Investigação de Insumos Ilegais - USP

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INVESTIGAÇÃO DE

INSUMOS AGRÍCOLAS
ILEGAIS
O Direito Processual:
Jurisprudência e Produção de
Provas

Ferdinando Scremin Neto


Introdução
● O direito processual penal desempenha um papel crucial na
condução da ação penal, regulando as investigações e,
especialmente, a coleta de provas por parte das autoridades
policiais e seus agentes. A produção de provas pela polícia é um
elemento fundamental para garantir a justiça e a imparcialidade,
que são características essenciais do devido processo legal.

● Esta aula foca na produção de provas pela polícia e os


entendimentos jurisprudenciais relacionados a esse processo.
Também serão abordadas questões como a entrada em domicílio
sem mandado judicial e o posicionamento atual do Superior
Tribunal de Justiça em relação a essas questões.
Princípios norteadores do processo de investigação:
1. Respeito aos direitos do suspeito: A polícia deve 2. Coleta adequada de vestígios e provas: A polícia
garantir a observância de todos os direitos deve adotar procedimentos adequados para a coleta de
constitucionais e legais do suspeito durante a produção provas físicas, tais como impressões digitais, amostras
de provas. Isso abrange o direito ao silêncio, o qual deve de DNA, objetos e documentos relevantes. Isso envolve
ser mencionado desde o primeiro contato com o a aplicação de técnicas forenses apropriadas e a devida
suspeito, não apenas durante o inquérito ou termo preservação da cadeia de custódia, assegurando a
circunstanciado de ocorrência, de acordo com uma integridade das evidências. Além disso, é imperativo
interpretação recente do Supremo Tribunal Federal. É que o local do crime seja corretamente isolado para
relevante notar que a jurisprudência do Superior evitar contaminações indevidas, até a chegada dos
Tribunal de Justiça permite a realização de entrevistas peritos oficiais, assegurando assim a qualidade das
policiais, contudo, esta prática está condicionada à provas obtidas.
prévia informação ao investigado sobre o seu direito de
permanecer em silêncio, caso assim o deseje.
Princípios norteadores do processo de investigação:

3. Uso de técnicas de investigação constitucional e legalmente admitidas: A polícia deve empregar técnicas de
investigação lícitas, que sejam admitidas na legislação ou não proibidas. Estas técnicas incluem a obtenção de mandados
de busca e apreensão quando necessários, mediante prévia autorização judicial. Além disso, é essencial o uso apropriado
de vigilância sobre os alvos, bem como ferramentas como a interceptação telefônica e telemática, que também
requerem autorização judicial prévia. É válido lembrar que todas as ferramentas legalmente admitidas podem e devem
ser utilizadas pelas autoridades policiais e seus agentes. Estas ferramentas podem incluir:
Princípios norteadores do processo de investigação:

(a) A observação de suspeitos em locais públicos sem necessidade de autorização judicial;


(b) O uso de dispositivos como OCR e leitura facial para identificação e localização de pessoas e veículos;
(c) A realização de simulações dos eventos para entender a dinâmica, esclarecer imprecisões e auxiliar na perícia;
(d) A obtenção de autorizações judiciais para a quebra de sigilos, como telefônicos, bancários, geolocalização, bem como
o bloqueio de bens por meios legais;
(e) A utilização de técnicas de entrevista e interrogatório para esclarecer detalhes da investigação, desde que o suspeito
opte por cooperar;
(f) A solicitação de mandados de busca e apreensão, prisões temporárias e preventivas, apreensão de bens e
interceptações telefônicas e telemáticas, tudo mediante autorização judicial;
(g) A pesquisa minuciosa de fontes abertas de dados, como redes sociais e mensagens públicas, para obter informações
relevantes, como a localização de pessoas, hábitos de suspeitos e conexões entre eles.
Princípios norteadores do processo de investigação:
4. Imparcialidade e neutralidade são princípios 5. A documentação adequada é essencial nas
fundamentais nas investigações policiais. A polícia deve investigações policiais. A polícia deve registrar todas as
conduzir suas investigações de maneira profissional, etapas do processo de produção de provas de maneira
livrando-se de qualquer viés ou preconceito. Todas as clara e detalhada. Isso engloba o registro de
possíveis linhas de investigação devem ser exploradas, informações sobre a coleta de evidências, entrevistas,
incluindo a análise da versão do suspeito e, em alguns depoimentos de testemunhas e todas as ações
casos, a revisão da versão da vítima. Em resumo, é executadas ao longo da investigação, com total
essencial que todas as partes envolvidas sejam tratadas aderência às regras pertinentes à cadeia de custódia.
com justiça, de acordo com a lei, garantindo a Esse cuidadoso registro garante a transparência e a
consideração de todas as informações relevantes nas integridade do processo investigativo.
investigações, independentemente de seu impacto
favorável ou desfavorável ao suspeito. Isso assegura a
integridade e a imparcialidade do processo.
Princípios norteadores do processo de investigação:

6. Revisão, supervisão e controle são elementos cruciais no processo de


investigação policial. É fundamental revisar as linhas de investigação
sempre que necessário, a fim de confirmar ou refutar as hipóteses
levantadas. Além disso, essas práticas proporcionam mecanismos de
controle das informações produzidas e permitem a fiscalização por órgãos
competentes, quando necessário. A aplicação de técnicas de compliance
no ambiente policial é uma abordagem bem-vinda para garantir a
integridade e a transparência em todo o processo investigativo.
Reconhecimento de pessoas

Para garantir procedimentos adequados de reconhecimento de


pessoas, é essencial seguir as etapas a seguir:

1. A pessoa que precisa fazer o reconhecimento deve ser convidada a


descrever a pessoa que deve ser reconhecida. Essa descrição deve ser
completa e feita antecipadamente, mesmo em casos de
reconhecimento por fotografias. Quando se trata de reconhecimento
por fotografias, várias imagens devem ser apresentadas ao
reconhecedor, não se restringindo apenas à do suspeito.
Reconhecimento de pessoas

2. A pessoa a ser reconhecida deve ser colocada, sempre que


possível, ao lado de outras que possuam alguma semelhança. Isso
ajuda a garantir a eficácia e validade do reconhecimento, embora não
seja necessário que as semelhanças sejam extremas.

3. Se houver motivo para suspeitar que a pessoa chamada para o


reconhecimento possa ser influenciada ou intimidada de alguma
forma e não diga a verdade ao fazer o reconhecimento, a autoridade
deve tomar providências para que essa pessoa não veja a que está
sendo reconhecida.
Reconhecimento de pessoas

4. Após o ato de reconhecimento, deve ser elaborado um registro


detalhado, contendo a assinatura da autoridade, da pessoa chamada
para proceder ao reconhecimento e de duas testemunhas presentes.
O registro deve ser minucioso e descritivo, incluindo todas as
informações mencionadas anteriormente, como fotos de todos os
suspeitos, numeradas e agrupadas, ou todas as fotos utilizadas e
numeradas. Isso demonstra que o procedimento foi rigorosamente
seguido.
Entrada em domicílio
A Constituição Federal estabelece a possibilidade de entrada em
domicílio sem ordem judicial prévia e sem o consentimento do
morador em casos de flagrante delito, desastre ou para prestar
socorro. No entanto, quando o morador concede seu consentimento,
é fundamental que as autoridades policiais e seus agentes coletem
evidências que comprovem que a autorização foi concedida de forma
livre e desimpedida. Nesse caso, o ônus da prova recai sobre o agente
da lei. Recomenda-se utilizar vídeos de celular, declarações escritas
assinadas pelo morador e por pelo menos duas testemunhas, registros
de oficiais de justiça ou de outras autoridades de diferentes agências
que possam ter acompanhado a diligência.
Flagrante delito
Em situações de suspeita de flagrante delito, é de suma importância
que a polícia demonstre as informações que possuía antes de realizar
a entrada em domicílio. O flagrante é, doutrinariamente, a
constatação visual direta do delito, mas outros elementos também
podem ser demonstrados, como ruídos de disparos de arma de fogo,
gritos de socorro da vítima, denúncias fundamentadas e anteriores,
vigilância e observação, abordagens de suspeitos que saíram do local
com objetos ilícitos, entre outros. A jurisprudência tem sido rigorosa
nesse aspecto, exigindo a indicação de todos os elementos
disponíveis, pois o que não consta nos autos não faz parte do
processo criminal.
Rastreadores veiculares
● Outra ferramenta útil para o acompanhamento de suspeitos é o uso de rastreadores veiculares. Existe um debate
sobre a necessidade de autorização judicial prévia para a utilização desse equipamento, havendo divergências na
doutrina. No entanto, prevalece o entendimento de que, se o aparelho é utilizado apenas para monitorar os locais
frequentados pelo réu para a prática de crimes, não é necessária a autorização judicial. No entanto, se houver
qualquer violação da privacidade do suspeito, recomenda-se que a autorização judicial seja solicitada por meio de
representação da autoridade policial ao juízo competente.

● Por exemplo, se um policial observar o carregamento de agrotóxicos ilegais e instalar o rastreador em um local
público para acompanhar o veículo e seu condutor, em uma situação de flagrante delito, o direito à privacidade não
pode ser invocado. No entanto, se o acompanhamento dos suspeitos for realizado por longos períodos e envolver
suas atividades diárias não relacionadas a qualquer crime, a solicitação de uma ordem judicial é recomendada para
garantir a validade das provas coletadas.
Síntese
● Direito processual penal

● Produção de provas

● Princípios norteadores do processo de investigação

● Reconhecimento de pessoas

● Entrada em domicílio

● Rastreadores veiculares
Referências
AURY, Lopes Jr. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2016.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2018.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2016.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2017.
GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Código de Processo Penal comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. Salvador: JusPodivm, 2017.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2017.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2017.
TOLEDO, Paulo Sérgio de. Prática forense penal. São Paulo: Saraiva, 2016.

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