Definição Das Unidades de Resposta Hidrológica Na Bacia Hidrográfica Do Rio Santa Maria - RS

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REVISTA CAMINHOS DE GEOGRAFIA ISSN 1678-6343

http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/ DOI: https://doi.org/10.14393/RCG228457131

DEFINIÇÃO DAS UNIDADES DE RESPOSTA HIDROLÓGICA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


SANTA MARIA- RS

Romario Trentin
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Professor do Departamento de Geociências
[email protected]

Luís Eduardo de Souza Robaina


Universidade Federal de Santa Maria – UFSM
Professor do Departamento de Geociências
[email protected]

François Laurent
Le Mans Université – França
Professor do Curso de Geografia
[email protected]

RESUMO
O modelo hidrológico Soil and Water Assessment Tool (SWAT) representa um modelo
computacional que conjuga uma série de parâmetros físicos e permite simular diversos
cenários com variadas condições de manejo do solo e de uso da terra. Este trabalho
apresenta uma discussão sobre o método de geração e as características de cada
Unidades Hidrológicas geradas no modelo na bacia hidrográfica do rio Santa Maria. A partir
das sub-bacias se estabelece os cruzamentos espaciais dos dados de solos, uso da terra,
declividade, gerando novas delimitações espaciais chamadas Unidades de Resposta
Hidrológica (URH). Para as classes de declividade da área de estudo, foram definidos os
limites de 5 e 15%. O mapa base de solos é do IBGE com descrições dos boletins técnicos
no Ministério da Agricultura. O uso da terra do IBGE do ano de 2010, sendo que os tipos de
usos foram relacionados aos tipos já cadastrados no banco de dados do ArcSWAT. As
URHs representam uma combinação do tipo de solo, declividade, uso da terra. Cada sub-
bacia apresenta unidades hidrológicas características. A análise das características da
Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria permitiu avaliar que as unidades de respostas
hidrológicas geradas representam de forma satisfatória as heterogeneidades presentes.
Palavras-chave: Modelagem. SIG. URH. SWAT. Banco de dados.

DEFINITION OF HYDROLOGICAL RESPONSE UNITS IN THE HYDROGRAPHIC BASIN OF RIO


SANTA MARIA- RS

ABSTRACT
The hydrological model Soil and Water Assessment Tool (SWAT) represents a
computational model that combines a series of physical parameters and allows simulating
various scenarios with varying conditions of soil management and land use. This work
presents a discussion about the generation methodology and the characteristics of each
Hydrological Units generated in the model in the Santa Maria River Basin. From the sub-
basins, spatial crossings of soil data, land use, slope are established, generating new spatial
boundaries called Hydrological Response Units (HRU). For the slope classes of the study
area, the limits of 5 and 15% were defined. The soil base map is from IBGE with
descriptions of technical bulletins at the Ministry of Agriculture. IBGE's land use in 2010, and
the types of uses were related to the types already registered in the ArcSWAT database.
HRUs represent a combination of soil type, slope, land use. Each sub-basin has
characteristic hydrological units. The analysis of the Santa Maria River Basin characteristics
allowed to evaluate that the units of hydrological responses generated represent
satisfactorily the heterogeneities present.
Keywords: Modeling. GIS. HRU. SWAT. Database.

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Romario Trentin
Definição das unidades de resposta hidrológica na bacia hidrográfica
Luís Eduardo de Souza Robaina
do rio Santa Maria- RS
François Laurent

INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é uma unidade de planejamento, pois possibilita ter um ponto de controle do fluxo de
matérias e energia entre o solo e água, estabelecendo relações entre nutrientes e poluentes presentes
nos sistemas. Segundo Tucci (2002), a bacia hidrográfica é um sistema físico onde a entrada é o volume
precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo exutório, diminuindo pela evapotranspiração e
diminuindo ou aumentado pelas transferências interbacias, podendo-se analisar o processo de
transformação de chuva em vazão.
No Brasil a utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento está indicada pela Resolução
do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA) nº 001/1986, Artigo 5º, inciso III, que afirma: “...os
limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de
influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza” (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, 1986, p. 2.548).
Para o planejamento e gestão dos recursos hídricos os modelos hidrológicos são ferramentas essenciais.
Conforme Tucci (1998) e Renno e Soares (2000), o modelo hidrológico é uma ferramenta que permite (por
meio de equações) representar, entender e simular o comportamento de uma bacia hidrográfica, ajudando
a entender o impacto das mudanças no uso da terra ou das condições climáticas e prever alterações
futuras nas bacias hidrográficas.
Existem vários modelos hidrológicos, como os que são baseados no conceito de Unidades de Respostas
Hidrológicas (URHs), uma área espacial com características semelhantes no seu comportamento por
consequência da similaridade dos fatores dominantes. Dentre eles, o modelo hidrológico Soil and Water
Assessment Tool (SWAT) representa um modelo computacional que conjuga uma série de parâmetros
físicos que permite simular diversos cenários com variadas condições de manejo do solo, transporte de
sedimentos e transporte de químicos agrícolas em uma bacia hidrográfica. O SWAT é baseado no
equilíbrio hídrico dentro da bacia e, portanto, independente da natureza do estudo realizado o seu
funcionamento será sempre uma função do balanço hídrico existente na bacia hidrográfica. O modelo foi
desenvolvido pelo Agricultural Research Service/United States Department of Agriculture (ARS/USDA) dos
Estados Unidos (ARNOLD et al., 1998). Conforme GASSMAN et al. (2007) foi concebido a partir da
mescla dos modelos SWWRB (Simulator for Water Resources in Rural Basins) e ROTO (Routing Outputs
to Outlet). Neste modelo há a integração entre interfaces de SIG (Sistema de Informação Geográfica) e
equações matemáticas que representam o comportamento hidrológico da bacia.
Os constantes trabalhos de qualificação e adaptação do modelo, desde sua criação na década de 1990,
permitiram sua aceitação internacional como ferramenta para modelagem de bacia hidrográfica. A
aplicação desse modelo tem se expandido no mundo, especialmente nos Estados Unidos da América
(EUA) e na Europa. No Brasil, conforme GARBOSSA et al (2011) um dos primeiros trabalhos foi
desenvolvido por Oliveira e Medeiros (1999), em um estudo hidrosedimentológico.
Entretanto, conforme Bressiani et al. (2015), a utilização do SWAT no Brasil teve um grande crescimento
na última década, com trabalhos que buscaram verificar desde a capacidade do modelo de representar
satisfatoriamente as bacias hidrográficas brasileiras, até análises mais complexas, como a avaliação do
impacto causado em bacias (alteração do volume de água escoado superficialmente, e transporte de
sedimentos e aditivos agrícolas) pela mudança do uso do solo ou pelo desmatamento de florestas. No Rio
Grande do Sul o modelo SWAT tem sido usado como suporte para o planejamento de uso para qualidade
da água em área de cultivos e, também em áreas com eucaliptos (Uzeika et al., 2012; Bonumá 2011;
Bonumá et al 2013; Rodrigues et al., 2015). Na bacia do rio Ibicuí, o trabalho de modelagem hidrológica
com utilização do SWAT foi desenvolvido por Fauconnier (2017) na sua dissertação de mestrado.
Este trabalho apresenta uma discussão sobre o método de geração e as características de cada Unidade
Hidrológica gerada no modelo na bacia hidrográfica do rio Santa Maria (Figura 01). As URH’s são
utilizadas como unidades espaciais para os cálculos realizados pelo modelo SWAT e representam áreas
com características físicas iguais, com semelhante resposta hidrológica.

MÉTODO DE OBTENÇÃO DOS DADOS E GERAÇÃO DAS URHs


O processamento do modelo SWAT inicia com a delimitação da bacia e das sub-bacias geradas a partir
do Modelo Digital de Elevação (MDE) da área de estudo. O MDE foi obtido do SRTM 30m com rios e
bacias gerados automaticamente. As sub-bacias são geradas com o auxílio das ferramentas hidrológicas
do SIG que calculam a direção do fluxo nos pixels, a acumulação de fluxo e, por meio da determinação do
valor mínimo de fluxo acumulado, determina-se os cursos d’água, com seus pontos de interseção entre
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canais, bem como seus exutório. A partir da determinação dos pontos de exutório, definidos
automaticamente na geração dos cursos d’água, ou editados manualmente por meio da inserção ou
exclusão dos pontos, a fim de melhor definir as sub-bacias a serem analisadas, elas são delimitadas
automaticamente. Na etapa seguinte são inseridos os dados de solos, uso da terra, e determinação das
classes de declividade. O modelo executa os cruzamentos espaciais dos dados de solos, uso da terra e
declividade, gerando novas delimitações espaciais chamadas Unidades de Resposta Hidrológica (URH),
representando assim, discretizações do espaço interno das sub-bacias.

Figura 01 – Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria

Org: os autores

As classes de declividade foram definidas de acordo com proposta do Instituto de Pesquisas Tecnológicas
- IPT (1981) que trabalha com classificação de formas de relevo e utiliza os limites de 5 e 15% de
declividade na definição das formas. O mapa de declividade é gerado por meio das ferramentas de análise
espacial do SIG, por meio dos complementos do ArcSWAT, sendo gerado o plano de informação da
declividade em porcentagens e reclassificado conforme as classes estabelecidas pelo usuário. O
ArcSWAT é um complemento de distribuição gratuito que foi implementado no SIG ArcMap® licenciado
para o Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria.
Com relação aos solos as análises hidrológicas envolvem a avaliação da infiltração de água no solo,
condutividade, armazenamento e relações planta-água. Definir os efeitos hidrológicos da água no solo
requerem estimativa da água no solo características do potencial hídrico e condutividade hidráulica
usando variáveis como textura, matéria orgânica (MO) e estrutura. Para isso o modelo SWAT requer um
banco de dados com diversas informações que são divididos em duas partes: i) parâmetros do tipo de
solo; e ii) parâmetros da camada do solo (Figura 02).
Os parâmetros do tipo de solo são os seguintes: a) nome do solo (SNAM); b) número de camadas
(NLAYERS); c) grupo hidrológico do solo (HYDGRP) - Grupo A – Solos arenosos profundos com alta
capacidade de infiltração e geram pequenos escoamentos, Grupo B – Solos franco arenosos pouco
profundos, tendo menor capacidade de infiltração e geram maiores escoamentos do que o solo A, Grupo
C – Solos franco argilosos com menor capacidade de infiltração e geram maiores escoamento do que A e
B, Grupo D – Solos argilosos expansivos; tem baixa capacidade de infiltração e geram grandes
escoamentos; d) profundidade total (SOL_ZMX); e) porosidade do solo indicado pelo parâmetro da fração

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da porosidade em que os ânions são excluídos (ANIO_EXCL) e máximo volume de fissura do perfil do
solo expresso como uma fração do total do volume do solo (SOL_CRK).

Figura 02 – Interface sobre a parametrização dos solos no modelo

Fonte: STONE ENVIRONMENTAL INC & TEXAS A&M (2012)

Os parâmetros relacionados a cada camada são os seguintes: a) profundidade da superfície até o fundo
da camada (SOL Z); b) densidade da massa úmida (SOL_BD); c) capacidade de água disponível na
camada (SOL_AWC); d) conteúdo orgânico das camadas do solo (SOL_CBN); e) condutividade hidráulica
saturada da camada (SOL_K); f) porcentagem de argila; g) porcentagem de silte; h) porcentagem de areia;
i) porcentagem de rocha; j) albedo do solo úmido (SOL_ALB); e k) fator de erodibilidade da camada
(USLE_K); condutividade elétrica (SOL_EC); conteúdo de carbonato de cálcio (SOL_CAL); pH do solo
(SOL_PH).
A implementação dos tipos e parâmetros dos solos no banco de dados, foi executada de forma manual,
onde são criados os tipos de solos com suas referidas características, para que posteriormente, estes
solos cadastrados no banco de dados possam ser utilizados no modelo para o cruzamento e definição das
URHs. Na implementação das informações no banco de dados do SWAT, deve-se atentar às
configurações regional de numeração e datas que deve estar baseado no sistema dos EUA.
O mapeamento de solos em escala 1:250.000, foi definido por meio do trabalho disponibilizado pelo IBGE
(2002, 2015) e a utilização dos perfis de solo realizado no Levantamento de Reconhecimento dos Solos
do Estado do Rio Grande do Sul, produzido pelo Ministério da Agricultura no Boletim Técnico de N.°30
(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 1973).
Os dados hidrológicos como infiltração, condutividade, água disponível, relação água-planta, densidade
efetiva foram obtidas a partir de regras de transferência, que consistem em cálculos estabelecidos em
planilha Excel® desenvolvida por Saxton and Rawls (2006) que utiliza a textura e matéria orgânica no solo
para o cálculo. Correlações estatísticas entre textura do solo, potencial hídrico do solo e a condutividade
hidráulica pode fornecer estimativas suficientemente precisas para muitas análises e decisões. O Excel® é
uma das aplicações do Office 365® com licenças dos pesquisadores do Laboratório de Geologia
Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria.
Para a elaboração do mapa de uso da terra na BHRSM foi utilizado o mapa de uso e cobertura da terra do
IBGE do ano de 2010 (IBGE, 2010), sendo que os tipos de usos foram relacionados aos valores das

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variáveis disponibilizadas pelo banco de dados do ArcSWAT, por meio das características de culturas e
formações vegetais naturais disponíveis na área de estudo e cadastradas no banco de dados.
A figura 03 apresenta as características das culturas de soja/aveia, cultura características na área de
estudo, disponíveis no banco de dados do modelo SWAT. Para obtenção dessas variáveis, foram
realizados levantamentos de campo com equipamento de posicionamento global onde foram coletados
pontos georreferenciados em cada uso da terra. Posteriormente foi realizada a conferência dos dados de
uso do solo obtidos no campo com os determinados pelo algoritmo de classificação das imagens.

Figura 03 – Interface de entrada no programa das variáveis sobre uso e cobertura da terra

Fonte: STONE ENVIRONMENTAL INC & TEXAS A&M (2012)

Após a inserção dos dados no sistema, é realizado o cruzamento destes com as sub-bacias anteriormente
definidas. Para o cruzamento dos dados, realizou-se a definição dos índices de influência para cada
parâmetros, determinando na geração dos URH a participação dos solos e declividade de no mínimo 5%
e de todos os tipos de uso da terra presentes na bacia. A figura 04 apresentam um fluxograma síntese das
etapas operacionais do ArcSWAT, para a determinação das Unidades de resposta hidrológicas.

Figura 04 – Fluxograma das etapas operacionais do modelo

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CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO RIO SANTA MARIA


A Bacia do rio Santa Maria se localiza no sudoeste do Rio grande do Sul, ocupando uma área de
aproximadamente 15.748 km², entre as coordenadas geográficas 29° 47' a 31° 36'S e 54° 00' a 55° 32'W.
constitui um tributário direto da margem esquerda do rio Ibicuí, com rede de drenagem controlada por
lineamentos tectônicos e por diferenças litológicas, onde os canais se alojam em porções menos
resistentes do terreno. Os principais tributários são rios Upamaroti, Ponche Verde, Santo Antônio, Jaguari-
Taquarembó, Cacequi, Ibicuí da Cruz, Ibicuí da Faxina e Ibicuí da Armada.
A Bacia do Rio Santa Maria é composta pela região morfoestrutural descrita no Projeto RADAM BRASIL
(IBGE, 1986) do Embasamento em Estilos Complexos, ocupando na porção do extremo SE, em
aproximadamente 10% de sua área total, e principalmente pela região de Bacias e depósitos
Sedimentares formados por rochas e sedimentos em diferentes ambientes deposicionais e por uma
pequena área a oeste da bacia do Planalto vulcânico. As formas de relevo predominantes na bacia são
colinas ligeiramente onduladas que compõem 49,5% da bacia total. Essas formas são caracterizadas por
amplitudes entre 20m e 40m e declividade entre 2% e 5% representam relevo de aplainamento.
A Figura 05 apresenta os mapas básicos de declividade, solos e uso da bacia hidrográfica do Rio Santa
Maria. Conforme pode-se observar, as áreas com inclinações inferiores a 15% são predominantes na
bacia hidrográfica. As declividades superiores a 15% ocorrem associadas às porções de divisores de água
nas porções leste formando morros e morrotes isolados e na porção oeste da bacia hidrográfica junto a
Serra do Caverá (Figura 06).
Na bacia do rio Santa Maria encontra-se os seguintes solos: Planossolos, Argissolos, Luvissolos,
Chernossolos, Neossolos. Os Planossolos ocorrem nas planícies de inundação dos principais cursos
d’água e estão representados por Planossolo SxE2, Planossolo SxE1, Planossolo SxE1 (Figura 07a). O
Planossolo SxE2 é constituído por solos negros, imperfeitamente drenados, com nítido contraste entre os
horizontes. Na porção inferior do B a estrutura é em blocos angulares formada pela interseção dos
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slickensides; O Planossolo SgE1 é solo mal a imperfeitamente drenado, bastante influenciado pela
presença da água que ocasiona fenômenos de redução, com o desenvolvimento no perfil de cores
cinzentas, características de gleização; Planossolo SxE1 é um solo medianamente profundo,
imperfeitamente drenados, com cores bruno e acinzentadas nos horizontes superficiais e amareladas nos
mais profundos, com teores elevados da fração silte, mas também com regulares proporções de argilas
expansivas.
Figura 05 – Mapas básicos de declividade, solos e uso da bacia hidrográfica do Rio Santa Maria

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Os Argissolos do tipo Vermelho-amarelo ocorre na porção Oeste e Sul da bacia, os Vermelhos na porção
Nordeste e os do tipo Bruno em uma pequena área ao Sul da bacia. Argissolos vermelho-amarelo PVE
são constituídos por solos medianamente profundos (em torno de 1 metro), com cores bruno acinzentadas
e bruno avermelhadas, franco arenoso no horizonte A e argilosos no B, e moderadamente drenados;
Argissolo vermelho PVD são solos profundos, avermelhados, textura superficial arenosa, friáveis e bem
drenados; Argissolos do tipo Bruno acizentado APt1 são profundos, arenosos, friáveis em toda a extensão
do perfil, moderada e imperfeitamente drenados (Figura 07b).
Os Luvissolos Tco ocorrem associados aos Argissolos, na base da vertente. Os solos têm espessura ao
redor de 1m e moderadamente drenados, que apresentam um horizonte A proeminente, bruno
acinzentado muito escuro, franco, que transaciona abruptamente para um B textural de coloração bruno
avermelhada e vermelho amarelada, argilosa.
Os solos do tipo Chernossolos são classificados em dois tipos e ocorrem, predominantemente, sobre
substrato de siltitos marinhos na porção centro-norte da bacia. Os Chernossolo MTo1 são solos
medianamente profundos, moderadamente drenados, com cores escuras nos horizontes superficiais e
bruno amarelados nos mais profundos, textura média e friáveis; Chernossolo MTo2 são solos
medianamente profundos, com cores bruno escuras no matiz 10YR, argilosos, poucos porosos e
imperfeitamente drenados sendo muito plástico e muito pegajosos quando molhados (Figura 08a)
Os Neossolos ocorrem na região nordeste da bacia sobre substrato de rochas do embasamento e em
uma faixa no extremo oeste associada a vulcânicas da Serra do Caverá (Figura 08b).
A estrutura fundiária na BHRSM e o tipo de uso segue a lógica da história da ocupação da região sendo
composta, na maioria dos casos, por grandes propriedades, onde as atividades estão ligadas a produção
de arroz, soja e gado bovino e ovino. Segundo a classificação definida pela Lei 8.629, de 25 de fevereiro
de 1993 são propriedades que variam de 30 ou mais módulos ficais (no Oeste do RS 1 módulo equivale a
28 ha).
As pequenas propriedades são pouco expressivas na BHRSM, estando ligadas principalmente a
assentamentos da reforma agrária ou em porções da bacia hidrográfica onde não há possibilidade de
mecanização da agricultura, geralmente ligada a porções com relevo acidentado.
Foram identificados usos de reflorestamento de espécies exóticas, identificados pela sigla EUCA no
modelo, áreas com Floresta Ombrófila Mista nos diferentes estágios de crescimento e de regeneraçãoe
associadas às matas de galerias, relacionadas no modelo com FRST e FRSE, respectivamente, áreas de
campo com criação, indicadas por RNGE, áreas agrícolas com cultivo de arroz, áreas com cultivo de soja
no verão e trigo no inverno, cultivo de soja no verão e pastagens no inverno, relacionadas,
respectivamente, com as siglas RICE, SOYB e OATS no banco de dados do SWAT, áreas de
aglomerados urbanos (URBAN) e os corpos de água em geral, como rios, córregos, lagos naturais e
artificiais (WATER). A Figura 09, apresenta um mosaico de fotografias de campo, ilustrando os diferentes
usos da terra presentes na Bacia Hidrográfica.

Figura 06 – Relevo com declividades superiores 15% associadas à Serra do Caverá na porção oeste da
bacia hidrográfica

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Figura 07 – Fotografias mostrando o relevo com desenvolvimento dos Planossolos (a) e um perfil de
Argissolos (b) na bacia hidrográfica
a b

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Figura 08 – Fotografia de ocorrências de Chernossolos sobre siltitos marinhos (a) e Neossolos


litólicos e afloramento rochosos

a b

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UNIDADES DE RESPOSTA HIDROLÓGICA


A Bacia do rio Santa Maria foi dividida em 16 sub-bacias com características de relevo, solos e usos
variados indicando as diferentes unidades de resposta hidrológica (Figura 10).
A sub-bacia 1, representada pelo rio Cacequi, está localizada na porção S-SE da bacia com área de
1887,01 km². Ocorrem 30 unidades hidrológicas, mas predomina relevo que varia de plano a levemente
ondulado. Os solos são do tipo Argissolo Pve caracterizado por cores bruno avermelhadas, franco
arenoso no horizonte A e argilosos no B, e moderadamente drenados que ocorrem na meia-vertente ao
topo; na base das vertentes ocorrem solos que apresentam um horizonte A proeminente, bruno
acinzentado muito escuro, franco, que transaciona abruptamente para um B textural caracterizado como
Luvissolos Tco; e nas áreas planas junto a drenagem Planossolos Xe1, solo medianamente profundo,
imperfeitamente drenados, com teores elevados da fração silte, mas também com regulares proporções
de argilas expansivas. O uso e ocupação predominante são áreas de campo com criação. O cultivo mais
significativo está representado por lavouras de arroz. As florestas nos diferentes estágios de crescimento e
de regeneração ocorrem com uma área aproximada de 66km² ao longo do canal principal do rio Cacequi.
Nessa sub-bacia ocorre o aglomerado urbano representado pela cidade de Cacequi.

Figura 09 – Usos da terra na bacia hidrográfica. a) Cultura de arroz junto as áreas planas associado aos
cursos d’água; b) áreas de pastagem cultivada, com aveia; c) em primeiro plano lavoura de soja e ao junto
área urbana de Rosário do Sul; d) área de pastagem com gado em colinas onduladas; e) áreas de campo
com campos nativos; f) área de Silvicultura com cultivo de eucaliptos ao lado de uma lavoura de soja; g)
açudes utilizado para dessedentação do gado, lago artificial bastante comum na bacia hidrográfica; h)
lavouras de soja recém colhidas com presença de vegetação florestal associada aos cursos d’água

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a b

c d

e f

g h

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Figura 10 – Distribuição espacial das Unidades de Resposta Hidrológicas nas sub-bacias da área de
estudo

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A sub-bacia 2, área drenada pelo arroio da Divisa e pela Sanga do Areal, localizada as S-SW da bacia
apresenta área de 951,81 km², é constituída por 23 unidades hidrológicas. O relevo é predominantemente
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plano e, junto as drenagens, ocorrem os PlanossolosXe. No relevo ondulado ocorrem Argissolos Pve, nas
porções de topo e Luvissolos Tco, que é o solo dominante, na sub-bacia 2, nas áreas planas e na base
das vertentes. Os campos com criação são predominantes no relevo ondulado com Argissolos Pve e o
cultivo de arroz ocorre junto as drenagens. No extremo NW da sub-bacia ocorrem Neossolos RLE3e4 com
áreas de Florestas, ocupando área total de 17km². As Florestas, também, ocorrem junto a drenagem
principal ocupando área de 38km². Uma parte do aglomerado urbano da cidade de Rosário do Sul está
incluída nessa sub-bacia.
A sub-bacia 3, drenada pelo Arroio do Salso, Arroio Vacaqua, Sanga Santo Antônio, Sanga dos Varejões
e Arroio Tarumã, localizada no SW da bacia, com área de 1563,08 km². Ocorrem 30 unidades
hidrológicas. representadas por relevo plano a ondulado e uma porção no extremo oeste com relevo
fortemente ondulado. Os solos, predominantes, são os Argissolos variando do Pve (predominante) a
Bruno e que se associam, comumente, a Luvissolos Tco na base das vertentes. Os Planossolos Xe1
ocorrem nas áreas de inundação e solos com concentração de matéria orgânica no horizonte superficial
(Chernossolos Mto2) ocorrem na base das vertentes sobre um substrato de siltitos marinhos no extremo
NE da bacia. Solos raso do tipo Neossolo são importantes na porção oeste da sub-bacia em relevo
fortemente ondulado da Serra do Caverá. Nessa sub-bacia o uso e ocupação se caracteriza por áreas de
campo com criação e o cultivo é de lavouras de arroz. As florestas ocorrem, principalmente, junto a
drenagem principal compondo ao redor de 60km² de área. Uma parte da área urbana da cidade de
Rosário do Sul ocorre nessa sub-bacia.
A sub-bacia 4, localizada no E da BHSM, com área de 1131,30km² se caracteriza por 27 unidades
hidrológicas representativas. Apresenta, predominantemente, vertentes menores que 5% caracterizando
como um relevo plano. O relevo plano forma solos do tipo Planossolos Xe1 como dominante e
secundariamente Luvissolos Tco. No relevo ondulado predominam Argissolos Pve e na porção mais a
leste da sub-bacia ocorrem Chernossolos Mto2, solos medianamente profundos, com cores bruno
escuras, imperfeitamente drenados sendo muito plástico e muito pegajosos, sobre siltitos marinhos. O uso
e ocupação da terra está representado por campos e cultivo de soja nas colinas é significativo. O cultivo
de arroz (RICE) ocorre nas áreas de planície de inundação. Áreas com florestas ocorrem na drenagem
ocupando área de 59km².
A sub-bacia 5, localizada na porção Leste da bacia, com área de 888,60 km², drenada pelo Arroio Jaguari.
A sub-bacia se caracteriza por 42 unidades hidrológicas, onde o relevo ondulado predomina. Os
Luvissolos Tco se concentram no baixo curso da sub-bacia associados a substratos de lamitos marinhos,
enquanto, os Argissolos Pvd ocorrem no médio curso sobre substrato granito-gnaissico, se caracterizando
por solos profundos, avermelhados, textura superficial arenosa, friáveis e bem drenados. No alto curso em
declividades mais elevadas ocorrem Neossolos e em porções menos inclinadas são comuns solos do tipo
Chernossolo Mto1, solos medianamente profundos, moderadamente drenados, com cores escuras nos
horizontes superficiais e bruno amarelados nos mais profundos, textura média e friáveis. O uso e
ocupação é de campos com criação e o cultivo de soja ocorre no relevo ondulado e arroz nas áreas
planas. As florestas ocorrem em 82km² sendo 39km² na drenagem e 17km² e nas áreas de Neossolos e
afloramento de rochas. Essa sub-bacia é onde a ocorrência de florestas é a mais importante com 10% da
área total. Nessa sub-bacia ocorrem reflorestamento de espécies exóticas em uma área de 7km² da bacia.
A sub-bacia 6, drenada pelos arroios da Cruz e arroio Porteirinha, localizada na porção W da Bacia,
apresenta área de 576,28 km² e é formada por 22 unidades hidrológicas. O relevo plano que predomina
está associado a drenagem. O relevo ondulado e fortemente ondulado reflete as colinas e os morrotes da
Serra do Caverá. Os solos do tipo Argissolos Pve predominam nas colinas e ocorrem associados a
Argissolos Pvd e Neossolos. Luvissolos Tco se associam aos interflúvios a leste da drenagem principal
onde ocorrem rochas sedimentares lamíticas. O uso do solo predominante são áreas de campo com
criação (RNGE). As florestas ocorrem em 41km² sendo 31km² nas áreas de cabeceiras e associadas ao
relevo fortemente ondulado e 10 km² associado a rede de drenagem.
A sub-bacia 7, drenada pelo arroio Taruma e arroio do Beco, localizada na porção W da BHRSM, com
área de 349,86 km² representa a menor sub-bacia da bacia do rio Santa Maria e está constituída por 18
unidades de resposta hidrológica. O relevo predominante é plano que segue as planícies aluviais. O relevo
ondulado forma as colinas da região de interflúvio e no extremo oeste ocorrem morrotes e morros
caracterizados por vertentes com declividades superiores a 15%. Os Argissolos Pve, predominantes,
ocorrem no relevo de colinas e na baixa vertente e associado as áreas planas ocorrem Luvissolos Tco e
os Planossolos SXe1 mais próximos aos canais fluviais. As vertentes inclinadas a oeste ocorrem solos mal
desenvolvidos do tipo Neossolos. O cultivo de arroz (RICE) é importante nas áreas de planície de
inundação sobre solos do tipo Planossolo e Luvissolos. Áreas de campo predominam e o cultivo de soja

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ocorrem, especialmente associado a Luvissolos. As florestas ocorrem em 18km² associado a rede de


drenagem.
A sub-bacia 8, drenada pelo arroio Santo Antônio, localizada na porção Centro-E, apresenta uma área de
422,60km², com 24 unidades de resposta hidrológica. O relevo é plano onde as vertentes predominantes
são inferiores a 5% de declividade, ocorrendo junto a drenagem principal. A Oeste da sub-bacia com solos
variando de Luvissolos Tco na base das vertentes para Planossolos Xe1 e alguns Planossolos Ge1 que
são solos bastante influenciado pela presença da água que ocasiona fenômenos de redução, com o
desenvolvimento no perfil de características de gleização. A Leste da sub-bacia o relevo é ondulado se
desenvolvendo em rochas granito-gnaisse e vulcanicas-vulcanoclásticas do embasamento cristalino. Os
solos do tipo Chernossolo MTo1 são solos medianamente profundos, com cores escuras nos horizontes
superficiais, textura média e friáveis ocorrem, predominantemente, sobre substrato granito-gnáissico,
enquanto Neossolos se associam ao terreno vulcânico, onde vertentes com inclinações superiores a 15%
são importantes. Áreas de campo com criação é o principal uso, lavouras de soja ocorrem no relevo de
colinas e cultivo de arroz nas áreas de planície de inundação. As florestas ocorrem em 32km² associado a
rede de drenagem e representam 8% da bacia.
A sub-bacia 9, drenada pelos arroios Capivara e arroio Florentina, localizada a NW da bacia, tem 23
unidades de resposta hidrológica e área de 812,50km². Constituem relevo plano a ondulado, mas com
ocorrência de vertentes com inclinações superiores a 15% na porção oeste da sub-bacia constituindo os
morros e morrotes da Serra do Caverá. Solos tipo Argissolos Pve ocorrem no relevo de colinas e na base
das vertentes em direção a planície de inundação ocorrem solos do tipo Luvissolo Tco até Planossolos
Xe1. O uso e ocupação está associado a áreas de campo com criação. As florestas ocorrem em 33km²
associado a rede de drenagem e as vertentes de morros e morrotes. O reflorestamento de espécies
exóticas está representado em uma pequena área da sub-bacia. Uma parte da área URB da cidade de
Livramento está incluída nessa sub-bacia.
A sub-bacia 10, drenada pela sanga do Cursinho, que se localiza no Centro da sub-bacia, possui área de
804,31km² e 21 unidades hidrológicas. O relevo plano a levemente ondulado predomina sobre um
substrato de lamitos onde os solos são do tipo Chernossolos Mto2, predominante, Luvissolos Pco e
Planossolos Xe1. Em uma porção a Norte da sub-bacia ocorre um relevo ondulado, onde se associam
vertentes superiores a 15% e solos são do tipo Argissolos Pve e menor representação de Argissolos
Bruno. O uso e ocupação é de campos com criação e o cultivo predominante é de lavouras de arroz.
Florestas ocorrem em 18km² associado a rede de drenagem.
A sub-bacia 11, drenada pelo arroio Taquarembó, com área de 696,38km², se localiza a SE e apresenta
28 unidades hidrológica. O relevo se caracteriza por ondulado sobre um substrato de rochas cristalina do
embasamento com solos do tipo Argissolos Pvd. Na porção NW da sub-bacia ocorre um platô de rochas
vulcanoclásticas com vertentes com inclinações superiores a 15% e a formação de Neossolos. Áreas
planas ocorrem associada a drenagem principal onde se desenvolvem solos do tipo Luvissolo e
Planossolo Xe1 e Ge1. Campo com criação e lavouras de soja são significativos, devido ao relevo
ondulado. A ocorrência de florestas com 48km² associado a rede de drenagem em pelo menos 28km² e a
vertentes íngremes 5km². Ocorre próximo de 2km² de reflorestamento de espécies exóticas.
A sub-bacia 12, drenada pelos arroios Upacarai e Vacaiqua, localizada na porção Centro-SW da BHRS,
apresenta área de 892,67km² e 16 unidades hidrológicas. O relevo é plano com predominância de
vertentes com inclinações menores que 5%. Junto aos canais de drenagem principal formam-se
Planossolos Xe1 onde ocorre importantes áreas de cultivo de arroz (RICE). No relevo levemente ondulado
dos interflúvios associado a lamitos formam-se solos do tipo Chernossolo MTo2 (unidade Ponche Verde)
medianamente profundos, com cores bruno escuras, argilosos, poucos porosos e imperfeitamente
drenados. As lavouras são de arroz e se associam a campos com criação. As florestas estão muito
degradadas pelas lavouras, ocorrendo em somente 2,5km².
A sub-bacia 13, drenada pelo rio Upamaroti, com área de 1013,00km², se localiza a SE-S e está dividida
em 29 unidades de respostas hidrológicas. O relevo é levemente ondulado e o substrato de rochas
sedimentares variando de arenitos a lamitos. Sobre o relevo ondulado de arenitos predominam os solos
do tipo Argissolos vermelho-amarelo PVE, com cores bruno acinzentadas e bruno avermelhadas, franco
arenoso no horizonte A e argilosos no B, e moderadamente drenados. Sobre o substrato lamítico
predominam solos medianamente profundos, com cores bruno escuras, argilosos, poucos porosos e
imperfeitamente drenados classificados como Chernossolo MTo2. Associados a planície de inundação
ocorrem Planossolo SxE1 que apresentam teores elevados da fração silte, mas também com regulares
proporções de argilas expansivas, daí sua plasticidade e pegajosidade. O uso e ocupação é de campos
com criação, alguma soja nas colinas e um grande cultivo de arroz nas planícies. Devido ao uso elevado
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da área para lavouras, as florestas ocorrem em somente 4,6km² da sub-bacia, mas existem 0,5km de
reflorestamento de espécies exóticas.
A sub-bacia 14, drenada pelo arroio Taquarembó Chico, pelo arroio Santa Maria Chico, sanga Preta e
arroio do Salso, está localizada no Centro-S da BHSM, com área de 1295,14km² e 35 unidades
hidrológicas. O relevo é predominantemente plano, mas ocorre na sua porção leste sobre substrato de
rochas cristalinas do embasamento com relevo ondulado definido por vertentes entre 5-15% mas com
porções onde as vertentes apresentam declividade superior a 15%. Na área plana próximo as drenagens
os solos são medianamente profundos, imperfeitamente drenados, com cores bruno e acinzentadas nos
horizontes superficiais e amareladas nos mais profundos, com predomínio da fração silte, mas também
com regulares proporções de argilas expansivas classificados como Planossolo SxE1 e, menos
comumente, solos mal a imperfeitamente drenados, bastante influenciados pela presença da água, o que
ocasiona fenômenos de redução, com o desenvolvimento no perfil de cores cinzentas, características de
gleização (Planossolo SgE1). Mais afastado da rede de drenagem ocorrem solos negros, imperfeitamente
drenados, com nítido contraste entre os horizontes (Planossolo SxE2). Essas áreas planas têm como uso
o cultivo de arroz. No relevo ondulado sobre rochas cristalinas os solos são do tipo Neossolos e Argissolo
vermelho PVD que são solos profundos, avermelhados, textura superficial arenosa, friáveis e bem
drenados. Na base das vertentes podem ocorrer Luvissolos Tco. Associado ao relevo ondulado o uso é de
lavouras de soja, mas principalmente criação de gado nos campos. A área urbana da cidade de Dom
Pedrito está dentro dessa sub-bacia. As florestas ocorrem em área de 54km² da sub-bacia, sendo
aproximadamente 45km² nas drenagens e 9km² associado a vertentes íngremes.
A sub-bacia 15, drenada pelo rio Ponche Verde, com área de 780,63km², se localiza no Sul da BHRSM,
com 16 unidades de resposta hidrológica. O relevo é predominantemente plano com vertentes inferiores a
5% e na área das nascentes o relevo é ondulado. Os Chernossolo MTo2 são predominantes e se
caracterizam solos medianamente profundos, com cores bruno escuras, argilosos, imperfeitamente
drenados sendo muito plástico e muito pegajosos quando molhados. Junto a rede de drenagem os solos
variam de imperfeitamente drenados, com cores bruno e acinzentadas nos horizontes superficiais e
amareladas nos mais profundos com predomínio da fração silte (Planossolos SxE1) a solos negros,
imperfeitamente drenados, com nítido contraste entre os horizontes (Planossolo SxE2). O cultivo de arroz
predomina e a área de floresta ocorrem em uma pequena área de 0,7km², representando 0,1% da sub-
bacia.
A sub-bacia 16, drenada pelas nascentes do rio Santa Maria e Sanga Funda, localizada a SE da BHRSM,
constituída por 28 unidades hidrológicas e com área de 849,51km². A sub-bacia se divide em porção leste
com relevo ondulado com solos do tipo Argissolo vermelho PVD solos profundos, avermelhados, textura
superficial arenosa, friáveis e bem drenados com uso de lavouras de soja e uma área com reflorestamento
de espécies exóticas com, aproximadamente, 10km². A porção oeste da sub-bacia tem relevo plano com
os solos imperfeitamente drenados, com cores bruno e acinzentadas nos horizontes superficiais e
amareladas nos mais profundos, com predomínio da fração silte, mas também com regulares proporções
de argilas expansivas classificados como Planossolo SxE1 e solos negros, imperfeitamente drenados,
com nítido contraste entre os horizontes (Planossolo SxE2). Ocorrem, também, solos bastante
influenciados pela presença da água, o que ocasiona fenômenos de redução, com o desenvolvimento no
perfil de cores cinzentas, características de gleização (Planossolo SgE1). Nessa porção predomina cultivo
de arroz. A área de floresta está representada por aproximadamente, 25km².

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A unidade espacial elementar no modelo SWAT é a unidade de resposta hidrológica (URH) que
representa uma combinação do tipo de solo, declividade e uso da terra. A combinação identifica os três
elementos e supõem produzir uma resposta hidrológica para cada sub-bacia.
O relevo da Bacia do rio Santa Maria é predominantemente plano a levemente ondulado com vertentes
inferiores a 5% de declividades onde a infiltração é máxima e o escoamento é reduzido. Na sub-bacia 5 o
relevo é ondulado, com predomínio de vertentes entre 5-15%, onde o escoamento superficial é
significativo. Nas sub-bacias 3, 7 e 9 associadas a Serra do Caverá e na sub-bacia 5 e 11, sobre rochas
cristalinas do embasamento, ocorrem vertentes com declividade superiores a 15%, caracterizando áreas
de forte escoamento superficial.
Os solos predominantes na bacia do rio Santa Maria são arenosos, moderadamente drenados,
classificados como Argissolos Vermelho-Amarelo (Pve), ocorrendo como mais significativo nas sub-bacias
1, 3, 6,7, 9 e 13. Os Argissolos vermelhos (Pvd), que se diferencia dos anteriores por serem mais bem
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drenados, ocorrem, como predominantes nas sub-bacias 11 e 16. Na sub-bacia 2 o solo predominante é
do tipo Luvissolo Tco que têm espessura ao redor de 1m e moderadamente drenados, que apresentam
um horizonte A proeminente, que transaciona abruptamente para um B textural de coloração bruno
avermelhada e vermelho amarelada, argilosa. Os solos do tipo Chernossolo MTo2 são os mais
importantes na sub-bacia 15, pela influência dos lamitos marinhos se caracterizam por medianamente
profundos, com cores bruno escuras, argilosos, imperfeitamente drenados, muito plástico e pegajosos. Os
Planossolos Sxe1 que se caracterizam por serem imperfeitamente drenados, com cores bruno e
acinzentadas nos horizontes superficiais e amareladas nos mais profundos, com teores elevados da
fração silte, mas também com regulares proporções de argilas expansivas é o mais importante na sub-
bacia 4.
As áreas de campo predominam em praticamente toda bacia do rio Santa Maria, exceto na sub-bacia 15
onde ocorre predomínio de arroz. As florestas, importantes na distribuição da água nas vertentes, são
importantes nas sub-bacias 5 e 8.
A análise das características da BHRSM permitiu avaliar que as unidades de respostas hidrológicas
geradas representam de forma satisfatória as heterogeneidades presentes. Para determinação das
unidades hidrológicas a dificuldade encontrada se relaciona ao fato de o modelo ter sido projetado para
condições de solos e usos do EUA. Para aplicação do modelo, nas condições encontradas no Brasil, é
necessário adaptações e modificações no banco de dados que são apresentadas e discutidas no trabalho.
Dessa forma, acredita-se que se contribuiu na discussão das dificuldades metodológicas para gerar as
unidades básicas que irão ser utilizadas na modelagem. As próximas etapas de calibração e validação do
modelo SWAT dependem dessa base da qualidade dos dados iniciais geradores dos URH que são
utilizados para a operação do modelo.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Recebido em: 03/09/2020
Aceito para publicação em: 17/12/2020

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