Ana Poles 2016
Ana Poles 2016
Ana Poles 2016
ESCOLA DE MÚSICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM MÚSICA
Salvador
2016
ANA VALERIA POLES DE OLIVEIRA
Salvador
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 781.46
Agradecimentos
Aos meus queridos irmãos Maria Cristina, Marcelo e Luciana, pelo excelente
ambiente em que vivemos juntos, dentro do nosso núcleo familiar.
Aos queridos da OSESP: Ney Vasconcelos, pela ajuda nas revisões; Bráulio
Marques Lima, pela escuta e sugestões; Maria Luísa Cameron, pela escuta;
Alexandre Rosa, pela consultoria e sugestões; Almir Amarante, por sua ajuda;
Jefferson Collacico e Cláudio Torezan, por belíssimas fotos.
A todos os queridos colegas da “Estadual” e da OSESP, por fazerem parte
desta história.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandre Casado, e ao Prof. Dr. Lucas Robatto,
pela solicitude nas minhas mais diversas dúvidas.
Aos professores doutores Beatriz Alessio, Diana Santiago, Paulo Costa Lima,
Pedro Amorim, Pedro Robatto e Suzana Kato.
A Breno Ampáro, por toda ajuda desde os primeiros passos neste processo
todo.
Ao querido amigo Adail Fernandes, por todos os belíssimos arranjos que fez e
dedicou ao Quinteto D'Elas, mas principalmente pelo seu “Por toda minha vida”, meu
eterno muito obrigada.
A todas as pessoas aqui citadas neste Memorial, por terem contribuído com o
enredo desta história.
“Não sei se a vida é curta ou longa demais para
nós, mas sei que nada do que vivemos tem
sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.”
(Cora Coralina)
RESUMO
This work is the result of my studies in the Graduate Program in Music at the
Federal University of Bahia (UFBA).
They are life experiences that reveal, but do not exhaust, several episodes of
my trajectory in music, together with my double bass, up to the present day.
1. MEMORIAL ........................................................................................................... 15
1.1 PRÓLOGO
A pergunta é:
Toda esta história, contada aqui neste Memorial, vivida nesses 40 anos de
contrabaixo, na música, serviu e ainda serve de bagagem para minha atuação
profissional, tanto como instrumentista, como, principalmente, em minhas atividades
pedagógicas.
Como Max Geringer diz, com muita sabedoria: “a crise é para todos, mas a
oportunidade é para cada um”. Assim, pude ver esta oportunidade, com o mestrado
profissional, de poder ter um novo olhar sobre meu instrumento e, quem sabe,
compartilhar isso em minhas atividades como profissional.
que já passou por essa minha história de vida, na música, e que me ajudou moldar o
que sou. Muitas ainda fazem parte dela, são meus irmãos da música, caminhamos
juntos na mesma estrada. Outras já se foram e deixaram rastros de boas
lembranças; outras inclusive de muitas saudades.
Por isso acho que vale a pena, sim, contar essa história, que gostaria de
denominá-la ”Falando Baixo – Por toda minha vida”.
Não tenho a pretensão de achar que ela seja assim tão imprescindível de ser
contada, mas acredito que possa talvez servir de inspiração para futuras gerações
de amantes do instrumento.
18
Não posso falar do meu início no contrabaixo sem mencionar o querido Prof.
José Coelho de Almeida, então diretor da escola (de 1968 a 1983), que promoveu
uma ampla campanha junto aos professores dos instrumentos mais procurados à
época – piano, flauta e violão –, para que eles conclamassem seus alunos mais
jovens a aprender um instrumento de orquestra, visando a uma futura
profissionalização, e pudessem assim exercitar esse aprendizado coletivamente
numa orquestra infanto-juvenil – o então “Projeto 75”.
Foi assim que fui aprender contrabaixo com o Prof. Nikolay Schevitschenko,
um ucraniano que era 1º Contrabaixista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal
de São Paulo e que vinha a Tatuí duas vezes por semana. Era um professor
bastante exigente. Muitas vezes eu ia embora para casa quando o ouvia com a voz
alterada dando aula para algum aluno.
Prof. Coelho foi pessoalmente pedir permissão para que meus pais me
deixassem participar do Festival de Inverno de Campos do Jordão, no ano de 1976,
assumindo responsabilidade por mim, afinal eu só tinha 13 anos de idade e era meu
primeiro Festival.
Em 1977 fui solista pela primeira vez, tocando o Concertino “Atirei um pau no
gato”, de Ernst Mahle, com a Orquestra Infanto-Juvenil do Conservatório.
Não posso deixar de mencionar o nome do querido e saudoso Sr. João Del
Fiol, que sempre foi a “alma” do Museu – hoje em dia Casa de Cultura – de Tatuí,
onde à época funcionava o ensino dos instrumentos de cordas do Conservatório.
Era no subsolo, que havia sido uma delegacia (com grades e tudo o mais), então
desativada, que aconteciam as aulas de contrabaixo.
Tenho que mencionar, desta vez no meu instrumento, Paulo Pugliesi, que
tinha um som “doce” no contrabaixo, era o spalla dos contrabaixos da Orquestra
Sinfônica de Campinas e também aluno do Prof. Nikolay. Quando eu o vi tocando o
baixo contínuo do Agnus Dei do Gloria de Vivaldi (foi um dos primeiros concertos de
que participei com a Orquestra Sinfônica do Conservatório – na época ainda no
Clube Alvorada de Tatuí, pois o Teatro Procópio Ferreira estava em obras), fiquei
absolutamente encantada com seu som. Foi a pessoa que me mostrou um LP de
Ludwig Streicher e na mesma hora eu soube que queria continuar meus estudos
com ele em Viena.
21
É preciso citar outros queridos colegas que vieram depois: Sergio de Oliveira
– meu amigo e posteriormente meu primeiro namorado. Depois dos estudos fora (eu
em Viena e ele em Berlin), nos casamos e hoje temos dois filhos: Bruno e Pedro.
Flaviana Cunto Araújo – minha querida amiga de longa data –, hoje em dia
contrabaixista da Orquestra Sinfônica de Campinas, e o querido amigo Adail
Fernandes – excelente arranjador, que no final do nosso estudo diário vinha com
lindos arranjos para trio e quarteto de contrabaixos.
Figura 4 – Com Lou Bruno e com o Secretário da Cultura Cunha Bueno (1981)
23
Claro, com a primeira edição da Revista Ensaio desse ano me senti honestamente
muito honrada e lisonjeada quando me vi, por volta dos meus 16-17 anos, estampando a
capa da revista, e também por se tratar de um ano de celebração dos 60 anos da escola.
Enfim, há motivos de sobra para me sentir muito orgulhosa, sim, agora voltando ao
Conservatório para mais esse Encontro, com mais um desafio ao me apresentar num recital,
seguido de master class.
Meu querido e saudoso professor Ludwig Streicher sempre me dizia lá em Viena que
o “público mais difícil para quem se apresentar seriam os colegas de trabalho e os alunos” –
no que ele estava coberto de razão. Se apresentar-se em público é sempre um desafio, para
esse público específico, ainda mais.
Meu Deus, quantas boas lembranças! Sem contar, é claro, as aulas de contrabaixo
com o querido, saudoso e sempre muito exigente Prof. Nikolay, as aulas de música de
câmara com a Laís Kaufmann, a Orquestra Infanto-Juvenil com o Pereira e o Pedro
Cameron, a Orquestra Sinfônica com Jamil Maluf e, claro, a Banda Sinfônica com o sempre
querido Prof. Coelho – que também era o diretor da escola na minha época –, a figura do
“Seu” Joãozinho Del Fiol, a “alma” do Museu – na época o departamento das cordas do
Conservatório funcionava ali.
1
Texto publicado no último número da Revista Ensaio do Conservatório de Tatuí, p. 13, edição de
novembro/dezembro 2014.
24
E isso tudo, claro, para ficarmos somente no âmbito do aprendizado da música, pois,
quanto ao aprendizado da vida, a lista é enorme, afinal, as amizades e as relações
interpessoais a tornam infinita. Pessoas que ficarão para sempre na minha memória afetiva,
com as quais consegui delinear minha personalidade e trajetória enquanto ser humano, uma
lista imensa mesmo, cuja enumeração aqui cria o risco de se cometer a injustiça de deixar
alguém querido de fora.
Depois de voltar dos meus estudos em Viena, pude exercer o cargo de professora de
contrabaixo na escola.
Daí ter conseguido passar para frente o que aprendi, ter deixado uma sementinha
em cada um que tenha passado por minhas mãos.
Uns seguiram em frente – motivo de muito orgulho para mim vê-los hoje em dia
seguindo com a “escola”, dando continuidade a uma verdadeira “dinastia do ensino de
contrabaixo”. Outros tantos terão, assim como eu, muita história para contar,
independentemente do caminho que escolheram para suas vidas.
Que passem ainda muitas e muitas gerações por aí e que elas tenham também
muita história para contar!
Fui para Viena em julho de 1982, sem meu instrumento, ou seja, fui um pouco
antes da minha Aufnahmeprüfung (prova de admissão) na Hochschule (Escola
Superior), na esperança de conseguir um contrabaixo para mim. O
Aufnahmeprüfung, na Hochschule für Musik und darstellende Kunst (Escola Superior
de Música e Artes Cênicas, hoje “Universität für Musik”, Universidade de Música), foi
em setembro desse ano.
Fui selecionada para classe do Prof. Ludwig Streicher, uma verdadeira lenda
viva do seu tempo. Na verdade, era com ele mesmo que sempre quis estudar.
Àquela época, Streicher tinha três assistentes: Josef Pitzek, Milan Sagat e Wolfgang
Harrer.
Tive que trocar todo o meu jeito de tocar, começando da corda solta (sem o
posicionamento de nenhum dedo da mão esquerda) com a nova técnica de arco,
que era o “modelo alemão”. O Prof. Streicher, porém, tinha uma “escola própria”,
advinda da escola austríaca de Franz Simadl (vide artigo “O conceito de 'Musizieren'
– fazer música – de Ludwig Streicher”).2
A primeira aula com essa “lenda viva” foi também o primeiro dia do ano letivo
de 1982, ou seja, estavam presentes todos os alunos da classe.
Prof. Streicher iria fazer a divisão dos alunos da semana – ele dava aulas de
segunda a quinta, das 14 às 18horas, e eu estava agendada logo para o primeiro dia
2
Revista Eletrônica Intervalo, v. 1, n. 001/2015, p. 15-22, disponível em:
<http://www.conservatoeriodetatui.org.br>.
26
e primeiro horário. Por essa razão, todos os outros alunos estavam presentes em
minha aula.
Era justamente este o meu problema: para eu conseguir ficar em pé, eu não
conseguia ficar sem “segurar” o instrumento, com as mãos tensas para não o deixar
cair, fazendo pressão demais tanto com dedos que ficam em cima no espelho,
quanto com o polegar que fica atrás do braço do contrabaixo, e isso me
impossibilitava o relaxamento necessário para as trocas de posições com a mão
esquerda.
3
Vide Ludwig Streicher, Mein Musizieren auf dem Kontrabass, volume I, “Minha maneira de se fazer
música no contrabaixo” (tradução da autora).
27
Hoje em dia, não uso mais o apoio do pé (assim como existem violinistas que
tocam sem “espaleiras”).
Fizemos nossa primeira aula, apenas corda solta. Ele me pediu para que eu
voltasse na quarta-feira (minha aula era às segundas), para “controle” – verificar se
eu estava “segurando” o arco corretamente. Na segunda-feira subsequente, cheguei
para a aula com a lição: corda solta! E Prof. Streicher sentou-se ao piano. Nossa
sala tinha um piano de cauda, que era usado para as aulas com correpetição – às
segundas e terças com Astrid Spitznagel (pianista do Prof. Streicher) e às quartas e
quintas com Nanako Tanaka-Pohl –, mas Prof. Streicher costumava tocar as
escalas, que eram sempre a primeira coisa a ser tocada quando se tratava de uma
aula sem piano, mas naquela segunda aula ele se sentou ao piano e “atacou” um
acorde de lá maior e me disse: “lá maior três
oitavas!” Fiquei desesperada! Tinha
estudado somente corda solta... e lhe disse:
“O senhor me disse que era somente corda
solta” – no que ele imediatamente
respondeu: “Isso foi semana passada!”...
Aprendi muito com esse trabalho, pois eram dois concertos por dia, com
repertório diferente a cada concerto, leitura à primeira vista e sem maestro, só com
Stehgeiger, que era o spalla da orquestra que ficava em pé e “regia/tocava” – era
somente eu de contrabaixo nessa orquestra. Aos domingos, a orquestra ganhava
mais integrantes – mais um contrabaixo comigo – e os concertos eram com maestro,
o “lendário” Prof. Eduard Mazcu. Às noites ocorriam as apresentações de opereta,
no Festival de Opereta Franz Lehár. Para mim foi um excelente aprendizado!
Aprendi a apreciar ópera por meio da opereta – hoje em dia, meu gênero predileto!
Fazia parte também da Pro-Arte Orchester, que era uma orquestra laboratório
para a classe de regência da “Hochschule für Musik”. Havia somente dois
contrabaixos com repertório sinfônico – também um excelente aprendizado. Era um
trabalho remunerado em forma de cachê.
Figura 8 – Konzertabend
Num outro concerto beneficente a que Prof. Streicher me indicou, pude tocar
a Ária “Per questa bella mano”, de Mozart – ária composta para o personagem
Sarastro da Flauta Mágica, uma das obras mais difíceis do repertório de contrabaixo.
Pude tocar uma Sonata para contrabaixo e piano de Rudolf Jettel – por indicação do
Prof. Streicher para um outro concerto beneficente.
Figura 9 – Benefizkonzert
Meu primeiro ensaio foi um choque para mim: eu não me ouvia nos “ff”
(fortíssimo) e me ouvia nos “pp” (pianíssimo). Mas foi um choque bom, pois vi que
tinha que fazer dinâmica corretamente!
Depois Prof. Streicher conseguiu uma bolsa de estudos para mim junto à
Fundação Alban Berg de Viena por um ano. Foi essencial para a continuidade de
meus estudos durante os seis anos que permaneci em Viena.
Tive a honra de ter sido convidada por meus queridos amigos Herbert Mayr
(hoje em dia, 1º Contrabaixo da Filarmônica de Viena e da Ópera Estatal), Ernst
Weissensteiner (1º Contrabaixo da Sinfônica de Viena e também Professor da
Universidade de Graz) e August Trabitsch (Professor de contrabaixo da Wiener
Musikschule, Escola de Música de Viena) para participar de quatro concertos com o
“Wiener Kontrabass Quartett” (Quarteto de contrabaixos de Viena): um concerto em
Viena, na Universidade, e outros três numa pequena turnê pelo sul da Áustria e
Alemanha.
Como “treino”, os três alunos de Streicher que iriam fazer a prova naquele
semestre – Shiang, um colega de Taiwan, August Trabitsch e eu – nos
apresentamos em Horn, na Baixa Áustria, cidade natal da Astrid e também do Prof.
Paul Angerer (meu professor de prática de música contemporânea). Cada um de
nós, formandos, tocava a peça que iria tocar na prova – no meu caso era o Concerto
em si menor de Giovanni Bottesini – e no final tocávamos todos juntos o
“Dorfmusikanten”, de Adolf Misèk, para trio de contrabaixos.
Figura 11 – Diplomprüfung
Revivo seus ensinamentos a cada vez que vejo sua “escola de contrabaixo”
refletida em meus alunos, ou mesmo quando estou às voltas com seus cadernos do
Mein Musizieren auf dem Kontrabass.
Mas foram as experiências de vida num país distante, sem a família por perto,
com uma cultura totalmente diferente da nossa, enfim, isso sim foi de fato a grande
contribuição para “moldar” o que sou hoje.
Sempre que posso, volto a Viena. Deixei amigos verdadeiramente sinceros lá,
amigos para uma vida toda.
1.4.1 Kontraquarteto
Figura 12 – Kontraquarteto
38
Foi assim que nasceu a ideia do nosso 1º CD, “Louise Farrenc by Quinteto
D'Elas”, lançado pelo Selo Paulus em 1998, com uma belíssima tela de Gisela
Eichbaum na capa.
Para a capa desse 2º CD, o artista plástico Martins de Porangaba pintou uma
belíssima tela, que hoje em dia está na parede da minha sala. À época eu dizia que
o Quinteto D’Elas poderia um dia não existir mais, mas essa tela permaneceria “para
sempre”... E assim foi também!
O trabalho com o D'Elas foi muito gratificante para o grupo como um todo.
Fizemos muitas apresentações nas diferentes séries de câmara. Ganhamos o
Prêmio Carlos Gomes na categoria Conjunto de Câmara no ano de 1998.
Infelizmente não pudemos seguir adiante com o Quinteto por diversas razões
pessoais, mas o grupo deixou um legado, tanto nos três CDs, como também no que
se refere ao incremento de composições e arranjos para essa formação, além de
belíssimas telas do artista plástico Martins de Porangaba tendo o D’Elas como
inspiração.
Formei esse duo com o músico Itamar Collaço (baixo elétrico) em meados da
década de 1990.
O “Dois do Contra” também não existe mais, mas posso “revivê-lo” com meu
filho mais novo, Pedro, baixista elétrico. Já nos apresentamos em meu recital
”Falando Baixo – 40 anos de contrabaixo”, no dia 31/05/2015, no Sesi da avenida
Paulista, em São Paulo, assim como em outras ocasiões. Particularmente acho
muito rica essa mistura de timbres dos dois contrabaixos, o elétrico e acústico, uma
mistura que merece ser explorada.
42
1.4.4 Octobass
Foi um trabalho que também foi amadurecido por meio das atividades com
alunos, contando sempre com arranjos arrojados de alguns deles, como Daniel
Camargo, mas também de Almir Amarante, Ney Vasconcelos, Adail Fernandes.
Esse tipo de formação de câmara entre contrabaixos foi a forma que encontrei
(encontro, na verdade) para satisfazer a necessidade da prática da música de
câmara. É uma forma também de incentivar o “gosto” pela música em conjunto
4
Disponível em: <https://m.youtube.com/watch?v=Pz6N4qzLLf0>.
43
(câmara) entre os alunos, sempre tocando com eles. Trabalhamos não só a música
de concerto, mas também o gênero “rock and roll”.5
O “Octobass” também não “existe” mais (por inúmeras razões), mas esse
trabalho de “conjunto de contrabaixo” tem sua continuidade a cada festival ou master
class que sou chamada a ministrar, afinal, o instrumento contrabaixo é
essencialmente acompanhador, portanto é de fundamental importância que se
desenvolva nos alunos esse espírito de coletividade, tão importante num naipe de
contrabaixos numa orquestra, por exemplo.
5
O interesse de muitos dos alunos que vêm para o contrabaixo, na verdade, é no baixo elétrico e
trazê-los para o universo do acústico é a maneira que encontro de aproximá-los desse universo, ou
seja, com a “linguagem” que gostariam de tocar no baixo elétrico sendo “transportada” para o
contrabaixo.
44
Em Viena esse trabalho de música de câmara foi feito com a pianista do meu
saudoso professor Ludwig Streicher, Astrid Spitznagel.
É meu primeiro trabalho solo, gravado em 2009, lançado pelo Selo Clássicos.
Era um desejo meu gravar peças originais para contrabaixo que não tivessem
sido registradas anteriormente.
Arquei com os custos desse CD, porém tive ajuda e incentivo de muita gente,
desde o produtor e técnico de som – o músico Itamar Collaço, que sempre me
incentivou a gravar e não me cobrou por esse serviço –, passando pela direção da
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), que me autorizou a gravar
no palco da Sala São Paulo, nos únicos três dias livres da Sala naquele ano – os
três dias antes do Carnaval.
Mas não para por aí. A lista é infinita e “o céu é o limite” para o prazer em se
tocar numa orquestra, seja ela de câmara ou sinfônica.
Claro que, também, nesse universo, “nem tudo são flores”, afinal, esse
ambiente é composto por seres humanos, mas o prazer da Música compensa todo o
resto. Pelo menos sempre foi assim comigo.
O ditado “Fazer o que você gosta é liberdade. Gostar do que você faz é
felicidade” é muito sábio e acho que, mesmo antes de conhecê-lo, sempre encarei o
contrabaixo dessa forma e procuro transmitir isso aos meus alunos.
Logo em seguida ingressei na Banda Sinfônica (daí meu laço afetivo com
bandas) e depois na Orquestra Sinfônica do Conservatório.
Quando fui admitida, ela já não tinha tanto prestígio como nos áureos tempos
da década de 1970 e início dos anos 1980. Nunca teve sua própria sala de
concertos e já não tinha mais suas séries de concertos no Teatro de Cultura
Artística.
Foi feita então uma lista tríplice na orquestra para a sucessão do maestro
Eleazar.
Maestro John Neschling era o segundo colocado dessa lista, mas seu nome
veio ao encontro do desejo do Secretário da Cultura, Marcos Mendonça.
49
Foi dada escolha aos músicos entre tentar fazer parte da nova estrutura,
mediante audições frente a uma banca internacional e, depois de se desligar da
Fundação Padre Anchieta, na qual éramos contratados pelo regime das leis de
trabalho CLT, e ser aprovado nas audições, assinar um contrato de trabalho sem
vínculo empregatício, porém com uma melhor remuneração, ou ficar na antiga
estrutura, continuar fazendo parte da folha de pagamento da Fundação Padre
Anchieta.
Foi com esses músicos que não quiseram passar pelas audições internas, por
diversas razões, que se formou a Orquestra da Rádio e Televisão Cultura.
Entrei na sala, cumprimentei toda a banca e logo depois que saí dali fiquei
três longos dias sem voz alguma.
O resultado das audições internas não era suficiente para uma orquestra
completa, assim, num primeiro momento, foram feitas algumas audições em Nova
York e posteriormente na Europa.
51
Em julho de 1999 foi inaugurada a Sala São Paulo, um marco para a história
da música de concertos.
turnês, assim como a discografia da OSESP, são alguns dos caminhos para essa
“difusão” acontecer.6
Mas foi depois de sua reestruturação que fizemos viagens com maior
frequência.
6
Disponível em: <www.osesp.art.br/discografia>.
54
7
De todas as turnês, só não pude estar presente na Turnê Brasileira de 2008. A de 2004, comecei a
partir do Concerto em Teresina.
55
Latina
27/09/2000 Auditorio Santa Ursula Lima Peru Turnê América
Latina
29/09/2000 Teatro do Hotel Sheraton Pilar Argentina Turnê América
Latina
30/09/2000 Teatro Colón Buenos Aires Argentina Turnê América
Latina
01/10/2000 Teatro San Martín Córdoba Argentina Turnê América
Latina
02/10/2000 Auditorio Juan Victoria San Juan Argentina Turnê América
Latina
2001 29/08/2001 Theatro Pedro II Ribeirão Brasil Concertos pelo
Preto Estado
30/08/2001 SESC Bauru Bauru Brasil Concertos pelo
Estado
31/08/2001 SESC Araraquara Araraquara Brasil Concertos pelo
Estado
01/09/2001 Teatro Estadual Araras Brasil Concertos pelo
Mo.Francisco Paulo Estado
Russo
2002 11/10/2002 SESC Santos Santos Brasil Concertos pelo
Estado
14/10/2002 Teatro Procópio Ferreira Tatuí Brasil Concertos pelo
Estado
25/10/2002 Orange County Perf.Arts Costa Mesa EUA Turnê EUA
Center
26/10/2002 Orange County Perf.Arts Costa Mesa EUA Turnê EUA
Center
27/10/2002 Cal Poly Theatre San Luis EUA Turnê EUA
Obispo
28/10/2002 Sacramento Sacramento EUA Turnê EUA
Comm.Center Theatre
30/10/2002 Michigan Theater Ann Arbor EUA Turnê EUA
31/10/2002 Michigan Theater Ann Arbor EUA Turnê EUA
02/11/2002 New Jersey State New EUA Turnê EUA
Theatre Brunswick
05/11/2002 Stanley Perf.Arts Center Utica EUA Turnê EUA
06/11/2002 Mechanics Hall Worcester EUA Turnê EUA
07/11/2002 Jorgensen Auditorium Storrs EUA Turnê EUA
08/11/2002 Zoellner Arts Center Bethlehem EUA Turnê EUA
10/11/2002 Avery Fisher Hall New York EUA Turnê EUA
13/11/2002 Glenn Memorial Atlanta EUA Turnê EUA
Auditorium
14/11/2002 Opelika Center for Opelika EUA Turnê EUA
Perf.Arts
15/11/2002 Alys R.Stephens Center Birmingham EUA Turnê EUA
for Performing Arts
17/11/2002 Bob Carr Auditorium Orlando EUA Turnê EUA
18/11/2002 Community Church Vero Beach EUA Turnê EUA
19/11/2002 Kravis Center West Palm EUA Turnê EUA
Beach
20/11/2002 Philharmonic Center for Naples EUA Turnê EUA
the Arts
21/11/2002 Jackie Gleason Theatre Miami Beach EUA Turnê EUA
2003 11/10/2003 Teatro Municipal Sorocaba Brasil Concertos pelo
Teotônio Vilela Estado
56
Ourinhense Itinerante
01/08/2009 Praça Arautos da Paz Campinas Brasil Osesp
Itinerante
02/08/2009 Parque Central Santo André Brasil Osesp
Itinerante
09/10/2009 Lied Center Lawrence EUA Turnê EUA
10/10/2009 McCain Auditorium Manhattan EUA Turnê EUA
11/10/2009 Stephens Auditorium Ames EUA Turnê EUA
12/10/2009 Harris Theatre Chicago EUA Turnê EUA
14/10/2009 Krannert Center - Great Urbana EUA Turnê EUA
Hall
16/10/2009 Mechanics Hall Worcester EUA Turnê EUA
17/10/2009 Troy Savings Bank Music Troy EUA Turnê EUA
Hall
18/10/2009 Fine Arts Center Concert Amherst EUA Turnê EUA
Hall
20/10/2009 Alumni Hall Annapolis EUA Turnê EUA
21/10/2009 The Music Center at North EUA Turnê EUA
Strathmore Bethesda
23/10/2009 Eisenhower Auditorium University EUA Turnê EUA
Park
24/10/2009 New Jersey State New EUA Turnê EUA
Theatre Brunswick
2010 28/03/2010 Parque Municipal Dr.Luís Ribeirão Brasil Osesp
Carlos Raya Preto Itinerante
29/03/2010 Praça Pedro de Toledo Araraquara Brasil Osesp
Itinerante
23/05/2010 Teatro Municipal Piracicaba Brasil Concertos pelo
Dr.Losso Neto Estado
10/10/2010 Theatro Municipal do Rio Rio de Brasil Concertos no
de Janeiro Janeiro Rio de Janeiro
06/11/2010 Koncertna Dvorana Zagreb Croácia Turnê Europa
Vatroslava Lisinskog
08/11/2010 Congress Innsbruck Innsbruck Áustria Turnê Europa
09/11/2010 Musikverein Wien Áustria Turnê Europa
11/11/2010 Grosses Festspielhaus Salzburg Áustria Turnê Europa
12/11/2010 Grosses Festspielhaus Salzburg Áustria Turnê Europa
13/11/2010 Cankarjev Dom Ljubljana Eslovênia Turnê Europa
15/11/2010 Filharmonia Warszawa Polônia Turnê Europa
17/11/2010 Kölner Philharmonie Köln Alemanha Turnê Europa
19/11/2010 Eurogress Aachen Aachen Alemanha Turnê Europa
21/11/2010 Alte Oper Frankfurt Frankfurt Alemanha Turnê Europa
23/11/2010 Auditorio Nacional de Madrid Espanha Turnê Europa
Música
24/11/2010 Auditorio Víctor Villegas Murcia Espanha Turnê Europa
2011 15/05/2011 Teatro Municipal de Santo André Brasil Concertos pelo
Santo André Estado
31/10/2011 Theatro Municipal do Rio Rio de Brasil Turnê Brasil
de Janeiro Janeiro
01/11/2011 Teatro Castro Alves Salvador Brasil Turnê Brasil
02/11/2011 Concha do Teatro Castro Salvador Brasil Turnê Brasil
Alves
03/11/2011 Teatro Tobias Barreto Aracaju Brasil Turnê Brasil
60
No ano de 2008, a Profa. Dra. Yara Caznok me chamou para ser consultora
de contrabaixo no Guri Santa Marcelina, em São Paulo.
8
Lucas Amorim Espósito – Turma I – contrabaixo tutti OSESP.
Sanderson Cortez Paz – Turma IV – concertino Orquestra do Theatro Municipal de São Paulo.
Nilson Belloto Neto – Turma VI – concertino Filarmônica de Minas Gerais.
André Teruo Yamaoka Rosalem – Turma X – contrabaixo tutti Orquestra do Theatro Municipal de São
Paulo.
Luiz Eduardo Ferreira dos Santos – Turma XII – Hochschule Hannover.
Rafael do Nascimento Figueiredo – Turma XVI – conquistou posto de contrabaixo tutti da Orquestra
Sinfônica de Porto Alegre (OSPA).
64
Foi uma honra ter participado desse festival. Pudemos apresentar como
solistas a ”Passione Amorosa”, com a Orquestra de Câmara do Festival Instrumenta
Verano.
Participei ainda dos Festivais de Música de Ourinhos nos anos 2008, 2009,
2011, 2013, 2014 e 2015.
Vale dizer que tenho um vínculo afetivo com este festival também.
65
Essa honraria foi absolutamente uma surpresa para mim: logo após meu
recital com Helena Scheffel (ex-Quinteto D'Elas), recebi uma placa comemorativa
em reconhecimento à minha contribuição como aluna e professora da escola.
Fiquei muito lisonjeada e honrada com a homenagem; afinal, essa escola faz
parte da minha história de vida, pois é o lugar onde tudo começou.
Tenho que dizer que fico feliz em ter tido a oportunidade de difundir essa
“escola” de Ludwig Streicher para algumas gerações.
Sou “filha musical” desse meu professor. Ele tem “netos” e também “bisnetos
musicais”, o que faz com que meu orgulho fique ainda maior ao ver essa “escola de
66
Confesso que essa atividade, esse “ensinar”, foi passando por um processo
de mudanças. Tenho certeza de que, hoje em dia, a Valeria que “ensina”
contrabaixo é diferente daquela de há quase 30 anos, quando voltava da Áustria.
De qualquer forma, sempre aprendi muito com todos e com a maioria deles o
prazer da música em conjunto foi enorme.
Ana Lúcia Altino, Antônio Ribeiro Jr., Astrid Spitznagel, Beatriz Aléssio,
Clarissa Costa, Dana Radu, Fernando Merlino, Flávio Augusto, Helena Scheffel, Illan
69
Rechtman, Laís Kaufmann, Karim Uzun, Maria Elisa Risarto, Maria João Pires,
Marina Brandão, Max Barros, Myrian Ciarlini, Miguel Proença, Norman Shetler,
Reginaldo Mordenti, Ricardo Ballestero, Sônia Rubinsky, Stella Almeida, Vladimir
Viardo.
Figura 21 – Würdigungspreis
Em 2011, recebi o título de Cidadã Emérita de Tatuí, uma honraria que me foi
concedida pela Câmara Municipal de Tatuí.
Fui sem meu contrabaixo para Viena. Assim que cheguei lá, saí à busca de
um. Tarefa nada fácil, mas em um encontro com um dos assistentes do Prof.
Streicher, Josef Pitzek, ele me indicou um aluno que possuía dois contrabaixos –
August Trabitsch –, hoje uma das minhas grandes amizades.
Fiquei os seis anos do meu curso em Viena com seu instrumento, além de
mais dois anos aqui em São Paulo – ele me deixou trazê-lo para cá, pois aquele
meu primeiro contrabaixo havia sido vendido para Flaviana, e me disse que eu
74
Sr. João Gomes, o “Seu Joãozinho”, dos mais antigos colegas do naipe
(muito querido por todos, aliás), pouco antes de se aposentar, nos ofereceu seus
dois contrabaixos – um de tamanho 4/4 e outro tamanho 3/4 – para que
comprássemos e pagássemos como fosse possível, ou seja, dividindo em parcelas
conforme nossas possibilidades. Foi um gesto de extrema generosidade da parte
dele e, claro, fizemos de tudo para adquirirmos esses contrabaixos, pois eram, e
ainda são, de excelente qualidade. Fiquei com os dois para mim: o maior eu usava
na orquestra e na música de câmara e o menor é meu instrumento “solo” até hoje
em dia. Nenhum desses contrabaixos possui selo de identificação ou ano de
fabricação.
Possuo um outro arco também, modelo “alemão”, que foi comprado na cidade
de Buenos Aires. Também não é possível ler quem é o fabricante dele.
Tenho um arco na orquestra – para este utilizo crina preta – e outro em casa,
para solos – neste a crina é branca.
Para a orquestra não preciso mais “transportar” meu instrumento. Essa foi
uma conquista da nova OSESP: a aquisição de seu instrumental mais pesado como
“acervo artístico”. São todos contrabaixos de cinco cordas, fundamentais para
repertório sinfônico do porte da nossa orquestra. Uso um de modelo alemão, do
fabricante “Grünert”, na OSESP.
Em casa temos dois contrabaixos cada um: dois “de orquestra”, com afinação
“sol-ré-lá-mi” (transformamos aquele contrabaixo 4/4 do “seu Joãozinho” em um
baixo de 5 cordas, com a corda grave “si”), e dois “solo”, com afinação “lá-mi-si-fá#”,
ou seja, um tom acima da afinação de orquestra.
75
Costumo tocar como solista com afinação “solo”. As cordas são mais finas do
que as de orquestra, portanto têm maior brilho e projeção sonora. As cordas que
utilizo nos meus instrumentos, inclusive no baixo da orquestra (OSESP), são
Thomastik “Bel Canto”.
Essa não é uma tarefa fácil, haja vista a carga emocional que provas como
essas costumam acarretar.
Eu própria senti isso na pele quando passei pelas audições internas à época
da reestruturação da OSESP. Entrei na Sala dos Espelhos do Memorial da América
Latina (local das provas) com voz e saí de lá absolutamente afônica – fiquei três
longos dias sem voz alguma, muito provavelmente devido ao stress emocional
dessa prova.
Fui júri numa das provas do Concurso Prelúdio, promovido pela TV Cultura,
do ano de 2009 e na prova final do ano de 2010.
Fui banca num concurso interno das cordas do Conservatório de Tatuí no ano
de 2014, ano de seu Jubileu de 60 anos.
77
Uma das finalidades da palestra era estabelecer uma parceria entre as duas
instituições, OSESP e UFBA. A universidade abriu uma linha especial para “músicos
de alta performance orquestral”. Nossa orquestra preenchia os pré-requisitos do
processo de seleção.
Tenho que confessar que este era um universo totalmente diferente para mim
– nunca cursei uma universidade aqui no Brasil, pois saí do Conservatório de Tatuí
diretamente para Viena, em 1982.
Como haveria a parceria entre essas duas instituições, achava que o tema
deveria contemplar essa linha também, algo sobre a OSESP.
As provas seletivas para o ingresso nesse mestrado foram muito difíceis, pelo
menos para mim, que estava distante do conteúdo teórico das matérias do exame.
Tenho que confessar que pensei muito em desistir do processo, tal eram o meu
receio e pavor, causados pela insegurança.
Somente nossa colega Olga não pôde seguir com os estudos, pois seus
documentos não chegaram de Moscou a tempo para a formalização burocrática da
matrícula.
O resultado foi positivo e meu orientador foi o violinista Prof. Dr. Alexandre
Casado.
1.12.2 O curso
Nosso curso foi modular, ou seja, eram trabalhos intensivos durante uma
semana toda vez que vínhamos a Salvador.
Tenho paixão por esse tema e admiração pela escola – principalmente por
meu querido e sempre saudoso professor, o que fez com que me dedicasse de
corpo e alma ao assunto.
9
D’AVILA, Raul Costa. Odette Ernest Dias: discursos sobre uma perspectiva pedagógica da flauta.
2009. 239 f. Tese (Doutorado) – Curso de Música, Programa de Pós-graduação em Música,
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. Disponível em:
<http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/9129>. Acesso em: 24 mar. 2015.
80
Além disso, são muitas as lembranças e sou péssima com datas. Tive receio
de que o Memorial ficasse muito extenso e também de me esquecer de fatos e
dados importantes dessa trajetória toda, de 40 anos.
A memória prega peças na gente, mas gostei de escrever e espero que tenha
conseguido transparecer isso nestas linhas.
Resolvi dar o nome “Falando Baixo – Por toda minha vida” ao meu Memorial
porque a expressão “Falando Baixo” é como se fosse uma marca minha e “Por toda
minha vida” é também o nome de meu primeiro CD solo.
10
Revista Eletrônica Intervalo, Tatuí, SP, v. 1, n. 001/2015, p. 15-22, ago. 2015. Disponível em:
<htpp://www.conservatoriodetatui.org.br>. Acesso em: 12 ago. 2015.
81
Agora, com o Mestrado, isso tudo faz parte de um grande projeto (“Falando
Baixo”), com o título de “Sistema de arcadas e golpes de arco em escalas e arpejos
para contrabaixo”.
da parceria firmada entre as duas instituições, seria publicado pela OSESP, o que
acabou não se concretizando.
Escrevi dois prefácios (depois renomeados por sugestão dos editores como
“Prelúdio I” e “Prelúdio II) para essa “apostila”: “Carta a um jovem contrabaixista” e
“Ao professor, com carinho...”, que são o meu público-alvo; uma “Introdução”; o
“Sistema” propriamente dito; as “Referências” e os “Agradecimentos”.
Não pensei noutra pessoa que não fosse o Prof. José Coelho de Almeida, o
então diretor do Conservatório de Tatuí.
11
Disponível em: <www.tipografiamusical.com.br>.
83
Nosso curso foi em módulos. Somente por ter sido nesse formato foi que
consegui fazer parte dessa turma de mestrandos que começou em 2015.
Consigo me lembrar como se fosse hoje da primeira aula do Prof. Lucas, nos
apresentando quatro gravações diferentes do “Maracatu Atômico”, de Jorge
Mautner, e depois seis gravações diferentes do ”Verão” das Quatro Estações, de
Vivaldi. Interpretações tão diversas, um prazer tê-las ouvido todas.
85
Depois vieram as aulas do Prof. Paulo Costa Lima, sempre tão cheio de
sabedoria, de vitalidade, bom humor e respeito. Mas sua matéria era a de
metodologia, cheia de regras, de palavras que nunca tinha ouvido. Não foi fácil para
mim. Minha ansiedade, sempre presente, foi despertando a insegurança, o receio de
“não dar conta do recado”.
Minha preocupação era com o Artigo Acadêmico. Para tal, fui pesquisar as
diferentes formas de se escrever um artigo, tentando encontrar algum que se
encaixasse um pouco no tema que havia escolhido.
Nesse último módulo pudemos fazer um test drive de nossas defesas. Foi
uma experiência extremamente importante para mim.
Para esse semestre tive como matérias obrigatórias MUS D47 – “Projeto de
Trabalho de Conclusão Final (TCF)” – e MUS D48 – “Oficina de Prática Técnico-
interpretativa”. Não precisávamos fazer essas matérias presencialmente.
88
Esse foi um semestre usado para a organização do TCF, que, afinal, consistiu
de muitos escritos: Memorial, Artigo e Relatórios das Práticas Supervisionadas, sem
contar o Produto Profissional, que foi justamente o meu “Falando Baixo – Sistema de
arcadas e golpes de arco em escalas e arpejos para contrabaixo”, editado pela
Editora Tipografia Musical. O recital/lançamento desse meu “livro/apostila”
aconteceu dia 11/06 às 11h na Sala do Coro da Sala São Paulo.
Elaborei esse programa com peças que foram compostas para mim (com uma
única exceção):
O meu Produto Profissional Final deveria ser incluído nesse TCF também,
mas como ele foi editado pela Editora Tipografia Musical, ou seja, seria
89
1.14 EPÍLOGO
Portanto, o meu eterno muito obrigada por ter a música em minha vida!
91
2 ARTIGO ACADÊMICO
Cazuza
RESUMO
ABSTRACT
2.1 INTRODUÇÃO
12
STREICHER, Ludwig. Mein Musizieren auf dem Kontrabass. Vienna, Doblinger 1977, 5 volumes.
93
14
D’ÁVILA, Raul Costa. “Odette Ernest Dias: sensibilidade(s) a serviço da formação de
multiplicadores”, artigo publicado no XVI Congresso da ANPPOM, Brasília, 2006.
15
Disponível em: <www.dicio.com.br>. Acesso em: 15 jul. 2015.
95
Durante sua estadia em Cracóvia, Streicher teve sua primeira atuação como
solista de contrabaixo no Hospital Militar, com grande êxito de público.
No ano de 1942, em uma turnê da Filarmônica de Berlin, sob a batuta de Hans
Knappertsbusch, Streicher pôde se apresentar em uma audição quando a orquestra
passou por Cracóvia. Com êxito nesta prova foi oferecido a ele um contrato para
ingressar nesta orquestra. No entanto, foi chamado para o serviço militar e teve que
desistir desse contrato. Perto do final da guerra, foi preso pelos russos, mas em
maio de 1945, após fugir da prisão, regressou a pé para sua cidade natal, Ziersdorf.
16
MARQUES, Diretor/Regente de orquestra. “Maestro”, in: Dicionário de Termos Musicais.
96
O que nos fica claro é quando nos deparamos com uma forma de “evolução”
da escola e bem menos de “revolução” de um “método”, afinal à época de Flesch o
“gosto musical” fazia parte de todo um contexto, como por exemplo o uso mais
frequente de “portamentos”. Assim como tudo na vida, a Música também
acompanha o dinamismo dos tempos. Ou seja, a Música é um corpo vivo, dinâmico.
Streicher desenvolveu uma forma mais lógica do uso tanto da mão esquerda
como também da mão direita – que ele próprio se referia como a “alma da música”,
um termo subjetivo, um tanto abrangente nesse contexto de Streicher, pois envolve
emoções, sentimentos no ato de se “fazer música” (Musizieren). Foi a fundo nesses
17
Disponível em: <www.infopedia.com> Acesso em: 14 jun. 2015.
18
ROSTAL. Handbuch zum Geigenspiel, 2. Auflage (2006).
99
cinco volumes escritos por ele, nos dando as ferramentas para o desenvolvimento
do uso do arco em sua “escola de contrabaixo”.
Para mudança de posição, por exemplo, que é uma das grandes dificuldades
dos instrumentos de cordas tocados com arco, no que se refere à mão esquerda, ele
cita logo na página 6 do segundo volume do seu Mein Musizieren auf dem
Kontrabass, entre outras coisas: “para mudança de posição para o agudo, deve-se
usar o primeiro dedo (indicador) e para o grave, o quarto dedo (mínimo), como
suporte ao glissandi” (tradução da autora), que é o recurso usado para mudanças de
posição nos instrumentos de cordas tocados com arco. Outra recomendação dele
em relação à mão esquerda: “só escrevo um dedilhado onde ali houver uma
mudança de posição” (tradução da autora). Ou seja, fica muito fácil identificar em
que posição no espelho do instrumento a passagem deve ser tocada, evitando o que
se costuma ver em outros métodos, vários algarismos para dedilhados, que mais
parecem estudos de matemática do que outra coisa.
101
22
STREICHER, Ludwig. Mein Musizieren auf dem Kontrabass. Viena, Doblinger; V II; p. 6. 1977.
102
Mas é em relação à mão direita que sua “escola” faz do seu Musizieren ser
especial, pois é com o arco que o instrumentista delineia cores, nuances,
expressividade, os diferentes golpes de arco, as dinâmicas e a articulação, para
produção de um texto condizente com aquilo que se vê proposto na partitura. O
próprio Streicher sempre dizia que sua intenção com o contrabaixo era ir “além das
notas”.
23
Em STREICHER, Ludwig. Mein Musizieren auf dem Kontrabass. Viena, Doblinger; V I; p. 23. 1977.
103
Para a troca do arco (para cima e para baixo), é o pulso, que juntamente com
os dedos fazem os movimentos compensatórios dessa troca, fazendo com que a
mesma permaneça imperceptível, absolutamente imprescindível numa frase musical
longa. Apesar da pressão, os dedos e o pulso devem permanecer flexíveis.
Lá nos seus cinco volumes (Mein Musizieren auf dem Kontrabass), como
também no seu sistema de escalas, encontramos as “ferramentas” para esse
caminho, mas é quando o ouvimos tocar o seu instrumento, que podemos perceber
o artista/músico extraordinário que ele é (foi), pois sua Música está presente nessas
gravações.
BIBLIOGRAFIA
BOSÍSIO, Paulo. 100 Anos de Max Rostal. Per Musi, Belo Horizonte, n. 12, p. 105-
110, jul. 2005. Julho-dezembro 2005. Disponível em:
<www.musica.ufmg.br/permusi/port>. Acesso em: 14 jul. 2015.
ROSTAL, Max. Handbuch zum Geigenspiel. 2. ed. Bern: Musikverlag Müller &
Schade Ag, 2006. 205 p. (ISBN 3-9520878-1-5). 2. unveränderte Auflage.
STREICHER, Ludwig. Mein Musizieren auf dem Kontrabass. Viena: Doblinger, 1977.
5 v.
WARNECKE, Friedrich. “Ad Infinitum”: Der Kontrabass seine Geschichte und seine
Zukunft. Leipzig: Edition Intervalle, 2005. 112 p. (ISBN 978-3-938601-00-6).
Ergänzten Faksimile-Neudruck der Originalausgabe von 1909.
107
Sites
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Para essa primeira aula a aluna executou escala de mi maior em três oitavas,
na sequência toda desse Sistema.
Logo notou-se que a aluna é habilidosa, mas que tem algumas deficiências
com a mão direita – a mão do arco –, por isso mesmo esse Sistema pode servir
como excelente aprendizado. Notaram-se problemas na realização do spicatto, por
exemplo, bem como o ricochet.
O programa começou com uma transcrição da Sonata para Violoncelo e Piano op.
21 do compositor Henrique Oswald (feito por Danilo Zangheri e Ana Valeria Poles) –
uma obra que para ficar “contrabaixística” e poder ser executada com contrabaixo
solo (afinação solista “lá, mi, si, fá#”) exigiu a transposição da parte do piano um tom
acima, ou seja, originalmente a Sonata é em ré menor. Nessa transcrição feita,
utilizamos mi menor. Com isso, aproveitamos os harmônicos naturais do contrabaixo
e as cordas soltas para a realização dos acordes da peça.
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
31/08, 04/09 e 06/10/2015 – três aulas dentro dos módulos oferecidos dentro
do PPGPROM.
Houve atividades das 9:30 às 18:00h, no dia 28/11/2015, com diversos alunos
de dentro e fora da UEMG, pois o evento era aberto a todos.
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Amaral Vieira – Quinteto Fronteiras, op. 297 para piano, violino, viola, cello e
contrabaixo (1999) – obra dedicada ao Quinteto D’Elas.
5. Orientação
.Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Repertório:
No programa do maestro Armstrong (SSP 06), tocamos uma obra que nunca
havíamos tocado – Berlioz – Abertura da Ópera Beatriz e Benedito –, obra de
dificuldade rítmica, muito ágil, nos exigiu arcos pouco usuais, como a “arcada
invertida”, ou também chamada de “arcada húngara”.
No programa SSP 07, tivemos uma primeira Audição Mundial (Costa Lima) –
peça extremamente difícil, tanto ritmicamente, quanto de leitura –, houve muito
pouco tempo para preparo coletivo, nos exigindo mais concentração durante os
concertos, fora algumas correções também na partitura, pois a obra foi editada pela
Editora Criadores do Brasil (Centro de Documentação Musical da OSESP). Outra
grande dificuldade desse programa foi também a gravação da Sinfonia n. 6, de
Prokofief – obra grande, também quanto à dificuldade.
No programa SSP 11, tivemos uma primeira parte com trilhas de cinema dos
compositores J. Williams e B. Hermann – o maestro conhecia pessoalmente J.
Williams e pôde trazer um material especialmente revisado pelo compositor. Na
segunda parte do programa foi composta pela conhecida Sinfonia Fantástica de
122
Berlioz, que no caso do contrabaixo traz dificuldades específicas, como por exemplo:
Primeiro Movimento – um trecho todo em contratempos no desenvolvimento – vale
dizer que o maestro pegou um tempo bem accessível –, que exigiu, sim, muita
atenção de nós músicos, mas que não foi tão difícil como costuma ser. Na Valsa
(Baile), a dificuldade é de afinação do naipe todo; no Quarto Movimento temos a
dificuldade de um grande trecho em “arcada húngara” (arcada invertida), seguida de
uma escala cromática de colcheias – todas com arco “para baixo” – isso sim foi de
extrema dificuldade, mais por conta das colcheias cromáticas descendentes “para
baixo”. Como tentei resolver essa questão? Tenho um “sistema de escala” – que é
um compilado de arcadas e golpes de arco diferentes (C. Flesch) que trouxe do Prof.
Streicher, mas ao qual acrescentei vários outros golpes ao longo da minha atuação
em orquestra – para o qual transferi essa dificuldade e tentei resolver na escala para
depois transferir para o trecho orquestral. Usei isso para mim mesma e também com
meu aluno – o academista Rafael Figueiredo, que estava estagiando nesse
programa (SSP 11).
O maestro era muito bom, com uma imaginação bastante inspiradora, mas
como normalmente há pouco tempo para se ensaiar muita coisa, o concerto de
quinta-feira sempre acaba com “cara” de ensaio geral – que foi bem, sim, afinal a
orquestra já está acostumada com esse ritmo de trabalho.
. Relatório/memorial da Prática
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (06,
07, 08 e 09/08/2015 – 6 h, e 1 concerto matinal – 1 h)
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (13,
14 e 15/08/2015 – 6 h)
Cronograma e carga horária: quatro ensaios duplos (20 h), três ensaios (9 h)
e três concertos (17, 19 e 21/09/2015 – 8 h)
126
Para tanto, fiz alguns ensaios extra somente com eles dois, dado o grau de
dificuldade da obra, mas se tratou de um excelente aprendizado dentro do propósito
pedagógico da Academia.
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (24,
25 e 26/09/2015 – 6 h)
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (15,
16 e 17/10/2015 – 6 h)
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (22,
23 e 24/10/2015 – 6 h)
Cronograma e carga horária: dois ensaios duplos (10 h) e três concertos (19,
20 e 21/11/2015 – 6 h)
. Relatório/memorial da Prática
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
M. Buchala – “Cecília”
Para Gravação 03: Prokofiev – “O amor das três laranjas”, op. 33 – Marcha e
Scherzo
. Relatório/Memorial da Prática
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Em São Paulo
Ocorreu uma miniturnê com a pianista Dana Radu, com quem a aluna tem um
Duo desde 2009.
. Prática camerística.
. Relatório/Memorial da Prática.
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
. Prática camerística.
. Relatório/Memorial da Prática.
5. Orientação
de Arte Sacra de Salvador, como também por meio de mídia eletrônica e redes
sociais.
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
c) literatura orquestral.
c) excertos orquestrais.
Dia 09/03/2015 – 5ª Aula – das 9:30 às 10:00h e depois das 11:30 às 12:30h
Dia 16/03/2015 – 7ª Aula – das 9:30 às 10h e depois das 11:30 às 12:30h
j) Villa-Lobos – Bachiana 9.
Repertório da simulada:
143
h) Mahler – Sinfonia 2.
c) Verdi – Othelo.
g) Mahler – Sinfonia 2.
i) Villa-Lobos – Bachiana 9.
Mini-Simulada:
f) Verdi – Othelo.
i) Mahler – Sinfonia 2.
c) Verdi – Othelo.
Repertório da Simulada:
e) Beethoven – Sinfonias 5 e 9.
g) Mahler – Sinfonia 2.
h) Mussorgsky – Quadros.
i) Villa-Lobos – Bachiana 9
c) Streicher – Método 3.
147
c) Streicher – Método 3.
Excertos orquestrais:
d) Verdi – Othelo.
f) Beethoven – Recitativo.
5. Orientação
. Matrícula: 215115566
. Ingresso: 2015.1
1. DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
Foi preciso voltar com o mesmo estudo, pois havia correções a serem feitas.
O aluno ainda precisa se dar conta que é preciso “preparar” a mão esquerda,
principalmente quando se trata de arpejo diminuto.
Apesar de ter sido um dia de feriado, tivemos uma aula de 2 horas e meia
para tratarmos de muitos detalhes da partitura, como leitura, afinação, ritmo,
dinâmica.
Começamos a aula com escala de ré maior três oitavas – nós três estávamos
com contrabaixos de cinco cordas – realizamos o “Sistema de arcadas e golpes de
arco” antes de começarmos a “destrinchar” a partitura. Conseguimos chegar até o
final da 2ª Parte da obra.
c) F. Simandl – Parte II
d) W. A. Mozart – Sinfonia 40
O aluno não tem noção da música nesses trechos orquestrais – não sabe
quais instrumentos estamos acompanhando durantes os excertos – então é preciso
mostrar a ele a importância em ouvir a música que precisa ser tocada, com boas
gravações.
O aluno deveria ter se preparado melhor – deveria ter estudado num baixo de
5 cordas, por exemplo – um “outro” instrumento, com suas particularidades.
c) Mozart – Sinfonia 40
- Morte e Transfiguração
- Vida de um herói
d) Mozart – Sinfonia 40
g) Koussevitsky – Concerto
- Morte e Transfiguração
- Vida de um herói
e) Preparar o aluno para que o mesmo esteja apto a realizar uma prova de
audição simulada, que conta com o mesmo programa solicitado em concurso para
contrabaixo tutti da orquestra.
5. Orientação