FS 04 A Espiritualidade Sustentavel Das Trilhas Aborigenes
FS 04 A Espiritualidade Sustentavel Das Trilhas Aborigenes
FS 04 A Espiritualidade Sustentavel Das Trilhas Aborigenes
Sumário
PRÓLOGO ..................................................................................................................................................................1
UMA INTRODUÇÃO À CULTURA ABORÍGENE ............................................................................................................3
A INSUSTENTABILIDADE DAS CULTURAS CIVILIZADAS ..............................................................................................5
SONHO: UMA VISÃO ALTERNATIVA DO TEMPO?......................................................................................................9
O SONHO ABORÍGENE, A ECOLOGIA PROFUNDA E O SER ECOLÓGICO. ................................................................ 14
SONHO E SUSTENTABILIDADE ................................................................................................................................ 18
DESCOBRINDO SUA SONGLINE PESSOAL ............................................................................................................... 20
PRÓLOGO
Qualquer cultura que destrói o seu próprio sistema de apoio à vida em nome do progresso é suicida e
funcionalmente insana, e não tem viverá muito tempo. É um pouco como serrar o galho em que você está
sentado, chamando de progresso quando você aumenta a velocidade com que a serra funciona. Aqueles que
participam de tal cultura, quando não fazem parte da solução, são parte do problema, e nesta situação o que se
acredita ser a normalidade é, de fato, uma peça da demência. Vivemos em uma cultura ‘ecocida’ e consumista, a
Civilização de Crescimento Industrial, que vê o progresso como o ato de transformar o tecido vivo da superfície
planetária em dinheiro tão rapidamente como pode. A sanidade em tal situação suicida é vista como
‘alternativa’ se não ‘anormal’.
Os australianos têm sorte – não só têm um ambiente natural que ainda permanece intacto, mas também têm o
incomparável patrimônio aborígine. Do ponto de vista ambiental, isso os torna duplamente ricos. Nossa cultura
está passando por uma necessária mudança na visão de mundo, a mudança de ver tudo como um simples
mecanismo sem vida para vê-lo como organismo – cheio de vida, mente, inteligência e alma. Esta realização é
importante para o cientista convencional. Se nós definirmos a alma, como a ‘essência’ no âmago das coisas,
então a alma está em toda parte.
A consciência da intersubjetividade parece ter sido uma característica fundamental dos sistemas de crenças de
muitos indígenas dos ‘primeiros povos’. O Chefe Seattle, em sua declaração ao Presidente dos EUA, em 1854,
reconheceu claramente que a cegueira dos europeus para a intersubjetividade do que hoje reconhecemos como
um ‘sujeito ecológico’ foi uma grande fraqueza e poderia resultar na destruição dos sistemas de suporte dos
quais toda a vida depende.
Esta consciência também foi encontrada em culturas indígenas europeias. Amergin, o bardo druida da antiga
Irlanda cantava:
Embora exista desde o início de nossa própria cultura, a intersubjetividade ou ‘interser’ foi perdida no mundo
moderno. Esta é uma valorização da nossa cultura urgentemente necessária e precisamos recuperá-la, se
quisermos alcançar o início de uma Cultura de Vida Sustentável e sobreviver para além do século XXI. Caso
contrário, corremos o risco de sofrer aquilo que o astrônomo real britânico Martin Rees nos advertiu que
poderia ser “O Último Século Humano”, como estamos neste momento a desencadear a sexta megaextinção,
causando a morte de até 50% da vida no planeta ao longo dos próximos cinquenta anos.
Chedinnen continuou “W. E. Stanner chamava o ‘Tempo de Sonho’ de Duradouro, ou Permanência, palavras que
Stanner preferia em detrimento do mais familiar ‘Sonhar’, que ele pensava lembrar por demais um conto de
fadas”.
Mais tarde, em sua própria série de palestras, ele se referia a isto com o ‘Todo Quando’20. O professor e
estudioso zen budista vietnamita já mencionado, Esp Nhat Hanh, chama isso de ‘Interexistência’ e sugere que é
de vital importância para a cura de nós mesmos no mundo. Na última seção, brevemente mostrei como esse
conceito é necessário na Grande Virada, para voltarmos a habitar o tempo. Einstein também entendeu isso.
Desta forma, Sonhar é parte do padrão final atrás do padrão – o padrão que liga os sistemas vivos. Em sua Teoria
da Relatividade Especial, através do seu ‘Continuum do Espaço-Tempo’, Einstein compreendeu o ‘Todo Quando’
com uma visão do tempo como estando em todos os lugares totalmente presente, de uma forma muito
parecida com a interpenetração do tempo e do país dos aborígenes.
SONHO E SUSTENTABILIDADE
Mas a espiritualidade aborígene foi ainda mais longe do que Einstein. Não era apenas um conjunto de equações
científicas. Era vivo e ecológico, bem como de natureza física. Baseava-se na importância de suprir sua
necessidade de alimento sem degradar o meio ambiente do qual dependia. Viver em um ambiente tão frágil
como na Austrália mostrou aos aborígenes que, se eles se tornassem ‘Comensais Futuros’21, os comedores de
seu próprio futuro como temos feito, não haveria comida no futuro.
Como Chedinnen mostrou, os “aborígines se sustentavam em delicado equilíbrio entre a população e o
abastecimento de alimentos, através de uma contenção do consumo e coreografados movimentos sazonais.”
Estes movimentos foram determinados pelas ‘Linhas da Canção’, que Bruce Chetwin descreveu como
“... o labirinto de caminhos invisíveis que correm por toda a Austrália e são conhecidos pelos europeus como
as ‘Trilhas de Sonho’ ou ‘Linhas da Canção’, para os aborígenes como as ‘Pegadas dos Antepassados’” ou o
‘Caminho da Lei’”.
“Os mitos de criação aborígenes falam do ser lendário totêmico que andava sobre o continente no Tempo do
Sonho, cantando o nome de tudo o que cruzasse o seu caminho – pássaros, animais, plantas, rochas,
nascentes – e assim cantando trazia o mundo à existência.”22
Robyn Davidson escreveu sobre as ‘Linhas da Canção’ quando ela diz que
“Muitos ancestrais diferentes criaram um país, viajando através dele conhecendo-se uns aos outros. Dessa
forma, um determinado país é compartilhado por todas as criaturas que ali vivem, suas essências surgindo do
Sonhar, e a ele retornando. Algumas ‘Trilhas do Sonho’ atravessaram muitos países, interagindo com os locais
onde foram e conectando lugares distantes uns aos outros. Assim, o pulso de espalhar a vida, como um
batimento cardíaco, leva sangue através do corpo do continente – nó / caminho, nó / caminho – tanto
quanto, e às vezes através do mar...”
Isto leva a um comportamento muito diferente em relação a como é tratado o ambiente natural. O
reconhecimento de parentesco com toda a vida, amplamente demonstrado cientificamente com a descoberta
de que somos todos descendentes do Último Ancestral Universal Comum (N.T.: LUCA – Last Universal Common
Ancestor), alguma bactéria pioneira que viveu há mais de três e meio bilhões de anos atrás, leva a uma condição
de respeito, como você poderia mostrar aos membros da sua família biológica imediata.
Notas de Tradução:
A tradução para o português, revisão e divulgação deste e de outros textos de John Croft é fruto de uma iniciativa
colaborativa e voluntária que endossa a ética de Crescimento Pessoal, Formação de Comunidades e Serviço à Terra –
encontramos em Dragon Dreaming contribuições significativas para as mudanças necessárias à nossa sociedade.
Alguns termos usados por John Croft não são passíveis de tradução direta, ou implicam em perda de sentido quando
traduzidos para um diferente contexto cultural. Nossa opção, como regra geral, foi por buscar manter os termos aborígenes
na mesma grafia do original, assim como alguns neologismos, como:
Everywhen – todo momento, ou ‘todo quando’, refere-se à singularidade do contínuo espaço-tempo.
Songlines – as ‘linhas da canção’, ‘linhas encantadas’, ‘trilhas cantadas’ ou ‘caminhos sagrados’, se referem tanto às trilhas
físicas percorridas pelos aborígenes na paisagem australiana, quanto às trilhas rituais e sendas espirituais por estes
traçadas.
Karlup – local de encontro sagrado aborígene, ao redor de uma fogueira (karl), e ponto de entrecruzamento de diversas
‘Songlines’.
Notas de Fim:
1 Bateson, Gregory
2 Macy, Joanna and Brown Molly “Coming Back to Life:” and Korton, David “The Great Turning”
3 Diamond, Jarrod “Collapse: How Societies Succeed or Fail”
4 The “boiling frog principle” states that if you place a frog into hot water he will immediately escape and so save his life.
But if you place him in cold water which you heat slowly, he will stay in the water and boil to death.
5 Mendick, Sara and Erdman, Mark (2006), “Take a Nap: Change Your Life” (Workman Publishing Company)
6 Wiley, T.S. (2001), “Lights out: Sleep, Sugar and Survival” (Atria)
7 http://www.iranian.com/Iranica/Sept97/Dream/index.html retrieved 1st April 2009
8 Kelly Bulkeley, quoted in “The Dreamscapes of Nightmares; why we dream at all”
http://query.nytimes.com/gst/fullpage.html?res=9B07E4DA1539F930A15753C1A9619C8B63&sec=&spon=&pagewanted=
print retrieved 1st April 2009
9 Miller, Patricia Cox (1997), “Dreams in Late Antiquity: Studies in the Imagination of a Culture” (Princeton Uni Press)
10 Bulkeley, Kelly (2008), “Dreaming and the World’s Religions: a comparative history” (NYU Press)
11 Johnson, Robert A. (1989) “Inner Work: Using Dreams and Active Imagination for Personal Growth” (Harper One)
12 Von Franz, Marie Louise (1998), “Dreams: A Study of the Dreams of Jung, Descartes, Socrates, and Other Historical
Figures” (Shambhala)
13 Webb, Craig (1995). "Dreams: Practical Meaning & Appications". The DREAMS Foundation.
14 Wolff, Fred Allen (1994) “The Dreaming Universe” quoting from Peter Weir’s movie, “The Last Wave”
15 Koestler, Arthur (1964). “The Act of Creation.” (Arkana)
16 Brian, Denis, (1996), “Einstein: A Life” (John Wiley and Sons)
Dragon Dreaming Ficha Técnica # 04 Pág. 23
17 C.G.Jung called it the “collective unconscious”, but that is mainly because our post-enlightenment has repressed much
that formerly we used, into our sub-conscious realm, calling it superstition. Altered states of experience have been used,
as Stan Groff shows, by most cultures, to give us awareness of interconnectedness beyond what we get by our rational
left brain, but our culture has marginalised, pathologised and criminalised such activities.
18 Davidson, Robyn, (2006) “No Fixed Address: Nomads and the fate of the planet” (Quarterly Essay, Issue 24, 2006, p14-
15)
19 Inga Clendinnen, (1999 ) “Inside the Contact Zone: Part 1”, ABC Boyer Lectures,December 5,
20 Stanner, W. (1968) "After the Dreaming" (ABC Boyer Lectures)
21 Flannery, Tim (2002), “Future Eaters: an ecological history of the Australasian lands and people” (Grove Press)
22 Chatwin, Bruce (1987), The Songlines, (Jonathan Cape, and Vintage)
23 Molyneaux, Brian Leigh & Piers Vitebsky (2000). “Sacred Earth, Sacred Stones: Spiritual Sites And Landscapes, Ancient
Alignments, Earth Energy.” (London, England: Duncan Baird Publishers.)
24 Were Songlines a form of geomancy or mathematical geometry? This is unknown. There has been work done on the
mathematics of "Group Theory" in relation to Aboriginal kinship systems. For example, many Aboriginal groups (like the
Noongar) divided people by moiety (into halves). Thus you were either a Wardungmat (Crow leg or lineage) or a
Manitjmat (White cockatoo leg or lineage). This is a little like Yin and Yang but it does not apply to gender. Crows had to
marry cockatoos and vice versa. Daisy Bates shows that there were various subsections within these groups, but I am not
sure whether subsections were exogamous or endogamous (marrying within or without). In the Noongar of Perth,
children always took the same lineage as their mother. In Albany and Denmark amongst the Bibulmen and the Mineng, it
was the lineage of the father that counted.
In addition, in many groups, particularly there was another system of age grades, what we would recognise as "generation
levels". There was a prohibition of marrying someone outside your generation level, as they would be recognised as
"mother" or "father" (even if they were younger than you). When all of this was put together it would establish a pattern,
which geometrically looks quite beautiful. There were different patterns for different groups, and people recognised
which group they came from by the differences in these patterns.
On top of this were the various "degrees" of initiation. Circumcision was not practiced amongst the Noongar, which is why
the Desert Groups referred to the land of the Noongar as "the land of the boys" (they had not undergone the ceremony
that sorts "the real men from the boys"). But there were at least three degrees of initiation amongst the Noongar.
Joobaitj, who died in 1907, was the last third degree initiate of the Whadjuk Noongar of Perth.
I don't know how it worked with the Noongar of Perth, but in the interior, third degree initiates were called Djinagabee, or
"Feather Foots", and had the power, it was believed, to appear in two places at once. They also had the power of
declaring certain places "off limits" especially for children, and to defy such injunction would lead to the person falling
sick. They also had the power to "point the bone" at transgressors.
How does this relate to song-lines?
Christaller did work in Europe on the placement of different kinds of settlement of different sizes, based upon whether it
was transport, administration or market towns that were most important. The best way to cover a space is by a series of
equalateral triangles, as there will in such a pattern be the least amount of overlap. Aranging these triangles around a
central point will create a series of interlocking hexagons. Song-lines as transport routes or story trails, intersected at
various points and at these points there would be stories about how the two Dreaming heroes met. For example at
Walyunga, outside Perth, there was such an intersection between the Waugal and the Djittidjitti (Willy Wagtail). If one
was to plot such intersections for Songlines, I don't know if it would produce a pattern of hezagons and triangles or not. I
do know David Mwarljali of the people outside Derby produced a map of Australia, showing it covered with song-lines and
their intersections, but I cannot remember if this was in a pattern of triangles or not. It was more diagramatic than actual I
suspect.
How does this relate to the kinship patterns? People got their "skin" through various ways that linked song-lines to kinship,
and this was linked further to patterns of food taboo, that meant certain people were not to eat certain kinds of plants or
animals related to your song-line. This would prevent over-killing of a particular kind of animal, and keep a refuge area for
that animal, so it would never become rare or endangered, and that the population of that animal could increase once the
people moved to a new area.