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A HISTÓRIA DA REDENÇÃO

A semente é a palavra de Deus . (Lc 8:11 NVI)


Quando o grande Semeador disse essas palavras, o que então existia eram as
Escrituras do AT que Ele citou tantas vezes e de maneira sempre respeitosa. Depois
que Ele deixou o mundo, vieram as outras Escrituras — os Evangelhos, os Atos e as
cartas do NT. Tudo isso é o celeiro onde o semeador, fiel à sua missão, pode encontrar
a bendita semente da verdade revelada, para lançar com esperança e confiança no
coração dos homens. Conservo bem firme no meu espírito a convicção de que a tarefa
mais importante da Igreja continua sendo o ensino da Bíblia. Assim, também, o
trabalho dos pregadores do Evangelho, dignos desse nome, consiste em expor com
toda a fidelidade possível os ensinos do grande Livro de Deus.
Haverá expositores e expositores: uns mais, outros menos cultos, mas a grande
contribuição cultural que os pregadores poderão dar ao país é a exposição
sistemática, perseverante e competente da Bíblia. Não nos impressionemos com as
modernices que andam por aí: emparelhada com estas modernices, que põem em
dúvida a Inspiração, apresenta-se uma impressionante decadência de costumes.
“Pregue a palavra”, escreveu há muito tempo o apóstolo, e acrescentou: Pois virá o tempo
em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo
os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos
à verdade, voltando-se para os mitos. (2 Tm 4:3,4 NVI)

Compete-nos estudar, ensinar e expor a Bíblia, como a maior necessidade. Estas


lições, onde não há qualquer pretensão a ensino original, tem por objetivo oferecer ao
povo simples e piedoso das igrejas uma singela exposição das Escrituras, em que o
leitor possa acompanhar com facilidade o fio da História da Redenção, e ver a
continuidade da intervenção da Providência. E’ um livro para o povo. Um povo que
conheça as Escrituras e obedeça ao seu ensino, será sempre um grande povo! O
Autor.
NOTAS EXPLICATIVAS
As lições constantes deste curso são genuinamente bíblicas. Seguem o fio histórico
das Escrituras Sagradas. Seu objetivo não é ensinar noções históricas, geográficas
ou sociológicas da Bíblia. Não é tão pouco o ensino de moral. Tem uma finalidade
doutrinária e religiosa. A análise dos acontecimentos e a apreciação dos personagens
visam destacar as doutrinas fundamentais da revelação que se acham na Bíblia. Por
isso entendemos que nenhum nome encaixa tão bem a este curso como “História da
Redenção. Porque a Bíblia não foi escrita para ensinar geografia, nem qualquer outra
ciência, nem ainda moral. Seu objetivo é a redenção dos homens. Para bom proveito
do estudo é indispensável que alunos e professores usem a Bíblia.
Método: Os professores devem insistir com os alunos para que leiam, durante a
semana os trechos indicados e tragam respondidas as perguntas do questionário.
Como as lições tratam de assunto profundo da revelação, vão surgir muitas perguntas
interessantes e algumas, bem difíceis de responder. Em vez de dar uma resposta
qualquer, os professores devem consultar o pastor.

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A HISTÓRIA DA REDENÇÃO
Leitura: Jo 1:1-18.
O estudo desta matéria deve começar com uma pergunta: De onde viemos, para onde
vamos e para que existimos?
Cada um de nós quando nasce já encontra uma família, uma cidade, um povo, uma
raça da qual faz parte. Acha também as organizações, as invenções, tudo aquilo que
o homem realizou até o dia em que nós aparecemos neste mundo e descobrimos que
existimos. Encontramos o que já existia antes do homem e aquilo que o homem
inventou e construiu.
De onde veio o mundo? De onde veio a raça que está no mundo, aumentando, lutando
e sofrendo? E para que é que existe essa raça? Para onde vai, ou melhor, para onde
marcha a civilização dessa raça?
São perguntas legítimas, inquietadoras, normais e até obrigatórias. Há um livro que
trata da matéria dessas perguntas e apresenta as únicas respostas verdadeiras e
satisfatórias. Esse livro é a Bíblia.
Que é a Bíblia? O nome está dizendo: é uma biblioteca especializada num assunto —
religião. Examinando essa biblioteca descobrimos que ela começa com uma narrativa
que se prolonga até os primeiros anos da era cristã.
Verificamos que os primeiros livros dessa biblioteca apresentam uma sequência
histórica. Podemos dizer que começa com a história do homem e termina com a
história da raça separada para um fim especial. Não existe uma história de todos os
homens, isto é, da humanidade inteira em todos os tempos, mas apenas uma história
geral. Só a Bíblia trata da história do homem no seu início. Podemos dizer que há dois
modos de contar a história do mundo e do homem: o divino e o humano. A história
humana pode-se chamar história geral, história da civilização, etc.
À história divina, muitas vezes chamada história sagrada, deve chamar-se, com mais
propriedade, história da redenção. Esse título convém mais porque inclui não só os
fatos vistos pelos olhos de Deus, mas também a revelação dos princípios que
interessam à redenção do homem. Comparando uma história com outra descobrimos
alguns pontos de diferença:
1) Só Deus conhece a origem do mundo e do homem. E somente Ele vê o plano
completo do mundo e da raça que nele habita. Em outras palavras: os homens narram
aquilo que já aconteceu. Deus também, mas que já era do seu conhecimento antes
que acontecesse. Jó 38:4. Is 46:9-11.
2) O homem vê apenas a conduta dos outros homens. Deus vê o homem interior, sabe
os motivos, conhece as causas da conduta e, por isso, não pode cometer enganos.
Ao passo que o homem, considerando os fatos, pode apenas presumir os motivos
íntimos que os produziram. (I Sm 16:7. Sl 139:1-4, 14-16.
3) O historiador humano depende do testemunho de outros homens para escrever a
história. Deus é a testemunha constante, onipresente, infalível na sua apreciação dos
fatos. (Ap 3:14 e 1:5).

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4) Por muito que o historiador procure ser imparcial ele, ainda que não o queira, está
sujeito à contingência de contar a história de um ponto de vista unilateral e até
faccioso. A história geral é uma prova disso. Os marcos, em geral, são guerras,
conquistas onde os protagonistas dificilmente são apresentados com imparcialidade.
A Bíblia, não. Ela narra a história com uma finalidade específica e superior que exige
a apresentação do homem, quem quer que ele seja, exatamente como ele é e sem
nenhum retoque. Que finalidade é essa? Levar o homem ao reconhecimento de seu
estado pecaminoso e de sua completa dependência de Cristo para à sua salvação. (I
Co 10:11, Gl 3:24). Daí o nome — História da Redenção.
Divisão: A história da redenção, no AT, está dividida em sete períodos:
1. Da Criação ao Dilúvio (Adão a Noé). Gn 1-7;
2. Do Dilúvio à Chamada de Abrão (Noé a Abraão). (Gn 7-12).
3. Da Chamada de Abraão ao Êxodo (Abraão a José). (Gn 12 - Ex 12)
4. Do Êxodo à Fundação do Reino (Moisés a Samuel). (Ex 12 a I Sm 10).
5. Da Fundação do Reino ao Cativeiro da Babilônia (Samuel a Jeremias). (I Sm 10 a
II Cr 36).
6. Os 70 anos de cativeiro. (Daniel) II Cr 36, Esdras e Neemias.
7. Da Volta do Cativeiro ao Nascimento de Jesus — (Neemias e Esdras). Esdras,
Neemias e Malaquias.
QUESTIONÁRIO:
1. Onde podemos encontrar a verdade? (Jo 17:17)

2. Que impressão tem o homem depois que Deus lhe mostra a verdade? (Jó 42:3)

3. Como é que sabemos a história da criação? (Hb 11:3)

4. A Bíblia narra só o que já aconteceu? (Ap 1:1)

5. Qual é a finalidade das narrativas da Bíblia? (I Co 10:11.)

6. Quem marca as horas e os tempos da história? (Dn 2:21)

7. Desde quando Deus conhece os fatos da história? (Is 45:21)

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CAPÍTULO I - AS ORIGENS
Leitura: Gn 1
A nossa biblioteca religiosa, a Bíblia, tem um livro especialmente dedicado a origem
de todas as coisas.
Não é um livro científico, porque a ciência é muito variável, é humana, é relativa, é
militante, não é definitiva. Há uma ciência para cada época, mas a Bíblia fala para
todas as épocas.
O livro especializado tem exatamente este nome — origens, princípios.
Quando e como surgiu o universo?
O primeiro verso da Bíblia, em poucas palavras, responde com perfeita sabedoria a
essa pergunta.
Quando nasceu? — No princípio.
Antes de existir o mundo não existia calendário, porque o calendário faz parte do
mundo. Por isso a Bíblia diz, magistralmente, apenas isto — no princípio.
Como nasceu? — Deus criou.
Não podia nascer do nada, portanto, antes do mundo existir, já existia o Eterno, o que
não tem princípio.
Nestas primeiras palavras a Bíblia estabelece a mais verdadeira distinção entre as
coisas que existem — o Eterno e o principiado. Só Deus não tem princípio. O mais
são os céus e a terra, imensos, misteriosos, insondáveis — mas tiveram princípio.
A palavra Gênesis significa origens e, por isso, o livro começa a sua narrativa
indicando o Autor eterno e a criação temporal.
Há dois grandes livros: o livro da natureza e o livro da revelação.
Livros de Deus. No primeiro, vemos apenas o livro e, pelo seu grande estilo,
percebemos indiretamente a existência do Autor eterno.
No segundo, aparece o nome, o caráter, o pensamento e, também, os desígnios desse
mesmo Autor.
A interpretação da natureza chama-se ciência. A interpretação da revelação chama-
se teologia.
Há conflitos entre a teologia e a ciência. A teologia e a ciência passam, mas a verdade
de Deus que aparece nos seus livros, permanece para sempre.
O Gênesis apresenta simplesmente um sumário das origens.
1.° O grande ato onipotente da criação universal — os céus e a terra.
A palavra terra, aí, não significa globo terráqueo, mas a parte material de toda a
criação universal, como a palavra céu indica a criação de todos os seres espirituais.
Repitamos: a expressão os céus e a terra inclui tudo o que teve princípio, tudo o que
não é Deus.

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Assim, pois, a primeira declaração da Bíblia refuta o materialismo, o ateísmo, o
politeísmo e o panteísmo, assim como a segunda declaração exclui completamente o
deísmo.
2.° Seguindo do geral para o particular, a narrativa trata da criação do cenário da vida
humana. A narrativa se caracteriza:
a) Pela unidade do plano da criação;
b) pela ordem progressiva, fazendo aparecer, primeiro o simples e, depois, o
complexo;
c) pelo princípio de economia, porque Deus ia usando o que já tinha criado;
d) pelo monogenismo da obra, porque atribui tudo a um Criador só;
e) pela finalidade da criação, porque, após à conclusão de cada fase do plano, o Autor
dizia que estava bom, isto é, cumpria bem a sua finalidade.

Há dois verbos empregados nessa narrativa para indicar os atos criadores. O verbo
barah, usado em três lugares, para indicar a criação da matéria, da vida animal e da
alma. Nos outros é o verbo asah, que significa ajeitar, afeiçoar, dar forma. A ordem da
criação, como está no primeiro capítulo do Gênesis, é a seguinte:
1.° dia — Atividade luminosa da matéria: luz cósmica.
2.° dia — Condensação e individualização sideral da matéria: aparecimento da
expansão ou espaço.
3.° dia — Individualização da terra e o aparecimento dos mares e continentes: criação
da vida vegetal.
4º. dia — Individualização da luz: luz sideral, solar e lunar.
5.° dia — Animais inferiores.
6.° dia — a) aves e mamíferos; b) o homem.
Alguns teólogos propõem a seguinte analogia com os dados da ciência:
1. Início de atividade da matéria — resultado a luz. (v 3).
2. Desagregação planetária: a terra — (v 6 - 8).
3. Configuração das terras e das águas — (v 9 -10).
4. Sinais da vida: vegetais e protozoários. (v 10 -12).
5. Luz solar que dá energia e com a luz lunar e sideral oferece os meios para divisão
do tempo — (v 14 -18.
6. Aparecimento de várias espécies da vida animal. (v 20 - 23.
7. Aparecimento dos mamíferos, vertebrados superiores. (v 24 - 25.
8. Aparecimento do homem — (v 26 - 30. — (Prof. Dana, da Universidade Yale).
A ciência bem fundamentada nos fatos e na experiência concorda com a Bíblia no
seguinte: o homem não pode criar nem a matéria, nem a vida, nem a alma. A ciência
conclui pela negativa: o homem não pode. A Bíblia pela afirmativa: Deus criou.

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A criação está dividida em duas grandes fases: a primeira narrada do verso 1 ao verso
13; a segunda, do verso 14 ao verso 27. Ambas iniciam com a luz e terminam com a
criação de uma coisa inteiramente nova.
A linguagem do livro não é científica. E’ uma linguagem simples, própria para
expressar os grandes acontecimentos da criação, em termos exatos e ao mesmo
tempo accessíveis ao entendimento de qualquer leitor. E nisso está uma das grandes
maravilhas do livro. Diz exatamente o que é necessário, sem empregar uma
linguagem técnica. Um exemplo é a palavra “dia”. O vocábulo hebraico significa
período ou medida de tempo. Pode também indicar a duração de qualquer período
luminoso. No texto de Gênesis 1 é empregado para indicar períodos luminosos de
duração muito diferente. Verso 5 — período indeterminado de luz; verso 14 —
períodos divisionários do ano, 24 horas; verso 18 — período em que o sol está acima
do horizonte; (Gn 2:4) — período geral da criação. Veja-se também (Lv 25:29 e Jz
17:10).
Só Deus, que assistiu à criação, nos poderia dizer como as coisas se passaram.
A narrativa do Gênesis é sóbria, simples, inteligível, breve, simplesmente magistral.
Há mistérios muito grandes que um dia, talvez, possamos compreender
perfeitamente, mistérios que não anulam as certezas alcançadas. Disse Bowne, um
grande professor americano. Há duas grandes perguntas:
Quem fez o mundo? Só há uma resposta racional: Deus criou o mundo.
Como Deus criou o mundo? Não há resposta racional.
Nós, os crentes, fazemos nossas as lindas palavras que se encontram na carta aos
Hebreus: “Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela Palavra de
Deus”.
QUESTIONÁRIO:
1. Como era a terra no princípio?
2. Que é que não pode andar misturado?
3. Quem deu nome às coisas?
4. Que houve no primeiro dia?
5. A erva foi pintada antes, ou depois de nascer?
6. Quem existiu primeiro: a galinha ou o ovo?
7. Quem foi o primeiro relojoeiro?
8. Que é que vem primeiro, a tarde ou a manhã?
9. Qual era a aparência do homem?
10. Qual é a finalidade do homem?
11. Que tal a criação?

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CAPÍTULO II - A CRIAÇÃO DO HOMEM
Leitura: Gn 1:26 - 31; 2:5 - 24.
Camões afirmou: o homem é “um bicho da terra, tão pequeno”. Entretanto, apesar de
todos os contratempos e revezes que o poeta descreve, o homem encheu a terra e
dela tomou conta. É que assim estava escrito e para isso foi ele criado.
O que Moisés sabia das dimensões da terra? Não é interessante que Moises tenha
respirado e registrado esta palavra de Deus? "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra! (Gn 1:28)

Com as informações que temos hoje, fica fácil concluir: Moisés, autor do livro de
Genesis, não escreveu de si mesmo, mas por inspiração divina.
O livro das origens faz duas narrativas. A primeira é a narrativa geral da criação e nela
aparece como parte e, em resumo, a criação do homem. A segunda trata só da criação
do homem. Preparado o cenário grandioso, vai aparecer" o protagonista. À narrativa
da sua criação o Autor consagra um capítulo especial.
A lição pode ser dividida em três partes:
1.°) O ATO CRIADOR
A narrativa mostra que há diferença entre a criação do homem e a criação dos
animais.
Na criação dos animais a expressão que Deus usou foi a seguinte: “Produza a terra”.
Na criação do homem, é diferente, disse: — “Façamos o homem”.
O verbo designado para expressar o ato criador é, outra vez, o verbo barah, indicando
que Deus vai introduzir um elemento novo — a vida racional.
Quando trata dos animais o livro diz apenas o seguinte: “conforme a sua espécie”,
o que mostra que esses seres vivos não têm semelhança com espécies anteriores.
Falando do homem, porém, diz: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”,
em vez de falar “conforme a sua espécie”. O homem foi feito segundo um feitio
anterior. E, para que esse aspecto da criação ficasse bem marcado, o Autor repete a
expressão, dizendo: Fez Deus o homem à sua imagem.
A narrativa diz que Deus fez o homem do pó, mas não diz como foi que Deus fez. E é
notável que Deus não se dirigisse à terra para dizer “produza”. Não diz também se
era pó animado ou inanimado.
Em qualquer dos casos, o aparecimento do homem exigiu um ato criador e onipotente.
O homem é uma criação imediata e direta de Deus. Deus o fez.
Nesse ato criador o que Deus fez não foi apenas o indivíduo, mas o casal, isto é, o
homem. Em outros termos: a raça humana. Daí a expressão que se vê no verso 26
— “dominem”, e no verso 27 — “macho e fêmea” os criou”.
2.°) A NATUREZA DO HOMEM

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Do que se disse acima, ficou estabelecido que o homem é um ser não só diferente
dos outros animais, mas de ordem superior. É a chave de ouro da criação. As
Escrituras dizem dele duas coisas:
a) Que tem alma vivente.
Os animais também têm alma vivente. O homem é semelhante aos animais. Não era
preciso que a Bíblia dissesse isso para nós o sabermos. Como os animais, ele é da
terra, veio da terra e voltará para a terra. (Gn 2:7 e 3:19. Ec 3:18-20).
b) Que é semelhante a Deus.
Tem, portanto, uma natureza dupla. É como diz o Eclesiastes quando descreve a
morte do homem: “O pó volta à terra como o era, e o espírito volta a Deus que o
deu”. O homem não é só da terra.
Em termos mais precisos, ou acadêmicos, poderíamos dizer que o homem é
personalidade: tem consciência própria e determinação própria. Consciência própria,
porque se distingue de tudo mais e nada faz sem saber o que está fazendo. O homem
não se confunde com as outras coisas. Tem determinação própria, porque tem a
faculdade de obedecer ou não obedecer, conforme queira.
Deus plantou uma árvore no jardim. Se o homem fosse apenas um animal, teria
colocado uma cerca ao redor dessa árvore. Em vez de fazer uma cerca, fez uma
proibição, porque o homem não é um animal. O animal é apenas instinto; o homem é
mais do que isso, o homem é razão e consciência.
A lição nos apresenta o homem ideal, no seu estado de inocência, livre, bom, feliz e
sem malícia. (Gn 2:16,17, 25; Ec 7:29).
3.°) A FINALIDADE DO HOMEM
Diz a narrativa que Deus tomou o homem e o pôs no jardim para o lavrar e guardar.
Essa declaração ensina várias coisas importantes.
a) O homem foi feito para se associar com Deus no trabalho de realizar na terra um
plano divino, isto é, para cuidar daquilo que Deus fez: é cooperador de Deus.
b) O trabalho, longe de ser castigo ou causa de sofrimento, é, pelo contrário, a
verdadeira finalidade do homem. É uma expressão da vida inteligente. O castigo
consiste, como se verá depois, na degradação do trabalho, isto é, na sujeição ao
estômago — trabalhar para comer.
c) Deus não entregou ao homem uma obra consumada e sim alguma coisa que o
homem deve afeiçoar. Só isso lhe dará felicidade. Fez um jardim, um lugar de
felicidade, mas que o homem tinha de lavrar e guardar.
Essa lição sugere outra mais importante e profunda — o próprio homem é também
assim. Deus o fez inocente e feliz, mas deixou nas suas mãos confirmar sua inocência
e felicidade pela obediência voluntária.
É necessário observar que Deus não colocou o homem simplesmente no cenário
grandioso do mundo, mas num lugar adequado, com circunstâncias favoráveis à

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felicidade e necessário à prova, disciplina e à estruturação definitiva da sua
personalidade.
Mostra a narrativa que o homem é um ser gregário: “não é bom que o homem esteja
só”. Ao descrever a criação da mulher a narrativa mostra que a família é uma
instituição divina. Nela, e não no homem individual, está a unidade primaria da grei
humana. A mulher foi tirada do homem e, portanto, é do mesmo elemento. E, por isso,
não obstante certas diferenças constitutivas, não é inferior ao homem.
Comparando-se com a narrativa bíblica o desenvolvimento da raça na terra em todos
os seus aspectos e, recorrendo a dados positivos da ciência e não a hipóteses
precárias e discutíveis, sente-se que, apesar de resumida, a narrativa bíblica da
criação do homem é grandiosa e verdadeira. Não faz da criatura humana um ser tão
alto que não pudesse ainda subir mais nem o faz tão baixo que ele não pudesse
perceber a sua grandeza e a sua dignidade. Não nos apresenta uma fantasia, mas
traços verdadeiros que, não obstante a longa evolução do homem até o dia de hoje,
se conservam vivos e apegados em sua natureza.
QUESTIONÁRIO:
1. O homem era carnívoro?
2. Que encargos recebeu o homem?
3. Quem foi o primeiro jardineiro?
4. E o segundo?
5. Quem fez a árvore da ciência do bem e do mal?
6. A árvore da ciência do bem e do mal era agradável à vista e boa para comer?
7. De onde formou Deus todo o animal do campo e todas as aves do céu?
8. Quem fez o primeiro batizado?
9. O Éden era um jardim?
10. Como era o primeiro regador?
11. Que semelhança há entre o homem e o animal?
12. Quando e por quem foi feita a primeira narcotização?

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CAPÍTULO III - O PRINCÍPIO DO PECADO
Leitura: Gn 8
Texto Áureo: Rm 5:12
Pascal disse que duas coisas nos impressionam quando consideramos o homem: a
sua grandeza e a sua miséria. Esse contraste aparece também em nossa maneira de
tratá-lo, porque falamos dele como se fosse a chave de ouro da criação e o tratamos,
muitas vezes, como se fosse o pior inimigo, e dele nos precavemos por medo e
desconfiança. Em outras palavras: há diferença entre o homem idealizado, que é
perfeito, e o homem real que é uma contradição de grandeza e miséria.
O homem terá sido sempre assim?
Diz a literatura e a Bíblia que não. Ovídio, nas metamorfoses, fala de uma época em
que o homem era bom, justo e feliz. Depois, se corrompeu. A Bíblia diz que Deus fez
o homem bom, mas o homem caiu e se degradou.
Quando e como caiu?
O livro das origens tem um capítulo dedicado a esse tenebroso acontecimento que
transformou completamente a felicidade do homem e os seus destinos na terra. O livro
das origens não vai desvendar o segredo da origem do mal; vai apenas contar como
foi que o homem principiou a ser pecador.
Pela narrativa sabemos que havia pecado e seres pecadores antes do homem
também se fazer pecador. Quando esses outros seres se tornam pecadores, não
sabemos. Deus deixou a explicação desse mistério para mais tarde.( I Co 13:12).
Sabemos, também, três coisas: que houve uma tentação, um ato pecaminoso inicial
e uma irremediável mudança moral do homem depois desse primeiro ato pecaminoso.
Esta é a divisão do nosso estudo.
1.°) A TENTAÇÃO
0 tentador disfarçou-se sob as aparências de uma criatura que, segundo diz a
narrativa, era astuta. Sabemos que não se trata de uma serpente qualquer, porque a
Bíblia o diz (Ap 12:9)
O tentador tomou a forma de um animal que a mulher já conhecia. Revestido desse
disfarce, o tentador procedeu com o seguinte método:
a) Fez a mulher pensar naquilo que Deus tinha proibido.
O pensamento nas coisas que uma pessoa não tem e não pode ter, aguça o desejo
de possuí-la. Mas nada aguça tanto o desejo como pensar numa coisa proibida.
Primeiro passo da tentação: fazer pensar em coisas proibidas.
b) Confundiu a verdade com o erro, o bem com o mal.
Fez promessas que, em parte, se cumpriram, e em parte, não. Por exemplo: eles
ficaram sabendo, por experiência, o que era o bem e o mal, mas não se tornaram
como Deus.

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c) Exagerou, de um lado, as prerrogativas do homem e, de outro, a severidade de
Deus.
Ele deu a entender que Deus sonegava de suas criaturas aquilo que lhes deveria
conceder e que Ele reserva para si mesmo só. Apelou para uma necessidade natural
— a curiosidade, e indicou um meio ilegal para satisfazê-la — a desobediência.
d) Procurou astutamente, introduzir o assunto da tentação e entabular conversa,
aparentando ignorar os termos da proibição.
Ele negou a veracidade de Deus — “não morrereis”.
É impressionante a marcha da tentação no espírito do homem. Uma ideia, uma
impressão agradável — “agradável à vista”; uma imagem deleitosa — "boa para
comer”; um desejo intenso — “desejável para dar entendimento”; e um desfecho
trágico — “tomou e comeu”.
O tentador não obriga; sugere o ato, valoriza, embeleza o objeto da tentação. O resto
fica por conta do pecador. O diabo deixa a semente na terra e vai embora.
2.° O ATO PECAMINOSO
O ato de comer aquele fruto não era, talvez, em si mesmo pecaminoso, o pecado foi
a desobediência. Quando a mulher e o homem comeram o fruto da arvore da ciência
do bem e do mal, já tinham pecado. O simples fato de pôr em dúvida a veracidade de
Deus e, de deliberar sobre as vantagens de comer aquele fruto, já era pecado. O ato
exterior é pura revelação do pecado que já está estabelecido dentro do coração. Cabe
aqui uma pergunta.
Quando e como se estabeleceu o pecado no coração?
No momento em que a mulher estabeleceu como norma e princípio da sua conduta a
sua própria vontade em vez da vontade de Deus. Em outras palavras: o pecado
começou exatamente no momento em que a mulher resolveu verificar se seria mais
vantajoso comer o fruto do que obedecer à ordem de Deus. Ainda que não praticasse
a desobediência, já tinha do que se arrepender.
3.°) RESULTADOS DEFINITIVOS DO PECADO
A experiência já ensinou que os atos morais do homem modificam o seu caráter.
Cometida a desobediência, o homem já não era o mesmo. Primeiro, foi a perversão
da sua natureza, com os seguintes aspectos:
a) Aparecimento da malícia. (Gn 3:7);
b) Diminuição do afeto. (Gn 3:12);
c) Revolta contra Deus. (Gn 3:12);
d) Perda do bom senso, porque se escondeu de Deus. (Gn 3:8).
Em segundo lugar veio a destruição da sua felicidade.
a) Sentia-se envergonhado, atribuindo à nudez o que tinha causa no sentimento de
culpa.

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b) Atemorizou-se com aquilo que antes lhe causava grande alegria, isto é, a presença
de Deus.
c) Foi lançado para fora do jardim.
d) Uma degradação lamentável.
O trabalho que, até ali, tinha sido um traço de nobreza do homem e de sua
semelhança com Deus, tomou a forma de uma sujeição detestável, porque o homem
passou a depender dele para satisfazer o seu estômago.
Finalmente: — o homem perdeu o acesso à fonte da vida perene e começou o
pavoroso reinado da morte.
Nessa narrativa não há romance, nada de imaginativo, mas o realismo cru com que a
revelação divina apresenta ao homem a tragédia da sua queda e o começo da sua
miséria moral.
QUESTIONÁRIO:
1. A pergunta da serpente estava certa?
2. E a resposta da mulher?
3. Quando se disse a primeira mentira no mundo?
4. De onde vêm o medo?
5. De quem era, afinal, a culpa?
6. Para onde voltará o homem?
7. As árvores são um bom esconderijo?
8. Deus sabia onde Adão estava?
9. Já existia dor antes do pecado?
10. Antes do pecado o homem dominava a mulher?
11. Pode-se obter pão sem sofrimento?
12. Quem foi o primeiro alfaiate?

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CAPÍTULO IV - O PROGRESSO DO MAL
Leitura: (Gn 4:5)
Texto Áureo: (II Tm 3:13)
Cometido o pecado, deu-se uma divisão insanável. Desde esse dia duas grandes
forças se antagonizam no mundo, numa luta sem tréguas. A divisão e o antagonismo
apareceram já no seio da primeira família. Tendo se apoderado de uma parte da
criação, o diabo começa a empregar enormes recursos para manter a praça
conquistada.
Na presente lição, veremos o crescimento rápido e aterrador do mal, crescimento
incontrolável.
O objetivo desta lição é mostrar primeiro as características da poderosa corrente do
mal que defluiu, desde Adão até agora, engrossando-se cada vez mais. E, depois, as
manifestações alarmantes do crescimento incontrolável do pecado.
1.° As duas correntes antagônicas aparecem na Bíblia sob muitas figuras e fatos: Noé
e os antediluvianos; José e os seus irmãos; Josué, Caleb e seus companheiros; Esaú
e Jacó; Salmo 1:6; as dez virgens, ovelhas e bodes (Mt 25). Justos e ímpios.
As forças do mal se caracterizam especialmente pela violência: Faraó, Acabe,
Herodes, César. Essa corrente é chamada na Bíblia de “filhos dos homens”. A sua
preocupação dominante é a posse de coisas. Nota-se que, desde o início, eles
procuram afastar as funestas consequências do pecado, recorrendo à riqueza, à
ciência, a arte e etc. Para realçar bem o erro, ou melhor, o engano dessa atitude, a
narrativa bíblica diz dos outros apenas o seguinte: — “eles andaram com Deus”. Uns
construíram cidades, pondo nelas a sua confiança, outros acharam melhor andar com
Deus.
2.° O progresso do pecado não se fez esperar. Corrompida a natureza, o tentador
deixou o homem entregue a si mesmo.
A semente lançada tinha germinado e, agora, vai crescendo assustadoramente. O mal
que vai crescendo apresenta os seguintes aspectos:
a) Formalismo e exterioridade do culto.
Qual foi o erro de Caim? — Duplicidade. Por fora, ato de culto; por dentro, coração
afastado de Deus.
Como sabemos disso? A narrativa diz duas coisas: primeiro, que Deus não olhou nem
para Caim, nem para seu sacrifício. A razão é simples: Deus olha primeiro para o
coração e, só depois disso e achando o coração reto, olha para aquilo que está dentro.
Diz mais: Que Caim não fez bem. Se tivesse feito bem Deus teria olhado. (Is 1:13 -15;
Jr 17:9-10).
A carta aos Hebreus diz que: Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de
Caim. (Hb 11:4 ). O que agradou a Deus, em Abel, foi um fato interior, um fato do
coração — a fé. Era o que faltava a Caim. Por fora, homem religioso; por dentro,
homem divorciado de Deus, procurando sanar o mal com o culto exterior.

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b) Inimizade contra o homem e aversão a Deus.
Caim não foi tentado pelo diabo. O que provocou o seu ato de violência foi o ato de
Abel. Fatos e circunstâncias que teriam estimulado em outras pessoas a prática do
bem, despertaram nele as manifestações do mal. É que o mal já estava nele.
Em que forma? Amor supremo a si mesmo. Como consequência, ódio aos homens e
aversão a Deus.
Que mal tinha feito Abel? Nenhum. — Entretanto, Caim o aborreceu, como se ele
tivesse sido a causa da sua rejeição. (I Jo 3:14,15). Logo depois, o mesmo Caim,
declara que se afastara de Deus e se escondera dele.
c) Violência.
A simples aversão não tardou a transformar-se em ódio que o moveu a um ato de
violência. A causa de não ter sido aceito era ele mesmo. Era, pois, contra si próprio
que se devia virar. Mas, em vez disso, aborreceu Abel e o matou. Essa violência vai
ser manifestada na sua descendência.
Como diz Marcus Dodds, a maldição do pecado se manifesta de modo terrível. Quem
a executa é o próprio homem. ... não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal,
porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá". (Gn 2:17). ... morrerá
espiritualmente. Note-se que a primeira morte não foi natural, mas um homem matou
outro homem. Isso ensina que o mal vem de nós mesmos e não de Deus.
d) Luxúria e cinismo.
Fortes uns contra os outros e violentos na prática do crime, os filhos dos homens são
fracos para governar os seus instintos de luxúria. Na geração de Caim aparece o
primeiro caso de poligamia. Mais grave do que isso é que a primeira poesia registrada
nessa narrativa tão breve, são versos em que Lameque proclama o crime que
cometeu. Nada é pior do que a perda do idealismo da vida moral. Reconhecendo-se
mau, o homem se acomoda nesse estado, habitua-se com a sua triste
deformação e até se vangloria dela.
Ao mesmo tempo em que a corrupção tomava esse impulso assustador, manifestava-
se, de outro lado, o poder vitorioso do bem. Os homens começaram a invocar o nome
do SENHOR — surge e principia a geração dos piedosos: Seth, Enos, Matuzalém,
Enoque e o patriarca do dilúvio, que agradaram a Deus. Deus nunca ficou sem
testemunhas.
QUESTIONÁRIO:
1. Para onde é que Deus olha?
2. Em que consiste o perigo de não fazer bem as coisas?
3. O derramamento de sangue é inocente?
4. Quem foi o primeiro arquiteto?
5. Quem foi o primeiro vaqueiro?
6. Quem foi o primeiro músico?
7. E o primeiro caldeireiro?
8. Quem viveu mais tempo?
9. Todos os homens morrem?

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CAPÍTULO V - O DILÚVIO
(Gn 7:8, 9).
Texto Áureo: (Lc 17: 26, 27).
Certa vez Jesus declarou aos seus opositores: O erro de vocês está no fato de não
conhecerem as Escrituras nem o poder de Deus. (Mt 22:29). E é por isso também que o
homem peca.
A narrativa do dilúvio, tantas vezes posta em dúvida, exemplifica o que acabamos de
escrever. Por essa narrativa se vê que a semente do pecado é vigorosa. Depois de
germinar, atinge depressa pleno desenvolvimento. De outro lado, o dilúvio, a primeira
hecatombe de que temos notícia, exemplifica o que diz a carta aos hebreus: “Todo o
pecado e desobediência recebeu a merecida retribuição”. (Hb 2:2). Cheia a medida, Deus
não retarda mais a execução da sua justiça.
O objetivo desta lição é mostrar as bases que temos para crê na impressionante
narrativa, que encontramos no livro das origens, quando o homem pela primeira vez,
chegou a um estado de completa corrupção.
1.° A BASE NATURAL
A narrativa do dilúvio apresenta certas dificuldades.
a) De onde viria tanta água?
Pelo texto se vê que não foi apenas chuva. Houve um cataclismo de proporções
amplas. A Bíblia diz que a água veio do céu e da terra, isto é, das chuvas e das fontes
do grande abismo. (Gn 7:11). O grande abismo são os oceanos. Houve, pois, junto
com a chuva um transbordamento dos oceanos. Esse fenômeno, entre outras causas,
podia ter duas:
I) Levantamento do fundo dos mares e submersão dos continentes. —
(Cuvier).
Provas: Há lugares longe dos oceanos a grandes alturas onde existem camadas de
ostras, horizontais, oblíquas e verticais. Encontram-se ossos de animais, de várias
espécies, reunidos num lugar só. Em certas regiões árticas onde nunca teria sido
possível a vida, encontram-se cadáveres de animais. Bergiér cita o fato de se
encontrarem ossos de animais de um continente noutro continente.
II) Um grande degelo rápido produziu ou auxiliou a inundação
(Bernardin de Saint Pierre). O degelo avolumou a inundação
marítima. Esse cataclismo foi súbito e universal, pois deixou vestígios
em toda a parte.

b) Como pôde Noé reunir os animais?


A narrativa diz que eles mesmos vieram ter com Noé.
A observação mostra que os animais percebem o cataclismo muito antes do homem.
Reúnem-se, instintivamente, no primeiro lugar que encontram. Esses fatos mostram
que há uma base natural para aceitar, sem dificuldade, a narrativa. Acresce ainda que,

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em todas as raças, existem tradições curiosíssimas de um grande cataclismo em que
o. mundo todo foi destruído pela água. Mas, além dessa base, existem outras mais
firmes.
2.°) BASE SOBRENATURAL — O PODER DE DEUS
Ele é o autor do mundo. Se o homem que é simples criatura pode provocar hoje o
desencadeamento das forças imensas da natureza, não há razão para duvidar do
poder de Deus e dos seus recursos para fazer coisas incomparavelmente maiores.
O cientista que fez a bomba atômica só tem razões para crê nas imensas
possibilidades do Criador de todas as coisas. Aliás, quando Jesus falou da ignorância
dos seus opositores, disse que era ignorância das Escrituras e do poder de Deus.
Essa ignorância acha mesmo muita dificuldade para crê no ensino claro das
Escrituras.
3.°) A BASE ÉTICA
A extrema perversão do homem e o limite da paciência de Deus. (Gn 15:16; I Pe
3:20; II Pe 3:9; Rm 4:24).
I) A paciência de Deus deve ter um limite: quem o afirma é a própria
incredulidade. Há pessoas que dizem duvidar da existência de Deus
somente porque o castigo dos pecadores tarda em vir. Se Deus existisse,
dizem eles, os homens não viveriam impunemente no pecado como vivem.
Então, uma vez que Deus existe, há um limite para a sua longanimidade. A
perversão chega a um limite que exige a imediata intervenção de Deus. Foi
o que se deu naquela época e em muitas outras que terminaram num
cataclismo.

II) A história é uma série de ciclos proféticos.


Como escrevemos acima, em certas épocas de extrema perversão moral, a punição
de Deus vem catastroficamente. Veja-se o caso de Sodoma e Gomorra. (Gn 19).
Veja-se também o caso de Herculano, e Pompéia, as duas cidades romanas sofreram
um dos maiores desastres naturais da história Em 79 d.C, as duas cidades
romanas foram destruídas pela erupção do Vesúvio. O vulcão espalhou cinzas,
rochas e vapores vulcânicos pelos ares. A larva que escorreu pela montanha chegou
a atingir 500°C, deixando um rastro de morte e destruição.
A destruição das duas cidades do AT e das duas romanas, foi tão impressionante
quanto eram a perversão nelas praticadas. Cumpre lembrar que Deus não pune sem
aviso. Gn 19:12-14. II Pe 2:5.
4.°) A BASE DA FE’
Mas, acima de tudo o que foi dito, está a palavra autorizada de Jesus Cristo. Mais de
uma vez se referiu Ele ao dilúvio como quem fala de um fato histórico incontestável.
E quando falou do dilúvio foi sempre para avisar solenemente os homens da iminência
de catástrofes semelhantes, mas incomparavelmente maiores. A análise da narrativa
do dilúvio apresenta os seguintes aspectos:

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a) Completa degenerescência moral do homem, caracterizada por sensualidade e
violência.
b) Continuação da estirpe dos piedosos, não obstante a corrupção geral. Noé era
diferente dos seus contemporâneos, apesar das suas imperfeições.
c) A ação contínua da providência divina, no aviso dos pecadores, nos recursos para
a salvação de Noé e na orientação de todas as coisas para a preservação da semente
humana.
Há quem se preocupe em discutir se o dilúvio foi parcial ou universal. Perda de tempo.
O certo é que o gênero humano todo então existente foi atingido por um cataclismo.
E ninguém escapou a não ser aqueles a quem Deus quis salvar.
O essencial é a lição que Jesus aponta nesses acontecimentos. É indispensável estar
de sobreaviso para não ser alcançado inesperadamente pelos juízos severos de
Deus, na hora das grandes catástrofes.
QUESTIONÁRIO:
1. Há pessoas que só pensam no mal?
2. É possível servir a Deus no meio da perversão?
3. Qual era o sinal da corrupção dos antediluvianos?
4. Quem foi o primeiro engenheiro naval?
5. Quem disse que Noé era justo?
6. Como expressou Noé o seu espírito de obediência?
7. Quantas pessoas entraram na arca?
8. Quem fechou a arca?
9. Quanto tempo durou o dilúvio?
10. Quando virá outro dilúvio?

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CAPÍTULO VI - A NOVA ERA
Leitura: (Gn 9:20 a 12:1-9.
Texto Áureo: Is 65:17.
Inicia-se, com a lição de hoje, a terceira era da história da redenção. A primeira foi até
a queda do homem. Não conhecemos a sua extensão. A segunda vai até o dilúvio. E’
uma fase da história caracterizada por terríveis manifestações do mal. A terceira era
começa depois do dilúvio. Só existe a família de Noé, salva miraculosamente do
grande cataclismo.
Após o dilúvio Deus estabelece um novo pacto de benevolência com a raça porque,
se não fora assim, teria de destruí-la mesmo. E nesse pacto ele garante aos homens
a duração contínua das circunstâncias favoráveis e indispensáveis à vida. A lição pode
ser em três partes.
1.°) REVELAÇÃO DA RAÇA HUMANA
a) A natureza da raça.
Antes de descrever a difusão das famílias da humanidade, todas elas descendentes
de Noé e seus filhos, a Bíblia narra um episódio muito triste da vida de Noé.
Embriagou-se com vinho e deu ensejo assim, a que um dos seus filhos zombasse
dele. Esse fato não foi narrado, nem para ridicularizar o Patriarca, nem para acusar o
seu filho pouco respeitoso, mas com o objetivo de mostrar que, não obstante a sua
sinceridade e a retidão relativa da sua vida, Noé era participante das fraquezas da
raça decaída. O pecado tinha entrado no homem e não saía mais, sendo necessário
uma constante vigilância para que ele não se apodere definitivamente da criatura
humana, neste mundo. Depois de agradar a Deus, pela justiça da sua vida, o patriarca
se descuidou e o pecado infligiu lhe uma derrota humilhante. O homem é pecador, e
só Deus o pode livra-lo desse estado.
A fraqueza de Noé, narrada como está na Bíblia, pode provocar duas reações muito
diferentes dos leitores. Muitos alegarão essa hora de fraqueza de um homem bom
para desculpar as fraquezas da sua própria vida e a tomarão como pretexto para
continuarem na prática do mal. Outros, porém, verão nesse episódio um sinal, um
aviso necessário para tomarem cuidado e não tombarem como Noé tombou.
b) A seguir aparecem as origens raciais.
Essa genealogia que aparece no livro das origens estabelece o contato das eras pré-
históricas com povos que já fazem parte da história. Aí se diferencia, outra vez, a
Bíblia da ciência. A ciência vai até um certo ponto, e para. A Bíblia, porém, mergulha
mais fundo nos tempos desconhecidos da história e, mediante a revelação divina, traz
ao nosso conhecimento fatos que ficaram sem testemunho.
2.°) A ORIGEM DAS LÍNGUAS E A DIFUSÃO DA RAÇA
O livro das origens vai narrar agora quando e como os homens começaram a falar
línguas diferentes. Até aqui, embora divididos em famílias, os homens tinham um traço
de união — falavam a mesma língua. Não se tinham esquecido do dilúvio, mas não
se lembravam mais da causa que o produzira.

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É lamentável que as lições morais do passado pouco tenham sido aproveitadas pelas
gerações seguintes. Em vez de remover a causa do castigo, o pecado, os homens
fizeram uma nova tentativa para sustar as suas consequências, usando recursos
meramente humanos e externos. Resolveram edificar uma torre. Nesse ponto fez-se
uma interferência divina. Usando as leis simples da natureza humana, Deus provocou
a diversificação das línguas e manifestou-se externamente, verbalmente, uma
realidade interior do coração humano — a divisão dos homens. Não sabemos que
processo Deus usou, mas a ciência moderna da linguagem tem elementos positivos
para provar que as línguas hoje faladas no mundo, têm todas, origem numa língua só.
Trombetti, na Europa, e Bertolazo Stella, no Brasil, têm obras que provam
abundantemente o monogenismo das línguas.
3.°) A ORIGEM DA RAÇA ESCOLHIDA
Nessa era começa o fio histórico mais importante: a história do povo hebreu.
Podemos dizer mais importante pelos seguintes motivos:
a) O povo hebreu é a raça escolhida para ser depositário dos oráculos divinos. (Rm
3:1, 2).
b) O povo hebreu surge nesse ponto remotíssimo da história, destaca-se pela
superioridade dos seus conceitos religiosos, e não desaparece mais.
c) Jesus Cristo, figura culminante da história humana, é filho do povo hebreu. A ponta
do fio histórico começado nessa era é o patriarca Abrão.
Convém notar o seguinte:
I — Deus não' escolheu um homem perfeito, escolheu uma criatura humana com suas
fraquezas, mas cheia de fé, e a quem Deus mesmo ia disciplinar e aperfeiçoar.
II — O patriarca da raça hebraica se caracterizou por uma fé profunda. (Hb 11:8).
Imprimiu à sua descendência um cunho moral e espiritual inigualado.
III — No começo desse fio histórico Deus, chamando a Abrão, fez uma miniatura
profética da história do povo hebreu. Basta examinar as promessas da chamada de
Abrão, para verificar que os fatos aí profetizados têm se repetido sucessivamente na
história desse grande povo.
Farei de você uma grande nação. (Gn 12:2) e fez mesmo.
... o abençoarei, e engrandecerei o seu nome (Gn 12:2). Os descendentes de Abraão foram
e são grandes. Davi, Salomão, Mendelson, Einstein, Rotchild, os grandes pilotos das
descobertas marítimas, etc.
Abençoarei aqueles que o abençoarem e amaldiçoarei aquele que o amaldiçoar. (Gn 12:3a)
A história das nações perseguidoras de hebreus, bem como dos povos que os
trataram bem, confirma impressionantemente essa profecia. Basta lembrar, de um
lado, os nomes de Portugal e Espanha e, de outro, Holanda e Estados Unidos da
América do Norte.
Em você serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12:3b)

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Qual é o maior presente de Deus aos homens? Qual é a maior bênção? Não é Jesus
Cristo? Pois bem: Ele era descendente de Abrão.
A vida do Abrão, errante pelo Egito e Palestina, foi uma prefiguração histórica da vida
errante da sua descendência através dos séculos, pelo mundo inteiro.
Certa vez Frederico, o Grande, perguntou a um teólogo se ele podia dar uma prova
da inspiração da Bíblia numa palavra só. O teólogo respondeu: Judeu.
Esse capítulo, que acabamos de estudar na sua simplicidade, é uma das provas da
inspiração do livro das origens e de toda a nossa biblioteca.
QUESTIONÁRIO:
1. Qual foi o primeiro ato de Noé ao sair da arca?
2. Quem foi o primeiro geômetra?
3. Quantas línguas havia no princípio?
4. Quantos eram os filhos de Noé?
5. Desde quando os homens têm permissão para comer carne?
6. Por que o homicídio é crime?
7. Quem foi o primeiro vinhateiro?
8. De onde vieram todas as nações?
9. O hebreu é bênção? Quando?
10. A quem foi que Abrão edificou um altar?
11. Qual foi a fraqueza de Abrão?

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CAPÍTULO VII - PERCALÇOS DA PROSPERIDADE MATERIAL
Gn 13, 14, 15 e 18, 19. Texto Áureo: I Tm 6:10.
A prosperidade material é uma força de dois polos: pode ser bênção e pode ser
maldição.
A prosperidade material pode ser sempre uma prova. Pode ser, antes de mais nada,
simples prova de caráter porque a prosperidade honesta requer muita energia e força
de caráter. De outro lado, a prosperidade alcançada submete o homem a provas tão
fortes que só mesmo um caráter consolidado pode resistir. Além disso, a prosperidade
material acarreta encargos pesados, provoca reações desagradáveis e, às vezes, se
transforma numa causa de sofrimento muito grande. Há ocasiões em que a
prosperidade material é mau sintoma, mas há outras em que é sinal de bênção. Pode-
se dizer que, muitas vezes, o imenso poder do mal se incorpora na prosperidade
material para melhor subjugar e destruir os homens.
A, história da redenção apresenta uma narrativa que exemplifica essas verdades na
vida de dois homens, colocados dentro das mesmas circunstâncias criadas pela
prosperidade. Esses homens reagiram de modo muito diferente: foram Abrão e Ló.
A lição apresenta os seguintes aspectos:
1.°) PROSPERIDADE E CONTENDA
Enquanto eram pobres, Abrão e Ló puderam viver juntos, com amizade e
entendimento. A mesma terra supria recursos suficientes, tanto para a vida de um
como para a vida de outro. Mas a riqueza de ambos cresceu tanto, que já ... não podiam
morar os dois juntos na mesma região, porque possuíam tantos bens que a terra não podia
sustentá-los. (Gn 13:6).

Não foi o povo que aumentou, foi o gado. Não era para bocas humanas que faltava
alimento. O que esgotou foi a capacidade da terra, foi o crescimento excessivo da
riqueza. Tiveram de separar-se.
Mas a lição mostra, nesse ponto, uma influência frequente e nefasta da riqueza: gera
contendas. Os cães rosnam e se mordem uns aos outros, por causa de um osso. Os
homens, não: contendem depois que estão com o açougue todo em casa. O mal não
está na prosperidade. O mal é aquele princípio que se introduziu na essência da raça
e que aparece com o seu poder e vigor sempre que haja uma ocasião favorável.
A pobreza recalca, a prosperidade dá expansão a esse princípio do mal. (Gn 13:1-8).
2.°) PROSPERIDADE E INGRATIDÃO
Quem ajudou Ló a se tornar um próspero fazendeiro? — Abrão é claro. Ele foi o amigo,
o protetor, o ajudador. Na hora da separação, Ló, que sempre dependera do tio e
agora estava rico, escolheu egoisticamente para si a parte da terra que lhe parecia
mais fértil, mais opulenta, mais vantajosa. Escolheu as campinas, deixando para o
velho tio o terreno acidentado e difícil das montanhas. Não soube ser agradecido,
mas, na escolha que fez, Ló revelou que o seu senso moral estava embotado, porque
tomou em consideração somente o aspecto material da terra, sem cogitar do caráter
moral dos seus habitantes que, aliás, eram extremamente corrompidos. A

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prosperidade material o absorvera tão completamente que ele, parece, não tinha mais
visão dos valores espirituais e morais.
Será que a prosperidade material é assim tão maligna que embota sempre o senso
moral dos homens?
Não. A prova é a atitude generosa e, ao mesmo tempo, confiante em Deus com que
Abrão se comportou na mesma contingência. Nas mesmas circunstâncias, com as
mesmas tentações, os dois homens reagiram diferentemente. Gn 13:9-18.
3.°) PROSPERIDADE E PERIGO
Onde há mel, aí se ajuntam as abelhas. O dinheiro sempre atrai os malfeitores. Disse
alguém: difícil é ganhar dinheiro. Mais difícil ainda é defendê-lo daqueles que o
desejam obter de qualquer jeito. Havendo dinheiro, há perigo. Foi o que Ló aprendeu
depois que estava em Sodoma e Gomorra.
Tendo sido bem recebido pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, Ló não percebeu
que o povo o tratou assim por causa do gado numeroso que ele trazia. Não percebeu
também que, se ele desejava aquelas terras, outros havia que as desejavam também
e que haviam de disputá-las pela violência, E foi o que aconteceu. Veio a guerra e ele
perdeu as terras cobiçadas, a fazenda que tinha levado e a própria liberdade. Gn 14:1-
13.
O perigo do dinheiro é o espírito interesseiro dos homens. Mas nem todos são assim
interesseiros. Há homens que se dirigem por aquilo que podemos chamar o dever
bem compreendido. Assim era Abrão. Logo que teve notícia da guerra, correu em
auxílio de Ló, arriscou a vida, derrotou os inimigos, reconquistou a fazenda e os
prisioneiros, e não acetou por esse enorme serviço nenhuma paga. Mas recebeu a
bênção de Deus. (Gn. 14:13-24).
4.°) PROSPERIDADE E RUÍNA MORAL Gn 18, 19.
A prosperidade material não impede e, às vezes, até favorece a corrupção moral.
Também não susta a execução da justiça divina. Foi o que aconteceu a Ló e à sua
família. Dia chegou em que a maldade dos homens daquela cidade encheu as
medidas e veio o castigo. Na destruição de Sodoma e Gomorra convém observar o
seguinte:
a) O aviso foi feito primeiro a Abrão, que não estava na cidade. Havia nisso uma
expressão carinhosa da amizade de Deus para com o seu servo fiel. (Gn 19:17-19).
b) Deus não executou o castigo sem salvaguardar as medidas rigorosas da justiça.
Havia reclamações: foi verificá-las. (Gn 18:20-22).
c) No livramento de Ló apareceu tanto a justiça como a misericórdia de Deus.
Misericórdia em avisá-lo, em forçá-lo a sair da cidade e em retardar o castigo até que
ele saísse — (Gn 19:12-16). Justiça, em salvar-lhe a vida, mas apenas a vida. Em
Sodoma ficaram os bens e, até certo ponto, a dignidade de Ló.
d) A lição ilustra a posição dos crentes neste mundo corrompido.
Abrão é o tipo do crente santificado, sem compromisso algum com o mundo, embora
vivendo no mundo.

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Ló é o tipo do crente meio mundanizado. (II Pe 2: 6-8). Conhece o pecado, aflige-se
com ele, mas não larga dele.
A mulher de Ló é o tipo do crente completamente mundanizado. O corpo saiu de
Sodoma, mas o espírito ficou lá e ela pereceu na injustiça da cidade.
O mal não está na prosperidade, mas no coração dos homens. O mal não é o dinheiro.
Disse o apóstolo: ... o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por
cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos
sofrimentos. (1 Tm 6:10.

QUESTIONÁRIO:
1. Quando começou a briga entre Abraão e Ló?
2. O que foi que Ló não olhou?
3. Quem serviu doze anos?
4. Quem abençoou a Abrão?
5. Quem era Melquizedeque?
6. Para onde olharam os anjos?
7. Por que motivos Deus não escondeu os seus planos a Abrão?
8. Onde ficou Abrão?
9. Quantos justos salvariam a cidade?
10. Quando saiu o sol?

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CAPÍTULO VIII - A DISCIPLINA E O EXERCÍCIO DA FE'
Leitura: Gn 15 Texto Áureo: Hb 11:8
A história da redenção tem por objetivo conduzir os homens a Jesus Cristo. Para
alcançar esse objetivo mostra, de um lado, o homem com suas qualidades e suas
grandes fraquezas, e, de outro lado, a sabedoria, a justiça e, principalmente, a imensa
misericórdia de Deus.
Sua descrição dos homens é realista. Mostra o homem como ele é, sem retoques.
Poderíamos dizer que as descrições da Bíblia são como retratos de carteira de
identidade: aparecem também as cicatrizes.
A Bíblia nos ensina que não há homens propriamente bons. Os melhores homens, ao
lado de atos inspiradores de fé e obediência, foram sujeitos a fraquezas muito tristes.
Não nos esqueçamos de que o pecado, entrando no homem, gerou um conflito
incessante não somente entre homens e homens, mas dentro de cada homem. Esse
conflito é mais vivo e mais forte no coração dos homens crentes que sinceramente
procuram obedecer a Deus. Os melhores homens não são homens perfeitos, mas
homens que Deus tirou do barro comum para disciplinar, amar e, torna-los melhores.
Ora, para que vejamos essa verdade em toda a sua clareza e admiremos a perfeição
e sabedoria da obra divina, é que a Bíblia mostra os homens tais quais eles foram
durante muito tempo, com todos os seus erros, defeitos e qualidades.
Abrão é incontestavelmente um dos melhores homens da Bíblia. Na sua vida aparece,
de um lado, a sábia direção da Providência divina e, de outro lado, o patriarca sujeito
a provas, tentações e disciplinas da vida comum com suas derrotas e vitórias.
A interferência de Deus na vida de Abraão nos autoriza a dizer que Deus, na sua
maneira sábia de afeiçoar os crentes, promete bênção, sonda o coração, expõe a
provas e tentações muito fortes, manda cumprir ordens muito difíceis e supre, quando
é preciso, as necessidades vitais dos crentes.
Para não prolongar esta lição, vamos resumir a história do patriarca em três grandes
traços do seu caráter, nos quais aparece o contraste da fé e da fraqueza e a disciplina
da fé.
1.°) FRAQUEZAS DO PATRIARCA
Abrão, como todos os homens, viveu dentro da hora da sua época ao nível da sua
natureza decaída, enfrentando as mesmas dificuldades, trabalhos e oportunidades.
A primeira fraqueza do patriarca, que destoa da sua vida de fé, é o caso de Hagar e
Ismael. Deus havia feito ao patriarca a promessa de torná-lo pai de numerosa
descendência. Os anos iam passando e o filho não nascia. Um dia Sarah, a esposa
de Abrão, de acordo com a ética do tempo, sugeriu a Abraão que fizesse de sua
escrava Hagar sua concubina, o que o patriarca fez, antecipando-se assim à
Providência. Repitamos: a sua fraqueza foi ter-se antecipado à Providência. Não teve
paciência de esperar que Deus cumprisse, no tempo próprio, a promessa em que ele,
Abraão, tinha crido firmemente. Teve energia para crer na promessa, mas não teve
paciência para esperar muito tempo até que ela se cumprisse.

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Outra fraqueza do patriarca parece que era o medo. Por causa dessa fraqueza duas
vezes ele mentiu para poupar a vida, chegando mesmo a comprometer sua dignidade,
bem como a integridade da sua família. (Gn 12:11-20), especialmente o verso 12; Gn
20:1-11.
O medo é uma das fraquezas mais facilmente exploráveis da natureza humana. Medo
de morrer, medo de pobreza, medo de castigo, mêdo.de sofrimento. Por causa do
medo o homem fraqueja e arrisca, muitas vezes, sua honra, sua decência e sua
dignidade. O medo é muitas vezes, o pai da mentira. Desde cedo o diabo tem
explorado o medo para conservar os homens debaixo do seu poder. Só a graça de
Deus e a intervenção da sua sabedoria salvaram o patriarca de um desastre
irremediável, quando ele se deixou levar pela fraqueza do medo.
Esse fato estabelece um problema muito difícil, porque Abraão era um homem de fé.
Tanto assim que foi chamado o “pai dos crentes”. Ora, a fé exclui completamente o
medo. Mas a explicação é fácil: o diabo não ataca sem examinar cuidadosamente a
praça e sem ter descoberto os pontos vulneráveis. E sabia muito bem onde estava o
ponto vulnerável do patriarca e foi diretamente a ele.
Grande maravilha é a Bíblia! Nas poucas palavras de uma narrativa simples exibe aos
homens de todos os tempos as peças delicadas do mecanismo complexo da vida
humana, onde o bem se mistura paradoxalmente com o próprio mal.
2.°) DISPOSIÇÃO PARA CRER
Essa é, talvez, a característica peculiar de Abraão. Onde quer que chegasse erguia o
altar para exercício da sua vida religiosa. Mesmo quando tudo parecia mostrar que ele
não chegaria a ser pai, creu, sem vacilação, na promessa que Deus fez de dar-lhe
inumerável descendência. — (Gn 15).
No tempo em que povos aguerridos e fortíssimos habitavam a terra da Palestina e ele
era apenas um criador de gado, errante de terra em terra, creu firmemente na
promessa que Deus lhe fez de torná-lo senhor daquela terra. (Gn 15).
É fácil crer em promessas que não tardam. Abrão creu em promessas que demoraram
muito. Diz a Bíblia, em dois lugares, que Abraão creu no Senhor e isso lhe foi imputado
por justiça. (Rm 4:3; Tg 2:23). Creu na hora que Deus falou. Daí se tira uma lição muito
simples e importante: a fé é coisa íntima do coração e invisível. Deus, porém, sonda
a alma dos seus filhos e sabe o que se passa no mais interior do homem. Ele conhece
o que há no homem. Ele sabe quando há fé e conhece a verdadeira finalidade da fé.
E, vendo fé sincera, trata o homem que não é justo, como se o fosse. Imputa-lhe fé
como justiça. Era isso que havia em Abrão e que tanto agradava a Deus — disposição
para crer nas promessas divinas. Por isso, foi ele chamado o amigo de Deus.
3.°) DISPOSIÇÃO PARA OBEDECER
Mas, onde há disposição para crer, surge necessariamente disposição para
obediência. A fé, a verdadeira fé, aparece de dois modos. Aos olhos de Deus, que vê
o coração, e aos olhos dos homens, que podem ver as obras, isto é, a obediência.
Das vezes que Abrão mostrou a sua disposição para obedecer, duas se destacam de
maneira impressionante. A primeira, quando ele deixou tudo e partiu para o
desconhecido, atendendo à chamada de Deus. (Gn 12).

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Convém citar aqui as palavras da carta aos hebreus: Pela fé Abraão, quando chamado,
obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não
soubesse para onde estava indo. (Hb 11:8)

Nessa passagem podemos fazer a análise de dois elementos paradoxais da fé:


desconhecimento e conhecimento.
Desconhecimento: Abrão saiu sem saber para onde ia.
Conhecimento: Abrão sabia duas coisas: a ordem era de Deus. Deus sabia o lugar
para onde o mandava. Daí a sua disposição para obedecer.
A segunda vez que Abrão mostrou a sua disposição para obedecer foi numa prova
dolorosa e decisiva da sua carreira. Deus o mandou imolar Isaque.
Deus prova o homem pela prosperidade, pela alegria, pelo sofrimento, pela pobreza.
Para quê? Para lhe dar oportunidade de mostrar e exercitar a sua fé. Deus prova o
homem.
Todas as vezes que Deus dá uma ordem ao homem Ele o coloca diante de duas
alternativas: obedecer ou desobedecer. Não é que esteja provando no sentido em que
o diabo faz. Não. Mas, consideradas as dificuldades, as lutas, os sofrimentos e as
perdas que o homem tem de encarar para fazer o que Deus manda, é incontestável
que certas ordens de Deus colocam o homem dentro da experiência de uma tremenda
tentação para não cumprir a ordem.
No cadinho dessa prova suprema e decisiva, Deus colocou Abrão quando lhe mandou
imolar o seu filho.
E terá necessidade de submeter os homens ao sofrimento das provas, para saber se
ele tem fé?
E’ claro que não. A prova tem dois objetivos, como já se disse. Primeiro, exibir a fé do
patriarca ao mundo inteiro, fazendo dela um modelo, uma inspiração, um estímulo
para outros crentes.
Segundo, a fé, faculdade espiritual, como todas as outras faculdades deve ser
exercitada para desenvolver-se e fortalecer-se. O próprio crente deve saber até onde
chega a força da sua fé. Não há página mais comovedora do que a narrativa do
sacrifício de Isaque. Filho da velhice, longamente esperado, cumprimento da
promessa divina. E a ordem era de Deus. Abrão não vacilou, obedeceu.
Como se explica que Deus exija do seu servo um sacrifício humano?
Marcus Dodds pensa que Deus aproveitou essa prova exatamente para mostrar que
Ele não deseja, nem manda fazer o sacrifício de criaturas humanas. É certo que a
redenção exige o sacrifício de alguém. Deus quer redimir a humanidade. E assim
como depois da ordem dada, deixou que Abrão fosse até o momento supremo de
erguer o cutelo para depois fazê-lo suspender o gesto e apontar-lhe o cordeiro que
devia substituir o filho, assim também Ele faz primeiro o pecador sentir a exigência
justa do seu próprio castigo, para depois mostrar-lhe que esse castigo foi executado
para sempre no sacrifício de Jesus Cristo.

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Abraão obedeceu com medo e dor no coração, mas obedeceu porque sabia que as
ordens de Deus atendem a razões certas e justas. Não são arbitrárias, não desdizem,
nem desmentem as promessas divinas. E Deus havia dito: Não se perturbe por causa
do menino e da escrava. Atenda a tudo o que Sara lhe pedir, porque será por meio de Isaque
que a sua descendência há de ser considerada . (Gn 21:12).

Obedeceu porque, se Deus ordenou o sacrifício, é porque havia necessidade dele.


Como conciliar a execução do sacrifício com o cumprimento da promessa?
Essa devia ter sido a perplexidade do patriarca. Mas não era descontrolado por
perplexidades. Era dirigido pela fé. Deus prometeu a descendência, Deus mandou
executar o filho. Parecia uma contradição. A Deus competia resolve-la, a Abraão
competia obedecer, e obedeceu.
E quando o filho, que nada sabia, lhe perguntou: — Onde está o cordeiro para o sacrifício?
O patriarca respondeu somente isso: — Deus proverá.
O coração rebelde tem a capacidade maligna de transformar uma prova divina, em
tentação de não fazer o que Deus deseja. Abraão, porém, era diferente. Seu coração
cheio de fé transformou uma prova dolorosa numa vitória espiritual e num exemplo
singular de obediência.
QUESTIONÁRIO:
1. Quem foi o primeiro astrônomo?
2. Quanto tempo ia durar a prova dos hebreus?
3. Quando é que vem o castigo?
4. Que idade tinha Abraão quando nasceu Isaque?
5. Qual era o parentesco de Abraão e Sara?
6. Quem carregou a lenha para o sacrifício?
7. Para onde se dirigiam juntos Abraão e Isaque?
8. Como se ficou chamando o lugar do sacrifício de Isaque?
9. Quantos dias viajaram Abraão e Isaque?
10. Porque é que as bênçãos das nações vieram da descendência de Abraão?
11. Quantas vezes o anjo falou com Abraão?

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CAPÍTULO IX - ELOS HUMANOS DA PROVIDÊNCIA DIVINA
Leituras: Gn 24; 26 e 27. Texto Áureo: I Co 9:27
Uma leitura superficial da história da redenção poderia dar a entender que há estirpes
piedosas e estirpes pecadoras. Uma observação mais atenta mostra coisa muito
diferente.
Na descendência dos melhores homens vai aparecendo sempre o estigma do pecado.
Foi o que se deu na descendência de Abraão: Isaque e Ismael; Esaú e Jacó, e assim
por diante. Percebe-se nesse fato a seleção contínua que a Providência tem de ir
fazendo para impedir que a raça se decomponha completamente. É uma interferência
incessante da Providência, dentro da raça humana e até mesmo dentro da própria
raça escolhida.
Isaque era filho de Abraão, crente piedoso, filho da promessa divina, não apresenta,
entretanto, o mesmo caráter altivo do patriarca Abraão. Era homem mais ou menos
passivo, que se deixava levar pela força das circunstâncias, bem como pela ação dos
outros. Não obstante isso, foi um elo na imensa cadeia da providência divina. Era o
filho de Abraão e o pai de Jacó. Com eles formou o trio patriarcal dos hebreus. Quando
mais tarde os hebreus fizerem a sua invocação, hão de fazê-la mencionando o Deus
de Abrão, de Isaque e de Jacó. Na história desse patriarca podemos destacar alguns
episódios principais que serão analisados sob os seguintes títulos:
1.°) INDÍCIOS CLAROS E DESÍGNIOS DESCONHECIDOS
É o que vemos, por exemplo, nos arranjos do casamento de Isaque. Quem se
encarregou de tudo foi o pai. Ele apenas aceitou a noiva e, como disse o texto, amou-
a intensamente.
Quais eram os indícios claros que a Providência tinha dado?
O propósito de Deus separar uma estirpe dentre todos os povos. Orientado
instintivamente por esses indícios, Abrão não quis que seu filho se casasse com gente
estranha. Não lhe faltariam alianças por meio do matrimônio do filho com os príncipes
da terra. Mas, se isso se desse, talvez a linhagem escolhida fosse prejudicada. Por
isso Abraão mandou o seu mordomo à casa dos antepassados e parentes buscar uma
noiva para o filho. Gn 24:1-14.
Quem seria a noiva?
Isso, nem ele sabia, nem o mordomo. Este, porém, foi à terra onde o seu senhor o
mandara e, depois de orar, pediu a Deus um sinal. E, por meio deste, escolheu a
noiva.
Percebe-se na narrativa que Deus dirigiu tudo. Parece que Rebeca não era lá muito
piedosa. Os acontecimentos posteriores apresentam falhas muito graves do seu
caráter. Não foi uma boa mãe no sentido pleno da palavra. Mas os desígnios de Deus
são insondáveis, e Rebeca também entrou como um elo na misteriosa corrente da
providência divina.
Já nesse tempo a noiva era consultada para dar o seu consentimento no matrimônio.
(Gn 24:58). Também já se fazia depender da bênção divina a felicidade conjugal.

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Naquele tempo procurava-se a mulher que tivesse capacidade para suprir às
necessidades do lar. Dados esses passos, o mais ficava a cargo da Providência.
2.°) FRAQUEZA DO HOMEM E SOCORRO DE DEUS
É impressionante como certas fraquezas se transmite de pais a filhos. Vimos que uma
das fraquezas de Abraão era o medo e, por causa do medo, mentiu. Em Isaque
aparece a mesma fraqueza. Indo a uma cidade chamada Gerar, por amor à vida,
enganou o povo dizendo que Rebeca era sua irmã. Como no caso de Abraão, foi a
Providência que o livrou de um desastre muito grande.
O mentiroso é sempre um fraco. A mentira revela duas coisas: interesse pelas coisas
materiais ou medo do sofrimento físico.
Deus não tardou a mostrar ao patriarca que não havia razão para temer, uma vez que
ele tinha por si o amparo da Providência.
3.°) DILIGÊNCIA HUMANA E BÊNÇÃO DE DEUS
Não obstante a sua relativa passividade, Isaque mostrou-se diligente. Quando
apareceu a fome na terra ele formulou imediatamente um plano, que só não executou
porque Deus não lhe permitiu. Encontrando-se em Gerar não perdeu tempo na
ociosidade, mas preparou a terra, fez uma grande sementeira e teve uma grande
colheita, porque Deus o abençoou. Como ele tivesse cavado alguns poços e os
filisteus cheios de inveja o hostilizassem, ele não perdeu tempo numa contenda inútil
e nociva. Abandonou aqueles poços e cavou outros. Novamente a bênção de Deus
recompensou a sua diligência. Segue-se daí uma lição muito importante: Deus
abençoa aqueles que se esforçam por fazer o melhor que podem.
É certo que há uma Providência que vela, que dirige os acontecimentos, que dispõe
as circunstâncias e da qual todas as coisas necessariamente dependem. Nem sempre
os desígnios sábios dessa Providência aparecem com suficiente clareza. Mas aos
homens incumbe cumprir com diligência os deveres claramente ensinados na Bíblia e
reconhecidos pela consciência. E nisso Isaque foi um modelo.
Não podemos terminar esta lição, sem apontar o traço mais importante do caráter de
Isaque. Era homem de oração. (Gn 24:63). E foi quando estava no campo buscando
solitude para orar, que viu sua noiva chegando. Se não teve uma esposa perfeita,
teve, entretanto, suficiente paciência para suportar suas imperfeições.
QUESTIONÁRIO:
1. Em que Deus abençoou Abraão?
2. Qual o sinal de uma boa esposa?
3. Qual o traço característico de Rebeca?
4. Que foi que mais interessou a Labão?
5. O servo de Abraão era crente?
6. Quanto tempo durou o banquete?
7. Onde estava Isaque quando Rebeca chegou?
8. Qual foi a fraqueza de Isaque?
9. Qual é o resultado da prosperidade?
10. Qual foi a promessa de Deus a Isaque?

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CAPÍTULO X - O HOMEM NATURAL
Leitura: Gn 25:24-84; 27 a 32:21. Texto Áureo: I Co 2:14.
Jacó é o vulto central na história do povo hebreu. Em certo sentido ele é o verdadeiro
pai da raça. Abraão teve vários filhos, mas de Isaque veio a linhagem israelita. Isaque
teve dois filhos, mas a linhagem passou a Jacó. Os filhos de Jacó constituíram a
grande família israelita. Em outras palavras: de Abraão e Isaque procederam vários
povos. De Jacó, porém, um povo só. E é digno de nota que esse povo conserve
através dos tempos, as mesmas características que podemos descobrir em Jacó.
Mais uma vez vamos lembrar que a história da redenção descreve os homens tais
quais eles são. O retrato de Jacó impressiona muito mal. É um homem de
personalidade forte e cheio de defeitos. É um homem como todos os homens
pecadores, no seu estado natural. É um esplêndido espécimen do homem natural.
O termo natural vem de um verbo latino que significa nascer. O homem natural,
portanto, é o homem como ele nasce, sem as modificações da graça divina e antes
da conversão. É o barro sem modelagem. É bom conhecê-lo, para melhor apreciar,
depois, a obra que Deus fez com ele.
Verificado que o povo hebreu, salvo alguns indivíduos, apresenta sempre as mesmas
características que marcaram Jacó, o pai da raça, como homem natural, segue-se que
a raça foi separada para uma função histórica que exerceu e da qual lhe advieram
benefícios e privilégios temporais. Entretanto, só participam dos benefícios perenes
do pacto da graça e das promessas maiores que Deus fez ao patriarca Abraão,
aqueles filhos da raça natural que, pela conversão, passam também a fazer parte da
raça espiritual. E convém saber que nessa raça espiritual, que são os filhos da
promessa, estão incluídos também filhos de outras raças, chamados gentios, que
eram homens naturais, mas que se converteram. (Rm 9:6 – 8). Para melhor
esclarecimento do assunto vamos estudar os aspectos mais salientes e marcantes do
homem natural, que aparecem na pessoa de Jacó.
1.°) ASTÚCIA E VIOLÊNCIA
Dois irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, portadores do mesmo sangue, e
tão diferentes um do outro. Esaú era amigo do campo e da caça, afeito à violência,
insofrido, imprevidente e profano. Jacó era amigo da casa, afeito às subtilezas e às
intrigas com que se defendem dos mais fortes aqueles que, pela sua fraqueza física,
acabam descobrindo que a inteligência é uma força maior. Mas os dois tinham um
traço comum. Aquele traço que Paulo descreve em duas frases lapidares: Homens
amantes de si mesmos e que só tratavam do que era seu. (2 Tm 3:2). Em uma palavra:
egocêntricos. O “eu” era o centro do mundo e de tudo. Um usava a violência, outro a
astúcia, mas cada um usava o que podia a serviço exclusivo de si mesmo. Tão
diferentes um do outro nos aspectos acidentais e, na essência real da sua natureza,
iguaizinhos como duas gotas de água.
Dois episódios mostram as diferenças acidentais da conduta e a igualdade da
natureza.
O primeiro é a velha história do prato de lentilhas, em que Esaú, profanamente,
insensatamente, insofridamente atirou fora, com as suas grandes prerrogativas a sua

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própria dignidade pessoal. Julgou a matéria em função do seu prazer pessoal, sem
qualquer referência aos interesses da grei. Só buscava o que era seu, imediatamente
seu.
Nesse mesmo episódio aparece, pela primeira vez, a sagacidade incrível de Jacó e a
sua mais incrível ousadia para explorar, em seu benefício exclusivo, a fraqueza do
seu próprio irmão. Gostava muito de todos, mas no fundo era amigo de si mesmo.
Um, porque desprezou; outro, porque explorou; ambos agiram em função do mesmo
princípio que rege os homens naturais.
O outro episódio incomparavelmente mais grave, porque nele aparecem além da
astúcia, a mentira, a fraude e também o desrespeito ao pai já velho e cego é o caso
da bênção que Jacó tomou. Aí é que se vê bem o homem natural que crê mais na
sabedoria dos homens que na sabedoria de Deus; que confia mais na posse imediata,
embora fraudulenta das coisas, do que no cumprimento remoto das promessas
divinas. Realmente, o homem natural aparece aí em toda a sua plenitude, em Jacó,
em Rebeca e no próprio Esaú. Ninguém tomou em consideração os direitos alheios.
Cada um tratou de buscar apenas o que era seu. Nenhum pensamento acerca da
justiça de Deus. Tanto assim, que todos os meios, inclusive a mentira e a fraude, lhes
pareceram úteis para alcançarem o seu objetivo.
2.°) PECADO E SUPERSTIÇÃO
Praticada a fraude, seguiram-se as consequências inevitáveis, isto é, o pecado
medrou e com ele apareceu o medo. Esaú jurou matar Jacó — violência. Rebeca
resolveu salvar o filho e, para não ouvir recriminações de Isaque alegou um motivo
razoável que Isaque aceitou para mandá-lo embora — astúcia.
Jacó partiu. No caminho teve uma experiência religiosa verdadeira, mas ainda aí
aparece o homem natural. A visão foi magnífica: ouviu as promessas de Deus, mas
entendeu-as como homem natural. Em vez de religião, superstição.
Quatro coisas assinalam, nesse passo, a religião do homem natural.
a) Ignorância — “Deus está neste lugar e eu não sabia” .
b) Medo — Em vez de alegria e sentimento de segurança pela presença de Deus,
Jacó temeu.
c) Contradição — Disse que aquele lugar era a porta do céu, mas era um lugar terrível.
d) Espírito utilitário, aliás, uma das marcas inconfundíveis do homem natural:
promessas interesseiras. Tratou, imediatamente, de explorar as possíveis vantagens
daquela experiência religiosa. “Se me abençoares dar-te-ei o dízimo”.
3.°) ENGANO E CONTENDA
Na visão que Jacó teve Deus lhe declarou que não o largaria mais, até que ele tivesse
feito tudo o que tinha determinado. Em outras palavras: estava decidido a endireitá-lo
mesmo. Vamos ver o esmeril em que Deus vai afeiçoar a personalidade do patriarca.
Combinou circunstâncias para tirá-lo do lar onde a comodidade e outros fatores iam
amolecer o seu caráter. Jacó foi parar longe e achou-se numa luta que não lhe deu
mais sossego.

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Dois elementos devem ser especialmente mencionados: o amor de Jacó e a astúcia
de Labão. Com o amor a Raquel, Deus colocou um freio na boca de Jacó, de modo
que ele mesmo não quis voltar para casa. Com a astúcia de Labão, colocou diante
dele um adversário da mesma força, que o obrigou a exercitar as suas forças e
desenvolvê-las completamente. Mas, acima de tudo, essa luta incessante o levou a
sentir que dependia mais da bênção e da proteção de Deus do que da sua própria
astúcia. Era o homem natural contra o homem natural, exatamente como disse Paulo:
“Enganando e sendo enganado”. Jacó, o enganador, encontrou um enganador mais
traquejado do que ele mesmo e, assim, aprendeu que o engano é causa de contenda
e não fator de segurança.
Para terminar esta lição, convém realçar; mais uma vez, que a inconstância, os
interesses e os enganos dos homens não anulam a fidelidade de Deus e não impedem
a ação da Providência. Não sabemos como, mas o certo é que Deus combina os
movimentos independentes das criaturas humanas, de modo maravilhoso, para
realizar os desígnios da sua providência.
Qual era o desígnio de Deus na fuga de Jacó?
Hoje nós o sabemos, mas eles não sabiam. Tirá-lo do ambiente amolecedor do lar
mal organizado, para a luta onde ia temperar o seu caráter. E todos, sem saber,
concorreram para isso: Jacó e Rebeca, para evitar a fúria de Esaú; Isaque, para evitar
o casamento de Jacó com as etéias; e o próprio Esaú, para não ser obrigado a cumprir
o seu juramento de matar o seu irmão, favoreceu a fuga.
QUESTIONÁRIO:
1. Quando começou a luta entre os dois irmãos?
2. Qual era a perícia de Esaú?
3. Que significa Edom?
4. Há negócios insensatos?
5. Que é que Isaque não sabia?
6. Todas as mães ensinam só coisas boas?
7. Tudo o que os homens atribuem a Deus é verdade?
8. Quantas vezes Jacó enganou Esaú?
9. Todos acham o céu um lugar feliz?
10. Que promessa fez Deus a Jacó?

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CAPÍTULO XI - O HOMEM ESPIRITUAL
Leitura: Gn 31-32. Texto Áureo: II Co 5:17.
Não importa o que o homem tenha sido, desde que ele se torne uma nova criatura. Deve-
se levar em conta não aquilo que o homem foi e sim aquilo que Deus fez dele. É por isso
que Deus conserva com vida durante longos anos, com imensa paciência, homens que
são grandes pecadores. O projeto de Deus é fazer deles grandes servos e grandes provas
do seu poder. Jacó é um dos melhores exemplos. Por isso, também, Jesus procurava os
grandes pecadores do seu tempo. (Lc 7 :39; Gl 6:15; I Tm 1:15,16).
Na última lição, Jacó nos foi apresentado como o homem natural, isto é, como tinha
nascido. É tempo de afirmar uma doutrina bíblica da mais alta importância: depois de
Adão cair, ninguém nasce crente. A conversão é indispensável. É preciso nascer de novo,
disse Jesus. Nenhuma religião pode substitui o novo nascimento. Para alguns ela vem
mais cedo, para outros mais tarde. Em alguns casos é mudança repentina, noutros um
processo mais lento, mas é sempre o ponto de partida indispensável da vida espiritual.
Em Jacó tardou muito. Os seus anos já iam adiantados, quando ele passou pela crise da
conversão. Foi na volta para a terra de seus pais que o fato se deu.
Vamos fixar nesta lição os aspectos mais importantes.
1.° UMA COMPREENSÃO NOVA
Depois de cometer vários erros, Jacó nunca mais teve sossego. Vivia sempre fugindo,
evitando alguém, escondendo alguma coisa, encontrando novos conflitos, inventando e
praticando mais enganos, essa é a tragédia do homem natural desde Adão até agora.
Nos homens via apenas os inimigos. Ao entrar de novo na terra de seus pais teve medo
da vingança de Esaú, a quem tinha prejudicado e ofendido. Até então não tinha percebido
que não era apenas Esaú, mas também Deus e a sua justiça que tinham sido agravados
pela sua conduta pecaminosa. Até a experiência da luta com o anjo no vale de Jaboque,
nunca tinha pensado nisso.
O simbolismo daquela luta é lindíssimo. Jacó imaginava que Esaú podia impedi-lo de
entrar novamente na terra de seus pais. O anjo que lutou com ele veio lhe ensinar que
Deus também se opunha a essa entrada, até que ele tomasse um rumo direito na vida.
Pela primeira vez compreendeu que se tinha posto em inimizade não somente contra os
homens, mas também contra Deus. Desprezando e violando o direito dos homens, até
aquele dia, tinha estado em luta contínua contra o Altíssimo e, por isso, nunca tivera
descanso. Até então tinha tido apenas uma compreensão carnal. Só agora começava a
ver os fatos com os olhos de homem espiritual. Daí uma visão nova de si mesmo, de seus
recursos e do seu engenho. Ele viu que não podia confiar inteiramente na astúcia. Com
ela conseguira tornar-se rico, mas não se fizera feliz. E viu mais: que só da bênção de
Deus lhe viria a segurança e o descanso que em vão tinha procurado por toda a parte.
2.° LUTA E VITÓRIA NECESSÁRIA
A conversão de Jacó se deu antes de ele atravessar o ribeiro do Jaboque. Não ficava bem
que ele regressasse à casa de seus pais no mesmo estado espiritual em que saíra de lá.
Estava na fronteira geográfica e tinha chegado também à fronteira espiritual. Não
convinha que atravessasse uma sem também atravessar a outra. Até então tinha lutado
com os homens, tinha lutado contra Deus, entendendo que a causa do desassossego
estava nos outros. Só não havia lutado consigo mesmo. Subjugara, pela astúcia, o irmão
violento; vencera, pela astúcia, a sagacidade de Labão. O seu nome significava

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suplantador. Sabia vencer e suplantar os outros, mas não sabia vencer a si mesmo. O
texto diz que ele ficou só. Não se via por ali nenhum inimigo. Nessa altura é que o anjo
apareceu e lutou com ele. Diz o texto que o anjo não conseguiu prevalecer contra Jacó.
Uma leitura superficial daria a entender que Jacó superou o anjo fisicamente. Mas o
narrador se encarrega de desfazer essa interpretação, porque diz que o anjo, não
podendo prevalecer contra Jacó, tocou-lhe na juntura da coxa e a deslocou. O que mostra
que o anjo dispunha de força para vencer fisicamente o patriarca.
A resistência de Jacó, portanto, não era física. Devia ser espiritual. E foi preciso que o
anjo o atingisse fisicamente, para que ele compreendesse que não tinha outro recurso
senão submeter-se. Jacó, até ali, havia suplantado os inimigos e, nesse dia, suplantou-
se a si mesmo. Aprendeu que só há um meio de prevalecer com Deus depois de lutar
com Ele — é submeter-se.
Antes da submissão estava pronto a fazer o que Deus mandasse, se primeiro Deus
fizesse o que ele desejava. Gn 28:20,22. De agora em diante, fa ria tudo sem condição
alguma. A luta, a verdadeira luta, deve ter sido íntima, como também o foi essa vitória
sobre si mesmo.
3.° MUDANÇA RADICAL
Até aquele momento Jacó ainda era o mesmo homem egocêntrico, confiado nos recursos
humanos, desassossegado e amedrontado, livrando-se de um inimigo para ver-se
ameaçado por outro. Escapara de Labão, seu tio, e tinha de encontrar-se com Esaú, seu
irmão. Trazia na mente ainda o plano de conquistar a terra, prevalecendo-se da sua
astúcia e da fraqueza de Esaú. Por isso, mal soube que o irmão lhe saía ao encontro,
mandou-lhe uma série de presentes. Na hora crítica em que sentiu medo, fez-se religioso
e pediu a proteção de Deus. Mas, apesar de orar, como ele mesmo disse, sua confiança
estava nos presentes para aplacar a ira do seu irmão. (Gn 32).
Depois da crise já era outro homem. Sua própria atitude com Esaú era outra. E vê-se no
capítulo 33 que a sua confiança agora estava posta mesmo na bênção de Deus. É um
exemplo daquilo que disse Paulo: As coisas velhas tinham passado, e tudo se fizera novo. (2
Co 5:17) Não era ainda uma pessoa perfeita, mas tinha mudado completamente a raiz da
sua vida moral. Jacó, daí em diante, era de fato Israel. Convém notar as duas
circunstâncias mais importantes dessa mudança.
a) Deu-se quando ele se achava só. Com efeito, o problema espiritual deve ser
resolvido entre Deus e o homem só.
b) Foi durante uma luta e por meio dela. Ninguém obedece a Deus sem lutar muito
consigo mesmo, sem se vencer completamente.
QUESTIONÁRIO:
11. Que encontrou Jacó no seu caminho de volta?
12. Que circunstâncias atemorizavam Jacó?
13. Que coisa era maior do que Jacó?
14. Que é que aparecia primeiro: o presente, ou o irmão?
15. Em que é que Jacó de fato confiava?
16. Quem ficou na companhia de Jacó?
17. Qual foi o novo nome de Jacó?
18. Desde quando Jacó manquejava?
19. Onde passou Jacó a noite decisiva da sua vida?

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CAPÍTULO XII - CAMINHOS DA PROVIDÊNCIA
Leitura: Gn 37 Texto Áureo: Is 46:10
A história da redenção atinge um dos seus pontos culminantes na vida de José. Além
de uma narrativa emocionante, cheia de lances interessantíssimos, a história de José
é uma exposição clara e persuasiva da existência de um plano que a Providência, a
despeito de todas as circunstâncias contrárias, vai realizando através da história.
Em Jacó, era esquisito que Deus tivesse escolhido um homem mau para um plano
bom e perfeito; em José, o mistério é o sofrimento de um homem bom. Na história de
Jacó vemos a mão da Providência executando o seu plano com uma personalidade
defeituosa — o trabalho consistiu em afeiçoar o homem ao plano. Na história de José
vemos a continuação do mesmo plano, por meio de um homem excepcionalmente
bom. Contra esse homem se levanta a hostilidade não só dos estranhos, mas da
própria família de Israel. E os acontecimentos que seguem, dirigidos pela mão invisível
da Providência, convergem todos na consumação do que Deus tinha determinado
fazer.
Pode-se dizer de José que ele é o tipo do homem que Deus dirige. A narrativa da sua
vida nos apresenta o mais impressionante exemplo da vida dirigida.
A lição apresenta os seguintes pontos importantes:
1º.) PREVISÕES PROFÉTICAS DA PROVIDÊNCIA
Um dos fatos impressionantes na história de José são os sonhos dele e de outras
pessoas, que ele interpretou.
Os sonhos se cumprem?
Nem todos. Os de José, bem como outros que aparecem na Bíblia, foram meios que
Deus usou para mostrar aos homens o que só Ele sabe, isto é, uma parte do seu
plano. Se usarmos a linguagem de Daniel, diremos: O grande Deus mostrou ao rei o que
acontecerá daqui para frente. (Dn 2:45). Os sonhos da história de José apresentavam as
seguintes características:
a) Eram sonhos bem nítidos e sem confusão.
Além disso, repetiam-se com outras imagens, mas apresentando sempre a mesma
ideia. (Gn 37:7, 9) é um bom exemplo. O primeiro sonho apresentava a imagem de
molhos de cereal; o segundo sonho apresentava a imagem dos astros. Essa repetição
tinha por objetivo destacar a ideia contida na revelação e mostrar que o sonho tratava
de desígnios de Deus e não de meras imaginações da mente humana, tão comuns
nos outros sonhos. (Gn 41-32 e Gn 37:6-10).
b) Esses sonhos não tratavam de interesses particulares ou individuais.
Tinham em mira interesses gerais de raças e, por meio delas, a salvação da
humanidade.
c) Esses sonhos se cumpriram à risca.
Cabe aqui a afirmação de uma doutrina. Deus revelou antecipadamente o que estava
para acontecer. Revelou porque sabia de antemão. Se sabia, então tudo estava certo.

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Essa certeza é o plano de Deus. Os sonhos da narrativa da história de José são as
primeiras amostras dos caminhos da Providência, isto é, dos planos.
2.°) TENTATIVAS INÚTEIS PARA IMPEDIR OS DESÍGNIOS DA PROVIDÊNCIA
Uma vez que Deus ia executar o seu plano por meio de José, resulta que tudo quanto
se fizesse contra ele, era também oposição ao plano divino.
Os irmãos que já não gostavam dele, depois de ouvir a narrativa dos sonhos,
começaram a hostilizá-lo abertamente.
Qual a causa da inimizade dos irmãos de José?
a) A superioridade moral e intelectual dele.
Eram maus, e a retidão de José realçava essa maldade. Além disso, ele não suportava
a vida depravada que eles levavam e os acusava perante o pai. (Gn 3 7 :2).
b) A parcialidade de Jacó que tratava José com mais carinho.
c) Os sonhos de José que ele despreocupadamente, contava aos irmãos.
O único motivo razoável dessa inimizade era a parcialidade de Jacó.
Em que direção se manifestou a inimizade deles?
Primeiro, procuraram matá-lo; depois, mudando de ideia, venderam-no aos Ismaelitas
que o levaram para o Egito. E fizeram isso, como disseram, para impedir a todo transe
que se cumprissem os sonhos dele. Em outras palavras: ainda que o não soubessem
estavam tentando impedir os desígnios da Providência.
Aparece nesse ponto o aspecto mais maravilhoso da ação da Providência — aquilo
que os homens fazem para impedir, contribui para que se cumpram os desígnios
providenciais de Deus.
Sabiam eles que estavam se opondo ao plano de Deus?
É claro que não (I Co 2:8). Mas também não ignoravam que estavam praticando um
ato mau. Eis aí o perigo de fazer mal aos homens: a ofensa é contra Deus.
Alcançaram eles o seu objetivo?
Também já vimos que não. Causaram sofrimento a José e a Jacó, mas fizeram
exatamente o que era necessário para acontecer o que eles não desejavam. O ímpio
quando procura impedir o plano de Deus parece alcançar durante algum tempo o seu
objetivo, porque a Providência não tem pressa. E um dia esses desígnios sábios e
certos se cumprem mesmo.
3.°) AS PREPARAÇÕES DA PROVIDÊNCIA
A hora suprema da vida de José ainda não tinha soado no relógio de Deus. Antes que
ela chegasse, devia ele chegar ao lugar que lhe estava designado. Mais do que isso,
era indispensável que estivesse preparado espiritual e moralmente para esse
momento de imensas responsabilidades.

36
A sorte do filho de Jacó mudava a cada passo. Dois elementos contribuíram para que
ele, submetido a tantas provas, finalmente triunfasse. De um lado a sua fidelidade e,
de outro, a bênção de Deus. (Gn 39:2, 21-23).
Muitas vezes José pensou que tudo estava perdido. É que os caminhos de Deus não
são os nossos caminhos. Se Deus impedisse a ação dos irmãos invejosos, José,
talvez, nunca tivesse ido além de um simples criador de ovelhas. Se Deus
desvendasse a calúnia da mulher de Potifar, José teria ficado o resto da vida como
simples mordomo do capitão de guarda. Deus, porém, queria fazer dele outra coisa
mais alta — o vice-rei do Egito, o salvador da raça.
Várias vezes a carreira de José pareceu frustrada: é que ainda não estava completa
a sua preparação e Deus o queria perfeitamente adestrado para a missão que lhe
tinha designado. Grande lição as Escrituras nos ensinam com a vida de José. Quando
Deus deseja um homem, manda primeiro prová-lo e exercitá-lo na escola das
tentações, do sofrimento e da paciência. Antes de terminar esta lição, convém lembrar
que José é um tipo prefigurativo de Jesus Cristo: um bom entre os maus, vendido por
algumas moedas de prata, que sofre para salvar aqueles que o maltrataram.
QUESTIONÁRIO:
20. Com quem andava José?
21. Por que o detestavam?
22. Quem repreendeu José?
23. Onde se perdeu ele?
24. Quando comeram pão?
25. Quem estava sempre com José?
26. Que coisa perdeu José?
27. Que outra coisa não perdeu?
28. Que serviço prestava José?
29. A memória é sempre fiel?

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CAPÍTULO XIII - A HORA DA PROVIDÊNCIA
Leitura: Gn 41 Texto Áureo: I Pe 5:6
Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: (Ec 3:1).
Ninguém diria quando José foi preso, quando o copeiro mor sonhou e depois se
esqueceu do companheiro que tinha interpretado o sonho, ninguém diria que tantas
coisas diferentes e desconcertadas fossem peças articuladas de um plano só, o
grande plano de Deus na história.
Deus mostrou antecipadamente uma nesga desse plano na vida de José. Que lições
tão boas para a edificação do crente. Vistos esses fatos, já não podemos perder a
confiança na mão poderosa e sábia que dirige o curso dos acontecimentos. Afinal
chegou a hora de Deus usar o homem que Ele vinha preparando há tanto tempo.
Poderíamos dizer que o homem e a hora chegaram juntos, para cumprir o plano de
Deus.
1.°) O PLANO E A SUA FINALIDADE
José disse a Faraó que o sonho das vacas magras e das vacas gordas, das espigas
grandes e das espigas fracas não era um sonho qualquer. Era um aviso de Deus. No
sonho Deus mostrou que viria, primeiro, a provisão, depois, a fome. O que parece
indicar que, embora sejam insondáveis os desígnios da Providência, o homem pode
tomar na sua execução uma parte operosa e inteligente.
Junto com o sonho, Deus preparou um homem que o pudesse interpretá-lo.
Que finalidade estaria sendo visada?
Observe-se o seguinte:
a) Os sábios fracassaram na sua tentativa de interpretação. O copeiro logo se
lembrou de José. Evidentemente, Deus desejava que a interpretação fosse
feita pelo seu servo: assim José se tornaria pessoa influente e poderia proteger
a raça escolhida.
Ficaria nisso a finalidade do plano?
Parece que não. Para proteger a raça Deus poderia ter impedido a fome, mas não o
fez. É que Deus move os homens por meio da necessidade. Era preciso levar a raça
escolhida ao contato com uma civilização superior, a fim de prepará-la para a sua
missão histórica. Em outras palavras: Deus não os trouxe ao Egito para salvá-los da
fome; enviou a fome para trazê-los ao Egito.
Podemos corrigir aqui um erro grande a respeito da oração. A oração não existe para
nos desembaraçar da necessidade, mas a necessidade para nos induzir à oração.
2.°) O PLANO DA PROVIDENCIA E A ATIVIDADE DO HOMEM
Se Deus predisse a Faraó o que estava para acontecer, então parece que tudo já
estava prefixado e, portanto, nada restava para Faraó fazer. Podia cruzar os braços.
Essa, porém, não foi nem a opinião, nem esse o conselho de José. Pelo contrário:
recomendou medidas urgentes para prevenir a miséria, enceleirando trigo durante os
anos de fartura. Afirmou uma verdade importante: uma vez que Deus já prefixou e

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mostrou o que há de fazer, nós ficamos sabendo com toda a exatidão o que também
nos compete fazer. Se Deus não tivesse um plano sábio e exato, se os
acontecimentos se dessem ao acaso, se o mundo andasse sem rumo, então, sim, não
adiantava nada o nosso esforço. Podíamos cruzar os braços. Mas há um plano, uma
direção firme dos acontecimentos, uma articulação sábia das circunstâncias.
Podemos agir e trabalhar com tranquilidade. Não perderemos nem o tempo, nem os
esforços.
3.°) SURPRESAS E OPORTUNIDADES DO PLANO
Nada como um dia depois do outro. Naquela hora sombria em que José, amedrontado,
teria suplicado a seus irmãos que lhe poupassem a vida, ele, que era sonhador, estava
longe de sonhar que um dia as posições se inverteriam. E foi o que se deu. Podemos
dizer, muito reverentemente, que há um certo humorismo nas execuções da
Providência. Ora, vejam os:
Qual foi uma das causas da irritação dos irmãos de José? O sonho que parecia
predizer que eles se prostrariam diante dele. Para impedir isso, trataram-no com
desumana dureza. Pois bem, quando foram comprar trigo no Egito, cumpriram
literalmente o sonho de José, prostrando-se diante dele. (Gn 42:6; 43:26; 44:14 e
50:18).
Mas a execução do plano não traz apenas surpresas; traz também esplêndidas
oportunidades que os homens, infelizmente, nem sempre sabem aproveitar.
José era sábio: aplicou aos irmãos o tratamento que se tornava necessário e, assim,
pôde verificar que eles não eram homens completamente perdidos. Repeliram com
energia o roubo da taça, colocaram-se solidariamente ao lado de Benjamin e voltaram
com ele ao Egito. Um deles, preferiu fazer-se escravo a voltar sem o irmão para casa.
Quantas surpresas! E, além do mais, José foi longânimo com seus irmãos.
A singela exposição que acaba de ser feita nos mostra que ao redor de nós há forças
e circunstâncias que não obedecem ao nosso comando. Nunca sabemos o que elas
nos obrigarão a fazer.
Jacó, por exemplo, resolveu não mandar mais ao Egito buscar trigo, e mandou. Vimos
também que a hora do castigo chega mesmo e que Deus, haja o que houver, conduz
as coisas para um desfecho feliz, quando e como só Ele sabe.
QUESTIONÁRIO:
1. Quem ficou em companhia de José?
2. Que sonho se cumpriu?
3. O estômago argumenta?
4. Se não houvesse fome Jacó teria dito “pode ser que fosse erro”?
5. Confiou Jacó em Deus, ou no presente?
6. Quantas vezes se cumpriu o sonho de José? Quem era como Faraó?
7. A que hora José almoçava?
8. Os filhos de Jacó disseram a verdade?
9. Só as mulheres choram?

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CAPÍTULO XIV - A EXATIDÃO DA PROVIDÊNCIA
Leitura: (Gn 45-50). Texto Áureo: (Gn 50:19).
Para o observador pouco instruído e superficial, o céu dá uma impressão de
desordem: as estrelas parecem espalhadas no firmamento, sem plano ou disposição.
Entretanto, sabemos que, apesar dessa aparência, há no firmamento uma disposição
planejada de todos os astros que ocupam posições rigorosamente exatas e executam
movimentos regulares e harmoniosos. Nada acontece por acaso e nada fica fora do
seu lugar.
A mesma impressão errônea temos da história e da vida humana. Parece que os fatos
acontecem sem plano e sem ordem, como se não existisse um governo, uma
Providência para dirigir os acontecimentos.
As lições que estamos estudando ajudam a perceber que essa desordem é também
aparente. Os fatos da história humana obedecem a causas e leis muito mais
misteriosas que as causas e leis do mundo físico. São incomparavelmente mais
difíceis de compreender e de explicar, mas, nem por isso, deixam de obedecer à
direção sábia de uma Providência e de executar um plano.
O fim do livro de Gênesis demonstra, de maneira muito simples, esta verdade que
estamos enunciando: a exatidão da Providência.
Podemos estudar o assunto em três aspectos.
1.°) OS TEMPOS DA PROVIDÊNCIA.
Aí aparecem as nossas primeiras impressões erradas, às vezes nos parece que a
Providência tarda. E para corrigir o erro dessa impressão, a sabedoria popular comete
outro erro dizendo: Deus tarda, mas não falha”.
A verdade é que Deus nem tarda nem falha. Pedro disse: “Mil anos para o Senhor é como
um dia e um dia como mil anos”. Pode-se dizer que nos processos da Providência o
tempo não conta, porque tudo chega na hora exata.
José subiu ao seu lugar de governador na hora precisa; Jacó desceu ao Egito no
momento prefixado e, também, propício e oportuno. E o povo que veio com ele, a sua
família, teve de ficar no Egito durante 400 anos.
Ora, se retrocedermos um pouco até os dias de Abraão, verificaremos duas coisas
importantíssimas.
a) Deus tinha dito exatamente isto: “Peregrina será a tua semente em terra que não é sua, e
servi-los-ão. E afligi-los-ão quatrocentos anos.” (Gn 15:13).

b) Essa medida de quatrocentos anos obedecia a duas razões importantíssimas.


A primeira era a necessidade de preparar aquele povo na escola do trabalho e do
sofrimento. Outra era uma questão de justiça: Deus não entregaria a terra ao povo
escolhido, sem que os cananeus, pela sua degradação, se tornassem indignos de
nela permanecer. (Gn 15:16).
Jacó saiu de Canaã para o Egito, levando apenas um pequenino agrupamento de
famílias. Quando voltou mais tarde era um grande povo e se espalhou pelo mundo,

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para nunca mais desaparecer. Quatrocentos anos foi o tempo que a Providência
gastou na preparação desse povo.
Os cananeus que viram partir a tribo de Jacó, não assistiram a sua volta. Seus
descendentes, porém, quatro séculos depois, viram subir um povo numeroso,
agressivo e irresistível.
Convém reprisar aqui o que já foi dito, resumidamente, acima. Um povo fortaleceu a
sua fibra moral e criou uma capacidade combativa vivendo quatrocentos anos num
meio hostil e sujeito à opressão e ao sofrimento. Outros povos, no mesmo prazo e na
mesma ocasião, degeneraram e perderam a sua capacidade de resistência,
colocados num meio altamente favorável.
Qual é a explicação desse contraste, desse paradoxo?
Só existe uma: é a bênção de Deus que faz o homem e não o meio.
Não é, também, o sofrimento, por si só, que aperfeiçoa e fortalece moralmente o
homem, há povos colocados num meio hostil que se degradam. O sofrimento que
aperfeiçoa é o sofrimento permitido, administrado e dirigido pela Providência de Deus.
Essa é a interpretação de (Ex 3 :2).
Esse povo histórico é símbolo do Israel espiritual que vive como peregrino neste
mundo presente. (Hb 11:13-16; 13:14).
2.°) OS INSTRUMENTOS DA PROVIDÊNCIA
José teve um papel saliente no plano divino. Para isso Deus o protegeu
miraculosamente. Foi ainda de modo miraculoso que ele lhe revelou os sonhos,
combinou as circunstâncias e usou até a hostilidade dos inimigos para alcançar aquele
fim. Os irmãos invejosos, o capitão da guarda, os companheiros de prisão, o grande
Faraó, a fome e a fartura, horas longas de sofrimento, a Providência usou tudo para
um fim só. E depois que as coisas aconteceram é que José ficou sabendo disso. (Gn
45:5-8; Jo 13:7).
No mundo onde reina o pecado, muitas vezes a Providência tem de usar o sofrimento.
No encontro de José com Jacó há um raio de luz que ajuda a entender o grande
problema do sofrimento. José chorou longamente. Dois pensamentos poderiam ter se
cruzado no seu espírito:
a) Tudo isso poderia ter sido evitado, e não foi.
b) Mas, se fosse evitado, o meu povo não teria sido salvo da fome.
Poderíamos perguntar: — Quem pecou? José ou seus pais, para que isso
acontecesse?
E a resposta seria: nem ele, nem seus pais. Foi para que se manifestassem neles as
obras de Deus. Porque neste mundo onde o pecado entrou, quase sempre, para a
salvação de muitos, é indispensável o sofrimento temporário do justo.
Um dia José vai desaparecer. Chegará o sofrimento e a opressão. Terá Deus
desamparado o seu povo? Deus tinha desamparado José quando ele estava na
prisão?

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É que os instrumentos da Providência agora vão ser outros. Chegou a hora do esmeril
da disciplina, da agressividade do meio. Os homens desaparecem, permanece a
Providência. A ferramenta se embota e se troca, mas o artista, sem parar, continua o
seu trabalho com outros instrumentos. Outros homens vão aparecer no processo
secular dessa obra grandiosa. Uns, amigos, outros, adversários irredutíveis. E todos
servindo a mesma finalidade.
Há na lição três encontros notáveis do Jacó.
a) O encontro com José, perante quem ele também se inclinou, cumprindo o sonho.
b) O encontro com Faraó: Jacó, José, Faraó — marcos culminantes da obra da
Providência.
c) Antes, porém, de sair de Canaã houve outro encontro. Jacó não quis partir sem se
encontrar com a própria Providência, isto é, com Deus. Ele, que estava sendo
instrumento nas mãos dessa Providência, não queria mais andar às cegas: desejava,
pelo contrário, viver uma vida conscientemente dirigida. (Gn 46:1-3).
3.°) A JUSTIÇA DA PROVIDÊNCIA
Não adianta ter pressa, não adianta fugir. Nem impaciência, nem temeridade, porque
um dia a justiça vem mesmo.
Um dia, lá nas pastagens de Canaã, os filhos de Jacó ouviram, sem piedade, as
súplicas aflitas de José. Para fugir à ira do pai, encobriram o crime, ensopando a túnica
de José no sangue de um cordeiro.
Naquele tempo as comunicações eram difíceis, e José tinha sido vendido como
escravo. Situação que encurtava a vida. Mas a justiça da Providência vem mesmo. E
anos depois os irmãos de José tiveram de enfrentar a iminência dessa justiça. (Gn
42:21-24; 50:15-18).
Morto Jacó, os irmãos de José temeram a sua vingança. Para isso concorreram vários
fatores:
a) A consciência. Tinham errado e se fossem castigados, seria justíssimo. Gn 42:21.
b) O seu espírito vingativo. Quando tinham razão, não poupavam ninguém. Nunca
tinham sido inclinados à clemência. Tinham sido surdos às súplicas aflitas de José.
Não podiam esperar também a clemência de quem tinha razão para castigá-los. (Gn
50:15).
c) A simples análise psicológica dos fatos. José era bom filho. Por amor ao Pai e, a
fim de poupar-lhe um desgosto grande, não tinha castigado os irmãos. Morto Jacó,
cessara o motivo. Nada mais impedia o castigo. Os irmãos de José viram a justiça da
Providência. Mas José também viu e, por isso, não quis tomar o lugar da Providência
e não castigou os irmãos. Quando estes o procuraram, perguntou-lhes: —
“Porventura estou eu no lugar de Deus”? Gn. 50:19 e 20.
Sabia que tinham errado, sabia que mereciam o castigo, mas também sabia que a
justiça pertence a Deus. Rm 12:19-21.
Não podemos encerrar esta lição sem mencionar alguns aspectos importantes.

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Antes de morrer, Jacó abençoou os filhos e profetizou, em palavras resumidas, o papel
das tribos que deles iam descender. Entre essas profecias, destaca-se uma de caráter
messiânico. Refere-se a Judá! Não era o mais velho e, entretanto, Jacó o apresenta
como cabeça do povo. E a história confirmou essa profecia. Ele é o pai do povo judeu,
da parte fiel a Jeová que não se misturou com os gentios. Da sua estirpe vieram os
grandes reis: Davi, Salomão e Jesus Cristo. Ele mesmo foi o protótipo de Jesus.
Apresentando-se a Jacó como fiador de Benjamim; aos irmãos como defensor de
José; a José como intercessor de Benjamin e seu substituto. Precedeu a Jacó no
Egito; não era o mais velho, mas o mais sensato.
QUESTIONÁRIO:
1. Quem mandou José para o Egito?
2. Os homens choram?
3. Que bastou a Jacó?
4. Quantas pessoas saíram com Jacó do Egito?
5. Desde quando os Israelitas têm negócios?
6. Que foi que Jacó deu a Faraó?
7. Como foram os dias de Jacó?
8. José sabia mais do que Jacó?
9. O que era José?
10. Qual foi a última mentira dos irmãos de José?
11. Que foi que José não quis tomar?

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CAPÍTULO XV - TRANSIÇÕES HUMANAS E FIXIDEZ DA
PROVIDÊNCIA
Leitura: Ex 1, 2 Texto Áureo: Hc 2:3
Uma das grandes maravilhas da sabedoria e do poder de Deus consiste no seguinte:
Deus usa homens mutáveis para realizar um plano eterno.
É maravilhoso porque os homens mudam constantemente. Mudam, porque duram
pouco. Sua existência é muito breve. Não dá para realizar nenhuma grande obra de
princípio ao fim. Alguns começam, outros continuam e, afinal, outros têm de acabar.
Só Deus permanece.
A história da redenção mostra a realização multissecular do plano de Deus. Perante
a prolongada execução desse plano a existência de homens como Moisés, que viveu
120 anos, é um relance fugaz e passageiro do tempo.
Só Deus permanece. Os homens mudam, não só porque desaparecem rapidamente,
mas também porque seus propósitos, seus sentimentos, suas decisões não são
estáveis. Nossos sentimentos aparentemente mais firmes, são sujeitos a mudanças
imprevisíveis e radicais. Só Deus não muda.
Convém trazer à memória o dogma da imutabilidade: Deus é imutável em sua
natureza, em seus atributos, em seus planos. Para dizer essa grande verdade as
Escrituras Sagradas usam uma expressão breve: Deus é fiel.
A história da redenção, no ponto em que nos achamos, exemplifica a grande doutrina
da imutabilidade divina. Desapareceram os grandes vultos: Abrão, Isaque, Jacó e
José. Durante quatrocentos anos não apareceu um homem que se destacasse.
Enquanto isso a pequenina tribo que desceu de Canaã multiplicou-se
numerosamente, desdobrando-se em uma grande nação.
Que era feito das promessas de Deus aos três primeiros patriarcas? Se dependessem
dos sentimentos e da memória dos descendentes desses mesmos patriarcas, nunca
se cumpririam. Eles não foram absolutamente fiéis ao passado. Deus, porém,
continuava fiel, Ele daria como deu, cumprimento ao que prometera. É desse assunto
que vai tratar a nossa lição, contrastando a instabilidade do homem com a fidelidade
de Deus.
1.°) FASE DE CRESCIMENTO
Entre o final do Gênesis e o começo do Êxodo transcorre um período de quatrocentos
anos, sobre os quais a Bíblia nada diz. Podemos representar esse período com um
rio subterrâneo. O rio desaparece pequenino debaixo da terra, percorre uma grande
distância e, quando aparece, está engrossado e caudaloso.
As primeiras palavras do Êxodo descrevem a grande mudança do povo hebreu. Deus
o tinha colocado num ambiente favorável ao seu crescimento: terra fértil, nação
organizada e boa-vontade do povo.
Esse fato faz lembrar o que disse Jesus:

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“O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. E dormisse,
e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo
ele como.” (Mc 4:26-27).
Entretanto, ainda não eram um povo, uma nação propriamente dita. E Deus tinha em
vista, não somente um povo, mas um povo especial capacitado para ser o depositário
dos seus oráculos. Para isso era necessário mais alguma coisa que Deus promoveu.
2.°) FASE DE DISCIPLINA
Os homens mudam, porque passam rapidamente, e uma geração não endossa o que
as gerações anteriores fizeram.
Mudam os sentimentos e o homem já não é o mesmo. Assim aconteceu no Egito com
os israelitas.
Dois fatores contribuíram para a mudança radical que se deu no ambiente que, de
favorável, se tornou hostil.
a) O povo aumentado encheu a terra, incomodou os egípcios, despertou suspeita e
inveja. A reação não se fez esperar.
b) O vulto e a obra de José eram coisas de um passado longínquo.
Quatrocentos anos tinham passado. Estava para aqueles dias como o descobrimento
do Brasil está para nós hoje.
Diz o texto que se levantou um rei que não conhecia José. Reunidos esses dois
elementos, originou-se uma reação hostil contra os hebreus, que foram obrigados a
lutar por sua vida e segurança. Passaram à dura condição de escravos.
Deus não ignorava essa reação — usou-a para disciplina. Os homens duros e fortes
se fazem no trabalho e na luta. Deus estava forjando e temperando um povo muito
forte. A forja foi o Egito e sua reação hostil — o artífice foi Deus. Cabem aqui duas
observações muito importantes:
a) O que o homem procura fazer para impedir os planos de Deus, Deus usa para
realizá-los. (Ex 1:10-12).
b) Nem sempre o sofrimento destrói o homem. Há casos em que ele, pelo contrário
faz o homem mais vivo e mais forte. E é preciso lembrar a fragilidade do homem, bem
como a força esmagadora do sofrimento.
Sabe-se, hoje, que as pirâmides e outras obras grandiosas do Egito custaram o
sacrifício de milhares de vidas de escravos que morreram, não só por excesso de
trabalho, mas também por insuficiência de alimentação. Com os hebreus se deu o
contrário.
Em que consiste a diferença?
Aquele sofrimento não vinha ao acaso — era um sofrimento permitido, prescrito e
dirigido pela sabedoria de Deus. E para que se visse que era assim, Deus usou uma
figura admirável: a sarça ardente. Os gravetos frágeis da sarça queimavam, sem se
consumir. Figura magistral para dizer a Moisés que a carga pesada não esmagaria os
hebreus: era disciplina para fortalecê-los.

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A disciplina, porém, foi mais longe. Passou da injustiça de uma sobrecarga de trabalho
para um crime positivo. Faraó deu ordem às parteiras para eliminar os recém-nascidos
do sexo masculino. Faraó era mal e também hábil. Disfarçou o seu crime com um
arranjo particular. A morte dos meninos poderia ser atribuída aos acidentes tão
comuns na circunstância do nascimento. Mas a ordem do déspota esbarrou numa
dificuldade muito grande, num fator aparentemente imponderável e fragílimo — o
sentimento religioso. As parteiras não cumpriram a ordem, porque temeram a Deus.
De onde se aprende que religião é alguma coisa mais do que uma fantasia, uma
doutrina, uma teoria — é uma força viva.
E’ verdade que essas mesmas mulheres depois mentiram a Faraó, para justificar a
sua desobediência. Infelizmente, ninguém é perfeito. E a Bíblia quando apresenta os
seus heróis mostra-os tais quais eles são, sem o mínimo disfarce. E quem for perfeito
atire a primeira pedra.
3.°) FASE DE REAÇÃO
A disciplina deu os resultados esperados. Não só fortaleceu o povo que se multiplicou
assustadoramente, mas despertou neles o desejo de sair daquela terra tão boa e,
mais do que isso, a necessidade de procurarem a Deus. (Ex 2:23).
A reação dos hebreus manifestou-se de várias maneiras e em várias pessoas. A do
povo, em geral, já vimos qual foi: clamaram a Deus. Esse clamor a Deus, nas horas
aflitas, vai fixar-se no povo hebreu e se manifestará, impressionantemente, durante
toda a sua história. É uma das atitudes mais comuns do homem: procurar Deus na
aflição e despreza-lo na prosperidade. (Sl 78:34-37.
A melhor reação, porém, foi a da fé. Os pais de Moisés, não obstante o que estava
acontecendo, não descreram do seu Deus. Observa-se que eles agiram com muita fé.
(Hb 11:23). Enquanto puderam, esconderam o menino. Note-se também a sua
diligência. Criam em Deus, mas iam também fazendo a sua parte. Para isso adotaram
um plano sagaz. Mais uma vez aparece a sabedoria providencial de Deus, com-
binando e dirigindo as atividades dos homens, para consumar o seu plano.
Outra reação notável foi a de Moisés. Poderíamos chamá-la a reação da
solidariedade. Criado no palácio, onde tudo contribuiria para amolecer-lhe a fibra
moral, aos 40 anos reconheceu os laços que o ligavam ao seu povo humilhado no
cativeiro e colocou-se ao lado dele.
Foi uma deliberação tão heroica, que a carta aos hebreus a designa como uma
escolha de fé. (Hb 11:24-26).
Por esse espírito de solidariedade comprometeu a sua própria segurança quando
matou o egípcio, e foi obrigado a fugir para o deserto.
Nesta lição observamos a rápida mudança dos homens e das circunstâncias. Nossa
visão superficial das coisas percebe só o exterior. Atrás dessa movimentação de
homens bons e maus, que entram e desaparecem no imenso cenário da vida, opera
o que nós não vemos: a mão da Providência, constante, sábia e imutável. E o plano
de Deus lentamente, progredindo sem atraso, vai se realizando de modo perfeito,
caminhando para a sua consumação final.

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QUESTIONÁRIO:
01. Quantas pessoas entraram no Egito?
02. A influência dos heróis passa?
03. O sofrimento e o trabalho enfraquecem os povos?
04. Qual era o receio de Faraó?
05. Desde quando os hebreus lidam com joias?
06. Há vantagem em ser mulher?
07. Os pais de Moisés confiavam no acaso?
08. Quanto tempo ficou Moisés na casa dos pais?
09. O crime compensa?
10. Que acontece quando os homens clamam a Deus?

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CAPÍTULO XVI - A VOCAÇÃO DO LIBERTADOR
Leitura: Ex 8 e 4. At 7:18-35. Texto Áureo: Hb 5:4.Hb 11:24-26
“Aproximando-se o tempo das promessas que Deus tinha feito a Abrão, nesse
tempo nasceu Moisés”: palavras de Estevão no seu discurso perante o sinédrio em
Jerusalém. Essas palavras mostram que tudo tem o seu tempo certo: na hora própria
aparecem os homens que Deus escolheu e designou para os grandes feitos do seu
plano.
Moisés, o libertador, é, sem dúvida, o grande vulto do Velho Testamento. Sua vida
está cheia de episódios épicos, bem como de exemplos incomparáveis de dedicação
ao povo de Deus.
Esta lição vai estudar a chamada que Deus lhe dirigiu para realizar a obra dificílima
de libertar, organizar e constituir um povo.
A vida de Moisés está simetricamente dividida em três períodos, de quarenta anos
cada um (At 7:23 e 30).
Sua obra começou aos 80 anos. Poderíamos assim dizer que os quarenta anos de
trabalho assentam sobre a base larga e sólida de oitenta anos de preparação. Essa
preparação constou de duas partes bem distintas: durante quarenta anos conviveu e
se preparou com os grandes sábios do Egito. (At 7:22).
Nisso ele se parece com São Paulo que, antes de ser cristão, estudou aos pés de
Gamaliel. E daí se aprende que a verdadeira cultura intelectual não é incompatível
com a vida piedosa e o ministério sagrado. Nessa época o Egito apresentava elevado
grau de civilização e, nesse meio civilizado, Moisés recebeu a instrução humana
indispensável à sua função histórica.
Mas a cultura intelectual, só por si, está longe de habilitar o homem para fazer o
serviço de Deus. Moisés necessitava de outra preparação. Repelido pelo seu povo,
foi para a zona rural, onde Deus o sujeitou a uma disciplina severa. O homem
palaciano, durante 40 anos levou a vida rude de pastor de gado. Na solidão do deserto
formou o hábito da comunhão com Deus. No fim desse tempo estava preparado —
veio a vocação.
1. UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL DIRETA
Uma verdadeira vocação começa do seguinte modo: uma experiência que humilha o
homem, que lhe faz sentir a realidade e a grandeza de Deus, bem como sua inteira
dependência do auxílio divino. Visão da grandeza da obra e das necessidades do
povo; visão de Deus também. Foi assim com Isaías, (Is 6 :1-10). Assim foi com Paulo:
(At 9:1-20). Assim tem sido com muitos servos de Deus. Assim como Paulo, Moisés
podia dizer: “A minha vocação não a recebi de homem algum”.
Na experiência espiritual de Moisés destacam-se os seguintes elementos:
a) Uma figura que Deus lhe apresentou, a fim de prepará-lo para o sofrimento e as
lutas do ministério. (Ex. 3:2) — era um paradoxo: um arbusto seco que ardia sem se
consumir. A vida do homem de Deus é também um paradoxo, onde a fragilidade
humana contrasta com o poder de Deus.

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b) Uma revelação específica de Deus e sua natureza. (Êx. 3: 6, 14).
c) Uma apresentação das grandes necessidades e aflições do povo. (Êx. 3:7).
d) Uma comissão definida. (Êx. 3:16-18).
e) Uma antecipação das dificuldades, e a promessa do auxílio de Deus. (Êx. 3:19-21).
2. UM ESTADO ESPIRITUAL ADEQUADO.
A preparação a que Deus sujeitou Moisés no deserto o tinha levado ao estado que
convinha para receber a grande vocação.
Aos quarenta anos Moisés entendia que era o homem designado para livrar o seu
povo. (At. 7 :25). Tinha razões para pensar assim. Era homem culto, desfrutava uma
posição de destaque, e sua vida estava rodeada de circunstâncias visivelmente
providenciais. Pode-se dizer que ele, talvez, se considerasse até indispensável ao
plano de Deus. Só isso bastava para mostrar que ele não estava preparado. Quarenta
anos depois, após a severa disciplina do deserto, Moisés pensava de outro modo.
Deus o chamou e Moisés, recebendo a ordem para se dirigir ao povo, respondeu que
ele não era o homem para fazer aquele trabalho. Ás razões que alegou eram certas e
fortes:
a) A incredulidade do povo. (Êx. 4 :1).
b) A sua incapacidade oral. (Êx. 4 :10).
c) A consciência viva do seu fracasso na primeira tentativa. Em duas palavras: vista a
grandeza da obra, Moisés não se viu apto para realizá-la. Essa é a atitude do homem
que Deus usa — homens que se esvaziam. Deus não usa homens cheios de si.
Isaias na sua vocação mostrou o mesmo espírito de humildade. O homem é como um
vaso, aliás, essa figura é da Bíblia mesmo. Para encher-se do poder de Deus, deve
primeiro esvaziar-se de si mesmo.
3. AUTORIDADE DIRETA DE DEUS
A maior dúvida de Moisés era se o povo reconheceria nele o enviado de Deus.
Receava que lhe contestassem a autoridade profética.
A fim de que não lhe faltassem evidências dessa autoridade profética, Deus lhe
conferiu o poder de realizar certos milagres. Primeiro, o milagre da vara feita cobra. E
depois que Moisés realizou esse milagre, Deus lhe disse. “É para que creiam que te
apareceu o Senhor teu Deus”.
Esse portento visava mostrar, tanto a Moisés como ao povo, que, Deus querendo, um
cajado de pastor pode transformar-se noutra coisa. Por exemplo: no bastão de um
condutor de povos.
O segundo milagre foi o da mão que ficou leprosa e, a seguir, foi curada
instantaneamente.
Deus disse a Moisés que esse milagre faria ainda mais profunda a impressão do povo.
(Êx. 4:8). Ensinava também esse milagre que Deus pode ferir a mão que se recusa a
fazer o trabalho que Ele mandou.

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O terceiro milagre foi o das águas do rio derramadas na terra e mudadas em sangue.
O povo poderia apegar-se à terra onde vivera quatrocentos anos, porque era terra
fértil, regada e fertilizada pelo Nilo. O rio era a fonte da vida. O milagre tinha por fim
mostrar que aquele mesmo rio podia mudar-se em fonte de morte.
Feitos esses sinais, como Moisés se mostrasse indeciso e temeroso, Deus lhe indicou
um companheiro a fim de que ele não se sentisse tão sozinho. Enviou-lhe Aarão.
Porque a obra de Deus, como disse Paulo, não é obra de um homem só, mas de
muitos. Cada um no seu tempo, com o dom que Deus lhe concedeu e para a tarefa
que Deus lhe designou.
A lição que acabamos de estudar mostra que a vocação não é apenas a chamada que
o homem recebe na hora de fazer o trabalho. E’ alguma coisa mais profunda. Deus
faz nascer os homens com os dons necessários, coordena e dirige as circunstâncias
e coloca o homem no ponto em que ele deve estar para cumprir bem a sua missão.
Assim pensaram de si mesmos homens como Paulo que escreveu: “Deus, que desde
o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça.” (Gl 1:15)
QUESTIONÁRIO:
1. Onde Deus foi procurar o mais sábio legislador?
2. Moisés era curioso?
3. De que foi que Moisés teve medo?
4. Deus é indiferente às aflições do seu povo?
5. Moisés tinha grande confiança em si mesmo?
6. Com que nome Deus se apresentou?
7. Que é que Deus sabia de antemão?
8. Desde quando os hebreus andam carregados de coisas?
9. Quem fez todas as coisas?
10. Quem foi o irmão que se alegrou?

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CAPÍTULO XVII - VASO DE IRA
Leitura: (Ex 1:1-14; 5; 7:1-18; 8). Texto Áureo: 9II Tim. 2: 21).
Disse alguém, com grande sabedoria, que o homem nunca está vazio. Seu coração é
como um vaso aberto. Um copo, ainda que não pareça, não pode estar vazio. Estará,
pelo menos, cheio de ar. A ciência já demonstrou experimentalmente que é impossível
esvaziar de modo completo um recipiente qualquer.
O homem também é assim: está sempre cheio de alguma coisa. Por isso as Escrituras
o representam sob uma figura simples e magistral — vaso. (At 9:15; Rm 9:23; II Tm
2:20, 21).
Não seria mais interessante dizer instrumento?
Não. A figura melhor não é instrumento, ou ferramenta, mas vaso. No simples
instrumento, ou na ferramenta, só existe o material e a forma. O vaso contém sempre
alguma coisa.
Deus usa vasos cheios. Deus usa homens, e o homem só pode estar cheio de uma
de duas coisas: ou cheio de Deus, ou cheio de si mesmo. E aí está o segredo do
pecado, ou da santidade.
Há uma expressão muito comum, cujo alcance e profundidade nem todos percebem:
cheio de si. Em francês a expressão é um pouco melhor: “rempli de soi même”, isto é,
repleto de si mesmo. Não sobra espaço para mais nada. Repleto! O difícil é encher-
se dos outros. (Fp 2:3, 4). O indispensável é encher-se de Deus. (Ef. 5:18).
A Bíblia designa o homem cheio de si mesmo com o nome de vaso de ira. Está
naturalmente em reação constante contra tudo e contra todos. E tem de receber, por
isso, a inevitável reação de todos. Ira por dentro e ira por fora.
A história da redenção, no ponto em que nos achamos, apresenta um exemplo
impressionante de um vaso de ira — Faraó.
Deus não encheu o coração de Faraó, mas usou aquele homem cheio do que ele
estava.
Tocamos aqui numa das verdades mais profundas da revelação. Verdade que, aliás,
já observamos nos irmãos de José, quando se opuseram aos planos divinos. Deus
sempre usa o homem, mesmo quando esse homem obstinadamente se opõe à sua
vontade. De duas uma: ou o homem se esvazia para Deus o encher, isto é, o homem
se submete e, nesse caso Deus o usa como vaso cheio da sua graça, de sua
sabedoria e do seu amor, ou o homem não se esvazia mesmo, e Deus o usa como
vaso de ira.
O homem não pode impedir que Deus o use. Sua liberdade consiste apenas em
escolher entre esvaziar-se, ou não se esvaziar. Entre submeter-se, ou não se
submeter. Em qual- quer das hipóteses, Deus o usará na execução dos seus planos
eternos. Isso é que encontramos escrito, com toda a clareza, em (At 4:26-28).
É impressionante que ninguém é vaso de ira, sem resistir livremente a graça e as
ordens de Deus. E ninguém resiste sem se encher. O grande perigo é estar cheio de
si mesmo.

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Faraó não foi pior do que qualquer outro pecador que não se submete completamente,
à vontade de Deus. É um espécimen intensamente colorido pela luz da revelação,
para que se veja e saiba o que é o pecado, e se distingam as duas únicas alternativas
que o homem tem diante de si.
A nossa lição visa apresentar alguns traços mais salientes desse vaso de ira.
São Paulo, escrevendo aos romanos, mostra que o homem que não está cheio de
Deus está cheio de outras coisas. (Rm 1:28-31). O retrato de Faraó corresponde
exatamente à dissertação de Paulo. Examinaremos apenas três aspectos que incluem
todos os outros.
1.°) IMPIEDADE
Ímpio é aquele que se afasta deliberadamente de Deus. São Paulo expressa o
conceito de impiedade nestes termos: “A ira de Deus se manifesta sobre toda a
impiedade, porque o que de Deus se pode conhecer neles se manifestou. E eles não se
importaram de ter conhecimento de Deus”!

O primeiro e grande pecado é a impiedade. O homem não se interessa pelo


conhecimento de Deus, desconhece a Deus, não busca, não investiga — não se
importa. Os outros males são consequência desse primeiro mal tão grande. (Rm 1:23,
24, 26, 28). Aversão a Deus, amor ao mal. Ninguém ama sem odiar; ninguém odeia,
sem amar.
Faraó era ímpio: não investigava. Quando Moisés lhe falou em Jeová, Faraó declarou:
“Não conheço o Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel”. Ignorância voluntária e
desobediência deliberada.
Jó expressa a impiedade, magistralmente, nas seguintes palavras: “E, todavia, dizem
a Deus: retira-te de nós, porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos.
Quem é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe
façamos orações? Vede, porém, que o seu bem não está na mão deles; esteja longe de
mim o conselho dos ímpios!” (Jó 21:14-16).

Faraó não manifestou apenas o desprezo pelo conheci- mento de Deus, fez mais do
que isso: tomou uma atitude positiva e agiu energicamente contra a ordem divina, para
mostrar que pouco lhe importava a ordem de Deus. Assim, oprimiu ainda mais os
filhos de Israel. (Ex 5 :4-19).
2.°) INIQUIDADE
Paulo disse que Deus entregou os homens que não se importaram com ele, a um
sentimento perverso, e que esses homens estão cheios de toda a iniquidade. (Ro 1
:28, 29).
A palavra grega que Paulo empregou é injustiça. João empregou a palavra anomalia.
Ambas expressam o mesmo fato, a saber: é aquilo que está fora da lei. Pode ser a lei
natural, a lei que sustenta o direito de todos à vida, ao respeito às alegrias legítimas
da vida.
Faraó é o exemplo do homem que violava, sem escrúpulos, essas leis que garantem
o direito à vida. Matava lentamente pelo excesso de trabalho, pela insuficiência da
alimentação, e fez matar pela violência. Declarou que sobrecarregava o povo de

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trabalho, para enfraquecê-lo. (Ex 1 :10, 11). Uma coisa é certa: explorava o povo para
ficar mais rico, ou, melhor, enriquecia à custa do sofrimento, da exaustão e das
aflições de um povo — iniquidade. Também é certo que Faraó alegou não conhecer
a Jeová, mas, se não sabia quem era Jeová, sabia, entretanto, que estava
transgredindo as leis elementares e essenciais da justiça e da humanidade. Alegava
razões de ordem teológica e política, para justificar o crime perante o seu povo. E,
assim, mandou matar os recém-nascidos. Iniquidade nos atos e nas explicações.
Convém observar o que Paulo diz do ímpio: “Está cheio de toda a iniquidade, malícia,
avareza, maldade, inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade. São
murmuradores, de- tratores, aborrecedores de Deus, inventores de males, sem
misericórdia.

Leia agora as seguintes passagens do livro de (Ex 1:9 - 11, 16, 22; 5:7, 17, 18. 1:9.
10:8-11. 8:28-32; 10:22, 29).
Faraó exemplifica, de maneira impressionante, o vaso de ira e mostra que ninguém
se esvazia de Deus sem se encher de coisas nefastas e perigosas.
3.°) INFIDELIDADE
Paulo diz explicitamente “infiéis nos contratos”. Nós poderíamos acrescentar infiéis
aos compromissos, infiéis à verdade reconhecida e confessada, infiéis às intenções
honestas que formularam em horas de avivamento espiritual — infiéis.
A palavra que Paulo emprega é “violadores de contratos, quebradores da palavra”.
Uma palavra em português indica a causa íntima e profunda desse grande mal:
instabilidade.
Faraó era assim. Prometia muitas vezes, e não cumpria nunca. Prometia na hora do
perigo, na iminência do prejuízo, quando estava com medo, e voltava atrás quando
passava a calamidade. (Ex 8:8-15, 32).
A instabilidade moral é uma defesa. O “eu” se defende. Quando se vê ameaçado
promete o que lhe pedem, promete abrir mão de vantagens, lucros grandes e prazeres
intensos. Promete para não sofrer nem perder. Passado o perigo, o “eu” se defende
de outra forma, procurando reter aquilo que prometeu abandonar. Tudo gira em torno
do “eu”, porque o homem está cheio de si mesmo e tudo faz para não descer do trono
onde, vaidosamente, se assentou, e de onde não sai nem para ceder o lugar a Deus.
Para ele só existe uma lei: a sua vontade individual, o seu capricho, o seu desejo. Em
outras palavras: as exigências instintivas e egoísta da sua natureza. Instável nas suas
atitudes morais, expressa, entretanto, uma estabilidade imutável. Serve sempre a si
mesmo. E’ o inimigo de Deus e dos homens; é o incrédulo.
Resta, para finalizar, uma palavra breve sobre um problema difícil. Já vimos que Deus
usa todos os homens para o seu plano. Usa até o homem que está cheio de si, como
Faraó. Mas a Bíblia diz que Deus endureceu o coração de Faraó. A explicação mais
simples é a seguinte: quando Deus dá uma ordem coloca o homem entre duas
alternativas. Ou obedecer, ou desobedecer. Ninguém desobedece sem resistir muito
e, para resistir, é preciso endurecer-se. Foi o que aconteceu com Faraó. As ordens de
Deus que poderiam abrandá-lo, se ele se esvaziasse, fizeram-no ainda mais duro,

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porque ele não se esvaziou. Ele mesmo resistiu e, para resistir, se endureceu ainda
mais.
É claro, pois, que dando ordens a quem resiste, a quem não se esvazia, Deus
demonstrou o endurecimento do pecador e faz aumentar esse endurecimento.
Convém repetir o que Paulo disse: “Não há diferença, porque todos pecaram”. Isto é,
não há homem que não tenha ficado cheio de si mesmo. Faraó é apenas um exemplo
que a luz da Revelação pôs em foco, para advertência dos outros pecadores.
Só há duas alternativas: submissão incondicional a Deus, por meio de Jesus, ou
resistência e obstinação.
QUESTIONÁRIO:
1. Faraó ignorava muita coisa?
2. Que obras fizeram os hebreus?
3. Faraó era bom político?
4. Desde quando se bate nos homens?
5. Que é que vem primeiro: devoção, ou obrigação. (Ex 5:17).
6. Deus fez mal ao povo de Israel? (Ex 5:21, 22).
7. Basta prometer?
8. O ímpio pede oração? (Ex 10:17).
9. Faraó sabia que estava pecando? (Ex 10:16).
10. Que profecia fez Faraó? (Ex 10:28).

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CAPÍTULO XVIII - INTIMAÇÕES DA PROVIDÊNCIA
Leitura: (Ex 5; 7:1-18). Texto Áureo: (Hb 2:2,3).
Deus não pune sem aviso. Colocado no Éden, o homem não ficou sem saber que
consequências seguiriam a sua desobediência. A história da Redenção está cheia de
exemplos de grandes castigos, que vieram só depois que Deus avisou os
transgressores. Gn 6; I Pe 3:20; Jn 3:4; Is 1:19, 20 etc. O caso de Faraó é outro
exemplo. O castigo que vai ser aplicado ao Egito é muito grande, mas Deus
antecipadamente, repetidamente, solenemente os avisou.
Tinha chegado a hora do povo sair do Egito para cumprir a sua missão histórica. A
partida não se faria sem resistência. Resistência de Faraó ao mandamento divino;
resistência do povo hebreu sempre inclinado à incredulidade e, às vezes, uma certa
resistência de Moisés, agitado por lutas íntimas provocadas pelo espetáculo da
grande aflição do povo.
Nesse período em que aparecem a resistência do pecador, a tendência da
incredulidade e o sofrimento do homem de Deus, manifesta-se também e,
principalmente, o poder, a sabedoria e a misericórdia de Deus.
Poderíamos dar a essa lição o nome de “Intimações da Providência” porque, na
verdade, a Providência está intimando os homens a cumprirem, sem demora, o plano
de Deus. Verifica-se que se não fosse a fidelidade divina, o plano não seria cumprido
mesmo.
Poderíamos dizer que a lição apresenta a luta da Providência com os homens que
não querem cumprir o plano de Deus. Podemos distinguir três intimações da
Providência.
1.°) INTIMAÇÕES VERBAIS
Deus se dirige ao homem, pela palavra. Foi exatamente o caso de Faraó, dos hebreus
e de Moisés. Deus primeiro falou declarando o que desejava, o que ia fazer e também
avisando que a desobediência seria seguida de grandes castigos. (Ex 5:1 e 6:1).
Vejamos quais foram as reações.
Faraó repeliu, terminantemente, o pedido de Moisés. Ninguém resiste à vontade de
Deus, sem alegar alguma coisa. Duas foram as alegações de Faraó.
a) Não sabia quem era Jeová e, portanto, não estava na obrigação de acatar o seu
enviado.
b) Alegou que o pedido de Moisés não passava de um pretexto para afastar o povo
do trabalho e que isso constituía grande ameaça à economia do país.
Tomou uma providência mundanamente sábia: aumentou o trabalho do povo.
O povo hebreu, a princípio, recebeu com alvoroço e alegria a palavra de Moisés. Logo,
porém, que Faraó aumentou a carga do trabalho, descreu de Moisés e se rebelou
contra ele. (Ex 5:20, 21).
Era natural esse desânimo. A interferência de Moisés provocara as medidas
opressivas de Faraó. Entretanto, se o povo tivesse prestado bem atenção às palavras

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de Deus, saberia que Deus tinha previsto e anunciado a resistência de Faraó. Mas o
povo só prestou atenção à promessa do livramento e, por isso, surpreendeu-se
dolorosamente com as aflições, caindo no desânimo.
É notável que também Moisés que era o porta-voz dos avisos divinos, diante do
sofrimento do seu povo ficasse perplexo e desanimado, chegando a atribuir aquele
fracasso aparente à sua inabilidade. É que ele também se esquecera de que Deus
antecipara e predissera a rebeldia de Faraó. Aparecem aí aspectos diferentes da
incredulidade.
Em Faraó é a incredulidade motivada pelo interesse. Não fez nenhuma investigação
para saber quem era Jeová, por- que lhe convinha muito reter o povo hebreu
trabalhando no Egito. No povo, vemos a incredulidade causada pelo medo de
enfrentar a luta. O povo descreu logo na primeira prova. Desejava a libertação, sem
os trabalhos e as lutas.
Em Moisés, a incredulidade produzida pela perturbação emocional. O sofrimento,
muitas vezes, é uma realidade que perturba a mente e deforma a visão espiritual.
Por essas e outras causas ficam sem efeito positivo os solenes avisos verbais da
Providência.
2.°) AVISOS MIRACULOSOS
Visto que o homem distraído com as ocupações desta presente vida ou retido pela
incredulidade, deixa de prestar atenção aos solenes avisos verbais da Providência,
Deus emprega outro meio para se dirigir a eles: os milagres. Aliás, a finalidade do
milagre é precisamente essa: chamar a atenção do homem para as mensagens de
Deus.
Era preciso que Faraó percebesse bem que Moisés não falava em seu próprio nome
e que estava investido de autoridade divina. Para isso Deus habilitou Moisés a
produzir uma série de fenômenos tão estranhos, tão inesperados, tão fora da ordem
habitual dos fenômenos naturais, que Faraó teria de prestar atenção. Um deles foi a
vara mudada em serpente. Esse milagre deveria ter impressionado a Faraó. Não
impressionou, porque os magos do Egito, não sabemos com que meios, talvez a
prestidigitação, (técnica de iludir o espectador com truques que dependem
especialmente da rapidez e agilidade das mãos; ilusionismo, mágica) conseguiram
imitá-lo. Faraó por isso mesmo, não creu no milagre de Moisés.
Se Faraó tivesse investigado, teria descoberto duas coisas: a esperteza dos magos e
a veracidade de Moisés. Não investigou. Não convinha investigar, porque essa
investigação o levaria onde não queria ir, a saber, à análise moral da sua conduta e à
necessidade de submeter-se.
Se víssemos milagres, diziam alguns, creríamos. Faraó viu e não creu. Os judeus, no
tempo de Jesus, viram e não creram. (Jo 12:37). Porque os avisos miraculosos da
Providência muitas vezes, ficam também sem resposta.
3.°) INTIMAÇÕES CALAMITOSAS
Deus não castiga sem avisar. Sabemos disso. Isto é, não castiga definitivamente. No
caso de Faraó foi exatamente assim. Antes de dar ao soberbo monarca dos egípcios

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a merecida punição, Deus foi até o limite extremo da sua bondade. Falou-lhe pela voz
do profeta, despertou-lhe a atenção pelos fatos miraculosos e, como ele resistisse,
falou-lhe, também, pela linguagem severa do sofrimento e da calamidade.
Era preciso que o homem sentisse que a desobediência às leis naturais da justiça e
às ordens explícitas de Deus, acarreta sofrimentos e destruição.
Faraó viu tudo isso quando o majestoso Nilo se transformou em sangue, quando as
rãs invadiram o país. Viu, reconheceu que estava errado, prometeu submeter-se
forçado pela calamidade. Passado o perigo, ficou como estava. A mudança tinha sido
superficial.
Nesses avisos calamitosos da Providência, Faraó, se quisesse, teria visto a mão
divina. Não podia atribuir os fenômenos à simples operação da natureza, porque eles
vieram e desapareceram no momento exato em que Moisés mandou. E isso, como
disse Moisés, para que Faraó soubesse que ninguém há como o Senhor.
Mas o arrependimento de Faraó não era bem arrependimento, era medo. Passado o
perigo, passou também o medo. Permaneceu a insanidade e Faraó continuou a
resistir.
A importância desta lição é grande, porque mostra, de um lado, a paciência, a
longanimidade, a persistência de Deus que deseja a salvação do pecador. Mostra,
também, que os milagres e as calamidades têm um sentido espiritual: são apelos de
Deus ao pecador obstinado. De outro lado, mostra até onde chega o poder do pecado
no coração do homem que entende, reconhece, promete, mas resiste sempre.
QUESTIONÁRIO:
1. Que introdução deu Moisés às suas palavras, quando falou a Faraó?
2. Que é que Faraó não sabia?
3. Quem chamou a Moisés de mentiroso?
4. Quando foi que Moisés duvidou da sua capacidade?
5. Deus se revelou perfeitamente a Abrão, a Isaque e a Jacó?
6. Deus faz conta de multiplicação?
7. Quem era mais velho: Moisés ou Aarão?
8. Como foi que Aarão demonstrou a impostura dos magos do Egito?
9. Qual foi a primeira intimação calamitosa da Providência? E a segunda?
10. O descanso melhora sempre os homens?

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CAPÍTULO XIX - ULTIMATOS DA PROVIDÊNCIA
Leitura: (Ex 8 -10. Texto Áureo: (Ap 3:20)
É bom saber que a longanimidade divina é perfeita, é longanimidade e não conivência
com o pecado. Por isso, tem um limite.
Nas fábricas de pólvora há um dispositivo muito aperfeiçoado, que avisa os operários
quando está iminente alguma explosão. Aquele sinal é, por assim dizer, um aviso
urgente. É o último aviso. É preciso fugir para não perecer.
Há nas disposições misericordiosas da Providência avisos assim: são avisos
derradeiros, fortes, inapeláveis, dirigidos ao pecador.
Na lição que hoje estudamos, a História da Redenção apresenta os avisos finais que
Faraó recebeu. Se adotássemos a linguagem da beligerância moderna, poderíamos
dizer: “Ultimatos da Providência”. Repelidos esses avisos, segue-se o castigo final e
definitivo.
Aparece nesse ponto uma lição impressionante. O homem adia a sua submissão a
Deus, desprezando as oportunidades que a graça lhe depara, acabará, um dia,
rejeitando definitivamente a própria graça de Deus.
Mas, que é que Faraó adiava indefinidamente? Humilhar-se e deixar sair o povo. Ex
8:8, 25, 28; 9:27, 28; 10:10, 11, 16, 17, 24 e 28. Vê-se, pois, que rejeitar a graça não
é escolher o castigo só pelo castigo: é adiar a submissão a Deus, para gozar o bem
mais próximo, o lucro imediato, sem levar em conta o mal que pode vir depois.
No caso de Faraó, o lucro imediato era o serviço dos hebreus. Se ele pudesse obter
ao mesmo tempo, a oferta da graça e o lucro imediato, não rejeitaria a graça. No
começo das provas não rejeitou a graça, mas adiou a aceitação. Por estar mais perto
o lucro e parecer mais longe o castigo, é que o homem adia a aceitação e não abre
mão do lucro. Aceitar a graça é humilhar-se. No caso de Faraó era voltar atrás,
reconhecer o erro, reparar o mal. Não era fácil. Salmo 51:16, 17; Is 57:15 e Mt 23:12.
Examinemos agora os ultimatos da Providência que Faraó repeliu.
1.°) O TESTEMUNHO PROGRESSIVO DAS CALAMIDADES
Vê-se que as pragas variavam muito, mas o mal que produziam era cada vez maior.
Antes da praga dos gafanhotos Deus disse a Faraó o seguinte: “Eles comerão o resto
que ficou”. Em outros termos: as pragas foram eliminando progressivamente os
recursos vitais do Egito. Os castigos anteriores sempre deixavam alguma coisa. O
novo castigo ia reduzi-los à miséria total. Pode-se observar que o progresso foi lento,
levou tempo.
Quando veio a peste nos animais todo o gado dos egípcios morreu. Segue-se a esse
flagelo a sarna dos animais e dos homens. Depois, se vê que houve um espaço
grande entre esses flagelos. Essa série de ultimatos culminou com a praga das trevas.
Não temos elementos para determinar, nem a origem, nem a natureza desses
flagelos. Sabemos, porém, como disse Moisés, que eram causados pelo poder de
Deus e para os altos fins da sua providência.

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A praga das trevas poderia ter sido uma cegueira geral dos egípcios. Alguns
pretendem que tenha sido uma nuvem de areia, ou de pó escuro. Esta segunda
hipótese é inaceitável, porque na casa dos hebreus não havia escuridão. O fato é que
houve trevas e elas representam o estado em que se acha o homem que se obstina
em desobediência a Deus como Faraó o fez. (Ex 10:28).
Durante a praga das trevas deu-se a ocorrência mais grave. Faraó chamou Moisés e
cedeu em parte. Mas Deus não aceita senão a submissão completa. Perante essa
exigência Faraó, diferente do que fizera as outras vezes, antes que o flagelo passasse,
recusou atender a Moisés. Estava nas trevas que ele mesmo provocara. Deliberou
nas trevas, rejeitou a graça nas trevas e, nas trevas, depois de repelir o enviado de
Deus, ouviu a sua sentença final. (Ex 10:24-29).
Esse passo da História da Redenção ensina o seguinte: Deus, rejeitando o homem
para sempre, confirma apenas o que o próprio homem para se decidiu.
2.°) O TESTEMUNHO INSUSPEITO DOS HOMENS
Referindo-nos aqui aos apelos que Faraó recebeu do seu próprio povo, apelos
repetidos e aflitivos. Primeiro foram os sábios na praga do piolho que, atemorizados,
disseram: “Isto é o dedo de Deus”. (Ex 8:19). Depois foram os servos de Faraó que
procuraram persuadi-lo à obediência. (Ex 10:7). Mais edificante ainda foi o exemplo
de egípcios que, na praga da saraiva, aplicaram o seu coração à Palavra de Deus.
Recolheram e salvaram o seu gado.
Vê-se que os avisos da Providência não são inúteis porque, não obstante a resistência
de alguns e o máximo exemplo dos maiorais, outros atendem e escapam ao castigo.
É digno de menção que esse testemunho dos próprios estranhos ao povo de Deus
nunca tem faltado. Durante a vida de Jesus ouviu-se, mais de uma vez, esse
testemunho de alguns contra a obstinação da maioria. (Jo 7:47-51; Jo 10:21).
Este é o sentido das tocantes palavras que o ladrão arrependido disse ao seu
companheiro impenitente: “Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma
condenação”? (Lc 23:40).

3.°) O TESTEMUNHO DA CONSCIÊNCIA ESCLARECIDA


“Pela tua própria boca te condenarei”, está escrito na parábola das minas. (Lc 19:22).
O homem acaba sendo o seu próprio acusador, porque a Providência, ao mesmo
tempo que lhe fala pela Palavra de Deus, pelos fatos miraculosos, pela voz sinistra
das calamidades e pelo conselho dos homens, fala-lhes também pelos imperativos
indeclináveis da sua própria consciência.
É exatamente o caso de Faraó. O que ele sentiu não foi apenas medo quando as
calamidades chegaram, mas foi reconhecimento do erro que ele confessou com as
suas próprias palavras. (Ex 9:27; 10:16, 17).
Houve uma vez em que Faraó reconheceu mesmo que já estava ultrapassando os
limites da longanimidade divina. Foi quando disse: “Somente mais esta vez”. Mais
tarde, quando o castigo final chegasse, a sua consciência havia de fazer-lhe sentir
que ele mesmo tinha decidido que não queria mais ouvir. (Ex 10:28).

59
A obstinação é má conselheira. De degrau em degrau o homem desce para uma
condição irreparável.
Finalmente, a História da Redenção nos mostra que Deus executa o seu plano, sem
forçar a liberdade dos homens, sem deixar de exercer a misericórdia e mantendo
sempre os princípios da justiça. De qualquer maneira estaremos dentro dos planos de
Deus, para felicidade ou para tristeza nossa.
Felicidade, ou tristeza, dependem só de fazermos aquilo que alguns egípcios fizeram:
aplicarmos a Palavra do Senhor ao nosso coração.
QUESTIONÁRIO:
1. Para que é que Deus queria o povo?
2. Os hebreus foram atingidos pelas pragas?
3. Os animais sofrem por causa dos erros dos homens?
4. De onde vieram as pragas?
5. Os ímpios reconhecem os seus pecados?
6. Foi somente Faraó que endureceu o seu coração?
7. Uma unha faz diferença?
8. Moisés marcava datas exatas?
9. A coceira maltrata?
10. Deus suspende o sofrimento dos ímpios?

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CAPÍTULO XX - LIVRAMENTO E CASTIGO
Leitura: (Ex 11-14 Texto Áureo: Sl 145:17)
É coisa certa e impressionante que a mesma causa produz efeitos diferentes e até
contraditórios. A luz atrai as borboletas e afugenta as feras. A história da Redenção
apresenta numerosos exemplos dessa verdade certa. O mesmo fato pode ser alegria
de uns e tristeza de outros. A verdade que alguns procuram e amam, outros odeiam
e repelem. A palavra de Jesus e também os seus milagres produziram sempre efeitos
diferentes: Alguns ouviram e se converteram, outros se afastaram definitivamente de
Jesus. Podemos dizer que a verdade separa os homens. Um bom exemplo está em
(Jo 6:66-69).
A lição de hoje apresenta essa dualidade de resultados produzidos por um ato da
Providência. Para uns foi livramento, para outros, castigo.
Quatrocentos e trinta anos depois da entrada ao Egito, chegou o dia da saída dos
israelitas. Entraram no Egito 66 pessoas. A Bíblia não diz quantas pessoas saíram.
Dá apenas a conta dos homens e diz que eram coisa de seiscentos mil. Não é difícil
perceber o desarranjo que esse deslocamento em massa ia produzir na economia e
no trabalho dos egípcios. Era natural que eles reagissem contra. Era natural, mas não
era justo. Porque, se a partida dos hebreus perturbava a economia dos egípcios
restaurava também a liberdade e os direitos dos hebreus. E se os egípcios estavam
edificando grandes cidades de tesouros com facilidade e economia, era à custa da
exploração do trabalho e do sofrimento dos hebreus. O mesmo ato da Providência
produzia, pois, dois resultados: desarranjava a economia de uns e aliviava o
sofrimento de outros. Daí o título da nossa lição. O mesmo ato da Providência é
“Livramento e Castigo”. Para bem aproveitar o ensino desse grande episódio da
história da Providência, convém analisar todos os aspectos que ele apresenta.
1.°) A PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Pode-se dizer que a partida dos hebreus foi um dos momentos culminantes da sua
história. Não travaram combates. Não estavam ainda organizados social e
politicamente. Eram apenas uma grande multidão. Só uma intervenção sobrenatural
explica o êxito do seu empreendimento. Cremos no que a Bíblia ensina. (Ex 20:22;
3:20, 21; 7:4). Para comemorar esse fato importantíssimo Deus estabeleceu a pascoa.
Essa instituição tinha por fim lembrar perenemente aos israelitas que a sua libertação
era um fato sobrenatural. Mas, além de ser um rito comemorativo, a pascoa judaica
era também uma figura da páscoa cristã, assim como a libertação dos hebreus
prefigurou a libertação dos crentes por meio de Jesus Cristo. Daí a importância de
certos pormenores da páscoa:
a) Havia um sacrifício. O sangue do carneiro sacrificado era posto nas ombreiras da
porta, para salvação do primogênito. Figura evidente do sacrifício de Jesus Cristo e
do seu sangue derramado para salvação do pecador. Todos são pecadores. O que
separa uns dos outros é a aplicação do sangue de Jesus, pela fé, isto é, dos benefícios
adquiridos por Jesus Cristo. (Ex 12:13).

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b) Outra figura magistral para descrever o porte e as atitudes do verdadeiro crente que
participa de todas as coisas lícitas desta vida, mas sempre pronto para andar avante,
ou partir. (Ex 12:11).
c) A páscoa era celebrada depois da preparação de sete dias, em que eles comiam
pão sem fermento. Outro símbolo instrutivo: referia-se à necessidade da preparação
espiritual, isto é, de santificação. (Ex 12:15).
2.°) DIREÇÃO DIVINA
Logo que o povo saiu do Egito apareceu a manifestação visível da direção divina. O
povo não ia peregrinar ao acaso. Não conhecia a rota, nem podia saber, de antemão,
quais seriam as dificuldades. Uma coisa, porém, sabia: tinha uma direção, cujo sinal
estava constantemente perante os seus olhos: a coluna de nuvens de dia, a coluna
de fogo de noite. (Ex 13:17-22).
Sabemos que o povo hebreu foi uma prefiguração histórica da Igreja de Cristo. A
coluna de nuvem e de fogo é também uma prefiguração, um símbolo. Assim como o
povo hebreu foi dirigido na sua longa peregrinação pelo deserto, também a Igreja deve
ser dirigida. O livro dos atos dos apóstolos mostra que a verdadeira Igreja é, de fato,
dirigida pelo Espírito Santo. Jesus nem permitiu que os seus discípulos começassem
o trabalho antes que descesse o Espírito Santo para dirigi-los. (At 1:4, 8; 2:47; 8:26,
29, 39; 13:2; 15:28); etc..
Dentro em breve iam aparecer dificuldades e perigos muito grandes, naquela viagem
prolongada para a terra prometida. Era preciso que o povo visse um sinal bem claro
da direção de Deus, para sentir que não estava sozinho nem desamparado.
Há uma observação muito instrutiva sobre essa coluna de nuvem e de fogo. Foi na
passagem do mar vermelho. “E o anjo de Deus, que ia diante do exército de Israel, se
retirou, e ia atrás deles. Também a coluna de nuvem se retirou de diante deles e se pôs
atrás deles.” Vê-se, por esse versículo, que a coluna era apenas um sinal visível de
uma presença invisível.
Essa presença invisível dava aos hebreus a garantia de direção certa e proteção
infalível, mas exigia uma atitude permanente de reverência e santidade. (Ex 23:20-
23).
Essa mesma presença invisível apresentava dois aspectos opostos: luz para uns, e
escuridão para outros; sossego para os hebreus, e temor para os egípcios. (Ex 14:20).
A explicação é simples. Deus é perturbação para aqueles que se opõem à sua
vontade.
3.°) A JUSTIÇA DIVINA
A história da Redenção apresenta neste ponto uma lição simples, profunda e muito
instrutiva sobre uma questão difícil: a severidade de Deus. Porque o castigo dos
egípcios foi muito severo. Primeiro foram feridos no seu afeto, porque perderam os
filhos primogênitos. Depois o seu rei, junto com um numeroso exército, pereceu
afogado no mar.
Se nós considerarmos isoladamente esse castigo ele nos parece, não só severidade
excessiva, mas também notória parcialidade. Deus a favor de uns, contra os outros.

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Considerando no conjunto dos acontecimentos, esse castigo aparece como
expressão perfeita de justiça.
a) Os egípcios, admoestados várias vezes pela palavra, pelos milagres e pelas
calamidades parciais, persistiam obstinadamente na sua oposição contra Deus.
Resistiram mesmo ao apelo mais forte que foi a morte dos primogênitos. Não havia,
pois, recurso para mudá-los de seu intento.
b) A sua obstinação não consistia numa resistência abstrata à vontade de Deus. Eles
persistiam era na exploração do trabalho excessivo, do sofrimento e da humilhação
dos hebreus. Persistiam na violação iníqua dos direitos da liberdade do povo. É
verdade que a libertação dos hebreus acarretaria perturbação econômica, diminuição
de lucros e possíveis prejuízos materiais. Para não perderem coisas, sacrificavam
homens. Esse é o grande crime de todos os tempos: sacrificar os homens às coisas.
A Providência, se não agisse, tornar-se-ia conivente com esse crime. Agiu durante
muito tempo denunciando o crime e infligindo uma disciplina parcial. Os opressores
não atenderam mesmo. Deus não tarda, nem falha. É longânimo e, na hora própria,
põe termo ao crime.
Deus seria parcial se abandonasse indefinidamente os mais fracos à exploração dos
mais fortes; os oprimidos à inclemência dos opressores. Naquela contingência, ou
destruía os egípcios obstinados e conscientes do seu crime, ou abandonava nas suas
mãos o povo numeroso e indeciso, que lutava pela sua vida. A Providência agiu na
hora própria e com justiça. (Ex 14). Veja-se o (v 30). Há nesse verso uma expressão
interessante, que esclarece o nosso ponto de vista: “Assim salvou o Senhor a Israel
da mão dos egípcios”.

A justiça da Providência tem exatamente essa finalidade: tirar o chicote das mãos do
opressor.
No verso 31 aparece outra expressão elucidativa: “Viu Israel a grande mão que o
Senhor mostrava aos egípcios” — mão que opera e não permite a injustiça.

Esta lição, como já se disse, assinalou uma fase decisiva na história do povo hebreu.
Saíram do Egito e entraram na fase disciplinar e preparatória para a sua missão
histórica.
QUESTIONÁRIO:
1. Quem era o grande na terra do Egito?
2. Qual foi o maior clamor?
3. Quem faz diferença entre os homens?
4. A salada é antiga?
5. Qual é o sinal da Redenção?
6. A páscoa era culto?
7. A justiça poupa os grandes?
8. Qual foi a derradeira mudança de Faraó?
9. Qual foi a ordem de Deus aos filhos de Israel?
10. Onde estava o anjo de Deus?

63
CAPÍTULO XXI - ALIMENTO E COMBATE
Leitura: (Ex 16-18 - Texto Áureo: Rm 8:28)
Os sociólogos modernos demonstraram que o deslocamento de grandes massas
humanas cria problemas e dificuldades. Alguns problemas atuais, de ordem moral,
estão sendo ocasionados pela movimentação de homens com suas famílias, de uma
para outra parte. Quase sempre, os homens que se deslocam em massa, esquecem
os velhos padrões de moral, relaxam os costumes e se abandonam a
desregramentos. Por isso é fácil imaginar a enormidade da tarefa confiada a Moisés.
Várias coisas contribuíram não só para manter um relativo estado moral dos hebreus
em marcha pelo deserto, mas também para imprimir uma estrutura tão sólida que
havia de durar através dos séculos. Esses fatores, só por si, não teriam produzido o
efeito disciplinar benéfico que se faz sentir até hoje na existência desse povo. Mas
prescritos, dosados e aplicados pela mão de Deus, todos esses fatores influíram no
adestramento, na disciplina e no fortalecimento dos filhos de Israel. Eram fatores de
natureza diversa, e podemos resumi-los em duas classes, para mostrar duas ordens
de coisas indispensáveis como instrumento da Providência para formação do homem
e do povo: alimento e combate.
1º.) A DISCIPLINA DOS ELEMENTOS NATURAIS
Vem, em primeiro lugar, a luta inevitável contra a hostilidade do ambiente material.
Uma vez em marcha, o povo sentiu logo a falta de um elemento vital — água. Estavam
no deserto: sol e poeira. Milhares de criaturas: homens, mulheres, velhos e crianças.
Uma exigência inadiável de água em grande quantidade. Durante três dias não
acharam água.
Era um sofrimento indizível. Por pouco haviam escapado dos inimigos implacáveis e
agora enfrentavam um inimigo pior — a sede. De repente aparece água, e o povo foi
beber avidamente e não pôde. Eram águas amargas, talvez salobras. Então, veio a
revolta. Realizou-se aí, o segundo grande milagre. Sob uma ordem de Deus, Moisés
lançou um pedaço de madeira nas águas, que se tornaram potáveis. Isso aconteceu
no deserto de Sur. Dias depois, no deserto de Sim, a sede sobreveio outra vez. O
povo se revoltou. Então, veio o terceiro milagre. Deus tirou água da pedra.
No meio dessas dificuldades, conforme se diz em (Dt 8), o povo estava aprendendo
duas coisas: a lutar com dificuldades muito grandes e a sentir que vivia diariamente
na dependência do poder de Deus.
Há nesses episódios lições práticas para os crentes de todos os tempos.
Uma é que os crentes não vivem sem lutas. Também eles enfrentam dificuldades e
sofrem grandes privações; outra é que Deus, que permite a privação do crente, não a
deixa ir além de um limite suportável e, na hora crítica, intervém para trazer livramento
e salvação.
Não há dificuldade, nem crise, que Deus não possa transformar em bênção. Deus,
que tirou a água da pedra, sabe também tirar benefícios das lutas, das provações
difíceis e até das tentações dos crentes.

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Na hora dessa disciplina dos elementos materiais, e por meio dela, Deus mostra a
instabilidade do coração humano, a tendência de o homem esquecer-se das bênçãos
do passado, para ver só as dificuldades do presente, e deixar-se levar pela
incredulidade. Porque os hebreus, sempre que aparecia alguma dificuldade nova, se
revoltavam contra Moisés e murmuravam contra Deus. Em outras palavras: revelavam
uma fé superficial e uma propensão imanente e permanente para a incredulidade. O
homem é assim mesmo. (Ex 15:22-24; 17:2, 7).
Diz a Palavra de Deus que esse é o objetivo das dificuldades que aparecem na vida
dos crentes. (Dt 8:2).
2.°) A PROVISÃO DIVINA
A mera disciplina dos elementos materiais serviria para criar uma reatividade enérgica
naqueles homens, mas levá-los-ia a um de dois extremos: ou a uma confiança
exagerada em si mesmos, se conseguissem vencer as dificuldades, ou ao desânimo,
e, talvez, desespero, em caso contrário.
Deus, porém, estava educando o povo, e um dos fins desse processo educativo era
despertar e desenvolver o sentimento de confiança nele. Tornava-se, portanto,
necessário que os homens vissem, nas horas extremas, aparecer o socorro de Deus.
E viram muitas vezes.
O caso típico e representativo é o maná, o pão diário, durante quarenta anos, de várias
aplicações culinárias, com propriedades nutritivas suficientes.
Quando os homens perguntaram: — “O que é isto?” Veio a resposta de Moisés: —
“Isto é o pão que o Senhor vos dá para comer”.
Quando, mais tarde, o Senhor se referiu a esse pão, declarou que o seu suprimento
diário, cuja origem ninguém soube determinar, tinha uma finalidade: ensinar ao
homem que ele não vive só de pão, mas também da Palavra que sai da boca do
Senhor. (Dt 8:3).
3.°) A OPOSIÇÃO BENÉFICA DOS INIMIGOS
Um agricultor contou-me, certa vez, uma observação que fez num grande bosque de
eucaliptos. A ventania forte, de vez em quando, quebrava algumas das maiores
árvores. Mas eram sempre árvores que ficavam bem para dentro do bosque e, por
isso mesmo, mais bem protegidas. Não se lembrava ele de ter visto quebrada
qualquer das árvores situadas nas orlas da floresta, isto é, mais para fora. Explicação:
essas árvores que ficavam mais expostas, cresciam lutando com o vento e
consequentemente ficavam mais fortes.
Deus estava preparando um povo que dependesse dele, que reconhecesse essa
dependência, que confiasse Nele para invocá-lo nas horas extremas de angústia, mas
também um povo bastante forte para contar consigo mesmo e saber lutar.
Para alcançar essa finalidade, esse povo que estava em formação tinha de ficar
exposto a oposição dos inimigos e crescer lutando. E a luta começou cedo. A primeira
batalha foi com os amalequitas. A análise desse combate apresenta um esquema
sugestivo.

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a) Soldados lutando valorosamente contra inimigos. Deus não faz a parte do homem.
b) O profeta intercedendo na montanha pela vitória dos combatentes. Enquanto as
mãos de Moisés se conservavam erguidas na intercessão, os filhos de Israel
prevaleciam. Deus supre a deficiência dos homens que confiam Nele quando eles
oram.
c) A intercessão cansou Moisés, e foi necessário que Aarão e Hur sustentassem as
mãos cansadas de Moisés. Deus abençoa a cooperação dos homens na obra
espiritual.
Em conclusão, podemos ver melhor neste estudo da sabedoria de Deus, a sabedoria
misteriosa da Providência combinando auxílio e oposição, dosando socorro e trabalho,
permitindo sofrimento e mandando alívio, tudo para criar no o conjunto de energias e
propriedades indispensáveis ao cumprimento do seu papel histórico. (Dt 8:4, 5).
QUESTIONÁRIO:
1. Em que dia chegaram os filhos de Israel ao deserto de Sim?
2. Que é que deu saudade fios israelitas?
3. Contra quem murmurou o povo que falou de Moisés?
4. Quando apareceu a glória do Senhor?
5. A que hora o Senhor entregava o pão?
6. Que quantidade de maná era lícito colher?
7. O maná era cru?
8. Quanto tempo durou a provisão do maná?
9. De onde foi que Deus tirou a água?
10. Os generais ganham as batalhas sozinhos?

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CAPÍTULO XXII - A VOCAÇÃO E A LEI
Leitura: (Ex 18 - 20 - Texto Áureo: I Pe 2:9)
Muitos povos têm imigrado, movidos por forças diferentes. Por isso também nem
sempre os grupos humanos que se deslocaram constituíram povos fortes e nações
progressistas.
Alguns imigram obrigados pela penúria — caso muito frequente. Outros seduzidos
pela fascinação das riquezas fáceis. Caracterizam-se pelo espírito aventureiro e
pouco escrupuloso. Outros têm imigrado compelidos pelo seu idealismo, ou melhor,
pelo amor aos princípios. Perguntemos: que motivos obrigaram os hebreus a se
deslocarem para uma terra tão distante?
Se examinarmos bem as passagens que descrevem as atitudes várias vezes
assumidas por aquele povo, veremos que, em geral, não era idealismo. Pensavam no
livramento do castigo e nas facilidades de uma vida mais cômoda.
Se o futuro desse povo dependesse apenas dos motivos e tendências que
manifestavam, eles jamais teriam realizado a sua missão histórica. Entretanto, como
já dissemos noutra lição, aquele povo estava sendo dirigido pela mão da Providência.
A coluna de nuvem e de fogo, bem como a marcha pelo deserto, além de uma
realidade histórica, eram também figuras de uma realidade maior. Assim como o povo,
sem saber o caminho, era dirigido pelo deserto, pela coluna de nuvem e de fogo, assim
também esse mesmo povo que ainda não tinha qualquer idealismo estava sendo
dirigido para uma alta finalidade no palco e no cenário da história. O povo não tinha
idealismo, mas Deus tinha plano.
O que movia o povo era, talvez, a necessidade, o medo, o desejo de livramento,
comodidade e descanso. O que movia a mão condutora da Providência era o propósito
sábio de alcançar um objetivo necessário e bom.
Havia, pois, uma tarefa indispensável e difícil: afeiçoar aquela grande massa humana
para o papel que havia de desempenhar. Deus, por um processo demorado,
trabalhou, disciplinou e afeiçoou a personalidade irrequieta, egoísta e ambiciosa de
Jacó, para fazer dele o grande patriarca da raça eleita. Agora, ia também preparar a
raça para instrumento de uma tarefa da mais alta significação espiritual. Três passos
iniciais eram necessários:
1.°) ORGANIZAÇÃO – (Ex 18).
O povo que saiu do Egito estava com a fibra temperada pela disciplina sadia do
trabalho, da sobriedade e do sofrimento. Era bom material humano. Em outros termos:
era matéria prima em estado bruto. Não tinha, porém, organização. Podemos supor
que tudo se processava primitivamente, pelo regime patriarcal, isto é, pela autoridade
de cada chefe de família. No deserto, porém, apareceram problemas muito difíceis. E,
como Moisés era o condutor do povo, todas as questões vinham parar nas mãos dele.
Se fosse no tempo de hoje, diríamos que a mesa de Moisés ficou cheia de papéis e
processos sem despachos. Ele sozinho não dava conta. Naquele tempo não havia
nem mesa, nem papel, nem selo. Mas o resultado foi o mesmo. A Bíblia diz que o
povo ficava em pé diante de Moisés, o dia inteiro. (Ex 18:13). Ele sozinho não tinha
como dá conta. Estava faltando organização.

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Que é que vem a ser organização?
A nossa lição vai mostrar.
O sogro de Moisés, que apareceu no acampamento para visitá-lo, percebeu logo a
grande falha. Moisés, insensatamente, queria fazer tudo: o que só ele podia e também
o que os outros podiam fazer. Os encargos mais pesados e também os mais leves.
Resultado: obstrução, desorganização, descontentamento, indisciplina.
No tempo dos apóstolos aconteceu a mesma coisa — (At 6:1). E a medida proposta
para resolver o problema foi a mesma — organização. Jetro, o sogro de Moisés,
mandou dividir o povo em grupos pequenos de dez, cem e mil, e escolher homens
capazes para ficarem à testa desses grupos, resolvendo as questões menos
importantes, de modo que Moisés tivesse de tratar só dos assuntos mais difíceis. Isto
é organização: divisão e distribuição de trabalho, segundo a capacidade de cada um.
Veja-se também em (At 6:2-4). Esse foi o primeiro passo para fazer de um numeroso
agrupamento o esboço de um povo.
2.°) VOCAÇÃO
A Providência tinha resolvido fazer dos filhos de Israel um povo especial. E tinha
deliberado isso há longo tempo, isto é, Deus elegeu aquele povo para uma grande
missão histórica.
E’ preciso, porém, saber o que disse um grande teólogo: “Deus quando faz o profeta,
não destrói o homem”. O instrumento humano que Deus usa não é um autômato
inconsciente e constrangido. Por isso, depois da eleição, vem, necessariamente, a
vocação. Paulo disse que Deus o separou para o ministério quando ele ainda estava
no ventre de sua mãe. Isso foi a eleição. Pode-se, em rigor, dizer que a eleição não
tem tempo porque é eterna. O que Paulo estava pretendendo dizer é que antes do
seu nascimento já estava eleito. Mas a vocação não é assim. Tem hora marcada e
constitui um fato histórico. Paulo foi chamado no caminho de Damasco. Eleito, desde
muito tempo, Deus o chamou em determinado momento para que ele cumprisse,
consciente e voluntário, o desígnio apontado pela Providência. Isso é a vocação.
Com o povo de Israel foi a mesma coisa. Três meses depois de sair do Egito, no
deserto de Sinai, o povo recebeu a sua vocação histórica. Foi, talvez, o ponto
culminante e, por assim dizer, crucial da sua história. Até então, embora tivesse
aceitado as disposições auxiliares da Providência, não ouvira falar claramente, nem
da sua eleição, nem de seu papel. Não tinha também assumido qualquer
compromisso. Nessa ocasião Deus o chamou, Deus o convidou para associar-se,
livremente, ao grande plano eterno. Deus lhe ofereceu o privilégio grande das
responsabilidades morais e espirituais. E o povo depois de ouvir a Moisés, examinar
as condições da proposta divina e de uma devida preparação espiritual, celebrou o
pacto com Deus. (Ex 19), principalmente os versículos 5-8.
3.°) A LEI
Na vocação dos filhos de Israel eles se comprometeram a observar a Lei do Senhor.
À vocação, por isso, seguiu-se a promulgação da lei. Primeiro Deus mostrou que podia
promulgar a Lei. Duas razões haviam para isso:

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a) O povo já tinha reconhecido a autoridade de Jeová e se comprometeu a guardar a
Lei. (Ex 19:8).
b) Jeová tinha mostrado que Ele era o Senhor da terra e do céu, dizendo: “Eu sou o
Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito”.

Deus resumiu a lei em dez mandamentos, que abrangem a generalidade das relações
humanas. Esse decálogo é apenas uma expressão verbal da lei. Mais tarde aparecerá
uma condensação verbal mais perfeita dessa mesma lei. (Dt 6:5 e Lv 19:18). Jesus
reuniu essas duas passagens e disse que elas são o resumo da lei. (Mt 22:37-40).
Convém repetir que esses mandamentos são apenas expressões verbais da lei. A
palavra humana não esgota, nem pode conter toda a lei. Antes dessas expressões
verbais já a lei existia: porque o homem não foi criado sem lei. E quando o homem for
restaurado definitivamente à perfeição e santidade originais, não haverá mais
necessidade da expressão verbal da lei, isto é, de lei escrita ou falada. (Hb 8:8-11; Jr
31:31-34). A imperfeição moral do homem é que exigiu a lei falada, a lei escrita. O
homem perfeito tem a lei escrita inerente no seu próprio coração, na sua própria
natureza.
Convém ilustrar. Há pessoas de memória fraca e prejudicada: Precisam de lembretes
e notas escritas. Quando a memória é perfeita, não há necessidade disso. O mesmo
se pode dizer da natureza moral: quando ela estiver aperfeiçoada completamente, não
haverá necessidade da lei escrita — o homem saberá, por si mesmo, o que é direito.
A expressão verbal do decálogo pode-se dividir em duas grandes partes extremas e
uma intermediária:
a) Mandamento sobre as relações com Deus. São os três primeiros.
b) Mandamentos referentes às relações com Deus e com os homens: o quarto
mandamento.
c) Mandamento referente às relações com os homens: os seis últimos.
Se os homens observassem esse decálogo, a vida seria muito diferente. Séculos
sobre séculos decorreram desde que Deus promulgou essa lei tão simples, tão
prática, tão necessária. Os hebreus não a guardaram como devia, quebraram o pacto.
Daí aprendemos uma lição. A simples expressão verbal da lei é insuficiente para
salvar o homem. Dá-lhe, é certo, uma noção mais exata do dever, mas não lhe dá
forças para cumpri-lo. O povo israelita é uma demonstração histórica dessa verdade.
Foi isso que disse Estevão ao Sinédrio em Jerusalém: vocês, que receberam a Lei por
intermédio de anjos, mas não lhe obedeceram. (At 7:53).

Cabe aqui uma pergunta: qual é a finalidade da lei, nesse caso? Responde Paulo: “ A
lei serve de guia para nos levar a Cristo”. (Gl 3:24). A lei é a medida moral e tem uma
função: fazer o homem sentir a sua deficiência moral e, portanto, a sua completa
dependência de Cristo para satisfazer a lei. O povo de Israel teve uma dupla função
histórica:
a) Receber essa lei, guardá-la zelosamente e transmiti-la ao mundo.
b) Demonstrar historicamente que o homem, ainda quando conhece a lei, não a
guarda perfeitamente e, portanto, precisa de um Salvador.

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QUESTIONÁRIO:
1. Como se chamava o sogro de Moisés?
2. Quem era Gerson? O beijo é antigo?
3. Um homem humilde pode dar conselhos a um homem ilustre?
4. Onde foi que o povo recebeu a lei?
5. Em que dia o Senhor se manifestou?
6. Que foi que Moisés disse ao povo quando desceu do monte?
7. Onde é que Deus estava?
8. Que foi que Moisés expôs aos anciãos?
9. De onde foi que Deus falou?

70
CAPÍTULO XXIII - A SOBERANIA DE DEUS
Leitura: Ex 20:3; At 17:34; Ap 15:1-8 - Texto Áureo: Is 42:8.
A grande contribuição do povo hebreu para o mundo inteiro é a sua concepção
religiosa, o seu monoteísmo. O decálogo estabelece não só a concepção monoteísta
como ideia, mas a exclusividade de Jeová como objeto de culto. “Não terás outros
deuses além de mim”. Qualquer transgressão dele importa em pecado muito grave.
Só Deus é Deus: adorar outros seres é adorar o falso e ficar, por isso, com a alma
sempre inquieta e insatisfeita — porque só Deus satisfaz a alma humana.
Embora monoteísta, o povo hebreu mais de uma vez transgrediu esse mandamento
e, por isso, ficou exposto às mais severas penalidades da justiça divina. Os mesmos
pecados e transgressões dos hebreus contra esses mandamentos têm sido e estão
sendo cometidos por outros povos e grupos que se julgam monoteístas.
Convém, pois, examinar as formas frequentes e mais comuns de transgressões do
primeiro mandamento.
O primeiro estatuto do decálogo estabelece a supremacia de Jeová e, sendo Ele o
Deus Supremo, o único Deus verdadeiro, é claro que só Ele pode receber culto e
adoração.
Culto e adoração consistem em dar a Deus o que só Deus tem o direito de receber, e
em pedir a Deus o que também só Deus pode dar. Não é, pois, difícil perceber qual é
a natureza das transgressões do primeiro mandamento.
1.°) APOSTASIA
Paulo fala desse pecado, em termos bem explícitos. “Ninguém de maneira alguma
vos engane; que não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o
homem do pecado, o filho da perdição. O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que
se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de
Deus, querendo parecer Deus.” (II Ts 2:3-4).
O apóstata, isto é, aquele que se afasta do seu lugar, segundo entende São Paulo, é
todo aquele que se coloca a si mesmo no lugar de Deus. O texto não trata
propriamente de algum personagem histórico, mas de todo indivíduo que, no seu
próprio coração, coloca a Deus em segundo lugar, que atende mais à sua própria
vontade que à vontade de Deus. É o homem ególatra.
Muitas são as formas que pode assumir a egolatria, isto é, o culto de si mesmo: a
vaidade, a soberba, a avareza, etc. Em qualquer desses pecados a essência é uma
só: o homem está dando a si mesmo, ao seu querer, ao seu capricho, a supremacia
que só a Deus se deve dar. Estima-se a si mesmo, como se fosse Deus.
2.° A INVOCAÇÃO DOS SANTOS
É outra transgressão do primeiro mandamento. Há, indiscutivelmente, uma forma de
culto em que os santos são objetos de adoração. O Concílio Tridentino diz que aqueles
que afirmam que invocar os santos é contrário ao ensino das Escrituras, pensam
impiamente. Além disso a existência de santuários consagrados a santos e de oração

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que lhes são dirigidas, mostram que existe esse culto pecaminoso. Contra essa
transgressão do primeiro mandamento podemos alegar as seguintes razões:
a) Não há exemplo dos apóstolos e dos primeiros cristãos se dirigirem aos santos.
b) Jesus Cristo ensinou que toda oração e apelo dos crentes aflitos, devem ser feitos
diretamente a Deus, em nome de Jesus Cristo.
Uma coisa é certa: a invocação dos santos tem contribuído para afastar muitas almas
sinceras do verdadeiro culto. Casos há em que esse culto tem feito nascer uma
preferência afetiva pelo santo invocado, em detrimento do amor que o homem deve a
Deus. É transgressão não só do primeiro mandamento, mas também daquele grande
preceito que Jesus Cristo colocou acima de todos: “Amarás ao Senhor teu Deus de
todo o teu coração”.

3-°) A ADORAÇÃO DOS SANTOS


As Escrituras não poderiam ser mais claras do que quando ensinam que só a Deus
se deve adorar. "Adore o Senhor, seu Deus, e preste culto somente a ele." (Mt 4:10).
E não há distinção na Bíblia entre culto mais alto e culto secundário. Tudo é culto.
Culto é adoração e pertence a Deus.
Os apóstolos e os primeiros cristãos só adoravam a Deus. No Apocalipse, onde
aparecem cenas majestosas de adoração, não se menciona qualquer outro ser
adorado a não ser o próprio Deus. (Ap 4 :10,11; 5:8,14; 7:9) e etc.
Os apóstolos jamais consentiram em ser adorados. Nunca permitiram que os homens
lhes apresentassem qualquer forma de reverência que pudesse, de qualquer modo,
ser confundida com adoração. (At 10:24, 25, 26; 14:14, 15). Os seres celestiais que
apareceram aos homens não consentiram em ser adorados. (Ap 22:8, 9).
Diante desses fatos podemos afirmar, com toda a segurança, que prestar culto a
qualquer criatura é pecado muito grave. Só Deus deve ser adorado. Esta lição mostra
a necessidade de evangelizar o Brasil onde o povo, que não conhece a Bíblia, está
transgredindo o primeiro de todos os mandamentos. Mostra também que é preciso
instruir os crentes evangélicos, a fim de que eles se mantenham em toda a pureza o
verdadeiro culto.
QUESTIONÁRIO:
1. Que serviço Deus alegou para dar os mandamentos?
2. Qual é o primeiro mandamento?
3. Quem pediu para ser adorado? (Mt 4:9).
4. Como se chama aquele que toma o lugar de Deus? (II Ts 2:3, 4).
5. Que homem não quis tom ar o lugar de Deus? (Gn 50:19).
6. A quem devemos invocar sempre? (Rm 10:13).
7. Em nome de quem devemos orar sempre?
8. Que homem repeliu a adoração? (At 10:25, 26).
9. Os anjos aceitam adoração? (Ap 22:9).

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CAPÍTULO XXIV - A ESPIRITUALIDADE DO CULTO
Leitura: (Is 44:1-20; Ex 20:4-12 - Texto Áureo: Dt 4: 15).
O segundo mandamento estabelece a espiritualidade do culto e proíbe
terminantemente a idolatria. Por essa proibição ficam interditas quaisquer
representações visíveis de Deus. Uma das perfeições de Deus é justamente a sua
invisibilidade. Assim ensinou Paulo, quando disse que as perfeições de Deus são
invisíveis. (Rm 1:20). E também quando exclamou: “Ao Rei dos séculos, imortal,
invisível, ao único Deus seja honra e glória para todo sempre.” (Tm 1:17). Noutro lugar
ele diz que nenhum dos homens viu e nem pode ver a Deus. (I Tm 6:16). João ensina
que jamais homem algum viu a Deus. (Jo 1:18 e I Jo 4:12). Moisés lembrou aos
hebreus que no dia em que Jeová se manifestou a eles, eles ouviram a voz das
palavras, mas não viram semelhança nenhuma. E fez, então, o seguinte aviso muito
solene: Tenham cuidado! Guardem bem a sua alma. Porque vocês não viram aparência
nenhuma no dia em que o Senhor, o Deus de vocês, lhes falou em Horebe, no meio do
fogo. Portanto, tenham cuidado para não se corromperem e fazerem para si alguma
imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher,.. (Dt 4:15,
16).
Qualquer representação material da divindade, pois, é pecado muito grande. Tanto
assim que no segundo mandamento, depois de interditar peremptoriamente o uso de
imagens para o culto, Deus diz que a punição dos idólatras alcança a posteridade até
a terceira e quarta geração.
Uma simples observação da história mostra que esse castigo vem mesmo. Os povos
idólatras são povos decadentes e corrompidos na vida moral. O homem não degrada
o culto, sem deformar-se a si próprio; não degrada o seu conceito de Deus, sem
embrutecer-se moralmente. A doutrina é de Paulo. Em vez de adorarem ao Deus
imortal, adoram ídolos que se parecem com seres humanos, ou com pássaros, ou com
animais de quatro patas, ou com animais que se arrastam pelo chão. Por isso Deus
entregou os seres humanos aos desejos do coração deles para fazerem coisas sujas e
para terem relações vergonhosas uns com os outros. (Rm 1:23, 24).

Na lição anterior aprendemos que a adoração só se deve dar a Deus. As Escrituras


não indicam nenhuma forma de culto que se possa dar às criaturas. O segundo
mandamento ensina que Deus não pode ser adorado sob nenhuma representação
visível, ou sob qualquer figura material. E a razão é clara. Não é possível fazer
nenhuma representação visível que não seja cópia, ou figura das coisas que o homem
já viu. E tudo que o homem já viu, é criatura. Fazer uma representação visível de Deus
é, portanto, apresentá-lo sob figura de qualquer coisa criada; é dar uma ideia falsa e
errada do Criador. É exatamente isso que as Escrituras proíbem. (Dt 4:16, 17. Rm
1:23, 25).
Mas o mandamento, além de proibir as representações materiais de Deus, proíbe
também qualquer outra forma de idolatria. O homem, feito à imagem e semelhança
de Deus, não pode inclinar-se para adoração diante de nenhum objeto material, nem
de qualquer outra criatura. O mandamento diz explicitamente: Não se curve diante
deles nem os adore. (Ex 20:5)

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Ainda que o assunto não seja agradável, é preciso apresentá-lo aqui. Um dos maiores
erros do romanismo é a idolatria. Nos nossos templos não há, nem poderia haver
imagens. Se as imagens usadas no culto romano são idolatria, então manda a nossa
lealdade a Deus e aos homens que nós, usando a linguagem mais caridosa e cheia
de respeito, denunciemos, entretanto, esse grave pecado.
Convém examinar os argumentos e as razões apresentadas pelos romanistas, a fim
de justificarem o uso das imagens no culto e para o culto.
1º.) Afirmam que Deus também mandou fazer imagens, quando mandou Moisés fazer
os querubins e a serpente de bronze. Ex 25:18-21. Nm 21:5-9. Jo 3:14, 15.
Responde-se: Os querubins foram feitos por ordem expressa de Deus. A exceção veio
de quem o podia dar. A Igreja Romana não poderá mostrar qualquer ordem que Deus
tenha dado para fazer imagens que estão sendo usadas no seu culto. Ninguém se
ajoelhava diante dos querubins, nem lhe dirigia orações, nem lhe fazia promessas,
nem trazia consigo pequeninas cópias, como os romanos fazem com as imagens que
usam. Ainda mais: os querubins estavam colocados no santo dos santos, isto é, no
santuário mais interior, onde ninguém os via, a não ser o sumo sacerdote. A serpente
de bronze foi uma representação de um castigo severo que Deus mandou. E, quando
os hebreus começaram a adorá-la, Deus mandou destruí-la. (II Rs 18:4).
Reprisemos o seguinte: proibida a fabricação de imagens para qualquer uso de culto,
o homem que teme a Deus não ousará mais fazê-las, a não ser que Deus mesmo
expressamente o determine, e somente para os casos e fins que ele determinar. E
esse foi o caso da serpente de metal e dos querubins. Fora desses não há outro, e já
se viu que não foram feitos para objeto de culto.
2.°) As imagens são representação que auxiliam a concentrar a atenção e facilitam o
culto.
Responde-se: Essas imagens não representam coisa nenhuma. São meras criações
da imaginação humana. A prova disso é que, no caso das imagens da Igreja Romana,
o mesmo santo é representado sob figuras muito diversas, como acontece, por
exemplo, com a virgem Maria que hora é loira, hora morena e, às vezes, até mulata.
Além do pecado da idolatria, essas representações constituem uma falta de respeito
muito grande. Nenhum de nós gostaria que a pessoa querida de sua própria mãe
fosse representada desse modo pouco respeitoso. Além disso, o culto só se deve a
Deus, a quem não é possível representar de maneira nenhuma. O uso de imagens,
portanto, em vez de ajudar, perverte o culto.
3.°) As imagens são usadas como os retratos de família, e ninguém diz que guardar o
retrato de um pai, de uma irmã, de um amigo, é pecado.
E’ verdade e, por isso mesmo, é que o argumento não tem valor nenhum. Porque
ninguém fez com os retratos de família aquilo que faz com as figuras e imagens de
santos. Ninguém se ajoelha diante desses retratos, ninguém lhes atribui milagres.
Alguém poderá dizer que a oração é dirigida não a imagem, mas ao santo que ela
representa.
Na prática não é assim. Antes de tudo convém lembrar que Jesus não mandou, nem
autorizou fazer oração a santo nenhum; oração é só a Deus e em nome de Cristo.

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Na prática vemos carregar determinadas imagens, tidas como miraculosas, de uma
para outra parte. O povo faz peregrinações ao santuário de determinadas imagens.
Se o povo em vez de orar à imagem, orasse ao santo, usaria qualquer imagem do
santo, em qualquer lugar, sem as despesas e o sofrimento de uma viagem muito
longa.
Mas, quem observa as imagens do culto romanista, vê logo que não existe entre elas
e os retratos de família qualquer analogia. Muitas dessas imagens são grotescas,
disformes e não tem a mais remota relação com o suposto original. Além disso não
há respeito, onde não há obediência. Ora, os santos que existem mesmo e estão no
céu, são pessoas tementes e obedientes a Deus, e não podem receber com agrado
uma homenagem que transgride a lei de Deus.
4.°) As imagens não são para adorar, mas servem para fins pedagógicos, isto é, para
o ensino, para ajudar as pessoas menos cultas entender certos mistérios e verdades
da revelação.
A prática mostra que não é verdade. As imagens em vez de contribuir para o melhor
conhecimento de Deus e suas relações com os homens, o que tem feito é perverter o
culto. A prova é que os ignorantes, isto é, os que mais precisam de ensinos é que
acabam adorando as imagens.
Mas a Igreja Romana não usa imagem para ensino, em lugar nenhum, em tempo
algum. O único uso de imagens que nela vemos é para culto mesmo.
Em conclusão: Há 4 razões fortes para combater o uso das imagens no culto.
a) É uma violação da lei de Deus, punida com severidade. Ap 21:8.
b) É uma ofensa muito grave contra Deus. Rm 1:25.
c) É uma insensatez. Is. 44:16-20.
d) Produz consequências morais e sociais terríveis. Rm 1 :28, 29.
É o que se vê na prática. Não há um país idólatra que não seja também um país de
perdição moral, de decadência social e de muita superstição.
QUESTIONÁRIO:
1. Que é que Deus proíbe no segundo mandamento?
2. Como é o castigo dos idólatras?
3. Até onde chega a misericórdia de Deus?
4. Onde ficarão os idólatras?
5. Que fazem os idólatras? (Rm. 1.23).
6. Que acontece à sabedoria dos idólatras? (Rm 1:22).
7. A quem a pessoa idólatra honra? (Rm 1:25).
8. Podemos ser indiferentes à idolatria? (Rm 1:32).
9. Qual foi o sentimento de Paulo perante a idolatria? (At. 17:16).
10. Qual é a diferença entre o verdadeiro crente e o idólatra? (I Co 12:2, 3).

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CAPÍTULO XXV - O DESCANSO DO SENHOR
Leitura: Ex 20:8-11 e 23:10-13 - Texto Áureo: Mc 2:27.
“Desperdicei o tempo e agora é ele quem me consome”, diz Shakespeare. Na
verdade, o tempo, tão abstrato, imponderável e misterioso, é condição, fator
indispensável para o homem alcançar outros valores. Ninguém desperdiça tempo sem
prejudicar-se irreparavelmente. Uma das maiores tolices afirmadas por gente de bom
senso é: “Tempo é dinheiro”. Grande tolice, porque o corpo vale muito mais do que o
dinheiro. O dinheiro é um valor convencional, depende do homem. O tempo é um valor
absoluto. O homem depende dele. Dinheiro perdido, pode ser recuperado,
multiplicadamente. O tempo, disse Bach, é o único bem que não se pode possuir
duas vezes.
Destas considerações e de outras que poderíamos acrescentar, transparece
imediatamente a importância do quarto mandamento. É o mandamento do tempo. Os
intérpretes apressados e superficiais veem no quarto mandamento apenas a
indicação de um determinado dia santo, e disto fazem grande cabedal. Quero repetir:
interpretação superficialíssima. O mandamento não visa apenas um dia, abrange o
tempo todo do homem. É o mandamento do tempo.
Não encontramos na Bíblia uma divisão do ano e do mês, feita por Deus. Esse
encargo Deus o deu aos homens, deixando-lhes para isso os movimentos regulares
dos astros. (Gn 1:14). Mas não confiou ao homem o privilégio da única divisão exata
do tempo, indispensável ao equilíbrio das relações de homem para homem, e do
homem com Deus. Deus estabeleceu a semana, a semana de sete dias. Repito: o
mandamento é uma divisão exata de todo o tempo do homem, em períodos regulares
de sete dias, e não a simples determinação de um dia santo. Duas perguntas podem
ser provocadas pelo quarto mandamento.
1.°) Porque é que guardamos o domingo e não o sábado?
2.°) Que necessidade há de separar uma parte tão grande do tempo, do tempo breve
da nossa vida? Em outras palavras: qual é a finalidade do mandamento sabático?
I) Para responder à primeira pergunta, convém analisar cuidadosamente o quarto
mandamento.
a) O mandamento não exige a guarda de um dia porque ele se chama sábado. O
mandamento não exige mesmo a guarda de um determinado dia. O que o quarto
mandamento estabelece, como já disse atrás, é a divisão do tempo em períodos
regulares de sete dias cada um. O mandamento não marca um dia, mas uma semana.
Desses sete dias o mandamento deixa seis para o homem, para o seu trabalho, suas
diversões, seus interesses individuais, e separa um para o Senhor. A importância,
pois, do preceito não é um dia da semana chamado sábado, mas a divisão do tempo
e a aplicação honesta dos dias, a saber: seis no trabalho e um no descanso.
b) O mandamento não diz em que dia da semana se deve começar a contagem, nem
diz que o sétimo dia da semana será chamado sábado. A expressão sétimo dia da
semana não aparece na Bíblia. O que a Bíblia diz é apenas o seguinte: “Trabalharás
seis dias”. Depois de seis dias, só pode vir um dia — o sétimo. Note-se, porém, que é

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o sétimo dia da contagem e não o sétimo dia calendarizado, o sétimo dia da folhinha
que, por tradição, se chama sábado.
De acordo com a leitura do mandamento, uma pessoa que trabalha quaisquer seis
dias e separa, regularmente, o dia que vem depois, a saber, o sétimo da contagem,
essa pessoa guarda a letra do mandamento porque divide o seu tempo em períodos
regulares de sete dias, dos quais seis emprega no seu serviço e um reserva para o
Senhor.
Cabe aqui uma pergunta: Nesse caso, porque é que todos somos obrigados a guardar
um dia só?
Há duas respostas.
Nunca foi possível que todas as pessoas, sem excetuar uma só, pudessem repousar
no mesmo dia. Para muitos guardarem o mesmo dia é indispensável que alguns façam
o seu repouso em outro dia. Para o povo hebreu ir ao templo, ou ao tabernáculo dar
culto ao Senhor no dia separado para isso, era indispensável que serventuários e
sacerdotes do templo trabalhassem no sábado. (Mt 12:5). E isso na vida antiga,
menos. complicada, e distâncias curtas percorridas a pé. Hoje, com as distâncias
longas e a necessidade de condução, de assistência hospitalar e outras, para que
muitos possam aplicar a lei do descanso sabático é preciso que alguns trabalhem
nesse dia.
Mas há outra resposta. Se cada pessoa marcasse, arbitrariamente, o seu dia de
repouso, ninguém poderia observar o descanso, porque resultaria um inevitável
desencontro de atividades, de serviço e relações. Tornou-se, pois, necessário
regulamentar a aplicação do mandamento, marcando para todos um dia só,
excetuando, naturalmente, aqueles cujos serviços fossem indispensáveis nesse dia.
Quando João afirma que Jesus violou o sábado, não estava dizendo que Ele quebrou
o mandamento. O que Ele estava quebrando era a regulamentação mosaica, a
regulamentação que permaneceu até a era apostólica. Nessa época, os apóstolos
começaram a fazer o repouso no primeiro dia, estabelecendo uma nova
regulamentação do mandamento. Depois da ressurreição de Cristo, os discípulos
passaram a reunir-se no primeiro dia da semana. Daí é que data a nova
regulamentação. E quem separa seis dias e descansa naquele que vem depois
desses seis de trabalho, guarda a letra do quarto mandamento. Se esse dia separado
para o descanso for o primeiro dia da semana, então será observado a letra do quarto
mandamento e a regulamentação apostólica.
b) O mandamento diz explicitamente o seguinte: “Trabalharás seis dias. . . O
sétimo dia é o sábado. . . ”
É preciso lembrar que a palavra sábado, na linguagem do Velho Testamento, não
significava o que hoje está significando, isto é, dia de semana. A palavra sábado é
descanso. Qualquer período separado para descanso do homem, ou da terra, era
chamado sábado, ainda que durasse muitos dias. O primeiro exemplo é o ano
sabático. A linguagem usada é exatamente a mesma do mandamento que estabelece
o dia sabático. Lv 25:1-7. Em Ex 23:10-12, vem juntos o sábado de um ano e o sábado
de um dia. Em outras palavras: uma semana de anos para a terra, uma semana de
dias para o homem. Depois de trabalhar seis anos, o ano que se seguia era

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necessariamente o sétimo, e chamava-se sábado. Havia também um dia anual, o dia
da expiação, que podia cair em qualquer dia da semana, porque era o dia do mês
sabático. Lv 16:31 e 23:27-32. Esse dia era também chamado Sábado, porque nele o
povo era obrigado a cessar o trabalho e descansar. Segue-se, pois, que o vocábulo
Sábado, no quarto mandamento, não está indicando um certo dia da semana, porque
a Bíblia não é folhinha. Está indicando, sim, o dia em que o povo havia de descansar,
após os seis dias da contagem. Ex 23: 12; 20:10; 31:13-17.
As Escrituras usam mesmo a expressão “sábados” para indicar esses períodos de
descanso. Acrescente-se ainda que o sábado em que Deus descansou e que vem
citado no quarto mandamento, é um sábado que ainda não terminou. Dura desde o
momento em que Deus acabou a criação. Gn 2:1-3. Hb 4:1-11.
Concluímos, pois, a exposição desse assunto, com o seguinte resumo.
A letra do quarto mandamento divide o tempo do homem em períodos regulares de
sete dias, dos quais seis são para o indivíduo e um para o Senhor. Mas, para que o
mandamento fosse cumprido, era preciso regulamentá-lo. Moisés marcou, então, um
determinado dia para ser o dia de descanso. Desde então, esse dia ficou sendo
chamado sábado. Deus deu a lei, o mandamento, e Moisés fez a regulamentação. No
tempo dos apóstolos foi feita outra regulamentação. Continua o mesmo mandamento,
a mesma lei, sem ser mudada, mas com outra regulamentação.
III) Qual a finalidade do dia do sábado?
Até aqui tratamos da letra e sua regulamentação. Agora vamos tratar do espírito.
Jesus responde: “O sábado foi feito para o homem”. Nesse caso, parece haver uma
contradição na Bíblia, porque em outros lugares a Bíblia diz que os sábados são do
Senhor.
A explicação é simples e preciosa. O termo homem pode ser empregado em dois
sentidos: pode indicar o indivíduo e pode indicar a raça. Deus concede ao indivíduo
seis dias e separa um para a raça. Deus não tem necessidade do nosso tempo, Deus
é eterno. Mas o homem, o indivíduo não deve nem pode viver só para si, para seus
interesses individuais e terrenos. Deus, então, divide o tempo de tal maneira, que uma
parte seja empregada em benefício da raça. O sábado foi feito para o homem, isto é,
para a raça, para defesa, proteção e cultivo espiritual da raça. O sétimo dia não
pertence ao indivíduo. Se ele for honesto, não gastará consigo mesmo aquilo que é
dos outros. Se for temente a Deus, observará zelosamente a sua lei, na letra e no
espírito. Cuidará de si mesmo material e espiritualmente. Materialmente, durante os
seis dias, como diz o mandamento, fazendo todas as coisas, para não ser obrigado a
invadir o tempo do Senhor. Cuidará de si, espiritualmente, no sétimo dia, a fim de que
possa estar habilitado a ser uma bênção para o seu semelhante. É, portanto, o dia do
descanso para restauração das forças físicas. O homem não tem o direito de extenuar-
se, porque pertence à raça. Não pode estragar o que não é seu e tornar-se, depois,
uma sobrecarga para os outros. É o dia do culto. É também o dia da assistência aos
enfermos, aos desamparados, aos presos.
Há quem alegue não ter tempo para a visitação dos enfermos, aflitos e necessitados.
A essa alegação pode-se opor uma pergunta: Que faz então no tempo do Senhor?

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O descanso sabático é uma garantia da liberdade individual daqueles que são
obrigados ao trabalho assalariado para viver. Diz o mandamento: “Mas o sétimo dia é
o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho,
nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento,
nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o
teu servo e a tua serva descansem como tu.” (Dt 5:14).
Vistos o espírito e a letra do mandamento, convém lembrar que ele é de aplicação
universal, no tempo e no espaço. Não há época, nem lugar onde não seja necessário
obedecer a esse preceito. Jesus não disse que o sábado foi feito para o judeu, diz
coisa muito diferente. “O sábado foi feito para o homem”. Onde quer que esteja o
homem, portanto, é preciso obedecer a esse mandamento.

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CAPÍTULO XXVI - PROMESSAS E REGULAMENTAÇÃO
Leituras: Ex 21-24 - Texto Áureo: Rm 13:9.
A terceira parte do decálogo são seis mandamentos sobre as relações humanas.
Esses preceitos mostram o grande valor do homem aos olhos de Deus e, por isso
mesmo, o grande respeito que se lhe deve.
A fim de que não ficasse pairando qualquer dúvida sobre a interpretação e a aplicação
desses preceitos, Deus deu a Moisés uma exposição particularizada de todos eles.
Encontramos essa exposição nos capítulos 21, 22, 23 de Êxodo.
Depois de dados os mandamentos, além de mostrar aspectos particularizados e
aplicação, era preciso também prescrever as diversas penalidades, não só para que
a lei se tornasse prática, mas também para impedir que os homens exagerassem o
castigo de qualquer transgressão.
Podemos resumir o assunto desses capítulos no seguinte título: “Respeito ao homem”.
1.°) RESPEITO À VIDA E À INTEGRIDADE FÍSICA
São severas as leis contra o homicídio. A revelação estabelece a pena de morte para
o homicídio intencional e voluntário. (Ex 21:12,14). No caso de um homicídio
involuntário, o autor não seria executado pela justiça, mas tinha de fugir para uma
cidade de refúgio, porque, se os parentes da vítima o encontrassem, era lhes permitido
matá-lo — tal era o respeito à vida humana que a lei impunha.
A severidade da lei ia mais longe. Punia, sem remissão, todo o insulto físico, “olho
por olho, dente por dente”. Os donos de animais eram responsáveis pelos danos que
eles causassem a qualquer pessoa. No caso, por exemplo, do animal ser bravio, e do
seu dono não ter tomado providências para conservá-lo preso, se ele matasse
alguém, o dono pagava com a própria vida o seu desleixo.
Essas e outras medidas mencionadas pormenorizadamente, tinham o duplo objetivo
de mostrar a natureza sagrada da vida e a obrigação indeclinável de reparar qualquer
dano feito contra ela. Nesse ponto a história da Redenção começa a mostrar que,
depois do pecado cometido, a justiça exige inexoravelmente uma reparação completa.
E, portanto, o pecador tem diante de si duas alternativas só: ou recebe o castigo que
a justiça exige, ou aceita a reparação cabal que Jesus Cristo ofereceu na cruz em seu
lugar, “olho por olho, dente por dente”..
2.°) RESPEITO À PESSOA.
Vários são os pecados contra a dignidade da pessoa. O falso testemunho, isto é,
pecado de língua. Pecado frequente e quase sempre tratado e tolerado com
benevolência. Aparece, muitas vezes, sob a forma perigosa e maligna da
maledicência. Algumas vezes assume a forma torpe da mentira, por interesse, por
medo, ou por vingança. Outras vezes sob a forma de prevaricação, nos tribunais. Em
qualquer dos casos, esse pecado atenta contra a dignidade da pessoa humana, e
grande a severidade com que as Escrituras condenam. Quando a ofensa das palavras
era contra os pais, o castigo era a morte. (Ex 21:17). O livro de Provérbios diz que
Deus aborrece seis coisas e abomina a sétima. A sétima coisa que Deus abomina é
a seguinte: “O que semeia contendas entre os irmãos”. Pv 6:19.

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Qualquer que seja a condição, o estado, a raça do homem, a Bíblia exige que se
respeite a pessoa humana. E menciona vários casos. Assim é que proíbe afligir o
estrangeiro, o órfão e a viúva. Por isso, também, proíbe a penhora definitiva, bem
como palavras pouco respeitosas para com os magistrados.
Ensinando-nos esse respeito, a Revelação nos mostra que as distinções econômicas,
raciais, de estado civil, ou quaisquer outras, são puramente acidentais. Em todo lugar,
e em qualquer condição, o homem apresenta sempre a mesma essência digna de
respeito.
3.°) RESPEITO À PROPRIEDADE
A legislação divina mandou punir com todo rigor os atentados contra a propriedade. A
reparação, porém, era feita em espécie. O ladrão, em certos casos, tinha de fazer a
restituição total e, em outros, tinha de pagar o dobro. Em outras palavras, pois, o
castigo do roubo era sempre a restituição. Restituído o objeto roubado, e feita a
necessária indenização, não havia qualquer outro castigo. Não havia a pena de prisão.
No caso de o ladrão não poder pagar, havia uma pena severíssima — era vendido
pelo furto.
Essa severidade tinha em vista impedir o furto e, além disso, estabelecer a natureza
da verdadeira propriedade. Só é próprio aquilo que é legitimamente ganho. Por isso,
também, a verdadeira propriedade é sagrada porque é produto de trabalho e até de
sofrimento.
Esses mandamentos que se referem ao respeito do homem pelo homem, devem ter
por base um sentimento mais profundo: temor a Deus, ao Deus invisível, mas presente
para dirigir o seu povo.
Cumpridos os mandamentos, pelo temor ao anjo de Jeová que ia adiante para dirigi-
lo, cumpridas seriam também as promessas feitas por Deus: vitória sobre os inimigos,
prosperidade material e bênção para a família.
Nesse ponto a história da Redenção mostra figuradamente, por meio do povo hebreu,
a condição futura da Igreja. Os hebreus teriam de enfrentar inimigos e lutas com eles.
O que lhes prometia não era isenção de lutas e trabalhos, mas certeza da vitória final.
O mesmo se pode dizer da Igreja e do crente em particular. (Jo 16:33).
QUESTIONÁRIO:
1. Que nome se deu às regulamentações da lei?
2. Que regulamentação deu Deus ao quinto mandamento?
3. Qual era o preço da vida?
4. Até onde vai a responsabilidade do homem? (Ex 21:23).
5. O criminoso pode regatear? Ex 21:31).
6. A imprevidência é pecado? (Ex 21:33).
7. Que restituição tinha de fazer o ladrão?
8. Quem perdia o direito à vida?
9. Quem defende os direitos dos desamparados?
10. Que é que cega o homem?

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CAPÍTULO XXVII - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Leitura: (Ex 25-27 - Texto Áureo: Ex 39:32; 40:34).
“Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.
Estas palavras distinguem no homem duas formas diferentes de vida: a do corpo,
alimentado pelo pão; a da alma, pela fé na Palavra de Deus. O homem depende da
terra para o pão do corpo e da Revelação para o sustento da alma. A Revelação lhe
traz o ensino de Deus, isto é, diz-lhe o que deve crer acerca de Deus e os deveres
cujo cumprimento Deus requer.
Mas a vida não depende apenas da palavra escrita; depende também da comunhão
com Deus. A alma não vive sem o contato divino — daí a necessidade do culto. Depois
de dar a lei para dirigir a conduta, Deus revelou e estabeleceu os meios pelos quais o
povo de Israel lhe devia prestar culto: estabelecer a comunhão com Ele e sentir
constantemente a sua presença. Deus deu as disposições para a conduta e também
as disposições para o culto. Essas disposições eram, em parte, transitórias e em parte,
definitivas. Eram transitórias na forma e definitivas no seu conteúdo.
Para se entender bem o que acaba de ser escrito, devemos lembrar que o tabernáculo
e seus pertences foram as disposições dadas por Deus para a celebração do culto.
Esse tabernáculo foi feito para um povo que estava em trânsito pelo deserto. A sua
construção e a sua forma adaptavam-se às exigências do transporte e das condições
em que se encontrava o povo hebreu. Mas esse tabernáculo, como se verá mais
abaixo, tinha um sentido espiritual, um sentido permanente. Assim, pois, embora
digamos que o tabernáculo e os seus pertences eram disposições transitórias do culto,
reconhecemos, entretanto, que nesse mesmo tabernáculo, bem como no culto que
nele havia de ser celebrado, havia um significado permanente.
E’ preciso lembrar que o povo israelita foi chamado, preparado e dirigido para receber
os oráculos de Deus. A forma do tabernáculo, ou as disposições transitórias do culto,
eram apenas para os filhos de Israel, mas o sentido, ou melhor, o conteúdo espiritual
dessa forma transitória, era para o mundo inteiro. Paulo diz que todas aquelas coisas
aconteceram aos filhos de Israel como figuras, e estão escritas para ensino nosso. (I
Co 10:11).
Desde essa época o culto dos filhos de Israel ia centralizar-se no tabernáculo. Nas
disposições desse tabernáculo estavam, materialmente, a parte transitória e,
figuradamente, os elementos definitivos do culto.
1.°) FIGURA DO VERDADEIRO
Essa expressão, que se refere ao tabernáculo, é bíblica. Aparece na carta aos (Hb
9:24). O tabernáculo dos hebreus, portanto, era um símbolo, uma figura e
representava, na sua forma transitória e material, uma realidade superior, viva e
eterna.
Que realidade era essa?
A Bíblia vai responder. Antes, porém, de ver a resposta, cumpre dizer que tabernáculo
é morada. Aquele povo, que transitava pelo deserto, morava em tabernáculos. Moisés

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tinha o seu tabernáculo, isto é, a sua morada. Nessa morada é que o povo ia procurá-
lo, habitualmente.
E qual era o destino daquele tabernáculo do culto?
Respondem as Escrituras: Ali eu me encontrarei com você. (Ex 25:22). Considerando,
pois, que esse tabernáculo era o lugar onde Deus se manifestava e falava aos
homens, concluímos que ele era figura do verdadeiro tabernáculo onde Deus se
manifesta aos homens.
Vejamos agora, pela Bíblia, qual é esse verdadeiro tabernáculo. Diz a carta aos
Hebreus: Pois Cristo não entrou em santuário feito por homens, uma simples
representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se apresentar
diante de Deus em nosso favor; (Hb 9:24) Não servia qualquer material por muito
precioso que fosse; só serviria para o tabernáculo o que fosse dado voluntariamente
pelos filhos de Israel, para esse fim. Noutro lugar a carta aos Hebreus diz que esse
tabernáculo e seus pertences serviam de exemplos e sombras de coisas celestiais.
Então, aquele tabernáculo era uma figura dos céus. O tabernáculo que o Senhor
fundou, ou como diz Paulo, Sabemos que, quando nosso corpo terreno, esta tenda em
que vivemos, se desfizer, teremos um corpo eterno, uma casa no céu feita para nós
pelo próprio Deus, e não por mãos humanas. (2 Co 5:1)

O tabernáculo dos hebreus era portátil e, assim, enquanto marchavam, ou quando


acampavam em qualquer lugar, estava no meio deles a figura do céu. Não era, porém,
uma figura sem realidade, mas uma disposição transitória para a manifestação
especial de Deus enquanto não vinha a definitiva. Mais tarde esse tabernáculo foi para
o templo. Jesus deu a entender que esse templo também era figura, isto é, figura dele
Jesus Cristo; (Jo 2:19-21). E, na realidade, Jesus era Deus entre os homens, e não
numa forma transitória, mas definitiva. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. A
verdadeira tradução não é habitou, mas tabernaculou. E o nome que o anjo deu a
Jesus Cristo foi “Deus conosco”. Assim como Jeová se manifestava no tabernáculo
dos filhos de Israel e ali lhes falava, assim também Deus se manifestou aos homens
em Jesus Cristo e lhes falou por meio dele. (Hb 1 :1).
Aquele tabernáculo era, portanto, uma figura de Jesus Cristo. Mas as figuras da Bíblia
são muito ricas e podem representar mais de uma realidade, ou vários aspectos dessa
realidade, ao mesmo tempo. Paulo declara que os crentes são templos do Espírito
Santo. De sorte que aquele tabernáculo, feito por mãos humanas, era também uma
figura histórica do homem em cujo coração Deus se manifesta e habita. E, assim como
os filhos de Israel levavam o tabernáculo da manifestação de Deus para onde quer
que marchassem, assim é o homem no qual Deus habita: o céu está dentro dele.
2.°) MODÊLO CELESTE
0 tabernáculo dos filhos de Israel era feito, e nem podia ser de outro modo, de material
terreno. Mas o modelo era celeste. Aliás, essa foi a recomendação expressa que
Moisés recebeu e que lhe foi mandada não só no tocante ao tabernáculo em geral,
mas também no que se referiu aos pormenores e pertences. (Ex 25:40; 26:30; 27:8).
Sim, matéria da terra e modelo do céu. Era uma disposição transitória para o culto,
mas, nem por isso, deixava de ser importante e, portanto, não podia ser feita de
qualquer maneira, nem segundo o capricho e a invenção dos homens. O modelo tinha

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de vir do céu. Isso nos ensina que Deus mesmo deve ditar as leis do culto e dar-nos
os métodos pelos quais devemos entrar em comunhão com Ele. Ensina mais o
seguinte: Aquele tabernáculo era uma figura transitória para representar o tabernáculo
eterno, mas a figura que Deus mesmo escolheu. E, se a simples figura foi feita
conforme o modelo celeste, então aquele outro tabernáculo a que se referiu Paulo, a
saber, o homem, tem de ser feito segundo o modelo do céu.
Moisés observou pontualmente a ordem para fazer todas as coisas do tabernáculo,
de acordo com aquele modelo. (Ex 39:32,43; 40:16,19,21,23,25,27,29, 32). E o
resultado foi o seguinte: “Então a nuvem cobriu a tenda da congregação; e a glória do
Senhor encheu o tabernáculo”. (Ex 40:34).

Dessa figura viva se aprende uma lição para o tabernáculo verdadeiro que é o homem,
e que Jesus expressou nestas palavras: “Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.” (Jo 14:23)

3.°) MATERIAL TERRENO


O modelo era celeste, mas a matéria era terrena. Que lição importante: Deus é o
Autor, o Criador da matéria e, portanto, ela também pode ser modelada de acordo
com o plano divino e até para os fins do culto. Poderíamos até dizer que a matéria,
nesse caso, revestiu uma forma espiritual, isto é, do céu.
Entretanto, Deus exigiu certos requisitos para a matéria do tabernáculo: a madeira da
arca e das tábuas era madeira muito preciosa. A arca e todos os seus pertences
tinham de ser cobertos de ouro puro. Em uma palavra: material do melhor, do mais
custoso, material inalterável. Daí uma lição muito instrutiva - a Deus se deve dar o
melhor: - Não só nos tabernáculos materiais onde celebramos o culto, mas
principalmente no tabernáculo vivo onde desejamos que Ele se manifeste. A matéria
é terrena, mas é matéria para receber modelagem celeste. Um escultor não grava as
concepções do seu gênio, da sua arte em qualquer material. Escolhe sempre o mais
próprio, o mais rico, o mais duradouro. Por isso é que o ouro e a prata são do Senhor.
Não o ouro e a prata que os homens trazem nas mãos - esse também é dele — mas
o ouro fino e puríssimo dos afetos superiores da nossa natureza.
Mas o tabernáculo, como se disse atrás, é figura do tabernáculo humano. Pergunta
Paulo: “Não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo?” Este nosso corpo
é transitório, como transitório era aquele tabernáculo que Moisés fêz, porque é um
corpo animal. Paulo diz que outro corpo virá, corpo espiritual, revestido de
imortalidade — tabernáculo definitivo. (I Co 15:44, 53). E, para demonstração mais
clara dessa grande esperança, disse que o modelo desse tabernáculo é aquele
tabernáculo perfeito do corpo glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo. (I Co 15:49; Fp
3:21)
A história da redenção mostra no tabernáculo dos filhos de Israel o esboço material e
histórico do céu onde Deus se manifesta - o céu que é a morada do Altíssimo, onde
Jesus entrou como nosso precursor, preparando o nosso caminho; do céu que havia
na alma de Jesus Cristo, o tabernáculo vivo e perfeito de Deus entre os homens. E,
finalmente, do céu que começa aqui mesmo, no coração de cada crente sincero, e
dos tabernáculos imortalizados e definitivos que serão os corpos ressurretos, ou
transfigurados de todos os crentes.

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QUESTIONÁRIO:
1. Que material Deus pediu?
2. Quem foi projetista do tabernáculo?
3. Onde ficavam guardadas as tábuas da lei?
4. De onde é que Deus falava?
5. A que é que Moisés devia prestar atenção?
6. Qual era a cor do véu?
7. Que é que se usava para a iluminação?
8. Quando foi que Deus se manifestou no tabernáculo? (Ex 40: 34)
9. Por que Moisés não podia entrar na tenda? (Ex 40: 35).
10. Quem é que avistava a nuvem e a coluna de fogo no tabernáculo? (Ex 40:38).

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CAPÍTULO XXVIII - O SACERDÓCIO
Leitura: (Ex 28-31 - Texto Áureo: Hb 4:14). Uma das diferenças radicais entre a Igreja
Evangélica e a Igreja Romana é a hierarquia sacerdotal. Na Igreja Romana existe o
ofício sacerdotal, reservado para um grupo de homens que ficam entre Deus e o povo,
e sem os quais, segundo eles mesmos pretendem, o povo não pode chegar a Deus.
Na Igreja Evangélica os crentes vão a Deus diretamente, pela mediação exclusiva de
Jesus Cristo, sem quaisquer outros intermediários.
Não vamos concluir, por isso, que o sacerdócio é uma invenção da Igreja Romana. A
história da Redenção, no ponto em que a estamos estudando, nos diz quando, por
quem e para que foi instituído o sacerdócio. E é o caso de perguntar: Onde está a
verdade? Na Igreja Romana com o seu sacerdócio, ou na Igreja Evangélica com o
acesso direto a Deus?
Poderíamos dizer, em duas palavras, o seguinte: O sacerdócio da Igreja Romana é
um anacronismo, isto é, a Igreja Romana continua a manter uma instituição que teve
o seu papel histórico assinalado pelo próprio Deus, como disposição transitória, até
que viesse o sacerdócio real e definitivo de Jesus Cristo. No sacerdócio da Igreja
Romana existe uma sombra, um vestígio de uma grande verdade, a mesma verdade
que persiste até o dia de hoje, a verdade expressa no sacerdócio mosaico. Mas esse
sacerdócio romano conserva, desnecessária e usurpadoramente, uma forma
transitória que envelheceu e se tornou inútil. Essa é a matéria da lição que vamos
estudar.
1.°) UMA INSTITUIÇÃO DIVINA
Deus mesmo instituiu o sacerdócio, e, quando instituiu, separou uma classe de
homens aos quais concedeu a exclusividade do ofício. (Ex 28:1-3). A carta aos
Hebreus declara que qualquer um não pode ser sacerdote. “E ninguém toma para si
esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Aarão”. (Hb 5:4)
Instituído esse sacerdócio, ficava impedido a qualquer outra pessoa oferecer sacrifício
diretamente a Deus. E Deus puniu, com severidade, todas as tentativas feitas por
outras pessoas para exercer essa função que Ele reservara exclusivamente aos
sacerdotes. (II Cr 26:16-21)
O sacerdócio foi instituído por Deus para uma finalidade precisa e também para suprir
a mais profunda necessidade do homem, a saber, a necessidade da comunhão com
Deus.
Qual era a finalidade do sacerdócio?
Responde a Bíblia: Porque todo o sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é
constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons
e sacrifícios pelos pecados. (Hb 5:1). Por essa passagem ficamos sabendo que, sem
sacerdote, ninguém se aproxima de Deus; sem sacerdote o homem nada pode
oferecer a Deus. Em resumo, sem sacerdote o homem está irremediavelmente
separado de Deus.
Podemos expressar essa verdade com uma velha palavra e a figura que ela invoca:
O sacerdote, no paganismo, era chamado pontífice, isto é, o que faz a ponte.

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Sacerdote é o engenheiro espiritual que liga a margem da humanidade com a margem
da divindade, colocando a ponte sobre o abismo da separação. No sacerdócio da
Igreja Romana se expressa essa verdade vital da Revelação. O erro é que aquele seu
sacerdócio é apenas uma continuação inútil do sacerdócio judaico, porque o
sacerdócio judaico foi instituído por Deus, como figura antecipada do verdadeiro
sacerdócio exclusivo de Jesus Cristo. Vindo esse sacerdote, como veio, e estando em
exercício o seu sacerdócio perfeito, o sacerdócio judaico que o prefigurava, perdeu a
razão de ser: é inútil e usurpador. Esse é o grande assunto da carta aos Hebreus.
Os sacerdotes judaicos só podiam ser mesmo uma figura do grande sacerdote, Jesus
Cristo, o que se pode ver pelas razões abaixo.
a) Eram mortais e, por isso mesmo, o seu sacerdócio era transitório — (Hb 7:23).
Jesus Cristo é diferente: o seu sacerdócio permanece perpetuamente. (Hb 7:23).
b) Eram pecadores. Jesus Cristo era santo, inocente, imaculado e separado dos
pecadores. (Hb 7 :26, 27).
c) Tinham de repetir o seu sacrifício. Jesus Cristo ofereceu um sacrifício só. (Hb 7 :27;
10:12-14).
d) Não entravam no tabernáculo verdadeiro. Na lição anterior verificamos que o
tabernáculo mosaico era uma simples representação histórica do verdadeiro
tabernáculo que é o céu. Jesus entrou nesse tabernáculo. (Hb 6:20; 9:24).
Além dessas razões tão claras e tão fortes, há também a declaração explícita e formal
das Escrituras: “O Novo Concerto envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho,
e se envelhece, perto está de acabar.” (Hb 8:13).

2.°) NECESSIDADE DO SACERDÓCIO


Como já se disse atrás, o sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios
pelos pecados do povo. Isso quer dizer que, depois de pecar, o homem não pode mais
se aproximar de Deus sem sacrifício. As Escrituras afirmam essa verdade nas
seguintes palavras: “sem derramamento de sangue, não há remissão.” (Hb 9:22)
Podemos formular a necessidade do sacrifício e do sacerdócio, nas seguintes
palavras: o pecado separa o homem de Deus. Para haver uma aproximação é preciso
tirar o pecado. Mas a Bíblia ensina que sem sacrifício não se tira pecado. (Hb 9:22).
O homem, pois, que se volta para Deus precisa de um intermediário que, em seu
lugar, ofereça a Deus os dons e os sacrifícios exigidos para tirar o pecado.
Até o dia em que Deus separou a Aarão e seus filhos, não estava instituído
oficialmente o sacerdócio. Nesse dia Deus o instituiu, não só para ensinar a
necessidade do sacrifício, mas também como figura do verdadeiro sacerdócio de
Jesus Cristo.
Não é sem razão que os cultos dos filhos de Israel nunca se celebraram sem sacrifício.
Pode-se dizer que a essência do culto era o sacrifício, bem como o altar era o
dispositivo central do tabernáculo. Em outras palavras: o israelita não celebrava culto
sem sacrificar e, instituído o sacerdócio, não podia mais celebrar o culto sem o
sacerdócio.

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Depois que veio Jesus Cristo, esse imperativo do sacrifício não desapareceu, mas se
apresenta sob outras formas: o crente, ou melhor, o cristão não pode prestar culto ao
seu Deus, sem sacrifício. E, portanto, não pode prescindir do sacerdote. Mas agora é
o sacrifício de Cristo, e o sacerdote é Jesus Cristo. O centro do culto cristão é o
sacrifício de Jesus Cristo, feito na cruz.
3.°) SÍMBOLOS E PREFIGURAÇÕES DO SACERDÓCIO JUDÁICO
Separada a família sacerdotal, Deus estabeleceu todos os detalhes da apresentação
dos sacerdotes. Eram formas transitórias, que expressavam um sentimento
permanente. Vamos estudar apenas alguns.
a) A lâmina de ouro, com a legenda “Santidade ao Senhor”. As vestes de linho
fino e outros dispositivos para ensinar a ideia de santidade.
Sem santidade é impossível agradar a Deus. Mas aqueles sacerdotes não eram
santos. Tanto assim, que tinham de oferecer sacrifício pelos seus próprios pecados,
diariamente, (Hb 7:27). A sua santidade era formal, exterior, simbólica — prefigurava
apenas a santidade de Jesus, que vinha de dentro —- verdadeira santidade. O
sacerdote hebreu representava; Jesus era a própria santidade.
b) O sacerdote levava sobre os seus ombros duas pedras com os nomes das
tribos de Israel, para memória diante do Senhor. Isto significava que o
sacerdote quando comparecia perante o Senhor, em nome dos filhos de Israel,
levava sobre si um peso muito grande — as pedras estavam nos ombros.
Símbolo sugestivo da responsabilidade que Jesus assumiu quando resolveu
comparecer perante o Pai, em nome do seu povo.
c) c) O sacerdote hebreu levava sobre o peito um quadrado, de um palmo de
cumprimento, e nesse quadrado doze pedras, em quatro ordens, com os
nomes dos filhos de Israel. Diz a Bíblia que assim o sacerdote, quando entrava
na presença do Senhor, levava sobre o seu coração o nome dos filhos de Israel.
Outro símbolo sugestivo de Jesus Cristo e seu amor aos homens, pelos quais
comparece diante do Pai, onde vive para interceder pelo seu povo. (Hb 7 :25).
Bastam essas explicações para percebermos que o sacerdócio hebreu era apenas
uma figura, que passou e, portanto, desnecessária no momento presente. O
sacerdócio da Igreja Romana é, portanto, inútil.
Terminando, convém dar certo destaque às disposições tomadas para que todos os
pertences do santuário e do serviço sacerdotal, desde os vasos e instrumentos, até o
óleo e o incenso, ficassem reservados exclusivamente para o serviço divino. Eram
objetos santos, isto é, separados só para Deus. Infelizmente, não se observa hoje
esse rigor e zelo. Coisas consagradas ao serviço de Deus são, às vezes, usadas para
outros fins: cânticos, templos e até homens. Depois de restaurado à perfeita
comunhão com Deus o crente, em certo sentido, é também um sacerdote. Foi isso
que Pedro escreveu e que Jesus confirmou no Apocalipse. Vocês, porém, são geração
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, (I Pe 2:9). Ele que nos
ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino
e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai. A ele sejam glória e poder para todo o
sempre! Amém. (Ap 1:5,6).

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Depois de salvo pelo sacrifício de Jesus, o crente recebe o privilégio de sacrificar-se
pelo serviço do seu Senhor e daqueles à quem consagra a sua vida. Nesse sentido
todos os crentes são sacerdotes, sem hierarquia, sem privilégio de casta.
QUESTIONÁRIO:
1. A quem Deus chamou para o sacerdócio?
2. Os sacerdotes exerciam o seu ofício vestido de qualquer modo?
3. Que é que estava escrito nas pedras sacerdônicas?
4. Que é que estava gravado na lâmina de ouro?
5. O bordado é antigo? Quem escolheu os sacerdotes? (Hb 5:4).
6. Qual é a finalidade do sacerdote? (Hb 5:1).
7. Qual é o sacerdote que convém (Hb 7:26)

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CAPÍTULO XXIX - A QUEBRA DA FIDELIDADE
Leitura: (Ex 32-34 - Texto Áureo: II Tm 2:12-13)
Um dos grandes objetivos da História da Redenção é contrastar a instabilidade do
homem com a imutabilidade de Deus: a infidelidade do povo com a fidelidade de
Jeová.
Os israelitas exibiram durante a sua longa história a mais completa versatilidade. Eram
inconstantes, variavam a cada passo, desanimavam perante qualquer dificuldade, não
obstante as provas da assistência sobrenatural de Deus, dadas nos grandes
acontecimentos do passado. Pior do que isso: eram murmuradores, inclinados à
indisciplina, exigentes, propensos à rebeldia. Lembravam-se, com saudade, de certas
vantagens que desfrutavam no Egito, mas não se lembravam do chicote e da
sobrecarga de trabalho. Enfim, um retrato vivo e histórico, um retrato perfeito do
homem que Deus procura e protege, chama e abençoa; retrato do homem que recebe
os benefícios, promete obediência e, na primeira oportunidade, deixa de ser fiel. Sim,
um retrato perfeito do homem, por que o homem, infelizmente, é assim mesmo. Só
Deus é fiel.
A lição de hoje narra uma das grandes quebras da fidelidade. Dias antes, o povo havia
feito o seguinte compromisso: “Tudo o que o Senhor tem falado, faremos”. (Ex 19:8).
Pretendendo, com isso, observar pontualmente o concerto que Deus lhes havia
proposto. Bastou que Moisés se ausentasse por alguns dias, para que eles pusessem
de lado um compromisso tão solene e caíssem no culto grosseiro da idolatria. Foi o
episódio do bezerro de ouro. O episódio apresenta alguns aspectos de alto relevo:
1.°) MANIFESTAÇÕES DO ESTADO PECAMINOSO
O pecado aparece mesmo. O pecado não é uma coisa estranha ao homem, nem
externa, mas intrínseca. O pecado não é como o micróbio de uma doença grave. O
pecado é coisa diferente. O pecado é o estado do homem que peca mesmo, sempre
e em toda parte. A análise do episódio do bezerro de ouro comprova essa verdade e
demonstra a realidade do estado pecaminoso do coração humano.
a) O povo. Aparece nele o perigo de uma inclinação pecaminosa latente, isto é,
escondida. Ninguém diria que aquele povo tão pronto para assumir um
compromisso solene perante o Sinai, poucos dias depois faltaria ao seu
compromisso. Não faltou! A causa disso foi a força de uma inclinação
pecaminosa que estava escondida no coração, esperando a primeira
oportunidade. O coração é como uma semente: dentro da semente há uma
força invisível, imponderável, mas muito poderosa à espera das condições
favoráveis ao seu aparecimento. Choveu, e fez calor, a semente brota, isto é,
a força que está dentro dela se manifesta. Assim é o coração. Havendo
oportunidade, o que está dentro dele aparece.
O povo tinha motivo para sentir-se inquieto, talvez cansado, mas não para ser idólatra.
A idolatria já estava no coração, idolatria e outras coisas que apareceram nessa
ocasião.
b) Aarão. Durante a ausência de Moisés era ele o guia espiritual do povo, o
guardião da fidelidade. Tinha sido o porta-voz das mensagens solenes e

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severas contra Faraó e, entretanto, não disse uma palavra contra o pecado do
povo. Ninguém caia, sem consentir, ninguém consente, sem ajudar. Consentiu
e ajudou. Ninguém deixa de reagir contra o pecado, a não ser que também se
encontre em estado pecaminoso. Quando Paulo chegou em Atenas e viu a
idolatria, reagiu imediatamente. (At 17:16 em diante). O mesmo Paulo declara
que o pecado não consiste apenas em praticar o mal, mas também em
consentir que o façam. Mas o estado pecaminoso, em Aarão, aparece de outro
modo, isto é, numa forma que caracteriza inconfundivelmente o estado
pecaminoso. Quando Moisés chegou e interpelou Aarão, ouviu dele uma
explicação pecaminosa. Mais do que isso, ouviu uma confissão de pecados,
mas também uma confissão pecaminosa. Mais uma vez se aprende que o
homem que se acha em estado pecaminoso, nada faz sem pecado, mesmo
quando parece que está fazendo o que Deus manda.
Foi Aarão quem pediu ouro para fazer o bezerro, a ideia também foi dele. O povo
apenas lhe tinha pedido um Deus que o dirigisse. Aarão fez o molde e fundiu o
bezerro. Depois fez um altar diante do bezerro, preparou, animou e dirigiu o culto ao
ídolo. Com a chegada de Moisés, viu-se apanhado em flagrante. Como não podia
mais esconder o seu pecado, confessou. Confessou, porém, transferindo a
responsabilidade para a inclinação pecaminosa do povo. Confissão pecaminosa,
porque acusa terceiros e esconde o principal responsável. Mas a confissão de Aarão
tem outro aspecto curioso. Era uma confissão explicativa, por isso mesmo incompleta
e mentirosa. Para verificar isso é só ler o que ele disse. Então eu lhes disse: Quem
tiver enfeites de ouro, traga-os para mim. O povo trouxe-me o ouro, eu o joguei no fogo
e surgiu esse bezerro! " (Ex 32:24) Toda confissão pecaminosa é assim desde Adão
quando se escondeu da presença do Senhor. Adão também confessou assim —
escondendo o mais que podia a sua responsabilidade.
c) A indignação pecaminosa. Moisés era grande servo de Deus. Já estava há
muitos dias em comunhão com Deus. Reagiu impetuosamente contra a
idolatria do povo e censurou asperamente seu irmão que consentira na quebra
da fidelidade — mas quebrou as tábuas da lei — porque, apesar da sua grande
consagração ao serviço do Senhor, da sua comunhão com Deus, da sua
crescente e visível santificação, ainda trazia consigo alguma raiz de pecado:
não era perfeito. Sua indignação era justa, sua censura necessária, sua reação
sadia, mas vinha misturada com pecado. Não foi essa a única vez que o grande
servo de Deus, que era o homem mais manso da terra, viu brotar do seu
coração a semente maligna que estava lá dentro, e que ele vinha combatendo
com inteira honestidade. Por um gesto semelhante a esse, quando bateu com
a vara na rocha em vez de lhe falar como lhe mandara o Senhor, Moisés foi
repreendido e não pôde entrar na terra da promissão.
0 pecado não perde ocasião. É uma força interna poderosa que procura expandir-se.
Muitas vezes leva os homens a derrotas muito grandes, em horas de perturbações
que o homem não pode evitar. Por isso, a justiça humana é precária, por isso ninguém
pode ser juiz em causa própria, por isso é preferível mais brandura que severidade.
Porque, muitas vezes, o zelo e o rigor vêm misturados com sentimentos de natureza
pecaminosa. Esse foi o caso de Moisés.

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2.°) MANIFESTAÇÕES DA FIDELIDADE E EXTREMOS DA CONSAGRAÇÃO
A infidelidade do pecador dá ocasião a manifestações especiais da fidelidade de
Deus. Deus não violou o concerto. Parece, pois, que perante a infidelidade do povo,
Deus não tinha mais obrigação de cumprir as promessas. Entre os homens seria
assim porque, entre eles, a infidelidade desobriga da fidelidade. Deus é diferente.
Disse o apóstolo: Se formos infiéis, ele permanecerá fiel, pois não pode negar a si
mesmo". (2 Tm 2:13)

A fidelidade de Deus é absoluta, soberana, não depende da fidelidade do homem.


Deus é fiel a si mesmo, a seus planos, a suas intenções eternas e não obstante a
versatilidade dos homens, cumprirá o seu designo. Deus, no caso em apreço, foi fiel
às promessas que fez a Abrão, a Isaque e a Jacó, cujos descendentes ali estavam
faltando com a palavra. Deus não falta. Não obstante o pecado do povo, Deus foi
longânimo, ouviu a oração de Moisés, prometeu a sua presença constante, escreveu
novas tábuas, renovou o pacto. (Ex 32; 34). Castigou o povo, mas não retirou a sua
beneficência, nem anulou o seu concerto. (Sl 89:30-34).
Nesse ponto aparece, em plena luz, a grandeza moral de Moisés. Percebeu, sem
dificuldade, que aquele pecado poderia acarretar a rejeição do povo. Ofereceu-se,
então, como vítima e substituto para receber o castigo, afim de que Deus perdoasse
a quebra da fidelidade. (Ex 32:31-33). Deus não aceitou o holocausto, mas ouviu o
pedido.
A grandeza de Moisés nunca apareceu tão bem, como quando ele se consagrou ao
sacrifício de si mesmo, para impedir a rejeição do seu povo. Essa é a verdadeira
consagração, pois, como disse Paulo “Por um justo pode ser que alguém ouse
morrer... ” (Rm 5:7). Moisés dispôs-se a sacrificar-se pelos infiéis.

3.°) BENÇÃO DA FIDELIDADE


Diz a carta aos Hebreus que Moisés foi fiel em toda sua casa. (Hb 3:2). Não obstante
às suas imperfeições, Moisés era, de fato, fiel, ao plano de Deus, bem como aos
propósitos que desde cedo formulara no seu próprio coração. Só a sua fidelidade
explica a sua consagração. E não ficou sem recompensa. Vamos mencionar apenas
três grandes compensações da sua fidelidade.
a) Uma promessa da presença permanente de Deus. (Ex 33:14)
b) Uma manifestação especial e particular da glória de Deus. Ex 33:18-23).
c) A transfiguração visível do seu rosto, depois da comunhão com Deus. Ex
34:29).
A lição que acabamos de estudar mostra três coisas importantes.
1.A tendência humana para a infidelidade.
2. A fidelidade imutável de Deus.
3. A vantagem de o homem ser fiel.
Ainda que o homem quebre a fidelidade, Deus cumprirá o seu plano. Mas aqueles que
forem fiéis participarão das alegrias e das boas ações da consumação desse plano.

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QUESTIONÁRIO:
1. O homem pode viver sem religião?
2. Quem fez o bezerro?
3. Que saiu do fogo?
4. Quem acusou o povo?
5. Quem escreveu as taboas da lei?
6. Quando foi que Deus castigou o pecado do povo?
7. O povo gosta de censuras?
8. Quando é que a coluna de nuvem descia?
9. Como é que Deus conhecia a Moisés?
10. Que é que Moisés não sabia?

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CAPÍTULO XXX - EXIGÊNCIAS DA JUSTIÇA
Leitura: (Lv 1-7 - Texto Áureo: Is 53:5)
O culto mosaico centralizava-se no altar. Não havia ato de culto sem sacrifício, o que
importava em duas noções fundamentais:
a) O povo estava sempre pecando e, portanto, havia uma permanente necessidade
de oferecer uma satisfação à justiça, por meio do sacrifício. Sem isso o homem não
podia mesmo se aproximar de Deus.
b) Uma vez cometido o pecado, não se pode mais evitar o sofrimento. A justiça exige
a punição do pecador ou de alguém em lugar dele. A descrição dos sacrifícios é, por
isso mesmo, pormenorizada, e distingue os diversos erros que podiam ser cometidos
e a sua expiação correspondente.
1º.) ERROS EM GERAL
Havia sacrifícios destinados a expiar os erros das pessoas mais responsáveis, bem
como os erros coletivos do povo.
a) Erros dos sacerdotes. Os homens designados para ministrar o culto, embora
separados pela natureza da sua função, não deixavam, contudo, de ser homens:
estavam sujeitos ao erro e pecavam mesmo. Por isso, como diz a carta aos Hebreus,
antes de oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, tinham de oferecer, diariamente,
sacrifícios pelos seus próprios pecados.
b) Vinham, depois, os sacrifícios pelos pecados dos príncipes, porque as autoridades
também erram. Não deixa de ser esse um dos aspectos mais deprimentes da condição
humana porque a autoridade a quem incumbe executar o castigo contra o pecado,
também está sujeita a castigo, porque não deixa de pecar.
c) Erros da sociedade. A lei mosaica previa, com grande sabedoria, que a sociedade
também peca. Outro aspecto deprimente da condição humana, porque a sociedade
humana pune e repele o indivíduo por causa do pecado e, no entanto, ela também
está sujeita ã punição porque peca. Desta maneira a legislação mosaica estabeleceu
duas coisas.
I) Uma verdade: ninguém está isento de pecado. Nem o sacerdote, nem a autoridade,
nem a sociedade, nem o indivíduo.
II) Um preventivo para sustar a execução inexorável do castigo contra qualquer
dessas entidades pecadoras. (Lv 1- 8)
PECADOS OCULTOS
Tratava-se, nesse caso, de duas formas de pecado:
a) O pecado consciente, mas desconhecido. Em outras palavras: a única pessoa a
saber do pecado é o pecador. Não houve escândalo público, mas o pecador sabe que
errou. Às vezes sabe na hora, às vezes sabe depois.
b) Pecados de ignorância. É impressionante a clareza da lei de Moisés nesse
particular. Transgressão da lei, é transgressão, haja conhecimento ou não da lei
transgredida. O texto chega a ser explícito até este ponto: Se alguém pecar, fazendo o

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que é proibido em qualquer dos mandamentos do Senhor, ainda que não o saiba, será
culpado e sofrerá as consequências da sua iniquidade. (Lv 5:17).

Para todos esses casos a lei dispunha de um sacrifício, a fim de que a pessoa que
transgrediu a lei ocultamente, ou por ignorância, fosse perdoada. E para que a
ninguém faltasse o recurso do perdão, a lei propunha animais de pequeno porte e
custo mínimo, que estivessem ao alcance de qualquer transgressor.
O que ficava bem claro é que, depois de pecar, ninguém se livrava da pena. Ou
aceitava a expiação que Deus lhe propunha, ou sofria ela mesma o castigo, (Lv 5).
Em consonância com esse ensino da legislação mosaica está a doutrina do Novo
Testamento. A primeira palavra de Cristo na cruz foi: “Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem”. Ignoravam, mas nem por isso deixavam de ser culpados. Tanto
assim que Jesus implorava perdão para eles. E a base desse perdão era o sacrifício
de Cristo. Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.
3.°) PECADOS VOLUNTÁRIOS
A lei mosaica prescrevia medidas severas contra certas formas especiais de pecado
— os chamados pecados voluntários. Nesse caso a pessoa era obrigada a fazer duas
coisas: fazer a reparação do mal praticado. Nenhuma pessoa que prejudicasse os
outros podia deixar de oferecer uma reparação perfeitamente justa, e, depois de
oferecer essa reparação imposta pela lei era obrigada a oferecer o sacrifício de um
carneiro. Desta maneira a lei mosaica fazia distinção entre o dano feito ao homem e
a ofensa feita a Deus. E ensinava que, em qualquer pecado contra o homem, há
sempre uma ofensa contra Deus.
Os sacrifícios para expiar a culpa obedeciam aos seguintes requisitos:
a) Eram animais sem mancha, perfeitos. Assim, por meio de um símbolo, o povo
aprendia que só o que é perfeito e sem mácula satisfaz a justiça de Deus.
b) A pessoa que oferecia o sacrifício colocava a sua mão sobre a cabeça da vítima,
para indicar que, embora o sacrifício fosse exigido pela lei, o ofertante o fazia
voluntariamente. Em outras palavras: Deus oferece no sacrifício de Jesus a remissão
dos pecados dos homens. O sacrifício para essa remissão já foi efetuado, mas é
indispensável que o pecador aceite voluntariamente o meio de remissão que Deus lhe
oferece. A vítima, depois de imolada, era queimada para ensinar que, uma vez
oferecido o sacrifício, a culpa está tirada para sempre. (Lv 6).
QUESTIONÁRIO:
1. Quem chamou a Moisés na tenda da Congregação?
2. O que é que se não deve fazer?
3. Quem era obrigado a oferecer um novilho sem mancha?
4. Quando é que os anciãos tinham que pôr as mãos sobre a cabeça do novilho?
5. Os príncipes pecam?
6. O juramento era pecado?
7. A ignorância exclui a culpa?
8. Qual era a pena para o pecado voluntário?
9. Feita a expiação o perdão era pleno?
10. Que é necessário para a expiação do pecado?

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