Organização Gênica
Organização Gênica
Organização Gênica
Propósito
Compreender a estrutura básica de um gene, seus elementos codificadores e reguladores, bem como as
principais características e diferenças da organização do material genético de organismos procariotos e
eucariotos é de fundamental importância para iniciar os estudos em biologia celular e molecular, fornecendo
base para o aprofundamento nos processos de transcrição e tradução do material genético e embasando o
conhecimento das técnicas aplicadas em genética.
Objetivos
• Reconhecer os principais componentes do genoma procariótico, suas funções, estrutura e organização.
• Identificar os elementos de um gene eucariótico e suas respectivas funções.
• Identificar as principais sequências reguladoras do genoma de procariotos e eucariotos e a estrutura
da cromatina eucariótica.
Introdução
Os seres vivos podem ser classificados em três grandes domínios: Bacteria, Archaea e Eukarya. Os dois
primeiros grupos compõem o superclado Prokarya, que engloba todos os organismos unicelulares conhecidos
por procariotos. O domínio Bacteria é formado pelas bactérias verdadeiras, que diferem das arqueas (domínio
Archaea) geneticamente, fisiologicamente e bioquimicamente. Nas espécies procarióticas, o DNA encontra-se
compactado numa região em que não é separada do restante do citoplasma. O terceiro domínio, Eukarya,
abrange um grupo heterogêneo de organismos – os eucariotos. Eles variam desde simples protozoários
unicelulares até as plantas e animais superiores. As células eucarióticas apresentam organelas definidas e
compartimentalização do DNA em uma estrutura com membranas – o núcleo.
Em nosso estudo, vamos aprender sobre a organização do DNA, o genoma, de procariotos e eucariotos.
Vamos iniciar com os seres procariotos, reconhecendo a estrutura básica de um gene e os principais
componentes do genoma procariótico. Além disso, vamos discutir sobre a importância dos plasmídeos, das
ilhas de patogenicidade e a funcionalidade dos interessantíssimos operons.
Em seguida, vamos para o estudo dos genomas, mas agora nos seres eucarióticos. Vamos ver as principais
diferenças para o genoma de procariotos e as características das regiões gênicas e intergênicas. Ao final,
você estará pronto para responder se a complexidade de um organismo está relacionada à densidade gênica.
Por fim, vamos discutir a importância das regiões reguladoras, tanto nos procariotos quanto eucariotos. Logo
após, estudaremos sobre a organização da cromatina dos eucariotos. Afinal, como a fita de DNA, com dois
metros de extensão, cabe dentro do núcleo? Está pronto(a) para descobrir? Então se prepare, pois já vamos
iniciar essa interessante jornada pela biologia dos genomas.
1. Funções, estrutura e organização do genoma procariótico
Microscopia eletrônica
O microscópio eletrônico é um equipamento com potencial de aumento muito superior ao óptico, o que
permite a visualização de estruturas e organelas celulares.
A maioria das bactérias contém apenas um cromossomo circular de DNA dupla fita densamente organizado no
nucleoide. Alguns gêneros bacterianos, como Borrelia, também podem apresentar o cromossoma linear. O
DNA cromossômico contém todas as informações genéticas que são essenciais para a sobrevivência da
célula.
As bactérias e arqueas colonizam praticamente todos os ambientes e formas de vida do nosso planeta. As
arqueas são conhecidas por conseguirem habitar ambientes extremos, como bordas de vulcões e lagos
hipersalinos. Essa habilidade evolutiva é atribuída à plasticidade genética dos procariotos, ou seja, a
capacidade do genoma de sofrer alterações, como mutações ou rearranjo, em condições de pressão
ambiental.
Comentário
Apesar da reconhecida heterogeneidade ecológica, fisiológica e genética dos procariotos, os genes e
genomas das bactérias e arqueas possuem alguns aspectos organizacionais comuns. Dessa forma, a
partir de agora, vamos estudar as principais características estruturais dos genes procarióticos.
Um gene, seja ele de procarioto ou eucarioto, pode ser definido de forma simplificada como um segmento de
DNA que possui as sequências de nucleotídeos necessárias para a síntese de pelo menos um produto
correspondente: o RNA mensageiro (que será traduzido em proteína) ou RNA transportador ou RNA
ribossomal.
Basicamente, cada um dos genes é formado por uma região codificadora, que é justamente essa sequência
nucleotídica que codifica o RNA, e pelas sequências reguladoras que controlam a sua expressão.
Entre as sequências reguladoras, as mais importantes são o promotor e o terminador (observe na imagem a
seguir). Não se preocupe, discutiremos com mais detalhes sobre as sequências reguladoras adiante.
A expressão de um gene procariótico abrange a transcrição em um RNA, que pode ser um RNA transportador,
RNA ribossomal ou RNA mensageiro. Caso seja um RNA mensageiro, há a tradução do transcrito em uma
proteína. Para entender melhor, observe a imagem a seguir.
Processos de replicação, transcrição e tradução, do DNA para RNA até a formação
da proteína, no caso de um RNA mensageiro.
Como assim?
Isso significa que há uma exata correspondência entre a sequência nucleotídica do DNA e a sequência de
nucleotídeos do RNA ou sequência de aminoácidos da proteína, dependendo se o transcrito do gene for um
tRNA, rRNAa ou mRNA.
Pois é, embora essa relação pareça bastante simples de se fazer, ela representa uma das diferenças básicas
entre a estrutura da grande maioria dos genes procarióticos e eucarióticos. Isso porque, como veremos mais
adiante, os genes eucarióticos normalmente apresentam sequências que interrompem a sequência
codificadora.
Muitos genes procarióticos apresentam semelhanças em suas sequências nucleotídicas, que são
genericamente chamadas de homologias.
Quando esse evento evolutivo é uma duplicação de uma região cromossômica, uma das cópias pode manter a
função original, enquanto a outra pode assumir uma função relacionada. Nesses casos, os genes gerados são
chamados de parálogos . Caso um dos genes perca sua funcionalidade após a divergência, mas não a
homologia, é chamado de pseudogene .
Em relação ao tamanho, os genomas procarióticos variam amplamente, desde cerca de 150.000 pares de base
(150kb ou 0,15Mb) até 13.000.000 pares de base (13.000kb ou 13Mb). Porém, tanto em bactérias quanto em
arqueas, vemos distribuições características no tamanho dos genomas.
Comentário
O tamanho do genoma de qualquer espécie procariótica pode variar com facilidade ao longo da
evolução, devido a processos de ganho ou perda de sequências.
Com isso, você deve estar se perguntando se há uma quantidade mínima de genes nos genomas
procarióticos, certo? Pois é, chamamos esse conceito de genoma mínimo, que descreve o menor genoma
capaz de abrigar o mínimo necessário de genes para a sobrevivência de uma forma de vida celular.
Porém, como também já comentamos, existem alguns poucos casos de bactérias que possuem mais de uma
molécula de DNA, que podem ser lineares ao invés de circulares.
Em um genoma que é constituído por mais de uma molécula de DNA, podemos denominá-las de acordo com
seu tamanho e conteúdo gênico. Entenda suas características a seguir:
São centenas a milhares de quilobases (Uma São dezenas a centenas de quilobases, que não
quilobase (Kb) corresponde a 1000 bases de contém genes essenciais, podem ser chamadas
nucleotídeos), que apresentam de plasmídeos.
majoritariamente genes essenciais para a
célula, são chamadas de cromossomos.
Plasmídeos são elementos genéticos móveis, de DNA circular, encontrados no citoplasma de bactérias e
também de algumas arqueas. Os genes contidos nos plasmídeos não contêm informações essenciais para a
célula, mas conferem vantagens seletivas, como, por exemplo, a resistência contra antibióticos.
Diferenças entre o DNA cromossômico e o DNA plasmidial, em bactérias.
Existem plasmídeos de resistência, como os que conferem a produção das enzimas β-lactamases, ou de
virulência, como os que codificam proteínas de adesão. Quando a bactéria perde o plasmídeo, inclusive por
ação de algumas drogas, ela só consegue recuperá-lo através de uma nova infecção, como, por exemplo,
através do mecanismo de conjugação.
Comentamos anteriormente que uma questão importante dos genomas procarióticos se refere à organização
do cromossomo em unidades de replicação, bem diferente do que veremos em eucariotos. Essas unidades de
replicação, que também podemos chamar de replicons, são os segmentos cromossômicos que replicam a
partir de uma origem de replicação.
Em bactérias, cada cromossomo possui apenas uma origem de replicação. Em arqueas, podemos encontrar
até três origens de replicação para um cromossomo. A diferença, em eucariotos, é que cada cromossomo está
organizado em centenas ou milhares de replicons.
Os genomas procarióticos apresentam uma elevada densidade gênica se comparados aos genomas
eucarióticos, como veremos adiante. Esse fato se deve a aspectos como o tamanho relativamente reduzido
dos genomas, extensão das regiões codificadoras e reguladoras e o número de genes por genoma. Além
disso, uma coisa que também temos que levar em consideração é que, em genomas procarióticos, a extensão
das regiões intergênicas, não codificadoras, é bem mais curta que a dos genes. Esse é mais um fato que
reforça o conceito do alto grau de compactação da informação em genomas procarióticos. Não se preocupe,
pois vamos discutir com mais detalhes a densidade gênica mais para frente.
Unidades organizacionais dos genomas procarióticos
Como você deve ter reparado, os genes são apenas alguns dos componentes presentes em um genoma. Em
procariotos, outras unidades organizacionais de sequências nucleotídicas podem ser identificadas. Apesar de
variarem em complexidade, cada uma delas apresenta importância funcional e/ou evolutiva. A partir de agora,
vamos discutir brevemente sobre as características essenciais de cada uma dessas unidades organizacionais.
Os motivos são sequências curtas, de duas ou dezenas de pares de base (pb), que podem ser encontradas
agrupadas em uma parte do genoma ou dispersas. As sequências motivo podem auxiliar no processo de
recombinação genética e em processos de translocação gênica.
As sequências repetidas são sequências de nucleotídeos, geralmente curtas (<10 pb), que podem ser
encontradas espalhadas pelo genoma ou agrupadas uma ao lado da outra. Embora possam representar uma
porção significativa do genoma procariótico, as sequências repetidas são sempre menos abundantes que as
sequências únicas. Em organismos eucarióticos, por outro lado, as sequências de repetição são encontradas
ao longo de todo genoma, podendo chegar a mais de 50% de frequência. Nos genomas procarióticos, a família
mais representada do ponto de vista do número de unidades de repetição é a dos elementos REP. Elementos
REP são sequências palindrômicas, ou seja, sequências de simetria dupla, idênticas quando lidas no sentido
5’-3’ ou 3’-5’ e, evolutivamente, sua presença pode ser explicada pelos processos de integração e excisão de
pedaços do genoma bacteriano.
Saiba mais
Com base nas sequências de repetição, foi desenvolvida a técnica de CRISPR para edição de genomas.
A partir dessa técnica, foi possível editar genomas bacterianos e, mais recentemente, genomas
eucariotos. Por exemplo, pode-se inativar ou regular a expressão de genes, inserir sequências para
expressão de proteínas, além de outras funções. A técnica de CRISPR revolucionou a engenharia
genética e trouxe significativos avanços para a biologia molecular. Atualmente, existem estudos que
utilizam CRISPR para tentar retirar o genoma do HIV de células infectadas, possibilitando o tratamento
por terapia gênica.
As ilhas genômicas são segmentos de genomas procarióticos que apresentam diferenças no conteúdo
Guanina + Citosina (G+C). Variam de 10 a >200Kb e contêm genes não essenciais, mas que podem conferir
alguma vantagem adaptativa ao organismo. Um excelente exemplo é o das ilhas de patogenicidade,
encontradas nos genomas de bactérias patogênicas como Helicobacter pylori e Vibrio cholerae. Essas ilhas
são compostas por genes cujos produtos estão relacionados à maior infecção, como toxinas e proteínas
imunomoduladoras.
Transposons e Integrons
Os transposons ou elementos transponíveis são sequências de DNA móveis que possuem a capacidade de se
integrarem em regiões do genoma e, por esse motivo, também são conhecidos como “genes saltadores”.
Os transposons podem se inserir em regiões codificantes ou reguladoras, podendo levar à perda de função ou
a geração de mutação. Os transposons procarióticos apresentam características específicas, como a
presença de um gene codificador da enzima transposase e a duplicação da região da sequência alvo
receptora. A transposase se liga às extremidades do transposon e corta as duas fitas do DNA, podendo inseri-
la em outra região do genoma.
Surgem quando dois elementos IS se inserem próximos um ao outro. Em alguns casos, podem conter
genes de resistência a antibióticos, conferindo vantagem seletiva à bactéria. Os Tn podem ser
inseridos no DNA plasmidial ou mesmo no cromossoma bacteriano.
Elementos TnA
Já os integrons são sistemas de expressão gênica que incorporam sequências abertas de leitura (ORF)
exógenas por meio de recombinação específica do local e as convertem em genes funcionais, garantindo sua
expressão. Os integrons foram originalmente descobertos como um mecanismo usado por bactérias Gram-
negativas para adquirir genes de resistência a antibióticos e expressar múltiplos fenótipos de resistência. Mais
recentemente, seu papel foi ampliado com a descoberta de estruturas cromossômicas de integron nos
genomas de diversas espécies bacterianas.
Operons
Os operons são unidades funcionais gênicas muito importantes na biologia molecular de procariotos. Um
operon é constituído de uma sequência gênica codificadora flanqueada por duas sequências reguladoras, uma
do início da transcrição e uma do término da transcrição.
Comentário
É comum que os genes que são regulados possuam produtos gênicos associados a mesma função,
como por exemplo, proteínas e enzimas que participam da mesma via metabólica. O RNA gerado a partir
da transcrição do gene do óperon é frequentemente policistrônico, ou seja, possui a informação para a
produção de mais de um produto gênico.
Um único mRNA policistrônico dará origem a duas ou até mais proteínas durante a fase de tradução. A
organização em operons proporciona uma economia de espaço no DNA, o que é extremamente importante
para os genomas relativamente pequenos e compactos de procariotos.
Observe, na imagem, que, de um mesmo mRNA, são produzidas três proteínas diferentes.
Estrutura de um operon e do mRNA policistrônico.
Um dos exemplos mais comuns para se explicar o funcionamento de um operon é o operon lac.
Bactérias da espécie E. coli podem utilizar a lactose como fonte de energia quando não há glicose disponível.
Para isso, precisam expressar o operon lac, que codifica as enzimas necessárias para a absorção e
metabolismo da lactose. Dessa forma, a expressão do operon lac está condicionada à ausência da glicose e
disponibilidade de lactose no meio.
Para detectar os níveis de glicose e lactose, duas proteínas reguladoras estão envolvidas no processo:
Essas duas proteínas se ligam ao DNA do operon e regulam a transcrição com base nos níveis dessas
moléculas.
O operon lac contém três genes (lacZ, lacY e lacA), que são transcritos como um único mRNA policistrônico e
codificam proteínas que auxiliam a célula a utilizar a lactose. Além desses genes, o operon lac possui
sequências reguladoras, nas quais proteínas reguladoras (repressor lac e CAP) se ligam e controlam a
transcrição do operon.
São elas:
• O promotor, que é o sítio de ligação da RNA polimerase, a enzima que realiza a transcrição.
• O operador, que é o sítio de regulação negativa ao qual se liga a proteína repressora lac. O operador se
sobrepõe ao promotor, e quando o repressor lac está ligado, a RNA polimerase não consegue se ligar
ao promotor e dar início à transcrição.
• O sítio de ligação da CAP, que é o sítio de regulação positiva no qual se liga a CAP. Quando a CAP está
ligada a esse sítio, ela favorece a transcrição ajudando a RNA polimerase a se ligar ao promotor.
Atenção
Todas essas estruturas (o promotor, o operador e o sítio de ligação da CAP) pertencem à região
reguladora do gene localizada na extremidade 5’.
Quando a lactose não está disponível, o repressor lac se liga firmemente ao operador, evitando a transcrição
pela RNA polimerase. Porém, quando a lactose está presente, o repressor lac perde a capacidade de ligação
ao DNA, desliga-se do operador e abre o caminho para a RNA polimerase fazer a transcrição do operon.
Quando a lactose está disponível, há a ligação de uma molécula de alolactose no repressor lac, que perde a
capacidade de ligar-se ao operador. Dessa forma, a RNA polimerase consegue se ligar ao promotor e
transcrever o operon lac.
Mas... e a glicose?
A RNA polimerase sozinha não se liga muito bem ao promotor do operon lac, a menos que tenha auxílio da
CAP, que se liga à região do DNA localizada antes do promotor do operon lac e auxilia na ligação da RNA
polimerase, resultando em altos níveis de transcrição.
Porém, a CAP nem sempre é capaz de se ligar ao DNA. Ela é regulada por uma molécula chamada AMP cíclico,
que é produzida pela E. coli quando os níveis de glicose estão baixos. Com a baixa de glicose, há o aumento
do AMP cíclico e ativação da CAP, que nessa situação consegue se ligar ao DNA.
Como você deve ter reparado, o operon lac apresenta intensa regulação e só é transcrito em altos níveis
quando a glicose está ausente no meio. Essa regulação permite que o operon lac somente seja ativado e a
bactéria comece a metabolizar a lactose quando toda a fonte de energia preferencial – a glicose – estiver
esgotada.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Organização dos genes procarióticos – os replicons
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Apesar das diferenças ecológicas, genéticas e fisiológicas, os genes e genomas dos procariotos – bactérias e
arqueas – possuem alguns aspectos semelhantes. Sobre os seus conhecimentos nesse assunto, marque a
alternativa que traz uma característica dos genomas procarióticos.
A maioria das espécies bacterianas apresenta um cromossomo linear, enquanto as espécies de arqueas, por
serem ancestrais, apresentam um único cromossomo circular.
Normalmente, o tamanho do genoma de qualquer espécie procariótica não costuma variar ao longo da
evolução.
Uma característica típica dos genes procarióticos é a existência de colinearidade entre um gene e seu
produto.
Para garantir o aproveitamento dos genes, bactérias e arqueas possuem um único cromossomo, com vários
replicons.
Procariotos podem apresentar plasmídeos, que são elementos genéticos móveis contendo genes essenciais
para a sobrevivência celular.
Questão 2
Em um cenário onde não há presença de a glicose, as bactérias da espécie E. coli tem a capacidade de utilizar
a lactose como fonte de energia. O operon lac é necessário para codificar as enzimas fundamentais para a
absorção e metabolismo da lactose. Na regulação do operon lac, se a lactose estiver presente no meio,
ocorre:
A ligação da lactose ao repressor lac, alterando sua conformação para que possa se ligar ao operador e os
genes não são expressos.
A ligação da lactose à RNA polimerase, que liga-se ao promotor e transcreve os genes necessários.
A ligação do AMPc na CAP, que liga-se ao promotor e atrai a RNA polimerase para se ligar no lacZ.
A ligação da CAP à RNA polimerase, que se liga ao operador e inicia a transcrição do lacA.
A característica mais marcante e diferencial das células eucarióticas é a presença do núcleo, que é
um compartimento interno que abriga a maior parte do DNA celular, chamada de genoma nuclear, e
o mantém separado do citoplasma.
Além disso, as células eucarióticas apresentam outras organelas além do núcleo, como os retículos
endoplasmáticos liso e rugoso, os ribossomos, o complexo de Golgi e as mitocôndrias. Muitas células
eucarióticas, especialmente as de plantas e algas, possuem outro tipo de organela parecido com as
mitocôndrias – os cloroplastos, que realizam a fotossíntese. Veremos mais adiante que as mitocôndrias e os
cloroplastos possuem pequenos genomas especializados, que codificam as funções específicas dessas
estruturas.
As mitocôndrias possuem tamanho similar ao de pequenas bactérias, e, assim como essas bactérias, possuem
seu próprio genoma na forma de DNA circular. As análises genômicas sugerem que as mitocôndrias foram
bactérias de vida livre metabolizadoras de oxigênio que foram engolfadas por uma célula predadora ancestral,
incapaz de fazer uso do oxigênio, há aproximadamente 1,5 bilhão de anos.
De forma semelhante, sugere-se que os cloroplastos se originaram de uma relação evolutiva simbiótica entre
bactérias fotossintetizantes e células eucarióticas que já possuíam mitocôndrias.
A partir dessas informações, é fácil entender por que a informação genética das células eucarióticas tem
origem híbrida. Quando o DNA mitocondrial e do cloroplasto são analisados separadamente do genoma
nuclear, percebe-se que eles são versões curtas de genomas bacterianos.
O primeiro genoma eucariótico a ser completamente
sequenciado foi o da levedura Saccharomyces cerevisiae,
publicado no final da década de 1990. Uma das primeiras
versões das sequências do genoma humano foi publicada
no começo dos anos 2000, com o Projeto Genoma Humano.
Elementos reguladores
São sequências nucleotídicas reconhecidas por proteínas reguladoras específicas.
No gene eucariótico, os elementos reguladores distais podem ser encontrados a milhares de pares de base,
tanto a montante como a jusante, da sua região codificadora. Já nos genes procarióticos, os elementos
reguladores distais estão geralmente situados a algumas centenas de pares de base a montante da região
codificadora.
Montante e a jusante
São termos utilizados na biologia molecular que se referem a posições de sequências nos ácidos
nucleicos, levando em consideração a direção de 5' para 3' na qual a transcrição de RNA ocorre. A
montante é a região voltada para a extremidade 5' da molécula do ácido nucleico e a jusante voltada
para a extremidade 3'.
Um outro aspecto importante de genes eucarióticos é a presença de íntrons. Íntrons são sequências que
interrompem a região do gene que é transcrita, dividindo-a em vários pedaços, chamados de éxons. As
sequências que correspondem aos íntrons estão presentes no DNA genômico, mas são removidas durante o
processamento do RNA maduro.
Esquema da estrutura de um gene eucariótico que codifica uma proteína.
Saiba mais
Além da presença de íntrons ser uma constante em genes eucarióticos, há uma tendência geral de
aumento no número de íntrons por gene e no tamanho do íntron, à medida que avançamos na escala
evolutiva dos eucariotos.
Organismos de uma mesma classe, como a dos anfíbios, podem apresentar variações de mais de 100 vezes
no tamanho dos seus genomas. Por outro lado, espécies de grupos com diferenças fisiológicas e anatômicas
muito distintas, como insetos e mamíferos, por exemplo, podem apresentar genomas de tamanhos similares.
Esse fenômeno da frequente falta de associação entre a complexidade biológica do organismo e o tamanho
do seu genoma é conhecido como paradoxo do valor C. Podemos entendê-lo se pensarmos na grande
quantidade de sequências não associadas a genes nos genomas de muitas espécies de eucariotos – ou seja,
o tamanho do genoma não reflete diretamente o número de genes.
Cromossomos eucarióticos
O DNA nuclear dos eucariotos organiza-se em cromossomos, cada um composto por uma única molécula de
DNA linear. Essa configuração difere dos procariotos, que apresentam cromossomos circulares.
A maioria dos eucariotos possui dois conjuntos completos de cromossomos em cada célula somática
(diploide), mas existem espécies com 3 ou mais cópias de cada cromossomo em cada célula (poliploide) e,
ainda, aquelas que apresentam um único conjunto de cromossomos por célula (haploides). O número e o
tamanho dos cromossomos apresentam grande variedade, dependendo da espécie.
O cariótipo (conjunto de cromossomos) humanos.
Definir o número total de genes presentes em uma espécie de eucarioto é uma tarefa complexa, pois além de
serem grandes, os genes apresentam grande variação em tamanho e estrutura. Por isso, as estimativas gerais
têm se limitado à quantificação dos genes codificadores de proteínas.
Outro conceito importante que já comentamos e que precisamos discutir com mais detalhes agora é a
densidade gênica.
A densidade gênica é a distância média entre genes individuais ao longo do genoma. Como você
deve estar imaginando, essa densidade depende da proporção de sequências intergênicas no
genoma.
Dessa forma, ela geralmente é inversamente proporcional ao número de genes. Lembra que os genomas
procarióticos apresentam uma alta densidade gênica? Como normalmente os eucariotos mais complexos
tendem a apresentar um maior número de genes e maior proporção de sequências intergênicas que os
procariotos, a densidade gênica é menor.
Observe a imagem a seguir. As regiões intergênicas estão representadas em branco, enquanto as regiões
codificadoras, em azul.
Ao longo da evolução, ocorreram muitos eventos de duplicação gênica que determinaram que muitos genes
formassem famílias gênicas ou famílias de parálogos. Esses genes apresentam alta similaridade em suas
sequências nucleotídicas, que varia de 30% até quase 100% ao longo de todo o gene ou, pelo menos, em um
ou mais de seus éxons.
Dentro do conjunto de genes organizados em famílias, existem genes idênticos, presentes em múltiplas
cópias.
Exemplo
Genes codificadores de rRNAs, tRNAs e das histonas são exemplos de famílias de genes com cópias
múltiplas.
Você pode estar se perguntando se essa multiplicidade de cópias não seria uma redundância desnecessária,
mas, na verdade, elas são uma estratégia para responder à alta demanda das células eucarióticas pelos
produtos desses genes.
A origem de famílias gênicas por duplicação e pela ocorrência de mutações também resulta na formação de
genes não funcionais, conhecidos por pseudogenes.
Por outro lado, existem aqueles genes que não fazem parte de nenhuma família e são chamados de genes
únicos. A proporção desses genes, assim como aqueles organizados em famílias, varia de espécie para
espécie.
Sequências intergênicas
Chamamos de sequências intergênicas aquelas sequências genômicas que não estão associadas diretamente
a um gene. Essa definição torna-se complexa nos genomas de eucariotos, já que os limites físicos dos genes
nem sempre são claros e a quantidade de íntrons é extensa.
Veremos mais adiante que um aspecto adicional de complexidade é a existência das regiões reguladoras dos
genes.
Dessa forma, para simplificar, sequências intergênicas são aquelas que não fazem parte de éxons ou íntrons
de genes funcionais com uma estrutura típica, que vimos anteriormente.
É importante que você saiba que grande parte da maioria dos genomas eucarióticos é formada por
sequências intergênicas. Mas fica a pergunta:
Já que não está associado a um gene, esse DNA intergênico não seria um lixo genômico?
Pois é, os primeiros estudos sobre esse tema realmente indicavam que essas sequências poderiam ser
consideradas inúteis. Porém, com o avanço das pesquisas, hoje já é aceito que essa fração do genoma
eucariótico possui diversos elementos importantes para a fisiologia e evolução do próprio genoma.
A seguir, vamos discutir brevemente as duas classes mais estudadas de sequências intergênicas eucarióticas:
As sequências repetidas simples são sequências intergênicas curtas que podem estar repetidas cerca de
milhares a milhões de vezes nos genomas de espécies eucarióticas mais complexas. Comumente, essas
unidades de repetição possuem extensão de 5 a 10pb, e, em sua maioria, estão organizadas lado a lado, no
que chamamos de arranjos em tandem, que podem chegar a centenas de quilobases de extensão.
A partir de experimentos de isolamento de DNA genômico por densidade, essas sequências apareciam
separadas do componente principal, que correspondia à fração gênica. Por esse motivo, as sequências
repetidas simples também podem ser chamadas de DNA-satélite. Repetições menores, de 2 ou 3pb, são
chamadas de microssatélites e podem ocorrer, inclusive, dentro de éxons e íntrons.
A presença dessas sequências repetidas nos genomas eucarióticos ao longo dos anos sugere que, durante a
evolução, as pressões seletivas foram favoráveis à sua manutenção. Atualmente, sugere-se que essas
sequências estejam envolvidas na estruturação e no funcionamento dos cromossomos, por exemplo.
Saiba mais
Variações ocorridas em microssatélites são capazes de determinar alterações no nível de expressão ou
no produto de genes, resultando na mudança de fenótipo. Diversas doenças humanas, por exemplo, são
causadas por variações no número de repetições em microssatélites associadas a determinados genes.
Já os elementos transponíveis são sequências de DNA capazes de se integrarem por transposição em outros
lócus genômicos. Como já comentamos, a capacidade de um elemento transponível de deslocar
autonomamente depende da existência, em suas sequências, da codificação para um polipeptídeo com
função de transposase, necessário para sua excisão e reinserção.
Os elementos transponíveis dividem-se em dois tipos principais – o dos transposons de DNA e o dos
retrotransposons. Na maioria das espécies, os elementos transponíveis constituem a maior parte das
sequências intergênicas e, em alguns casos, do próprio genoma.
Composição de sequências gênicas e intergênicas do genoma humano.
Os transposons de DNA são mobilizados por meio de intermediários de DNA e representam uma parte menor
dos elementos transponíveis eucarióticos. Exemplos são o elemento P de Drosophila e os elementos Ac e Ds
do milho.
Já os retrotransposons constituem a maioria dos elementos móveis de eucariotos e sua mobilização envolve a
transcrição reversa de um intermediário de RNA. São divididos em retrotransposons contendo longas
repetições terminais (LTR), correspondendo aos retrotransposons virais (semelhantes a retrovírus), e em
retrotransposons sem LTR, que abrange os retrotransposons não virais.
Atualmente, estima-se que 50 a 100 genes humanos que codificam proteínas evoluíram a partir de sequências
de transposons ou retrotransposons. Realmente, esses elementos podem alterar os padrões de expressão de
alguns genes ou até originar novos genes.
É importante comentarmos que elementos transponíveis ativos atuam como agentes mutagênicos, uma vez
que podem se inserir em regiões promotoras e alterar o controle da expressão gênica. Por outro lado, também
podem atuar na estruturação do cromossomo e na fisiologia da cromatina, que estudaremos em seguida.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Cromossomos eucarióticos
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
É comum que células eucarióticas sejam maiores e mais complexas quando comparadas com células
procarióticas. Além do aspecto morfológico, o genoma das primeiras também tem tamanho e complexidade
maiores que as segundas. Analise as afirmativas, levando em consideração a organização e estrutura dos
genes eucarióticos.
I – Sequências de íntrons estão presentes no DNA genômico eucariótico, mas são removidas durante o
processamento do RNA maduro.
II – Comparando diferentes grupos de eucariotos, percebe-se uma frequente falta de associação entre a
complexidade biológica do organismo e o tamanho do seu genoma.
III – As regiões reguladoras dos genes eucarióticos geralmente apresentam um número menor de elementos
reguladores que os genomas procarióticos.
IV – Analisando o DNA de ribossomos e lisossomos, sugere-se que o genoma eucariótico possui origem
híbrida.
É correto o que se afirma nas afirmativas:
I e III.
I e II.
II e IV.
I e IV.
II e III.
Questão 2
Os elementos transponíveis são sequências de DNA capazes de se integrarem por transposição em outros
lócus genômicos. Os ________________ constituem a maioria dos elementos móveis de eucariotos e sua
mobilização envolve a transcrição reversa de um intermediário de RNA. Já os ______________ são mobilizados
por meio de intermediários de DNA e representam uma parte menor dos elementos transponíveis eucarióticos.
Qual das alternativas apresenta a sequência adequada de denominações que preenche a sentença?
retrotransposons - transposons
microssatélites - transposons
C
transposons - retrotransposons
retrotransposons – íntrons
plasmídeos - éxons
A síntese de RNA inicia-se alguns pares de bases antes da região codificadora e termina alguns pares de base
após essa região. As regiões 5’ e 3’ não codificadoras do DNA e RNA são denominadas regiões 5’ ou 3’ não
traduzidas (UTR). Na região 5’-UTR do RNA mensageiro, por exemplo, existem sequências importantes para o
início da etapa de tradução da cadeia polipeptídica.
Início
É a fase onde as sequências nucleotídicas específicas no DNA sinalizam o local de início de
transcrição.
Alongamento
Acontece o alogamento da molécula, na qual a fita de RNA é formada.
Terminação
Etapa na qual há sinais específicos de elementos terminadores para a finalização da síntese de RNA.
Como vimos, em um gene procariótico típico, as sequências reguladoras da transcrição encontram-se ao lado
da região codificadora. Entre essas sequências, as mais importantes são o promotor e o terminador,
sequência nucleotídica que indica o término na transcrição e dissociação da RNA polimerase. O promotor
situa-se na região 5’, a montante da região codificadora e o terminador situa-se na região 3’, a jusante da
região codificadora. Para relembrarmos esses conceitos, vamos olhar novamente a imagem a seguir:
Após diversas análises moleculares, pesquisadores chegaram à conclusão que existem algumas regras para
os promotores de bactérias. Uma delas, muito importante, é que existem duas sequências conservadas na
maioria dos genes procarióticos: uma na região -10 e a outra na região -35. A região -10 recebe uma
denominação especial – TATA box, devido à presença de timina e adenina.
É importante que você saiba que a atividade dos promotores, de ser o sítio para sinalização do início da
transcrição, pode ser modificada por proteínas ativadoras ou proteínas repressoras, que se ligam a
sequências regulatórias próximas à região promotora. Um exemplo dessas sequências é a sequência de
ativação a montante (do inglês upstream activating sequence, UAS), que induz a expressão de um gene por
meio do aumento da atividade transcricional. A sequência UAS serve de âncora para proteínas mediadoras
que disparam uma cascata de ativação por meio do recrutamente de fatores de transcrição adicionais. Todo
este processo resulta no recrutamento da RNA polimerase para a formação do complexo de transcrição.
Comentário
O processo de controle da expressão gênica mais comum em células procarióticas ocorre no início da
transcrição. Um bom exemplo é quando um gene e/ou uma proteína precisam ser expressos em maiores
quantidades, pois são necessários em uma determinada situação celular. Com essa regulação, a célula
evita gastos energéticos desnecessários.
Assim, nos genes procarióticos, o complexo da RNA polimerase liga-se às sequências promotoras para iniciar
a transcrição. Já nos eucariotos, o promotor é primeiro reconhecido por fatores de transcrição, que
posteriormente conduzem a RNA polimerase para iniciar a transcrição. Normalmente, nos promotores
eucarióticos, encontramos uma sequência denominada promotor principal, que é capaz de manter a
transcrição em um nível basal.
Além do promotor principal, existem ainda outras regiões regulatórias. Elas podem se localizar próximas aos
promotores (50 a poucas centenas de pares de base), a montante do sítio de início da transcrição – os
promotores proximais – ou a milhares de pares de bases a jusante ou a montante do sítio de início da
transcrição – os promotores distais ou enhancers (reforçadores). Os enhancers são sequências de DNA que
aumentam a afinidade do complexo de transcrição por um certo promotor. Alguns deles atuam somente em
algumas células, o que provavelmente é regulado pela ligação de proteínas específicas a eles.
Atenção
A célula, tanto a procariótica quanto a eucariótica, é capaz de bloquear ou ativar a expressão de
diferentes genes, dependendo dos estímulos externos ou internos que recebe.
A partir de agora, nós vamos discutir sobre a estrutura e organização típica da cromatina de eucariotos,
descrevendo seus componentes e seus graus de compactação. Em um encontro por vídeo, conversaremos um
pouco sobre a cromatina de procariotos, que também apresenta grande importância.
A cromatina eucariótica é formada por várias moléculas de DNA linear (uma por cromossomo) associada a
proteínas. Observe o quadro a seguir, no qual estão listadas as principais proteínas associadas.
Estado Efeito(s)
Massa
Proteína a oligomérico Sítios de ligação no DNA sobre o DNA
molecular b
funcional
Preferencialmente regiões
contendo dinucleotídeos
Histonas
Homodímero TA repetidos a cada 10 pb
centrais
11-14 kDa (parte do e intercalados com Enrolamento
(H2A, H2B,
nucleossomo) dinucleotídeos GC (com 5
H3 e H4)
pb de distância entre cada
TA e cada GC)
Histonas
de ligação ~21 kDa Homodímero Sequências ricas em AT Interligação
(H1 e H5)
Proteínas Homodímero ou
11-38 kDa Trechos ricos em AT Dobramento
HMG heterodímero
Heterodímero (p.
Interligação
Proteínas ex. SMC2-SMC4, Sequências ricas em AT
~140 kDa estruturas
SMC parte da capazes de formar
secundárias
condensina)
Podemos ver que as histonas são as proteínas principais da cromatina em quase todos os eucariotos, cuja
massa é similar à do DNA total da cromatina. As histonas canônicas são as formas de histonas envolvidas na
compactação geral da cromatina e são divididas em:
Formam o complexo proteico central dos nucleossomos e possuem cerca de 100 aminoácidos de
extensão. São caracterizadas por um domínio formado por 3 alfa-hélices separadas por alças curtas,
denominado enovelamento de histonas (histone fold, no inglês).
Associam-se externamente aos nucleossomos e participam das interações entre eles. Possuem entre
190 a 250 aminoácidos de extensão e apresentam 3 domínios, sendo o domínio globular central
essencial para a ligação da histona ao nucleossomo.
As histonas canônicas apresentam caráter básico acentuado, pois contêm alta proporção de aminoácidos
positivos, a lisina e a arginina. Por esse motivo, a interação com o DNA de fita dupla, que é carregado
negativamente, é favorecida. Além disso, essas histonas podem ser encontradas em praticamente todos os
eucariotos. É comum que os membros de cada classe, principalmente as das histonas centrais, sejam
codificados por famílias de genes parálogos, que comentamos anteriormente.
Além das histonas, a cromatina de eucariotos também possui outras proteínas – as proteínas não histônicas –
que são menos abundantes que as histonas. As histonas, como veremos mais adiante, são responsáveis pelos
níveis de organização básicos do DNA, enquanto as proteínas não histônicas estão envolvidas com a
estruturação da cromatina em níveis mais complexos.
Entre as proteínas não histônicas importantes para a estrutura da cromatina eucariótica, temos duas:
Proteínas HGM (grupo de alta mobilidade)
As proteínas SMC formam uma família de proteínas que são capazes de se ligar ao DNA, formando
complexos envolvidos na organização e estruturação da cromatina eucariótica. Esses complexos,
constituídos por proteínas SMC e proteínas cleisinas, formam estruturas em anel em torno de uma ou
mais fitas duplas do DNA.
Além das proteínas HGM e SMC, exemplos de outras proteínas não histônicas são as DNA e RNA polimerases
e as proteínas reguladoras da transcrição e replicação.
O nucleossomo eucariótico
A forma estrutural básica da cromatina eucariótica é uma partícula formada por DNA e histonas, chamada de
nucleossomo. Observe a imagem.
Cada nucleossomo é constituído por uma partícula central, um complexo formado por oito proteínas (um
octâmeto – duas cópias de cada uma das 4 histonas centrais) e por uma extensão de DNA que dá duas voltas
ao redor desse octâmero. Externamente, ainda encontramos uma molécula de histona de ligação – H1 ou H5.
A estrutura típica do nucleossomo é a de um cilindro achatado, com projeções das caudas das
histonas centrais, que também interagem com o DNA e auxiliam na sua estabilização ao redor do
nucleossomo.
Você deve estar se perguntando como é que outras proteínas interagem com a molécula de DNA, já que ele se
encontra compactado na forma de nucleossomo, certo?
Para entendermos essa questão, é importante discutirmos sobre um aspecto estrutural fundamental do
nucleossomo: o posicionamento rotacional do DNA nesse complexo nucleoproteico, no que diz respeito à
posição da dupla hélice em relação ao octâmero de histonas.
O que ocorre é que, no nucleossomo, apenas uma das faces da molécula de DNA que está associada ao
octâmero fica exposta para que outras proteínas possam interagir. Logo, uma proteína que se liga a uma
sequência específica de DNA, como um fator de transcrição, vai depender do posicionamento do seu sítio de
ligação na face exposta do DNA. O posicionamento rotacional depende de muitos fatores, incluindo certas
sequências nucleotídicas.
Durante o intervalo entre a mitose/meiose, na interfase, podemos observar ao microscópio óptico dois tipos
básicos de cromatina:
Eucromatina Heterocromatina
Durante a divisão celular, na mitose ou na meiose, a cromatina condensa-se muito mais, formando os
cromossomos. Tanto a heterocromatina quanto os cromossomos são consideradas formas
transcricionalmente inativas.
Ilustração da compactação do DNA em cromossomos.
Como já comentamos, durante o ciclo celular, há uma transição entre diferentes estados de compactação da
cromatina, desde a sua conformação mais relaxada, na interfase, até a formação de cromossomos
metafásicos, que representam seu estado de condensação máxima. Nessa dinâmica de compactação, as
fibras de cromatina formadas pela sequência linear de nucleossomos condensam-se progressivamente,
formando fibras de maior diâmetro (fibras de 10 nanômetros < 30 nanômetros < 300 nanômetros) e alças
cromossômicas.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
O nucleossomo eucariótico
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
De maneira geral e resumida, os genes são formados por regiões codificadoras, que são as sequências
nucleotídicas que codificam o RNA, e pelas sequências reguladoras que controlam a sua expressão. Em
relação às sequências reguladoras de procariotos e eucariotos, marque a alternativa correta:
Na região 3’-UTR do RNA mensageiro, existem sequências importantes para o início da etapa de tradução da
proteína.
Existem quatro sequências conservadas na maioria dos genes procarióticos, uma na região -10, outra na
região -20, outra na região -30 e outra no terminador.
A região -35 possui uma denominação especial – TATA box, devido à presença de timina e adenina.
A sequência de ativação a montante (UAS), que induz a ativação de um gene por meio da ligação da DNA
polimerase e aumento da tradução.
Questão 2
SMC
Conexinas
C
família HMG
Condensinas
Histonas
Considerações finais
Chegamos ao fim de uma jornada repleta de aprendizados. Nela, nós debatemos sobre a complexidade dos
genomas de organismos procarióticos e eucarióticos, suas principais diferenças e organização. Aprendemos
sobre a importância dos plasmídeos, elementos genéticos móveis e operons para a adaptação da célula frente
a modificações do meio. Discutimos sobre a estrutura básica do gene, sobre a região codificante e regiões
regulatórias. Aprofundamos nossos conhecimentos sobre a regulação do genoma e estrutura das sequências
regulatórias de procariotos e eucariotos.
Por fim, vimos a estrutura e organização da cromatina, debatendo sobre a importância dos diferentes graus
de compactação do DNA. Todos esses conceitos são fundamentais no estudo da biologia molecular e
biotecnologia, sendo aplicáveis na maioria das técnicas utilizadas pelos biólogos moleculares, biomédicos e
outros profissionais da área da saúde, tanto na pesquisa clínica quanto acadêmica.
Podcast
Neste podcast, o especialista apresenta a estrutura dos plasmídeos, constituição, tamanho, função, se é
essencial para a célula ou não, e o que são epissomos. Também explica de que forma podem ser
recuperados e fala sobre as drogas que interferem nos plasmídeos.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para ouvir o áudio.
Explore +
Leia mais sobre as ilhas de patogenicidade no artigo de Midolli Vieira, Ilhas de patogenicidade, publicado em
2009, na revista O Mundo da Saúde.
Referências
ALBERTS, B et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
WATSON, J. D. et al. Biologia molecular do gene. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
ZAHA, A; FERREIRA, H. B.; PASSAGLIA, L. M. P. Biologia molecular básica. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.