2015cabral Megs
2015cabral Megs
2015cabral Megs
RECIFE
2015
Maria Eduarda Guerra da Silva Cabral
Recife
2015
Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães
Banca Examinadora
RESUMO
ABSTRACT
The supply and use of Integrative and Complementary Health Practices (ICHPs) have
increased in Brazil and worldwide. Among the highest growth are the Body Practices
(BPs). This article aimed to drawn a profile of BPs users and analyze the quality of life,
sociodemographic and health aspects and the reasons that led them to seek a ICHPs.
The assumption is that there they associations among them. The study was
exploratory and analytical, quantitative and retrospective. The data included
questionnaire on quality of life WHOQOL -bref and medical records of 147 users of
corporal practices offered by a unit of integrative practices in Recife-PE. In the analysis
we used the Chi- square test , Cramer's V and Gamma . The results showed significant
associations between quality of life, sociodemographic and health aspects and motives
of search for PICs service of PCs users according to the assumption.
INTRODUÇÃO
Antropologia, etc. e traz consigo significados distintos e o seu emprego leva muitas
vezes a confusão se não esclarecido previamente seu conceito.
As práticas corporais das PICs são chamadas por alguns autores, como
Lorenzetto te al,7 de Práticas Corporais Alternativas (PCAs). Essa denominação é
justificada pois são “práticas” que consideram a necessidade da aquisição de uma
vida saudável por meio de experimentação e manipulações que proporcionem ao
indivíduo a vivênciade seu próprio corpo; são “corporais”, pois, tem o corpo como
objeto de interferência e são “alternativas” porque diferem dos outros trabalhos de
abordagem corporal convencionais.
As PCAs se afastam das formas mais tradicionais de educação do corpo, como
aquelas que trabalham simplesmente a manutenção da forma física e estética; elas
buscam conduzir o contato do indivíduo consigo mesmo, seu corpo e a natureza,
propondo movimentos suaves e precisos que ajudam no equilíbrio, consciência
corporal, redução da dor e fluidez da energia.7 Yoga, Lian Gong, Tai Chi Chuan e
Automassagem são alguns exemplos dessas práticas.
No Brasil, ainda que a Política Nacional de Práticas Complementares e
Integrativas no SUS tenha sido instituída em 2006, a utilização das práticas corporais
quanto escopo das PICs é anterior a isso, como ocorreu nos municípios do Rio de
Janeiro, Campinas, Recife e São Paulo.6
O município do Recife, capital do estado de Pernambuco, foi um dos pioneiros
na implantação das PICs na rede de saúde, a partir da criação de Unidades de
Cuidados Integrais (UCIS). A primeira delas foi a UCIS Prof. Guilherme Abath8,
fundada em 2004, e em 2013 outra UCIS foi implantada no município, o Centro
Integrado de Saúde do Recife (CIS), resultado de uma parceria da Secretaria
Municipal de Saúde com a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Ambos os centros objetivam uma interligação forte entre as
PICs e a promoção em saúde, entendendo que “[...] uma visão integrativa da saúde,
[...] olha desde a alimentação até a dimensão emocional do sujeito, bem como as
dimensões comunitárias, sanitárias e de relações políticas da cidadania”.9
O CIS, assim como outros diversos serviços de saúde no Brasil que ofertam
atendimentos nas PICs, apresenta as Práticas Corporais (PCs) como modalidade
terapêutica com maior número de usuários praticantes.6 Nessa perspectiva e tendo
em vista essa maior proporção, nos deparamos com os seguintes questionamentos:
12
Quem são essas pessoas que fazem uso das Práticas Corporais e o que as levaram
a procurar um serviço de Práticas Integrativas e Complementares?
Esse estudo é oportuno e relevante, pois pesquisas quanto o perfil dos usuários
de modalidades terapêuticas de PICS e seus motivos de procura pelo atendimento
nessa área ainda são incipientes. Conhecer esses usuários quanto seus aspectos de
saúde, sociodemográficos e qualidade de vida pode subsidiar o planejamento das
ações e da oferta dessas práticas, contribuindo para a melhoria do serviço. Além
disso, se debruçar sobre os principais motivos que levam essas pessoas a procurarem
o atendimento nas Práticas Integrativas e Complementares fortalece o cuidado
integral em saúde ao basear-se na real necessidade e demanda dos usuários, se
aproximando dos princípios do SUS e das práticas integrativas, ao olhar o sujeito de
modo holístico respeitando seu direito de escolha.
Por conseguinte, esse artigo teve como objetivo analisar a qualidade de vida,
os aspectos sociodemográficos e de saúde desses usuários e os motivos de procura
por atendimento no Centro Integrado de Saúde de Recife-PE.
MÉTODO
RESULTADOS
Tabela 1. Frequências absolutas e relativas das variáveis sócio demográficas dos usuários de
Práticas Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
Frequência Frequência
Variáveis N % Variáveis N %
Sexo Religião
Masculino 17 11,6 Sem Religião 4 2,8
Feminino 130 88,4 Católica 67 46,2
Total 147 100,0 Evangélica 48 33,1
Espírita 21 14,5
Cor/Raça Outra 5 3,4
Branca 44 30,3 Total 145 100,0
Parda 71 49,0
Preta 16 11,0 Escolaridade
Amarela 5 3,4 Analfabeto 1 0,7
Indígena 1 0,7 1º grau 56 38,4
Outras 8 5,5 2º grau 59 40,4
Total 145 100,0 3º grau 30 20,5
Total 146 100,0
Faixa Etária
18 a 30 anos 16 10,9 Renda
31 a 44 anos 31 21,1 Até 1 salário mínimo 64 48,9
Maior que 1 a 2 salários
44 a 59 anos 62 42,2 mínimos 40 30,5
Maior que 2 a 3 salários
60 anos ou mais 38 25,9 mínimos 11 8,4
Maior que 3 salários
Total 147 100,0 mínimos 16 12,2
Total 131 100,0
Estado Civil
Solteiro 42 28,6 Ocupação
Casado 65 44,2 Na área da saúde 8 5,9
Separado/Divorciado/Desquitado 21 14,3 Na área da educação 19 14,1
Na área das do comércio e
Viúvo 19 12,9 vendas 11 8,1
Total 147 100,0 Na área das artes 11 8,1
Na área de limpeza/higiene 16 11,9
Aposentado/pensionista 16 11,9
Tabela 1. Frequências absolutas e relativas das variáveis sócio demográficas dos usuários de
Práticas Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
(Continuação)
Frequência Frequência
Variáveis N % Variáveis N %
Nenhum filho 32 21,8 Donas de casa 27 20,0
1 ou 2 filhos 70 47,6 Na área de estética/beleza 3 2,2
3 ou 4 filhos 35 23,8 Na área administrativa 10 7,4
5 ou mais filhos 10 6,8 Outros 14 10,4
Total 147 100,0 Total 135 100,0
Local de Residência
Recife-DS III 1 0,7
Recife-DS IV 130 89,7
Recife-DS V 4 2,8
Recife-DS VI 3 2,1
Outro município 7 4,8
Total 145 100,0
Em relação aos aspectos de saúde (Tabela 2), foi vista uma proporção maior
de solicitação do serviço mediante indicação de outras unidades de saúde, sendo em
sua maioria Unidades de Saúde da Família (87,5%) localizadas na mesma região de
saúde que o CIS se localiza (DS IV).
Presença de morbidades (70,7%) e de uso de medicamentos (53,8%) foram
relatados pelos usuários. Eles poderiam referir a presença de mais de uma morbidade,
e as mais frequentes foram: as algias tensionais (15,4%), artrose (14,4%), doenças
do aparelho digestivo (11,1%), hipertensão arterial (10,7%) e transtorno mental leve
(10,2%).
Dentre as seis práticas corporais analisadas no estudo, a automassagem foi a
que apresentou maior proporção de encaminhamento desses usuarios pelos
profissionais que realizaram o acolhimento.
Os motivos de procura pelo serviço de Práticas Integrativas e
Complementares no Centro Integrado de Saúde foram diversos, no entanto se
concentraram em três modalidades distintas:
17
Tabela 2. Frequências absolutas e relativas das variáveis de saúde dos usuários de Práticas
Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
Frequência Frequência
Variáveis N % Variáveis N %
Morbidades Referidas
Solicitante do serviço (Tipos)
Hipertensão 61 10,7
Tabela 2. Frequências absolutas e relativas das variáveis de saúde dos usuários de Práticas
Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
(continuação)
Frequência Frequência
Variáveis N % Variáveis N %
Terapias Encaminhadas
Morbidades Referidas
(Quantidade) Lian Gong 35 16,1
Tabela 2. Frequências absolutas e relativas das variáveis de saúde dos usuários de Práticas
Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
(continuação)
Frequência Frequência
Variáveis N % Variáveis N %
Motivos para Procura do
Medicamentos em uso Serviço
Ligados às queixas 82 49,1
Nenhum 68 46,3 físicas
Ligados às queixas 46 27,5
Um a dois 53 36,1 mentais e psicológicas
Tabela 3. Frequência absoluta e relativa da Qualidade de Vida Geral dos usuários de Práticas
Corporais do Centro Integrado de Saúde segundo o WHOQOL-bref. Recife, 2013.
Qualidade
de Vida
Geral* N %
Péssima 4 2,7
Ruim 11 7,5
Regular 69 46,9
Boa 58 39,5
Ótima 5 3,4
Total 147 100,0
Tabela 4. Média, Mediana e Desvio Padrão dos escores do WHOQOL-bref dos usuários de
Práticas Corporais do Centro Integrado de Saúde. Recife, 2013.
Tabela 5. Frequência relativa dos motivos de procura pelo atendimento em Práticas Integrativas
e Complementares segundo categorias de Qualidade de Vida Geral. Usuários de Práticas
Corporais do Centro Integrado de Saúde, Recife, 2013.
Motivos
Motivos ligados às Motivos ligados Motivos
ligados às queixas à Prevenção ligados às
queixas mentais e /promoção de queixas/
Qualidade de físicas emocionais saúde apenas objetivos
Vida Geral* apenas (%) apenas (%) (%) diversos (%) Total (%)
DISCUSSÃO
interação das ações e serviços oferecidos pelo SUS, justificado nesse estudo pelo
grande quantitativo de usuários da comunidade referidos às práticas.1
Vários estudos demonstram a importância da incorporação das PICs na
atenção básica.6,8,17 Tal adesão promove renovação do processo de cuidado
conduzindo a uma harmonização da relação terapêutica onde o sujeito que busca
atendimento volta a ser o elemento central do paradigma médico. Através da utilização
de meios terapêuticos mais naturais, mais simples, com menos despendio de recurso
financiero e que possuem o mesmo êxito curativo, tais práticas tornam possível
centralizar a saúde no processo de cuidado4. Elas podem servir de estratégia na
implementação dos princípios que regem o SUS, em especial, a integralidade da
atenção, a equidade, a humanização e a participação social.12,18
Grande parte dos usuários de práticas corporais do CIS apresentaram
morbidades e relataram fazer uso de medicamentos no momento da pesquisa. Os
distúrbios osteoarticulares, as algias tensionais, artroses e outros relacionados ao
físico foram os achados mais prevalentes, além das doenças ligadas à emoção e
comportamento, tais como ansiedade e depressão. Em conformidade com esses
achados estão os obtidos no estudo de Broitman,12 sobre uma UCIS do estado de São
Paulo, onde se constatou que a maioria da população também apresentavam motivos
associados ao sistema osteomuscular, transtornos mentais ou comportamentais e dor.
A dor se caracteriza como o principal fator de procura ao atendimento médico pelos
usuários e também é a queixa mais frequente de quem procura as práticas integrativas
e complementares.12,19
Quando buscam ajuda para uma determinada enfermidade, os usuários podem
estar trazendo vários outros problemas não explícitos, e estes podem ser a causa ou
estar atrelados ao problema de saúde que carregam. Suas necessidades de saúde,
podem ser a busca de algum tipo de resposta às más condições de vida que viveram
ou estão vivendo, a procura de um vínculo efetivo ou afetivo com algum profissional,
a necessidade de ter maior autonomia no modo de levar a vida ou, mesmo, de ter
acesso a alguma tecnologia de saúde disponível, capaz de melhorar e prolongar sua
vida com qualidade.
Os usuários das práticas corporais, em sua maioria, apresentaram segundo o
WHOQOL-bref satisfação com a saúde (ScS) em um nível baixo e qualidade de vida
(QdV) regula. Ao buscarmos associações, podemos observar a influência de alguns
aspectos de saúde (como presença de enxaqueca e transtornos mentais) com a ScS.
24
Houve uma associação negativa entre eles, ou seja, essas comorbidades afetavam o
usuário reduzindo a satisfação com a sua saúde.
Como foi possível observar a maioria dos usuários buscaram o CIS
interessados em tratamentos para doenças, perfil equivalente aos motivos referidos
para a procura de serviços do SUS.16 As queixas quanto aos aspectos físicos,
emocionais e comportamentais prevaleceram em detrimento dos motivos de procura
ligados à promoção e prevenção da saúde.
Alguns estudos revelam quanto ao processo de decisão pelo uso de PICs:
evidenciam-se como fatores determinantes para o a utilização ou não dessas práticas
o custo e capacidade de pagar por elas, disponibilidade e acesso; tempo de
tratamento com a biomedicina; rede de sociabilidade do paciente com o suporte
familiar e de amigos; insatisfação com o tratamento médico convencional e busca por
práticas que aliviem os sintomas das doenças.
Outros motivos também seriam medo dos efeitos colaterais provocados pela
medicina convencional, orientação, indicação e curiosidade em relação às terapias
alternativas e falta de dinheiro para arcar com as abordagens alopáticas. Soma-se
também a isso um aumento das doenças crônico degenerativas, aumento do acesso
à informação e da consciência do direito à qualidade de vida, o que reflete também as
mudanças das necessidades e valores da sociedade moderna em geral. 4,6,19,20,21
Vale salientar que os motivos de procura pelas PICs variaram em decorrência
dos diferentes escores de Qualidade de Vida referidas pelos usuários das práticas
corporais: aqueles que apresentaram menor QdV expressaram queixas bem
definidas, em sua maioria relacionadas a apenas um dos três aspectos categorizados
(físico, mental e prevenção da saúde). Os que buscaram o serviço afim de atividades
de promoção e prevenção foram os que obtiveram maiores escores no WHOQOL-
bref.
No que se refere às experiências de pacientes com a utilização das PICs,
destaca-se a possibilidade de um cuidado integral focado na individualização do
tratamento e os impactos positivos junto ao tratamento convencional.1 As formas de
interpretação e ação biomédicas que a população advém, tendem a reforçar a
medicalização, à redução ao adoecimento e ao biológico. Ocorre, ainda, uma redução
da perspectiva terapêutica com desvalorização da abordagem do modo de vida,
valores, dos fatores subjetivos e sociais relacionados ao processo saúde-doença do
indivíduo.
25
As práticas integrativas por sua vez, parecem ser promissoras como uma
estratégia “desmedicalizante” no âmbito do SUS.23No entanto, seu fomento não é uma
panacéia e como qualquer prática em saúde contemporânea, seu exercício está
sujeito a uma ressignificação redutora, e contra isso deve-se manter fiel à sua
essência de cuidado integral à saúde com vias de promoção como prega a
PNPICS.1,22,23
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
3 Andrade JT; Costa LFA, Medicina Complementar no SUS: práticas integrativas sob
a luz da Antropologia médica. Saúde Soc 2010: São Paulo, v.19, n.3, p.497-508.
13 Fernandes LCL, Bertoldi AD, Barros AJD. Utilização dos serviços de saúde pela
população coberta pela Estratégia de Saúde da Família. Rev. Saúde Pública
2009;43(4):595-603.
14 Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os
serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa
escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública 2007;23(3):565-574.