Setença Marcus Rinco
Setença Marcus Rinco
Setença Marcus Rinco
18/10/2024
Número: 0600331-91.2024.6.09.0143
Classe: AçãO DE INVESTIGAçãO JUDICIAL ELEITORAL
Órgão julgador: 143ª ZONA ELEITORAL DE ALTO PARAÍSO DE GOIÁS GO
Última distribuição : 23/08/2024
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Inelegibilidade - Abuso do Poder Econômico ou Político, Abuso - De Poder Econômico,
Abuso - De Poder Político/Autoridade, Abuso - Uso Indevido de Meio de Comunicação Social
Segredo de Justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
COMISSAO PROVISORIA DIR. MUNIC. DO PARTIDO DA
REPUBLICA(PR) (INTERESSADO)
LUIZ FELIPE SOUZA DE LUCENA (ADVOGADO)
ELEICAO 2024 MARCUS ADILSON RINCO PREFEITO
(INTERESSADO)
ELIOMAR ARTUR BERTOLDO SIQUEIRA (ADVOGADO)
ELEICAO 2024 HELENA MARIA DA CONCEICAO GOMES
VICE-PREFEITO (INTERESSADO)
ELIOMAR ARTUR BERTOLDO SIQUEIRA (ADVOGADO)
Outros participantes
PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE GOIÁS (FISCAL
DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
123920391 18/10/2024 Sentença Sentença
14:42
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE GOIÁS
143ª ZONA ELEITORAL DE ALTO PARAÍSO DE GOIÁS GO
SENTENÇA
Trata-se de Ação de Investigação Judicial Eleitoral ajuizada pelo Partido Liberal (PL) - Alto
Paraíso de Goiás/GO contra os candidatos MARCUS ADILSON RINCO e HELENA
MARIA DA CONCEIÇÃO GOMES, filiados, respectivamente, ao UNIÃO BRASIL e ao
PARTIDO RENOVAÇÃO DEMOCRÁTICA - Alto Paraíso de Goiás e candidatos aos
cargos de prefeito e vice-prefeita nas eleições 2024 do município de Alto Paraíso de
Goiás/GO, em virtude de suposto uso indevido da máquina pública, com abuso de poder
político e econômico em período que antecedeu a eleição municipal de 2024.
Em síntese, o autor afirma que os réus teriam agido com abuso de poder político e
econômico, por praticar as condutas vedadas previstas no artigo 73, I, II e III da Lei n°
9.504/97. Para caracterizar tais ilícitos, o autor atribui aos réus as seguintes condutas
irregulares: campanha eleitoral antecipada por meio de carreata, a qual teria sido
divulgada nas redes sociais institucionais da Prefeitura Municipal de Alto Paraíso de
Goiás, uso ilícito de bens públicos e utilização de motoristas servidores do município em
horário de trabalho.
Os réus alegaram também ausência de conjunto probatório robusto e ausência de provas acerca
das alegações da parte autora, visando tão somente causar tumulto nas eleições 2024,
requerendo ao final, seja a ação em epígrafe julgada improcedente, sejam confirmados os
registros de candidatura dos réus MARCUS ADILSON RINCO e HELENA MARIA DA
CONCEIÇÃO GOMES e a suspeição da testemunha Wesley Sandro Xavier do Bonfim.
Na designada audiência de instrução, NÃO foram inquiridas as testemunhas arroladas pela parte
autora, em razão da ausência destas. Ouvidas as testemunhas de defesa Wesley Francisco
Gonzaga, Vinícius Faria de Amorim e Ariovaldo Correa dos Santos, conforme mídias anexadas.
O autor, em alegações finais, acusou a manifesta parcialidade das testemunhas arroladas pelos
réus, reiterou todos os pedidos elencados na inicial e pugnou pela procedência da ação em
epígrafe.
O Ministério Público Eleitoral, por sua vez, manifestou-se pela procedência da presente AIJE,
pela condenação dos réus MARCUS RINCO e HELENA, por prática de conduta vedada e por
abuso de poder político, decretando-se a sua inelegibilidade; pela cassação dos seus registros de
candidatura ou dos diplomas; pela aplicação da multa prevista no artigo 73, §§ 4° e 8° da Lei n°
9.504/97 e pela aplicação da multa prevista no artigo 36, §3° da Lei das Eleições por propaganda
antecipada.
É O RELATÓRIO. DECIDO.
Nesta situação, entendo que a contradita deve ser apresentada antes do início do depoimento,
quando o juiz/juíza começar a qualificar a testemunha, fato que não se verificou na audiência de
oitiva, pois o advogado do partido representante somente se manifestou quando as testemunhas
da defesa já tinham prestado seus depoimentos.
Assim, entendo configurada a preclusão, sendo este também o entendimento do STJ: "A
desconsideração do testemunho foi considerada preclusa, tendo em vista que o momento da
contradita é aquele entre a qualificação desta e o início de seu depoimento. (AgInt no REsp
nº 1.652.552/MT, relator ministro Marco Aurélio Bellizze, 3ª T., j. 26.6.2018)". "O momento
oportuno da contradita da testemunha arrolada pela parte contrária é aquele entre a qualificação
desta e o início de seu depoimento. (REsp nº 735.756/BA, relator ministro João Otávio de
Noronha, 4ª T., j. 9.2.2010)".
Em relação ao item (I) propaganda eleitoral antecipada vedada em favor dos candidatos
MARCUS RINCO e HELENA, o autor afirma que o fato o ocorreu no dia 05 de julho de 2024,
portanto, em data anterior ao início do período permitido para realização de propaganda eleitoral,
qual seja, 16 de agosto de 2024.
Sobre a afirmação do autor, os réus alegaram que praticaram a carreata para demonstrar a
publicidade dos atos da gestão municipal, exibindo à população novos veículos adquiridos para o
município, sem cunho eleitoreiro ou com pretensão de obter apoio político e, por tal razão, tal
ação independeria do período eleitoral.
A propaganda eleitoral busca trazer votos aos candidatos e está direcionada a influenciar a
vontade do eleitorado para induzir que determinado candidato é o mais apto a determinado cargo
eletivo. Portanto, a propaganda eleitoral, evidentemente, ocorrerá em período de campanha
eleitoral.
Diante da afirmação acima, percebe-se que a propaganda eleitoral é feita em prol de candidatos.
Contudo, quando se fala de propaganda eleitoral antecipada, que é divulgada antes do período
permitido, ou seja, antes de existirem candidatos, o beneficiário será um pré-candidato, que é
uma pessoa com a intenção de concorrer às eleições, mas que não formalizou ainda seu pedido
de registro de candidatura pelo fato de, na maior parte das vezes, ainda não ter sido aberto o
prazo para isso.
Ressalto que a propaganda feita fora do tempo é uma propaganda irregular, logo, a propaganda
Portanto, perante a legislação eleitoral, não é aceitável que alguns possam divulgar suas
propagandas antes mesmo que outros tenham se registrado como candidatos.
Verifica-se no caderno processual que os réus MARCUS RINCO e HELENA, não só tiveram
prévio conhecimento como participaram ativamente da mega-carreata no dia 05 de julho de 2024,
inclusive realizando discursos no final do evento para celebrar a emenda parlamentar de verba
destinada à reforma do ginásio de esportes no município de Alto Paraíso de Goiás, conforme
fartas provas colacionadas aos autos (ID 122879444, 122879451, 122879460) e os
testemunhos colhidos neste Juízo.
No caso em apreço, apesar de não haver comprovação nos autos sobre pedido explícito de
votos, o que a meu ver, é totalmente irrelevante, a carreata antecipada, nos moldes em que foi
realizada, camuflada como um evento de prestação de contas à sociedade sobre como os
recursos da atual gestão foram gastos, possuiu todas as características de antecipação de ato de
campanha, com a participação ativa do prefeito MARCUS RINCO e a vereadora HELENA.
No caso concreto, restou comprovado que a carreata, amplamente divulgada nas redes
sociais da prefeitura, antes e após o evento, ocorreu às vésperas do período eleitoral, no
dia 05/07/2024, consistindo em evento de grandes proporções, com a participação direta
do prefeito MARCUS RINCO e da vereadora HELENA, que, por sinal, acabaram sendo
eleitos para os cargos de prefeito e vice. Naquela oportunidade, eles se dirigiram aos
cidadãos de Alto Paraíso de Goiás, acompanhados pela frota de veículos oficiais e carro
de som, possuindo tal ato inegável caráter de propaganda eleitoral, com capacidade
para macular claramente o princípio da igualdade de oportunidades entre os futuros
candidatos no pleito de 2024.
Em relação ao item (II) uso indevido da máquina pública em violação à Lei Complementar n°
64/90 e Lei n° 9.504/97, configurando desvio ou abuso do poder político, o autor afirma que foram
utilizados veículos oficiais diversos, máquinas retroescavadeiras e ambulâncias da prefeitura de
Alto Paraíso de Goiás, na referida carreata realizada no dia 05 de julho de 2024.
Sobre as afirmações do autor, os réus alegaram a ausência de conjunto probatório robusto para
fundamentar a condenação referente ao artigo 22 da Lei Complementar n° 64/90, colacionando
Pois bem.
A meu ver, após detida análise dos autos, razão assiste ao autor da ação e ao Ministério Público
Eleitoral neste item.
O desvio do poder político restou comprovado nos autos, uma vez que a mencionada carreata
contou com a quase totalidade da frota de veículos oficiais à disposição da prefeitura, incluindo
até mesmo retroescavadeiras e ambulâncias, por sinal, veículos que não guardam qualquer nexo
com a aprovação da emenda destinada à reforma do ginásio de esportes, além do emprego de
carro de som para embalar a carreata, causando grande impacto e chamando a atenção dos
eleitores em todos os lugares em que a carreata percorreu dentro do município de Alto Paraíso de
Goiás.
Ora, verifica-se que, dentre tantas inaugurações de obras importantes no município de Alto
Paraíso de Goiás, tais como a nova delegacia de polícia, recapeamento da malha viária
municipal, construção de novas escolas, implementação de diversos programas sociais, diante
Tais fatos também não passaram desapercebidos pelo digno representante do Ministério Público
Eleitoral que apontou em suas alegações finais, ID 123901727, a manifesta gravidade do fato,
dado que veículos que deveriam ser utilizados tão somente em prol do Município e, por
consequência, do interesse público, foram colocados à disposição de interesses privados dos
candidatos MARCUS RINCO e HELENA, destoando dos fins aos quais se destinam tais bens,
restando plenamente caracterizado o desvio de finalidade administrativa e o abuso de poder
político.
Pelo conjunto probatório angariado aos autos, restou demonstrado que o réu MARCUS
RINCO, como gestor da prefeitura de Alto Paraíso de Goiás, ao período dos fatos
narrados, praticou as condutas vedadas a agentes públicos previstas no artigo 73, incisos
I,II e III da Lei nº 9.504/97:
Quanto à ré HELENA, apesar de não ser gestora da administração municipal, entendo que a
Ressalte-se que, independente da vitória conquistada nas urnas pelos réus nas Eleições
Municipais 2024, não se deve aqui mensurar de forma quantitativa o resultado da prática ilícita,
ou seja, aferir a quantidade de votos efetivamente captados pela conduta, mas sim, pela sua
vertente qualitativa, com base exclusivamente na gravidade que acarrete influência na vontade
livre do eleitor, desequilibrando a disputa a favor dos candidatos MARCUS RINCO e HELENA em
face dos demais candidatos, sendo desnecessária a demonstração do caráter eleitoreiro ou
promoção pessoal dos agentes públicos, bastando a comprovação da prática do ato ilícito.
Na controvérsia, não restam dúvidas de que os atos praticados pelos réus MARCUS RINCO
e HELENA caracterizaram as condutas vedadas previstas no artigo 73 e incisos da Lei nº
9.504/97 e, por consequência, restou plenamente configurado o abuso de poder político
que contribuiu para o desequilíbrio do pleito de 2024. Ficou constatado o uso de bens
pertencentes à Administração Municipal em benefício das candidaturas dos dois réus, em
detrimento dos demais adversários, que não desfrutaram de idêntica prerrogativa. Tal
fato, portanto, merece ser repreendido.
Em relação ao item (III), utilização de servidor público para fins de campanha eleitoral também
assiste razão ao PL, havendo fartas provas conclusivas sobre a participação ativa dos motoristas
da prefeitura que conduziram os veículos da frota oficial no evento da carreata, conforme os
testemunhos colhidos em Juízo ID 123835921 e 123835933.
CONDENAR o réu MARCUS ADILSON RINCO à pena de inelegibilidade pelo prazo de 8 (oito)
anos contados das Eleições 2024 e à cassação do atual diploma de prefeito, do registro de
candidato referente às Eleições 2024 e do eventual diploma que venha a ser expedido, por abuso
de poder político, nos termos do artigo 22, XIV, da Lei Complementar n° 64/90, consubstanciado
na prática das condutas previstas no artigo 73, I, II, III da Lei n° 9.504/97, e ao pagamento de
multa no patamar de cem mil UFIR, nos termos do artigo 73, §4° da Lei n° 9.504/97;