2017 Rececao Do Pensamento de Antonio S2
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Introdução
A receção e influência do Integralismo Lusitano no Brasil, iniciado na década de
vinte, com a distribuição da revista Nação Portuguesa em terras de Vera Cruz, é
protagonizada por uma plêiade de políticos e escritores brasileiros que divulgam o
pensamento de António Sardinha na imprensa, intensificam o diálogo epistolar e
intercambiam livros e revistas. São eles Gilberto Freire, Oliveira Lima, Jackson de
Figueiredo e Elysio de Carvalho que nas páginas de A Ordem, América Brasileira e
Diário de Pernambuco, serão unânimes na admiração pelo poeta, revisor da história
nacional e criador de um sistema politico e cultural hispânico que dará os seus frutos nas
décadas seguintes. Por seu lado, são conhecidas da intelectualidade brasileira as páginas
que Sardinha dedica ao Brasil, eivadas de comunhão espiritual e de meditada doutrina
política e social, como o próprio defende: “O nosso rumo, o rumo verdadeiro da Península
leva-nos à América” (SARDINHA,1943, pp.106-107). Se, no plano simbólico, o Brasil
representa o melhor exemplo da vocação apostólica portuguesa, no plano doutrinário, o
mestre integralista defende para as repúblicas latino-americanas um sistema
presidencialista ao comando de Estados corporativos e autoritários, inspirado na
monarquia orgânica.
No entanto, entre 1919 e 1921, após o seu envolvimento nas tentativas armadas
de restabelecimento da monarquia, Sardinha vê-se forçado a exilar-se em Espanha, o que
representa um ponto de viragem determinante na sua filosofia política, abandonando
"preconceitos" hispanófobos e iniciando um diálogo frutífero com “intelectuais espanhóis
conservadores” que o levam à formulação de sua teoria hispanista (SARDINHA, 1943,
pp.3-4). Apesar de reconhecer a individualidade cultural e a autonomia política
portuguesa e espanhola, a aliança peninsular traduz um compromisso entre os dois países
ibéricos, alargado aos países da América Latina, Ásia e África, para recuperar a missão
ecumênica da Península no mundo. A aproximação ao Brasil torna-se, neste contexto,
vital dada a necessidade premente em dilatar a doutrina integralista no continente sul-
americano, cumprindo-se desse modo, a afirmação messiânica da pátria. O intercâmbio
das revistas culturais que se aproximam pela ideia da tradição terá, como veremos, papel
fundamental na vulgarização das ideias contrarrevolucionárias que reemergem nas
primeiras décadas do século XX.
3
͞Receção do pensamento de António Sardinha nas revistas Brasileiras: A Ordem, América Brasileira e
Diário de Pernambuco͟. Atas do XII Colóquio Internacional Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-
Americano. (Org.) Eliana Brites Rosa e Maria Emília Prado. Rio de Janeiro: Rede Sirius; Porto, Portugal,
2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2
2. A Ordem e a ação de Jackson de Figueiredo
Figura 2 Jackson de Figueiredo.
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Revista católica de periodicidade mensal fundada no Rio de Janeiro em 1921 sob a direção de Jackson de
Figueiredo e extinta em 1990.
4
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Americano. (Org.) Eliana Brites Rosa e Maria Emília Prado. Rio de Janeiro: Rede Sirius; Porto, Portugal,
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verifica-se no Brasil o recrudescer do tomismo, tão florescente naquele país como em
Portugal, sobretudo a partir da década de trinta, como expressão do próprio
tradicionalismo, como defende António Paim (1991, p.152).
2
Citamos, aqui, o trecho referente às ideias integralistas, referidas por Jackson de Figueiredo: “Até na
"Cartilha do Operario", editada pelo Integralismo lusitano (e em parte nenhuma mais que em Portugal o
operário tem sido victma dos idéaes revolucionaios), já encontramos palavras como estas: "Para aquellas
pessoas que se deixam guiar na vida pelas idéas alheias, evitando o trabalho de pensar, a Revolução
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sindicalizada e reivindicativa. Nogueira aponta, de igual modo, as afinidades entre a ação
política do Centro D. Vital, na esteira de Joseph de Maistre, e o Integralismo português,
considerando que “a ordem sobrenatural era o fundamento de toda a sua doutrinação
política” (NOGUEIRA, 1929, p.248). Neste mesmo número de homenagem, Cláudio
Ganns recorda, no seu artigo “O Jornalista”, as influências literárias e doutrinárias
determinantes na primeira e na segunda fases da vida intelectual de Jackson de
Figueiredo, colhidas de Mário de Alencar, Xavier Marques ou Farias de Brito, para, por
fim, aludir à figura intelectual de António Sardinha “o apóstolo do Integralismo Lusitano
– seu émulo intelectual e seu companheiro no destino interrompido” (GANNS, 1929,
p.284).
Por seu lado, A Nação Portuguesa, que passa a ser dirigida por Manuel Múrias,
nos anos que se seguem à morte de Sardinha, continua a ser enviada para o Brasil.
acusando A Ordem a sua receção e fazendo menção à obra do mentor do integralismo e à
relação de amizade com Jackson de Figueiredo:
“A Nação Portuguesa conta nesta casa as mais velhas e sinceras amizades. Aqui
abriu-lhe os braços o nosso saudoso e primeiro diretor, Jackson de Figueiredo; e a todos
Francesa representa ainda hoje um grande avanço na senda do progresso moral, material e politico dos
povos. Facilmente demonstraríamos como, pelo contrario, ella representa antes um retrocesso nesses trez
pontos, se a nossa acção neste trabalho não se restringisse apenas à sua acção deleteia no aspecto
econômico, começando por affirmar que a causa principal do descalabro econômico em que vegetamos foi
a Revolução, e que só com o regresso ao sindicalismo orgânico a questão social se solucionará." (Pag.
14)”. (FIGUEIREDO, 1922, pp.22-23).
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nós, neste texto, ensinou ele a conhecer e a admirar a obra que se impos a formosa revista
lusitana, e a conhecer e admirar os combatentes a que ela servia de bandeira”
(REDAÇAO, 1929, p.411).
Concebida nos seus princípios por Lima Barreto e Elysio de Carvalho que,
durante a sua breve existência, será o seu diretor, América Brasileira destaca-se pela
heterogeneidade de colaborações que se reflete, segundo Felipe Cazetta, na permanente
“tensão entre o conservadorismo e o modernismo” (CAZETTA, 2014, p.1), como é o caso
de conservadores próximos do Centro D. Vital e do Instituto Varnhagen, como o
historiador Rocha Pombo, o sociólogo Oliveira Vianna e o crítico literário e pensador
Tristão de Athayde (pseudónimo de Alceu Amoroso Lima), que teria estabelecido
contacto em França com o grupo de Charles Maurras (CAZETTA, 2014, p.4), mas
também de modernistas como Sérgio Buarque de Holanda, Graça Aranha ou o poeta e
crítico Ronald de Carvalho, próximo de Fernando Pessoa, colaborador da revista Orpheu
e admirador da poesia de António Sardinha (RELVAS, 1998, p.132). Este poeta e político
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brasileiro toma contacto, por volta de 1923, com a poesia de Sardinha, nomeadamente A
Epopeia da Planície, Quando as nascentes Despertam e Na Côrte da Saudade, que
considera um “punhado rescendente da terra portuguesa” e, em correspondência trocada
com António Sardinha, dá conta das suas impressões:
“Há, em sua poesia, o que se pode chamar o genio da gleba, aquele sentimento
profundo e numeroso das coisas humildes geradoras dos santos, dos poetas e dos herois.
Encanta-me, em verdade, a riqueza da sua imaginação, refreiada por uma
disciplina tão subtil da inteligencia.//
As formas tradicionais sàem mais elegantes, mais livres e mais engenhosas das
suas mãos de artista, que não asprece pelo artifício, a parte de humanidade do nosso
coração.
Dou-lhe os meus sinceros parabéns por sua Poesia modelar, digna de emparelhar
com a sinceridade e a nobreza da sua alma de velho e intrepido luso”. (carta nº1, Rio de
Janeiro, 3-IV-1923, RELVAS, 1998, p.132).
3
Veja-se a obra de Moacir Medeiros de Sant’Ana. Elysio de Carvalho, um militante doo anarquismo.
Arquivo Público de Alagoas. Brasil: Secretaria da Cultura, 1982.
4
Cf. Lená Medeiros de Menezes, “Elysio de Carvalho: um intelectual controverso e controvertido”.
Intellèctus, vol. 4, nº2 (2004), pp.1-11.
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141-142). São inúmeras as afinidades entre a doutrina integralista e as ideias preconizadas
pelo grupo da América Brasileira, assente no tradicionalismo, no reconhecimento da
matriz cultural portuguesa na formação do Brasil e na vontade de elevar este país da
América Latina a potência mundial. Nesta campanha de divulgação da obra de Sardinha
no Brasil, Elysio de Carvalho publica na América Brasileira um ensaio intitulado “O
Génio Peninsular”, alusivo ao estudo homónimo de Sardinha, editado no mesmo número:
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Lobos, Ronald de Carvalho, Sérgio Buarque de Hollada e o escritor argentino Jorge Luís
Borges.
Estes ensaios de propagação da obra de Sardinha têm, segundo Elysio, o objetivo
de “prestar pública homenagem a um dos mais brilhantes e íntegros espíritos de Portugal
de agora” (carta nº1, Rio de Janeiro, 1 fevereiro 1923, RELVAS, 1998, pp. 141-142).
Elysio participa, ainda, a Sardinha a criação do Instituto Varnhagen 5, sociedade de
estudos brasileiros, para o qual conta com o seu “apoio e simpatia” e envia os respetivos
estatutos para conhecimento. Através desta rede de contactos, António Sardinha, sem
nunca se ter deslocado ao Brasil, inteira-se da dinâmica cultural realizada do outro lado
do Atlântico.
5
Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), historiador, militar e diplomata, autor da História Geral do
Brazil, e, por esse motivo visto como o construtor da narrativa nacional, é a personalidade inspiradora deste
Instituto criado em 1922.
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assim, dizendo, não esqueço Menendez Pidal” (carta nº3, Rio de Janeiro, 1 de Abril e
1924, RELVAS, 1998, p. 144).
De igual modo, a receção e recenção de revistas e jornais ocupa um espaço próprio
na América Brasileira, na seção de “Revisas e Jornais”, sendo por diversas vezes referida
a exemplaridade da Nação Portuguesa, como revista de doutrina e cultura: “Dirigida por
António Sardinha, esta revista de cultura nacionalista é superiormente dirigida e
orientada. Todos os meses insere estudos, ensaios e artigos que se recomendam pela
seleção cuidada de temas, pela sua elevação ideológica e pela sua moderna orientação
filosófica” (CARVALHO, 1923, p.81). Noutro número, reafirma-se o valor da revista
portuguesa: “sempre interessante esta revista de cultura nacionalistaa que dirige António
Sardinha, umas das publicações mais inteligentemente dirigidas de Portugal”
(CARVALHO, 1923, p.94).
Em carta, datada de 1 de abril de 1924, Elysio de Carvalho dá conta das impressões
sobre o número da Nação Portuguesa dedicado ao Brasil (nº11, 1923) e, em especial, o
ensaio “A lição do Brasil” que será publicado na íntegra também na América Brasileira6.
Neste texto de vulgarização contrarrevolucionária, Sardinha afirma o seu nacionalismo
orgânico, anti-individualista e antidemocrático, o apego à Igreja “como unidade espiritual
da Nação” e à monarquia “que a mantivera e consolidara” (SARDINHA, 1924, p.106)
para reiterar a importância do Brasil como modelo enquanto emblema das qualidades
herdadas da nação que o descobriu e fundou. Na esteira do ideário propagado pela
América Brasileira, Sardinha confia nas potencialidades das terras de Vera Cruz “nas
vésperas de se afirmar como potência mundial” (SARDINHA, 1924, p.106). No artigo
“Uma homenagem ao Brasil”, alusivo ao número da Nação Portuguesa dedicado aquele
país irmão, Elysio de Carvalho apresenta Sardinha como colaborador da América
Brasileira e regozija-se pela homenagem que esta edição portuguesa representa e que
“muito nos sensibiliza a nós brasileiros, que amamos Portugal e reconhecemos sua
gloriosa ascendência” (CARVALHO, 1924, p.125).
6
“A Lição do Brasil: A Jackson de Figueiredo”. Nação Portuguesa. Revista de Cultura Nacionalista,
Lisboa, 2 série, 2 vol, 1922-1923, p. 546. e América Brasileira. Resenha da vida Nacional, Rio de Janeiro,
Ano 3, N. 28, Abril de 1924, p.106.
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e a necessidade de união entre os dois movimentos doutrinários para o sucesso da causa
que advogam:
“Li com o carinho que me inspira tudo quanto lhe diz respeito à sua mente o
numero da Nação Portuguesa dedicado ao Brasil. A Lição do Brasil é de mestre. A
questão que se propõe tratar foi posta nos verdadeiros termos, e resolvida com
clarividencia, com superioridade. Ha mister assignalar apenas o excesso de sympathia
transformando um humilde cavaqueiro das letras ou da historia em pensador de alta visão.
Deslocada // a categoria do escriba, cuja obra tem apenas como titulo de recommendação
a generosidade dos mestres, ser inspirada pelo mais são pacotismo, o resto está quase
certo. Digo quasi, porque, meu caro Sardinha, tenho as minhas duvidas àcerca da
superioridade da philosophia que lhe serve de guia e a que o seu admiravel talento
empresta tanto fulgor. A única diferença que exista talvez: é Você catholico, monarchista
e nacionalista, enquanto eu, imperialista e nacionalista, sou profundamente pagão,
amoralista, e o meu aristocratismo tem fundamentos no cesarismo, na tyrannia. Não
quero, porem, desdobrar esta carta em artigo, descutindo pontos de doutrina que exigiriam
muito espaço e reflexão para serem esclarecidos. O que sei é que a somma de affinidades
que existe entre nós é bastante // para evitar qualquer separação. Vivemos do mesmo
ideal, e semelhante é a nossa obra, e já agora não podemos prescindir um do outro para a
realização do sonho que nos alimenta, nos illumina, nos consomme” (carta nº 3, 1 abril
1924, RELVAS, 1998, p.143).
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4. Diário de Pernambuco e a campanha de Gilberto Freire
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enumerando as figuras presentes e retendo passagens do seu discurso, como o trecho
seguinte: “sem a angústia metafísica de Antero, sem a tragédia de Oliveira Martins, sem
o suicídio de Mouzinho, sem o purgatório de Fialho e sem a conversão de Ramalho
Ortigão nós nunca teríamos sidos possíveis” (FREYRE, 1925, p.1).
Mas, para além do alargamento da rede de sociabilidade que se cria em torno das
revistas literárias luso-brasileiras, que colocam Sardinha como uma referência no meio
culto brasileiro e, por outro lado, atestam o seu vasto conhecimento sobre o Brasil mental
do seu tempo, a sua obra é objeto de discussão no que respeita à sua ascendência sobre os
jovens nacionalistas brasileiros. Assim sucede quando José Lins do Rego, num artigo
publicado em Era Nova (Paraíba), refuta a suposta filiação dos conservadores brasileiros
no movimento de Charles Maurras, situando-o mais próximo do Integralismo português,
facto que é corroborado por Gilberto Freyre que afirma que a referência brasileira da
contrarrevolução está antes presente nos mestres portugueses: “A aproximação dos
adolescentes brasileiros que já não creem na perfeição da Democracia – deve ser antes
com o movimento reacionário português, ou hispânico, que com o francês. Tem razão o
Sr. José Lins em falar de António Sardinha e do Sr. Fidelino de Figueiredo como melhores
mestres para a mocidade do Brasil” (FREYRE, 1925d, p.3). De facto, Fidelino Figueiredo
(1888-1967), amigo e confrade doutrinário de Sardinha, com quem estabelece frutuosa
correspondência, partilha do ideário hispanista do mestre integralista e Freyre recordará
em diferentes momentos essa filiação apontando Fidelino como discípulo de Menéndez
y Pelayo e seguidor em Portugal e no Brasil do seu “critério hispânico” (Freyre, 1926,
p.1). Além de Sardinha e Fidelino, Freyre recomenda aos jovens a leitura de Menéndez y
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Pelayo, Gama e Castro, Ángel Ganivet e T. Lúcio de Azevedo. Deste modo, Freyre
aconselha a leitura d’A Aliança Peninsular e apela a um editor que envie para o Brasil o
livro de referência do hispanismo de Sardinha, para além de O Novo Príncipe de Gama e
Castro, Cultura Peninsular de Manuel Múrias e Pensamento Integralista (1923) de
Fernão da Vide. Noutro ensaio, publicado no ano seguinte, o sociólogo brasileiro que se
havia de destacar na década de trinta pelo seu luso-tropicalismo, continua a defender o
hispanismo e recorda o “saudoso amigo” António Sardinha, estabelecendo oposição entre
o progresso norte-americano e o sentido de civilização dos povos hispânicos “almas
inquietas de Dons Quixotes” (FREYRE, 1926, p.1). Defendendo, mais tarde, uma
comunidade luso-brasileira onde sobressaem as línguas e as culturas da Península como
traço de união entre os povos hispânicos, Gilberto Freyre partilha, em carta enviada já no
final do ano 1924, as suas impressões sobre o ideário aliancista do mestre português:
“Páginas fortes e agudas, nas quais muito me clarifiquei sobre o assumpto que há
anos me apaixona. De facto - minha primeira educação nos estados Unidos, fizera de mim
um hispanista. No seu livro encontrei o máximo de classificação. É um livro fecundante.
É um Fortúnio livro.” (carta nº2, RELVAS, 1998, p.140-141).
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O alcance da Nação Portuguesa no Brasil, enquanto órgão do Integralismo
Lusitano, supera em larga medida, as restantes revistas portuguesas que naquele país
procuram a internacionalização e o intercâmbio, convertendo-se numa revista de
referência para a intelectualidade conservadora brasileira. A sua doutrina passa a ser
discutida nos centros políticos das principais cidades brasileiras. Plínio Salgado divulga
na Sociedade de Estudos Políticos (SEP), fundada em 1932, em São Paulo, criando, pelo
Manifesto de Outubro, de 1932, o movimento do Integralismo Brasileiro. Com o seu
exílio em Portugal, entre 1939 e 1946, devido a incompatibilidades com o regime de
Getúlio Vargas, Plínio Salgado terá nos seus correligionários integralistas portugueses
Luís de Almeida Braga, Hipólito Raposo, Pequito Rebelo e Alberto de Monsaraz uma
plataforma de apoio que se estenderá a outros movimentos europeus de feição totalitária.
Também Arlindo Veiga do Santos (1902-1978), fundador da Ação Imperial Patrianovista
Brasileira, cria em1935, o movimento monárquico Pátria Nova, congregando sobretudo
jovens simpatizantes da causa monárquica no Brasil. Já na década de 40, Guilherme
Martínez Auler será um dos divulgadores do pensamento do integralista português com o
seu livro António Sardinha (1943) e uma série de ensaios publicados na Revista Tradição
(1937), com colaboração de Manuel Múrias e Carlos Malheiro Dias, acompanhando a
revivescência da obra do mestre que se fazia sentir também em Portugal e Espanha com
as edições de À Lareira de Castela (1943), A Aliança Peninsular (1930) com Prefácio de
Gabriel Maura Gamazo, La Alianza Peninsular, de 1930 e 1939 e La Cuestión Peninsular
(1940), com tradução de Beneyto Pérez e prólogo de Marqués de Lozoya. Outro seguidor
do pensamento de Sardinha seria José Pedro Galvão de Sousa (1912-1992), que nas
páginas de A Reconquista – revista bilingue de cultura (1950-1952), dedica um número a
António Sardinha e ao Integralismo.
Notas conclusivas
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Lusitano afigura-se mais próximo do que outros grupos contrarrevolucionários que na
Europa procuravam afirmar-se como alternativa política.
Bibliografia consultada
_______________. “Nação Portuguesa” (dez. 1922). América Brasileira, ano II, nº15,
março 1923, p.94.
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2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2
_________. “Nação Portuguesa”. Diário de Pernambuco, 2 de abril 1924a, p.1
GANNS, Cláudio. “O Jornalista”. A Ordem, ano VIII –vol. I (Nova Série). Rio de Janeiro,
Anuário do Brasil, 1929, p.277-285.
REDAÇÃO. “Nação Portuguesa”. A Ordem. ano VIII, vol. I (Nova Série). Rio de Janeiro,
Anuário do Brasil 1929, p.411.
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2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2
SARAIVA, Arnaldo. O Modernismo Brasileiro e o Modernismo Português. Subsídios
para o seu estudo e para a história das suas relações. Vila Nova de Gaia: Rocha Artes
Gráficas, 1986.
____________. “O Génio Peninsular”. América Brasileira, ano II, nº14, fevereiro 1923,
pp.44-46.
____________. “O Brasil e o Hispanismo”. Nação Portuguesa, nº9, série IV, tomo II,
1927, p.185.
VIANA, Artur Gaspar. “Através dos jornais e das revistas”. Nação Portuguesa, nº11, 3ª
série, 1929, p.ccxxxix.
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APENDICE
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Figura 2 A Ordem, 1929. Biblioteca Nacional Digital.
http://memoria.bn.br/DocReader/cache/5625805476605/I0000001-5Alt=000585Lar=000377LargOri=004186AltOri=006496.JPG
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Figura 3 América Brasileira. Ano II, nº14 fevereiro 1923. Biblioteca Nacional Digital
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=158089&PagFis=839&Pesq=Ant%C3%B3nio%20Sardinha
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Figura 4 América Brasileira, ano II, nº18 junho 1923.
http://www.historiadealagoas.com.br/elysio-de-carvalho-do-anarquismo-para-a-policia.html
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͞Receção do pensamento de António Sardinha nas revistas Brasileiras: A Ordem, América Brasileira e
Diário de Pernambuco͟. Atas do XII Colóquio Internacional Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-
Americano. (Org.) Eliana Brites Rosa e Maria Emília Prado. Rio de Janeiro: Rede Sirius; Porto, Portugal,
2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2
Figura 5 António Sardinha, ͞O Significado do Amadis͟. América Brasileira, nº26, fevereiro, pp.42-43.
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͞Receção do pensamento de António Sardinha nas revistas Brasileiras: A Ordem, América Brasileira e
Diário de Pernambuco͟. Atas do XII Colóquio Internacional Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-
Americano. (Org.) Eliana Brites Rosa e Maria Emília Prado. Rio de Janeiro: Rede Sirius; Porto, Portugal,
2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2
Figura 10 Diário Pernambucano, Recife, 18 dezembro 1923, p.1. Biblioteca Nacional Digital.
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=029033_10&pasta=ano%20192&pesq=Ant%C3%B3nio%20Sa
rdinha
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͞Receção do pensamento de António Sardinha nas revistas Brasileiras: A Ordem, América Brasileira e
Diário de Pernambuco͟. Atas do XII Colóquio Internacional Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-
Americano. (Org.) Eliana Brites Rosa e Maria Emília Prado. Rio de Janeiro: Rede Sirius; Porto, Portugal,
2017, pp.1-24. Recurso online. ISBN 978-85-5676-014-2