Dramas Da Obsessão
Dramas Da Obsessão
Dramas Da Obsessão
Primeira Parte
O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao
seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar,
ferir nos seus interesses ou nas suas mais caras afeições.
***
***
11 - Nota da médium: Durante a recepção desta obra foi-me concedida a visão desses
Espíritos, com as indumentárias típicas da época. Das mais comoventes era a configuração
da personagem Rubem, menino vivo, inteligente, regulando 13 anos, com efeito, e como que
nervoso, atemorizado. Trajava veludo negro, calções e meias à moda da época, semblante
marmóreo, lábios finos, olhos vivos e chamejantes, um pequeno gorro tipo “casquete”, com
pequena pluma branca. De vez em quando, em um ricto de dor, levava os dedos unidos à
altura da boca e soprava-os, como se sentisse ardência.
Segunda Parte
O Passado
I
12 - N.E.: A Inquisição era tribunal eclesiástico, estabelecido pela Santa Sé, mas firmado
sobre os poderes civis. Em Portugal, como é sabido, o governo usou de grande insistência
para que a Santa Sé permitisse o seu estabelecimento. Os inquisidores geralmente eram os
próprios religiosos: bispos, padres, frades etc.
13 - N.E.: D. João III reinou de 1521 a 1557.
14 - N.E.: Os doze filhos de Jacó, dos quais se originaram as doze tribos de Israel, são:
Rubem, Levi, Benjamim, José, Efraim, Manassés, Zebulom, Issacar, Gade, Dã, Naftali, Asser
– segundo reza o Velho Testamento. (Deuteronômio, 33.)
III
***
***
15 - N.E.: Religiosos da Ordem de São Domingos, criada pelo pregador espanhol Domingos
de Gusmão, em 1215. Muitos desses religiosos foram inquisidores, sobressaindo-se dentre
tantos, pelas crueldades praticadas, o célebre Tomás de Torquemada, inquisidor-geral na
Espanha, que, segundo consta, “fez condenar à fogueira mais de oito mil pessoas”, e
Jerônimo de Azambuja, em Portugal, não menos célebre pelas mesmas crueldades.
Domingos de Gusmão, falecido em 1221, foi canonizado pela Igreja em 1234.
16 - N.E.: Jerônimo de Azambuja, célebre e cruel Inquisidor-mor e teólogo, de Portugal,
também conhecido pelo pseudônimo de Oleastro, ao tempo de D. João III. Nomeado
inquisidor em Évora, em 1552, só em 1555 se transferiu para Lisboa.
17 - N.E.: Os judeus, mesmo convertidos, não conseguiam criadagem entre os cristãos.
Apelavam então para a escravatura, sempre existente entre outras raças não cristãs ou
judaicas.
IV
O Senhor converteu
A minha alma,
Tornou-a humilde
E agradecida...
Elevou-me por estradas justas
Por amor do seu nome...
A tua proteção,
A tua vigilância,
Eu sei que me acompanharão!
E a tua misericórdia irá
Após mim,
Docemente me inspirando
Em todos os dias
Da minha vida,
A fim de que
Eu permaneça
Sob a luz da tua bênção,
E também da tua paz,
Pela eternidade
Dos tempos...20
***
***
22 - N.E.: Meio de transporte individual muito antigo, que consistia em uma cadeira fechada
qual pequeno carro sem rodas, mas provido de dois varais de frente e dois às costas,
permitindo a dois homens ou dois animais, a ele atrelados, carregá-lo balouçando-o
suavemente no espaço.
23 - N.E.: Existiam nessa época (século XVI) tintas coloridas muito vivas e variadas, para a
escrita particular, inclusive uma espécie de purpurina dourada, para cartas destinadas a
personagens gradas, para a literatura sacra e a poesia.
24 - N.E.: A Inquisição perseguia com verdadeiro furor os judeus chamados “cristãos-
novos”, suspeitando-os, às vezes sem razão, de infiéis aos compromissos assumidos com a
Igreja, relapsos na fé católica.
IX
Deus meu!
Livra-me da ira
Do inimigo pecador!
Daquele que procede
Contra a tua lei!
E também
Do que pratica
Tanta e tanta
Iniquidade!
Porque Tu, Senhor,
És a minha fé
E a minha
Paciência!
Tu, Senhor,
És a minha esperança
E o meu
amor!
A minha alegria
E a minha fé!
E espero em ti, Senhor,
Desde os dias
Tão distantes,
E tão ditosos,
Da minha infância
E da minha
Mocidade...
Quando os acordes maviosos cessaram, o pequeno Rubem, a um
sinal do pai, encaminhou-se para uma das três pontezinhas do
tanque, não sem investigar, com olhos temerosos, os recantos do
círculo onde se achavam as galhadas dos arvoredos, o alto dos
telhados e dos muros e os tufos de arbustos do jardim. Saulo
advertiu:
— Não há cá ninguém, eu investiguei...
Enquanto Ester ajuntou:
— Examinei todas as portas: estão trancadas pelo lado de cá...
E Timóteo interveio desesperançado:
— Pouco importa que nos descubram agora ou mais tarde... Joel
já lá está... e poderemos ir ter com ele... Estamos todos
irremediavelmente condenados... A prisão, a tortura e a morte
rondam nossos passos... Não tardarão a nos aniquilar de vez...
tenhamos ou não infringido a lei...
Reanimado pelo fatalismo pressago do pai, o moço judeu
encaminhou-se para o bloco de mármore do pedestal do repuxo,
acionou o segredo existente, fazendo mover a parede da caixa, e,
introduzindo o braço na cavidade, retirou um grande e precioso livro
escrito em hebraico – o Talmude –, o livro precioso da sabedoria de
Israel, acompanhado de velhos pergaminhos dos livros dos profetas.
O bloco de mármore seria, portanto, um simulacro da arca sagrada
do povo hebreu, na qual se guardavam das profanações exteriores os
ensinos dos filhos de Abraão, de Isaque e de Jacó...
Timóteo pôs-se a ler e comentar, para os filhos, o tema do dia.
Ao terminar, concedeu a palavra a Saulo e a Rubem,
respectivamente, como de praxe nas igrejas judaicas, nas quais a
palavra é concedida a qualquer que dela queira usar, excetuando-se
as mulheres, que não tinham o mesmo direito. No entanto, enquanto
assim cumpriam seus deveres religiosos, um fato marcante para suas
vidas começava a desenrolar-se no próprio recinto de sua residência,
sem que, todavia, nenhum dos presentes sentisse a mais leve
suspeita, pois continuaram a “judaizar”.
João-José, que se conservava alerta a todos os detalhes da vida
dos amos, desejou verificar o que poderia tanto entretê-los sob o
frescor dos arvoredos. Tentou espioná-los sutilmente, penetrando
dependências vedadas aos criados, para atingir o jardim que, como
explicamos, era interior, como em um claustro conventual. Seria,
porém, temerário o intento, visto que poderia ser descoberto.
Suspendeu-se, então, ao telhado do abrigo das carruagens e viaturas,
posto no pátio de entrada. Passou-se daí para o telhado da casa
propriamente dita. Arrastou-se como pôde, ocultando-se por entre as
chaminés e os rendilhados arquitetônicos, alcançando, finalmente,
um terraço de onde poderia contemplar as cenas e até ouvir os
debates e conversações, sem ser notado. Ornado de balcões de
alvenaria em forma de graciosas colunas, tão do gosto dos antigos
mouros, esse terraço oferecia excelente posto de observação. O
espião conservou-se abaixado e tudo presenciou, inclusive o
esconderijo do livro venerado pela família.
Alguns dias depois, plenamente informado de todos os passos e
atos de Silvério Fontes Oliveira, apresentou-se o espião aos seus
inquisitoriais chefes e lançou a denúncia terrível, cujas repercussões
ainda nos dias presentes lhe torturam a consciência, visto que ainda
se debate o seu Espírito contra os abomináveis complexos que tal
vileza ocasionou para seus destinos futuros.
Silvério Fontes Oliveira – denunciava o servo traidor –, que se
afirmava fiel à Santa Igreja, que se batizara em ato solene, recebendo
as puras águas lustrais; que recebia, periodicamente, a sagrada
Eucaristia, atraiçoava os juramentos pronunciados, como a confiança
da mesma Igreja, pois continuava praticando o Judaísmo, não
apenas dentro do próprio lar, pervertendo os filhos, que se educavam
sob os cuidados de devotados religiosos, mas também chefiando uma
sinagoga oculta, como Rabino que fora, rodeando-se de cristãos
recém-convertidos para a prática de mil inconveniências condenadas
pela Santa Inquisição. E não era só: a esta mesma insultava, dela
maldizendo e execrando-a em casa, em presença dos filhos e dele
próprio, João-José, ou durante as concentrações na sinagoga,
criticando e abominando igualmente os ilustres e abnegados
representantes do Santo Ofício. Forneceu ainda, o delator, as
necessárias informações para ser colhido o flagrante de heresia e
desrespeito à autoridade nacional. E nada esqueceu que pudesse
acirrar o furor dos inquisidores, que, sedentos de sangue e
represálias, se banhavam em satânico prazer sempre que lhes fosse
dado estender as garras para triturar indefesas criaturas, cujo crime
único seria possuir crença religiosa diferente daquela que seus
algozes entendiam ser a única verdadeira e divina.
XII
27 - N.E.: Não era comum a prisão de filhos menores de judeus. O fato aqui narrado parece
tratar-se de vinganças pessoais. No entanto, a Inquisição deixava-os, geralmente, ao mais
completo desamparo, segundo reza a História.
XIII
30 - N.E.: Javé (Jeová) – Espírito superior protetor da raça hebraica, que concedeu ao
médium psicógrafo Moisés, em nome de Deus, o Decálogo, ou Os Dez Mandamentos da Lei
de Deus, fenômeno idêntico aos que se processam hoje entre os médiuns espíritas. Outro
Espírito, da mesma categoria espiritual de Javé, revelava-se também protetor dos hebreus –
Eloim, citado com o primeiro, várias vezes, no Velho Testamento. Os antigos povos de Israel
atribuíam tais manifestações ao próprio Deus.
III
“Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não
pagares o último ceitil.”
(M , 5:26.)
I
***
***
34 - N.E.: Perdoará o leitor a não tradução do linguajar enfadonho dos antigos escravos
africanos.
VII
***
***
38 - N.E.: Nem sempre esses elos são originários do amor. Poderão firmar-se também no
ódio, tendo em vista penosas expiações e reparações para o advento da reconciliação dos
Espíritos.
XII
***
39 - N.E.: os antigos carros dos trens de ferro, para passageiros, não eram ligados entre si,
como os carros modernos, e sim apenas por frágeis engates, o que oferecia constantes
ameaças aos passageiros. Eram frequentes os desastres pessoais daí consequentes.
Conselho Editorial:
Nestor João Masotti - Presidente
Coordenação Editorial:
Rosiane Dias Rodrigues
Produção Editorial:
Fernando Cesar Quaglia
Revisão:
Neryanne Paiva
Capa:
Ingrid Saori Furuta
Projeto Gráfico:
Foto de Capa:
Bim | istockphoto.com
Normalização Técnica:
Biblioteca de Obras Raras e Documentos Patrimoniais do Livro
E-Book:
Diego Henrique Oliveira Santos