Cartilha 4 - Edição Revisada

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psicologia

da felicidade
e do bem-estar
curso de extensão
NOTA DE ESCLARECIMENTO

Todo o material do curso (vídeos e cartilhas) foram criados e produzidos em 2020,


entre os meses de julho e dezembro, quando estávamos vivendo um momento
diferente da pandemia, quando comparado com o que estamos vivendo agora.
Sabemos que para muitos de vocês, o avanço da pandemia trouxe mais perdas,
mais dificuldades de diversos tipos (financeiras, emocionais, de concentração, de
trabalho...), ajustes e mudanças para que possam continuar com as atividades
diárias. Continuamos na mesma tempestade que, para muitos pode ter se
intensificado. As sugestões de atividades feitas continuam válidas. Novas
sugestões poderão ser incluídas nos módulos de acordo com a nossa percepção
das respostas de vocês à ficha de inscrição.
Como citar este documento:
Gusmão, E. E. S., Guerra, V. M., Cacciari, M. B., Baumel, S. W. & Almeida, G. S. S.
(2020). Ansiedade e Depressão. Cartilha do Curso de Extensão Psicologia da
Felicidade e do Bem-estar. 2ªed. Vitória, ES: Universidade Federal do Espírito Santo.

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição – Não Comercial
- Sem Derivações 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença,
visitehttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/.
curso de extensão
psicologia da felicidade e do bem-estar
MÓDULO 4

ANSIEDADE E DEPRESSÃO
Profa. Dra. Estefânea Élida da Silva
Gusmão

GEPPSI+
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

"Nossa ansiedade não vem de pensar sobre o


futuro, mas de querer controlá-lo."

Kahlil Gibran
SUMÁRIO

Apresentação do GEPPSI+ .............................................................................. 5


O Curso de Extensão ........................................................................................ 6
Neste Módulo
Professora Convidada ................................................................................... 7
Professora Responsável ................................................................................ 7
Mapa do Módulo ................................................................................................ 8

Conceitos Básicos .............................................................................................. 9


Exercícios Sugeridos
Técnica 5-4-3-2-1 ........................................................................................... 13
A genialidade do "... e ..." .............................................................................. 13
Bônus 1 e 2 ....................................................................................................... 15
Filmes, Séries e Livros ....................................................................................... 16
Leituras Sugeridas
Do Desamparo Aprendido ao Otimismo como Estilo Explicativo ............ 17
Tecendo Conexões - Medicina ..................................................................... 19

Referências ........................................................................................................ 22
Quem somos ....................................................................................................... 23
Grupo de Estudos e Práticas
em Psicologia Positiva

O Grupo de Estudos e Práticas em Psicologia Positiva (GEPPsi+) foi


criado em 2016, na Universidade Federal do Espírito Santo, pela Profa. Dra.
Valeschka Martins Guerra, coordenadora geral, e pela Ma. Clarisse
Lourenço Cintra, coordenadora de educação e projetos, de forma a agregar
a produção e os eventos realizados pelo grupo no campo da Psicologia
Positiva.

Os principais objetivos do GEPPsi+ são: 1. Contribuir para a formação e


o aprimoramento no campo da Psicologia Positiva de alunos de graduação,
de pós-graduação e de profissionais da Psicologia e áreas afins. 2. Realizar
programas de extensão que efetivem intervenções com base na abordagem
da psicologia positiva, abertos tanto à comunidade interna como externa à
UFES; 3. Realização de pesquisas que abordem temáticas da Psicologia
Positiva, tais como educação positiva, forças de caráter, bem-estar,
autoestima, sentido de vida, atenção plena, entre outros.

O GEPPsi+ contribui para a construção do conhecimento no campo da


Psicologia Positiva, especialmente no âmbito nacional.

Saiba mais, siga-nos, curta, conecte-se conosco:

https://geppsipositiva.wixsite.com/geppsipositiva

@geppsipositiva

@geppsipositiva

Canal "Psicologia da Felicidade e do Bem-Estar"

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Curso de Extensão
- Psicologia da Felicidade e do Bem-estar -
O Curso de Extensão Psicologia da Felicidade e do Bem-estar tem
como objetivo apresentar, de forma acessível, o conhecimento construído
na área da Psicologia acerca de tais temas. Neste momento que todos
estamos enfrentando, compreender as próprias emoções, pensamentos e
comportamentos pode ser um passo importante para lidar melhor com os
possíveis desdobramentos do distanciamento social e da pandemia.
A proposta é composta por 16 encontros + 2 encontros bônus::

1. O que é a Psicologia Positiva e como ela pode ajudar?


2. Tipos de bem-estar
3. Luto
4. Ansiedade e Depressão
5. Emoções negativas x Emoções positivas
6. Regulação emocional
7. Otimismo x Positividade tóxica
8. Produtividade compulsória
9. Procrastinação e Síndrome do impostor
10. Bem-estar financeiro
11. Saúde física - sono, alimentação e exercícios
12. Relacionamentos e sexualidade
13. Bem-estar de crianças e adolescentes durante a pandemia
14. Saúde mental da população LGBTQIA+ e Negra
15. Mindfulness e flow
16. Compaixão e autocompaixão
17. Espiritualidade e Sentido de vida
18. Resiliência
Teremos convidados e convidadas especialistas para conversar co-
nosco em vários dos encontros. Além dos vídeos, você também receberá
uma cartilha como esta por módulo, com o conteúdo abordado, textos,
sugestões e entrevistas de pessoas de diversas áreas.

A cada semana, você terá sugestões de filmes, livros, séries, leituras e


outras mídias, além de atividades da Psicologia Positiva.

Qualquer dúvida, é só entrar em contato pelos e-mails abaixo, que a


nossa equipe estará em plantão de dúvidas para te responder:
[email protected]
[email protected]

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Neste módulo:
Professora Convidada

Estefânea Élida da Silva Gusmão é Professora de


Avaliação Psicológica da Universidade Federal do
Ceará (UFC - Campus Fortaleza). Mestre em Psicologia
Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e
Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE).
Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental, é
Coordenadora do Núcleo de Avaliação Psicológica em
Saúde (NapsiS-UFC) e Coordenadora da Clínica-Escola
de Psicologia da UFC.
Tem como principais temas de pesquisa e atuação
profissional: Psicologia Positiva e Psicologia Cognitivo-
Comportamental, com foco na Educação Emocional
Positiva, Avaliação e Intervenção Psicológicas,
relações parentais, vinculação afetiva e desenvolvi-
mento afetivo e social.
"Em meu tempo preferido estou geralmente ouvindo música,
lendo coisas aleatórias, assistindo filmes e séries também
aleatórios ou colecionando instantes eternos com minha família
neurodiversa amada, de dois filhos, um pré-adolescente e um
adolescente no espectro autista, esposo e mãe."

Professora Responsável
Valeschka Martins Guerra é professora do
Departamento de Psicologia Social e do
Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, onde coordena o Grupo de Estudos e
Práticas em Psicologia Positiva.
Psicóloga, especialista em Sexualidade Humana
(UFPB), mestre em Psicologia (UFPB) e doutora em
Psicologia Social (University of Kent), mora em Vitória
desde 2010.
Em seu tempo livre, gosta de brincar com os filhos
pequenos, seus cachorros, assistir filmes e séries com o
marido, montar quebra-cabeças e cantar no coral da
UFES.

"A Psicologia Positiva me lembra de olhar para a frente.


Me ajuda a alimentar a esperança, traz leveza para os meus dias.
É minha dose diária de autocompaixão, por me lembrar
da minha (da nossa) humanidade".

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O que veremos neste módulo?

O que é ansiedade?

Ansiedade como fonte


de sofrimento

Como identificar um
quadro ansioso?

O que é depressão?

Como identificar um
quadro de depressão?

Ansiedade, depressão e sua


relação com a felicidade

Ansiedade e depressão no
contexto da pandemia

Exercícios

9
Conceitos Básicos
O que é ansiedade?
A ansiedade é um estado de humor dos mais perturbadores, pois envolve
estados elevados de preocupação. Este mal-estar se apresenta no humor, nas
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

reações físicas, nos pensamentos e nos comportamentos nas formas de


evitações, perfeccionismos, busca exagerada de segurança, entre outras.
Essa emoção faz parte da história evolutiva humana, sendo relacionada à
função adaptativa do medo que, por sua vez, é um alerta aos sinais de perigos
reais. Por se tratar de uma emoção natural do ser humano, a ansiedade é
considerada patológica apenas quando não mais atende a essa adaptação e, ao
contrário, passa a ser prejudicial. Algumas pessoas têm mais sensibilidade à
ansiedade, tornando-a exagerada por uma percepção distorcida de elementos
não necessariamente perigosos, o que gera um constante estado de alerta.

A ansiedade como fonte de sofrimento


Quando os pensamentos ansiosos são considerados como verdades abso-
lutas, sem que se consiga questionar a veracidade deles, é um sinal de que a
ansiedade se tornou fonte de sofrimento para a pessoa. Isso significa dizer que
já é possível identificar prejuízos decorrentes desses pensamentos no cotidiano,
impedindo a realização de atividades, desregulando o funcionamento normal de
sono e vigília, bem como prejudicando a capacidade de resolução de problemas,
entre outros fatores.
A ansiedade está associada a sensações de aflição, angústia e medo que
alteram o funcionamento individual, e mobilizam a tendência à ação, o que pode
levar a comportamentos impulsivos, ou a inibir e impedir reações. Os
Transtornos de Ansiedade refletem uma manifestação da ansiedade que 3
ultrapassa limites saudáveis para o organismo e se caracterizam por: 4

preocupações ou medos exagerados;


sensação constante de que algo muito ruim pode acontecer;
preocupações exageradas em áreas específicas da vida (ex. saúde,
vida financeira);
medo desproporcional de algum objeto ou situação particular;
medo de passar por situações vexatórias ou de ser humilhado em
público;
sensação de falta de controle sobre pensamentos e comportamentos;
repetição cíclica de pensamentos e comportamentos que não ajudam a
lidar com os contextos de sofrimento ou que parecem piorar a situação.

10
Como identificar um quadro ansioso?
Os tipos mais comuns de manifestação de um quadro ansioso envolvem
ansiedade generalizada, ansiedade social, sentimentos de pânico, fobias,
preocupações exageradas com a saúde e estresse pós-traumático. Há também
outras manifestações como perfeccionismo, manias, angústias em relação ao
corpo.
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

Uma forma de explorar se a ansiedade está em um grau que deve ser le-
vado à psicoterapia, por exemplo, é fazer um monitoramento de algumas
semanas dos sentimentos que a pessoa conseguir registrar. Uma vez reunidas
essas observações pessoais, elas podem ser levadas a um terapeuta para que
se possa receber o auxílio devido.
Para se conviver melhor com situações que geram grande ansiedade, é
preciso o exercício constante do autoconhecimento, a exposição pontual e
progressiva daquilo que gera o sentimento de medo, comprometer-se ao
processo de psicoterapia; aprender e pôr em prática ferramentas que acalmem
(ex. técnicas de meditação e respiração), manter a atenção plena, tomar
conhecimento das forças pessoais e exercitá-las.

O que é depressão?
A depressão não é apenas um estado de humor triste. Ela envolve mudan-
ças significativas no pensamento, no comportamento e no funcionamento físico,
por exemplo. Por poder estar associada a outros problemas, uma avaliação
profissional cuidadosa é bastante importante.
Em decorrência de alguns estigmas presentes na sociedade (ex. depressão
é falta de Deus, é preguiça, é falta do que fazer), há uma série de confusões
que as pessoas fazem por desconhecerem o que é a depressão. Através da
informação científica e do autoconhecimento, porém, é possível que a pessoa
perceba o que está acontecendo com suas emoções, e até mesmo entenda que
as explicações culpabilizantes de qualquer natureza não têm respaldo, pois são
apenas interpretações leigas.
A depressão é um transtorno de humor de causas multifatoriais (ambien-
tais, pessoais, genéticas), que se manifesta pela sensação de perda da
capacidade de satisfação com a vida. É comum a presença de apatia e
tristeza, ou algo parecido com um “sentimento de falta de sentimento”.
Pessoas com depressão desenvolvem comumente uma visão exclusivamente 3
negativa de si, do mundo e do futuro. Outros sinais e sintomas encontrados são: 5

falta de energia e vitalidade, cansaço excessivo e dificuldades de


concentração;
queixas relacionadas a memória;
insônia ou sonolência excessiva;

11
alteração significativa do apetite e do interesse sexual;
medo de passar por situações vexatórias ou de ser humilhado em
público;
dores e sintomas físicos (ex. queixas digestivas, dor no peito,
taquicardia).
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

Como identificar um quadro de depressão?


A tristeza, tanto quanto o medo, é uma emoção que faz parte da nossa
experiência humana, inclusive um mundo sem ela seria impensável. É tão
legítima quanto a ansiedade em determinados contextos. Quando, no entanto, a
desesperança, o desânimo, o cansaço e outros sintomas tomam proporções
incapacitantes ou promovem prejuízos ao cotidiano da pessoa, é o momento
de avaliar se se trata de um quadro depressivo. Para isso, medidas (ex. Escalas
psicométricas) que levantem essa intensidade emocional em um contínuo de
tempo podem ser respondidas e uma(um) psicóloga(o) poderá utilizar desses
resultados para fazer uma avaliação atenta e meticulosa, visando a propor um
tratamento adequado.
O escritor Andrew Solomon fez um relato autobiográfico sobre a depres-
são em seu famoso livro, o best-seller "O Demônio do Meio Dia: Um Atlas da
Depressão", que foi finalista do Prêmio Pulitzer em 2002. Você pode conferir
aqui o TED Talk apresentado por ele, com o tema "Como os piores momentos de
nossa vida nos tornam quem somos". 10

TEDTalks Vancouver, 2014

Clique no ícone ao lado para assistir o vídeo

O tratamento vai envolver psicoterapia com um(a) profissional da Psicolo-


gia e, em alguns casos, pode ser recomendado consultar um Médico para acom-
panhamento medicamentoso. Um trabalho para melhorar as relações
interpessoais também tem bons resultados, ativação comportamental com
registros de atividades diárias, trabalhos de autoconhecimento e exercício de
forças pessoais e focados em compaixão e atenção plena têm sido um apoio
significativo nas terapias. Em casos de comorbidades, tratar os transtornos de

12
base são prioridades e trazem benefícios ao tratamento da depressão. Pessoas
que apresentam quadro depressivo são beneficiadas quando são ouvidas sem
julgamento ou comparações, assim como quando suas emoções são validadas
sem que para isso seja necessário reforço tampouco punição.

Ansiedade, depressão e sua relação


psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

com a felicidade
Consideradas as “doenças do século XXI”, a ansiedade e a depressão
podem estar relacionadas à concepção de felicidade que é difundida
socialmente, e a literatura demonstra que isso não é exclusivo desta geração.
Uma demonstração de outras épocas dessa angústia está no livro “Uma
criatura dócil” (1876), de Dostoiéviski (1821-1881), que já ressaltava o papel da
comunicação entre as pessoas como maneira de não sucumbir à tristeza, tão
peculiar à nossa condição humana. Parece, contudo, que nos aperfeiçoamos
cada vez mais na arte de produzir sofrimento, e isso não é bom. Por sermos
seres da coletividade e mutualidade, mesmo em face de problemas, com ajuda
mútua, podemos construir o inverso: com as ferramentas disponíveis, podemos
nos tornar cada vez mais conscientes de que, vivendo o hoje e trabalhando para
nos melhorar, o amanhã - acontecimento inevitável da vida - poderá ser um
pouco mais lapidado e positivo.

Ansiedade e depressão no contexto da pandemia


Na nossa condição, hoje, é normal estar ansioso e triste. Esses sentimen-
tos, contudo, se são paralisantes e distanciam a pessoa de sua essência podem
se tornar patológicos. Caso isso venha a ocorrer, não é vergonhoso buscar por
auxílio, nem será demonstração de fraqueza.
Como maneiras de articular melhor as condições atuais, é recomendável
que se estabeleça para si metas possíveis de serem alcançadas; exercitar as
escolhas de maneira tal que enfoquem a atenção para recursos reais e positivos
de hoje, não de ontem ou de amanhã; reestruturar as interpretações que se
tinha do passado, construindo sonhos e projetos para o futuro não apenas
desejáveis, como também viáveis; além de estar atento aos cuidados com a
saúde física, pois exercem influência marcante na emocional.
O principal, aqui, é entendermos que há coisas incontroláveis e que isso
não é o fim. Com esforço e dedicação, podemos vir a perceber a beleza que se
revela por detrás da imprevisibilidade e da incapacidade de controle.

13
Exercício 1
Técnica 5-4-3-2-1

Essa é um técnica de autotranquilização que visa a exercitar a conscientiza-


ção para o reconhecimento do momento presente.
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

Procure respirar profundamente com uma mão apoiada no seu peito e a outra
na barriga. Note com as suas mãos, o peito e a barriga se movimentando. Perceba
sua respiração. Você está respirando.
Agora olhe a sua volta, no ambiente onde você está e procure identificar:
5 coisas que você consegue ver. Observe-as e nomeie-as;
4 coisas que você consegue tocar. Permita-se parar e identificá-las;
3 coisas que você consegue ouvir. Perceba os sons ao redor, escute-os;
2 coisas que você consegue cheirar. Inspire profundamente, aguçando
sua percepção;
1 coisas que você consiga provar. Permita-se saboreá-la.

Exercício 2
A genialidade do “... e ...”

Este exercício tem como ideia fundamental a


possibilidade de manter nossos cérebros saudáveis
dentro do melhor grau de qualidade que pudermos
alcançar, através do desenvolvimento da responsabili-
dade pessoal e da autoliderança diante daquilo que
atribuímos aos nossos pensamentos.
Estamos testemunhando histórias marcantes de
injustiça ao redor do mundo: a maneira como a doença
tem atingido certas populações, a brutalidade com que
a lei está sendo aplicada por certos oficiais da polícia
em determinados países. É possível que sejamos
acometidos por pensamentos de culpa em relação à
bonança que temos em nossas vidas, bem como os
pensamentos negativos de maneira geral que alimentam
o sentimento de infelicidade.
Alguns desses pensamentos podem ser categorizados no que chamamos de
disfunções cognitivas. Essas disfunções são como “pensamentos-martelo”:
pensamentos negativos recorrentes, que incomodam e causam sofrimento. Podem
se apresentar com tendências à generalização, que é acreditar que todo evento
seguinte a um deslize ou erro sempre dará errado; de catastrofização, que é prever
sempre o pior desfecho para as situações, sem levar em consideração outras
possibilidades; ao raciocínio emocional, que ocorre quando aquilo que se sente em
ralação a algo ou alguém se torna um fato incontestável; ou ainda à
personalização, que é trazer para o lado pessoal toda e qualquer situação que não

14
necessariamente está ligada a uma ação sua. Essas formas de pensar são
comuns e ocorrem com todas as pessoas. Algumas usam mais de um tipo do que
de outro, mas todos temos algum tipo de distorção. E agora, elas estão meio fora
de controle.
Como sugestão para o enriquecimento do processo de autoconhecimento,
este exercício é um convite a não apenas nomear, mas dizer em voz alta os
pensamentos negativos angustiantes. Para tanto, não se deve ignorar,
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

tampouco se forçar a repelir esses pensamentos. O proposto aqui é identificar,


reconhecer e compreender o efeito que eles têm em sua vida, admitindo que
eles existem sem que isso cause sofrimento. Para isso, você pode seguir alguns
passos:

1. Faça uma lista dos pensamentos negativos que estiver tendo,


escrevendo-os um embaixo do outro numa folha de papel;
2. Imediatamente ao lado do pensamento escreva “e”;
3. Depois do “e”, você deverá escrever frases que são tanto positivas
quanto verdadeiras.
Vale ressaltar que essas frases positivas não devem ser inspiradas numa
“fantasia hollywoodiana com um final feliz”. Essas afirmativas devem ser
relativamente positivas, portanto, reais. Além disso, a frase escrita depois do “e”
deve também ser verdadeira. Você deve, pois, ter a certeza de que a frase tem
um sentido verdadeiro/legítimo para você.
Por exemplo:
Eu não estou fazendo o suficiente E sei que todos os dias faço o melhor que posso.
(pensamento negativo) (pensamento positivo e verdadeiro)

É importante lembrar que esses pensamentos podem parecer genuinamente


seus, porém eles são compartilhados, são comuns à existência humana. Concentre-
se naquilo que você acredita ser verdade (ex. acredito que estou fazendo o meu
melhor todos os dias). Escreva quantos “e’s” julgar necessário para dissipar o
pensamento negativo. O objetivo é ter um espaço reservado para essas
experiências que foram difíceis, E focar em algo diferente e mais positivo.
O hábito de pensar negativamente é facilmente acionado em momentos de
angústia. A proposta deste exercício não é a de negar os pensamentos negativos,
mas sim possibilitar a integração entre pensamentos negativos e positivos. Em
outras palavras, é permitir-se ter esses pensamentos sem que eles se tornem
paralisantes, pois ao incluir o “e” ao pensamento negativo, exercita-se a
flexibilidade cognitiva, criando um ambiente que coexista o aspecto negativo,
concedendo um espaço para o pensamento mais confortante, real e positivo.
Como as experiências são diversas, alguns pensamentos podem ser mais
dolorosos que outros. E está tudo bem se não conseguir desenvolver um
complemento positivo imediatamente para eles. Trabalhe, então, com a
possibilidade de encontrar esse complemento, lembrando-se de pensar sobre si de
maneira mais positiva, valorizando-se diante dos acontecimentos. 9

15
Bônus 1

{ }
"A ansiedade nasceu no mesmo exato momento que a humanidade. E como
nunca seremos capazes de controlá-la, temos que aprender a viver com ela -
da mesma forma que aprendemos a viver com tempestades"
(Paulo Coelho)
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

As práticas para alcançar menores índices de


ansiedade são simples, mas exigem compromisso,
paciência e constância.
Você pode iniciar da prática mais simples, como
cultivar uma planta para, assim, ter mais contato com a
natureza.
Pode também estabelecer rotinas que incluam o
cuidado consigo e exercícios físicos.
Além disso, desenvolver e aprimorar habilidades
sociais é importante.

Bônus 2

{ "Você pode não controlar todos os eventos que acontecem com você, mas você
pode decidir não ser diminuída por eles"
(Maya Angelou) }
Identificar se o sentimento de desmotivação e desânimo podem ser sinais de
depressão é um importante passo. Por isso, procure identificar se:
logo no início do dia, ao sair, há grande desejo de voltar logo para casa;
há o sentimento de culpa por sentir tanto desânimo;
há menos convivência com pessoas significativas, amigos e familiares;
o desânimo sentido se aproxima do pensamento de "querer sumir".
Assim como nos exercícios para diminuir a ansiedade, vencer a depressão é
um compromisso diário. O auxílio de um profissional de Psicologia é recomendado
para o tratamento de quadros depressivos. Ações diárias que podem auxiliar:
1. mexa o corpo por dez minutos, com música ou sem. Movimente-se;
2. medite durante cinco minutos. Aprenda consigo;
3. converse com alguém que tenho um humor bom e vívido. Alegre-se;
4. dê um propósito ao seu dia. Organize-se;
5. procure equilibrar prazer e maestria na execução de suas tarefas.
Importante é sempre cuidar de si mesmo: seu corpo, sua saúde, sua alimenta-
ção. Procure se perdoar por erros do passado, nutrindo o sentimento de
aprendizagem e encontrado a compreensão de que a caminhada da vida é sempre 11
12
para frente.

16
Filmes, Séries e Livros #GEPPsi+Indica

Beleza Oculta
O que é mais humano do que ansiar por Amor, querer mais
Tempo e temer a Morte? E se Morte, Tempo e Amor fossem
de, fato, pessoas e pudessem responder aos nossos
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 4

questionamentos e auxiliar a ressignificar nossas


frustrações? Depois de uma tragédia pessoal, Howard, um
publicitário novaiorquino, entra em depressão, mas ao
explorar suas perdas descobre momentos de beleza que
interligam passado e presente.
Clique no ícone ao lado para assistir o trailer legendado

This Is Us
This is us (Isso é sobre nós, em tradução livre) é uma série
norte-americana que acompanha a história da família
Pearson. Com uma atmosfera familiar e calorosa, o enredo
inclui diálogos e personagens enfrentando e dando boas
reflexões eventos cotidianos, assim como sobre ansiedade e
depressão.

Clique no ícone ao lado para assistir o trailer legendado

Atypical
Série original da Netflix, Atypical enreda a história de Sam,
um adolescente autista de 18 anos que está em busca de
sua primeira namorada. Além das dificuldades do espectro
autista, a produção retrata as particularidades da fase
adolescente e como Sam lida com elas. Com a ajuda de sua
terapeuta, Sam enfrenta as diversas ansiedades decorren-
tes de sua idade, família e círculo social. A é um convite à
compreensão de que por não termos o controle das coisas,
é preciso que estejamos dispostos a sentir medo e encarar
as dificuldades do dia a dia.
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Ostra feliz não faz pérola


Rubem Alves não se contentou em ser "apenas" educador:
foi psicanalista, escritor teólogo e pastor presbiteriano.
Sensível às razões e motivações da natureza humana, o
mineiro escreveu "Ostra feliz não faz pérola", brincando
com a analogia de que para alcançar a beleza que
admiramos numa pérola, a ostra que a produz tem que, na
realidade, passar por um parcela real de sofrimento
causado por um pequenino e incômodo grão de areia.

17
Do Desamparo Aprendido ao
Otimismo como Estilo Explicativo
Marcella Bastos Cacciari*

Martin Seligman, considerado o pioneiro do ralizado este modo de reagir diante dos
movimento científico da Psicologia Positiva choques. De forma análoga, os seres humanos
(PP), trabalhou durante mais de 30 anos com também poderiam experimentar essa
pesquisas na área de psicopatologia, e foi o percepção de total ausência de controle sobre
principal autor de uma das teorias de facetas o ambiente, que levaria ao que ele denominou,
da personalidade mais importantes das últimas algum tempo depois, de desamparo aprendido.
décadas, a teoria do desamparo aprendido
(Schultz & Schultz, 2002). No desamparo aprendido, as pessoas
aprendem ao longo de sua história de vida que
Seligman formulou seu problema de pesquisa “não vale a pena tentar”, que “as coisas são
ao observar um experimento de assim mesmo”, que “as pessoas não são
condicionamento clássico com cães feito em confiáveis” ou que o “mundo é um lugar
duas etapas. Na primeira etapa, os bichinhos perigoso”. Neste cenário, a conformidade e a
estavam sendo ensinados a associar um passividade tendem a dominar a vida da
determinado som ao choque elétrico que pessoa em sofrimento (Klein, Fencil-Morse, &
recebiam através de um piso, e na segunda Seligman, 1976). É como se não houvesse jeito
etapa, os animais eram colocados em uma de resolver situações difíceis, e ainda mais,
caixa com dois compartimentos contendo uma como se as circunstâncias que envolvem estas
pequena divisória (como uma pequena cerca). situações fossem duradouras e permanentes
Neste momento, o objetivo era que os cães (Peterson & Seligman, 1983).
procurassem “fugir” dos choques aplicados no
interior da caixa, pulando a cerca ao ouvir o [Talvez você conheça alguém que apresente
som emitido na primeira etapa (fase em que o estas características, ou você já percebeu as
som foi associado aos choques). Mas não foi o coisas desta forma, e acredite, isso é algo
que ocorreu. Quando receberam os choques, relativamente comum.]
eles começaram a deitar, choramingar, e não
fizeram nenhuma tentativa de fugir. Ou seja, o Mas a história desta teoria não acaba por aí.
experimento parecia ter dado errado. Como vocês já sabem, nos capítulos seguintes,
Seligman deu início ao que conhecemos hoje
No entanto, Seligman compreendeu a reação como psicologia positiva ou ciência da
dos cães de uma outra forma. Ele notou que na felicidade. Da mesma forma que acontece com
primeira parte do experimento os animais muitos teóricos ilustres da psicologia, ele
aprenderam que estavam “indefesos” diante descobriu em sua própria biografia que ainda
dos choques. Nenhuma das respostas emitidas não estava satisfeito com as respostas que
naquele momento ajudou a resolver as havia encontrado para lidar com o sofrimento
circunstâncias da situação. humano, e o seu trabalho com a psicoterapia
tradicional parecia estar ficando cada dia mais
Assim, quando foram expostos aos choques “limitado”. É aqui que temos uma grande
novamente, agiram como se suas tentativas reviravolta. Existe um pilar da PP que está
fossem “inúteis”, e sequer procuraram uma implícito em quase todas as teorias, técnicas e
forma de escapar da caixa, pois haviam gene-

18
construtos que pertencem a este movimento, e
a partir de agora você sempre vai percebê-lo.
“Cada momento é uma escolha. Não
importa quão frustrante, chata,
É o seguinte: a cura é importante e sempre
limitadora ou opressiva for a nossa
devemos buscar o cuidado adequado das
experiência, podemos sempre
feridas e a garantia da sobrevivência, mas, a escolher como reagir.”
sobrevivência não é o suficiente. Além de (Edith Eva Eger, em A Bailarina de
sobreviver, é preciso florescer (Seligman, 2011). Auschwitz)
E o que isso significa na prática? Significa que
Seligman descobriu que os princípios que
não devemos buscar o retorno a um estado
ajudam a entender a dinâmica do desamparo
anterior de coisas ou um tipo de estado “de
aprendido e do estilo explicativo pessimista que
cura” (uma estaca zero). Por outro lado, nossas
o promove, também permitem a compreensão
intervenções e ações no mundo precisam
do estilo otimista e seus benefícios para a
facilitar, além do reconhecimento da força da
saúde em geral. Temos como resultado o
sobrevivência após momentos devastadores, a
otimismo aprendido e a possibilidade de
permissão de dar mais passos adiante,
técnicas e intervenções que podem promovê-
reconhecer as bençãos que nos acontecem
lo.
cotidianamente, abraçar as nossas maiores
qualidades e vislumbrar a descoberta do
Olha só que boa notícia: podemos aprender e
propósito.
descobrir novas formas de incluir o estilo
explicativo otimista nas nossas vidas.
Mas, e a teoria do desamparo aprendido? Bom,
podemos dizer que ajudou na elaboração de
Demais, né!?
uma outra, bem mais “conectada” com a
psicologia positiva: a teoria dos estilos
*Marcella é Psicóloga, professora e futura doutora
explicativos. Resumidamente, os estilos
em Psicologia. Mãe da Marina e da família de
explicativos correspondem a maneira como cachorros: Charlotte, Chantilly e Charlie. Noiva do
Iagor desde janeiro. Mora em uma casa com jardim
explicamos a ausência de controle das no quintal. A Psicologia Positiva permitiu que ela
descobrisse a própria curiosidade como uma
circunstâncias ambientais (tal como ocorre
qualidade a ser cultivada.
em situações de desamparo). No estilo
pessimista, a pessoa tende a atribuir os
problemas em questão a si mesma de forma
inapropriada (ex. Isso sempre dá errado
comigo), de forma duradoura e abrangente, o
que fomenta o desamparo aprendido. Já no
estilo otimista, a pessoa consegue perceber
que os eventos adversos podem ter causas
externas a ela (ex. Perdi o ônibus porque ele
passou 5 minutos antes do horário),
compreende que são passageiros, ainda que
possam demorar, e específicos do contexto, o
que protege e ajuda a prevenir o desamparo
aprendido (Gillham, Shatté, Reivich, &
Seligman, 2001).

19
Tecendo Conexões - Medicina

Sergio W. Baumel

Equipe Curso de Extensão: Obriga- os e aumentar a frequência da Muitas vezes temos a reação de
da por aceitar nosso convite para sua respiração, desviar o san- estresse sem nos darmos conta do
partilhar seus conhecimentos! Você gue para o cérebro e para a que está acontecendo, e só vamos
poderia nos explicar o que é o periferia (braços e pernas, perceber quando estivermos com
estresse e como podemos reconhecê- músculos, etc.) - diminuindo a dores musculares (na cabeça, nas
lo em nosso organismo? circulação de seu sistema di- costas, etc.), um cansaço além da
gestório e diminuindo a moti- conta, quando começarmos a perder
Sergio W. Baumel: Estresse ou lidade de estômago e intesti- o sono ou quando começarmos a ficar
Stress (ambas as formas são corretas) nos, dilatar as suas pupilas, irritadiços, brigando “à toa”,
é uma reação complexa mediada pelo eriçar seus pelos e aumentar a principalmente com as pessoas mais
Sistema Nervoso Autônomo contração basal de seus mús- próximas.
Simpático, desencadeada por culos esqueléticos. Além disso,
estímulos ou situações que coloquem irá modificar as quantidades de ECE: O contexto atual pode ser um
em risco a vida de um indivíduo ou a hormônios que serão liberadas potencializador do estresse? De que
preservação de sua espécie. Como em sua circulação, modificando maneira?
tal, não é uma reação exclusiva do o seu metabolismo. Você ficará
ser humano, pelo contrário: é uma mais alerta, se preparando SWB: Sem dúvida alguma! Embora a
resposta que vem evoluindo há, para se movimentar mais rapi- reação de estresse seja “projetada”
literalmente, milhões de anos. Desse damente e usar a maior para lidarmos com um “perigo real e
modo, o estresse está profundamente quantidade de força possível. imediato”, ela se perpetua em
gravado na porção mais antiga de situações em que o perigo pode
nossos cérebros, a parte que aparecer a qualquer momento. Um
denominamos de “cérebro reptiliano”. exemplo seria, no caso dos “homens
“Essa reação, como seria de se
das cavernas”, o conhecimento da
supor, não existe por acaso. Ela
tem sido essencial para garantir a
existência de matilhas de lobos por
Esta reação, como seria de se supor, sobrevivência dos indivíduos e perto do local em que um grupo de
não existe por acaso. Ela tem sido das espécies animais, de modo humanos esteja “acampado”. Os
essencial para garantir a sobrevivên- bastante eficaz." indivíduos que estiverem de “vigia”
cia dos indivíduos e das espécies estarão permanentemente alertas,
animais, de modo bastante eficaz. Essa mesma reação se daria durante toda a noite, mantendo a
Como exemplo, imagine que você caso você subitamente se visse reação fisiológica de estresse. Essa é
fosse um “homem (ou mulher) das diante de um precipício, ou uma das características que nos
cavernas”, tranquilamente cami- qualquer lugar alto que ofere- permitiram sobreviver e conquistar
nhando pela selva, quando, subita- cesse o risco de cair, ou ainda praticamente todos os lugares do
mente, você ouve o rugido de um se estivesse em um local muito nosso planeta: a capacidade de
tigre. Quase que instantaneamente, frio, sem proteção adequada, fazermos previsões mais ou menos
seu corpo terá uma reação global, mas também se estivesse há acuradas sobre o futuro, nos
preparando você para uma de três muito tempo passando fome, permitindo criar medidas preventivas
opções: lutar contra o tigre, fugir do por exemplo. Interessante no- contra as ameaças naturais. Afinal,
tigre, ou permanecer completamente tar que essa reação é idêntica se fossemos depender apenas de
imóvel (para que o predador ache à reação corpórea que temos nossa força física e velocidade, não
que você já estava morto; a maioria quando estamos apaixonados - teríamos chance nenhuma diante de
dos predadores só come animais que e é por isso que é chamado de um tigre dentes-de-sabre!
eles mesmo mataram). Para que a Sistema Nervoso Autônomo
eficácia dessas três opções seja a Simpático! [Será que é porque O problema começa a aparecer
melhor possível, seu corpo irá a Paixão é algo muito quando conseguimos uma civilização
aumentar a frequência das batidas de perigoso?] que, na prática, quase eliminou todos
seu coração, aumentar sua pressão os verdadeiros perigos naturais, pelo
arterial, dilatar seus brônqui- menos para a maior parte dos huma-

20
nos. Nesse contexto, nossa mente ser parecido com a “doença Além disso, não há tratamento
(que foi programada para issohá Depressão”, trata-se de uma específico nem profilaxia contra ela -
centenas de milhares de anos) fica situação diferente, secundária, e talvez por isso coisas como
buscando os possíveis perigos, ou seja, é uma consequência de “Cloroquina” ou “Ivermectina” fazem
“confundindo” os perigos reais, uma situação estressante que tanto “sucesso”: estamos todos
praticamente inexistentes, com não tem como ser resolvida. ansiosos por algo que nos diga “tudo
perigos abstratos, como não ter bem, agora não há mais perigo”,
dinheiro para pagar as contas, sofrer ECE: De que maneiras podemos então a maioria tende a se apegar a
humilhações diante de outras pessoas lidar melhor com o estresse? qualquer coisa que carregue essa
e, principalmente, ficarmos isolados Que atividades podem nos promessa, mesmo sem se basear na
de nossas “tribos”, ou seja, de não auxiliar? realidade! Somando-se a tudo, e em
sermos amados! E quanto mais tempo grau ainda mais contundente dentro
se passa sem termos um alívio dessas SWB: No contexto atual, é das especificidades da cultura
tentativas de evitar perigos futuros, importante, em primeiro lugar, brasileira, existe a restrição ao
sem termos alguma segurança que que estejamos conscientes de contato social, em especial ao contato
nos “garanta” a sobrevivência, que o estresse acontece para físico. Somos uma nação que valoriza
maiores são os efeitos deletérios do todos nós, pois esta pandemia - os abraços, os “beijinhos de oi e de
estresse. e a necessidade de afastamen- tchau”, as manifestações físicas de
to social que se impôs a partir carinho. Mesmo levando em conta as
Assim, o contexto atual de restrições dela - tem características por si dife-renças individuais, estamos
e incertezas, naturalmente, potencia- mesmas estressantes. Mesmo certa-mente sofrendo muito mais com
liza o estresse exagerado e deletério. sabendo que o índice de esse afastamento do que os ingleses,
mortalidade da COVID-19 é por exemplo. E mesmo para aqueles
ECE: Há diferenças nos efeitos relativamente baixo, todos que já não gostavam muito de sair, de
percebidos entre um estresse momen- sabemos que não há garantia frequentar lugares com muita gente:
tâneo e um estresse prolongado, de, caso contrairmos a doença, uma coisa é ficar em casa porque eu
como o da quarentena? termos apenas as formas mais escolhi, outra bem diferente é ter que
leves e benignas dela. O fato ficar em casa!
SWB: Sim, principalmente pela manu- de ser causada por um vírus, o
tenção da incerteza, como expliquei menor de todos os micro- Então não nos iludamos: estamos
acima. Se a própria restrição da organismos que conhecemos, todos em situação de estresse
liberdade já é estressante, a só visível através de microsco- elevado, e permanente. Então o que
incerteza sobre como e quando isto pia eletrônica, faz dele um fazer? A reação inicial, de “fugir ou
irá terminar nos mantém em estado inimigo terrível: um inimigo invi- lutar”, é inevitável. O que podemos
de alerta permanente, embora não sível, que pode estar à nossa fazer é criar práticas para “desfazer”
tenhamos como modificar esta espreita em qualquer lugar. essa reação, depois dessa resposta
situação. E isto não é novidade na Pior ainda: as pessoas podem inicial. E temos muitas alternativas!
história da humanidade: pense nas estar infectadas e transmitindo Uma delas, com alta eficácia, são as
inúmeras situações em que a doença, sem ter qualquer sin- práticas de meditação, relaxamento,
indivíduos, grupos, ou até populações toma nem sinal aparente. Com- “mindfullness” (atenção plena), auto-
inteiras foram mantidos em situações pare isso, por exemplo, com o hipnose. Semelhantes a essas são as
de encarceramento, escravidão, sarampo ou a varíola, em que o práticas e rituais espirituais, religio-
tortura… Nesses casos, a tentativa indivíduo contaminado (e con- sos: orações, cânticos, leituras de
constante e inútil de encontrar uma taminador) mostra na pele as textos religiosos, sempre no contexto
solução e a incerteza absoluta quanto marcas de sua doença. das crenças específicas de cada
ao futuro levam inicialmente à um.
manutenção da reação de estresse, o
que chamamos de ansiedade. “Nossa mente fica buscando os Outra possibilidade, mesmo que
Quando isso se mantém por períodos possível perigos, “confundindo” limitada ao contexto e oportunidade
mais prolongados, muitas pessoas os perigos reais, praticamente de cada um, são as atividades físicas.
inexistentes, com perigos
passam do estado de ansiedade até Se não podemos, no momento, jogar
abstratos."
um estado de depressão, de apatia, aquela partidinha de basquete, pelo
que Martin Seligman chamou de menos podemos encontrar um espaço
“desamparo aprendido”. Apesar de para caminhar (quem tem uma esteira
1

21
ou bicicleta ergométrica está bem
servido), fazer exercícios abdominais,
levantar alguns pesos… Ou fazer
alguma aula de dança, alongamento,
ou algo assim, online.

A arte sempre nos dá diversas


opções, como a literatura, a música,
as artes plásticas, seja apreciando (e
o acesso é possível, ainda que de
modo digital), seja produzindo -
talvez esta seja a hora de se arriscar
e escrever aquele conto, aprender a
tocar aquele violão ou colocar seus
desenhos e pinturas no papel.

Se nada disso resolver, não hesite:


você pode e deve se utilizar dos
recursos que sua comunidade
oferece. Desde procurar um amigo,
parente ou colega para falar,
desabafar (aí a Internet também
pode ajudar a vencer as distâncias),
até procurar ajuda profissional, na
forma de uma psicoterapia. Muitos
profissionais estão aderindo ao
atendimento online, caso você não
queira se arriscar a ir até um
consultório, com praticamente os
mesmos resultados dos atendimentos
presenciais (dependendo das linhas e
técnicas de trabalho utilizadas).
Enfim, não permita que o desespero
vença, e procure a Vida, do melhor
jeito possível, um dia de cada vez!

Nosso Convidado

Sergio Werner Baumel é Médico neurologista e


também Psicólogo, Mestre em Psicologia, e Presidente
da Socepsi (Sociedade Capixaba de Estudos
Psicoterápicos). Tem múltiplos interesses dentro do
campo da psicoterapia, sendo também apaixonado por
livros, filmes, seriados e música, mas principalmente por
tudo aquilo que esteja ligado aos relacionamentos
humanos.

22
Referências
1 11
Gillham, J. E., Shatté, A. J., Reivich, K. Sousa, J. F. L. P., Sousa, H. S. &
J. & Seligman, M. E. P. (2001). Optimism, Rodrigues, L. E. B. (2019)a. Guia Prático
pessimism, and explanatory style. In E. da Eurekka sobre Ansiedade. Porto
C. Chang (Ed.), Optimism & pessimism: Alegre, RS: Eurekka. ISBN-13: 978-65-
Implications for theory, research, and 80013-01-2
practice (p. 53–75). ISBN-13: 978-1- 12
psicologia da felicidade e do bem-estar - MÓDULO 3

Sousa, J. F. L. P., Sousa, H. S. &


55798-691-7
Rodrigues, L. E. B. (2019)b. Guia Prático
2
Klein, D. C., Fencil-Morse, E. & da Eurekka sobre Depressão. Porto
Seligman, M. E. (1976). Learned Alegre, RS: Eurekka. ISBN-13: 978-
helplessness, depression, and the 80013-05-2
attribution of failure. J Pers Soc
Psychol, 33(5),508-16.
https://doi.org/10.1037//0022-
3514.33.5.508
3
Medley. Depressão e ansiedade não
são a mesma coisa.
4
Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual
em Saúde. Ansiedade.
5
Ministério da Saúde. Depressão:
causas, sintomas, tratamentos,
diagnóstico e prevenção.
6
Peterson, C. & Seligman, M. E. (1983).
Learned helplessness and victimization.
Journal of Social Issues, 39(2), 103–116.
https://doi.org/10.1111/j.1540-
4560.1983.tb00143.x
7
Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2002).
Teorias da personalidade (E. Kanner,
Trad.). São Paulo: Thomson. (Trabalho
original publicado em 1994). ISBN-13 :
978-8529400969
8
Seligman, M. E. (2011). Florescer. Rio de
Janeiro: Objetiva. ISBN-13 : 978-
8539002863
9
Action for happiness (2020). Happiness
in Dark Times - with Maria Sirois.
[Arquivo de Vídeo]
10
TED Talks (2015). Andrew Solomon -
Como os piores momentos das nossas
vidas nos tornam quem somos.
[Arquivo de Vídeo]

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Quem somos:
Valeschka Guerra
Psicóloga
Coordenadora do GEPPSI+
Doutora em Psicologia Social

Cynthia Perovano
Psicóloga na DAS/Progep
Doutora em Psicologia

Marcella Cacciari
Psicóloga
Doutoranda em Psicologia

Gabriella Almeida
Psicóloga
Mestranda em Psicologia

Denielly Menezes Livia Barreto


Psicóloga Psicóloga
Mestranda em Psicologia Mestranda em Psicologia

Luciana Noia
Graduanda em Psicologia

Mylena Bortolozzo
Graduanda em Psicologia

Júlia Duarte
Graduanda em Psicologia

Giulia Santos
Graduanda em Psicologia

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