Psicopatologia
Psicopatologia
Psicopatologia
1ª Edição
Indaial - 2022
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
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Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
C397
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Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO.............................................................................5
CAPÍTULO 1
Introdução à Psicopatologia........................................................ 7
CAPÍTULO 2
A Psicopatologia Sob um Olhar Psicanalítico: Diálogo com as
Estruturas Psíquicas.................................................................. 49
CAPÍTULO 3
Diagnóstico e Estratégias de Cuidado no Campo da Psicopa-
tologia: Limites e Novas Perspectivas...................................... 89
APRESENTAÇÃO
Olá, aluno!
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A fim de organizar o percurso das discussões, o capítulo está dividido em três
seções. A primeira parte tratará brevemente do histórico da saúde mental, além dos
princípios gerais da psicopatologia, como critérios e concepções, de maneira a pro-
blematizar o que é compreendido como normal ou patológico, saúde ou doença.
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Todavia, isso não significa que o sofrimento não tenha mais lugar. Pelo contrário,
ele continua presente e se manifesta de diversas maneiras, sob diferentes fontes.
Nesse sentido, podemos nos questionar: qual o lugar do sujeito?
Antes de dar início ao nosso estudo, sugerimos uma atividade para verificar
a priori o que você compreende sobre psicopatologia a partir dos conhecimentos
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
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Atualmente, esse fato histórico parece absurdo e irreal. De todo modo, esse
exemplo ilustra o quanto os conceitos de saúde-doença e normal-anormal são
carregados de valores sociais, históricos, culturais e políticos. Na era da escravi-
dão, por exemplo, o negro era desumanizado e considerado como um ser inferior,
que tinha o dever de servir aos indivíduos brancos, sendo privado de direitos, de
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Fonte: http://www.ccms.saude.gov.br/memoria%20da%20loucu-
ra/Mostra/apresenta.html. Acesso em: 15 ago. 2022.
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Em determinado dia, ela foi chamada para avaliar uma turma de crianças
que estava dando muito trabalho, pois não conseguiam prestar atenção nas aulas
ou permanecer sentadas por mais de um curto espaço de tempo, estando muito
agitadas, algumas até irritadas. A suposição inicial da professora era de que mui-
tas das crianças poderiam ter TDAH e a profissional de psicologia poderia auxiliar
nessa avaliação diagnóstica. Ao visitar a turma, a psicóloga percebeu que a sala
de aula não possuía infraestrutura adequada. Palmas é uma cidade cujo clima
possui temperaturas significativamente altas. Apesar disso, a sala de aula era ex-
tremamente quente, não havia janelas para circulação de ar, tampouco ar-condi-
cionado. Os ventiladores não estavam funcionando.
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Na cultura atual, não se pode correr o risco de reduzir e associar saúde aos
ideais de performance física e mental exigidos pelo mundo do capital, pela veloci-
dade dos processos e pela busca incessante do prazer, a um ideal de perfeição,
ou a tudo que impede o indivíduo de atingir as exigências pessoais, sociais e pro-
fissionais. Dessa maneira, percebemos que:
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Desse modo, não somos apenas um corpo biológico. Somos um corpo carre-
gado de sentidos, significados, valores e crenças. Uma febre, por exemplo, pode
indicar uma alteração da temperatura corporal normal, mas não necessariamente
uma patologia. Pode ser uma resposta de defesa do organismo a determinado
agente infeccioso. A febre pode ser um indicativo de algo, mas não uma doença
em si mesma.
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Fonte: https://tirasarmandinho.tumblr.com/post/153583601529/
tirinha-original. Acesso em: 20 jan. 2022.
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
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a) Ausência de doença.
b) Subjetiva.
c) Liberdade.
d) Ideal.
e) Nenhuma das anteriores.
3 O CAMPO DA PSICOPATOLOGIA:
CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS
Até aqui, foi possível perceber a complexidade do campo da psicopatologia e
suas diferentes concepções históricas e epistemológicas. Considerando a discussão
acerca dos critérios de normalidade realizada no tópico anterior, podemos afirmar que
a falta de um consenso na ciência psicopatológica situa-se no campo da normalidade.
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Analise a figura a seguir. O que você vê? O que você sente? Quais sentidos
ela desperta em você?
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Sob uma perspectiva mais ampla e sociocultural, a função paterna pode ser
representada, por exemplo, pelo Estado, como aquele que instaura as leis, que
barra o sujeito e que deve proteger e zelar pelos seus direitos. Entretanto, hoje se
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Além disso, a queda de ideais implica uma era de diminuição das expec-
tativas, pois tudo se torna incerto e instável. Nesse sentido, a individualidade é
fortalecida pela sociedade de consumo, na qual as relações humanas também
seguem a lógica de consumo e são pautadas, muitas vezes, pelo critério da utili-
dade: se o outro não está sendo útil, posso descartar. A privatização da vida e a
industrialização também são fatores associados à formação das subjetividades
contemporâneas, marcadas por um desamparo para além do originário, do enfra-
quecimento das redes de apoio e pelo hedonismo, ou seja, a busca do prazer a
qualquer preço (FORTES, 2016).
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Nessa perspectiva, o sofrimento aparece como algo que deve ser evitado,
pois este surge como um impasse diante da necessidade de produção. Além dis-
so, presume-se que o consumo leva à felicidade. Na direção do que é salientado
por Fortes (2016), há uma demanda contemporânea em torno do imperativo do
gozo, ao dever de ser feliz. Há uma ilusão de que o consumo pode dar conta da
demanda de felicidade.
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Fonte: https://pt.linkedin.com/pulse/brasil-e-sociedade-de-consumo-
t%C3%A1rcio-augusto-leot%C3%A9rio. Acesso em: 30 jan. 2022.
Silva Junior (2018) faz uma revisão acerca das novas formas de manifesta-
ção do mal-estar na civilização, diferentes das enunciadas por Freud (1996), o
que denomina de mal-estar no sofrimento. É recorrente na prática clínica a auto-
nomeação dos sujeitos pela via do diagnóstico, como “sou bipolar”, “sou depres-
sivo”, entre outros que descrevem uma disfunção, ou seja, temos a “nomeação
de uma identidade eventualmente disfuncional, mas não uma demanda na qual
esteja suposta uma responsabilidade do sujeito” (SILVA JUNIOR, 2018, p. 45).
Dessa forma, Silva Junior (2018) destaca que os sujeitos se assumem en-
quanto objeto de um saber ou de um poder. Há uma produção de identidades
patológicas que se declaram pela via de um saber médico sobre o sofrimento
humano em geral, como se observa na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Esta-
tístico de Transtornos Mentais (DSM-V). Nesse movimento, o sujeito adere a uma
categoria diagnóstica como quem pede abrigo para sua verdade, algo que indique
um saber sobre si mesmo.
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4 A CONSTITUIÇÃO DA
SUBJETIVIDADE E A GÊNESE DA
FORMAÇÃO DOS SINTOMAS
Esta seção elucidará o processo de constituição da subjetividade a partir da
perspectiva psicanalítica de orientação lacaniana a fim de compreender o meca-
nismo de formação dos sintomas, sem deixar de lado as discussões mais amplas
no campo da psicopatologia orientadas pela vertente descritiva, presente nos ma-
nuais diagnósticos. Para compreendermos a origem dos sintomas, é importante
darmos um passo atrás para, antes de tudo, entendermos o sujeito e o respectivo
processo de constituição da subjetividade.
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Indicação de filme:
A importância da inscrição humana no campo da linguagem para
o desenvolvimento e a constituição do sujeito é evidenciada no
filme O Garoto Selvagem, o qual ilustra a história de um menino
que foi criado com lobos e, por isso, não sabia falar, andar, ler,
escrever, tampouco andava na posição ereta. Mais tarde, ainda
criança, um médico tentou ajudá-lo e inseri-lo no campo da lin-
guagem e da cultura, cujos desdobramentos são interessantes
para se analisar a formação humana.
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abordados a partir das contribuições de Dunker (2006). Na figura a seguir, consta uma
síntese dos três tempos do complexo de Édipo mediante a perspectiva lacaniana.
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Entretanto, cabe ressaltar que o complexo de Édipo não deve ser compre-
endido como uma fase infantil a ser superada, mas, sim, como um conjunto de
experiências que constituem as estruturas psíquicas e os modos de nos relacio-
narmos. Essas primeiras experiências se atualizam ao longo da vida e são revi-
vidas principalmente na adolescência. O status de sujeito nos torna responsáveis
pelo nosso próprio desejo, ainda que boa parte dele seja inconsciente (DUNKER,
2006). Em suma, a saída do complexo de Édipo pela simbolização diante da cas-
tração e da falta é fundamental para a nossa constituição psíquica. É pela falta
que nos tornamos seres desejantes, sendo o desejo compreendido como tudo
aquilo que nos move, que nos impulsiona.
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Capítulo 1 INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
Nesse sentido, o sintoma pode ser compreendido como uma saída encontrada
pelo sujeito para lidar com as impossibilidades de realização do seu próprio desejo
no contexto sociocultural. É uma forma de defesa inconsciente do aparelho psíqui-
co frente a uma angústia que é sentida e faz parte da ordem do insuportável, do
não conseguir lidar. O sintoma, ainda que aparentemente invisível à consciência e
envolvido por um desejo reprimido, escapa ao inconsciente na tentativa de ser rea-
lizado, porém, de maneira distorcida devido aos seus impasses e impossibilidades.
Um dos exemplos usados para falar sobre o tema foi o caso de uma paciente
com neurose obsessiva, conhecida como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Este é caracterizado por pensamentos e comportamentos repetitivos que invadem o
sujeito sem que ele tenha qualquer controle sobre eles. O caráter obsessivo e com-
pulsivo envolve intensa atividade mental que exaure o indivíduo, cujas repetições
ocorrem mesmo contra a sua vontade, remoendo pensamentos e sentimentos. As-
sim, atividades rotineiras, como ir deitar, levantar, vestir-se, sair de casa, tornam-se
extremamente fatigantes e privam a liberdade do sujeito. No caso da paciente de
Freud, seu sintoma envolvia o seguinte comportamento obsessivo:
Ela corria desde seu quarto até um outro quarto contíguo, as-
sumia determinada posição ali, ao lado de uma mesa colocada
no meio do aposento, soava a campainha chamando a empre-
gada, dava-lhe algum recado ou dispensava-a sem maiores
explicações e, depois, corria de volta para seu quarto (FREUD,
1976, p. 16).
Em uma das sessões de análise, foram revelados os sentidos dos seus sin-
tomas. Pouco mais de dez anos antes, ela havia se casado com um homem muito
mais velho do que ela. Na noite de núpcias, ele ficou impotente. Durante a noite, ele
foi correndo do quarto dele para o dela, a fim de tentar mais uma vez, porém, sem
êxito. Na manhã seguinte, triste, ele disse que se sentiria muito envergonhado pe-
rante a empregada, pois quando ela fosse arrumar a cama, ela veria que eles não
haviam tido relação. A fim de evitar o constrangimento, ele pegou uma garrafa de
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tinta vermelha e derramou no lençol, entretanto, não caiu no lugar em que a man-
cha deveria estar.
Ao ler esse caso hoje, pode não fazer muito sentido. Entretanto, conforme já
mencionado, os sintomas precisam ser analisados considerando, além da experi-
ência de vida e subjetiva do sujeito, o contexto histórico, político e sociocultural no
qual ele se insere. Freud escreveu o referido texto entre 1915 e 1916. A conjuntura
dessa época envolvia casamentos arranjados, estabelecidos por contrato, no qual a
mulher deveria se casar virgem e o marido, na noite de núpcias, deveria comprovar
a virgindade da mulher e demonstrar que “cumpriu o seu papel”. Esse contexto ma-
chista tinha um peso significativo na vida das pessoas e uma série de expectativas,
crenças e valores morais, o que explica o episódio descrito no caso ter sido traumá-
tico para a paciente e desencadeado sintomas neurótico-obsessivos.
Além disso, o caso descrito ilustra que os sintomas expressam, por meio de
uma metáfora, a estruturação subjetiva do sujeito. “O sintoma evidencia algo que
tem uma significação e que está relacionado à história de cada um” (DUQUE; VIAN-
NA, 2014, p. 57). Dessa maneira, no âmbito da psicopatologia psicanalítica, busca-
-se os significados e os sentidos do sintoma em detrimento da mera medicalização.
Conforme ressaltado por Guerra, Langlais e Guerra (2019), o sofrimento psíquico
e as respectivas compreensões, o manejo e o tratamento transcendem à lógica or-
ganicista dos manuais diagnósticos, como o DSM, o que requer investigações e
intervenções mais amplas e profundas, a fim de lidar com o sofrimento na Contem-
poraneidade.
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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Diante das discussões apresentadas no presente capítulo, pudemos conhecer
o campo mais amplo da psicopatologia, considerando os desdobramentos históri-
cos sobre a saúde mental, as vertentes e as concepções epistemológicas, os dife-
rentes critérios de normalidade e as dimensões da constituição da subjetividade, do
sintoma e do processo de adoecimento psíquico.
Por isso, para além das categorias classificatórias que estão em torno dos
transtornos mentais, não podemos abrir mão do olhar para o indivíduo e seu res-
pectivo sintoma. Desse modo, faz-se necessário compreender o processo de cons-
tituição do sujeito e as saídas encontradas por ele para a sua estruturação psíquica,
para que possamos compreender o sentido dos sintomas.
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REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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C APÍTULO 2
A PSICOPATOLOGIA SOB UM OLHAR
PSICANALÍTICO: DIÁLOGO COM AS
ESTRUTURAS PSÍQUICAS
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
No capítulo anterior, iniciamos o nosso estudo com um breve histórico sobre a
loucura a fim de compreender os aspectos históricos, sociais, políticos e culturais
que estão imbricados no processo de adoecimento psíquico. Nesse sentido, discu-
timos os critérios de normalidade, as diferentes concepções e perspectivas existen-
tes no campo da psicopatologia, bem como a dinâmica de constituição do sujeito e
a formação dos sintomas.
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Como mencionado por Dunker (2006, p. 26), “a lei não se reduz à força ou
potência de seus representantes reais, mas a sua autoridade simbólica em pro-
mover a circulação do desejo”. Segundo o autor, é esse entendimento que permite
que a autoridade das figuras paternas possa ser transferida para outras instâncias
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
2 NEUROSE
Na direção do que conversamos no capítulo anterior acerca do complexo de
Édipo e as saídas encontradas pelo sujeito frente à castração, compreendemos
que a reação da criança e o modo de lidar com a falta direcionarão os modos de
estruturação psíquica, sendo uma delas a neurose.
Fonte: https://www.psicanaliseclinica.com/primeira-topica/metafora-
iceberg-primeira-topica-segunda-topica/. Acesso em: 16 ago. 2022.
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Fonte: https://maepop.com.br/id-ego-e-superego-entenda-
rapidamente/. Acesso em: 16 ago. 2022.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
Nesse sentido, a teoria geral das neuroses, proposta por Freud (1969), de-
fende que o adoecimento neurótico está relacionado com o impedimento de algo.
Assim, o indivíduo pode desenvolver um quadro psicopatológico quando um ob-
jeto de amor lhe é retirado por algum motivo, sem que ele encontre um substituto,
um outro destino para a pulsão. Com base nessa compreensão, o autor ressalta
que a neurose pertence à maioria dos seres humanos, entretanto, o adoecimento
neurótico pode ser desencadeado por algum tipo de abstinência, como as limita-
ções da cultura, apreendidas pelo sujeito, no que tange ao acesso à satisfação.
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Além disso, o adoecimento neurótico pode acontecer não apenas por um im-
pedimento do mundo exterior quanto ao acesso da libido, mas também por uma
tentativa de se adequar à realidade e cumprir as suas exigências, exacerbando
realidades internas que se tornam insuperáveis (FREUD, 1969). Um exemplo dis-
so é a Síndrome de Burnout, cada vez mais frequente atualmente. Por consequ-
ências oriundas do mundo do trabalho, do capital e da sociedade de consumo, o
sujeito alcança o seu estado limite a fim de atender às exigências externas, sem
se atentar para o seu próprio desejo.
Desse modo, quando o sujeito não consegue direcionar o seu desejo, a libido
pode tornar-se introvertida e causar um quadro psicopatológico, de modo que o
indivíduo fica fixado no impedimento do desejo e da sua realização.
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2.1 HISTERIA
A histeria apresenta uma longa história, marcada de ambiguidades e contra-
dições que refletem a conjuntura vigente em cada época, apresentando desafios
de diagnóstico até os dias atuais. Considerando os campos da psiquiatria e da
psicanálise, por exemplo, tem-se observado um distanciamento entre essas duas
áreas em termos de diagnóstico, tendo em vista a retirada da histeria do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais a partir da 4ª edição (DSM-IV).
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Apesar disso, Castro (2013) elucida que a estratégia encontrada pelo sujei-
to histérico é valorizar a falta e cultivar a insatisfação para evitar a satisfação, o
gozo, como forma de evitar sentimentos de abandono. “Em outras palavras, o que
se deseja na histeria é um desejo insatisfeito” (CASTRO, 2013, p. 3).
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Na histeria, o sujeito se identifica com o outro por meio do seu próprio desejo,
tentando assumir uma posição de ser tudo aquilo que o outro deseja. Já na neuro-
se obsessiva, os impasses do indivíduo estão relacionados à morte e à culpa. Ele
se retira do lugar de sujeito desejante. É como se a iminência da morte o retirasse
do seu conflito interno, distanciando-o da sua posição libidinal. O sujeito renuncia
ao seu desejo e a morte aparece como um mecanismo que o impede de usufruir
daquilo que deseja (COPPUS; BASTOS, 2012). Ainda no que tange às diferenças
entre a histeria e a neurose obsessiva, podemos dizer que, na histeria, o recalque
é encoberto pela projeção. Já no neurótico obsessivo, o mecanismo de defesa do
recalque recai na racionalização excessiva.
Como exemplo, citaremos o caso tratado por Freud que ficou co-
nhecido como O caso do homem dos ratos, o qual é relatado pelo
psicanalista Christian Dunker no vídeo indicado no link a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=FvV7u-BpxL8.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
Esse caso ilustra alguns sintomas da neurose obsessiva que, no DSM-V é ca-
tegorizada como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), o qual é desdobrado em
diversos outros quadros. Segundo o DSM-V, “o TOC é caracterizado pela presença
de obsessões e/ou compulsões” (APA, 2014, p. 235). As obsessões referem-se a
pensamentos, impulsos ou imagens intrusivas, recorrentes e persistentes que são
vivenciados pelo sujeito sem que ele tenha controle sobre isso. Quanto às compul-
sões, são comportamentos repetitivos ou atos mentais que o sujeito se vê obrigado
a fazer em decorrência de alguma ideia obsessiva que associa a não execução de
determinado comportamento à ocorrência de algo muito ruim.
Como pode ser observado no caso freudiano do homem dos ratos e também
no caso de neurose obsessiva comentado na terceira seção do Capítulo 1, esse
quadro está relacionado a um gozo que só pode ser realizável dentro de um regi-
me fechado de normas, regras e valores morais, regulado pela castração. Nesse
sentido, estabelece-se uma contradição entre o sujeito e o seu corpo, o desejo à
morte, na qual o obsessivo busca modos de manter tais dilemas distantes de si
para afastar a angústia que sente, bem como a dívida que julga ter com o outro.
Por isso, busca silenciar o desejo do outro se apresentando como um corpo sem
vida, que se silencia e procrastina qualquer forma de prazer. Aqui, podemos visu-
alizar uma diferença em relação à histeria. Esta, enquanto o corpo grita, na neu-
rose, o corpo sussurra (COSTA; FERREIRA, 2019). Ainda em relação ao modo de
funcionamento do neurótico obsessivo, destacamos o seguinte trecho.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
quica. Podemos dizer, assim, que é um conflito do Ego com ele mesmo e suas
pulsões (FINGERMANN, 2016).
Ainda segundo o autor, o pânico revela o que a fobia e a fuga tentam esca-
motear, como uma espécie de ponto de encontro do Eu e o seu trauma ou conflito,
representado pelo objeto fóbico. Medo e fuga se enlaçam em resposta ao pavor da
angústia. No pânico, o medo exacerbado e a angústia provocam um desenlace,
uma ruptura do sujeito, deixando-o em um campo de extremo desamparo. Por isso,
nos ataques de pânico, muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo. O
sentimento de angústia é tamanho que é substituído pelo medo da morte.
• Palpitações, taquicardia.
• Suor excessivo.
• Tremores ou abalos no equilíbrio.
• Falta de ar ou sensações de sufocamento e asfixia.
• Dor ou desconforto no peito.
• Náusea ou desconforto abdominal.
• Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
• Calafrios.
• Sensações de formigamento no corpo.
• Sensações de deslocamento da realidade.
• Medo de perder o controle, de morrer ou de “enlouquecer”.
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3 PSICOSE
A estrutura da psicose é o que comumente conhecemos como a loucura,
aquela que, como vimos no Capítulo 1, prendia indivíduos nos manicômios, sendo
caracterizada por delírios, alucinações e desorganização do discurso. A psicose
historicamente é compreendida como a desrazão humana.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
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trada pelo sujeito mediante a passagem pelo complexo de Édipo, a psicose seria
a rejeição do sujeito diante da castração sem que haja a entrada na simbolização
(CAMARGO et al., 2020).
Assim, o sujeito psicótico vive sob uma certeza delirante, em um mundo cen-
trado nele próprio, preso a sua verdade.
3.1 ESQUIZOFRENIA
A esquizofrenia, como parte do quadro da psicose, é definida como uma de-
sintegração da personalidade e distanciamento ou perda da realidade. A palavra
esquizofrenia vem do grego e significa mente cindida.
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mentada por todos da mesma maneira. Nesse sentido, o delírio seria uma tentati-
va de cura, de lidar com a realidade, e não apenas um sintoma que, caso tratado,
levaria à cura. Essa compreensão da relação do sujeito com a realidade tornou
mais tênue os critérios e os limites de normalidade, visto que, para a psicanálise,
cada sujeito vive uma realidade única, particular (CAMARGO et al., 2020).
• Confusão mental.
• Estados de excitação ou depressão.
• Sentimentos de despersonalização, desagregação e fragmentação do
pensamento.
• Conflito com a realidade.
• Fragilidade na interação, indiferença e desinteresse em termos de afeti-
vidade.
• Irritabilidade.
• Ambivalência (afirmar e negar, amar e odiar, querer e não querer, o sim
e o não se organizam simultaneamente por contradições, deficiência na
interação com os outros e com o ambiente.
• Catatonia (perturbação psicomotora acentuada) (APA, 2014).
Além disso, Quinet (2009) discute os quatro ‘As’ da esquizofrenia para descrever
os sintomas básicos, sendo eles: associações, afetividade, autismo e ambivalência.
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Quanto ao último ‘A’, a ambivalência, diz respeito à relação dual diante das
coisas, das pessoas, das relações no geral. Amor e ódio, por exemplo, compare-
cem na mesma intensidade. “[...] o paciente quer comer e ao mesmo tempo se
recusa a comer, afirma uma frase e em seguida a utiliza na forma negativa. A am-
bivalência expressa a ausência de contradição própria ao inconsciente, no qual os
opostos se equivalem; o sim e o não são a mesma coisa” (QUINET, 2009, p. 76).
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
3.2 PARANOIA
Ainda no campo das psicoses, também temos outra expressão da psicopatolo-
gia: a paranoia. Enquanto na esquizofrenia há o desinvestimento na realidade, mar-
cado por alucinações, na paranoia, o que predomina são a projeção e os delírios.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
3.3 MELANCOLIA
A melancolia é o que conhecemos na atualidade como depressão. Nos dias de
hoje, a depressão se encontra universalizada, arrebatando sujeitos que se encon-
tram, conforme definido por Quinet (2009), tristes, desanimados, frustrados, apáticos,
desiludidos, impotentes, angustiados, entre outros. O autor nos coloca a seguinte
questão: onde estavam essas pessoas antes? Ou nós que não as percebíamos?
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No luto, há a dor decorrente da perda do objeto amado que não existe mais.
A saída desse estado consiste no processo de redirecionamento da libido investida
nas ligações com o objeto perdido para novos objetos. Quando o processo de luto
se encerra, o ego fica livre novamente para estabelecer novos vínculos. Todavia, o
luto pode se tornar patológico e passar para um quadro de melancolia se a pessoa
enlutada ficar fixada na perda do objeto perdido, opondo-se à ligação libidinal a ou-
tros objetos. O apego ao objeto perdido pode ser tão intenso a ponto de dar lugar a
um desvio da realidade, característico da melancolia (FREUD, 1969).
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
desapossada de sua fala. É aquilo que na vida não quer sarar, é o que na vida só
quer morrer, silenciar, calar”. É compreendida como psicose pelo lugar que se
localiza fora do simbólico, em que só há o impossível de ser suportado que dá
lugar à dor de existir. Nessa psicopatologia, a morte configura-se como o lugar
da ausência da fala, da inexistência do sujeito e do seu desejo, fora da realidade
apresentada, como o mundo das trevas, da morte, do apagamento do desejo.
Dessa forma, ecoa-se no sujeito o afeto depressivo de que ‘nunca deveria ter nas-
cido’ (QUINET, 2009).
75
Psicopatologia
Fechamos aqui mais uma estrutura clínica. Vamos praticar um pouco do que
aprendemos?
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
4 PERVERSÃO
Historicamente, a perversão foi compreendida como sinônimo de desvio sexu-
al e moral, ligada à ideia de um ser desumano, antissocial e psicopata com hábitos
e condutas sexuais considerados inadequados, sendo ainda associada ao crime e
à degeneração moral do indivíduo (SANTOS; CAMPOS, 2017).
Assim, o sujeito perverso, ao ter seu jogo interditado pelo representante pater-
no, reage com o desafio e a transgressão, manipulando a realidade, sempre que
percebe que a satisfação do seu desejo está ameaçada ou é inalcançável. Por isso,
tenta fazer com que a realidade, as pessoas e as relações se submetam ao seu
próprio prazer.
77
Psicopatologia
perverso dissesse: “eu sei, mas mesmo sabendo, eu ajo como se não soubesse”
(FAVARETTO et al., 2018, p. 198). Diante da castração, a criança, ainda que reco-
nheça o “perigo”, o desmente, convencendo-se de que não há o que temer.
Nesse sentido, não pode demonstrar fraqueza ou cansaço. Por outro lado, sur-
ge o “corpo real”, o qual falha, adoece e pode vir a falecer. É nesse momento que o
corpo padece, que o perverso pode ser apreendido por uma angústia relacionada a
um vazio psíquico e que ameaça a um possível desmoronamento dos limites identi-
tários. São nesses momentos que o sujeito perverso pode vir a procurar ajuda, não
pelos seus sintomas, que são sentidos como extremamente prazerosos, mas pelo
medo de uma “queda” identitária (FERRAZ, 2010).
Além disso, a cisão do Eu realizada pela criança pode ser compreendida não
como uma separação entre o Eu e a realidade, como vimos na psicose, mas uma
cisão consciente no próprio Ego (FAVARETTO et al., 2018). É como se fosse uma
dualidade entre o ‘eu sei, mas não aceito e vou fazer de outro modo’.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
Tendo isso em vista, a não sujeição do perverso às normas e leis que preva-
lecem, por exemplo, na neurose, põe em prática todas as suas fantasias, as quais
são utilizadas não só como forma de excitação, mas como o elemento central da
vida sexual (FERRAZ, 2010).
Assim, para além das perversões consideradas como sociais, tal qual a psico-
patia, ora apresentada, e de cunho sexual, como é o caso do fetichismo, do sadoma-
soquismo e da pedofilia, o perverso pode usar sua manipulação tanto em situações
sexuais quanto sociais, as quais podem se cruzar. O sujeito perverso apresenta um
apego excessivo a determinado modo de obter prazer, de forma restrita, compulsiva
e compulsória, que funciona como uma proteção contra as suas angústias e da sua
própria identidade (FERRAZ, 2010).
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Psicopatologia
Além disso, vale retomar a cisão do próprio Eu, como mencionado na seção
anterior. O fetichista reconhece a castração e seus desdobramentos, como a norma
social, mas propõe um substituto para ela, o qual variará a depender da subjetivi-
dade e história de cada sujeito. Conforme ressaltado por Favaretto et al. (2018), o
fetichismo é um suposto destino não esperado da pulsão, ainda que Freud tenha
afirmado que ela possa ter variadas direções. Desse modo, há um processo de
recusa, substituição e fixação em um determinado objeto de prazer, sendo que, na
sua ausência, o sujeito não consegue agir de outro modo.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
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Psicopatologia
4.2 SADOMASOQUISMO
Nas parafilias, tidas como as perversões sexuais, o outro e o seu corpo são
tomados como um objeto de gozo, como podemos perceber no fetichismo. Neste,
um objeto ou parte do corpo entra como substituto do vazio deixado pela recusa
da castração. No sadomasoquismo, o que aparece como a supressão da falta é a
relação dos corpos com o poder e a dor. O termo sadomasoquismo é utilizado para
referir-se à relação entre o sadismo e o masoquismo.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
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Psicopatologia
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
No presente capítulo, buscamos compreender e caracterizar as estruturas clí-
nicas e seus quadros psicopatológicos a partir da visão psicanalítica, em diálogo
com as classificações existentes na atual edição do Manual Diagnóstico e Estatísti-
co de Transtornos Mentais (DSM-V), em termos de sinais e sintomas.
No quadro a seguir, consta uma síntese das discussões realizadas acerca das
principais psicopatologias no âmbito das estruturas clínicas e respectivos modos de
funcionamento, mecanismos de defesa e sintomas.
• Fixação,
Esquizofrenia idealização e
Histeria dependência em
• Sujeito cindido. relação ao objeto-
Principais quadros • Insatisfação. • Confusão mental. fetiche.
psicopatológicos e • Dúvida. • Delírios e • O outro como
sintomas • Teatralidade/exagero. alucinações. objeto de gozo.
• Conversão para o • Embotamento • Não obtenção de
corpo. afetivo. prazer na ausência do
• Ambivalência. objeto.
• Prejuízos na vida
social, profissional e
familiar.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
Neurose Obsessiva
Paranoia Pedofilia
• Pensamentos
e comportamentos • Projeção. • Crianças como
obsessivos e • Delírios. objeto de gozo.
intrusivos. • Mania de • Crime.
• Dúvida. perseguição. • Fixação em
• Dever, culpa e • Suspeitas. crianças.
punição.
Fobia e Pânico Sadomasoquismo
Melancolia
• Fobia como medo • Sadismo e
• Dor de existir.
exacerbado. masoquismo (atividade
• Fixação em um
• Pânico como e passividade).
objeto perdido, não
experiência extrema • Relações de poder.
identificado.
de angústia e • Sadismo – prazer
• Apagamento do
desamparo. com a dor e o
desejo.
• Medo de morrer. sofrimento do outro.
• Culpa e punição.
• Sintomas cognitivos • Masoquismo –
• Associada à
e corporais, como prazer com a própria
depressão e ao
taquicardia, sudorese, dor, sofrimento,
transtorno bipolar.
palpitações etc. humilhação, servidão.
Fonte: a autora
Te esperamos lá!
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Psicopatologia
REFERÊNCIAS
AMBRA, P. E. S. et al. A histeria como questão de gênero. In: SAFATLE, V.;
SILVA JUNIOR, N. da.; DUNKER, C. (orgs.). Patologias do social: arqueologias
do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 289-313.
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Capítulo 2 APSICOPATOLOGIASOBUMOLHARPSICANALÍTICO:DIÁLOGOCOMASESTRUTURASPSÍQUICAS
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Psicopatologia
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C APÍTULO 3
DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS
DE CUIDADO NO CAMPO DA
PSICOPATOLOGIA: LIMITES E NOVAS
PERSPECTIVAS
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O presente capítulo tem como temas norteadores o diagnóstico e o cuidado
em saúde mental, incluindo a arteterapia e as discussões mais recentes na área,
como os impactos decorrentes da pandemia da Covid-19.
2 CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO
DOS TRANSTORNOS MENTAIS
No início deste terceiro capítulo, retomaremos a discussão acerca do diagnós-
tico em psicopatologia e as concepções que perpassam essa temática, de modo
associado aos preceitos gerais para a avaliação e a classificação de outros trans-
tornos mentais para além do escopo das estruturas psicanalíticas abordadas no
capítulo anterior.
91
Psicopatologia
limites dessa prática, sendo identificadas duas posições extremas que ainda per-
meiam diferentes concepções em torno dessa temática. Uma delas afirma que
o diagnóstico em saúde mental não possui valor, já que cada pessoa apresenta
uma realidade e subjetividade únicas, não passíveis de classificação.
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Psicopatologia
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
podem ser utilizados como recursos associados. Além dos aspectos emocionais,
os sintomas não devem ser vistos de maneira isolada, mas, sim, de modo a com-
preender o impacto deles na funcionabilidade do sujeito e na sua vida como um
todo em termos de comportamento e interação social (SERAFIM; ROCCA, 2020).
Aqui, para o nosso estudo, para fins didático-pedagógicos, vamos nos ater
aos sinais, aos sintomas e aos critérios diagnósticos das psicopatologias, sem a
utilização de códigos. De todo modo, caso seja de seu interesse, eles podem ser
consultados nos links indicados a seguir.
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Psicopatologia
Cabe ressaltar ainda que, no âmbito dos transtornos mentais, algumas clas-
sificações estão presentes apenas no DSM, mas não na CID, e vice-versa. Isso
porque, além das diferentes nomenclaturas que podem ser adotadas, a CID abarca
um amplo conjunto de doenças, não necessariamente de ordem psicopatológica,
enquanto o DSM tem como foco os transtornos mentais. Veremos isso adiante.
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
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Psicopatologia
pados.
• Desconfiança ou ideação paranoide.
• Afeto constrito, contido.
• Comportamento e/ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar no con-
texto sociocultural.
• Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam familiares.
• Ansiedade social excessiva, que pode estar associada a temores para-
noides.
• Esforços desesperados para evitar o abandono que sente, seja por uma
ameaça de separação, rejeição real ou imaginada.
• Relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, que passam por ex-
tremos de valorização/idealização e desvalorização.
• Instabilidade acentuada e persistente em relação a sua autoimagem.
• Impulsividade, instabilidade afetiva, raiva intensa e dificuldade de contro-
lar os sentimentos.
• Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de com-
portamento automutilante.
• Sentimentos crônicos de vazio.
• Ideação paranoide transitória associada a sintomas dissociativos inten-
sos (APA, 2014).
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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a. Fobia
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Psicopatologia
b. Transtorno do pânico
• Taquicardia.
• Sudorese.
• Tremor.
• Falta de ar.
• Náusea.
• Tontura, vertigem ou desmaio.
• Medo de morrer ou “enlouquecer”.
• Choro intenso.
• Sensação de asfixia, entre outros.
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a. Anorexia nervosa
b. Bulimia nervosa
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
3 ESTRATÉGIAS DE CUIDADO EM
SAÚDE MENTAL: DIÁLOGOS COM A
ARTETERAPIA
No primeiro capítulo deste livro, vimos o contexto sócio-histórico no qual se
insere a psicopatologia, bem como as variações de concepções acerca do fenô-
meno da loucura. Nesse sentido, discutimos a predominância do saber médico-
-psiquiátrico e da visão essencialmente biológica, os quais incidiram na questão
do tratamento em saúde mental. Como exemplo, vimos o uso da lobotomia, pro-
cedimento cirúrgico utilizado em pacientes com transtornos mentais graves, que
consistia na perfuração do cérebro com o objetivo de cortar as conexões entre os
lobos frontais e o resto do cérebro.
Figura 2 – Lobotomia
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Psicopatologia
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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Psicopatologia
Fonte: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/
saude-mental.
Fonte: https://www.sanarmed.com/rede-de-atencao-psicossocial-
resumo-com-mapa-mental-ligas. Acesso em: 17 ago. 2022.
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:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
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Psicopatologia
Dessa maneira, a arte faz parte das estratégias de cuidado em saúde mental.
A utilização de práticas complementares em saúde é prevista legalmente desde
2006, com a publicação da Portaria GM/MS nº 971/2006, a qual aprova a Políti-
ca Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) no Sistema Úni-
co de Saúde (SUS) e institucionaliza as Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde, denominadas pela OMS, tendo sido ampliadas em 2017. Dentre as
práticas possíveis de serem ofertadas pelos serviços de saúde, podemos citar:
acupuntura, fitoterapia, dança, meditação, musicoterapia, quiropraxia, reiki, yoga
e arteterapia, sendo esta última nosso foco de abordagem em virtude do curso no
qual essa disciplina é oferecida.
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
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Psicopatologia
dos: pintura em tela e em tecido, escultura em argila, pintura e colagem sobre telha,
pintura sobre gesso, confecção de objetos a partir de material reciclável, como gar-
rafas PET ou canos de papelão etc. Ao final de cada trabalho, os participantes eram
estimulados a observar as suas produções, refletindo sobre os seus significados e
a evolução durante o processo. Assim, “a arte é então percebida como instrumento
de enriquecimento dos sujeitos, valorização de expressão e descoberta de poten-
cialidades singulares” (COQUEIRO; VIEIRA; FREITAS, 2010, p. 861).
Nesse dia, não houve produção de artesanato, pois a roda, que geralmente
não durava mais de 10 minutos, tomou todo o tempo da oficina, tornando-se um
espaço de afeto, apoio, trocas e acolhimento. A integração entre os membros do
grupo foi fortalecida e os encontros se tornaram mais participativos, com maior
engajamento. Aos poucos, o grupo foi se transformando, deixando de ser um am-
biente de produção artesanal, para construir um espaço de encontro e convivên-
cia (PACHECO, 2021).
Ainda segundo a autora, a dinâmica da oficina mudou. Não era mais “obri-
gatória” a produção artesanal, havia espaços de encontros e bate-papos, aqueles
que pintavam e desenhavam começaram a buscar e organizar seus materiais nos
armários, o jardim foi construído pelos próprios participantes e demais caracterís-
ticas do ambiente físico foram alteradas, como a pintura das paredes, de modo a
torná-lo mais alegre, colorido e menos “cara de hospital”. Pacheco (2021), a partir
das mudanças observadas nos usuários, definiu essa experiência como a possibi-
lidade de criação de um espaço de luta micropolítica, de valorização do cotidiano
e de produção de novos sentidos para as vidas dos participantes.
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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Psicopatologia
lugar àquilo que escapa a nossa operação cotidiana de sentido” (SOUZA, 2009, p.
18), reconhecendo a diferença existente nessa estrutura psíquica.
Nessa clínica, não existem respostas prontas e imediatas, já que muitas es-
tratégias e saídas precisam ser construídas em conjunto, sendo passíveis ain-
da de reformulação em determinado momento. Assim, são priorizados serviços
e intervenções de inserção social, de resgate cultural, de convivência, além da
autonomia e liberdade dos usuários. “Procura-se redescobrir a força do coletivo,
do contato humanizador e fortalecedor com o outro na busca de caminhos para
lidar com problemas e sofrimentos que são, muitas vezes, comuns” (PACHECO,
2021, p. 356).
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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Em suma, podemos afirmar que o livre curso das expressões, as quais po-
dem ser trabalhadas por diferentes estratégias terapêuticas, como a arte, propicia
ao sujeito a busca pelo autoconhecimento, pelo seu lugar no mundo e novos mo-
dos de lidar com os seus sintomas, ainda que fora do padrão socialmente aceito e
compreendido como normal.
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Psicopatologia
4 O CENÁRIO DE PANDEMIA E AS
NOVAS DISCUSSÕES NO CAMPO DA
SAÚDE MENTAL
Durante o estudo que realizamos até aqui, vimos nos capítulos anteriores
que o comportamento humano, as concepções de mundo e as diferentes psico-
patologias só podem ser compreendidos no âmbito do contexto histórico-cultural,
das relações sociais, dos valores e das crenças que mediam a nossa relação com
o mundo.
Cabe ressaltar que, quando falamos de tecnologia, não estamos nos referindo
necessariamente aos recursos digitais ou eletroeletrônicos, como o computador e o
celular, mas também a toda e qualquer técnica que tenha se desenvolvido ao longo
do tempo mediante a intervenção humana para atingir determinado fim. A roda, por
exemplo, surgiu no período pré-histórico a partir da manipulação de materiais da
natureza, como a madeira, o que possibilitou o transporte mais rápido.
Fonte: https://www.infoescola.com/historia/tecnologias-
na-pre-historia/. Acesso em: 17 ago. 2022.
Como pôde ser observado na figura anterior, a evolução da roda foi uma trans-
formação tecnológica que alterou a relação do ser humano com a natureza e com o
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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Fonte: http://biblioteca.cofen.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/Guia-de-
saude-mental-pos-pandemia-no-Brasil.pdf. Acesso em: 17 ago. 2022.
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Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
:IMITESENOVASPERSPECTIVAS
No caso de crianças e adolescentes, ainda que não tenham sido o foco de pre-
ocupação no contexto da crise sanitária, pela baixa incidência e casos de gravida-
de decorrentes da contaminação desses pelo novo coronavírus, esses grupos são
considerados vulneráveis, especialmente pelas variáveis ambientais. Dentre estas,
podemos citar: estresse dos pais, perdas econômicas, confinamento e afastamento
dos amigos, cenas catastróficas transmitidas pela mídia (hospitais sem leitos de
UTI, cemitérios construídos às pressas, pessoas sem oxigênio etc.), ensino a dis-
tância, violência doméstica, consumo abusivo de álcool, desemprego dos pais e
insegurança de moradia.
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Psicopatologia
Outro ponto que merece destaque é a posição dos profissionais que atuam
em saúde mental, especialmente os que atuaram na linha de frente de combate
ao novo coronavírus. Em outro contexto, o da atuação psicanalítica, Costa (2020)
menciona os relatos de maior cansaço na nova forma de trabalho virtual. Aqui,
complementamos essa constatação compreendendo esse desgaste em virtude
da maior frequência de demanda dos pacientes, o que recai sobre a maior de-
manda de trabalho; da própria angústia individual e incertezas pessoais frente
à Covid-19, o que afeta a saúde mental; além da fadiga que decorre da intensa
atuação profissional e demais situações rotineiras diante das telas, bem como a
restrição das atividades de lazer.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/home-office-e-traba-
lho-hibrido-desencadearam-casos-de-burnout-entre-jovens-apon-
ta-estudo/. Acesso em: 17 ago. 2022.
120
Capítulo 3 DIAGNÓSTICOEESTRATÉGIASDECUIDADONOCAMPODAPSICOPATOLOGIAL
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Fonte: https://vejario.abril.com.br/coluna/gilberto-ururahy/cansaco-
home-office-explosao-burnout/. Acesso em: 17 ago. 2022.
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Psicopatologia
Fonte: https://jornal.usp.br/atualidades/diagnostico-de-transtor-
nos-mentais-pos-pandemia-preocupa-especialistas/. Acesso em:
17 ago. 2022.
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Psicopatologia
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
No presente capítulo, realizamos uma trajetória que passou pela questão do
diagnóstico e das principais classificações, seguidas das estratégias de cuidado e
também das novas discussões no campo da saúde mental, especialmente a partir
da pandemia da Covid-19.
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REFERÊNCIAS
APA. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V. Manual diagnóstico e
estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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