Livro Batata Baroa Incaper Cap3
Livro Batata Baroa Incaper Cap3
Livro Batata Baroa Incaper Cap3
1 INTRODUÇÃO
A batata-baroa tem como uma de suas características a rusticidade das plantas, po-
rém podem ocorrer perdas economicamente significativas quando não são tomados
cuidados básicos de manejo da cultura. Entre eles, os mais críticos são: o cultivo su-
cessivo na mesma área, utilização de mudas de má qualidade; plantio em condições
climáticas desfavoráveis para a cultura; preparo do solo e adubação inadequados; e
irrigação feita sem controle (GRACIANO et al., 2006).
Por meio desses relatos preliminares, este capítulo busca disponibilizar informa-
ções técnicas que possam melhorar a eficiência no cultivo da batata-baroa subsi-
diando as tomadas de decisões dos técnicos e dos empreendedores da atividade.
Merece destacar aqui que as tecnologias para produção de mudas, o manejo da nu-
trição e o fitossanitário serão tratados em capítulos específicos, onde poderão ser
mais bem detalhados.
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2 CONDIÇÕES DE CLIMA: TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO
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Assim sendo, considerando-se as condições ecológicas, deve ser possível cultivar a
batata-baroa, onde o café arábica é cultivado com sucesso.
No Brasil, tem sido mais comum o cultivo da batata-baroa nas regiões acima de
800 m de altitude, com temperatura média anual de 15 °C a 18 °C. No entanto, há
cultivos em áreas mais baixas, como na Zona da Mata Mineira, e mais quentes,
como baixadas litorâneas de Santa Catarina e no Planalto Central do Distrito Fe-
deral e de Goiás, onde a temperatura média anual é superior aos 20 °C (MADEIRA;
SOUZA, 2004).
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SEDIYAMA; PUIATTI, 2007). No Espírito Santo e em Minas Gerais, as melhores épocas
de plantio compreendem os períodos de março a junho e de setembro a outubro
(BALBINO et al., 1990; GRANATE et al., 2009).
Outro aspecto a ser considerado refere-se aos plantios realizados de julho a setem-
bro, em que se observa um elevado índice de florescimento precoce das plantas de
batata-baroa (Figura 1) afetando a sua produtividade (BALBINO et al., 1990).
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Embora os fatores indutores do florescimento em batata-baroa necessitem de mais
conhecimentos, Knudsen, Hermann e Sorensen (2001) observaram que o estresse
hídrico exerceu efeito positivo sobre eles em alguns clones. Essas informações são
reforçadas por Madeira e Souza (2004) ao relatarem que os plantios subsequentes
ao período mais seco e frio na Região Sudeste promovem o pendoamento precoce
das plantas. Além desses fatores abióticos, Madeira et al. (2017) registram ainda que
essa alteração está também associada à reação da planta a estresses bióticos, em
especial pelo ataque do pulgão-das-folhas.
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A B
C D
E F
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A cultivar Amarela de Senador Amaral foi lançada pela Embrapa em 1998, obtida
por seleção de clones originários de sementes botânicas, coletadas no Município
de Senador Amaral, Sul de Minas Gerais, por intermédio de agricultores (SANTOS;
MADEIRA, 2008). A cultivar apresenta ciclo de 7 a 10 meses para produção comer-
cial, foi denominada pela Embrapa de clone CNPH 92739 (PORTZ et al., 2003), e
suas raízes têm cor amarelo-intensa e de formato uniforme (MADEIRA et al., 2017).
Apresenta também alta produtividade, com potencial para mais de 25 t ha-1, raízes
com aroma típico, todavia não é muito adequada para fritura (SANTOS; MADEIRA,
2008; MADEIRA, 2014).
Na maioria dos casos, a batata-baroa é cultivada por produtores com área limitada de
cultivo em suas propriedades, que optam por implantar a cultura em terrenos margi-
nais, cujos solos geralmente apresentam baixa fertilidade e alta inclinação, alcançando,
assim, baixos rendimentos (CASALI, 1984; LEBLANC et al., 2008; BARRELLA et al., 2011).
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A
Figura 3. Cultivo da batata-baroa. Localização em uma área de relevo suave (A) e de inclina-
ção acentuada (B).
Fonte: Fotos de José Mauro de Sousa Balbino e Luiz Fernando Favarato.
Algumas medidas que têm reflexo no custo de implantação da cultura também de-
vem ser tomadas. Como o cultivo dessa hortaliça no Estado do Espírito Santo é feito,
muitas vezes, em áreas de declividade acentuada, é importante que se proceda ao
uso de práticas de conservação do solo, fazendo-se o plantio em nível e procurando-
-se adotar faixas de retenção (BALBINO et al., 1990). Isso evita a perda da fertilidade
dos solos, diminuindo o gasto com fertilizantes na área ao longo dos anos. Em regiões
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com altitudes inferiores a 700 m ou quando o plantio não for irrigado, recomenda-
-se que o cultivo deva ser explorado preferencialmente na face do sol nascente, por
receber radiação direta pela manhã e por ser o lado mais frio da propriedade. Além
disso, é aquele com menor intensidade de vento, o que resulta em boa conservação
da umidade do solo (EMBRATER/EMBRAPA, 1982, apud CASALI, 1984).
Na escolha da área, deve-se ainda evitar partes da propriedade mais sujeitas a gea-
das, terrenos com minas d’água temporárias, baixadas úmidas e solos com excesso
de matéria orgânica (SILVA; NORONHA, 1964, apud CASALI, 1984). Além de solos pouco
profundos ou compactados por máquinas, não se recomenda ainda o plantio em
solos muito arenosos no outono e no inverno, caso não se tenha condições para a
irrigação (CASALI, 1984).
Os solos mais apropriados para o plantio de batata-baroa devem ser de textura are-
no-argilosa, os quais têm melhores condições de aeração, drenagem e apresentam
impedimento físico moderado (BALBINO et al., 1990) e permitem o bom desenvolvi-
mento das raízes (HODGE, 1949). Os solos muito argilosos proporcionam a formação
de raízes curtas e grossas, enquanto os muito arenosos não dão produções adequa-
das em raízes, além de favorecer a baixa retenção de água (BALBINO et al., 1990).
5 PLANTIO
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(Figura 4), e que foram submetidos às análises e correções pela calagem e fertilidade,
conforme abordado no capítulo 4 “Nutrição, calagem e adubação da batata-baroa”.
O plantio mais comum é realizado com mudas feitas a partir dos rebentos retirados
da planta do cultivo anterior. Uma muda de qualidade é indispensável para uma
boa produtividade. Diante da importância desse tema, mais detalhes são dados no
capítulo 2 “Produção de mudas de batata-baroa”.
A B
Figura 4. Detalhes das leiras para o plantio (A), da lavoura em estágio inicial de desenvol-
vimento (B) e do manejo mais comum da irrigação (C) para a batata-baroa.
Fonte: Fotos de José Mauro de Sousa Balbino.
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Figura 5. Formação do ‘pescoço’ em batata-baroa: efeito do plantio das mudas em profun-
didade superior a 5 cm.
Fonte: Fotos de Luiz Fernando Favarato.
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6 TRATOS CULTURAIS
Para a cultivar Amarela de Senador Amaral, Madeira e Souza (2004) dividiram esse
desenvolvimento da batata-baroa em quatro estádios: inicial – do transplantio de
mudas pré-enraizadas até 30 dias; vegetativo – de 30 a 90 dias; formação de raízes –
de 90 a 150 dias; e maturação – acima de 150 dias após o transplantio.
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80% das raízes efetivas) está nos primeiros 0,40 m e como, em geral, o transplantio
é realizado em leiras, deve-se realizar o monitoramento da umidade entre 0,10 m e
0,15 m de profundidade do transplantio até 42 dias; e entre 0,20 m e 0,30 m, após os
primeiros 42 dias até próximo à colheita (SILVA et al., 2000).
Quanto ao manejo das plantas daninhas, é sabido que a interferência dessas plantas na
cultura causa redução no rendimento de raízes comerciais, às vezes superiores a 98%,
quando em convivência por todo o ciclo (SEDIYAMA et al., 2008). As capinas são suficien-
tes para manter a lavoura sem competição, no entanto, devido ao ciclo longo da bata-
ta-baroa, o gasto com esse manejo geralmente é alto, impactando o custo de produção.
Assim, uma forma de se maximizar a eficiência desse manejo é por meio da estimativa do
período crítico de interferência das plantas daninhas sobre a cultura (MASCARENHAS; PE-
REIRA, 1997) que, para a batata-baroa, é entre 58 e 120 dias após o plantio (FREITAS et al.,
2004b). A partir desse período, as plantas daninhas que emergirem não mais afetariam
na produtividade de raízes comerciais da planta (FREITAS et al., 2004b).
Durante a realização das capinas mecânicas, o agricultor deve aproveitar para acer-
tar as leiras, conservando-as, e também os sulcos, caso tenham problemas de acú-
mulo de água, além de fazer o monitoramento da ocorrência de pragas e doenças.
No entanto, ao se optar pelo uso da capina manual, ela deverá ser feita após a
emergência total das plantas da batata-baroa (20-30 dias após o plantio). É preciso
realizar essa operação com o máximo cuidado para que não haja danos às plantas,
evitando o seu apodrecimento.
Vale considerar que a capina manual, apesar de ser eficiente, é uma operação muito
onerosa, que consome parte expressiva da mão de obra da propriedade. Ademais,
em épocas de chuvas, o aumento do número de capinas e, consequentemente, a
demanda de mão de obra torna a capina manual uma operação menos eficiente,
aumentando o custo de produção da lavoura (SEDIYAMA et al., 2008). Em razão dis-
so, cresce o interesse pela operação de manejo das plantas daninhas pelo uso de
herbicidas. Trabalhos de pesquisa vêm apontando a possibilidade de produtos efi-
cientes para o manejo das plantas daninhas presentes nas lavouras dessa cultura
(FREITAS et al., 2004a; PEREIRA et al., 2003a; PEREIRA et al., 2003b; SEDIYAMA et al.,
2008). No entanto, antes de optar pelo manejo químico, é fundamental considerar,
além das recomendações técnicas, o registro do produto para a cultura no Ministé-
rio da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), fato que tem se constituído em
uma limitação para a batata-baroa. Outro aspecto fundamental é considerar que se
o uso não for bem orientado tecnicamente, o seu emprego poderá interferir na re-
dução da produtividade da lavoura. Madeira et al. (2017) relatam que o manejo ina-
dequado dos agroquímicos na lavoura, especialmente dos herbicidas, pode causar
fitotoxidez à planta e impedir que ela expresse o seu melhor potencial produtivo.
Outro cuidado que deve ser observado é a retirada de pendão floral das plantas de
batata-baroa. O agricultor deve retirá-lo, pois caso mantido, irá conferir à planta
dominância apical, impedindo-a que forme brotações laterais.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há aspectos que envolvem o cultivo da batata-baroa que a levam a ser incluída num
grupo de culturas pouco tradicionais em nível nacional e, consequentemente, com
área de cultivo pouco expressiva. Entre os fatores envolvidos, incluem-se o longo
ciclo para a sua produção comercial, o pouco interesse da cadeia de insumo, bem
como as poucas intervenções das instituições públicas e privadas para o seu desen-
volvimento tecnológico em comparação a hortaliças tradicionais. Por consequência,
o avanço tecnológico com a cultura fica restrito a pequenas inovações incrementais,
comparado ao observado nas principais olerícolas. Esse fato faz com que os novos
conhecimentos disponibilizados para o agricultor sejam em menor número ou sem
a frequência necessária, tornando os avanços práticos com a cultura mais lentos.
Por outro lado, a batata-baroa é uma olerícola que se destaca nesse grupo por seu
valor comercial e pela qualidade nutricional, merecendo atenção por ser um em-
preendimento importante para o agricultor e pelo mercado em potencial que tem à
sua disposição.
Ainda, como forma de contribuir com esse empreendimento, serão tratados e de-
talhados em capítulos seguintes outros conhecimentos, que vêm sendo gerados
e compartilhadas pelos técnicos que atuam com essa olerícola, os quais buscam
superar os gargalos referentes ao manejo integrado da nutrição, ao de pragas e ao
de doenças, bem como as dificuldades inerentes à colheita e à pós-colheita das
suas raízes.
Assim sendo, espera-se que, ao finalizar com a apresentação desse conjunto de prá-
ticas, juntamente com as tecnologias de produção de mudas do capítulo anterior,
possa-se contribuir para a melhoria contínua do sucesso desse empreendimento.
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8 REFERÊNCIAS
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JARAMILLO, J. A. El cultivo da Arracacha (Arracacia xanthorrhiza). Curso de
Actualización en Tecnología Agrícola. Distrito de Rio Negro, Antioquia: Centro de
Capacitación La Selva, 1984. p. 179-189.
KNUDSEN, S. R.; HERMANN, M.; SORENSEN, M. Flowering in six clones of the Andean
root crop arracacha (Arracacia xanthorrhiza Bancroft). Journal of Horticultural
Science and Biotechnology, v. 76, n. 1, p. 454-458, 2001.
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PORTZ, A.; MARTINS, C. A. C.; LIMA, E. Crescimento e produção de raízes
comercializáveis de mandioquinha-salsa em resposta à aplicação de nutrientes.
Horticultura Brasileira, Brasília, DF, v. 21, n. 3, p. 485-488, 2003.
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