4ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Estado de Goiás
Comarca de Goiânia
Protocolo: 5136117-25
Recorrente: Célia Maria de Deus
Recorrido: Banco Itau S/A
Comarca de origem: Goiânia – 1º Juizado Especial de Goiânia
Juiz relator: Felipe Vaz de Queiroz
JULGAMENTO POR EMENTA (artigo 46, Lei nº 9.099/95)
EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. SERVIÇOS BANCÁRIOS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FRAUDE. FALSA CENTRAL DE ATENDIMENTO.
FORTUITO INTERNO. RISCO DA ATIVIDADE BANCÁRIA. SÚMULA 479 DO STJ.
PREVALÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DANO MATERIAL E MORAL
CONFIGURADOS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
1. Aplicam-se, ao caso em tela, as disposições do Código de Defesa do Consumidor, de acordo
com a Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça. Assim, a prova da regularidade das
operações deveria ter sido produzida pelo banco, fornecedor dos serviços, conforme dispõe o
artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor.
2. Em se tratando de relação de consumo, a responsabilidade do prestador de serviços por falha
na prestação de serviço é objetiva, e somente é afastada quando o fornecedor: provar que, tendo
prestado o serviço, o defeito inexiste (CDC, art. 14, § 3º, I e II); demonstrar a existência de fortuito
externo (fato inteiramente estranho à atividade desempenhada) ou a culpa é exclusiva do
consumidor ou de terceiros.
3. Assim, que para que surja o dever de indenizar na relação consumerista, basta a constatação
do dano sofrido pelo consumidor e o nexo causal existente entre ele e a conduta do fornecedor.
4. A teoria do risco do negócio ou atividade é a base da responsabilidade objetiva do Código de
Defesa do Consumidor, devendo proteger a parte mais frágil da relação jurídica, o consumidor.
Isso porque, como se sabe, a segurança dos serviços prestados constitui típico risco do
empreendimento desenvolvido pela parte recorrida, não podendo ser transferido a terceiros.
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
Documento Assinado e Publicado Digitalmente em 15/03/2024 08:41:19
Assinado por FELIPE VAZ DE QUEIROZ
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5. Note-se que a falsa central de atendimento contatou a parte autora/recorrente, sendo que a
atendente estava munida dos dados pessoais e cadastrais da parte autora, a fim de assegurar
que se tratava realmente de uma atendente da central da instituição financeira.
6. Assim, demonstrada a vulnerabilidade do sistema de segurança da instituição financeira, que
permitiu que terceiros acessassem a conta bancária da autora/recorrente, a partir de outro
dispositivo, e realizasse transferência, em curto espaço de tempo e de modo incompatível com o
padrão de movimentação da conta, oportunidade em que a adoção de sistema de segurança
mais eficaz pelo banco poderia ter evitado a fraude ou minimizado o prejuízo.
7. Ademais, a parte recorrida não movimentava a conta bancária, conforme demonstram os
extratos anexados aos autos, inclusive acreditava se tratar de conta-salário, o que comprova que
a transferência efetuada foge totalmente ao perfil da cliente.
8. Dessarte, não há dúvidas de que houve falha na prestação de serviço, pois é dever da
instituição financeira adotar mecanismos de segurança que protejam a seguração dos clientes.
Ademais, preconiza o enunciado da súmula de nº 479 do Superior Tribunal de Justiça: "As
instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo
a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias."
9. Dessa forma, diante do conjunto probatório colacionado aos autos, a instituição financeira tem
responsabilidade perante o dano suportado pela parte autora/recorrente no caso, sobretudo
porque a situação descrita demonstra de maneira inequívoca que o serviço ofertado pela parte
recorrida não conferiu a segurança que dele o consumidor poderia esperar. Precedente 3ª Turma
Recursal, RI 5566058.05, Juiz Relator Roberto Neiva Borges, 13/09/2022; 1ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais, RI 5448875-30, Juíza Relatora Stefane Fiuza Cançado Machado 13/03/2022.
10. Portanto, a parte recorrida não se desincumbiu de sua obrigação processual quanto à
comprovação de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora, consoante
normativa estampada no art. 373, inciso II do CPC, tendo em vista que não restou comprovado a
responsabilização do consumidor. Restam configurados o ato ilícito e a necessidade de
declaração de inexistência do débito.
11. Ressalta-se que, transtornos experimentados pela parte recorrente, dão ensejo ao dano
moral, tendo em vista que restaram configurados incômodos e aborrecimentos que excedem a
condição de mero dissabor, caracterizando o dano passível de indenização. Até porque, infere-se
que a parte autora inclusive registrou Boletim de Ocorrência e reclamação junto ao site "Reclame
aqui", assim como tentou solucionar administrativamente o ocorrido perante a instituição
financeira, porém sem êxito.
12. O valor fixado a título de indenização por danos morais deve cumprir a função de, senão
reparar, ao menos minorar o mal causado, devendo ser observado, na fixação do quantum, os
requisitos da proporcionalidade, razoabilidade e efetividade, levando sempre em conta a condição
financeira do ofensor, inclusive para efeito de evitar que volte a reiterar na conduta violadora dos
direitos do consumidor.
13. Na hipótese dos autos, mostra-se razoável e adequado o valor de R$ 4.000,00 (quatro mil
reais) a título de compensação pelos danos morais, ante a consideração de que tal quantia
permite reparar o ilícito sem transformar-se em fonte de enriquecimento sem causa.
14. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO, reformando-se a sentença para declarar a
inexistência do débito descrito na inicial (R$ 3.980,00), bem como para condenar a parte recorrida
ao pagamento de indenização a título de danos morais no importe de R$4.000,00 (quatro mil
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reais), corrigidos monetariamente pelo INPC a partir do arbitramento (STJ, súmula 362) e
acrescidos de juros de mora (1%) desde o evento danoso (STJ, súmula 54).
15. Sem condenação da recorrente ao pagamento das custas recursais e honorários
advocatícios, nos termos do art. 55, da Lei nº 9.099/95.
ACÓRDÃO
Acordam os componentes da Quarta Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis do
Estado de Goiás, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso inominado e dar-lhe
provimento, na conformidade da ementa transcrita.
Votaram, além do relator, os Juízes de Direito Élcio Vicente da Silva e Pedro Silva
Corrêa.
Goiânia, datado e assinado digitalmente.
Felipe Vaz de Queiroz
Relator
F7
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
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