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Fenómenos de Transferência

PREÂMBULO

Tradicionalmente, os curricula dos cursos de engenharia incluem assuntos


relacionados com a mecânica dos fluidos, com as trocas de calor e com a
transferência de massa. São estes três fenómenos - transferência de quantidade
de movimento (ou mecânica dos fluidos), transferência de calor e transferência
de massa - que genericamente são denominados Fenómenos de Transferência.

Se mais nenhuma razão existisse, esta era bastante para justificar a inclusão da
disciplina no curriculum da licenciatura em Engenharia do Ambiente, considerada
como de formação básica e necessária para a compreensão das tecnologias e
processos industriais. Mas, a argumentação é ainda mais fundamentada, pois
muitos dos fenómenos que ocorrem no ambiente - em particular no ar e na água,
como elementos estruturantes, são do foro da mecânica de fluidos e incluem
também trocas de calor e de massa.

Assim, o lançamento de um efluente gasoso - um fluido - a partir de uma


chaminé industrial ou de um escape de um automóvel, é efectuado num outro
fluido que é o ar atmosférico. Normalmente, o referido efluente tem uma
temperatura diferente da temperatura atmosférica e transporta uma certa
quantidade de poluentes. Quando chega à atmosfera é levado pelo vento
(transferência de quantidade de movimento) e mistura-se com o ar ambiente,
diminuindo a sua temperatura (transferência de calor) e reduzindo a
concentração de poluentes (transferência de massa).

O mesmo raciocínio se poderia aplicar ao lançamento de um efluente líquido


(industrial ou doméstico) num rio. Menos evidente, mas tão importante como as
aplicações exemplificadas, é o caso das redes de abastecimento de água. A
própria atmosfera, sendo constituída por um fluido - o ar - e recebendo a
influência do Sol, está sujeita aos três fenómenos de transferência já descritos.
Torna-se, portanto, evidente o interesse de que se reveste o estudo da
transferência de quantidade de movimento, de calor e de massa, realizado de
um modo integrado e com realce para a completa analogia da sua formulação.

Este texto, de carácter essencialmente didáctico, visa dotar os estudantes de


engenharia do ambiente do conhecimento básico sobre fenómenos de

1
Fenómenos de Transferência

transferência, em estado fluido. Os dois primeiros capítulos introduzem conceitos


e definições basilares para a compreensão dos mecanismos de transferência.

Os capítulos 3, 4 e 5 desenvolvem e aplicam as três técnicas fundamentais de


análise de escoamentos de fluidos, respectivamente: integral, diferencial e
dimensional.

Os capítulos que se seguem aprofundam e aplicam a mecânica de fluidos em


situações concretas, nomeadamente a análise de escoamentos turbulentos......,
chegando às expressões físicas fundamentais na engenharia.

A transferência de calor é desenvolvida nos capítulos -----, analisando os


mecanismos de condução, convecção e radiação. Os capítulos finais lidam com
a transferência de massa.

Atendendo ao objectivo principal do texto, cada capítulo termina com uma


proposta de problemas a resolver pelos alunos e com a respectiva lista de
soluções.

Os autores esperam estar a contribuir para a qualidade do ensino universitário,


disponibilizando um Manual que, não só facilita o estudo de Fenómenos de
Transferência, mas também possibilita um aprofundar e aplicar do conhecimento
adquirido.

2
Capítulo 1: Conceitos e definições

CAPÍTULO 1
CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Na disciplina Fenómenos de Transferência estudam-se os fundamentos da


transferência de quantidade de movimento (mecânica dos fluidos), transferência
de calor e transferência de massa.

Existem alguns conceitos base, comuns a estes três mecanismos de


transferência, que, devido à sua importância, são revistos neste capítulo
introdutório.

1.1 CONCEITO DE FLUIDO


Usualmente, toda a matéria é considerada apenas em dois estados: fluido e
sólido. A distinção entre os dois relaciona-se com a reacção de ambos à
aplicação de uma tensão tangencial. Um sólido pode resistir a uma tensão
tangencial através de uma deformação estática; um fluido não. Qualquer tensão
tangencial aplicada a um fluido, resulta em movimento. O fluido move-se e
deforma-se continuamente à medida que a tensão tangencial é aplicada,
distinguido-se dois tipos de fluido: líquidos e gases.

1.2 CONCEITO DE CONTINUUM


Os fluidos são agregações de moléculas, bastante espaçadas num gás, menos
espaçadas num líquido. A distância entre moléculas é muito grande quando
comparada com o diâmetro molecular e as moléculas não estão fixas, mas
movem-se mais ou menos livremente. Isto significa que a massa volúmica do
fluido, ou massa por unidade de volume, não tem um significado preciso, pois o
número de moléculas que ocupam um dado volume varia continuamente.

3
Capítulo 1: Conceitos e definições

Este efeito torna-se insignificante se a unidade de volume é grande quando


comparada com o livre percurso médio elevado ao cubo, caso em que o número
de moléculas dentro do volume permanecerá aproximadamente constante,
embora haja um enorme intercâmbio de partículas através das fronteiras. Se, no
entanto, o volume escolhido for demasiado grande, poderá haver uma variação
significativa na agregação das partículas.

Esta situação está ilustrada na fig. 1.1 (b), em que se representa a massa
volúmica em função do tamanho da unidade de volume. δV* é o volume
limitante, abaixo do qual podem ser importantes as variações moleculares e
acima do qual podem ganhar importância as variações dos agregados. A massa
volúmica ρ de um fluido é então definida como

δm
ρ = limδV → δ V* (1.1)
δV
-9 3
O volume limitante δV* é cerca de 10 mm para todos os líquidos e gases à
pressão atmosférica.

Incerteza
Volume microscópica
elementar
Incerteza
macroscópica

Região que
contém o fluido

Figura 1.1: Definição de massa volúmica de um fluido continuum:


(a) um elemento de volume numa região em que a massa volúmica varia
continuamente
(b) massa volúmica calculada em função do tamanho do elemento de
volume.
(adaptado de White, 1986)

A maior parte das aplicações de engenharia está associada a dimensões físicas


muito superiores a este volume limite, logo a massa volúmica é essencialmente
uma função pontual e pode supôr-se que as propriedades do fluido variam
continuamente no espaço, como se representa na fig 1.1 (b).

4
Capítulo 1: Conceitos e definições

Tal fluido é denominado um continuum, o que significa que a variação nas suas
propriedades é tão suave que pode ser usado o cálculo diferencial para avaliar a
substância. Ao longo deste texto analisar-se-ão essencialmente fluidos continua.

1.3 CONDIÇÕES DE NÃO ESCORREGAMENTO E


IMPOSSIBILIDADES DE SALTOS BRUSCOS DE TEMPERATURA
Quando um escoamento está limitado por uma superfície sólida, as interacções
moleculares forçam o fluido que está em contacto com a superfície a um
equilíbrio de quantidade de movimento e energia com essa superfície. Todos os
líquidos estão em equilíbrio com a superfície que contactam. Todos os gases
também, excepto em condições de rarefacção. Assim, excluindo os gases
rarefeitos, todos os fluidos num ponto de contacto com um sólido, têm a
velocidade e temperatura dessa superfície

vfluido = vparede Tfluido = Tparede.


(1.20)

Estas são denominadas, respectivamente, as condições de não-escorregamento


e impossibilidade de saltos bruscos de temperatura. Servem como condições
fronteira na análise de escoamentos de fluidos sobre superfícies sólidas.

1.4 PROPRIEDADES DO CAMPO DE ESCOAMENTO


Num dado escoamento, a determinação, experimental ou teórica, das
propriedades do fluido em função da posição e do tempo, é considerada como
sendo fundamental para a sua caracterização. Na maior parte dos casos, o
realce está na distribuição espaço-temporal das propriedades do fluido, como
funções de um campo-continuum.

No entanto, existem situações em que a análise da trajectória de elementos de


fluido se revela também importante. A análise da qualidade da água na presença
de descargas contaminantes pode ser uma dessas situações.

1.4.1 Tipos de Escoamentos

O estudo de problemas de escoamento de fluidos assenta em duas abordagens


diferentes. O método ou descrição euleriana (apresentado por Euler) está
associado ao campo do escoamento, determinando-se o valor duma variável do
escoamento num dado ponto e num dado instante. Calcula-se, por exemplo, o

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Capítulo 1: Conceitos e definições

campo de pressões P(x,y,z,t) do escoamento, e não as variações de pressão


P(t) que uma partícula sofre ao mover-se através de um campo.

O segundo método, apresentado por Lagrange, segue uma partícula individual


que se move através do escoamento, é denominado descrição lagrangeana. Ao
longo deste manual usar-se-á essencialmente a descrição euleriana.

Como exemplo dos dois métodos, considere-se uma sonda de pressão


introduzida num escoamento laboratorial e fixa numa posição específica (x,y,z).
As suas saídas contribuem para a descrição do campo de pressões euleriano
P(x,y,z). Para simular a descrição lagrangeana, a sonda teria que mover-se no
escoamento, à velocidade das partículas do fluido.

A análise de fluxos de tráfego pode também ilustrar a utilização das descrições


euleriana e lagrangeana. Suponha-se um certo troço de auto-estrada, que será o
campo de escoamento. À medida que o tempo passa vários automóveis entrarão
e sairão do campo. O engenheiro de transportes/tráfego ignorará o
comportamento de cada automóvel e concentrar-se-á na velocidade média dos
veículos, em função do tempo e do espaço, e no número de carros que
atravessa uma dada secção do troço de auto-estrada por hora. Esse engenheiro
estará recorrendo à descrição euleriana do fluxo de tráfego. Outros
investigadores poderão estar interessados no percurso, velocidade ou destino de
automóveis específicos. Seguindo um veículo específico em função do tempo
estarão usando a descrição lagrangeana do escoamento.

Na abordagem euleriana o escoamento é função de 4 variáveis independentes


(x,y,z,t). Quanto à dependência das grandezas em relação ao tempo, os
escoamentos podem classificar-se em:

• permanentes ou estacionários: as grandezas que caracterizam o


r
estado do fluido em cada ponto (ρ, P, v , ...), são independentes do
tempo;

• não permanentes ou instacionários: as grandezas que caracterizam o


estado do fluido em cada ponto são funções do tempo.

Em certos casos é possível reduzir um escoamento instacionário a permanente


por mudança de referencial. Analisando a fig 1.3 pode verificar-se que, à medida
que o avião se aproxima de P, com velocidade v0, o escoamento varia. Portanto,
no referencial fixo (x,y,z) o escoamento é instacionário. A mesma situação vista
do referencial (x’,y’,z’) que se move com velocidade v0, transforma o escoamento
em permanente.

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Capítulo 1: Conceitos e definições

Figura 1.3: Escoamento permanente, relativamente ao referencial móvel.

Nos ensaios em túnel de vento usa-se este conceito: é idêntico ter o modelo a
mover-se num fluido parado ou ter o modelo parado e o fluido a mover-se.

Os movimentos permanentes podem ainda classificar-se em

• uniformes: se as grandezas características são constantes ao longo


da trajectória (definida a seguir);

• variados: se as grandezas características são variáveis ao longo da


trajectória.

Quanto à dependência dessas mesmas grandezas em relação às coordenadas


espaciais, o escoamento pode ser:

• monodimensional: escoamento cujas propriedades dependem de uma


só coordenada espacial e, eventualmente, do tempo;

• bidimensional: as propriedades só dependem de duas coordenadas


espaciais e do tempo, eventualmente. É o caso do escoamento sobre
uma colina infinitamente comprida (figura 1.4);

• tridimensional: as suas propriedades dependem de três coordenadas


espaciais (e eventualmente do tempo). É o caso do escoamento do ar
sobre uma montanha ou da água junto a um obstáculo existente num
rio, por exemplo.

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Capítulo 1: Conceitos e definições

Figura 1.4: Colina infinitamente comprida.

1.4.2 Campo de velocidades


r
O campo de velocidades v (x,y,z,t) é uma das propriedades mais relevantes dum
escoamento, sendo usual a partir da sua determinação conseguir conhecer
quase directamente outras propriedades, tais como a pressão e a temperatura.

Num dado instante, o campo de velocidades é função das coordenadas x, y e z.


A velocidade em qualquer ponto do campo do escoamento pode variar de um a
outro instante. Assim, em geral, a velocidade é um vector função da posição e
do tempo,
r r r r
v(x, y, z, t) = v x (x, y, z, t) i + v y (x, y, z, t) j + v z (x, y, z, t)k . (1.2)

Várias outras quantidades, chamadas propriedades cinemáticas, podem ser


derivadas matematicamente da função campo de velocidades. São exemplos, o
vector deslocamento, o vector aceleração, o vector velocidade angular e o
caudal volúmico através de uma superfície.

1.4.3 Aceleração de uma partícula


r
Para obterr a aceleração a de uma partícula é necessário calcular a derivada
total de v em ordem ao tempo, a qual depende de quatro variáveis
independentes x, y, z e t. O vector aceleração, é portanto, dado por:
r r r r r
r dv ∂ v ∂ v dx ∂ v dy ∂ v dz
a= = + + + . (1.3)
dt ∂ t ∂ x dt ∂ y dt ∂ z dt

Porém, as deslocações infinitesimais de uma partícula estão, por definição,


directamente relacionadas com as componentes locais da velocidade

dx = vxdt dy = vydt dz= vzdt. (1.4)

Substituindo dx, dy e dz na equação (1.3) obtém-se a expressão desejada para a


aceleração de uma partícula

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Capítulo 1: Conceitos e definições

r r r r r
dv ∂ v  ∂ v ∂v ∂ v
= + vx + vy + vz . (1.5)
dt ∂ t  ∂ x ∂y ∂ z

O primeiro termo do 2º membro da equação denomina-se aceleração local,


sendo nulo para um escoamento estacionário, ou seja, independente do tempo.
Os três termos entre parêntesis são a aceleração convectiva, a qual surge
quando a partícula se move através de regiões com velocidade variável, por
exemplo, um orifício ou um difusor. Os termos da aceleração convectiva
r podem
ser formulados como um produto interno envolvendo o vector v e o operador
gradiente ∇
r ∂ r ∂ r ∂
∇= i +j +k (1.6)
∂x ∂y ∂z

ficando
r r r
∂vr ∂vr ∂vr r r
vx i + vy j + vz k = ( v ⋅ ∇) v . (1.7)
∂x ∂y ∂z

Deste modo, a aceleração total (eq. (1.5)) de uma partícula no sistema euleriano
pode ser escrita na forma:
r r
r dv ∂v r r
a= = + ( v ⋅ ∇) v . (1.8)
dt ∂t

Note-se que a equação (1.8) contém uma expressão geral

d ∂ r
= + ( v ⋅ ∇) (1.9)
dt ∂t

que pode ser aplicada a qualquer propriedade do fluido, escalar ou vectorial,


como por exemplo a pressão:

dP ∂P r ∂P ∂P ∂P ∂P
= + ( v ⋅ ∇) P = + vx + vy + vz . (1.10)
dt ∂t ∂t ∂x ∂y ∂z

De realçar que esta derivada total em ordem ao tempo, segue um elemento de


fluido com identidade própria, o que a torna conveniente para expressar as leis
da mecânica dos fluidos (dos fenómenos de transferência?), quando se utiliza a
descrição euleriana do escoamento. Ao operador d/dt é por vezes dado o nome
de derivada substantiva ou derivada material, sendo representado pelo símbolo
especial D/Dt.

Do ponto de vista físico, a diferencial total de uma quantidade pode ser ser
encarada de 3 modos. Assim, suponha-se que se deseja calcular a variação da
pressão atmosférica P; a sua diferencial total (processo matemático de obter a
variação desejada) será

9
Capítulo 1: Conceitos e definições

∂P ∂P ∂P ∂P
dP = dt + dx + dy + dz
∂t ∂x ∂y ∂z

onde dx, dy, dz são deslocamentos arbitrários nas direcções x, y e z. A taxa da


variação da pressão obtem-se dividindo a diferencial total por dt

dP ∂P ∂P dx ∂P dy ∂P dz
= + + + .
dt ∂t ∂x dt ∂y dt ∂z dt
(1.11)

Esta expressão poderá ser, então, analisada segundo três perspectivas:

• 1ª análise - O instrumento de medição da pressão está colocado numa


estação meteorológica fixa na superfície terrestre. Então, os termos dx/dt,
dy/dt e dz/dt são nulos, logo para um ponto de observação fixo a derivada
total, dP/dt, é igual à derivada local em ordem ao tempo ∂P/∂t.

• 2ª análise - O instrumento de medição da pressão está colocado num avião


que segue um rumo aleatório nas direcções x, y e z. Neste caso, os termos
dx/dt, dy/dt e dz/dt são as componentes da velocidade do avião segundo x, y
e z que não são necessariamente coincidentes com as correntes de ar
atmosférico.

• 3ª análise - O instrumento é colocado num balão que se desloca (sobe, desce


e é transportado) conforme o escoamento do ar que o sustenta. Neste caso,
os termos dx/dt, dy/dt e dz/dt são os do escoamento, sendo portanto
designados por vx, vy e vz respectivamente. Esta situação corresponde à
derivada substantiva.

1.4.4 Caudal volúmico e caudal mássico

Outra importante propriedade cinemática é o caudal volúmico, Q, que passa


através de uma superfície (imaginária) no campo do escoamento.

Considere-se a superfície S da fig. 1.2 como uma malha imaginária através da


qual o escoamento passa sem resistência. Que volume
r de fluido passa através
de S por unidade de tempo? Se, como é vulgar, v varia com a posição, é
r
necessário integrar sobre o elemento de área dA na figura 1.2 (a). Se n é o
vector unitário perpendicular
r a dA e θ o ângulo entre a normal e o vector
velocidade do fluido v , o volume que sai de dA no tempo dt é o volume do
paralelepípedo representado na figura 1.2 (b):
r r
dV = v dt dAcosθ = ( v ⋅ n) dAdt . (1.12)

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Capítulo 1: Conceitos e definições

Figura.1.2: Caudal volúmico através de uma superfície arbitrária:


(a) uma área elementar dA na superfície;
(b) volume que passa através de dA, dV = v dt dA cosθ .

O integral de dV/dt é o caudal volúmico Q através da superfície S


r r
Q = ∫ ( v ⋅ n) dA = ∫ v n dA (1.12)
S S

r r r
Podia substituir-se v ⋅ n pelo seu equivalente vn, a componente de v
perpendicular a dA, mas o uso do produto interno dá um sinal a Q que permite
r
distinguir entre entrada
r r e saída. Por convenção, considera-se que n é dirigido
para fora. Assim, v ⋅ n indica saída se é positivo e entrada se é negativo.

O caudal volúmico pode ser multiplicado pela massa volúmica obtendo-se o


caudal mássico, m & . Se, na superfície de controle a massa volúmica varia, esta
deverá fazer parte do integral de superfície
r r
& = ∫ ρ ( v ⋅ n) dA = ∫ ρ Vn dA .
m (1.13)
S S

Se a massa volúmica é constante

m
& =ρ Q. (1.14)

Inserir frase sobre escoamentos compressíveis e incompressívies?

O caudal volúmico é frequentemente utilizado, em particular no escoamento em


condutas, para definir uma velocidade média

11
Capítulo 1: Conceitos e definições

vm =
Q
=
∫S v n dA . (1.15)
A
∫SdA

1.3.5 Outras propriedades cinemáticas

A partir do campo de velocidades podem ser derivadas várias outras


propriedades cinemáticas. Por exemplo, os operadores vectoriais divergente e
rotacional têm ambos um significado físico importante quando aplicados ao
vector velocidade.

O divergente da velocidade é igual à taxa de expansão do volume do elemento


de fluido por unidade de volume inicial

1 dV r r
= div v = ∇ ⋅ v . (1.16)
V dt

Do mesmo modo, o rotacional da velocidade é igual a duas vezes a velocidade


r
angular local ω do elemento do fluido

r 1 r 1 r
ω = rot v = ∇ × v . (1.17)
2 2

Para muitos escoamentos, é frequente ser possível desprezar ambas, ou


unicamente uma das propriedades descritas. Caso a expansão de volume seja
desprezável, o escoamento diz- -se incompressível:

r ∂ vx ∂ vy ∂ vz
∇⋅v= + + = 0. (1.18)
∂x ∂y ∂z

Do mesmo modo, um escoamento com velocidade angular desprezável diz-se


irrotacional:
r r r
i j k
r ∂ ∂ ∂
∇×v = = 0. (1.19)
∂x ∂y ∂z
vx vy vz

A teoria de escoamentos incompressíveis e/ou irrotacionais é consideravelmente


mais simples. Por exemplo, um escoamento simultaneamente incompressível e
irrotacional, pode ser tratado por uma técnica de análise potencial linear
semelhante à teoria electromagnética e o escoamento é denominado potencial.

1.4.6 LINHAS DE CORRENTE E TRAJECTÓRIAS

12
Capítulo 1: Conceitos e definições

As configurações do escoamento podem ser visualizadas de vários modos; por


exemplo, da análise de esquemas ou fotografias é possível a obtenção de muita
informação de ordem qualitativa e mesmo quantitativa acerca do escoamento.
Neste âmbito, definem-se:

Linhas de corrente: são linhas tais que, em cada instante, o vector velocidade é,
em cada ponto, tangente a essas linhas.

Trajectória: é o lugar geométrico das sucessivas posições do elemento de fluido


ao longo do tempo.

A trajectória é fácil de gerar experimentalmente, enquanto que a linha de


corrente é mais de obter por cálculo matemático. Note-se que a trajectória
implica passagem do tempo, enquanto a linha de corrente fornece a imagem
instantânea da configuração do escoamento.

Tente-se, por exemplo, fotografar sucessivamente no tempo o penacho de fumo


que sai duma chaminé ou o jacto de água que sai duma torneira. Cada fotografia
será diferente conforme a posição no espaço das linhas de corrente. No caso da
torneira, feche-se esta até que o escoamento fique permanente. Nessa altura as
sucessivas fotografias apresentarão o mesmo aspecto.

As linhas de corrente são pois difíceis de gerar experimentalmente em


escoamentos instacionários, a não ser que se marque um grande número de
partículas e se verifique a direcção do seu movimento, durante um intervalo de
tempo muito pequeno. Em escoamentos estacionários a situação simplifica-se:
as linhas de corrente coincidem com a trajectória.

A figura 1.5 (a) mostra um conjunto de linhas de corrente e a figura 1.5 (b) o
caso em que as linhas de corrente se apoiam num contorno fechado, definindo o
chamado tubo de corrente. Por definição, o fluido dentro de um tubo de corrente
está confinado porque não pode cruzar as linhas de corrente; assim, as paredes
do tubo de corrente não precisam de ser sólidas, podem ser fluidas.

Figura 1.5: (a) Linhas de corrente; (b) Tubo de corrente.

As linhas de corrente podem ser calculadas a partir do campo de velocidades,


usando as relações geométricas apresentadas na figura 1.6:

13
Capítulo 1: Conceitos e definições

Figura 1.6: Relações geométricas para definir uma linha de corrente.

Uma vez que, ao longo de ruma linha de corrente, todo o vector de comprimento
dr deverá ser tangente a v , as suas respectivas componentes devem ser em
proporção exacta:

dx dy dz dr
= = = . (1.21)
vx vy vz v

Se as componentes vx, vy e vz são funções do espaço e do tempo, a equação


(1.21) pode ser integrada para se obter a linha de corrente que passa em
(x0,y0,z0,t0). A integração pode não ser simples. Outra forma de obter a linha de
corrente é introduzir um parâmetro ds igual às relações na equação (1.21)

dx dy dz
= vx = vy = vz (1.22)
ds ds ds

A equação (1.22) é integrada em ordem a s, mantendo constante o tempo e com


a condição inicial (x0,y0,z0,t0) para s = 0. Em seguida, elimina-se o parâmetro s
para obter a função desejada f(x,y,z,t) que representa a linha de corrente.

Para o cálculo da trajectória parte-se das relações:

dx dy dz
= v x (x, y, z, t) = v y (x, y, z, t) = v z (x, y, z, t) (1.23)
dt dt dt

que se integram em ordem ao tempo, usando a condição inicial (x0,y0,z0,t0).


Eliminando o tempo, obtém-se a função f(x,y,z,t) que representa a trajectória de
um dado elemento de fluido.

1.5 VISCOSIDADE E OUTRAS PROPRIEDADES

14
Capítulo 1: Conceitos e definições

A pressão, a temperatura e a massa volúmica são variáveis termodinâmicas que


caracterizam um dado sistema. Existem também algumas variáveis secundárias
específicas. As mais importantes em termos de transferência de quantidade de
movimento, calor e de massa são, respectivamente, a viscosidade, a
condutividade térmica e a difusividade.

1.5.1 Viscosidade

A viscosidade de um fluido é a medida da sua resistência à deformação e poder-


se-á dever às forças de atracção entre as moléculas. Suponha-se que, num
escoamento rectilíneo e paralelo (figura 1.10), uma camada aa do fluido se
move mais rapidamente que a camada adjacente bb . Algumas moléculas da
camada aa , durante a sua contínua agitação térmica, migram para a camada
bb , levando com elas a quantidade de movimento que possuem como resultado
da velocidade global da camada aa . Devido a “colisões” com outras moléculas
da camada bb a sua velocidade global aumenta. Identicamente, moléculas da
camada mais lenta bb atravessam para aa e tendem a retardar esta camada.
Cada uma destas migrações causa, portanto, forças de aceleração ou
desaceleração que diminuirão as diferenças de velocidade entre as lâminas de
fluido.

vx = vx (y)
y a
a

b b

Figura 1.10: Esquema das forças de atracção moleculares que poderão originar
a viscosidade de um fluido.

Como se referiu no início, o fluido é considerado um continuum, pelo que as


propriedades microscópicas devem ter a sua explicação ao nível macroscópico.
Assim, tal como com a temperatura, também o efeito da variação da quantidade
de movimento molecular, que se acaba de explicar, é identificado
macroscopicamente, pela viscosidade.

A natureza da viscosidade, propriedade do fluido, pode ser visualizada através


da experiência da figura 4.2, na qual se observa o escoamento laminar, em que
o fluido se desloca segundo lâminas bem diferenciadas, entre duas placas
compridas e paralelas, uma fixa e a outra que se move com uma velocidade
constante e paralela a ela própria.

15
Capítulo 1: Conceitos e definições

V
placa móvel

y v h

placa fixa

x
Figura 4.2: Efeito da viscosidade do fluido no escoamento entre duas placas,
uma fixa e outra móvel.

A experiência mostra que o fluido adere a ambas as placas (condição de não-


escorregamento junto a uma parede), logo a sua velocidade é zero junto à placa
fixa e V junto à placa móvel; além disso a distribuição de velocidades do fluido
entre as placas é linear, logo a velocidade do fluido é proporcional à distância y:

y
v (y) = V.
h

Para manter o movimento tem que se aplicar uma força tangencial à placa
superior, força essa que equilibra a força de atrito no fluido. Sabe-se da
experiência que essa força (por unidade de área) é proporcional ao gradiente de
velocidade dv/dy, sendo o factor de proporcionalidade dado por µ. Essa força
tangencial por unidade de área é a tensão tangencial τ. Então,

dv
τ= µ
dy
(4.6)

A quantidade µ é uma propriedade do fluido, que depende da temperatura,


conhecida como viscosidade do fluido. A relação (4.6) é a denominada a Lei de
Newton do atrito.

A Lei de Newton do atrito ajuda a compreender fisicamente a condição de não-


escorregamento junto a uma parede, o que se deve à impossibilidade de dv/dy
ser infinito porque τ seria infinito o que é fisicamente inaceitável; logo, a
velocidade num escoamento deve variar continuamente e não pode fazê-lo por
saltos bruscos entre elementos adjacentes de fluido. Esta condição de variação
contínua também se deve verificar junto a uma parede sólida, o que implica que
o fluido imediatamente em contacto com a superfície não se possa mover
relativamente a ela.

A lei de Newton da viscosidade não calcula a tensão tangencial para todos os


fluidos. Os fluidos cuja relação entre a tensão tangencial e o gradiente de
velocidade é linear (equação 4.6) são chamados Newtonianos; nos fluidos não-
Newtonianos essa relação depende do próprio gradiente de velocidade, ou seja,
da deformação do fluido.

16
Capítulo 1: Conceitos e definições

-2
É usual a utilização de viscosidade dinâmica (µ), cujas unidades são N.s.m , ou
poise, e de viscosidade cinemática (υ), que resulta da relação entre a
2 -1
viscosidade dinâmica e a massa volúmica e cujas unidades são m .s , ou
stokes.

1.5.2 Condutividade térmica

A importância da condutividade térmica na transferência de calor é paralela à da


viscosidade na transferência de quantidade de movimento. Tal como a
viscosidade relaciona a tensão tangencial com o perfil de velocidade, a
condutividade térmica relaciona o fluxo de calor, q, com o vector gradiente de
temperatura ∇ T. Essa proporcionalidade, observada experimentalmente em
fluidos e sólidos, é conhecida como a Lei de Fourier da condução de calor:
r
q
= −k ∇T
A

onde q é a taxa de transferência de energia, ou potência calorífica, em Watt; A é


2
a área perpendicular à direcção do fluxo de calor, em m ; ∇ T é o vector
-1 -1 -
gradiente de temperatura, em K m ; e k é a condutividade térmica, em W m K
1 -2
. A razão q/A, cujas dimensões são W m , é muitas vezes conhecida por fluxo
calorífico.

A expressão ------ exprime que o fluxo de calor é proporcional ao gradiente de


temperatura, sendo a constante de proporcionalidade a condutividade térmica.
Esta supôs-se independente da direcção, o que condiciona a sua aplicação a
apenas meios isotrópicos. O sinal negativo na equação (9.2) indica que o fluxo
de calor é na direcção do gradiente negativo da temperatura.

A condutividade térmica é uma propriedade de um meio condutor, que indica a


maior ou menor facilidade com que uma determinada substância consegue
realizar transferência de calor, sendo fundamentalmente função da temperatura
e variando apenas de um modo significativo com a pressão, no caso de gases
sujeitos a elevadas pressões. Tal como a viscosidade, é possível a obtenção de
valores de condutividade térmica em tabelas ou gráficos, para cada substância,
em função, eventualmente, da temperatura.

É também comum utilizar em vez da condutividade térmica a difusividade


térmica, α, que resulta da seguinte relação:

k
α=
ρCp

1.5.3 Difusividade

17
Capítulo 1: Conceitos e definições

A primeira lei de Fick da difusão estipula que, numa mistura de dois compostos
A e B, o composto A sofre difusão (desloca-se na mistura) no sentido do seu
gradiente de concentração:

J*A = −cD AB∇x A


*
em que JA é o fluxo de difusão molar, c é a concentração da mistura, e ∇x A o
gradiente de concentração (parcial) do composto A. O sinal negativo, tal como
na Lei de Fourier da condução de calor, indica que o fluxo de massa se processa
duma região de maior para uma região de menor concentração.
2 -1
As unidades da difusividade, ou coeficiente de difusão, são, cm .s . Repare-se
que a difusividade, a viscosidade cinemática e a difusividade térmica se
expressam nas mesmas unidades. A analogia entre estas três propriedades
pode ser verificada através das equações da transferência de fluxos de massa,
quantidade de movimento e energia num sistema mono-dimensional:

d
jAy = − DAB (ρ A ) (Lei de Fick com ρ constante)
dy

d
τ yx = − υ (ρv x ) (Lei de Newton com ρ constante)
dy

d
qy = − α (ρCPT ) (Lei de Fourier com ρ constante)
dy

Estas equações estipulam, respectivamente, que (a) o transporte de massa


ocorre devido a um gradiente da concentração mássica, (b) o transporte de
quantidade de movimento ocorre devido a um gradiente na concentração da
quantidade de movimento, e (c) o transporte de energia ocorre devido a um
gradiente de energia. Esta analogia não se aplica em escoamentos bi e
tridimensionais, pois τ é um tensor com 9 componentes, enquanto jA e q são
vectores com apenas três componentes.
A difusividade mássica, num sistema binário é função da temperatura, da
pressão e da composição do sistema. A viscosidade µ e a condutividade térmica
κ dum fluido puro são função unicamente da temperatura e da pressão. É
possível a obtenção de valores de difusividade, viscosidade e condutividade
térmica em tabelas ou gráficos, para cada substância, em função eventualmente
da temperatura (e pressão).

1.7 ESCOAMENTO LAMINAR E TURBULENTO


A existência de dois tipos de escoamentos viscosos é um fenómeno
universalmente aceite. Um exemplo desta dupla existência encontra-se no fumo
do cigarro. Ele é uniforme e suave junto à ponta acesa e depois transforma-se
num escoamento irregular e instável.

18
Capítulo 1: Conceitos e definições

O escoamento ordenado ocorre quando as camadas de fluido escorregam umas


sobre as outras suavemente, havendo apenas mistura entre as camadas, ou
lâminas, ao nível molecular. Este escoamento, para o qual se deduziu a lei de
Newton da viscosidade, é conhecido por escoamento laminar.

O segundo tipo de escoamento, no qual existem pequenos elementos de fluido


que se deslocam de uma camada para outra, sendo responsáveis por uma
natureza caótica, chama-se escoamento turbulento.

A existência dos dois tipos de escoamento foi pela primeira vez constatada por
Hagen, em 1840, e foi demonstrada por Reynolds 43 anos mais tarde. A
experiência de Reynolds consistiu em analisar o escoamento de água num tubo
transparente no qual se injectava tinta e se controlava o caudal de água com
uma válvula, figura 6.1. Nesta experiência, constata-se que: (a) para pequenas
velocidades do escoamento, o fio de tinta permanece rectilíneo e paralelo ao
eixo do tubo sem se misturar com a água, sendo o escoamento ordenado, tal
como é característico de escoamentos laminares; (b) se a velocidade aumenta, o
fio de tinta começa a oscilar, situando-se o escoamento no denominado regime
de transição; e (c) para maiores velocidades, as trajectórias tornam-se
irregulares e as flutuações das partículas de fluido aumentam, verificando-se a
mistura de tinta no tubo, tal como nos escoamentos turbulentos. Estas
diferenças de comportamento da tinta resultam, pois, do tipo de escoamento em
presença.

Figura 6.1: Experiência de Reynolds.

19
Capítulo 1: Conceitos e definições

Portanto, verifica-se que a transição entre o regime laminar e o turbulento, num


tubo, é função da velocidade. Reynolds demonstrou ainda que a natureza do
escoamento num tubo não era apenas função da velocidade, mas também do
diâmetro do tubo, da massa volúmica e da viscosidade dinâmica do fluido, que
combinadas originaram o parâmetro adimensional

ρvD
Re = , (6.1)
µ

o número de Reynolds, que relaciona as forças de inércia e as forças viscosas.

Para encontrar o critério de passagem de um regime ao outro, Reynolds fez


variar não só a velocidade, mas também o diâmetro do tubo e a viscosidade
cinemática, determinando um valor para Re (valor crítico), a partir do qual
passarão a ter lugar os escoamentos turbulentos. Assim, considera-se que, em
tubos circulares, o escoamento é laminar se Re < 2300. Acima desse valor o
escoamento é turbulento, apesar de ainda poder ser laminar se não houver
perturbações; abaixo desse valor as perturbações são amortecidas mantendo-se
o escoamento laminar. Portanto, o número de Reynolds crítico para o
escoamento em tubos é de 2300.

1.9 TÉCNICAS BÁSICAS DE ANÁLISE DE ESCOAMENTOS


Normalmente, nas técnicas de análise de escoamentos utilizam-se as noções de
volume e de sistema de controlo. Enquanto que um sistema é uma porção de
matéria perfeitamente individualizada cujo comportamento e evolução são
passíveis de estudo, um volume de controlo é um volume arbitrado que no
espaço limita a porção do sistema que interessa considerar. Trata-se de uma
fronteira imaginária (que pode coincidir ou não com fronteiras reais do sistema)
através da qual é possível contabilizar todos os fluxos e todas as acções das
forças que actuam sobre a sua superfície.

Existem três processos básicos de resolver um problema de escoamentos de


fluidos:

1. Volume de controle, ou análise integral: baseia-se no volume de controle (VC).


O problema é analisado do ponto de vista global estudando-se as
transferências globais, na superfície de controle, de massa, quantidade de
movimento e energia; não é necessário conhecer o que se passa dentro do
VC com cada elemento diferencial de fluido.

2. Sistema infinitesimal, ou análise diferencial: também denominada análise de


pequena escala, é baseada nos elementos de fluido quando estes tendem
para a sua dimensão infinitesimal. O objectivo é descrever o comportamento
do fluido sob o ponto de vista diferencial, sendo as equações resultantes
equações diferenciais. A solução destas equações fornece informação

20
Capítulo 1: Conceitos e definições

detalhada sob os mecanismos de transferência de massa, quantidade de


movimento e energia.

3. Estudo experimental, ou análise dimensional: baseia-se em testes e ensaios


experimentais que são usados para fundamentar teorias existentes e para
fornecer resultados úteis quando a teoria é inadequada.

As três técnicas são aproximadamente iguais em importância, mas a análise


integral é a mais importante para o engenheiro. Ela dá respostas de
“engenharia”, por vezes grosseiras, mas sempre úteis. Em princípio, a análise
diferencial pode ser usada para qualquer problema. No entanto, soluções
analíticas exactas só são possíveis para geometrias e condições fronteira muito
simples. Na prática, lacunas matemáticas e a incapacidade de se simularem em
computador os processos de pequena escala, tornam a análise diferencial mais
limitada. Do mesmo modo, embora a análise dimensional possa ser aplicada a
qualquer problema, a falta de tempo e dinheiro, e generalidade, tornam a
experimentação uma aproximação limitada. A análise integral é rápida e fornece
resultados interessantes.

Em todos os casos, o escoamento deve satisfazer as três leis fundamentais da


conservação da mecânica, mais uma relação de estado termodinâmica e
condições fronteira associadas:

• Conservação da massa (continuidade);

• Conservação da quantidade de movimento (linear) - segunda lei de Newton;

• Conservação da energia - primeiro princípio da termodinâmica;

• Uma relação de estado, como ρ = ρ(P,T);

• Condições fronteira adequadas nas superfícies sólidas, interfaces, entradas e


saídas.

Na presença de fluidos constituídos por misturas variáveis de componentes, por


exemplo água do mar, é necessário recorrer a uma quarta lei básica que implica
a conservação das espécies.

Nas análises integral e diferencial estas relações fundamentais são trabalhadas


matemáticamente e resolvidas recorrendo a métodos computacionais. Na
abordagem experimental, verifica-se que o próprio escoamento obedece às
equações referidas.

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