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A reconstrução do ser, que se desconstrói constantemente, reerguendo-se na mesma

vontade de tornar-se alguém através de algo, que é inatingível, inconcebível, e que tudo o
que existe sobre tal, é apenas uma crença de completude. A mulher que caminha em
direção à um rumo incerto, desloca a sua alma rumo ao abismo da certeza de que jamais
alcançará o seu fim. Porém, há a insistência. A morfologia do corpo químico se dilui, da
mesma forma que a esquematologia noetica é dissolvida nessa repetição constante de ser
e não-ser. O devir altera a tessitura da alma atual, que eternamente almeja a metamorfose,
para tornar-se a sua borboleta; o que vem ao seu encontro é o caos e a destruição, pois o
ser incompleto não pode almejar alguém que não existe. Como cita Lavelle em "O erro de
Narciso":

Não posso me ver a não ser virando-me para o meu próprio passado, isto é, para um ser
que já não sou mais. Contudo viver é criar meu próprio ser orientando minha vontade para
um futuro no qual ainda não sou, e que só será um objeto de espetáculo quando eu o tiver,
não somente atingido, mas já ultrapassado. Ora, a consciência que Narciso quer ter de si
mesmo lhe tira a vontade de viver, isto é, de agir. Pois, para agir, ele deve parar de se ver e
de pensar em si; deve deixar de converter em uma fonte na qual se olha uma origem cujas
águas se destinam a purificá-lo, a alimentá-lo e a fortalecê-lo. Mas ele tem demasiada
ternura por seu corpo destinado a se dissipar um dia, por esse passado que lhe foge e que
o obriga a correr atrás de uma sombra. Ele é como quem escreve suas memórias e busca
usufruir da sua própria história antes que ela tenha terminado. Olhar-se num espelho é ver
sua história avançar em sua direção: ali ninguém pode ler senão para trás o segredo do seu
destino. Narciso, portanto, é punido por sua injustiça, pois deseja contemplar seu ser antes
de tê-lo produzido; quer encontrar em si, para possuí-la, uma existência que não é senão
pura potência enquanto não se exerceu. Narciso se contenta com essa possibilidade: ele a
converte numa imagem enganadora; é nela que faz agora sua morada e não no seu próprio
ser. E o erro mais grave em que pode cair é que, ao criar essa aparência de si na qual se
compraz, ele imagina ter criado seu ser verdadeiro. É somente na medida em que avança
na vida que o homem começa a ser capaz de se ver. Então ele se volta, mede o caminho
percorrido e nele descobre o vestígio dos seus passos. A origem na qual Narciso se mira só
deve ser visitada ao crepúsculo. Nela, ele só pode olhar uma forma que se esfuma, próxima
do declínio, no instante em que ele mesmo vai ser também uma sombra. Então seu ser e
sua imagem se assemelham e acabam por se confundir. Mas foi na aurora que o jovem
Narciso foi se mirar na origem; buscou olhar o que não devia ver; e seu trágico destino o
obrigou a entregar seu próprio corpo à imagem na qual ele pretendia capturá-lo. Agora ele
não pode mais que se unir a essa estéril efígie. Está condenado a uma morte precoce e
inútil porque quis obter, antes de tê-lo merecido, este privilégio que só a morte pode dar ao
homem: contemplar dentro dele sua própria obra no momento em que esta se cumpriu.

A mulher nunca alcança um novo ser, pois o homem é o que é, não algo externo à sua
essência que, em completude genuína, se dá apenas em seu último suspiro. Por isso a
imagem é deteriorada. O suplício de sua jornada indulgente promove a maquinação do
eidos, que se torna orgânico e sistêmico, como um robô programada para realizar
incessantemente a mesma tarefa, mesmo que nunca obtenha resultado. A busca se torna
monótona e sem sentido, um abandono do seu estado atual por uma ilusão auto-indulgente,
que recompensará o seu cansaço e perca de identidade. Não existe uma dimensão
particular, apenas uma metonímia de tal. O microcosmo foi consumido pelo macro, que atua
e altera o particular, sem modificar o seu ser, pois esse nunca é afetado, já que a realização
do fim particular sempre é impedida. Eis aí o mundo de Atlas.

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