Menezes Racial 5 - 01
Menezes Racial 5 - 01
Menezes Racial 5 - 01
Centro Universitário Teresa D’Ávila, Avenida Peixoto de Castro, 539, Vila Zélia – 12606-580 –
Lorena-SP, Brasil, [email protected], [email protected], [email protected],
[email protected].
Resumo - O presente trabalho pretende fomentar a discussão sobre a abordagem do racismo em sala
de aula e a importância da tratativa do assunto nas séries que compõem a Educação Básica. O objetivo
principal é apresentar uma proposta pedagógica para que professores consigam apresentar a questão
racial de forma a garantir que aconteça o envolvimento dos alunos com o tema. A importância disso se
dá pelo fator multicultural das escolas públicas e privadas no Brasil, o que foi evidenciado por meio de
revisão de bibliografia que discutiu os Direitos Humanos na escola, o multiculturalismo, o racismo na
sociedade brasileira e o uso da música para a apreensão de fatos históricos que expliquem a atual
situação. A proposta pedagógica sugere que a situação racial seja discutida com o auxílio da música
“Identidade”, do cantor Jorge Aragão. Sugere com essa proposta o envolvimento dos alunos e reflexões
necessárias para auxiliar as discussões na sala de aula.
Introdução
Multiculturalismo e Educação
Melo (2012) ainda afirma que os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs - definem o Brasil
como país carregado de grande diversidade cultural, embora nem todas as diferenças tenham sido
respeitadas ao longo do tempo. A escola, especialmente, tem se mostrado um lugar onde a discussão
sobre a multiculturalidade brasileira é calada, mesmo sendo um ambiente em que o fomento de tais
discussões deveria acontecer. Mais do que abafar, muitas vezes os educadores são agentes
disseminadores de preconceitos por intermédio de suas atividades cotidianas. Porém o autor deixa
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 1
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
claro que culpar apenas o corpo docente pelo mal andamento das discussões e reflexões acerca das
demandas sociais a partir da escola é minimizar o papel do estado no fomento de tais discussões.
Para Candau (2008), a escola tem um papel social importante no desenvolvimento dos
envolvidos em suas atividades, especialmente o aluno. Sendo assim, a autora afirma que deve se levar
em consideração a realidade político-social e cultural do aluno durante todo o processo de ensino-
aprendizagem, bem como todas a outras atividades que podem ser desenvolvidas junto à sua
experiência pedagógica, uma vez que não há educação que não esteja diretamente relacionada às
questões culturais dos envolvidos.
A autora afirma que as abordagens que visam a homogeneidade dos conceitos e fogem às
questões culturais devem ser reconsideradas para que as práticas docentes possam levar em
consideração fatores importantes no que diz respeito à diversidade cultural e, portanto, racial. Tal
afirmação é baseada na forte mistura cultural que permeia os processos sociais da América latina,
especialmente do Brasil, por causa dos fatores históricos já conhecidos.
A escola é um sistema aberto que faz parte da superestrutura social formada por diversas
instituições, como: a igreja, família, meios de comunicação; faz parte do ambiente escolar das crianças
pertencentes a classes sociais, costumes, aspectos físicos, e culturais diferentes que estão em
processo de aprendizagem.
A escola atende aos padrões dominantes das classes consideradas superiores, os brancos
euros americanos. Essa cultura é ensinada e os que dela não fazem parte ou não se adequam são
excluídos. Vemos isso no dia a dia quando os grupos inferiores, índios e negros, sofrem, são insultados
no espaço escolar, e, dificilmente, vemos algum negro ocupando um posto elevado na sociedade.
Na perspectiva ampla de Figueiró (1996, p. 149), os temas de multiculturalismo são
fundamentais:
pode-se dizer que a viabilização dos “temas transversais” é um processo difícil,
longo, porém viável, que requer uma construção em coletividade. Os resultados
de sua aplicação podem ser bastante promissores, por se tratarem de temas
que, ao serem desenvolvidos junto aos alunos, os alunos podem levar os
professores a “se trabalharem”, ou seja, a se aprimorarem como cidadãos. Em
especial os temas de pluralidade cultural e orientação sexual são muito úteis
para ajudar professores e alunos a entenderem o processo de construção
histórico-social dos valores da sociedade, sejam eles culturais, morais e
religiosos, entre outros, para poderem participar do processo de transformação
social.
A cada dia os jovens necessitam quebrar paradigmas e tabus, conceitos que já não satisfazem
uma cultura obsoleta que tradicionalmente foi arraigada em suas mentes no passado e que isso é
preciso desconstruir hoje. Os conceitos e significados carregados de preconceitos precisam ser
retirados do vocabulário do uso e do preconceito linguístico do mundo plural e globalizado atual.
A questão do Racismo
Salaini (2012) apresenta o termo “raça” como um dos norteadores das questões relacionadas
ao problema da desigualdade social no Brasil. Exemplificando a questão com a discussão acerca das
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 2
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
cotas raciais, sempre carregadas de declarações preconceituosas. O autor também explica que até o
século XIX o termo era utilizado para tratar apenas das questões relacionadas ao estudo científico do
homem. Porém, a partir de então, o termo “raça” passou a denominar as noções de hierarquização
social.
O autor ainda exemplifica as questões sociais que envolvem a questão racial como cerne de
lutas por igualdade, como as comunidades quilombolas que, seguindo toda sua história, ainda buscam
por direitos não alcançados na sociedade brasileira. Também é dado como exemplo das lutas por
direitos das minorias raciais no país, a criação do primeiro movimento negro, na década de 1930.
Salaini (2012) também apresenta uma série de estatísticas que desenham a questão racial no
país:
Contudo, o autor também salienta que tal crescimento da população negra não mudou sua
realidade quanto à falta de oportunidades na sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à
educação. Entre os anos de 1976 e 2006, 92% da população branca sabia ler, enquanto apenas 78%
dos negros podiam exercer tal atividade.
Metodologia
Para a elaboração dessa proposta pedagógica, foi feita revisão de literatura em livros de
autores especialistas no assunto, bem como de artigos disponíveis no Google acadêmico.
A partir das reflexões propostas por esses autores, apresentou-se uma proposta didática para
professores de Língua Portuguesa da das séries correspondentes ao Ensino Médio.
Discussão e Resultados
A evolução da luta por Direitos Humanos no mundo e no Brasil, refletida por Melo (2012),
mostra a importância das questões relacionadas ao tema em todos os ambientes sociais, os quais
precisam estar preparados para administrar demandas oriundas de diversas classes e grupos sociais.
Sobretudo a escola, que representa uma porta de entrada para a disseminação de significativos
preconceitos entre os alunos e professores. O autor também salienta a importância que os PCNs e os
temas transversais representam nessa dinâmica, porém sabe-se que certas formalidades propostas
pelos órgãos competentes não são atendidas pelas instituições escolares, seja pela negligência da
gestão ou pela falta de formação dos professores.
A questão da multiculturalidade, amplamente elucidada por Candau (2008), reforça a ideia de
que as questões raciais precisam ser abordadas em âmbito escolar, especialmente porque estão
compreendidas pelos PCNs, por meio da inclusão dos temas transversais às atividades desenvolvidas
pelo currículo. Fazer o aluno entender seu papel social, enquanto pertencente a um grupo específico,
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 3
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
é importante para a construção de cidadãos comprometidos com as causas sociais e, mais do que isso,
empoeirados para lutar por seus direitos na sociedade brasileira.
Candau (2008) também deixa claro o papel da escola enquanto agente dessas transformações.
Sendo assim, também cabe a ela trabalhar para que o aluno entenda, cada vez mais, a importância
das questões relacionadas ao termo “raça”, explicados por Salaini (2012) como importante aspecto no
entendimento das questões de desigualdades raciais no Brasil. Portanto a escola tem papel
fundamental na transferência da consciência quanto à importância das questões raciais na luta por
igualdades ainda não atingidas pela sociedade brasileira.
Com isso, a questão racial, historicamente presente na sociedade brasileira, pode ser abordada
por meio de diversas músicas que são instrumentos que incentivam os alunos a entender e os motivam
a estudar o tema.
Conclusão
Identidade
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 4
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Na leitura das entrelinhas da música, o professor precisa deixar claro o preconceito racial e a
valorização da raça negra, consequências da falta de políticas públicas que garantam direitos e
igualdade racial entre as diversas raças que convivem na sociedade brasileira. Onde podem ser
abordadas diversas interpretações sobre o preconceito que o negro ainda sofre na sociedade e a
necessidade de autoafirmação e que, muitas vezes, o negro, para subir na vida, se esquece de sua
história, de sua origem, melhor seria respeitar seu passado e não se preocupar em subir de classe ou
casta social.
No terceiro momento, a criação de repertório para a elaboração de textos que tratem da
questão do racismo, portanto, é de extrema importância que o professor direcione os alunos a exporem
suas opiniões e, mais do que isso, administre as falas e oriente quanto aos posicionamentos incorretos,
sem violência e imposição de ideias, focando sempre no aspecto democrático da atividade.
É importante que durante abordagens complexas como essa, o professor precisa atuar
seriamente em relação às abordagens incorretas e mal embasadas que possam surgir durante a
atividade. É dever do educador que esteja consciente da importância de se falar sobre determinados
assuntos e que tenha domínio da real situação que se pretende vislumbrar com a atividade proposta.
De forma alguma uma atividade, como a proposta aqui, pode servir como um momento para
reforçar estereótipos ou expor alunos a discussões que, talvez, não estejam preparados ou motivados
a fazerem. Por isso, o papel do professor e a responsabilidade de cada palavra dita por ele devem ser
observados do início ao fim. Cabe a ele a difícil tarefa de observar cada ação dos alunos para que o
propósito da atividade não seja desviado durante a sua realização.
Por fim, concluímos que a abordagem deste artigo acentua a importância da formação de
professores e demais atores da Educação Básica para questões relacionadas aos temas transversais.
Referências
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 5
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua
portuguesa. Brasília :MEC/SEF, 1998.
CARDIERI, E. Direitos Humanos e Formação de Educadores: Algumas Reflexões. Form. Doc., v. 03,
n. 04, p. 23-32, jan./jul. 2011. Disponível em http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br. (Acesso
em: 23 de agosto de 2018).
SALAINI, C. J. Sobre as teorias raciais. in: Desigualdade de Gênero, Raça e Etnia. Curitiba:
Intersaberes. 2012. p.97-112.
FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Educação Sexual. Retomando uma proposta, um desafio. 3. ed.
Re E atual. . Londrina: Eduel, 1996.
XXII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e 6
VIII Encontro de Iniciação à Docência - Universidade do Vale do Paraíba.