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ESTUDO DAS PRESCIÇÕES DE MEDICAMENTOS CONTROLADOS DISPENSADO


EM UMA DROGARIA NO NORTE DE MINAS GERAIS

STUDY OF PRECISIONS OF CONTROLLED DRUGS DISPENSED IN A DRUG STORE


IN THE NORTH OF MINAS GERAIS

Thiago Alves Xavier dos Santos1

1 - Coordenador e Professor dos cursos de Técnico em Farmácia e Técnico em Análises Clínicas no


Instituto Educacional Santa Cruz - IESC.

RESUMO:
A utilização de medicamentos psicotrópicos tem crescido nas últimas décadas em vários
países. Esse aumento causa diversos impacto na sociedade, com consequências
sociológicas, econômicas e sanitárias. O objetivo é analisar as prescrições de
medicamentos controlados dispensados por uma drogaria no norte de Minas Gerais. Trate-
se de um estudo observacional, quantitativo e documental das prescrições e notificações
de receitas de psicotrópicos dispensados por uma drogaria privada localizada na cidade de
Manga - MG, no período de setembro de 2017 a fevereiro de 2018. No total foram
analisadas 1388 prescrições, sendo que dessas 70,7% foram emitidas no âmbito do SUS
e 51,2% foram classificadas como legíveis. O clínico geral foi o profissional que mais
prescreveu (64,7%) e os psicotrópicos prescritos foram o clonazepam (45,7%) e a
amitriptilina (23,3%). Conclui-se que a maior parte das prescrições analisadas por este
estudo foram emitidas no âmbito do SUS por médicos clínicos gerais. Essas prescrições na
sua maioria se encontravam com uma boa legibilidade e também sua maioria atendiam as
exigências da Portaria nº 344/1998 – SVS/MS. Observou-se ainda a grande quantidade de
medicamentos que foram prescritos para o tratamento da ansiedade e depressão.
PALAVRAS-CHAVES: Aspectos Legais; Prescrições Médicas; Psicotrópicos.

ABSTRACT:
The use of psychotropic medications has grown in recent decades in several countries. This
increase has several impacts on society, with sociological, economic and health
consequences. The objective is to analyze prescriptions for controlled medications
dispensed by a drugstore in the north of Minas Gerais. This is an observational, quantitative
and documentary study of prescriptions and notifications of prescriptions for psychotropic
drugs dispensed by a private drugstore located in the city of Manga - MG, from September
2017 to February 2018. In total, 1388 prescriptions were analyzed, 70.7% of these were
issued within the scope of the SUS and 51.2% were classified as readable. The general
practitioner was the professional who most prescribed (64.7%) and the prescribed
psychotropic drugs were clonazepam (45.7%) and amitriptyline (23.3%). It is concluded that
most of the prescriptions analyzed in this study were issued within the scope of the SUS by
general practitioners. These prescriptions were mostly legible and most of them met the
requirements of Ordinance No. 344/1998 – SVS/MS. It was also observed the large amount
of medications that were prescribed for the treatment of anxiety and depression.
KEYWORDS: Legal Aspects; Medical Prescriptions; Psychotropics.

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1. INTRODUÇÃO

Os fármacos psicotrópicos agem no sistema nervoso central produzindo alterações


de comportamento, humor e cognição (ASSINI; BACK, 2017). Dentre estas substâncias
pode-se encontrar os ansiolíticos e sedativos, antipsicóticos (neurolépticos),
antidepressivos, estimulantes psicomotores, psicomiméticos, potencializadores da
cognição, anticonvulsivantes e analgésicos (RANG et al., 2007).
A utilização dos psicotrópicos tem crescido nas últimas décadas em vários países.
Esse aumento causa diversos impacto na sociedade, com consequências sociológicas,
econômicas e sanitárias. E o crescimento deve-se ao aumento da frequência de
diagnósticos de transtornos psiquiátricos em meio à população (ANDRADE; ANDRADE;
SANTOS, 2004). De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca
de 10% deste aumento é em decorrência do consumo demasiado dessas substâncias
(OMS, 2002).
Os pacientes que usam esses medicamentos precisam de um atendimento
adequado, iniciando com a prescrição médica, que deve ser clara, legível, concisa e
objetiva, com o propósito de evitar equívocos por parte dos pacientes e dos profissionais
que venham atendê-los (ARRUDA et al., 2012; DEBASTIANI; COQUEIRO, 2017). Caso o
contrário, podem ocorrer erros na prescrição e posteriormente na dispensação,
prejudicando a qualidade do tratamento do paciente (FERRARI et al., 2013; FREITAS et
al., 2020).
A Portaria Federal nº 344/1998 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério
da Saúde (SVS/MS) de 12 de maio de 1998, é o marco legal sanitário que define diretrizes
para o uso e a comercialização de substâncias e medicamentos sujeitos a controle no Brasil
(BRASIL, 1998).
As prescrições médicas desses medicamentos devem conter o nome do
medicamento com a sua concentração e a forma farmacêutica, além das devidas
orientações de utilização e ser prescrito por um profissional legalmente habilitado. Além
disso, as precisões devem vir acompanhadas das notificações de receitas que autoriza a
dispensação de medicamentos. Para a dispensação desses medicamentos todos os
elementos da receita e notificação de receita (NR) devem estar respectivamente
preenchidos de maneira legível, sem rasuras e por extenso (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2007).
Mesmo com todas as exigências e fiscalizações descritos Portaria nº 344/1998 –
SVS/MS, Torres et al. (2014) e BANDEIRA et al. (2015) descrevem que ainda há

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irregularidades no uso de medicamentos psicotrópicos pela população e estas são


relacionadas a utilização desses fármacos sem prescrição médica, falsificação da NR, falta
de orientação e preparo dos profissionais de saúde resultando no uso irracional destes,
podendo provocar dependência física e/ou psíquica.
Diante esse exposto, o presente estudo tem como objetivo analisar as prescrições
de medicamentos psicotrópicos dispensados em uma drogaria no Norte de Minas.

2. METODOLOGIA

2.1 Tipo e local da pesquisa

Trate-se de um estudo observacional, quantitativo e documental das prescrições e


notificações de receitas (NRs) dos medicamentos controlados dispensados por uma
drogaria localizada na cidade de Manga - MG, no período de setembro de 2017 a fevereiro
de 2018. O presente município localiza-se na região Norte do estado de Minas Gerais,
situado a 14° 45’ 21” de latitude Sul e a 43° 55’ 55” longitude Oeste, distante a 710 km da
capital do estado, Belo Horizonte. A população da cidade é de aproximadamente 18.407
pessoas, ocupando uma área de 1.950 km² (SANTOS et al., 2020).

2.2 Procedimento e instrumento de coleta de dados

Os dados foram coletados através da análise das prescrições e das NRs dos
medicamentos controlados dispensados, sendo as variáveis consideradas para o estudo:
sexo dos pacientes, origem das prescrições (público ou privado), presença de informações
nos receituários conforme a Portaria nº 344/1998 – SVS/MS, forma como foi aviada
(manuscrita ou digitada) e legibilidade das mesmas, além dos medicamentos prescritos e
a especialidade do profissional prescritor. Foram desconsideradas as prescrições inferiores
a setembro de 2017 e superior a fevereiro de 2018, além das que não continham
medicamentos contemplados pela Portaria nº 344/1998 – SVS/MS.

2.3 Processamento e análise de dados

Os dados coletados foram analisados e interpretados através de estatísticas


descritivas com auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS

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versão 22) e os resultados apresentados em médias e frequências.

2.4 Comitê de Ética em Pesquisa

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade


Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, sob o parecer de número 2.896.790, sendo
respeitados todos os critérios exigidos pela resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde que normatiza as pesquisas com seres humanos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total foram analisadas 1388 prescrições e NRs de medicamentos controlados,


com a média mensal de 231 ± 16 prescrições. Destas 57,2% foram prescritas para
pacientes do sexo feminino. Semelhante a esse estudo, Assini; Back (2017) também ao
fazerem essa mesma analise em drogarias na cidade de Monte Carlo – SC, constaram um
maior número prescrições para pacientes do sexo feminino (68,8%) em relação ao
masculino (31,1%). As mulheres são tidas como as mais são afetadas por doenças
psíquicas, principalmente a depressão, e ainda buscam com mais frequência os serviços
de saúde em relação aos homens (JARDIM, 2011; FERREIRA et al., 2014).
Ao se avaliar a origem das prescrições e NRs, observou-se que 70,7% foram
oriundas Sistema Único de Saúde (SUS) e 29,3% de consultórios ou clinicas particulares.
Um estudo conduzido por Reis; Matos; Melo (2017) em drogarias em Forquilha – CE,
também verificaram uma maior porcentagem (87,7%) de prescrições oriundas do sistema
público de saúde. Sales et al. (2019) constata que SUS é a principal forma de acesso de
maneira gratuita à saúde pela maior parcela da população brasileira, em especial em cidade
de pequeno porte.
De acordo com a Portaria nº 344/1998 – SVS/MS uma prescrição ou NR de
psicotrópico deve conter os dados do paciente, informações sobre o medicamento prescrito
e sobre o profissional prescritor (BRASIL, 1998). Com relação aos dados dos pacientes,
observou-se que 95,4% das prescrições apresentavam o nome completo do paciente e
apenas 4,9% seu respectivo endereço (Tabela 1). Contrário dos achados por esse estudo,
Cazarotti et al. (2019) encontraram em apenas 2,3% das prescrições e ou NRs
apresentavam o nome completo do paciente e 45,6% não constavam o endereço do
paciente.

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Tabela 01 - Distribuição percentual quanto à presença ou ausência de informações nas


prescrições ou NRs de medicamentos controlados dispensados por uma drogaria no norte
de Minas Gerais (n=1388).

Variáveis n %

Dados dos pacientes

Nome completo do paciente 1325 95,4

Endereço do paciente 69 4,9

Informações sobre o medicamento

Dose ou Concentração 1381 99,5

Forma Farmacêutica 1301 93,7

Posologia 1386 99,8

Via de administração 1152 83,0

Quantidade de medicamento 1020 73,5

Informações do prescritor

Identificação de prescritor 1388 100

Data da prescrição 1306 94,1

Os medicamentos prescritos são da responsabilidade do prescritor, que estabelece


a dosagem, posologia e quantidade a ser utilizada pelo paciente; a dispensação é do
farmacêutico, tendo como função básica garantir a necessidade, segurança, eficácia do
tratamento medicamentoso de acordo com o que foi prescrito (FREITAS et al., 2020). Além
disso é importante se ter todas as informações sobre o medicamento para garantir o uso
racional pelo paciente.
No que se diz respeito a informações do prescritor conforme exigências da Portaria
nº 344/1998 – SVS/MS, 100% das prescrições apresentavam essas informações, ou seja,
nome do prescritor, endereço, telefone e o número do conselho profissional (Tabela 1). Já
a data da emissão constava em 94,1% das prescrições (Tabela 1). É importante evidenciar
que as informações do prescritor facilitar o contato do farmacêutico em caso de dúvidas ou
ocorrência de problemas relacionados ao uso do medicamento prescrito (GALATO et al., 2008).

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A maior parcela (68,6%) das prescrições ou NRs foram escritas à mão e apenas
31,4% foram digitadas. Cardoso et al. (2017) encontraram dados semelhante ao desse
estudo, onde cerca de 66,6% das prescrições analisadas estavam na forma manuscrita.
Vale salientar ainda que a maioria das prescrições e NRs avaliadas por esse estudo foram
provenientes do sistema público de saúde (87,7%), onde ainda existem deficiência no
processo de informatização das prescrições. Martins et al. (2014) apontam que quando
comparadas às prescrições digitadas, as manuscritas apresentam um risco 6,3 vezes maior
de possuir um problema.
De acordo com os critérios elaborados por Silvério; Leite (2010), as prescrições são
classificadas em: Legível: aquela lida normalmente, sem problema ou gasto de tempo além
do normal para se entender o que está escrito; Parcialmente legível: aquela em que há um
gasto maior de tempo para interpretar a prescrição, não existindo a certeza de que todas
as palavras, números, símbolos e abreviaturas foram entendidos corretamente; e Ilegível:
aquela em que, independentemente do tempo gasto, for impossível de entender o que está
escrito, sendo necessário entrar em contato com o profissional prescritor. De acordo com
essa classificação 51,2% das prescrições foram classificadas como legíveis, 33,1% como
pouco legíveis e 15,8% como ilegíveis.
Ao analisarem NRs em uma drogaria na cidade de Poções – BA, Debastiani;
Coqueiro (2017) classificaram 94,0% como legíveis e apenas 6,0% como ilegíveis,
resultados que corroboram aos apresentados pelo presente estudo. A falta de legibilidade
compromete o resultado do tratamento medicamentoso (BANDEIRA et al., 2015).
Observar-se que 64,7% das prescrições ou NRs foram feitas por médicos clínicos
gerais e vale salientar que apenas 14,7% por médicos psiquiatras (Gráfico 1). Tais
resultados são semelhantes aos dos estudos de Reis; Matos; Melo (2017), Silva;
Linartevichi (2019), Leal; Gois; Nunes (2020) na qual houve a maior predominância de
prescrições aviadas por médicos clínicos gerais (72,9%), (78,7%) e (85,4%),
respectivamente. Com aumento da procura pelos serviços básicos de saúde, faz com os
médicos clínicos gerais, que possuem a sua formação inicial como generalista, preste
cuidados na integralidade ao invés de encaminhar para outras especialidades como
necessário (NETO et al., 2014).

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Gráfico 01 - Distribuição percentual quanto à especialidade do profissional prescritor nas


prescrições ou NRs de medicamentos controlados dispensados por uma drogaria no norte
de Minas Gerais (n=1388).

Das 1388 prescrições analisadas, 79,1% foram prescritos pelo o nome da


substância ativa e 20,9% pelo nome comercial. Corroborando com esses dados, Júnior
(2015) observou que a maior dos medicamentos dispensado por uma drogaria em Colíder
– MT, cerca de 52,0% foram prescritos com o nome comercial e 48,0% com o nome da
substância ativa. O resultado encontrado pode ser justificado, visto que a maior parte das
prescrições dispensadas foram emitidas no âmbito do sistema público de saúde (70,7%) e
de acordo com a Lei nº. 9787/1999, a qual estabelece que as prescrições emitidas pelo
SUS devem estar com o nome da substância ativa (JÚNIOR, 2015; SANTOS et al., 2020).
A OMS recomenda que 100% das prescrições devem ser feitas pelo nome das substancias
ativas para garantir o acesso do paciente ao medicamento, porém para isso ocorra na
totalidade se faz necessário a conscientização dos profissionais prescritores (CARAZOTTI
et al., 2019).
A classe dos benzodiazepínicos que é prescrito e acompanhando com a NR do tipo
B1, observou-se que essas representavam cerca 19,9% (n=276) dos dados analisados
(n=1388). Dentre os benzodiazepínicos, o clonazepam (n=126) foi mais prescrito, seguido
por diazepam (n=54) e alprazolam (n=43) (Gráfico 2). Dados da 2ª edição do Boletim de

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Farmacoepidemiologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de 2011,


mostra que o clonazepam e o alprazolam foram as formulações industrializadas de maior
consumo no Brasil por 4 anos seguidos (2007 a 2011) (ANVISA, 2011). Estudos conduzidos
por Reis, Matos, Melo (2017), Carazotti et al. (2019) e Lima et al. (2020) também mostram
o clonazepam como o benzodiazepínico mais prescrito.

Gráfico 02 - Distribuição absoluta dos benzodiazepínicos dispensados de acordo com as


notificações de receita B1 por uma drogaria no norte de Minas Gerais. (n=276)

O grande uso do clonazepam é devido ao seu efeito imediato contra ansiedade e a


depressão, com isso faz com que os médicos não especialistas, prescrevam como primeira
escolha, uma vez que o clonazepam é considerado um coadjuvante no tratamento destas
(CAZAROTTI et al., 2019; SILVA et al. 2020).
Na categoria dos fármacos antidepressivos (A), a amitriplina apresentou o maior
número de prescrição (n=108) que representou 23,3% dos medicamentos prescritos dessa
classe (Figura 1-A). Ao analisarem prescrições em drogarias Assini; Back (2017), Carazotti
et al. (2019) e Soares et al. (2019) relataram também a amitriplina como o antidepressivo
mais prescrito 14,7%, 5,9% e 34,0%, respectivamente.

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Figura 1: Frequência absoluta dos psicotrópicos dispensados por uma drogaria no norte de
Minas Gerais, classificados segundo a classe terapêutica em: antidepressivos (A),
antipsicóticos (B), antiepiléticos (C) e outras classes (D). (n=1112)

O uso superior da amitriptilina pode ser justificado pelo fato desse medicamento ter
um baixo custo, boa eficácia e fazer parte da Relação Nacional de Medicamentos Essências
(RENAME) e ainda os pacientes fazem o tratamento por vários meses ou anos (GRASSI;
CASTRO, 2014; SOUSA; SILVA; LIMA, 2016; MEDONÇAO; SILVA, 2018).
Dentre os antipsicóticos (B) a risperidona foi o mais prescrito (n=65) seguido da
tioridazina (n=63), ambos os fármacos representaram 49,6% do total de prescrições da
classe (Figura 1-B). Em estudos semelhantes conduzidos por Carazotti et al. (2019) e Claro
et al. (2020) a risperidona esteve também entre os fármacos mais prescrito, porém em
percentual menor que a desse estudo (8,4%) e (1,5%) respectivamente.

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Os antipsicóticos de segunda geração representaram um grande avanço no


tratamento medicamentoso nas últimas décadas, dentre essa classe de medicamentos
encontra-se a rispiridona. Esse medicamento é indicado para o tratamento de
esquizofrenia, transtorno bipolar e para pacientes com Alzheimer em escala de moderado
a grave que (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).
Entre os medicamentos que atuam como antiepiléticos (C) a carbamazepina foi a
mais prescrita (27,8%) dessa classe (Figura 1-C). Carazotti et al. (2019), Claro et al. (2020)
e Leal; Gois; Nunes (2020) também constataram uma maior quantidade de prescrição de
carbamazepina entre os fármacos antiepiléticos em seus estudos. No tratamento com
antiepiléticos deve-se priorizar a monoterapia, com o objetivo de minimizar os seus efeitos
adversos, sendo assim o maior número de prescrição de carbamazepina está ligado
diretamente ao fato desse fármaco ser o mais utilizado em crises epilépticas (YACUBIAN,
2017; LEAL; GOIS; NUNES, 2020).
Na categoria outras classes (D) constatou-se a presença de prescrições de
medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES), hipnóticos, analgésicos opioides
e anticolinérgicos (Figura 1-D), o fármaco com associação entre o paracetamol e codeína
foi mais prescrito (21,4%). Esse medicamento é um dos principais para tratamento de
diversos tipos de dores, particularmente para as moderadas a intensas, especialmente
decorrentes de traumas, de pós-operatório, de neuralgias e de lombalgias (KOPF; PATEL,
2010).
Pode-se ainda evidenciar com os dados dos medicamentos (Figura 1), que os
fármacos com ação antidepressiva (n=463) apresentaram o maior número de prescrições,
seguidos dos antipsicóticos (n=258) e antiepiléticos (n=223). A depressão, ansiedade e
estresse estão entre as patologias psíquicas com grande prevalência no mundo, com isso
gerando um aumento de prescrições desses psicofármacos (ALDUHISHY, 2018).
É importante destacar que a prescrição medicamentosa em serviços de saúde é
muito frequente. Por isso, estudos sobre a prática de prescrição de medicamentos devem
ser realizados a fim de melhorar orientar medidas de vigilância e controle das prescrições,
visando a utilização racional de medicamentos e a ainda otimização de recursos
financeiros, visto que possíveis erros nas prescrições são maleficiais tanto para o paciente
quanto para o sistema de saúde. Tais erros ao tratamento farmacológico do paciente,
podem ir desde a ineficácia do fármaco e, portanto, seu tratamento não evolui
positivamente, passando mais dias afastado de suas atividades e família, até uma
intoxicação ou comprometimento de órgãos que poderiam levar ao óbito.

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4. CONCLUSÃO

Conclui-se que a maior parte das prescrições analisadas por este estudo foram
emitidas no âmbito do SUS por médicos clínicos gerais. Essas prescrições na sua maioria
se encontravam com uma boa legibilidade e também sua maioria atendiam as exigências
da Portaria nº 344/1998 – SVS/MS. Observou-se ainda a grande quantidade de
medicamentos que foram prescritos para o tratamento da ansiedade e depressão.

5. REFERENCIAS

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Autor para correspondência:


Thiago Alves Xavier dos Santos
E-mail: [email protected]
Instituto Educacional Santa Cruz (IESC), Montes Claros, Minas Gerais.
Recebido: 22/08/2021 Aceite: 17/11/2021

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