O Contexto de Texto de Apoio

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O conceito de texto de apoio aos professores enquanto produto educacional dos mestrados profissionais

O conceito de texto de apoio aos professores


enquanto produto educacional dos mestrados
profissionais
Cristiano da Silva Buss*

Resumo
O presente artigo traz uma preocupação relativa à falta de definição dos Produtos Educacionais
do tipo “Texto de Apoio aos Professores”, produzidos nos Programas de Pós-Graduação Profis-
sionais. Através de uma investigação realizada com o auxílio da plataforma Google Acadêmico,
identificou-se que, apesar de muitos tipos de Produtos serem construídos e nomeados das mais
diferentes maneiras pelos pesquisadores, os Textos de Apoio representam um formato muito
usual na área de Ensino. Ao se fazer a análise mais aprofundada, percebeu-se que não há uma
preocupação com a conceituação de tal Produto por parte dos autores. Por isso, propõe-se uma
primeira tentativa de descrição e atribuição de sentidos do Produto Educacional do tipo Texto
de Apoio ao Professor.

Palavras-chave: Mestrado Profissional. Produto Educacional. Texto de Apoio. Professor.

*
Doutor em Educação em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da
Vida e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); Mestre em Educação e Licenciado em Física
pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecno-
logia Sul-rio-grandense (IFSul), Campus Pelotas – Visconde da Graça (CAVG). Pelotas, RS, Brasil. E-mail:
[email protected]. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5164-8016.

https://doi.org/10.5335/rbecm.v5i2.13179
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0
Recebido em: 19/11/2021; Aceito em: 27/07/2022
ISSN: 2595-7376

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Cristiano da Silva Buss

Introdução

Os Mestrados Profissionais foram implantados, no Brasil, por meio da Portaria


Nº 47, de 17 de outubro de 1995, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES). O propósito era promover versatilidade no modelo de
Pós-Graduação, possibilitando que alguns programas pudessem ser dirigidos mais
diretamente à formação profissional. Dessa forma, intencionava-se que houvesse,
pelo menos, o alcance de dois objetivos. O primeiro era o de que as pesquisas fossem
mais diretamente aplicadas aos objetos de estudo e ao campo profissional do mes-
trando. A ideia seria que o trabalho tivesse uma estrutura que pudesse “articular
as atividades de ensino com as aplicações de pesquisas, em termos coerentes com seu
objetivo, de forma diferenciada e flexível”. (BRASIL, 1995, p. 147). O segundo fazia
referência ao relatório de conclusão de curso que, não necessariamente deveria ter
as características de uma dissertação acadêmica, mas, sim, do relato da constru-
ção e execução da pesquisa aplicada. Tal instrumento poderia assumir diferentes
formatos, a fim de que tivesse um uso mais direto no tratamento de dificuldades
encontradas no ambiente de trabalho do próprio pesquisador. Assim, a referida
Portaria estabelecia uma maior possibilidade de alternativas ao trabalho final:
De acordo com a natureza da área e com a proposta do curso, esse trabalho poderá
tomar formas como, entre outras, dissertação, projeto, análise de casos, performance,
produção artística, desenvolvimento de instrumentos, equipamentos e protótipos.
(BRASIL, 1995, p. 147).

Os Mestrados Profissionais receberam muitas críticas por parte das universidades


e dos pesquisadores, na sua criação. Na época, a Pós-Graduação buscava uma maior
afirmação no cenário acadêmico e o Mestrado Profissional poderia abrir possibilidade
de formações aligeiradas, publicações de qualidade duvidosa e inserção de instituições
com pouca tradição em pesquisa no campo da pós-graduação. Mesmo sob forte julga-
mento, esse tipo de mestrado suportou as animosidades e se estabeleceu no cenário
acadêmico. Isso porque, um dos motivos da resistência é a sua específica intenciona-
lidade de capacitar trabalhadores das mais distintas áreas do conhecimento. Além
disso, diferentemente dos Mestrados Acadêmicos, sua proposta incentiva estudos
que estejam relacionados à solução de problemas e à produção de uma pesquisa, que
é, na verdade, a elaboração de um produto, processo ou protótipo caracterizado pela
sua aplicação direta, no mercado de trabalho dos próprios estudantes.

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Atualmente, os Mestrados Profissionais são uma realidade e estão não só conso-


lidados, mas em franca expansão no Sistema Nacional da Pós-Graduação (SNPG).
A Avaliação Quadrienal de 2017, realizada pela CAPES (BRASIL, 2017a) mostrou
que, no período considerado pelo instrumento, enquanto os cursos de Mestrado e
Doutorado Acadêmico apontaram um crescimento de, cerca de 17% e 23%, respec-
tivamente, os Mestrados Profissionais tiveram uma evolução de 77%.
Conforme já mencionado, uma das características marcantes dos Mestrados
Profissionais está vinculada ao trabalho de conclusão, que deve ser apresentado
pelo estudante. O artigo sétimo, da Portaria Normativa Nº 17, de 28 de dezembro
de 2009 salienta que essa estrutura pode assumir diferentes formatos:
[...] dissertação, revisão sistemática e aprofundada da literatura, artigo, patente,
registros de propriedade intelectual, projetos técnicos, publicações tecnológicas;
desenvolvimento de aplicativos, de materiais didáticos e instrucionais e de produ-
tos, processos e técnicas; produção de programas de mídia, editoria, composições,
concertos, relatórios finais de pesquisa, softwares, estudos de caso, relatório técnico
com regras de sigilo, manual de operação técnica, protocolo experimental ou de
aplicação em serviços, proposta de intervenção em procedimentos clínicos ou de
serviço pertinente, projeto de aplicação ou adequação tecnológica, protótipos para
desenvolvimento ou produção de instrumentos, equipamentos e kits, projetos de
inovação tecnológica, produção artística, sem prejuízo de outros formatos, de acordo
com a natureza da área e a finalidade do curso, desde que previamente propostos e
aprovados pela CAPES. (BRASIL, 2009, s/p).

Entre os vários setores sociais que tiveram sua atenção atraída pela plausibili-
dade de ofertar Mestrados Profissionais, a área de Ensino de Ciências foi uma das
mais destacadas. Essa possibilidade adveio em função da organização e constituição
da Área de Ensino de Ciências e Matemática na CAPES, em setembro de 2000, que
ficou conhecida como Área 46. A oferta de Mestrados Profissionais, na área de Ensino
de Ciências e Matemática, vinha suprir uma demanda de professores da Educação
Básica, que “vislumbravam uma possibilidade de se desenvolverem profissionalmente
por meio da participação em programas de pós-graduação”. (BAROLLI; VILLANI;
MAIA, 2017, p. 3). Ao mesmo tempo, proveria uma necessidade premente de que
os programas acadêmicos em Educação em Ciências e as respectivas pesquisas ge-
radas pelos Mestrados e Doutorados Acadêmicos não estavam trazendo impactos
significativos no sistema escolar e, em especial, na sala de aula. (MOREIRA, 2004).
Em junho de 2011, através da Portaria da CAPES 83/2011, a Área 46 passou
a ser denominada Área de Ensino, incorporando todos os programas de pós-gra-

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duação da antiga Área de Ensino de Ciências e Matemática, bem como suas refe-
rências e experiências de organização e avaliação. (BRASIL, 2017b). No momento
da criação da Área 46, sua constituição era composta por 30 cursos de Mestrados
Profissionais e, atualmente, esse número já é de 95 (BRASIL, 2019b). Por ser uma
proposta diferente do Mestrado Acadêmico, o Mestrado Profissional em Ensino
tem sua preocupação voltada, principalmente, para a formação dos professores dos
Ensinos Fundamental e Médio. A intenção é a qualificação destes profissionais e,
consequentemente, a promoção da “evolução do sistema de ensino, seja pela ação
direta em sala de aula, seja pela contribuição na solução de problemas dos sistemas
educativos”. (MOREIRA, 2004, p. 134).
Devido a essa característica de ser uma formação de cunho específico à Educação
Básica, o Mestrado Profissional em Ensino está voltado à aplicação do conhecimen-
to. Em outras palavras, a pesquisa realizada nessa modalidade de Pós-Graduação
deve ser focalizada no “desenvolvimento de produtos e processos educacionais que
sejam implementados em condições reais de ensino”. (BRASIL, 2016, p. 13). Desse
modo, o(a) mestrando(a) produz, ao longo do curso, uma dissertação e um Produto
Educacional. Isso porque, a dissertação é o documento que relata a concepção,
a construção e a aplicação do Produto Educacional, devidamente referenciado,
segundo as normas e critérios da produção científica. Já o Produto Educacional é
uma obra independente da dissertação e consiste em um material que possui uma
forma e um conteúdo de ensino, que pode ser utilizado por outros(as) profissionais.
Marques et al. (2020) vão afirmar que o Produto Educacional é o principal agente
do Mestrado Profissional em Ensino. Assim, todas as ações do(a) orientador(a) e
do(a) orientando(a) visam ao desenvolvimento de tarefas, que terão como resultado o
Produto Educacional propriamente dito e uma dissertação que contempla o relatório
de trabalho e pesquisa. (MARQUES et al. 2020).
Os documentos oficiais dão conta de que o Produto Educacional no Mestrado
Profissional em Ensino pode assumir diversas formas. Evidentemente, ele deve
estar voltado à melhoria do ensino na área em que o pesquisador atua e necessita
de ser aplicado durante o Curso, além de que a sua versão final deve estar num
formato que possibilite que outros(as) professores(as) possam utilizá-lo, tanto no
seu formato original, quanto com adaptações para as suas realidades específicas. O
Documento Orientador de APCN (Avaliação das Propostas de Cursos Novos) para
a Área de Ensino, por exemplo, publicado pela CAPES, em 2019, traz várias possi-

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bilidades para o Produto Educacional, tais como, sequência didática, jogos, vídeos,
aplicativos, equipamentos, videoaulas e outros. (BRASIL, 2019a).
Em virtude da importância que o Produto Educacional assume dentro do Mes-
trado Profissional em Ensino, muito material tem sido gerado. Esses instrumentos
são disponibilizados nos sítios dos Programas de Pós-Graduação ou em outros Repo-
sitórios Digitais, aos(às) educadores(as) e Escolas. Entre a diversidade de Produtos
Educacionais, o Texto de Apoio aos Professores tem sido muito recorrente. Uma
prova disso é o trabalho de Souza, Rezende e Ostermann (2017) que, ao analisar os
trabalhos de conclusão do Mestrado Profissional em Ensino de Física da UFRGS,
percebeu o grande número de Produtos de natureza “Texto de Apoio”. Da mesma
forma, Nascimento (2016) e Nascimento, Ostermann e Cavalcanti (2017), em suas
pesquisas, apontam que, das 91 dissertações produzidas pelo Mestrado Nacional
Profissional em Ensino de Física (MPEF), entre 2002 e 2014, 53% dos Produtos são
na forma de “Textos de Apoio”.
Mas, afinal, o que é um “Texto de Apoio para Professores”? Como ele pode ser
conceituado? Quais são as suas características? De outro modo, como os pesquisa-
dores têm definido os Produtos do tipo “Texto de Apoio aos Professores”? O escrito
que segue tem o objetivo de justamente verificar como tal Produto Educacional
vem sendo abordado pelos(as) autores(as) do cenário acadêmico. Através de uma
investigação elementar, verificou-se, panoramicamente, o uso dos Textos de Apoio
aos Professores e, principalmente, buscou-se perceber como tal Produto Educacio-
nal vem sendo conceituado. A seguir, de posse de dados levantados e na falta de
definição, apontou-se para uma primeira tentativa de deliberar e atribuir sentidos
ao “Texto de Apoio aos Professores”.

Percurso metodológico e algumas constatações

Pela relevância que os Textos de Apoio aos Professores têm assumido enquan-
to Produto Educacional, a partir da consolidação dos Mestrados Profissionais em
Ensino, é oportuno tentar saber como a academia tem lidado com a definição de
tal Produto. Dessa forma, iniciou-se uma investigação a respeito do termo, que foi
realizada através de uma consulta, por meio da ferramenta Google Acadêmico. O
Google Acadêmico foi criado em 2004 e, desde 2006, oferece a versão brasileira que
permite a possibilidade de pesquisas em língua portuguesa. Trata-se de uma base

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de dados que reúne publicações científicas das mais diferentes áreas, em um único
espaço. Também conhecido pelo nome original, o Google Scholar possui um acervo
que inclui trabalhos oriundos da literatura acadêmica, que compreende artigos
científicos, dissertações, teses, resumos, jornais de universidades e, até mesmo,
livros das mais diversas línguas e áreas do conhecimento. A vantagem de pesquisar
nessa plataforma é que seus filtros excluem postagens de blogs, propagandas e de
outros sites, sem relevância científica. Por isso, tal instrumento tem sido, cada vez
mais, um importante aliado no trabalho de pesquisadores dos mais diferentes níveis.
Sobre isso, Buss (2017) aponta reflexões substanciais, no que tange ao deslocamento
do conceito de biblioteca e à importância do uso dos bancos eletrônicos no trabalho
de investigação científica.
Ao utilizar o Google Acadêmico para levantar informações a respeito do que
tem sido escrito sobre os “Textos de Apoio aos Professores”, não se pretendia fazer
um estudo aprofundado do tipo estado da arte ou revisão da literatura. A ideia era,
justamente, traçar um panorama sobre o tema e uma tentativa de entender, de
modo geral, como o conceito tem sido usado pela comunidade científica. Por isso,
outras bases de dados e repositórios não foram consultados. Assim, na segunda
quinzena de junho de 2020, foram usados os descritores “texto de apoio” e “produto
educacional”, como palavras-chave da pesquisa. O algoritmo do sistema Google
Acadêmico encontrou 239 resultados nessa busca e os textos selecionados passaram
a ser avaliados, individualmente.
De todos os trabalhos trazidos pelo sistema, dez não puderam ser acessados.
Isso ocorreu, pois, possivelmente, estavam corrompidos ou com o link desatualizado.
Além disso, um documento que tratava de uma lista de ementas de disciplinas foi
desprezado. Outros estavam repetidos e, por isso, foram contabilizados uma única
vez. No final, 223 foram separados para a análise. Desse total, havia um livro, três
Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), 19 artigos, 23 Produtos Educacionais, 26
Dissertações e 151 Dissertações, que continham, no corpo do texto, o seu respectivo
Produto Educacional.
A primeira preocupação deste levantamento foi verificar se os Produtos Educa-
cionais do tipo “Texto de Apoio aos Professores” apareciam em número significativo.
Evidentemente, que se esperava uma boa quantidade de trabalhos nessa modalidade,
pois, como a finalidade era verificar como tais Produtos vêm sendo caracterizados,
“Texto de Apoio” foi uma das palavras-chave utilizadas na pesquisa. Entretanto, o

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segundo descritor empregado tinha justamente o desígnio de filtrar outros tipos de


documentos no formato de Produto Educacional, para que fosse possível realizar
uma espécie de contraponto. Assim, cada um dos 174 Produtos selecionados pelo
Google Acadêmico nessa investigação (23 Produtos Educacionais avulsos mais
151 que estavam acompanhados das suas próprias Dissertações) passaram a ser
analisados. De imediato, percebeu-se uma grande variedade na nomenclatura dos
Produtos Educacionais. Para tentar entender e aprofundar um pouco o espectro
dessa peculiaridade encontrada, os trabalhos foram catalogados e separados, a fim
de tentar extrair deles as formas e as terminologias utilizadas.
A maior quantidade de tipos de Produtos Educacionais encontrados nessa análise
foram Texto de Apoio e Sequência Didática com 47 e 46 referências, respectivamente.
Outros nomes de Produtos que também apareceram destacadamente foram Unidade
de Ensino Potencialmente Significativa (UEPS) (11 vezes), Material de Apoio (9
vezes), Jogo Didático ou Pedagógico (7 vezes) e Unidade Didática e Manual (6 vezes
cada um). Os demais tiveram menos citações, mas, ao todo, foram identificados 57
nomes diferentes atribuídos aos Produtos Educacionais analisados. Uma nuvem de
palavras que compreende os termos usados pelos(as) autores(as) ao se referirem
aos seus Produtos Educacionais é apresentado na figura a seguir:

Figura 1: Nuvem de Palavras dos Produtos Educacionais encontrados na análise.

Fonte: elaborado pelo autor.

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Esse diagnóstico foi, de certa forma surpreendente, pois destacou uma mul-
tiplicidade tipológica de Produtos Educacionais nominadas por uma quantidade
admirável de títulos. Não foi encontrada uma uniformidade ou padronização dos
Produtos. Em outras palavras, cada um dos(as) autores(as) parece ter nomeado o seu
Produto Educacional baseado em convicções pessoais, pois não foi possível identificar
a existência de um acordo de ou um consenso entre as características ou funciona-
lidades dos Produtos e os seus respectivos nomes classificativos. Evidentemente,
não é desejável que haja modelos a serem seguidos ou formatos padronizados ou
preestabelecidos, mas essa abundância de títulos pode estar apontando para o fato
de haver uma confusão entre os(as) pesquisadores(as) sobre o Produto Educacional
e as suas concernentes intencionalidades e abrangências.
A fim de exemplificar o que foi apontado, foi possível constatar que, em 64
trabalhos, as designações variavam, ou seja, os(as) autores(as) não mantinham o
nome ou a tipologia do seu Produto Educacional, chamando-os ora por um termo,
ora por outro. Em outros 12 trabalhos sequer foi possível saber como o Produto
Educacional era nominado. Além disso, também a título de exemplificação, foram
encontrados Produtos designados de modo muito parecido, tais como Proposta de
Ensino, Proposta Didática, Estratégia Didática e Atividade Didática. Diante de tal
observação, cabe a indagação: quais seriam as distinções entre eles? Ou ainda, con-
forme foi encontrado, Material Didático, Material de Apoio e Material Instrucional:
no que diferem? Quais as suas peculiaridades? Quais características intrínsecas a
cada um poderia permitir díspares denominações?
Essa aquarela de nomes não é funcional e certamente pode trazer dúvidas e
confusões. Imaginemos que um(a) professor(a) da Educação Básica necessite de
algum subsídio para compor seu repertório didático, a fim de preparar uma aula ou
um conjunto de aulas sobre um determinado tópico de sua disciplina. Ele(a) então
decide visitar os Repositório de Produtos Educacionais, com o objetivo de encontrar
alguma ideia ou ferramenta que possa suprir suas necessidades pedagógicas. Como
será que ele(a) agiria na escolha de materiais, ao se deparar com essa fartura de
títulos e tipos de Produtos? Novamente, como pretexto à reflexão, será que ele(a)
saberia a diferença entre Unidade de Aprendizagem e Proposta de Ensino?
É importante ressaltar que tal multiplicidade não é de todo tão ruim, pois essa
característica salienta a capacidade criativa dos(as) pesquisadores(as), frente a um
sem-número de situações de ensino e de aprendizagem, que estão sendo estuda-

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das nos Programas de Pós-Graduação Profissional. No entanto, seria importante


que houvesse definições para um melhor entendimento do propósito, do alcance e
das características de cada um desses tipos de Produtos. A principal finalidade no
Mestrado Profissional na área de Ensino é a concepção, a aplicação e a posterior
disponibilização de Produtos Educacionais para os mais diversos usos, por parte
dos(as) professores(as). No entanto, produzir um Caderno Didático ou um Mate-
rial Instrucional, por exemplo, sem que haja uma definição do que sejam esses
materiais, acaba por dificultar o entendimento e o atendimento daqueles(as) que
farão uso de tal Produto. Além disso, tal atitude favorece a criação de uma cultura
de imprecisão, de buscas às cegas, de tentativas e erros e um costume de que as
definições são desnecessárias.
É importante destacar, ainda, um fator positivo encontrado em algumas situa-
ções, que está relacionado ao cuidado dos(as) autores(as) em incluir um texto de
apresentação nos Produtos Educacionais, descrevendo e ressaltando as funciona-
lidades do Produto. Esse artifício auxilia a escolha de um Produto e orienta a sua
utilização, mas não minimiza a necessidade de uma discussão sobre as definições dos
Produtos. Fazer a análise dos tipos de Produtos Educacionais nomeados pelos(as)
autores(as) e seus respectivos focos, atributos e designações, foge do escopo desse
texto e, portanto, essas percepções serão deixadas, aqui, apenas como predicados
encontrados e como proposta de um estudo futuro. Por ora, retomo a proposta ori-
ginal do artigo.
Como a preocupação era buscar o entendimento que os(as) autores(as) têm sobre
o conceito de “Texto de Apoio aos Professores”, ou seja, a relação e o modo como vem
sendo tratadas as suas possíveis definições ou significados, a tarefa passou a ser
a procura da referida expressão, nos 223 trabalhos pinçados, na busca do Google
Acadêmico. O objetivo dessa etapa era verificar a existência de possíveis definições
ao termo e, por isso, era interessante localizá-los nos escritos. Com o auxílio da fer-
ramenta “Localizar”, que está disponível para arquivos com extensão pdf, páginas de
internet e demais editores de texto, foi feita a verificação da sentença, em cada um
dos trabalhos. Como resultado, percebeu-se que o termo Texto de Apoio foi reportado,
pelo menos uma vez, em 220 trabalhos, somando um total de 1262 menções, o que
dá uma média de quase seis citações, em cada documento considerado. O gráfico a
seguir mostra o número de trabalhos relativos à quantidade de vezes que o termo
Texto de Apoio é citado, em cada um dos documentos:

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Gráfico 1: Relação entre o número de trabalhos e a quantidade de citações do termo “Texto de


Apoio”.

Relação entre o número de trabalhos e a quantidade de


citações do termo "Texto de Apoio"

86
Número de Trabalhos

33
22
13 14
3 8 7 5 3 2 3
0 3 2 1 0 2 0 3 0 0 3 0 1 1 1 0 1 1 0 1 0 0 1 0 1 1 1
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
41
54
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9

159
Quantidade de vezes que o termo "Texto de Apoio" é mencionado

Fonte: elaborado pelo autor.

De acordo com o que foi possível verificar a partir dos trabalhos analisados,
é interessante perceber que, somente em três documentos, a expressão “Texto
de Apoio” não é mencionada ao longo da escrita. O algoritmo de busca do Google
Acadêmico certamente selecionou estes registros, porque as palavras “Produto
Educacional”, também usadas como descritores na pesquisa, estavam presentes em
alguma parte rastreável dos arquivos. Com pelo menos uma referência à expressão
“Texto de Apoio”, foram encontrados 86 trabalhos, o que corresponde a 38,57% dos
documentos analisados. Ainda é possível perceber uma quantidade considerável
de materiais com duas, três, quatro e até oito alusões à sentença, ao longo de seus
textos. Documentos com nove, dez ou mais menções ao termo em questão são poucos,
mas, mesmo assim, foram encontrados materiais que citaram mais de 20 e, alguns,
mais de 30 vezes a expressão “Texto de Apoio”. Para não apresentar um elemento
não textual muito grande e, consequentemente, com uma fonte muito pequena,
o gráfico foi encerrado em número de trabalhos com até 35 referências ao termo.
Depois desses, chamam a atenção três arquivos com abundante número do uso da
expressão “Texto de Apoio”: um deles com 41 registros da sentença, um com 54 e,
ainda, outro com uma quantidade de 159 citações, ao longo do escrito.
Sobre estes três documentos, especificamente, o primeiro (OLIVEIRA, 2018) é
um Produto Educacional e o segundo (OLIVEIRA, 2012) é uma dissertação com o

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seu respectivo Produto Educacional. Nestes, a expressão Texto de Apoio é utilizada


ao longo do texto e no cabeçalho de cada uma das páginas do Produto Educacional,
o que, de certa forma, justifica o número elevado de aparições. O terceiro (NAS-
CIMENTO, 2016) é uma dissertação, que faz a análise de Produtos Educacionais
desenvolvidos num Mestrado Profissional em Ensino de Física. Por ter verificado
muitos documentos e como o Texto de Apoio é um artifício bastante comum nos
Mestrados Profissionais, o uso do referido termo foi contumaz ao longo da escrita.
Embora tenha-se percebido o uso recorrente do termo “Texto de Apoio” nos
documentos analisados, em nenhuma das 1262 citações utilizadas foi verificada
a preocupação de definir ou dar significado à expressão. Reconhecemos que essa
não é uma prática usual, pois os próprios artigos e documentos orientadores so-
bre o assunto não se preocupam em fazer uma definição dos eventuais Produtos
Educacionais. Porém, eles apenas sugerem diferentes possibilidades, sem nenhum
compromisso com a atribuição de sentidos. Entre alguns exemplos sobre o que está
sendo abordado, podemos mencionar a Portaria Normativa Nº 17, de 2009, já citada
anteriormente, cuja lista de alternativas é imensa. Da mesma forma, o artigo de
Moreira e Nardi (2009) sugere que o Produto Educacional “deve ter a forma de um
texto sobre uma sequência didática, um aplicativo, um CD, um DVD, um equipa-
mento [...]” (p. 4). Outro texto que também traz uma lista de opções é o Documento
de Área 2013, da CAPES, que trata da avaliação trienal (2010 – 2012), relativa
à área de Ensino. Nele, é percebida a mesma prática, ou seja, apenas são dados
exemplos de sugestões de Produtos Educacionais: “[...] uma sequência didática,
um aplicativo computacional, um jogo, um vídeo, um conjunto de vídeoaulas, um
equipamento, uma exposição etc.” (BRASIL, 2013, p. 25). Essa mesma redação é,
curiosamente, encontrada na página 15, do Documento de Área – Ensino de 2019
(BRASIL, 2019b) e na página 4, do Documento Orientador de APCN (Análise de
Propostas de Cursos Novos) da Área de Ensino de 2020. (BRASIL, 2020). É bastante
inusitado que a redação tenha sido mantida ao longo de quase uma década, sem que
houvesse uma preocupação em reformular os tipos de Produtos sugeridos e, muito
menos, em definir cada um deles.
É possível que essa postura centralizada dos documentos em fornecer um leque
de opções de Produtos Educacionais, sem o devido cuidado com as definições, tenha
encorajado os(as) autores(as) a nominarem seus trabalhos, sem a preocupação de
conceituar ou dar um sentido mais específico naquilo que constroem. Pode ser, por

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outro lado, que alguns termos se encontrem tão naturalizados nos Programas de
Pós-Graduação que os(as) pesquisadores(as) estejam usando-os com uma ideia de
senso comum, imaginando que toda a comunidade de educadores(as) detenha os
significados, as nuances e as diferenças presentes em cada um dos tipos de Produ-
tos, que são disponibilizados nos Repositórios Digitais. Ocorre que a definição de
um Produto Educacional é importante para que, tanto o(a) autor(a) quanto os(as)
leitores(as) tenham noção de qual é o seu propósito, o seu alcance e a suas possibi-
lidades. Desse modo, na tentativa de contribuir com o debate em torno do assunto,
serão traçadas algumas definições acerca do termo “Texto de Apoio aos Professores”,
apontando características de sua funcionalidade. A intenção é estabelecer um pri-
meiro conceito, uma tentativa de definir tal possibilidade de Produto Educacional,
na perspectiva de contribuir com a comunidade de educadores(as). Talvez, o que
venha a ser exposto a partir daqui não seja a melhor atribuição de sentidos, mas
é, pelo menos, uma primeira iniciativa para que a comunidade acadêmica assuma
a postura de discutir a definição do “Texto de Apoio aos Professores”, enquanto
Produto Educacional, bem como a de outros Produtos.

O Texto de Apoio aos Professores: função, sentido e


significado

O primeiro passo dado para a construção de um conceito ou sentido para o termo


Texto de Apoio foi analisar a expressão nas suas partes individuais: Texto e Apoio.
Refletir sobre o significado de cada uma dessas palavras é um fator importante
para o entendimento e, para isso, foi utilizado o dicionário on-line de português
Dicio. O Dicio é uma ferramenta de procura digital, na forma de um glossário, que,
segundo sua equipe de desenvolvimento, compreende mais de 400 mil palavras e
apresenta não só o significado e a definição de termos, mas também a classificação
gramatical, etimológica, bem como traz sinônimos, antônimos, e outros dados para
cada palavra buscada. (7GRAUS, 2020). De acordo com o Dicio, foi possível perceber
que a expressão Texto representa um “conjunto organizado de palavras, expressões,
frases de uma língua, que, escrito por um autor, compõe uma obra, livro, documento
etc.” (TEXTO, 2020, s/p). Assim, um texto compreende uma sequência de frases
escrita originalmente por alguém, em uma determinada língua, com o intuito de
comunicar, expressar ou provar uma certa ideia, opinião, preceito ou tese. Ao mesmo

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tempo, Apoio seria um “suporte ou base; aquilo que se utiliza para sustentar, para
amparar ou para fixar alguém ou alguma coisa.” (APOIO, 2020, s/p). Representa
uma ajuda oferecida a alguém, um auxílio, um respaldo ou um subsídio para que,
a partir desse, a pessoa possa executar seu planejamento ou tarefa.
O texto é um dos mais importantes meios de funcionamento e articulação da
língua na nossa sociedade. “O texto é uma materialidade fundamental através da
qual o homem se significa, é significado e atribui sentidos para o real” (MACHADO,
2019, p. 28). Ele pode ser considerado uma unidade de sentido, um tipo específico
de discurso que é produzido por um(a) ou mais locutores(as) e que será endereçado,
direcionado a um(a) ou mais leitores(as) que farão a sua interpretação. O texto,
portanto, tem um direcionamento que estabelece uma organização interna entre
os(as) autores(as) e os(as) destinatários(as). Para o termo que estamos analisando,
o Texto liga-se através da proposição de à palavra Apoio, estabelecendo uma relação
de subordinação entre elas. Em seguida, essa expressão recebe, dentro do contexto
aqui analisado, o endereçamento: aos Professores. Em outras palavras, a função
primeira do Texto de Apoio aos Professores é justamente prestar uma ajuda, uma
assistência e/ou um incentivo. Tal benefício é oferecido por um ou mais indivíduos
que, partindo de seus conhecimentos e experiências, destinam essa contribuição
aos seus pares por meio de palavras escritas.
Apesar desse ordenamento, linguisticamente um texto vai mais além e estende
seus significados “não na soma dos sentidos emitidos pelas palavras que o compõem,
nem no conjunto de enunciados que o constituem, mas na articulação dos elementos
e características que o formam, uma vez que ele é resultado das condições em que
foi produzido.” (VAL; VIEIRA, 2005, p. 37). Nessa perspectiva, o “Texto de Apoio
aos Professores”, produzido por um(a) pesquisador(a) com a intencionalidade de
que ele seja um Produto Educacional, é um instrumento interacionista. O processo
de sua construção tem abertamente uma finalidade dialógica entre indivíduos que
compartilham identidades e constituições profissionais semelhantes. Isso pode ser
entendido pois, de um lado, temos os(as) autores(as) que, normalmente, são docentes
que estão produzindo o Produto Educacional, a partir de um problema de ensino
ou aprendizagem por eles(as) constatados. (BUSS, 2019). E, de outro, os(as) profes-
sores(as) que buscam o Produto Educacional, tanto para qualificar suas práticas,
quanto para abarcar problemas semelhantes aos enfrentados pelos(as) autores(as).

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Assim, tanto os(as) locutores(as), quanto os(as) destinatários(as), participam da


produção de sentidos conjuntamente, através do assunto que lhes seja comum. É
nessa perspectiva que o(a) autor(a) de um Texto de Apoio aos Professores “seleciona
e organiza os recursos linguísticos que lhe parecem mais adequados para produzir
sobre seus interlocutores os efeitos que deseja.” (VAL; VIEIRA, 2005, p. 38). Essa
produção se realiza amparada no seu conhecimento de mundo, nas suas condições
de produção, autorizado pela sua condição social, política e cultural e com o auxílio
de um arsenal gramatical, que lhe permita se expressar da maneira que melhor
lhe convém.
Desta forma, um “Texto de Apoio aos Professores”, enquanto Produto Educacional
produzido em um Mestrado Profissional na Área de Ensino, pode ser considerado
uma estrutura escrita, elaborada e estabelecida a partir de um problema pedagógico
ou de aprendizagem, identificado e estudado por um(a) professor(a) numa situação de
ensino formal ou não formal. Tal estrutura, nessas condições, foi formatada durante
o Curso de Pós-Graduação Profissional e aplicada num ambiente real de ensino e
aprendizagem. Sua versão final fica disponibilizada em Repositórios Digitais, a fim
de ser consultada e utilizada por outros(as) colegas. Seu direcionamento objetiva,
principalmente, servir de auxílio e de embasamento para que outros(as) professo-
res(as) preparem e ministrem suas aulas ou seus projetos de ensino e aprendizagem.
O “Texto de Apoio aos Professores” tem, portanto, a função de orientar os(as)
docentes em relação a um determinado conteúdo ou a um conjunto de conteúdos, que
compõem o conhecimento inerente a alguma disciplina, num determinado período
escolar. É preferível que seja apresentado de modo que permita aos(às) professo-
res(as) uma abordagem mais aprofundada e distinta daquelas encontradas nos
livros didáticos. Deveria ser conceitual, instigante, rico em exemplos, de modo que
entrelaçasse conceitos de outras disciplinas ou áreas. Precisaria trazer possibilidades
de capacitar e de subsidiar os(as) professores(as) no quesito conhecimento, sugerindo
ações que permitam que tais conteúdos sejam colocados em prática pedagógica, seja
essa curricular ou extracurricular.
Por conseguinte, de modo prático, um “Texto de Apoio aos Professores” não se
estrutura como uma ou mais aulas prontas, ou seja, usar tal documento diretamente
como uma espécie de material didático não deveria ser a primeira intenção possível
desse Produto. Também não se caracterizaria como uma ou mais atividades que
os(as) professores(as) repassariam aos alunos, como forma de exercícios, projetos,

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trabalhos ou atividades práticas. Esse tipo de texto é, em síntese, um material de


consulta, inspiração e estudo para os(as) professores(as). É praticamente uma troca
de experiências, uma vez que seja muito provável que os(as) autores(as) e os(as)
interlocutores(as) participem das mesmas preocupações e anseios, no que diz res-
peito às dificuldades e desafios inerentes ao ensino e à aprendizagem presentes no
contexto educacional.

Considerações finais

Conforme apontado ao longo do texto, Os Programas de Pós-Graduação Profis-


sionais têm cumprido o seu papel, no que diz respeito à identificação, ao estudo e à
produção de alternativas para os problemas intrínsecos ao ensino e à aprendizagem
no contexto da educação formal e não formal. Basta uma consulta às ferramentas de
buscas e aos Repositórios Digitais para perceber que os(as) autores(as) de Produtos
Educacionais têm apresentado um grande conjunto de possibilidades de suporte e
atendimento aos (às) professores(as) que desejam agir, no sentido de se qualificar e
não permitir “aquele que certamente é o maior dos problemas da educação brasilei-
ra: a não aprendizagem por parte do aluno”. (BUSS; MACKEDANZ, 2017, P. 125).
Percebeu-se, nesse estudo, que os Produtos Educacionais são concebidos nos
mais diferentes formatos e titulados dos mais distintos feitios. Tal cenário indica
que não está se seguindo arquétipos de Produtos, o que demonstra uma grande
capacidade criativa por parte dos pesquisadores. Entretanto, o fato de os Produtos
Educacionais serem nomeados sem uma preocupação, com definições precisas em
relação as suas especificidades, seu alcance e suas funcionalidades, acaba por in-
centivar uma prática não científica. Esse processo impulsiona uma cultura que não
preza por determinar o real sentido de um documento, bem como não apontado suas
funções, compromissos e limites. Além disso, tais procedimentos incitam a criação
de nomenclaturas muito parecidas, que podem vir a gerar dúvidas e escolhas im-
precisas por parte de quem deseja utilizar os Produtos Educacionais.
Em relação, especificamente, ao Texto de Apoio aos Professores, o presente escrito
demonstrou que sua utilização, enquanto Produto Educacional, é bastante frequente
e que a expressão participa de modo reiterado nos artigos e nas dissertações da
área de Ensino. Entretanto, embora muito popular, não foi possível encontrar uma
definição para a sentença, em todos os materiais analisados. Assim, investiu-se na

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produção de sentido e significado do termo “Texto de Apoio aos Professores”, en-


quanto um Produto Educacional que é fruto de estudos e pesquisas dos Programas
de Pós-Graduação Profissionais. Destacou-se que o Texto de Apoio é um material
de auxílio aos(às) professores(as), cuja abordagem deve estar direcionada ao apro-
fundamento de um determinado assunto, tema, ou conteúdo de uma disciplina. Sua
função é instrumentalizar os(as) professores(as) para que tenham a possibilidade
de construir e ampliar seus conhecimentos, além de expandir o repertório de suas
práticas pedagógicas. Em nenhum momento, desejou-se uma definição estanque,
categórica e terminal, mas um primeiro movimento para que a comunidade cien-
tífica possa se inserir na prática de esclarecimento e determinação dos Produtos
Educacionais construídos.

The concept of support text to the teachers as an educational


product of the professional master's

Abstract

This article raises a concern regarding the lack of definition of Educational Products of the Sup-
port Text for Teachers type produced in Professional Graduate Programs. Through an investiga-
tion carried out with the help of the Google Academic platform, it was identified that although
many types of Products are constructed and named in different ways by researchers, the Sup-
port Texts represent a very common format in the field of Education. Upon further analysis, it was
noticed that there is no concern with the conceptualization of such Product on the part of the
authors. Therefore, it is proposed a first attempt at description and attribution of meanings of the
Educational Product of the Teacher Support Text type.

Keywords: Professional Master's. Educational Product. Support Text. Teacher.

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