07 - Romantismo

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APOSTILA DE

LITERATURA
ROMANTISMO
CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Em um momento
histórico no qual as classes
sociais se definiam como nós as
conhecemos, na atualidade,
fortemente impactadas por dois
grandes acon- tecimentos
mundiais que mudaram o rumo da
história da humanidade, nascia, no
século XIX, o Romantismo. A
Revolução Industrial (1760-
1840) e a Revolução Francesa
(1789-1799) causaram profundas
transformações na sociedade europeia e, por conseguinte, no resto do mundo.
Concomitantemente a tais transformações, a ascensão da tipografia (inventada pelo
alemão Johannes Gutenberg), disseminada no final do século XVIII, popularizaria o
Romantismo em proporções nunca antes vistas, na história da literatura.

Como marco inicial mundial do Romantismo, ficou muito conhecida a


Wertherfieber (Febre de Werther, do alemão), que aconteceu na Europa, depois da
publicação de Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Goethe, em 1774. Após
surgir na Alemanha, o Romantismo se espalhou na Europa, conquistando primeira-
mente Inglaterra e frança. Em Portugal, o início do Romantismo foi marcado com a
publicação do poema narrativo Camões, de Almeida Garrett, em 1825, onde o poeta
português cria uma espécie de biografia sentimental de Luís Vaz de Camões, o mais
importante autor do Classicismo daquele país. Versos decassílabos brancos,
subjetivismo, vocabulário culto e rebuscado, nostalgia e melancolia são características
marcantes do famoso poema de Garrett.
Muitos romances dos autores europeus do período, como Victor Hugo,
Alexandre Dumas, Walter Scott e outros, tornaram-se extremamente populares (in-
clusive no Brasil, através de sua publicação em jornais, desde 1830), criando no
público o gosto pelo gênero. Tanto na Europa quanto nas traduções lançadas aqui, tais
narrativas eram inicialmente publicadas na imprensa, na forma de capítulos di- ários ou
semanais, aumentando extraordinariamente a tiragem dos periódicos. Essas
publicações receberam o nome de “romances de folhetim”.

AUTORES E OBRAS

Tanto em Portugal quanto no Brasil, o Romantismo foi caracterizado por


gerações, fases e tendências. A primeira fase romântica portuguesa foi marcada por
ainda apresentar algumas características clássicas. Os principais autores do pe- ríodo
foram: 1. Almeida Garrett (1799-1854): atuando no jornalismo, na poesia, na prosa
de ficção e no teatro, entrou em contato com a obra de Shakespeare, em seu exílio na
Inglaterra. Teve uma vida sentimental extremamente atribulada, o que possivelmente
tenha servido de inspiração para seus poemas mais intensos e desta- cados. Assimilou
os moldes clássicos, deixando também uma produção respeitável no teatro e na prosa de
ficção. Escreveu Camões (1825), Dona Branca (1826), Folhas caídas (1853), Viagens na
minha terra (1846), entre muitos outros bons textos; 2. Alexandre Herculano (1810-
1877): exilou-se na Inglaterra e na frança.
Em sua produção ficcional, enfatizou o
caráter histórico nos enredos, tratando das
origens de Portugal como nação, além de
abordar temas de caráter religioso. Em sua
obra não-ficcional, renovou a historiografia
de seu país, abordando com frequência o
conflito de classes sociais. Suas obras de
maior destaque são A harpa do crente (1838),
Eurico, o presbítero (1844), entre outras.
Na Segunda Geração do
Romantismo português, já existe a
predomi- nância da estética e da ideologia
romântica, com os escritores privilegiando
temas soturnos e fúnebres, flertando com o
exagero, numa linguagem fácil, acessível e
co- municativa. Apesar de o poeta Soares
de Passos (1826-1860) ser importante para
o eríodo, o principal autor romântico, sem
sombra de dúvidas, foi Camilo Castelo Branco (1825-1890), um dos mais
importantes escritores portugueses de todos os tempos, tendo sido historiador,
tradutor, romancista, cronista, dramaturgo e crítico.
A Terceira Geração do Romantismo português é conhecida sobretudo pela
produção dos escritores João de Deus, Tomás Ribeiro, Bulhão Pato, Xavier de Novais,
Pinheiro Chagas e Júlio Dinis, os quais tentam se livrar dos exageros ultrar- românticos
das gerações anteriores. É considerada uma geração mais equilibrada, de transição, já
apontando para o Realismo. Idealismo, exaltação da figura feminina, espiritualidade e
valorização do amor são temáticas recorrentes da geração.
No Brasil, o ponto de partida do Romantismo foi a publicação do livro de
poemas Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836. Em um
país que conquistara sua Independência há catorze anos, o Romantismo era um
movimento muito plausível, principalmente pela valorização do nacionalismo e da
liberdade, sentimentos que afloravam e gradativamente se ajustavam ao espírito da
nação, recentemente tornada livre de Portugal.
Os Românticos brasileiros cultivavam o nacionalismo, manifestado princi-
palmente na exaltação da natureza do país, no retorno ao passado histórico e na ten-
tativa de criação do herói nacional (em nosso caso, o índio, uma espécie de cavaleiro
medieval do país). Através da exaltação do passado histórico, começa o culto à Idade
Média, representando as glórias e as tradições do passado. A natureza é a extensão da
pátria e também um prolongamento do poeta e de suas emoções, um refúgio em relação
à vida agitada e atribulada dos centros urbanos do século XIX. Além disso, o Romantismo
traz à tona o Sentimentalismo, uma valorização exacerbada dos senti- mentos, das
emoções e do mundo interior.
Esse conflito do eu com o mundo cria estados de frustração, insatisfação e tédio,
culminando nas mais variadas fugas da realidade – o álcool, o ópio, a nostalgia da infância,
a idealização da sociedade, do amor e da mulher. Todavia, há uma fuga romântica maior
que todas as outras, tema recorrente do período: a morte. Por volta de 1860, as mudanças
econômicas, sociais e políticas no país provocam uma guinada no Romantismo nacional
e o conduzem a uma literatura mais próxima da realidade, refletindo as grandes
agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai e o ideal de República, com
a decadência do regime monárquico e o aparecimento da poesia social, sobretudo com
Castro Alves. Em relação à forma, o verso livre, sem métrica ou estrofes
padronizadas, e o verso branco, sem rima, caracterizam forte-
mente a poesia romântica brasileira. Assim como em Portugal, no
Brasil, também o Romantismo foi dividido em gerações:
A PRIMEIRA GERAÇÃO do Romantismo brasileiro foi
chamada de Nacionalista ou Indianista, pois os seus autores
exaltavam a pátria e o herói nacional, o índio, que era visto como
o brasileiro em sua essência. Ademais, queriam construir uma arte
brasileira, independente de Portugal. Os principais autores
dessa geração foram Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães e
Araújo Porto Alegre. Gonçalves Dias (1823-1864) foi o grande poeta
indianista, célebre por escrever a “Canção do Exílio”, um dos poemas mais conhecidos
da literatura brasileira, com seus versos “Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o
Sabiá”, e também pelo poema indianis- ta “I-Juca-Pirama”, em versos decassílabos e
alexandrinos, presente na obra Últimos cantos (1851).
A SEGUNDA GERAÇÃO do Romantismo nacional era considerada por seu
ultrarromantismo, com temas obscuros, pessimismo, apego aos vícios e
exageros. Temas como a melancolia, a morbidez, o
sofrimento, a noite e o medo do amor são
recorrentes. O eu-lírico vive na mais
completa solidão, em devaneios e
idealizações. Álvares de Azevedo, Casimiro
de Abreu, Junqueira freire e fagundes
Varela são os representantes mais destacados
desse período. Destaca-se Álvares de Azevedo
(1831- 1852): escritor ultrarromântico ou byroniano, um dos
mais importantes de todo o Romantismo, com suas obras densas sendo publicadas
postumamente. Conhecido na poesia, com a Lira dos vinte anos (1853), na prosa, com
seus contos da Noite na Taverna (1855), e no teatro, com Macário (1855).
A TERCEIRA GERAÇÃO do Romantismo brasileiro também foi chamada de
Condoreira, com uma poesia social e libertária, com ideias
abolicionistas e republicanas vindo à tona. Nessa fase, já
observamos o prenúncio do Realismo, focando a realidade
social. O nome “condoreirismo” refere-se à figura do
condor, ave com voo alto, assim como os poetas românticos
dessa geração, os quais buscavam alçar imponentes voos
e defender ideais libertários. O maior representante dessa
geração foi CASTRO ALVES (1847-1871), conhecido
como o “poeta dos escravos”. Além das questões abolicionistas, Castro Alves compôs
belíssimos poemas com a mulher e seu poder de sedução como tema. O navio negreiro
(1869) e Espumas flutuantes (1870) são as suas obras mais consagradas.
O Romantismo brasileiro também proporcionou à literatura nacional o surgimento de
excelentes autores de prosa. Em relação aos romances produzidos no período, muitos
foram os autores de grande destaque:
1. JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820-1882): romancista de verve urbana,
destacou-se pela produção de A moreninha (1844) e O moço loiro (1845);
2. JOSÉ DE ALENCAR (1829-1877): foi o principal romancista do perío- do e um dos maiores nomes da
literatura brasileira em todos os tempos. Destacam-se os romances urbanos Cinco minutos (1856), A
viuvinha (1857), Lucíola (1862) e Senhora (1875). Entre os romances regionalistas, são de maior relevo O
gaúcho (1870), O tronco do ipê (1871) e O sertanejo (1875). Em relação aos romances históricos,
ganharam grande vulto A Guerra dos Mascates (1871) e As minas de prata (1865). Seus romances indianistas
mais importantes foram O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara(1874);
3. MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA (1831-1861): romancista urbano, é tido como o precursor do
Realismo brasileiro. Sua obra mais importante é um dos grandes marcos da literatura nacional: Memórias
de um sargento de milícias (1854).

Destaca-se, também, Bernardo Guimarães (1825-1884), com O semina- rista (1872) e A


Escrava Isaura (1875); Visconde de Taunay (1843-1899), conhecido por seu romance Inocência (1872) e
Machado de Assis (1839-1908), cuja obra prin- cipia romântica, com romances como A mão e a luva
(1874) e Helena (1876).

ATIVIDADES
LEIA ATENTAMENTE O EXCERTO QUE SEGUE.

[...] Agora quem move estes ridículos combates de frases é a vaidade ferida dos mes- tres e dos pontífices;
é o espírito de rotina violentamente incomodado por mãos rudes e inconvenientes; é a banalidade que
quer dormir sossegada no seu leito de ni- nharias; é a vulgaridade que cuida que a força. Nós só lhe
queremos puxar as orelhas! Isto, resumido em poucas palavras, quer dizer: combatem-se os hereges da
Escola de Coimbra por causa do negro crime de sua dignidade, do atrevimento de sua retidão moral, do
atentado de sua probidade literária, da impudência e miséria de serem independentes e pensarem por
suas cabeças. E combatem-se por faltarem às virtudes de respeito humilde às vaidades onipotentes, de
submissão estúpida, de baixeza e pequenez moral e intelectual [...].

Considere as afirmações que seguem, referentes ao excerto acima, extraído de um dos textos mais
polêmicos e importantes da literatura portuguesa:

I – Neste texto, uma carta aberta, Antero de Quental respondeu ao poeta Antonio Feliciano de
Castilho, que o havia provocado anteriormente. Castilho censurara um grupo de jovens de Coimbra,
acusando-os de exibicionismo livresco, de obscuridade propositada e de tratarem temas que nada tinham
a ver com a poesia.

II – A resposta de Quental saiu em folheto: “Bom Senso e Bom Gosto”. Neste folheto, de onde
retiramos o excerto acima, Antero defendia a independência dos jovens es- critores, apontava a gravidade
da missão dos poetas na época de grandes transforma- ções em curso, a necessidade de eles serem os
arautos do pensamento revolucionário e os representantes do “Ideal”. Além disso, ridicularizava a futilidade,
a insignificância e o provincianismo da poesia de Castilho.

III – Os folhetins só começaram a ser escritos por causa da Questão Coimbrã.

É correto o que se afirma em:

A. apenas I e II.
B. nenhuma das alternativas.
C. todas as alternativas.
D. apenas III.
E. I e III.
1. Leia cuidadosamente o poema que segue e responda:

a. A qual geração do Romantismo brasileiro o poema de Álvares de Azevedo parece


pertencer?
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b. Quais foram as características do texto que o conduziram a tal resposta?


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SE EU MORRESSE AMANHã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos


Fechar meus olhos minha triste irmã, Minha
mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro! Que


aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas Se eu
morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva Acorda ti


natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito Se eu
morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora A ânsia


de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos Se eu
morresse amanhã!

SUGESTÕES CULTURAIS:

FILME O GUARANI, dirigido por Norma Bengell, de 1996, filmado no Brasil, base- ado no
romance homônimo de José de Alencar, com Márcio Garcia, Herson Capri, Glória Pires, José
de Abreu e grande elenco.
FILME SENHORA, dirigido por Geraldo Vietri, de 1976, filmado no Brasil, baseado no
romance homônimo de José de Alencar, com Elaine Cristina, Paulo Figueiredo, Flávio Galvão
e grande elenco.
FILME WERTHER, dirigido por Max Ophüls, de 1938, filmado na frança, baseado no
romance homônimo de Goethe, com Pierre Richard-Willm, Annie Vernay, Jean Galland e
grande elenco.
REFERÊNCIAS
AMORA, Antônio Soares. Presença da literatura portuguesa: era clássica. São Paulo:
Difel, [19--].
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1995.
CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
GUINSBURG, J. O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1993
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através de textos. São Paulo: Cultrix,
1994a.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas, 1994b.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1995a.
MOISES, Massaud. Dicionários de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1995b.
SARAIVA, Antônio José. História da literatura portuguesa. Porto: Porto Editora, 1996.
SCHEEL, Márcio. Poética do romantismo: Novalis e o Fragmento Literário. São Paulo:
Ed. Unesp, 2010.

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