As Teorias de Resistencia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Ficha de História, 12ª classe C.

D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)

Teorias de Resistência Segundo Terence O. Ranger

Diante da ocupação europeia da África, os dirigentes africanos foram


profundamente hostis a essa mudança e declararam-se decididos a manter o
seu “status quo” e, sobretudo, assegurar a sua soberania e independência.
Manifestaram a sua determinação em manter a sua soberania, a sua religião e
o seu modo de vida tradicional. Sobre a resistência africana existem, segundo
T.O. Ranger três teorias que importa analisar:
i. A resistência africana era importante já que provava que os africanos nunca
haviam resignado diante da conquista e ocupação europeia. Na verdade todos
os tipos de sociedades africanas resistiram e a resistência manifestou-se em
quase todas as regiões de penetração europeia.

ii. Contrariamente a ideia de muitos historiadores que consideram a resistência


algo desesperada e ilógica (teoria Eurocêntrica), a resistência era muitas vezes
movida por ideologias racionais e inovadoras; as resistências africanas eram
movidas por ideologias como o princípio da soberania e a religião. É esta a
ideia sustentada por alguns teóricos (africanistas) da resistência africana como
Ajayi que dizia “O aspecto mais importante do impacto europeu foi a alienação
da soberania. Quando um povo perde a sua soberania ficando submetido a
outra cultura, perde pelo menos um pouco da sua autoconfiança e dignidade;
perde o direito de se auto governar, a liberdade de escolher o que mudar em
sua própria cultura ou o que adoptar ou rejeitar da outra cultura”.
As doutrinas e símbolos religiosos apoiaram-se, em geral, nas questões de
soberania e da legitimidade. A legitimidade dos chefes era consagrada por uma
investidura ritual. Por outro lado quando um dirigente e seu povo decidiam
defender a sua Soberania, apoiavam-se em símbolos e conceitos religiosos, ou
seja, era habitual a realização de cerimónias, supostamente, para garantir
sucesso das campanhas militares. E essa foi outra forca motriz das
resistências em África.

iii. A terceira teoria sobre a resistência africana é aquela que considera que os
movimentos de resistência não eram insignificantes, pois tiveram
consequências importantes em seu tempo e ainda hoje têm notável
ressonância.

A Importância e Consequências das Resistências


Durante largo tempo os movimentos de resistência eram tidos como impasses
que a nada levaram, mas a partir da década de 1980 ganhou força a ideia
segundo a qual esses movimentos se voltavam para o futuro. Do ponto de vista
da soberania esses movimentos anteciparam a sua reconquista e o triunfo do
nacionalismo africano. Entanto que depositários de ideologias proféticas pode
se dizer que contribuíram para novos agrupamento a volta de ideias. Alguns
1
Ficha de História, 12ª classe C.D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)
contribuíram para a melhoria da situação dos povos revoltados e outros
instituíram lideranças alternativas às tradicionais.

O Papel Específico de Portugal na Penetração Imperialista

O estado colonial português, como medianeiro entre o imperialismo na caça do


sobre lucro colonial, e os recursos humanos e naturais de Moçambique. Ao
assumir essa mediação, como resultado da imposição externa e das condições
específicas da evolução do capitalismo português, Portugal pôde,
indiscutivelmente, preparar terreno para uma nova acumulação primitiva de
capital na sua forma de capital-dinheiro, que viria a ser decisiva para o
desenvolvimento da economia política do Portugal pós 1930, no chamado
“nacionalismo económico” de Salazar. Ao ceder dois terços do território
moçambicano às companhias, exigiu-lhes um quinhão de lucros: Por exemplo,
da companhia de Moçambique, que, só por si, ocupou um quarto do território
nacional recebeu 10% cento das acções emitidas e 7,5% dos lucros totais em
troca do que Portugal se absteve de cobrar impostos nas áreas de concessão
da companhia. Quando autorizou as companhias não majestáticas a cobrarem
impostos nas terras aforadas, exgiu-lhes uma percentagem da cobrança. Ao
autorizar o recrutamento nas áreas sob seu controlo, o estado cobrava taxas de
recrutamento às companhias autorizadas a efectuá-lo.
E ao promover a exportação de mão-de-obra a sul do Save para as minas sul-
africanas, cobrou tarifas transitárias, beneficiou do pagamento diferido em
divisas e fez com que lhe construíssem o porto de Lourenço Marques e as
linhas férreas.
Assim, como “Potência capitalista em evolução, tributária de modos de
produzir e de
reproduzir pré-capitalistas, mas potência não imperialista, Portugal participou
objectivamente interessado na “corrida imperialista”. Tirando partido da sua
condição de “potência menor” num jogo de alianças tácticas e aproveitando,
nos conflitos entre as grandes potências, a recusa destas em aceitar que
qualquer delas obtivesse uma hegemonia territorial ou estratégia superior à
das outras, Portugal surgiu na cena histórica como mediação entre o
imperialismo na caça do sobre lucro colonial e os recursos humanos e naturais
das colónias, lucrando e fazendo lucrar”.
Um dos fenómenos de mais difícil explicação e compreensão no estudo da
dominação imperialista é o que diz respeito ao facto de Portugal, não sendo
uma potência imperialista, ter podido continuar a ser uma potência colonial.
Algumas ideias:
- Portugal era, nos finais do século XIX, uma “potência capitalista atrasada” e
que, por consequência, só pôde manter as colónias cedendo-as e “alugando-as”
2
Ficha de História, 12ª classe C.D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)
ao capital de potências capitalistas de facto.
- Portugal manteve as colónias não para explorá-las do ponto de vista
económico, o que não lhe era possível por ser um país atrasado, mas sim para
as exibir. Portugal era uma potência imperialista sem raízes nem objectivos
“económicos”, desenvolvendo um “imperialismo de prestígio”
- Portugal manteve as colónias porque fracções da burguesia portuguesa
estavam interessadas na sua exploração.

O Estabelecimento das Fronteiras de Moçambique


O estabelecimento das fronteiras de Moçambique foi um dos momentos em
que se evidenciou a forma como o apadrinhamento concedido pelo grande
capital internacional e o jogo de concessões e de alianças tácticas com as
diversas potências coloniais, permitiu a Portugal entrar com sucesso na
aventura colonial. Com efeito, foi entre conflitos, arbitragens e tratados que se
produziu o traçado actual das fronteiras de Moçambique.

Fronteira Sul

O estabelecimento da fronteira Sul fez-se no final de disputas entre


portugueses, ingleses e bóeres, pela posse da Baía de Maputo. No século XVIII,
os portugueses que através de Lourenço Marques tinham se fixado na Baía de
Maputo em 1544, os holandeses e os austríacos lutavam pelo controlo desta.
Em 1820 entraram na disputa os ingleses quando William Owen assinou
tratados com chefes de alguns reinos situados a sul da Baía.
A entrada dos ingleses na corrida pela posse da Baía de Maputo explicasse
pela importância que a Baía de Maputo tinha para os ingleses, que na altura
tinham ocupado o Natal e o Cabo. Com efeito para os ingleses a baia de
Maputo era importante pois: Era uma potencial reserva de mão-de-obra para a
colónia britânica do Natal; permitia controlar as vias de comunicações
especialmente o Rio
Maputo (para travar o tráfico de armas pelos Zulu através da Baía); podia servir
de base para as operações com vista a anexar o Transvaal.
Reagindo a ameaça inglesa, os portugueses protestaram, mas os ingleses
mantiveram-se firmes nas suas acções. Tentando assegurar os seus interesses,
em 1869, Portugal assinou um acordo com o Transvaal que fixava o limite dos
territórios portugueses pelo paralelo 26º30’S (Montes Libombos).

O acordo de 1869 também não foi capaz de demover os ingleses e Portugal


decidiu solicitar arbitragem internacional. Em 1875 deu-se então a arbitragem
internacional pelo presidente Francês marechal Mac Mahon. Como sabe, caro
aluno a Baía de Maputo é parte do território moçambicano que esteve sob
colonização portuguesa, o que mostra que Mac Mahon decidu a favor do

3
Ficha de História, 12ª classe C.D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)
portugueses.

Fronteira Centro
O conflito envolveu os portugueses, com o seu projecto Mapa-Cor-de-Rosa, e os
ingleses que tinham o plano de ligar o Cabo ao Cairo. Nesta região as disputas
foram muito mais acesas e chegaram a confrontação militar.
Em 1886, um ano após a Conferência de Berlim, Portugal elaborou o seu plano
de ocupação na África Austral que previa a ocupação de todas as terras entre
Angola e Moçambique – Mapa Cor-de-Rosa. No mesmo ano, e prevendo a
contestação inglesa, Portugal assinou tratados com Alemanha e França para
que estes países apoiassem Portugal em caso de disputa com os ingleses.
Em 1887 o ministro dos negócios estrangeiros português, Henrique Barros
Gomes apresentou à Câmara dos deputados o mapa cor-de-rosa que punha em
causa os desejos expansionistas dos ingleses. A reacção inglesa não se fez
esperar. Partindo das suas possessões na actual África do Sul, os ingleses
avançaram para Mashonalândia e Matabelelândia e apelaram aos portugueses
para abdicar das suas ambições. Instalou-se o conflito.
Em 11 de Janeiro de 1890, por intermédio do conservador Lord Salisbury, os
ingleses enviaram um ultimato exigindo a retirada imediata das tropas
portuguesas do Chire e da Mashonalândia sob perigo de quebra das relações e
recurso a força militar. Portugal tentou apelar aos seus “aliados” (Alemanha e
França) mas nenhum deles concedeu apoio. A Inglaterra enviou uma força da
companhia BSAC para atacar Manica. Sem o apoio dos “aliados” Paiva de
Andrade, administrador da Companhia de Moçambique, e como tal
representante dos interesses dos portugueses na região foi preso após as
tropas da Companhia de Moçambique terem sido derrotadas. De seguida os
ingleses construíram, em Manica, o forte Salisbury.
O governo português teve que se submeter ao ultimato inglês, vendo desse
modo fracassar a ideia do Mapa Cor-de-Rosa.

Fronteira Norte
Os conflitos no norte envolveram Portugal e Alemanha. Este país tinha ocupado
o Tanganyika desde 1884. Em 1894 atravessou o Rovuma para o sul
expulsando a guarnição portuguesa e substituindo-a por uma alemã. Apesar do
protesto formal apresentado pelos portugueses, os alemães se mantiveram e
alargaram a sua ocupação até Quionga. Só a derrota alemã na I Guerra
Mundial permitiu a Portugal recuperar as suas terras.
Em 1898 as dificuldades financeiras de Portugal e a crise política ligada ao
ultimatum inglês levaram a elaboração de um projecto de divisão de Angola e
Moçambique entre Inglaterra e Alemanha. Nesse ano a Inglaterra, que pretendia
garantir a neutralidade da Alemanha no conflito que tinha com a França por
causa do Sudão e a não participação alemã na iminente guerra anglo-boer,
assinou com a Alemanha um contrato que distribuía as áreas de influência.
Assim, caso Portugal contraísse empréstimo a qualquer das duas potências o
4
Ficha de História, 12ª classe C.D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)
norte de Moçambique, o sul de Angola e Timor ficaria com a Alemanha e o
resto ficaria com a Inglaterra. À este acordo de áreas de influência foi anexa
uma cláusula secreta que previa que em caso de incumprimento do estipulado
na concessão do empréstimo as duas colónias ocupariam efectivamente as
“áreas de influência” portuguesa. Contudo a Inglaterra apressou-se a dar
conhecimento da cláusula secreta aos portugueses.
A Alemanha desconhecedora da traição inglesa tentou acelerar o processo,
oferecendo a Portugal um empréstimo, mas Portugal recusou-se tentando obtê-
lo junto da França. Para tentar intimidar a Alemanha enviou, em Maio de 1898,
uma esquadra naval pelo Tejo, mas ao chegar a Portugal encontrou uma
guarnição inglesa e teve que regressar.
Face a situação vivida por Portugal este aceitou um pequeno empréstimo
britânico e assinou o tratado de Windsor pelo qual a Inglaterra reafirmou a sua
obrigação de proteger a integridade territorial de Portugal contra todos os
inimigos presentes e futuros. Por sua vez Portugal garantia a sua neutralidade
em caso de conflito na África do Sul e proibia o tráfico de armas pelo porto de
Lourenço Marques.
Em 1904 a Alemanha tenta sem sucesso retomar o diálogo sobre a partilha dos
territórios portugueses.
Em 1911 reactivou o seu velho interesse e conseguiu forçar o reinício das
negociações com a Inglaterra em 1913. O texto do novo acordo ficou pronto
mas não chegou a ser assinado devido a falta de consenso sobre certas
questões do acordo e início da Primeira Guerra Mundial.

Questionário (deve ser feito na folha e apresentado na terça-feira, 19/07)


1. Em 1887 foi apresentado em Portugal, um mapa de África Meridional
Portuguesa, que entrou para a História com o nome de “Mapa Cor-de Rosa”.
a) O que representava o Mapa Cor-de Rosa?
b) Em que contexto histórico surgiu?
2. Depois de ter apoiado Portugal na defesa do seu “direito histórico” na
Conferência de Berlim, algumas potências envolveram-se depois numa
tentativa de ocupação global das colónias portuguesas.
a) Que potencias são referidas na frase?
b) Enumere exemplos que mostram como se processou a tentativa de
ocupação global de Moçambique por parte das potências capitalistas.
3. Enquadrado no processo da ocupação efectiva de Moçambique, a 11 de
Novembro de 1890, a Grã-Bretanha, por intermédio do conservador Lordy
Salisbury, enviou um ultimato ao Portugal.

5
Ficha de História, 12ª classe C.D
II Trimestre / 2024 Dolce Saia
O Colonialismo Português em Moçambique (1890-1930)
a) Em que acontecimento concreto da ocupação efectiva se enquadra este
ultimato?
b) Como é que Portugal reagiu ao ultimato?
4. Foi no meio de conflitos entre Portugal e as diversas potências que foram
traçadas as actuais fronteiras de Moçambique.
Bom trabalho!

Você também pode gostar