Almeida Júnior

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Almeida Júnior

um pintor brasileiro

Instituto de Artes da UNESP


Prof.Percival Tirapeli
Contexto Histórico da Pintura Acadêmica
Brasileira
 Em meados do século XIX, o Império Brasileiro conheceu certa
prosperidade econômica proporcionada pelo café, e certa estabilidade
política, depois que D.Pedro II assumiu o governo e dominou as muitas
rebeliões que agitaram o Brasil até 1848.

 O imperador procurou dar ao país um desenvolvimento cultural mais sólido,


incentivando as letras, as ciências e as artes. Estas ganharam um impulso
de tendência nitidamente conservadora, que refletia modelos clássicos
europeus.

 Mesmo a guerra que o Brasil manteve com o Paraguai, que custou aos dois
países um grande número de vidas e um desgaste econômico incalculável,
não foi motivo para um declínio das artes; pelo contrário, serviu como um
tema artístico para que alguns pintores exaltassem a ação do governo
imperial.

 É nesse contexto histórico que se situam as obras de José Ferraz de


Almeida Júnior. Outros que merecem destaque são Pedro Américo e Victor
Meirelles, pintores brasileiros que estudaram na Academia Imperial de
Belas-Artes do RJ.

 A Academia de Belas-Artes, que foi instalada em 1826, ali permaneceu até


1919.
ALMEIDA JÚNIOR, José
Ferraz de (1850-99).
 Nascido em Itu (SP) e falecido
tragicamente em Piracicaba.

 Demonstrando desde a mais


tenra idade inclinações artísticas,
teve no Padre Miguel Correa
Pacheco seu primeiro incentivador,
quando era sineiro da Matriz de
Nossa Senhora da Candelária, em
sua cidade natal.

 Foi o padre quem obteve, numa


coleta pública, o dinheiro suficiente
para que o futuro artista, já então
com cerca de 19 anos de idade,
pudesse embarcar para o Rio de
Janeiro, a fim de ali estudar.

Saudade, 1899.1,97cm x 1,01,óleo sobre tela.


Almeida Júnior
 Em 1869 Almeida Júnior estava inscrito na Academia Imperial de
Belas-Artes, aluno de Julio Le Chevrel e de Vítor Meireles.
Durante o curso, parece ter sido a principal diversão dos
colegas, com seu jeito de caipira, seu linguajar matuto, as
roupas de roceiro.

 No dizer de Gastão Pereira da Silva, “era o mais autêntico e


genuíno representante do tradicional tipo paulista. Mas sem
nenhum traquejo de homem de cidade.”

 Falava como os primitivos provincianos e tal qual estes vestia-


se, andava, retraía-se. Mas isso não impediria que fizesse um
curso brilhantíssimo, durante o qual recebeu diversas
premiações em desenho figurado, pintura histórica e modelo
vivo, inclusive, em 1874, a grande medalha de ouro, com o
quadro Ressurreição do Senhor.
Vista da Exposição Almeida Jr., um criador de imaginários.
Janeiro a abril de 2007 – Pinacoteca do Estado.
Curadoria de Maria Cecília França Lourenço
Almeida Jr. no acervo permanente da Pinacoteca
Almeida Júnior
 Terminado o curso, Almeida Júnior, ao invés de tentar concorrer
ao prêmio de viagem à Europa, preferiu retornar a Itu, onde abriu
ateliê, dedicando-se a fazer retratos e a lecionar desenho.

 O acaso, porém, fez com que um seu retrato fosse apreciado


pelo Imperador Pedro II, durante uma viagem que realizou em
1875 à Província de São Paulo.

 Foi chamado à presença do soberano, que já o conhecia da


Academia , que lhe perguntou por que não ia aperfeiçoar-se na
Europa, oferecendo-se logo em seguida para lhe custear a
viagem.

 A 23 de março do ano seguinte, um decreto da Mordomia da


Casa Imperial abria crédito de 300 francos mensais para que
Almeida Júnior fosse estudar em Paris ou Roma. A 4 de
novembro de 1876, o artista seguia com destino à França, e um
mês depois já estava matriculado na Escola Superior de Belas
Artes, em Paris, como aluno do célebre Cabanel.
Almeida Júnior
Violeiro, 1899
óleo sobre tela, 141 x 172 cm
Pinacoteca do Estado de São Paulo
Almeida Júnior na Europa
 De fins de 1876 até 1882 morou em Paris, efetuando, nesse
último ano de sua permanência européia, breve excursão à
Itália. Em Montmartre, onde residiu, teria pintado 16 telas
com cenas do bairro famoso; tais pinturas, se de fato
existiram, perderam-se de vez.

 Em compensação restam, do período francês, Arredores de


Paris e Arredores do Louvre, e sobretudo as grandes
composições com as quais participou dos Salons de 1880
(Derrubador Brasileiro e Remorso de Judas), 1881 (Fuga
para o Egito) e 1882 (Descanso do Modelo), obras
admiráveis da pintura realista de qualquer tempo ou lugar.

 É curioso observar que, no Derrubador Brasileiro, à falta de


um autêntico caboclo paulista, Almeida Júnior tomou como
modelo um jovem italiano de nome Mariscalo.
Almeida Júnior. O descanso do modelo (detalhe), 1882.
1,00 x 1,30. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
De volta ao Brasil
 Voltando ao Brasil, Almeida Júnior expôs no Rio seus
trabalhos executados em França. Mas o sucesso da
mostra não impediu que pouco depois o pintor de novo
se encafuasse em Itu, para em 1883 abrir ateliê em São
Paulo. Na grande exposição de 1884, novamente expôs
quatro dos seus maiores triunfos - a Fuga, o
Derrubador, o Descanso e o Remorso.

 Ao comentar seu envio, Gonzaga Duque afirma ser


Almeida Júnior "o mais pessoal e, sem dúvida, um dos
que melhor sabem expressar, com toda clareza e nitidez
de um estilo à Breton, os assuntos tomados de
improviso a uma página da Bíblia, da História, ou
simplesmente da vida de todos os dias e de todos os
homens".
Almeida Júnior
Amolação Interrompida, 1894.
2,00 x 1,40.
Pinacoteca do Estado.
A temática em Almeida Júnior
 Pouco a pouco, em contato com a terra e os habitantes,
Almeida Júnior irá substituindo os temas bíblicos pelos
regionais, pelos aspectos simples de sua provinciana Itu.

 Pouco adianta que o Governo Imperial o agracie com a


Ordem da Rosa em 1885, ou que Vítor Meireles o convide a
ocupar sua vaga como professor da Academia: nada irá
separá-lo da província, mesmo porque se encontra
perdidamente apaixonado por sua antiga noiva (agora casada
com outro) Maria Laura do Amaral Gurgel, que lhe
corresponde à paixão, e a quem retratará várias vezes, nos
traços de seus personagens femininos.

 Na década que vai de 1888 a 1898 nascem-lhe as grandes


composições regionalistas, que hoje lhe garantem prestígio
talvez superior às pinturas realizadas na França: Caipiras
Negaceando, Cozinha Caipira, Amolação Interrompida,
Caipira Picando Fumo, O Violeiro. Ocorrem, ainda,
paisagens de Itu, Piracicaba e Votorantim, sem falar nos
retratos.
Final Trágico
 Em 1891 e 1896 o pintor realizaria novas viagens à Europa, a última
em companhia de Pedro Alexandrino, o qual, com bolsa de estudos
do Governo de São Paulo, ia aperfeiçoar-se em Paris.

 Dos anos finais de sua existência datam ainda alguns quadros


notáveis, como Leitura (1892), exposto no Salão de 1894, A
Partida da Monção, baseada em desenhos de Hercule Florence e
medalha de ouro no Salão de 1898, e finalmente O Importuno e
Piquenique no Rio das Pedras, expostos, com mais seis obras, no
Salão de 1899, e repletos, ambos, de conotações psicológicas.

 Infelizmente, a vida e a carreira de Almeida Júnior foram


tragicamente truncadas a 13 de novembro de 1899, quando o
artista caiu apunhalado, diante do Hotel Central de Piracicaba, por
José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura, o
qual acabara de descobrir a ligação amorosa que existia, havia
longos anos, entre a mulher e o pintor.
Um precursor
 No panorama da pintura nacional, Almeida Júnior
aparece como autêntico precursor. Em sua obra, que
abrange pinturas históricas, religiosas e de gênero,
retratos e paisagens, repercute uma personalidade que
nunca se afastou um milímetro de suas idéias e
convicções.

 Sua produção, não muito extensa, é valiosa do ponto de


vista estético, histórico e social, nela se misturando
influências românticas, realistas e até mesmo pré-
impressionistas: como não ver, nesse artista probo e
sincero, um êmulo de Courbet e de Millet, ou de Bastien-
Lepage e Lhermitte, com os quais possui afinidades
técnicas e temáticas?
Almeida Júnior. Caipira picando Fumo, 1893.
Pinacoteca do Estado.
Os personagens em Almeida Júnior
 Realista, os personagens do pintor são gente de carne e
osso, que conheceu pessoalmente, gente que tinha
nome, comia, vivia, amava. Assim, o modelo para
Caipira Picando Fumo era um tipo popular de Itu,
Quatro Paus; e a mulher que aparece escutando O
Violeiro era figura notória da cidade, misto de
enfermeira e dançarina num cabaré local.

 De inspiração outra são, evidentemente, as várias


figurações de Maria Laura que perpassam por sua
produção: porque Maria Laura é A Noiva (1886), ela é
quem simboliza A Pintura, no quadro, de 1892, hoje na
Pinacoteca de São Paulo.
Ainda os personagens e modelos
 Surge na Leitura, também de 1892, quem sabe se
também em O Importuno, de 1898, ou em Saudades,
de 1899, quando não em Repouso, sensual figura de
uma jovem adormecida, em meio à leitura, vendo-se o
alvo seio que escapa dos rendilhados da camisola
entreaberta.

 No que respeita aliás aos aspectos psicológicos da arte


de Almeida Júnior, homem tímido e retraído mas
paradoxalmente ousado, afrontando a tudo e a todos,
em se tratando de seu amor por Maria Laura, quanta
matéria de estudo em pinturas como as já mencionadas
O Importuno, Leitura ou Repouso!
Almeida Júnior
Nhá Chica, 1895.
1,09 x 0,72
Óleo sobre tela
Pinacoteca do Estado.
Capa de Livro editado por
Marcos Antonio
Marcondes,
1979.

Almeida Júnior
O Importuno, 1898
Óleo sobre tela,
1,45 x 0,97.
Pinacoteca do Estado.
Técnicas
 Tecnicamente, pode-se dividir sua carreira em duas
fases, antes e depois de 1882.

 Na inicial a palheta é sóbria e o modelado de extrema


simplicidade, com apelo a recursos de luminosidade que
de longe evocam os pré-impressionistas e a uma fatura
gorda, empastada.

 Na segunda fase a palheta se aclara e enriquece de


novos matizes, a pasta pictórica é utilizada com maior
parcimônia, enquanto, tematicamente, o assunto
brasileiro faz sua aparição, externado numa linguagem
plástica das mais pessoais e mais bem articuladas
surgidas entre nós.
Almeida Júnior. Leitura, 1892. 95 x 141 cm. Pinacoteca do Estado.
Almeida Júnior. Moça com Livro, s/d.
50 x 61 cm. MASP
Almeida Júnior
Fuga para o Egito, 1881.
Óleo sobre tela, 333 x 226cm.
Rio de Janeiro, Museu
Nacional de Belas Artes.
Almeida Júnior. Cena de Família de Adolfo Augusto Pinto, 1891.
106 x 137 cm. Pinacoteca do Estado
Almeida Júnior
Derrubador Brasileiro, 1879.
2,27 x 1,82
Museu Nacional de Belas Artes,
Rio de Janeiro.
Bibliografia
Catálogo da Exposição “Almeida Júnior: um criador de imaginários”
Curadoria de Maria Cecília França Lourenço.
Coordenação do catálogo Ana Paula Nascimento.
São Paulo : Pinacoteca do Estado. Fevereiro de 2007.

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