Aula 11

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Curso: Administração Conteudista: Carlos Cova

Disciplina: GESTÃO AMBIENTAL

11ª AULA – A ecoeficiência e a Responsabilidade


Social

META
Apresentar a importância da ecoeficiência para a gestão sustentável.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1. caracterizar a ecoeficiência como instrumento de sustentabilidade.


2. reconhecer a importância da Responsabilidade Social nas empresas;
3. identificar as conexões entre ecoeficiência e Responsabilidade Social
para viabilizar a sustentabilidade.

PRÉ-REQUISITOS
Para melhor aproveitamento desta aula, é importante a revisão da Aula 6,
sobre o significado de Política Ambiental; e da Aula 5, sobre os instrumentos
de comando e controle.
INTRODUÇÃO
Atualmente, a prática das ações de Responsabilidade Social está cada
vez mais sendo adotada. Isto ocorre porque existe uma grande preocupação
por parte das empresas em atuar de forma responsável perante a sociedade
e, dessa forma, conseguir criar uma imagem positiva e favorável.
Além desse aspecto relativo à imagem, há uma questão que diz
respeito a uma espécie de culpa, porque o processo de produção das
empresas, de um modo geral, acarreta danos ao meio ambiente. Dessa
forma, a ação de Responsabilidade Social, por meio de uma postura
ecoeficiente, tem também o objetivo de reduzir os impactos no meio
ambiente.
Acredito que você deve estar querendo saber o significado desses
termos, não é mesmo?
Uma definição de Responsabilidade Social bastante esclarecedora
pode ser encontrada em Bateman (1998, p. 147). De acordo com esse autor,
a Responsabilidade Social da empresa é uma extensão do papel empresarial
além de seus objetivos econômicos. Nesse sentido, os autores que
concordam com esse ponto de vista argumentam que as organizações têm
amplo espectro de responsabilidades que vai além da produção de bens e
serviços para obter lucro. Como entidades inseridas na sociedade, as
organizações deveriam participar ativa e responsavelmente na comunidade e
no ambiente mais amplo.
O mesmo autor afirma que outros pensadores argumentam que as
ações socialmente responsáveis podem apresentar vantagens a longo prazo
para as organizações. Por exemplo, as organizações podem melhorar a sua
imagem e evitar uma regulamentação desnecessária e cara, se forem
percebidas como socialmente responsáveis. Além disso, muitos dos
problemas sociais existentes hoje, como o lixo e os esgotos, podem oferecer
oportunidades de negócios (o lixo reciclado pode ser aproveitado e o esgoto
pode gerar gás), de forma que bons lucros podem ser obtidos com esforços
vigorosos e sistemáticos para resolver esses problemas.
Porém, devemos, antes, compreender o que pode ser feito no âmbito do uso
dos recursos e das matérias-primas, bem como das emissões de efluentes que
poluem o ar, a água e a terra. Veremos que é dessa questão que trata a

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ecoeficiência, ou seja, ela se preocupa com o uso eficiente dos recursos nas
empresas, bem como com o destino final dos efluentes gerados nas suas
atividades produtivas.

A IMPORTÂNCIA DA ECOEFICIÊNCIA PARA A SUSTENTABILIDADE


Neste tópico, apresentaremos as noções relativas ao conceito de
ecoeficiência. Conforme ensina Almeida (2002, p. 101), ecoeficiência
representa uma filosofia ou modelo de gestão empresarial que incorpora a
gestão ambiental, ou seja, a empresa, ao praticar ações ecoeficientes, está
em sintonia com os preceitos de preocupação com o meio ambiente. Essa
atitude pode ser considerada uma forma de responsabilidade ambiental
corporativa, pois encoraja as empresas de qualquer setor, porte e localização
geográfica a se tornarem mais competitivas, inovadoras e ambientalmente
responsáveis.
Ainda de acordo com Almeida (2002, p.82), empresas de qualquer
tamanho devem se comprometer com a ecoeficiência, mobilizando as suas
capacidades empreendedoras e criativas, de tal forma que sejam
descobertos novos meios para a produção de bens e serviços, que, por sua
vez, gerem mais qualidade de vida para mais gente, com menos consumo de
recursos naturais.
Buscar a ecoeficiência é, portanto, um processo de melhoria contínua.
Mais do que um destino a ser alcançado, a ecoeficiência é um caminho a ser
percorrido. Para ser ecoeficiente, a empresa precisa, sobretudo, conhecer o
sistema natural em que opera. Uma importante contribuição das ciências que
estudam os sistemas naturais, para a gestão empresarial que visa à
ecoeficiência, é a noção de resiliência, ou seja, o fato de que existem limites
à capacidade de um sistema de resistir a impactos.
Um outro interessante comentário feito por Almeida diz respeito ao
fato de que a natureza não é tão efêmera que se desagregue a qualquer
impacto, nem tão resistente que possa absorver impactos indefinidamente.
Para a empresa, ignorar a resiliência (ou seja, a capacidade de retorno ao
ponto original após uma ação no sentido oposto) dos sistemas em que opera,
e nos quais interfere, é um risco mortal.

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Como exemplo dessas posturas, é possível citar a capacidade do
agronegócio em produzir mais alimentos com menos desertificação, ou
mesmo conseguir que as empresas que consomem combustíveis fósseis
sejam capazes de emitir menos carbono para a geração de energia. A figura
a seguir apresenta algumas possibilidades de comportamento ecoeficiente.

MEB/2005

Figura 11.1: Verificamos que o correto manejo dos resíduos pode gerar uma série de
aplicações úteis para a sociedade. Tal procedimento constitui um exemplo de
comportamento ecoeficiente.
Fonte:MGhttp://www.almg.gov.br/eventos/Seminariolixo/Palestras/Maeli%20Estrela%20Borg
es/SEMINARIO%20LEGISLATIVO%20LIXO%20E%20CIDADANIA.ppt#313,33,Slide

Vinha (2003, p.177) afirma que a forma pela qual uma empresa pode
alcançar a ecoeficiência, segundo o WBCSD (World Bussines Council for
Sustainable Development), consiste em atuar fornecendo bens e serviços a
preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam

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qualidade de vida, ao mesmo tempo em que reduzem progressivamente o
impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida
daqueles bens e serviços a um nível que seja, no mínimo, equivalente à
capacidade de sustentação estimada de suas fontes naturais.
Esta afirmação descreve uma visão de negócio voltada para a
produção de bens e serviços que possuam valor econômico enquanto
reduzem os impactos ecológicos da produção. Em outras palavras,
ecoeficiência significa mais lucratividade com menos degradação ambiental.
A ecoeficiência, conforme é perseguida hoje por empresários de
muitos países, está baseada em três pilares: econômico, ambiental e social.
Uma empresa ou um processo, para ser válido dentro dos conceitos sociais
atuais, deve ser economicamente rentável, ambientalmente compatível e
socialmente justo. Cumprindo estes três pilares, estarão sendo ecoeficientes
e criando as condições básicas para a sua permanência no mercado.
Essas considerações derivam do conceito de produção limpa, que faz
com que as matérias-primas sejam melhor utilizadas, ou seja, atuem de
forma que o processo produtivo seja otimizado. Dessa forma, têm-se um
aumento da produção e uma diminuição dos resíduos, o que traz um imediato
resultado financeiro para a empresa. No primeiro caso, temos o benefício
econômico. O benefício ambiental é decorrente da diminuição do volume de
resíduos. A produção mais limpa aumenta a eficiência das empresas e a
competitividade dos produtos.
Agindo dessa forma, as empresas promovem o melhor tipo de
conciliação dos seus processos produtivos com a oferta dos recursos naturais
do planeta. É a racionalização do uso de energia, de água e de todas as
matérias-primas usadas pelos diversos setores de produção.
A ecoeficiência engloba algumas ações, tais como: a prevenção da
poluição, a redução na fonte, a redução de resíduos, a minimização de
resíduos e a produção limpa, traduzindo a ideia de redução da poluição
através de mudanças no processo. A ecoeficiência pressupõe que as
companhias podem melhorar sua performance ambiental e, simultaneamente,
economizar dinheiro através da redução do uso de vários insumos no seu
processo produtivo.

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No Brasil, conforme assinala Almeida (2002, p. 67), este conceito vem
ganhando força a partir da criação do CEBDS, Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, que congrega grandes
corporações e tem como missão promover o desenvolvimento sustentável no
meio empresarial através do conceito de ecoeficiência. O CEBDS apresenta
as seguintes vantagens da ecoeficência, conforme registra o mesmo autor:

(i) Redução de custos devido à otimização do uso de recursos e em razão da


redução de capital destinado à infraestrutura.

(ii) Minimizar o dano ambiental reduz riscos e responsabilidades derivadas.

(iii) Condições ótimas de segurança e saúde ocupacional.

(iv) Maior eficiência e competitividade, já que favorece a inovação.

(v) Melhoria da imagem e aumento da confiança das partes interessadas.

(vi) Melhor relacionamento com os órgãos ambientais, com a comunidade do


retorno e a mídia.

Para ser ecoeficiente, a empresa precisa, antes de tudo, conhecer o


sistema natural em que opera e saber os limites e a capacidade de um
sistema de resistir a impactos.
De um modo geral, seria possível resumir a missão do CEBDS como
sendo a busca de respostas para a seguinte indagação: Como os
empresários brasileiros podem se adaptar e contribuir para o novo paradigma
da sustentabilidade? Este Conselho congrega cerca de sessenta grandes
grupos empresariais, tanto da área privada, quanto da área estatal, que são
responsáveis por 450 unidades produtivas, localizadas por todo o território
brasileiro e que geram mais de quinhentos mil empregos diretos.
A ação do CEBDS não está limitada às grandes corporações. Este
Conselho também desenvolve ou fomenta programas e projetos destinados a
repassar aos pequenos e médios empresários conhecimentos e práticas
sustentáveis já adotados pelas grandes empresas.

No site do CEBDS, é possível encontrar a visão desta instituição


acerca do significado do termo “ecoeficiência”, reforçando o que já foi
apresentado nesta aula.

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Entre no site http://www.cebds.org.br/cebds/ e conheça o trabalho deles.
Observe as associações entre as práticas de ecoeficiência e as ações
sugeridas por aquela entidade.

Com base na visão do CEBDS, pode-se dizer que ecoeficiência é a


capacidade de saber combinar desempenho econômico e ambiental,
reduzindo impactos ambientais, usando mais racionalmente matérias-primas,
reduzindo os riscos de acidentes e melhorando a relação da organização com
as partes interessadas. O quadro a seguir apresenta os elementos da
ecoeficiência, de acordo com o CEBDS:
Quadro 11.1 – Elementos da Ecoeficência.

ELEMENTOS DA ECOEFICIÊNCIA
1 - Reduzir o consumo de materiais com
bens e serviços.
2 - Reduzir o consumo de energia com bens
e serviços.
3 - Reduzir a dispersão de substancia
tóxicas.
4 - Intensificar a reciclagem de materiais.
5 - Maximizar o uso sustentável de recursos
renováveis.
6 - Prolongar a durabilidade dos produtos.
7 - Agregar valor aos bens e serviços.

Fonte: ALMEIDA (2002). Adaptado pelo autor.


A conhecida declaração de Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada
se perde, tudo se transforma”, é retomada pelas empresas sustentáveis
quando buscam fechar os ciclos de produção. Todos os organismos que
compõem um ecossistema produzem detritos, assim como os seres humanos
e as empresas. Mas, na natureza, o que é detrito para uma espécie é
alimento para outra, ou seja, ela está sempre se reciclando. O mesmo deve
acontecer com as empresas que querem ser sustentáveis: estabelecer
sistemas de produção cujo objetivo final é gerar zero resíduo, ou melhor,
cada material eliminado deve ser devolvido à natureza como nutriente da
mesma sem agredir o seu ecossistema ou se tornar uma nova matéria-prima

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para a fabricação de outro produto. Fechar o ciclo de produção do modo
como a natureza faz deve ser um ideal constantemente perseguido pelas
empresas que querem se tornar ecoeficientes.
Nesse sentido, Barbieri (2007, p. 146) lembra que a implementação de
modelos inspirados na natureza necessita de uma grande reestruturação dos
sistemas produtivos de um grupo de empresas com forte articulação, de
maneira que os resíduos de uma unidade produtiva sejam usados por outra,
numa analogia com os ciclos bioquímicos de um ecossistema, no qual todos
os resíduos de uma forma ou de outra acabam sendo assimilados.
Assim, podemos acreditar que gerir atividades de forma sustentável,
atendendo às expectativas de acionistas, colaboradores e sociedade, é,
atualmente, o diferencial das grandes empresas. Os ganhos de eficiência nas
áreas operacional e financeira são significativos quando uma política voltada
para o desenvolvimento sustentável é implementada. No conceito de gestão
da sustentabilidade, estão incluídos desde o gerenciamento de resíduos
sólidos, efluentes domésticos, industriais e emissões atmosféricas até
questões que envolvem a saúde do trabalhador.
Ao tomar conhecimento dessas importantes questões, é preciso que
reflitamos acerca do nosso papel como gestores de organizações,
entendendo que o alcance de nossas ações extrapola os muros da empresa,
e que devemos ter a responsabilidade de conduzi-la sem agredir o meio
ambiente.

ATIVIDADE 1
Atende ao Objetivo 1
No dia 11 de novembro de 2008, o jornal Gazeta Mercantil publicou a
seguinte entrevista:

“Sustentabilidade e a geração de empregos


Lester Brown mostra como as mudanças climáticas podem ajudar a economia

Como resultado do aquecimento global e da necessidade de atingir as metas


de redução das emissões de carbono, as empresas e países terão que desenvolver
tecnologias mais limpas. E isso pressupõe a existência de profissionais preparados
para desenvolver soluções sustentáveis, que proporcionem não só ganhos
econômicos, mas também ambientais e sociais. Baseando-se nessa perspectiva,

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Lester Brown, um dos pensadores mais importantes da sustentabilidade, aponta que
as mudanças climáticas podem gerar milhões de empregos em todo o mundo,
evitando assim o declínio da economia.
Brown não é o único a ter essa convicção. Um estudo recente realizado pelo
Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep) – o primeiro a tratar da
questão dos postos de trabalho na transição para uma sociedade mais sustentável –
também revela o impacto que a ascendente economia verde pode gerar na mão-de-
obra global.
De acordo com o Green Job towards decent work in a sustainable, low-
carbon world (Emprego Verde para o trabalho decente em um mundo sustentável de
baixo carbono), as mudanças climáticas têm tudo para gerar milhões de empregos
se houver um investimento estratégico por parte de corporações e governos em todo
o mundo. O setor de energia eólica e solar, por exemplo, dispõe de potencial para
gerar mais de oito milhões de postos de trabalho nas próximas duas décadas,
segundo estimativas da Unep. Diante desse quadro, novas funções serão criadas e
outras até mesmo perderão relevância, o que levará à extinção de alguns cargos
dissonantes com a nova economia sustentável.
O relatório da Unep também destaca a importância dos países em
desenvolvimento nesse processo e como as mudanças climáticas estão afetando
milhares de trabalhadores e famílias que têm na agricultura e no turismo sua fonte
de renda. Além de oportunidades, o Green Job enfatiza também os riscos: diversos
empregos em novas áreas, como na reciclagem, estão longe de serem considerados
decentes e é necessário um empenho global para repensar uma economia menos
desigual. Segundo o documento, líderes globais não deveriam buscar o “conserto”
do modelo econômico atual, mas sim as possibilidades oferecidas por modelos
alternativos. São justamente essas possibilidades o atual objeto de reflexão de
Brown. (...)”

A partir da análise do trecho anterior, avalie a importância da ecoeficiência


para a nova tendência relatada por Lester Brown acerca do desenvolvimento
de tecnologias mais limpas. Você acha que as empresas estão diante de um
desafio insuperável, em termos da continuidade de suas atividades,
considerando o atual quadro de mudanças climáticas?

Resposta comentada
Vimos em nossa aula que uma empresa ou um processo, buscando a
ecoeficiência, deve ser economicamente rentável, ambientalmente
compatível e socialmente justo. Nesse sentido, considerando que a
ecoeficiência consiste em atuar fornecendo bens e serviços a preços
competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade
de vida, ao mesmo tempo em que reduzem progressivamente o impacto
ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida daqueles bens
e serviços, a um nível que seja equivalente à capacidade de sustentação
estimada de suas fontes naturais, a sua introdução no ambiente de negócios

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se alinha perfeitamente com a proposição arguida por Lester Brown. Não é,
em absoluto, um desafio insuperável, pois o texto assinala que múltiplas
oportunidades surgirão, tais como a geração de empregos (as mudanças
climáticas têm tudo para gerar milhões de empregos se houver um investimento
estratégico por parte de corporações e governos em todo o mundo. O setor de
energia eólica e solar, por exemplo, dispõe de potencial para gerar mais de oito
milhões de postos de trabalho nas próximas duas décadas).

AS RELAÇÕES ENTRE A ECOEFICIÊNCIA E A RESPONSABILIDADE


SOCIAL
Há uma forte relação entre a ecoeficiência e a Responsabilidade
Social. De acordo com Certo et alii (2005, p. 262), define-se a
Responsabilidade Social como sendo o grau em que os administradores de
uma empresa realizam atividades que protegem e melhoram a sociedade na
qual ela está inserida, ao mesmo tempo em que buscam atender aos
interesses econômicos e técnicos da organização. Destaca-se que o
exercício da Responsabilidade Social também pode se manifestar em ações
que ajudem a sociedade, ainda que não contribuam diretamente para
aumentar a lucratividade da empresa. Existem duas visões acerca da
responsabilidade social, segundo esses autores: uma visão clássica e outra
contemporânea.
Sob o ponto de vista clássico, o papel dos administradores consiste
em produzir e comercializar bens serviços com eficiência, de tal maneira que
os proprietários da empresa obtenham o mais alto lucro econômico.
Sob o ponto de vista contemporâneo, as empresas, como importantes
e influentes membros da sociedade, são responsáveis por ajudar a manter e
aumentar o bem-estar da sociedade como um todo, e não só apenas para
atender os acionistas. Segundo Keith Davis apud Certo (2005, p.263), este
ponto de vista pode ser assim resumido:
(i) A responsabilidade social surge como um poder social, baseando-se na
premissa de que as empresas têm influência ou poder sobre questões sociais
críticas, tais como empregos para minorias e poluição ambiental.

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(ii) As empresas devem operar como um sistema de mão dupla, com
recebimento aberto de informações da sociedade e divulgação também
aberta de informações acerca de suas operações com o público.
(iii) Tanto os custos quanto os benefícios sociais de uma atividade, produto
ou serviço devem ser completamente calculados e considerados.
(iv) Os custos sociais relativos a cada atividade, produto ou serviço devem
ser transferidos para os consumidores, ou seja, não se pode esperar que as
empresas arquem com todo o ônus.
(v) Tal como os cidadãos, as instituições de negócios têm a responsabilidade
de se envolver em certos problemas sociais que estejam fora de suas áreas
normais de operação.

Reforçando esta visão, é possível verificar a declaração do Instituto


Ethos, reconhecida como uma das associações que valoriza e conhece a
responsabilidade social, que a define como uma forma de conduzir os
negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsável
pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela
que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes
(acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores,
consumidores, comunidade, governo e meio ambiente), conseguindo
incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às
demandas de todos e não apenas àquelas exclusivas dos acionistas ou
proprietários.

Entre no site do Instituto Ethos (http://www.ethos.org.br) e conheça o trabalho


deles.

Contudo, não podemos confundir Responsabilidade Social com


filantropia. A filantropia é, basicamente, uma ação social externa da empresa,
tendo como beneficiário principal a comunidade em suas diversas formas e
organização. A responsabilidade social foca a cadeia de negócios da
empresa e engloba as preocupações com um público maior – desde os
acionistas até a comunidade na qual está inserida – cujas demandas e
necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus

101
negócios. Assim, a responsabilidade social trata diretamente dos negócios da
empresa e de como ela os conduz.
Um dos grandes desafios empresariais com o qual os gestores se
defrontam nas organizações é a melhoria da produtividade de sua mão de
obra para melhor atender aos clientes, que são bastante voláteis nas suas
escolhas, em função da pressão exercida pelos concorrentes em seu
mercado de atuação. Os consumidores estão mais conscientes da
importância de preservar o meio ambiente e tendem a preferir empresas com
atuação responsável. Os colaboradores das empresas devem possuir
qualificações que permitam a manifestação de atitudes socialmente
responsáveis em suas empresas.
Dessa forma, tais ganhos de produtividade empresarial, para serem
consistentes, devem dar-se de forma compatível com a preservação das
questões ambientais e da responsabilidade social. Assim, a gestão ambiental
e a responsabilidade social tornam-se importantes instrumentos gerenciais
para a capacitação e criação de condições de competitividade para as
organizações, qualquer que seja o seu segmento econômico.
Uma interessante abordagem pode ser encontrada no texto de
Almeida (2002, p.62), onde ele sugere uma nova ideia de poder. Um poder
dividido em três polos: o governo, a empresa e a sociedade, ou seja, um
mundo tripolar. Partindo-se do pressuposto de que toda e qualquer
organização existe em função de necessidades sociais e depende de manter
um bom relacionamento com a sociedade para desenvolver-se, pode-se
verificar a importância da incorporação dessa perspectiva de poder pelas
organizações, deflagrando o surgimento de um novo paradigma de
integração de economia, ambiente e sociedade. Dessa forma, torna-se mais
fácil entender o termo “Responsabilidade Social”. A figura a seguir apresenta
alguns aspectos motivacionais da Responsabilidade Social nas empresas.

102
MOTIVAÇÃO PARA GESTÃO AMBIENTAL

Senso de
responsabilidade 1 8 Lucro
ecológica

Exigências legais 2 Qualidade de


7
vida

Proteção dos
interesses da 3 6 Pressão do
empresa mercado

Imagem 4
Proteção dos
5
funcionários

Figura 11.1: Aspectos que motivam as empresas a serem socialmente responsáveis.

A preocupação com as questões ambientais e de Responsabilidade


Social faz com que as novas organizações dos novos tempos escolham
fornecedores que atendam a seus requisitos éticos e que atestem que os
insumos produtivos contratados atendam a seus requisitos ambientais,
predefinidos em sua política corporativa. Ou seja, a gestão de uma
organização avança para o âmbito interno das empresas parceiras
(contratação de fornecedores), ultrapassando, assim, as fronteiras
organizacionais tradicionais.
Em face das mutantes e crescentes expectativas de clientes, de
fornecedores, do pessoal interno e dos gestores, tudo leva a crer que a empresa do
futuro tem de agir de forma responsável nos seus relacionamentos internos e
externos. Os novos tempos caracterizam-se por uma rígida postura dos clientes,
voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa
imagem institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente
responsável. Por isso, é relevante destacar que a ética é base da responsabilidade
social e se expressa através de princípios e valores adotados pela organização.
Não há responsabilidade social sem ética nos negócios. Não adianta
uma empresa pagar mal seus funcionários, corromper a área de compras de
seus clientes, pagar propinas aos fiscais do governo e, por outro lado,
desenvolver programas junto a entidades sociais da comunidade ou implantar
um belíssimo programa de gestão ambiental. Essa postura não condiz com

103
uma empresa que quer trilhar um caminho de Responsabilidade Social. É
importante seguir uma linha de coerência entre ação e discurso e não
esquecer que a responsabilidade social é um processo que nunca se esgota.
Não dá para dizer que uma empresa chegou ao limite de sua
Responsabilidade Social, pois sempre há algo a se fazer. É um processo
educativo que evolui com o tempo.
Logo, não se deve entender a responsabilidade social como uma simples
jogada de marketing que vai alavancar a imagem da organização no curto prazo.
Gerenciar reputação é uma tarefa mais ampla do que utilizar recursos de marketing
para melhorar a imagem. Exige comprometimento de toda a empresa com os
valores humanos: ética, transparência, respeito ao meio ambiente e
responsabilidade social. O comprometimento, na realidade, precisa ser de toda a
cadeia produtiva da empresa e a melhora da imagem institucional será uma
consequência natural.
De acordo com Vinha (2003, p.174), cada vez mais as empresas
compreendem que o custo financeiro de reduzir o passivo ambiental e
administrar conflitos sociais pode ser mais alto do que o custo de “fazer a
coisa certa”, isto é, de respeitar os direitos humanos e o meio ambiente de
todos os povos, pois influenciam a percepção da opinião publica sobre
corporação, dificultando a implementação de novos projetos e a renovação
de contratos. Essa mudança de comportamento foi motivada por pressão da
sociedade, que se organizou para combater o desmatamento e a poluição, e
por restrições impostas pela legislação ambiental, mas terminou por
influenciar o mercado, alterando as bases tradicionais da concorrência.
Se o atendimento às normas ambientais representa um custo alto, seja
na elaboração dos estudos de impacto ambiental, seja em recursos de
compensação, os acidentes e os crimes ambientais provocam escândalos
corporativos que abalam a confiança dos investidores, consumidores e
acionistas, refletindo-se em queda de vendas e, consequentemente, em prejuízo
financeiro.
Representantes dos mais diversos setores empresariais esforçam-se
em demonstrar que os custos associados à administração do passivo
ambiental deixaram de ser vistos como um mal necessário para serem
encarados como parte integrante do negócio. Na linguagem corrente, esse

104
custo é um investimento porque abre caminho para a obtenção da “licença
social para operar”. Isso representa um importante passo, uma vez que
obrigou a empresa a reconhecer que não está sozinha e não tem autonomia
para decidir como e quando explorar os recursos de uma determinada região.

A empresa Natura é um exemplo de empresa brasileira que pratica a


responsabilidade social. Visite seu sítio na Internet!

O compromisso da Natura com a Responsabilidade Social


Fonte: http://scf.natura.net/Conteudo/Default.aspx?MenuStructure=5&MenuItem=2

Na era da globalização e da chamada sociedade da informação,


aumentou a importância dos ativos intangíveis (conjunto de recursos não
materiais, tais como o conhecimento e a reputação), os quais adquiriram
importância estratégica nos negócios. Esse novo padrão de manifestação dos
ativos nas empresas conduziu a uma inevitável revisão dos valores
empresariais tradicionais. Não obstante, este movimento surgiu sem
questionar muito o padrão tradicional de produção, uma vez que, na visão do
empresariado, o desenvolvimento sustentável é um projeto em construção e
de longa duração.
Conclui-se, portanto, que há uma estreita ligação entre a ideia de
ecoeficiência e as ações relativas à Responsabilidade Social nas empresas,
pois os sete elementos caracterizadores de ações ecoeficientes estão
completamente alinhados com os propósitos de atitudes socialmente
responsáveis praticadas pelas empresas que promovem a sustentabilidade.

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Não obstante, em que pese os fortes apelos morais que essas
premissas nos sugerem, existem críticas à atuação empresarial com foco na
Responsabilidade Social. De acordo com Bateman et alii (1998, p.147), os
críticos da Responsabilidade Social da empresa acreditam que essa
perspectiva excede os limites do que é apropriado e benéfico para a
organização e para a sociedade. Eles apoiam o ponto de vista de que os
administradores são responsáveis, primordialmente, pelos interesses dos
acionistas, que são os donos da empresa. A importância de outros públicos
interessados, tais como os empregados, os consumidores e a comunidade
local, depende de suas contribuições para a riqueza dos acionistas.
Apesar dessa polêmica, verifica-se que as organizações têm adotado
uma ampla gama de posturas para equilibrar o resultado econômico e a
Responsabilidade Social empresarial.
A prática da ação empresarial nos dias de hoje, conforme relatado em
Chiavenato et alii (2003, p. 325), demonstra que uma organização
socialmente responsável só tem a ganhar, trazendo resultados positivos para
a sociedade, e para ela mesma. A empresa precisa ter a cultura da
responsabilidade social incorporada ao seu pensamento. Desenvolver
programas sociais apenas para divulgar a empresa, ou como forma
compensatória, não traz resultados positivos sustentáveis ao longo do tempo.
Porém, para aquelas empresas que incorporarem os princípios e os
aplicarem corretamente, alguns resultados podem ser sentidos, como a
valorização da imagem institucional e da marca, maior lealdade do
consumidor, maior capacidade de recrutar e manter talentos, flexibilidade e
capacidade de adaptação e longevidade.
Com base nos mesmos autores, verifica-se que a Responsabilidade
Social significa o grau de obrigações que uma organização assume por meio
de ações que protejam e melhorem o bem-estar da sociedade à medida que
procura atingir seus próprios interesses. A Responsabilidade Social
representa a obrigação da organização de adotar políticas e assumir
decisões e ações que beneficiem a sociedade.
Em linhas gerais, uma organização socialmente responsável é aquela
que desempenha as seguintes obrigações:

106
(i) Incorporação dos objetivos em seus processos de planejamento
estratégico.
(ii) Aplicação de normas comparativas de outras organizações em seus
programas.
(iii) Apresentação de relatórios aos membros organizacionais e aos parceiros
sobre os progressos na sua responsabilidade social.
(iv) Experimentação de diferentes abordagens para medir o seu desempenho
social.
(v) Avaliação dos custos dos programas sociais e do retorno dos
investimentos em programas sociais.

Um importante detalhe merece destaque. Trata-se da noção de


stakeholder. Esta nova entidade conceitual representa um conjunto mais
amplo de agentes interessados e influenciados pelas ações da empresa.
A noção de stakeholder compreende não apenas os acionistas e
credores, mas também os fornecedores, os clientes, o governo e a
sociedade. Esta visão abrangente sobre a ideia de Stakeholder é muito
importante para consolidar a noção de Responsabilidade Social, porque, na
visão clássica, a empresa apenas tinha que atender aos interesses de seus
proprietários, o que é completamente diferente da ideia atual, que consiste
em atender aos interesses de todo o público influenciado por suas ações.
Neste tópico da aula, foram apresentados os conceitos relativos à
Responsabilidade Social e sua importância para os resultados das empresas,
bem como para o conjunto da sociedade. Verifica-se, com base nas fontes
pesquisadas, que Responsabilidade Social não é apenas mais um modismo.
Ela veio para ficar e para ser cada vez mais aperfeiçoada. Você, futuramente,
também deverá ser um gestor socialmente responsável. Pense nisso!

ATIVIDADE 2
Atende ao Objetivo 2
No dia 11 de novembro de 2008, o jornal Gazeta Mercantil publicou a
seguinte reportagem:

“O recado verde de Jeffrey Immelt

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É na crise que se destacam os líderes, as empresas líderes e as idéias
líderes. No último dia 6 de novembro, Jeffrey Immelt, CEO da General Eletric, deu
um recado importante para aqueles que estavam pensando em suspender
investimentos em sustentabilidade por causa do tsunami financeiro mundial. Em
palestra realizada na cidade de Nova York, disse a 1,2 mil convidados da Business
Social Responsability e do grupo brasileiro ABC, patrocinador do evento, que a crise
representa o fim de um ciclo e que o momento sugere reorganizar os modelos de
negócios, criando novas formas de atuação.
Nesse cenário – acredita – a prática da responsabilidade social em todos os
níveis da empresa constitui um diferencial competitivo estratégico valorizado por
consumidores, funcionários, acionistas e sociedade. “Investir nisso não é queimar
dinheiro, mas sim construir um meio estratégico para criar valor, gerar confiança e
reforçar a transparência. Em um futuro próximo, as empresas vão competir para ver
quem é mais responsável ou não.”
(...)
Em 2007, a empresa investiu US$ 1 bilhão na linha Ecoimagination,
turbinando as vendas para um patamar de US$ 14 bilhões, cerca de 10% do volume
global de vendas da GE. Os negócios verdes crescem três vezes mais rápido do que
a média dos demais produtos da empresa. (...)”

A partir da análise do trecho anterior, diga se as ações adotadas pela General


Eletric se alinham com as práticas de Responsabilidade Social da atualidade
e se existem evidências de que se trata de uma nova visão de mercado, ou
seja, os mercados realmente estão preferindo empresas socialmente
responsáveis?

Resposta comentada
Atualmente, há a influência das mutantes e crescentes expectativas de
clientes, de fornecedores, do pessoal interno e dos gestores, levando a crer
que a empresa do futuro tem de agir de forma responsável nos seus
relacionamentos internos e externos. Os novos tempos caracterizam-se por
uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com
organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado, e
que atuem de forma ecologicamente responsável.
De acordo com a matéria, a General Eletric estaria alinhada com as
premissas de Responsabilidade Social (a prática da responsabilidade social em
todos os níveis da empresa constitui um diferencial competitivo estratégico
valorizado por consumidores, funcionários, acionistas e sociedade. “Investir nisso
não é queimar dinheiro, mas sim construir um meio estratégico para criar valor, gerar
confiança e reforçar a transparência.). Podemos ainda inferir que os mercados
respaldam essa nova postura da empresa a partir da performance

108
evidenciada pela mesma (Em 2007, a empresa investiu US$ 1 bilhão na linha
Ecoimagination, turbinando as vendas para um patamar de US$ 14 bilhões, cerca de
10% do volume global de vendas da GE. Os negócios verdes crescem três vezes
mais rápido do que a média dos demais produtos da empresa).

A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL COMO RESULTADO DA


RESPONSABILIDADE SOCIAL E DA ECOEFICIÊNCIA
Há uma estreita ligação entre a sustentabilidade ambiental e a
Responsabilidade Social. Uma empresa socialmente responsável pratica a
ecoeficiência por meio de uma adequada gestão ambiental, ou seja, uma gestão
que atende às normas de controle de qualidade ambiental, tais como as normas
da série ISO 14 000, conforme pode ser verificado no texto de Tibor (1996, p.
20).

De acordo com Tibor (1996, p. 20), as normas ISO 14000 descrevem


os elementos básicos de um sistema de gestão ambiental eficaz, que é
conhecido pela sigla EMS (Environmental Mangement System), ou, conforme
é conhecido no Brasil, SGA (Sistema de Gestão Ambiental). Os seus
elementos incluem a criação de uma política ambiental, o estabelecimento de
objetivos e alvos, a implementação de um programa para alcançar estes
objetivos, o monitoramento e a medição de sua eficácia, a correção de
problemas e a análise e revisão do sistema para o seu constante
aperfeiçoamento, de tal forma que seja melhorado o desempenho ambiental
geral.

Por sua vez, segundo Almeida (2002, p. 78), a combinação de


ecoeficiência com a Responsabilidade Social gera a sustentabilidade, ou
seja, a garantia de perenidade do uso dos recursos naturais renováveis e o
mais eficiente emprego dos não renováveis.

Para ser sustentável, uma empresa ou empreendimento tem que


buscar, em todas as suas ações e decisões, em todos os seus processos e
produtos, incessante e permanentemente, a ecoeficiência, ou seja, tem que

109
produzir mais e melhor com menos: mais produtos de melhor qualidade com
menos poluição e menos uso dos recursos naturais.

A base do desenvolvimento sustentável é um sistema de mercados


abertos e competitivos em que os preços refletem com transparência todos
os custos, incluindo os ambientais. Se os preços são fixados
adequadamente, sem estarem, por exemplo, mascarados por subsídios e
políticas protecionistas, a competição estimula os produtores a usar o
mínimo de recursos, reduzindo o avanço sobre os sistemas naturais. O fato
de serem obrigadas a pagar pelo seu controle e pelo danos que causam ao
meio ambiente também estimula as empresas a minimizarem a poluição. E,
ainda, promove a criação de novas tecnologias para tornar a produção mais
eficiente do ponto de vista econômico e ambiental. Nesse sentido, podemos
entender que o desenvolvimento sustentável pode ser obtido a partir da
interação de três aspectos, conforme a figura a seguir:

Desenvolvimento
Econômico

Sustentabilidade

Gestão Responsabilidade
Ambiental Social

Figura 11.2: O tripé da sustentabilidade.


Fonte: www.acionista.com.br/mercado/sustentabilidade.ppt

110
A prática do desenvolvimento sustentável exige uma combinação
equilibrada dos mecanismos de comando e controle, autorregulação e
instrumento de mercado.

Comando e controle, conforme já vimos na Aula 5, são as


regulamentações governamentais, com padrões de desempenho definidos
para as tecnologias e produtos, emissão de efluentes, lançamento de rejeitos
e assim por diante.
Autorregulação são as iniciativas das empresas para regularem a si
mesmas, por meio de estabelecimento de padrões, monitoramento e metas
de redução de poluição. Um exemplo de autorregulação é a adesão a
sistemas de certificação, como as normas ISO.
Instrumentos econômicos são utilizados pelos governos para influir no
mercado. Compreendem impostos e encargos sobre poluição, preços
diferenciais para estimular/desestimular produtos ambientalmente
adequados/inadequados, entre outros.

Além disso, a democracia e a estabilidade política são condições


essenciais para o desenvolvimento sustentável. Sem democracia, não há
mercados abertos nem autorregulação, pois um ditador pode impor regras
arbitrárias ao povo. Sem estabilidade política, não há ambiente propício ao
livre funcionamento do mercado. A estabilidade política pressupõe o respeito
à lei e a busca permanente de equidade social, com a reversão do atual
quadro de concentração de renda, tanto em esfera local quanto global.
Outro requisito é a transparência das ações, em todos os níveis e de
todos os agentes sociais (governos, empresas e organizações da sociedade
civil). Transparência, conforme ensina Almeida (2002, p. 81), significa:
- Ausência de corrupção, pois a corrupção não é compatível com a
competição que sustenta um mercado livre saudável.
- ausência de subsídios, pela mesma razão.
- Previsibilidade das regulamentações governamentais, pois mudanças
bruscas nas regulamentações inibem a confiança dos empreendedores no
contexto regulador e intimidam os investidores.

111
- Para a empresa, transparência significa também ouvir e considerar em suas
decisões as opiniões e expectativas de todas as partes interessadas (os
stakeholders).
Dessa forma, o mesmo autor destaca alguns pontos-chave da
sustentabilidade nas empresas.
1° - A empresa que quiser ser sustentável deve incluir entre os seus
objetivos: o cuidado com o meio ambiente; o bem-estar dos stakeholders, ou
seja, de todos os atores que são afetados por suas ações; e a constante
melhoria de sua reputação.
2° - Os procedimentos das empresas devem levar em consideração os
custos futuros e não apenas os custos presentes, estimulando a busca
constante de ganhos de eficiência e o investimento em inovação tecnológica
e em gestão.
3° - As empresas devem estimular continuamente o treinamento e a
educação de seus colaboradores, além de buscar sempre novas formas de
diálogo e parceria com os stakeholders.
4° - Nas empresas sustentáveis, em todos os níveis hierárquicos,
começando pela alta administração, deve haver a preocupação com as
seguintes ações: informar, inovar, combater a miséria e gerenciar reputação.
Assim, fica evidenciada a importância da ecoeficiência e da
responsabilidade social para que uma empresa possa obter a
sustentabilidade no contexto das suas operações.

ATIVIDADE 3
Atende ao Objetivo 3

No dia 10 de novembro de 2008, o jornal Gazeta Mercantil publicou a


seguinte reportagem:
“Sustentabilidade pode ser um diferencial

Em tempos de crise no mercado financeiro global, algumas perguntas se


tornam recorrentes. Devemos fazer investimentos na gestão da sustentabilidade?
Como enfrentar os desafios das emissões de carbono? Quais devem ser as
prioridades? O que devemos buscar para garantir a perenidade das empresas?
A maioria destes questionamentos tem sido levantada pelos executivos que
enfrentam esse novo cenário internacional. Muitos estão direcionando seus esforços
na tentativa de retomar a confiança e a estabilidade de suas empresas. Neste

112
contexto, integrar a sustentabilidade ao core business da empresa (negócio
principal) tem sido a estratégia mais adequada. Mais do que em qualquer outra
época, a sustentabilidade tornou-se uma oportunidade para as empresas
alcançarem o equilíbrio de sua gestão, aliando rentabilidade a uma atuação
responsável em relação à sua governança corporativa, impactos sociais e
ambientais de suas atividades e ações (...).
A sustentabilidade não é mais vista como um programa que irá gerar apenas
custos. Não é mais somente uma ferramenta para a gestão de riscos, ou
conformidade com normas e padrões. Ela é encarada como um impulso para a
inovação e credibilidade. O mercado tem dado sinais de que o comportamento do
consumo está em transição. No futuro próximo, as empresas não estarão brigando,
em primeira instância, por preço, e sim por confiança. Passará a ser uma questão de
sobrevivência conseguir unir as três dimensões de um negócio: econômica, social e
ambiental. Isso, claro, sem que uma prevaleça sobre a outra (...).
O foco da sustentabilidade está se distanciando de uma simples publicação
de relatórios de sustentabilidade e está caminhando para um exercício mais
desafiador que consiste em identificar e estipular as prioridades para questões-
chave da empresa (...).
Os investimentos em sustentabilidade também estão gerando outras
conseqüências benéficas para a companhia, a retenção dos melhores talentos, que
é atualmente um dos maiores desafios de crescimento para as empresas. Com o
nome sólido no mercado, as empresas sustentáveis tornam-se foco de interesse de
jovens que associam a continuidade do negócio a longo prazo a uma grande
oportunidade de crescimento e valorização da carreira. (...)”

A partir da leitura do trecho anterior, verifique se a questão da


sustentabilidade seria ou não apenas um modismo passageiro, não
condizente com o momento de crise financeira que assolou o mercado no
final de 2008, tendo em vista que os gastos com as medidas de
sustentabilidade supostamente inviabilizariam o resultado financeiro num
momento como esse.

Resposta comentada
A partir da leitura do texto, verificamos perfeitamente que a sustentabilidade
não é apenas mais um modismo, mas sim uma característica das empresas
que veio para ficar. A crise financeira vai exigir, sim, mais competência e mais
criatividade (Mais do que em qualquer outra época, a sustentabilidade tornou-se
uma oportunidade para as empresas alcançarem o equilíbrio de sua gestão, aliando
rentabilidade a uma atuação responsável em relação à sua governança corporativa,
impactos sociais e ambientais de suas atividades e ações).
Além disso, ao contrário do que uma visão tradicionalista suporia, as
práticas sustentáveis não podem mais ser vistas apenas numa perspectiva
restritiva, pois elas transcendem e podem representar excelentes

113
oportunidades para as empresas que as praticam (A sustentabilidade não é
mais vista como um programa que irá gerar apenas custos. Não é mais somente
uma ferramenta para a gestão de riscos, ou conformidade com normas e padrões.
Ela é encarada como um impulso para a inovação e credibilidade).

CONCLUSÃO
As empresas da atualidade não podem mais ignorar as conexões
existentes entre as suas ações e os efeitos no meio ambiente e na
sociedade. Dessa forma, os empreendedores e gestores devem assumir
posturas que conciliem os seus próprios interesses com os interesses dos
demais atores sociais, os stakeholders, estejam eles dentro ou fora da
empresa.
Dessa forma, devem praticar ações ecoeficientes para garantir a
sustentabilidade, de forma a praticarem a Responsabilidade Social. O foco
permanente da moderna gestão deve ser a inovação, a educação continuada
de seus colaboradores, a preocupação com o meio ambiente e o combate à
degradação da dignidade humana.

ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1,2 e 3
As frases a seguir apresentam algumas situações do mundo atual.
Diga se a conduta ou o quadro descrito favorece ou não uma atuação
socialmente responsável por parte de um gestor:
a) Na Rússia, o Estado permite veladamente que o crime organizado atue em
uma série de atividades econômicas lícitas, praticamente monopolizando
essas atividades, numa relação promíscua entre os funcionários públicos
corruptos e os criminosos. A corrupção não é compatível com a competição
que sustenta um mercado livre saudável.
b) No Brasil, praticamente é editada uma nova norma tributária a cada dia, o
que faz com que os contadores das empresas fiquem desatualizados
rapidamente.
c) O cidadão europeu médio não consome produtos de empresas que
degradam o meio ambiente.

114
Resposta comentada
No caso da Rússia, o fato depõe contra a prática da Responsabilidade Social,
uma vez que a corrupção deve ser combatida por aqueles que promovem as
práticas socialmente responsáveis.
No caso do Brasil, o fato descrito contraria a lógica da Responsabilidade
Social, pois é necessário que exista uma estabilidade na regulamentação
governamental. Mudanças bruscas nas regulamentações inibem a confiança
dos empreendedores no contexto regulador e intimidam os investidores.
No caso da Europa, a conduta dos cidadãos obriga as empresas a
assumirem uma postura socialmente responsável, ou seja, favorece a
Responsabilidade Social.

RESUMO
Nesta aula, enfatizamos a importância da ecoeficiência, que
representa uma filosofia ou modelo de gestão empresarial que incorpora a
gestão ambiental, de tal forma que as empresas, ao praticarem ações
ecoeficientes, estão alinhadas com a preocupação das pessoas para com o
meio ambiente.
A ecoeficiência está baseada em três pilares: econômico, ambiental e
social. Uma empresa ou um processo, para ser válido dentro dos conceitos
sociais atuais, deve ser economicamente rentável, ambientalmente
compatível e socialmente justo. Cumprindo estes três pilares, elas estarão
sendo ecoeficientes e criando as condições básicas para a sua permanência
no mercado. A ecoeficiência engloba ferramentas tais como a prevenção da
poluição, a redução na fonte, a redução de resíduos, a minimização de
resíduos e a produção limpa, traduzindo a ideia de redução da poluição
através de mudanças no processo.
Para ser ecoeficiente, uma empresa precisa, antes de tudo, conhecer o
sistema natural em que opera, saber os limites e a capacidade de um sistema
de resistir a impactos. No complexo das ações ecoeficientes está a
capacidade de saber combinar desempenho econômico e ambiental,
reduzindo impactos ambientais; usando mais racionalmente matérias-primas;
reduzindo os riscos de acidentes e melhorando a relação da organização com
as partes interessadas.

115
Procuramos destacar que um administrador, ao gerir atividades de
forma sustentável, atendendo às expectativas dos acionistas, colaboradores
e da sociedade, está praticando a Responsabilidade Social e isso é,
atualmente, o diferencial das grandes empresas. Os ganhos de eficiência nas
áreas operacional e financeira são significativos quando uma política voltada
para o desenvolvimento sustentável é implementada.
Também nesta aula verificamos que existe uma forte relação entre a
ecoeficiência e a Responsabilidade Social, em razão da atitude das empresas
em face das questões ambientais. A Responsabilidade Social representa o
grau em que os administradores de uma empresa realizam atividades que
protegem e melhoram a sociedade na qual ela está inserida, ao mesmo
tempo em que buscam atender aos interesses econômicos e técnicos da
organização.
Vimos também que, em que pese os fortes apelos morais que essas
premissas possuem, existem críticas à atuação empresarial com foco na
Responsabilidade Social. Os críticos da Responsabilidade Social da empresa
acreditam que essa perspectiva excede os limites do que é apropriado e
benéfico para a organização e para a sociedade.
A Responsabilidade Social significa o grau de obrigações que uma
organização assume por meio de ações que protejam e melhorem o bem-
estar da sociedade à medida que procura atingir seus próprios interesses.
Vimos que existe uma estreita ligação entre a sustentabilidade ambiental e a
Responsabilidade Social. Uma empresa socialmente responsável pratica a
ecoeficiência por meio de uma adequada gestão ambiental.
Para ser sustentável, uma empresa ou empreendimento tem que
buscar, em todas as suas ações e decisões, em todos os seus processos e
produtos, incessante e permanentemente, a ecoeficiência, ou seja, tem que
produzir mais e melhor com menos desgaste social e ambiental.
A base do desenvolvimento sustentável é um sistema de mercados
abertos e competitivos em que os preços refletem com transparência todos
os custos, incluindo os ambientais. Se os preços são fixados
adequadamente, sem estarem, por exemplo, distorcidos por meio de
subsídios e políticas protecionistas, a competição estimula os produtores a
usar o mínimo de recursos, reduzindo o avanço sobre os sistemas naturais.

116
A prática do desenvolvimento sustentável exige uma combinação
equilibrada dos mecanismos de comando e controle, autorregulação e
instrumento de mercado.
Por fim, destacamos que a democracia e a estabilidade política são
condições essenciais para o desenvolvimento sustentável. Sem democracia,
não há mercados abertos nem autorregulação, pois um ditador pode impor
regras ao povo. Sem estabilidade política, não há ambiente propício ao livre
funcionamento do mercado. A estabilidade política pressupõe o respeito à lei
e a busca permanente de equidade social, com a reversão do atual quadro de
concentração de renda, tanto em esfera local quanto global.

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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2002.

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e


instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2007.

BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A. Administração: construindo


vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1998.

CEBDS. Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento


Sustentável. Disponível em: <lhttp://www.cebds.org.br/cebds/>. Acesso em:
04 ago. 2009.

CERTO, Samuel C.; PETER, J.P. Administração estratégica. 2. .ed. Rio de


Janeiro: Pearson Education, 2005.

CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Arão. Planejamento estratégico. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2003.

MAY, Peter H. et al. Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de


Janeiro: Elsevier, 2003.

TIBOR, Tom. ISO 14.000: um guia para as normas de gestão ambiental. São
Paulo: Futura, 1996.

VINHA, Valéria da. As empresas e o desenvolvimento sustentável: da eco-


eficiência à responsabilidade social corporativa, In MAY, Peter H. et al.
Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

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