Sistemas Eletrico de Potencia

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Curso de Engenharia Elétrica

Análise de Sistemas de Potência


Uma Introdução

Prof. Luiz Bizerra de Aguiar

Fevereiro 2020

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APRESENTAÇÃO

Os sistemas elétricos de potência são constituídos de fontes, onde a energia


é gerada, dos centros de consumo e de suas interligações, através dos
transformadores e das linhas de transmissão. Eles apresentam problemas
relacionados com regime permanente, comportamento dinâmico e condições de
estado transitórios, que precisam ser devidamente estudados e equacionados.

Este texto apresenta elementos sobre a análise de sistemas de potência, de


forma introdutória, consistindo de uma introdução geral, tópicos básicos sobre os
redes elétricas e componentes dos sistemas, estudos de fluxo de potência e curto
circuito e introdução a estabilidade e proteção. Os assuntos abordados servem de
base para estudos complementares, que visem particularmente o planejamento e
a operação do sistema.

Trata-se de um texto básico orientativo para os alunos da disciplina Análise


de Sistemas de Potência, que deve ser complementado com resoluções de
exercícios, discussões em sala de aula e consultas às referências. Contem
elementos básicos sobre sistemas elétricos de potência, aprofundando e aplicando
conceitos vistos em disciplinas como análise de circuitos, conversão e máquinas
elétricas. Apresenta também assuntos que se complementam, principalmente, com
as disciplinas que tratam da transmissão, da distribuição e da geração da energia
elétrica, assim como das máquinas, acionamentos e equipamentos elétricos.

Esses tópicos básicos servem também como preparação para estudos mais
avançados em sistemas de potência, voltados particularmente para aplicações de
métodos computacionais, operação econômica, confiabilidade, controle e
automação, estabilidade e proteção.

Esta apostila foi preparada a partir de versões elaboradas e atualizadas entre


2013 e 2017, que serviram de orientação para cursos em outras Instituições,
sempre tomando como base as referências indicadas no final.

Prof. Luiz Bizerra de Aguiar


Fevereiro de 2020

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INDICE

1. INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE POTÊNCIA..................................3

2. CONCEITOS BÁSICOS PARA ANÁLISE DOS SISTEMAS...............13

3. REPRESENTAÇÃO E MODELAGEM DOS COMPONENTES...........32

4. ANÁLISE DE REDES ELÉTRICAS......................................................48

5. FLUXO DE POTÊNCIA.........................................................................61

6. CURTO CIRCUITO SIMÉTRICO...........................................................76

7. CURTO CIRCUITO ASSIMÉTRICO......................................................84

8. TÓPICOS COMPLEMENTARES..........................................................99

8.1 Introdução à Proteção dos Sistemas...........................................99

8.2 Introdução à Estabilidade dos Sistemas...................................101

REFERÊNCIAS.........................................................................................109

ANEXOS...................................................................................................110

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1. INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS DE POTÊNCIA

Um sistema elétrico de potência abrange a geração, a transmissão e a


distribuição da energia, chegando até as unidades consumidoras industriais,
comerciais, prediais e nas residências, utilizando-se de diversos dispositivos e
equipamentos.

Geração, Transmissão e Distribuição

A geração de energia elétrica é realizada a partir da energia dos potenciais


com queda d’água nas usinas hidrelétricas, da energia de combustíveis com a
geração termoelétrica e de alternativas como energia nuclear, energia eólica e
energia solar. No Brasil a maior parte de energia elétrica gerada é de origem
hidráulica.

Entre a geração e a transmissão fica uma subestação elevadora e entre a


transmissão e a distribuição fica uma subestação abaixadora. Na distribuição ficam
os transformadores abaixadores que possibilitam a chegada da energia às
instalações das unidades consumidoras, ou seja, das cargas, onde a energia é
utilizada.

Na Figura 1.1 está representado, em diagrama esquemático básico, um


sistema elétrico de potência que compreende a geração, a transmissão, a
distribuição e utilização da energia, incluindo as subestações elevadora e
abaixadora.

Figura 1.1 - Diagrama básico simplificado de um sistema elétrico

Esse esquema pode também representar simbolicamente um grande


sistema, em que cada componente indicado seja o conjunto de todos os
componentes do mesmo tipo, numa configuração sistêmica. Assim, a geração pode
representar todos os geradores, as subestações todos os transformadores, a
transmissão todas as linhas de transmissão, a distribuição todas as redes
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distribuidoras e a utilização todas as cargas.

Os geradores de energia geralmente são trifásicos, com a tensão e a


corrente alternada. A tensão gerada normalmente fica na faixa de 2,4 a 25 kV,
sendo mais frequente em 13,8 kV. Nas subestações elevadoras, junto às usinas
geradoras, essa tensão é transformada a valores elevados, em função da potência
a ser transmitida pelas linhas e das distâncias para as áreas onde a energia será
consumida.

A Figura 1.2 mostra imagens dos tipos usuais das fontes de produção de
energia elétrica.

Figura 1.2 - Tipos usuais de geração de energia elétrica

A transmissão significa o transporte de energia elétrica gerada nas usinas


distantes até os centros consumidores O transporte da energia é realizado através
de linhas de transmissão, em geral em tensão ou corrrente alternada trifásica, com
uma capacidade de transmissão adequada.

As tensões utilizadas para a transmissão da energia elétrica em grandes


sistemas são, normalmente, de 230 kV e acima. As tensões das linhas de
transmissão mais usuais são 750 kV, 500 kV, 345 kV e 230 kV, em corrente
alternada, e 600 kV em corrente continua.

A Figura 1.3 mostra algumas imagens de estruturas de linhas de transmissão


de energia elétrica.

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Figura 1.3 - Linhas de transmissão e subtransmissão

A transmissão através das linhas nas tensões de 138 kV e 69 kV é


denominada de subtransmissão. A distribuição é a parte do sistema elétrico dentro
dos centros de utilização (cidades, bairros, indústrias). A distribuição começa na
subestação abaixadora, onde as tensões da linha de transmissão e subtransmissão
são baixadas para valores padronizados em 34,5 kV e 13,8 kV.

A Figura 1.4 mostra imagens de alguns tipos de linhas de subtransmissão e


de distribuição primária.

Figura 1.4 - Linhas de subtransmissão e de distribuição primária

As linhas de transmissão são conectadas às subestações, que dispõe de


mecanismos de manobra e controle, de forma a reduzir problemas decorrentes de
eventos transitórios que podem ocorrer durante a operação normal de
chaveamentos ou descargas atmosféricas.

A Figura 1.5 mostra como exemplos imagens de quatro subestações:

5
Figura 1.5 – Exemplos de subestações

A transmissão de energia é, em geral, em tensão ou corrente alternada (CA)


trifásica, através de linhas aéreas. Há casos de transmissão CA através de linhas
monofásicas e perspectivas de utilização de linhas hexafásicas. Em algumas
situações são também utilizadas linhas subterrâneas e linhas subaquáticas.

A transmissão em corrente contínua (CC) tem sido considerada também


como alternativa para a transmissão de grandes blocos de energia a grandes
distâncias.

A conversão da corrente alternada (CA) para corrente continua (CC)é


realizada através de grandes retificadores e a conversão da CC para a CA através
de inversores, ambas utilizando tiristores de alta tensão e potência. O elevado
custo dessas conversoras constitui-se no maior fator de desvantagem da
transmissão CC.

O uso da corrente contínua tem como vantagens o desacoplamento entre


sistemas e a economia de cabos, usando estruturas mais leves. Pode ser realizada
de forma unipolar (um condutor, com retorno pelo terra) ou bipolar (dois condutores,
de polaridades positiva e negativa).

Resumidamente, pode-se dizer que o transporte de energia é feito em


diversos níveis de tensão, com valores padronizados, podendo ser considerada a
seguinte classificação:

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• Distribuição: 13,8 e 34,5 kV;
• Subtransmissão: 69 e 138 kV;
• Transmissão: 230 kV e valores superiores.

A transmissão propriamente dita pode ser classificada como:


• Alta tensão: 230 kV;
• Extra alta tensão: 345, 500, 750 kV (CA), 600 kV (CC);
• Ultra alta tensão: 1000 kV (CA), 800 kV (CC) e valores superiores.

Interligação de Sistemas

O processo envolvendo geração, transmissão e distribuição de energia


elétrica, até sua utilização pelos consumidores, é realizado através de rede, ou do
conjunto os componentes interconectados, formando um sistema. Dessa forma, em
sistemas de grande porte é usual a interligação entre as usinas, ou entre
subsistemas, através das linhas de transmissão, formando uma grande rede
elétrica.

As interligações são necessárias para possibilitar as transferências de


potência entre áreas, procurando-se otimizar a operação do sistema diante das
disponibilidades das usinas geradoras. As interligações podem contribuir para a
melhoria do suprimento de energia, aumentando a qualidade do fornecimento e
a confiabilidade do sistema.

Ressalta-se que, apesar das vantagens decorrentes das interligações, a


complexidade do sistema aumenta bastante. No entanto, pode-se observar,
particularmente, que falhas podem ser propagadas de uma parte do sistema para
outra, requerendo maiores cuidados e estudos mais detalhados para as definições
das condições operativas.

A Figura 1.6 mostra uma configuração genérica de um sistema elétrico


constituído de cinco sistemas, ou subsistemas, interligado através de sete linhas
de transmissão. Observa-se que os sistemas representados nesse diagrama
podem pertencer a empresas distintas ou serem subsistemas de uma mesma
empresa.

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Figura 1.6 – Exemplo de uma configuração de um sistema elétrico interligado

Os estudos para o sistema interligado podem ser realizados de forma


integrada ou separadamente para cada sistema, compatibilizando-os em seguida,
dependendo do tipo de estudo.

Funções do Sistema Elétrico e Componentes

Resumidamente, podem ser mencionadas as funções básicas do sistema


elétrico e seus componentes:

a) Sistema: Fornecer energia elétrica aos usuários ou consumidores com


qualidade adequada;

b) Geração: Converter determinadas formas de energia em energia elétrica,


com destaque para a conversão eletromecânica;

c) Transmissão: Transportar a energia elétrica da geração aos centros de


consumo;

d) Distribuição: Distribuir a energia elétrica para utilização pelos consumidores;

e) Subestações: Alterar os níveis de tensão para permitir a transmissão e a


distribuição;

f) Unidades consumidoras: Utilizar a energia elétrica, sendo unidades


industriais, comerciais, residenciais ou outras.

Engenharia de Sistemas Elétricos

A engenharia de sistemas elétricos envolve basicamente as atividades


relacionadas com:
• Estudos e planejamento do sistema;
• Projeto e construção das usinas e linhas;

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• Operação e manutenção dos sistemas.

Consideram-se como requisitos básicos a serem atendidos:


• Confiabilidade do sistema;
• Segurança das instalações;
• Economia e viabilidade dos empreendimentos.

Dentre os tipos de estudos que podem ser realizados, envolvendo os


sistemas de potência, podem ser mencionados:
• Estudos das características das cargas;
• Características dos Equipamentos;
• Compensação de reativos e regulação de tensão;
• Análises em regime permanente;
• Estudos de fluxo de potência;
• Curto circuito e sobrecorrentes;
• Análise de transitórios;
• Sobretensões e isolamento;
• Qualidade do fornecimento de energia;
• Estabilidade;
• Proteção;
• Operação econômica;
• Confiabilidade do sistema
• Dinâmica e controle do sistema;
• Problemas de otimização.

Evolução dos Sistemas de Transmissão

Alguns marcos históricos relacionados com a evolução dos sistemas


elétricos podem ser mencionados em destaque, indicando-se os marcos
preliminares e os relacionados mais diretamente a transmissão e sistemas, até o
ano de 1969, com o início da transmissão em 750 kV, conforme indicado a seguir:

Preliminares

• 1880 : Fase inicial em CC (Edison, New York);


• 1885: CA (George Westinghouse/EUA);
• 1885/1886: Sistema experimental em CA com 50 lâmpadas;

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• 1888: Motores de indução e síncronos bifásicos (Tesla);
• 1889: Primeira UHE no Brasil;
• 1890: Primeira LT em operação (Oregon/EUA), 3,3 kV, 20 km,
monofásica, iluminação, motores monofásicos;
• 1893: Distribuição bifásica;
• 1894: 5 UHE nos EUA (1 bifásica e 4 trifásicas).

Transmissão e Sistemas

• 1907: Transmissão em 100 kV;


• 1913: Transmissão em 220 kV;
• 1917: Sistemas interligados;
• 1923: Transmissão em 244 kV (operação em 1926);
• 1926: Transmissão em 287 kV (operação em 1936);
• 1953: Transmissão em 345 kV;
• 1965: Transmissão em 500 kV e 735 kV (Hidro Quebec/Canadá);
• 1969: Transmissão em 765 (750) kV;
• 2019: Transmissão em 1100 kV.

Transmissão em Corrente Contínua


• Décadas de 50 a 80: Algumas experiências em alguns paises;
• 1983: Transmissão em 600 kV no Brasil (Itaipu);
• 2010: Transmissão em 800 kV na China;
• 2018: Transmissão em 800 kV no Brasil (Belo Monte).

A Figura 1.7 mostra imagens de estruturas de linhas de transmissão de


energia elétrica em ultra alta tensão (UAT), em 800 kV CC e 1100 kV CA.

Figura 1.7 - Linhas de transmissão de energia elétrica em UAT

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Desenvolvimentos e Perspectivas

Alguns pontos que representam áreas em que se encontram elevados


desenvolvimentos tecnológicos e perspectivas para o futuro dos sistemas de
energia elétrica:
• Transmissão UAT/CA em 800 a 1500 kV (EUA, Canadá, Japão, Rússia,
Itália, Brasil, China);
• Transmissão CC (EUA, Itália, Brasil, China);
• Eletrônica de potência, multiterminais;
• Transmissão hexafásica;
• Linhas de transmissão compactas;
• Linhas de meio comprimento de onda;
• Linha de potência natural elevada – LPNE;
• Compensação de reativos e controle de tensão;
• Tecnologias de materiais e equipamentos;
• Tecnologias de informática e comunicação;
• Confiabilidade do sistema e segurança das instalações;
• Sistemas de automação e controle;
• Sistemas FACTS (Flexible Alternative Current Transmission Systems);
• Técnicas de sistemas inteligentes.

Sistema de Transmissão no Brasil

O sistema elétrico brasileiro é um dos maiores e mais complexos do mundo.


Em termos de transmissão de energia elétrica pode-se mencionar alguns dados
relativos aos quantitativos de linhas de transmissão, com as capacidades de
geração e transformação, conforme segue [8]:
• Capacidade instalada de geração de energia elétrica:
- 155.644 MW, em 2017;
- 216.294 MW, previsão para 2027.
• Capacidade de transformação na transmissão:
- 333.267 MVA, em 2016;
- 532.445 MVA, previsão para 2026.
• O sistema de transmissão nas tensões de 230 kV e superiores:
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- 141.576 km, em 2017;
- 196.816 km, previsão para 2027.

Verifica-se que a demanda máxima instantânea normalmente é da ordem de


90 a 95 % da capacidade instalada.

Pode-se acrescentar ainda que os sistemas de subtransmissão e


distribuição no Brasil representam atualmente cerca de 3 milhões de km de linhas.

As Figura 1.8 mostra um mapa com a representação geográfica do Sistema


de Transmissão no Brasil, o SIN – Sistema Interligado Nacional, na configuração
em 2017.

Figura 1.8 - Sistema de Transmissão no Brasil configuração 2017 (NOS/EPE)

* * *

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2. CONCEITOS BÁSICOS PARA ANÁLISE DOS SISTEMAS

Os conceitos básicos necessários à análise dos sistemas elétricos de


potência envolvem as grandezas fundamentais, os parâmetros dos componentes,
modelos dos componentes, os circuitos monofásicos simples ou equivalentes, os
circuitos trifásicos equilibrados e os circuitos trifásicos desequilibrados, assim como
as grandezas com os valores em por unidade (pu).

Variáveis e Parâmetros

As variáveis básicas associadas às grandezas elétricas, e suas unidades,


são a tensão em volt (V) e a corrente em ampére (A). Como variáveis derivadas
tem-se a potência em watt (W) e a energia em watt.hora (W.h). Em sistemas
utilizam-se normalmente as unidades V ou kV, A ou kA, W, kW ou MW, kWh, MWh
ou GWh.

As tensões e as correntes são expressas como funções do tempo e da


frequência, sendo que em 60 Hz são expressas em termos de valores eficazes. No
sistema, seja nos geradores, nos transformadores ou nas linhas, são indicados os
valores de fase e de linha.

As potências podem ser expressas também como funções do tempo e da


frequência, sendo que em 60 Hz são expressas em função dos valores eficazes
das tensões e das correntes, resultando numa potência complexa, cujo módulo é a
potência aparente e as componentes são a potência ativa e a potência reativa.

Os parâmetros dos componentes, geradores, linhas, transformadores e


cargas, são constituídos de resistência, indutância e capacitância. As Impedâncias
são composições de resistências com as reatâncias indutivas e capacitivas.

Modelos para Análise

Cada componente do sistema, seja gerador, linha, transformador ou carga,


tem um modelo de representação apropriado para cada tipo de estudo, a ser visto
adiante.

Preliminarmente pode-se considerar o modelo de cada componente a partir


de seus parâmetros básicos, conforme segue:

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Geradores: resistência e reatâncias por fase permanente, transitória e
subtransitória;

Linhas: Linha curta: resistência e reatância indutiva; Linha média:


resistência, reatância indutiva e reatância capacitiva; Linha longa: resistência,
reatância indutiva e reatância capacitiva, por unidade de comprimento,
considerando parâmetros distribuídos;

Transformadores: resistência e reatância, mas em muitas situações somente


a reatância.

Os modelos dos componentes podem ter uma representação básica, mas


em certas situações podem-se usar circuitos equivalentes. Os diagramas das
tensões e correntes podem ser representados na forma fasorial. As potências
podem ser representadas através de triângulo de potências. Os modelos
necessários aos estudos do sistema serão apresentados adiante.

No sistema é importante o conhecimento da potência transmitida nas linhas,


suas capacidades de transmissão por corrente ou por tensão, as perdas, as
variações de tensão e regulação, a variação de reativos ou as condições de
colapso, tendo como ponto de partida as tensões, as correntes e as potências.

Tensões, Correntes e Potências

As tensões e correntes podem ser expressas como funções do tempo e


como fasores, conforme as seguintes correspondências:
𝑉𝑀 𝑉𝑀
𝑣(𝑡) = 𝑉𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡 𝑽= ∠00 𝑉𝑒𝑓 =
√2 √2

𝐼𝑀 𝐼𝑀
𝑖(𝑡) = 𝐼𝑀 cos⁡(𝜔𝑡 − 𝛼) 𝑰= ∠(−𝛼 0 ) 𝐼𝑒𝑓 =
√2 √2

Nessas expressões tem-se os valores máximos VM e IM, os valores eficazes


Vef e Ief e as fases 00 e α0, correspondentes às tensões e correntes,
respectivamente. Os valores podem ser para circuitos monofásicos e circuitos
equivalentes monofásicos de um circuito trifásico, com grandezas de linha ou de
fase.

As expressões das potências instantâneas p(t) e aparentes S são as


seguintes:

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𝑝(𝑡) = 𝑣(𝑡). 𝑖(𝑡) 𝑆 = 𝑉. 𝐼 ∗

Graficamente as funções v(t), i(t) e p(t) podem ser representadas


conforme mostradas na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Representação das tensões, correntes e potências

Desenvolvendo a expressão da potência, tem-se:

𝑝 = 𝑣𝑖 = 𝑉𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡𝐼𝑀 cos(𝜔𝑡 − 𝜃)

𝑝 = 𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡 (cos 𝜔𝑡𝑐𝑜𝑠𝜃 + sen 𝜔𝑡𝑠𝑒𝑛𝜃)

𝑝 = 𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜃(𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡)2 +𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑠𝑒𝑛𝜃(sen 𝜔𝑡 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡)

𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝= 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 + cos 2𝜔𝑡) + 𝑠𝑒𝑛𝜃sen2𝜔𝑡
2 2
A potência é constituida, portanto, de duas parcelas ou componentes, que
correspondem à potência na parte resistiva, chamada de potência real ou ativa, e
potência na parte reativa, chamada de potência reativa, respectivamente, tendo-
se então:

𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑅 = 𝑐𝑜𝑠𝜃(1 + cos 2𝜔𝑡)
2
𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑋 = 𝑠𝑒𝑛𝜃sen2𝜔𝑡
2
A potência média da segunda parcela é nula e a potência média total resulta
na potência média da primeira parcela, isto é:

𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑝𝑚 = 𝑐𝑜𝑠𝜃
2

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Esta potência é também chamada de potência real ou potência ativa. O valor
máximo de px é chamado de potência reativa.

As componentes da potência também podem ser expressas em termos das


correntes na parte resistiva e na parte reativa, nas seguintes formas:

𝑝𝑅 = 𝑉𝑀 𝐼𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜃(𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡) cos 𝜔𝑡 = 𝑣(𝐼𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡) = 𝑣𝑖𝑅

𝑝𝑋 = 𝑉𝑀 (𝐼𝑀 𝑠𝑒𝑛𝜃)sen 𝜔𝑡 ⁡𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡 = 𝑣(𝐼𝑀 𝑠𝑒𝑛𝜃sen 𝜔𝑡) = 𝑣𝑖𝑥

As componentes da corrente na parte resistiva e na parte reativa são,


portanto:

𝑖𝑅 = 𝐼𝑀 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡

𝑖𝑥 = 𝐼𝑀 𝑠𝑒𝑛𝜃sen 𝜔𝑡

Em termos de fasores, a composição das potências ativa e reativa forma a


potência aparente. Dessa forma, sendo P a potência ativa e Q a potência reativa
fica definida uma potência aparente S, complexa, da seguinte forma:
𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑃= 𝑐𝑜𝑠𝜃 = 𝑉𝐼𝑐𝑜𝑠𝜃
2
𝑉𝑀 𝐼𝑀
𝑄= 𝑠𝑒𝑛𝜃 = 𝑉𝐼𝑠𝑒𝑛𝜃
2
𝑺 = 𝑃 + 𝑗𝑄 = 𝑆∠𝜃 𝑆 = 𝑉𝐼

O ângulo θ é o ângulo entre a potência ativa e a potência aparente, que


corresponde também ao ângulo entre a tensão e a corrente. O fator de potência fp
é a relação entre a potência ativa e a potência aparente sendo, portanto, igual ao
cosseno do ângulo entre essas potências, isto é, cosθ.
Tem-se, então, que:
𝑃 = 𝑆𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑄 = 𝑆𝑠𝑒𝑛𝜃
𝑃
𝑆 = √𝑃2 + 𝑄2 𝑓𝑝 = 𝑐𝑜𝑠𝜃 =
𝑆
Essas grandezas podem ser representadas através dos fasores das tensões
e correntes e do triângulo de potências ativas, reativas e aparentes, conforme
mostra a Figura 2.2.

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Figura 2.2. Representação dos fasores e triângulo de potências

Circuitos Monofásicos

O circuito monofásico correspondente a uma parte do sistema representado


conforme mostra a Figura 2.3. O circuito representa uma fonte com uma tensão
gerada Eg e uma impedância Zg, uma linha com uma impedância ZA, composta de
uma resistência R e uma reatância X, e uma carga como uma impedância ZL. Nos
terminais do gerador estão indicadas a tensão Vt e a corrente IL e na carga a tensão
VL

Figura 2.3 - Representação de um circuito monofásico

No circuito monofásico tem-se, em valores eficazes, que:

𝑉𝑡 = 𝑉𝑎 = 𝑉𝑎0 𝑉𝐿 = 𝑉𝑏 = 𝑉𝑏𝑛

𝐼𝐿 = 𝐼𝑎𝑏 = −𝐼𝑏𝑎 = 𝐼𝑏𝑎 ∠1800

As equações correspondentes ao circuito são:

𝑉𝑎𝑏 = 𝐼𝑎𝑏 𝑍𝐴 𝑉𝑡 − 𝑉𝐿 = 𝐼𝐿 𝑍𝐴

𝑉𝑡 − 𝑉𝐿
𝐼𝐿 =
𝑍𝐴

No gerador tem-se:

𝐸𝑔 = 𝑉𝑡 + 𝐼𝐿 𝑍𝑔
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Circuitos Trifásicos Equilibrados

O circuito trifásico equilibrado pode ser representado, por exemplo, pelas


três fases de uma fonte com uma tensão gerada Eg e uma impedância Zg, uma linha
curta com uma impedância Z, composta de uma resistência R e uma reatância X,
e uma carga como uma impedância ZR.

A Figura 2.4 mostra um exemplo de circuito trifásico equilibrado. Estão


indicadas, além das grandezas mencionadas, a tensão Vt nos terminais do gerador
e a tensão VR na carga, como também a corrente na linha que, no caso, é igual à
do gerador e da carga.

Figura 2.4 - Representação de um circuito trifásico equilibrado

O equivalente monofásico desse circuito trifásico está representado na


Figura 2.5, considerando-se apenas a fase a.

Figura 2.5 – Equivalente monofásico do sistema trifásico

Os circuitos podem ser equacionados e representados em diagramas


fasoriais, tanto para as tensões como para as correntes. As tensões no gerador
estão representadas na Figura 2.6.

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Figura 2.6 – Diagrama das tensões no gerador

As tensões na fonte são:

𝑬𝒂′𝟎 = 𝑬𝒂 = 𝐸𝑎 ∠00
𝑬𝒃′𝟎 = 𝑬𝒃 = 𝐸𝑎 ∠2400
𝑬𝒄′𝟎 = 𝑬𝒄 = 𝐸𝑎 ∠1200

As tensões nos terminais do gerador são:

𝑽𝒂𝟎 = 𝑽𝒂 = 𝑬𝒂 − 𝒁𝑰𝑎𝑛 = 𝑉𝑡 ∠00


𝑽𝒃𝟎 = 𝑽𝒃 = 𝑬𝒃 − 𝒁𝑰𝑏𝑛 = 𝑉𝑡 ∠2400
𝑽𝒄𝟎 = 𝑽𝒄 = 𝑬𝒄 − 𝒁𝑰𝑐𝑛 = 𝑉𝑡 ∠1200

As correntes nas linhas são:

𝑬𝒂 𝑉𝑅 ∠00
𝑰𝑎 = 𝑰𝑎𝑛 = =
𝒁𝒈 + 𝒁 + 𝒁𝑹 𝒁𝑹
𝑬𝒃 𝑉𝑅 ∠2400
𝑰𝑏 = 𝑰𝑏𝑛 = =
𝒁𝒈 + 𝒁 + 𝒁𝑹 𝒁𝑹
𝑬𝒄 𝑉𝑅 ∠1200
𝑰𝑐 = 𝑰𝑐𝑛 = =
𝒁𝒈 + 𝒁 + 𝒁𝑹 𝒁𝑹

As tensões entre duas linhas, ou tensões de linha, são:

𝑽𝒂𝒃 = 𝑽𝒂 − 𝑽𝒃 𝑽𝒃𝒄 = 𝑽𝒃 − 𝑽𝒄 𝑽𝒄𝒂 = 𝑽𝒄 − 𝑽𝒂

Têm-se, graficamente, os fasores das tensões de fase e de linha, conforme


a Figura 2.7:

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Figura 2.7 – Diagrama das tensões na linha

Igualmente têm-se os fasores das correntes, conforme mostra a Figura 2.7:

Figura 2.8 – Diagrama das correntes

Circuitos Trifásicos Desequilibrados

O circuito trifásico desequilibrado, correspondente a um componente do


sistema pode ser representado conforme mostra a Figura 2.9. O circuito representa
as três fases de uma fonte com uma tensão gerada Eg e uma impedância Zg, uma
linha com uma impedância ZA, composta de uma resistência R e uma reatância X.

Figura 2.9 – Sistema trifásico desequilibrado

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A carga está representada pelas impedâncias de cada fase Za, Zb e Zc, que
respondem pelos desequilíbrios. Nos terminais do gerador estão indicadas as
tensões Vt e as correntes IL para cada linha e na carga as tensões em cada fase
VL. Está também indicado o diagrama fasorial das tensões e correntes.

Condutores e Parâmetros das Linhas

As linhas de transmissão de energia apresentam como parâmetros elétricos


básicos, relativos aos condutores e suas disposições, a resistência, a indutância, a
condutância e a capacitância. Das indutâncias e capacitâncias resultam as
reatâncias indutivas e capacitivas.

A impedância série é a composição da resistência e reatância indutiva e a


admitância derivação, ou shunt, é a composição da condutância e reatância
capacitiva. A susceptância é a admitância derivação desprezando-se a
condutância.

O comportamento das linhas depende desses parâmetros, que por sua vez
influenciam o comportamento do sistema de potência. Os parâmetros podem ser
representados como concentrados ou distribuídos e considerados de forma
completa ou de forma simplificada, dependendo do tipo de estudo a ser realizado.

Os condutores são predominantemente de alumínio, principalmente


condutores de alumínio com alma de aço - CAA (ou ACSR - aluminium conductor
steel reinforced), podendo-se usar também condutores de cobre em algumas
situações, como em alguns casos nas linhas de distribuição. Os condutores de
cobre são melhores condutores de eletricidade que os de alumínio, porem seu uso
limitado deve-se ao seu custo mais elevado, como também ao maior peso.

Uso de Tabelas

As características dos condutores podem ser encontradas em tabelas.


Algumas dessas características estão apresentadas, de forma simplificada, nas
tabelas seguintes, considerando valores típicos de espaçamentos equivalentes
para alguns níveis de tensão e tipos de condutores.

As Tabelas 2.1 a 2.4 mostram alguns dados das características das linhas e
condutores, com os valores das resistências das reatâncias indutivas e capacitivas
para os espaçamentos usuais.

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A Tabela 2.1 mostra valores usuais de tensões, tipos de condutores e
espaçamentos equivalentes.

Tabela 2.1 – Tensões, condutores e espaçamentos equivalentes

Tensões Condutores Espaçamento Equivalente


(m) (pé)
(kV) (AWG, MCM)
13,8 1/0, 4/0 1,35 4,40
34,5 4/0, 336.4 1,58 5,18
69 4/0, 336.4 3,60 11,81
138 336.4, 636.0 5,10 16,73
230 636.0 10,10 33,13

A Tabela 2.2 mostra as características de condutores, resistência, reatância


indutiva e reatância capacitiva, por unidade de comprimento (km), para o
espaçamento de 1 pé.

Tabela 2.2 - Características de condutores por unidade de comprimento (km)

Condutor Resistência Reatância Reatância


(AWG, MCM) (r, Ω/km - 500C) Indutiva (xa, Capacitiva (xa´,
Ω/km, 60Hz) (*) MΩ.km, 60Hz) (*)
1/0 0,696 0,408 0,196
0,179
4/0 0,368 0,361
336.4 0,190 0,280 0,167
636.0 0,100 0,256 0,152
(*) - Para espaçamento de 1pé

A Tabela 2.3 mostra tensões e reatâncias indutivas e capacitivas,


considerando espaçamentos usuais, por unidade de comprimento (km).

Tabela 2.3 - Tensões e reatâncias para espaçamentos usuais

(kV) xd (Ω/km) xd´ (MΩ.km)


34,5 0,124 0,078
69 0,187 0,118
138 0,235 0,135
230 0,264 0,168

23
A Tabela 2.4 mostra, para tensões e tipos de condutores, os valores totais
das resistências, reatâncias indutivas e capacitivas, por unidade de comprimento
(km). considerando espaçamentos usuais,

Tabela 2.4 - Resistências e reatâncias totais

(kV) Condutor (r, Ω/km) (x, Ω/km) (x´, MΩ.km)


13,8 1/0 0,696 0,520 0,227
34,5 4/0 0,368 0,485 0,257
336.4 0,190 0,404 0,245
69 4/0 0,368 0,548 0,297
336.4 0,190 0,467 0,285
138 336.4 0,190 0,515 0,302
636.0 0,100 0,491 0,287
230 636.0 0,100 0,520 0,320
Obs.: x = xa + xd x´ = xa´ + xd´

Pode-se observar que reatâncias indutivas e capacitivas totais não variam


muito com as tensões, com os condutores, nem com os espaçamentos. Pode-se
verificar que a ordem de grandeza dessas reatâncias é a seguinte:

x ≈ 0,5 Ω/km x´ ≈ 0,3 MΩ.km

Esses valores podem ser considerados como típicos ou referenciais, e são


usados normalmente na falta dos valores precisos.

Análise das Linhas Curtas

Considera-se como linha curta, em geral, uma linha com uma tensão de
distribuição em 13,8 kV e 34,5 kV, ou em tensões maiores mas com o comprimento
pequeno, até cerca de 80 km.

Basicamente a linha curta é representada pela resistência e reatância


indutiva do condutor. As equações que envolvem as tensões e as correntes em
função das potências são aproximadas, mas compatíveis com os resultados a
serem obtidos.

A Figura 2.10 mostra uma representação de uma linha curta e o diagrama


fasorial correspondente.

24
Figura 2.10 - Representação de uma linha curta e diagrama fasorial

Normalmente são determinadas as quedas de tensão na linha e a regulação


na carga, utilizando-se os parâmetros e variáveis em valores normais ou em por
unidade (pu) e por cento (%).

Sendo a potência na carga S = P+jQ, e a tendo a tensão na carga como


referência, com ângulo δ = 00, a equação da linha é dada por:

𝑺 𝑃−𝑗𝑄
𝑽𝟏 = 𝑽𝟐 + 𝒁𝑰 𝑰 = ( )∗ =
𝑽 𝑉

A queda de tensão na linha é:

∆𝑽 = 𝑽𝟏 − 𝑽𝟐 = 𝒁𝑰

Em termos aproximados, a queda de tensão na linha pode ser dada em volt


(V) por:

𝑅𝑃 + 𝑋𝑄
∆𝑉 ≈ 𝑅𝐼𝑐𝑜𝑠𝜃 + 𝑋𝐼𝑠𝑒𝑛𝜃 =
𝑉
Utilizando as unidades em kW, kVAr, MW, MVAr e kV, tem-se em (kV):

𝑅(𝑘𝑊) + 𝑋(𝑘𝑉𝐴𝑟) 𝑅(𝑀𝑊) + 𝑋(𝑀𝑉𝐴𝑟)


∆𝑉 = =
1000(𝑘𝑉) (𝑘𝑉)

Por exemplo, para uma linha de 10 km de comprimento, em que r = 0,1 Ω/km


e x = 0,5 Ω/km, tem-se: R = 1 Ω e X = 5 Ω. Alimentando uma carga de P = 2 MW e
Q = 1 MVAr, na tensão V = 13,8 kV, resulta uma queda de tensão ∆V ≈ 0,51 kV, ou
seja, 3,7 % da tensão da linha.

A queda de tensão expressa em por unidade (pu) e por cento (%) da tensão
de referência é dada por:

𝑅(𝑀𝑊)+𝑋(𝑀𝑉𝐴𝑟)
∆𝑉𝑝𝑢 = ∆𝑉% = 100∆𝑉𝑝𝑢
(𝑘𝑉)2

25
Adotando uma determinada base de potência, normalmente 100 MVA para
as linhas de transmissão e sistemas de potência, tem-se que:

𝑅(𝑀𝑉𝐴)𝐵 𝑋(𝑀𝑉𝐴)𝐵
𝑅𝑝𝑢 = 𝑋𝑝𝑢 =
(𝑘𝑉)2 (𝑘𝑉)2
𝑃 𝑄
𝑃𝑝𝑢 = 𝑄𝑝𝑢 =
(𝑀𝑉𝐴)𝐵 (𝑀𝑉𝐴)𝐵

Utilizando todos os valores de impedâncias e potências em pu, tem-se uma


expressão muito simples:

∆𝑉 = 𝑅𝑃 + 𝑋𝑄

Por exemplo, para a linha de R = 1 Ω e X = 5 Ω alimentando a carga de P =


2 MW e Q = 1 MVAr, na tensão V = 13,8 kV, tem-se R = 0,525 pu, X = 2,625 pu, P
= 0,02 pu e Q = 0,01 pu. Resulta uma queda de tensão ∆V ≈ 0,037 pu, ou seja, 3,7
% da tensão da linha.
Em sistemas radiais representados por linhas curtas podem-se determinar,
aproximadamente, as quedas de tensões por trechos, utilizando as potências que
fluem em cada trecho, assim como os valores das tensões nas barras, sendo dada
a tensão na barra inicial.
A Figura 2.11 mostra como exemplo um sistema radial simples de 4 barras
com indicações das linhas e suas características, as cargas e os valores
aproximados das quedas de tensão por trechos e das tensões nas barras, todos os
valores em pu.

Figura 2.11 – Caso exemplo de um sistema radial

Exemplos como esse podem ser resolvidos com a devida precisão


calculando as quedas de tensão utilizando os valores das tensões nas cargas o
mais próximo possível do real, através de um processo interativo. Mais
precisamente pode ser utilizado um programa de computador para cálculo de fluxo
de potências e tensões.

26
A regulação de tensão ρ na barra de carga pode ser definida como a
diferença entre as tensões nessa barra em vazio V0 e em carga Vc, em relação à
tensão em carga, isto é:

𝑉0 −𝑉𝑐 ∆𝑉 ∆𝑉
𝜌= = 𝜌% = 𝑥100
𝑉𝑐 𝑉𝑐 𝑉𝑐

No caso de variação somente de reativo, tem-se aproximadamente:

𝜌𝑄 ≈ 𝑋∆𝑄

Isto é, a regulação da tensão na carga no final da linha é igual ao produto da


reatância da linha pela variação da potência reativa.

Como será visto no item sobre curto circuito, a ocorrência de curto circuito
em um ponto do sistema determina uma corrente de curto circuito e uma potência
de curto circuito, que depende de impedância de Thèvenin Z vista do ponto e da
tensão de circuito aberto E antes do curto. A corrente de curto circuito Icc é dada
por:

𝐸
𝐼𝑐𝑐 =
𝑍
Usando valores em pu e desprezando as resistências em relação ao módulo
das reatâncias, tem-se aproximadamente:

1
𝐼𝑐𝑐 =
𝑋
Verifica-se que em pu a potência de curto circuito Pcc (ou Sk) é igual à
corrente de curto circuito, isto é:

1
𝑃𝑐𝑐 = 𝑆𝑘 =
𝑋
Dessa forma, a regulação no ponto devido à variação de reativos, é dada
por:
1
𝜌𝑄 ≈ 𝑋∆𝑄 = ∆𝑄
𝑆𝑘
Isto é, a regulação no ponto devido à variação de reativos é dada pelo
produto dessa variação pelo inverso da potência de curto circuito no ponto, em pu
ou MVA.

27
Análise da Linha Média

Considera-se com linha média, em geral, uma linha com uma tensão de
subtransmissão em 69 kV e 138 kV, ou em tensões mais elevadas, mas com o
comprimento pequeno, até cerca de 240 km.

Basicamente a linha média é representada pela resistência, indutância e


capacitância, ou pela resistência e reatância indutiva série e reatância capacitiva
derivação do condutor, conforme mostra os diagramas da Figura 2.12.

Figura 2.12 - Representação de uma linha média

As equações que envolvem as tensões e as correntes em função das


potências são também aproximadas, mas compatíveis com os resultados a serem
obtidos. Normalmente são determinadas as quedas de tensão na linha e a
regulação na carga, utilizando os parâmetros e variáveis em valores normais ou em
por unidade (pu) e por cento (%), como nas linhas curtas, acrescentando-se, porem,

a influência da carga capacitiva da linha, utilizando-se os modelos T ou π.


É importante no caso das linhas médias a determinação da elevação da
tensão da linha em vazio (sem carga), decorrente da potência capacitiva da linha.

Utilizando o modelo π, e desprezando a resistência em relação à reatância indutiva,

verifica-se pelo circuito que a variação tensão na linha média em vazio, em pu, é
dada por:

𝑋𝐿
∆𝑉𝑝𝑢 =
2𝑋𝐶

Partindo-se do valor no início da linha V1 = 1 pu, o valor no final V2 é igual a


essa variação, que é uma elevação de tensão. Utilizando as reatâncias em por
unidade de km, isto é, x (Ω/km) e x’ (Ω.km), tem-se que:

28
𝑥 2
∆𝑉𝑝𝑢 = 𝑙
2𝑥′
Expressando o valor do comprimento l da linha como l’ em centenas de km,

Istoé, l’ = l/100, tem-se:

𝑥
∆𝑉𝑝𝑢 = 5000 (𝑙′)2
𝑥′

Utilizando, por exemplo, valores típicos para as reatâncias indutivas x em


torno de 0,5 Ω/km e capacitivas x’ entre (0,25 a 0,3) MΩ.km, obtém-se:

∆𝑉𝑝𝑢 ≈ (0,0083⁡𝑎⁡0,01)(𝑙′)2 ∆𝑉% ≈ (0,83⁡𝑎⁡1,0)(𝑙′)2

Variando os condutores e, portanto, os valores de x e x’, tem-se que ∆V%

varia entre (0,8 e 1,0)(l’2). Pode-se, então, considerar a seguinte regra prática:

“A elevação de tensão em linhas médias em vazio, em %, é da ordem do


quadrado do comprimento da linha expresso em centenas de km”.

Por exemplo, uma linha de 100 km de comprimento apresenta uma elevação


de tensão da ordem de 1 %; para 200 km a elevação é de 4 %, e assim por diante.
Essas elevações praticamente não dependem dos condutores e dos níveis de
tensão.

A carga ou carregamento da linha média SC, devido à capacitância, pode ser


determinada conforme segue:

𝑉𝐿2 (𝑘𝑉𝐿 )2
𝑆𝑐 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐶 = 𝑆𝑐 = ⁡⁡⁡⁡𝑀𝑉𝐴𝑟
𝑋𝐶 𝑋𝐶

Isto é, a potência capacitiva da linha em MVAr é igual ao quadrado da tensão


de linha em kV dividido pela reatância capacitiva por fase da linha XC.

Em por unidade ou centenas de km, tem-se:

(𝑘𝑉𝐿 )2
𝑆𝑐 = ⁡⁡⁡𝑀𝑉𝐴𝑟/𝑘𝑚
𝑥′

(𝑘𝑉𝐿 )2
𝑆𝑐 = 100 ⁡⁡⁡𝑀𝑉𝐴𝑟/100𝑘𝑚
𝑥′

Utilizando valores típicos para x’ obtém-se para Sc, por exemplo para 69 kV,
um valor da ordem de 1,5 MVAr/100 km. Para as demais tensões é só considerar

29
que a potência reativa da linha varia com o quadrado da tensão. Assim, para cada
100 km de comprimento as linhas apresentam as potências capacitivas, ou
carregamentos, indicados na Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Potências capacitivas das linhas para 100 km de comprimento

Tensão (kV) 13,8 69 138 230 500


(MVAr/100km) 0,06 1,5 6,0 16,7 78,8

A susceptância de uma linha de comprimento l, com a capacitância C em

F/km, pode ser expressa na base de 100 MVA, em pu e %, da seguinte forma:


1 1 (𝑘𝑉𝐿 )2
𝐵 = 𝑙𝜔𝐶 = 𝐵𝑝𝑢 = =
𝑋𝐶 𝑋𝐶 𝑝𝑢 100𝑋𝐶

(𝑘𝑉𝐿 )2
𝐵% = 100𝐵𝑝𝑢 = = 𝑆𝑐
𝑋𝐶

Deste resultado pode-se observar que:

”A susceptância da linha B em % é igual à sua potência capacitiva Sc em


MVAr”.

Potência Transmitida Aproximada

A potência transmitida numa linha de transmissão pode ser determinada, de


forma simplificada para o caso de uma linha curta, conforme segue.
A Figura 2.13 mostra a representação de uma linha média compreendida
entre duas barras a e b, com indicação da sua impedância e das tensões, correntes
e fluxos das potências envolvidas.

Figura 2.13 – Fluxos de potências em uma linha média

A potência transmitida de a para b é dada pela expressão:


𝑽𝒂 − 𝑽𝒃 ∗
𝑺𝒂𝒃 = 𝑽𝒂 𝑰∗𝒂 = 𝑽𝒂 ( )
𝒁
Em termos das potências ativas e reativas, tem-se:

30
𝑺𝒂𝒃 = 𝑃𝑎𝑏 + 𝑗𝑄𝑎𝑏
1
𝑃𝑎𝑏 = (𝑅𝑉𝑎2 − 𝑅𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑐𝑜𝑠𝛿 + 𝑋𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅2 + 𝑋 2
1
𝑄𝑎𝑏 = 2 2
(𝑋𝑉𝑎2 − 𝑋𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑐𝑜𝑠𝛿 − 𝑅𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑠𝑒𝑛𝛿
𝑅 +𝑋
De forma semelhante, a potência transmitida de b para a é dada por:

𝑽𝒃 − 𝑽𝒂 ∗
𝑺𝒃𝒂 = 𝑽𝒃 𝑰∗𝒃 = 𝑽𝒃 ( )
𝒁
Em termos das potências ativas e reativas, tem-se:

𝑺𝒃𝒂 = 𝑃𝒃𝒂 + 𝑗𝑄𝒃𝒂

1
𝑃𝑏𝑎 = 2 2
(𝑅𝑉𝑏2 − 𝑅𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑐𝑜𝑠𝛿 − 𝑋𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
1
𝑄𝑏𝑎 = 2 2
(𝑋𝑉𝑏2 − 𝑋𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑐𝑜𝑠𝛿 + 𝑅𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
Tem-se a seguinte diferença de potências:

∆𝑺 = 𝑺𝒂𝒃 − 𝑺𝒃𝒂 = (𝑃𝑎𝑏 − 𝑃𝑏𝑎 ) + 𝑗(𝑄𝑎𝑏 − 𝑄𝑏𝑎 )

A diferença Pab - Pba corresponde às perdas ativas e a diferença Qab - Qba


corresponde à variação de reativos.

Considerando as resistências desprezíveis, isto é, R<<X, tem-se um


resultado bastante simples, mas de importância muito grande, pois dá uma ideia
aproximada da potência ativa transmitida nas linhas, conhecendo-se as tensões
terminais.

Tem-se, então:
𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑉𝑏
𝑃𝑎𝑏 = 𝑠𝑒𝑛𝛿 𝑃𝑀 =
𝑋 𝑋

A Figura 2.14 mostra o gráfico representativo dessa função Pab = f(δ),


chamada de curva de carga, destacando-se o valor máximo PM, em que o ângulo
de carga é δ = 900, assim como as áreas em que a transmissão é estável, com δ <
900, e instável, com δ > 900.

31
Figura 2.14 – Curva de carga em uma linha de transmissão

Por exemplo, considerando uma linha com uma reatância X = 50 Ω, tendo-


se as tensões terminais iguais e controladas em Va = Vb = 69 kV, a potência máxima
transmitida é de 95,2 MVA. Com metade dessa potência o ângulo de carga
resultante é δ = 300.

Este exemplo em pu indica Va = Vb = 1 pu e X = 1,050 pu. A potência máxima


transmitida resulta em P = 0,952 pu, isto é, 95,2 MVA.

Esse gráfico simples ilustra, de forma aproximada, o comportamento de


linhas de transmissão médias, com a indicação de como varia a potência
transmitida em função do ângulo de carga e a capacidade de transmissão, servindo
para dar uma ideia preliminar da avaliação do comportamento das linhas de
transmissão em geral.

32
3. REPRESENTAÇÃO E MODELAGEM DOS COMPONENTES

Nos estudos dos sistemas de potência os componentes devem ter


representações através de modelos adequados a cada tipo de estudo. Os modelos
mais usuais dos geradores, das linhas, dos transformadores e das cargas serão
vistos a seguir.

Representação dos Geradores


Os geradores dos sistemas elétricos são, na sua grande maioria, máquinas
síncronas. Elas convertem a energia mecânica das turbinas em energia elétrica na
parte de geração, através de estruturas magnéticas e circuitos elétricos no rotor e
no estator.

Num gerador síncrono a frequência f da tensão gerada, normalmente f = 60


Hz fica determinada pela velocidade da turbina n, em rotações por minuto (rpm), e
pelo número de polos p, através da relação:

𝑝
𝑓= 𝑛
120
A tensão gerada no estator, ou armadura, é alternada senoidal e trifásica. O
gerador fornece corrente alternada (CA) senoidal às cargas a ele ligadas. O circuito
do rotor, ou enrolamento de campo, é alimentado por uma excitatriz, ou seja, por
uma fonte de corrente contínua (CC) proveniente de um gerador CC ou de uma
fonte CA com retificadores de estado sólido.

A tensão gerada depende diretamente da corrente do campo. Decorre da


variação do fluxo resultante no entreferro da máquina, pela combinação dos
campos devido à excitação e da corrente na armadura, e cria o torque
eletromagnético entre o estator e o rotor.

A variação de potência reativa da carga do sistema implica diretamente na


variação da tensão gerada, tornando necessário o controle dessa tensão através
da excitação e, consequentemente, controle da potência reativa.

A variação de potência ativa da carga do sistema implica diretamente na


variação da potência mecânica da turbina, tornando necessário o controle dessa
potência através do controle da velocidade da turbina.
33
Figura 3.1 mostra o esquema de um gerador trifásico, com representação
dos circuitos equivalentes para a armadura, em condições de regime permanente.
Estão indicados a tensão gerada ou interna eg, a resistência da armadura R, a
indutância própria Ls de cada fase, a indutância mútua Ms entre as fases, a corrente
ia na armadura e a tensão terminal va.

Figura 3.1 - Circuitos equivalentes para a armadura de um gerador trifásico

Figura 3.2 mostra o circuito equivalente do gerador, através da


representação de uma fase. Estão indicados os fasores relativos às tensões e à
corrente, em valores eficazes, assim como a reatância síncrona Xs ou de eixo direto
Xd.

Figura 3.2 - Circuito equivalente do gerador, através da representação da fase a

34
De outra forma, o circuito equivalente do gerador pode ser representado
conforme mostra a Figura 3.3. Estão indicadas a tensão interna Ei (ou Ef) gerada,
a tensão resultante Er, a tensão terminal Vt, a corrente de armadura Ia, as reatâncias
de dispersão Xl e de reação de armadura Xar, a reatância síncrona Xs = Xl +Xar,
como também a tensão de reação de armadura Ear.

Figura 3.3 - Circuito equivalente e diagrama fasorial das tensões no gerador

A Figura 3.3 mostra, também, o diagrama fasorial das tensões gerada no


gerador Ef, tendo a tensão resultante Er como referência. Tem-se o ângulo φ entre
Er e Ia e o ângulo δ entre Er e Ef.

As equações do gerador tomam as seguintes formas:

𝑬𝑎𝑟 = −𝑗𝐼𝑎 𝑋𝑎𝑟

𝑬𝑟 = 𝑬𝑓 + 𝑬𝑎𝑟 = 𝑬𝑓 − 𝑗𝐼𝑎 𝑋𝑎𝑟

A tensão de reação de armadura Ear pode ser vista também como uma queda
de tensão devido à corrente ∆Ear, tendo-se, então:

∆𝑬𝑎𝑟 = 𝑗𝐼𝑎 𝑋𝑎𝑟

𝑬𝑟 = 𝑬𝑓 + ∆𝑬𝑎𝑟 = 𝑬𝑓 + 𝑗𝐼𝑎 𝑋𝑎𝑟

A tensão terminal resulta em:

𝑽𝑡 = 𝑬𝑟 − 𝑰𝑎 (𝑅𝑎 + 𝑗𝑋𝑙 ) = 𝑬𝑓 − 𝑰𝑎 (𝑅𝑎 + 𝑗𝑋𝑠 )

Os diagramas fasoriais das tensões no gerador, incluindo a tensão terminal,


ficam como mostrado na Figura 3.4. Estão indicadas as tensões envolvidas, a
corrente da armadura, os ângulos entre as tensões e os ângulos entre tensões e
correntes.

35
Figura 3.4 - Diagramas fasoriais das tensões e corrente no gerador com a tensão terminal

A Figura 3.5 mostra o circuito equivalente do gerador com a tensão gerada


Eg (Ef), a impedância do gerador de regime permanente Zd (Zs), composta da
resistência da armadura a reatância síncrona de eixo direto Xd (Xs), a corrente de
armadura Ia, ou corrente da carga, e tensão terminal Vt. Mostra também o diagrama
fasorial das tensões gerada e terminal, tendo a tensão terminal Vt como referência
e os ângulos correspondentes.

Figura 3.5 - Circuito equivalente do gerador com carga

O ângulo θ entre Vt e Ia corresponde ao fator de potência da carga e o ângulo


δ entre Eg e Vt é o ângulo de carga (ou ângulo de potência ou ângulo de conjugado
do gerador).

Geralmente a resistência da armadura Ra é muito pequena comparada com


a reatância síncrona Xs (Xd) e em muitos estudos sobre os geradores ela pode ser
desprezada, resultando, portanto no circuito equivalente somente Xs.

Chama-se barra infinita a barra que mantém a tensão e a frequência


constantes diante de variações de carga ou de geração. A barra terminal de um
gerador pode ser considerada barra infinita se a tensão puder ser mantida
controlada em valor constante, diante de variações de carga de valor muito menor
que a potência do gerador. Também pode ser considerada barra infinita uma barra
do sistema cuja tensão não varie com a conexão de um gerador síncrono de
pequeno porte.
36
Pode-se verificar que a impedância equivalente numa barra infinita é muito
menor que a impedância acrescentada ao sistema, seja carga ou gerador conforme
mencionado, o que quer dizer que a impedância equivalente numa barra infinita é
considerada, muitas vezes, praticamente nula.

Normalmente as cargas são indutivas; seu fator de potência é indutivo. No


entanto, há casos em que o fator de potência pode ser capacitivo ou mesmo igual
a um. Em relação à tensão terminal, a corrente está atrasada com a carga indutiva
e adiantada com a carga capacitiva. Em correspondência, o gerador é
superexcitado sob carga indutiva e subexcitado sob carga capacitiva. Com fator de
potência unitário a excitação é normal. A Figura 3.6 ilustra essas situações.

Figura 3.6 – Diagramas fasoriais do gerador quanto à excitação

A potência transmitida do gerador para o sistema é função da tensão gerada


Eg, da tensão terminal Vt é do ângulo de carga δ, sendo dada aproximadamente
pela expressão:

𝐸𝑔 𝑉𝑡
𝑃= 𝑠𝑒𝑛𝛿
𝑋𝑠
A análise acima considera o sistema em condições de regime ou estado
permanente, resultando para o gerador uma reatância permanente Xd (Xs). Diante
de variações de carga e de ocorrência de curto circuito no sistema, ou no terminal
do gerador, a corrente é transitória, comportando-se, em geral, com valores
bastante elevados nos instantes iniciais e decrescendo tendendo a uma condição
de regime permanente.

O gerador pode ser representado, portanto, por um modelo de três


reatâncias, sendo a primeira a reatância permanente Xd, conforme já visto.

Nos instantes iniciais do curto circuito prevalece uma reatância de baixo


valor, resultante do paralelismo de uma reatância dos enrolamentos amortecedores
com os demais enrolamentos, o que faz resultar numa corrente elevada, mas de

37
amortecimento rápido. Essa reatância é chamada de reatância subtransitória X”d ,
resultando numa corrente subtransitória I”d. No gerador aparece uma tensão
subtransitória E”d.

Na fase intermediária prevalece uma reatância equivalente chamada de


reatância transitória X’d, resultando numa corrente transitória I’d. No gerador aparece
uma tensão transitória E’d.

Observa-se que, na base da potência do gerador, os valores de Xd situam-


se em torno de 1 pu, X’d em torno de 0,3 pu e X”d em torno de 0,2 pu. Geralmente
utilizam-se Xd nos estudos de fluxo de potência, X’d nos estudos de estabilidade e
X”d nos estudos de curto circuito.

Observa-se ainda que geradores considerados são de rotor cilíndrico. No


caso de rotores de polos salientes, além das reatâncias de eixo direto Xd, há
também as reatâncias de eixo transverso Xq, que são analisadas nos estudos das
máquinas. No caso de rotor cilíndrico tem-se que Xd = Xq,

Representação dos Transformadores


Os transformadores têm a função de elevar ou baixar os níveis das tensões
e, em correspondência, baixar ou elevar os níveis das correntes, relacionadas com
os números de espiras dos enrolamentos. Nos transformadores ideais são
desprezadas as resistências, as correntes Foucault e a histerese, assim como a
dispersão do fluxo magnético.

A Figura 3.7 mostra uma representação esquemática de um transformador


ideal de dois enrolamentos.

Figura 3.7 - Representação de um transformador de dois enrolamentos

38
As relações entre as tensões do primário V1 e secundário V2, as correntes
do primário I1 e secundário I2 e os números de espiras do primário N1 e secundário
N2 são as seguintes:
𝑉1 𝐼2 𝑁1
= = 𝑉1 𝐼1 = 𝑉2 𝐼2
𝑉2 𝐼1 𝑁2

Uma impedância Z colocada no secundário do transformador pode ser vista


ou refletida no primário como multiplicada pelo quadrado da relação de espiras.
Com a impedância ligada na tensão V2 tem-se uma corrente I2, tal que:

𝑉2
𝑍=
𝐼2

Tem-se no primário:

𝑁1
𝑉1 𝑁2 𝑉2 𝑁1 𝑉2
= = ( )2
𝐼1 𝑁2 𝑁2 𝐼2
𝐼2
𝑁1

Daí resulta:

𝑉1 𝑁1
= ( )2 𝑍
𝐼1 𝑁2

Isto significa que uma impedância Z no secundário é vista do primário, ou


refletida no primário, com esse valor multiplicado pelo quadrado da relação de
espiras. Invertendo o sentido, pode-se dizer que uma impedância no primário é
vista do secundário, ou refletida no secundário, com seu valor multiplicado pelo
quadrado do inverso da relação de espiras.

Em vários aspectos da análise dos sistemas elétricos, consideram-se os


transformadores reais com sua reatância de dispersão, desprezando-se as
correntes de Foucault e a histerese, e muitas vezes a resistência dos enrolamentos.

Sendo x1 a reatância do primário e x2 a reatância do secundário (em Ω), a


reatância vista do primário X1 será então:

𝑁1 2
𝑋1 = ⁡ 𝑥1 + ( ) 𝑥
𝑁2 2
Por outro lado, a reatância vista do secundário X1 será:

39
𝑁2 2
𝑋2 = ⁡ 𝑥1 ( ) + 𝑥2
𝑁1

Observa-se que as duas parcelas, tanto de X1 como de X2 são praticamente


iguais (em Ω), isto é:
𝑁 𝑁
𝑥1 = ( 1 )2 𝑥2 ⁡𝑥2 = ( 2 )2 𝑥1
𝑁2 𝑁1

Pode-se verificar, ainda, que na mesma base da potência do transformador


e nas bases de tensão V1 para o primário e V2 para o secundário, tem-se que as
duas reatâncias são iguais sendo, portanto, a reatância de dispersão do
transformador, isto é:

𝑋1 = 𝑋2 = ⁡𝑋⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑒𝑚⁡𝑝𝑢⁡𝑜𝑢⁡%

No sistema de potência usa-se geralmente como base a potência de 100


MVA. Estando o transformador conectado no sistema sua reatância X, na base de
potência do transformador, deve ser convertida para a base do sistema, de forma
diretamente proporcional a essas bases.

Os resultados para as resistências são também iguais, mas


aproximadamente, isto é:

𝑅1 ≈ 𝑅2 = ⁡𝑅

O circuito equivalente para o transformador pode ser representado conforme


mostra a Figura 3.8, com os valores das tensões em pu. De forma aproximada,
pode ser representada apenas pela a reatância, considerando R ≈ 0.

Figura 3.8 - Circuito equivalente para o transformador

O diagrama fasorial correspondente é semelhante aos dos casos de linha


curta e do gerador, conforme mostra a Figura 3.9.

40
Figura 3.9 – Diagrama fasorial para o transformador

Os transformadores trifásicos podem apresentar os tipos de conexões


conforme mostra a Figura 3.10, onde a relação de espira é a. Em cada tipo a
reatância do transformador X é dada por fase, normalmente em pu, na base da
potência do transformador.

Figura 3.10 - Conexões dos transformadores

Normalmente são consideradas na análise dos sistemas as tensões de linha


VL = V, isto é, as tensões entre fases, e as correntes de linha IL = I, ou seja, as
correntes por fase. Se o equivalente monofásico for representado dessa forma, a
potência trifásica resulta em:

𝑆 = √3𝑉𝐿 𝐼𝐿

41
Se o equivalente monofásico for representado pela tensão de fase, istoé,
entre fase e neutro, e corrente entre fases, a potência trifásica é dada por:

𝑆 = 3𝑉𝐹 𝐼𝐹

Os transformadores de três enrolamentos apresentam três valores de


impedâncias: entre o primário e o secundário XPS, entre o primário e o terciário XPT
e entre o secundário e o terciário XST. Essas impedâncias são obtidas nos testes
de curto circuito com as duas fases correspondentes, ficando o terceiro
enrolamento em aberto.

A Figura 3.11 ilustra a representação de um transformador de três


enrolamentos.

Figura 3.11- Representação de um transformador de três enrolamentos

A partir das impedâncias entre os enrolamentos podem ser determinadas as


impedâncias dos enrolamentos primário XP, do secundário XS, e do terciário XT.
Usando-se uma mesma base de potência e tensão, tem-se que:

𝑍𝑃𝑆 = 𝑍𝑃 + 𝑍𝑆
𝑍𝑃𝑇 = 𝑍𝑃 + 𝑍𝑆
𝑍𝑆𝑇 = 𝑍𝑆 + 𝑍𝑇
Daí resulta:

1
𝑍𝑃 = (𝑍𝑃𝑆 + 𝑍𝑃𝑇 − 𝑍𝑆𝑇 )
2
1
𝑍𝑆 = (𝑍𝑃𝑆 + 𝑍𝑆𝑇 − 𝑍𝑃𝑇 )
2
1
𝑍𝑇 = (𝑍𝑆𝑇 + 𝑍𝑃𝑇 − 𝑍𝑃𝑆 )
2
Desprezando-se as resistências R resultam relações semelhantes
considerando apenas as reatâncias X.

42
Um autotransformador apresenta o primário e o secundário em um mesmo
enrolamento, mas pode ser analisado como um transformador de dois
enrolamentos, conforme mostra a Figura 3.12. Sendo o autotransformador de três
tensões sua análise é feita como os transformadores de três enrolamentos.

Figura 3.12 – Representação de um autotransformador

Representação das Linhas


A representação das linhas para a análise dos sistemas são basicamente as
consideradas no capitulo 2. A linha curta é representada através de sua resistência
R e indutância L ou reatância X séries.

A Figura 3.13 mostra um esquema de uma linha curta interligando um


gerador e uma carga.

Figura 3.13 - Esquema de uma linha curta interligando um gerador e uma carga

A linha média é representada através de sua impedância série Z, constituída


da resistência R e indutância L ou reatância XL séries, e da admitância derivação
(ou shunt) Y, ou reatância capacitiva XC. Utiliza-se normalmente o modelo π, com
metade da capacitância em cada uma das barras.

A Figura 3.14 mostra um esquema de uma linha média interligando um


gerador e uma carga.

43
Figura 3.14 - Esquema de uma linha média interligando um gerador e uma carga

Tem-se, então, para a impedância série Z e admitância derivação Y (B é a


susceptância):

𝑍 = 𝑅 + 𝑗𝜔𝐿 𝑋𝐿 = 𝜔𝐿
1 1
𝑌 = 𝑗𝜔𝐶 = 𝑗𝐵 𝑋𝐶 = =
𝜔𝐶 𝐵

A representação das linhas longas é vista em detalhes nos estudos de linhas


de transmissão longas. Pode ser representada através de trechos de linhas médias,
fazendo crescer o número de trechos e diminuir o cumprimento, portanto como
parâmetros distribuídos. Pode também ser representada através de um modelo π
equivalente da linha longa, utilizando-se das equações generalizadas da linha.

Representação das Cargas


As cargas são representadas como funções da tensão, expressas através
de funções potência utilizando, portanto, o modelo exponencial, em que a tensão é
elevada a um determinado expoente. Assim, a potência aparente assume a
seguinte forma:
𝑉 𝑘𝑠
𝑆 = 𝑆0 . ( )
𝑉𝑜
Expressões semelhantes podem ser apresentadas para potência ativa e
potência reativa:
𝑉 𝑉
𝑃 = 𝑃0 . ( )𝑘𝑝 ⁡⁡⁡⁡⁡⁡ 𝑄 = 𝑄0 . ( )𝑘𝑞
𝑉0 𝑉0

Os valores de ks, kp e kq definem as características das cargas,


respectivamente em relação às potências aparente, ativa e reativa.
Têm-se as seguintes situações particulares básicas, para potência aparente:

• Potência constante (ks = 0): 𝑆 = 𝑆0


⁡⁡⁡⁡⁡⁡

44
• 𝑉
Corrente constante (ks = 1): 𝑆 = 𝑆0 . ( )
⁡ 𝑉0

• 𝑉
Impedância constante (ks = 2): 𝑆 = 𝑆0 . ⁡( )2
⁡ 𝑉0

O colapso de tensão ocorre no sistema quando a potência transmitida tender


a ultrapassar o limite de capacidade de transmissão e não houver medidas para
solucionar sobrecargas, resultando numa redução de tensão, tendendo a zero.

Para cargas tipo potência constante essa situação é mais grave, pois o valor
nominal das cargas permanece o mesmo com a redução da tensão. É uma situação
mais conservativa, usada principalmente em planejamento, que estabelece folgas
para o sistema, desde que haja disponibilidade de recursos suficientes para isso.
Em operação essa modelagem pode apresentar resultados que se afastam dos
valores reais.
No caso de corrente constante a potência resultante é reduzida
proporcionalmente com a tensão e a possibilidade de ocorrência de colapso se dá
para um valor nominal de potência muito maior, mantendo uma situação mais
estável para o sistema. Para cargas tipo impedância constante a potência
resultante é muito mais reduzida, variando com o quadrado da tensão, e não há
fenômeno de colapso e instabilidade de tensão, pois a tensão tenderia a zero caso
a carga crescesse indefinidamente.
Sistemas com cargas de características compostas podem ser analisados
como situações intermediárias a partir dos casos básicos. Uma análise quantitativa
do problema de colapso de tensão e a influência das características das cargas
podem ser feitas utilizando as equações da linha de transmissão na forma
complexa. Para o caso geral, em que S = So.(V/Vo)ks e Ir = Sr/Vr resulta a seguinte
equação:

⁡A2 . Vr 2 ⁡ + ⁡ (2A. B. 𝑆0 . Vr −ks . cos2)Vr 2 ⁡⁡ + ⁡ (B. 𝑆0 . Vr −ks )Vr 2(ks−1) ⁡ − ⁡ Vs2 ⁡ = 0

A solução indicaria o valor da tensão na carga em função da potência


aparente e do fator de potência, bem como das constantes da linha e da tensão de
referência.
A Figura 1.15 mostra alguns tipos de cargas usuais nas indústrias.

45
Figura 1.15 - Alguns tipos de cargas usuais nas indústrias

Diagrama Unifilar do Sistema


Os componentes, geradores, transformadores, linhas e cargas são
representados de forma interligada, constituindo-se um sistema a ser analisado. A
representação é feita, normalmente, sob a forma de diagrama unifilar.

A Figura 1.16 mostra um diagrama unifilar de um sistema simples,


constituído de uma fonte com dois geradores e uma carga em uma barra, um
gerador e uma carga em outra barra e uma linha de transmissão com
transformadores nas extremidades, interligando as duas barras.

Figura 1.16 - Diagrama unifilar de um sistema simples

46
A Figura 1.17 mostra um diagrama unifilar de um sistema em malha,
constituído de três fontes interligadas através de três linhas com transformadores.

Figura 1.17 - Diagrama unifilar de um sistema em malha

Além do diagrama unifilar do sistema é representado também o diagrama

de impedâncias, necessário à realização dos estudos sobre o sistema. A Figura

1.18 mostra um diagrama de impedâncias do sistema mostrado na Figura 1.16.

Figura 1.18 – Exemplo de diagrama de impedâncias

A Figura 1.19 mostra o diagrama equivalente das impedâncias do sistema


mostrado na Figura 1.18.

Figura 1.19 - Diagrama equivalente das impedâncias

47
Figura 1.20 mostra um exemplo de sistema elétrico com diagrama unifilar e
diagrama de reatâncias.

Figura 1.20 - Exemplo de sistema elétrico

48
4. ANÁLISE DE REDES ELÉTRICAS

As leis gerais dos circuitos elétricos podem ser aplicadas na análise dos
sistemas de potência. São elas as Leis de Kirchhoff, das malhas e dos nós, e a de
superposição. Também são aplicáveis os teoremas de Thèvenin e de Norton. As
variáveis consideradas são as correntes de malhas, as correntes de ramos, as
tensões de nós e as tensões de ramos.

Leis de Kirchhoff

A lei das malhas ou Lei de Kirchhoff para tensão indica que “a tensão
aplicada a um circuito fechado é igual à soma das quedas de tensão nesse circuito,
isto é: Tensão aplicada – soma das quedas de tensão = 0”

Por exemplo, para duas fontes alimentando três componentes em duas


malhas, conforme a Figura 4.1, tem-se:

Va = V1+ V2 ou Va – (V1+ V2) = 0

Vb = V3+ V2 ou Vb – (V3+ V2) = 0

Figura 4.1 – Ilustração da lei das malhas

As correntes Ia e Ib são de malha e as correntes I1, I2 e Ib são de nós.

A lei de Kirchhoff para corrente ou lei dos nós, define que: “A soma das
correntes que entram numa junção, ou nó, é igual à soma das correntes que saem
dessa junção”.

49
A Figura 4.2 ilustra a lei dos nós.

Figura 4.2 – Ilustração da lei dos nós

Teoremas de Redes Elétricas

São muito importantes na análise das redes elétricas os Teoremas de


Thèvenin, de Norton e da Superposição. Eles são utilizados para simplificar a
análise de circuitos ou sistemas com várias fontes e várias impedâncias.

O teorema de Thèvenin estabelece que “qualquer estrutura linear ativa com


terminais de saída pode ser substituída por uma única fonte de tensão, com valor
igual à tensão nos terminais em circuito aberto, em série com uma impedância
equivalente vista dos terminais, com as fontes zeradas”

Uma ilustração do teorema de Thèvenin pode ser vista na Figura 4.3 em que
mostra um circuito original com duas fontes de tensão E1 e E2 e quatro resistências
Z1, Z2, Z3 e Z4 e os terminais P e Q que apresenta uma tensão E, de circuito aberto.
Mostra também o circuito equivalente com a fonte de tensão E (ou Eeq ou Eth), e a
impedância equivalente Z (Zeq ou Zth), em série com a fonte.

Figura 4.3 – Ilustração do teorema de Thèvenin

50
O teorema de Norton estabelece que “qualquer estrutura linear ativa com
terminais de saída pode ser substituída por uma única fonte de corrente, com valor
igual à corrente nos terminais em curto circuito, em paralelo com uma impedância
equivalente vista dos terminais, com as fontes zeradas”

A Figura 4.3 ilustra o teorema de Norton aplicado ao mesmo circuito visto


para o Teorema de Thèvenin.

Figura 4.3 – Ilustração do teorema de Norton

O teorema da superposição estabelece que “a corrente que circula por um


ramo de um circuito, produzida por várias fontes, é igual à soma algébrica das
componentes tomadas separadamente, considerando-se apenas uma das fontes
de cada vez”.

Equivalência de Fontes

O uso dos teoremas de Thèvenin e de Norton permite estabelecer uma


equivalência entre fontes de tensão e de corrente. A Figura 4.4 mostra dois circuitos
que ilustram essa equivalência.

Figura 4.4 – Equivalência entre fontes de tensão e corrente

51
O circuito com a fonte de tensão mostra uma tensão gerada Eg e uma
impedância Zg em série alimentando uma carga ZL. A tensão aplicada na carga é
VL, resultando uma corrente IL, que é igual à corrente na fonte Ig.

O circuito com a fonte de corrente mostra uma corrente gerada Ig e uma


impedância Zp em paralelo alimentando a carga ZL. A tensão aplicada na carga é
VL, resultando a corrente IL, que é igual à diferença entre as correntes Is e Ip, que
circula em Zp.

Tem-se que:

𝑉𝐿 = 𝑍𝐿 𝐼𝐿 𝐼𝐿 = 𝐼𝑔 = 𝐼𝑠 −𝐼𝑝

𝑉𝐿 = 𝐸𝑔 − 𝑍𝑔 𝐼𝐿 = 𝑍𝑃 (𝐼𝑠 − 𝐼𝐿 )

Daí resulta:

𝐸𝑔 = 𝑍𝑃 𝐼𝑆 𝑍𝑝 = 𝑍𝑔

Isto é, uma fonte de tensão Eg com uma impedância Zg em série é


equivalente a uma fonte de corrente Is com uma impedância Zp em paralelo, sendo
Zg = Zp e Eg = Zp Is.

Equações do Sistema

O sistema elétrico pode ser analisado utilizando-se de equações dos nós, ou


equações das barras, assim como equações de malhas. A seguir são consideradas
as equações dos nós. As fontes de tensão são transformadas em fontes de corrente
equivalentes e as impedâncias dos ramos são transformadas em admitâncias.

Desta forma, em cada nó a soma das correntes é igual a zero, ou seja, a


soma das correntes que entram no nó é igual à soma das correntes que saem desse
nó. Os geradores injetam correntes nós, saindo correntes pelos ramos derivados;
as cargas absorvem correntes nos nós e as correntes entram nesses nós através
dos ramos a eles ligados.

A Figura 4.5, como exemplo, um sistema simples constituído de duas fontes,


com os geradores G1 e G2 e transformadores T1 e T2, conectados nas barras 1 e 2,
respectivamente, um motor síncrono M3, como carga conectada nas barra 3, e cinco

52
linhas L13, L14, L23, L24 e L34, para a transferências de potência, ou corrente, da fonte
para a carga. O sistema fica constituído de quatro nós, ou barras 1, 2, 3 e 4.

Um nó adicional, barra 0, é também considerado, porem como referência de


tensão para os demais. Resulta, então, que o número de equações de nós para o
sistema é igual ao número de nós, sem contar o nó 0.

Figura 4.5 – Exemplo de um sistema simples

Admitindo-se conhecidos os dados das potências e reatâncias dos


geradores, do motor e dos transformadores e as impedâncias das linhas, pode-se
obter um diagrama de impedâncias, indicando-se os valores em pu, numa mesma
base de potência. Pode-se obter também um diagrama de admitâncias
correspondente, considerando as correntes, inclusive das fontes equivalentes de
correntes.

A Figura 4.6 mostra os diagramas de impedâncias e de admitâncias


correspondentes ao sistema da Figura 4.5.

Figura 4.6 - Diagramas de impedâncias e de admitâncias

53
As equações para este sistema, aplicando a lei dos nós às barras 1, 2, 3 e
4, resultam em:

𝐼1 = 𝑦1 𝑉1 + 𝑌12 (𝑉1 − 𝑉2 ) + 𝑦13 (𝑉1 − 𝑉3 ) + 𝑦14 (𝑉1 − 𝑉4 )

𝐼2 = 𝑦21 (𝑉2 − 𝑉1 ) + 𝑦2 𝑉2 + 𝑦23 (𝑉2 − 𝑉3 )+𝑦24 (𝑉2 − 𝑉4 )

𝐼3 = 𝑦31 (𝑉3 − 𝑉1 ) + 𝑦32 (𝑉3 − 𝑉2 ) + 𝑦3 𝑉3 + 𝑦34 (𝑉3 − 𝑉4 )

𝐼4 = 𝑦41 (𝑉4 − 𝑉1 ) + 𝑦42 (𝑉4 − 𝑉2 )+𝑦43 (𝑉4 − 𝑉3 ) + 𝑦4 𝑉4

Essas equações podem ser modificadas, agrupando as tensões dos


segundos membros. Observa-se que não ligação direta entre as barras 1 e 2 e que
não há injeção de corrente na barra 4, resultando y12 = 0 e y4 = 0, respectivamente.
As equações tomam a forma seguinte:

𝐼1 = (𝑦1 + 𝑦13 + 𝑦14 )𝑉1 −𝑦13 𝑉3 − 𝑦14 𝑉4

𝐼2 = (𝑦2 + 𝑦23 + 𝑦24 )𝑉2 −𝑦23 𝑉3 − 𝑦24 𝑉4

𝐼3 = −𝑦31 𝑉1 − 𝑦32 𝑉2 +(𝑦31 + 𝑦32 +𝑦3 + 𝑦34 )𝑉3 − 𝑦34 𝑉4

𝐼4 = −𝑦41 𝑉1 − 𝑦42 𝑉2 −𝑦43 𝑉3 + (𝑦41 + 𝑦42 + 𝑦43 )𝑉4

Sob a forma matricial tem-se:

𝐼1 𝑦1 + 𝑦13 + 𝑦14 0 −𝑦13 −𝑦14 𝑉1


𝐼2 0 𝑦2 + 𝑦23 + 𝑦24 −𝑦23 −𝑦24 𝑉2
[ ]=[ ][ ]
𝐼3 −𝑦31 −𝑦32 𝑦31 + 𝑦32 +𝑦3 + 𝑦34 −𝑦34 𝑉3
𝐼4 −𝑦41 −𝑦42 −𝑦43 𝑦41 + 𝑦42 + 𝑦43 𝑉4

Essa equação matricial é da forma:

𝑰 = 𝒀𝑽

A expressão relaciona um vetor corrente I, um vetor tensão V e uma matriz


admitância Y, isto é:

𝑰𝟏 𝒀𝟏𝟏 𝒀𝟏𝟐 𝒀𝟏𝟑 𝒀𝟏𝟒 𝑽𝟏


𝑰 𝒀 𝒀𝟐𝟐 𝒀𝟐𝟑 𝒀𝟐𝟒 𝑽𝟐
[ 𝟐 ] = [ 𝟐𝟏 ][ ]
𝑰𝟑 𝒀𝟑𝟏 𝒀𝟑𝟐 𝒀𝟑𝟑 𝒀𝟑𝟒 𝑽𝟑
𝑰𝟒 𝒀𝟒𝟏 𝒀𝟒𝟐 𝒀𝟒𝟑 𝒀𝟒𝟒 𝑽𝟒

Desses resultados pode-se observar o seguinte:

a) A matriz Y é simétrica em relação à diagonal principal tendo-se, portanto:


54
𝑌𝑖𝑗 = 𝑌𝑗𝑖

b) Os elementos fora da diagonal principal são admitâncias mútuas, e são


iguais às admitâncias entre as barras correspondentes, com os sinais trocados, isto
é:

𝑌𝑖𝑗 = −𝑦𝑖𝑗

c) Cada elemento da diagonal principal é uma admitância própria, e é igual


à soma da admitância da barra considerada com os elementos da mesma linha fora
da diagonal com os sinais trocados, isto é:

𝑌𝑖𝑖 = 𝑦𝑖 − ∑ 𝑦𝑖𝑘 ⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑘 ≠ 𝑖

Exemplificando, a Figura 3.7 mostra os diagramas de impedâncias e


admitâncias relativos ao sistema apresentada na Figura 3.4. Estão indicados os
valores em pu das reatâncias dos geradores e dos transformadores e as reatâncias
das linhas, considerando as resistências iguais a zero, assim como os valores das
admitâncias, respectivamente.

Figura 3.7 - Diagramas de impedâncias e admitâncias do caso exemplo

A matriz admitância da barra Y, ou YB, (ou ainda Ybarrra) resulta em:

−𝑗9,8 𝑗0,0 𝑗4,0 𝑗5,0


𝑗0,0 −𝑗8,3 𝑗2,5 𝑗5,0
𝑌𝐵 = [ ]
𝑗4,0 𝑗2,5 −𝑗15,3 𝑗8,0
𝑗5,0 𝑗5,0 𝑗8,0 −𝑗18,0
55
Sendo dadas as tensões nos geradores e no motor síncrono, em pu, podem-
se determinar os valores das tensões nas barras. Por exemplo, sejam dados:

𝐸1 = 1,5∠00 𝐸2 = 1,5∠00 𝐸3 = 1,5∠−36,90

As correntes nas fontes equivalentes são em pu:

1,5∠00
⁡𝐼1 = ⁡𝐼2 = = −𝑗1,20
𝑗1,25
1,5∠−36,90
𝐼3 = = −0,72 − 𝑗0,96
𝑗1,25
𝐼4 = 0
Utilizando os valores das correntes e das admitâncias os valores das tensões
e das barras podem ser obtidos resolvendo a equação:

𝑰 = 𝒀𝑩 𝑽

Os valores encontrados em pu são:

⁡𝑉1 = 1,436∠−10,70 𝑉2 = 1,427∠−14,20

⁡𝑉3 = 1,434∠−11,40 𝑉4 = 1,432∠−12,00

Matrizes de Barra

A matriz admitância Y está associada às barras do sistema, e é chamada de


matriz admitância de barra YB, (ou ainda Ybarrra). Tem-se, então, para a relação
entre correntes e tensões:

𝑰 = 𝒀𝑽 ou 𝑰 = 𝒀𝑩 𝑽 𝒀 = 𝒀𝑩

De outra forma, as tensões podem ser expressas por:

𝑽 = 𝒀−𝟏
𝑩 𝑰 𝑽 = 𝒁𝑩 𝑰 𝒁𝑩 = 𝒀−𝟏
𝑩

A matriz ZB é chamada de matriz impedância de barra (ou Zbarrra).

No exemplo acima o valor da impedância de barra é:

𝑗0,477 𝑗0,371 𝑗0,402 𝑗0,414


𝑗0,371 𝑗0,487 𝑗0,392 𝑗0,413
𝑍𝐵 = [ ]
𝑗0,402 𝑗0,392 𝑗0,456 𝑗0,423
𝑗0,414 𝑗0,413 𝑗0,423 𝑗0,473
56
Observa-se que, como YB, também ZB é uma matriz simétrica em relação à
diagonal principal. Os elementos fora dessa diagonal são impedâncias mútuas e os
elementos da diagonal são impedâncias próprias.

O número equações do sistema é igual ao número de barras. Através de


manipulações matriciais, parcionadas, o número equaçoes pode ser reduzido com
a eliminação adequada de determinadas barras.

Um sistema pode dado por uma equação em que sejam agrupadas as barras
com injeção de correntes IA e as barras em que não há injeção de corrente IX. As
tensões correnpondentes são VA e VX e as relações entres essas variáveis são
estabelecidas pela matriz admitância YB, de ordem A+X, composta das submatrizes
K e L, de ordem A, e de M e N, de ordem X, assumindo a seguinte forma:

𝐈 𝐊 𝐋 𝐕𝐀
[ 𝐀] = [ ][ ] 𝐍 = 𝐋𝐓
𝐈𝐗 𝐍 𝐌 𝐕𝐗

𝐈𝐀 = 𝐊𝐕𝐀 + 𝐋𝐕𝐗 𝐈𝐗 = 𝐍𝐕𝐀 + 𝐌𝐕𝐗

Não havendo correntes nas barra X, tem-se IX = 0. Tem-se dessa sequações


que:

𝑽𝑿 = −𝑴−𝟏 𝑵𝑽𝑨

𝑰𝑨 = 𝑲𝑽𝑨 − 𝑳𝑴−𝟏 𝑵𝑽𝑨 = (𝑲 − 𝑳𝑴−𝟏 𝑵)𝑽𝑿

A matriz admitância de barra resultante Y’B é de ordem A, permitindo um


conjunto de equações mais simples para o sistema. Tem-se, portanto:

𝒀′𝑩 = (𝑲 − 𝑳𝑴−𝟏 𝑵)

Esse procedimento pode ser visto de maneira simples eliminando uma barra
de cada vez. Utilizando, como exemplo, o caso apresentado acima para eliminar a
barra 4 da matriz YB, tem-se:

−𝑗9,8 𝑗0,0 𝑗4,0 𝑗5,0


𝑗0,0 −𝑗8,3 𝑗2,5 𝑗5,0
𝑌𝐵 = [ ]
𝑗4,0 𝑗2,5 −𝑗15,3 𝑗8,0
𝑗5,0 𝑗5,0 𝑗8,0 −𝑗18,0

57
−𝑗9,8 𝑗0,0 𝑗4,0 𝑗5,0
𝐾 = [ 𝑗0,0 −𝑗8,3 𝑗2,5 ⁡]⁡⁡⁡ ⁡𝐿 = [𝑗5,0]
𝑗4,0 𝑗2,5 −𝑗15,3 𝑗8,0

𝑀 = [−𝑗18,0] 𝑁 = 𝐿𝑇 = [𝑗5,0 𝑗5,0 𝑗8,0]

A matriz Y’B resulta em:

−𝑗8,411 𝑗1,389 𝑗6,222


−1
𝑌′𝐵 = (𝐾 − 𝐿𝑀 𝑁) = [ 𝑗1,389 −𝑗6,911 𝑗4,722 ]
𝑗6,222 4,722 −𝑗0,944

Pode-se verificar que cada elemento Y’kj da matriz resultante Y’B pode ser
obtido a partir do elemento Ykj correspondente da matriz original YB através da
relação:

𝑌𝑘𝑛 𝑌𝑛𝑗
𝑌′𝑘𝑗 = 𝑌𝑘𝑗 −
𝑌𝑛𝑛

Ou seja, cada elemento Y’kj da nova matriz Y’B é igual ao elemento


correspondente Ykj da matriz original YB subtraido do quociente entre o produto dos
elementos Ykn, elemento n da linha k, e Ynj, elemento n da coluna j, pelo elemento
Ynn pivô da barra eliminada.

Para o caso de uma matriz 4x4, como acima, tem-se:

𝑌11 𝑌12 𝑌13 𝑌14


−1 𝑌23 ] − [𝑌24 ] [𝑌44 ]−1 [𝑌41
𝑌′𝐵 = (𝐾 − 𝐿𝑀 𝑁) = [𝑌21 𝑌22 𝑌42 𝑌43 ]
𝑌31 𝑌32 𝑌33 𝑌34

𝑌11 𝑌12 𝑌13 1 𝑌14 𝑌41 𝑌14 𝑌42 𝑌14 𝑌43


𝑌′𝐵 = [𝑌21 𝑌22 𝑌23 ] − [𝑌24 𝑌41 𝑌24 𝑌42 𝑌24 𝑌43 ]
𝑌31 𝑌32 𝑌33 𝑌44 𝑌 𝑌 𝑌34 𝑌42 𝑌34 𝑌43
34 43

Daí resulta que:

𝑌14 𝑌41 𝑌14 𝑌42 𝑌14 𝑌43


𝑌11 − 𝑌12 − 1 𝑌13 −
𝑌44 𝑌44 𝑌44
𝑌24 𝑌41 𝑌24 𝑌42 𝑌24 𝑌43
𝑌′𝐵 = 𝑌21 − 𝑌22 − 𝑌23 −
𝑌44 𝑌44 𝑌44
𝑌34 𝑌43 𝑌34 𝑌42 𝑌34 𝑌43
𝑌31 − 𝑌32 − 𝑌33 −
[ 𝑌44 𝑌44 𝑌44 ]

58
Os elementos da matriz resultante podem ser determinadom, portanto,
efetuando as operações matriciais ou calculando diretamente cada elemento, como
acima.

Interpretação sobre os Elementos das Matrizes

Os elementos das matrizes admitância e impedância podem ter


interpretações úteis para a análise do sistema, em problemas como fluxo de
potência e curto circuito.

As interpretações para as admitâncias serão feitas a partir de uma matriz


3x3, conforme segue:

𝑌11 𝑌12 𝑌13


𝑌𝐵 = [𝑌21 𝑌22 𝑌23 ]
𝑌31 𝑌32 𝑌33

A relação entre correntes e tensões é dada por:

𝐼1 𝑌11 𝑌12 𝑌13 𝑉1


[𝐼2 ] = [𝑌21 𝑌22 𝑌23 ] [𝑉2 ]
𝐼3 𝑌31 𝑌32 𝑌33 𝑉3

A expressão da corrente, por exemplo, para I3 é:

𝐼3 = 𝑌31 𝑉1 + 𝑌32 𝑉2 + 𝑌33 𝑉3

Fazendo V2 = V3 = 0, tem-se que:

𝐼3
𝑌31 =
𝑉1

Isto significa que a admitância de transferência Y31, da barra 3 para a barra


1, é igual ao quociente da corrente I3, injetada na barra 3, pela tensão resultante V1,
na barra 1, curto circuitando as barras 2 e 3, isto é, conectando essas barras à barra
de referência. A interpretação é semelhante com relação ao elemento Y32.

Fazendo V1 = V2 = 0, tem-se que:

𝐼3
𝑌33 =
𝑉3

59
Isto significa que a admitância própria Y33, da barra 3, é igual ao quociente
da corrente I3, injetada na barra 3, pela tensão resultante V3, na própria barra 3,
curto circuitando as barras 1 e 2.

As interpretações para as impedâncias serão feitas também a partir de uma


matriz 3x3, conforme segue:

𝑍11 𝑍12 𝑍13


𝑍𝐵 = [𝑍21 𝑍22 𝑍23 ]
𝑍31 𝑍32 𝑍33

A relação entre tensões e correntes é dada por:

𝑉1 𝑍11 𝑍12 𝑍13 𝐼1


[𝑉2 ] = [𝑍21 𝑍22 𝑍23 ] [𝐼2 ]
𝑉3 𝑍31 𝑍32 𝑍33 𝐼3

A expressão da tensão, por exemplo, para V3 é:

𝑉3 = 𝑍31 𝐼1 + 𝑍32 𝐼2 + 𝑍33 𝐼3

Fazendo I2 = I3 = 0, tem-se que:

𝑉3
𝑍31 =
𝐼1

Isto significa que a impedância de transferência Z31, da barra 3 para a barra


1, é igual ao quociente da tensão V3 na barra 3 pela corrente injetada I1, na barra 1,
com as barras 2 e 3 em aberto, isto é, essas barras não sendo fontes de corrente.
A interpretação é semelhante com relação ao elemento Z32.

Fazendo I1 = I2 = 0, tem-se que:

𝑉3
𝑍33 =
𝐼3

Isto significa que a impedância própria Z33, da barra 3, é igual ao quociente


da tensão V3 pela corrente I3, injetada na própria barra 3, resultante V3, na própria
barra 3, mantendo abertas as fontes das barras 1 e 2. Isto significa também que
essa impedância própria é a impedância de Thèvenin nessa barra, isto é:

𝑍33 = 𝑍𝑡ℎ3

60
Com base nessas interpretações pode-se, em princípio, medir
experimentalmente os valores das admitâncias e impedâncias próprias em todas
as barras e de transferência entras as barras. Esses valores podem ser também
obtidos a partir de simulações.

61
5. FLUXO DE POTÊNCIA

O objetivo dos estudos de fluxo de potência é a determinação dos valores


das potências ativas e reativas que fluem, ou circulam, nos componentes do
sistema e dos valores das tensões, em módulo e fase, nas barras ou nós da rede.
Esse fluxo de potência é também chamado de fluxo de carga.

Os resultados da análise do fluxo de potência são utilizados na verificação


da adequacidade da capacidade dos componentes, como geradores,
transformadores e linhas de transmissão, e a conformidade dos níveis de tensão
com os critérios adotados.

Os estudos de fluxo de potência são utilizados também em outros estudos,


como estabilidade e controle, e tem aplicações nas atividades de planejamento e
operação do sistema de potência.

Tornam-se necessários para a realização dos estudos a disponibilidade dos


dados dos componentes do sistema, o equacionamento do problema de fluxo de
potência e a seleção dos métodos de solução.

O Problema de Fluxo de Potência


Os dados do sistema de potência necessários aos estudos são basicamente:
a) Configuração ou topologia da rede;
b) Parâmetros ou constantes dos componentes;
c) Cargas nas barras;
d) Tensões nos geradores;
e) Barras de referência
f) Diagrama unifilar do sistema
g) Diagrama de impedâncias do sistema

Como resultados são determinados:


a) Fluxos das potências nos componentes;
b) Tensões nas barras;
c) Perdas.

Os dados da configuração referem-se a:


a) Indicação das barras;

62
b) Conexão ou ligação entre barras através dos componentes;
c) Chaves para transferência de cargas ou estudos alternativos.
Os parâmetros dos componentes usuais são os seguintes:
a) Linhas de distribuição e transmissão (condutor)
▪ Resistência: r, em Ω/km;
▪ Reatância indutiva: xL, em Ω/km;
▪ Reatância capacitiva: xC, em Ω-1.km;
▪ Comprimento da linha: L, em km;
▪ Valores totais da linha: R = r. L, X = xL. L, Xc = xc / L.

b) Transformadores
▪ Reatância X, em % (na base de sua potência).

Tipos de Barras:

Os tipos das barras podem ser definidos em função dos tipos das cargas que
alimenta, em termos de potências ativa P e reativa Q, e das tensões, em termos de
módulo V e fase δ:

a) Barra de geração (referência, swing)


• Dados: V e δ
• Resultados: P e Q;
b) Barra de carga
• Dados: P e Q
• Resultados: V e δ;

c) Barra de tensão controlada


• Dados: P e V
• Resultados: δ e Q;

d) Barra de Controle
• Dados: P e δ
• Resultados: V e Q.

Ordenação das Barras:

As barras do sistema a ser estudado precisam ser numeradas, de forma


ordenada, tendo em vista que:
a) É particularmente útil na simulação por computador;

63
b) Todas as barras são numeradas em qualquer ordem, sem repetição;
c) A numeração é ordenada, sequencialmente, preferencialmente de 1 a n
(barras).
Resultados das simulações do fluxo de potência:

a) Tensões nas barras, para verificação do atendimento aos critérios de tensão;


b) Potências ativas e reativas que fluem nos componentes, para verificação dos
limites de carregamento;
c) Perdas, em termos de potência, permitindo avaliar as perdas de energia e
condições técnico-econômicas;
d) Valores das correntes nos componentes, quando necessário.

Modelo das Cargas

a) Utilizam-se, em geral, cargas representadas como potência constante;

b) Os modelos de corrente constante, impedância constante ou a composição


dos 3 modelos básicos podem ser utilizados para estudos mais precisos,
porém são necessárias as características das cargas em cada barra,
determinadas experimentalmente ou estimadas em função dos tipos das
cargas mais significativas atendidas pela barra;

c) Utilizam-se cargas máximas ou outros patamares de carga (média, mínima


etc.), com ou sem fator de coincidência.

Equacionamento Básico
A Figura 2.5 mostra a representação de uma linha média compreendida
entre duas barras a e b, com indicação da sua impedância e das tensões, correntes
e fluxos das potências envolvidas.

Figura 5.1 – Fluxos de potências em uma linha média

A potência transmitida de a para b é dada pela expressão:


𝑽𝒂 − 𝑽𝒃 ∗
𝑺𝒂𝒃 = 𝑽𝒂 𝑰∗𝒂 = 𝑽𝒂 ( )
𝒁
De forma semelhante, a potência transmitida de b para a é dada por:

64
𝑽𝒃 − 𝑽𝒂 ∗
𝑺𝒃𝒂 = 𝑽𝒃 𝑰∗𝒃 = 𝑽𝒃 ( )
𝒁
Em termos das potências ativas e reativas, tem-se:
𝑺𝒂𝒃 = 𝑃𝑎𝑏 + 𝑗𝑄𝑎𝑏
𝑺𝒃𝒂 = 𝑃𝒃𝒂 + 𝑗𝑄𝒃𝒂
Desenvolvendo as expressões de Sab e Sba, e fazendo δ = δa- δb, tem-se:
1
𝑃𝑎𝑏 = 2 2
(𝑅𝑉𝑎2 − 𝑅𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑐𝑜𝑠𝛿 + 𝑋𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
1
𝑄𝑎𝑏 = 2 2
(𝑋𝑉𝑎2 − 𝑋𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑐𝑜𝑠𝛿 − 𝑅𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
1
𝑃𝑏𝑎 = 2 2
(𝑅𝑉𝑏2 − 𝑅𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑐𝑜𝑠𝛿 − 𝑋𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
1
𝑄𝑏𝑎 = 2 2
(𝑋𝑉𝑏2 − 𝑋𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑐𝑜𝑠𝛿 + 𝑅𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑠𝑒𝑛𝛿)
𝑅 +𝑋
Essas equações básicas de fluxo de potência são estabelecidas para todas
as barras do sistema sob as quais são aplicados os métodos de solução,
usualmente os Métodos de Gauss-Seidel e de Newton-Raphson.

Tem-se a seguinte diferença de potências, em se destacam as perdas de


potência ativa e as variações de potência reativa:
∆𝑺 = 𝑺𝒂𝒃 − 𝑺𝒃𝒂 = (𝑃𝑎𝑏 − 𝑃𝑏𝑎 ) + 𝑗(𝑄𝑎𝑏 − 𝑄𝑏𝑎 )
Considerando que, em geral, R << X, tem-se para a impedância:
𝑅 𝜋 𝑅
𝑍 = 𝑅 + 𝑗𝑋 = (√𝑅2 + 𝑋 2 )∠𝑡𝑔−1 ≈ 𝑋∠( − 𝛼) 𝛼≈
𝑋 2 𝑋
Como resultado tem-se:
𝑉𝑎2 𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑉𝑎2 𝑉𝑎 𝑉𝑏
𝑃𝑎𝑏 = 𝑠𝑒𝑛𝛼 − 𝑠𝑒𝑛(𝛼 − 𝛿) 𝑄𝑎𝑏 = 𝑐𝑜𝑠𝛼 − 𝑐𝑜𝑠(𝛼 − 𝛿)
𝑋 𝑋 𝑋 𝑋
𝑉𝑏2 𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑉𝑏2 𝑉𝑏 𝑉𝑎
⁡𝑃𝑏𝑎 = 𝑠𝑒𝑛𝛼 − 𝑠𝑒𝑛(𝛼 − 𝛿) 𝑄𝑏𝑎 = 𝑐𝑜𝑠𝛼 − 𝑐𝑜𝑠(𝛼 + 𝛿)
𝑋 𝑋 𝑋 𝑋

No caso de se fazer R = 0, tem-se α = 0, resultando:


𝑉𝑎 𝑉𝑏 𝑉𝑎2 𝑉𝑎 𝑉𝑏
𝑃𝑎𝑏 = 𝑠𝑒𝑛𝛿 𝑄𝑎𝑏 = + 𝑐𝑜𝑠𝛿
𝑋 𝑋 𝑋
𝑉𝑏 𝑉𝑎 𝑉𝑏2 𝑉𝑏 𝑉𝑎
⁡𝑃𝑏𝑎 = − 𝑠𝑒𝑛𝛿 𝑄𝑏𝑎 = − 𝑐𝑜𝑠𝛿
𝑋 𝑋 𝑋
Essas expressões simplificadas para um sistema simples ajuda o
entendimento sobre os fluxos de potências no sistema complexo.

65
Método de Gauss-Seidel
Preliminarmente o método de Gauss-Seidel será aplicado a um sistema de
3 barras, utilizando-se do diagrama da Figura 5.2.

Figura 5.2 - Sistema a 3 barrras

São conhecidas as cargas P2 e Q2 na barras 2 e P3 e Q3 na barra 3, a tensão


V1 na barra 1, considerada como referência, e as admitâncias nas linhas e nas
barras Y12 , Y13 ,Y12 , Y22 e Y33.

Tem-se as seguintes equações para as barras 2 e 3:


𝑃2 −𝑗𝑄2
𝑽𝟐 𝑰∗𝟐 = 𝑃2 + 𝑗𝑄2 𝑰𝟐 =
𝑽∗𝟐

𝑃3 −𝑗𝑄3
𝑽𝟑 𝑰∗𝟑 = 𝑃3 + 𝑗𝑄3 𝑰𝟑 =
𝑽∗𝟑

Considerando as admitâncias, as expressões das correntes são:

𝑰𝟐 = 𝑌21 𝑉1 + 𝑌22 𝑉2 + 𝑌23 𝑉3

𝑰𝟑 = 𝑌31 𝑉1 + 𝑌32 𝑉2 + 𝑌33 𝑉3

Tem-se como resultado para as expressões das tensões V2 e V3:

𝟏 𝑃2 − 𝑗𝑄2
𝑉2 = [ − (𝑌21 𝑉1 + 𝑌23 𝑉3 )]
𝑌22 𝑽∗𝟐

𝟏 𝑃3 − 𝑗𝑄3
⁡𝑉3 = [ − (𝑌31 𝑉1 + 𝑌32 𝑉2 )]
𝑌33 𝑽∗𝟑

Pelo método de Gauss-Seidel essas equações são resolvidas de forma


iterativa. No processo iterativo, assume-se valores para as tensões nas barras e
determinam-se as correntes. Calculam-se as tensões e verificam-se os desvios em

66
relação aos valores anteriores. O processo prossegue até se alcançar a precisão
desejada.
Para um sistema de N barras, considerando a barra 1 como referência, tem-
se para a barra k:

𝟏 𝑃𝑘 −𝑗𝑄𝑘
𝑉𝑘 = [ − ∑𝑁
𝑛=1 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑛 ] 𝑛≠𝑘
𝑌𝑘𝑘 𝑽∗𝒌

Neste método podem-se empregar duas formas de procedimento. A primeira


consiste em determinar em cada iteração todas as tensões e usá-las na iteração
seguinte, sendo chamado simplesmente de método de Gauss. A segunda consiste
em determinar progressivamente as tensões e à medida que esses valores
calculados, corrigidos, vão sendo utilizados logo em seguida no cálculo das tensões
seguintes, sendo chamado propriamente de método de Gauss-Seidel, e é mais
eficiente.

Observa-se que o uso da expressão para o cálculo das tensões Vk pode


sofrer algumas modificações em função das particularidades do problema de fluxo
de potência, quais sejam a definição dos dados especificados e dos resultados a
serem obtidos.

Observa-se que processo iterativo método de Gauss-Seidel geralmente


requer um número de iterações relativamente elevado, da ordem de algumas
dezenas de iterações, geralmente necessitando nas programações o uso de fatores
de aceleração. O número de iterações cresce com o número de barras. Às vezes o
método iterativo pode não convergir.

Método de Newton-Raphson
O emprego do método de Newton-Raphson pode usar as equações tanto na
forma polar como retangular. Na forma polar as tensões em duas barras k e n e a
admitância entre elas são indicadas pelo módulo e fase, conforme segue:

𝑽𝒌 = 𝑉𝑘 ∠𝛿𝑘 𝑽𝒏 = 𝑉𝑛 ∠𝛿𝑛 𝒀𝒌𝒏 = 𝑌𝑘𝑛 ∠𝜃𝑘𝑛

As expressões para as potências ativas e reativas resultam em:


𝑁

𝑃𝑘 − 𝑗𝑄𝑘 = (𝒀𝒌𝒌 𝑽𝑘 + ∑ 𝒀𝒌𝒏 𝑽𝑛 )𝑽∗𝒌 ⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑘 ≠ 𝑛


𝑛=1

67
𝑁

𝑃𝑘 − 𝑗𝑄𝑘 = ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 ∠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡⁡⁡


𝑛=1
Expandindo as componentes de potências ativa e reativa, tem-se:
𝑁

𝑃𝑘 = ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡


𝑛=1
𝑁

𝑄𝑘 = − ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡


𝑛=1
Pelo método de Newton-Raphson essas equações são resolvidas de forma
iterativa. No processo, assume-se valores para as tensões nas barras e
determinam-se as potências em todas as barras. Verificam-se os desvios em
relação aos valores das potências especificadas. O processo prossegue até se
alcançar a precisão desejada.
As variações das potências ativas e reativas são expressas em função dos
módulos e fases das tensões, tendo-se então para cada barra:
𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑃𝑘
∆𝑃𝑘 = ⁡ ∆𝛿𝑘 + ⁡ ∆𝑉
𝜕𝛿𝑘 𝜕𝑉𝑘 𝑘
𝜕𝑄𝑘 𝜕𝑄𝑘
∆𝑄𝑘 = ⁡ ∆𝛿𝑘 + ⁡ ∆𝑉
𝜕𝛿𝑘 𝜕𝑉𝑘 𝑘
Na forma matricial, tem-se:

𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑃𝑘 𝜕𝑃𝑘


∆𝑃 𝜕𝛿 𝜕𝑉𝑘 ∆𝛿𝑘 𝜕𝛿 𝜕𝑉𝑘 𝐽𝑃𝛿 𝐽𝑃𝑉
[ 𝑘 ] = [𝜕𝑄𝑘 ][ ] 𝐽= [𝜕𝑄𝑘 ] = [𝐽 𝐽𝑄𝑉 ]
∆𝑄𝑘 𝑘 𝜕𝑄𝑘 ∆𝑉
𝑘 𝑘 𝜕𝑄𝑘 𝑄𝛿
𝜕𝛿𝑘 𝜕𝑉𝑘 𝜕𝛿𝑘 𝜕𝑉𝑘

A matriz designada como J é o Jacobiano da transformação dos ângulos e


módulos das tensões nas potências ativas e reativas e cujas componentes são as
derivadas parciais das potências em relação às tensões, que são os sub-
Jacobianos.
O cálculo dessas derivadas resulta em:
𝑁
𝜕𝑃𝑘
= ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝛿𝑘
𝑛=1,𝑛≠𝑘

68
𝜕𝑃𝑘
= −𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝛿𝑛
𝑁
𝜕𝑄𝑘
=− ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝛿𝑘
𝑛=1,𝑛≠𝑘

𝜕𝑄𝑘
= 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝛿𝑛
De forma semelhante são calculadas as derivadas em relação aos módulos
das tensões:
𝑁
𝜕𝑃𝑘
= ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝑉𝑘
𝑛=1,𝑛≠𝑘

𝜕𝑃𝑘
= −𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝑉𝑛
𝑁
𝜕𝑄𝑘
=− ∑ 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝑉𝑘
𝑛=1,𝑛≠𝑘

𝜕𝑄𝑘
= 𝑌𝑘𝑛 𝑉𝑘 𝑉𝑛 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑛 + 𝛿𝑛 − 𝛿𝑘 )⁡⁡⁡
𝜕𝑉𝑛

No processo iterativo têm-se os desvios de potências ativas e reativas:

∆𝑃𝑘 = ⁡ 𝑃𝑘,𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐 − ⁡ 𝑃𝑘,𝑐𝑎𝑙𝑐 ⁡


∆𝑄𝑘 = 𝑄𝑘,𝑒𝑠𝑝𝑒𝑐 − ⁡ 𝑄𝑘,𝑐𝑎𝑙𝑐 ⁡⁡
As relações entre os desvios para todo o sistema resultam numa equação
de forma, através do Jacobiano do sistema na transformação dos desvios das
tensões, em fase e módulo, nos desvios das potências, ativas e reativas:

𝜕𝑃 𝜕𝑃 𝜕𝑃 𝜕𝑃
∆𝑃 𝐽𝑃𝛿 𝐽𝑃𝑉
= [ ∆𝛿 ]
𝜕𝛿 𝜕𝑉 𝜕𝛿 𝜕𝑉
[ ] = [𝜕𝑄 ] 𝐽= [𝜕𝑄 ] = [𝐽 𝐽𝑄𝑉 ]
∆𝑄 𝜕𝑄 ∆𝑉 𝜕𝑄 𝑄𝛿
𝜕𝛿 𝜕𝑉 𝜕𝛿 𝜕𝑉

Aplicando para um sistema de 3 barras, tem-se:

69
𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2
.
𝜕𝛿2 𝜕𝛿3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
∆𝑃2 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 ∆𝛿2
.
∆𝑃3 𝜕𝛿2 𝜕𝛿3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 ∆𝛿3
. = . . . . . = .
∆𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 ∆𝑉2
.
[∆𝑄3 ] 𝜕𝛿2 𝜕𝛿3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 [∆𝑉3 ]
𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3
.
[ 𝜕𝛿2 𝜕𝛿3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 ]
Os vetores e matrizes estão organizados na sequência de potências ativas
e depois de potências reativas por barras, e na sequência de fases e depois de
ângulos das tensões. Como alternativa essa organização das variáveis poderia ser
na sequência por barras, com as potências ativas e reativas e com as fases e
módulos das tensões.

Observa-se que processo iterativo método de Newton-Raphson geralmente


requer um número de iterações relativamente baixo, da ordem de algumas
unidades de iterações, às vezes necessitando nas programações o uso de fatores
de aceleração. O número de iterações praticamente não depende do número de
barras. Geralmente o método iterativo converge.

O uso dos desvios das potências e do Jacobiano para o cálculo dos desvios
das tensões deste método de Newton-Raphson conduz a resultados nas iterações,
cujas correções em módulo e direção que levam rapidamente à solução do fluxo de
potência. Este método é básico para os problemas mais complexos que envolvem
a otimização dos fluxos de potência.

Sensibilidade e Controle de Fluxo de Carga


Nos estudos de fluxo de potência, ou fluxo de carga, podem-se usar os
conceitos de sensibilidade e de controle, definindo-se adequadamente as variáveis
de estado, de controle e de perturbação.

Sendo x um vetor de estado, u um vetor de controle e p um vetor de


perturbação, a equação do fluxo toma a forma:

𝒇(𝒙, 𝒖, 𝒑) = 𝟎

Em cada barra tem-se uma equação da forma:

𝑓𝑖 (𝒙, 𝒖, 𝒑) = 0⁡⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑖 = 1, 2, … 𝑛
70
Definindo-se as fases e módulos das tensões como variáveis de estado xi,
as potências ativas e reativas geradas como variáveis de controle ui e as potências
ativas e reativas das cargas como variáveis de perturbação pi, tem-se para os
vetores correspondentes x, u e p:

𝜹𝟏 𝑷𝑮𝟏 𝑷𝑫𝟏
𝒙𝟏 𝑽𝟏 𝒖𝟏 𝑸𝑮𝟏 𝒑𝟏 𝑸𝑫𝟏
𝒙𝟐 𝜹𝟐 𝒖𝟐 𝑷𝑮𝟐 𝒑𝟐 𝑷𝑫𝟐
𝒙= . = 𝑽.𝟐 𝒖= . = 𝑸𝑮𝟐 𝒑= . = 𝑸𝑫𝟐
. . . . .
[𝒙 𝒏 ] . [𝒖 𝒏 ] . [𝒑𝒏 ] .
𝜹𝒏 𝑷𝑮𝒏 𝑷𝑫𝒏
[𝑽 𝒏 ] [𝑸𝑮𝒏 ] [𝑸𝑫𝒏 ]

A equação de estado é da forma:

𝒙′ = 𝑨𝒙 + 𝑩𝒖 + 𝑪𝒑

No ponto de operação x0, u0, p0 tem-se que:

𝒇(𝒙𝟎 , 𝒖𝟎 , 𝒑𝟎 ) = 𝟎

Num ponto próximo com as variações Δx, Δu, Δp tem-se:

𝒇(𝒙𝟎 + 𝜟𝒙, 𝒖𝟎 + 𝜟𝒖, 𝒑𝟎 + 𝜟𝒑) = 𝟎

Desenvolvendo esta equação na forma linearizada, utilizando dos


Jacobianos Jx, Ju e Jp, da função f em relação a x, u e p, respectivamente, tem-se:

𝑱𝒙 𝜟𝒙 + 𝑱𝒖 𝜟𝒖 + 𝑱𝒑 𝜟𝒑 = 𝟎

𝛥𝑥2 𝛥𝑢1 𝛥𝑝1


. . .
𝜟𝒙=[ . ] 𝜟𝒖=[ . ] 𝜟𝒑=[ . ]
𝛥𝑥2𝑛 𝛥𝑢2𝑛 𝛥𝑝2𝑛
𝝏𝒇𝒊 𝝏𝒇𝒊 𝝏𝒇𝒊
𝑱𝒙 = [ ] 𝑱𝒖 = [ ] 𝑱𝒑 = [ ]
𝝏𝒙𝒋 𝝏𝒖𝒋 𝝏𝒑𝒋

O ângulo da barra 1 está sendo considerada como referência dos ângulos


para as demais barras, fazendo-se δ1 = 0 e, portanto ∆x1 = 0, resultando em 2n-1
equações.

Essas equações gerais podem ser apresentadas na forma expandida,


mostrando todos os vetores dos desvios e os jacobianos com as derivadas parciais,
mas são apresentadas aqui apenas na forma compacta.

71
Expressando os desvios ∆x em função dos desvios ∆u e ∆p, tem-se:

𝜟𝒙 = −𝑱𝒙 −𝟏 𝑱𝒖 𝜟𝒖 − 𝑱𝒙 −𝟏 𝑱𝒑 𝜟𝒑

As matrizes de sensibilidades do sistema, ou seja, das variáveis de estado,


em relação às variáveis de controle e perturbação são definidas, respectivamente,
através das expressões:

𝑺𝒖 = −𝑱𝒙 −𝟏 𝑱𝒖 𝑺𝒑 = −𝑱𝒙 −𝟏 𝑱𝒖

Por exemplo, para o sistema a 2 barras apresentado no início deste


capítulo, em que são conhecidos, num ponto de operação, as potências das cargas
(perturbações), as potências geradas (controles) e as tensões (estados), tem-se
em termos das variáveis de estado, de controle e de perturbação:

𝑥2 𝑥4
𝑓1 = 𝑢1 − 𝑝1 + 𝑠𝑒𝑛(𝑥3 − 𝑥1 ) = 0
𝑋
𝑥2 𝑥4
𝑓2 = 𝑢3 − 𝑝3 + 𝑠𝑒𝑛(𝑥1 − 𝑥3 ) = 0
𝑋
𝑥2 𝑥4
𝑓3 = 𝑢2 − 𝑝2 + 𝑐𝑜𝑠(𝑥3 − 𝑥1 ) = 0
𝑋
𝑥2 𝑥4
𝑓4 = 𝑢4 − 𝑝4 + 𝑐𝑜𝑠(𝑥3 − 𝑥1 ) = 0
𝑋
A essas equações são aplicados os valores numéricos seguintes, em pu ou
rad:

𝒑𝟏 𝑷𝑫𝟏 𝟐𝟎 𝒖𝟏 𝑷𝑮𝟏 𝟐𝟎
𝒑 𝑸 𝒖 𝑸
𝒑𝟎 = [𝒑𝟐 ] = [ 𝑫𝟐 ] = [𝟏𝟎] 𝒖𝟎 = [𝒖𝟐 ] = [ 𝑮𝟐 ] = [𝟏𝟎]
𝟑 𝑷𝑫𝟑 𝟐𝟎 𝟑 𝑷𝑮𝟑 𝟐𝟎
𝒑𝟒 𝑸𝑫𝟒 𝟏𝟎 𝒖𝟒 𝑸𝑮𝟒 𝟏𝟎
𝒙𝟏 𝜹𝟏 𝟎
𝒙 𝑽
𝒙𝟎 = [𝒙𝟐 ] = [ 𝟏 ] = [𝟏]
𝟑 𝜹𝟐 𝟎
𝒙𝟒 𝑽𝟐 𝟏

Os Jacobianos podem ser determinados, encontrando-se os seguintes


resultados, considerando X = 0,1:

72
0 −10 −40 0 0 1 0
𝐽𝑥 = [−30 0 10 ] 𝐽𝑥 = −𝐽𝑝 = [0 1 0 0]
10 0 −30 0 0 0 1
As matrizes de sensibilidade resultantes são:

0 0,0375 1 0,0125
𝑆𝑢 = −𝑆𝑝 = [0 1 0,1 0 ]
0 0,0125 0 0,0375
As equações com as variações das variáveis são, portanto:

𝜟𝒙 = 𝑆𝑢 𝜟𝒖 + 𝑆𝑝 𝜟𝒑

Daí resulta:

𝛥𝑉1 = 0,0375𝛥𝑄𝐺1 + 0,0125𝛥𝑄𝐺2

𝛥𝛿2 = −0,050𝛥𝑄𝐺1 + 0,1𝛥𝑃𝐺2 − 0,150𝛥𝑄𝐺2

𝛥𝑉2 = 0,0125𝛥𝑄𝐺1 + 0,0375𝛥𝑄𝐺2

Estes resultados permitem a interpretação sobre as influências das variáveis


de controle e perturbação nas variáveis de estado, ou seja, das variações de
potências reativas e ativas nos módulos e fases das tensões, para esse caso.

Outros Tipos de Estudos de Fluxo de Potência


Além dos estudos básicos de fluxo de potência, conforme apresentado,
diversos outros tipos de estudos de fluxo de potência podem ser realizados, com
aplicações específicas, a saber:

a) Fluxo de potência trifásico – Realizado em estudos específicos quando há


desequilíbrio de potência entre as fases e seja importante a determinação dos
fluxos por fase;

b) Fluxo de potência harmônico – Realizado para verificação da distorção


harmônica no sistema, originada da injeção de harmônicos em determinadas
barras;

c) Fluxo de potência probabilístico - Considera as cargas mais prováveis e


os desvios padrões correspondentes;

73
d) Fluxo de potência ótimo – Fluxo resultante de um processo de otimização
de uma determinada função objetivo associada ao sistema (por exemplo, perdas,
custos etc.);

e) Fluxo de potência para confiabilidade – Sequência de fluxos com vários


patamares de cargas e processos de otimização visando o mínimo corte de carga
e melhoria da confiabilidade do sistema;

f) Métodos Simplificados – Dentre eles, tem-se o que se determinam as


potências que fluem em cada trecho, sem considerar as perdas, calculando-se as
quedas de tensão por trechos e, partindo-se da barra de referência, calculam-se as
tensões nas barras. no sistema; o fluxo linearizado, em que as equações são
consideradas sob forma linear; o fluxo DC (direct current), como se os fluxos fossem
em corrente contínua; e os fluxos desacoplados rápidos, processando os fluxos de
potências ativas e reativas em separados.

Programas de Computadores

Os cálculos envolvidos nos estudos de sistemas potência são muito


elevados, mesmo para sistemas de pequeno porte. A utilização de programas
computacionais é, portanto, essencial.

A elaboração de um programa para esse fim pode ser feita com base nas
equações apresentadas, porém é uma tarefa bastante difícil, principalmente porque
deve considerar diversas alternativas de soluções.

Há disponibilidade programas comerciais alguns com versão acadêmica


livre, a exemplo do Programa Anarede e do Programa Powerworld.

A Figura 5.3 mostra uma tela com um exemplo no Programa Anarede.

74
Figura 5.3 – Exemplo de uma tela do programa Anarede

As Figuras 5.3 a 5.6 mostram algumas telas com exemplos no Programa


Powerworld.

75
Figura 5.4 – Tela de abertura do Programa Powerworld

Figura 5.5 – Exemplo de fluxo de potência no Powerworld

76
Figura 5.6 – Exemplo de fluxo de potência no Powerworld

A A
0,00 R$/MWh
MVA MVA

slack
148,0 MW 0,00 R$/MWh
99 MW A
74,0 MW
A

124% 99%
MVA
MVA
0 MW
123 MW
A A

124% 99% 99 MW
MVA MVA
123 MW

Bus 3 0,00 R$/MWh

370 MW
Total Cost
148,0 MW 5476,5 R$/h

Figura 5.7 – Exemplo de fluxo de potência no Powerworld

77
6. CURTO CIRCUITO SIMÉTRICO

No sistema de potência podem ocorrer faltas, como curtos circuitos, podendo


ser faltas simétricas, que envolvem as três fases simultaneamente, e faltas
assimétricas, quando envolvem uma ou duas fases e a terra.

As correntes de faltas ficam bastante elevadas, requerendo uma adequada


proteção do sistema. Os estudos das faltas são necessários na definição da
suportabilidade dos componentes e dos dispositivos de proteção como também nos
estudos de estabilidade.

Além das sobrecorrentes no sistema podem ocorrer também sobretensões,


que exercem influência na definição dos equipamentos ou dispositivos necessários
às proteções contra sobretensões.

Faltas Trifásicas Simétricas

A base para os estudos das faltas trifásicas simétricas pode ser vista na
análise dos transitórios em um circuito RL, considerando as impedâncias das
linhas, reatâncias dos transformadores e as reatâncias das máquinas síncronas.
No sistema os estudos dos curtos circuitos utilizam as matrizes de impedância de
barra.

A Figura 6.1 mostra um circuito RL básico para a análise dos transitórios,


que podem ser, por exemplo, a energização de uma linha de transmissão ou
ocorrência de um curto circuito nos terminais de um gerador:

Figura 6.1 - Circuitos RL básicos

A fonte de tensão pode ser dada por uma expressão da forma:

𝑣(𝑡) = 𝑉𝑀 𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + 𝛼)

78
A equação para os circuitos é:
𝑑𝑖
𝑣(𝑡) = 𝑅𝑖(𝑡) = +𝐿
𝑑𝑡
A solução dessa equação é:

𝑉𝑀 𝑅
𝑖(𝑡) = [𝑠𝑒𝑛(𝑤𝑡 + 𝛼 − 𝜃) − 𝑒 − 𝐿 𝑡 𝑠𝑒𝑛(𝛼 − 𝜃)]
𝑍
𝜔𝐿
𝑍 = √𝑅2 + 𝑋 2 𝜃 = 𝑡𝑔−1 ( )
𝑅

A Figura 6.2 mostra a representação gráfica da corrente i(t) para duas


situações particulares do instante da energização ou da ocorrência do curto:

Figura 6.2 - Representação gráfica da corrente i(t)

Para o caso da máquina síncrona, no entanto, a reatância X é variável,


assumindo um valor bastante baixo no instante do curto, aumentando em seguida
para um valor ligeiramente maior, até assumir um valor constante no estado
permanente.

Na fase inicial tem-se uma reatância chamada de reatância subtransitória


X’'d, da ordem de 0,2 pu, com duração de algumas unidades de ciclos. Em seguida
tem-se uma reatância chamada de reatância transitória X’d, da ordem de 0,3 pu,
com duração de algumas dezenas de ciclos. No estado permanente tem-se a
reatância síncrona permanente Xd, da ordem de 1,0 pu.

79
A Figura 6.3 mostra a representação gráfica simplificada da corrente i(t) para
o caso de um curto circuito nos terminais de um gerador sem carga, em que não
está incluída a componente unidirecional (a componente com a exponencial).

Figura 6.3 - Representação gráfica da corrente de curto circuito no gerador sem carga

Pode-se observar no gráfico como a corrente é inicialmente elevada e


decresce ao longo do tempo até assumir o estado permanente, em
correspondência à variação crescente da reatância.

Utilizando do gráfico da corrente em função do tempo da tensão do gerador


Eg e das reatâncias, são definidas as correntes subtransitória I’'d, transitória I’d e
permanente Id, em valores eficazes, da seguinte forma:

𝐸𝑔 𝑜𝑐 𝐸𝑔 𝑜𝑏 𝐸𝑔 𝑜𝑎
𝐼"𝑑 = = 𝐼′𝑑 = = 𝐼𝑑 = =
𝑋"𝑑 √2 𝑋′𝑑 √2 𝑋𝑑 √2

No caso de o gerador estar fornecendo uma corrente IL a uma carga ZL com


uma tensão VL, sendo Vt a tensão terminal da máquina, e ocorre um curto nos
terminais da carga, aparecem no gerador tensões internas. Essas tensões são
chamadas também nessas condições transitórias de tensões subtransitória E’'g,
transitória E’g e permanente Eg, que são determinadas através das seguintes
expressões:

𝐸"𝑔 = 𝑉𝑡 + 𝑗𝐼𝐿 𝑋"𝑑 ⁡ 𝐸′𝑔 = 𝑉𝑡 + 𝑗𝐼𝐿 𝑋′𝑑 𝐸𝑔 = 𝑉𝑡 + 𝑗𝐼𝐿 𝑋𝑑

As tensões E’'g e E’g são determinadas por IL. Ambas são iguais a Eg apenas
quando IL=0, em que se tem Eg = Vt .

80
A Figura 6.4 mostra o circuito equivalente para um gerador fornecendo uma
corrente para uma carga através de uma impedância externa Ze.

Figura 6.4 - Circuito equivalente para um gerador com carga

A Figura 6.5 mostra os circuitos equivalentes correspondentes com as


tensões e reatâncias subtransitórias e transitórias, respectivamente.

Figura 6.4 - Circuitos equivalentes para condições transitórias com carga

A corrente subtransitória também pode ser calculada utilizando-se do


equivalente de Thèvenin, conforme a Figura 6.5:

Figura 6.5 - Equivalente de Thèvenin

O valor da corrente é:

𝑉𝑓 𝑉𝑓 (𝑍𝐿 +𝑍𝑒 + 𝑗𝑋"𝑑 𝑍𝐿 )


𝐼" = =
𝑍𝑡ℎ 𝑍𝐿 (𝑍𝑒 + 𝑗𝑋"𝑑 )

81
Matriz Impedância de Barra para Cálculo de Faltas

No cálculo das correntes de curto circuito no sistema para uma falta numa
determinada barra as correntes pré-falta, isto é, as correntes devido às cargas, são
em geral desprezadas. As correntes de curto circuito podem ser determinadas
utilizando-se do equivalente de Thèvenin e da matriz impedância de barra.

Para se determinar a corrente de curto circuito na barra k determina-se


inicialmente a tensão pré-falta Vf nessa barra. Desconsiderando as correntes de
carga as tensões pré-falta são aproximadamente iguais a 1,0 pu, isto é, Vf = 1 pu.
A impedância de Thèvenin Zth é obtida curto circuitando as fontes e achando-se a
impedância equivalente vista desta barra, tendo-se Zkk = Zth, que é o elemento da
matriz impedância de barra correspondente à barra k .

A corrente de falta If na barra k será, portanto:

𝑉𝑓 1
𝐼𝑓 = ≈
𝑍𝑘𝑘 𝑍𝑘𝑘

As correntes ao longo do sistema são determinadas considerando a


distribuição dessa corrente pelos diversos ramos. As tensões no ponto de curto é
zero. Nas demais barras n as tensões Vn podem ser determinadas a partir da tensão
pré-falta na barra k e utilizando-se das impedâncias de transferência Znk da matriz
impedância de barra, da seguinte forma:

𝑍𝑛𝑘 𝑍𝑛𝑘
𝑉𝑛 = 𝑉𝑓 − 𝑉𝑓 ≈ 1 −
𝑍𝑘𝑘 𝑍𝑘𝑘
Esses cálculos serão aplicados ao caso de um de sistema simples como o
da Figura 6.6, utilizando reatâncias subtransitórias das máquinas.

Figura 6.6 - Exemplo de sistema simples para cálculo de curto circuito

82
Os diagramas de impedâncias e admitâncias resultam, conforme mostra a
Figura 6.7.

Figura 6.7 - Diagramas de impedâncias e admitâncias

A análise de uma falta trifásica, por exemplo, na barra 4 conduz aos


seguintes resultados:


0 𝑉1 −12,33 0,0 4,0 5,0
0 𝑉2∆ 0,0 −8,3 2,5 5,0
[ 0 ] = 𝒀𝑩 𝒀𝑩 = 𝑗 [ ]
𝑉3∆ 4,0 2,5 −15,3 8,0
−𝐼"𝑓 [−𝑉 ] 5,0 5,0 8,0 −18,0
𝑓

𝑉1∆ 0 0,149 0,065 0,086 0,098


∆ 0
𝑉2 0,065 0,155 0,080 0,097
= 𝒁 𝑩 [ 0 ] 𝒁𝑩 = 𝑗 [ ]
𝑉3∆ 0,086 0,080 0,134 0,106
[−𝑉𝑓 ] −𝐼𝑓 0,098 0,097 0,106 0,157

Tem-se para as correntes e tensões de curto circuito, em pu:

𝑉𝑓 1
𝐼"𝑓 = = = −𝑗6,34
𝑍44 𝑗0,157
𝑍14 0,098
𝑉1∆ = −𝐼"𝑓 𝑍14 = − 𝑉 𝑉1 = 𝑉𝑓 + 𝑉1∆ = 1 − = 0,376
𝑍44 𝑓 0,157

𝑍24 0,097
𝑉2∆ = −𝐼"𝑓 𝑍34 = − 𝑉𝑓 𝑉2 = 𝑉𝑓 + 𝑉2∆ = 1 − = 0,383
𝑍44 0,157

𝑍34 0,106
𝑉3∆ = −𝐼"𝑓 𝑍34 = − 𝑉𝑓 𝑉3 = 𝑉𝑓 + 𝑉3∆ = 1 − = 0,324
𝑍44 0,157

83
Potência e Corrente de Curto Circuito

Define-se como potência de curto circuito Pcc (ou Sk) na barra como o
produto da tensão nominal pela corrente de curto circuito na barra. Essa potência
é necessária para a definição da capacidade dos disjuntores usados na proteção
do sistema. No sistema trifásico, tem-se:

𝑃𝑐𝑐 = √3𝑉𝑛 𝐼𝑐𝑐

Normalmente os cálculos são feitos em pu. Quando a tensão nominal é


expressa em kV e a corrente de curto circuito em kA, resulta a potência de curto
circuito em MVA.

Por exemplo, se num sistema uma barra de Vn = 69 kV apresenta uma


corrente de curto circuito trifásico de Icc = 2000 A, tem-se que a potência de curto
circuito é Pcc = Sk = 239 MVA.

No equivalente monofásico, tendo-se a tensão nominal de linha em V a


corrente de curto circuito em A e potência de curto circuito em VA, a reatância
resulta em Ω por fase, dada pela expressão:

𝑉 𝑉2
𝑋𝑡ℎ = =
√3𝐼𝑐𝑐 𝑃𝑐𝑐
Em termos de tensão em kV e potência de curto circuito em MVA, tem-se em
Ω:
(𝑘𝑉)2
𝑋𝑡ℎ =
(𝑀𝑉𝐴𝑐𝑐 )
Por exemplo, no sistema acima em que a barra de Vn = 69 kV apresenta uma
potência de curto circuito Pcc = Sk = 239 MVA tem-se que a reatância equivalente
na barra é Xth = 19,92 Ω.

Se, noutro exemplo, uma barra de Vn = 13,8 kV apresenta uma reatância Xth
= 25 Ω, tem-se que Pcc = Sk = 7,62 MVA e Icc = 318 A.

Em pu na base SB = 100 MVA, tem-se:

𝑋𝑡ℎ 100 100


𝑋𝑝𝑢 = = 𝑋𝑡ℎ =
𝑋𝐵 (𝑘𝑉)2 (𝑀𝑉𝐴𝑐𝑐 )

84
(𝑀𝑉𝐴𝑐𝑐 ) 1
= 𝑃𝑐𝑐(𝑝𝑢) =
100 𝑋𝑝𝑢
Isto é: “a potência de curto circuito em pu é igual ao inverso da reatância em
pu”.

Por outro lado, tem-se:


100 100 𝐼𝐵
𝑋𝑝𝑢 = = =
(𝑀𝑉𝐴𝑐𝑐 ) √3𝑉𝐵 𝐼𝑐𝑐 𝐼𝑐𝑐
𝐼𝑐𝑐 1
= 𝐼𝑐𝑐(𝑝𝑢) =
𝐼𝐵 𝑋𝑝𝑢
Isto é: “a corrente de curto circuito em pu é igual ao inverso da reatância em
pu e, portanto, igual à potência de curto circuito em pu”.

Por exemplo, se uma barra de Vn = 69 kV apresente X = 0,5 pu, base 100


MVA, tem-se Pcc = Icc = 2,0 pu, ou Pcc = 200 MVA e Icc = 1673 A.

85
7. CURTOS CIRCUITOS ASSÍMÉTRICOS

A análise das faltas assimétricas, ou curtos circuitos assimétricos, envolvem


as componentes simétricas, os cálculos das tensões e correntes, a potência em
termos de componentes simétricas, as impedâncias de sequências e as redes de
sequência. Serão vistos os curtos circuitos fase-terra e os curtos circuitos fase-fase.

Componentes Simétricas

O teorema de Fortescue (1918) estabelece “que um conjunto desequilibrado


de n fasores correlacionados pode ser decomposto em conjuntos de fasores
equilibrados denominados componentes simétricas dos fasores originais”.

Aplicado ao sistema trifásico os fasores, tensão ou corrente, em condições


de desequilíbrio, podem ser decompostos em três conjuntos equilibrados de
componentes simétricas, sendo:

a) Um conjunto de componentes de sequência positiva, consistindo de


fasores de módulos iguais e defasados de 120 0, com a mesma sequência de fase
dos fasores originais;

b) Um conjunto de componentes de sequência negativa, consistindo de


fasores de módulos iguais e defasados de 1200, com a sequência de fase oposta à
dos fasores originais;

c) Um conjunto de componentes de sequência zero, consistindo de fasores


de módulos iguais e em fase.

Considerando as tensões das fases como Va, Vb, Vc e os conjuntos de


componentes simétricas Va1, Va2 e Va0 para a fase a, Vb1, Vb2 e Vb0 para a fase b e
Vc1, Vc2 e Vc0 para a fase c, tem-se as relações:

𝑉𝑎 = 𝑉𝑎1 +𝑉𝑎2 + 𝑉𝑎0

𝑉𝑏 = 𝑉𝑏1 +𝑉𝑏2 + 𝑉𝑏0

𝑉𝑐 = 𝑉𝑐1 +𝑉𝑐2 + 𝑉𝑐0

86
A Figura 7.1 mostra uma representação gráfica dos fasores componentes
simétricas das tensões.

Figura 7.1 - Representação das componentes simétricas


As componentes podem ser apresentadas utilizando o operador a, definido
como:
2𝜋
𝑎 = ∠1200 = 𝑒 𝑗 3 = ⁡ −05 + 𝑗0,866
Tem-se, então, para as fases b e c, em relação à fase a, as seguintes
relações:
𝑉𝑏1 = 𝑎2 𝑉𝑎1 𝑉𝑏2 = 𝑎𝑉𝑎2 𝑉𝑏0 = 𝑉𝑎0
𝑉𝑐1 = 𝑎𝑉𝑎1 𝑉𝑏2 = 𝑎2 𝑉𝑎2 𝑉𝑐0 = 𝑉𝑎0
As tensões de fases em termos das componentes simétricas ficam:
𝑉𝑎 = 𝑉𝑎1 +𝑉𝑎2 + 𝑉𝑎0
𝑉𝑏 = 𝑎2 𝑉𝑎1 + 𝑎𝑉𝑎1 + 𝑉𝑎0
𝑉𝑐 = 𝑎𝑉𝑎1 + 𝑎2 𝑉𝑎1 + 𝑉𝑐0
Na forma matricial, tem-se:
𝑉𝑎 1 1 1 𝑉𝑎0 𝑉𝑎 𝑉𝑎1
[𝑉𝑏 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] [𝑉𝑎1 ] [𝑉𝑏 ] = 𝐴 [𝑉𝑎2 ]
𝑉𝑐 1 𝑎 𝑎2 𝑉𝑎2 𝑉𝑐 𝑉𝑎0
𝑉𝑎1 1 1 1 𝑉𝑎 𝑉𝑎1 𝑉𝑎
−1
[𝑉𝑎2 ] = [1 𝑎 𝑎2 ] [𝑉𝑏 ] [𝑉𝑎2 ] = 𝐴 [𝑉𝑏 ]
𝑉𝑎0 1 𝑎2 𝑎 𝑉𝑐 𝑉𝑎0 𝑉𝑐
1 1 1 1 1 1
−1 1
𝐴 = [1 𝑎 2 𝑎] 𝐴 = [1 𝑎 𝑎2 ]
3
1 𝑎 𝑎2 1 𝑎2 𝑎
As expressões para as componentes de tensão para a fase a resultam em:

87
1
𝑉𝑎0 = (𝑉𝑎 +𝑉𝑏 + 𝑉𝑐 )
3
1
𝑉𝑎1 = (𝑉𝑎 + 𝑎𝑉𝑏 + 𝑎2 𝑉𝑐 )
3
1
𝑉𝑎2 = (𝑉𝑎 + 𝑎2 𝑉𝑏 + 𝑎𝑉𝑐 )
3
Expressões semelhantes a essas componentes podem ser estabelecidas
para as fases b e c.
As expressões correspondentes às correntes das fases em relação às
componentes símétricas resultam em:
𝐼𝑎 = 𝐼𝑎1 +𝐼𝑎2 + 𝐼𝑎0

𝐼𝑏 = 𝐼𝑏1 +𝐼𝑏2 + 𝐼𝑏0

𝐼𝑐 = 𝐼𝑐1 +𝐼𝑐2 + 𝐼𝑐0

As expressões correspondentes às componentes das correntes em relação


às correntes de fase resultam em:
1
𝐼𝑎0 = (𝐼𝑎 +𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 )
3
1
𝐼𝑎1 = (𝐼𝑎 + 𝑎𝐼𝑏 + 𝑎2 𝐼𝑐 )
3
1
𝐼𝑎2 = (𝐼𝑎 + 𝑎2 𝐼𝑏 + 𝑎𝐼𝑐 )
3
Expressões semelhantes a essas componentes podem ser estabelecidas
para as fases b e c.
No sistema trifásico um desequilíbrio de corrente apresenta correntes
distintas nas três fases, em módulo ou em fase. A soma dessas correntes fica
diferente de zero e circula pelo neutro, resultando em:

𝐼𝑎 +𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 = 𝐼𝑛

Em termos das componentes simétricas a corrente de neutro fica:


𝐼𝑛 = 3𝐼𝑎0
Ou seja, “a corrente no neutro é três vezes a corrente de sequência zero”.
No caso de não haver neutro, como numa conexão delta (ou triângulo), a

88
componente de sequência zero é nula, resultando no sistema apenas as
componentes de sequências positiva e negativa. No entanto, pode haver circulação
de corrente de sequência zero internamente na conexão delta.

Numa conexão estrela sem o neutro o impedimento da circulação da


corrente de sequência zero pelo sistema reforça os desequilíbrios de tensão, com
efeitos prejudiciais.

A potência elétrica é normalmente expressa em função das tensões e


correntes de fase ou de linha. Considerando as tensões de fase e correntes de
linha, tem-se:

𝑰∗𝒂 𝑽𝒂 𝑻 𝑰∗𝒂
𝑺 = 𝑽𝒂 𝑰∗𝒂 + 𝑽𝒃 𝑰∗𝒃 + 𝑽𝒄 𝑰∗𝒄 = [𝑽𝒂 𝑽𝒃 𝑽𝒄 ] [𝑰∗𝒃 ] = [𝑽𝒃 ] [𝑰∗𝒃 ]
𝑰∗𝒄 𝑽𝒄 𝑰∗𝒄

Em termos das componentes simétricas podem ser obtidos os seguintes


resultados:

𝑻 ∗ ∗
𝑽𝒂𝟎 𝑰𝒂𝟎 𝑽𝒂𝟎 𝑻 𝑰𝒂𝟎
𝑻 ∗
𝑺 = [𝑨 [𝑽𝒂𝟏 ]] [𝑨 [𝑰𝒂𝟏 ]] = [𝑽𝒂𝟏 ] 𝑨 𝑨 [[𝑰𝒂𝟏 ]]
𝑽𝒂𝟐 𝑰𝒂𝟐 𝑽𝒂𝟐 𝑰𝒂𝟐

Tem-se como resultado

𝑺 = 𝟑(𝑽𝟎 𝑰∗𝟎 + 𝑽𝟏 𝑰∗𝟏 + 𝑽𝟐 𝑰∗𝟐 )

Ou seja, a expressão da potência em termos das componentes simétricas é


semelhante à expressão da potência em termos das componentes de fases, com
um fator igual a 3.

Impedâncias Série Assimétricas

As componentes simétricas foram definidas para os fasores tensões e


correntes. As impedâncias podem ter uma expressão em componentes simétricas
que derivam das componentes das tensões e correntes.

A Figura 7.2 mostra um trecho de uma linha de transmissão em que estão


indicadas as fases a, b e c, as impedâncias Za, Zb e Zc as correntes Ia, Ib e Ic

89
resultando no trecho as tensões, ou diferença de potenciais, Vaa’, Vbb’ e Vcc’. As
impedâncias mútuas não estão sendo consideradas.

Figura 7.2 - Trecho de uma linha de transmissão com as impedâncias série

Tem-se para as diferenças de tensões no trecho:

𝑽𝒂𝒂′ = 𝒁𝒂 𝑰𝒂 𝑽𝒃𝒃′ = 𝒁𝒃 𝑰𝒃 𝑽𝒄𝒄′ = 𝒁𝒄 𝑰𝒄

𝑽𝒂𝒂′ 𝒁𝒂 𝟎 𝟎 𝑰𝒂
[𝑽𝒃𝒃′ ] = [ 𝟎 𝒁𝒃 𝟎 ] [𝑰𝒃 ]
𝑽𝒄𝒄′ 𝟎 𝟎 𝒁𝒄 𝑰𝒄

Utilizando as componentes simétricas das tensões e correntes, tem-se:

𝑽𝒂𝒂′𝟎 𝒁𝒂 𝟎 𝟎 𝑰𝒂𝟎 𝒁𝒂 𝟎 𝟎
𝑨 [𝑽𝒃𝒃′𝟎 ] = [ 𝟎 𝒁𝒃 𝟎 ] 𝑨 [𝑰𝒃𝟎 ] 𝒁𝒂𝒃𝒄 =[𝟎 𝒁𝒃 𝟎]
𝑽𝒄𝒄′𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝒄 𝑰𝒄𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝒄

𝑽𝒂𝒂′𝟎 𝒁𝒂 𝟎 𝟎 𝑰𝒂𝟎
−𝟏
[𝑽𝒃𝒃′𝟎 ] = 𝑨 [ 𝟎 𝒁𝒃 𝟎 ] 𝑨 [𝑰𝒃𝟎 ] 𝒁𝟎𝟏𝟐 =
𝑽𝒄𝒄′𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝒄 𝑰𝒄𝟎
𝒁𝒂 𝟎 𝟎
−𝟏 𝟎 ] 𝑨 = 𝑨−𝟏 𝒁𝒂𝒃𝒄 𝑨
𝑨 [𝟎 𝒁𝒃
𝟎 𝟎 𝒁𝒄

Desenvolvendo os cálculos, considerando que as impedâncias normalmente


são iguais nas três fases, isto é, Za = Zb = Zc = Zp, chamada de impedância própria,
tem-se:

𝑽𝒂𝒂′𝟎 𝒁𝒂 𝟎 𝟎 𝑰𝒂𝟎
[𝑽𝒃𝒃′𝟎 ] = [ 𝟎 𝒁𝒃 𝟎 ] [𝑰𝒃𝟎 ] 𝒁𝟎𝟏𝟐 = 𝒁𝒂𝒃𝒄
𝑽𝒄𝒄′𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝒄 𝑰𝒄𝟎

𝑽𝒂𝒂′𝟎 = 𝒁𝒑 𝑰𝒂𝟎 𝑽𝒃𝒃′𝟎 = 𝒁𝒑 𝑰𝒃𝟎 𝑽𝒄𝒄′𝟎 = 𝒁𝒑 𝑰𝒄𝟎

90
Isto significa que as componentes simétricas das quedas de tensão em cada
fase da linha são provocadas apenas pelas componentes simétricas das correntes
da sequência correspondente.

Observa-se que no caso de se considerar impedância mútua entre as fases


Zab = Zbc = Zca = Zm, tem-se:

𝒁𝒂𝒂 𝒁𝒂𝒃 𝒁𝒂𝒄 𝒁𝒑 𝒁𝒎 𝒁𝒎


𝒁𝒂𝒃𝒄 = [𝒁𝒃𝒂 𝒁𝒃𝒃 𝒁𝒃𝒄 ] = [𝒁𝒎 𝒁𝒑 𝒁𝒎 ]
𝒁𝒄𝒂 𝒁𝒄𝒃 𝒁𝒄𝒄 𝒁𝒎 𝒁𝒎 𝒁𝒑

𝒁𝟎𝟎 𝒁𝟎𝟏 𝒁𝟎𝟐


𝒁𝟎𝟏𝟐 = [𝒁𝟏𝟎 𝒁𝟏𝟏 𝒁𝟏𝟐 ] = 𝑨−𝟏 𝒁𝒂𝒃𝒄 𝑨
𝒁𝟐𝟎 𝒁𝟐𝟏 𝒁𝟐𝟐

Daí resulta que:

𝒁𝒑 + 𝟐𝒁𝒎 𝟎 𝟎
𝒁𝟎𝟏𝟐 =[ 𝟎 𝒁 𝒑 − 𝒁𝒎 𝟎 ]
𝟎 𝟎 𝒁𝒑 − 𝒁𝒎

Tem-se, então, para as componentes simétricas relativas às impedâncias de


sequência zero, positiva e negativa:

𝒁𝟎 = 𝒁𝟎 = 𝒁𝒑 + 𝟐𝒁𝒎
𝒁𝟏 = 𝒁𝟏𝟏 = 𝒁𝒑 − 𝒁𝒎
𝒁𝟐 = 𝒁𝟐𝟐 = 𝒁𝒑 − 𝒁𝒎
Estes resultados significam que em componentes simétricas o sistema fica
desacoplado, isto é, há relação direta entre cada componente de tensão com a
componente de corrente através da correspondente impedância de sequência. A
impedância mútua aumenta a de sequência zero e diminui as de sequência positiva
e negativa, que são iguais. Quando não se considera a impedância mútua as três
impedâncias são iguais.

Impedâncias e Redes de Sequências

No sistema equilibrado são representadas as impedâncias por fase nos


geradores, nas linhas e nos transformadores. Quando há desequilíbrio a
representação é com as componentes de sequência zero, positiva e negativa.

91
A Figura 7.3 mostra um gerador com as indicações das tensões, das
correntes e das reatâncias.

Figura 7.3 – Diagrama de um circuito de um gerador

Em condições de equilíbrio só há grandezas de sequência positiva; em


desequilíbrio há sequência negativa que apresenta torque em sentido oposto ao de
sequência positiva. A corrente de sequência zero flui pelo neutro, resultando numa
reatância de sequência zero três vezes a reatância normal do neutro.

As relações entre as tensões, correntes e impedâncias de sequência são:

𝑽𝒂𝟏 −𝑬𝒂
𝑽𝒂𝟏 = 𝑬𝒂 − 𝒁𝟏 𝑰𝒂𝟏 𝒁𝟏 =
𝑰𝒂𝟏

−𝑽𝒂𝟐
𝑽𝒂𝟐 = −𝒁𝟐 𝑰𝒂𝟐 𝒁𝟐 =
𝑰𝒂𝟏

−𝑽𝒂𝟎
𝑽𝒂𝟎 = −𝒁𝟎 𝑰𝒂𝟎 𝒁𝟎 = = 𝟑𝒁𝒏 + 𝒁𝒈𝟎
𝑰𝒂𝟎

Os diagramas de sequências equivalentes para o gerador podem ser


representados, conforme mostram as Figuras 7.4 a 7.6. As redes de sequência para
o sistema são obtidas conectando os diagramas correspondentes aos diversos
componentes:

Figura 7.4 - Redes de sequência positiva

92
Figura 7.4 - Redes de sequência negativa

Figura 7.4 - Redes de sequência zero

No caso dos transformadores a rede de sequência depende do tipo de


conexão, em estrela ou delta. A Figura 7.5 mostra as possibilidades da conexão
estrela: sem neutro, com neutro diretamente aterrado e com neutro aterrado através
de uma reatância, os diagramas de impedância correspondente.

Figura 7.5 - Conexão estrela e diagrama de sequência zero

. A figura 7.6 mostra a conexão delta com o diagrama de sequência zero.

Figura 7.6 - Conexão delta e diagrama de sequência zero

93
Curto Circuito Fase -Terra

A análise dos faltas assimétricas no sistema pode ser entendida utilizando-


se dos càlculos dos curtos circuitos nos terminais do gerador.

A Figura 7.7 mostra o diagrama de um gerador com um curto circuito na


fase a.

Figura 7.7 - Diagrama de um gerador com um curto circuito na fase a.

Tem-se que:
𝑉𝑎 = 0 𝐼𝑏 = 0 𝐼𝑏 = 0

As equações na condição do curto são:

𝑽𝒂𝟎 𝟎 𝒁𝟎 𝟎 𝟎 𝑰𝒂𝟎
[𝑽𝒂𝟏 ] = [𝑬𝒂 ] − [ 𝟎 𝒁𝟏 𝟎 ] [𝑰𝒂𝟏 ]
𝑽𝒂𝟐 𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝟐 𝑰𝒂𝟐

𝑰𝒂𝟎 1 1 12 1 𝐼𝑎
[𝑰𝒂𝟏 ] = [1 𝑎 𝑎 ][0]
3
𝑰𝒂𝟐 1 𝑎 𝑎2 0
Desenvolvento essas equações tem-se como resultado principal o valor da
corrente de curto cicuito na fase a, dado pelas expressões:
𝐸𝑎 3𝐸𝑎
𝐼𝑎1 = 𝐼𝑎 = 3𝐼𝑎1 =
𝒁𝟏 +𝒁𝟐 +𝒁𝟎 𝒁𝟏 +𝒁𝟐 +𝒁𝟎

Obtem-se tambem as expressões para as tensões nas fases b e c, cujos


valores são iguais. Desprezando-se as resistências, tem-se (em módulos):

√3(𝑋22 + 𝑋02 + 𝑋2 𝑋0 )
𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 =
𝑋1 + 𝑋2 + 𝑋0

94
A rede de sequência correspondente é mostrada na Figura 7.8. Observa-se
que as três impedâncias de sequência estão em série e a corrente de sequência
positiva é a mesma nas três impedâncias

Figura 7.8 - Rede de sequência para o curto fase - terra

Por exemplo, dados Z1 = Z2 = 0,1 pu e Z0 = 0,2 pu, tem-se com Ea = 1,0 pu:
3𝐸𝑎 3
𝐼𝑎 = = = 7,5⁡𝑝𝑢⁡
𝒁𝟏 +𝒁𝟐 +𝒁𝟎 0,1+0,1+0,2

⁡𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 = 1,14⁡𝑝𝑢

Nesse exemplo, caso Z0 = 0,1 pu, valor igual a Z1 e Z2, tem-se que o valor da
corrente de curto circuito fase terra fica igual ao valor da corrente de curto circuito
trifásico. Tem-se:
3𝐸𝑎 3
Curto monofásico: 𝐼𝑎 = = = 10⁡𝑝𝑢
𝒁𝟏 +𝒁𝟐 +𝒁𝟎 0,1+0,1+0,1

𝐸𝑎 1
Curto trifásico: ⁡𝐼𝑎 = = = 10⁡𝑝𝑢
𝒁𝟏 0,1

Curto Circuito Fase-Fase

A Figura 7.8 mostra o diagrama de um gerador com um curto circuito entre


as fases b e c.

95
Figura 7.8 - Diagrama de um gerador com um curto circuito entre as fases b e c

Tem-se que:

𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 𝐼𝑎 = 0 𝐼𝑏 = −𝐼𝑐

As equações na condição do curto são:

𝑽𝒂𝟎 𝟎 𝒁𝟎 𝟎 𝟎 𝑰𝒂𝟎 1 1 12 1 𝑽𝒂
[𝑽𝒂𝟏 ] = [𝑬𝒂 ] − [ 𝟎 𝒁𝟏 𝟎 ] [𝑰𝒂𝟏 ] = [1 𝑎 𝑎 ] [ 𝑽𝒃 ]
3
𝑽𝒂𝟐 𝟎 𝟎 𝟎 𝒁𝟐 𝑰𝒂𝟐 1 𝑎 𝑎 2 𝑽𝒃

𝑰𝒂𝟎 1 1 1 1 0
[𝑰𝒂𝟏 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] [−𝑰𝒄 ]
3
𝑰𝒂𝟐 1 𝑎 𝑎 2 𝑰𝒄

Desenvovento essas equações tem-se como resultados principais:

𝑽𝒂𝟎 = 𝟎 𝑰𝒂𝟎 = 𝟎

𝐸𝑎 −𝑗 √3𝐸𝑎
⁡𝐼𝑎1 = −𝐼𝑎2 = 𝐼𝑏 = −𝐼𝑐 =
𝒁𝟏 +𝒁𝟐 𝒁𝟏 +𝒁𝟐

Desprezando-se as resistências, as tensões resultam (em módulos):

𝑋2 2𝑋2
𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 = = 0,5⁡pu 𝑉𝑎 = = 1⁡𝑝𝑢
𝑋1 +𝑋2 𝑋1 +𝑋2

A rede de sequência correspondente é mostrada na Figura 7.9.

Figura 7.9 - Rede de sequência para o curto fase fase

96
Observa-se que as impedâncias de sequência positiva e negativa estão em
série e a corrente de sequência positiva é a mesma nas duas impedâncias.

Por exemplo, sendo dados Z1 = Z2 = 0,1 pu, tem-se:

−𝑗√3𝐸𝑎 −𝑗√3
𝐼𝑏 = −𝐼𝑐 = = = −𝑗8,66⁡𝑝𝑢
𝒁𝟏 +𝒁𝟐 0,1 + 0,1

No caso do curto circuito fase fase envolver a terra, tem-se as condições:

𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 = 0 𝐼𝑎 = 0 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 = 𝐼𝑛

Podem ser obtidos os seguintes resultados:

𝑉𝑎
𝑉𝑎1 = 𝑉𝑎2 = 𝑉𝑎0 =
3
𝐸𝑎 𝑉𝑎 𝑉𝑎
𝐼𝑎1 = 𝒁 𝒁 𝐼𝑎2 = − 𝐼𝑎0 = −
𝒁𝟏 + 𝟐 𝟎 𝟑𝒁𝟐 𝟑𝒁𝟎
𝒁𝟐 +𝒁𝟎

A rede de sequência correspondente é mostrada na Figura 7.10. Observa-


se que as impedâncias de sequência positiva está em série com o paralelo das
reatâncias negativa e zero.

Figura 7.10 - Rede de sequência para o curto fase - fase e terra

Faltas assimétricas no sistema

As faltas assimétricas no sistema podem ser analisadas de forma


semelhante ao visto para o caso do gerador acrescentando-se as impedâncias de
todos os componentes e, portanto, as impedâncias de sequência totais até o ponto
de falta. Utiliza-se a tensão pré-falta Vf no ponto de ocorrência do curto em vez da
tensão no gerador.

A Figura 7.11 mostra diagramas de sistemas indicando os caso para curto


circuito fase-terra, fase-fase e fase-fase-terra:

97
Figura 7.11 - Diagramas de sistemas para faltas fase-terra, fase-fase e fase-fase-terra

A Figura 7.12 mostra o diagrama unifilar de um sistema simples constituído


de três geradores, dois transformadores e uma linha de transmissão, indicando um
ponto P onde na ocorrência de faltas poderão ser determinadas as correntes de
curtos circuitos.

Figura 7.12 - Diagrama unifilar de um sistema simples

Admitindo-se conhecidas as reatâncias dos componentes, desprezando-se


as resistências, podem ser estabelecidos os diagramas ou redes de sequência
positiva, negativa e zero, para a análise dos curtos circuitos fase-terra, fase-fase e
fase-fase-terra.

As Figuras 7.13 a 7.15 mostram esses diagramas e os equivalentes no ponto


de falta P.

Figuras 7.13 - Diagrama e equivalente de sequência positiva

98
Figuras 7.14 - Diagrama e equivalente de sequência positiva

Figuras 7.15 - Diagrama e equivalente de sequência positiva

A partir desses diagramas e dos resultados encontrados anteriormente para


faltas nos terminais de um gerador, de forma semelhante podem ser encontrados
os valores das correntes e tensões, por sequência e por fase para o sistema,
apenas substituindo o valor de Eg por Vf, que normalmente assumem o mesmo
valor de 1,0 pu.

Alguns dos resultados são apresentados, conforme segue.

Curto circuito fase-terra:


𝑉𝑓
𝐼𝑎1 = 𝐼𝑎2 = 𝐼𝑎0 = 𝐼𝑎 = 3𝐼𝑎1
𝑍1 +𝑍2 +𝑍0

Curto circuito fase-fase:


𝑉𝑓
𝐼𝑎1 = 𝑉𝑎1 = 𝑉𝑎2
𝑍1 +𝑍2

Curto circuito fase-fase-terra:


𝑉𝑓
𝐼𝑎1 = 𝑍 𝑍 𝑉𝑎1 = 𝑉𝑎2 = ⁡ 𝑉𝑎0
𝑍1 + 2 0
𝑍2 +𝑍0

No caso de uma falta envolver uma impedância entre a fase e a terra ou


entre fases, os resultados são alterados, basicamente com inclusão dessa
impedância nas impedâncias de sequência, conforme segue.

A Figura 7.16 mostra a representação do sistema com a impedância de falta


nos curtos circuitos trifásicos e entre fases. Nesses casos a impedância de

99
sequência positiva Z1 fica somada à impedância de falta Zf, isto é, em vez de Z1
tem-se Z1 +Zf.

Figura 7.16 - Sistema com a impedância de falta nos curtos trifásicos e entre fases

A Figura 7.17 mostra a representação do sistema com a impedância de falta


nos curtos circuitos fase-terra e entre fase-fase-terra. Nesses casos a impedância
de sequência zero Zo fica somada a três vezes a impedância de falta Zf, isto é, em
vez de Z0 tem-se Z0 +3Zf.

Figura 7.17 - Sistema com a impedância de falta nos curtos trifásicos e entre fases

100
8. TÓPICOS COMPLEMENTARES

8.1 - Introdução à Proteção dos Sistemas

Este item tem a finalidade de mostrar, de forma muito resumida, os aspectos


básicos e introdutórios sobre a proteção, em complemento aos assuntos
apresentados sobre os sistemas de potência.

A ocorrência de sobretensões e de faltas nos sistemas de potência


determinam a necessidade de uma adequada proteção, visando manter a
continuidade do fornecimento de energia aos consumidores e a segurança dos
equipamentos e das pessoas e animais.

As sobretensões no sistema decorrrem de descargas atmosféricas nas


linhas e subestações, das manobras ou chaveamentos e das faltas assimétricas
como curtos circuitos e abertura de fases. As sobrecorrentes aparecem nas faltas
simétricas e assimétricas, como nos curtos circuitos, e em condições de
sobrecarga.

Como propósito básico o sistems de proteção, alem de garantir a


continuidade e a segurança do sistema, deve procurar definir as condições de
seletividade e coordenação para que as interrupções decorrentes das faltas atinjam
o menor número possível de consumidores e que o tempo de interrupção seja
mínimo.

Um sistema de proteção conta com três elementos essenciais, que são os


disjuntores, os transdutores e os relés.

Os disjuntores são os equipamentos que promovem a bertura do circuito em


falta. Os transdutores são os transformadores de tensão e de corrente que
possibilitam a redução dos valores de tensão e de corrente para uso no sistema de
proteção e medição. Os relés são os elementos sensíveis às alterações de tenão e
corrente e transmitem o ssinais para os disjuntores.

A Figura 8.1 mostra o esquema de um sistema de potência com a indicação


do sistema de proteção.

101
Figura 8.1 - Esquema de um sistema de potência com o sistema de proteção

No sistema de potência a proteção é promovida para cada equipamento,


partes dos sistema ou do sistema como um todo. As proteções referem-se,
portanto, a proteção de geradores, proteção de transformadores, proteção de
barramento, proteção de linhas de transmissão e proteção de linhas de
distribuição.

Cada equipamento de proteção exerce uma função que protege uma


determinada parte do sistema, chamada de zona de proteção. Cada parte do
sistema normalmente é protegido por mais de um equipamento, havendo
intersecção ou superposição de zonas, para maior confiabilidade.

A Figura 8.2 mostra o esquema de um sistema de potência com a indicação


das zonas de proteção.

Figura 8.2 - Esquema de um sistema de potência com as zonas de proteção


Nesse sistema a zona 1 abrange o gerador e o transformador elevador, a
zona 2 o barramento da subestação elevadora e a saída de linha, a zona 3 a linha
de transmissão, a zona 4 abrange o barramento da subestação abaixadora e a zona
5 o transformador abaixador e a linha derivada.
Há alguns tipos de proteção que são associadas aos diferente tipos de relés.
Dessa forma, são discriminadas os seguintes tipos:
• Proteção não direcional;
• Proteção direcional;

102
• Proteção de distância;
• Proteção direcional;
• Proteção com fio piloto.

Cada um desses tipos de proteção são adequados para cada finalidade


especíca ou para cado tipo de componente do sistema. Essas proteções são
analisadas em cursos voltados para a proteção dos sistemas elétricos.

Como uma ilustração relativa às proteções a Figura 8.3 mostra uma curva
característica de um relé temporizado de sobrecorrente.

Figura 8.3 – Exemplo de curva característica de um relé temporizado de sobrecorrente .

8.2 - Introdução à Estabilidade dos Sistemas

Este item tem a finalidade de mostrar, de forma muito resumida, os aspectos


básicos e introdutórios sobre a estabilidade, em complemento aos assuntos
apresentados sobre os sistemas de potência.

A estabilidade dos sistemas de potência é uma propriedade que o sistema


apresenta em que as máquinas síncronas respondam a distúrbios, ou

103
perturbações, a partir de uma condição normal de operação, retornando novamente
a uma condição normal de operação.

Em função dos tipos de distúrbios a estabilidade pode ser classificada como:


estabilidade permanente, estabilidade dinâmica e estabilidade transitória.

A estabilidade permanente é a situação em que o sistema mantém a


estabilidade quando ocorrem mudanças lentas ou graduais nas condições de
operação. Com o aumento progressivo das cargas, por exemplo, um gerador
síncrono do sistema vai se ajustando, permanecendo estável, até que o ângulo de
carga δ alcance 900, tornando-se instável a partir daí.

A estabilidade dinâmica é a situação em que o sistema mantém a


estabilidade quando ocorrem mudanças pequenas nas condições de operação.
Com essas alterações a estabilidade pode ser mantida através da atuação dos
reguladores de tensão dos geradores e, às vezes, dos reguladores de velocidade.
Os geradores síncronos vão se ajustando dinamicamente para manter o sistema
estável. No entanto, dependendo da configuração do sistema, das variações e das
ações dos controles, a sistema pode se tornar instável.

A estabilidade transitória é a situação em que o sistema mantém a


estabilidade mesmo quando ocorrem grandes mudanças nas condições de
operação, com alterações de cargas de grande porte, chaveamentos de circuitos,
ocorrência de curtos circuitos etc. Com essas alterações a estabilidade pode ser
mantida através da atuação adequada do sistema de proteção e da atuação dos
reguladores. No entanto, há situações em que o sistema pode se tornar instável
nessa condição transitória.

Dinâmica do Rotor e Equação de Oscilação

Os problemas de estabilidade do sistema estão relacionados com o


comportamento dos rotores das máquinas síncronas e, portanto, da dinâmica do
rotor através da equação de oscilação:

𝑑 2 𝜃𝑚
𝐽 2 = 𝑇𝑎 = 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒
𝑑 𝑡
Sendo:

J = momento de inércia total das massas do rotor, em kg.m;

104
θm= deslocamento angular do rotor em relação a um eixo estacionário, em
rad mecânicos;
t = tempo, em seg;
Tm = torque do eixo ou torque mecânico suprido pela máquina primária
menos o torque de retardo devido às perdas rotacionais, em N.m;
Te = torque elétrico ou eletromagnético resultante, em N.m;
Ta = torque de aceleração resultante, em N.m;
S = potência da máquina, em MVA;
P = potência mecânica;
M = JM = momento angular do rotor, em joule.seg/rad ou W; na velocidade
síncrona ωsm M é chamado de momento de inércia da máquina
H = energia cinética / potência nominal da máquina, em MJ/MVA

Com alguns desenvolvimentos, tem-se para a equação de oscilação:

𝑑𝜃𝑚 𝛿𝑚 𝑑 2 𝜃𝑚 𝑑 2 𝛿𝑚
𝜃𝑚 = 𝜔𝑛 𝑡 + 𝛿𝑚 = 𝜔𝑛 + =
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑2𝑡 𝑑2𝑡

𝑑 2 𝛿𝑚
𝐽 = 𝑇𝑎 = 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒
𝑑2𝑡

𝑑 2 𝛿𝑚
𝐽𝜔 = 𝑃𝑎 = 𝑃𝑚 − 𝑃𝑒 𝑃 = 𝜔𝑇
𝑑2𝑡

𝑑 2 𝛿𝑚
𝑀 = 𝑇𝑎 = 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒 𝑀 = 𝐽𝜔
𝑑2𝑡

1
2𝐻 𝑑 2 𝛿𝑚 𝐽𝜔𝑠𝑚
= 𝑇𝑎 = 𝑇𝑚 − 𝑇𝑒 ⁡⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑝𝑢 𝐻= 2
⁡⁡⁡⁡⁡⁡𝑀𝑗/𝑀𝑉𝐴
𝜔𝑠 𝑑 2 𝑡 𝑆

Equação do Ângulo de Potência

A Figura 8.4mostra um circuito equivalente de uma máquina síncrona e o


diagrama fasorial para estudo da estabilidade transitória.

Figura 8.4 - Circuito equivalente de uma máquina síncrona e o diagrama fasorial

105
A Figura 8.5 mostra um diagrama esquemático de uma rede de transmissão
para estudo da estabilidade transitória.

Figura 8.5 - Diagrama esquemático de uma rede de transmissão

Para uma rede apenas com reatância X ou admitância Y entre duas barras
1 e 2, com as tensões transitórias E’1 e E’2, a equação do ângulo de potência é dada
por:

𝐸1′ 𝐸2′ 1
𝑃𝑒 = 𝑃𝑚 𝑠𝑒𝑛𝛿 𝑃𝑚 = 𝑌12 𝐸1′ 𝐸2′ = 𝑌12 =
𝑋 𝑋

A Figura 8.6 mostra um gráfico com curvas resultantes de um estudo de


estabilidade transitória em uma rede de transmissão.

Figura 8.6 – Potência x ângulo curvas resultantes de um estudo de estabilidade transitória

Aplicações em Computadores
Os estudos sobre estabilidade são bastante trabalhosos, requerendo
necessariamente o emprego de simulações em computadores. Esses estudos
podem ser realizados, por exemplo, na versão acadêmica do Programa
Powerworld.

106
A Figura 8.7 mostra um sistema simples com três geradores, três
transformadores e seis linhas para utilização em um estudo de estabilidade
transitória.

Exemplo: Sistema com 3 máquinas

Figura 8.7 - Sistema simples para estudo de estabilidade transitória

As figuras seguintes mostram gráficos de resultados obtidos através do


Programa Powerworld. São mostradas para um intervalo de 10 seg, com uma
ocorrência brusca no instante 1 seg, as curvas da corrente de campo, da tensão de
campo, da tensão terminal e dos ângulos de rotores.

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REFERÊNCIAS

[1] Aguiar, L. B. Um Estudo de Colapso de Tensão em Linhas de Transmissão de


Energia Utilizando as Constantes Generalizadas e Gráficos Tensão X Potência e
Diagramas Hiperbólicos. Dissertação de Mestrado, UFBA, maio 2011.

[2] Stevenson Jr., W. D. Elementos de Análise de Sistemas de Potência. McGraw


Hill, 2a Ed. 1986.

[3] Camargo, C. C. B. Transmissão de Energia Elétrica – Aspectos Fundamentais.


Editora da UFSC, 2a Ed. 1991.

[4] Zanetta Jr., L. C. Fundamentos de Sistemas Elétricos de Potência. Editora


Livraria da Física, 2006.

[5] Elgerd, O. Electric Energy System Theory - An Introduction. McGraw Hill, 1971.

[6] Fuchs, R. D. Transmissão de Energia Elétrica – Linhas Aéreas. Livros Técnicos


e Científicos Editora, 2aEd. 1979.

[7] Fuchs, R. D; Almeida, M. T. Projetos Mecânicos das Linhas Aéreas de


Transmissão, Editora Edgard Blucher Ltda., 1982.

[8] Plano Decenal de Expansão de Energia 2027 - EPE.

[9] Westinghouse Electric Corporation. Electrical Transmission and Distribution


Reference Book - Pittsburgh, 1964.

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ANEXOS

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