LectureNotes Calculus3
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LectureNotes Calculus3
Considere um carro que se desloca ao longo de uma estrada sob ação do vento1 . Podemos
nos fazer as seguintes perguntas:
Neste capı́tulo estudaremos conceitos do Cálculo Vetorial que são úteis no estudo de um
problema como este. Mais precisamente, estudaremos nas Seções 1.1 a 1.3 curvas parame-
trizadas no plano: estes objetos permitem descrever não só a estrada como o deslocamento
1
Como exemplos de problemas análogos temos: trem se deslocando ao longo de uma ferrovia e um navio
seguindo um trajeto bem definido sob a influência de correntes marı́timas.
2
3
do carro, levando em conta grandezas como sua velocidade e aceleração em cada ponto ou
instante de tempo. Estenderemos este conceito para curvas no espaço, com comentários
sobre possı́veis aplicações neste contexto.
A ação do vento será estudada na Seção 1.4. Nele estudaremos funções matemática que
denominamos campos vetoriais: estas funções associam a cada ponto do plano (ou do espaço)
vetor. Isto permite descrever a ação do vento quando a mesma não é constante em todo
a região estudada; de forma análoga, podemos estudar correntes marı́timas distribuı́das no
plano de maneira não uniforme. Ainda neste capı́tulo, na Seção 1.5, introduzimos o conceito
de integrais de linha: será através deste conceito que estudaremos a iteração do vento em
uma dada região com o deslocamento de um carro ao longo de uma estrada, que fornecerá
uma estimativa para a questão introduzida acima.
Definição 1.1.1. Suponha que x e y são funções de uma terceira variável t através das
equações
x = f (t), y = g(t),
onde t é uma variável independente. O conjunto de pontos do plano definido por (x,y) =
(f (t), g(t)) define uma curva C no plano que é dita uma curva paramétrica. As equações
acima são ditas as equações paramétricas da curva C e t é dito o parâmetro das equações.
4
Exemplo 1.1.2. Um caso simples de uma curva descrita por equações paramétricas é o do
gráfico de uma função de uma variável, como y = x2 . As equações paramétricas
x = t, y = t2 (1.1)
tem como gráfico a parábola y = x2 , mas com uma propriedade a mais: o sentido crescente
do parâmetro t define um sentido de deslocamento sobre a parábola, dado pelo sentido
crescente de x. Abaixo temos os valores de (x,y) para alguns valores de t. Como x = t,
obtemos diretamente pontos no gráfico de y = x2 .
t x y
0 0 0−
1 1 1
2 2 4
−3 −3 9
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exemplo 1.1.3. Um dos casos mais naturais de curvas paramétricas é o do cı́rculo trigo-
nométrico:
x = cos t, y = sen t. (1.2)
x2 + y 2 = cos2 t + sen2 t = 1,
isto é, os pontos desta curva possuem distância 1 a origem; isto define um cı́rculo de raio 1
e centro em (0,0). Abaixo temos os valores de (x,y) para alguns valores de t e o esboço do
5
Abaixo temos os valores de (x,y) para alguns valores de t e o esboço do gráfico das Equações
6
(1.3).
t x y
..0.. 0.0 1.0
1 −1.5 2.4−
2 −0.7 5.2
3 2.6 7.0
4 6.3 6.0
5 7.9 3.1
6 6.8 1.1
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 1.1.5. Considere uma partı́cula que se desloca no plano no intervalo de tempo
[0,π] de acordo com as equações abaixo:
x2 + y 2 = cos2 t + sen2 t = 1,
o que prova que o trajeto da partı́cula em ambos os casos está contido no cı́rculo unitário.
No entanto, uma investigação mais atenta mostra que o cı́rculo é percorrido pelo parâmetro
t em sentidos opostos. Isto motiva a definição abaixo, onde faremos distinção entre as curvas
C2 e C3 .
Definição 1.1.7. Considere uma curva paramétrica C definida por x = f (t) e y = g(t). A
direção em que o parâmetro percorre C é dita a orientação da curva.
As mesmas definições e terminologia da Definição 1.1.1 se aplicam neste caso. Estas definições
introduzidas acima já foram vistas, de certa forma, no curso de Geometria Analı́tica. Veja o
Exemplo 1.1.8 abaixo, que utilizamos para relembrar a equação vetorial de uma reta de R3 .
Exemplo 1.1.8. Um inseto se desloca no espaço partindo do ponto (0,0,1) com vetor ve-
locidade constante em metros por segundos dado por ~v = (−2,0,3). Determine as equações
paramétricas do seu movimento e a sua localização após 3 segundos.
Considere agora, mais geralmente, o movimento de uma partı́cula com posição inicial P0 =
(x0 , y0 , z0 ) e velocidade constante dada pelo vetor ~v = (a,b,c). Como o vetor velocidade não
tem alteração em sua direção ou sentido, a trajetória do inseto é uma reta. Um argumento
análogo ao do Exemplo 1.1.8 mostra que sua posição após t segundos é dada por
Reciprocamente, a Equação (1.4) descreve todas as retas de R3 : uma reta r de R3 que contém
um ponto P e possui vetor diretor ~v possui equação vetorial dada pela Equação (1.4); veja
o Exemplo 1.1.9 abaixo2 .
A equação vetorial acima pode ser escrita coordenada a coordenada, fornecendo as equações
paramétricas:
x = 2 − t,
y = 1 + 2t,
z = −3 + 2t.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2
A reta de R3 que contém dois pontos P,Q ∈ R3 é obtida a partir deste modelo: consideramos neste caso
o vetor diretor ~v = Q − P ou ~v = P − Q.
10
A reta é o exemplo mais simples de uma curva de R3 . No Exemplo 1.1.10 temos uma
curva com geometria mais complexa.
x = cos t, y = sen t, z = t.
As equações acima descrevem uma curva que possui a seguinte propriedade: suas coordenadas
x e y satisfazem a equação x2 + y 2 = 1. Segue que os pontos desta curva se encontram
diretamente acima desta circunferência do plano xy, com coordenada z determinada por
z = t.
Cabe ressaltar que as equações paramétricas dadas estão definidas para todo t real, de
modo que na Figura 1.4 temos esboçada apenas uma parte da curva; esta se estende infi-
nitamente acima e abaixo do plano xy, pontos que correspondem respectivamente a valores
positivos e negativos do parâmetro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Funções vetoriais. Estudamos nesta seção curvas paramétricas descritas por equações
paramétricas. O conceito defunção de valores vetoriais a uma variável real, ou simplesmente
uma função vetorial, que veremos a seguir, está intimamente relacionado. Em uma função
vetorial de R3 , associamos a cada valor do parâmetro t um ponto do espaço (x,y,z). Isto
define uma função
r : t 7−→ r(t) = (x(t), y(t), z(t)).
11
Figura 1.4: Gráfico das Equações (x,y,z) = (cos t, sen t, t), t ∈ [0,2pi].
Este ponto (x(t), y(t), z(t)) pode ser interpretado também como um vetor: daı́ o nome função
vetorial, pois estas funções possuem vetores como imagem.
É importante lembrar que vetores podem ser escritos de outra maneira. Então a imagem
(x(t), y(t), z(t)) da função r pode ser escrita como
isto é,
r(t) = x(t)(1,0,0) + y(t)(0,1,0) + z(t)(0,0,1),
Utilizaremos fonte em negrito para representar vetores: temos em negrito na equação acima
r, i, j e k, que representam vetores de R3 ; já t, x, y e z representam números reais, por isso
estão escritos em fonte usual.
12
Definição 1.1.11. Seja D um conjunto qualquer de R. Uma função r que associa a cada
número real t ∈ D um vetor r = x(t)i + y(t)j de R2 é dita uma função vetorial. As funções
x(t), y(t) são ditas as funções componente de r.
Analogamente, uma função r que associa a cada número real t ∈ D um vetor r(t) =
x(t)i + y(t)j + z(t)k é dita uma função vetorial. As funções x(t), y(t), z(t) são ditas as
funções componente de r.
Trataremos neste texto apenas de funções vetoriais de duas ou três dimensões. A menos
de menção explı́cita do contrário, ao representar graficamente uma função vetorial, sem-
pre adotaremos a representação de r(t) que possui seu ponto inicial na origem do espaço
considerado.
Suas funções componente são x(t) = cos t, y(t) = sen t e z(t) = 2. Como não há menção
explı́cita ao seu domı́nio, supomos que ele é o maior conjunto possı́vel da reta, isto é, D = R.
No exemplo abaixo vemos uma outra técnica para compreender a geometria de curvas
parametrizadas: obter uma equação y = f (x) ou x = g(y) e utilizar as ferramentas de cálculo
de funções de uma variável.
13
r(t) = ti + t2 j.
Exercı́cio 1.1.14. Esboce ou descreva a trajetória da partı́cula descrita por cada uma das
funções vetoriais abaixo.
é um cı́rculo e determine o seu centro e raio. Sugestão: Mostre que a curva se situa em uma
esfera e também em um plano.
.Obs: As componentes x(t), y(t) de uma função vetorial r(t) = x(t)i+y(t)j são funções reais
de uma variável real, funções usualmente vistas no curso de Cálculo Diferencial e Integral I.
Logo, embora o conceito de função vetorial esteja sendo apresentado aqui, ele é construı́do
através de funções com as quais o aluno já está familiarizado. Este fato será explorado na
Seção 1.2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
Quando uma função vetorial r(t) é definida através de expressões algébricas para suas
funções componente, como
√ 2
r(t) = ti − j,
t
15
consideramos como domı́nio da função o conjunto de todos os números reais t para os quais
a função vetorial está bem definida. No caso acima temos Dom r = (0, +∞).
Figura 1.7: Limite lim r(t) = L em curva paramétrica: r(t) cada vez mais próximo de L.
t→a
3
Note que kr(t) − Lk é um número real, de modo que a função t 7−→ kr(t) − Lk se enquadra naquelas
estudadas em Cálculo Diferencial e Integral I.
16
Figura 1.8: Limite lim r(t) = L em curva paramétrica: kr(t) − Lk se aproxima de zero.
t→a
Definição 1.2.1. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a,
exceto talvez no ponto t = a. Dizemos que o limite de r(t) quando t se aproxima de a é L se
lim kr(t) − Lk = 0.
t→a
O teorema abaixo afirma que temos o limite acima se e somente se os limites correspon-
dentes nas componentes ocorrem. Veja a Figura 1.9. Um resultado análogo é válido para
funções vetoriais de R3 .
17
Teorema 1.2.2. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a,
exceto talvez no ponto t = a.
Figura 1.9: Limite das componentes de uma função vetorial: x(t) → x0 e y(t) → y0 .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
t2 − 1
2t + 4 t sen t
(i) lim i+ j−e k (ii) lim i + cos tj
t→−1 t+1 t−1 t→0 t
Note que o limite limt→a r(t) calculado no Exemplo 1.2.3 é igual simplesmente ao valor
de r(a). Esta propriedade é esperada no caso do deslocamento de partı́culas: à medida
que analisamos um instante de tempo cada vez mais próximo de t = a, esperamos que a
posição da partı́cula se aproxime cada vez mais de r(a), isto é, sua posição no instante t = a.
Dizemos nesse caso que tais funções são contı́nuas em t = a.
Definição 1.2.5. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a.
Dizemos que r(t) é contı́nua em t = a se
representa, num certo sentido, o vetor velocidade média da partı́cula no intervalo [t,t + h].
O limite deste quociente quando h se aproxima de zero fornece a velocidade instantânea no
instante de tempo t.
Definição 1.2.6. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a.
A derivada de r(t) em t = a é definida como o vetor
r(a + h) − r(a)
r0 (a) = lim ,
h→0 h
dr d
r0 (t), r0 , ou [r(t)].
dt dt
Importante!
Verificamos agora que a derivada de uma função vetorial também pode ser escrita com-
ponente a componente. Note que, se r(t) = x(t)i + y(t)j, então
isto é,
r(t + h) − r(t) (x(t + h) − x(t)) (y(t + h) − y(t))
= i+ j.
h h h
Segue do Teorema 1.2.2 que se o limite que define a derivada r0 (t) existe, então ele é dado
por
0 x(t + h) − x(t) y(t + h) − y(t)
r (t) = lim i + lim j.
h→0 h h→0 h
Os limites em parênteses definem a derivada das funções componente, logo
0 dx dy
r (t) = i+ j. (1.5)
dt dt
Teorema 1.2.7. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a.
Então r(t) é diferenciável em t = a se e somente se suas funções componente são diferenciáveis
em t = a. Neste caso, se r(t) = x(t)i + y(t)j, então
0 dx dy
r (t) = i+ j,
dt dt
√
Exemplo 1.2.8. Considere a função vetorial r(t) = ti + (2 − t)j.
logo,
1
r0 (1) = i − j.
2
O vetor derivada r0 (1) e a curva parametrizada por r(t) se encontram esboçados na Figura
1.11. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Algumas regras de derivação de funções reais de uma variável real também se aplicam no
caso de funções vetoriais; isto é uma consequência direta do Teorema 1.2.7.
22
Definição 1.2.10. Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a e
seja C a curva gráfico de r. Se r0 (a) existe e r0 (a) 6= 0, dizemos que r0 (a) é o vetor tangente
a C em r(a). O vetor tangente unitário a C em r(a) é definido como
r0 (a)
T(a) = .
kr0 (a)k
Dizemos que a reta contendo r(a) e com vetor diretor r0 (a) é a reta tangente a C em r(a).
logo,
r0 (1) = 2i + 3j.
24
A reta tangente contém o ponto r(1) = (1,1) e possui vetor diretor r0 (1) = (2,3), logo sua
equação vetorial é dada por
A seguir obtermos a equação da reta tangente em sua forma usual. Podemos a partir da
equação acima obter o seguinte do sistema:
x = 1 + 2t, t = 1 (x − 1),
2
⇐⇒
y = 1 + 3t, y = 1 + 3t.
Exercı́cio 1.2.13. Obtenha a equação vetorial da reta tangente e o vetor tangente unitário
à curva dada no ponto dado.
Teorema 1.2.14. Seja r(t) uma função vetorial diferenciável em t = a. Se kr(t)k é constante
em um intervalo contendo t = a, então r0 (t) é ortogonal a r(t), isto é,
r0 (t) · r(t) = 0.
Demonstração Demonstração : Note que o item (vi) do Teorema 1.2.9 fornece, para r1 =
r2 = r,
d d d
[r(t) · r(t)] = [r(t)] · r(t) + r(t) · [r(t)] = 2r(t) · r0 (t). (1.7)
dt dt dt
Por outro lado, temos que r(t) · r(t) = kr(t)k2 . Como kr(t)k é constante em torno de t = a
por hipótese, e portanto kr(t)k2 também, temos
d d
kr(t)k2 = [r(t) · r(t)] = 0. (1.8)
dt dt
2r(t) · r0 (t) = 0,
como gostarı́amos.
Neste texto evitaremos, de um modo geral, curvas com um comportamento errático. Nos
restringiremos a curvas suaves, de acordo com a Definição 1.2.15 abaixo. O Exercı́cio 1.2.16
ilustra o que pode ocorrer quando a Definição 1.2.15 não é atendida.
26
Definição 1.2.15. Seja C uma curva de Rn parametrizada por uma função vetorial r(t).
Dizemos que C é uma curva suave se:
Dizemos nesse caso que r é função vetorial suave ou uma parametrização lisa de C.
(ii) r2 (t) = t2 i + t3 j.
Este sistema não tem solução: além de c = 0 não ocorrer por hipótese, não é possı́vel termos
sen t = cos t = 0 para algum valor de t. Segue que r1 é função vetorial suave.
Este sistema possui solução t = 0, isto é, temos r02 (0) = 0. A função vetorial r2 não é
portanto suave. Veja na Figura 1.14 o que ocorre no ponto r2 (0): a joaninha se desloca
27
pelo quarto quadrando em direção à origem e tem uma mudança de direção não-natural
no ponto r2 (0). Podemos entender que esta é a razão da não-suavidade de r2 e da curva
correspondente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Definição 1.2.17. Seja r(t) uma função vetorial contı́nua no intervalo a ≤ t ≤ b. A integral
definida de r(t) no intervalo [a,b] é definida como
ˆ b n
X
r(t) dt = lim r(t∗k )∆tk ,
a n→∞
k=1
se o limite existir.
A integral definida da Definição 1.2.17 pode ser calculada também componente a com-
ponente. De fato, seja r(t) = x(t)i + y(t)j uma função vetorial de R2 . Então,
n
X n
X n
X
r(t∗k )∆tk ∗ ∗
(x(t∗k )∆tk )i + (y(t∗k )∆tk )j ,
= (x(tk )i + y(tk )j)∆tk =
k=1 k=1 k=1
isto é,
n
X n
X n
X
r(t∗k )∆tk = (x(t∗k )∆tk )i + (y(t∗k )∆tk )j.
k=1 k=1 k=1
O limite de uma função vetorial é dado pelo limite de suas funções coordenadas, então
ˆ b Xn X n
!
Xn
!
r(t) dt = lim r(t∗k )∆tk = lim x(t∗k )∆tk i + lim y(t∗k )∆tk j.
a n→∞ n→∞ n→∞
k=1 k=1 k=1
Em cada coordenada na equação acima temos a definição de integral definida de uma função
de uma variável real. Portanto,
ˆ b ˆ b ˆ b
r(t) dt = x(t) dt i + y(t) dt j. (1.9)
a a a
onde ˆ 1 1
t3 1
t2 dt = = ,
0 3 0 3
ˆ 1 1
et dt = et = e − 1,
0 0
Segue que ˆ 1
1
r(t) dt = i + (e − 1)j + 0k.
0 3
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Teorema 1.2.19. Sejam r1 (t), r2 (t) funções vetoriais de Rn e suponha que r1 (t), r2 (t) são
contı́nuas no intervalo [a,b]. Então:
ˆ b ˆ b
(i) kr1 (t) dt = k r1 (t) dt, para todo número real k;
a a
ˆ b ˆ b ˆ b
(ii) [r1 (t) + r1 (t)] dt = r1 (t) dt + r2 (t) dt;
a a a
ˆ b ˆ b ˆ b
(iii) [r1 (t) − r1 (t)] dt = r1 (t) dt − r2 (t) dt.
a a a
Também temos o conceito de integrais indefinidas para funções vetoriais. Dizemos que
R(t) é uma antiderivada da função vetorial r(t) se
R0 (t) = r(t).
30
A integral indefinida de r(t) representa a classe de funções cuja derivada coincide com r(t),
isto é, ˆ
r(t) dt = R(t) + C, (1.11)
onde C é uma constante vetorial. Veja no exercı́cio a seguir a interpretação fı́sica desta
constante vetorial.
Temos que v(t) = r0 (t). Devemos encontrar a função r(t) cuja derivada coincide com
v(t), isto é, ˆ ˆ
r(t) = v(t) dt = [ai + bj] dt.
O domı́nio da função r(t) é dado por t ∈ [0, +∞). As constantes de integração C1 , C2 podem
ser obtidas da seguinte maneira: sabemos que a posição r(0) da partı́cula no instante t = 0
é dada por (x0 , y0 ), logo, usando a expressão r(t) = (at + C1 )i + (bt + C2 )j,
(x0 , y0 ) = r(0) = C1 i + C2 j.
Obtemos a seguir uma expressão para kPk−1 Pk k em função das funções coordenada de r(t).
p
Note que kPk−1 Pk k = (xk − xk−1 )2 + (yk − yk−1 )2 . Denotando xk − xk−1 = ∆xk e yk −
32
Como r(t) = f (t)i + g(t)j, podemos escrever ∆xk = f (tk ) − f (tk−1 ). Como f é diferenciável
no intervalo [tk−1 , tk ], segue do Teorema do Valor Médio que
∆yk = g 0 (t∗∗
k )∆t, (1.15)
onde t∗∗
k ∈ (tk−1 , tk ). Segue das Equações (1.13), (1.14) e (1.15) que
q q
kPk−1 Pk k = [f 0 (t∗k )∆t]2 + [g 0 (t∗∗
k )∆t] 2 = [f 0 (t∗k )]2 + [g 0 (t∗∗ 2
k )] ∆t.
É possı́vel provar que o limite acima existe quando f 0 e g 0 são contı́nuas e, além disso,
ˆ bp
L= [f 0 (t)]2 + [g 0 (t)]2 dt.
a
33
Teorema 1.3.1. Seja C uma curva de Rn e seja r(t), para t ∈ [a,b], uma parametrização de
C cujas funções coordenadas possuem derivada contı́nua. Suponha que C é percorrida uma
única vez pela parametrização r(t). Então o comprimento de arco de C é dado por
ˆ b
L= kr0 (t)k dt.
a
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Temos L = 8π se e somente se
√ √ √
2π 1 + c2 = 8π ⇐⇒ 1 + c2 = 4 ⇐⇒ 1 + c2 = 16 ⇐⇒ c = ± 15.
√
Como c é uma constante positiva por hipótese, segue que c = 15. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 1.3.4. Explique como diferentes valores da constante c do Exemplo 1.3.3 inter-
ferem na geometria da respectiva curva.
√
Exercı́cio 1.3.5. Calcule o comprimento de arco da curva r(t) = et i + e−t j + 2tk de t = 0
até t = 1.
r1 (t) = ti + t2 j, t ∈ [0,1],
t t2
r2 (t) = 2
i + 4
j, t ∈ [0,2],
(1.16)
r3 (t) = 2ti + 4t2 j, t ∈ [0, 12 ],
r4 (t) = t2 i + t4 j, t ∈ [0,1].
Note que as funções componente das três funções vetoriais satisfazem a equação y = x2 , logo
r1 , r2 e r3 descrevem um pedaço desta parábola; temos ainda o ponto inicial (0,0) e ponto
final (1,1) em todos os casos. Em outras palavras, as funções vetoriais nas Equações (1.16)
representam parametrizações diferentes da mesma curva C. Mais precisamente, podemos
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enxergar r2 (t), r3 (t) e r4 (t) como funções vetoriais obtidas a partir de r1 (t) através de uma
mudança de parâmetro: uma mudança de parâmetro em uma função vetorial r(t) é uma
mudança de variáveis t = g(τ ) que produz uma nova função vetorial r̃(τ ) = r(g(τ )) com
o mesmo gráfico, mas percorrido possivelmente de uma maneira diferente. Veja o exemplo
abaixo.
Figura 1.17: Curva C com parametrização r(t) = cos ti + sen tj + tk, t ∈ [0, 2π].
parametrizações r(t) e r̃(t) no Exemplo 1.3.6? Podemos entender esta situação da seguinte
maneira: estas funções vetoriais descrevem partı́culas em deslocamento ao longo da mesma
estrada (isto é, a mesma curva), porém com a velocidade e a aceleração evoluindo de maneira
diferentes ao longo do percurso. Observe o domı́nio das funções vetoriais nas Equações (1.16):
um domı́nio maior para a variável t pode ser interpretado como um intervalo de tempo
maior para percorrer um dado trajeto. Compreendemos melhor esta ideia com o teorema
abaixo, que fornece uma relação entre os vetores derivada (vetores velocidade) de diferentes
parametrizações de uma mesma curva.
Teorema 1.3.7. Seja r(t) uma função vetorial de Rn diferenciável com relação a t. Se
t = g(τ ) é uma mudança de parâmetro diferenciável com relação a τ , então r̃(τ ) = r(g(τ ))
é diferenciável com relação a τ e
dr̃ dr dt
= .
dτ dt dτ
dr̃ dr
O Teorema 1.3.7 relaciona, através da regra da cadeia, os vetores derivada e .
dτ dt
Estes vetores representam o vetor velocidade nas respectivas parametrizações, de modo que
dr̃
o Teorema 1.3.7 pode ser interpretado da seguinte maneira: o novo vetor velocidade é
dτ
dr dt
dado pelo vetor velocidade original multiplicado por .
dt dτ
Vejamos agora como o Teorema 1.3.7 pode ser utilizado para interpretar as funções ve-
toriais nas Equações (1.16). Reescrevemos r2 , r3 e r4 como funções de τ para compará-las
com a função vetorial r1 , como no Teorema 1.3.7:
r1 (t) = ti + t2 j, t ∈ [0,1],
τ τ2
r2 (τ ) = i + j, τ ∈ [0,2],
2 4
r3 (τ ) = 2τ i + 4τ 2 j, τ ∈ [0, 12 ],
r4 (τ ) = τ 2 i + τ 4 j, τ ∈ [0,1].
37
Podemos agora reescrever cada uma das funções vetoriais r2 (τ ), r3 (τ ) e r4 (τ ) como r1 (g(τ )):
τ dt 1
r2 (τ ) = r1 (t) t=τ /2
=⇒ t = g(τ ) = =⇒
= ,
2 dτ 2
dt
r3 (τ ) = r1 (t) t=2τ
=⇒ t = g(τ ) = 2τ =⇒ = 2,
dτ
dt
r4 (τ ) = r1 (t) t=τ 2
=⇒ t = g(τ ) = τ 2 =⇒ = 2τ.
dτ
Segue do Teorema 1.3.7 que
dr2 1 dr1 dr3 dr1 dr4 dr1
= , =2 e = 2τ .
dτ 2 dt dτ dt dτ dt
Estas equações podem ser interpretadas da seguinte maneira: uma partı́cula com desloca-
mento parametrizado por r2 (τ ) se desloca com metade da velocidade de daquela parametri-
zada por r1 (t). Analogamente, uma partı́cula com deslocamento parametrizado por r3 (τ )
tem o dobro da velocidade daquela parametrizada por r1 (t). A relação observada no caso de
r4 (τ ) pode ser interpretada de maneira semelhante.
tal que:
(i) o cı́rculo é percorrido no sentido anti-horário à medida que τ cresce no intervalo [0,1];
(ii) o cı́rculo é percorrido no sentido horário à medida que τ cresce no intervalo [0,2π].
(iii) o cı́rculo é percorrido no sentido horário à medida que τ cresce no intervalo [0,1].
No item (i) desejamos encontrar uma mudança de parâmetro t = g(τ ) tal que r̃1 (τ ) tenha
a mesma orientação de r(t) mas percorra o mesmo trajeto no intervalo τ ∈ [0,1]. Devemos
ter a seguinte correspondência:
t = 0 ⇐⇒ τ = 0,
t = 2π ⇐⇒ τ = 1.
38
A escolha mais simples para a função g que satisfaz essas condições é t = g(τ ) = 2πτ ,
fornecendo
r̃1 (τ ) = cos(2πτ )i + sen(2πτ )j, τ ∈ [0,1].
dt
Note que o Teorema 1.3.7 fornece neste caso = 2π, indicando que os vetores derivadas
dτ
são múltiplos positivos um do outro, indicando que possuem a mesma direção e sentido. A
dt
derivada positiva indica que t é função crescente de τ neste caso: veja a Figura ??.
dτ
No caso do item (ii) desejamos percorrer a curva com orientação contrária no mesmo
intervalo τ ∈ [0,2π]. Devemos então ter o ponto inicial de r(t) coincidindo com o ponto final
de r̃2 (τ ) e vice-versa:
t = 0 ⇐⇒ τ = 2π,
t = 2π ⇐⇒ τ = 0.
A função t = g(τ ) = 2π − τ satisfaz estas condições:
A parametrização r̃3 (τ ) do item (iii) pode ser obtida a partir de r̃2 (τ ), que reescrevemos
como
r̃2 (t) = cos(2π − t)i + sen(2π − t)j, t ∈ [0,2π].
por ser o “ponto de partida” de nossa mudança de parâmetro. Como desejamos percorrer a
curva no intervalo [0,1], devemos ter
t = 0 ⇐⇒ τ = 0,
t = 2π ⇐⇒ τ = 1,
de modo que escolhemos, como no item (i), a mudança de parâmetro t = g(τ ) = 2πτ aplicada
à função r̃2 (t) do item (ii), que já possui a orientação desejada:
Esta mudança poderia ter sido efetuada diretamente a partir da função r(t) do enunciado
como t = g(τ ) = 2π − 2πτ = 2π(1 − τ ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 1.3.9. Considere a função vetorial r(t) = et i + 4e−t j e a função r̃(τ ) obtida pela
dr
mudança de parâmetro t = τ 2 . Calcule a derivada utilizando a regra da cadeia e compare
dτ
com o resultado obtido ao calcular a derivada diretamente após expressar r em função de τ .
Dizemos que uma mudança de parâmetro t = g(τ ) é uma mudança de parâmetro suave
dt
se r(t) suave implica em r(g(τ )) suave. Isto ocorre se é contı́nua e não nula para todos
dτ
dt
os valores de τ . Segue que a derivada apresenta um dos dois seguintes comportamentos.
dτ
dt
(i) Temos > 0 para todo valor de τ , caso em que dizemos que t = g(τ ) é uma mudança
dτ
de parâmetro positiva; neste caso a orientação da curva é mantida.
dt
(ii) Temos < 0 para todo valor de τ , caso em que dizemos que t = g(τ ) é uma mudança
dτ
de parâmetro negativa; neste caso a orientação da curva é invertida.
Comprimento de arco como parâmetro. Considere uma famı́lia está viajando de carro
ao longo de um trajeto especificado. A parametrização do deslocamento desta famı́lia associa
a cada instante de tempo t o ponto r(t) em que ela se encontra dentro de sua trajetória:
Mas podemos, no entanto, nos perguntar: onde a famı́lia se encontra depois de skm percor-
ridos? Nesta situação desejamos determinar a posição da “partı́cula” a partir da distância s
percorrida, e não a partir do tempo t transcorrido:
Note que em (1.18) estamos utilizando um parâmetro diferente na função vetorial: nela
estamos utilizando como parâmetro o comprimento de arco; em outras palavras, esta é a
parametrização por comprimento de arco da curva original4 .
A parametrização por comprimento de arco de uma curva qualquer do plano pode ser
definida da seguinte maneira:
1. Escolha um ponto P0 qualquer como referencial na curva (em geral o ponto inicial).
2. Dentre as direções em que uma partı́cula pode se deslocar sobre a curva a partir de P0 ,
defina uma delas como a direção positiva e a outra como a direção negativa.
Esta equação já fornece uma relação entre o parâmetro s e o parâmetro t, porém na forma
s = h(t); devemos invertê-la e escrever t = g(s) para proceder como descrita acima. Veja o
Exemplo abaixo.
onde o intervalo [0,21] foi determinado a partir do intervalo original e a equação s = 7t: t = 3
corresponde a s = 21, indicando 21 de comprimento de arco de t = 0 a t = 3; analogamente
t = 0 corresponde a s = 0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cabe ressaltar que diferenciando a Equação (1.19) com relação a t e utilizando o Teorema
Fundamental do Cálculo obtemos uma outra forma de escrevê-la:
ds
= kr0 (t)k.
dt
Teorema 1.3.11. Seja C o gráfico de uma função vetorial r(t) de Rn e seja r(a) um ponto
qualquer de C. Então a equação
ˆ t
s = s(t) = kr0 (u)k du.
a
ds
= kr0 (t)k.
dt
Exemplo 1.3.12. Um inseto se desloca ao redor do tronco de uma árvore de acordo com a
hélice
r(t) = cos ti + sen tj + tk, t ≥ 0.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Temos r0 (u) = (eu cos u − eu sen u)i + (eu sen u + eu cos u)j. Fatorando o termo eu em cada
uma das funções coordenada de r0 (u) obtemos
kr0 (u)k = (e2u (cos2 −2 cos u sen u + sen2 u) + e2u (cos2 +2 cos u sen u + sen2 u))1/2 ,
isto é,
√
kr0 (u)k = (e2u (cos2 + sen2 u + cos2 + sen2 u))1/2 = (2e2u )1/2 = eu 2.
Segue que ˆ ˆ
t
0
t √ √
s = s(t) = kr (u)k du = eu 2 du = 2(et − 1).
0 0
√
A mudança de parâmetros t = g(s) é obtida a partir da equação s = 2(et − 1):
s √ s
2(et − 1) ⇐⇒ √ = et − 1 ⇐⇒ et = 1 + √ ,
s=
2 2
√ √ √
ou seja, t = ln(1 + s/ 2). Como exp(ln(1 + s/ 2)) = 1 + s/ 2, temos que a parametrização
por comprimento de arco é dada por
s s s s
r̃(s) = 1 + √ cos ln 1 + √ i + 1 + √ sen ln 1 + √ j,
2 2 2 2
√
para 0 ≤ s ≤ 2(eπ/2 − 1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
r(s). A definição de parametrização por comprimento de arco implica que terı́amos assim
que a distância percorrida em um intervalo de tempo seria igual ao comprimento deste in-
tervalo. Em uma situação mais simples, como no Movimento Retilı́neo Uniforme (MRU),
esta propriedade é verificada se a velocidade média Vm é igual a 1: se um objeto se desloca
com velocidade constante de 1km/h, a distância percorrida após s horas é de s quilômetros.
O Teorema 1.3.14 mostra que esse raciocı́nio se estende aos deslocamentos estudados neste
dr
texto: a intensidade constante = 1 da velocidade caracteriza as parametrizações por
ds
comprimento de arco.
Teorema 1.3.14. Seja C uma curva parametrizada por r(s), onde s é o parâmetro de
comprimento de arco. Então, para todo valor de s, o vetor tangente a C é unitário:
dr
= 1.
ds
Além disso, a parametrização por comprimento de arco é a única que possui esta propriedade
no seguinte sentido. Seja C o gráfico de uma função vetorial r(t) em Rn tal que kr0 (t)k = 1
para todo valor de t. Se t0 é um valor qualquer para o parâmetro t, então o parâmetro
s = t − t0 é o parâmetro de comprimento de arco C com origem no ponto r(t0 ).
define o comprimento de arco de C de r(t0 ) a r(t). Como kr0 (t)k = 1 para todo t, temos
ˆ t
s= du = t − t0 ,
t0
como gostarı́amos.
46
Na Seção 1.1 estudamos funções que tinham como imagem vetores, enquanto no domı́nio
tı́nhamos números reais. Nesta seção veremos o conceito de campos vetoriais, onde associ-
amos a cada ponto de Rn um vetor de Rn ; novamente nosso foco será em dimensões dois e
três. Considere as seguintes situações práticas, aplicações do conceito de campo vetorial:
Nas aplicações ilustradas nas Figuras 1.20, 1.21 e 1.22 temos presente o mesmo conceito:
a cada ponto P do plano associamos um vetor F(P) que indica o deslocamento de uma
partı́cula do fluido (ar ou água) naquele ponto. Este tipo associação é chamada de campo
vetorial.
Cabe ressaltar que f (x,y) e g(x,y) são funções cujas imagens são números reais (coordenadas
do vetor imagem). Analogamente, um campo vetorial de R3 pode ser escrito como
F(x,y) = yi − xj.
48
F(x,y,z) = xi − yj − zk.
F(1,0,0) = i = (1,0,0),
F(0,1,0) = −j = (0, − 1,0),
F(0,0,1) = −k = (0,0, − 1),
F(1,1,1) = i−j−k = (1, − 1, − 1),
F(−1,1,1) = −i − j − k = (−1, − 1, − 1),
F(1, − 1,1) = i+j−k = (1,1, − 1),
F(1,1, − 1) = i−j+k = (1, − 1,1).
Exemplo 1.4.4. Considere uma carga elétrica Q situada na origem. De acordo com a Lei
de Coulomb, a força exercida por esta carga em uma outra carga q depende da localização
de q. Escrevemos agora, em uma notação mais concisa, x = (x,y) na definição do campo
vetorial: se q se encontra no ponto x = (x,y), então a força é dada por
kqQ
F(x) = x,
kxk3
49
Figura 1.23: Campo vetorial do Exemplo Figura 1.24: Campo vetorial do Exemplo
1.4.2. 1.4.4.
Em geral, o primeiro exemplo que vemos de campo vetorial é o de campo gradiente, isto
é, o campo vetorial ∇φ(·) que associa a cada ponto x no domı́nio de uma função escalar 7 φ
o vetor gradiente ∇φ(x).
φ(x,y) = x2 − y 2 .
Note que φ não é uma função vetorial pois, a cada ponto (x,y) do plano, φ associa o número
real φ(x,y) = x2 − y 2 . Por exemplo, a imagem do ponto (x,y) = (2,1) é dada pelo número
real φ(2,1) = 22 − 12 = 4 − 1 = 3. Entretanto, temos um campo vetorial associado à função
φ: o campo gradiente de φ é dado por
Veja a Figura 1.26, onde estão ilustrados o campo vetorial ∇φ e as curvas de nı́vel φ(x,y) = 1
e φ(x,y) = −1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
F(x) = ∇φ(x),
(ii) F(x,y) = (sen z + y cos x)i + (sen x + z cos y)j + (sen y + x cos z)j, φ(x,y,z) = x sen z +
y sen x + z sen y.
φx = f e φy = g.
∂ ∂
φx (x,y) = (2y 2 +3x2 y−xy 3 ) = 6xy−y 3 e φy (x,y) = (2y 2 +3x2 y−xy 3 ) = 4y+3x2 −3xy 2 ,
∂x ∂y
∂
φx (x,y) = (x sen z + y sen x + z sen y) = sen z + y cos x,
∂x
∂
φy (x,y) = (x sen z + y sen x + z sen y) = sen x + z cos y,
∂y
∂
φz (x,y) = (x sen z + y sen x + z sen y) = x cos z + sen y.
∂z
Segue que F(x,y) é campo conservativo com função potencial φ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
52
i j k
∂ ∂ ∂
Em R3 : rot F = ∇ × F = , , × (f,g,h) = ∂ ∂ ∂ ,
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
f g h
i j k
∂ ∂ ∂
Em R2 : rot F = ∇ × F = , , × (f,g,0) = ∂ ∂ ∂ .
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
f g 0
Figura 1.27: Divergente de campo vetorial: azul para valores baixos, vermelho para os altos.
∂f ∂g ∂h
div F(x,y,z) = + + .
∂x ∂y ∂z
Enquanto o rotacional pode ser escrito através de um produto vetorial, podemos escrever
o divergente utilizando o produto escalar como um operador:
∂ ∂ ∂
∂f ∂g ∂h
Em R3 : div F = ∇ · F = ,
∂x ∂y ∂z
, · (f,g,h) = + + ,
∂x ∂y ∂z
∂ ∂
∂f ∂g
Em R2 : div F = ∇ · F = ,
∂x ∂y
· (f,g) = + .
∂x ∂y
Exercı́cio 1.4.12. Calcule o divergente do campo vetorial F(x,y) = cos(x+2y)i+sen(x−2y)j
no ponto (π/4, π/8).
Considere um fio muito fino disposto no espaço cuja densidade linear de massa (massa por
unidades de comprimento) é conhecida através a função f (x,y,z). Em outras palavras, em
cada ponto (x,y,z) do fio podemos ter um material mais ou menos denso; essa densidade é
dada pelo valor de f (x,y,z). Introduzimos aqui o conceito de integral de linha de uma função
escalar f (x,y,z) através do cálculo da massa deste fio. A massa M do fio será obtida através
de um processo semelhante àquele que define as integrais definidas vistas anteriormente;
veja a Seção 1.3 e, em particular, as Figuras 1.15 e 1.16. Dividimos a curva C em pedaços
menores C1 , . . . , Cn e obtemos uma aproximação para a massa Mk de cada pedaço Ck do
fio. A soma destas aproximações resultará em uma aproximação para M que, através de um
processo de limite, se tornará cada vez mais precisa.
Suponha que C é o gráfico de uma função vetorial suave r(t) para t ∈ [a,b]. Consideramos
uma partição do intervalo [a,b] em subintervalos de acordo com os pontos
O limite acima define a integral de linha de f sobre C. A integral de linha de uma função
real de duas variáveis sobre uma curva plana é definida analogamente.
56
Definição 1.5.1. (i) Seja f (x,y) uma função real de duas variáveis definida sobre uma
curva suave C de R2 . A integral de linha de f sobre C é definida como
ˆ n
X
f (x,y) ds = lim f (x∗k , yk∗ )∆sk ,
C n→∞
k=1
(ii) Seja f (x,y,z) uma função real de três variáveis definida sobre uma curva suave C de
R3 . A integral de linha de f sobre C é definida como
ˆ n
X
f (x,y,z) ds = lim f (x∗k , yk∗ , zk∗ )∆sk ,
C n→∞
k=1
A partir da Definição 1.5.1 podemos provar que a integral de linha fornece diretamente
o comprimento de arco da curva C.
.Obs: A integral de linha de uma função de duas variáveis f (x,y) também pode ser inter-
pretada como a área de superfı́cie de uma folha de papel em R3 situada diretamente acima
da curva C do plano xy com altura em cada ponto (x,y) da curva dada pelo gráfico de uma
função z = f (x,y). Veja a Figura 1.28. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
57
Cálculo de integrais de linha. O cálculo de integrais de linha não se dá usualmente pela
Definição 1.5.1. O teorema abaixo fornece um método prático para este cálculo. Não desen-
volveremos estas ideias aqui neste texto pois são bastante análogas àquelas que antecedem
o Teorema 1.3.1.
Teorema 1.5.3. (i) Seja C uma curva suave de R2 com parametrização r(t) = x(t)i +
y(t)j, para t ∈ [a,b]. Se f (x,y) é uma função contı́nua então a integral de linha de f
sobre C existe e é dada por
ˆ ˆ b
f (x,y) ds = f (x(t), y(t))kr0 (t)k dt.
C a
(ii) Seja C uma curva suave de R3 com parametrização r(t) = x(t)i + y(t)j + z(t)k, para
t ∈ [a,b]. Se f (x,y,z) é uma função contı́nua então a integral de linha de f sobre C
existe e é dada por
ˆ ˆ b
f (x,y,z) ds = f (x(t), y(t), z(t))kr0 (t)k dt.
C a
Exemplo 1.5.4. Ambas as funções vetoriais r1 (t), r2 (t) possuem mesma curva plana C
58
como gráfico: o segmento de reta com extremidades (0,0) e (1,2). Calcule a integral de linha
ˆ
[1 + xy 2 ] ds usando as parametrizações abaixo.
C
Segue que ˆ ˆ 1 √ √ 1 √
f (x,y) ds = (1 + 4t3 ) 5 dt = 5(t + t4 ) = 2 5.
C 0 0
√
Analogamente, para a parametrização r2 (t) temos r02 (t) = −i − 2j, logo kr02 (t)k = 5.
Temos
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O Exemplo 1.5.4 ilustra uma propriedade importante das integrais de linha da Definição
1.5.1: estas integrais independem da parametrização escolhida para a curva, desde que ela
seja percorrida apenas uma vez. Em particular, a integral de linha da Definição 1.5.1 não
depende da orientação da curva.
Exercı́cio 1.5.5. Calcule a integral de linha de f (x,y,z) = y sen z sobre a curva C dada por
r(t) = cos ti + sen tj + tk, t ∈ [0,2π].
59
Integrais de linha com respeito a x,y e z. Introduzimos aqui integrais de linha de uma
função escalar ao longo de uma curva com respeito a uma variável, que serão importantes
para a apresentação do conceito de integral de linha de campos vetoriais, que veremos a
seguir.
Definição 1.5.6. Seja C uma curva orientada de R2 que é o gráfico de uma função vetorial
suave r(t) e considere uma partição de C definida por pontos Pk = r(tk ) = (xk , yk ), como no
inı́cio desta seção, e seja ∆xk = xk − xk−1 , para k = 0, 1, . . . ,n. Considere também um ponto
qualquer (x∗k , yk∗ ) em cada subarco Ck . Definimos, para uma função escalar f (x,y) qualquer,
a integral de linha de f (x,y) com respeito a x ao longo de C como
ˆ
f (x,y) dx = lim f (x∗k , yk∗ )∆xk .
C n→∞
caso o limite exista. Analogamente, caso o limite exista, a integral de linha de f (x,y) com
respeito a y ao longo de C é definida como
ˆ
f (x,y) dy = lim f (x∗k , yk∗ )∆yk .
C n→∞
.Obs: Esta definição se aplica apenas a curvas orientadas pois o valor de ∆xk (e de ∆yk
dependem da orientação de C; este não é o caso de ∆sk = kPk−1 Pk k e a integral de linha da
Definição 1.5.1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
caso o limite exista. O procedimento para o cálculo da integral acima é semelhante àquele
no Teorema 1.5.3: se r(t) = x(t)i + y(t)j + z(t)k, t ∈ [a,b], é uma parametrização de C cuja
orientação é dada pela direção crescente de t, então
ˆ ˆ b
f (x,y,z) dx = f (x(t), y(t), z(t))x0 (t) dt. (1.21)
C a
60
ˆ ˆ
2
Exercı́cio 1.5.7. Calcule as integrais de linha [1 + xy ] dx e [1 + xy 2 ] dy usando as
C C
parametrizações abaixo.
Observe que a orientação da curva interfere no resultado das integrais de linha acima no
´
Exercı́cio 1.5.7. Já a integral de linha C f (x,y) ds calculada no Exercı́cio 1.5.4, é indepen-
dente da parametrização da curva; em particular, o resultado desta integral não depende
da orientação. Resumimos estas propriedades no teorema abaixo, onde −C indica a curva
munida da orientação oposta a uma curva C de Rn .
Teorema 1.5.8. (i) Seja C uma curva de R2 e f (x,y) uma função escalar contı́nua de
duas variáveis. Então,
ˆ ˆ ˆ ˆ
f (x,y) dx = − f (x,y) dx e f (x,y) dy = − f (x,y) dy,
−C C −C C
enquanto ˆ ˆ
f (x,y) ds = f (x,y) ds.
−C C
(ii) Seja C uma curva de R3 e f (x,y,z) uma função escalar contı́nua de três variáveis.
Então, ˆ ˆ
f (x,y,z) dx = − f (x,y,z) dx,
−C C
ˆ ˆ
f (x,y,z) dy = − f (x,y,z) dy,
−C C
ˆ ˆ
f (x,y,z) dz = − f (x,y,z) dz,
−C C
enquanto ˆ ˆ
f (x,y,z) ds = f (x,y,z) ds.
−C C
61
Nas integrais de linha de campos vetoriais que definimos a seguir consideramos integrais
de linha com respeito a variáveis diferentes combinadas em uma únicas integral:
ˆ ˆ ˆ
f (x,y) dx + g(x,y) dy = f (x,y) dx + g(x,y) dy. (1.22)
C C C
Se f e g forem funções contı́nuas, é possı́vel provar que a integral acima pode ser escrita
através de um único limite, podendo assim ser calculadas em um único passo: se C é para-
metrizada por r(t), t ∈ [a,b], então
ˆ ˆ
f (x,y) dx + g(x,y) dy = [f (x(t), y(t))x0 (t) + f (x(t), y(t))y 0 (t)] dt. (1.23)
C C
No Exercı́cio 1.5.9 abaixo calculamos a integral de linha de um campo vetorial sobre uma
curva suave por partes: se uma curva C pode ser divida em subarcos C1 , . . . , Cn , onde cada
subarco Ck é uma curva suave, dizemos que C é uma curva suave por partes. Definimos neste
caso a integral de linha sobre C, tanto de uma função escalar como de um campo vetorial,
como a soma das integrais de linha sobre os subarcos:
ˆ ˆ ˆ ˆ
= + +··· + . (1.24)
C C1 C2 Cn
ˆ
Exercı́cio 1.5.9. Calcule a integral de linha y 2 dx + x dy, onde C é a união das curvas
C
C1 e C2 , onde C1 consiste do segmento de reta de (−5, − 3) até (0,2) e C2 consiste do arco
da parábola x = 4 − y 2 de (0,2) a (−5, − 3). Veja a Figura 1.29.
O trabalho W̃ de uma força constante F̃ atuando sobre uma partı́cula que se desloca em
linha reta do ponto P ao ponto Q é definido como força vezes deslocamento, neste caso dado
pelo produto escalar
−→
W̃ = F̃ · P Q. (1.25)
Aproximamos W3 pelo trabalho realizado por esta força ao longo do segmento em azul
destacado na figura, que possui o mesmo comprimento ∆s3 do arco C3 (em vermelho) e
direção tangente a C no ponto (x∗3 , y3∗ ); como a direção tangente neste ponto é dada pelo
vetor tangente unitário T(x∗3 , y3∗ ), o segmento orientado em azul é dado por ∆s3 T(x∗3 , y3∗ ).
A aproximação para o trabalho W3 pode ser então escrita como na Equação (1.25), onde
−→
F̃ = F(x∗3 , y3∗ ) e P Q = ∆s3 T(x∗3 , y3∗ ):
W3 ≈ F(x∗3 , y3∗ ) · (∆s3 T(x∗3 , y3∗ )) = F(x∗3 , y3∗ ) · T(x∗3 , y3∗ )∆s3 .
À medida que o procedimento é repetido para valores cada vez maiores de n, a apro-
ximação de Ck (em vermelho) pelo segmento correspondente (em azul) se torna cada vez
menos grosseira; da mesma maneira, a suposição de que F é constante ao longo deste su-
barco fornece um erro cada vez menor. Parece portanto natural apresentar a definição de
64
Note que o produto escalar entre F e T pode ser escrito como uma função escalar φ(x,y) =
F(x,y) · T(x,y) para cada ponto (x,y) em C, de modo que
n
X
W = lim φ(x,y)∆sk .
n→∞
k=1
O limite acima é portanto muito semelhante àquele apresentado na Definição 1.5.1; veja a
Equação (1.20). Segue que o trabalho W como a integral de linha de F · T ao longo de C
pode ser escrito como
ˆ
W = F · T ds.
C
r0 (t)
T(t) = .
kr0 (t)k
Portanto, pelo Teorema 1.5.3,
ˆ ˆ ˆ
r0 (t)
0
W = F · T ds = F(r(t)) · 0 kr (t)k dt = F(r(t)) · r0 (t) dt.
C C kr (t)k C
ˆ
A integral à direita é frequentemente abreviada como F · dr. Podemos ainda escrever a
C
integral acima da seguinte maneira. Se r(t) = x(t)i + y(t)j e F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j,
então
F(r(t)) = f (x(t),y(t))i + g(x(t),y(t))j e r0 (t) = x0 (t)i + y 0 (t)j,
logo
F(r(t)) · r0 (t) = f (x(t),y(t))x0 (t) + g(x(t),y(t))y 0 (t).
65
Esta representação do trabalho W pode ser interpretada como a soma do trabalho realizado
pela função componente abcissa de F sobre o deslocamento no eixo x com o trabalho realizado
pela função componente ordenada de F sobre o deslocamento no eixo y.
Definição 1.5.10. Seja F um campo vetorial contı́nuo de Rn e C uma curva suave orientada
de Rn parametrizada por r(t), t ∈ [a,b]. Seja T o vetor tangente unitário a C. A integral de
linha de F sobre C é definida como
ˆ ˆ b ˆ
0
F · T ds = F(r(t)) · r (t) dt = F · dr.
C a C
ˆ
Ao interpretar a integral de linha F · T ds como o trabalho exercido pela força F , a força
C
F contribui positiva ou negativamente para o movimento de acordo com o ângulo θ. Veja as
Figuras 1.31, 1.32 e 1.33. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
O cálculo das integrais de linha na Definição 1.5.10 se dá através das integrais na Definição
1.5.6: se F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j e C é uma curva de R2 parametrizada por r(t) =
67
Figura 1.33: Força F não possui componente na direção do deslocamento de uma partı́cula.
onde
F(x(t),y(t)) = f (x(t),y(t))i + g(x(t),y(t))j.
Exemplo 1.5.12. Calcule a integral de linha de F(x,y) = xyi + yzj + zxk sobre a curva
C : r(t) = ti + t2 j + t3 k, t ∈ [0,1].
Temos ˆ ˆ 1
F · dr = F(r(t)) · r0 (t) dt,
C 0
F(r(t)) = t · t2 i + t2 · t3 j + t3 · tk = t3 i + t5 j + t4 k.
10
No contexto do trabalho do campo vetorial F ao longo de C, o termo F(x(t), y(t), z(t)) pode ser inter-
pretado da seguinte maneira: a cada instante t da trajetória o objeto se encontra no ponto (x(t), y(t), z(t))
do espaço; a substituição dessas coordenadas na definição de F(x,y,z) fornece a força que o campo vetorial
exerce no objeto no instante t.
68
Segue que ˆ ˆ 1 1
t4 5t7
3 6 1 5 27
F · dr = [t + 5t ] dt = + = + = .
C 0 4 7 0 4 7 28
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Os itens (i) e (ii) do Exercı́cio 1.5.14 representam um caso particular do seguinte resultado.
Teorema 1.5.15. Seja F um campo vetorial contı́nuo de Rn e C uma curva orientada suave
de Rn . Então:
ˆ ˆ ˆ ˆ
F · T ds = − F · T ds e F · dr = − F · dr.
−C C −C C
ˆ
Exercı́cio 1.6.1. Calcule a integral de linha F · dr se F(x,y) = yi + xj e a curva C é
C
dada em cada um dos itens abaixo.
As integrais de linha do Exercı́cio 1.6.1 são todas iguais a 1. Isto ocorre devido ao fato de
que o campo vetorial em questão é conservativo, isto é, F(x,y) = ∇φ(x,y), onde φ(x,y) = xy.
Nestes casos a integral de linha do campo vetorial sobre uma curva lisa é calculada de maneira
análoga àquelas de funções reais f (x) de uma variável real: se F 0 (x) = f (x), então
ˆ b
f (x) dx = F (b) − F (a).
a
Teorema 1.6.2. Seja C uma curva lisa por partes de Rn com pontos inicial e final P e Q,
respectivamente. Se F um campo vetorial conservativo em alguma região aberta D contendo
C com função potencial φ, então
ˆ
F · dr = φ(Q) − φ(P ).
C
Em outras palavras:
Demonstração Demonstração : Suponha que C é uma curva lisa parametrizada por uma
função vetorial11 r(t) = x(t)i + y(t)j, t ∈ [a,b]. Se F(x,y) = ∇φ(x,y), então F(x,y) =
φx (x,y)i + φy (x,y)j. Logo,
ˆ ˆ b ˆ b
F(x,y) · dr = φx dx + φy dy dt = φx (x(t),y(t))x0 (t) + φy (x(t),y(t))y 0 (t) dt.
C a a
onde
φ(x(b),y(b)) = φ(r(b)) = (x1 , y1 ) e φ(x(a),y(a)) = φ(r(a)) = (x0 , y0 ),
como gostarı́amos.
O Teorema 1.6.2 pode ainda ser escrito da seguinte maneira: no caso bidimensional temos
ˆ
∇φ(x,y) · dr = φ(x1 , y1 ) − φ(x0 , y0 ),
C
enquanto em R3 , ˆ
∇φ(x,y) · dr = φ(x1 , y1 , z1 ) − φ(x0 , y0 , z0 ).
C
As integrais de linha do Teorema 1.6.6 são ditas independentes de caminho, conforme definido
a seguir. Veja a Figura 1.34. Na definição abaixo consideramos regiões conexas de Rn : uma
região D ⊆ Rn é dita conexa se, dados quaisquer pontos P,Q ∈ D, existe uma curva lisa por
partes que conecta P a Q.
11
O caso em que C é uma curva lisa por partes é obtido através do mesmo argumento e a Equação 1.24.
O caso tridimensional provado analogamente.
71
n n
ˆ vetorial de R definido em uma região conexa D ⊆ R .
Definição 1.6.3. Seja F um campo
Dizemos que a integral de linha F · dr é independente de caminho se
C
ˆ ˆ
F · dr = F · dr
C1 C2
para todo par de curvas C1 , C2 lisas por partes contidas em D tais que seus pontos iniciais
e finais coincidem.
Exercı́cio 1.6.4. Calcule as integrais de linha do Exercı́cio 1.6.1 usando o Teorema 1.6.2.
Exercı́cio 1.6.5. Em cada um dos casos abaixo, encontre uma função real φ(x,y) tal que
∇φ = F e calcule a integral de linha de F sobre a curva indicada.
Integrais de linha ao longo de caminhos fechados. Dizemos que uma curva pa-
ramétrica C : r(t), t ∈ [a,b], é fechada se r(a) = r(b). Em outras palavras, interpretando
r(t) como o movimento de uma partı́cula em Rn no intervalo de tempo [a,b], sua trajetória
se inicia e se conclui no mesmo ponto. Veja a Figura 1.35. Segue que a integral de linha de
72
Com o teorema abaixo podemos dizer, num certo sentido, que a recı́proca também é verda-
deira.
Teorema 1.6.6. Seja D ⊆ Rn uma região conexa. Então as seguintes afirmações são equi-
valentes (todas verdadeiras ou todas falsas).
• (i) =⇒ (ii),
• (ii) =⇒ (iii),
• (iii) =⇒ (i).
73
Assim temos que, sempre que um dos itens for verdadeiro, os outros também o serão. Em
outras palavras, as implicações acima mostra a equivalência dos itens (i), (ii) e (iii).
Já provamos que (i) =⇒ (ii) com a Equação (1.27). A fim de provar que (ii) =⇒ (iii),
considere curvas C1 , C2 com mesmos pontos inicial e final, como na Figura 1.34; provaremos
que
ˆ ˆ
F · dr = F · dr.
C1 C2
É possı́vel provar que ∇φ = F, isto é, F é campo vetorial conservativo com função potencial
φ. Não daremos detalhes desta demonstração aqui, mas o leitor pode encontrá-los na Seção
15.3 do livro Cálculo Volume 2, Anton, Bivens e Davis.
74
Teorema 1.6.7. Sejam f (x,y) e g(x,y) funções com derivadas parciais de primeira ordem
contı́nuas em uma alguma região aberta D ⊆ R2 . Se o campo vetorial F(x,y) = f (x,y)i +
g(x,y)j é conservativo em D então, para todo (x,y) ∈ D,
∂f ∂g
= .
∂y ∂x
Teorema 1.6.8. Sejam f (x,y,z), g(x,y,z) e h(x,y,z) funções com derivadas parciais de
primeira ordem contı́nuas em uma alguma região aberta D ⊆ R3 . Se o campo vetorial
F(x,y,z) = f (x,y,z)i+g(x,y,z)j+h(x,y,z)k é conservativo em D então, para todo (x,y,z) ∈ D,
∂f ∂g ∂f ∂h ∂g ∂h
= , = e = .
∂y ∂x ∂z ∂x ∂z ∂y
Exercı́cio 1.6.9. Use o Teorema 1.6.7 para determinar se o campo vetorial abaixo é con-
75
servativo:
F(x,y) = (x − y)i + (y − 2)j.
Exercı́cio 1.6.10. Use o Teorema 1.6.7 para determinar se o campo vetorial abaixo é con-
servativo:
F(x,y) = (3 + 2xy)i + (x2 − 3y 2 )j.
é conservativo (Exercı́cio 1.6.10), encontre a função φ(x,y) tal que F = ∇φ e calcule a integral
ˆ
F · dr, onde C é a curva
C
Teorema 1.7.1. Seja R uma região plana simplesmente conexa cuja fronteira é uma curva
C fechada, simples e lisa por partes. Suponha que C é orientada no sentido anti-horário
(sentido trigonométrico). Sejam f (x,y) e g(x,y) funções contı́nuas com derivadas parciais de
primeira ordem contı́nuas em um conjunto aberto contendo R. Então,
˛ ¨
∂g ∂f
f (x,y) dx + g(x,y) dy = − dA.
C R ∂x ∂y
76
Segue do Teorema de Green que é possı́vel calcular este trabalho através de uma integral
dupla sobre a região R que C delimita. O que é curioso é que o trabalho depende da ação
do campo vetorial nos pontos da trajetória da partı́cula; a integral de linha percorre toda
a trajetória e computa a contribuição de F · T ds ao longo da trajetória, conforme indicado
nas Figuras 1.31, 1.32 e 1.33. O que o Teorema de Green fornece é uma maneira de calcular
este trabalho através de uma integral dupla: é percorrida a região R que a curva delimita e
h i
∂g
o trabalho é calculado como a soma das contribuições de ∂x − ∂f
∂y
dA ao longo da região,
semelhante ao processo que apresenta o volume de um sólido como uma integral dupla.
No exemplo abaixo calculamos uma integral de linha ao longo de uma curva fechada que
representa o trabalho W do campo vetorial F(x,y) = x2 yi + xj ao longo da curva dada.
˛
Exemplo 1.7.2. Calcule a integral de linha x2 y dx + x dy ao longo do triângulo C com
C
vértices (0,0), (1,0), e (1,2) com orientação definida pela ordem dada dos vértices.
12
Lembre que temos a garantia que esta integral é nula apenas no caso em que F é campo vetorial
conservativo (Teorema 1.6.6).
77
R = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 2x}.
Logo,
˛ ˆ 1 ˆ 2x ˆ 1 y=2x ˆ 1
2
1 − x2 dy dx = 2
2x − 2x3 dx.
x y dx + x dy = y−x y dx =
C 0 0 0 y=0 0
Note que a integral dupla utilizada acima na resolução do Exemplo 1.7.2 não leva em
conta a orientação da curva: regiões planas não possuem orientação. E se considerássemos
a curva C1 com orientação contrária? O resultado da integral seria diferente, conforme
enunciado no Teorema 1.5.15. O cuidado que devemos tomar é com a seguinte hipótese
do Teorema de Green (Teorema 1.7.1): podemos aplicar diretamente o Teorema de Green
apenas a curvas orientadas no sentido anti-horário.
˛
Exemplo 1.7.3. Calcule a integral de linha x2 y dx + x dy ao longo do triângulo C1 com
C1
vértices (0,0), (1,0), e (1,2) com orientação oposta àquela definida pela ordem dada dos
vértices.
78
Esta integral de linha é igual àquela calculada no Exemplo 1.7.2, porém a curva possui
orientação horária. O Teorema de Green pode ainda ser utilizado, mas o resultado da integral
deve ser multiplicado por −1:
˛ ¨
2
1 − x2 dA,
x y dx + x dy = −
C1 R
onde R é a região plana delimitada pelo triângulo C1 . Este triângulo coincide com aquele
considerado no Exemplo 1.7.2, logo
˛
1
x2 y dx + x dy = − .
C1 6
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.Obs: É importante notar que nos Exemplos 1.7.2 e 1.7.3 o cálculo direto das respectivas
integrais de linha pelas Equações (1.24) e 1.21) deve ser feito em três partes, parametrizando
três curvas suaves diferentes. O Teorema de Green fornece uma método mais rápido para
o a resolução, pois a região delimitada pelo triângulo é facilmente descrita em uma integral
dupla. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
Exercı́cio 1.7.4. Calcule o trabalho do campo vetorial F(x,y) = xi + (x3 + 3xy 2 )j ao longo
da curva C dada pela trajetória de uma partı́cula que inicia seu deslocamento no ponto
(−2,0), chega ao ponto (2,0) em linha reta e retorna ao ponto inicial através do gráfico da
√
função y = 4 − x2 .
Vejamos agora uma outra aplicação do Teorema de Green: o cálculo de áreas. Nos
Exemplos 1.7.2 e 1.7.3 tı́nhamos em mãos o trabalho que deveria ser calculado como uma
integral de linha e, através do Teorema de Green, podemos calculá-lo como uma integral
dupla. Temos agora a situação oposta: a área de uma região plana é calculada, a princı́pio,
por uma integral dupla; o Teorema de Green nos permite realizar este cálculo através de
uma integral de linha.
79
Vejamos mais precisamente como realizar o cálculo da área A(R) de uma região plana R
do plano cartesiano através de uma integral de linha. Podemos escrever A(R) como13
¨
A(R) = 1 dA.
R
Temos esta integral dupla no enunciado do Teorema de Green no caso em que f (x,y) = 0 e
g(x,y) = x:
¨ ¨
∂g ∂f
f (x,y) = 0 e g(x,y) = x =⇒ − dA = 1 dA = A(R). (1.29)
R ∂x ∂y R
˛ ˛
Somando as equações x dy = A(R) e (−y) dx = A(R) obtemos uma outra expressão
C C
para a área A(R):
˛ ˛
1
x dy − y dx = 2A(R), isto é, A(R) = x dy − y dx.
C 2 C
Provamos acima que a área de uma região plana R pode ser calculada como uma integral de
linha ao longo de sua fronteira C:
˛ ˛ ˛
1
A(R) = x dy = − y dx = x dy − y dx. (1.31)
C C 2 C
Para calcular a área de uma região qualquer uma das três integrais de linha acima pode ser
utilizada.
x2 y 2
Exercı́cio 1.7.5. Calcule a área delimitada pela elipse + 2 = 1.
a2 b
Teorema de Green para regiões multiplamente conexas. Uma região plana é dita
multiplamente conexa se contiver um ou mais buracos, como na Figura 1.37. Veremos agora
como a integral dupla sobre R pode ser escrita através de uma integral de linha através do
Teorema de Green. Considere cortes na região R que dividam esta região em duas regiões
R1 e R2 , como na Figura 1.37. Sejam ∂R, ∂R1 e ∂R2 as fronteiras de R, R1 e R2 munidas
de orientação positiva, como indicado na Figura 1.37. A integral dupla sobre R pode ser
escrita como a soma das integrais duplas sobre R1 e R2 :
ˆ ˆ ˆ
dA = dA + dA.
R R1 R2
e ¨ ˛
∂g ∂f
− dA = f (x,y) dx + g(x,y) dy,
R2 ∂x ∂y ∂R2
81
Note que temos acima as integrais de linha ao longo de cada corte com orientações opostas.
A soma destes pares de integrais de linha é zero, logo, se C1 representa a a fronteira externa
de R com orientação positiva e C2 representa a fronteira interna com orientação negativa,
temos ˆ ˛ ˛
dA = f (x,y) dx + g(x,y) dy + f (x,y) dx + g(x,y) dy.
R C1 C2
Uma extensão deste resultado pode ser obtida para regiões com dois ou mais buracos.
C1
R1
R
C2
R2
SUPERFÍCIES PARAMETRIZADAS E
INTEGRAIS DE SUPERFÍCIE
tem como gráfico uma curva em R3 . Vejamos agora que tipo de figura uma função de duas
variáveis
r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k (2.1)
descreve no espaço. Na função acima temos um ponto ou um vetor x(u0 ,v0 )i + y(u0 ,v0 )j +
z(u0 ,v0 )k de R3 associado a cada ponto (u0 ,v0 ) em um certo conjunto D do plano uv. Se
82
83
fixarmos u = u0 , temos v como a única variável na Equação (2.1), que descreve agora uma
curva:
r(u,v)
para algum (u0 ,v0 ) ∈ D é dito uma superfı́cie parametrizada de R3 . As equações x = x(u,v),
y = y(u,v) e z = z(u,v) são ditas as equações paramétricas de S.
Definição 2.1.2. Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfı́cie
parametrizada de R3 . A curva Cu=u0 dada por
para (u0 ,v) ∈ D, é dita a curva de u constante u = u0 . A curva Cv=v0 dada por
x = u, y=v e z = f (u,v)
x = u, y=v e z = 3 − u2 − v 2 , (2.2)
acima para (u,v) ∈ [−2,2] × [−2,2]. Note que na parametrização (2.2) a equação u = u0 é
equivalente a x = u0 ; a curva corresponde é dada pela interseção da superfı́cie com o plano
u = u0 ; a curva v = v0 em (2.2) é definida de maneira semelhante.
r(u,v)
No Exemplo 2.1.3 temos exemplificado que uma mesma superfı́cie pode ser descrita
através de parametrizações diferentes. Neste exercı́cio utilizamos coordenadas cilı́ndricas
para parametrizar o paraboloide da Equação (2.2).
x = v cos u, y = v sen u e z = 3 − v 2 ,
x = r cos θ, y = r sen θ.
Note que as curvas dadas por u = u0 e v = v0 são distintas daquelas fornecidas pela
parametrização em coordenadas cartesianas. Na parametrização acima, u = u0 corresponde
a θ = u0 : isto define um plano vertical que forma um ângulo θ com o plano xz e a curva
corresponde é dada pela interseção deste plano com a superfı́cie. Já a equação v = v0
corresponde agora a r = v0 : fixamos assim a distância v0 à origem no plano xy: vemos assim
as curvas de v constante como cı́rculos com centro no eixo z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
r(u,v)
isto é, x2 +y 2 +z 2 = a2 . Isto prova que as equações dadas fornecem pontos contidos na esfera
de centro (0,0,0) e raio a. Mais ainda, as equações coincidem com aquelas de mudanças de
coordenadas esférias (ρ, θ, φ), onde ρ = a, θ = u e φ = v. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
r(u,v)
x = a cos u, y = a sen u, z = v,
r(u,v)
fornecem uma parametrização do cilindro. Note que estas equações coincidem com as
89
função z = f (x,y) nas direções do eixos x e y, conforme estudado no cálculo de funções reais.
Veja a Figura 2.9.
π π
Exemplo 2.1.8. Calcule os vetores ru e rv no ponto (u,v) = ,
4 2
no caso da superfı́cie
parametrizada do Exemplo 2.1.4.
Temos
r(u,v) = a sen v cos ui + a sen v sen uj + a cos vk,
logo
ru (u,v) = −a sen v sen ui + a sen v cos uj + 0k,
rv (u,v) = a cos v cos ui + a cos v sen uj − a sen vk.
Segue que
√ √
π π 2 2
ru ,
4 2
= −a 2
i +a 2
j + 0k,
π π
rv ,
4 2
= 0i + 0j − ak.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
seguir. Lembramos que se π é um plano que contém o ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e tem vetor normal
(a,b,c), então π tem equação
(a,b,c) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0.
Observe a Figura 2.11, onde temos esboçado o plano tangente (em azul claro) à superfı́cie
no ponto P0 (em roxo). Na figura temos destacadas em laranja e verde as curvas definidas
respectivamente por v = v0 e u = u0 . Os vetores ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ) estão destacados na
mesma cor em que o plano tangente está esboçado, uma vez que estes vetores são paralelos ao
plano tangente. Segue que um vetor n normal a ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ) será normal ao plano
tangente também. Sabemos dos conceitos de Geometria Analı́tica que o produto vetorial
ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é simultaneamente ortogonal aos vetores ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ). Isto
motiva a definição a seguir.
93
.Obs: O raciocı́nio acima se aplica apenas a pontos onde o produto vetorial ru × rv é não
nulo. Superfı́cies paramétricas S : ru × rv que possuem derivadas parciais contı́nuas e tais
que ru × rv 6= 0 são ditas superfı́cies paramétricas lisas ou suaves; tais superfı́cies possuem
plano tangente bem definido em todo ponto (u,v) do seu domı́nio de parametrização. . . . ./
Definição 2.1.9. Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k uma superfı́cie parametrizada
e P0 = r(u0 ,v0 ) = (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto qualquer de S. Se ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) 6= 0, definimos
o plano tangente a S em P0 como o plano que contém o ponto P0 e é normal ao vetor
i j k
ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) = xu yu zu .
xv yv zv
Cabe ressaltar que, tipicamente, ao calcular a equação do plano tangente a uma superfı́cie
S : r(u,v) em um certo ponto, calculamos primeiramente o produto vetorial ru (u0 ,v0 ) e em
94
seguida, já utilizando os valores numéricos de (x0 ,y0 ,z0 ), calculamos o produtor escalar na
Definição 2.1.9.
Como o vetor ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é normal ao plano tangente à superfı́cie S : r(u,v) em
P0 = r(u0 ,v0 ), dizemos que ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é normal à superfı́cie S neste ponto. No
entanto, reservamos daqui em diante a notação n para o vetor normal unitário principal,
definido a seguir.
ru × rv
n = n(u,v) = .
kru × rv k
.Obs: No cálculo da equação do plano tangente podemos utilizar qualquer vetor normal à
superfı́cie, não necessariamente o vetor normal unitário principal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
i j k √ √
π π π π 2 2 2
√ √
2
ru , × rv , = −a 2
a 2
0 = −a i−a j + 0k.
4 2 4 2 2 2 2 2
0 0 −a
π π
Obtemos as coordenadas do ponto P0 = r ,
4 2
diretamente a partir da parametrização
r(u,v), isto é, x = a sen v cos u, y = a sen v sen u e z = a cos v:
π π π π π
x = a sen cos , y = a sen sen e z = a cos ,
2 4 2 4 2
95
√ √
2 2
isto é, P0 = (a 2
, a 2
, 0). Segue da Definição 2.1.9 que a equação do plano tangente é dada
por
" √ √ # " √ ! √ ! #
2 2 2 2
−a2 i − a2 j + 0k · x−a i+ y−a j + (z − 0)k = 0,
2 2 2 2
isto é, √ √ √ √
2 2 a3 2 2 a3 2 2 2 2
−a x+ −a y+ = 0 ⇐⇒ a x+a y − a3 = 0.
2 2 2 2 2 2
√ √
Multiplicando a equação acima por 2/a2 obtemos a equação x + y = a 2. . . . . . . . . . . . .
A área de Sk é aproximada pela área do paralelogramo definido pelo vetores ru (uk ,vk )∆u e
rv (uk ,vk )∆v; veja a Figura 2.13. Note que este paralelogramo está contido no plano tangente
96
r(u,v)
Figura 2.13: Paralelogramo de área kru ∆u × rv ∆vk como aproximação para a área de Sk .
à superfı́cie no ponto r(uk ,vk ). A área deste paralelogramo é dada pela norma do produto
vetorial dos vetores que o definem, de modo que
O produto ∆u∆v representa a área de um dos retângulos da Figura 2.13 que, por construção,
possuem a mesma área. Denotando ∆A = ∆u∆v temos
n
X
A(S) ≈ kru × rv k∆A.
k=1
Quando o número n de retângulos se torna cada vez maior e a área dos retângulos Rk se
aproxima de zero e o erro cometido pela aproximação na Figura 2.13 se torna cada vez menor.
É razoável portanto escrever a área de superfı́cie de S como
n
X
A(S) = lim kru × rv k∆A.
n→∞
k=1
Note que o somatório acima é análogo àquele que define uma integral dupla: a norma kru ×rv k
do produto vetorial acima é um número real que depende do ponto (u,v) escolhido em D,
logo, ao denotar f (u,v) = kru × rv k, obtemos
Xn ¨ ¨
A(S) = lim f (u,v)∆A = f (u,v) dA = kru × rv k dA.
n→∞ D D
k=1
Definição 2.2.1. Seja S : r(u,v), (u,v) ∈ D, uma superfı́cie paramétrica suave. Suponha
que r(u,v) é injetiva no interior de D. Definimos a área de superfı́cie de S como
¨
A(S) = kru × rv k dA,
D
Temos ¨
A(S) = kru × rv k dA,
D
98
onde
ru (u,v) = −a sen v sen ui + a sen v cos uj + 0k,
rv (u,v) = a cos v cos ui + a cos v sen uj − a sen vk.
Logo,
i j k
ru × rv = −a sen v sen u a sen v cos u 0 ,
a cos v cos u a cos v sen u a sen v
isto é,
ru × rv = a2 sen2 v cos ui + a2 sen2 v sen uj + (−a2 sen v cos v sen2 u − a2 sen v cos v cos2 u)k
Segue que
ru × rv = a2 sen2 v cos ui + a2 sen2 v sen uj − a2 sen v cos vk
logo,
1/2
kru × rv k = a4 sen4 v cos2 u + a4 sen4 v sen2 u + a4 sen2 v cos2 v .
Logo, ˆ ˆ ˆ ˆ
2π π 2π v=π 2π
2 2
A(S) = a sen v dv du = −a cos v du = 2a2 du,
0 0 0 v=0 0
2 2
logo A(S) = 2π · 2a = 4πa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
x = u, y = v, z = f (u,v) = u2 + v 2 ,
99
onde
ru (u,v) = 1i + 0j + 2uk,
rv (u,v) = 0i + 1j + 2vk,
logo,
i j k
ru × rv = 1 0 2u = −2ui − 2vj + 1k.
0 1 2v
Segue que
√
kru × rv k = 4u2 + 4v 2 + 1,
e portanto, ¨ √
A(S) = 4u2 + 4v 2 + 1 dA,
D
D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 3, 0 ≤ θ ≤ 2π}.
É importante observar que ao usar coordenadas polares estamos realizando uma mudança
de coordenadas na integral acima, escrita originalmente nas variáveis u e v, logo devemos
incluir o Jacobiano da mudança de coordenadas no cálculo:
ˆ 2π ˆ 3 √
A(S) = 4r2 + 1r dr dθ.
0 0
100
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
z
S
y
D
x
Figura 2.14: Superfı́cie do Exemplo 2.2.3.
Integrais de superfı́cie. Considere agora uma lâmina disposta no espaço de acordo com
uma superfı́cie paramétrica suave S : r(u,v), (u,v) ∈ D, e suponha que o material que a
compõe não é uniforme: a lâmina possui uma densidade pontual de massa dada por uma
função escalar f (x,y,z), (x,y,z) ∈ S. Deduziremos nesta seção uma expressão para a massa
M desta lâmina através de uma integral dupla.
Podemos calcular a massa M desta lâmina a partir de sua densidade pontual de massa de
maneira análoga ao cálculo de área de superfı́cies visto acima. Particionamos o domı́nio D de
maneira análoga em retângulos Rk , k = 1, . . . , n, e consideramos as regiões correspondentes
Sk , k = 1, . . . , n; veja a Figura 2.12. Se as regiões Sk são muito pequenas e (x∗k , yk∗ , zk∗ ) é um
101
ponto qualquer da região Sk , esperamos que não seja grande o erro que cometemos ao supor
que a densidade de massa sobre Sk é constante e igual a f (x∗k , yk∗ , zk∗ ). Se ∆Sk representa a
área da região Sk , então podemos aproximar a massa Mk da região Sk da lâmina por
É razoável esperar que o erro nas aproximações acima se aproximam de zero à medida que
n se aproxima de infinito e a área das regiões Rk se aproximam de zero. Escrevemos então
n
X
M = lim f (x∗k , yk∗ , zk∗ )∆Sk .
n→∞
k=1
Definição 2.2.5. Seja S : r(u,v), (u,v) ∈ D, uma superfı́cie paramétrica suave. Definimos
a integral de superfı́cie de f (x,y,z) sobre S como
¨ n
X
f (x,y,z) dS = lim f (x∗k , yk∗ , zk∗ )∆Sk ,
S n→∞
k=1
caso o limite exista e seja independente da partição de D e da escolha dos pontos (x∗k , yk∗ , zk∗ ).
isto é, ¨
dS = A(S).
S
Teorema 2.2.6. Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfı́cie
paramétrica suave. Então a integral de superfı́cie de f (x,y,z) sobre S satisfaz
¨ ¨
f (x,y,z) dS = f (x(u,v), y(u,v), z(u,v))kru × rv k dA.
S D
Não apresentaremos a demonstração deste resultado, mas obtemos uma intuição por trás
dele da seguinte maneira: a integral de superfı́cie de f (x,y,z) sobre S é definida como
¨ n
X
f (x,y,z) dS = lim f (x∗k , yk∗ , zk∗ )∆Sk ,
S n→∞
k=1
O ponto (x∗k , yk∗ , zk∗ ) foi escolhido como um ponto qualquer da superfı́cie S, logo existe (u∗k , vk∗ )
tal que (x∗k , yk∗ , zk∗ ) = r(u∗k , vk∗ ). Portanto,
¨ n
X
f (x,y,z) dS = lim f (x(u∗k , vk∗ ), y(u∗k , vk∗ ), z(u∗k , vk∗ ))kru × rv k∆A.
S n→∞
k=1
Temos ¨ ¨
f (x,y,z) dS = f (x(u,v), y(u,v), z(u,v))kru × rv k dA,
S D
onde x(u,v), y(u,v) e z(u,v) são determinados pela parametrização da esfera (Exemplo 2.1.4):
Segue que ¨ ¨
2
x dS = (sen v cos u)2 kru × rv k dA,
S D
Note que a integral acima, assim como aquela no Teorema 2.2.6, é escrita originalmente nas
variáveis u e v. Como não estamos realizando uma mudança de coordenadas ao escrever a
integral acima, não é necessário usar o Jacobiano.
Definiremos a seguir nesta seção o conceito de integrais de fluxo: imagine uma superfı́cie S
desposta no caminho do fluxo de um fluido, como na Figura 1.21; o fluxo deste fluido através
104
A maioria das superfı́cies possui dois lados bem definidos: a superfı́cie dada pelo plano
xy possui claramente um lado de cima, em contato direto com os pontos (x,y,z) de R3 tais
que z > 0, e um lado de baixo. Analogamente, a superfı́cie dada pela casca de uma esfera
possui dois lados: o lado interno e o lado externo. Este conceito é importante nas integrais
de fluxo: se um fluido escoa na vertical de acordo com a ação da gravidade e atravessa o
plano xy, então temos uma direção clara para avaliar o fluxo através do plano xy: o volume
de fluido que atravessa o plano de cima para baixo será considerado um fluxo positivo, e o
volume de fluido que atravessar o plano no sentido contrário representará um fluxo negativo.
Entretanto, algumas superfı́cies não possuem dois lados: a faixa de Mobius, logotipo do
Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), ilustrada na Figura 2.15, possui apenas
um lado. Em outras palavras, um inseto pode caminhar ao longo da superfı́cie e alcançar
ambos os lados sem atravessar a superfı́cie ou uma de suas arestas1 .
A ideia de superfı́cie orientada por ser formalizada da seguinte maneira: uma superfı́cie
S é dita orientada se é possı́vel fazer uma escolha de vetor normal n tal que n varia conti-
nuamente sobre S; a escolha de n é dita a orientação de S. No caso do plano xy, podemos
considerar n = (0,0,1) para todo ponto do plano xy; no caso de uma esfera centrada na
1
Veja o link http://profs.if.uff.br/tjpp/_media/blog/entradas/moebius_escher_anim.gif para
uma animação que ilustra o conceito.
105
origem, podemos considerar n como o vetor unitário que aponta na direção da origem (ou
na direção oposta à da origem). Em ambos os caso n varia continuamente na superfı́cie,
definindo uma orientação para as respectivas superfı́cies. No Teorema 2.3.1 e na Definição
2.3.1 a seguir temos uma ideia mais precisa de orientação de uma superfı́cie parametrizada.
Teorema 2.3.1. Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfı́cie
paramétrica suave. Então a função
ru × rv
n(u,v) =
kru × rv k
é contı́nua sobre S. Em particular, a escolha n = n(u,v) acima define uma orientação para
S.
Definição 2.3.2. Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfı́cie
paramétrica suave. A orientação
ru × rv
n(u,v) =
kru × rv k
logo,
i j k
ru × rv = − sen u 0 cos u = − cos ui + 0j − sen uk.
0 1 0
O vetor cos ui + sen uk é o vetor que aponta da origem para o ponto correspondente do plano
xz, logo o produto vetorial acima define um vetor que, com origem na superfı́cie do cilindro,
aponta no sentido contrário. Segue que a orientação positiva do cilindro parametrizado acima
é aquela com vetores normais apontando para dentro da superfı́cie. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Integrais de Fluxo. Seja S uma superfı́cie com vetor normal unitário n sendo atravessada
por um fluido com densidade pontual de massa ρ(x,y,z) e campo de velocidades v(x,y,z).
Veremos agora como expressar através de uma integral de superfı́cie o fluxo Φ de massa do
fluido através de S por unidade de tempo.
Estimar o fluxo de massa através de uma superfı́cie de geometria complexa é uma tarefa
difı́cil. Dividimos a superfı́cie de S em pedaços Sk de área muito pequena ∆Sk , como na
Figura 2.12, a fim de obter uma aproximação para Φ através da soma do fluxo por cada
pedaço Sk . À medida que consideramos pedaços Sk de área cada vez menor, podemos
aproximar a geometria de Sk pela de um plano com vetor normal n. Supondo que v é
constante sobre toda a superfı́cie Sk podemos aproximar a massa de fluido atravessando Sk
na direção do vetor normal pelo produto
107
isto é,
ρ · (v · n) · ∆Sk .
Somando a fluxo de massa por cada pedaço Sk da superfı́cie temos a seguinte aproximação
para o fluxo total Φ:
n
X
Φ≈ ρv · n∆Sk .
k=1
Faz sentido supor que as aproximações acima se tornam cada vez mais precisas no limite
quando n se aproxima de infinito. Podemos assim escrever o fluxo Φ de fluido através S por
unidade de tempo como
n
X
Φ = lim ρv · n∆Sk .
n→∞
k=1
Note que ρv · n é uma função escalar, como na Definição 2.2.5: em cada ponto (x,y,z) temos
um vetor normal n e uma velocidade v diferentes tais que ρv · n é um escalar f (x,y,z) que
depende do ponto (x,y,z). Podemos portanto escrever, de acordo com a Definição 2.2.5,
¨
Φ= ρv · n dS.
S
108
A equação acima fornece o fluxo de um fluido através de uma superfı́cie como a integral de
superfı́cie de F · n sobre S, onde F = ρv. Integrais deste tipo serão ditas integrais de fluxo
de F sobre S.
Definição 2.3.4. Seja F um campo vetorial contı́nuo definido sobre uma superfı́cie S uma
superfı́cie orientada com vetor normal unitário n. Definimos a integral de fluxo (ou de
superfı́cie) de F sobre S como
¨ ¨
F · dS = F · n dS.
S S
e fica subentendido que o lado direito da equação está escrito em termos de u e v. Segue da
expressão da Definição 2.3.2 para n que
ru × rv
F · nkru × rv k = F · kru × rv k = F · (ru × rv ).
kru × rv k
Teorema 2.3.5. Seja S : r(u,v), (u,v) ∈ D, uma superfı́cie orientada suave e seja n o vetor
normal unitário que define sua orientação positiva. Se F é um campo vetorial com funções
componente contı́nuas em S então
¨ ¨
F · n dS = F · (ru × rv ) dA,
S D
.Obs: A orientação negativa de uma superfı́cie S é dada por −n, onde n define sua ori-
entação positiva. A integral de fluxo Φ de F através S com orientação negativa é dada
por ¨ ¨
Φ= F · (−n) dS = − F · n dS = −Φ0 ,
S S
Como o plano acima pode ser escrito na forma z = f (x,y), podemos parametrizá-lo como
x = u, y = v, z = f (x,y) = 1 − u − v, (u,v) ∈ D,
D = {(u,v) ∈ R2 : 0 ≤ u ≤ 1, 0 ≤ v ≤ 1 − u}.
Temos ¨ ¨
F · n dS = F · (ru × rv ) dA,
S D
onde
i j k
ru × rv = 1 0 −1 = i + j + k.
0 1 −1
110
Note que o vetor normal acima coincide com a orientação pedida (para cima).
logo,
Segue que
¨ ˆ 1 ˆ 1−u ˆ 1 v=1−u
v2
F · n dS = [1 − u − v] dv du = (1 − u)v − dv du
S 0 0 0 2 v=0
isto é, ¨ ˆ ˆ
1 1
(1 − u)2
2 1
F · n dS = (1 − u) − du = (1 − u)2 du.
S 0 2 2 0
Fazendo a substituição w = 1 − u =⇒ dw = −du obtemos
¨ u=1
1 3 1
F · n dS = − (1 − u) = .
S 6 u=0 6
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Temos ¨ ¨
F · n dS = F · (ru × rv ) dA,
S D
onde
i j k
ru × rv = −v sen u v cos u 0 = −2v 2 cos ui − 2v 2 sen uj − vk.
cos u sen u −2v
Note que a componente −vk para v ∈ [0,1] mostra que este campo de vetores normais aponta
para baixo. Como a orientação dada para a superfı́cie aponta para cima, consideramos o
vetor normal2
−ru × rv = 2v 2 cos ui + 2v 2 sen uj + vk.
logo,
Segue que
¨ ˆ 2π ˆ 1
F · n dS = [4v 3 sen u cos u + v − v 3 ] dv du
S 0 0
ˆ 2π v=1
4 v2 v4
= v sen u cos u + − du
0 2 4 v=0
ˆ 2π
1
= sen u cos u + du.
0 4
2
Alternativamente, podemos considerar o vetor ru × rv original e multiplicar o resultado da integral de
fluxo por −1.
112
Vejamos agora que o cálculo do Teorema 2.2.6 podem ser simplificados em alguns casos.
Seja S uma superfı́cie definida por uma equação da forma z = g(x,y), y = g(x,z) ou x =
g(y,z); em todo caso podemos subtratir a função g de ambos os lados da equação e escrever
a equação que define S como G(x,y,z) = 0. É possı́vel provar que o vetor gradiente ∇G é
normal à superfı́cie, logo
∇G
n=
k∇Gk
é vetor normal unitário e define uma orientação para S. Note agora que, se S é dada por
z = g(x,y) e é parametrizada por
x = u, y = v, z = g(u,v),
então
ru (u,v) = i + 0j + gu (u,v)k,
e
ru (u,v) = 0i + j + gv (u,v)k.
Portanto,
i j k
ru × rv = 1 0 gu = −gu i − gv j + k = ∇G.
0 1 gv
Segue do Teorema 2.2.6 que
¨ ¨
F · n dS = F · ∇G dA.
S D
É possı́vel provar que a equação acima também pode ser obtida nos casos x = g(y,z) e
y = g(x,z).
113
onde a orientação é dada pelo sentido positivo do eixo definido pela variável independente
nas Equações (2.7).
a
Planos xy, yz ou xz, respectivamente.
Veremos nesta seção o Teorema da Divergência de Gauss, cuja ideia é análoga à do Teorema
de Green. Vimos na Seção 1.7 que a integral de linha sobre uma curva C fechada pode ser
escrita como uma integral dupla sobre a a região que essa curva delimita. O Teorema da
Divergência de Gauss nos permite escrever a integral de superfı́cie sobre uma superfı́cie S
fechada como uma integral tripla sobre a região sólida que essa superfı́cie delimita.
Mais precisamente, uma superfı́cie é dita uma superfı́cie fechada se ela delimita uma
região sólida finita do espaço, como uma esfera. Frequentemente a fronteira de uma reigão
sólida não consiste de uma única superfı́cie contı́nua e suave, como uma esfera, mas sim da
“colagem” de pedaços suaves, como uma caixa. Uma superfı́cie S é dita uma superfı́cie lisa
por partes se S pode ser escrita como uma união finita de superfı́cie com parametrizações
lisas.
.Obs: Utilizaremos aqui a seguinte convenção. Dada uma região sólida fechada E, a ori-
114
Teorema 2.4.1. Seja E um sólido cuja superfı́cie S de fronteira é munida do vetor normal
unitário n orientado para fora. Se F(x,y,z) é um campo vetorial cujas funções componente
possuem derivadas paricis de primeira ordem contı́nua em algum conjunto contendo E, então
¨ ˚
F · n dS = div F dV.
S E
Note que
∂ 2 cos z ∂ ∂
div F = ∇ · F = y e + y + z = 0 + 1 + 1 = 2.
∂x ∂y ∂z
Segue do Teorema 2.4.1 que, se E é a esfera delimitada por x2 + y 2 + z 2 = a2 ,
¨ ˚ ˚
F · n dS = 2 dV = 2 dV = 2V (E),
S E E
Note que a integral tripla à direita no Teorema 2.4.1 possui o divergente do campo vetorial
como argumento: frequentemente este é um indicativo de que o Teorema da Divergência de
Gauss é o caminho mais simples para o cálculo de uma integral, como no Exemplo 2.4.2
acima.
Exercı́cio 2.4.3. Calcule o fluxo do campo vetorial F(x,y,z) = 2xi + 3yj + z 2 k através da
caixa unitária que contém vértices os (0,0,0), (1,0,0), (0,1,0) e (0,0,1).
Note que no Exercı́cio 2.4.3 acima temos uma superfı́cie com seis faces: o cálculo direto
da integral de superfı́cie, como no Teorema 2.2.6, demandaria a soma do resultado de seis
integrais de superfı́cie diferentes. O Teorema da Divergência de Gauss nos permite calcular
o fluxo com uma única integral, no caso uma integral tripla. Mais geralmente, é sempre
115
2
Exercı́cio 2.4.5. Calcule o fluxo do campo vetorial F(x,y,z) = xyi + (y 2 + exz )j + sen(xy)k
através da fronteira S da região delimitada por z = 0, y = 0, y + z = 2 e z = 1 − x2 .
Neste seção veremos o Teorema de Stokes, que pode ser interpretado como uma generalização
do Teorema de Green. O enunciado Teorema de Stokes se refere a superfı́cies S delimitadas
por uma curva paramétrica fechada simples C. Veja a Figura 2.18. A orientação de C
com relação à orientação de superfı́cie S pode se dar de duas maneiras: se a orientação de
C coincide com a regra da mão direita aplicada aos vetores normais de S, dizemos que C
possui orientação positiva com relação a S; caso contrário dizemos que C tem orientação
negativa com relação a S. Em outras palavras, a fronteira C de uma superfı́cie S possui
orientação positiva se uma pessoa que caminha ao longo de C de acordo com sua orientação
tem a superfı́cie S sempre à sua esquerda. Veja a Figura 2.18.
Teorema 2.5.1. Seja S uma superfı́cie orientada lisa por partes delimitada por uma curva
C lisa por partes, fechada, simples e com orientação positiva em relação à orientação de S.
Se F(x,y,z) é um campo vetorial com funções componentes que possuem derivadas parcias
de primeira ordem contı́nuas em algum conjunto aberto contendo S, então
˛ ¨
F · dr = (rot F) · n dS.
C S
Figura 2.18: Superfı́cies delimitadas por uma curva C orientada positivamente com relação
à orientação da superfı́cie.
será o valor da integral na Equação (2.8); por outro lado, se F for ortogonal a T em todo
ponto da curva C, então F · T = 0 e a integral na Equação (2.8) será nula, o que indica
nenhuma tendência do fluido de fluir na direção da curva C. Por este motivo a integral de
linha no enuncia do Teorema 2.5.1 é denominada de circulação de F ao longo de C.
ao longo da curva C dada pelo triângulo de vértices (1,0,0), (1,2,0) e (0,0,1) contido no plano
x + z = 1. Considere a orientação de C dada pela ordem que os vértices foram dados.
ao longo da curva C dada pelo cı́rculo de raio 2 e centro (0,0,2) contido no plano z = 2
munido da orientação anti-horária. Use o Teorema de Stokes e a superfı́cie S dada pelo cone
p
z = x2 + y 2 .
de modo que ¨ ¨
(rot F) · n dS = (rot F) · n dS.
S1 S2
Por exemplo, no Exercı́cio 2.5.3 utilizamos o Teorema de Stokes aplicado a um cone para
calcular a integral de linha dada, mas poderı́amos ter utilizado outra superfı́cie delimitada
pela mesma curva C, como um paraboloide ou o disco contido no plano z = 2.
onde R é a região delimitada por C. Vejamos agora como este resultado pode ser obtido
através do Teorema de Stokes. Podemos interpretar esta região R como uma superfı́cie de
R3 contida no plano z = 0 e o campo vetorial F como um campo vetorial de R3 dado por
F(x,y,z) = f (x,y)i + g(x,y)j + 0k. O rotacional de F é dado portanto por
∂g ∂f
rot F(x,y,z) = − k.
∂x ∂y
Exercı́cio 2.5.5. Use o Teorema de Stokes para calcular o trabalho realizado pelo campo
vetorial
F(x,y,z) = x2 i + 4xy 3 j + xy 2 k
Exercı́cio 2.5.6. Use o Teorema de Stokes para calcular o trabalho realizado pelo campo
vetorial
F(x,y,z) = −y 2 i + xj + z 2 k
120
121
assim como é possı́vel obter uma expressão geral para pn , n ≥ 2. Isto define uma sequência
infinita de números reais: para cada número n ≥ 1 de pessoas temos um número real pn
associado. Considerando um ano de 365 dias, em um grupo de 366 pessoas certamente há um
par delas que faz aniversário no mesmo dia, logo p366 = 1. Pergunta: qual o número n para
o qual já temos pelo menos 50% de chance de obter uma tal coincidência? Este problema é
conhecido como o paradoxo do aniversário 2 .
Suponha que você queira encontrar as raı́zes de uma equação f (x) = 0 onde a função
f possui uma expressão muito complexa. É possı́vel utilizar métodos computacionais para
resolver tais problemas. Na Figura 3.1 temos ilustrado um método para resolver este tipo
de problema: o Método da Bisseção. Se f (x) é contı́nua e temos pontos x = a e x = b tais
que f (a) < 0 e f (b) > 0, segue do Teorema do Valor Intermediário que existe uma solução ξ
para a equação f (x) = 0 no intervalo (a,b); no caso da Figura 3.1 temos inicialmente a = 1
e b = 3. Consideramos então o ponto médio do segmento (x1 = 2) e, como f (x1 ) < 0,
concluı́mos que a raiz ξ se encontra no intervalo [x1 ,b]. Repetimos o processo com a = 2
e b = 3: o intervalo definido por a = 2 e b = 3 possui ponto médio x2 = 2.5 e o mesmo
argumento nos leva a considerar o intervalo [x2 , b], onde sabemos que a raiz ξ se encontra.
Observamos que os pontos x1 , x2 , x3 , . . . se aproximam cada vez mais da raiz ξ da equação.
É possı́vel repetir o processo indefinidamente, a fim de obter um ponto xn tão perto quanto
se queira da raiz ξ. Formalizamos estes conceitos neste capı́tulo: estes pontos definem uma
2
Ver também o problema do coletor de cupons (coupon collector problem).
122
a raiz ξ.
Na matemática uma sequência indica uma sucessão de coisas em uma ordem definida. Por
exemplo: os alunos em uma sala de aula, a princı́pio, não têm uma ordem definida; eles
definem simplesmente um conjunto, idealizado como uma grande caixa onde todos os alunos
se encontram em nenhuma configuração especı́fica. Este conjunto passa a ter uma ordem
bem definida quando ordenamos os alunos pela data de nascimento, por exemplo, onde
em primeiro lugar temos o aluno mais novo e por último o mais velho, como se os alunos
formassem uma fila.
através da ordem crescente. O primeiro elemento desta sequência, denotado por a1 , é dado
por a1 = 2, o segundo elemento é dado por a2 = 4 e assim por diante. Temos assim a
sequência
a1 , a2 , a3 , a4 , . . .
onde a seguinte regra geral é satisfeita: an = 2n. As reticências acima indicam que a
sequência é infinita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Definição 3.1.2. Uma sequência de números é uma função f com domı́nio Dom f = N e
contradomı́nio dado pelos números reais. Escrevemos normalmente an = f (n) para indicar
o n-ésimo elemento da sequência. O inteiro n é dito o ı́ndice do elemento an . A sequência
a1 , a2 , . . . é denotada por
{an } ou {an }∞
n=1 .
1 2 3 4
(i) {an }∞
n=1 definida por , , , ,...
2 3 4 5
1 2 3 4
(ii) {bn }∞
n=1 definida por ,− , ,− ,...
2 3 4 5
124
A sequência {an }∞
n=1 do item (i) pode ser escrita como
a1 , a2 , a3 , . . . .
n
an = , n ≥ 1.
n+1
A sequência do item (ii) é idêntica àquela do item (i), exceto pelo sinal: temos bn = ±an
para n ≥ 1. Observamos que os termos {bn }∞
n=1 são alternadamente positivos e negativos.
(−1)n , n ≥ 1 : − 1, 1, −1, 1, . . . ,
ou
(−1)n+1 , n ≥ 1 : 1, − 1, 1, −1, . . . .
{an }∞
n=1 com o termo (−1)
n+1
para obter o termo geral de {bn }∞
n=1 :
n
bn = (−1)n+1 , n ≥ 1.
n+1
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1 2 3 4
(i) {an }∞
n=1 definida por − , , − , , . . .
2 3 4 5
3 4 5 6
(ii) {bn }∞
n=1 definida por , , , ,...
5 25 125 625
1 1 1 1
(iii) {cn }∞
n=1 definida por , , , ,...
2 4 8 16
125
.Obs: Podemos escrever uma sequência como aquelas do Exercı́cio 3.1.4 como {an }∞
n=1 ou
{an }∞
n=0 , isto é, podemos identificar o primeiro termo da sequência como a1 ou a0 . Por
exemplo, a sequência do item (iii) do Exercı́cio 3.1.4 pode ser escrita como
n+3 n+2
bn = , n ≥ 0, ou bn = , n ≥ 1.
5n+1 5n
Em alguns casos pode ser conveniente ilustrar o comportamento de uma sequência através
de um gráfico. Considere as sequências {an }∞ ∞ ∞ ∞
n=1 , {bn }n=1 , {cn }n=1 e {dn }n=1 definidas abaixo:
n+1 2 (−1)n
an = , bn = n , cn = , dn = (−1)n .
n n2
Nas Figuras 3.2 a 3.5 temos ilustradas estas sequências. Note que as sequências {an }∞
n=1 e
{cn }∞
n=1 se aproximam, respectivamente, cada vez mais dos valores 1 e 0; o mesmo não pode
n+1 n+1−n 1
an − 1 = −1= = ,
n n n
de modo que podemos tornar a diferença an −1 tão pequena quanto queiramos: basta escolher
o ı́ndice n grande o suficiente. Baseados neste tipo de raciocı́nio diremos que o limite da
sequência {an }∞
n=1 é L = 1, conceito que formalizamos a seguir com a Definição 3.1.5.
.Obs: Lembramos que se a, b são números reais então |a − b| indica a distância entre a e b
na reta. Em particular, |an − L| representa, na Definição 3.1.5, a distância entre an e L. ./
126
real L tal que para todo ε > 0 existe um inteiro N ≥ 1 tal que |an − L| < ε para todo n ≥ N .
Dizemos neste caso que {an }∞
n=1 possui limite L e escrevemos
lim an = L ou an → L quando n → ∞.
n→∞
Se {an }∞ ∞
n=1 não é convergente dizemos que {an }n=1 é divergente.
Conforme visto na Definição 3.1.2, uma sequência pode ser vista como uma função com
domı́nio dado pelos números naturais, de modo que graficamente temos a seguinte repre-
sentação: para cada n ≥ 1, marcamos um ponto (n, an ) no plano cartesiano. Dessa maneira,
o intervalo (L−ε, L+ε) acima é representado no eixo vertical, definindo uma faixa horizontal
no plano cartesiano. Se {an }∞
n=1 converge para o valor L, então todo termo da sequência n
1
Exemplo 3.1.6. Considere a sequência {an }∞
n=1 dada por an = , n ≥ 1. Seus primeiros
n
termos são dados por
1 1 1 1
1, , , , , . . . .
2 3 4 5
Os elementos da sequência decrescem sucessivamente e parecem convergir para o valor L = 0.
De fato, fixando ε = 0.1, temos a “margem de erro” dada pelo intervalo (−0.1, 0.1) centrado
em torno de L = 0. Como
a10 = 0.1,
a11 = 0.090909 . . . ,
a12 = 0.08333 . . . ,
128
temos que a propriedade na Definição 3.1.5 vale para N = 11. Em outras palavras, temos
an ∈ (L − 0.1, L + 0.1)
qualquer. Temos
1 1 1
|an − L| < ε ⇐⇒ − 0 < ε ⇐⇒ < ε ⇐⇒ n > . (3.1)
n n ε
Seja N o menor inteiro maior que 1/ε. Se n ≥ N então n > 1/ε e, pelo argumento na
Equação (3.1), temos |an − L| < ε, como gostarı́amos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 3.1.7. Prove pela Definição 3.1.5 que as sequências abaixo são convergentes.
(ii) an = 2−n , n ≥ 0.
.Obs: O Teorema 3.1.8 não pode ser utilizado no caso de sequências cujo termo geral não
está definido para números reais, como an = (−1)n e bn = n!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
Exercı́cio 3.1.9. Esboce no mesmo plano cartesiano alguns termos da sequência {an }∞
n=1
ilustrada na Figura 3.2 e o gráfico da função correspondente. Faça o mesmo para a sequência
{bn }∞
n=1 ilustrada na Figura 3.3.
(ii) bn = (−1)n , n ≥ 0.
definida para os número reais x > −5/2. Usando a Regra de L’Hospital obtemos
3x 3 3
lim f (x) = lim − = lim − = − .
x→∞ x→∞ 2x + 5 x→∞ 2 2
b0 = 1, b1 = −1, b2 = 1, b3 = −1, . . . .
A sequência não se aproxima portanto de nenhum valor especı́fico, donde concluı́mos que ela
é divergente3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
n2
(i) an = , n ≥ 1.
2n
n2
(ii) bn = , n ≥ 0.
n−1
Os Teoremas 3.1.12 e 3.1.19 são consequências diretas do Teorema 3.1.8 e dos teoremas
correspondes para limites de funções.
3
É possı́vel formalizar este argumento com a Definição 3.1.5, porém este argumento será o suficiente no
nosso curso.
131
limites L1 e L2 . Então,
(iv) lim an bn = L1 L2 ;
n→∞
an L1
(v) se L2 6= 0, então lim = ;
n→∞ bn L2
O Teorema 3.1.14 pode ser utilizado em sequências alternadas; veja o Exercı́cio 3.1.15.
Exemplo 3.1.15. Prove que a sequência definida por an = (−1)n /n, n ≥ 1, é convergente
e encontre o seu limite.
Note que a sequência {an } não se estende para número reais, no entanto |an | = f (n) =
1/n, onde f (x) está definida para todo x > 0. Como
1
lim f (x) = lim = 0,
x→∞ x→∞ x
132
segue do Teorema 3.1.8 que |an | → 0 quando n → ∞. Temos portanto pelo Teorema 3.1.14
que an → 0 quando n → ∞. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
π
Exemplo 3.1.17. Prove que a sequência definida por an = cos , n ≥ 1, é convergente
n
e encontre o seu limite.
1 π
Exercı́cio 3.1.18. Prove que a sequência definida por an = cos , n ≥ 1, é convergente
n n
e encontre o seu limite.
onde
n · (n − 1) · · · 2 n n−1 2
= · · · · ≤ 1 · 1 · · · 1 = 1.
n · n···n n n n
Então an ≤ 1/n para n ≥ 1. Como an ≥ 0 para todo n ≥ 1, temos que xn ≤ an ≤ yn para
n ≥ 1, onde xn = 0, yn = 1/n e
lim xn = lim yn = 0.
n→∞ n→∞
Exercı́cio 3.1.21. Prove usando o Teorema 3.1.19 que a sequência definida por an =
1 π
cos , n ≥ 1, é convergente e encontre o seu limite.
n n
Nesta seção estudaremos sequências que adotam, inicialmente ou a partir de um certo ponto,
um padrão sempre crescente (ou decrescente) para os seus termos. Existem testes especı́ficos
de convergências para essas sequências que são bastante úteis.
134
a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ . . . an ≤ . . . ,
a1 ≥ a2 ≥ a3 ≥ . . . an ≥ . . . .
Se a sequência {an }∞ ∞
n=1 é crescente ou decrescente, dizemos que {an }n=1 é monótona;
se {an }∞ ∞
n=1 é estritamente crescente ou decrescente, dizemos que {an }n=1 é estritamente
monótona.
No teorema abaixo temos métodos precisos para avaliar de um modo geral se uma dada
sequência é crescente. A seguir temos o resultado análogo para sequências decrescentes.
cente.
an+1
(i) Se an
≥ 1 para todo n ≥ 1, então {an }∞
n=1 é uma sequência monótona crescente.
an+1
(ii) Se an
≤ 1 para todo n ≥ 1, então {an }∞
n=1 é uma sequência monótona decrescente.
.Obs: Se {an }∞
n=1 uma sequência de números reais tal que an < 0 para todo n ≥ 1, podemos
e somente se {bn }∞
n=1 é decrescente (crescente). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
n
an = , n ≥ 1.
n+1
Como n + 2 > n para todo n ≥ 1, concluı́mos que an+1 /an > 1 para todo n ≥ 1. Segue do
Teorema 3.2.3 que {an } é sequência monótona (estritamente) crescente. . . . . . . . . . . . . . . . .
n
(i) an = , n ≥ 1.
n2 +1
No teorema abaixo fazemos uso dos critérios de monotonicidade de funções para verificar
o mesmo para sequências de números reais.
136
As desigualdades f 0 (x) > 0 e f 0 (x) < 0 no Teorema 3.2.6 provam que {an }∞
n=1 é sequência
estritamente monótona.
√
n
Exemplo 3.2.7. Prove que a sequência an = 2, n ≥ 1, é monótona.
Temos an = 21/n = f (x), onde f (x) = 21/x é uma função real definida para x > 0. Como
0 1/x 1
f (x) = 2 · ln 2 · − 2
x
e ln 2 > 0, temos que f 0 (x) < 0 para todo x > 0. Segue que a função f (x) é decrescente para
x > 0 e portanto, pelo Teorema 3.2.6, a sequência {an } é monótona decrescente. . . . . . . . .
M ∈ R tal que
an ≤ M, para todo n ≥ 1.
m ≤ an , para todo n ≥ 1.
Se {an }∞ ∞
n=1 é limitada superiormente e inferiormente, dizemos que {an }n=1 é limitada.
137
(i) se {an }∞ ∞
n=1 não é limitada então {an }n=1 é sequência divergente;
(ii) se {an }∞ ∞
n=1 é limitada então {an }n=1 é sequência convergente.
√
n
Exemplo 3.2.10. Prove que a sequência an = 2, n ≥ 2, é convergente usando o Teorema
3.2.9.
Provamos no Exemplo 3.2.7 que a sequência {an } é monótona decrescente, isto é,
a2 ≥ a3 ≥ a4 ≥ · · · ,
√ √
onde a2 = 2. Segue que an ≤ 2 para todo n ≥ 2. Como an ≥ 0 para todo n ≥ 2, temos
que {an } é limitada. Segue portanto do Teorema 3.2.9 que {an } é convergente. . . . . . . . . .
não é limitada superiormente, então não existe um número M ∈ R que limita superiormente
todos os elementos da sequência. Em outras palavras, para qualquer número M escolhido
sempre encontraremos um elemento an da sequência maior do que M , logo {an }∞
n=1 tendo
.Obs: Se {an }∞
n=1 é uma sequência monótona crescente limitada superiormente por um
que para que uma sequência seja convergente devemos observar uma certa propriedade, de
acordo com a Definição 3.1.5, nos ı́ndices n ≥ N . Isto significa que os primeiros termos
de uma sequência podem ser desconsiderados para fins de convergência. Logo, a fim de
comprovar a convergência de uma sequência através do Teorema 3.2.9, por exemplo, não é
necessário que a sequência inteira seja monótona; basta que seja monótona a partir de um
certo ponto.
10n
an = , n ≥ 1,
n!
onde n! = n · (n − 1) · (n − 2) · · · 2 · 1. Seus primeiros termos são dados por
100 1000
a1 = 10, a2 = = 50, a3 = = 166.66 . . . ,
2 6
10000 100000
a4 = = 416.66 . . . , a5 = = 833.33 . . . .
24 120
an+1
No entanto esta sequência não é crescente. De fato, analisando a razão de acordo com
an
o Teorema 3.2.3, temos
10n+1
an+1 (n+1)! 10n+1 n!
= 10n = n
.
an n!
(n + 1)! 10
139
an+1 10
= . (3.2)
an n+1
an+1
Temos < 1 para n ≥ 10, logo a sequência {an }∞
n=1 é monótona estritamente decrescente
an
a partir de N = 10. Veja a Figura 3.10.
n ≥ 1, logo {an }∞ ∞
n=1 é limitada inferiormente. A fim de provar que {an }n=1 é limitada
an
≤ 1, para 1 ≤ n ≤ 9,
an+1
e
an
> 1, para n ≥ 10.
an+1
Segue que logo a sequência {an }∞
n=1 é monótona crescente para 1 ≤ n ≤ 9 e estritamente
10n
Figura 3.10: Temos da sequência an = .
n!
140
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, . . . .
Esta sequência é conhecida pela razão áurea: a razão entre os elementos an+1 e an se aproxima
√
cada vez mais de ϕ = (1 + 5)/2 ≈ 1.61803. Confira abaixo:
a4
= 1.5,
a3
a5
= 1.666 . . . ,
a4
a6
= 1.625,
a5
a7
= 1.61538,
a6
..
.
1 x1 = 1 1.000000
1
1 + 1 = 32
2
2 x2 = 2
1.500000
3 x3 = 12 32 + 3/2
2
= 17 1.416666
12
4 x4 = 12 17
12
2
+ 17/12 = 577
408
1.414216
Destacamos que é possı́vel, no entanto, que uma soma infinita não se aproxime cada vez
mais de um certo valor, como vimos na Equação (3.3): na Figura 3.12 temos que a soma da
área de infinitos quadrados de área 1 fica cada vez maior, tendendo ao infinito; dizemos que
a soma correspondente define uma série divergente.
142
Figura 3.12: Soma das áreas de infinitos quadrados iguais: série divergente.
No caso de uma dı́zima periódica temos uma soma infinita: o número 0.333 . . . é escrito
como
1
= 0.333 · · · = 0.3 + 0.03 + 0.003 + · · · .
3
Definição 3.4.1. Uma série infinita,ou simplesmente série, é a soma infinita dos termos de
uma sequência infinita {an }∞
n=1 de números reais. Escrevemos
∞
X
an = a1 + a2 + a3 + · · · .
n=1
ı́ndice inicial n0 . Em particular, para uma sequência com termo inicial a0 , podemos consi-
derar a série
∞
X
an = a0 + a1 + a2 + · · · .
n=0
......................................................................................... /
A soma de infinitos números reais é um conceito que ainda precisamos definir: sabemos
calcular a soma 1 + 4 + 9 + 16 + 25, mas a soma infinita 1 + 4 + 9 + 16 + 25 + 36 + · · · é
avaliada através de um limite. Considere a série ∞ −n
P
n=0 2 apresentada na Equação (3.4).
Avaliamos esta soma infinita através das somas parciais sn dos n primeiros termos da série:
sn = a0 + a1 + · · · + an−1 .
144
s1 = a0 = 1,
1
s 2 = a0 + a1 = 1 + = 1,5,
2
1 1
s3 = a0 + a1 + a2 = 1 + + = 1,75,
2 4
1 1 1
s4 = a0 + a1 + a2 + a3 = 1 + + + = 1,875,
2 4 8
1 1 1 1
s 5 = a0 + a1 + a2 + a3 + a4 = 1 + + + + = 1,9375.
2 4 8 16
À medida que consideramos valores cada vez maiores para n, nos aproximamos da ideia de
soma infinita da Equação (3.4). Em outras palavras, consideramos o limite da sequência
{sn }∞
n=1 , conforme visto na Seção 3.1.
isto é,
1 − 21n 1 − 21n 1
sn = 1 = 1 = 2 − n−1 .
1− 2 2
2
Como
1
lim sn = lim 2 − = 2,
n→∞ n→∞ 2n−1
dizemos que a série (3.4) converge para 2:
∞
X 1 1 1 1
= lim 1 + + + · · · + n−1 = 2.
n=0
2n n→∞ 2 4 2
145
P∞
Definição 3.4.2. Seja n=1 an a série definida pela sequência {an }∞
n=1 . Considere, para
sn = a1 + a2 + · · · + an .
P∞
A sequência {sn }∞
n=1 é dita a sequência de somas parciais da série n=1 an . Se a sequência
P∞
{sn }∞
n=1 converge para um número S ∈ R dizemos que a série n=1 an é convergente e
escrevemos
∞
X
an = S.
n=1
O argumento utilizado para provar que a série (3.4) é convergente pode ser utilizado para
provar que toda série geométrica de razão r satisfazendo |r| < 1 é convergente.
1
é igual a repetindo o argumento acima.
3
Exercı́cio 3.4.6. Escreva o número 2.3171717 . . . como uma série. Prove que esta série é
convergente e determine o seu limite.
146
∞
X
Exercı́cio 3.4.7. Determine se a série (−1)n é convergente ou divergente.
n=1
Exemplo 3.4.8. Determine se cada uma das séries abaixo é convergente ou divergente.
Caso seja convergente, calcule seu limite.
∞
X 5
(i)
n=0
4n
∞
X
(ii) 32n 51−n
n=1
Como esta é uma série geométrica de razão r = 1/4 < 1, segue do Teorema 3.4.3 que esta
série é convergente. Para calcular seu limite, procedemos como no caso da série (3.4). Seja
1 1 1
sn = 5 1 + + 2 + · · · + n−1 .
4 4 4
Então,
1 − 41n
1 1 1 1 4
sn = 5 · 1 + 5 · + 5 · 2 + · · · + 5 · n−1 = 5 =5 1− n .
4 4 4 1 − 14 4 3
20
Segue que lim sn = .
n→∞ 3
A série do item (ii) pode ser escrita como
∞ ∞ ∞ ∞ n
X
2n 1−n
X
n −n
X 9n X 9
3 5 = 9 5·5 = 5 n = 5 .
n=1 n=1 n=1
5 n=1
5
∞
X
Exercı́cio 3.4.9. Prove que a série n = 1 + 2 + 3 · · · + n + · · · é divergente.
n=1
Somas telescópicas. Veremos a seguir como a técnica de somas telescópicas pode ser
utilizada para provar a convergência de séries.
A fim de provar que esta série é convergente, utilizamos frações parciais para escrever o
1
termo an = como
n(n + 1)
1 A B
= + , (3.5)
n(n + 1) n n+1
onde A,B são números reais a serem determinados6 . Ao somar as duas frações à direita na
Equação (3.5) sob o múltiplo comum n(n + 1), obtemos
1 A(n + 1) + Bn 1 (A + B)n + A
= , isto é, = .
n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O termo “séries telescópicas” parece carecer de uma definição precisa, mas dizemos de
P
um modo geral que uma soma an , finita ou infinita, é telescópica se há um algum tipo
de cancelamento aditivo recorrente entre os termos an e an+1 , como aquele observado na
Equação (3.6).
P
Teorema 3.5.1. Se a série infinita an é convergente, então lim an = 0.
n→∞
P∞
Demonstração Demonstração : Seja n=1 an uma série convergente com limite L e seja
{sn }∞
n=1 a sequência de somas parciais correspondente. Note que
Segue que
como gostarı́amos.
P P
Corolário 3.5.2. Se an é uma série tal que lim an 6= 0, então an é divergente.
n→∞
É muito importante ressaltar que o Teorema 3.5.1 não garante a convergência de uma
an tal que limn→∞ an = 0. De fato, as séries ∞
P P 1
P∞ 1
série n=1 2n e n=1 n satisfazem ambas
É possı́vel generalizar este argumento e provar que sn > (k + 1)/2 para n = 2k , k ≥ 1. Para
qualquer número real M0 > 0, existe k0 ≥ 1 tal que
k0 + 1
> M,
2
então, para n0 = 2k0 , temos sn0 > M . Isto prova que a sequência de somas parciais {sn }∞
n=1
fica arbitrariamente grande, maior que qualquer número real M fixado. Segue que
lim sn = +∞,
n→∞
P∞ 1
e, portanto, a série n=1 n é divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Importante!
P
Se lim an = 0, nada podemos afirmar sobre a convergência da série an .
n→∞
∞
X n2 + 2n
Exemplo 3.5.4. Mostre que a série 2+1
é divergente.
n=1
n
n2 + 2n
lim an = lim = 1.
n→∞ n→∞ n2 + 1
P∞ P∞
Teorema 3.5.5. Sejam n=1 an e n=1 bn séries convergentes com limites L1 e L2 , respec-
tivamente. Então:
P∞ P∞
(i) a série n=1 (an + bn ) é convergente e n=1 (an + bn ) = L1 + L2 ;
P∞ P∞
(ii) a série n=1 (an − bn ) é convergente e n=1 (an − bn ) = L1 − L2 ;
vergência da séries ∞
P P∞
n=1 (an − bn ) e n=1 (an + bn ). Veja os exemplos abaixo.
(ii) As séries definidas por an = (−1)n , n ≥ 1, e bn = (−1)n , n ≥ 1, são ambas divergentes, mas
∞
X
a série (an + bn ) é divergente.
n=1
......................................................................................... /
para algum a ≥ 1 qualquer. Para entender a relação entre a série e a integral imprópria
correspondente, considere a série abaixo:
∞
X 1 1 1
√ = 1 + √ + √ + ··· .
n=1
n 2 3
ˆ ∞
1
Temos an = f (n) para f (x) = √ , onde a integral f (x) dx representa a área entre o
x a
eixo x e o gráfico da função f , à direita de x = a. Veja a Figura 3.13. Conforme ilustrado
1
na Figura 3.14, o termo an = √ da série pode ser interpretado como a área de um dos
n
retângulos que aproximam a área da Figura 3.14.
ˆ ∞
1
Figura 3.13: Região plana de área √ dx.
1 x
∞
X 1
Figura 3.14: Região plana de área √ .
n=1
n
∞ ˆ ∞
X 1 1
Segue do argumento geométrico (Figura 3.14) que √ ≥ √ dx, onde a integral
n=1
n 1 x
153
à direita é divergente:
ˆ ∞ x=t
!
√ √
1 √
√ dx = lim 2 x = lim 2 t + 2 1 = +∞.
1 x t→∞
x=1
t→∞
∞
X 1
Como a série √ é maior que a integral acima que diverge para +∞, segue que a série
n=1
n
é divergente.
Podemos também utilizar integrais impróprias para provar a convergência de séries infi-
nitas. Considere a série
∞
X 1 1 1 1
2
=1+ + + + ··· .
n=1
n 4 9 16
ˆ ∞
1
Temos an = f (n) para f (x) = 2 , de modo que a integral f (x) dx representa a área
x a
entre o eixo x e o gráfico da função f , à direita de x = a. Veja a Figura 3.15. Conforme
1
ilustrado na Figura 3.16, o termo an = 2 da série pode ser interpretado como a área de um
n
dos retângulos que aproximam a área da Figura 3.15.
ˆ ∞
1
Figura 3.15: Região plana de área dx.
1 x2
∞
X 1
Figura 3.16: Região plana de área 2
.
n=1
n
ˆ ∞ ∞ ˆ ∞
1 X 1 1
2
dx, representa a série com termo inicial n = 2. Temos portanto 2
≤ dx,
1 x n=2
n 1 x2
onde a integral à direita é convergente:
ˆ ∞ t
!
1 1 1 1
dx = lim − = lim − + = 1.
1 x2 t→∞ x x=1 t→∞ t 1
∞ ∞ ∞ ∞
X 1 X 1 X 1 X 1
Como 2
= 2
− 1, temos 2
− 1 ≤ 1, isto é, ≤ 2. A sequência de
n=2
n n=1
n n=1
n n=1
n2
m
X 1
somas parciais Sm = é monótona estritamente crescente e limitada, portanto a série é
n=1
n2
convergente. Através deste critério não podemos afirmar qual o valor da série, mas é possı́vel
afirmar que é convergente9 .
P∞
Teorema 3.6.1 (Teste da Integral). Seja n=1 an uma série de números reais positivos
tal que an = f (n) para n ≥ 1. Suponha que existe a ≥ 1 tal que f (x) é contı́nua e monótona
decrescente para x ∈ [a, + ∞). Então:
ˆ ∞ ∞
X
(i) se f (x) dx é convergente então an é convergente;
a n=1
ˆ ∞ ∞
X
(ii) se f (x) dx é divergente então an é divergente.
a n=1
Importante!
.Obs: O teorema acima é um critério que avalia o comportamento dos termos an da série
para valores grandes de n através do comportamento da função f (x) para valores grandes de
∞
X 1
Exemplo 3.6.2. Prove que a série harmônica é divergente usando o teste da integral.
n=1
n
P
Temos que a série acima é dada por números positivos an , onde an = f (n) e f (x) = 1/x
é função contı́nua e monótona decrescente. Como
ˆ ∞ x=t
!
f (x) dx = lim ln x = lim (ln t − ln 1) = +∞,
1 t→∞ t→∞
x=1
P
Temos que a série acima é dada por números positivos an , onde an = f (n) e f (x) =
1/(2x+1)3 é função contı́nua e monótona decrescente. Fazendo a substituição u = 2x+1 =⇒
du = 2dx obtemos
ˆ ˆ
1 du 1 1
f (x) dx = 3
= − u−2 + C = − + C.
u 2 4 4(2x + 1)2
Logo,
ˆ ∞ x=t
!
1 1 1 1
f (x) dx = lim − = lim − + = .
1 t→∞ 4(2x + 1)2 x=1
t→∞ 4(2t + 1) 2 36 36
Segue que a série harmônica é convergente. Ressaltamos que 1/36 não é o valor da série, e
sim o valor da integral imprópria; esses valores não necessariamente coincidem. . . . . . . . . .
∞
X 1
Teorema 3.6.4. A série é convergente para p > 1 e divergente para p ≤ 1.
n=1
np
∞ ∞
X 1 X ln n
(i) (ii)
n=1
1 + n2 n=1
n
O teorema abaixo faz uso de uma ideia semelhante àquela apresentada no teste da inte-
gral, onde concluı́mos que uma série de números positivos era convergente pois era limitada
10
P∞ 1
A série n=1 np é conhecida como a função zeta de Riemann ζ(s) avaliada em s = p. Sua relação com
números primos é de grande interesse para os matemáticos.
157
P∞ P∞
Teorema 3.7.1. Sejam n=1 an e n=1 bn séries de números reais positivos tais que an ≤ bn
para todo n ≥ 1. Então:
P∞ P∞
(i) se n=1 bn é convergente então n=1 an é convergente;
P∞ P∞
(ii) se n=1 an é divergente então n=1 bn é divergente.
Demonstração Demonstração : Provaremos o item (i) e deixamos o item (ii) como exercı́cio.
Suponha que ∞
P
n=1 bn é uma série convergente com limite T e sejam
m
X m
X
Sm = an , Tm = bn .
n=1 n=1
{Sm }∞ ∞
m=1 é uma sequência monótona crescente e limitada, donde concluı́mos que {Sm }m=1
∞ ∞
X n X 4 + 3n
(i) 3
(ii)
n=1
2n + 1 n=1
2n
158
O termo geral do item (i) é, intuitivamente, semelhante a 1/2n2 para valores grandes de
n:
n n 1
≈ = ,
2n3 + 1 2n3 2n2
1
P
onde 2n2
define uma série convergente. Isto nos leva a crer que a série do item (i) é
convergente, mas resta ainda provar ! Faremos isso através to teste da comparação: temos
2n3 + 1 ≥ 2n3 , logo
n n 1
≤ 3 = 2,
2n3 +1 2n 2n
1
é convergente (Teorema 3.6.4). Segue do Teorema 3.7.1 que ∞ n
P P
onde 2n2 n=1 2n3 +1
é con-
vergente.
Já a série do item (ii) tem seu termo geral dado aproximadamente por
n
4 + 3n 3n 3
≈ =
2n 2n 2
P 3 n
para valores grandes de n, onde 2
é divergente (Teorema 3.4.3). Esta intuição nos leva
a crer que a série do item (ii) é divergente, algo que provaremos com o teste da comparação:
como n
4 + 3n 3n
3
≥ =
2n 2n
2
P 3 n P∞ n
e 2
é divergente, segue do Teorema 3.7.1 que n=1 2n3 +1
é divergente. . . . . . . . . . . . .
∞ ∞
X n3 X 2 + (−1)n
(i) (ii) √
n=1
n4 − 1 n=1
n n
P P
Teorema 3.7.4. Sejam an e bn séries de números reais positivos. Se
an
lim = c,
n→∞ bn
P P
para algum número real c > 0, então ambas as séries an e bn convergem ou divergem.
A intuição por trás do Teorema 3.7.4 é a seguinte. Seja c > 0 e suponha que
an
lim= c.
n→∞ bn
Segue que, para valores grandes de n, temos an /bn ≈ c, isto é, an ≈ cbn . Como convergência
P P
de uma série an é definida pelo comportamento de an para n grande e as séries bn e
P
cbn ambas convergem ou divergem, é de certa forma natural esperar um resultado como
o do Teorema 3.7.4.
∞ ∞
X 1 X 5
(i) (ii)
n=1
n3 − 2n n=1
3n + 1
1
P
A série do item (i) se assemelha à série ,
pois para valores grandes de n temos que
n3
1 1
an = e bn = .
n3 − 2n n3
Como
an n3
lim= lim 3 =1
n→∞ bn n→∞ n − 2n
1
P
e n3
é convergente (Teorema 3.6.4), segue que a série do item (i) é convergente.
P P
Analogamente ao item (i), consideramos no item (ii) as séries an e bn com
5 5
an = e bn = ,
3n + 1 3n
160
53−n é convergente (Teorema 3.4.3), segue que a série do item (ii) é convergente. . . .
P
e
∞ ∞
X n2 X 3n − 2
(i) √ (ii)
n=1
n5 − n3 n=1
(n + 2)2
Nesta seção veremos o teste da razão e da raiz, que possuem a seguinte vantagem com relação
aos testes vistos na Seção 3.7: estes testes dependem exclusivamente dos termos da série em
mãos, não sendo necessário intuir que outra série utilizaremos.
P
Teorema 3.8.1 (Teste da Razão). Seja an uma série de termos positivos e considere
o limite
an+1
lim = ρ.
n→∞ an
P
(i) Se ρ < 1, então a série an converge.
P
(ii) Se ρ > 1 ou ρ = +∞, então a série an diverge.
(iii) Se ρ = 1, então o teste da razão é inconclusivo, isto é, nada podemos afirmar com este
teste.
.Obs: O teste da razão é inconclusivo quando ρ = 1 pois, se an = 1/np para n ≥ 1, temos
p
(n + 1)p
an+1 n+1
lim = lim p
= lim = 1p = 1.
n→∞ an n→∞ n n→∞ n
P an+1
Segue que séries an com limn→∞ an = 1 podem convergir (caso p > 1 acima) ou divergir
(caso p ≤ 1 acima). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
161
Segue que, para valores grandes de n, temos an+1 /an ≈ ρ, isto é, an+1 ≈ ρ · an . Estendo este
argumento para valores maiores ainda de n temos:
an+1 ≈ ρ · an ,
an+2 ≈ ρ · an+1 ≈ ρ2 an ,
an+3 ≈ ρ · an+2 ≈ ρ3 an ,
..
.
an+k ≈ ρ · an+k−1 ≈ ρk an .
Estas aproximações sugerem que a sequência {an }∞
n=1 se comporta como uma progressão
geométrica de razão ρ para valores grandes de n. É portanto natural que esperar que a série
convirja para ρ < 1 e divirja para ρ > 1; no caso ρ = 1 o teste falha e nada podemos afirmar.
∞ ∞
X 2n X nn
(i) (ii)
n=1
3n n=1
n!
Se an = 2n/3n , então
an+1 2(n + 1) 3n 1n+1 1
lim = lim n+1
= lim = .
n→∞ an n→∞ 3 2n n→∞ 3 n 3
an+1 1
Como limn→∞ an
= 3
< 1, segue do Teorema 3.8.1 que a série do item (i) é convergente.
nn
Procedemos de maneira análoga no item (ii). Seja an = n!
. Então,
an+1 (n + 1)n+1 n!
lim = lim .
n→∞ an n→∞ (n + 1)! nn
O limite acima à direta é conhecido e igual ao número de Euler e = 2,7 · · · > 1. Segue do
Teorema 3.8.1 que a série é divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
∞ ∞
X 4n + 5 X (2n)!
(i) (ii)
n=1
5n n=1
n!n!
√
A seguir apresentamos o teste da raiz, onde consideramos o limite de n an quando n → ∞
P
no caso de uma série an de números positivos. Se este limite é igual ρ, onde ρ é um
√
número real ou +∞, podemos esperar que para n grande tenhamos n an ≈ ρ, que poderia
ser reescrito como an ≈ ρn . Isto sugere que para valores grandes de n os termos da série
P
an se comportam como os de uma série geométrica de razão ρ; esta é a ideia por trás da
demonstração do teorema abaixo.
P
Teorema 3.8.4 (Teste da Raiz). Seja an uma série de termos positivos e considere o
limite
√
lim n
an = lim (an )1/n = ρ.
n→∞ n→∞
P
(i) Se ρ < 1, então a série an converge.
P
(ii) Se ρ > 1 ou ρ = +∞, então a série an diverge.
(iii) Se ρ = 1, então o teste da raiz é inconclusivo, isto é, nada podemos afirmar com este
teste.
Ao aplicar o Teste da Raiz é por vezes necessário fazer uso do seguinte resultado: a
√
sequência {an }∞
n=1 definida por an =
n
n, n ≥ 1, é convergente e possui limite 1. De fato,
temos
1/n 1/n
1
an = n = exp log n = exp log n .
n
163
1
Consideramos então o limite da função real f (x) = exp x
log x . Note que, pela Regra de
L’Hôpital,
log x 1/x
lim = lim = 0.
x→+∞ x x→+∞ 1
.Obs: Vemos que o teste da raiz é inconclusivo quando ρ = 1 de maneira análoga àquela do
teste da razão: se an = 1/np para n ≥ 1, temos
√ 1 1
n
an = lim √
lim lim √ .
n→∞ n→∞ n
np n→∞ ( n)p
n
√
Segue da Equação (3.7) que limn→∞ n an = 1. Conforme visto anteriormente, dependendo
P
do valor de p temos que a série an é convergente ou divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
∞ n ∞
X n + 10 X 3n
(i) (ii)
n=1
5n − 2 n=1
n2
n+10
Seja an = 5n−2
. Então
√ n + 10 1
limn
an = lim = .
n→∞ n→∞ 5n − 2 5
√
Como limn→∞ n an < 1, segue do Teorema 3.8.4 que a série do item (i) é convergente.
3n
Considere agora an = n2
. Temos que
√ 3 3
an = lim √
lim n
= lim √ ,
n2 n→∞ ( n)2
n n
n→∞ n→∞
√ √
onde, pela Equação (3.7), temos limn→∞ ( n n)2 = 12 = 1. Segue que limn→∞ n an = 3 > 1,
portanto, pelo Teorema 3.8.4, a série do item (ii) é divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
164
(i) os termos an de ı́ndice ı́mpar são positivos e os de ı́ndice par são negativos;
(ii) os termos an de ı́ndice ı́mpar são negativos e os de ı́ndice par são positivos.
onde {an }∞
n=1 define uma sequência monótona decrescente de números positivos. Se
limn→∞ an = 0 então a série é convergente.
P∞ n+1 a
Demonstração Demonstração : Considere a série alternada n=1 (−1) n e a sequência
{sn }∞
n=1 de somas parciais:
sn = a1 − a2 + a3 − a4 + · · · + (−1)n+1 an .
Como {an }∞
n=1 é uma sequência decrescente, temos a1 ≥ a2 , isto é, a1 − a2 ≥ 0. A sequência
s2 = a1 − a2
s4 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) = s2 + (a3 − a4 ), onde a3 − a4 ≥ 0,
s6 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) + (a5 − a6 ) = s4 + (a5 − a6 ), onde a5 − a6 ≥ 0,
..
.
Note que, como (a2k−1 − a2k ) ≥ 0 para todo k, vemos pelas equações acima que a sequência
{s2k }∞
k=1 = s2 , s4 , s6 , s8 , . . . é limitada inferiormente por 0. Além disso, temos
s2 = a1 − a2 ≤ a1
s4 = a1 − (a2 − a3 ) − a4 ≤ a1 + 0 − a4 ≤ a1 ,
s6 = a1 − (a2 − a3 ) − (a4 − a5 ) − a6 ≤ a1 + 0 + 0 − a6 ≤ a1 ,
..
.
{s2k }∞
k=1 é convergente; seja S o seu limite.
166
{s2k }∞
k=1 converge para L, existe N1 ≥ 1 tal que |s2k − L| < ε para todo 2k ≥ N1 . Também
A aplicação do Teorema 3.9.1 é muito simples: basta verificar que o valor absoluto dos
termos da série em questão formam uma sequência decrescente que converge para zero.
Exemplo 3.9.2. Verifique em cada um dos casos abaixo se a série converge (provando que
a sérire satisfaz as hipóteses do Teorema 3.9.1) ou divergente.
∞ ∞
X (−1)n X 5n + 1
(i) (ii) (−1)n+1
n=1
n n=1
2n + 3
(−1)n 1
Note que n
= (−1)n an , onde an = n
é uma sequência monótona decrescente de
números reais positivos. Como
lim an = 0,
n→∞
(−1)n+1 an com
P
A série do item (ii) pode ser escrita como
5n + 1 5
an = →
2n + 3 2
167
quando n → ∞. Isto prova que o termo geral (−1)n+1 an da série não converge para zero,
logo, pelo Teorema 3.5.1, a série do item (ii) é divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 3.9.3. Verifique se a série abaixo converge (provando que a sérire satisfaz as
hipóteses do Teorema 3.9.1) ou divergente.
∞
X (−1)n n2
.
n=1
n3 + 1
P∞
Definição 3.9.4. Dizemos que uma série n=1 an converge absolutamente se a série
P∞
n=1 |an | converge. Caso contrário dizemos que a série diverge absolutamente.
P∞
Definição 3.9.5. Dizemos que uma série n=1 an converge condicionalmente se ela converge
mas a série ∞
P
n=1 |an | diverge.
P∞ (−1)n
Exemplo 3.9.6. A série é convergente, mas a série do valor absoluto dos seus
n=1 n
(−1)n
termos é divergente. Segue que a série ∞
P
n=1 n
é condicionalmente convergente. . . . . .
(−1)n
Exemplo 3.9.7. A série ∞
P
n=1 2n é convergente. Sua série de valores absolutos também
P∞ (−1)n
converge, logo n=1 n é absolutamente convergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
168
P
Teorema 3.9.8. Se uma série an é absolutamente convergente então ela é também conver-
P P
gente. Em outras palavras, se a série |an | converge então a série an também converge.
P
Demonstração Demonstração : Seja an uma série absolutamente convergente. Note que
X X
an = (an + |an |) − |an | .
P P
Seja bn = an + |an | e cn = |an |, de modo que an = (bn − cn ). Temos que
2|an |, se an ≥ 0,
bn =
0, se a < 0.
n
P P P
Segue que 0 ≤ bn ≤ 2|an | para todo n ≥ 1, logo 0 ≤ bn ≤ 2|an |. Segue do
P P
teste da comparação que bn é convergente. Como cn também o é, concluı́mos que
P P
an = (bn − cn ) é convergente, como gostarı́amos.
∞
X sen n
Exercı́cio 3.9.9. Prove que a série é absolutamente convergente.
n=1
2n3
∞
X (−1)n n2
Exercı́cio 3.9.10. Provamos no Exercı́cio 3.9.3 que a série é convergente. De-
n=1
n3 + 1
termine se esta série é absoluta ou condicionalmente convergente.
Abaixo temos uma nova versão do teste da razão: o Teorema 3.8.1 pode ser aplicado
P
apenas a série de números positivos; mas se a série an não possui nenhum termo nulo,
P
podemos aplicar o Teorema 3.8.1 à série |an |. De um modo geral não podemos afirmar que
P P
uma série an diverge a partir da divergência de |an |. Entretanto, o teorema a seguir
P
fornece uma maneira de concluir a convergência ou a divergência de an a partir do estudo
P
de |an |.
169
P
Teorema 3.9.11 (Teste da Razão para Convergência Absoluta). Seja an uma série
de números reais não-nulos. Considere o limite
an+1
lim = ρ.
n→∞ an
P
(i) Se ρ < 1, então a série an converge absolutamente e, portanto, converge.
P
(ii) Se ρ > 1 ou ρ = +∞, então a série an diverge.
(iii) Se ρ = 1, então este teste é inconclusivo, isto é, nada podemos afirmar com este teste.
∞ ∞
X (−1)n+1 X n!
(i) (ii) (−1)3n+1
n=1
n! n=1
2n
CAPÍTULO 4
SÉRIES DE POTÊNCIAS
É de grande importância para um engenheiro compreender que é possı́vel definir uma função
real f (x) onde, para cada x no domı́nio de f , a imagem f (x) é definida através de uma série.
O modelo matemático para fenômenos fı́sicos e quı́micos é frequentemente dado por uma
função definida através de uma série. Isto ocorre por exemplo nos casos da transferência
de calor em uma barra sólida e da propagação de ondas acústicas, ondas de água e ondas
eletromagnéticas1 . Funções definidas através de somas infinitas também desempenham um
papel importante no Cálculo Numérico, uma vez que fornecem um método computacional
eficaz para a aproximação do valor que funções não triviais assumem.
1
Ver Seções 10.5 e 10.7 de W. Boyce e R. DiPrima, Equações diferenciais elementares e problemas de
valores de contorno.
170
171
Veremos neste seção como é possı́vel aproximar os valores de uma função f , que pode ser
bastante complicada, pelos valores que um polinômio assume. Este tipo de aproximação é
interessante pois a função f pode ser bastante complicada, enquanto polinômios configuram
uma das mais simples classes de funções reais. Considere o exemplo o do cálculo da área
da região delimitada pelo eixo x e o gráfico da função f (x) = exp(x2 ), de x = 0 a x = 1
(Figura 4.1). O procedimento usual não pode ser seguido neste caso, pois nenhum método
de integração usual será capaz de obter uma primitiva para a função f (x) = exp(x2 ). A
proposta desta seção é a seguinte: considerar uma polinômio y = p(x) que possui um gráfico
muito semelhante à de y = f (x); é razoável portanto esperar que as regiões delimitadas
respectivamente por y = f (x) e y = p(x) tenham aproximadamente a mesma área, com a
vantagem de que a integral definida de um polinômio é facilmente calculada. Obterı́amos
assim uma aproximação para o valor da área da Figura 4.1. Veja a Figura 4.2.
Figura 4.1: Região delimitada por y = 0, Figura 4.2: Aproximação da área da região da
y = exp(x2 ), x = 0 e x = 1. Figura 4.1.
Vejamos agora como obter um polinômio p(x) que fornece uma boa aproximação para
os valores de f (x) em torno do ponto x = 0. Seja f (x) uma função diferenciável no ponto
x = 0. Temos
f (x) − f (0)
f 0 (0) = lim .
x→0 x−0
172
f (x) − f (0)
f 0 (0) ≈ , isto é, f (x) ≈ f (0) + f 0 (0)x.
x
Em outras palavras, para um valor de x próximo de x = 0, podemos aproximar o valor de
f (x) pelo valor do polinômio linear p1 (x) = f (0) + f 0 (0)x. Considere o exemplo da função
f (x) = ex . Temos f (0) = f 0 (0) = e0 = 1, portanto
p1 (x) = 1 + 1 · x = x + 1.
Veja a Figura 4.3. Note que esta aproximação é muito boa para valores próximos de x = 0,
mas a curvatura do gráfico da função f afasta o seu gráfico da reta que representa p1 (x). Isto
pode nos levar a crer que este fenômeno é causado pela concavidade do gráfico da função f ,
isto é, pelo valor de f 00 (0).
p2 (x) = c0 + c1 x + c2 x2
tal que
p2 (0) = f (0), p02 (0) = f 0 (0) e p002 (0) = f 00 (0). (4.1)
173
c0 = 1, c1 = 1 e 2c2 = 1.
De fato, o polinômio quadrático p2 (x) fornece uma aproximação mais precisa para os valores
de f (x).
x2
Figura 4.4: Função f (x) = ex aproximada por p2 (x) = 2
+ x + 1 em torno de x = 1.
f (0) = pn (0) = c0 ,
f 0 (0) = p0n (0) = c1 ,
f 00 (0) = p00n (0) = 2c2 ,
(3)
f (3) (0) = pn (0) = 3 · 2 · 1c3 ,
..
.
(n)
f (n) (0) = pn (0) = n(n − 1)(n − 2) · · · 2 · 1cn ,
e, portanto,
f 0 (0) f 00 (0) f (3) (0) f (n) (0)
c0 = f (0), c1 = , c2 = , c3 = ,..., cn = . (4.5)
1! 2! 3! n!
O polinômio pn (x) de grau n com os coeficientes dados pela Equação (4.5) é dito o n-ésimo
polinômio de MacLaurin2 para f . De fato, à medida que o valor de n cresce, eles representam
uma melhor aproximação para a função f (x) = ex em torno de x = 0; veja o Exercı́cio 4.1.3.
2
Colin MacLaurin foi um matemático escocês, aluno de Isaac Newton, que publicou seus trabalhos no
século XVIII.
175
Definição 4.1.1. Seja f (x) uma função diferenciável n vezes em x = 0. O n-ésimo polinômio
de MacLaurin para f é definido como
isto é,
n
X f (k) (0)
pn (x) = xk .
k=0
k!
Exercı́cio 4.1.3. Use o Exemplo 4.1.2 para determinar, utilizando uma calculadora, os
valores de f (x), p3 (x) e p9 (x) para x = 0,5.
1
Exemplo 4.1.4. Determine o n-ésimo polinômio de MacLaurin da função f (x) = .
1−x
1
Temos que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = é dado por
1−x
n
X f (k) (0)
pn (x) = xk ,
k=0
k!
176
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Veja as Figuras 4.5 e 4.6. Frequentemente é o caso que, quanto maior o grau do polinômio
de MacLaurin, maior é o intervalo em torno de x = 0 cuja aproximação tem uma determinada
previsão.
1
Temos que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = é dado por
1−x
n
X f (k) (0)
pn (x) = xk ,
k=0
k!
onde
f (x) = cos x =⇒ f (0) = 1,
f 0 (x) = − sen x =⇒ f 0 (0) = 0,
f 00 (x) = − cos x =⇒ f 00 (0) = −1,
f (3) (x) = sen x =⇒ f (3) (0) = 0,
f (4) (x) = cos x =⇒ f (4) (0) = 1,
f (5) (x) = − sen x =⇒ f (5) (0) = 0,
..
.
onde este ciclo observado em f (x), f 0 (x), · · · , f (3) (x) se repetirá a partir de f (4) (x). Segue
que as derivadas de ordem ı́mpar de f (x) = cos x se anulam em x = 0.
Note que todo número par se escreve como 2k para algum k ≥ 0, enquanto os números
ı́mpares se escrevem como 2k + 1 para algum k ≥ 0. O polinômio pn (x) pode ser então
escrito como a soma de dois polinômios, onde um contém apenas potências pares de x e
outro apenas as potências ı́mpares de x, conforme a seguir:
n/2 n/2−1
X f (2k) (0) 2k
X f (2k+1) (0)
pn (x) = x + x2k+1 .
k=0
(2k)! k=0
(2k + 1)!
Todas as derivadas de f (x) de ı́ndice ı́mpar se anulam, isto é,
Segue que
n/2
X f (2k) (0)
pn (x) = x2k ,
k=0
(2k)!
onde ainda resta determinar que padrão podemos observar nas derivadas de ordem par
f (2k) (0). Vemos acima que estas derivadas alternam os valores ±1, donde obtemos a expressão
Então,
n/2
X (−1)k
pn (x) = x2k .
k=0
(2k)!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 4.1.6. Determine o n-ésimo polinômio de MacLaurin da função f (x) = ln(1 − x).
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
x→x0 x − x0
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) ≈ , isto é, f (x) − f (x0 ) ≈ f 0 (x0 )(x − x0 ).
x − x0
Segue que, para um valor de x próximo de x0 , podemos aproximar o valor de f (x) pelo valor
do polinômio linear p1 (x) = f (x0 )+f 0 (x0 )(x−x0 ). Note que p1 (x0 ) = f (x0 ) e p01 (x0 ) = f 0(x0 ).
Definição 4.1.8. Seja f (x) uma função diferenciável n vezes em x = x0 . O n-ésimo po-
linômio de Taylor para f em torno de x = x0 é definido como
isto é,
n
X f (k) (x0 )
pn (x) = (x − x0 )k .
k=0
k!
onde
f (x) = ln x =⇒ f (1) = 0,
f 0 (x) = x−1 =⇒ f 0 (1) = 1,
f 00 (x) = (−1)x−2 =⇒ f 00 (1) = −1,
f (3) (x) = 2 · 1x−3 =⇒ f (3) (1) = 2 · 1,
f (4) (x) = −3 · 2 · 1x−4 =⇒ f (4) (1) = −3 · 2 · 1,
f (5) (x) = 4 · 3 · 2 · 1x−5 =⇒ f (5) (1) = 4 · 3 · 2 · 1,
..
.
logo, f (k) (1) = (−1)k+1 (k − 1)! para todo k ≥ 1. Segue que
n
X (−1)k+1 (k − 1)! X (−1)k+1
pn (x) = (x − 1)k = (x − 1)k ,
k=0
k! k=1
k
isto é,
1 2 1 3 (−1)n+1
pn (x) = (x − 1) − (x − 1) + (x − 1) + · · · + (x − 1)n .
2 3 n
181
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1
Exercı́cio 4.1.10. Determine n-ésimo polinômio de Taylor de f (x) = em torno de x = 1.
x
A função Rn (x) acima é dita o resto ou erro do n-ésimo polinômio de Taylor. O teorema a
seguir fornece um limite superior para o erro da aproximação f (x) ≈ pn (x).
Teorema 4.1.11. Seja f (x) uma função diferenciável n+1 vezes em um intervalo I contendo
x = x0 e suponha que |f (n+1) (x)| ≤ M para todo x ∈ I. Então
M
|Rn (x)| ≤ |x − x0 |n+1 .
(n + 1)!
Exemplo 4.1.12. Use o Teorema 4.1.11 para determinar um valor para n tal que a apro-
ximação de f (x) = ex no intervalo [−1,1] por seu n-ésimo polinômio de MacLaurin tenha
erro menor que 10−5 .
Temos que f (x) = ex é infinitamente diferenciável em todo ponto da reta. Mais ainda,
sabemos do Exemplo 4.1.2 que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = ex é dado por
n
X xk
pn (x) = .
k=0
k!
Temos pelo Teorema 4.1.11 que o erro Rn (x) da aproximação f (x) ≈ pn (x) satisfaz
M
|Rn (x)| ≤ |x − x0 |n+1 ,
(n + 1)!
182
Como x 7−→ ex é função crescente, o maior valor que ela assume em I = [−1,1] é e1 = e.
Segue que M = e satisfaz as condições do Teorema 4.1.11 e portanto
e
|Rn (x)| ≤ |x − 0|n+1 ,
(n + 1)!
e e e
|Rn (x)| ≤ |x|n+1 ≤ 1n+1 = .
(n + 1)! (n + 1)! (n + 1)!
Vemos na estimativa acima que quanto maior o grau n do polinômio de MacLaurin, menor
é o erro cometido na aproximação f (x) ≈ pn (x). A estimativa acima fornece os seguintes
valores para os primeiros valores de n:
Segue que para n = 8 já temos a garantir de que o erro é menor que 10−5 . Note porém o
mesmo vale para valores maiores de n, pois fornecem erros ainda menores. . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 4.1.13. Use o Teorema 4.1.11 para estimar o erro cometido pela aproximação de
f (x) = cos x pelo seu segundo polinômio de MacLaurin no intervalo [0,1].
183
Na Seção 4.1 foi apresentada a ideia de que uma função pode ser aproximada em torno de
um ponto x = x0 pelo n-ésimo polinômio de Taylor em torno deste ponto. Por exemplo,
vimos no Exercı́cio 4.1.3 que podemos aproximar a função f (x) = ex em torno de x0 = 0 por
n
x
X xk
e ≈ pn (x) = .
k=0
k!
Mais ainda, quanto maior for o valor de n, mais precisa é esta aproximação: veja as Figuras
4.3 a 4.6 e observe que a estimativa do erro no Teorema 4.1.11 fica cada vez menor para um
valor de x fixo como x = 0,1. Parece então natural considerar o limite destes polinômios
quando n se aproxima de infinito, isto é, a soma infinita
∞
X xk
.
k=0
k!
A expressão acima é uma série, no entanto difere dos objetos apresentados na Seção 3.4 por
conter uma variável. Note que para cada x = x0 fixo, obtemos uma série de números como
aquelas vistas na Seção 3.4, que pode ser convergente ou não. Por exemplo, para x = 1
temos
∞ ∞
X xk X 1
com x = 1 −
7 → .
k=0
k! k=0
k!
A série à direita é dita uma série de MacLaurin, caso particular de uma série de Taylor. Este
é o objeto de estudo do restante deste capı́tulo3 .
logo, f (k) (0) = k! para todo k ≥ 0. Segue que a série de MacLaurin de f (x) é dada por
∞ ∞ ∞
X f (k) (0) k
X k! k
X
x = x = xk .
k=0
k! k=0
k! k=0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Os cálculos deste exemplos são semelhantes àqueles do Exemplo 4.1.5.Temos que a série
de MacLaurin de f (x) é dada por
∞
X f (k) (0)
xk ,
k=0
k!
onde
f (x) = sen x =⇒ f (0) = 0,
f 0 (x) = cos x =⇒ f 0 (0) = 1,
f 00 (x) = − sen x =⇒ f 00 (0) = 0,
f (3) (x) = − cos x =⇒ f (3) (0) = −1,
f (4) (x) = sen x =⇒ f (4) (0) = 0,
f (5) (x) = cos xx =⇒ f (5) (0) = 1,
..
.
onde este ciclo observado em f (x), f 0 (x), · · · , f (3) (x) se repetirá a partir de f (4) (x). Con-
cluı́mos que as derivadas de ordem par de f (x) se anulam em x = 0, isto é, f (2k) (0) = 0 para
186
onde na última igualdade foi usado o fato que f (2k) (0) = 0 para todo k ≥ 0. As derivadas de
ordem ı́mpar também apresentam a alternância entre ±1, de modo que a série de MacLaurin
de f (x) = sen x pode ser escrita como
∞ ∞
X f (k) (0) k
X (−1)k 2k+1
x = x ,
k=0
k! k=0
(2k + 1)!
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Exercı́cio 4.2.6. Determine a série de Taylor das funções abaixo nos pontos indicados.
1
(ii) f (x) = em torno de x = 2.
x
Vimos nas Seções 3.6 a 3.9 que é possı́vel determinar que uma série é convergente sem
conhecermos o valor de uma sua soma ou uma expressão para tal. Da mesma forma, é
possı́vel determinar que uma série da forma
∞
X
ck x k
k=0
é convergente para certos valores de x sem conhecermos uma expressão para a soma li-
mite. Convém introduzirmos a seguinte definição, para trabalharmos com séries de maneira
independente.
187
onde c0 , c1 , . . . são números reais e x é uma variável, é dita uma série de potências.
Note que a série acima não é necessariamente obtida a priori através de uma função: é
possı́vel definir uma função através de uma série de potências, como no exemplo abaixo.
Exemplo 4.2.8. Sabemos que a série definida por uma progressão geométrica de razão
|r| < 1 converge. Por exemplo, temos
∞
X 1
rn = 1 + r + r2 + · · · + rn + · · · = , para |r| < 1. (4.9)
n=0
1−r
A partir deste fato podemos definir uma função f (x) através de uma série: para cada x ∈ R
satisfazendo |x| < 1, definimos o valor de f (x) pelo valor dado pela Equação (4.9), ou seja,
∞
X
f (x) = xn .
n=0
O domı́nio da função f é dado por Dom f = (−1,1). Poderı́amos ter adotado a definição
mais simples f (x) = (1 − x)−1 , porém o objetivo deste exemplo é ilustrar a possibilidade de
definir uma função através de uma série. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O teorema abaixo lida com questões como a pergunta (i) apresentada no inı́cio desta
ck xk , obtemos uma série numérica
P
seção: ao fixar um valor para x na série de potências
que pode convergir ou não. No teorema abaixo é discutido para que valores uma dada série
de potências converge; o conjunto destes valores é dito seu conjunto de convergência. Note
que toda série de potência desta forma é convergente para x = 0, pois
∞
X
ck 0k = c0 + 0 + 0 · · · = c0 .
k=0
188
k
P
Teorema 4.2.9. Para qualquer série de potências k ck x , exatamente uma das afirmações
abaixo é verdadeira.
(i) A série é convergente apenas para x = 0. Dizemos neste caso que o raio de convergência
é 0.
(ii) A série converge absolutamente para todo número real x. Dizemos neste caso que o
raio de convergência é infinito.
(iii) Existe um número real R > 0 tal que a série converge absolutamente para x ∈ (−R, R)
e diverge para todo x ∈ (−∞, −R) ∪ (R, +∞). Dizemos neste caso que o raio de
convergência é R. Nos pontos x = R e x = −R a série pode convergir absolutamente,
convergir condicionalmente ou divergir, dependendo de cada série particular.
Considere um valor qualquer para x, como x = 1/2. Este valor dá origem á série de
números reais ∞ −k
P
k=0 ak , onde ak = 2 . O teste da razão absoluta (Teorema 3.9.11) fornece
o limite
ak+1 2−(k+1) 1
lim = lim −k
= lim 2−1 = .
k→∞ ak k→∞ 2 k→∞ 2
P∞ k
Como este valor é menor que 1, a série de potências k=0 x converge para x = 1/2.
ak+1 xk+1
lim = lim = lim |x|,
k→∞ ak k→∞ xk k→∞
onde é importante destacar que o limite acima está escrito na variável k, e não na variável
x. Quando k se aproxima de infinito, x permanece constante, logo
ak+1
lim = |x|. (4.10)
k→∞ ak
Note que esta expressão coincide com aquela obtido no inı́cio deste exemplo para x = 1/2.
O teste da razão absoluta afirma que
ak+1
(i) a série converge absolutamente quando lim < 1, e
k→∞ ak
ak+1
(ii) diverge quando lim > 1.
k→∞ ak
Segue da Equação (4.10) que a série de potências converge absolutamente (e portanto con-
verge) para |x| < 1 e diverge para |x| > 1. O raio de convergência é portanto R = 1.
são divergentes pelo Teorema 3.5.1, segue que o intervalo de convergência da série de potências
é (−1,1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Segue do Teorema 3.9.11 que a série de potências diverge para todo x 6= 0, isto é, o raio de
convergência é zero e o intervalo I de convergência é dado por I = {0}. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Definição 4.2.13. Seja x0 um número real qualquer e x uma variável. Uma série da forma
∞
X
ck (x − x0 )k ,
k=0
Abaixo temos o resultado análogo sobre o raio de convergência para séries de potências
em x − x0 .
(i) A série é convergente apenas para x = x0 . Dizemos neste caso que o raio de con-
vergência é 0.
(ii) A série converge absolutamente para todo número real x. Dizemos neste caso que o
raio de convergência é infinito.
(iii) Existe um número real R > 0 tal que a série converge absolutamente para x ∈ (x0 −
R, x0 + R) e diverge para todo x ∈ (−∞, x0 − R) ∪ (x0 + R, +∞). Dizemos neste caso
que o raio de convergência é R. Nos pontos x = x0 + R e x = x0 − R a série pode
convergir absolutamente, convergir condicionalmente ou divergir, dependendo de cada
série particular.
Procedemos de maneira análoga àquela vista no Exemplo 4.2.10. Temos pelo teste da
razão absoluta para ak = k(x + 2)k /3k+1 , k ≥ 0, que
ak+1 (k + 1)(x + 2)k+1 3k+1 k+1x+2 k + 1 |x + 2|
lim = lim = lim = lim .
k→∞ ak k→∞ 3k+2 k(x + 2)k k→∞ k 3 k→∞ k 3
Lembramos novamente que o limite acima é feito na variável k, de modo que x representa
apenas uma constante. Como
k+1
lim = 1,
k→∞ k
temos que
ak+1 |x + 2| k+1 |x + 2|
lim = lim = .
k→∞ ak 3 k→∞ k 3
192
O teste da razão absoluta afirma que a série converge absolutamente quando o limite é menor
que 1 e diverge quando o limite acima é maior que 1. Devemos então ter
|x + 2|
< 1 ⇐⇒ |x + 2| < 3
3
para que a série seja convergente. Note que a série de potências dada é escrita como potências
de x − x0 , onde x0 = −2. Segue que o intervalo de convergência tem raio 3 e centro em
x0 = −2; os extremos deste intervalo são dados por x = −5 e x = 1.
Devemos agora analisar o comportamento da série nos extremos deste intervalo, isto é,
a convergência da série de potências nos pontos x = 1 e x = −5. Temos respectivamente as
séries
∞ ∞ ∞ ∞
X k3k X k X k(−3)k X k
k+1
= e = (−1)k ,
k=0
3 k=0
3 k=0
3k+1 k=0
3
ambas divergentes pelo Teorema 3.5.1. Segue que o intervalo de convergência da série de
potências dada é (−5,1). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Se f (x) possui série de Taylor convergente para um certo número x = x0 , é natural, a partir
da discussão no inı́cio desta seção, esperar que o valor do limite da série seja o próprio valor
de função f :
∞ n
X (x − x0 )k X (x − x0 )k
f (k) (x0 ) = f (x), isto é, lim f (k) (x0 ) = f (x). (4.11)
k=0
k! n→∞
k=0
k!
No entanto, é possı́vel que a série de Taylor de uma função convirja para um valor diferente.
Este é o caso da função
exp(−1/x2 ), para x 6= 0,
f (x) =
0, para x = 0.
Logo a série de MacLaurin de f é convergente para todo x ∈ R e fornece o valor 0 para todo
x ∈ R, o que não coincide com o valor que f assume.
Este caso é considerado patológico, mas devemos de qualquer maneira considerar esta
pergunta:
Teorema 4.3.1. Seja f (x) uma função infinitamente diferenciável em x = x0 e Rn (x) como
na Equação (4.8). A igualdade
∞
X (x − x0 )k
f (k) (x0 ) = f (x)
k=0
k!
Exemplo 4.3.2. Mostre que a série de MacLaurin para f (x) = sen(x) converge para f (x)
para todo número real x.
Veja o Exemplo 4.2.4. É possı́vel mostrar que esta série converge para todo x ∈ R. De fato,
seja ak = (−1)k x2k+1 /(2k + 1)!, k ≥ 0. Então,
2k+3
ak+1 k+1 x (2k + 1)! x2
lim = lim (−1) = lim ,
k→∞ ak k→∞ (2k + 3)! (−1)k x2k+1 k→∞ (2k + 3)(2k + 2)
onde usamos o fato que (2k + 3)! = (2k + 3)(2k + 2)(2k + 1)!. Então para qualquer x ∈ R
temos
ak+1 |x|2
lim = lim = 0,
k→∞ ak k→∞ (2k + 3)(2k + 2)
Seja x ∈ R qualquer. Verificamos agora que a série de potências converge de fato para
sen x. Temos do Teorema 4.1.11 que
M
|Rn (x)| ≤ |x − 0|n+1 ,
(n + 1)!
onde M ∈ R deve satisfazer a desigualdade |f (n+1) (x) ≤ M . As derivadas de f (x) = sen x
resultam em ± cos x ou ± sen x, logo M = 1 satisfaz essa desigualdade. Segue que
|x|n+1
|Rn (x)| ≤ . (4.12)
(n + 1)!
195
Segue da Equação (4.12) que limn→∞ Rn (x) = 0 e portanto, pelo Teorema 4.3.1, a série de
MacLaurin de f (x) = sen x converge de fato para f (x). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O Teorema 4.1.11 nos permite determinar se a Equação (4.11) é verdadeira, isto é, se a
série de Taylor de uma função f converge de fato para o valor da função.
Exercı́cio 4.3.4. Mostre que a série de MacLaurin para f (x) = ex converge para f (x) para
todo número real x.
Note que a equação f (1) = e no Exercı́cio 4.3.4 acima fornece uma representação inte-
ressante para o número e = 2.7183 . . . :
∞
X 1 1 1
e= = 1 + + + ··· .
k=0
k! 2! 3!
196
k
P
Teorema 4.3.5. Se uma série de potências k ck (x − x0 ) tem raio de convergência R > 0,
então a função definida por
∞
X
2 3
f (x) = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 ) + c3 (x − x0 ) + · · · = ck (x − x0 )k
k=0
Exercı́cio 4.3.6. Use as séries de MacLaurin das funções sen x e cos x para provar que
d
sen x = cos x.
dx
Exercı́cio 4.3.8. Calcule a integral termo a termo da série de MacLaurin da função 1/(1+x2 )
obtida no Exercı́cio 4.3.7 para encontrar a série de MacLaurin da função arctg x.
CAPÍTULO 5
NÚMEROS COMPLEXOS
197
198
Você pode estar pensando consigo mesmo que a Definição 5.1.1 é bastante artificial:
simplesmente inventamos um número para representar a solução de uma equação que era
anteriormente insolúvel. De fato esta definição é artificial, mas a beleza da teoria de números
complexos reside no fato que estes objetos, introduzidos de maneira aparentemente artificial,
são peças centrais na resolução de diversos problemas da Fı́sica e da Engenharia.
Teorema 5.1.3. As seguintes propriedades são válidas para as operações de números com-
plexos.
(i) Comutatividade: z1 + z2 = z2 + z1 e z1 z2 = z2 z1 .
Exercı́cio 5.1.4. Calcule a soma, a diferença e o produto dos números complexos abaixo.
(i) z1 = 1 + 3i e z2 = 1 + i.
(ii) z1 = 2 − 5i e z2 = −3 + i.
(iii) z1 = −1 − 5i e z2 = i.
(i) z1 + z2 = z1 + z2 ;
(ii) z1 − z2 = z1 − z2 ;
(iii) z1 z2 = z1 z2 ;
(v) z1 + z1 = 2x1 ;
(vi) z1 − z1 = i2y1 ;
zz = x2 − i2 y 2 = x2 − (−1)y 2 = x2 + y 2 .
Ao calcular uma divisão de números complexos z1 /z2 devemos escrever este número de
acordo com a representação usual de números complexos: z1 /z2 = a + ib. No exemplo abaixo
vemos como isto é possı́vel através do conceito de número complexo conjugado.
Temos
1 1 1 1 − 2i 1 − 2i 1 − 2i 1 2
= = · = 2 = = − i .
z1 1 + 2i 1 + 2i 1 − 2i 1 + 22 5 5 5
A divisão z2 /z1 é calculada de maneira semelhante:
z2 −3 + 4i −3 + 4i 1 − 2i −3 + 6i + 4i − 8i2 5 10
= = · = 2 2
= + i = 1 + 2i.
z1 1 + 2i 1 + 2i 1 − 2i 1 +2 5 5
201
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Note que um número complexo z = x + iy é perfeitamente definido pelo par de números reais
(x,y) ∈ R2 . É portanto natural representar graficamente um número complexo como um
ponto do plano cartesiano1 . Um plano utilizado para a representação geométrica de números
complexos é dito um plano complexo ou plano z. O eixo horizontal do plano complexo é dito
o eixo real e o eixo vertical é dito o eixo imaginário. Veja a Figura 5.1.
.Obs: É importante destacar que na forma polar z = r(cos θ + i sen θ) temos que o número
complexo u = cos θ + i sen θ se encontra situado no cı́rculo unitário complexo; o produto pelo
número real r = |z| dilata ou comprime o número complexo u. Veja as Figuras 5.2 e 5.3. /
A forma polar pode ser utilizada para realizar cálculos com números complexos, como
vemos no teorema a seguir.
203
Demonstração: Provamos o item (i) e deixamos o item (ii) como exercı́cio. A multiplicação
direta da forma polar de z1 e z2 fornece
isto é,
z1 z2 = r1 r2 (cos θ1 cos θ2 − sen θ1 sen θ2 ) + i(cos θ1 sen θ2 + i sen θ1 cos θ2 ) .
204
A identidades cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b e sen(a + b) = sen a cos b + sen b cos a
concluem a demonstração.
Note que como uma consequência direta do item (i) do Teorema 5.2.4 temos:
Em particular, se |z| = r = 1,
Teorema 5.2.5. Seja z = r(cos θ + i sen θ). Então a equação wn = z possui n raı́zes para w
e estas soluções são dadas por
1/n θ + 2kπ θ + 2kπ
w=r cos + i sen , k = 0, 1, . . . , n − 1.
n n
Para igualdade acima ser verificada devemos ter a igualdade dos valores absolutos: ρn = r
para ρ ≥ 0, isto é, ρ = r1/n . O argumento dos números complexos na equação também
devem coincidir: devemos ter nφ = θ a menos de um múltiplo inteiro de 2π (volta inteiro no
cı́rculo trigonométrico). Segue que
θ + 2kπ
nφ = θ + 2kπ, isto é, φ= , k ≥ 0.
n
205
isto é, o valor k = n + m fornece um ângulo que coincide com aquele definido por k = m.
Isto conclui a demonstração do teorema.
Exercı́cio 5.2.6. Determine as três raı́zes cúbicas da unidade imaginária, isto é, as três
soluções da equação w3 = i.
Exercı́cio 5.2.7. Determine as quatro raı́zes quartas do número complexo z = 1 + i, isto é,
as quatro soluções da equação w4 = 1 + i.
Uma função f é uma regra que associa, a cada elemento x em um conjunto D, um único
elemento f (x) em um conjunto E. O conjunto D é dito o domı́nio de f . Quando D e E
são dados pelo conjunto C de números complexos, dizemos que f é uma função complexa.
Assim como escrevemos y = g(x) para uma função de uma variável real, podemos escrever
w = f (z) para representar uma função complexa z: para cada elemento z do domı́nio temos
uma imagem w associada. Como todo número complexo, w pode ser escrito como w = u+iv,
onde u,v ∈ R. Se z = x + iy, então
Em outras palavras, a parte real u(x,y) da imagem de f é uma função de duas variáveis
reais (x,y) 7−→ u = u(x,y). Analogamente, a parte imaginária v(x,y) da imagem de f é uma
função de duas variáveis reais (x,y) 7−→ v = v(x,y).
206
Escreva as partes real e imaginária de f como funções de x,y, onde z = x + iy, como na
Equação (5.5). Determine f (i) e f (1 − 2i).
z+1
f (z) = .
z2 + 4
f (z) − f (z0 )
f 0 (z0 ) = lim ,
z→z0 z − z0
se existe um número complexo L tal que para todo ε > 0 existe um inteiro N ≥ 1 tal que
|zn − L| < ε para todo n ≥ N . Escrevemos nesse caso
lim an = L ou an → L quando n → ∞.
n→∞
n
X
sn = zk = z1 + z2 + · · · zn ,
k=1
P∞
convergir. Se sn → L quando n → ∞ dizemos que k=1 zk = L.
lim xn = a e lim yn = b.
n→∞ n→∞
208
Definição 5.3.8. Definimos a função exponencial complexa como a função f (z) = ez que
associa, a cada z ∈ C, o limite da série
∞
z
X zk z1 z2 z3
e = =1+ + + + ··· .
k=0
k! 1! 2! 3!
Está claro que a função f (z) = ez está bem definida para z = 0: a série na Definição
5.3.8 fornece e0 = 1, assim como no caso de números reais. Mais ainda, para z = x um
número real, a função exponencial coincide com a função exponencial real, estando portanto
bem definida para todo z com parte imaginária nula. Além disso, observamos que
n n n
X zk X |z|k X ak
= = ,
k=1
k! k=1
k! k=1
k!
onde a = |z| é um número real. Segue que a sequência de somas parciais definida acima
é convergente, donde concluı́mos2 que a exponencial complexa está bem definida para todo
z ∈ C; em outras palavras, o domı́nio da função exponencial complexa consiste de todo o
plano complexo.
É possı́vel utilizar a Definição 5.3.8 e as séries de MacLaurin reais para sen θ e cos θ para
verificar a Identidade de Euler, enunciada no teorema abaixo.
1 iθ 1 iθ
(e + e−iθ ) = cos θ e (e − e−iθ ) = sen θ.
2 2i
Também é possı́vel utilizar a Definição 5.3.8 para provar que ez+w = ez ew , para z,w ∈ C.
Segue que, para z = x + iy, temos ez = ex+iy = ex eiy . Concluı́mos pelo Teorema 5.3.9 que