Menezes Racial 5 - 01

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UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA SOBRE A ABORDAGEM DO RACISMO EM

SALA DE AULA POR MEIO DA MUSICA “IDENTIDADE”

Guilherme José Mariano, Moisés Moreira da Silva, Neide Aparecida de Arruda


Oliveira, Lúcio Mauro da Cruz Tunice.

Centro Universitário Teresa D’Ávila, Avenida Peixoto de Castro, 539, Vila Zélia – 12606-580 –
Lorena-SP, Brasil, [email protected], [email protected], [email protected],
[email protected].

Resumo - O presente trabalho pretende fomentar a discussão sobre a abordagem do racismo em sala
de aula e a importância da tratativa do assunto nas séries que compõem a Educação Básica. O objetivo
principal é apresentar uma proposta pedagógica para que professores consigam apresentar a questão
racial de forma a garantir que aconteça o envolvimento dos alunos com o tema. A importância disso se
dá pelo fator multicultural das escolas públicas e privadas no Brasil, o que foi evidenciado por meio de
revisão de bibliografia que discutiu os Direitos Humanos na escola, o multiculturalismo, o racismo na
sociedade brasileira e o uso da música para a apreensão de fatos históricos que expliquem a atual
situação. A proposta pedagógica sugere que a situação racial seja discutida com o auxílio da música
“Identidade”, do cantor Jorge Aragão. Sugere com essa proposta o envolvimento dos alunos e reflexões
necessárias para auxiliar as discussões na sala de aula.

Palavras-chave: Direitos humanos, Proposta Pedagógica, Racismo, Música.


Área do Conhecimento: Ciências Humanas.

Introdução

Tem-se discutido constantemente a importância de abordar temas que envolvam o contexto


social dos alunos no processo de ensino-aprendizagem. Sabe-se que o ambiente escolar no Brasil é
caracterizado pela heterogeneidade de culturas, credos, raças e orientações sexuais. Sendo assim, o
multiculturalismo deve ser considerado para que o aluno seja compreendido também na sua dimensão
Histórico – Político – Social. (Candau, 2008).
Uma série de temas transversais é considerada pelos PCNs – Parâmetros Curriculares
Nacionais, que seja levada em consideração na elaboração das estratégias pedagógicas das
instituições escolares públicas e privadas. A questão do racismo na escola é uma das temáticas
socioculturais observadas pelo documento, sendo que, muitas vezes, a abordagem não acontece de
forma efetiva por falta de formação de professores e respaldo dos demais membros da comunidade
escolar na defesa de tais concepções como fatores importantes no desenvolvimento do pensamento
crítico entre os alunos (1998, p.09).
Considerando a realidade em que os alunos vivem, o artigo pressupõe um questionamento
para auxiliar a preparação atual dos corpos docentes das instituições escolares: como trabalhar a
questão do racismo por meio de uma música que cative afetivamente o público adolescente? O objetivo
do trabalho é apresentar uma proposta pedagógica que possa servir de exemplo para outros
profissionais da educação básica, principalmente os que trabalham nas séries do Ensino Médio.
Também é objetivo deste trabalho propor uma reflexão à comunidade acadêmica e escolar quanto a
importância de se levar em consideração os temas transversais na elaboração de estratégias
educacionais para a educação Básica.

Multiculturalismo e Educação

Melo (2012) ainda afirma que os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs - definem o Brasil
como país carregado de grande diversidade cultural, embora nem todas as diferenças tenham sido
respeitadas ao longo do tempo. A escola, especialmente, tem se mostrado um lugar onde a discussão
sobre a multiculturalidade brasileira é calada, mesmo sendo um ambiente em que o fomento de tais
discussões deveria acontecer. Mais do que abafar, muitas vezes os educadores são agentes
disseminadores de preconceitos por intermédio de suas atividades cotidianas. Porém o autor deixa

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claro que culpar apenas o corpo docente pelo mal andamento das discussões e reflexões acerca das
demandas sociais a partir da escola é minimizar o papel do estado no fomento de tais discussões.
Para Candau (2008), a escola tem um papel social importante no desenvolvimento dos
envolvidos em suas atividades, especialmente o aluno. Sendo assim, a autora afirma que deve se levar
em consideração a realidade político-social e cultural do aluno durante todo o processo de ensino-
aprendizagem, bem como todas a outras atividades que podem ser desenvolvidas junto à sua
experiência pedagógica, uma vez que não há educação que não esteja diretamente relacionada às
questões culturais dos envolvidos.
A autora afirma que as abordagens que visam a homogeneidade dos conceitos e fogem às
questões culturais devem ser reconsideradas para que as práticas docentes possam levar em
consideração fatores importantes no que diz respeito à diversidade cultural e, portanto, racial. Tal
afirmação é baseada na forte mistura cultural que permeia os processos sociais da América latina,
especialmente do Brasil, por causa dos fatores históricos já conhecidos.
A escola é um sistema aberto que faz parte da superestrutura social formada por diversas
instituições, como: a igreja, família, meios de comunicação; faz parte do ambiente escolar das crianças
pertencentes a classes sociais, costumes, aspectos físicos, e culturais diferentes que estão em
processo de aprendizagem.

De acordo com Menezes (2003, p. 101):

Ao contemplarmos as relações raciais dentro do espaço escolar,


questionarmos até que ponto ele está sendo coerente com a sua função social
quando se propõe a ser um espaço que preserva a diversidade cultural,
responsável pela promoção da equidade. Sendo assim, aguardamos
mecanismos que devam possibilitar um aprendizado sistematizado
favorecendo a ascensão profissional e pessoal de todos os que usufruem os
seus serviços.

A escola atende aos padrões dominantes das classes consideradas superiores, os brancos
euros americanos. Essa cultura é ensinada e os que dela não fazem parte ou não se adequam são
excluídos. Vemos isso no dia a dia quando os grupos inferiores, índios e negros, sofrem, são insultados
no espaço escolar, e, dificilmente, vemos algum negro ocupando um posto elevado na sociedade.
Na perspectiva ampla de Figueiró (1996, p. 149), os temas de multiculturalismo são
fundamentais:
pode-se dizer que a viabilização dos “temas transversais” é um processo difícil,
longo, porém viável, que requer uma construção em coletividade. Os resultados
de sua aplicação podem ser bastante promissores, por se tratarem de temas
que, ao serem desenvolvidos junto aos alunos, os alunos podem levar os
professores a “se trabalharem”, ou seja, a se aprimorarem como cidadãos. Em
especial os temas de pluralidade cultural e orientação sexual são muito úteis
para ajudar professores e alunos a entenderem o processo de construção
histórico-social dos valores da sociedade, sejam eles culturais, morais e
religiosos, entre outros, para poderem participar do processo de transformação
social.

A cada dia os jovens necessitam quebrar paradigmas e tabus, conceitos que já não satisfazem
uma cultura obsoleta que tradicionalmente foi arraigada em suas mentes no passado e que isso é
preciso desconstruir hoje. Os conceitos e significados carregados de preconceitos precisam ser
retirados do vocabulário do uso e do preconceito linguístico do mundo plural e globalizado atual.
A questão do Racismo
Salaini (2012) apresenta o termo “raça” como um dos norteadores das questões relacionadas
ao problema da desigualdade social no Brasil. Exemplificando a questão com a discussão acerca das

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cotas raciais, sempre carregadas de declarações preconceituosas. O autor também explica que até o
século XIX o termo era utilizado para tratar apenas das questões relacionadas ao estudo científico do
homem. Porém, a partir de então, o termo “raça” passou a denominar as noções de hierarquização
social.
O autor ainda exemplifica as questões sociais que envolvem a questão racial como cerne de
lutas por igualdade, como as comunidades quilombolas que, seguindo toda sua história, ainda buscam
por direitos não alcançados na sociedade brasileira. Também é dado como exemplo das lutas por
direitos das minorias raciais no país, a criação do primeiro movimento negro, na década de 1930.
Salaini (2012) também apresenta uma série de estatísticas que desenham a questão racial no
país:

Em 1976, tínhamos 57,2% da população formada por brancos e 40,1% formada


por negros. Em 1987, a população de pretos e pardos aumentou para 43% da
população e, em 1996, para 44,2%. Em 2006 temos 49% da população total
residente negra (42,6% pardos e 6,9% pretos) (Salaini, 2012, p.130).

Contudo, o autor também salienta que tal crescimento da população negra não mudou sua
realidade quanto à falta de oportunidades na sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à
educação. Entre os anos de 1976 e 2006, 92% da população branca sabia ler, enquanto apenas 78%
dos negros podiam exercer tal atividade.

Música na Sala de Aula

Um dos principais aspectos que a música representa no processo de ensino-aprendizagem é


o estímulo ao uso dos sentidos pelo aluno. Qualquer experiência musical, independentemente do estilo
e dos instrumentos utilizados, promove maior habilidade de observação, localização, compreensão,
descrição e representação em quem toca e quem houve.
Pieroli (2008) salienta a importância do uso da música para a compreensão de determinados
períodos da história, bem como a historicidades das questões sociais no Brasil, incluindo aí a questão
das lutas raciais. Porém a autora afirma que deve se levar em consideração o contexto da música e do
público trabalhado, para que haja uma efetiva colaboração do gênero na apreensão dos conceitos e
ideias que se deseja trabalhar com as atividades propostas.

Metodologia

Para a elaboração dessa proposta pedagógica, foi feita revisão de literatura em livros de
autores especialistas no assunto, bem como de artigos disponíveis no Google acadêmico.
A partir das reflexões propostas por esses autores, apresentou-se uma proposta didática para
professores de Língua Portuguesa da das séries correspondentes ao Ensino Médio.

Discussão e Resultados

A evolução da luta por Direitos Humanos no mundo e no Brasil, refletida por Melo (2012),
mostra a importância das questões relacionadas ao tema em todos os ambientes sociais, os quais
precisam estar preparados para administrar demandas oriundas de diversas classes e grupos sociais.
Sobretudo a escola, que representa uma porta de entrada para a disseminação de significativos
preconceitos entre os alunos e professores. O autor também salienta a importância que os PCNs e os
temas transversais representam nessa dinâmica, porém sabe-se que certas formalidades propostas
pelos órgãos competentes não são atendidas pelas instituições escolares, seja pela negligência da
gestão ou pela falta de formação dos professores.
A questão da multiculturalidade, amplamente elucidada por Candau (2008), reforça a ideia de
que as questões raciais precisam ser abordadas em âmbito escolar, especialmente porque estão
compreendidas pelos PCNs, por meio da inclusão dos temas transversais às atividades desenvolvidas
pelo currículo. Fazer o aluno entender seu papel social, enquanto pertencente a um grupo específico,

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é importante para a construção de cidadãos comprometidos com as causas sociais e, mais do que isso,
empoeirados para lutar por seus direitos na sociedade brasileira.
Candau (2008) também deixa claro o papel da escola enquanto agente dessas transformações.
Sendo assim, também cabe a ela trabalhar para que o aluno entenda, cada vez mais, a importância
das questões relacionadas ao termo “raça”, explicados por Salaini (2012) como importante aspecto no
entendimento das questões de desigualdades raciais no Brasil. Portanto a escola tem papel
fundamental na transferência da consciência quanto à importância das questões raciais na luta por
igualdades ainda não atingidas pela sociedade brasileira.
Com isso, a questão racial, historicamente presente na sociedade brasileira, pode ser abordada
por meio de diversas músicas que são instrumentos que incentivam os alunos a entender e os motivam
a estudar o tema.

Conclusão

Destacando a importância da abordagem das questões raciais em sala de aula e levando em


consideração a importância de se criar subsídios para que educadores e comunidade escolar em geral
consigam angariar a afetividade dos alunos para os temas transversais, especialmente a questão racial,
esse trabalho propõe a abordagem do racismo por meio da música ‘’Identidade”, do cantor carioca
Jorge Aragão.
No primeiro momento, o professor deve propor aos alunos o contexto histórico sobre como
funciona o Racismo institucionalizado no Brasil, abordando desde os navios negreiros, passando pela
situação dos escravos africanos em terras brasileiras, a abolição da escravatura e sua falta de
efetivação, até chegar aos dias atuais e a situação do negro no Brasil hoje.
Nesse momento do trabalho, sugere-se que o professor de Linguagens crie espaço para a
interdisciplinaridade, sendo que o professor de História pode exercer um papel importante no
levantamento e contextualização histórica do negro no Brasil.
No segundo momento, o professor pode focar na ideia de que a abolição da escravatura deixou
severas marcas no povo brasileiro, sobretudo nos negros. Deve-se também discutir a questão do
Racismo Institucionalizado, que normaliza atitudes preconceituosas, como se fossem aceitáveis e
despercebidas. Nesse momento, o educador pode apresentar a música “Identidade”, de Jorge Aragão
e realizar a leitura da letra com os alunos e dissecar as mensagens que o compositor apresentou ao
longo dos versos e estrofes, conforme abaixo:

Identidade

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória


Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Se o preto de alma branca pra você


É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso

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Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória


Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Se o preto de alma branca pra você


É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória


Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Jorge Aragão (1992)

Na leitura das entrelinhas da música, o professor precisa deixar claro o preconceito racial e a
valorização da raça negra, consequências da falta de políticas públicas que garantam direitos e
igualdade racial entre as diversas raças que convivem na sociedade brasileira. Onde podem ser
abordadas diversas interpretações sobre o preconceito que o negro ainda sofre na sociedade e a
necessidade de autoafirmação e que, muitas vezes, o negro, para subir na vida, se esquece de sua
história, de sua origem, melhor seria respeitar seu passado e não se preocupar em subir de classe ou
casta social.
No terceiro momento, a criação de repertório para a elaboração de textos que tratem da
questão do racismo, portanto, é de extrema importância que o professor direcione os alunos a exporem
suas opiniões e, mais do que isso, administre as falas e oriente quanto aos posicionamentos incorretos,
sem violência e imposição de ideias, focando sempre no aspecto democrático da atividade.
É importante que durante abordagens complexas como essa, o professor precisa atuar
seriamente em relação às abordagens incorretas e mal embasadas que possam surgir durante a
atividade. É dever do educador que esteja consciente da importância de se falar sobre determinados
assuntos e que tenha domínio da real situação que se pretende vislumbrar com a atividade proposta.
De forma alguma uma atividade, como a proposta aqui, pode servir como um momento para
reforçar estereótipos ou expor alunos a discussões que, talvez, não estejam preparados ou motivados
a fazerem. Por isso, o papel do professor e a responsabilidade de cada palavra dita por ele devem ser
observados do início ao fim. Cabe a ele a difícil tarefa de observar cada ação dos alunos para que o
propósito da atividade não seja desviado durante a sua realização.
Por fim, concluímos que a abordagem deste artigo acentua a importância da formação de
professores e demais atores da Educação Básica para questões relacionadas aos temas transversais.

Referências

ARAGÃO. Identidade 1992. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=j59LwZB2ihw. (Acesso


em 20 de agosto de 2018).

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BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua
portuguesa. Brasília :MEC/SEF, 1998.

CANDAU, V. M. Multiculturalismo e educação: desafios para a prática pedagógica. In: Multiculturalismo:


Diferenças Cuturais e Práticas Pedagógicas. Petrópolis. 2008. p. 13 – 37.

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n. 04, p. 23-32, jan./jul. 2011. Disponível em http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br. (Acesso
em: 23 de agosto de 2018).

MELO, A. Temas Contemporâneos da relação entre educação e cultura. In: Fundamentos


Socioculturais da educação. Curitiba: Intersaberes. 2012. p. 83 – 156.

SALAINI, C. J. Sobre as teorias raciais. in: Desigualdade de Gênero, Raça e Etnia. Curitiba:
Intersaberes. 2012. p.97-112.

MENEZES, Waléria. O Preconceito Racial e suas Repercussões na Instituição


Escola. maringa.odiario.com/.../o-preconceito-racial-e-suas-repercussoes-na-.escola(Acessado em 21
de agosto de 2018).

FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação Sexual. Retomando uma proposta, um desafio. 3. ed.
Re E atual. . Londrina: Eduel, 1996.

PIEROLI, S. M. A dimensão cultural e politica na música. Londrina 2008. Disponivel em


http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/producoes_pde/md_sarita_maria_pieroli.pdf.
(Acessado em 20 de agosto de 2018).

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