Aula 1 - História Da Educação

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ALUNO(A)

PROFESSOR(A)

PERÍODO: POLO:

EDUCARE - SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO LIVRE, BÁSICA E SUPERIOR DO MARANHÃO LDA


CNPJ: 06.150.317/0001-90
RUA ANTONIO LEITE BRASIL, 240, ALATAMIRA I
CEP: 65.950 -000 BARRA DO CORDA-MA
sistema social, não significa, porém, que essa
INTRODUÇÃO sincronia deva ser entendida como simples
paralelismo entre fatos da educação e fatos
políticos e sociais. Na verdade, as questões
de educação são engendradas nas reações
que se estabelecem entre as pessoas nos
diversos segmentos da comunidade. A
educação não é, portanto, um fenômeno
neutro, mas sofre efeitos do jogo do poder, por
estar de fato envolvida na política.
Logo, ao estudar a História da Educação
podemos compreender que não há mudanças
sem educação e podemos pensar os
indivíduos como agentes construtores de
educação está presente em todas história, ou seja, podemos perceber a
as sociedades e passa por diversas importância da educação na sociedade e na
mudanças ao longo do tempo. A formação cultural, social e econômica dela.
sociedade, de uma forma ou de Podemos dizer que o homem torna-se
outra, se educa – e a educação homem, na identificação do outro como outro
molda o homem e, a depender da finalidade de si, é um ser social, criativo, capaz de
dela na sociedade, pode ser utilizada como interagir entre si e transformar a natureza.
forma de dominação ou de libertação. Essas transformações espelham-se na
É necessário que haja educação para que Educação nos diferentes períodos; as
a sociedade se desenvolva, tenha cidadãos mudanças ocorridas na nossa história
críticos. A evolução da educação está refletem-se no modelo pedagógico.
intrinsecamente ligada à evolução da O ser humano, enquanto criador e criativo,
sociedade. Segundo Gadotti (1999), a prática mostra ao mundo as transformações que vão
da educação é muito anterior ao pensamento ocorrendo, tanto com a sociedade, quanto
pedagógico, que surge com a reflexão sobre a com o próprio homem, através da arte,
prática, pela necessidade de sistematizá-la e contando sua história, mostrando suas
organizá-la em função de determinados angústias, anseios e vitórias. Desta forma,
objetivos. escolhemos algumas imagens para ilustrar
Como afirma Paulo Freire (1993), a tais representações estéticas. Podemos
educação como intervenção inspira observar tais imagens ao longo do texto.
mudanças radicais na sociedade, na A Educação é a forma de construção de
economia, nas relações humanas e na busca conhecimentos e atitudes necessárias para
dos direitos, ou seja, uma sociedade sem integração do homem à sociedade. Portanto,
educação não evolui. acontece em dois momentos distintos:
Diante da grande importância da educação, primeiro, como educação familiar, segundo,
se torna necessário estudar a História da como educação erudita.
Educação em seus mais diversos contextos, É preciso fazer um retrocesso na história da
pois ela proporciona o conhecimento do educação com a intenção de entender o fazer
passado da humanidade, criando assim novas pedagógico, observando que o homem é um
perspectivas. ser histórico, que retoma seu passado para
Para Aranha (2006, p. 24),: estudar a projetar o futuro.
educação e suas teorias no contexto histórico Aranha (1989, p.12) a esse respeito diz:
em que surgiram, para observar a Pensar o passado não deve ser
concomitância entre suas crises e as do compreendido como exercício de
saudosismo, mera curiosidade ou
preocupação erudita. O passado não é algo
morto: nele estão as raízes do presente. É Período Antigo
compreendendo o passado que podemos dar
sentido ao presente e elaborar o futuro.
A respeito da educação podemos
observar diferentes momentos que são de
fundamental importância para a história de
nossa humanidade: Período Antigo,
subdividido em Primitivo, Antigo e Medieval,
Moderno, destacando-se o Renascimento.
Como algo inerentemente humano, a
educação se transforma e o processo No período antigo, acontecem
educacional segue as normas e os padrões de transformações fundamentais para nossa
cada período histórico, respondendo às cultura, tornando-a cada vez mais científica,
necessidades de cada sociedade. mais especializada de forma diferenciada
Para fins de contextualizar esta escrita, entre si, tanto pelos objetivos, quanto pelos
dividimos as transformações sofridas pela métodos.
Educação nos seguintes estágios: Encontram-se diferentes modelos de
Educação, de acordo com o período a que
corresponde e a localização geográfica;
Período primitivo característica fundamental é o surgimento da
escrita e do Estado na antiguidade oriental,
diferenciando-se entre si.
Egípcia - Este povo desenvolve a escrita a
partir de 3500 a.C. em hieróglifos. O
conhecimento é reservado aos altos
funcionários, sacerdotes e militares.
Posteriormente, o conhecimento passa a ser
difundido, porém aos níveis mais altos, ao
qual só tem acesso a classe dominante.
Criam-se escolas para o povo, para filhos de
funcionários. Seu funcionamento acontece
A arte Rupestre, feita na parede das nos templos, conta com forte teor religioso,
cavernas, exposta acima, representa o não esquecendo as questões práticas, assim,
período de 4.000 a.C.. Acredita-se que teriam formam médicos, engenheiros e arquitetos
uma finalidade ritualística. Arte Egípcia 3.000 a.C., representa o dia-a-
O período primitivo corresponde à pré- dia da civilização, marcada por diferentes
história. Anterior à escrita, a educação momentos históricos. A figura acima mostra o
primitiva tem como objetivo ajustar a criança deus egípcio Anúbis e a mumificação.
em seu ambiente físico e social através da Babilônia - Predomina o poder da classe
aquisição das experiências. O saber, neste sacerdotal, para os babilônicos, estes
período, é disponível a qualquer pessoa, não possuem bibliotecas, noções de astrologia,
existe divisão social. Os chefes de família são procuram a aplicação prática do
os professores. conhecimento. Para este povo, a ciência
As mudanças na educação ocorrem com a mistura-se à magia.
revolução neolítica, onde é fixada uma divisão Índia- É uma civilização marcada pela
educativa, paralela à divisão do trabalho. divisão social em castas, onde todos derivam
(homem/mulher). do corpo do Deus Brahma, a Educação
acontece de forma discriminatória, famoso helenista alemão escreveu uma obra
privilegiando os brames; aos sudras e párias com esse nome, diz: Não se pode evitar o
é negada qualquer forma de Educação; sofre emprego de expressões modernas
também influência do budismo. como civilização, cultura, tradição, literatura
China- A Educação é conservadora ou educação; nenhuma delas, porém,
mantendo-se até recentemente voltada à coincide realmente com o que os gregos
transmissão, apoiada nos livros interpretativos entendiam por Paidéia. Cada um daqueles
de Lao Tsé e Confúcio que datam do terceiro termos se limita a exprimir um aspecto
milênio a.C. daquele conceito global e, para abranger o
Hebreus- Sua educação é marcada pela campo total do conceito grego, teríamos de
religiosidade, professada pelos profetas, empregá-los todos de uma só vez (ARANHA,
acontece nas sinagogas, nela se aprendem as 1989, p. 37).
verdades da Bíblia, especificamente do Antigo
testamento. São politeístas, valorizam a Existem subdivisões na Educação Grega.
educação manual. O período, conhecido como homérico, visa à
As propostas pedagógicas Orientais da formação do nobre. A criança permanece com
antiguidade baseiam-se nos livros sagrados, a mãe até os 7 anos de idade. A infância era
possuem o objetivo da educação moral de uma fase de passagem, a partir deste
acordo com a vida religiosa, impostos por momento a criança passava a freqüentar
cada civilização. locais próprios para o seu desenvolvimento,
Antiguidade Grega- o período arcaico, sendo que existe uma divisão educacional por
século VIII a VI a.C., traz grandes gênero, assim, a menina fica em casa
transformações no campo político e social, aprendendo as artes do lar.
surgimento da Pólis (cidades-Estado), do A escola permanece sendo o local da elite,
comércio e, conseqüentemente, das classes a cultura Grega é transmitida através de
sociais, da moeda. eventos sociais.
Essas transformações são fundamentais Esparta e Atenas são as principais cidades-
para o surgimento do pensamento filosófico, estado deste período e apresentam modelos
considera-se como período clássico (séculos diferenciados de Educação; Esparta volta-se
V e IV a.C.). Neste período, surge a idéia para a formação do guerreiro, a partir dos 7
pedagógica associada à formação do anos o menino era retirado do seio familiar,
cidadão, este modelo influenciou toda a passando aos cuidados do Estado. A
educação do Ocidente. Educação era pública, rígida, voltada,
Surgem as ciências como astronomia, principalmente, para as atividades físicas, não
geometria e matemática. O homem busca descuidando do estudo da música, canto e
uma explicação racional que explique a dança. Conforme a criança cresce, a disciplina
origem, o primeiro princípio de todas as aumenta. O guerreiro Espartano é educado
coisas; é dada a supremacia à razão. para suportar a dor e obedecer. A mulher tem
A educação tem como princípio a formação destaque neste período, participa de
do cidadão, completo e virtuoso, para tanto é atividades físicas e de festividades.
necessário um modelo que abranja corpo e Atenas difunde a educação a todos os
mente; concomitantemente com o surgimento cidadãos livres, devido a sua grande influência
do pensamento filosófico surge a palavra e, por se tratar do berço da filosofia, o ideal do
Paidéia. povo ateniense é o culto, os rapazes eram
Por volta do século v a.C. é criada a instruídos nas letras e filosofia, pelos mestres,
palavra Paidéia, que de início significa apenas na primeira fase era acompanhado pelo
‘criação dos meninos’ (pais, paidós, ‘criança’). pedagogo (escravo que tinha como função
Mas com o tempo, a palavra adquire nuanças orientar as primeiras letras e a atividade física,
que tornam intraduzível. Werner Jaeger, por volta dos 18 anos após um rito de
passagem adentrava a vida cidadã, os mil anos entre a queda do Império Romano
mestres são os filósofos. (476) e a tomada de Constantinopla pelos
Os Pré-Socráticos (séculos VII e VI a.C.) turcos (!457).
são responsáveis pela separação do A alta Idade Média, período que sucede à
pensamento mítico e racional. No período queda do Império, é caracterizada por um
Socrático, conhecido como Clássico (séculos estado de degradação da antiga ordem e pela
V e VI a.C.), desenvolve-se a Filosofia, o divisão em diversos reinos bárbaros,
sistema filosófico de Sócrates, com seu formando após as sucessivas invasões.
método, nada ortodoxo de parturiar idéia, Até o século X dá-se uma transformação
inaugura a busca da própria verdade. Este lenta, que consiste na passagem
mesmo filósofo repudia os Sofistas, primeiros do escravismo, o modo de produção da
filósofos que fazem papel de professores, Antiguidade Greco-romana, para
cobrando por seus serviços itinerantes, o feudalismo, o novo modo de produção da
ensinavam a arte da retórica. Idade Média (ARANHA, 1989, p.80).
Platão, discípulo de Sócrates desenvolve
sua teoria do conhecimento representada na
Alegoria da Caverna, onde o conhecimento Período Medieval
seria a possibilidade de salvação. Defende o
dualismo, corpo e alma e teria como objetivo
a formação do cidadão. Aristóteles volta-se
para a ética, entendendo o homem como um
animal que possui natureza política.
A influência fundamental deste período dá-
se no campo da Educação de uma
preocupação pedagógica, abrangendo corpo
e alma.
Educação Romana- possui caráter prático
e formação civil e familiar. O cidadão possui
consciência do direito romano. O pai é figura
central, a mulher possui valorização na Arte Bizantina, Século V, expressão
família, possuindo um papel educativo, para a artística de caráter religioso, dos primórdios
formação do futuro cidadão. A partir do século do cristianismo, serve de fonte de instrução e
II a.C., as escolas organizam-se segundo o guia espiritual aos fiéis. A imagem acima
modelo Grego, existem também escolas mostra o Cristo, da Basílica de Santa Sofia.
destinadas às classes inferiores para a O período medieval representa mais de
formação profissional. 1000 anos, contando com Idade média alta e
Arte Greco-Romana 700 a.C. Este período baixa; a Educação desenvolve-se
influencia a história da humanidade, sendo o subordinada à Igreja. Todo conhecimento está
primeiro período a valorizar o homem. A obra a serviço da fé, este deve revelar as verdades
acima representa o casamento de Peleu e de Deus a autoridade indiscutível está
Tétis[7]. A deusa recusava o casamento com presente nos textos sagrados. A razão deve
um simples mortal conciliar-se com a fé. Este conhecimento é
A queda do império Romano, cria uma reservado ao poder eclesiástico.
fragmentação no mundo, o cristianismo é Desenvolvem-se, neste momento histórico,
responsável pela sua unificação. diferentes modelos pedagógicos para classes
sociais distintas, surgem os colégios com
A idade Média abarca um período tão alunos e professores, os quais servem a
extenso que é difícil caracterizá-la sem autoridade da igreja, ou outro poder que a
incorrer no risco da simplificação. Afinal são represente.
A função pedagógica é a evangelização, a O renascimento é o período compreendido
revelação das verdades divinas e a salvação entre os séculos XV e XVI; neste contexto,
das almas para a vida eterna. diversos acontecimentos promovem uma
O quadro filosófico distingue-se em dois mudança na concepção de homem e da
momentos: a Patrística (século II até o século própria sociedade.
V), que tem como objetivo a defesa da fé cristã As grandes descobertas alargam
e a conversão. Seu principal representante é horizontes geográficos, a revolução comercial
Santo Agostinho (354-430), que retoma os promove a classe burguesa e o capitalismo,
textos de Platão, considera o conhecimento consequentemente, acontece a formação das
como as verdades eternas advindas da monarquias nacionais. A Reforma
iluminação divina, sendo necessário, para Protestante, promovida por Lutero e Calvino,
tanto, o uso do intelecto, já que o representa a renovação da autoridade da
conhecimento é uma experiência pessoal; Igreja, centrada no poder papal. Como
a Escolástica (século IX até XIV): ”Chama-se resposta, a Igreja Católica promove a Contra-
Escolástica por ser a filosofia ensinada nas Reforma, com a intenção de renovar a fé
escolas. Scholasticus é o professor das artes cristã, promovendo a inquisição e os
liberais. Mais tarde é assim conhecido o seminários. Surgem, daí diversas ordens
professor de filosofia e teólogo, oficialmente religiosas, principalmente, o colégio jesuíta,
chamado magister” (História da Educação- que possui a concepção da escola tradicional
p.94). européia e a catequização do novo mundo; o
O principal representante da Escolástica é humanismo busca a imagem de um novo
Santo Tomás de Aquino (1225-1274), retoma homem e da cultura.
Aristóteles, adaptando-a as orientações A educação representa uma grande
cristãs. A Educação, segundo o filósofo, é a preocupação para este período:
forma de atingir a verdade e o bem, superando É impressionante a preocupação com a
as tentações mundanas. Neste período, educação no Renascimento (sobretudo em
criam-se as universidades, destinadas à comparação com a Idade Média), não só pela
medicina, ao direito e à teologia. Estas produção teórica dos pedagogos, mas
disciplinas representam o currículo central das principalmente pela proliferação de colégios e
universidades, sem dispensar os estudos manuais para alunos e professores. Educar-
anteriores do trivium (arte, gramática e se torna-se uma questão de moda e uma
retórica) quadrivium (aritmética, música, exigência dentro da nova concepção do
geometria e astronomia). homem (ARANHA, 1989, p. 94).
A expansão da escola, neste período,
destina-se ao homem da pequena nobreza e
Período Moderno da burguesia que busca educar-se para a vida
política e seus negócios; a classe alta educa-
se com preceptores em seus castelos; a
escola volta-se a uma melhor preparação da
criança devido à nova imagem da infância e
da família.
Acontece a separação do mundo infantil e
adulto. Os alunos são submetidos a uma
severa disciplina; a escola passa a cuidar da
formação moral do aluno; o regime de estudo
é extenso, dando continuidade
ao trivium e quadrivium.
O ensino universitário encontra-se em
decadência, dando espaço para as
academias, instituições privadas de alto nível, programas e níveis para tal. Porém, o
destinadas ao ensino literário ou filosófico. monopólio das escolas permanece com a
Com o renascimento científico, no século XVII, Companhia de Jesus, que representa o
surgem academias científicas. modelo tradicional com base na Escolástica.
O protestantismo, através de Lutero, trava O pensamento pedagógico moderno é
uma batalha em busca da educação universal, realista. Segundo ele, o conhecimento deve
primária para todos, tendo o Estado como partir da compreensão das coisas, voltado
responsável por esta. para a vida prática. Neste contexto, surge a
A pedagogia humanista representa a nova escola.
difusão dos valores burgueses, procura por Nesse século surge outro tipo de
uma base natural, sem intenções religiosas, estabelecimento de ensino, as academias
busca uma autonomia. As reflexões científicas. Devido ao progresso da ciência, e
pedagógicas estão presentes na filosofia, não estando as universidades decadentes (exceto
se distinguindo desta. Como representantes na Alemanha), os cientistas associam para
desse momento histórico temos: Juan Luis troca de experiências e publicações. São
Vives (1492-1540), Erasmo de Rotterdam importantes a Academia de Ciência (1660), da
(1467-1536), François Rebelais (1494-1553) e qual participam Descartes, Pascal e Newton,
Michel Montaigne (1533-1592). e Real Sociedade de Londres (1662) e a
No Brasil, desde o início da colonização, a academia de Berlim (1700) (ARANHA, 1989,
catequese como atividade missionária p.136).
contribui de forma central para a dominação As questões epistemológicas são o centro
metropolitana. Desse modo, a educação das discussões, desenvolvendo duas
assume papel de agente colonizador. tendências: o racionalismo, sendo seu
Romantismo (1780) foi um movimento principal representante, Descartes, que, ao
artístico. É um movimento contrário ao analisar o processo pelo qual a razão atinge a
racionalismo, e a busca de um nacionalismo, verdade, cria a dúvida. O método cartesiano
designa uma visão de mundo centrada no admite idéias inatas, independentes do que
indivíduo. vêm de fora. Estas são exclusivas da
capacidade do pensamento.
Moderno O empirismo, corrente contrária, reconhece
o processo de conhecimento como
possibilidade da experiência sensível,
negando as idéias inatas. Seu principal
representante é o inglês John Locke (1632-
1704), seguido do também inglês Francis
Bacon (1561-1626). Este valoriza o método da
indução.
Juan Amós Comênius (1592-1670) é o
maior educador deste período. Sua principal
obra é a Didática Magna, que tem a intenção
de orientar um método de ensino onde se
deveria partir do simples para o complexo.
Impressionismo (1875): a luz e o Este pedagogo defende a educação para
movimento tornam-se o principal elemento da
todos independente de sexo ou classe social.
pintura. Os artistas deste período procuram
O bispo Fénelon (1651-1715) defende a
ver o quadro como obra em si mesma. Acima, educação feminina, que deve ser voltada a
temos A noite estrelada de Van Gogh, 1889.
uma instrução geral, levando em conta a
A Educação do século XVII esforça-se pela formação moral para o desenvolvimento do
obrigatoriedade da escola, criando leis, papel de mães e esposas.
Na mesma época, em 1686, Madame de Os enciclopedistas são representados por
Maintenon, mulher de Luís XIV, funda o D’Lambert, Voltaire, Rousseau entre outros.
colégio de Saint-Cyr. Ali ingressam meninas Para estes, a Educação tem o papel de
entre 7 e 12 anos, permanecendo até os 20 expressar o ideal liberal, voltado aos
anos. Esse internato pretendia ser a interesses da burguesia.
alternativa secularizada aos conventos Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
femininos existentes, excessivamente critica o absolutismo, seu pensamento o
rigorosos na disciplina moral e negligente na homem é bom por natureza, corrompendo-se
formação intelectual (ARANHA, 1989, p.143). em seu contato com a sociedade. No
O Iluminismo acontece no século XVIII, romance, Emílio descreve seu projeto
conhecido como século das luzes. Ou seja, o pedagógico, onde a criança é educada desde
poder da razão de interpretar o mundo, surge o nascimento para tornar-se um cidadão. Por
o homem confiante, disposto a dominar a sua desconfiança com a sociedade, a criança
natureza para criar seu futuro. deveria viver o mais livre possível, de
A influência dos jesuítas continua, porém, preferência, adquirindo seus conhecimentos a
as questões políticas e econômicas levam a partir da experiência.
uma critica deste modelo educacional em Immanuel Kant (1724-1804), para este
vários países. A Companhia de Jesus é filósofo, a educação tem como objetivo
expulsa no ano de 1773. Esta ordem é desenvolver a faculdade da razão, levando a
suprimida pelo papa Clemente XIV, formação do caráter moral, é a forma como o
desarticulando o sistema escolar. homem atinge seus objetivos individuais e
Transformando a Educação que, seguindo os sociais.
interesses da aristocracia e as ideias liberais No Brasil, durante o período colonial,
presentes, deve ser leiga (não-religiosa) e acontece uma grande disparidade entre o
livre (independente de privilégios de classe). conhecimento formal e o informal, onde a
Surge a ideia de educação popular classe dominante mantém o monopólio do
promovida pelo Marquês Condorcet, eleito saber acadêmico, onde os filhos da elite iam
deputado da Assembleia Legislativa estudar na Europa, enquanto a grande maioria
Francesa. Após a Revolução francesa, em da população mantinha-se iletrada.
1792, cria o ano de Educação pública, que
prevê a Educação como responsabilidade do
Estado destinada a todos os cidadãos. Seu Período Contemporâneo
plano não é aprovado. Porém, levanta esta
discussão. Em 1793, consegue aprovação
pelas mãos de Lepelletier, realçando a
educação nacional.
Na prática, a Educação continua
diferenciada de acordo com a classe social.
Com Napoleão, a educação primária é
deixada a cargo do clero, já o Estado
responsabiliza-se pelo ensino secundário.
As universidades permanecem calçadas
nos ideais medievais, as academias
correspondem às necessidades sociais, pois,
privilegiam matérias mais práticas. As influências do século XIX, como a
O pensamento pedagógico iluminista urbanização acelerada e o capitalismo
floresce, podendo ser dividido em três industrial, criam um panorama de forte
principais vertentes, os enciclopedistas, expectativa com relação à educação, devido à
Rousseau e Kant. maior complexidade do trabalho, que exige
mão de obra especializada. Acontece a
universalização da escola secundária, Século XX
clássica para a elite burguesa e técnica para a
formação do trabalhador. As linhas filosóficas
que orientam este período são o Idealismo, de
Fitche, Schelling e Hegel, as idéias socialistas,
e o desenvolvimento das ciências humanas.
O ensino universitário é ampliado e
reformulado, aparecendo as escolas
politécnicas, tendo em vista as necessidades
decorrentes do avanço tecnológico.
Surgem as escolas da primeira infância,
cujo precursor foi Froebel, seus “jardins da
infância”. A preocupação geral com a Cubismo, 1908, tratava as formas da
educação leva também à formação de várias natureza, por meio de formas geométricas. A
escolas normais visando a preparação para o representação do mundo passava a não ter
magistério (ARANHA, 1989, p.176) compromisso com a imagem real das coisas.
Surgem preocupações com a formação da A obra acima tem o título de Homem no
consciência nacional e com a metodologia. café, 1914, Juan Gris.
Bem como, pedagógicas com fins sociais, A educação, no século XX, passa a ter
salientando a formação da criança para a vida um caráter bem mais científico, que tem
em sociedade. A Educação associa-se ao conseqüências ambíguas. Se de um lado
bem-estar social, ao progresso e à temos um avanço tecnológico revolucionário,
transformação. A psicologia passa a de outro temos grandes tragédias pautadas
influenciar a educação infantil, procurando por esse avanço, como no caso das duas
uma metodologia adequada ao seu processo grandes Guerras Mundiais. Logicamente,
de aquisição do conhecimento. esses avanços refletem-se nos processos
Pestalozzi, Froebel Herbart e Spencer são educacionais, transformando a própria escola,
alguns dos principais pedagogos do período. o papel do professor, a concepção de aluno e
No período Imperial, o Brasil não se da relação de autoridade nessas instituições
destaca com uma postura pedagógica de ensino.
pautada em uma identidade nacional, ou seja, Nesse período, foram de estrema
não se institui uma proposta pedagógica importância, para a educação, teóricos como:
eminentemente brasileira. O que causa Émile Durkheim (1858-1917) que desenvolve
resultados extremamente insatisfatórios e a questão da sociologia, bem como sua
díspares. Enquanto a elite tem sua educação relação com a educação; Jonh B. Watson
gerenciada pelo Império, a do povo é (1878-1958) e Burrhus Frederic Skinner
desqualificada, sendo deixada a cargo das (1904-1990), representantes do Behaviorismo
províncias. (psicologia comportamentalista); Wilhelm
A contribuição de Hegel (1770-1831), Marx Dilthey (1833-1911), representante da crítica
(1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939) ao naturalismo; Wolfgang Köhler (1887-1967)
são fundamentais para as mudanças que e Kurt Koffka (1886-1941), representantes da
acontecem, a partir do final do séc. XIX. Esses Gestalt; Jonh Dewey (1859-1952),
teóricos trazem à tona um novo paradigma no representante da escola progressista.
que tange à sociedade e ao próprio homem. Pop Art, 1956, pretendia demonstrar com
Com uma problematização ao sistema suas obras a massificação da Cultura popular
capitalista de produção e o surgimento da capitalista. Procurava a estética das massas,
psicanálise, bem como a relação de tentando achar a definição do que seria a
historicidade. cultura Pop aproximando-se do que costuma
chamar-se de kitsch. Fotografia da Sopa representa uma fachada decorada em Olinda,
Campbell por Andy Warhol. Pernambuco.
A Escola Nova é um movimento de grande No Brasil, as maiores referências estão nos
importância, no século XX, tendo como educadores Anísio Teixeira (1900-1971),
características fundamentais a educação Florestan Fernandes (1920-19950 e Paulo
integral, ativa, prática, tendendo para uma Freire (1921-1997).
prática individualizada, propondo ao Para Freire e Horton (2003), por exemplo,
estudante uma aprendizagem autônoma. a educação só muda quando “as pessoas
Representantes desse movimento são: Maria começam a agarrar sua história com as
Montessori (1870-1952) e Ovide Decroly próprias mãos”. Para estes autores, como
(1871-1932). para a maioria dos teóricos da
A proposta Socialista tem sua grande contemporaneidade somente um projeto
representação na figura de Antonio Gramsci realmente popular pode trazer transformações
(1891-1937) que, em sua proposta, pretende significativas à sociedade.
superar a dicotomia entre teoria e prática. Freire (2003, p.203) comenta no seu livro
Temos como representantes das teorias dialogado com Horton
educacionais não-diretivas Ivan Illich (1826-
2002) traz a proposta de uma sociedade Há uma diferença qualitativa quando os
desescolarizada. Carl Rogers (1902-1987) o líderes da classe trabalhadora descobrem
qual levou para a educação técnicas utilizadas algo que é muito óbvio, isto é, descobrem que
em terapia. Alexander Neil (1883-1973), a educação que reproduz a própria classe
fundador da escola de Summerhill. trabalhadora. (...) A intenção ideológica da
Já nas teorias progressistas, podem ser classe dominante não poderia ser outra.
considerados precursores (...) os soviéticos Como vimos, a educação é um
Makarenko e Pistrak e o italiano Gramsci. processo que vem se construindo
Recentemente é importante a contribuição do constantemente, assim como a própria
francês Georges Snyders, do polonês humanidade. Nos diferentes tempos, vem
Suchodolski e de muitos outros como Bernard servindo, ora aos interesses de uns, ora de
Charlot, Henry Giroux, Mabacorda, [Peter outros, dependendo do tempo, espaço, enfim,
MacLaren] e Lobrot (ARANHA, 1989, p. 234). do contexto social, no qual os sujeitos estão
São inúmeros os teóricos que inseridos. Estes estudiosos os quais,
revolucionam a educação nesse século. Jean rapidamente, apresentamos, neste artigo, têm
Piaget (1896-1980) que criou a epistemologia dado forte contribuição para entendermos
genética. Bem como a sua seguidora este processo.
argentina, radicada no México, Emília Ferreiro O Brasil apresenta, em cada período de
(1937) que realiza pesquisa sobre a sua história, realidades e contextos diferentes,
construção da linguagem escrita. mas que, evidentemente, não difere o modelo
Lev Vygotsky (1896-1934) é o teórico que de educação destinado às classes populares:
trata do ensino como processo social e, ainda, uma educação domesticadora, elitista,
Celestin Freinet (1896-1966) que traz o reacionária, não raro às vezes, em precárias
trabalho e a cooperação como constitutivos do condições, privando-as, assim, de uma
processo educativo. educação democrática, libertadora,
Henri Wallon (1879-1962) defendia transformadora e realmente de qualidade.
uma educação integral. Pierre Bourdier (1930- Por mais que as leis elaboradas ao longo
2002) desenvolveu uma teoria crítica a dos anos indicassem mudanças, a realidade
respeito da “pseudo” neutralidade da escola. pouco mudava e, a educação, com toda a sua
Grafite-arte surge a partir do movimento de magnitude, se destinou a beneficiar a classe
contracultura de 1968. A imagem acima dominante em detrimento das classes
populares, contribuindo para formar “objetos”, de elite e, em consequência, num instrumento
quando deveria formar sujeitos da história. de ascensão social.
O ensino não poderia interessar à grande
A educação durante o Período Colonial massa pobre, pois não apresentava utilidade
(1500-1822) prática, visava uma economia fundada na
agricultura e no trabalho escravo; o ensino
jesuítico só poderia interessar àqueles que
não precisavam trabalhar para sobreviver.
A Companhia de Jesus, que tinha
inicialmente em seus objetivos catequisar e
instruir o índio, de acordo com o Ratio, foi aos
poucos se configurando como forte
instrumento de formação da elite colonial,
ficando os indígenas e as classes mais pobres
à mercê da instrução.
Segundo Piletti (1991, p. 34), “os jesuítas
responsabilizaram-se pela educação dos
A história do Brasil é marcada filhos dos senhores de engenhos, dos
colonos, dos índios e dos escravos”. Ribeiro
preponderantemente pela dependência,
(1986, p. 29) elucida que “o plano legal
exploração, violência, desrespeito às
(catequisar e instruir os índios) e o plano real
diferenças culturais e privilégio de alguns em
se distanciaram. Os instruídos eram
detrimento da grande maioria da população.
descendentes dos colonizadores. Os
É com a chegada do elemento europeu a
indígenas foram apenas catequisados”.
terras brasileiras que essa situação inicia-se,
Nesse sentido, não só o índio como todos
provocando um choque cultural que rebaixa o
aqueles que não faziam parte dos altos
índio e, posteriormente, o negro e enaltece o
extratos da sociedade (pequena nobreza e
branco, seu projeto de colonização e seu
seus descendentes) estavam excluídos da
desejo desmedido de expandir-se territorial e
educação.
economicamente.
O sistema de ensino jesuítico apresentava
Nesse contexto, a Companhia de Jesus,
uma rede organizada de escolas e
que foi fundada para contrapor-se ao avanço
uniformidade de ação pedagógica. Além das
da Reforma Protestante, foi trazida para o
escolas de ler e escrever, ministrava o ensino
Brasil para desenvolver um trabalho educativo
secundário e superior.
e missionário, com o objetivo de catequisar e
Todas as escolas jesuíticas eram
instruir os índios e colaborar para que estes se
regulamentadas por um documento, escrito
tornem mais dóceis e, consequentemente,
por Inácio de Loiola, o Ratio at que Instituto
mais fáceis de serem aproveitados como mão
Studiorum, chamado abreviadamente
de obra. “A organização escolar na Colônia
de Ratio Studiorum. Os jesuítas não se
está como não poderia deixar de ser,
limitaram ao ensino das primeiras letras; além
estreitamente vinculada à política
do curso elementar, eles mantinham os cursos
colonizadora dos portugueses” (Ribeiro, 1986,
de Letras e Filosofia, considerados
p. 24).
secundários, e o curso de Teologia e Ciências
A obra educativa dos jesuítas estava
Sagradas, de nível superior, para a formação
integrada à política colonizadora; durante
de sacerdotes. No curso de Letras estudava-
pouco mais de dois séculos foi a responsável
se Gramática Latina, Humanidades e
quase exclusiva pela educação no período;
Retórica; no curso de Filosofia estudava-se
além de ser um ensino totalmente acrítico e
Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e
alheio à realidade da vida da colônia, foi aos
Ciências Físicas e Naturais. Os que
poucos se transformando em uma educação
pretendiam seguir as profissões liberais iam A educação no Período Imperial (1822-
estudar na Europa, na Universidade de 1889)
Coimbra, em Portugal, a mais famosa no
campo das ciências jurídicas e teológicas, e
na Universidade de Montpellier, na França, a
mais procurada na área de medicina (Bello,
1992. p. 2).
Em 1759, Sebastião José de Carvalho, o
marquês de Pombal, primeiro-ministro de
Portugal, após entrar em conflito com os
jesuítas, os expulsou de todas as colônias
portuguesas, suprimindo todas as suas
escolas. A razão para esse conflito apontada
por Piletti (1991) é o fato de os jesuítas se Após a chegada da Família Real, em 1808,
oporem ao controle do governo português. o Brasil apresentou desenvolvimento cultural
Com a supressão das escolas jesuíticas, “a considerável, mas o direito à educação
educação brasileira (...) vivenciou uma grande permanecia restrito a alguns. A vinda da
ruptura histórica num processo já implantado Família Real e mais adiante a Independência
e consolidado como modelo educacional” (1822) fizeram com que o ensino superior
(Bello, 1992). tivesse preocupação exclusiva, em detrimento
A reforma pombalina dos estudos menores de outros níveis de ensino, evidenciando o
objetivou, segundo Laert Ramos de Carvalho, caráter classista da educação, ficando a
criar a escola útil aos fins do Estado e, classe pobre relegada a segundo plano,
nesse sentido, ao invés de preconizar uma enquanto a classe dominante expandia cada
política de difusão intensa e extensa do vez mais seus privilégios.
trabalho escolar, pretenderam os homens de O objetivo fundamental da educação no
Pombal organizar a escola que, antes de Período Imperial era a formação das classes
servir aos interesses da fé, servisse aos dirigentes. Para isso,
imperativos da Coroa (Piletti, 1992. p. 36). ao invés de procurar montar um sistema
Com a expulsão dos jesuítas, desmantelou- nacional de ensino, integrado em todos os
se toda uma estrutura administrativa de seus graus e modalidades, as autoridades
ensino e o Estado passou a assumir pela preocuparam-se mais em criar algumas
primeira vez os encargos da educação. Com escolas superiores e em regulamentar as vias
isso, mudou-se o quadro de professores e até de acesso a seus cursos, especialmente
rebaixou o nível de ensino, porém não houve através do curso secundário e dos exames de
ruptura em suas estruturas, pois os substitutos ingresso aos estudos de nível superior (Piletti,
foram pessoas preparadas pelos jesuítas e, 1991, p. 41).
aos serem recrutados, passaram a dar Em 1823, foi instituído o Método Lancaster
continuidade à sua ação pedagógica. “O ou “ensino mútuo”, em que, após treinamento,
ensino brasileiro, ao iniciar o século XIX, um aluno (decurião) ficaria incumbido de
estava reduzido a pouco mais que nada” ensinar a um grupo de dez alunos (decúria),
(Piletti, 1991, p. 37), já que, com a reforma diminuindo, portanto, a necessidade de um
pombalina, nenhum sistema educativo número maior de professores.
comparado ao jesuítico passou a existir. A primeira Constituição Brasileira,
outorgada em 1824, garantia apenas, em seu
Art. 179, “a instrução primária e gratuita a
todos os cidadãos”. No ano de 1827, uma lei
determinou a criação de escolas de primeiras
letras em todos os lugares e vilas, além de
escolas para meninas, nunca concretizadas republicanos que pretensamente alimentavam
anteriormente. projetos de ver um novo Brasil traziam,
O ato adicional de 1834 e a Constituição de intrinsecamente, resquícios de um velho
1891 descentralizaram o ensino, mas não tempo, cujas bases erguiam as colunas da
ofereceram condições às províncias de criar desigualdade social, em que, no cenário real,
uma rede organizada de escolas, o que estava de um lado a classe pobre, sempre
acabou contribuindo para o descaso com o relegada a segundo plano; de outro, a classe
ensino público e para que ele ficasse nas dominante, expandindo cada vez mais os
mãos da iniciativa privada, acentuando ainda seus privilégios.
mais o caráter classista e acadêmico, gerando O sistema federativo de governo,
assim um sistema dual de ensino: de um lado, estabelecido pela Constituição da República
uma educação voltada para a formação das de 1891, ao consagrar a descentralização do
elites, com os cursos secundários e ensino, acabou construindo um sistema
superiores; de outro, o ensino primário e educacional pouco democrático, que
profissional, de forma bastante precária, para privilegiava o ensino secundário e superior –
as classes populares. responsabilidade da União –, em detrimento
da expansão do ensino primário – que deve
ser reservado aos estados.
O contexto educacional durante a A descentralização que conferia maior
Primeira República (1889-1930) poder aos estados podia representar, no plano
das ideias, mudanças satisfatórias e
significativas. Mas, na realidade, representou
o descaso e o abandono dos estados mais
pobres, que se viam cada vez mais à mercê
da própria sorte. Isso se refletia no âmbito
educacional e relegava principalmente os
menos favorecidos a uma educação precária
ou ao analfabetismo, já gritante em nosso
país. Romanelli (1978, p. 43) afirma:
Vamos ver, assim, a educação e a cultura
tomando impulso em determinadas regiões do
sudeste do Brasil, sobretudo em São Paulo, e
A dualidade do sistema educacional
o restante dos estados seguindo, “sem
brasileiro, que conferia ao povo uma
transformações profundas, as linhas do seu
educação dessemelhante daquela conferida à
desenvolvimento tradicional, predeterminadas
elite, é herdada pela Primeira República
na vida colonial e no regime do Império”.
juntamente com a desorganização que se
Como é evidente, o Estado de São Paulo
arrastou durante o período monárquico.
se destacava pelo maior investimento na área
Surgiram inúmeras reformas para resolver a
educacional. Porém é preciso ter em mente
desorganização do sistema educacional,
que a sua luta contra o analfabetismo, por
entre elas a Benjamin Constant, a Lei
meio da Liga de Defesa Nacional (1916) e da
Orgânica Rivadávia Corrêa, a Carlos
Liga Nacional do Brasil (1917), esta última
Maximiliano, porém foram apenas reformas
com sede em São Paulo, representava
paliativas, pois não se buscava mudar a
consubstancialmente não o desejo de
estrutura educacional. Mudava-se até o
oferecer às camadas populares
sistema, mas a base da educação continuava.
oportunidades iguais de desenvolvimento,
O modelo educacional que privilegiava a
mas sim o desejo de parte da emergente
educação da elite, em detrimento da
burguesia de afrontar a enraizada política
educação popular, é posto em questão na
oligárquica. Era preciso aumentar o
Primeira República. Mas os ideais
contingente eleitoral, uma vez que o De acordo com Romanelli (1979, p. 147-
analfabeto era proibido de votar. Por essa 148): O manifesto sugere em que deve
razão, as lutas contra o analfabetismo se consistir a ação do Estado, reivindicando a
intensificaram, pois ele era tido como fator laicidade do ensino público, a gratuidade, a
preponderante na perpetuação das obrigatoriedade e a coeducação.
oligarquias no governo; a alfabetização, Reconhecendo pertencer ao cidadão o direito
então, era útil às transformações político- vital à educação e ao Estado o dever de
eleitorais. Sem deixar de considerar que era assegurá-la e assegurá-la de forma que ela
necessário também preparar as pessoas para seja igual e, portanto, única, para todos
a nova ordem econômica. quantos procurarem a escola pública, é
Contudo, não havia uma rede de escolas evidente que esse direito só possa ser
públicas organizada, respeitável; as poucas assegurado a todas as camadas sociais se a
que existiam nas cidades, eram destinadas ao escola for gratuita.
atendimento dos filhos das classes Surgiram vários projetos, discussões
abastadas. No interior do país, existiam importantes que deram origem à Constituição
algumas pequenas escolas rurais, de 1934, que visava à organização do ensino
funcionando em condições precárias, e o brasileiro e incluía um capítulo exclusivo sobre
professorando não tinha qualquer formação educação, no qual o Governo Federal passou
profissional. a assumir novas atribuições como:
A função de integração e planejamento
A educação após a Revolução de 1930 global da educação; a função normativa para
todo o Brasil e todos os níveis educacionais; a
(1930-1937)
função supletiva de estímulo e assistência
técnica e a função de controle, supervisão e
fiscalização (Piletti,1991, p. 81-82).

A educação durante o Estado Novo


(1937-1945) e o governo populista
(1945-1964)

A Revolução de 1930 criou uma


efervescência ideológica que operou
importantes discussões e transformações no
campo educacional; parecia que o país tinha
realmente acordado para a importância da
educação e para a necessidade de garantir a
todos esse direito. O Decreto nº 19.850, de 11
As discussões e reivindicações do período
de abril de 1931, criou o Ministério da
anterior e as conquistas do movimento
Educação e as secretarias de Educação dos
renovador, expressos na Constituição de
estados; em 1932, com o ideal de educação
1934, são consideravelmente enfraquecidas e
obrigatória, gratuita e laica, entre outros,
até em alguns casos suprimidas pela
surgiu o Manifesto dos Pioneiros da Educação
Constituição de 1937. Segundo Ghiraldelli Jr.
Nova, com o objetivo de tornar público o que
(1994, p. 81),
era e o que pretendia o Movimento
Renovador.
o Estado Novo se desincumbiu da fato, o direito constitucional “a educação é um
educação pública através de sua legislação direito de todos”, fosse consolidado.
máxima, assumindo apenas um papel
subsidiário. O ordenamento relativamente A educação durante o Regime Ditatorial
progressista alcançado em 34, quando a letra (1964-1985)
da lei determinou a educação como direito de
todos e obrigação dos poderes públicos, foi
substituído por um texto que desobrigou o
Estado de manter e expandir o ensino público.
Parafraseando Ghiraldelli Jr. (1994), o
Estado estava pouco interessado em oferecer
às classes populares educação pública e
gratuita, e isso ficou expressamente claro na
Constituição de 1937, que pretendia
contrariamente evidenciar o caráter dual da
educação, em que, para a classe dominante
estava destinado o ensino público ou
Se a educação antes do Período Ditatorial,
particular; ao povo marginalizado, deveria
com as ideias de universalização e
destinar-se apenas o ensino
democratização, nunca conseguiu consolidá-
profissionalizante.
las, nesse período ela se distanciou mais
Com o fim do Estado Novo, o país retornou
desse ideal, pois se pautou na repressão, na
à normalidade democrática e passou a adotar
privatização do ensino, continuou
uma nova constituição. Na área educacional,
privilegiando a classe dominante com ensino
o texto de 1946 estabelecia alguns direitos
de qualidade e deixando de fora as classes
garantidos pela Constituição de 1934 e
populares, oficializou o ensino
suprimidos pela do Estado Novo.
profissionalizante e o tecnicismo pedagógico,
A educação como direito de todos está
que visava unicamente preparar mão de obra
claramente expressa em seu Art. 166. O Art.
para atender às necessidades do mercado e
167 afirma que o ensino deverá ser ministrado
desmobilizou o magistério com inúmeras e
pelos poderes públicos, embora livre à
confusas legislações educacionais.
iniciativa particular, respeitando as
A educação passou a atender ao regime
determinações legais. Para que o direito a
vigente e, de modo geral, visava transformar
educação fosse realmente assegurado, a
pessoas em objetos de trabalho, de lucro;
Constituição destinava, em seu Art. 167, 10%
seres passivos diante todas as arbitrariedades
do orçamento da União e 20% dos estados,
que lhes fossem impostas.
que, embora insuficientes, representavam um
O ensino técnico oferecido para as classes
avanço para que esse direito fosse
populares delineou muito bem a sua função na
assegurado. Contudo, “apesar da mudança
sociedade: atender exclusivamente as
de regime e da nova constituição, a legislação
necessidades do mercado, o que frearia as
educacional herdada do Estado Novo vigorou
manifestações políticas, contribuindo para
até 1961, quando teve início a vigência da Lei
que o ensino superior continuasse reservado
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”
às elites.
(Piletti, 1991, p. 99).
Pela Lei nº 5.540/68, o governo promoveu
Até a aprovação da LDBEN de 1961, foram
a Reforma Universitária:
13 anos (1948-1961). Durante esse período, a
 Instituiu o vestibular classificatório para
luta pela escola pública e gratuita intensificou-
acabar com os ‘excedentes’;
se. Numerosas campanhas com participação
 Deu à universidade um modelo
popular reivindicavam a ampliação e a
empresarial;
melhoria do atendimento escolar para que, de
 Organizou as universidades em unidades legal realmente se consolide. Por mais que
praticamente isoladas; tenha evoluído, a educação brasileira ainda
 Multiplicou as vagas em escolas apresenta características reacionárias e
superiores particulares (Piletti, 1991, p. 16). alienantes, contribuindo para a formação de
A Lei nº 5.692/71 reformulou o ensino de 1º seres passivos, eximindo-se de compromisso
e 2º graus; foi aprovada sem participação de formar cidadãos ativos e conscientes.
popular, promoveu mudanças como: 1º grau Como afirma Rodrigues (1991, p. 35),
de 8 anos dedicado à educação geral; o 2º incapaz de ampliar e organizar a
grau (3 a 4 anos) obrigatoriamente consciência crítica dos educandos, essa
profissionalizante; até 1982, aumentou o educação se converte em inutilidade formal,
número de matérias obrigatórias em todo o ainda que recheada de discurso sobre a
território nacional, as disciplinas mais importância e o valor de conhecimento crítico
reflexivas deixaram de serem ministradas no e de atenções proclamada de se fazer
2º grau. educação política.
A educação brasileira de 1985 à atualidade O Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Nos últimos 28 anos foram promovidas Educação (FNDE), criado em 1968, mantém
grandes modificações na educação brasileira. vários programas que objetivam proporcionar
Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada uma mais autonomia às escolas, suprir as
nova Constituição, que “cuida da educação e carências e oferecer aos alunos melhores
do ensino de maneira especial com referência condições de acesso e permanência na
aos direitos, aos deveres, aos fins e aos escola e de desenvolvimento de suas
princípios norteadores” (Santos, 1999, p. 31). potencialidades. Estes são alguns deles:
Dentre as principais mudanças no âmbito  Programa Dinheiro Direto na Escola
educacional, Aranha (1996, p. 223) destaca: (PDDE);
Gratuidade do ensino público em  Programa Nacional de Alimentação
estabelecimentos oficiais; Escolar (PNAE);
Ensino Fundamental obrigatório e gratuito;  Programa Nacional Biblioteca da Escola
Atendimento em creches e pré-escolas às (PNBE);
crianças de zero a seis anos;  Programa Nacional do Livro Didático
Valorização dos profissionais de ensino, (PNLD);
com planos de carreira para o magistério  Programa Nacional do Livro Didático para
público. o Ensino Médio (PNLEM);
Com base na nova Constituição, foi criada  Programa Nacional do Livro Didático para
a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA);
Nacional, a Lei nº 9.394, promulgada em 20 e
de dezembro de 1996. A Carta Magna e a  Programa Nacional de Transporte Escolar
nova LDB dão suportes legais para que o (PNTE), entre outros.
direito a uma educação de qualidade seja Com a finalidade de democratizar o acesso
realmente consubstanciado, assegurando a ao Ensino Superior, em 2005 foi aprovada a
formação integral do indivíduo e a sua Lei nº 11.096, que instituiu o Programa
inserção consciente, crítica e cidadã na Universidade para Todos (ProUni), que
sociedade. concede bolsas de estudos em instituições de
Em 1996, o Governo Federal elaborou os ensino superior particulares a estudantes de
Parâmetros Curriculares Nacionais, escolas públicas de baixa renda e/ou
estabelecendo diretrizes para estruturação e estudantes de escolas particulares na
reestruturação dos currículos escolares de condição de bolsistas utilizando como
todo o Brasil, em função da cidadania do aluno referência a nota do Exame Nacional do
e de uma escola realmente de qualidade. Ensino Médio (Enem). As bolsas podem ser
Contudo, ainda falta muito para que o texto parciais, com descontos de 25% ou 50%, e
integrais. Também foi criado o Sistema de
Seleção Unificada – Sisu, que visa substituir Referenciais Bibliográficos
os exames tradicionais das universidades
públicas; criado pelo Governo Federal, ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História
seleciona estudantes com base na nota do da Educação. São Paulo: Moderna, 1989
Enem, assim como o ProUni; dentro dele, as BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo
vagas estão divididas em ampla concorrência Freire, O menino que lia o Mundo: Uma
e as cotas para estudantes de escolas história de pessoas, de letras e palavras. São
públicas e de baixa renda, entre outros Paulo: Editora UNESPE, 2005.
aspectos. COTRIN, Gilberto. Fundamentos da
Em 2007, foi promulgada a lei do Fundeb, Filosofia: História e Grandes Temas. 16 ed.
que se caracteriza como a maior fonte de São Paulo: Saraiva, 2006.
recursos destinados para a educação; eles HORTON, Myles; FREIRE, Paulo. O
são distribuídos de acordo com o número de Caminho se Faz Caminhando: Conversas
alunos matriculados nas redes estaduais e sobre educação e mudança social. Petrópolis,
municipais estabelecido pelo Censo Escolar. RJ: s.ed., 2003.
Em março de 2007 houve o lançamento do Sítios consultados
Plano de Desenvolvimento da Educação – http://www.arteeeducacao.net/historia/rom
PDE, que, por meio de inúmeros programas, antismo/pages/romantismo_06_jpg.htm <Ace
objetiva suprir as deficiências e carências da ssado em 09/01/2010>
educação brasileira e superar um estágio de http://3.bp.blogspot.com/_c3tB2p543D0/S
educação ainda limitado. OD0CN4QtZI/AAAAAAAAAGk/PQIMhgUsh4
Leis e projetos que visam sanar as A/s1600-h/cristo-basilica-de-santa-sofia-
deficiências da educação brasileira não constantinopla.jpg <Acessado em
faltam. Falta efetivação séria, que de fato 09/01/2010>
minimize a distância entre o texto legal e o www.lairweb.org.nz/leonardo/monalisa.jpg
real. É sabido que o processo é lento, e <Acessado em 09/01/2010>
enquanto as leis não proporcionam mudanças http://www.logosphera.com/courses/news/
realmente satisfatórias as escolas públicas materialpublico/ciclo_epico/peleus%2Bthetis.j
continuarão apresentando sucateamento e pg <Acessado em 09/01/2022>
condições de ensino e aprendizagem http://www.sistemaodia.com/imagem/mater
decadentes. Falta estrutura física adequada ias/m_c9896f11691d0f0cee981c166070a9c6.
das escolas, faltam recursos materiais e jpg <Acessado em 09/01/2021>
pedagógicos, falta valorização dos http://warj.med.br/pub/img/gz-
professores, capacitação etc. Essas anubis.jpg <Acessado em 09/01/2010>
condições, entre tantas outras, impedem que http://pt.wikipedia.org/wiki/Cubismo <Aces
o Brasil suplante a herança de uma educação sado em 09/01/2021>
deficiente e excludente para enfim escrever a http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:VanGo
nova história de uma educação libertadora, gh-starry_night.jpg <Acessado em
gratuita, universal, democrática e de 09/01/2021>
qualidade. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SoupCa
nParody.jpg <Acessado em 09/01/2010>
http://pt.wikipedia.org/wiki/Grafite_(arte) <
Acessado em 09/01/2021>
Revista Nova Escola Edição
Especial, Grandes Pensadores, São Paulo:
Editora Brasil S.A., Julho, 2009.

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