Etnografia Com Imagens - Práticas de Restituição

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ETNOGRAFIA COM IMAGENS: práticas de restituição

Ana Luiza Carvalho da Rocha1

Cornelia Eckert2

Resumo: A restituição é uma ação ética, prática da pesquisa etnográfica. A partir das
experiências de formação científica em dois núcleos de pesquisa em antropologia
visual na UFRGS, refletimos sobre as aprendizagens nos exercícios de etnografia com
imagens e descrevemos formas de socializar as pesquisas com imagens.
Palavras-chave: Etnografia; restituição; imagem; narrativas.

Abstract: Reporting is an ethical action, practice of the ethnographic research.


Through the experience of scientific training in two research centers in visual
anthropology at UFRGS, we reflect upon the learning process inherent to
ethnographical exercises with images and we describe forms of socializing researches
with images.
Keywords: Ethnography; reporting; image; interlocutors; narrative.

1 Professora da Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo, e antropóloga na UFRGS, Porto


Alegre, RS. Coordenadora do Banco de Imagens e Efeitos Visuais neste âmbito. E-mail:
[email protected] .
2 Professora do Departamento de Antropologia e PPGAS IFCH UFRGS, Porto Alegre, RS.

Coordenadora dos núcleos Antropologia Visual e Banco de Imagens e Efeitos Visuais neste
âmbito. E-mail: [email protected] .

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. Etnografia com imagens: práticas de restituição. Tessituras,
Pelotas, v. 2, n. 2, p. 11-43, jul./dez. 2014.
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Imagens narradas, mediando restituições

A restituição da pesquisa antropológica é um compromisso ético da


prática da etnografia. Um ato não só de contra-dom que nos ensinou Marcel
Mauss ao fundar a antropologia simbólica a partir da teoria da reciprocidade
(MAUSS, 1922), mais do que isso, ação de interlocução na “trama simbólica
da cultura”. Esta tradição ética orienta a comunidade antropológica na
responsabilidade de construção de conhecimento crítico e reflexivo pela
partilha do patrimônio etnográfico, que é público, “porque a significação o é”
(GEERTZ, 1984, p. 17).
No campo da antropologia e imagem ou antropologia visual, as
práticas de descrição interpretantes dos processos de pesquisa etnográfica
contam com a obra da imagem como uma aliada para a prática da
reciprocidade e restituição. Seja por demanda do próprio grupo, seja pelo
consentimento individual solicitado para a pesquisa com suportes
audiovisuais, as imagens se situam como patrimônio etnográfico das
diversidades socioculturais.
No que é hoje postulado para o ofício da antropologia, a grafia da luz
das diversidades socioculturais superou os projetos reacionários de
perspectivas exotizantes da pesquisa etnocêntrica na construção de um
Outro antropologizado e chega à contemporaneidade com disposições
dialógicas consentidas de enfrentamento das determinações ideológicas e
coercitivas e alcança qualidades de convivência social e responsabilidade
política de complexidade planetária. Das imagens testemunhais de gênero
realista de Bronislaw Malinowski dos melanésios em Trobriand (1976
[1922]) são hoje inúmeros os estudos que refletem sobre o lugar da imagem
na restauração da inteligibilidade da ação do Outro, como sugere Marilyn
Strathern sobre os barock, para quem as imagens são autoconhecimento
refletido (2014, p. 223).
A partilha das imagens, da concepção à restituição, foi uma ação
criativa e revolucionária no âmbito da disciplina com a consolidação da

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denominada antropologia compartilhada internacionalizada na obra de Jean


Rouch, o cineasta-antropólogo francês. Imbuído do talento fílmico operando
a câmera “subjetiva”, o pesquisador biografa a ação de atores sociais, amigos
nigerianos, na construção de suas “identidades narrativas” (RICOEUR,
1991). Um “acompanhamento fenomenológico” (PIAULT, 2009, p. 163) em
que Rouch, e seus amigos africanos participam do processo etnográfico
fílmico. De fato é o tema da alteridade que se coloca de outra forma, ora
distanciamento, ora familiarização, o que importa, evidenciando os esforços
de Jean Rouch junto às comunidades africanas, é o diálogo constante, a
conversação engajada, a continuidade das trocas nas múltiplas situações
interativas (PIAULT, p. 164-165) e, claro, importa reconhecer a conjuntura
mundial de um cinema politizado (cine-olho, cine-verdade, cine-novo, cine-
neorealista, cine-transcultural) no qual divulga sua obra.
Dialogar em torno das imagens a serem captadas, os pontos de
observação, os lugares de escuta, as disposições técnicas (luz,
enquadramento, plano de proximidade até um close) implicam em
concordâncias, em rejeições, em negociações, em consentimentos das pessoas
implicadas no drama da pesquisa até as frustrações em face do roteiro guia
imaginado e interrompido pelas recusas e os imponderáveis da pesquisa, ou
as expertises em face do improviso e da emoção.
O processo de restituição da etnografia com imagens se coloca para
nós com um compromisso com a memória intrageracional, de outro modo,
com um museu imaginário dinamizado pela extroversão de coleções de
imagens restituindo aos pesquisados no presente e às futuras gerações “um
quadro compósito das esperanças e temores da espécie humana, a fim de que
cada um nele se reconheça e se revigore” (DURAND, 1998, p. 106), projeto
que temos denominado de etnografia da duração (ECKERT e ROCHA,
2013c).
Como professoras e pesquisadoras de antropologia audiovisual, no
contexto acadêmico, compartilhamos da coordenadoria de dois núcleos de
formação para o qual temos nos inspirado com as instâncias da

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aprendizagem propostas por Sara Pain (1988) ao entender que, para a


formação do discente, o mestre deve partir de um desafio múltiplo que
promove “situações de aprendizagem” em que o(a) aluno(a) deve “intervir
globalmente”, construindo o desafio do conhecimento como um “jogo
dramático do saber”. A pedagoga orienta a aplicação de uma série de
estruturas lógicas, na aventura do aprendizado pela atividade criativa. Já
escrevemos sobre os desafios de situações de ensino-aprendizagem nas
disciplinas de Antropologia Visual e da Imagem, que cultivamos no âmbito
da universidade (ECKERT e ROCHA, 2014). No ensino da antropologia
visual, a reflexão sobre o tema da restituição nos é cara e se investe como
ressonância da experiência viva da temporalidade observada, escutada,
filmada, fotografada, gravada, vivida junto as pessoas e grupos pesquisados
nas produções fotográficas, videográficas, sonoras e gráficas (escritas, blogs,
desenhos, pinturas, instalações, etc.). Uma experiência divulgada pela arte
do saber-fazer etnográfico que narra à imaginação produtora do
conhecimento partilhado sempre em fluxo.
Também refletimos alhures sobre a partilha da escrita etnográfica
como processo de restituição. Tendo por referência a obra de Jacques
Rancière e seu estudo sobre a estética e política, segundo o qual o ato da
escrita é ato de partilha do sensível (modos do fazer, modos do ser e do dizer)
pode-se recolocar alguns dos dilemas que vive a Antropologia em termos das
possibilidades da escrita etnográfica configurar-se como uma partilha do
sensível entre os próprios pesquisadores em antropologia. Neste ínterim ao
se colocar as diferenças da etnografia fora do trabalho de campo e no interior
da escrita interpretativa (o corpo da letra) propõe-se a escrita antropológica
como “coisa política” porque recoloca o diálogo entre civilizações nos termos
das relações entre, por um lado, um conjunto comum partilhado de saberes
e, por outro, a sua divisão em partes exclusivas (saberes tradicionais/saberes
científicos, o que pertence ao “nativo”/o que pertence ao etnógrafo) (ROCHA
et al., 2008, p. 1-2).
Considerando que é do campo da etnografia com imagens que práticas

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de restituição se consolidaram como ação ética e política de ressonância do


conhecimento da imagem do Outro e de sí-mesmo na interação, relatamos
neste artigo práticas que desejamos se somarem aos múltiplos esforços de
circulação das interpretações antropológicas.
Sem cair na armadilha de que teremos o controle das formas de
acolhimento da pesquisa, almejando antes uma abertura para novas
experiências, relatamos empenhos acadêmicos de circulação dos fatos
etnográficos como processos de restituição, uma vez que “o que é comunicado
[...] é, para além do sentido de uma obra, o mundo que ela projeta e que
constitui seu horizonte” (RICOEUR, 1994, p. 119), mas cuidando para
respeitar os acertos de consentimentos informados e as fontes de referências
das obras citadas. Não há idealização para estas contrapartidas, ou modelos
de recepção. Talvez não nos furtemos da ambição de aspirar comover os
interlocutores pelo conhecimento afetivo, não só por promover
democraticamente o acesso as imagens de si, mas por visibilizar os desígnios
intencionais nas experiências de campo e de como os que “etnografam” são
afetados pela responsabilidade de mediar mundos conceituais. Desta feita
nos conformamos com o que propõe Paul Ricoeur em A metáfora viva ao
tratar das obras literárias, plagiando sua proposta adaptada para as
etnografias visuais: “as obras literárias trazem também à linguagem uma
experiência e assim vêm ao mundo como qualquer discurso” (RICOEUR,
1994, p. 120), mas por certo um discurso vivo e corrente que pressupõe uma
compreensão ativa (BAKHTIN, 1978, p. 89). Trata-se do dialético processo
de subjetivação/objetivação da experiência que nos ensina Georg Simmel
(1987) a que não escapamos na filiação institucional (universitária) em suas
funcionalidades, o que não invalida a almejada “fusão de horizontes” nas
dinâmicas de recepção da narrativa imagética pelo público que tem
assegurada sua liberdade de interpretar, de ficcionalizar pela ação humana
criativa e imaginativa de todos nós.

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As imagens nos habitam

Se somos habitados por imagens, é pelas imagens que buscamos


restituir a experiência etnográfica. O postulado é de Gastón Bachelard
(1984) em quem nos inspiramos para ousar, no horizonte que nos é
proporcionado ao trabalho de antropologia visual, restituir narrativas com
imagens pelo qual a investigação etnográfica pode ser contada, recitada,
refazendo a trama das intersignificações do tempo vivido na interação da
pesquisa.
Em dois núcleos do nosso trabalho cotidiano acadêmico no Programa
de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, privilegiamos a formação em antropologia com imagens de alunos de
graduação e pós-graduação, no NAVISUAL e no BIEV. A circulação dos
trabalhos seguem os suportes que a mídia contemporânea proporciona. Em
especial destacamos o portal do projeto Banco de Imagens e Efeitos Visuais
www.biev.ufrgs.br e a publicação da revista científica e eletrônica
Iluminuras, acessível pelo portal http://seer.ufrgs.br/iluminuras/ .

A expografia como contexto de restituição: a experiência do


Navisual (UFRGS)

O núcleo de antropologia visual, apelidado de Navisual, se constituiu


como um projeto coletivo dos docentes do PPGAS. Esta filosofia de abertura
às diversas linhas de pesquisa que caracterizam o programa para a
formação, segue como meta do projeto. Com reuniões semanais,
pesquisadores são incentivados aos desafios da pesquisa antropológica com a
produção de imagens. Hoje já com 25 anos de atividade, podemos numerar
as tradicionais formas de divulgação das experiências de aprendizagens:
teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso, produção de vídeos,
produção de cds e dvds, apresentações orais e de pôsteres nos eventos

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científicos, reuniões acadêmicas, oficinas, etnografias de rua, participação


em redes sociais virtuais, exposições de fotografias e exibição dos
documentários em congressos, em reuniões de Ongs, associações de bairros,
movimentos sociais, etc. Mas uma prática, que nos é cara, será tema da
nossa contribuição neste artigo: a expografia de narrativas fotográficas que
temos denominado de narrativas etnofotográficas.
O espaço institucional é da universidade, mais precisamente do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Embora a prática de expografia
do Navisual não se restrinja a este contexto, este tem sido privilegiado para
a divulgação das pesquisas de discentes e docentes, não só da antropologia,
mas de áreas afins. São paredes de um corredor de salas funcionais que, no
final dos anos 90, a fotógrafa e então bolsista trabalho do IFCH Fernanda
Chemale idealizou como Galeria Olho Nu, como parte de um complexo que
seria denominado centro multimeios (uma sala com equipamentos
multimídia para aulas, palestras e defesas). Com a finalização da atuação da
bolsista, a Galeria ficou órfã e, estando a sede do Navisual no Laboratório de
Antropologia Social no mesmo corredor, lhe foi concedida a curadoria. Este
foi o inicio de um projeto de extroversão das pesquisas que já dura 21 anos.
Todas as exposições realizadas estão registradas e divulgadas no
portal oficial do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social no
http://www.ufrgs.br/ppgas/portal/index.php/pt/producao-cientifica/exposicoes .
Mais que isso, expor na Galeria é aberto a qualquer interessado(a) a partir
da proposta de uma exposição temporária a partir do que orienta o edital
publicizado neste mesmo portal. A estrutura é simplória, ocupa a parte
inicial do corredor D2 do IFCH e tem por disposição 12 quadros, 8 deles de
80x80cm (vertical) e 4 de 80x50cm no sentido horizontal.

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Foto 1 - Reunião dos membros da equipe do Núcleo de Antropologia Visual. Oficina de fotografia ministrada por
Rumi Kubo e Fabricio Barreto de 22 e 29 abril e 13 e 20 de maio 2014. Porto Alegre. Fotografia de Cornelia Eckert.
Foto 2 - Idem. Fotografia de Ananda Andrade.
Foto 3 - Corredor do prédio D2. Galeria Olho Nu. Porto Alegre.
Foto 4 - Placa em homenagem a Inauguração da Galeria Olho Nu. Porto Alegre, março 1995. Fotografia de Liliane
Stanisçuaski Guterres.

Para relatar algumas experiências de expografia nos restringimos às


duas últimas exposições de pesquisadores do Navisual. Mas antes relatamos
como procedemos para a construção de um projeto expográfico coletivo, sem
grandes dilemas sobre a curadoria. Porém, falando em curadoria, importa a
homenagem a antropólogas visuais, que como pesquisadores do Navisual, se
dedicaram a coordenar (“curadorar”) mantendo viva a ação da transmissão
do saber. Por muitos anos a antropóloga Liliane Guterrez, aluna de
graduação, mestrado, doutorado, foi a tutora mór desta atividade, seguida
de Rumi Kubo, Fabiela Bigossi e Fabrício Silveira. Das duas derradeiras

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atividades de expografia a serem relatadas participaram como


pesquisadores do Navisual Yuri Rapkiewicz, Aline Rochedo, Roberta Simon,
Gabriela Jacobsen, Débora Wobeto. Ainda em 2013 Ronaldo Correa,
professor da Universidade Federal do Paraná, durante seu estágio de pós-
doutorado, e em 2014 Camila Braz, José Abalos Junior, Ananda Andrade,
além de outros pesquisadores com participação esporádica.
Uma pesquisa etnofotográfica inicia em situações como, curso de
antropologia visual na graduação no curso de Ciências Sociais ou como
resultado de pesquisas de iniciação científica, trabalho de conclusão de
curso, mestrado, doutorado, etc. Relatamos duas experiências, dos alunos
Yuri Rapkiewicz e de Débora Wobeto, ambos do curso de Ciências Sociais na
UFRGS, graduação.

Entre trilhos e temporalidades

Yuri inicia como aluno de iniciação científica e finaliza com o trabalho


de conclusão de curso. Sua pesquisa se engaja no projeto então em
andamento por nós coordenado (BIEV/PNPD-CAPES) intitulado “Trabalho e
Cidade: Antropologia da memória do trabalho na cidade contemporânea”.
Estimulado por nós, adere ao tema da memória dos ferroviários
aposentados, muitos ainda residentes na antiga Vila dos Ferroviários no
bairro Humaitá em Porto Alegre. Passando pela orientação da pesquisa
etnográfica e coleções etnográficas, Yuri também estagia por um ano e meio
no Museu do Trem em São Leopoldo. Em todos estes processos, a
interlocução com os ferroviários aposentados se contextualiza na vila, no
sindicato, no museu, e, em especial, no Clube Ferrinho, onde conhece o
guardião da memória do Esporte Clube Ferrinho, o ferroviário Hélio Bueno
da Silveira, morador do quadro (vila) ferroviário. Esta orientação de
aproximar-se privilegiadamente de Sr. Hélio, dava continuidade a uma
relação de cunho etnográfico iniciada em 2001 por ocasião de outra pesquisa

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por nós orientada do então aluno Lucio Lord. Na sede da agremiação, no


prédio da antiga Estação Diretor Augusto Pestana, onde encontramos um
imenso acervo do trabalho ferroviário, da luta sindical, da história do clube,
da vila dos ferroviários. Este foi o tema do trabalho de conclusão deste aluno
e as imagens fotografadas na ocasião compõem o acervo etnográfico do
Banco de Imagens e Efeitos Visuais.

Foto 1 - No Clube do Ferrinho, Sr. Helio Silveira apresenta documentação sobre os ferroviários para Lucio Lord.
Porto Alegre, 2001. Fotografia de Cornelia Eckert.
Foto 2 - Nos fundos do atual prédio do Clube, Lucio caminha pelos escombros de antigas instalações. Porto
Alegre, 2001. Fotografia de Cornelia Eckert.

Foto 1 - Seu Hélio Silveira mostra troféu de homenagem recebida. Porto Alegre, 2001. Fotografia de Cornelia
Eckert.
Foto 2 - Na Vila dos Ferroviarios, as casas geminadas a esquerda. A direita escombros do antigo prédio do sistema
ferroviário. Porto Alegre, 2001, Fotografia de Cornelia Eckert.

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Yuri, ao inserir-se neste campo, encontra Sr. Hélio novamente como


interlocutor privilegiado que consente e o integra no universo de pesquisa no
contexto dos moradores da vila e do sindicato da categoria. Nesta
experiência, durante sua graduação (4 anos), realiza fotografias e pesquisa
imagens de acervo sobre o tema. Escreve seu trabalho de conclusão e artigos
sobre a pesquisa. O desafio então é de propor uma narrativa visual como
uma forma de dar um retorno aos pesquisados de um processo que se
finaliza. Como incentivado a todos os pesquisadores do núcleo, passamos a
refletir sobre uma expografia do trabalho etnográfico de Yuri no Navisual.
Como já de tradição, inicia-se o debate sobre a experiência da pesquisa, em
seu tema, em suas perspectivas metodológicas e convívio cotidiano embalado
por referências teórico-conceituais que o inspiram na produção etnográfica
escrita e imagética. A equipe, informada do desenrolar da pesquisa,
familiariza-se com as imagens para a elaboração de um roteiro
etnofotográfico.

Discute-se a sequência narrativa, os conceitos, as categorias e


palavras-chaves, a estética, o formato, os materiais, o estilo, mas sobretudo,
a história a ser contada com as imagens. Em cada etapa, importa refletir

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sobre o público, para quem queremos contar algo: as pessoas pesquisadas,


aos alunos interessados e anônimos, os passantes habitués do corredor
(visitantes diversos, funcionários da limpeza, professores, servidores, etc) de
forma que, sempre pensando nos interlocutores, estes se reconheçam ou que
ao menos, se motivem ao debate.
Opta-se por uma estrutura de banners. Algo excepcional na tradição
da galeria, mas a intensão era circular os mesmos no contexto da pesquisa,
no museu do Trem em São Leopoldo, em escolas, etc. Predomina na
expografia a pesquisa na forma de coleção etnográfica com as imagens do
aluno e da pesquisa de acervo dispostas em 12 pranchas temáticas seguindo
a metodologia de Gregory Bateson e Margareth Mead (1942). Seu Hélio e
outros ferroviários interlocutores, recebem destaque em suas biografias e
trajetórias de trabalho. Para a divulgação, é confeccionado um cartaz e um
folder distribuído e propagandeado. Combina-se a visita dos ferroviários
para o evento, também dos museólogos e de outros convidados. A abertura,
chamamos de visita comentada, e assim, Yuri e a equipe recebem os
convidados. O pesquisador apresenta seu trabalho, abrindo para debate e
comentários.
A exposição segue por mais dois meses, de forma que o tempo seja
suficiente para sua apreciação antes de circular em outros ambientes de
recepção. Uma visita em especial é documentada. Seu Hélio e sua esposa
visitam a galeria, e aproveitamos para homenagear o guardião da memória
do trabalho ferroviário no Rio Grade do Sul3.

3 A circulação da exposição é tema de uma resenha publicada na Revista Iluminuras, já


citada.

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Foto 1 - Seu Hélio Silveira, ferroviário aposentado e sua esposa visitam a expografia de Yuri. Cornelia aproveita
acarinha-los. Porto Alegre, março 2014. Fotografia de Roberta Simon.
Foto 2 - Seu Hélio Silveira e sua esposa. Porto Alegre, março 2014. Fotografia de Roberta Simon.

Foto 1 - Idem ao quadro anterior.


Foto 2 - Idem ao quadro anterior.

Vila Dique: entre o transitório e o permanente

Débora Wobeto é pesquisadora de um projeto de extensão intitulado


Projeto Memórias da Vila Dique – parceria entre a faculdade de
Educação/UFRGS e o Grupo Hospital Conceição. Ao mesmo tempo, como
aluna da disciplina de antropologia visual em 2013, se propõe a narrar
fotograficamente o processo de sua pesquisa e inserção neste universo de
moradores, na Vila Dique em Porto Alegre.

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Foto 1 - Apresentação trabalhos finais dos alunos na disciplina de Antropologia Visual no curso de graduação
Ciências Sociais, IFCH, UFRGS. Apresentação do trabalho de Debora Wobeto. Porto Alegre, dezembro 2013.
Fotografia de Debora Wobeto.
Foto 2 - Idem.

A situação é conhecida dos portoalegrenses dada à proximidade


territorial com a área do aeroporto. Sua ampliação sempre foi tema de
projetos de transformação urbana, situação que se acirra em face da
realização da Copa do mundo de 2014 e da previsão de recepção de grande
número de aeronaves de grande porte. A remoção dos moradores, sempre
uma ameaça velada, torna-se realidade nesta conjuntura. Para alguns
moradores, é o fim da resistência em seus desejos de permanecer onde estão
suas raízes e motivações cotidianas; para outros, um projeto de “novas
casas” esperado. Mas tanto para um grupo quanto para outro, todos foram
pegos de surpresa na remoção às pressas e sem tempo de planejamento.
Pegam de surpresa, sobretudo, os moradores em suas lutas que não
conseguem mais confrontar as decisões municipais. As casas são demolidas,
resta a remoção para o conjunto habitacional Porto Novo, no bairro Rubem
Berta. Débora documenta todo o processo, não como uma testemunha ocular
e passageira, mas como pesquisadora com trabalho consentido, conhecida e
recebida pelos moradores, de modo que a mesma pode reconhecer as tramas
vividas por estes moradores. Segue com estupefação as formas de agir das
secretarias e empresas de remoção. Sem tempo para mudanças, a demolição
é realizada. Moradores encaixotam o que podem e as escolhas são dolorosas.

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Para narrar esta dramática, Débora propõe uma mistura de expografia com
instalação. Discutimos o roteiro no núcleo. Rumi Kubo, antropóloga visual,
artista plástica, além de professora de economia rural (UFRGS), coordena a
equipe. A matéria da caixa, do “encaixotar a vida” como os moradores se
expressam para Débora, estetiza a crise vivida. A expografia ganha forma,
expressando a narração da pesquisadora. A equipe se envolve na montagem;
os cartazes e os flyers são distribuídos, e a visita comentada aguarda
moradores, pesquisadores do projeto de extensão e visitantes. A experiência
é filmada por Cornelia Eckert, e a pesquisadora Juliana Goulart transcreve
e escreve uma resenha publicada na Revista Iluminuras v. 15, n. 35 (2014).

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Foto 1 - Expografia de Debora Woberto. Porto Alegre, 8 de maio 2014. Fotografia de Fabricio Barreto.
Foto 2 – Idem.
Foto 3 – Idem.
Foto 4 – Idem.

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Foto 1 - Moradores da Vila Dique visitam a exposição ciceroneados por Debora Wobeto. Porto Alegre, 8
de maio 2014. Fotografia de Fabricio Barreto.
Foto 2 – Idem.

Foto 1 - Pesquisadora do projeto, aprecia a restituição. Idem. Porto Alegre, 8 de maio 2014. Fotografia de Fabricio
Barreto.
Foto 2 – Idem.

A singeleza do resultado como esforço de restituição motiva-nos a


recorrer à expografia como tema de aula de antropologia visual em
disciplinas de metodologia de nossa responsabilidade na graduação.
Cada aluno foi desafiado a comentar por escrito as aprendizagens em
método e em antropologia e imagem a partir da interpelação com a

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narrativa visual. Também foi tema de workshop nas atividades de formação


no núcleo. Ao total, 25 alunos escreveram sobre suas aprendizagens e
apontaram questões como:
- Forma criativa de oportunizar a criação de imagens de si;
- Sensibilidade para contar a história de moradores da Vila Dique,
uma realidade que poucos conhecem;
- Aprendi a importância de narrar, de contar uma história através das
imagens;
- Conheci esta realidade que não conhecia. Esta mescla de imagens e
objetos dos sujeitos permite uma aproximação sensorial, uma
linguagem diferente da monográfica; sempre exclusiva.
- A autora diz que quer contar as histórias dos moradores de
companheirismo e de luta, sempre ocultadas por distorções e
preconceitos. A antropologia visual, trabalhando com a construção de
personagens, traz as singularidades que a pesquisa pode revelar.
- A pesquisa consegue trazer os interlocutores e fazer um retorno para
eles.
- A gente tem uma experiência com o campo da pesquisadora.
- Uma boa denuncia social pois consegue gerar muito mais impacto
com imagens do que com palavras.
- As imagens que nos mostram fenômenos, dramas, episódios, eventos,
rotinas, etc.
- Uma pesquisa visual que complementa bastante a teoria aprendida
em aula. Descreve o ambiente, o tema e objeto de pesquisa, da
dimensão.
- Revela o contraditório, desperta emoções, remete à história real e ao
imaginário. De outra forma, o contraditório não tem explicação.
- Intensifica os protagonismos dos interlocutores da pesquisa.
- O trabalho em antropologia visual busca, através de imagens e falas
dos envolvidos em eventos, como este da remoção de uma vila, a contar
o que não é facilmente captado. As memórias, a vontade de

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Pelotas, v. 2, n. 2, p. 11-43, jul./dez. 2014.
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Tessituras

permanecer, os sonhos, as dificuldades, a forma de uso de espaços que,


aos olhos de quem passa apressadamente, não imagina. Aquilo que é
priorizado e tido como melhor pelos que planejam a cidade – casas de
alvenaria e ruas asfaltadas – é justamente o que é questionado através
de falas dos moradores e imagens dos momentos da mudança, com
distribuição das casas.
- Apresenta as pistas de uma história. Em um amontado de materiais,
existe uma história. Vimos, mas não podemos contar, somente quem
teve uma vivência local pode contar esta história de vidas
despedaçadas. Mas posso montar uma história, mesmo que não seja a
deles, para que sempre seja remontada.
- O uso das imagens é um modo de apresentar as formas de
socialização, as estruturas de uma comunidade. Com a imagem, é
possível perceber como um espaço auto-organizado, mesmo aparecendo
caótico, tem um ordenamento compreensível para quem nele convive.
Mais, permite perceber que a mudança que segue uma lógica de
organização urbanística de uma comunidade, implica em mudanças
de relações sociais.

As experiências afetivas e dramáticas vividas pelos moradores da Vila


Dique são compartilhadas e mediadas por Débora, com a colaboração da
equipe do Navisual, para os(as) alunos(as) que reverberam em suas
interpretações as cognoscências operadas na partilha destas experiências
sensíveis. São igualmente engajados(as) neste círculo (hermenêutico) de
restituição. Não há exigência de reflexão erudita ou metafísica, também não
se trata de uma obra de arte com agências complexas. A contestação ao
poder estruturado do desenrolar da política urbana é representada com força
de metáfora. Sem negligenciar a importância da restituição do próprio livro
(monografia, dissertação, tese), de modo geral, restituído com
agradecimentos e homenagens, momento tão almejado pelos etnógrafos para
retornar aos interlocutores colaboradores, trata-se também da circulação do

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Pelotas, v. 2, n. 2, p. 11-43, jul./dez. 2014.
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Tessituras

conhecimento informado em um esforço de heteroglossia simetrizando os


mundos vividos dos atores plurais. Nos termos de Mikhail Bakhtin, o
pensador do ato de leitura e da crítica estética, esta expografia não estaria
submissa às disposições estéticas, mas antes, abrigada pelas disposições
ético-práticas. Para o pensador, rejeitar “a dissociação forma/função,
forma/conteúdo”, instiga o ponto de vista “daqueles que se orientam no
mundo social através de ‘categorias cognitivas éticas e práticas’ (as do bem,
do verdadeiro e das finalidades práticas)” e, que por isso, “vivem mais as
histórias (ouvidas, lidas ou produzidas) dos que iniciam uma relação
propriamente estética” (BAKHTIN, 1978 e BAKHTIN, 1984 apud LAHIRE,
2002, p. 91-92).

A cidade vivida como morada das imagens: a coleção de imagens


para reverberar a memória coletiva dos habitantes

O projeto das coleções etnográficas desenvolvido no âmbito do Banco


de Imagens e Efeitos Visuais, centro de pesquisa que coordenamos, tem em
sua premissa a restituição constante na circulação das imagens
pesquisadas. Esta meta pode ser dimensionada na proposta das
coordenadoras de promover uma etnografia da duração, inspiradas na teoria
dos instantes e na dialética da duração de Gaston Bachelard (1984). A
trajetória deste projeto, mesmo que recente, já percorreu quinze anos no
âmbito do Programa de Pós-graduação em Antropologia (UFRGS). Desde
então, a iniciativa da pesquisa em web coordenada por Ana Luiza. C. da
Rocha com exposição de coleções de documentos etnográficos em telas
encontra-se hospedada no portal www.biev.ufrgs.br .

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. Etnografia com imagens: práticas de restituição. Tessituras,
Pelotas, v. 2, n. 2, p. 11-43, jul./dez. 2014.
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Tessituras

http://www.biev.ufrgs.br/grupos-de-trabalho/gt-video.php

A coleção resulta de complexo processo de formação de alunos e


alunas em diferentes níveis. De modo geral, o trabalho de iniciação
científica, de conclusão de curso, de mestrado ou doutorado aporta uma
coleção que é restaurada, não só aos interlocutores da pesquisa, mas aos
usuários das linguagens eletrônicas em que podem partilhar o que
denominamos de experiências temporais do viver no contexto urbano.
Podemos exemplificar com a última tese de doutorado defendida em
setembro 2014 no PPGAS, IFCH, UFRGS por Ana Paula Marcantes Soares,
intitulada “O território mito da orla. Antropologia de conflitos territoriais
urbanos e memórias ambientais em Porto Alegre, RS”. Ana Paula elabora
uma coleção etnográfica apresentada em CD e impressa em um Tomo II da
tese (SOARES, 2014, 62 p.). A coleção traz fotos suas, notícias de imprensa,
imagens de livros, fotos de pesquisa em acervo e fotografias cedidas pelos
interlocutores da pesquisa. Afinal, a cada entrevista com os trabalhadores
aposentados do antigo Estaleiro Só e antigos moradores da região Cristal em
Porto Alegre, desvendavam-se as experiências de trabalho e vida cotidiana
não somente na forma oral, mas na abertura de álbuns, caixas de fotos ou
livros institucionais publicados. A trajetória dos interlocutores vai sendo
tecida em meio a estas trocas, em que a memória do ofício é narrada,
reconfigurando as experiências no presente. Seu Fernando, de forma
especial, possuía um rico acervo que dispôs para a pesquisadora. “As
fotografias, como ele diz, eram da época do slide. Mas graças à sua interação
com o neto adolescente, Seu Fernando tinha providenciado a digitalização de

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Tessituras

parte do acervo de fotografias em slides da família e do estaleiro, as quais


foram registradas, em grande parte, no período final da sua trajetória de
trabalho na empresa. (SOARES, 2014, p. 138). Doar suas lembranças em
troca da escuta respeitosa e da interlocução ética implica, ao longo dos
quatro anos de convívio, em um engajamento dos entrevistados(as) e da
antropóloga, para um processo colaborativo que aprendemos desde Jean
Rouch, ou mais recentemente com David e Judith MacDougall4 ou ainda o
com o meritoso projeto Vídeo nas Aldeias (entre outros)5, motivação que
aproxima uma antropologia engajada da eficácia simbólica da restituição.

Foto 1 - Fotografias cedidas pelos interlocutores para a antropóloga Ana Paula. A fotografia foi feita no Estaleiro
Só em Porto Alegre. Citado na tese de SOARES, 2014.
Foto 2 - “Trabalho operário naval. O trabalho operário no Plano de Carreira do navio. Estaleiro Só em Porto Alegre.
Acervo Pessoal de Fernando Kuschner” (SOARES, 2014, tomo II, p. 42).

A exemplo da coleção de Ana Paula, as coleções produzidas a partir


dos trabalhos etnográficos de alunos e alunas por nós formados já compõem
uma experiência geracional. Grande número destes trabalhos estão
divulgados na Revista Iluminuras, publicação do BIEV. As imagens
produzidas e pesquisadas em diversos suportes técnicos (fotografia, vídeo,
som, texto) são restauradas de forma descontínua, a partir do método da
convergência, tendo na obra de Gilbert Durand (1998) a concepção original.

4 Sobre a obra dos MacDougalls, sugerimos as leituras de David MacDougall (1998a e


1998b) e Grimshaw (2003).
5 O projeto Vídeo nas Aldeias foi criado em 1986. Informações sobre o projeto podem ser

acessadas no http://www.videonasaldeias.org.br/2009/vna.php?p=1 ..

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Tessituras

As imagens pesquisadas e divulgadas são portadoras das motivações


simbólicas de um corpo coletivo e, segundo expressão durandiana,
degradam-se em formas (literárias, fotográficas, fílmicas, sonoras, gráficas,
etc.) cuja força de sentido traduzem para elas uma direção. Entretanto, as
imagens possuem, em seu nascedouro, um caráter dominante (imperialismo
das imagens), agindo como princípio de organização (estrutura): os gestos e
as pulsões e a matéria do ambiente técnico (cósmico e social) sobre a qual a
imaginação criadora humana se deposita. Ao explorar a ideia de fragmento,
buscam-se os traços de um tempo e de um espaço concreto de representação
da memória e do patrimônio locais para o usuário do site www.biev.ufrgs.br,
visando restaurar a ideia da cidade como uma obra moldada e configurada
pelo depósito de muitos gestos e intenções dos grupos humanos que nela
habitam. Há, portanto, no processo de destruição e de reconstrução da
cidade, uma singularidade específica.
A linguagem eletrônica acomoda as intenções de complexificar o
sentido de circulação das imagens como em um jogo entre universalidade e
particularidades. Deste processo resultam as imagens como num acordo
entre natureza e cultura para que um conteúdo cultural, configurado em
determinadas formas, possa ser transmitido e perpetuado no tempo e no
espaço como algo de ordem de uma determinada sociedade. As imagens
resultam de motivações simbólicas, frutos de acordos, e não como falta. As
classificações das imagens têm estreita relação com a história das
representações simbólicas de objetos, técnicas e materiais, mas não se
reduzem às motivações veiculadas por um ambiente técnico e material de
uma dada ordem social e cósmica; bem ao contrário, são estas imagens que o
consolidam como real. Portanto, para Gilbert Durand (1998), toda a imagem
é simbólica, e não semiológica, por integrar uma função fantástica.
Transladando para o que nos importa aqui como pesquisa com imagens, e
imagens inclusive de acervos os mais diversos, há uma anterioridade
cronológica e ontológica do simbolismo de uma imagem antes de toda e
qualquer factualidade da significação audiovisual, cuja característica central

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Tessituras

é a forma de exprimir ou enunciar o cogito sonhador daquele que a fabrica.


Para as investigações sobre memória coletiva e patrimônio etnológico
no interior do BIEV, sobre o tema das coleções etnográficas, formas de
sociabilidades e itinerários urbanos no mundo contemporâneo, ficam
evidenciadas novas motivações de seguir o estruturalismo figurativo
durandiano que dialoga com os estudos da forma e da imagem, seguindo a
inspiração bachelardiana no estudo da imaginação e do imaginário. A
comunidade interpretativa que evocamos para esta prática de montagem de
coleções etnográficas é bastante extensa, mas nos cabe mencionar as
principais, que são os estudos de Pierre Sansot sobre a poética da cidade, de
Michel Maffesoli, sobre o paradigma estético, de Georg Simmel, sobre a
sociologia das formas, além da sociologia figuracional de Norbert Elias e da
instigante teoria dos saberes e práticas cotidianas, de Michel de De Certeau.
O que reúne as obras destes autores aos temas de investigação do BIEV em
suas pesquisas antropológicas na cidade a partir da produção sonora, visual
e escrita de etnografias na cidade é que estamos operando com o estudo do
caráter figuracional das imagens e de seus simbolismos como procedimentos
de compreensão das formas expressivas que elas adotam para o viver a
cidade, da perspectiva de seus habitantes, tanto quanto da do antropólogo
(ECKERT e ROCHA, 2005).
Ao se trabalhar com coleções etnográficas de imagens presentes e
passadas, estamos operando no interior de uma convergência de imagens
(constelações) da qual a imaginação criadora do antropólogo participa
intensamente na forma como, por seu intermédio, narra a cidade, dando a
ela um continuum de consciência a si e a todos os outros nelas
representados. Portanto, torna-se importante pensar a pesquisa com
coleções etnográficas multimídias como integrando a investigação de uma
etnografia da duração no âmbito dos estudos das práticas culturais no
mundo contemporâneo e dos seus fluxos espaço-temporais. Em particular, a
hipertextualidade como procedimento de construção da representação
etnográfica da memória e do patrimônio etnológico nas e das modernas

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sociedades contemporâneas.

http://habitantesdoarroio.blogspot.com.br/ http://www.ufrgs.br/memoriaambientalpoa/

A adesão à hipermídia (adição dos registros etnográficos multimídia


ao hipertexto) na produção de etnografias da duração também nos permite
refletir sobre o tema da restituição a partir da multireferencialidade da
pesquisa etnográfica em diversos suportes sendo que, para o web-site, uma
narrativa da produção de pesquisa com base na convergência das imagens é
divulgada para que possa ser, não somente acessível como acervo de dados
de pesquisa, mas como patrimônio da memória coletiva pela partilha
reflexiva que essas tecnologias permitem.
Tais artefatos referem-se às exigências de se explicitar o ato
interpretativo que comporta todo o registro de dados etnográficos, bem como
as retóricas empregadas pelo(a) antropólogo(a) para reconfigurar o sentido
desse material no interior de uma narrativa etnográfica hipertextual, cujas
práticas enunciativas estão referidas, até certo ponto, a um outro espaço de
práticas sociais e a um outro campo epistemológico que não aqueles oriundos
da tecnologia da escrita impressa.

http://www.biev.ufrgs.br/grupos-de-trabalho/gt-video.php
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Dessa forma, o patrimônio etnográfico não está mais preso ao texto


impresso, nem à sua forma de argumentação submetida à sequência
espacial da paginação das folhas, seguindo-se uma ordem temporal
determinada, pela qual o autor da obra procura restaurar, para seu leitor, os
fatos e as situações por ele vividos em campo.
O acesso às imagens no suporte eletrônico permite usos, manuseios e
intervenções infinitamente mais livres e numerosas. Pode-se supor a
possibilidade de uma etnografia hipertextual, com base numa retórica mais
aberta, mais dinâmica, mais fluida de disponibilização dos dados
etnográficos em web-sites.

http://www.biev.ufrgs.br/fotocronografias/

Importa, aqui, tratar da cultura da tela, conforme as palavras de Lev


Manovich (2014) e da civilização da imagem, nos termos de Gilbert Durand
(1998), como novas formas de reorganização dos saberes que os outros
suportes mais tradicionais disponibilizam, transfigurando seu sentido
original e atribuindo-lhes uma significação mais móvel, plural e instável
pelo caráter granular que atribui a todos eles.
Diante do ambiente hipertextual desterritorializado, as antigas
práticas de escrituras de que são portadores os(as) antropólogos(as) e os
microterritórios de suas obras etnográficas, que lhes atribuem o status de
autores, sofrem novos constrangimentos, agora nos termos que alguns
chegam a denominar de engenharia autoral, isso com base na geração e

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manipulação de informações e dados digitais, segundo modelos de


configurações visuais (letras, palavras, textos) em arquivos registrados e
transportados conforme determinados procedimentos de montagem e de
associação de ideias e que conta com o leitor como co-autor.

http://bievufrgs.blogspot.com.br/

http://www.ufrgs.br/memoriasdotrabalho/dvds/

Ainda que preexista uma engenharia do texto (ERTZCHEID, 2004),


em um hipertexto, o leitor desfruta de uma autoridade compartilhada com
aquele que o produziu, de acordo com sua competência em hierarquizar,
classificar e unificar uma gama infinita de informações e dados que cobrem
semelhante obra, incluindo-se, aí, o risco, inclusive, de destruí-la.
A construção de uma escrita etnográfica hipertextual (documentos
ligados entre si por uma rede informatizada de laços ativáveis) se processa,
assim, na mediação com outras formas de produções textuais que lhe
antecederam, ou que lhe são contemporâneas, e que tem como origem a
interação, localizável no tempo e no espaço, do etnógrafo com uma
determinada cultura e, como referência, o espaço livresco.

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Tessituras

Ainda que a noção de intertextualidade elimine por si as ideias do


dentro e do fora de texto, é interessante se pensar ambas, principalmente,
agindo na tessitura do texto etnográfico, não como reprodução de um texto
passado ou de busca da verdade da escrita antropológica, mas como condição
da própria produtividade da narrativa etnográfica.
De um ponto de vista mais conceitual, o tema da intertextualidade e
da produção textual antropológica na era das textualidades eletrônicas
(hipertexto ou hipermídias) recoloca o campo dos saberes antropológicos na
crise da autoridade etnográfica e na polêmica da crítica às formas de
operações textuais da escrita etnográfica a partir de suas relações com a
autoridade dos pais fundadores dessa matriz disciplinar, segundo uma
reflexão sobre suas estruturas narrativas no interior de uma atitude poética
de representação do mundo, referidas que estão a um sistema de textos e,
não mais, apenas, à sua alusão à realidade do mundo - isso de tal forma que
se torna cada vez mais difícil separar a referência do mundo do texto
etnográfico da referência ao texto do mundo.

http://caismaua-memorias.blogspot.com.br/

Com isso, quer-se afirmar que, na escritura etnográfica


hipermidiática ou hipertextual, a autoridade etnográfica não reside tanto na
competência do antropólogo em se tornar autor, mas na sua competência em
ser leitor e em criar leitores para suas obras segundo a tradição à qual ela
pertence, ou seja, em um diálogo diretamente com outros textos que não
apenas os de sua época, buscando desvendar o eco de suas palavras contido
na construção de sua própria produção textual. Em tais escrituras, a

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intertextualidade aparece como fenômeno que permite pensar a obra


etnográfica conforme um deslocamento hermenêutico, isto é, como tributária
de um vasto sistema textual em que as etnografias se compreendem em
relação umas às outras, incluindo-se, aí, o estudo das formas
representacionais que invadem a veracidade etnográfica e as práticas
sociais.

Considerações finais

A restituição não é uma atitude unitária; ela ocorre através de várias


formas, ações, gestos, processos de partilha que podem ser significativos,
tanto para a comunidade dos pesquisadores, quanto para a comunidade de
comunicação envolvida, para que possam com estas narrativas, dramatizar
seus esforços de interpretação de processos e experiências vividas.
As experiências dos núcleos que impulsionamos como professoras e
pesquisadoras, promovem o conhecimento etnográfico e o acesso a este
patrimônio nas linguagens de que dispomos no âmbito da academia, por um
lado, pela prática da expografia por outro lado, com base num documento
hipermídia ou na forma de hipertexto. Práticas que pressupõem a ação da
comunidade de comunicação, o expectador visitante, o interlocutor
interessado na restituição, o leitor-navegador em sua ação interpretativa. A
proposta é que se sintam provocados na partilha do patrimônio que, para
nós, consiste na etnografia da duração. Cada interpretação, cada leitura,
cada navegação vai gerar mais informações, as quais vão modificar a sua
intenção interpretativa inicial, retroagindo com ela, e assim sucessivamente.
No caso da coleção de imagens, a inteligibilidade do relato etnográfico
é dependente da forma como o leitor-navegador opera, na tela do
computador, a leitura desse documento, com base na organização
hierarquizada do texto. Se, na leitura de documentos etnográficos na forma
clássica de objeto-livro, podem ser detectadas as condições de

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intertextualidade que o configuram, no caso da leitura de um documento


etnográfico hipermídia ou em hipertexto, esses explicitam abertamente sua
intertextualidade, pois essa é a condição de sua própria criação.
A restituição, por fim, nas propostas apresentadas, tem talvez por
mérito maior, criticar a lógica de produção linear do material etnográfico,
pautando exercícios não-lineares pela descontinuidade material e discursiva,
introduzindo a ruptura com a textualidade formal. Sem objetivar o controle
dos caminhos e percursos do patrimônio etnográfico, extroverte a produção
no movimento próprio da civilização das imagens, descolonizando a pesquisa
de ranços positivistas da formação científica, adotando o mundo sensível
(sons, vídeos, fotos e textos) como mediadora de múltiplas formas de ações
criativas. Desta provocação, a escrita etnográfica encontra-se aberta, assim,
cada vez mais, a múltiplas interpretações dos sistemas culturais.
Diante desses desafios de restauração da palavra do Outro, a
emergência da ressonância do patrimônio etnográfico na forma de
etnografias abertas, como a expografia no Navisual e a etnografia
hipertextual no âmbito do Banco de Imagens e Efeitos Visuais, tem
conduzido a refletir sobre os princípios ético-práticos que orientam o saber-
fazer antropológico, propondo desafios de romper um discurso hegemônico
sobre a Alteridade, distante ou próxima.

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