Tese Inpa OK
Tese Inpa OK
Tese Inpa OK
Manaus - Amazonas
Junho – 2014
1
PRISCILLA ADRIANO SILVA
Manaus - Amazonas
Junho – 2014
2
3
4
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 634.928
Sinopse:
5
A minha mãe, Célia Adriano, e a toda minha família.
6
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este trabalho, não posso deixar de agradecer pessoas que foram imprescindíveis para
que eu concluísse este trabalho.
Ao Prof. Dr. Gil Vieira e Prof. Dr. Henrique Pereira dos Santos, pela valiosa contribuição na
orientação para o melhor desenvolvimento deste trabalho, pela paciência, sugestões, críticas, que
foram de grande ajuda para que eu concluísse minha jornada.
Aos colegas da turma do MPGAP-2012, pela companhia e momentos vividos que levaremos por
toda vida.
7
RESUMO
8
ABSTRACT
9
SUMÁRIO
1 Introdução..................................................................................................................................14
2 Justificativa................................................................................................................................15
3 Objetivos.....................................................................................................................................16
3.1 Objetivo geral...................................................................................................................16
3.2 Objetivos Específicos.......................................................................................................16
4 Referencial Teórico...................................................................................................................16
4.1 Manejo Florestal Sustentável em Pequena Escala-MFSPE.............................................16
4.2 MFSPE em Unidades de Conservação de Uso Sustentável.............................................18
4.3 Marcos Reguladores.........................................................................................................22
5 Materiais e Métodos..................................................................................................................24
5.1Caracterização da área de estudo......................................................................................24
5.2 Etapas seguidas para coleta de dados..............................................................................28
6 Resultados e Discussão.............................................................................................................32
6.1 O Manejo Florestal na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro...........32
6.2 Histórico da exploração madeireira na margem direita do Baixo Rio Negro.................34
6.3 Cadeia produtiva da madeira manejada na RDS do Rio Negro......................................37
6.4 Benefícios socioeconômicos provenientes do manejo florestal nas comunidades.........45
6.4.1 Agregação de valor a madeira através do beneficiamento..........................................50
6.5 Diagnóstico das principais dificuldades para a efetiva implementação .......................52
7 Considerações finais.................................................................................................................62
8 Referencias bibliográficas........................................................................................................63
9 Anexos
10
LISTA DE TABELAS
11
LISTA DE FIGURAS
12
FIGURA 23 – Dificuldades mais enfrentadas pelas comunidades que realizaram pelo menos a
primeira colheita de madeira..........................................................................................................53
FIGURA 24 e 25 - Veículos utilizados na RDS no transporte da madeira manejada RDS do Rio
Negro, Novo Airão, AM Brasil......................................................................................................56
FIGURA 26 – Dificuldades mais enfrentadas pelas comunidades que ainda não realizaram a
primeira colheita de madeira..........................................................................................................57
FIGURA 27 e 28 - Capacitações oferecidas aos comunitários sobre manejo
florestal..........................................................................................................................................59
13
1. Introdução
Nos últimos anos, a política florestal no Estado do Amazonas tem sido grande
incentivadora do manejo florestal sustentável, tanto em áreas privadas, como também em
Unidades de Conservação recentemente criadas. No entanto, a implantação de tal política
governamental ainda apresenta inúmeros desafios tanto para pesquisadores, extensionistas,
gestores destas Unidades de Conservação, como também para os próprios comunitários.
O manejo florestal é a única atividade que permite conciliar atividade econômica de uso
do solo com a conservação da floresta. As atividades de pecuária, agricultura e de mineração são
as que possuem o menor potencial de conservação, enquanto as atividades de uso indireto como
ecoturismo e pagamento por serviços ambientais (carbono) são as que apresentam maior
potencial de conservação (Pinto et al, 2012).
Outro fator favorável à atividade florestal, provavelmente deva ser a madeira, sendo o
único recurso natural do Amazonas a apresentar ampla distribuição geográfica e alta liquidez no
mercado. O proprietário de uma área florestal bem manejada na região tem na madeira um bem
de fácil conversão comercial e grande diferenciador na composição de sua renda (Menezes et al,
2005).
O manejo florestal em comunidades tradicionais dentro de Unidades de Conservação é
uma estratégia que visa a conservação do ecossistema florestal e a geração de renda. Porém, por
se tratar de comunidade, onde o nível de complexidade é aumentado devido à interação de
diferentes grupos (comunitários, Órgão Gestor, Órgãos Ambientais, Órgãos de assistência
técnica e ONGs) torna-se necessário um trabalho em conjunto desde a fase de organização
comunitária até a comercialização da matéria-prima, ou seja, de toda a cadeia produtiva da
madeira, analisando-se questões cruciais como logística, acessibilidade, respeito à legislação
ambiental e mercado. Como toda atividade que envolve o comércio, a fase de avaliação quanto à
despesas e receitas oriundas da atividade madeireira, é de suma importância para saber se há um
ganho financeiro condizente com o esperado.
Em linhas gerais, este estudo possui alta relevância por ter uma abordagem pioneira,
contribuindo mais especificamente na gestão da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio
Negro, onde foi desenvolvido este trabalho, tendo sido geradas informações que poderão nortear
14
a atividade de manejo florestal sustentável de pequena escala ou comunitário, garantindo sua
efetiva implantação.
2. Justificativa
O projeto de manejo florestal sustentável de pequena escala, uma parceria entre Instituto
de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas-IDAM e
Fundação Amazônia Sustentável-FAS foi iniciado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
do Rio Negro em 2009, com o propósito de minimizar a extração de madeira ilegal, promover
geração de emprego e renda e com isso alcançar melhor bem-estar social. Este projeto
contemplou elaboração e execução dos planos, capacitações ao manejadores, acompanhamento
técnico e apoio à comercialização.
Um dos motivos para que fosse proposta a atividade do manejo florestal foi a vocação
dos comunitários em trabalhar com a madeira, sendo que muitos na reserva têm como profissão
a carpintaria naval e civil.
Na Reserva há 15 planos de manejo florestais, 10 elaborados pela parceria IDAM/FAS e
cinco elaborados pelo IDAM em 2006. Do total de 15, cinco conseguiram explorar e
comercializar a madeira licenciada, e um realizou apenas parte da exploração, mas devido à
demora em efetuar a venda, o período de licença de Operação expirou e não houve a
comercialização.
Apesar dos esforços dos comunitários, das instituições governamentais e não-
governamentais atuantes na região a atividade ainda enfrenta desafios diversos de ordem social,
política e econômica, para sua efetiva implementação. A partir dessa premissa que o estudo
justifica o seu propósito investigativo, buscando avaliar o manejo florestal de pequena escala
nesta Unidade de Conservação, deste o inicio da atividade até os dias atuais, através do
levantamento da situação in loco e análise de todos os fatores envolvidos, buscando como
resultado identificar os problemas e fazer proposições que possam contribuir com a gestão da
atividade, para que o manejo possa consolidar-se na RDS trazendo conservação ambiental e
promovendo melhoria na qualidade de vida dos moradores.
15
3. Objetivos
4. Referencial Teórico
16
de Colheita, PMFS de Menor Impacto de Colheita e PMFS em Pequena Escala (Amazonas,
2008).
O PMFSPE, categoria incentivada pelo governo do estado, está voltado para detentores
de terras com até 500 hectares com a admissão apenas de um único plano de Manejo por pessoa
foi normatizado inicialmente pela IN N° 01/06 e posteriormente pela IN N° 02/08, converteu-se
em Resolução CEMAAM N° 007 de 21 de julho de 2011. Como principais características, o
PMFSPE, deve possuir intensidade máxima de exploração é de 0,86m3/ha/ano em relação a área
de efetivo manejo; não pode haver arraste de toras, sendo apenas permitido o transporte das
peças beneficiadas em veículos com motor de até 85 cv de potência; a cada árvore selecionada
para corte, três de menor diâmetro da mesma espécie devem ser deixadas e se caso não seja
encontrada a quantidade de árvores para corte futuro em uma determinada espécie, somente pode
ser explorada 50% das árvores selecionadas para corte desta espécie. Toda a madeira proveniente
de área de manejo florestal é transportada acompanhando a nota fiscal estadual e o documento de
origem florestal-DOF, que comprovam a legalidade da atividade.
Ainda que o estado do Amazonas, não lidere em termos de volume o mercado de madeira
nativa manejada, destaca-se notoriamente quanto ao número de planos de manejo de pequena
escala ou familiar (MFF) protocolados no órgão ambiental do estado. Isso certamente se deve à
política estadual de incentivo ao manejo florestal de pequena escala no âmbito do Programa
Zona Franca Verde, com ações que vão desde a simplificação de normas para o MFF até o
direcionamento de uma agência de assessoria técnica do estado ao apoio direto à elaboração de
planos de manejo florestal de pequena escala. Com esse enfoque, o estado do Amazonas elevou
em 84% o número de iniciativas de MFF nos últimos três anos, passando de 422 planos de MFF
protocolados em 2007 (IEB e Imazon, 2007) a 775 planos de MFF protocolados em 2009/2010
(presente levantamento). A grande maioria (80%) desses planos de MFF foi elaborada via órgão
estadual de assessoria técnica – o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal
Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) (Imazon,2010).
Com todas essas premissas, o manejo florestal de pequena escala tem sido apontado
como uma atividade com potencial para integrar desenvolvimento local e conservação
ambiental em comunidades rurais, partindo da premissa de que gere renda a partir da floresta
em pé e fortaleça a gestão territorial e a governança florestal (Pinto, 2011).
17
4.2 MFSPE em Unidades de Conservação de Uso Sustentável
O manejo florestal sustentável em pequena escala é uma atividade permitida para ser
executada dentro de unidades de conservação de uso sustentável, pois ela concilia
sustentabilidade com geração de renda para os moradores das comunidades tradicionais ali
existentes.
O Decreto n.º 6.040, de 2007, em seu artigo 3.º, inciso I, define povos e comunidades
tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tal, que
possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos
naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Antes de iniciar um projeto de manejo florestal em comunidades tradicionais, é
necessário que haja uma investigação sobre a história da atividade madeireira na região. O
conhecimento da história da comunidade ajuda na compreensão do presente, no conhecimento
das causas que levaram às condições atuais e do que deveria ser mudado para a melhoria das
situações abordadas (Drumond, 2009) (Figura 01).
18
Fonte: Drumond, 2009.
19
6ª etapa 7ª etapa
1ª etapa
transporte entrga do
negociação fluvial produto
2ª etapa 5ª etapa
transporte
corte das árvores terrestre
3ª etapa
4 ªetapa
romaneio e beneficiamento
desdobro
20
Os desafios postos às comunidades continuam em parte sendo os mesmos apontados,
desde que as primeiras experiências foram postas em prática, há três décadas. A garantia de
acesso e uso da floresta (através da definição fundiária), o fortalecimento da organização social,
o crédito, a assistência e o acesso ao mercado, todos esses fatores continuam sendo as principais
barreiras a serem superadas pelas iniciativas na perspectiva de sua consolidação (Amaral, 2005).
Em geral, os problemas enfrentados são praticamente os mesmos em comunidades
tradicionais: falta de recursos financeiros para iniciarem a exploração; falta de transporte da área
do plano até a comunidade e da comunidade ao porto do município de destino; desorganização
social; concorrência com o mercado ilegal; alta taxa de imposto sobre a madeira; dificuldades em
realizar as transações no sistema DOF; falta de assistência técnica mais presente; demora nos
processos de licenciamento ambiental; legislação ambiental complexa e rigorosa; falta de ações
de crédito voltadas ao setor florestal; regularização fundiária, influência do regime sazonal, entre
outros (Figuras 03 e 04).
FIGURA 03 e 04 – Seca do igarapé de acesso à área de manejo; veículo utilizado para transporte
da madeira, ambas em comunidades da RDS Rio Negro, Amazonas, Brasil.
Fig 03 Fig 04
21
O manejo florestal em pequena escala praticado em comunidades dentro da RDS do Rio
Negro como também em outras Unidades de Conservação de Uso Sustentável no Amazonas,
ainda passam por um processo de adaptação e ajustes, e em sua maioria, ainda não conseguiram
consolidar a atividade, devido aos vários fatores já citados, comprometendo a integridade dessas
UCs e, consequentemente, a qualidade de vida dos moradores que podem retornar à insegurança
de um trabalho ilegal, abandonando uma oportunidade de fazer crescer uma atividade altamente
rentável se bem planejada e executada.
22
Um avanço foi dado também com a Instrução Normativa SDS Nº 006, de 13 de julho de
2010, que simplifica o processo de publicação da licença de Operação para Planos de Manejo
Florestais de Pequena Escala e/ou Comunitários. Permitindo a partir desta data a publicação por
meio da divulgação oficial da cópia da Licença, na Prefeitura Municipal para colocação no
Mural Oficial, e no escritório da Unidade Local do IDAM.
Em 2011, o Cemaam criou a Resolução 007/11 que estabelece procedimentos técnicos
para PMFS em pequena escala. Com essa norma menos impactante o Estado licencia atividades
de pequenos produtores e incentiva através de procedimentos menos burocráticos o
licenciamento ambiental, tornando acessível a exploração florestal para famílias que dependem
da extração de madeira para sobrevivência. Entre as alterações mais significativas estão a
diminuição da intensidade de corte para 0,86m3/ha/ano, mudança na nomenclatura no sistema
filha-neta para árvores de corte futuro, para cada árvore retirada, agora devem ser deixadas na
floresta 03 da mesma espécie com CAP entre 60 a 157cm.
Até então, ainda não havia nada na legislação ambiental relacionada ao aproveitamento
de resíduos oriundos da exploração. Com a Resolução n. 14 de 21 de novembro de 2012, que
altera a Resolução 007/11, ficou permitido o uso de resíduos como costaneiras, aparas e galhos,
considerando-se o volume de 01 estéreo de resíduo para cada metro cúbico de madeira em tora
autorizada e efetivamente explorada. Essa resolução veio como forma de atender o anseio da
indústria que utiliza lenha como gerador de energia e também como componente agregador de
reanda aos planos de manejo em pequena escala.
A resolução cita também sobre equipamentos para o desdobramento da madeira,
consentindo o uso de serrarias portáteis e permite a admissão de mais de um plano de manejo por
associação comunitária em UC`s de uso sustentável. Complementando, a Resolução Cemaam nº
009, de 15 de dezembro de 2011, veio para estabelecer procedimentos técnicos para elaboração,
apresentação, execução e avaliação técnica de PMFS de Maior impacto de exploração e PMFS
de menor impacto de exploração nas florestas nativas e formações sucessoras no Estado do
Amazonas.
Ferramenta muito importante no cenário da regularização ambiental no Estado foi a
criação do programa de Regularização Ambiental dos Imóveis Rurais, estabelecendo o Cadastro
Ambiental Rural (CAR), através da Lei Nº 3635, de 06 de julho de 2011. O CAR disciplina as
etapas do processo de regularização. A partir da publicação desta Lei, todas as propriedades
23
rurais devem aderir ao CAR, sendo este um pré-requisito para o licenciamento ambiental de
qualquer atividade realizada.
Outro avanço no setor madeireiro foi a criação da Instrução Normativa 009/2008, que
estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de indústria de mobiliário e indústria
madeireira de pequeno porte com pequeno potencial poluidor/degradador, o que resultou no
aumento da compra de madeira manejada e obrigou que extratores ilegais caíssem na legalidade
utilizando processos sustentáveis na obtenção desta matéria prima. Posteriormente, foi criada a
Resolução Cemaam nº 010, de 27 de janeiro de 2012, enfatizando e fortalecendo esta normativa.
Todos os marcos reguladores no período de 2008 a 2012 trouxeram mudanças
significativas na legislação ambiental, no que tange a temática manejo florestal em pequena
escala e indústria madeireira, principalmente o aumento da preocupação com os impactos
ambientais no ecossistema florestal e simplificação no trâmite do licenciamento da atividade.
5. Materiais e Métodos
24
Fonte: Stoltenberg, 2012
25
O processo de criação da RDS Rio Negro teve início em dezembro de 2007, quando
líderes comunitários da APA Margem Direita do Rio Negro, sentindo-se pressionados pela
legislação ambiental que protege as unidades de conservação de proteção integral vizinhas às
suas comunidades, foram até a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do
Estado do Amazonas (SDS) solicitar apoio na busca por uma melhor qualidade de vida e
alternativas de geração de renda.
Também contribuiu a possível ameaça de invasões de terras, pesca e caça predatória que
tenderiam a aumentar devido a construção da ponte sobre o Rio Negro que facilitaria o acesso
pela estrada AM 352.
A RDS possui 19 comunidades que totalizam 492 famílias. As atividades econômicas
mais representativas são: a pesca, o extrativismo madeireiro, a agricultura de subsistência, o
turismo de base comunitária e o artesanato (Figura 06).
FIGURA 06 – Algumas atividades realizadas nas comunidades da RDS Rio Negro, Amazonas,
Brasil (artesanato turismo, produção de espeto de madeira, agricultura familiar)
26
fisionômica (IPÊ apud Kurihara, 2011) – como também influenciou as populações locais a
obterem conhecimentos distintos de apropriação e manejo da agrobiodiversidade.
De acordo o Radam Brasil, a vegetação da RDS Rio Negro é composta por dois tipos de
fitofisionomias, a Floresta Ombrófila Aberta e a Floresta Ombrófila Densa (Figura 07).
27
Fonte: INMET apud IPÊ, 2008
Na região do baixo rio negro, é possível observar cinco ordens de solos predominantes:
os Latossolos, ocupando os interflúvios ou as porções mais elevadas da paisagem; os Argissolos,
ocupando as vertentes ou áreas de interflúvios; os Espodossolos, presentes nas áreas de
acumulação secundária de perfis arenosos; os Neossolos e Gleissolos, que se localizam sobre os
solos anfíbios e em formação das planícies de inundação (IPÊ, 2008). Na região, encontrasse
também manchas de solo antropogênico, conhecido com a Terra Preta de Índio (IPÊ, 2008). A
vegetação do Baixo Rio Negro está relacionada com os tipos de solos, como mostra a figura 09.
28
Fonte: IPÊ, 2007
29
o mercado consumidor, que produtos eram fabricados, como era a vida desses extrativistas na
época, etc (Figura 10).
30
foram feitas anotações sobre os instrumentos utilizados, os meios de transporte terrestre e fluvial,
o preço do metro cúbico vendido, etc.
Também houve consulta à FAS, diretamente com o técnico responsável pelo
desenvolvimento do projeto de manejo florestal na Reserva e com o extensionista da Unidade
Local do IDAM de Novo Airão, para se entender melhor como era feito o acompanhamento da
atividade, e qual o apoio dado aos manejadores, principalmente no manuseio do sistema DOF e
retirada de nota fiscal.
31
Com esse estudo foi possível obter quanto se gasta para explorar 1m3 de madeira serrada,
despesas de cada fase, receitas obtidas no geral e por cada família. Essas informações poderão
gerar subsídios para o gerenciamento e controle administrativo da atividade.
6. Resultados e Discussão
32
Em fevereiro de 2009 havia 15 planos de manejo licenciados pelo IPAAM (Tabela 02) (Figura
11).
33
Fonte: IDAM
34
comunidade e de outras próximas, contam a história da madeira na região da seguinte forma
(Figura 12):
Segundo os relatos dos moradores que viveram esta época, obtidos na oficina, o
extrativismo madeireiro na região, teve início nos anos de 1940, com a demanda por lenha que
neste período foi intensa. O produto destinava-se ao abastecimento de usinas na capital do
Amazonas. A exploração da lenha era feita nas áreas de floresta das comunidades e,
principalmente, nas ilhas do Arquipélago de Anavilhanas, pela facilidade no ato da exploração.
Durante duas décadas, a exploração da lenha predominou na região.
A partir de 1960, houve enfraquecimento da venda de lenha, então surgiu a demanda para
construção de embarcações de madeira. As espécies exploradas eram itaúba (Mezilaurus itauba),
loro abacate (Persea laevigata) e aritu (Acrodiclidium appellii). Esse ramo empregou muita
gente, tanto na venda da madeira quanto na construção dos barcos, nas próprias comunidades e
também em grandes estaleiros da região.
35
A exploração da madeira serrada intensificou-se no baixo rio Negro por volta da década
de 80, principalmente com aperfeiçoamento da motosserra. Até recentemente, toda a produção
madeireira local era lavrada no machado ou vendida em tora. A procura era grande por madeira
para construção civil, pau-de-escora, esteio de casas e poste para iluminação das ruas, etc. Dentre
as principais espécies exploradas a Acariquara (Minquartia guianensis Aubl) era a mais
comercializada na região.
No inicio da década de 90, inicia-se na região, o ciclo de exploração de madeira branca
serrada. A atividade acontece principalmente por meio da produção de tábuas de azimbre,
utilizadas na sustentação das construções civis de alvenaria e na venda de pranchas de madeira
branca para fabricação de paletes demandados pelo polo industrial de Manaus. (Kurihara, 2011).
A partir de 2007, principalmente depois do fim do ciclo do pau-de-escora, entrou em
ascensão na região a atividade de produção de espeto, voltada principalmente para abastecer a
demanda da cidade de Manaus.
Segundo o morador Francisco Pereira, da Comunidade Nova Esperança desde 1987, a
exploração madeireira, para diversos fins, sempre foi a principal fonte de renda nessa região da
margem direita do baixo rio negro.
“Sempre trabalhamos com madeira aqui, de todas as espécies, Angelim, louro, cumaru, cedrinho... na
grande maioria das vezes em pranchas para Manaus...eu nunca fui pego com madeira ilegal, quase não
havia fiscalização...só pararam mais de tirar madeira no fim de 2008, quando foi criada a RDS”.
Esse período foi de exploração intensa, pois Manaus demandava muita madeira. Essa
intensa exploração perdurou até 2005, quando a fiscalização ambiental começou a fazer
apreensões, deixando os moradores assustados. No ano seguinte, a extinta Agencia Florestal-
AFLORAM, Órgão Estadual que realizava os projetos de manejo florestal, elaborou 05 projetos
nas Comunidades, Carão, Saracá, Camará e Terra Preta, onde foram feitos 02 projetos. Em 2009,
saíram as primeiras licenças, mas o projeto teve que ser renovado sem que tenha havido
exploração, pois manejo florestal era algo novo para eles, e não souberam conduzir as atividades.
Com a diminuição da exploração informal da madeira devido à fiscalização, um grupo de
comunitários foi até Manaus, procurar ajuda junto ao Governo do Estado, para que fossem
tomadas providencias, já que a única coisa que sabiam fazer era trabalhar no ramo madeireiro, já
36
estavam passando por dificuldades financeiras. Foi então que, após algumas reuniões feitas na
região, foi acordada a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro.
“... houve conflito de madeireiros, que era o nosso caso, com o IBAMA. Nosso conflito sempre foi com o
IBAMA. Então foram nossos amigos presos, e daí começou-se um movimento, e daí o governo começou a
se envolver. Nós começamos a nos manifestar, o governo começou a se envolver e nós começamos a
debater de frente com ele sobre criação de Reserva sem consultoria da família, do morador que vivia ali,
não tinha nenhum respeito com ele. E o IBAMA só queria prender, prender, e não traz solução, não
mostra solução. E ai? A família vai viver de quê? Se for aquilo que foi passado de geração pra geração e
todo mundo foi se habituando a cortar madeira e não tinha jeito, ninguém sabia fazer outra coisa? (...) O
IBAMA ele só ia à comunidade atrás do caboclo que serrava, era aquele negócio (...) mas não trazia uma
educação ambiental, uma solução, tipo: – Olha pessoal, precisa criar um plano de manejo pra que vocês
possam trabalhar”(entrevista com Morador da comunidade Terra Preta em Novo Airão. Silva, 2011).
Devido a esse histórico tendo sempre a madeira como principal fonte de renda, o projeto
de manejo florestal de pequena escala foi criado, aproveitando-se desse conhecimento adquirido
pelos moradores ao longo dos anos, na tentativa de frear a exploração ilegal, fazendo parte de um
programa de recompensa por serviços ambientais, da Fundação Amazônia Sustentável.
A legítima significação que envolve a denominação dada ao Programa Bolsa Floresta
atua como um elo entre o homem do interior e o meio em que vive, levando-o a uma aceitação
mais rápida das limitações impostas pelo programa proposto para atingir seus objetivos, posto
que envolvam, em última escala, a redução do desmatamento por derrubadas, queimadas e, com
isso, a redução de emissão de carbono (CO2), que leva ao processo de mudança climática (Silva,
2011).
Devido às mudanças ocorridas pela criação da Reserva, hoje as comunidades vivem outra
realidade. Segundo os moradores, houve melhorias no âmbito da saúde, educação e maior
diversidade de atividades econômicas, como artesanato, turismo ecológico com botos,
agricultura familiar, pesca, entre outros. A madeira tornou-se apenas mais uma das atividades
econômicas exercidas.
37
FIGURA 13 – Cadeia produtiva da madeira manejada na RDS Rio Negro, Amazonas, Brasil
Entrega
38
Como instrumento de trabalho, são levados para a área de manejo: motosserra,
combustível, óleo lubrificante, lima, sabre, corda ou trena, além da licença ambiental e a lista de
árvores liberadas para corte.
Quando se trata de uma primeira exploração, é necessário planejar a logística de retirada
da madeira, definindo onde será construído o ramal, o porto de embarque, o pique dentro da área
do manejo, etc. Nas 10 áreas de manejo florestal visitadas, em todas foi notória a dificuldade no
transporte terrestre, visto que as áreas ficam cerca de 3 a 5 km de distância da sede da
comunidade. Portanto, o transporte só é viabilizado através de pequenos caminhões ou tratores
“jericos”. Apenas duas comunidades possuem transporte próprio, sendo que as demais alugam ou
negociam com o comprador da madeira para que ele o providencie.
Depois de construída toda a infraestrutura, é iniciado o corte das árvores liberadas no
licenciamento. Nesta etapa, os comunitários utilizam os procedimentos padrões do manejo
florestal, orientados durante as capacitações oferecidas na Reserva pelo órgão de assistência
técnica-IDAM.
O instrumento utilizado para corte e desdobro ainda é a motosserra, nenhuma
comunidade possui serraria portátil, apesar de todas terem recebido dos projetos de geração de
renda da Fundação Amazônia Sustestável-FAS, ecosserras, um tipo de serra portátil, mas os
comunitários não aprovaram o uso do equipamento justificando a pouca produtividade em
comparação com a motosserra. Também é notória a rejeição à ecosserra, por uma questão de
costume, mesmo com a vantagem do conforto ergonômico que ela proporciona durante o corte
da árvore (Figuras 14 e 15).
FIGURA 14 e 15 - Ecosserra
Fig 14 Fig 15
Fonte: IDAM
39
Antes do corte, os manejadores devem verificar se há cipós prendendo a árvore para que
não interfiram no direcionamento de queda, e realizar a limpeza na base do tronco, teste de oco
com introdução do sabre da motosserra na base do tronco e verificação do direcionamento de
queda para a abertura das rotas de fuga. Nos treinamentos oferecidos aos comunitários, todas as
técnicas apropriadas que ajudam no melhor aproveitamento e que causam menos impactos
ambientais foram repassadas, onde além da teoria, também realizaram a prática. Porém,
observando a exploração nas comunidades in loco, nem sempre esses aprendizados são utilizados
por eles. A técnica de corte, por exemplo, só e realizada quando se tem árvores em grande
diâmetro e nas que possuem maior probabilidade de racharem durante a queda. Um fato também
observado na maioria das áreas de exploração visitadas, é que não se respeita a norma de realizar
o corte acima de 20 a 30 cm do solo. Em muitos se deixou cerca de 50 cm, causando desperdício
da madeira, em desacordo com os procedimentos de boas práticas. Nas áreas de primeira
exploração visitadas, destacou-se a comunidade Carão, que cumpriu a maioria das boas práticas
ensinadas, durante a primeira exploração florestal (Figuras 16 e 17).
FIGURA 16 e 17 – Tocos de árvore encontradas nas áreas de manejo na RDS do Rio Negro,
Amazonas, Brasil
Como esses procedimentos são novidades para os manejadores da Reserva e por questões
de falta de costume, é necessário que os agentes de assistência técnica acompanhem mais de
perto as técnicas de exploração utilizadas por eles, para que no ato de vistoria do órgão
Ambiental, não haja constrangimentos nem multas, por estarem trabalhando fora das normas
estabelecidas.
40
Com relação à utilização de EPI’S, a maioria dos deles só utiliza quando há visitas às
áreas, do Órgão de assistência técnica ou do Instituto de Proteção Ambiental, ou seja, os
manejadores não julgam de grande importância sua utilização. Muitos confessam que não
gostam de usar. Que incomodam-se com botas e capacetes pelo grande calor. Essa
conscientização do uso de EPIs deve ser feita insistentemente, pois em muitos casos, o uso de
capacetes pode auxiliar no caso de acidentes provocados pela queda de galhos na cabeça e o uso
de botas cano longo, dificultando picadas de cobras venenosas. Sem falar do uso de protetor
auricular, viseira, luvas e roupa apropriada, que ajudam na proteção da integridade física do
manejador.
Após a derrubada das árvores, a equipe responsável pela cubagem, anota as medições
referentes ao comprimento, espessura e largura das peças para posterior calculo em metros
cúbicos, atentando a quantidade liberada pelo IPAAM. Devido à falta de equipamentos mais
apropriados e precisos, o cálculo realizado no inventario não possui 100% de precisão, e em
muitos casos, a árvore possui imperfeições que fazem com que diminua seu aproveitamento,
assim como há casos opostos, em que a árvore foi mais bem aproveitada do que o previsto.
Nesses casos, sendo para menos, justifica-se pelo pouco aproveitamento, sendo para mais,
infelizmente a madeira deve permanecer na floresta.
As peças de madeira são então conduzidas na área de manejo pelos trabalhadores, nos
ombros, até o ramal principal, chegando a caminhar com a peça de madeira por até 250m. Após
o transporte inicial, a madeira é embarcada no caminhão ou na carroceria de um trator jerico que
irá conduzi-la até o “porto”, onde permanecerá até sua condução para uma embarcação. Essa fase
de transporte terrestre foi vista neste estudo como a mais crítica durante o processo, devido à
dificuldade na obtenção do transporte, visto que apenas duas comunidades possuem veiculo
apropriado, e as demais precisam alugar, ou em alguns casos, negociar com o comprador da
madeira para que este entre com esta contrapartida.
Concluída a cubagem e o transporte até o porto, o responsável pela documentação da
madeira, que neste caso, geralmente é o presidente da comunidade ou o responsável pelo plano
de manejo segue, com maior frequência, para o IDAM no município de Novo Airão, para os
procedimentos de conversão da madeira de tora para madeira serrada, no sistema DOF do
IBAMA. Com a posse deste documento que é impresso, com mais os documentos necessários
para tirar a nota fiscal, o responsável segue para a SEFAZ do Município de Manacapuru ou
41
Manaus, pois em Novo Airão não há posto da SEFAZ, para a retirada da nota fiscal avulsa, onde
é cobrado um imposto de 17%, baseando-se numa pauta mínima de preços estabelecida pelo
Órgão. Com a nota em mãos, é feito o trâmite de oferecer o produto no sistema a Empresa
compradora que obrigatoriamente deve ser uma empresa licenciada e cadastrada no sistema DOF
do IBAMA.
Cada um deve entrar com sua senha e fazer esse procedimento individualmente. Foi
observado que, geralmente, quem realiza este trabalho e o órgão de assistência técnica, devido à
falta de conhecimento tanto do comunitário quanto do dono da empresa. Mas já foram realizados
cursos na Reserva sobre cadastro técnico federal e documento de origem florestal. Após a
obtenção do o Documento de Origem Florestal, o comunitário retorna a comunidade com a nota
fiscal e o DOF, obrigatórios para o transporte da madeira.
É necessário que o comunitário que possua a senha tenha bastante cuidado e que não a
repasse a nenhum desconhecido. Em uma das comunidades, houve um episódio em que alguém
de má fé se apossou da senha, entrou no sistema e vendeu toda a madeira sem o conhecimento da
comunidade. Isso gerou muitos problemas e há pouco tempo que o fato se esclareceu.
A madeira então é conduzida via fluvial, geralmente em barcos regionais de madeira ou
em balsas. Geralmente, o preço cobrado para o transporte de 20m3 da madeira até o município de
Novo Airão varia de R$400,00 a R$600,00. Apenas uma comunidade possui embarcação, as
demais precisam alugar. Estando no porto de destinação, a madeira segue para o ultimo
transporte que é do porto da cidade até o pátio do comprador.
Os custos de transporte (via rios, canais, estradas, ferrovias e portos) tipicamente
representam a parcela individualmente mais cara dos modernos empreendimentos extrativistas.
Como quase todo empreendimento extrativista moderno gasta mais em transporte do que em
qualquer outro fator produtivo, e como os investimentos em transporte são tipicamente caros e de
longa maturação, isso torna os empreendimentos extrativistas ainda mais vulneráveis (Bunker
apud Souza, 2006).
A dinâmica de venda da madeira nos planos de manejo das comunidades é fragmentada,
não há o corte de todas as arvores liberadas de uma só vez, geralmente cortam de 20 em 20m 3,
repetindo esse ciclo ate concluir o corte de todas. Isso porque o mercado consumidor é pequeno,
e as comunidades não possuem capital de giro para explorar toda madeira de uma vez só.
42
Durante a primeira exploração, cinco comunidades conseguiram colher e transportar
quase toda a madeira liberada e o município que mais comprou foi Novo Airão, seguido de
Manaus. Essas peças de madeira destinaram-se a serrarias e movelarias, para posterior utilização
na construção civil, reforma e/ou construção de embarcação e móveis, que por sua vez, são
vendidas no município de Novo Airão e municípios vizinhos, concluindo desta forma, a cadeia
produtiva da madeira manejada. As espécies madeireiras são bem diversificadas, como mostra a
tabela abaixo:
43
A cadeia produtiva como descrita, nem sempre ocorreu desta forma na Reserva. Na
Comunidade Terra Preta primeiramente houve o corte da madeira anterior à negociação.
Chegaram a ser cortados 50m3 de madeira, mas devido a demora em fechar o negócio com os
compradores e problemas na retirada da nota fiscal, o proponente não atentou ao prazo de
validade da Licença ambiental, que acabou expirando. Com isso, o sistema DOF do IBAMA
travou, impedindo a conversão da madeira de tora para prancha, e a transação comercial. Toda a
madeira ficou na comunidade e não foi possível comercializar por falta da documentação que
autoriza seu transporte e todos os 50m3 de madeira foram perdidos. Também não era mais
possível guardar a madeira em depósito, porque não havia mais como retirar um DOF, devido ao
termino do prazo da licença, o sistema não permite mais esta operação, e também não cabia mais
renovação da licença, pois já era uma renovação (Figuras 18, 19 e 20).
FIGURA 18, 19 e 20 – Madeira perdida na Comunidade Terra Preta, na RDS do Rio Negro,
Iranduba, Amazonas, Brasil, que não chegou a ser vendida.
Esse fato exemplifica a importância de um bom planejamento da atividade, caso não seja
feito, compromete todo um trabalho que poderia ter tido êxito.
Avaliando-se a cadeia produtiva da madeira manejada na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Rio Negro, uma forma de otimizar os trabalhos, seria a aquisição de serrarias
portáteis, visto que com as motosserras, o desdobro acarreta em maior perda de material lenhoso,
influenciando na produção. Estudos realizados pela Embrapa Acre, apontam que a substituição
de motosserras por serrarias portáteis no processamento da madeira, possibilita triplicar a
44
produtividade, além de aumentar a diversidade e a qualidade (melhor acabamento) da madeira
produzida (Araújo, 2011).
Além de todo o processo que transcorre na cadeia produtiva da madeira manejada,
também é importante que após a colheita florestal, seja realizado o monitoramento das áreas,
realizando-se o plantio de árvores nas clareiras que são abertas no ato da queda das arvores. Esse
procedimento deve ser tomado como obrigatório, como forma de compensação ambiental ao
dano que a atividade causa no ecossistema florestal.
45
TABELA 04 - Orçamento para elaboração, implantação, execução dos planos de manejo na RDS Rio Negro, Amazonas, Brasil
ATIVIDADE PRÉ-EXPLORATÓRIA:
120m³ serrado/comunidade UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado CUSTO/M³
Visita a área para avaliar o potencial Diaria 2 30.00 60.00
Inventário Florestal Diaria 18 30.00 540.00
Visita a área para confirmar árvores selecionadas Diaria 3 30.00 90.00
Alimentação para equipe Vb* 1 600.00 600.00
EPI Und 6 50.00 300.00
SUBSIDIADO
Terçado Und 6 28.00 168.00
Impressão de formulários Und 10 0.20 2.00
Combustível L 40 3.20 128.00
Técnico de Campo Und 1 500.00 500.00
Total 2.388 120 19.9
ELABORAÇÃO DO PLANO UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado CUSTO/M³
Digitação e impressão do Plano/Técnico Und 5 120 600.00
Serviço de cartório Vb 1 40.00 40.00
Passagens à sede dos Municípios Und 2 50.00 100.00
SUBSIDIADO
Taxa de Expediente Und 5.92 5.92
Total 745.92 120 6.22
LICENCIAMENTO UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado CUSTO/M³
Vistoria IPAAM (diaria,combustivel) Vb 1 582.00 582.00
Taxa de Licenciamento Und 1 231.18 231.18
Passagens à sede dos Municípios para publicar a L.O Und 1 50.00 50.00
SUBSIDIADO
Xerox Und 10 0.5 5.00
Total 868.18 120 7.23
TOTAL DE DESPESAS NA FASE PRE-EXPLORATÓRIA SUBSIDIADO PELO PROGRAMA BOLSA FLORESTA 33.35
FASE DE EXPLORAÇÃO DA MADEIRA UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado CUSTO/M³
Operador de Motossera (20*60,00/120m³) Und 1 10.00 10.00
Auxiliar do Operador (20*R$40,00/120m³) Und 1 6.60 6.60
46
Gasolina (p/explorar 1m3) L 5 3.20 16.00
3
Óleo 2T (p/explorar 1m ) 250ML 1 3.00 3.00
3
Óleo Queimado (p/explorar 1m ) L 3 2.00 6.00
Lima Roliça (p/explorar 1m3) Und 1 5.00 5.00
Implantação de Ramal R$3.000,00/120m³ Vb 1 25.00 25.00
Corrente (8*R$40,00/120m³) Vb 1 2.60 2.60
Total 74.20 1 74.20
TRANSPORTE DA MADEIRA SERRADA NO MANEJO UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado CUSTO/M³
Motorista do carro/trator (R$40,00 a cada 3m³) Vb 1 13.30 13.30
Diesel (300L /120m³) L 2.5 2.80 7.00
Total 20.30 1 20.30
TOTAL CUSTOS (74.20+20.30) 94.50
Despesas (gastos p/Comercializar) UND. QTD (R$) UNT. (R$) TOTAL M³ Serrado Despesa/m³
3
Frete Barco(6 viagens * R$600,00)/120m Vb 1 30.00 30.00
Viagem ao Município (movimentar sistema
DOF)(R$300,00/120m3) Vb 1 2.50 2.50
3
Viagem p/ tirar Nota Fiscal (R$720,00/120m ) Vb 1 6.00 6.00
3
Viagem p/ tirar DOF (R$720,00/120m ) Vb 1 6.00 6.00
3
Embarque da madeira (R$600,00/120m ) Vb 1 5.00 5.00
Imposto da NF 17% (paga pelo vendedor) Und 1 40.00 40.00
Total 89.50 1 89.50
TOTAL DESPESA 89.50
TOTAL CUSTOS + DESPESA POR M³ 184.00
MÉDIA DO VALOR DO M3 COMERCIALIZADO 400.00
LUCRO TOTAL 25.920,00
LUCRO POR PESSOA (06) 4.320,00
Obs: *Vb – valor base; diária do motosserrista: R$60,00; diária do ajudante: R$40,00; frete de embarcação: R$600,00 para transportar 20m 3; Para explorar 120m3,
utilizou-se me média 8 correntes; Na abertura do ramal, em média foi gasto R$3.000,00; O total de diesel gasto para transporte terrestre de 120m3 foi de 300L.
47
Observando-se a tabela acima, para cada metro cúbico (m3) colhido na Reserva, durante a
primeira exploração, foi gasto R$184,00, no total de 120m3, foi gasto R$22.080,00. Lembrando
que devido aos subsídios do Programa Bolsa Floresta, todas as etapas antes da exploração não
representou nenhum gasto para as comunidades.
No entanto, se fossem contabilizados todos os custos e despesas, desconsiderando o
subsídio, seria acrescido R$33.35 ao metro cúbico da madeira explorada.
Quanto à lucratividade, no total de 120m3 vendidos a R$400,00, obteve-se R$48.000,00,
retirando-se os gastos, o lucro obtido foi de R$25.920,00, coma média de 06 famílias
trabalhando no manejo, cada um recebeu ao final R$4.320,00 na primeira colheita. Por
comunidade estudada, esse valor alternou de R$1.200,00 a R$5.000,00, por família, mas essa
variável se deve as diferenças na quantidade de pessoas, de metro cúbico de madeira explorado e
preços distintos em cada comercialização.
Considerando-se que a maior parte da população da RDS sobrevive de diversas
atividades que dificilmente dão um retorno equiparável ao manejo florestal, em termos gerais, a
atividade vem proporcionando mais renda aos moradores.
É um tanto difícil comparar os planos de manejo florestais desenvolvidos na RDS Rio
Negro, com outros realizados em UC’s, como o caso da RDS Uatumã e RDS Mamirauá. No
Uatumã, a ONG Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas-
IDESAM, realizou os primeiros trabalhos mais voltados para pesquisa científica. Já num
segundo momento, estão realizando os planos de manejo em uma escala maior, parecido com os
feitos na RDS Rio Negro, mas ainda não estão realizando a exploração florestal. Na RDS
Mamirauá, onde foram feitos os primeiros planos de manejo a nível comunitário no Amazonas,
também passou muito tempo fazendo os planos de manejo para fins científicos, hoje já trabalham
em escala maior, mas o sistema é diferenciado, seguem uma legislação específica para o
ecossistema de várzea.
É importante ressaltar que o plano de manejo florestal em pequena escala desenvolvido
na Reserva é subsidiado pelo programa Bolsa Floresta da Fundação Amazônia Sustentável.
Segundo Silva (2012), o auxílio em dinheiro concedido por meio do Programa é entendido pelos
porta-vozes do governo como um incentivo necessário para que os beneficiários do programa
evitem, em suas atividades produtivas, a adoção de práticas que promovam o desmatamento,
entendendo assim que a conservação das florestas resulta das suas atitudes.
48
Se não fosse esse incentivo financeiro, o lucro da atividade, certamente seria bem menor.
Isso é um fator preocupante pensando-se no futuro da atividade porque esse subsídio um dia não
haverá mais, e se questiona se as comunidades conseguirão conduzir sozinhas todo o processo, e
se conseguirão arcar com todos os custos. Isto deve ser estudado futuramente.
Embora o plano de manejo em pequena escala na RDS Rio Negro apresente
lucratividade, algumas comunidades não se consideram muito satisfeitas, pois os comunitários
esperavam um retorno econômico bem maior.
Em uma análise mais holística da atividade, o manejo florestal não deve ser visto apenas
como um meio de ganhar dinheiro, mas também, como um fator de mudança no modo de se
trabalhar com a madeira na região. O fato de explorar a madeira e transporta-la sem medo da
fiscalização ambiental, exercendo agora uma atividade lícita, é muito satisfatório, segundo os
relatos dos moradores. Além disso, deve-se considerar que houve diminuição do impacto
ambiental que antes era provocado pela exploração predatória, o que muito ameaçava a
integridade da Unidade de Conservação e ainda a biodiversidade do Parque Nacional de
Anavilhanas que faz limite com a RDS.
O projeto de plano de manejo, elaborado e executado pela FAS e IDAM, tinha por meta
abranger uma grande quantidade de famílias em todas as comunidades inseridas no projeto. Mas
essa abrangência social não vem sendo alcançada. Em todas as comunidades estudadas, exceto a
do Carão, iniciaram em média 10 pessoas de cada comunidade nos trabalhos, e do meio para o
fim só restavam quatro pessoas, chegando ao ponto em que foi necessário trazer pessoas de fora
para ajudar. Isso se deve há vários motivos: desinteresse, falta de comprometimento,
desentendimentos pessoais, retorno econômico menor que o esperado, dificuldade em cumprir as
regras, etc.
Neste trabalho, havia uma proposta de realizar uma análise comparativa entre o cenário
da primeira e da segunda exploração, para se avaliar o quanto a lucratividade aumentaria na
segunda, considerando os menores gastos com a infraestrutura viária e ainda, com a experiência
adquirida, de modo a cometer menos erros. No entanto, até o final do período de coleta de dados,
as comunidades ainda não haviam concluído a segunda exploração, exceto a Comunidade Santo
Antonio.
Foi realizada a coleta dos dados na Comunidade Santo Antonio comparando-se a
primeira com a segunda exploração florestal, mas não houve grande diferença na lucratividade
49
obtida, pois a madeira foi vendida ao mesmo preço, não obtiveram o beneficio da isenção do
ICMS, e tiveram praticamente os mesmos gastos com transporte. O diferencial, que fez com que
obtivessem mais lucro, foi a redução dos gastos com abertura de ramal, pois agora foi preciso
apenas aumentar o ramal ate a nova área e o lucro por família aumentou, porque de seis que
trabalharam no primeiro, no segundo foram apenas três famílias.
Nos demais, através das observações e conversas com os manejadores, o cenário será o
mesmo obtido pela comunidade Santo Antonio. O diferencial é que elas já estão sendo
beneficiadas com a isenção do imposto, e o que tudo indica, com menores gastos terão um
retorno financeiro mais satisfatório.
Um componente agregador de renda ao manejo madeireiro, não utilizado ainda pelas
comunidades, é o aproveitamento dos resíduos provenientes da exploração tais como,
costaneiras, aparas e galhos, que podem ser usados para fins energéticos. A venda desse resíduo
é mais um componente que aumentaria a lucratividade da atividade.
Atualmente, madeira é um recurso natural renovável que vem tornando-se cada vez mais
escasso e de difícil acesso na região amazônica, devido ao aumento de áreas protegidas,
intensificação da fiscalização e maior demanda por madeira legalizada.
Uma alternativa para melhor aproveitamento e agregação de valor à madeira extraída na
Reserva, com certeza é o beneficiamento, transformando-a em móveis ou peças para construção
civil. Já é possível encontrar algumas iniciativas de beneficiamento da madeira para fabricação
de peças para construção civil e móveis (Figuras 21 e 22).
50
Fig 21 Fig 22
Para comprovar este fato, foi feito um estudo em uma movelaria no município de Novo
Airão, que compra a madeira em forma de prancha das comunidades (Tabela 05).
A espécie estudada foi o Angelim (Dypterix spp.), e a amostra foi de 1m3 de madeira
serrada com dimensões de 10cmx20cmx3,0m. O metro cúbico foi comprado a R$600,00 de uma
comunidade da Reserva.
Custo de Valor
Item Produto fabricado Qtd Qtd m3 gasto produção (R$) comercializado (R$) Lucro (R$)
Guarda-roupa c/6 portas e
1 4 gavetas 1 0.57 1600.00 2500.00 900.00
2 Cômoda c/ 5 gavetas 1 0.13 275.00 500.00 225.00
3 Cama casal simples 3 0.30 570.00 750.00 180.00
4 Resíduo - 0.004 - - -
TOTAL 1.00 2445.00 3750.00 1305.00
Esses dados foram coletados considerando-se a venda dos móveis no próprio município
de Novo Airão, sendo que esse valor varia quando a venda destina-se a Manaus ou a outros
municípios mais distantes. O custo de produção obtido, incluindo madeira, mão de obra, energia
elétrica e material utilizado foi de R$2.445,00, obtendo-se um lucro líquido de R$1.305,00,
utilizando-se um metro cúbico de madeira, ou seja, um ganho de 53%. Isso, levado à realidade da
Reserva, tem um cenário diferenciado. A matéria-prima que é a madeira não necessita ser paga,
apenas é contabilizado o custo de exploração e o deslocamento da área do manejo até o local
51
onde está instalada a movelaria na comunidade. Gastos com mão de obra também serão
reduzidos uma vez que os próprios comunitários fabricarão os móveis.
Com isso, percebe-se que para o melhor desenvolvimento e sucesso do manejo florestal
nas comunidades, deve-se incentivar a instalação de serrarias e movelarias de pequeno porte,
onde poderão ser confeccionados diversos produtos, desde aduelas, portas e janelas à armários,
camas, guarda-roupas, jogo de mesas, etc, e ainda gerando mais emprego e renda para os
moradores.
Porém, também se deve levar em consideração todo um contexto. Se toda a madeira
oriunda dos planos de manejo das comunidades for beneficiada no local, os empreendimentos
das cidades ao redor terão pouca oferta de madeira manejada. E se todas forem beneficiar a
madeira, deve-se ter o cuidado de fazer um estudo de mercado, se for o caso, fazer com que elas
trabalhem com diferentes produtos.
Geralmente, o início de cada atividade exploratória é complicado nas comunidades pelo
fato de não possuírem capital de giro para compra do material necessário. Então hipoteticamente,
seria mais viável a comunidade vender uma primeira remessa de madeira serrada, pois na
maioria dos casos o comprador financia o inicio da exploração, e o restante ficaria para o
beneficiamento na comunidade. Os empreendimentos da cidade continuariam tendo madeira
manejada para trabalhar e as comunidades teriam maior lucratividade com a confecção de outros
produtos que tem maior valor no mercado. O ideal também é que houvesse variedade de
confecção de produtos nas comunidades, diminuindo assim a competitividade.
A Fundação Amazônia Sustentavel-FAS, vem apoiando a instalação de pequenas oficinas
de beneficiamento da madeira, através do programa Bolsa Floresta. Duas comunidades, Tumbira
e Nova Esperança, foram as primeiras beneficiadas, e outras também pretendem ter a mesma
iniciativa.
Outro fator que deve ser levado em consideração é a concorrência que futuramente
poderá ocorrer entre as comunidades da reserva. Se todas forem beneficiar a madeira, deve-se ter
o cuidado de fazer um estudo de mercado, se for o caso, fazer com que elas trabalhem com
diferentes produtos.
52
O estudo para levantamento desses dados foi realizado em 10 comunidades, sendo que
foram englobadas as que estão desenvolvendo a atividade do manejo florestal e as que ainda não
conseguiram iniciar (Tabela 06).
TABELA 06 – Situação das 10 comunidades quanto às etapas das atividades do manejo florestal
e pequena escala na RDS do Rio Negro, Amazonas, Brasil
Na tabela 06, podem ser observadas situações diferenciadas: comunidades que estão
conseguindo desenvolver a atividade e já estão explorando pela segunda vez, enquanto algumas
ainda não iniciaram nem a primeira. Sabendo-se que essas comunidades enfrentam dificuldades
diversas, e com intuito de obter um cenário geral dessa problemática, procurou-se neste estudo
compreender as comunidades que vem conseguindo desenvolver a atividade e as que não estão.
Primeiramente, conversou-se com os proponentes ou responsáveis pelo plano de manejo das
comunidades que estão mais avançadas no processo: Tiririca, Santo Antonio, Nova Esperança,
Carão e Marajá. Podemos observar abaixo, as principais dificuldades enfrentadas por elas quanto
ao plano de manejo florestal de pequena escala (Figura 23):
FIGURA 23 – Dificuldades mais enfrentadas pelas comunidades que realizaram pelo menos a
primeira colheita de madeira
53
Dificuldades das comunidades que realizaram
a colheita da madeira
10%
baixo preço
10%
imposto
10% 50% falta de transporte
licenciamento ambiental
seca do rio
20%
Nota-se que a maior parte dos entrevistados respondeu que a principal dificuldade é o
baixo preço da madeira manejada. Quando o projeto do manejo florestal foi iniciado em 2009,
com a liberação das licenças ambientais em 2010, foi cogitado, e isso repercutiu rapidamente
dentro da Reserva, que o metro cúbico da madeira manejada seria vendido a cerca de R$1.000,00
a R$1.200,00 no mercado regional. Porém, durante a Rodada de Negócios, organizada pela FAS
e SEBRAE em 2011, com a participação dos comunitários e empresários, foi constatada outra
realidade. O preço da madeira estava bem abaixo, desanimando muitos que estavam com grandes
expectativas quanto ao lucro da atividade, tanto é que não houve nenhuma venda de madeira
durante o evento.
As comunidades que venderam sua madeira conseguiram um preço de cerca de R$200,00
a R$400,00/m3 da madeira serrada (prancha e pranchão), isso somado ao gasto com nota fiscal,
aluguel de barco e carro, e gastos diversos no processo exploratório, reduziu bastante a
lucratividade, mesmo com todo subsídio fornecido pela FAS e IDAM.
A maioria da madeira foi vendida no município de Novo Airão, que é o município mais
próximo para essas comunidades, para uma serraria de pequeno porte, sendo que maior parte do
mercado consumidor em Manaus tem preferência pela madeira já beneficiada em peças menores,
principalmente para a construção civil. Mas, o beneficiamento em peças menores, com a
motosserra não é o ideal, visto que o desperdício de madeira é muito grande, e os gastos também
aumentam. Portanto, pela falta de uma serraria portátil, ou de serrarias equipadas nas
54
comunidades, apenas desdobrava-se a madeira em bloco quadrado ou filé, prancha e pranchão
desdobrado. Segundo os entrevistados, isto impediu de forma impactante o sucesso da atividade,
forçando a venda de um produto em sua forma mais bruta. Sem contar o fato de carregar essas
peças pesadas nos ombros dentro da área do manejo até o embarque.
O segundo problema mais citado foi o imposto pago para a SEFAZ no ato da retirada da
nota fiscal, baseado em uma pauta mínima de preço por espécie de madeira, de 17%.
Considerando-se que o manejo em pequena escala que é realizado em uma área de até 500ha,
onde se tira em média 150m3 de madeira serrada, em que o lucro é divido por cerca de 6 a 10
pessoas em uma comunidade, essa taxa de imposto é alta. Em média, a cada 15m3 de madeira
vendida, paga-se uma nota fiscal no valor de R$600,00, ou seja, R$40,00 por metro de madeira
vendida.
Antes da Isenção, o pagamento do imposto, para esses comunitários que nunca
precisaram fazer isso enquanto trabalhavam na clandestinidade, foi um impacto, não só pela alta
taxa, mas também pelo trâmite burocrático para obtenção da mesma. Sem contar no gasto nas
viagens para tirar a nota, retirada por eles no Município de Manacapuru ou Manaus, em Novo
Airão não há posto da SEFAZ. É necessário que o Governo do estado amplie esse serviço
prestado pela SEFAZ a todos os municípios, instalando postos de atendimento.
Segundo as Instituições consultadas, há tempo que se articula uma forma de isentar ou
diminuir o Imposto sobre Circulação de mercadorias e serviços-ICMS, para os pequenos
produtores. Através da Lei n.3970 de 23/12/2013 que concede a isenção do ICMS nas operações
internas com produtos madeireiros nativos, originários de Plano de Manejo Florestal Sustentável
de Pequena Escala e de Plano de Manejo Florestal Sustentável de Menor impacto de Colheita,
isto tornou-se possível. A SEFAZ está repassando agora para os que não possuem o sistema para
emissão de nota eletrônica, um bloco de notas, evitando o manejador se dirigir ao posto da
SEFAZ todas as vezes que necessitar de uma nota fiscal. Esse procedimento com certeza foi um
grande avanço e incentivo ao manejo florestal em pequena escala, desburocratizando e ainda
melhorando a renda líquida para os manejadores.
A falta de transporte, terceiro item mais citado como problema também vem sendo um
obstáculo (Figuras 24 e 25). De todas as comunidades estudadas, apenas uma possui trator jerico
e barco e uma possui trator jerico, bem depreciado. As demais precisam alugar ou então negociar
com o comprador como foi feito em algumas situações. O fato de não haver o costume da criação
55
de bovinos e equinos por parte dos agricultores envolvidos no projeto, inviabiliza o uso de tração
animal, que poderia ser uma alternativa à falta de transporte motorizado nas comunidades, e
ainda diminuiria o custo total da exploração pela economia com combustível.
Fig. 24 Fig. 25
O licenciamento ambiental também foi citado pelos entrevistados como um dos gargalos
ao desenvolvimento da atividade. Principalmente no que diz respeito ao longo período para
liberação da licença. No primeiro licenciamento, o processo demorou cerca de um ano até a
expedição das 10 licenças protocoladas. A exigibilidade documental também é grande, e por se
tratar de exploração madeireira dentro de uma Unidade de Conservação, torna-se mais complexo
o processo. Um fator que fez com que demorasse o primeiro licenciamento, foi a questão
fundiária, o Órgão de Terras do Estado-ITEAM precisava expedir um Termo de Cessão de Uso
da área do manejo, por um período de 2 anos, e isso leva um tempo para ser feito.
Atualmente todas as comunidades já possuem a Concessão de Direito Real de Uso-
CDRU Coletiva, onde a União mantém o domínio e repassa apenas a posse da terra, que terá que
ser obrigatoriamente coletiva, que abrange toda a área da comunidade.
Todo esse processo fundiário poderia ser simplificado se a RDS já possuísse seu Plano
de Gestão, que especifica entre outras coisas as áreas das comunidades e onde é indicado fazer
plano de manejo florestal. Com a posse desse documento com essas informações, as atividades
econômicas poderão ser desenvolvidas com mais segurança ambiental e com menos exigências,
pois o processo para essas populações tradicionais deve ser desburocratizado ao máximo.
56
A seca anual dos rios (vazante) para os manejadores, torna-se um problema devido a área
do manejo florestal, em algumas comunidades, ter acesso pelos igarapés, tornando inacessível a
entrada de embarcações para retirada da madeira. Por isso, é de grande necessidade uma
programação da execução dos trabalhos, para que a sazonalidade não comprometa o bom
andamento dos trabalhos e em o descumprimento dos prazos cedidos pelo licenciamento
ambiental.
Problemas diversos também são enfrentados pelas comunidades que ainda não iniciaram
suas atividades de exploração da madeira (Figura 26):
FIGURA 26 – Dificuldades mais enfrentadas pelas comunidades que ainda não realizaram a
primeira colheita de madeira
30%
baixo preço da madeira
57
No caso das comunidades que não conseguiram iniciar as atividades de colheita da
madeira, os problemas diferenciam-se um pouco. Os dois mais citados foram a burocracia que
envolve toda atividade e a falta de organização comunitária. Quanto ao primeiro, os comunitários
referem-se a grande dificuldade que encontram para trabalhar de forma legalizada, acostumados
a exploração e venda de madeira de forma convencional.
A falta da organização dos envolvidos na comunidade para execução dos trabalhos é um
problema comumente enfrentado em comunidades rurais. Nos relatos dos entrevistados, muito se
falou na falta de interesse no trabalho, e dificuldade de interagir em equipe.
A distância e o difícil acesso às áreas demarcadas para o manejo florestal, em algumas
comunidades foram uma grande dificuldade. Fato observado in loco na comunidade Saracá, que
além da distância da sede da comunidade, possui o agravante de difícil acesso, não há estrada ou
ramal, apenas uma picada já encoberta pela vegetação, encontrando no decorrer do caminho
terras acidentadas e igarapés extensos, impossibilitando a retirada da madeira.
A viabilidade de qualquer atividade comercial deve ser estudada antes da execução do
mesmo. A escolha da área é um fator primordial que irá interferir diretamente no sucesso ou não
da atividade. O técnico responsável pelo projeto deveria ter analisado melhor antes de demarcar
a área, mesmo que em alguns casos seja indicação dos comunitários, ele deve esclarecer sobre os
problemas quanto à logística. Devido principalmente a esta dificuldade, a comunidade Saracá
desistiu do projeto.
A falta de transporte, já foi um problema discutido anteriormente, e em alguns casos foi o
principal gargalo para o inicio da atividade. Cito a Comunidade Camará, que possui uma estrada
antiga que dá acesso à área do manejo, mas que devido a falta de transporte não consegue retirar
a madeira de dentro da floresta.
Fazendo-se uma análise generalizada do projeto de manejo florestal na RDS Rio Negro,
onde foram implantados 15 planos de manejo, abrangendo 13 comunidades de um total de 19 ao
longo de toda Reserva, pode-se dizer que as metas ainda não foram alcançadas. Dos 10 projetos
feitos com a parceria FAS/IDAM em 2009, somando-se aos cinco que já existiam feitos pelo
IDAM em 2006, apenas cinco conseguiram realizar colheita e comercializar. Os motivos para
este cenário já foram discutidos.
58
Entre as razões para o relativo baixo desempenho do projeto estariam falhas no
planejamento e a inexistência de discussões, antes da implantação do projeto. Alguns
comunitários reclamam que faltou maior esclarecimento sobre como funcionava e quais os
procedimentos a serem seguidos para se trabalhar com madeira manejada. Quando se depararam
com os trâmites não souberam como conduzir os trabalhos, mesmo com as capacitações
oferecidos aos comunitários, na hora da prática ainda encontram dificuldades (Figuras 27 e 28).
Fig. 27 Fig. 28
Outro fato que deveria ter observado, era a falta de transporte terrestre e fluvial nas
comunidades para escoamento da madeira, muitas não realizaram a exploração por falta desse
transporte. Deveriam ter sido analisadas todas as fases da cadeia produtiva da madeira do
manejo, inclusive o escoamento e a comercialização que foram os principais gargalos.
Porém, apesar das dificuldades, há uma grande perspectiva de dias melhores no que tange
o manejo florestal na Reserva. A Fundação Amazônia Sustentável adquiriu recentemente, através
de uma parceria com o Instituto Camargo Correa, uma balsa e um trator, para auxiliar as
comunidades no escoamento da madeira. Outro importante avanço foi a concessão de isenção do
pagamento da nota fiscal para os pequenos produtores do Amazonas. Com essas conquistas, os
custos e gastos irão reduzir consideravelmente, um grande incentivo aos que estão
desenvolvendo a atividade e aos que ainda não iniciaram.
Outro grande avanço que deve ser alcançado ainda, seria o acesso as linhas de crédito,
para o inicio dos trabalhos para executar a exploração florestal em pequena escala na Reserva,
pois de modo geral, inexiste nas comunidades alternativas para o estabelecimento de fluxo de
59
caixa para operacionalização de planos de manejo. As iniciativas já existentes de apoio
financeiro através dos Programas do Bolsa Floresta ainda não são suficientes para suprir a
necessidade inicial da exploração florestal.
A superação desses obstáculos remete a um processo de fortalecimento das organizações
comunitárias envolvidas na implementação de planos de manejo como estratégia de conservação
e governança florestal.
Os planos de manejo florestais em pequena escala na RDS Rio Negro, apesar de
dificuldades que ainda perduram, têm agora com grandes perspectivas de consolidação da
atividade, tornando-se uma alternativa de renda às famílias, gerando empregos com a construção
de pequenos empreendimentos madeireiros e ajudando na manutenção dos recursos florestais,
inibindo a exploração ilegal.
No final é uma atividade subsidiada pelo governo ou empresas parceiras. Mas há os
ganhos sociais do manejo. Embutido nisto tudo há os conceitos de conservação da natureza,
engajamento com educação, respeito às leis, usos de EPIs.
Na tabela 07, pode-se observar um resumo sobre a situação de cada problema discutido acima,
quais os avanços e propostas para soluciona-los:
60
TABELA 07 - Entraves, avanços e propostas para consolidação do manejo florestal na RDS Rio Negro.
61
7. Considerações finais
Com base nas informações e dados analisados conclui-se que o manejo florestal
sustentável em pequena escala, desenvolvido nas comunidades da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Rio Negro, ainda passa por momentos de adaptações.
O subsídio oferecido pelo Programa Bolsa Floresta, da Fundação Amazônia Sustentável-
FAS tem sido primordial para o andamento das atividades, mas devido falta de planejamento
inicial, atualmente a FAS ainda não vem conseguindo atingir suas metas, porque a maioria das
comunidades onde o projeto foi implantado, ainda não conseguiu dar início à atividade de
exploração. Desse modo, nota-se que incentivos unilaterais tendem a impulsionar apenas
algumas etapas da cadeia de produção florestal, podendo não ser suficientes para viabilizá-la
como um todo.
São necessários mais investimentos na aquisição de equipamentos como serrarias
portáteis ou instalação de pequenas serrarias e/ou movelarias, onde a madeira possa ser
processada para agregação de valor, dando uso aos resíduos da exploração, tornando desta forma
a cadeia produtiva mais eficaz, gerando mais emprego e renda nas comunidades e ainda
utilizando menos madeira.
De um modo geral, se devem considerar todas as mudanças importantes que vem
ocorrendo, quanto a utilização racional dos recursos florestais, legalização da atividade
madeireira, mudança de hábitos e benefícios socioeconômicos, mas torna-se necessário a
superação de obstáculos que ainda emperram a consolidação do manejo florestal na Reserva.
Como a região do baixo rio Negro historicamente fez do extrativismo madeireiro sua
principal fonte de renda, nada melhor do que projetos de manejo florestal sustentável para
normatizar a atividade e frear o desmatamento ilegal. Apesar das dificuldades, a atividade possui
um futuro promissor, com a isenção de impostos, desburocratização do licenciamento, incentivos
governamentais e não-governamentais, o manejo florestal sustentável tende a se consolidar como
atividade promissora dentro da RDS do Rio Negro.
62
8. Referências Bibliográficas
Carvalheiro, Katia; Sabogal, César; Amaral, Paulo Center for International Forestry Research.
CIFOR / Proyecto ForLive. Manejo florestal por pequenos produtores rurais na Amazônia -
Uma oportunidade para melhorar a estabilidade ambiental e os meios de vida na área rural
/ Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia. IMAZON / UFRA, 2008.
63
Imazon. Iniciativas de Manejo florestal comunitário e familiar na Amazônia Brasileira
2009/2010.(http://www.imazon.org.br/publicacoes/livros/iniciativas-de-manejo-florestal-
comunitario-e-familiar-na-amazonia-brasileira-2009-2010-1) Acesso 10/01/2014.
Instituto de Pesquisas Ecológicas - IPÊ 2008. Plano de Gestão do Parque Estadual do Rio
Negro – Setor Sul. Relatório Parcial, Volume 1, Versão 2.
Kurihara, Leonardo Pereira. Exploração madeireira familiar no rio Cuieiras, baixo rio
Negro, Amazônia Central, Manaus 2011.
Pires, A., Moura, E., Disconzi, G. & Benchimol, A. 2002. O desafio de conservar as florestas
inundáveis amazônicas no Brasil. In Science and local communities: strengthening partnerships
for effective wetland management. Ducks Unlimited, Inc., USA.
64
Romano Timofeiczyk Junior. Analise Econômica do manejo de baixo impacto em florestas
tropicais- Um Estudo de Caso. Curitiba, 2004.
Silva, Gimima Beatriz Melo da. Gestão ambiental e dinâmica territorial no Baixo Rio Negro-
AM. Manaus, 2011.
(http://www.redesrurais.org.br/sites/default/files/Gest%C3%A3o%20ambiental%20e%20din%C
3%A2mica%20territorial%20no%20Baixo%20Rio%20Negro.pdf). Acesso: 03/03/14
65
ANEXO I
Questionário aberto para levantamento de dados da exploração florestal nas comunidades da RDS Rio Negro
66
Principais problemas e dificuldades enfrentadas na exploração madeireira
Das dificuldades relacionadas abaixo, priorize numa escala as mais comumente enfrentadas:
( ) baixo preço da madeira
( ) alto valor do imposto
( ) licenciamento ambiental
( ) seca do rio
( ) falta de transporte
67
ANEXO III
68
69
70
ANEXO III
FOTOS DIVERSAS
71