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Síndrome de Burnout em Universitários Da Área Da Saúde Burnout Syndrome Among University Students in The Health Area

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Revista Psicologia, Saúde & Doenças ISSN 2182-8407

Vol. 23, Nº. 3, 787-795, 2022 www.sp-ps.pt


Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde https://doi.org/10.15309/22psd230316

SÍNDROME DE BURNOUT EM UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE

BURNOUT SYNDROME AMONG UNIVERSITY STUDENTS IN THE HEALTH AREA

Jaime Gondin1, Pollyanna Magalhães1, Carolina Oliveira2, Juliana Andrade2, & Lucinéia Pinho†3

1
Faculdade de Saúde Ibituruna, FASI, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, [email protected],
[email protected]
2
Universidade Estadual de Montes Claros, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Unimontes, Montes Claros, Minas Gerais,
Brasil, [email protected], [email protected]
3
Universidade Estadual de Montes Claros, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Unimontes, Faculdade Integradas Pitágoras,
FIPMOC, Montes Claros- Minas Gerais, Brasil, [email protected]

Resumo: Durante a vida acadêmica os estudantes universitários são constantemente submetidos a


situações de estresse, principalmente os da área da saúde devido a uma grade curricular extensa,
contato com pacientes graves, dentre outros. O objetivo deste estudo foi analisar a prevalência da
Síndrome de Burnout e os fatores associados entre universitários dos cursos da área da saúde em
uma instituição privada no Norte de Minas Gerais. Estudo quantitativo, com coorte transversal e
analítico. Para a coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado relacionado aos aspectos
sociodemograficos e outro instrumento validado MBI-SS – Maslach Burnout Inventory Student
Survey para avaliar o estresse. Realizou-se a análise descritiva (média, desvio padrão, percentagens
e frequências) e associação, considerando nível significância de 5%, por meio do teste qui-
quadrado. Participaram deste estudo 292 acadêmicos, em que 20,5% apresentaram Burnout,
apresentando como fatores associados: idade (0,044), tipo de curso (0,005), nível moderado de
Exaustão Emocional (50,7%) e alto de Despersonalização (76,4%) e Realização Profissional (70%).
Identificou-se que uma parcela significativa da população estudada apresentava a Síndrome de
Burnout, principalmente àqueles com mais de 21 anos de idade matriculados nos cursos de
Farmácia, Psicologia e Enfermagem. E fatores como despersonalização, realização profissional,
exaustão profissionais estavam interligados de modo consideráveis.
Palavras-Chave: Saúde Mental; Esgotamento Profissional; Esgotamento Psicológico; Estudantes

Abstract: During the academic life, university students are constantly subjected to stress situations,
especially those in the health area due to an extensive curriculum, contact with critically ill patients,
among others. This study aimed to analyze the prevalence of Burnout Syndrome and the associated
factors among university students in health at a private institution in northern Minas Gerais.
Quantitative study with cross-sectional and analytical cohort. For data collection we used a
structured questionnaire related to sociodemographic aspects and another validated instrument
MBI-SS - Maslach Burnout Inventory Student Survey to assess stress. Descriptive analysis (mean,
standard deviation, percentages and frequencies) and association were performed, considering a
significance level of 5%, using the chi-square test. Two hundred and twenty-two academics
participated in this study, in which 20.5% had burnout, presenting as associated factors: age (0.044),
type of course (0.005), moderate level of Emotional Exhaustion (50.7%) and high
Depersonalization (76.4%) and Professional Achievement (70%). It was identified that a significant

Morada de Correspondência: Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro, Av. Prof. Rui Braga, s/n - Vila Mauriceia, 39401-089,
Montes Claros, MG, Brasil.
Submetido: 16 de junho de 2020
Aceite: 12 de novembro de 2022
Síndrome de Burnout entre universitários

portion of the population studied had Burnout Syndrome, especially those over 21 years old
enrolled in Pharmacy, Psychology and Nursing courses. And factors such as depersonalization,
professional fulfillment, professional exhaustion were considerably interconnected.
Keywords: Mental health; Professional exhaustion; Psychological exhaustion; Students

As mudanças no estilo de vida do ser humano na sociedade atual tem provocado diversas
situações de pressão e exigências no seu dia a dia, seja no ambiente de trabalho, em casa, ou até
mesmo nas relações interpessoais, deixando-o debilitado e mais vulnerável ao estado de estresse
(Silva & Salles, 2016). Alguns autores conceituam a palavra estresse como uma reação do
organismo a situações de tensão, que produzem mudanças no comportamento físico e no estado
emocional do indivíduo (Cestari et al., 2017). O estresse persistente, chamado também de Síndrome
de Burnout (SB) ou esgotamento profissional, é caracterizado como uma desordem dos estados
físicos, psíquicos e comportamentais, através de sintomas como cefaleia, distúrbios do sono, dores
musculares, baixa autoestima, desânimo, irritabilidade, agressividade, entre outros sintomas (Lopes
& Guimarães, 2016; Medeiros et al., 2018).
De acordo com a literatura, profissionais que estabelecem um contato mais próximo a outras
pessoas estão mais sujeitos ao desenvolvimento do estresse no ambiente de trabalho e
consequentemente a SB (Koga et al., 2015; Leonelli et al., 2017). Por outro lado, os estudantes
também podem apresentar a SB durante o processo acadêmico, devido as exigências estabelecidas
pelas universidades (Lopes & Guimarães, 2016).
Nos últimos anos, pesquisadores começaram a investigar essa síndrome entre os estudantes
universitários, ampliando seu conceito além do campo profissional. Desse modo, a SB passou a ser
compreendida entre estudantes através da avaliação de três dimensões que são a Exaustão
Emocional, relacionada às obrigações do estudo; Descrença, identificada através de atitudes
pessimistas no âmbito dos estudos e Baixa Eficácia Profissional, caracterizada pela sensação de
ineficácia como estudante (Lopes & Guimarães, 2016; Medeiros et al., 2018; Tomaschewski-
Barlem et al., 2014). Entende-se que durante a vida acadêmica os estudantes universitários são
constantemente submetidos a situações de estresse (Pagnin et al., 2014), como provas, trabalhos,
estágios, cobranças individuais, da família e até mesmo da sociedade para que eles tenham um
excelente desempenho (Lameu et al., 2016; Tomaschewski-Barlem et al., 2014). Todos esses fatores
podem produzir respostas de medo e ansiedade, capazes de gerar consequências negativas na
qualidade de vida, nas relações sociais e principalmente no desenvolvimento das atividades
acadêmicas (Cestari et al., 2017; Medeiros et al., 2018; Moretti & Hübner, 2017).
Embora, todos os estudantes universitários possam estar expostos as situações de estresse,
ansiedade ou depressão, tem-se observado que esses quadros são mais frequentes em alunos da área
da saúde. E essas condições, estão relacionadas às características inerentes desses cursos, como a
grade curricular extensa, atividades práticas que exigem muito estudo, tempo escasso, além do
contato com pacientes graves, e o sofrimento do outro (Ávila et al., 2018; Medeiros et al., 2018).
É importante destacar que o estresse além de afetar a saúde do estudante, pode interferir no seu
estilo de vida. E alguns aspectos podem ser desenvolvidos devido a isso, como hábitos alimentares
inadequados, aumento do consumo de álcool, tabaco, café, e descuido com a prática de atividade
física (Ávila et al., 2018; Medeiros et al., 2018). Dessa forma, o ambiente que deveria contribuir
como base para as experiências de formação profissional pode se tornar o desencadeador de
distúrbios psicológicos (Cestari et al., 2017). Além disso, pode refletir de forma negativa no
desenvolvimento acadêmico e formação profissional do indivíduo (Padovani et al., 2014).
Nos cenários nacional e internacional, estudos apontaram uma prevalência significativa da SB
em estudantes da área da saúde variando entre 14,9 a 67,1%. Essas pesquisas, identificaram vários
fatores presentes no processo de formação desses estudantes que podem contribuir para o

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desenvolvimento da exaustão emocional, descrença e baixa eficácia profissional (Almalki, et al.,


2017; Almeida et al., 2016; Boni et al., 2018; Youssef, 2016).
Na atualidade, pesquisas que abordem o estresse em acadêmicos dos diferentes cursos da área da
saúde, além de medicina ainda são escassas, tanto no cenário nacional quanto internacional. Dessa
forma, este estudo teve como objetivo analisar a prevalência da Síndrome de Burnout em
acadêmicos dos cursos da área da saúde em uma instituição privada no norte de Minas Gerais.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa com abordagem quantitativa, transversal e analítica, realizado com a
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Faculdades Unidas do Norte de Minas – FUNORTE,
com o parecer consubstanciado nº 2.428.669. Todos os participantes da pesquisa assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Participantes

A população alvo foi constituída de 704 estudantes da área de saúde, que cursavam Enfermagem,
Psicologia, Farmácia, Fisioterapia, numa instituição privada em um município do Norte de Minas
Gerais. O tamanho da amostra foi calculado visando estimar parâmetros populacionais com
prevalência de 0,50, com intervalo de 95% de confiança e nível de precisão de 5,0%. Os cálculos
evidenciaram a necessidade de participação de 249 universitários. Como critérios de inclusão foram
aceitar a colaborar com a pesquisa de forma voluntária e estarem matriculados no curso, possuírem
idade acima de 18 anos e frequentarem o curso. Foram excluídos os alunos que estavam afastados
por licença médica ou por trancamento do curso.

Instrumentos e Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no ano de 2018 pelos pesquisadores. O convite para participação
do estudo foi feito em sala de aula pelos próprios pesquisadores, sendo entregue o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido. O questionário foi distribuído entre os participantes e recolhido
no dia seguinte na instituição de ensino.
Na coleta foi utilizado um questionário que avaliou as características sociodemográficas como
sexo, idade, período e turno das aulas. O estresse foi avaliado por meio do instrumento MBI-SS –
Maslach Burnout Inventory Student Survey de Maroco e Tecedeiro do ano de 2009, para estudantes
universitários (Marôco & Tecedeiro, 2009).
Esse instrumento é composto de 15 perguntas que se subdividem em três dimensões: Exaustão
Emocional (5 itens); Despersonalização (4 itens) e Realização Pessoal (6 itens). Todos os itens são
avaliados pela frequência, variando de 0 a 6, sendo 0 (nunca), 1 (uma vez ao ano ou menos), 2 (uma
vez ao mês ou menos), 3 (algumas vezes ao mês), 4 (uma vez por semana), 5 (algumas vezes por
semana) e 6 (todos os dias). Médias elevadas em Exaustão e Descrença e baixa em Eficácia
Profissional são indicativas da Síndrome de Burnout. No presente estudo para a classificação das
dimensões foram utilizados os escores baixo, moderado e alto, em conformidade a outros estudos
desenvolvidos com o MBI-SS (Marôco & Tecedeiro, 2009).

Análise de Dados

Os dados foram analisados através do programa licenciado Statistical Package for Social Science
(SPSS - versão 20®), no qual foi realizada a análise descritiva (média, desvio padrão, percentagens

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e frequências) e de associação, considerando nível significância de 5%, por meio do teste qui-
quadrado.

RESULTADOS

Participaram deste estudo 292 acadêmicos, sendo 232 (79,5%) do sexo feminino. Em relação a
faixa etária dos acadêmicos, observou-se que a maioria 171(59,6%) possuía entre 21 e 30 anos. No
que diz respeito ao estado civil, 237 (81,4%) eram solteiros e 45 (15,5%) casados.
Sobre o turno no qual o aluno estava matriculado, verificou-se que 232 (79,2%) cursavam o
turno noturno e 49 (16,7%) o turno integral. Levando em consideração o curso frequentado pelos
acadêmicos correspondentes a amostra desta pesquisa, 99 (33,8%) corresponde ao curso de
Psicologia, 94 (32,1%) ao curso de Enfermagem e 50 (17,1%) ao curso de Farmácia e Fisioterapia.
Quanto ao período cursado entre os acadêmicos, constatou-se que 83 (28,3%) situam-se no décimo
período, 71 (24,2%) no quarto, 64 (21,3%) no oitavo e 35 (12,7%) no segundo período (Quadro 1).

Quadro 1. Características sociodemográficas e de formação dos estudantes da área da saúde de uma


instituição de ensino superior. Montes Claros, MG, Brasil, 2017.
Características n %
Sexo
Feminino 232 79,5
Masculino 60 20,5
Idade
<20 anos 84 29,3
21-30 anos 171 59,6
31-40 anos 18 6,3
>41 anos 14 4,9
Estado civil
Solteiro 237 81,4
Casado 45 15,5
Separado/Divorciado 9 3,1
Turno
Integral 49 16,7
Noturno 232 79,2
Curso
Enfermagem 94 32,1
Farmácia 50 17,1
Fisioterapia 50 17,1
Psicologia 99 33,8
Período
1-2º 35 12,7
3-4º 71 24,2
5-6º 38 13,0
7-8º 64 21,8
9-10º 83 28,3

Neste estudo a Síndrome de Burnout foi observada em 60 (20,5%) acadêmicos da área da saúde.
Na análise por dimensão, 145 (50,7%) e 112 (39,2%) estudantes apresentaram exaustão emocional
moderada e alta, respectivamente. A despersonalização foi classificada em alta em 217 (76,4%)

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estudantes e moderada em 67 (23,6%). Já a eficácia profissional, em 196 (70,0%) estudantes


apresentava-se alta e em 63 (22,5%) moderada (Quadro 2).

Quadro 2. Prevalência da Síndrome de Burnout (SB) dos estudantes da área da saúde de uma instituição de
ensino superior. Montes Claros, MG, Brasil, 2017.
Características n %
Síndrome de Burnout
Ausência 233 79,5
Presença 60 20,5
Exaustão Emocional
Baixo 29 10,1
Moderado 145 50,7
Alto 112 39,2
Despersonalização
Baixo 0 0,0
Moderado 67 23,6
Alto 217 76,4
Continuação...
Características n %
Realização Profissional
Baixo 21 7,5
Moderado 63 22,5
Alto 196 70,0

Quadro 3. Associação entre Síndrome de Burnout e características sociodemográficas e de formação dos


estudantes da área da saúde de uma instituição de ensino superior. Montes Claros, MG, Brasil, 2017.
Características Síndrome de Burnout n (%) p-valor
Presença Ausência
Sexo
Masculino 12(20,0) 48 (80,0) 0,906
Feminino 48(20,7) 184 (79,3)
Idade
<20 anos 11(13,1) 73 (86,9) 0,044
>21 anos 48(23,6) 155 (76,4)
Estado civil 0,275
Com companheiro 12(26,7) 33 (73,3)
Sem companheiro 48(19,5) 198 (80,5)
Curso 0,005
Enfermagem 14(14,9) 80 (73,3)
Farmácia 18(36,0) 32 (64,0)
Fisioterapia 05(10,0) 45 (90,0)
Psicologia 23(23,2) 76 (76,8)
Período 0,319
1-5º 24(18,0) 109 (82,0)
> 6º 36(22,8) 122 (77,2)

O Quadro 3 apresenta os resultados da análise de associação entre a Síndrome de Burnout e as


características sociodemográficas e de formação dos estudantes. Constatou-se associação
significativa entre a SB e as variáveis idade (p=0,044) e curso (p= 0,005).

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DISCUSSÃO

A partir dos dados encontrados nesta pesquisa, foi possível identificar uma prevalência elevada
da Síndrome de Burnout entre os estudantes universitários da área da saúde de uma instituição
privada no norte de Minas Gerais.
No âmbito internacional, a prevalência de casos de Burnout de alto risco entre os estudantes foi
11,4% em Cartagena (Ávila et al., 2018). Divergindo das pesquisas realizadas na Espanha por
Youssef (2016) apresentando uma prevalência de 52% e Arábia Saudita 67,1% (Almalki et al.,
2017). Em estudos nacionais, observou-se que os resultados relacionados a prevalência da SB nos
alunos apresentavam-se diversificados. Mostrando-se uma elevada prevalência na pesquisa de Boni
et al. (2018) em São Paulo com 44,9% dos alunos com SB, de Almeida et al. (2016) em Fortaleza
14,9%, e em outras regiões 5% (Padovani et al., 2014).
Com relação às dimensões da SB, observou-se neste estudo que um grande número de estudantes
apresentou níveis altos de despersonalização e realização profissional, e moderado para exaustão
emocional. Em relação à despersonalização, resultados semelhantes foram encontrados em outros
estudos (Boni et al., 2018; Medeiros et al., 2018). Evidenciou-se em outras análises resultados
semelhantes a essa pesquisa nos aspectos de realização profissional e exaustão emocional (Lopes &
Guimarães, 2016; Medeiros et al., 2018; Tomaschewski-Barlem et al., 2014).
Teoricamente, encontra-se na literatura que o desenvolvimento da SB acontece inicialmente com
a manifestação da dimensão exaustão emocional, seguida pela elevação da despersonalização e, por
conseguinte, pelo sentimento de baixa eficácia profissional (Tomaschewski-Barlem et al., 2014).
Lopes e Guimarães (2016), descrevem a exaustão emocional em sua pesquisa como uma sensação
de esgotamento e cansaço para enfrentar outro dia de estudos, caracterizando uma sobrecarga
emocional que pode se potencializar caso esteja acompanhada da descrença e baixa realização
profissional.
A literatura demonstra que a presença de altos níveis de despersonalização, é um fator
preocupante, tendo em vista que um dos princípios fundamentais dos cursos da área da saúde é a
humanização do atendimento. Dessa forma, os fatores estressantes que contribuem para o
desenvolvimento da SB podem prejudicar a qualidade do curso e a relação do estudante com a
população devido ao seu distanciamento emocional (Medeiros et al., 2018).
Quanto aos fatores associados a SB, observou-se significância estatística em relação a variável
idade e o tipo de curso frequentado pelo acadêmico. Em relação a idade, dados semelhantes foram
evidenciados por Martins e Campos (2017), mostrando que os alunos com idade superior a 22 anos
apresentavam níveis mais altos de exaustão emocional. Distinguiu-se da pesquisa no Ceará, no qual
os alunos com níveis mais graves de estresse tinham entre 18 e 25 anos (Cestari et al., 2017).
Autores sugerem que os estudantes com faixa etária menor possam apresentar uma insegurança
quanto à escolha do curso, a carreira que pretende seguir, passando por uma fase de dúvida, o que
acaba levando a um distanciamento dos estudos por um determinado período (Lopes & Guimarães,
2016).
No que se refere ao curso, resultado semelhante ao desta pesquisa foi evidenciado em outro
estudo, onde os alunos do curso de fisioterapia de uma faculdade privada do interior de Rondônia
apresentaram níveis elevados de Burnout (Borine et al., 2015). Outros estudos que também
utilizaram a mesma metodologia de pesquisa aqui abordada, encontraram maior prevalência da SB
em estudantes de enfermagem e medicina (Boni et al., 2018; Martins & Campos, 2017).
Destaca-se que os cursos da área da saúde, além da grande carga em relação aos estudos,
também exigem que os estudantes cumpram atividades práticas relacionadas à sua área de atuação.
Diante disso, os universitários podem ficar mais susceptíveis aos fatores estressantes, no decorrer
do curso, o que pode acarretar uma sobrecarga emocional que interfere negativamente na sua saúde
mental (Lopes & Guimaraes, 2016).

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Ao serem estabelecidas as relações da SB e as demais variáveis do estudo, embora não tenha


sido encontrado significância estatística constatou-se maior prevalência da síndrome entre as
mulheres, as pessoas que vivem com companheiros e aqueles que estão nos últimos períodos da
faculdade.
Em análises nacionais e internacionais fizeram comparações de gênero em relação a Síndrome de
Burnout, e identificaram diferença entre homens e mulheres (Cestari et al., 2017; Medeiros et al.,
2018; Youssef, 2016). O sexo feminino neste estudo, apresentou o percentual maior em comparação
ao masculino. A literatura aponta que essa diferença pode estar relacionada aos fatores biológicos,
hormonais, cognitivos, comportamental ou da associação de todos eles, que podem implicar em
níveis elevados de exaustão emocional e aparecimento de quadros de estresse, ansiedade, pânico e
depressão (Cestari et al., 2017; Lameu et al., 2016)
No que se refere ao período cursado pelo aluno, o maior grau de Burnout se fez presente entre os
estudantes dos últimos anos de curso. Um estudo desenvolvido no Ceará com acadêmicos da área
da saúde evidenciou uma evolução do grau de estresse nos estudantes no decorrer da graduação,
mostrando-se mais forte nos últimos períodos (Cestari et al., 2017). A literatura aborda que cada
período do curso apresenta e exige dos alunos habilidades e competências que necessitam ser
desenvolvidas ao longo dos anos de forma crescente, o que pode ser um dos fatores que demarcam
as diferenças apresentadas entre os primeiros períodos e os demais. Destaca-se também, que nos
últimos períodos de graduação ocorre uma pressão relacionada a conclusão do curso, além da
competitividade e breve inserção no mercado de trabalho (Cestari et al., 2017).
Este estudo apresenta como limitações o desenho transversal e a população específica de
universitários em uma instituição de ensino. Mas deve-se destacar que este estudo ao identificar a
prevalência da Síndrome de Burnout em universitários reforça a necessidade de se criar programas
que visem à saúde dos estudantes e futuros profissionais da área da saúde.
É preciso que as universidades promovam a saúde mental, com ações interventivas sobre esses
alunos a fim de minimizar fatores estressores que contribuam para um possível desenvolvimento da
Síndrome de Burnout. A adoção de medidas preventivas organizacionais pode ser relevante para
garantir um desempenho acadêmico saudável e favorável aos alunos (Navarro-Abal et al., 2018).
Identificou-se que uma parcela significativa da população estudada apresentava a Síndrome de
Burnout, principalmente àqueles com mais de 21 anos de idade matriculados nos cursos de
Farmácia, Psicologia e Enfermagem. E fatores como despersonalização, realização profissional,
exaustão profissionais estavam interligados de modo consideráveis. Tal constatação é importante,
considerando que o desenvolvimento da síndrome ocorre a partir de níveis elevados dessas
dimensões, e que associadas ao baixo nível de Eficácia Profissional podem ter implicações
consideráveis no processo de aprendizagem e formação do futuro profissional.
Embora a pesquisa tenha sido realizada em apenas uma instituição privada de ensino, é possível
refletir sobre a realidade em outros ambientes acadêmicos, considerando o tamanho da amostra.
Acredita-se que a compreensão sobre a prevalência da Síndrome de Burnout dentro das
universidades seja uma forma de preparar os alunos para entender como se desenvolve e reduz esse
problema.
Dessa forma, fica claro a relevância do papel das universidades em implementar ações integradas
a prevenção dessa síndrome nos estudantes universitários, como oferecer palestras sobre a temática
em questão, rodas de conversa para esclarecer dúvidas e profissionais capacitados para prestar
orientações aos alunos. Nessa perspectiva, espera-se que os resultados contribuam para o
desenvolvimento de outros estudos sobre a SB em estudantes universitários, implantação de ações
que visem minimizar o desenvolvimento da síndrome e possibilitar um melhor entendimento sobre
a prevalência e os efeitos do Burnout em estudantes da área da saúde.

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ORCID

Carolina Oliveira https://orcid.org/0000-0003-1804-619X


Lucinéia Pinho https://orcid.org/0000-0002-2947-5806

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Jaime Gondin: Conceitualização, Análise formal, Investigação, Redação do rascunho original


Pollyanna Magalhães: Conceitualização, Análise formal, Investigação, Redação do rascunho original
Carolina Oliveira: Redação do rascunho original, Revisão final do manuscrito
Juliana Andrade: Redação do rascunho original, Revisão final do manuscrito
Lucinéia Pinho Conceitualização, Análise formal, Metodologia, Supervisão, Redação do rascunho original, Revisão
final do manuscrito.

REFERÊNCIAS

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