entristecer com o pecado na vida dos cristãos (Efésios 4.30). 14

Em conclusão, o Espírito Santo santifica os crentes, transformando de forma gradual


suas vidas para que se tornarem cada vez mais semelhantes a Cristo e a produzirem o fruto do
Espírito (At 2.17; Gl 5.22-23; 1 Co 2.4). Ele testemunha de Cristo, apontando os crentes para
Cristo como Salvador e Senhor (Jo 15.26). Ele também convence o mundo do pecado, da justiça
e do juízo (João 16.8-13; Rm 8.14-16; 1 Co 6.19; 2 Co 3.17,18). O Espírito Santo também é
chamado de “Espírito”, “Espírito do Senhor”, “Espírito Santo de Deus” ou “Espírito Santo de
Jesus Cristo” de acordo com alguns textos como Mateus 3.16, Lucas 4.18, João 14.17, Atos
5.19 e Filipenses 1.19.

1.3. A missão do Espírito Santo


Conforme o Novo Testamento, Ele realiza uma missão especial em todos aqueles que
passam a crer em Cristo. Nesse sentido, é importante destacar que é o Espírito Santo quem
convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo, revelando a necessidade da salvação em
Cristo e a justiça que Ele proporciona (João 16.8-11). Eldon Ladd destaca que

Nessa passagem, o Senhor está descrevendo de que forma o Espírito Santo operará por
intermédio do ministério de seus discípulos no mundo, à medida que proclamarem a
verdade como revelada na pessoa de Jesus. Por si mesmos, a palavra deles será somente
uma palavra humana; mas, se dotada de poder pelo Espírito, ela terá o poder de
convencer o homem de certas realidades espirituais. Essa palavra convencerá o mundo
do pecado, porque o maior de todos os pecados é o da incredulidade, que levou Jesus à
cruz. O mundo coloca sua confiança nas boas obras do homem; mas o Espírito o
convencerá do maior de todos os pecados. Ele convencerá os homens de que Jesus fora
de fato o justo, como Deus é justo (17:25). Embora tenha sido condenado pelos judeus
como blasfemo e crucificado por Pilatos de ostensivo, sob acusação de sedição política,
sua ressurreição e ascensão vindicarão sua afirmação de ser o Santo de Deus (6:69). “A
volta para o Pai é o imprimátur de Deus sobre a justiça manifestada na vida e na morte
de seu Filho”. O mundo também será convencido quando for confrontado pela
proclamação do significado da cruz e da ressurreição no sentido de que Deus não ignora
o pecado, de que o pecado não tem a última palavra. A morte de Cristo, na verdade,
significou a derrota do príncipe deste mundo, e trouxe consigo a segurança de que

14 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática ao alcance de todos, p. 155.


9

haverá um dia de julgamento, quando não apenas o príncipe deste mundo, mas o próprio
mundo será julgado”.15

Portanto, com a sua atuação, Ele destrói o poder de pecado e capacita os cristãos para a
obediência. Sobre isso, Louis Berkhof diz que

Com a sua operação especial, o Espírito Santo sobrepuja e destrói o poder do pecado,
renova o homem à imagem de Deus e o capacita a prestar obediência espiritual a Deus,
a ser sal da terra, a luz do mundo e um fermento espiritual em todas as esferas da vida.
Enquanto a obra que o Espírito Santo realiza na esfera da criação tem, sem dúvida, certa
significação independente, todavia, está subordinada à obra de redenção. A vida
completa dos eleitos, incluindo a que precede ao seu novo nascimento, é determinada e
governada por Deus, com vistas ao seu destino final. Sua vida natural é ordenada de
modo tal que, quando renovada, corresponde ao propósito de Deus. 16

O Espírito Santo aplica a salvação na vida dos crentes integrando-os no corpo de Cristo,
tornando-os membros vivos da igreja triunfante (1 Co 12.13; Rm 6.3-4). O Espírito Santo habita
nos crentes individualmente, sendo o selo e a garantia da salvação, bem como o guia e
consolador (Jo 14.17; Rm 8.9-14; 1 Co 6.19-20; Ef 1.13-14). Ele sela os crentes guardando-os
para o dia da redenção (Ef 4.30).

Quem produz o fruto de santidade na vida dos crentes é o Espírito Santo. Tal fruto se
manifesta no amor, na alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fé, mansidão e domínio
próprio (Gl 5.22-23). Não só, ele concede dons espirituais aos crentes para a edificação da igreja
e o cumprimento do ministério. Esses dons incluem coisas como profecia, ensino, cura e outros
(1 Co 12.4-11). Em geral, podemos dizer que

[...] é tarefa especial do Espírito levar a obra de Deus à conclusão, tanto na criação como
na redenção. Na esfera natural, ele gera a vida e põe assim o toque final na obra da
criação (Gn 1.3; Jó 26.13; Sl 33.6; 104.30); e ele inspira e qualifica os homens para
tarefas especiais (Êx 28.3; 31.2-3,6; 35.35; 1Sm 11.6; 16.13-14). E, na esfera da
redenção, prepara e qualifica Cristo para a obra redentora (Lc 1.35; 3.22; Jo 3.34; Hb
10.5-7). Ele inspira a Escritura (1Co 2.13; 2Pe 1.21), forma e aumenta a igreja, habita
nela como o princípio da nova vida (Ef 1.22-23; 2.22; 1Co 3.16; 12.4ss), e ensina e guia
a igreja, conduzindo-a em toda a verdade (Jo 14.26; 15.26; 16.13-14; At 5.32; Hb 10.15;
1Jo 2.27).17

15 LADD, George Eldon, 1911. Teologia do Novo Testamento. Tradução: Degmar Ribas Júnior. São Paulo: Hagnos, 2003, p.
427.
16 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
17 BERKHOF, Louis. Manual de doutrina cristã (Portuguese Edition) (p. 81). Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
10

1.4. A relação do Espírito Santo e a Igreja


De acordo com o Novo Testamento, o Espírito Santo capacita os crentes a
testemunharem de Cristo, edifica, orienta e fornece direção para a igreja e promove a unidade
do Corpo. Além disso, Eldon Ladd enfatiza que

O caráter escatológico da igreja é visto no fato de que a igreja é criada pelo Espírito
Santo [...] Foi a vinda do Espírito escatológico na História que criou a igreja. A igreja
é, portanto, o produto dos poderes do século futuro. Ao mesmo tempo que o Espírito
Santo opera diversamente na igreja, concedendo diferentes dons a diferentes indivíduos
(1 Co 12:7), Ele próprio é possessão de todos os crentes. Pedro disse no dia de
Pentecostes que todos os que se arrependem e são batizados recebem o dom do Espírito
Santo (At 2:38); genitivo apositivo). Paulo afirma que a posse do Espírito Santo é
necessária para pertencermos a Cristo (Rm 8:9). Embora Paulo coloque uma grande
ênfase na obra do Espírito na experiência cristã individual, isso também tem um lado
corporativo: é a obra do Espírito Santo para criar a igreja. “Pois todos nós fomos
batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos,
quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1 Co 12:13) [...] No pensamento do
Novo Testamento, não pode haver algo como um crente isolado – um cristão que
permaneça afastado de outros cristãos. Quando cremos em Cristo, tornamo-nos
membros do corpo de Cristo; unimo-nos ao próprio Cristo e, portanto, a todos os outros
que estão em união com Cristo constituem seu corpo [...] O Espírito Santo foi dado pelo
Cristo exaltado para formar um novo povo na História, que constitua o seu corpo”.18

Nesse sentido, é importante destacar que, ainda de acordo com Ladd “o caráter
escatológico desse novo povo traz consigo o fato de atravessar nossas estruturas sociológicas
humanas. Não importa a raça; não importa a posição social; pelo batismo no Espírito todos os
tipos de pessoas são igualmente membros do corpo de Cristo, porque todos experimentamos o
derramamento escatológico do Espírito”.19

Portanto, o Espírito Santo capacita os crentes a proclamar o evangelho com poder e


verdade e comunhão. Ele também concede coragem para compartilhar a mensagem de salvação
(At 1.8). O Espírito Santo é ativo na edificação e condução da igreja, fortalecendo os crentes
em sua fé, ensinando-os e equipando-os para o serviço, habitando nela (At 2.4; Rm 8.9,11; 1
Co 3.16; Gl 4.6; Ef 2.22; Tg 4.5). Ele concede dons espirituais para a edificação mútua dos
membros do corpo de Cristo (1 Co 14.26).

Sobre esse ponto, Herman Bavinck comenta que “embora o Espírito Santo seja, nesse
sentido, dado, enviado ou derramado pelo Pai e pelo Filho, ele frequentemente aparece como

18 LADD, George Eldon, 1911. Teologia do Novo Testamento. pp. 726, 727.
19 Ibidem, p. 727.
11

um poder ou um dom que qualifica os homens para realizar seu chamado ou ofício”. 20 Ele é o
vínculo de paz que une os crentes como um só corpo (Ef 4.3).

Berkhof comenta que “o Espírito Santo dá testemunho de Cristo e guia a Igreja em toda
verdade. Em fazendo isso, ele manifesta a glória de Deus e de Cristo, aumenta o nosso
conhecimento do Salvador, livra de erro a Igreja e a prepara para o seu destino eterno”.21 O
Espírito Santo guia a igreja em sua missão e ministério. Ele dá discernimento e direção, muitas
vezes por meio da liderança espiritual, para tomar decisões sábias e alinhadas com a vontade
de Deus (Jo 16.1-15; At 13.2).

Essa relação do Espírito Santo com a igreja é essencial para o funcionamento e o


crescimento saudável da Igreja. Pois ele capacita os crentes individualmente e a Igreja como
um todo a cumprir a Grande Comissão de fazer discípulos e levar o evangelho a todas as nações.

1.5. A promessa contínua do Espírito Santo


Conforme o Novo Testamento, a presença do Espírito Santo é constante sendo
representado como penhor, selo e garantia de que os crentes participarão da redenção (2 Co
1.22; 5.5; Ef 1.13-14; 4.30). Os crentes são incentivados a depender continuamente do Espírito
Santo em sua jornada espiritual, reconhecendo sua soberania e poder.

O Espírito Santo não é apenas uma presença temporária na vida dos crentes, mas sua
obra é contínua. Ele permanece com os crentes para ajudá-los, capacitá-los e santificá-los ao
longo de sua jornada e caminhada cristã (Jo 14.16). Os crentes são encorajados a andar no
Espírito e não na carne (Gl 5.16), reconhecendo que sua própria capacidade é limitada, mas o
Espírito Santo é onipotente (Rm 15.19; 1 Co 12.11).

Essa promessa contínua do Espírito Santo é uma fonte de conforto e segurança para os
crentes. Eles sabem que não estão sozinhos em sua jornada espiritual, mas têm o Espírito Santo
como consolador e um guia constante.

Essa compreensão da promessa contínua do Espírito Santo também enfatiza a


importância da oração e da comunhão com Deus, permitindo que os crentes busquem a
orientação e o poder do Espírito em todas as áreas de suas vidas. Além disso, Berkhof diz que

20 BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. São Paulo:
Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, p. 203.
21 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática, p.168. Edição do Kindle.
12

“o discernimento intelectual, ou a capacidade de compreender os problemas da vida, atribui-se


a uma influência iluminadora do Espírito Santo”.22

1.6. O Espírito Santo na Redenção


De acordo com o Novo Testamento, o Espírito Santo regenera os crentes, aponta para a
justiça de Cristo e sela-os para o dia da redenção. Sua atuação é central na experiência da
salvação.

Sendo assim, o Espírito Santo desempenha um papel crucial ao selar os crentes para o
dia da redenção. Isso significa que Ele é a garantia de que os crentes são propriedade de Deus
e que receberão a plena redenção no futuro. O pastor João Calvino destaca que “o Espírito Santo
é o elo pelo qual Cristo nos vincula efetivamente a si”.23 Esse elo, para o crente, é uma fonte de
segurança e esperança (Ef 1.13-14).

Ele não apenas torna possível a salvação, mas também a mantém, capacitando os crentes
a crescerem em santidade e a perseverarem na fé. Sobre a atuação do Espírito Santo na
redenção, Berkhof destaca que

A Bíblia nunca trata da doutrina da Trindade como uma verdade abstrata, mas revela a
subsistência trinitária, em suas várias relações, como uma realidade viva, em certa
medida em conexão com as obras da criação e da providência, mas particularmente em
relação à obra de redenção. Sua revelação mais fundamental é revelação dada com fatos,
antes que com palavras. E essa revelação vai tendo maior clareza, na medida em que a
obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na encarnação do Filho e no
derramamento do Espírito.24

Em suma, a compreensão reformada enfatiza a soberania de Deus na redenção e o papel


ativo do Espírito Santo na aplicação dessa redenção à vida dos crentes.

22 Ibidem, p. 724. Edição Kindle.


23 Calvino, Institutas, III.1.1.
24 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática, p. 146. Editora Cultura Cristã. Edição do Kindle.
13

2. CONCLUSÃO

A obra do Espírito Santo de acordo com o Novo Testamento é vasta e profunda. Sua
identidade como uma Pessoa Divina, sua atuação na redenção, na edificação da igreja e na vida
do crente são temas cruciais na teologia reformada.

A compreensão do Espírito Santo como uma Pessoa Divina é crucial porque permite
que entendamos que Ele não é uma força impessoal, uma simples influência, emanação de Deus
ou apenas uma força ativa no mundo, mas é o próprio Deus em Sua plenitude, com vontade,
inteligência e desejos.

Que vivamos de fato essa rica compreensão da obra do Espírito Santo em nossa
caminhada cristã, pois no “amor do Pai, na graça do Filho e na comunhão do Espírito Santo
está contida toda a salvação dos homens”.25

25BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a confissão reformada. São Paulo:
Pilgrim Serviços e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021, p.211.
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3. BIBLIOGRAFIA

BAVINCK, Herman. As maravilhas de Deus: instrução na religião cristã de acordo com a


confissão reformada. 1. ed. Tradução: David Brum Soares. São Paulo: Pilgrim Serviços
e Aplicações; Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2021.

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2022.

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