A Doutrina Do Dia Do Senhor Ou Sábado Cristão - A Lei Moral e o Tempo (ESTUDO 1)
A Doutrina Do Dia Do Senhor Ou Sábado Cristão - A Lei Moral e o Tempo (ESTUDO 1)
A Doutrina Do Dia Do Senhor Ou Sábado Cristão - A Lei Moral e o Tempo (ESTUDO 1)
“Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra.
Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu
filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a
terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia
do sábado, e o santificou.” (Êxodo 20:8-11)
Base Confessional: CFW1 XXI.7-8, CMW2 115-121, BCW3 57-62, DCPW4 “Da Santificação
do dia do Senhor”.
Em primeiro lugar, a lei é usada nas Escrituras para referir-se ao Antigo Testamento,
como vemos Cristo citar o Salmo 35.19 em João 15.25 chamando-o de lei, o apóstolo
Paulo em 1 Coríntios 14.21 cita Isaías 28.11 também denominando de lei. Em
segundo lugar, versa acerca de toda Palavra de Deus tal como é visto no Salmo 19.7:
“A lei do Senhor é perfeita, restaura a alma”, aqui está incluso tanto os preceitos e
promessas, especialmente porque a conversão/salvação é fruto da promessa, pois a
somente a lei com os preceitos não poderia produzir isso. Em terceiro lugar, é
utilizada em alusão aos livros de Moisés, observamos isso quando Filipe diz “Moisés
na lei” distinguindo dos profetas em João 1.45, assim também faz o Senhor Jesus
Cristo diferenciando a lei de Moisés dos profetas e os Salmos (Lucas 24.44), o apóstolo
Paulo intitula de lei o livro de Gênesis (Gálatas 4.21,22).
Os diferentes usos da palavra lei na Bíblia mostra uma amplitude sobre as maneiras
como o termo pode ser aplicado desde de algo mais geral até itens mais específicos,
significando uma instrução, doutrina ou ordenança que dirige ou obriga os homens
1
Confissão de Fé de Westminster
2
Catecismo Maior de Westminster
3
Breve Catecismo de Westminster
4
Diretório de Culto Público de Westminster
a qualquer dever (coisas a serem cridas e serem praticadas) em relação a Deus ou ao
homem.
A lei fixa a ordem segundo a qual o homem está associado com Deus e com o seu
próximo, ela tanto considera em sua relação eclesiástica, na comunidade civil e como
ser humano em si mesmo, a lei cerimonial concerne a igreja veterotestamentária
aguardando o Messias, a civil tange a comunidade particular e peculiar na terra de
Canaã e a lei moral diz respeito a todo o gênero humano em quaisquer lugares e
épocas.
A lei cerimonial era o sistema de leis que governavam o culto externo a Deus nas
coisas sagradas na Igreja judaica, são chamadas nas Escrituras de “lei dos
mandamentos” que constituíam uma separação entre os judeus e os gentios (Efésios
2.15), também são nomeadas de “lei de um mandamento carnal” (Hebreus 7.16) no qual
o apóstolo contrasta a consagração de Cristo e dos sumos sacerdotes aarônicos, pois
nesse último grupo eram usados diversos elementos exteriores e corruptíveis, como
vestes especiais (Êxodo 39.1-43) e unção com óleo para ministração (Êxodo 40.13-15),
e portanto, foi chamado de carnal, assim também a lei cerimonial é chamada de
“ordenanças carnais” em Hebreus 9.10 no tocante a todo o sistema de sacrifícios,
comidas, bebidas, que foi imposto até o “tempo da reforma/correção”, ou seja, a
manifestação de Cristo que é luz e o corpo do que aqueles itens eram sombras
(Colossenses 2.17), a nova (καινός) aliança não é um pacto diferente em substância do
antigo testamento, mas uma nova administração da aliança da graça, o que implica
na abolição da lei cerimonial (Daniel 9.27).
A lei civil era um sistema de leis que governavam Israel como uma nação civil ou
política, elas serviam como cercas para proteção ou defesa da lei moral e cerimonial
contra o menosprezo (Êxodo 31.14 comparado com Números 15.32-36; Levítico
7.20-27), mas também distinguiam a nação judaica das outras nações, a fim de que
eles fossem a sede da igreja e o lugar para manifestação de Deus (Deuteronômio
14.2,3; 26.18). Entretanto, não havendo mais leis cerimoniais não são necessárias as
cercas que as protegiam antes e também não havendo mais separação entre judeus e
gentios (Efésios 2.14), nem a igreja está confinada a uma localidade, então o que fazia
separação é derrubado. A lei judicial somente permanece quanto sua equidade geral
exige, ou seja, quanto ao fim da lei que é para o bem comum e universal (Salmo 117.1
e Deuteronômio 13.1-5), bem como proteger e guardar a lei moral na devida
proporção, defendendo a família, igreja e comunidade civil.
3) Se lei moral, cerimonial e judicial provém da vontade de Deus, então como as duas
últimas podem cessar em algum sentido e a primeira não?
A lei moral pode ser entendida de maneira ampla e geral, bem como de estrita e
especial, no último sentido foi o que definimos anteriormente. Ampla e geral refere-se
a todas as leis de Deus (cerimoniais, judiciais e morais) que os homens devem
sujeitar-se devido a vontade divina anexa nelas, ainda que não exista razão em si
mesma além da mera vontade de Deus (direito positivo), por exemplo, o
oferecimento de incenso, cordeiros e como deveriam ser cortados não tinha nada em
sua própria natureza que obrigasse os homens, a menos que fossem ordenados pelo
SENHOR (Levítico 10.1-3). Estrita e especial, a lei moral considerando que expõe a
eterna vontade de Deus quanto ao dever dos homens, nesse sentido a lei possui uma
bondade interior em sua própria natureza devido ao ser de Deus, o homem jamais
poderia ter outros deuses (Salmo 96.5), nem jamais ditar como será o culto a Deus
(Mateus 15.9), assim como também nunca seria lícito desonrar o nome do SENHOR
(Salmo 145.21), tampouco deixar de ter um tempo estabelecido por Ele para
adoração (Gênesis 2.1-3) e etc.
A Escritura estabelece uma clara diferença entre os deveres cerimoniais e civis com a
lei moral em Miquéias 6.7-8, em que a bondade da lei moral (praticar a justiça, andar
humildemente) é contrastado com os sacrifícios e ofertas, não porque eles não
fossem bons, mas porque não tinha a bondade per se, mas foram ordenados para
promover a obediência moral (Jeremias 7.22,23; Isaías 1.14,16; Salmo 51.16-17), mas
os deveres morais são bons, santos e justos em si mesmos. Outrossim, observamos a
que a lei moral (1) foi escrita pelo dedo do próprio Deus (Êxodo 31.18; Deuteronômio
10.1-5), mas as leis cerimoniais e civis não e (2) foi denominada especialmente de
palavras da aliança (Êxodo 34.28). Tendo isso em vista, as leis cerimoniais e judiciais
(civis) possuem sua existência totalmente dependente da mera vontade de Deus
querer ou não aquilo e, portanto, elas podem cessar, pois Deus estabeleceu tais leis
para determinados fins, que sendo compridos, as tornam não mais necessárias
(Hebreus 7.12).
Desde da criação, Deus regula e dispõe o tempo dos homens, as luzes do céu foram
criadas para sinais, estações, dias e anos (Gênesis 1.14), mas também o homem foi
criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26; Tiago 3.9), de modo a refletir
em sua capacidade as ações de Deus na criação, foi o SENHOR quem primeiro
dominou a criação sem forma e vazia (Gênesis 1.2), dando ordem, forma e beleza ao
mundo, de forma semelhante o homem é ordenado a dominar a criação (Gênesis
1.26), mas também foi Deus quem primeiro encheu a terra com toda a criação
(Gênesis 1.20,21,24,25), analogamente é dever do homem encher a terra com sua
prole (Gênesis 1.28). Além dessas coisas, Deus trabalhou em toda obra da criação
(Gênesis 2.2), assim também o homem foi colocado no jardim para o cultivá-lo e
guardá-lo (Gênesis 2.15), o SENHOR descansou e separou um dia especial para isso,
no qual o homem também deveria descansar (Gênesis 2.3), pois Deus não somente
criou o espaço em que o homem deve viver, mas também o plano temporal que ele
deve seguir (Êxodo 20.9,10; 23.12).
A regulação do tempo não pode ser cerimonial, pois é comum a todos os homens em
todos os períodos para execução de seus deveres (Efésios 5.16), nem pode ser civil já
que o bom ordenamento dele não é peculiar a uma nação ou lugar (1 Coríntios
16.1,2), mas está fundado na própria ordem criacional e necessária para a natureza
humana (Eclesiastes 3.1-8).