AULA 01 - Princípios Do Direito Tributário. Limitações Constitucionais Ao Poder de Tributar.
AULA 01 - Princípios Do Direito Tributário. Limitações Constitucionais Ao Poder de Tributar.
AULA 01 - Princípios Do Direito Tributário. Limitações Constitucionais Ao Poder de Tributar.
Autores
Prof.: Thiago Föetsch 23 de Outubro de 2024
Dias de Carvalho,
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Sumário
Apresentação do curso ...................................................................................................................................... 3
Resumo............................................................................................................................................................. 91
cj.estrategia.com | 2
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Procurador ...................................................................................................................................................................... 96
cj.estrategia.com 2| 3
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Gabarito.......................................................................................................................................................... 114
É com imenso prazer que dou as boas-vindas a vocês ao nosso Curso de Direito
Tributário aqui no Estratégia Carreira Jurídica! Meu nome é Felipe Duque, e
serei seu professor nesta jornada rumo à aprovação.
@felipe_duque
1. Sobre mim
2. Diferenciais do curso
cj.estrategia.com 3| 4
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
3. Minha história
1 - CONTEÚDO DO CURSO
Olá, Doutores e Doutoras! Será um grande prazer auxiliá-los na preparação do concurso do III ENAM, para o
cargo de Juiz.
AULA CONTEÚDO
Aula 00
14. Princípios do direito tributário. Limitações constitucionais ao Poder de Tributar.
Aula 01
14. Demais Princípios.
Aula 02
14. Imunidade tributária, isenção e não incidência.
Aula 03 14. Sistema tributário nacional. Tributos em espécie: noções gerais. Capacidade
tributária.
Aula 04 14. Competência tributária: classificação, exercício da competência tributária.
Repartição de receitas públicas.
Aula 05
14. Impostos Federais
cj.estrategia.com 4| 5
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Aula 06
14. Impostos Estaduais
Aula 07
14. Impostos Municipais
Aula 08
Atos das Disposições Constitucionais Transitórias: Reforma Tributária
Aula 09
Reforma Tributária
Aula 10
Orçamento e finanças públicas. (Prof. João Lawall)
O princípio da legalidade tributária é identificado na maioria das doutrinas como tendo sua origem na Carta
Magna inglesa de 1215, promulgada pelo Rei João Sem Terra. Este documento é considerado um marco na
construção da legalidade, ao estabelecer que a criação de tributos dependia da anuência de um conselho de
barões, precursor das futuras representações parlamentares.
No entanto, outros estudiosos, como Luiz Eduardo Schoueri1, apontam que as raízes desse princípio
remontam ainda mais longe, às corporações de ofício da Idade Média, e ainda, no feudalismo. Estas
corporações tinham regulamentos internos que, de certa forma, já configuravam um tipo primitivo de
legalidade.
Essa ideia foi cobrada no concurso de Procurador da Prefeitura de Contagem-MG de 2019, FUNDEP, que
trouxe a seguinte assertiva correta solicitando a doutrina do autor Schoueri:
“Schoueri, em seu livro Direito Tributário (2016), desenvolveu capítulos atinentes aos princípios e
limitações ao poder de tributar: Diferentemente do que é apresentado em textos, o surgimento da
legalidade tributária não adveio da Magna Carta assinada em 1215, por João Sem Terra, oportunidade
que restou evidenciando o natalício da expressão “no taxation without representation”. O direito de
não concordar com a tributação estava presente nas corporações de ofícios e, ainda, no feudalismo.”
(certo)
1 SCHOUERI, Luiz Eduardo. Curso Direito Tributário Completo. São Paulo: Saraiva, 2017.
cj.estrategia.com 5| 6
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Com origem na Magna Carta de 1215, quando desde então vigorava “no taxation without
representation”, é direito fundamental do contribuinte, previsto no art.150, I, da Constituição de 1988,
que não encontra mitigação na ordem tributária brasileira (errado).
Independentemente da origem exata, é inegável que o princípio da legalidade tributária está intimamente
ligado ao desenvolvimento da democracia. Um dos pilares do regime democrático é a governança exercida
pelo povo, que na prática se dá por meio de representantes eleitos. Esses representantes têm o poder de
criar e modificar tributos, refletindo a vontade popular.
Dessa forma, o princípio da legalidade tributária reflete a juridicização do postulado político de que "não
pode haver tributação sem representação" (No taxation without representation). Em uma democracia, os
cidadãos, direta ou indiretamente, escolhem quanto e como devem contribuir para o financiamento das
atividades estatais. Isso assegura que a tributação seja realizada dentro dos limites impostos pela lei,
garantindo previsibilidade e segurança jurídica aos contribuintes.
Para facilitar a compreensão, podemos pensar na legalidade tributária como um escudo que protege os
cidadãos contra a imposição arbitrária de tributos pelo Estado. Assim, qualquer tributo deve estar previsto
em lei, aprovada pelos representantes do povo. Sem essa previsão legal, nenhuma cobrança pode ser
legitimamente exigida.
O princípio da legalidade tributária foi consagrado em todas as constituições brasileiras, exceto na Carta de
1937. A Constituição de 1891, por exemplo, não só o incluiu na parte relativa à competência do Poder
Legislativo (art. 34), como também o elevou à categoria de direito individual na Declaração de Direitos (art.
72, § 30).
De forma semelhante, a Constituição Federal de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº
1/69, contemplou o princípio da legalidade tributária em dois capítulos distintos: no Sistema Tributário
Nacional, onde proibiu a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios de "instituir ou aumentar
tributo sem que a lei o estabeleça" (art. 19, I); e no Capítulo dos Direitos e Garantias Individuais, assegurando
aos cidadãos que "nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o estabeleça" (art. 150, § 29).
Na Constituição Federal de 1988, o princípio da legalidade é destacado em dois pontos principais. Primeiro,
no art. 5º, II, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, e segundo, no art. 150, I, dentro do
sistema tributário constitucional, garantindo que somente a lei, como expressão da vontade geral, pode criar
ou aumentar tributos. De acordo com o art. 5°, II, da CF/88, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Como o tributo é uma prestação pecuniária compulsória (é uma
obrigação, portanto), deve ser instituído em lei, como decorre do seu próprio conceito, estampado no art.
3° do CTN.
Há quem denomine de princípio da reserva legal. Portanto, querido candidato(a), você pode considerar
correta a questão que fizer menção tanto à legalidade quanto ao princípio da reserva legal.
cj.estrategia.com 6| 7
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Em resumo, a legalidade tributária não apenas estabelece um limite ao poder de tributar do Estado, mas
também reforça a legitimidade e a transparência do sistema tributário, ao assegurar que todos os tributos
sejam instituídos e modificados de acordo com procedimentos
O princípio da legalidade tributária encontra base no artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, o qual
dispõe no seguinte sentido:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal:
Ao empregar o verbo "exigir", a Constituição não apenas proíbe a cobrança de um tributo, mas também a
sua própria instituição por meio de qualquer ato que não seja uma lei formal. Assim, a edição de uma lei é
um requisito de validade da norma tributária, e não apenas uma condição para a sua eficácia. Isso implica
que a criação e a alteração de tributos devem ser realizadas exclusivamente por meio de leis aprovadas pelo
poder legislativo.
Portanto, a interpretação correta do artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, é que as entidades
federativas não podem instituir tributos sem a devida previsão legal. Esse princípio garante que a instituição
de tributos seja realizada de maneira transparente e democrática, respeitando a participação do legislativo
e, por extensão, do próprio povo.
Perceba, no que tange à “instituição” (exigir) de Tributos por lei, a doutrina majoritária entende que não há
exceção prevista no ordenamento jurídico. Isso não significa, nem exclui a possibilidade de haver exceções
quanto à “majoração” (aumentar) por lei, nem sequer a instituição por Medida Provisória, pois apresenta
“força de lei”.
Por exemplo, no concurso de Delegado de Polícia-PE (CESPE 2024), trouxe a seguinte alternativa incorreta
“o princípio da legalidade tributária impede a instituição de quaisquer impostos mediante medida
provisória”.
cj.estrategia.com 7| 8
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Vamos imaginar uma situação prática: se um tributo é criado por meio de uma lei aprovada pelo Congresso
Nacional, passando por todo o processo legislativo (discussões, votações, sanção presidencial), seria
incoerente e juridicamente inadequado permitir que essa mesma lei fosse revogada por uma decisão
administrativa ou outro ato de menor hierarquia. A extinção de um tributo, assim como sua criação, deve
passar pelo mesmo rigor legislativo, garantindo que qualquer mudança significativa seja devidamente
discutida e aprovada pelos representantes eleitos pelo povo.
Para ilustrar o princípio do paralelismo das formas, consideremos o caso da Lei Complementar
110/2001, que criou uma contribuição social devida pelos empregadores em caso de despedida
de empregado sem justa causa. Uma empresa contestou judicialmente a exigibilidade dessa
contribuição, alegando que sua finalidade original, que era corrigir diferenças monetárias do
FGTS, já havia sido cumprida, e, portanto, a contribuição deveria ser extinta.
A fundamentação do paralelismo das formas está diretamente ligada ao artigo 5º, II, da
Constituição Federal, que afirma que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei." Isso implica que obrigações tributárias, incluindo a criação,
modificação e extinção de tributos, devem sempre ser respaldadas por uma lei formal.
STF. Plenário. RE 878313, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes,
julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 696).
Além disso, como veremos, a lógica do paralelismo das formas se estende à concessão de benefícios fiscais
(Art. 150 § 6º da CF) e à imposição de multas tributárias (art. 5, I, da CF). Qualquer ato que conceda isenções,
reduza tributos ou estabeleça penalidades deve ser realizado por meio de uma lei, garantindo transparência
e respeito ao processo legislativo.
Preste atenção! No concurso de Procurador de Planalto da Serra (2019) cobraram isso: “A criação de tributos
está sujeita a reserva legal, contudo, a sua extinção não, sendo uma exceção ao principio do paralelismo das
formas” (errado).
(CESPE - PGM-SP - 2023) No que concerne aos princípios gerais da tributação e aos impostos, julgue os
itens que se seguem.
IV. O princípio da estrita legalidade aplica-se a todos os impostos, no que diz respeito à definição de
hipóteses de incidência, alíquotas e bases de cálculo.
cj.estrategia.com 8| 9
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Comentários
A assertiva IV está incorreta, vez que a própria CF/88 apresenta exceções ao princípio da estrita
legalidade, bastando verificar o art. 153, §1º que permite ao “Executivo, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.”
A antecipação do ICMS com substituição tributária deve se harmonizar com a lei complementar
federal que dispõe sobre a matéria (no caso, os arts. 6º e 9º da LC 87/96).
É imprescindível, ademais, que a instituição dessa substituição tributária seja feita por meio de
lei estadual em sentido estrito, com densidade normativa.
Logo, não basta que o decreto estadual atribua às empresas geradoras de energia elétrica a
responsabilidade por substituição tributária pelo recolhimento do ICMS. É indispensável que
exista lei estadual.
Mesmo que exista um convênio ICMS interestadual autorizando a substituição tributária, como
a CF/88 exige a edição de lei estadual em sentido estrito, esse convênio deve ser submetido à
apreciação da Assembleia Legislativa.
Por meio do Convênio ICMS n. 50/2019, os estados signatários acordaram em adotar, quanto ao
ICMS, o regime de substituição tributária nas operações interestaduais com energia elétrica neles
iniciadas com destino a distribuidora localizada no Estado do Amazonas. Ocorre que não foi
editada lei no Estado do Amazonas autorizando essa substituição tributária. Logo, o Decreto n.
40.628/19 do Estado do Amazonas, ao instituir substituição tributária relativamente ao ICMS e
incorporar à legislação amazonense o referido convênio, sem a prévia submissão desse à
Assembleia Legislativa, incidiu em inconstitucionalidade formal.
STF. Plenário. ADI 6144/AM e ADI 6624/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/8/2021 (Info
1024).
Traduzindo: um exemplo relevante é o caso da antecipação do ICMS com substituição tributária, onde se
requer que tal instituição esteja em conformidade com a lei complementar federal que trata do assunto, no
caso, a Lei Complementar 87/96. Mesmo que exista um convênio interestadual de ICMS autorizando a
substituição tributária, a Constituição Federal exige que a matéria seja regulamentada por lei estadual.
Assim, um decreto estadual que institua substituição tributária sem a prévia aprovação da Assembleia
Legislativa é considerado inconstitucional.
Indo mais fundo: o artigo 150, I, da Constituição de 1988, coloca o conteúdo normativo do princípio da
legalidade em matéria tributária no contexto dos direitos e garantias individuais, integrando-o ao capítulo
das limitações constitucionais ao poder de tributar.
cj.estrategia.com | 910
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
1) Exigência de norma legislativa: O dever fundamental de pagar tributos deve ser precedido
por uma norma emanada do Congresso Nacional, que representa a vontade democrática.
Outro detalhe: os direitos e garantias individuais, incluindo o princípio da legalidade, são parte do núcleo
imutável da Constituição de 1988 – cláusula pétrea. O § 4º do art. 60 da CF veda a proposição de emenda
tendente a abolir esses direitos e garantias. O STF já estabeleceu que o poder constituinte derivado não é
ilimitado, estando sujeito aos limites materiais, circunstanciais e temporais dos §§ 1º, 4º e 5º do art. 60 da
CF.
Nessa linha, na ADI 2.666/DF, o STF firmou que o § 4º, IV, do art. 60 proíbe a deliberação de emenda que
vise suprimir ou excluir a aplicação de preceitos constitucionais relacionados a direitos e garantias
individuais.
Veja, o que eu quero que você perceba é que, no fundo, tudo que o STF/STJ dentro do Direito Tributário está
associado ao “princípio da legalidade”. No intímo, é porque não se pode tributar porque a lei não está clara,
porque o fato gerador não aconteceu, porque extrapolou o poder regulamentar, ou é um beneficio fiscal
sendo interpretado extensivamente...
Item Descrição
1. Exclusão de Contribuinte do REFIS No contexto do Programa de Recuperação Fiscal (REFIS),
o STF determinou que a exclusão de contribuintes do
programa deve seguir estritamente as hipóteses
previstas na lei. A exclusão por critérios como "parcelas
ínfimas" não é permitida, pois viola o princípio da
legalidade tributária.
cj.estrategia.com |10
11
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
cj.estrategia.com |11
12
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
E esses temas/julgados caem muito! Veja por exemplo na prova da PGE-GO FCC 2021: “Miguel vende o seu
carro a Ramon entregando-o imediatamente. Contratualmente, Ramon se obriga a efetuar a transferência
formal e arcar com todos os débitos incidentes sobre o veículo, inclusive os anteriores à alienação. Miguel
não notifica a autoridade de trânsito, obrigação prevista no Código de Trânsito Brasileiro. Ramon descumpre
a sua obrigação, no que Miguel passa a ser cobrado por multas de trânsito e IPVA. Nesse caso, considerando
o disposto no Código Tributário Nacional e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, Miguel não pode
ser cobrado pelo IPVA incidente sobre o veículo posteriormente à data de entrega do veículo a Ramon,
exceto se houver tal previsão em lei estadual” (Certo).
A norma tributária apreendida a partir da regra-matriz, como qualquer norma jurídica, tem uma hipótese
(antecedente) e uma consequência (consequente). Por exemplo, no IPVA:
Hipótese: Consequência:
Ser proprietário de Veículo Ter de pagar IPVA
Automotor no Brasil
Para provas, é fundamental definirmos o entendimento majoritário do conceito de “Fato
Gerador” e “Hipótese de Incidência”, os quais, embora eventualmente tratados como
sinônimos, não o são, e podem gerar certa confusão na compreensão da matéria.
Em síntese, a regra-matriz de incidência tributária estabelece os elementos que uma lei tributária deve
conter para que um tributo seja corretamente aplicado. A regra-matriz é dividida em dois grandes grupos:
antecedente e consequente.
Antecedente
cj.estrategia.com |12
13
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O critério material é formado por um verbo e um complemento, que indica um comportamento humano
(matar alguém, auferir renda, importar produtos) ou um determinado estado (ser proprietário de bem
imóvel). Trata-se do núcleo essencial do enunciado normativo, em que se descreve uma conduta humana
condicionada no tempo e no espaço. Por abstração, desconsidera-se nesse momento os condicionantes de
tempo e de espaço2.
Pensemos em um exemplo do direito tributário, o ITR – Imposto Territorial Rural, cuja instituição foi operada
pela Lei 9.393/963.
O critério material pode ser enunciado da seguinte forma: Ser proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem
imóvel.
No caso do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), o critério material é "ser proprietário de um imóvel".
Outro exemplo é o IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física), cujo critério material é "auferir renda".
Sobre os aspecto material do IR, o STJ já decidiu que: “(...)aspecto material do IR se perfaz com a aquisição
de disponibilidade econômica e jurídica de rendas ou de proventos de qualquer natureza (acréscimo
patrimonial), independentemente da denominação, condição jurídica, origem ou forma de percepção das
receitas ou dos rendimentos, nos termos do caput e § 1º do art. 43 do CTN. A disponibilidade econômica
dar-se-á nas situações de fato e jurídicas em que se verifica a disposição material da renda ou dos proventos,
independentemente do efetivo recebimento de recursos financeiros, da materialização em dinheiro ou da
"utilidade" da renda (disponibilidade financeira). A disponibilidade jurídica surge a partir da atribuição da
titularidade de direito de conteúdo econômico capaz de ampliar o patrimônio do contribuinte, referindo-se
2 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
3Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a propriedade, o
domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de janeiro de cada ano.
cj.estrategia.com |13
14
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
a uma situação jurídica em que se constata a perfectibilização dos elementos, inclusive acidentais, para o
recebimento da renda ou dos proventos(...)” (STJ; REsp 2.071.754; Proc. 2023/0149906-0; SC; Rel. Min.
Francisco Falcão; Julg. 12/03/2024; DJE 15/03/2024)
O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer.
Um caso de definição explícita é o do IPTU, em que a legislação diz que o critério material (ser proprietário
de bem imóvel) deve ocorrer na zona urbana (critério espacial). Já um exemplo de definição implícita é o do
IPI, cujo critério espacial é todo território nacional.
O critério espacial pode ser: i) pontual, quando o local do fato deve ocorrer em um ponto bastante específico
(ex. estacionar veículo em local proibido, apresentar-se à Delegacia de Polícia localizada em determinada
cidade); ii) regional, quando o local eleito pela lei, embora específico, é um pouco mais amplo (ex. ser
proprietário de bem imóvel urbano, ou seja, dentro de uma determinada zona geográfica); iii) territorial,
bastante genérico, em que o critério espacial se confunde com o âmbito de vigência da lei (industrializar
produtos em qualquer lugar do território nacional); iv) universal, quando o critério espacial é mais amplo do
que o âmbito territorial da própria norma. (É o caso do IRPF, em que se tributa, nos casos de residentes no
Brasil, a renda auferida no exterior) 4.
No caso do ITR, o critério espacial é a zona rural, porque é nessa região geográfica que alguém deve ser
proprietário de um imóvel para que haja a incidência da norma jurídica5.
Quanto ao tema de aspecto espacial do ICMS, o STF já decidiu que: “Não ofende a técnica da não
cumulatividade a vedação à apropriação, transferência ou compensação de créditos relativos a impostos ou
contribuições abrangidos pelo Simples Nacional, inclusive o diferencial de alíquota. Art. 23 da Lei
Complementar 123/2006. Precedentes. 4. Respeita o ideal regulatório do tratamento favorecido para as
microempresas e empresas de pequeno porte a exigência do diferencial de alíquota, nos termos da legislação
estadual gaúcha(...)”Fixação de tese de julgamento para os fins da sistemática da repercussão geral: "É
constitucional a imposição tributária de diferencial de alíquota do ICMS pelo Estado de destino na entrada
de mercadoria em seu território devido por sociedade empresária aderente ao Simples Nacional,
independentemente da posição desta na cadeia produtiva ou da possibilidade de compensação dos
créditos”(STF; RE 970.821; RS; Tribunal Pleno; Rel. Min. Edson Fachin; DJE 19/08/2021; Pág. 32)
4TOMAZINI DE CARVALHO, Aurora. Teoria Geral do Direito – O construtivismo Lógico-semântico. 623 f. Tese (Doutorado
em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009, p.295-296.
5 Quando estudarmos impostos em espécie, vamos ver que há exceção a essa regra.
cj.estrategia.com |14
15
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O critério temporal é o momento, contido no suposto da regra, que indica o instante em que ocorre o fato
jurídico6.
Em alguns casos, como do IPTU, a sua veiculação explícita é imprescindível, porque se está diante de uma
conduta que exprime uma situação duradoura (ser proprietário de bem imóvel urbano). Assim, é preciso
responder de maneira expressa em que momento que essa situação (ser proprietário) se afigura relevante
para fins de incidência.
Já em outras circunstâncias, o critério temporal se encontra inserido de maneira implícita, porque pode ser
construído a partir do critério material.
Um exemplo de definição explícita ocorre com o ITR, cujo critério temporal é o dia 1º de janeiro, por definição
do artigo 1º da Lei 9.393/96.
Sobre o IPVA, o STF já decidiu que: “Não há desvio de finalidade no caso de Lei ordinária estadual alterar o
aspecto temporal do IPVA para viabilizar, a um só tempo, o respeito à garantia da anterioridade, inclusive
nonagesimal, e viabilizar a tributação dos veículos automotores pela alíquota majorada no exercício
financeiro seguinte ao da publicação desse diploma legal. Afinal, a finalidade da legislação é lícita e explícita”
(STF; ADI 5.282; PR; Tribunal Pleno; Rel. Min. Andre Mendonça; DJE 17/11/2022; Pág. 14)
Por exemplo, no IPTU, o sujeito ativo é o Município, e o sujeito passivo é o proprietário do imóvel.
No caso do ITR, via de regra, o sujeito ativo será a União Federal (há possibilidade de delegação da capacidade
tributária ativa aos Municípios, veremos isso mais na frente). Os sujeitos passivos são os proprietários,
enfiteutas e possuidores dos imóveis rurais.
Sobre o tema de figurar em polo passivo de ações de repetição do indébito, enuncia a súmula 666-STJ: “A
legitimidade passiva, em demandas que visam à restituição de contribuições de terceiros, está vinculada à
capacidade tributária ativa; assim, nas hipóteses em que as entidades terceiras são meras destinatárias das
contribuições, não possuem elas legitimidade ad causam para figurar no polo passivo, juntamente com a
União”.
O critério quantitativo é aquele que permite a identificação do objeto da prestação. Em direito tributário,
tratando-se de obrigação principal, a prestação é sempre pecuniária, ou seja, de dar uma quantia em
dinheiro. Essa quantia é calculada mediante a multiplicação da base de cálculo pela alíquota.
6 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 327.
cj.estrategia.com |15
16
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Por exemplo, no IPTU, a base de cálculo é o valor venal do imóvel, e a alíquota é o percentual aplicado sobre
esse valor (ex.: 1%).
No caso do ITR a base de cálculo é o valor da Terra Nua Tributável – VTN e as alíquotas variam entre 0,03%
a 20%, a depender do tamanho do imóvel e do grau da sua utilização.
Sobre o tema, já decidiu o STF “A Lei estabeleceu diálogo com o regulamento em termos de subordinação
(ao prescrever os limites e fixar os padrões), de desenvolvimento (notadamente do sistema jurídico de tutela
do ambiente do trabalho, da proteção do trabalhador contra acidentes de trabalho, da equidade e da
eficiência) e de complementariedade (ao deixar um valoroso espaço para o regulamento complementar
parte do aspecto quantitativo da regra matriz de incidência do tributo). O Poder Legislativo não abdicou de
sua competência para legislar sobre a matéria. A qualquer momento, pode o Parlamento deliberar de
maneira diversa, firmando novos critérios políticos e outros padrões a serem observados pelo regulamento”.
(STF; ADI 4.397; DF; Tribunal Pleno; Rel. Min. Dias Toffoli; DJE 07/03/2022; Pág. 4)
Esquematizemos:
cj.estrategia.com |16
17
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Gabarito:D
Pois bem, como se pôde observar, a norma imponível depende de todos os critérios enunciados acima. Não
há como instituir um tributo sem definir qual a conduta tributável (critério material), em que momento essa
conduta deve ocorrer (critério temporal) e em que local (critério espacial). Também não há como prescindir
cj.estrategia.com |17
18
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
da definição de quem é o credor ou devedor (critério pessoal), assim como da prestação que deve ser paga
(critério quantitativo).
Logo, em regra (porque há exceções como veremos), todos esses elementos devem ser veiculados por meio
de lei para que haja a observância do princípio da legalidade tributária.
Ano: 2021
Banca: Unilavras
Quanto aos princípios que norteiam o Direito Tributário, é correto afirmar que: “o princípio da
legalidade tributária inserido no art. 150, I, da Constituição da República de 1988 se estende a todas
as espécies tributárias espalhadas pelo ordenamento jurídico” (CORRETO).
Ademais, ao utilizar a expressão aumentar tributos, a Constituição determina que o princípio da legalidade
não se satisfaz com a mera instituição. O incremento do seu valor também depende de lei.
Assim, a regra geral é a de que qualquer modificação na base de cálculo ou na alíquota da norma imponível
que represente um incremento real no valor da obrigação não pode ser realizada por meio de um ato
infralegal.
Frisamos o termo real pelo seguinte motivo: O artigo 97, §2º, do Código Tributário Nacional determina que
não se considera como majoração do tributo “a atualização do valor monetário da respectiva base de
cálculo”.
É, inclusive, comum que Prefeitos atualizem a Planta Genérica de Valores (PGV), que prevê o valor venal dos
imóveis da cidade, para fins de promover a cobrança anual do IPTU, o que é possível de ser promovido por
meio de simples decreto.
O Supremo Tribunal Federal considera que essa regra é compatível com a Constituição Federal 7.
(Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Santa Maria de Jetibá - ES - Auditor Fiscal de Tributos)
A atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo (que não se confunde com o seu
aumento) e a fixação do prazo para recolhimento são exemplos de exceções ao princípio da
legalidade tributária (Certo)
7 RE 648245, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-038 DIVULG 21-02-2014 PUBLIC 24-02-2014.
cj.estrategia.com |18
19
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Por outro lado, há entendimento que veda o disfarce dessa atualização, como enuncia a Súmula 160 do STJ:
“É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de
correção monetária”. Portanto, sob o pretexto de “atualização” é normal que haja inconstitucionalidades
disfarçadas por decretos quando essa “atualização” supera os índices oficiais de correção monetária esse
aumento deve ser por lei.
Um cuidado é que a reforma tributária, dada pela EC 132/2023, trouxe a possibilidade de o IPTU ter sua base
de cálculo atualizada pelo Poder Executivo, conforme critérios estabelecidos em lei municipal (art. 156, III da
CF)
Logo, é possível que um ato infralegal atualize monetariamente a base de cálculo de um tributo sem que isso
represente ofensa ao princípio da legalidade tributária (abordaremos todas as exceções em tópico mais
específico).
A corrente ortodoxa da legalidade tributária, liderada por Alberto Xavier, defende a "legalidade absoluta e
tipicidade fechada". Segundo essa visão, a lei deve detalhar todos os elementos da regra-matriz de incidência
tributária, incluindo os aspectos material, pessoal, espacial, temporal e quantitativo.
Tradicionalmente, a jurisprudência do STF seguia essa linha ortodoxa, exigindo que a própria lei
determinasse exaustivamente todos os elementos da obrigação tributária, sem delegar essa função aos
Poderes Executivo ou Judiciário. Exemplos dessa jurisprudência incluem:
1)Salário-Educação: Recepcionado pela Constituição de 1988 com caráter tributário, sujeito ao art.
149 da CF, mas não a delegação ao Poder Executivo para fixar alíquotas (RE 290.079/SC).
2)Definição de Fato Gerador: O fato gerador do tributo não pode ser definido em regulamento (ADI-
MC 1.296/PE).
3)Alíquotas e Base de Cálculo: A alíquota e a base de cálculo das taxas devem ser estabelecidas na
lei, sendo inconstitucional delegar essa função a uma autoridade administrativa (RE 343.446/SC).
4)Conceito de Sujeito Passivo: Sem lei, o conceito de sujeito passivo não pode ser ampliado (RE
704.292/PR-RG).
Contudo, a doutrina contemporânea questiona a necessidade de uma "tipicidade fechada" pela legalidade
estrita para garantir a segurança jurídica nas relações fiscais.
Marco Aurélio Greco argumenta que a ideia de legalidade vem se transformando nos últimos duzentos anos,
especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Ele destaca que a legalidade não se refere apenas aos meios
ou pressupostos da ação, mas também aos fins e resultados. Assim, a discussão gira em torno do tipo e grau
de legalidade que satisfazem a exigência do art. 150, I, da CF/88, evitando interpretações caricatas da
legalidade.
cj.estrategia.com |19
20
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Ricardo Lobo Torres também observa mudanças na concepção da legalidade. Ele destaca que a flexibilização
do princípio da reserva de lei é observada em países como Alemanha, Itália, Argentina e Uruguai. Torres
conclui que o legislador tributário pode utilizar cláusulas gerais, como ocorre em outros ramos do Direito.
Eros Roberto Grau alerta que o princípio da legalidade na tributação não deve ser visto apenas em sua
acepção formal e estática. Ele propõe uma visão que contemple um Estado de Direito Material, sustentado
pelo princípio democrático e uma ordem jurídica legítima. Essa perspectiva considera insuficiente a visão
estritamente formal da legalidade para garantir as liberdades.
Inclusive, a Reforma Tributária quanto trata do IBS e menciona que pode haver a tributação sobre bens
materiais ou imateriais, amplia a possibilidade de cobrança justamente para que haja uma maior amplitude
do campo de tributação.
Nessa linha, a orientação mais atual do STF admite a possibilidade de atos infralegais disporem sobre
elementos da regra-matriz de incidência tributária para algumas espécies tributárias. Em relação às
contribuições especiais, reconhece-se maior flexibilidade quanto ao princípio da legalidade, pois essas
contribuições requerem um maior grau de indeterminação e complementação administrativa.
Um exemplo é o julgamento da contribuição para o Seguro de Acidente do Trabalho (SAT), onde a lei permitiu
a complementação dos conceitos de "atividade preponderante" e "grau de risco" pelo regulamento,
delimitando o aspecto quantitativo da incidência tributária (STF/AI 499888).
Outros temas relevantes permitir ao STF revisitar sua orientação sobre o conteúdo do princípio da legalidade,
como a possibilidade de as alíquotas da contribuição ao PIS e da COFINS serem reduzidas e restabelecidas
por regulamento infralegal (art. 27, § 2º, da Lei 10.865/2004) e a possibilidade de o Poder Executivo fixar
coeficientes para reduzir alíquotas dessas contribuições, como no caso do álcool combustível.
Quanto à reserva legal no âmbito do direito tributário, a doutrina tradicional aponta que todos
os aspectos da regra matriz da hipótese de incidência tributária, seja nos aspectos antecedentes
da norma (material, temporal e espacial), seja nos aspectos consequentes da norma (quantitativo
e pessoal), devem ser taxativamente regulado por Lei em sentido estrito. (...) Ocorre que tanto a
doutrina tributária mais moderna, quanto esta CORTE SUPREMA, vêm, em determinados casos,
empregando ideia mais flexível do princípio da legalidade tributária, permitindo, por vezes, o
complemento de determinado aspecto da obrigação tributária mediante ato infralegal, desde
que a Lei trace limites à regulamentação pelo Executivo. (...) (STJ; AgInt-REsp 1.412.752; Proc.
2013/0346472-4; SP; Segunda Turma; Relª Min. Assusete Magalhães; DJE 18/12/2023)
Entretanto, até então, em matéria de impostos, a jurisprudência do STF não admite exceções ao princípio da
legalidade, exceto aquelas constantes do art. 153, § 1º, da CF, que permite ao Poder Executivo alterar as
alíquotas de impostos como o Imposto de Importação (II), Imposto de Exportação (IE), Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Esses tributos, dotados de alta
carga de extrafiscalidade, justificam a maior rapidez no processo normativo.
cj.estrategia.com |20
21
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Em regra, a Lei Ordinária é responsável por instituir ou majorar tributos. Excepcionalmente, a Constituição
Federal exige a edição de Lei Complementar para certos tributos.
Historicamente, a doutrina majoritária acreditava que não. Três principais razões sustentavam essa posição:
1. Força de Lei: A expressão "força de lei" no artigo 62 da Constituição Federal indicava que MP's tinham
vigor temporário, diferindo das leis permanentes.
2. Urgência e Relevância: Esses pressupostos são incompatíveis com o Princípio da Anterioridade, que
exige um período mínimo antes de um tributo entrar em vigor.
3. Tributos Emergenciais: Para tributos emergenciais ou extrafiscais, a Constituição Federal permitia
elevação da alíquota por decreto do Poder Executivo, sem necessidade de MP.
Apesar desses argumentos, o Supremo Tribunal Federal (STF) sempre aceitou a utilização de MPs para
instituir ou majorar tributos.
Em 2001, foi editada a Emenda Constitucional nº 32, que passou a dispor expressamente sobre essa
possibilidade:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Embora o § 2º se refira tão somente aos impostos, o Supremo Tribunal Federal manteve a interpretação de
que a Medida Provisória pode ser utilizada para instituir ou majorar tributos, independentemente de se
tratar de impostos ou de outras espécies tributárias.
Contudo, há exceções: Tributos reservados à Lei Complementar não podem ser instituídos ou majorados por
MP, conforme o artigo 62, § 1º, inciso III, da Constituição Federal.
Os tributos que requerem Lei Complementar8 incluem (e que não podem ser objeto de MP):
cj.estrategia.com |21
22
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
● Empréstimos Compulsórios
● Impostos Residuais
● Contribuições Residuais
O Imposto sobre grandes fortunas obedece ao princípio da legalidade, porém deve ser criado por
lei complementar (errado).
O STF também reforçou essa visão em julgados, como no Recurso Extraordinário (RE) 217.162/DF, afirmando
que os requisitos de urgência e relevância das MPs são políticos o que, em regra, não podem ser controlados
pela via judicial, entretanto, excepcionalmente podem ser controlados judicialmente se houver abuso do
poder de legislar do Presidente.
Esta Suprema Corte somente admite o exame jurisdicional do mérito dos requisitos de relevância
e urgência na edição de medida provisória em casos excepcionalíssimos, em que a ausência
desses pressupostos seja evidente(STF/ADI 2.527.)
cj.estrategia.com |22
23
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Por fim, em alguns casos, a MP que implique em instituição ou majoração de tributos não terá efeito
imediato9, algo trazido à Constituição pela EC 32/2001, e que nos chama a atenção os termos iniciais, bem
como as exeções:
CF, Art. 62. (...) § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se
houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
Trataremos melhor dessas regras a seguir, mas adiante-se que essa regra não se
aplica:
1) aos demais tributos, que não sejam impostos, cujo prazo segue sendo
contado da publicação da MP e não de sua conversão em lei;
2) ao IEG, pela sua urgência; e
3) às mencionadas exceções ao princípio da legalidade, quais sejam, o II, o IE,
o IPI e o IOF, pela sua extrafiscalidade, os quais podem ser imediatamente
exigidos, com exceção do IPI, que deverá observar a anterioridade
nonagesimal, como veremos.
4) Outrossim, se a lei conversiva da MP alterar o seu conteúdo, de modo a
agravar a situação do contribuinte, o marco temporal para fins de atenção
ao princípio da anterioridade será a data de publicação da conversão da
MP em lei.
(FGV - 2024 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Analista em Gestão Municipal -Direito)
cj.estrategia.com |23
24
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
(Instituto Consulplan - 2024 - Prefeitura de Santa Maria de Jetibá - ES - Auditor Fiscal de Tributos)
Uma grande pegadinha é perceber que o Imposto Seletivo apesar de ser instituído por lei complementar,
pode ter suas alíquotas fixadas por lei ordinária, assim, cabe Medida Provisória para tratar de suas alíquotas
(art. 153, VIII da CF)
Assim, as Medidas Provisórias podem sim ser usadas para instituir ou majorar tributos, respeitando as
limitações constitucionais e a necessidade de conversão em lei pelo Congresso Nacional.
Diversos doutrinadores correlacionam o Princípio da Legalidade com a ideia de tipicidade cerrada, aqui
entendida como a exigência de que os termos utilizados pelo texto normativo sejam determinados, vedando-
se, por conseguinte, a utilização de conceitos jurídicos indeterminados ou cláusulas gerais.
Dentre os autores que defendem essa tese, encontra-se Roque Antônio Carrazza, cujo trecho da obra
passamos a transcrever:
A lei deve indicar, de modo rigoroso, a realidade a tributar, fazendo, assim, uma precisa, taxativa
e exaustiva tipificação dos fatos necessários e suficientes ao nascimento do tributo. Não lhe é
dado apontar conceitos indeterminados, fórmulas abertas ou cláusulas gerais, que permitam, de
acordo com o subjetivismo do aplicador, a identificação de múltiplas situações tributáveis10.
A jurisprudência tem se filiado à parcela da doutrina que admite a utilização de conceitos jurídicos
indeterminados, sem que se possa falar em ofensa ao Princípio da Legalidade Tributária.
A despeito disso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) afirmou recentemente sua possibilidade, alertando, por
outro lado que os atos infralegais não desbordem dos limites legais:
10 CARRAZZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 282.
cj.estrategia.com |24
25
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Em doutrina, esse entendimento tem sido encampado, dentre outros, por Leandro Paulsen 11, que escreveu
sobre o assunto:
De fato, embora o ideal de segurança jurídica fosse melhor atendido se os termos utilizados pelo legislador
fossem sempre precisos, o fato é que esse ideal não pode ser atingido, em razão de a linguagem ser marcada
pela ambiguidade e pela vagueza.
Por ambiguidade entende-se a existência de mais de um sentido para a mesma expressão. Isso acontece
com a palavra banco, que pode significar tanto instituição financeira quanto um assento, assim como com a
palavra fato gerador, que pode significar tanto a hipótese prevista abstratamente pela norma imponível
quanto o fato jurídico que decorre da sua incidência.
Por vaguidade entende-se a zona de penumbra que permeia o enquadramento de um dado objeto ao
conceito. Colacionamos exemplo de Aurora Tomazini de Carvalho12:
A título de exemplo: dizemos que uma pessoa é jovem quando tem menos de 30 anos e que é
velha se maior de 60. E a pessoa que tem 40 é jovem ou é velha? Nota-se que, há aqui, incerteza
quanto à aplicabilidade das palavras “jovem” e “velho”, o que GERNARO CARRIÓ denomina zona
de penumbra, responsável pelo problema da vaguidade dos termos. Tal zona de penumbra é
constituída pela carência de designação precisa, característica inerente a todos os vocábulos.
11 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 131.
12TOMAZINI DE CARVALHO, Aurora. Teoria Geral do Direito – O construtivismo Lógico-semântico. 623 f. Tese (Doutorado
em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009, p. 63.
cj.estrategia.com |25
26
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Toda palavra padece de algum grau de vagueza, conforme explica Mandredo A. de Oliveira:
Esse espaço de vacuidade, essencial aos conceitos da linguagem comum, é o que Waismann
chama de “open textura” e Stegmuller de “abertura de conceitos”. Nós, na realidade, podemos
apenas, por meio de certas regras, diminuir o campo de vacuidade dos conceitos empíricos (na
terminologia de Waismann, em contraposição aos conceitos matemáticos) ou dos conceitos de
linguagem comum, mas afastar toda e qualquer vacuidade é impossível, pois isso pressupõe
conceitos cuja significação está estabelecida de modo definitivo e não podemos, a priori,
estabelecer regras para todos os casos. A possibilidade do aparecimento de casos não previstos
está sempre aberta: daí o termo “abertura dos conceitos”. Nossos conceitos são essencialmente
abertos por admitirem a possibilidade de aplicação a casos nato previstos13.
Nesse sentido, ainda que haja um esforço por parte do legislador em definir, com precisão, os elementos da
obrigação tributária, é certo que sempre existirão dúvidas quanto ao significado dos termos por ele
utilizados.
Na recente Reforma Tributária, conceitos indeterminados foram utilizados para garantir flexibilidade na
aplicação das normas. Por exemplo, a definição de "serviço" no contexto do novo Imposto sobre Bens e
Serviços (IBS) é mais abrangente, permitindo uma adaptação às diversas formas de prestação de serviços
que surgem com a evolução econômica e tecnológica.
Outro exemplo é a inclusão de cláusulas gerais que permitem ajustes nas alíquotas conforme a necessidade
de equilibrar a carga tributária entre diferentes setores econômicos. Essa flexibilidade é essencial para
manter a justiça tributária e a eficiência na arrecadação.
O STF tem reiterado a possibilidade de utilização de conceitos jurídicos indeterminados em diversos julgados:
13 DE OLIVEIRA, Mandredo A. Reviravolta Linguistico-Pragmática na Filosofia Contemporânea. 4. ed. [s.l.]: Loyola, 2015, p.
cj.estrategia.com |26
27
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Embora o ideal de segurança jurídica fosse melhor atendido se os termos utilizados pelo legislador fossem
sempre precisos, é impossível eliminar completamente a ambiguidade e a vaguidade. Isso se deve à natureza
da linguagem, que não pode prever todas as situações possíveis.
Assim, a utilização de conceitos jurídicos indeterminados é inevitável e, em muitos casos, necessária para
garantir a flexibilidade e a adaptabilidade da lei.
Embora a “tipicidade cerrada” forneça maior segurança jurídica, a realidade exige uma certa flexibilidade.
Por isso que houve uma evolução da jurisprudência para o conceito de “legalidade suficiente”. A utilização
de conceitos jurídicos indeterminados é aceitável, desde que a lei forneça parâmetros suficientes para
garantir a aplicação justa e consistente, sem delegar excessivo poder discricionário ao aplicador da lei. Isso
equilibra a necessidade de precisão com a inevitável ambiguidade e vaguidade da linguagem, assegurando
tanto a segurança jurídica quanto a adaptabilidade da legislação tributária.
Outro tema correlacionado diz respeito à possibilidade ou impossibilidade de utilização da norma tributária
em branco.
Estamos diante de uma norma em branco quando algum dos termos utilizados pela lei é definido por um ato
normativo infralegal.
Em Direito Penal, encontramos vários exemplos, como é o caso do crime de tráfico de drogas. A definição do
que seja uma droga ilícita é encontrada em uma Portaria da Anvisa, que arrola a lista com todos os
entorpecentes ilegais.
A possibilidade de utilização de uma norma tributária em branco suscita divergências doutrinárias. Roque
Antônio Carraza, por exemplo, entende pela sua proibição. Leandro Paulsen 14, ao contrário, não vislumbra
nessa técnica legislativa ofensa ao princípio da legalidade.
Essa questão já foi decidida pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no julgamento sobre a
constitucionalidade da contribuição ao SAT:
14 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 131.
cj.estrategia.com |27
28
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
constitucional. V. - Recurso extraordinário não conhecido. (RE 343446, Relator(a): Min. CARLOS
VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 20/03/2003, DJ 04-04-2003 PP-00040 EMENT VOL-02105-
07 PP-01388)
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo
infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor
esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual
superior aos índices de correção monetária legalmente previstos. STF. Plenário. RE 838284/SC,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/10/2016 (repercussão geral) (Info 842 e 844).
Extrai-se do julgado que um ato infralegal pode “complementar” conceitos utilizados pela lei em sentido
estrito.
Desse modo, embora haja divergências, o entendimento atualmente majoritário é o de que a utilização de
conceitos jurídicos indeterminados, cláusulas gerais e normas tributárias em branco não ofende o Princípio
da Legalidade Tributária.
Nesse sentido, a doutrina e a jurisprudência do Supremo têm entendido no sentido de a legalidade tributária
imposta pelo texto constitucional não é estrita ou fechada, podendo haver certa “flexibilização” fixada pela
própria lei. Em outras palavras, o legislador poderá delegar certos aspectos para que sejam tratados pelo
regulamento (ato infralegal).
Tanto é que:
STF. Plenário. RE 1043313/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Repercussão Geral
– Tema 939) (Info 1002).
A Corte vem firmando orientação de que a legalidade tributária imposta pelo texto
constitucional não é estrita ou fechada. Precedentes. 2. A constitucionalidade da flexibilização
do princípio da legalidade tributária é verificada de acordo com cada espécie tributária e à luz de
cada caso concreto. Não existe ampla e irrestrita liberdade para o legislador realizar diálogo com
o regulamento no tocante aos aspectos da regra matriz de incidência tributária. A possibilidade
de haver a flexibilização do princípio deve ser interpretada com temperamento, caso contrário,
haverá sério risco de sua banalização(...) 4. A Lei estabeleceu diálogo com o regulamento em
termos de subordinação (ao prescrever os limites e fixar os padrões), de desenvolvimento
cj.estrategia.com |28
29
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
(STF; ADI 4.397; DF; Tribunal Pleno; Rel. Min. Dias Toffoli; DJE 07/03/2022; Pág. 4)
“Com esse entendimento (tipicidade fechada) não se pode concordar, sob pena de inviabilização
da tributação no país ou, pelo menos, assumir um modelo de legalismo datado na evolução
histórico-filosófica das ideias tributárias brasilianas(...)“Pode ser matéria de delegação legislativa,
desde que o legislador estabeleça um desenho mínimo que evite o arbítrio, uma vez que a
remessa ao ato infralegal não pode resultar em desapoderamento do legislador no trato de
elementos essenciais da obrigação tributária"(ADI 2304, j. 12.04.2018).
De semelhante modo, a tributação das operações de crédito e títulos ou valores mobiliários deve ocorrer de
acordo com o atual estágio dessas transações na economia. Especificamente em relação à materialidade
“operações de crédito”, o STF mais uma vez rechaçou a concepção de uma “tipicidade fechada” (ADI 1763,
j. 16.06.2020).
Assim, atualmente, o STF tem revisitado a ideia clássica de que o Direito Tributário se submeteria a uma
“legalidade cerrada”, ou seja, que toda e qualquer questão tributária demandaria lei. O entendimento mais
recente é de que, pelas exigências dinâmicas da sociedade moderna, o Direito Tributário se submete a uma
“legalidade suficiente”, mais ou menos aberta de acordo com a natureza e da estrutura do tributo a que se
aplica.
Hoje, falamos em um especial diálogo da lei com atos regulamentares (RE 838.284/SC), para definir os
parâmetros da tributação, o que não vulnera a segurança jurídica por trás da legalidade tributária.
Portanto, em tributos como taxas e contribuições, é suficiente a lei que preveja parâmetros mínimos e
máximos de tributação, permitindo a alteração do valor concreto da exação por atos infralegais, como ocorre
com o PIS e a COFINS no regime não cumulativo (RE 1.043.313/RS).
Há matérias tributárias, contudo, que em absoluto exigem previsão legal para serem veiculadas, é o caso dos
benefícios fiscais.
cj.estrategia.com |29
30
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Todos os benefícios fiscais só podem ser veiculados por lei específica, que regule
exclusivamente essa matéria ou o correspondente tributo ou contribuição, para se evitar o
contrabando legislativo (art. 150 § 6 da CF).
São exemplos de benefícios fiscais: (i) subsídio ou isenção; (ii) redução de base de cálculo;
(iii) concessão de crédito presumido, anistia ou remissão.
A exceção a essa previsão é o ICMS, cujo regime de benefícios fiscais obedece a regramento
próprio, o qual exige deliberação por unanimidade dos Estados-membros no Conselho
Nacional de Política Fazendária – CONFAZ em Convênio, ato infralegal.
Em ambos os casos, se o benefício fiscal gerar renúncia de receita, deverá observar regras
de responsabilidade na gestão fiscal previstas no artigo 14 da LRF e no artigo 113 do ADCT,
as quais exigem, em suma, que a lei seja acompanhada de uma estimativa do seu impacto
financeiro e orçamentário, além de trazer medidas de compensação pela perda de
arrecadação.
Na jurisprudência atual Supremo Tribunal Federal (STF), não se acolhe a chamada “legalidade
suficiente”, sendo inviável que ocorra o diálogo da lei com os regulamentos para a fixação do
aspecto quantitativo da regra matriz de incidência(Errado).
Um resumo:
Delegação Legislativa
cj.estrategia.com |30
31
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Ta
xas
cj.estrategia.com |31
32
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Como vimos, a Constituição exige que “todos” os elementos necessários ao nascimento da obrigação
tributária estejam previstos em lei, bem como que, segundo o entendimento atualmente predominante, não
há contradição entre essa afirmação e a que possibilita a utilização de conceitos indeterminados e normas
tributárias em branco.
A partir de agora, vamos direcionar a atenção para os dispositivos constitucionais que mitigaram o princípio
da legalidade tributária, autorizando que um ato infralegal alterasse a alíquota de um tributo para majorá-
lo.
Art. 177, § 4º. A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às
atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus
derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos:
Art. 155, § 4º. Na hipótese do inciso XII, “h”, observar-se--á o seguinte: (...)
IV – as alíquotas do imposto serão definidas mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal,
nos termos do § 2º, XII, “g”, observando-se o seguinte: (...)
Ano: 2021
Órgão: SEFAZ-RR
cj.estrategia.com |32
33
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Existem 6 tributos, cuja alteração de alíquotas (e não as bases de cálculos) está excetuada da
legalidade, que são: II, IE, IPI, IOF, CIDE-Combustíveis e ICMS-Combustíveis;
Como se observa, o artigo 153, § 1º, da Constituição Federal, autoriza que o Poder Executivo, atendidas as
condições e os limites estabelecidos em lei, possa alterar as alíquotas do Imposto de Importação (II), Imposto
de Exportação (IE), Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários (IOF) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
A Constituição Federal autoriza que o Poder Executivo, atendidas as condições em lei, altere as
alíquotas do II, do IE, do IOF e do IPI.
A expressão Poder Executivo merece destaque porque não se trata de uma competência privativa do
Presidente da República, podendo a lei atribuir a um outro órgão do Poder Executivo a competência para
exercer a atribuição do artigo 153, § 1º, como já decidiu o Supremo Tribunal Federal ao julgar o RE 570680.
O caso envolvia o imposto de exportação e o STF também já decidiu sobre o imposto de importação, cuja
competência para realizar alterações nas alíquotas foi atribuída à Câmara de Comércio Exterior – CAMEX.
Nesse contexto, o STF declarou constitucional a delegação legal à Câmara de Comércio Exterior
– CAMEX da competência para alteração as alíquotas do imposto de exportação e importação
(II, IE). (RE 570.680/RS)
I)A majoração da alíquota por meio de decreto viola o princípio da legalidade tributária (errado)
Também vale destacar que o Poder Executivo não é totalmente livre para realizar a alteração das alíquotas,
devendo se ater ao limite máximo previsto pela legislação. É a lei que estabelece as condições e o limite das
alíquotas, cabendo ao Executivo, dentro do espaço permitido pela legislação, reduzi-las ou elevá-las.
O artigo 177, § 4º, da CF, também traz uma mitigação ao princípio da legalidade, aplicável à contribuição de
intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e
cj.estrategia.com |33
34
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível. É a chamada CIDE-Combustível, instituída
pela Lei 10.336/2001
A CIDE-Combustíveis, embora possa ter sua alíquota alterada por decreto do Poder Executivo, este somente
poderá reduzir e RESTABELECER as alíquotas ao máximo que foi inicialmente previsto.
Aqui, valem os comentários que fizemos anteriormente. A lei estabelece um limite máximo às alíquotas,
sendo possível ao Poder Executivo reduzi-las ou elevá-las até aquele limite15. Se a alíquota legal é de 15%,
ela pode ser reduzida e reestabelecida, mas nunca alterada para 20%.
Por fim, nos termos do art. 155, § 4º, inciso IV, da Constituição, também se afigura como mitigação ao
Princípio da Legalidade Tributária o chamado ICMS-Combustível, incidente sobre os combustíveis e
lubrificantes definidos em Lei Complementar. A particularidade aqui é a de que a alíquota deve ser definida
mediante deliberação dos Estados e Distrito Federal, através de convênio. Para sua concessão, é necessário
um consenso entre os entes tributantes, e não apenas a aprovação formal pela Assembleia Legislativa do
respectivo Estado.
Em outras palavras, no ICMS-monofásico, que incide sobre combustíveis definidos em Lei Complementar, a
definição (inclusive a redução e o aumento) de alíquotas pode ser feita por convênio, sem observância do
princípio da legalidade, como ensina a doutrina. Entretanto, se o aumento ultrapassar o mero
estabelecimento de patamar anteriormente fixado, o princípio da anterioridade deverá ser observado.
Logo, o ICMS-Combustíveis se submete à deliberação dos Estados e do DF, mas pode ter a alíquota
livremente fixada, sem se sujeitar ao rito legal.
Portanto, a Constituição mitiga o Princípio da Legalidade com relação aos seguintes tributos:
15 Lei 10.336/2001: Art. 9º O Poder Executivo poderá reduzir as alíquotas específicas de cada produto, bem assim
restabelecê-las até o valor fixado no art. 5º.
cj.estrategia.com |34
35
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Não são incomuns os casos em que a legislação delegou ao poder executivo a tarefa de reduzir ou aumentar
as alíquotas por ato infralegal.
A título de exemplo:
2)Art. 27, § 2º, da Lei 10.865/2004: Refere-se ao PIS/COFINS sobre receitas financeiras.
A doutrina, como Luís Eduardo Schoueri e Roque Antônio Carraza, frequentemente critica essa delegação,
alegando violação ao princípio da separação de poderes e à segurança jurídica. No entanto, o Supremo
Tribunal Federal (STF) tem uma visão diferente.
Para o STF, o princípio da legalidade não é absoluto. Há possibilidade de a lei manter um diálogo com o
regulamento, especialmente no aspecto quantitativo da regra matriz de incidência.
A abertura para esse diálogo depende da natureza e da estrutura do tributo. No RE 343.446/SC, foram
firmados critérios para aferir a constitucionalidade dessa delegação:
Com base nesses critérios, o STF reconheceu a constitucionalidade da Lei 6.994/82, que estabelecia
anuidades para profissionais liberais, observando um teto.
Contrariamente, no art. 2º da Lei 11.000/2004, que delegava aos Conselhos de Fiscalização a tarefa de fixar
contribuições anuais sem um teto definido, a Corte viu degradação do princípio da legalidade.
cj.estrategia.com |35
36
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Sobre o art. 27, § 2º, da Lei 10.865/2004, no RE 1.043.313/RS, o STF aprimorou esses critérios, destacando
que:
Dessa forma, o STF considerou constitucional o § 2º do art. 27 da Lei 10.865/2004, permitindo que as
alíquotas do PIS e da COFINS sejam ajustadas por ato infralegal.
A Corte destacou que a lei estabeleceu o teto e as condições para a alteração das alíquotas, julgando a
delegação ao executivo razoável devido à função extrafiscal do tributo.
Portanto, o Supremo Tribunal Federal não vislumbra inconstitucionalidade de per si na lei que delegar a
tarefa de fixar o valor da exação, desde que sejam observados os parâmetros mínimos acima mencionados.
Lei federal instituidora do Conselho Federal de certa profissão regulamentada estatuiu que a
Diretoria da entidade poderia fixar o valor a ser cobrado a título de anuidades a serem pagas
pelos profissionais vinculados a tal Conselho, limitado a um teto de até R$ 500,00. Também
estabeleceu que a fiscalização e a arrecadação de tais anuidades seriam feitas pelos próprios
funcionários deste Conselho, contratados pelo regime da CLT.
Acerca desse cenário, é correto afirmar que tal lei federal violou o princípio da legalidade
tributária ao conferir à Diretoria deste Conselho Profissional o poder de fixar o valor das
anuidades (Errado).
Até aqui, examinamos o que, em razão do princípio da legalidade, deve ser necessariamente veiculado por
meio de lei. Agora faremos o caminho inverso. Vamos tratar daquilo que dispensa lei em sentido estrito para
sua regulamentação.
cj.estrategia.com |36
37
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Como se viu acima, o artigo 113 expressamente consigna que “a obrigação acessória decorre da legislação
tributária”, o que significa afirmar que cabe a ela, à legislação tributária, criar obrigações acessórias. A
expressão legislação tributária não foi empregada por acaso. Trata-se de um conceito técnico, definido pelo
Código Tributário Nacional no artigo 96:
Portanto, abarca-se ao conceito de legislação tributária não apenas as leis, mas também os decretos e as
normas complementares.
Ambos, os decretos e as normas complementares – estas últimas conceituadas pelo artigo 100 do CTN16 -
são instrumentos secundários, ou seja, atos hierarquicamente inferiores à lei. Desta forma, o Código
Tributário Nacional é claro: Tratando-se de obrigação acessória, sua veiculação pode ser realizada por meio
de um ato infralegal, sendo dispensável a edição de lei.
O fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da lei, impõe a prática
ou a abstenção de ato que não configure a obrigação principal (errado).
2)A segunda circunstância que dispensa a edição de lei é a alteração na data de vencimento do pagamento.
16 Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos:
II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III - as
práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;
cj.estrategia.com |37
38
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Como vimos, trata-se de circunstância que não integra nenhum dos elementos da regra-matriz de incidência
tributária. Assim, a alteração na data do vencimento não importa na instituição de um novo tributo ou no
aumento do valor da tributação, não atraindo a incidência do disposto no artigo 150, inciso I, da Constituição
Federal.
Cuidado, a simples alteração da data de vencimento do pagamento do tributo pode ser promovida por atos
administrativos, haja vista não ser elemento integrante da regra-matriz de incidência tributária, mas apenas
critério lateral relativo ao procedimento de cobrança da exação.
A maneira de recolhimento do tributo, que demanda lei, não se confunde com a sua data de vencimento,
que pode ser alterada por ato infralegal
O artigo 97, § 2º, do CTN, afirma que “Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso
II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo”.
Portanto, o que dispositivo diz é que pode um ato infralegal proceder a atualização monetária para recompor
a inflação.
Assim, dispensa lei em sentido formal a criação de obrigação acessória, a alteração na data de vencimento
do pagamento e a atualização do valor monetário da base de cálculo.
Em síntese:
Benefícios fiscais
cj.estrategia.com |38
39
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O patrimônio público é geralmente indisponível, o que significa que a concessão de benefícios fiscais ou a
prática de atos que afetam o crédito tributário ou sua exigibilidade devem ser feitas por meio de lei
específica. Conforme Ricardo Alexandre ensina, a concessão de benefícios fiscais não pode ser realizada por
decretos do Presidente da República ou do Governador, que são atos infralegais.
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o
assunto tratado na medida provisória.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 15/10/2015 (Info 803).
STF. Plenário. ADI 5012/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/3/2017 (Info 857).
O Supremo Tribunal Federal (STF) define contrabando legislativo como a inclusão de matérias estranhas ao
objeto original de uma medida provisória em um projeto de lei de conversão. Isso garante que um benefício
fiscal não seja inserido em uma legislação que trata de assuntos totalmente diferentes.
Em outras palavras, é inserir um tema (um benefício fiscal, por exemplo) em uma lei que trata de qualquer
outro assunto (a instituição de um bem imaterial como uma manifestação cultural juridicamente protegida,
nos termos da Constituição, por exemplo).
Art. 150.
(...)
cj.estrategia.com |39
40
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Para evitar a guerra fiscal, os benefícios fiscais relacionados ao ICMS devem ser concedidos por deliberação
conjunta dos Estados-membros no âmbito do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária). Isso
impede que um estado conceda benefícios fiscais unilateralmente, prejudicando outros estados.
Ademais, a concessão de um benefício fiscal implica igualmente em uma renúncia de receita pelo ente
tributante. Pense que se um Estado arrecadaria R$ 100 mil com um tributo, caso conceda um benefício fiscal,
arrecadará, por exemplo, R$ 50 mil. Existe uma “perda” de receita.
E a renúncia de receita atrai a incidência da Lei de Responsabilidade Fiscal, nos seguintes termos:
Seção II
Da Renúncia de Receita
I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, II, IV e V do art. 153 da
Constituição, na forma do seu § 1º;
II - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.
O tema é de tamanha relevância, que a Emenda Constitucional n. 95/2016 determina que a “A proposição
legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada da
cj.estrategia.com |40
41
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro”, nos termos do artigo 113 do ADCT – Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, sendo válido para todos os entes federativos:
ADCT da CF/88
Art. 113. A proposição legislativa que crie ou altere despesa obrigatória ou renúncia de receita
deverá ser acompanhada da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro.
STF. Plenário. RE 1.343.429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/04/2024 (Info 1131).
Logo, para que fosse concedida a isenção de IPTU seria indispensável a realização de estudo de impacto
orçamentário e financeiro, por meio do qual se demostrasse que a perda de recursos foi considerada pela
lei orçamentária ou se adotassem medidas de compensação com o aumento da receita por outra fonte.
A elaboração do referido estudo concede ao Poder Legislativo, como órgão vocacionado a versar sobre a
instituição de benefícios fiscais, o controle não somente dos objetivos constitucionais que se pretendem
atingir por meio de benesse fiscal, como também o controle financeiro da escolha política. A concessão de
benefícios fiscais, ao atingir a receita do ente, afeta os meios financeiros pelos quais o Município custeia as
suas atividades.
O STF firmou o entendimento de que o art. 113 do ADCT é aplicável a todos os entes da Federação, de forma
que eventual proposição legislativa federal, estadual, distrital ou municipal que crie ou altere despesa
obrigatória ou renúncia de receita deverá ser acompanhada de estimativa de impacto orçamentário e
financeiro, sob pena de incorrer em vício de inconstitucionalidade formal.
A afirmação de que o art. 113 do ADCT se aplica apenas à União não é compatível com as interpretações
literal, teleológica e sistemática.
Interpretação literal: a redação do dispositivo constitucional em tela não determina que a regra
seja limitada à União. Refere-se, genericamente, à “proposição legislativa que crie ou altere
despesa obrigatória ou renúncia de receita”, pelo que, em princípio, seria possível a sua extensão
aos demais entes.
Interpretação sistemática: a inclusão do art. 113 do ADCT acompanha o tratamento que já vinha
sendo conferido ao tema pelo art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal, aplicável a todos os entes
da Federação.
cj.estrategia.com |41
42
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Isso acontece porque, de acordo com o art. 24, I, da CF/88, os Estados e o Distrito Federal possuem
competência concorrente com a União para legislar sobre direito financeiro. Cabe, assim, ao legislador
federal veicular normas gerais e ao legislador estadual, normas específicas.
Nessa concorrência legislativa, contudo, há uma margem de indeterminação acerca dos âmbitos de
competência da União, dos Estados e do Distrito Federal. A respeito do tema, existe o art. 163, I, da CF/88,
que reserva à lei complementar a fixação de normas gerais em matéria de finanças públicas. Essa lei
complementar deve ser editada pela União e assume caráter nacional, no sentido de incidir,
simultaneamente, sobre as três esferas da Federação. Com base nessa regra constitucional, foi editada a Lei
Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), cujo art. 14, como norma geral, aplica-se a
todos os entes federados.
Desse modo, em que pese a EC 95/2016 estabelecer cominações específicas para o âmbito da União,
sobressai o seu preponderante caráter nacional, especialmente no tocante às normas de processo legislativo
e orçamentário.
Em abril de 2020, no início da pandemia da Covid-19, uma empresa de comércio de veículos localizada no
Espírito Santo ingressou com um mandado de segurança contra o Delegado da Receita Estadual. A empresa
argumentou que a pandemia havia reduzido significativamente as atividades econômicas, impactando o
faturamento das empresas. Em resposta a essa crise, tanto a União quanto o Estado concederam medidas
de alívio tributário para as empresas que operam sob o regime do Simples Nacional. No entanto, esses
mesmos incentivos não foram estendidos às empresas tributadas pelo lucro real, como era o caso da
impetrante.
Diante disso, a empresa solicitou a suspensão do pagamento das parcelas do parcelamento estadual até o
fim das medidas restritivas e preventivas contra a Covid-19. Para fundamentar seu pedido, a empresa citou
a Portaria 12, de 20 de janeiro de 2012, do Ministério da Fazenda, que prorrogou o prazo para o pagamento
de tributos federais e parcelamentos para contribuintes em municípios declarados em estado de calamidade
pública por decreto estadual. Também mencionou a Portaria da Receita Federal do Brasil 218, de 5 de
fevereiro de 2020, que adotou medida semelhante para contribuintes no Espírito Santo.
A empresa argumentou que houve violação do princípio da isonomia, uma vez que a Resolução 152/2020 do
Conselho Gestor do Simples Nacional desonerou os pagamentos de parcelamentos para empresas do
Simples Nacional, e a Resolução PGE/RJ 4.532/2020 fez o mesmo para tributos estaduais.
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ/ES) negou o pedido, levando a autora a interpor recurso ordinário
ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
cj.estrategia.com |42
43
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
violar o princípio da separação dos poderes. O STF também já havia afastado a possibilidade de concessão
de moratória judicialmente.
O STF, em decisões anteriores, afirmou que a moratória é uma hipótese de suspensão da exigibilidade do
crédito tributário e que sua concessão é uma prerrogativa dos Poderes Executivo e Legislativo, que possuem
legitimidade popular para fazer as escolhas necessárias diante da pandemia. Conceder moratória pela via
judicial implicaria usurpar funções políticas dos poderes eleitos. Nesse sentido, a Primeira Turma do STF,
no ARE 1307729 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 de maio de 2021, reiterou que a intervenção
judicial deve ser restrita.
Em outro julgamento, o plenário do STF, no SS 5.363 AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 29 de outubro de
2020, também se posicionou contra a suspensão da exigibilidade de tributos por decisões judiciais durante
a pandemia, argumentando que tais medidas desarticulam a gestão da política tributária e causam riscos à
ordem e economia públicas.
STJ. 2ª Turma. RMS 67.443-ES, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15 de março de 2022
(Info 729).
(2023 - CEBRASPE - JUIZ TJDFT) - Em um contexto pandêmico, tal qual o da covid-19, é legítimo
ao Poder Judiciário determinar a suspensão da exigibilidade de tributos, assim como a dilação
dos prazos para o pagamento de impostos (Errado)
Esse tema ganha relevância com a Reforma Tributária introduzida no Sistema Tributário Nacional pela
Emenda Constitucional n. 132/2023.
Primeiro que os benefícios fiscais ficam limitados no que tange ao IBS aos previstos na Constituição Federal,
ou seja, eliminou-se a possibilidade de Estados e Municípios ficarem criando regimes especiais diferentes
dos que estão favorecidos na Constituição Federal.
Segundo, e aprofundando mais um pouco, o artigo 43 da Constituição prevê que “Para efeitos
administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando
a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais”. São as regiões, em nossa federação.
Neste contexto, a Lei Maior igualmente prevê que “Os incentivos regionais compreenderão, além de outros,
na forma da lei: isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas
físicas ou jurídicas” (art. 43, § 2º, III).
cj.estrategia.com |43
44
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A norma que a Reforma Tributária trouxe para o nosso Sistema Tributário Nacional prevê que, sempre que
possível, a concessão dos incentivos tributários regionais considerará critérios de sustentabilidade ambiental
e redução das emissões de carbono.
§ 4º Sempre que possível, a concessão dos incentivos regionais a que se refere o § 2º, III,
considerará critérios de sustentabilidade ambiental e redução das emissões de carbono.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023)
Pode-se dizer que a Emenda Constitucional n. 132/2023 prestigiou a sustentabilidade também chamado de
“economia verde” na reforma tributária:
2) colocar a defesa do meio ambiente como um princípio fundamental do Sistema Tributário Nacional
garantindo um tratamento mais benéfico para os biocombustíveis;
3) pela inserção da redução nas emissões de carbono, como se verifica também da modificação no
art. Art. 225§ 1º, inc. VIII.
A definição de economia verde foi concebida a partir do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), no ano de 2008. (...) Basicamente, a pretensão é suprir as necessidades e demandas da sociedade
sem que se prejudique ou comprometa as gerações futuras”. Disponível em:
https://portalods.com.br/noticias/o-que-e-economia-verde-e-quais-sao-suas-caracteristicas/ (acesso em
29/12/2023).
Soma-se o viés de proteção ao meio ambiente presente no IPVA, quando a reforma determina a possibilidade
alíquotas diferenciadas em “função do impacto ambiental dos veículos” (Art. 155, § 6º, inc. II), bem como a
previsão explícita do princípio da defesa do meio ambiente (§ 3º do artigo 145).
Por fim, há a proposta de instituir um Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional que, com recursos
transferidos pela União para os Estados e o Distrito Federal, sejam realizados estudos, projetos e obras de
infraestrutura, de maneira que na aplicação dos recursos os entes priorizarão projetos que prevejam ações
de sustentabilidade ambiental e redução das emissões de carbono (§ 3º do art. 159-A).
Logo, de maneira explícita o § 4º acrescenta que os juros favorecidos para financiamento de atividades
prioritárias, isto é, visando conceder incentivos regionais considere também critérios de sustentabilidade
ambiental e redução das emissões de carbono.
cj.estrategia.com |44
45
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
2 - PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, “b”.
No Estado Democrático de Direito, é fundamental a existência de princípios que protejam os cidadãos contra
o excesso de poder do Estado. Nesse contexto, destaca-se o princípio da segurança jurídica, que está
diretamente relacionado à estabilidade das relações jurídicas. Este princípio fornece garantia e certeza sobre
as consequências dos atos praticados pelo contribuinte no âmbito das relações jurídico-tributárias. No
campo tributário, essa proteção é concretizada através do princípio da não surpresa, que, embora não se
esgote nesse conceito, é essencial para garantir a previsibilidade e a estabilidade das normas tributárias.
O principal objetivo é resguardar os fatos e as relações jurídicas já ocorridos da incidência de exações que
venham a ser instituídas ou majoradas posteriormente, garantindo ao contribuinte um prazo razoável antes
do início da cobrança.
Ademais, é relevante a observação de Geraldo Ataliba sobre a expressão “cobrar tributos” usada pelo
constituinte. O propósito não é apenas obstar a atividade de cobrança, que pressupõe a existência de um
crédito exigível decorrente de uma relação jurídico-tributária prévia. Na verdade, o intuito é impedir a
formação dessa relação jurídica, de modo que a hipótese de incidência não alcance os fatos ocorridos nas
condições resguardadas pela Constituição, evitando assim o nascimento da obrigação e do crédito tributário,
ou seja, "proibindo o começo da história".
cj.estrategia.com |45
46
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Consequentemente, os tributos só podem ser cobrados após a lei entrar em vigor, ou seja, a cobrança não
pode retroagir para afetar eventos anteriores à vigência da lei. No entanto, a Constituição não só impede a
retroatividade da lei tributária como também institui garantias adicionais, que determinam períodos
mínimos entre a publicação de uma nova lei tributária mais onerosa e o início de sua aplicação.
Essas regras criam uma espécie de intervalo constitucional para a entrada em vigor das leis tributárias,
obrigando o ente tributante a conceder um período de adaptação para que os contribuintes se preparem
para a nova tributação.
Portanto, além da exigência de que os tributos sejam instituídos por lei, a cobrança não pode retroagir para
afetar eventos passados e deve respeitar um período de adaptação após a publicação da lei que cria ou
aumenta a carga tributária.
Princípio Descrição
Irretroatividade Proíbe a aplicação de lei tributária a fatos geradores ocorridos antes de sua
vigência.
Anterioridade Anual Veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que a lei foi
publicada.
Anterioridade Estabelece que tributos só podem ser cobrados após 90 dias da publicação da
Nonagesimal lei, mesmo que dentro do mesmo exercício financeiro.
(APICE - 2024 - Prefeitura de Salgado de São Félix - PB - Auditor Fiscal) É lícito afirmar que o
princípio da segurança jurídica traduz-se, em matéria tributária, no princípio da não surpresa,
embasado nos princípios da irretroatividade, da anterioridade e da noventena (Certo)
Observação: O princípio da anterioridade também pode vir na prova com os seguintes títulos:
anterioridade anual, de exercício, geral, anterioridade comum, princípio da eficácia diferida, ou
também como carência tributária (“agora, deu! Rsrs”... é verdade, posso provar abaixo)
(CESPE - 2018 - EMAP - Analista Portuário - Área Jurídica) O princípio da carência tributária proíbe
a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios de cobrar tributos antes de transcorridos
noventa dias da data da publicação da lei que os instituir ou aumentar (certo).
Antes de estudarmos cada uma delas, cumpre fazer algumas considerações iniciais que ajudam a
compreender a matéria. Mas, calma, o que seria “exercício financeiro”?
cj.estrategia.com |46
47
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O Princípio da anterioridade tem origem no antigo princípio da anualidade, não mais vigente no direito
brasileiro. Pelo princípio da anualidade, a cobrança de um tributo estava condicionada à prévia autorização
orçamentária.
Pelo princípio da anualidade, não mais em vigor em nosso direito tributário, a cobrança de um
tributo estava condicionada à prévia autorização orçamentária.
Havia, antes o § 34 do art. 141 da Constituição de 1946: “nenhum[tributo] será cobrado em cada exercício
sem prévia autorização orçamentária”. Isso significava que, se ocorresse um aumento da carga tributária
sem a sua previsão na lei orçamentária, a eficácia da lei ficaria postergada para o ano seguinte, quando o
novo orçamento fosse aprovado.
Ocorre que, a jurisprudência abrandou o rigor do princípio da anualidade, pelo seguinte motivo: a
autorização orçamentária normalmente era aprovada pelo legislativo em julho, mas o início do exercício
financeiro daquele orçamento começava em primeiro de janeiro do ano seguinte. Então, na prática, a
aplicação do princípio da anualidade exigia que a alteração da legislação tributária fosse realizada até julho
para que pudesse vigorar no ano seguinte.
Passou-se a entender, então, que não seria imprescindível a precedência da lei tributária em relação à
autorização orçamentária. Seria suficiente que a aprovação da lei tributária antecedesse o início do exercício
financeiro do orçamento (janeiro do ano seguinte).
Súmula 66: É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas
antes do início do respectivo exercício financeiro.
Foi essa jurisprudência que acabou “transformando” o princípio da anualidade no princípio da anterioridade
anual (também chamada de anterioridade de exercício), atualmente previsto no artigo 150, inciso III, alínea
b, da Constituição Federal.
Portanto, guarde:
O princípio da anualidade não mais existe no direito positivo brasileiro, de tal sorte que uma lei
que institua ou majore um tributo pode ser aplicada no ano seguinte, mesmo se não houver
específica autorização orçamentária.
Pelo princípio da não-surpresa do contribuinte, nos termos da Constituição Federal, são adotadas
as seguintes fórmulas: (...) b) princípio da anualidade, caracterizada pela inclusão da lei
tributária material na lei do orçamento ou ânua; (errado)
cj.estrategia.com |47
48
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Pela redação originária da Constituição Federal, aplicava-se o princípio da anterioridade anual ou de exercício
a todos os tributos, salvo com relação aqueles expressamente mencionados no § 1º do artigo 150 da
Constituição Federal e às Contribuições para Seguridade Social. Estas últimas se sujeitavam tão somente ao
prazo de 90 dias, ou seja, à anterioridade nonagesimal ou noventena.
Essa situação perdurou até o advento da Emenda Constitucional nº 42/2003, que ampliou a anterioridade
nonagesimal, determinando sua incidência não apenas às Contribuições para Seguridade Social, conforme §
6º do artigo 195, mas aos demais tributos existentes, com exceção daqueles ressalvados expressamente pelo
texto.
A Emenda Constitucional n.º 42/2003 estendeu como regra para os tributos em geral o princípio
da noventena, que até então só era aplicável às contribuições para financiamento da seguridade
social (Certo).
O motivo dessa mudança legislativa foi o de que o princípio da anterioridade anual passou a se tornar inócuo.
Sabe por qual razão? Chegava em dezembro, costumava-se aprovar “pacotes” que alteravam a legislação
tributária, já para vigorar em janeiro do ano seguinte. Chegou-se ao ponto de se editar uma norma no dia 31
de dezembro para vigorar a partir de 01 de janeiro17.
Nesse sentido, a ampliação da anterioridade nonagesimal teve como objetivo garantir aos contribuintes um
prazo razoável de adaptação à legislação tributária.
Aliás, vejamos um exemplo jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal sobre tema que iremos aprofundar
em breve:
A exclusão do direito à apuração de créditos de PIS e COFINS calculados com base nas receitas
financeiras decorrentes de empréstimos e financiamentos, nos termos do disposto nos arts. 21
e 37 da Lei nº 10.865/04, deve submeter-se ao princípio da anterioridade nonagesimal por
17 SCHOUERI, Luiz Eduardo. Curso Direito Tributário Completo. São Paulo: Saraiva, 2017. p.334.
cj.estrategia.com |48
49
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
implicar tal fato em aumento da base de cálculo das referidas exações" (STJ; AgInt-REsp
1.506.053; Proc. 2014/0341421-5; PR; Segunda Turma; Rel. Min. Afrânio Vilela; DJE 21/06/2024)
Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na conversão de
medida provisória em lei, a contribuição apenas poderá ser exigida após noventa dias da
publicação da lei de conversão. (STF. Plenário. RE 568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
12/2/2014 (repercussão geral).
Nesse próximo julgado, nós já percebemos uma peculiaridade, que não há incidência da anterioridade
quando a carga tributária já estava sedimentada:
Repisando, o princípio da anterioridade deita raízes em outro princípio – considerado por Paulo de Barros
Carvalho como um sobreprincípio. Trata-se do princípio da segurança jurídica.
Em longo estudo sobre o tema, Humberto Ávila demonstrou que a análise sobre a segurança jurídica ocorre
mediante um alto grau de parcialidade e vagueza. A parcialidade ocorre em razão de o tema ser examinado
sob um aspecto em particular, negligenciando-se as demais manifestações da segurança jurídica. A vagueza
decorre do fato de o estudo ser feito de maneira excessivamente ampla, sem que sejam apontados critérios
para efetivação prática do princípio da segurança jurídica18.
18 ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica. 4ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.p. 86.
cj.estrategia.com |49
50
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A fim de superar tais dificuldades, o autor reduziu a indeterminação conceitual do princípio da segurança
jurídica e construiu critérios seguros que lhe garantem a operacionalidade. Com base nessa doutrina,
podemos afirmar que o princípio da segurança jurídica determina a adoção de determinados
comportamentos para realização dos estados que ele determina atingir19. Esses estados ideais cuja promoção
é determinada pelo princípio da segurança jurídica são a confiabilidade, a calculabilidade e a
cognoscibilidade.
Nas palavras de Humberto Ávila20, tais elementos podem ser descritos da seguinte forma:
Para o nosso estudo, assume relevância o estado de calculabilidade, que diz respeito à dimensão futura do
princípio da segurança jurídica. Pode-se defini-la como a capacidade de antecipação das consequências
alternativas atribuíveis pelo Direito a fatos ou a atos, de forma que a consequência efetivamente aplicada
no futuro se situe dentro daquelas alternativas que foram antecipadas no presente21.
Como se extrai da definição, o estado de calculabilidade não tem a pretensão de exigir que o cidadão tenha
certeza sobre a norma que será aplicada no futuro, mas apenas determina que a norma que venha a incidir
seja objetivamente previsível, ou seja, situe-se dentro do espectro de alternativas que possam ser
antecipadas no presente.
19 Ibid.p.87.
20 Ibid.p.106-107.
21 ÁVILA, Humberto. Teoria da Segurança Jurídica. 4ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.p. 609.
cj.estrategia.com |50
51
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Possibilidade de
Segurança Jurídica Calculabilidade antecipar as normas
jurídicas futuras
Tanto é que o Supremo Tribunal Federal entende a aplicabilidade da anterioridade para revogação de
benefícios fiscais como iremos aprofundar:
Imposto sobre circulação de mercadoria - ICMS. Condições para fruição do benefício fiscal.
Majoração indireta de tributos. Observância do princípio da anterioridade nonagesimal. (STF;
ARE-AgR 1.482.202; ES; Primeira Turma; Relª Min. Cármen Lúcia; Julg. 17/06/2024; DJE
20/06/2024)
cj.estrategia.com |51
52
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
equiparada à majoração do tributo (STF. Plenário. ADI 4016 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 01/08/2008).
O princípio da anterioridade anual se encontra previsto no artigo 150, inciso III, alínea b, da Constituição
Federal, e o princípio da anterioridade nonagesimal no artigo 150, inciso III, alínea c e parágrafo 6º do artigo
195 da Constituição Federal:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
(princípio da anterioridade anual)
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou, observado o disposto na alínea b (princípio da anterioridade nonagesimal)
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, “b”. (princípio da anterioridade anual)
Uma interpretação literal dos verbos cobrar e exigir poderia conduzir à conclusão de que, uma vez publicada
a lei, ela poderia entrar em vigor imediato e desencadear seus efeitos, permitindo inclusive o nascimento da
obrigação tributária. Assim, o período de espera seria necessário apenas para o desencadeamento da
cobrança, o que equipararia o princípio da legalidade a um alargamento do prazo de pagamento 22.
22 BALEEIRO, A. Direito Tributário Brasileiro. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
p.98.
23 CARRAZZA, Roque. Curso de Direito Constitucional Tributário. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 203.
cj.estrategia.com |52
53
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
[...] Assim, e.g., tributo criado em junho poderia incidir sobre fatos verificados em julho do
mesmo ano, desde que o fisco tivesse o cuidado de só realizar sua cobrança (mera providência
administrativa) no exercício seguinte. Bem precário seria este direito constitucional acaso fosse
tão fácil custeá-lo.
De fato, essa interpretação promoveria de maneira tímida aquele estado de calculabilidade salvaguardado
pelo princípio da segurança jurídica, motivo pelo qual não prevalece na doutrina e na jurisprudência.
A interpretação predominante é aquela que considera a finalidade do dispositivo, vinculando o termo cobrar
e o termo exigir à ideia de eficácia jurídica. Nessa perspectiva, considera-se que a nova lei tributária fica com
a eficácia paralisada, o que impede a sua incidência antes do transcurso do prazo previsto pelo princípio da
anterioridade.
Imaginemos que, em novembro de 2019, um município publicou uma lei majorando o valor de uma taxa.
Como a eficácia da norma fica paralisada até fevereiro de 2020 – em razão da incidência das duas
anterioridades – somente a partir de fevereiro, com o decurso dos 90 dias da anterioridade nonagesimal, é
que a norma retoma eficácia, podendo incidir sobre os fatos que ocorrerem posteriormente. Antes disso, o
contribuinte que realizar o fato gerador estará sujeito ao valor previsto pela lei pretérita.
O princípio da anterioridade nonagesimal, por sua vez, obsta a cobrança de tributos antes de decorridos
noventa dias da data em que haja sido publicada a lei. Assim, uma lei que institua um novo tributo e que seja
publicada em 15/12/2019 só pode desencadear seus efeitos a partir de 15/03/2020.
Ambas as anterioridades se aplicam tanto à lei que instituir um novo tributo quanto à lei que aumentar o
valor de um tributo já existente.
Perceba que o marco inicial para a contagem da anterioridade é sempre o mesmo: a publicação da lei que
instituiu ou majorou o tributo. Não se inicia a contagem da entrada em vigor da lei ou da sua sanção
presidencial, as quais podem diferir da data de sua publicação em diário oficial, servindo a observância da
anterioridade como uma condição de eficácia da lei tributária, que pode até já estar vigente, mas não será
eficaz até superado o prazo, e o seu desrespeito é uma desconformidade com a própria Constituição,
causando a inconstitucionalidade da norma tributária.
Ou seja:
cj.estrategia.com |53
54
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Assim, só se pode entender que a lei tributária que institui ou majora tributo terá eficácia no ano seguinte
ao da sua publicação e depois de observar 90 dias corridos dessa data, ainda que a sua vigência formal
venha antes, com ou sem observância de vacatio legis. Antes do adimplemento dessa eficácia, nenhum fato
gerador poderá ser tributado com base nessa lei, ainda que ocorrido após a sua vigência formal (fim da
vacatio legis).
Em regra, para a exigência do tributo, ambas a anterioridades devem ser observadas cumulativamente, como
decidiu o STF:
STF. Plenário. ADI 5282/PR, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 17/10/2022 (Info 1072)
Lei ordinária do Estado Alfa, publicada em dezembro de 2021, fixou as novas bases de cálculo do
IPVA a serem aplicadas a partir de 01/01/2022, acarretando majoração do tributo a ser pago.
Além disso, foi previsto que o IPVA também passaria a incidir, decorridos noventa dias da data
em foi publicada a lei, sobre aeronaves e embarcações, dotadas ou não de motor de
autopropulsão.
Diante desse cenário e, também, à luz do entendimento dos tribunais superiores, a referida nova
lei:
cj.estrategia.com |54
55
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Logo, consolidando:
Quanto ao verbo aumentar, valem as mesmas observações que fizemos quando analisamos o princípio da
legalidade. O entendimento dominante considera que o artigo 97, § 2º, do CTN24, é compatível com a
Constituição Federal. Logo, a mera atualização monetária da base de cálculo não precisa observar as
anterioridades.
Ademais, não se exige observância da anterioridade para instituição de normas que não sejam a
instituição ou a majoração de tributo. Logo, a redução do tributo não deve observância à
anterioridade e pode ter efeito imediato, já que não impacta negativamente o planejamento do
contribuinte.
Por fim, vale frisar que, como regra geral, aplicam-se tanto o princípio da anterioridade anual quanto o
princípio da anterioridade nonagesimal. Isso porque, ao prever a anterioridade nonagesimal, o dispositivo
expressamente consigna que deve também ser “observado o disposto na alínea b”, ou seja, que também
deve ser observada a anterioridade anual.
§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário
da respectiva base de cálculo.
cj.estrategia.com |55
56
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
FGV / TJ-MS / 2023) A União resolve criar um novo imposto não cumulativo e sem fato gerador ou base
de cálculo próprios dos discriminados na Constituição da República de 1988.
Em relação a espécie normativa e a vigência desse novo imposto, é correto afirmar que:
a) poderá ser criado por lei ordinária, respeitando apenas o princípio da anterioridade nonagesimal;
b) terá de ser criado por lei complementar, respeitando os princípios da anterioridade anual e da
anterioridade nonagesimal;
c) terá de ser criado por lei complementar, respeitando apenas o princípio da anterioridade anual;
d) terá de ser criado por lei complementar, respeitando apenas o princípio da anterioridade
nonagesimal;
e) poderá ser criado por lei ordinária, respeitando o princípio da anterioridade anual.
Comentários
A Constituição dispõe sobre a criação de novo imposto pela União em seu art. 154: “Art. 154. A União
poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que
sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta
Constituição; II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos
ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas
de sua criação”.
No caso, a questão está se referindo ao inciso I, que exige lei complementar. Além disso, por não ser
exceção à regra das anterioridades anual e nonagesimal (art. 150, III, “b” e “c”, da CF), esse novo
imposto também deve seguir tais regras. Portanto, a letra B é a correta.
Um detalhe que não pode passar desapercebido por você: a anterioridade anual não se aplica às
contribuições sociais, somente se aplica a anterioridade nonagesimal:
cj.estrategia.com |56
57
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Quais são os requisitos para a válida instituição de uma contribuição para a seguridade social cuja
fonte de custeio não esteja expressamente prevista na CF? [valor: 5,60 pontos]
Resposta: Caso a fonte de custeio não possua previsão expressa no texto constitucional, será
necessário institui-la por intermédio de LEI COMPLEMENTAR DA UNIÃO (art. 195, §4.º, da CF),
sendo vedada sua instituição por meio de medida provisória, tendo em vista o comando
peremptório do art. 62, III, da CF. Nessa hipótese, ressalte-se que continua necessário
o RESPEITO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL.
A primeira hipótese de não incidência da anterioridade anual se encontra prevista no artigo 195, § 6º, da
Constituição Federal:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos
termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos
noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes
aplicando o disposto no art. 150, III, “b”.
Como se observa do trecho grifado, a Constituição quis que as contribuições para a seguridade social
observassem tão somente a anterioridade nonagesimal, tendo as excluído da incidência da anterioridade
anual.
Nesse sentido, tratando-se de contribuições para a seguridade social, o aumento ou a instituição de um novo
tributo deve observar tão somente o prazo de 90 dias, sendo dispensável aguardar o término do exercício
financeiro.
cj.estrategia.com |57
58
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...]
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV
e V; e 154, II; [...]
b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art.
150, III, b;
[...]
c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b.
Da conjunção desses três dispositivos se percebe que a anterioridade anual não se aplica aos seguintes
tributos: a) Imposto sobre Importação (II) b) Imposto sobre Exportação (IE) c) Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) d) Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores
mobiliários (IOF) e) Imposto Extraordinário de Guerra (IEG) e) Empréstimo Compulsório para Calamidade
Pública ou Guerra Externa (EC-Cala/Gue) f) CIDE-Combustível g) ICMS-Combustível.
Ano: 2021
Banca: VUNESP
Órgão: TJ-GO
Como uma das limitações ao exercício do poder de tributar impõe a Constituição Federal o
denominado princípio da anterioridade ao vedar a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro
em que for publicada a lei que os instituir ou aumentar. Referida vedação, contudo, não se aplica
quando se tratar de um dos seguintes tributos: “imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro,
ou relativas a títulos ou valores mobiliários” (CORRETA).
Ano: 2021
cj.estrategia.com |58
59
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Banca: VUNESP
Órgão: TJ-SP
Como se observa, todos aqueles tributos que aparecem como mitigações ao princípio da legalidade também
são exceções ao princípio da anterioridade anual. Porém, há dois tributos que não aparecem como
mitigações ao princípio da legalidade, mas são exceções ao princípio da anterioridade anual: referimo-nos
ao Imposto Extraordinário de Guerra (IEG) e ao Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Guerra
Externa (detalhe que o Empréstimo Compulsório para fins de Investimento deve obedecer).
Calma, vamos sistematizar tudo, junto com o princípio da legalidade. Mas, antes, em síntese:
CIDE-Combustível, para reduzir Imposto de Exportação (IE) IPVA na fixação da base de cálculo
ou restabelecer alíquotas
ICMS-Combustível Monofásico, IOF
para reduzir ou restabelecer Imposto Extraordinário de Guerra IPTU na fixação da base de cálculo
alíquotas (IEG)
Contribuições para a Seguridade Empréstimos Compulsórios por
Social calamidade pública ou guerra
externa atual ou iminente
Perceba que as Taxas e as Contribuições de Melhoria não são exceção nem para as
anterioridades, nem para a legalidade, devendo sua instituição e majoração sempre observar
ambos os princípios.
cj.estrategia.com |59
60
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Ano: 2021
Considerando os princípios e as normas do direito tributário, julgue o item que se segue. Para a
instituição de novas taxas, deve-se observar tanto a anterioridade anual quanto a anterioridade
nonagesimal: “Certo”.
A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 150, III, “c”, o chamado princípio da anterioridade
nonagesimal ou noventena, que estabelece a vedação aos entes federativos de cobrar tributos antes
de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. A
incidência do princípio da anterioridade nonagesimal, todavia, é excepcionada em alguns casos
expressamente previstos no próprio texto constitucional. Nos termos da Constituição Federal de 1988,
não se submete à noventena a majoração do
Gab: B
Ano: 2021
Banca: FCC
Órgão: PGE-GO
cj.estrategia.com |60
61
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Todos esses três aparecem como mitigações ao princípio da legalidade e são exceções ao princípio da
anterioridade anual, mas não aparecem como exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal.
Dessa maneira, a modificação da norma que importe na majoração do valor desses tributos não precisa
observar a anterioridade anual, mas deve necessariamente observar a anterioridade nonagesimal, ficando a
eficácia da nova lei suspensa até que haja o transcurso do prazo de 90 dias.
Em 2011, o Poder Executivo tentou desrespeitar a anterioridade nonagesimal com relação ao IPI. Na época,
um decreto aumentou a alíquota do IPI sobre automóveis importados, tendo determinado que a nova
tributação incidisse imediatamente. A justificativa da União foi a seguinte: A lei estabelece um piso e um teto
no valor das alíquotas, permitindo ao Poder Executivo, dentro dessa margem, reduzi-las ou aumentá-las.
Segundo a União, o princípio da anterioridade só incidiria se fosse modificada a lei que estabelece o teto e o
piso, sendo dispensável a sua aplicação quando o decreto as modificasse, dentro do limite estabelecido pela
lei.
Esse raciocínio foi rechaçado à unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal, em medida cautelar apreciada
na ADI 4661.
Por outro lado, o dispositivo apresenta três exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal que não
figuram no rol das mitigações ao princípio da legalidade nem no rol das exceções ao princípio da
anterioridade anual. Referimo-nos aos seguintes tributos: a) Imposto sobre renda e proventos de qualquer
natureza; b) fixação da base de cálculo do IPTU; c) fixação da base de cálculo do IPVA.
Quanto ao IPTU e ao IPVA, é importante frisar: O que escapa à incidência da anterioridade nonagesimal é
tão somente a fixação das bases de cálculo. O aumento da tributação através do incremento das alíquotas
desses impostos necessita observá-la.
Com o objetivo de facilitar a fixação da matéria, colacionamos um gráfico que sintetiza as exceções ao
princípio da anterioridade anual e as exceções ao princípio da anterioridade nonagesimal:
cj.estrategia.com |61
62
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O gráfico a seguir, por sua vez, relaciona as exceções aos princípios da anterioridade com as mitigações ao
princípio da legalidade.
cj.estrategia.com |62
63
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Alternativas
B)O empréstimo compulsório instituído para subsidiar investimento público de caráter urgente
e de relevante interesse nacional não se submete aos princípios da anterioridade nonagesimal e
geral.
D)A lei que majora o Imposto sobre Produtos Industrializados submete-se aos princípios da
anterioridade geral e nonagesimal.
E)Uma lei que majora o Imposto de Renda, publicada em dezembro do ano de 2023, aplica-se
aos fatos geradores ocorridos a partir de 01 de janeiro de 2024, uma vez que a ele se aplica
apenas a anterioridade geral e não a nonagesimal.
Gab: E
Destaque-se que a exceção à anterioridade nonagesimal para o IPVA e para o IPTU é apenas para fixar sua
base de cálculo. Isso não se confunde com simples correção monetária e quaisquer alterações de alíquotas
demanda a observância de ambas as anterioridades.
Determinado estado brasileiro publica lei que tem por objetivo majorar a base de cálculo e a
alíquota do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, com aplicação imediata,
gerando grande repercussão entre os contribuintes.
Alternativas
cj.estrategia.com |63
64
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
C)tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota não necessitam observar o princípio
da anterioridade nonagesimal e da anterioridade de exercício.
Gab: D
Por fim, mais uma exceção (boa) à anterioridade nonagesimal, pegadinha massa que trouxe a Reforma
Tributária (EC 132/2023):
Art. 130. Resolução do Senado Federal fixará, para todas as esferas federativas, as alíquotas de
referência dos tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V, da Constituição Federal, observados a
forma de cálculo e os limites previstos em lei complementar, de forma a assegurar: (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023)
§ 1º As alíquotas de referência serão fixadas no ano anterior ao de sua vigência, não se aplicando
o disposto no art. 150, III, "c", da Constituição Federal, com base em cálculo realizado pelo
Tribunal de Contas da União. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 132, de 2023)
Isto é, as alíquotas de referência do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) serão fixadas no ano anterior ao
de sua vigência, não se aplicando o princípio da noventena (anterioridade nonagesimal).
A doutrina defende que o princípio da anterioridade é cláusula pétrea, razão pela qual não poderia ser
suprimido por Emenda Constitucional. Contudo, é preciso tomar algum cuidado com essa afirmação.
cj.estrategia.com |64
65
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
De fato, o julgar a ADI 939, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que o princípio da anterioridade é
cláusula pétrea25:
O Princípio da Anterioridade (art. 150, III, "b", da CF), por configurar uma das maiores garantias
tributárias do cidadão em face do Estado/Fisco, é consagrado pelo Supremo Tribunal Federal
como cláusula pétrea, nos termos do art. 60, § 4º, IV, da CF (ADI 939, Rel. Min. Sydney Sanches,
DJ de 18/03/1994). Além de constituir garantia individual, assegura a possibilidade de o
contribuinte programar-se contra a ingerência estatal em sua propriedade, preservando-se,
pois, a segurança jurídica. 3. A instituição do adicional de alíquota de ICMS, facultada pelo art.
82, § 1º, do ADCT, não configura hipótese de relativização do referido princípio. 4. Ação Direta
julgada procedente, na parte em que conhecida, para declarar a inconstitucionalidade parcial,
sem redução de texto, do artigo 5º da Lei nº 4.454/2017 do Estado do Amazonas, restringindo-
se a censura aos fatos geradores ocorridos entre a data de vigência da norma (1º de julho de
2017) e 31 de dezembro de 2017. (STF; ADI 5.733; AM; Tribunal Pleno; Rel. Min. Alexandre de
Moraes; Julg. 20/09/2019; DJE 03/10/2019; Pág. 68)
Contudo, esse entendimento se aplica, com convicção, à anterioridade anual, prevista pela Constituição
Federal no artigo 150, inciso III, alínea b e à anterioridade nonagesimal prevista no artigo 195, § 6º, da CF,
porque ambas existem desde o texto originário, fazendo parte do leque de direitos fundamentais instituídos
pelo Poder Constituinte.
Por outro lado, quanto à anterioridade nonagesimal prevista no artigo 150, inciso III, alínea c, da Constituição
Federal, não há uma resposta definitiva sobre a sua inserção no catálogo dos direitos que conformam as
cláusulas pétreas, porque esse dispositivo foi inserido pela Emenda Constitucional nº 42/2003.
Para parte da doutrina, uma Emenda Constitucional pode ampliar o rol de direitos fundamentais previsto
pela Constituição. No entanto, o novo direito inserido não pode ser reconhecido como cláusula pétrea.
Gilmar Ferreira Mendes26 explica o porquê:
Se a proteção fornecida pela cláusula pétrea impede que os direitos fundamentais sejam abolidos
ou tenham o seu núcleo essencial amesquinhado, não tolhe, evidentemente, o legislador
reformista de ampliar o catálogo já existente. A questão que pode ser posta, no entanto, é a de
saber se os novos direitos criados serão também eles cláusulas pétreas. Para enfrentá-la é útil
ter presente o que se disse sobre a índole geral das cláusulas pétreas. Lembre-se que elas se
fundamentam na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma. Por isso,
aquele pode limitar o conteúdo das deliberações deste. Não faz sentido, porém, que o poder
constituinte de reforma limite-se a si próprio. Como ele é o mesmo agora ou no futuro, nada
25ADI 939, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/1993, DJ 18-03-1994 PP-05165 EMENT
VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-00151-03 PP-00755.
26 MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2017.
cj.estrategia.com |65
66
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
impedirá que o que hoje proibiu, amanhã permita. Enfim, não é cabível que o poder de reforma
crie cláusulas pétreas. Apenas o poder constituinte originário pode fazê–lo.
Até agora, essa questão não foi apreciada pelo Supremo Tribunal Federal.
Qualificado como garantia individual do contribuinte e, por conseguinte, como cláusula pétrea
da Constituição Federal de 1988, o princípio da anterioridade não se aplica à norma jurídica que
altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária (certo).
O Supremo Tribunal Federal decidiu que muitas das limitações constitucionais ao poder de
tributar são direitos fundamentais do contribuinte, protegidos como cláusulas pétreas, como é o
caso do princípio da anterioridade (certo).
a) O princípio da anterioridade anual, previsto no artigo 150, inciso III, alínea b, da CF, e o
princípio da anterioridade nonagesimal previsto no artigo 195, § 6º, da CF, são direitos
individuais; nessa perspectiva, são também cláusulas pétreas da Constituição Federal;
b) Como a anterioridade nonagesimal do artigo 150, inciso III, alínea c, foi inserida por Emenda
Constitucional, há dúvidas sobre a sua condição como cláusula pétrea, por existir na doutrina de
direito constitucional posicionamento acerca da impossibilidade de ampliação do rol de
limitações existentes na carta originária.
Entretanto, caso as questões objetivas afirmem genericamente que a anterioridade é uma cláusula pétrea,
marque como verdadeiro.
cj.estrategia.com |66
67
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Apenas a título argumentativo, há um destaque do Min. André Mendonça na ADC 84 que apresentou
divergência ao entendimento do relator, sendo voto vencido, defendendo que a anterioridade nonagesimal
seria uma cláusula pétrea:
Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força
de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
Assim, abrem-se três possibilidades: a) a medida provisória é aprovada e convertida em lei; b) a medida
provisória é rejeitada pelo Congresso Nacional; c) a medida provisória não é votada no prazo de 60 dias,
prorrogável por mais 60 dias, e perde a sua eficácia.
É válido lembrar que estudamos a ligação desse tema com o direito tributário quando tratamos do princípio
da legalidade. Naquela oportunidade, assentamos dois pressupostos: o primeiro, de que é possível a
instituição ou a majoração de tributos por meio de medidas provisórias, sendo esse o entendimento do
Supremo Tribunal Federal desde a promulgação da CF de 1988; e o segundo, de que há exceções a essa regra,
não sendo possível a utilização de medidas provisórias nos casos em que a Constituição Federal exigiu a
edição de Lei Complementar.
Agora vamos avançar no tema, na tentativa de enfrentarmos a questão à luz do Princípio da Anterioridade.
Cabe-nos responder, a partir de agora, como a doutrina e a jurisprudência têm compatibilizado a utilização
de medidas provisórias – cujos pressupostos são a relevância e a urgência – com o princípio da anterioridade,
que exige o transcurso de um determinado prazo para que a norma possa desencadear seus efeitos.
Qual o termo inicial para contagem dos prazos trazidos pelas anterioridades?
Deve-se utilizar como termo inicial a edição da medida provisória ou a sua conversão em lei?
cj.estrategia.com |67
68
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O Supremo Tribunal Federal, na redação originária da Constituição Federal, firmou entendimento de que o
termo inicial da contagem era a edição da Medida Provisória27.
Contudo, posteriormente houve uma mudança na Constituição Federal, operada pela Emenda Constitucional
nº 32/2001, que inseriu o § 2º ao artigo 62 da CF:
Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas
provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) [...]
O dispositivo acima determinou que, tratando-se de medida provisória que institua ou aumente impostos –
salvo aqueles ressalvados expressamente - a produção de efeitos no exercício financeiro seguinte fica
condicionada à conversão da Medida provisória em lei até o dia 31 de dezembro do exercício em que a
medida provisória foi editada. A ressalva feita com relação aos impostos previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e
154, II não tem maior relevância, porque esses impostos são exceções ao princípio da anterioridade anual.
Destaque-se que nem todos os impostos estão sujeitos a essa regra, pois o II, IE, IPI, IOF e IEG constituem
exceções estampadas na própria norma.
A regra só vale para a espécie IMPOSTO, estando excepcionados os seguintes impostos: II, IE, IPI,
IOF e IEG.
Portanto, a novidade foi a mudança no termo inicial da contagem do prazo, que, a partir da inserção desse
novo dispositivo, passou a ser a conversão em lei da medida provisória.
Esta norma se aplica especificamente à categoria dos IMPOSTOS, excetuando-se aqueles mencionados. A
exigência é exclusiva para medidas provisórias, com a finalidade de garantir sua conversão em lei antes da
eficácia no ano subsequente. Entendo que podem surgir dúvidas, então vamos explorar o tema
27RE 232084, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 04/04/2000, DJ 16-06-2000 PP-00039 EMENT
VOL-01995-03 PP-00615.
cj.estrategia.com |68
69
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
cuidadosamente, fornecendo dicas que possam esclarecer qualquer questão, especialmente relevantes para
concursos públicos.
A Emenda Constitucional 32/2001 estabelece que medidas provisórias têm vigência de 60 dias, prorrogáveis
por mais 60. Ao lidar com normas que instituem ou majoram tributos, os princípios da anterioridade e da
noventena devem ser considerados, mesmo que tais tributos sejam instituídos ou majorados por MPs.
Para impostos não incluídos nas exceções do § 2° do art. 62 da CF (II, IE, IPI, IOF e IEG), deve-se seguir a regra
de que os efeitos somente se darão no exercício financeiro seguinte, se a MP for convertida em lei até o
último dia do ano em que foi editada.
Assim, o aumento do IPI, por exemplo, não está sujeito a essa regra, enquanto um aumento nas
alíquotas do ITR está sujeito tanto à anterioridade quanto à noventena, além da regra do art. 62,
§ 2°.
Considere um caso hipotético de ICMS (não relacionado a combustíveis), que se sujeita à regra
do art. 62, § 2°, e aos princípios da anterioridade anual e nonagesimal. Suponha que uma MP
estadual aumentando a alíquota do ICMS foi publicada em novembro de 2014, mas sua
conversão em lei ocorreu apenas em janeiro de 2015. Quando essa majoração terá efeito?
Como o ICMS se submete à anterioridade e à noventena, a regra dita que a MP produziria efeitos
após 90 dias, respeitando também a anterioridade. Portanto, os efeitos ocorreriam ainda em
2015. Contudo, devido à regra específica estudada, os efeitos só se dariam a partir de 1° de
janeiro de 2016, pois a MP não foi convertida até o último dia de sua edição (31/12/2014).
Nesse sentido:
“Em decorrência do princípio constitucional tributário da anterioridade anual (CF/1988, art. 62,
§ 2º c/c o art. 150, III, “b”), a cobrança de aumento da alíquota geral de ICMS de operações
internas estadual, quando decorrer da edição de uma medida provisória, somente produzirá
efeitos no exercício financeiro seguinte ao que ocorrer a conversão em lei” (STF. Plenário. ADI
7.375/TO, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 29/9/2023, informativo n. 1110).
Os estados-membros podem editar medidas provisórias desde que essa espécie legislativa esteja
prevista na Constituição estadual e seja observado o conjunto básico das regras do processo
legislativo da Constituição Federal de 1988).
Conforme jurisprudência desta Corte, a estabilização do ato normativo somente ocorre com a
conversão da medida provisória em lei, de modo que cumulativas as garantias da anterioridade
de exercício e nonagesimal.
cj.estrategia.com |69
70
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Na espécie, a lei de conversão da medida provisória foi promulgada apenas em 2023, de modo
que a majoração da alíquota de ICMS só poderia produzir efeitos a partir do exercício financeiro
seguinte.
Como se pôde observar, ele trata somente da anterioridade anual, silenciando acerca da anterioridade
nonagesimal. De certa forma, a omissão é explicável: quando da edição da Emenda Constitucional nº 32, só
existia a anterioridade nonagesimal do artigo 195, § 6º, da CF; a anterioridade nonagesimal do artigo 150,
inciso III, alínea c, só foi inserida posteriormente, pela EC 42/2003.
Entretanto, o fato é que o dispositivo não diz se a anterioridade nonagesimal deve ser contada da data da
edição da medida provisória ou também da sua conversão em lei.
O segundo problema que se apresenta é que o dispositivo se refere a impostos, e não a tributos. Nessa
perspectiva, cabe indagar se, tratando-se de outras espécies tributárias, o termo inicial deve ser o da edição
da medida provisória, como decidia o STF na redação originária da CF, ou se da conversão da medida
provisória em lei, aplicando-se analogicamente às outras espécies tributárias o § 2º do artigo 62.
Sobre essas questões, tem a doutrina minoritária defende que o termo inicial das anterioridades deve ser
sempre a conversão em lei da medida provisória. Nesse sentido, cito passagem da obra Direito Tributário
Brasileiro, escrito por Aliomar Baleeiro e atualizado pela professora Misabel Machado Derzi28.
Uma coisa é certa. Medida Provisória não é ato irrelevante, nem se equipara, em tese, a um
simples projeto de lei. Mas outra coisa também é certa. Medida Provisória tampouco é lei. Não
foi aprovada pelo Poder Legislativo, nada acresce à ordem jurídica foral e definitivamente.
Equiparar medida provisória a lei é transformar decreto em lei, é abalar mortalmente o princípio
do Estado de Direito da democracia brasileira. Por essa razão, o princípio da não surpresa (quer
o da anterioridade, quer o da espera nonagesimal) deveria ter, como ponto de partida, ponto de
referência e de contagem o da publicação da lei (em que se converte a medida provisória).
Leandro Paulsen29, por outro lado, pensa de modo diverso conforme a doutrina majoritária:
28 BALEEIRO, A. Direito Tributário Brasileiro. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
p.25.
29 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2017.p. 131.
cj.estrategia.com |70
71
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O STF entende que o termo a quo para verificação da observância da anterioridade é a data da
edição da medida provisória [...] Porém, com a EC 32/01, que alterou o regime das medidas
provisórias, acresceu-se o § 2º ao art. 62 da CF [...]
Note-se que a restrição foi posta apenas para a espécie tributária impostos, de maneira que, para
as demais espécies tributárias, continua aplicável a orientação do STF. A EC 42/03, que
estabeleceu a anterioridade mínima de 90 dias ao acrescer a alínea c ao inciso III do art. 150 da
CF, não estabeleceu a conversão em lei como critério para sua contagem.
O Supremo Tribunal Federal tem mantido sua jurisprudência e interpretado de maneira restritiva o § 2º do
artigo 62 da CF, para aplicá-lo tão somente à anterioridade anual, nos casos em que a medida provisória se
refira a impostos30.
No entanto, a Corte tem feito uma ressalva: O termo inicial deve ser a da conversão em lei nos casos em que
a instituição ou a majoração do tributo não tenha sido prevista originariamente no texto da Medida
Provisória, mas tenha sido realizada somente no curso do processo legislativo31.
30RE 1085312 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 20/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-081 DIVULG 25-04-2018 PUBLIC 26-04-2018.
31 RE 568503, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-050 DIVULG 13-03-2014 PUBLIC 14-03-2014.
cj.estrategia.com |71
72
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
De outro modo:
ANTERIORIDADE ANUAL E
NONAGESIMAL
cj.estrategia.com |72
73
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Se a questão não fizer nenhuma ressalva quanto às alterações substanciais, consideraremos que
o prazo se conta a partir da publicação da medida provisória.
Há, ainda, a hipótese de a MP ser rejeitada no Congresso Nacional (CN) ou vir a perder sua eficácia por
decurso do prazo de 120 dias. Nestes casos, o tributo deixa de ser cobrado. Contudo, cabe ao Congresso
Nacional disciplinar as relações jurídicas que foram geradas nesses 30 dias de cobrança do tributo, por
meio de decreto legislativo. Vale dizer, o CN decidirá se haverá ou não a devolução dos valores pagos
pelos contribuintes.
Se o CN não deliberar sobre isso no prazo de 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia, as relações
jurídicas (os valores pagos) são mantidas, valendo-se o que foi disposto na MP.
Corroborado o pensamento do STF que no caso das Contribuições o prazo começa da publicação da MP:
cj.estrategia.com |73
74
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Comentários: Em regra, o termo inicial para a contagem do prazo nonagesimal seria a data da
publicação da medida provisória e não a da lei na qual fosse convertida. Todavia, como no caso
houve o agravamento da carga tributária pela lei de conversão, a contagem do termo iniciar-se-
ia da publicação desta.
Assim, segundo decidiu o STF, nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida
somente na lei de conversão, o termo inicial da contagem é a data da conversão da medida
provisória em lei.
Gab: D
a) no exercício financeiro seguinte àquele em que a nova lei foi publicada, respeitando-se,
também, o princípio nonagesimal (noventena), por se tratar do imposto sobre a renda, o qual
deve observar as duas anterioridades constitucionais, ou seja, a anual e a noventena.
b) no exercício financeiro seguinte àquele em que a nova lei, decorrente da medida provisória
aprovada, foi publicada.
c) imediatamente, desde que seja promulgada e publicada de acordo com o processo legislativo
previsto na Constituição Federal.
d) após o prazo de noventa dias da data em que haja sido publicada a nova lei que majorou o
imposto sobre a renda.
e) no mesmo dia da publicação da lei, tendo em vista a exceção prevista na Constituição Federal,
ao tratar das regras sobre medida provisória.
Comentário: Como se trata de medida provisória majorando IR, devemos considerar, além do
princípio da anterioridade anual (O IR constitui exceção ao princípio da anterioridade
cj.estrategia.com |74
75
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
nonagesimal), a regra contida no art. 62, § 2o, da CF/88, ou seja, a nova lei publicada fruto da
conversão da medida provisória só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver
sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. Assim sendo, analisemos as
alternativas da questão:
Alternativa B: Esta assertiva está correta, já que, ao considerarmos que a lei produzirá efeitos no
exercício financeiro seguinte àquele em que a nova lei decorrente da medida provisória aprovada
foi publicada, já se considera a regra do art. 62, § 2o, da CF/88. Afinal, por exemplo, se a MP foi
publicada em 2015 e convertida em lei ainda em 2015, produzirá efeitos em 2016. Se, por outro
lado, a medida provisória foi publicada no fim do ano 2015, e só convertida em lei em 2016, a
produção de efeitos será também no exercício financeiro seguinte àquele em que a nova lei foi
publicada, isto é, em 2017. Alternativa correta.
Alternativa C: Em razão da regra prevista no art. 62, § 2o, e considerando que o IR se submete ao
princípio da anterioridade anual, a referida lei não produzirá efeitos imediatamente. Alternativa
errada.
Alternativa E: Na realidade, em razão da regra prevista no art. 62, § 2o, e considerando que o IR
se submete ao princípio da anterioridade anual, a referida lei não produzirá efeitos no dia de sua
publicação. Alternativa errada.
Gabarito: Letra B
cj.estrategia.com |75
76
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
que já estava sedimentada’. (...). (STF; RE-AgR 1.487.171; PR; Segunda Turma; Rel. Min. Dias
Toffoli; Julg. 17/06/2024; DJE 30/07/2024)
O raciocínio que utilizamos aqui é o mesmo de quando enfrentamos esse tema tendo como pano de fundo
o princípio da legalidade: a alteração na data de pagamento do tributo não importa na instituição de um
novo tributo ou na sua majoração. Logo, não há a necessidade de observância do princípio da anterioridade.
Uma nova Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal do Brasil diminuiu o prazo de
pagamento de certo tributo federal, gerando indignação entre os sujeitos passivos
tributários.Diante desse cenário e à luz da jurisprudência do STF, assinale a afirmativa correta.
Alternativas:
A)A alteração de prazo de pagamento de tributo somente poderia ser feita por meio de lei.
C)A norma que altera o prazo de pagamento tributário não se sujeita ao princípio da
anterioridade tributária.
D)Embora a Instrução Normativa seja instrumento apto a alterar prazo de pagamento de tributo
federal, deve respeitar apenas o princípio da anterioridade tributária nonagesimal.
E)Embora a Instrução Normativa seja instrumento apto a alterar prazo de pagamento de tributo
federal, deve respeitar apenas o princípio da anterioridade tributária anual.
Gab: C
cj.estrategia.com |76
77
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Súmula Vinculante 50: Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária
não se sujeita ao princípio da anterioridade.
O segundo tema diz respeito à revogação de isenções concedidas por prazo indeterminado e/ou não
condicionadas.
No entanto, essa jurisprudência mudou a partir de 2014, quando a Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal julgou o RE 564.225. Na ocasião, a Corte entendeu que a anterioridade anual e a anterioridade
nonagesimal se aplicavam em caso de revogação de benefício fiscal. Transcrevemos trecho do voto proferido
pelo Ministro Luís Roberto Barroso, em que ele defendeu a modificação da jurisprudência da Corte:
[...] 6. A ocasião é oportuna para revisitar a jurisprudência da Corte, que foi muito bem retratada
pela divergência. A concepção de anterioridade que me parece mais adequada é aquela afeta ao
conteúdo teleológico da garantia. O princípio busca assegurar a previsibilidade da relação fiscal
ao não permitir que o contribuinte seja surpreendido com um aumento súbito do encargo,
confirmando o direito inafastável ao planejamento de suas finanças. O prévio conhecimento da
carga tributária tem como fundamento a segurança jurídica e como conteúdo a garantia da
certeza do direito.
7. Deve ser entendida como majoração do tributo toda alteração ocorrida nos critérios
quantitativos do consequente da regra-matriz de incidência. Sob tal perspectiva, um aumento de
alíquota ou uma redução de benefício relacionada a base econômica apontam para o mesmo
32 RE 562.669/MG-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 19/5/11; AI no 783.509/SP-AgR,
Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 17/11/10. AI no 747.391/MG, Relatora a Ministra Rosa
Weber, DJe de 30/8/13; AI n° 259.646/BA, DJe de 30/11/11 e AI n° 650.966/SP, DJe de 15/08/11, de relatoria do Ministro
Dias Toffoli; RE no 492.781/MG, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 18/3/10.
cj.estrategia.com |77
78
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Esse novo entendimento foi adotado posteriormente também pela Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal em diversos julgados sobre a matéria33:
Imposto sobre circulação de mercadoria - ICMS. Condições para fruição do benefício fiscal.
Majoração indireta de tributos. Observância do princípio da anterioridade nonagesimal. (STF;
ARE-AgR 1.482.202; ES; Primeira Turma; Relª Min. Cármen Lúcia; Julg. 17/06/2024; DJE
20/06/2024)
Em outras palavras, o ato normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido configura
aumento indireto do tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade tributária. A
jurisprudência do STF concebe que não apenas a majoração direta de tributos atrai a eficácia da
anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta decorrente de revogação de benefícios fiscais.
O município X decidiu reduzir, por tempo indeterminado, a alíquota do ISS para estimular alguns
setores da economia local. Alcançado o objetivo da medida, o benefício foi revogado. Nas
33 RE 1213427 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 29/11/2019; RE 1254102 AgR, Relator(a): EDSON
FACHIN, Segunda Turma, julgado em 15/05/2020; RE 1081068 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
06/03/2018; RE 1081041 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 09/04/2018.
cj.estrategia.com |78
79
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
hipóteses em que é editado ato normativo que prevê redução ou de supressão de benefícios ou
de incentivos fiscais, é correto afirmar que
Alternativas
A)o tributo sofre aumento direto e indireto, impondo a sujeição da previsão legal ao princípio da
anterioridade tributária anual.
B)ocorre a majoração direta de tributos e sua eficácia é imediata, tendo em vista o teor político
da resolução.
C)a carga tributária não sofre modificação, sendo aplicado o princípio da anterioridade somente
em sua modalidade nonagesimal para que a previsão tenha eficácia.
D)há aumento indireto do tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade anual e
nonagesimal.
Gab: D
Alternativas
C)A vigência da norma deve observar ao princípio da anterioridade, geral e nonagesimal (Certo)
Assim, a alteração em programa fiscal, quando acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal. É a posição que prevalece também no Plenário do STF:
Entretanto, cuidado com uma pegadinha, outra questão já decidida pelo STF diz respeito à redução ou
extinção de desconto para pagamento de tributo em parcela única ou de maneira antecipada,
normalmente autorizada nos casos de IPVA ou IPTU.
cj.estrategia.com |79
80
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A Corte decidiu que, nessa hipótese, não há majoração no valor da carga tributária, razão pela qual não se
aplica o princípio da anterioridade34.
Além disso, a sua aplicação reiterada ao longo dos anos, como ocorre, em regra, com o IPTU
e o IPVA, não gera legítima expectativa de sua continuidade para os anos seguintes, não
se podendo falar em direito adquirido.
3 - PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE
34ADI 4016 MC, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2008, DJe-075 DIVULG 23-04-2009
PUBLIC 24-04-2009 EMENT VOL-02357-01 PP-00047 RDDT n. 165, 2009, p. 187-193.
cj.estrategia.com |80
81
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
[...] Como a retroatividade faz com que a norma anterior, em cuja eficácia se confiou, tenha parte
da sua eficácia anulada pela norma posterior, a retroatividade não diz respeito apenas a um
problema relacionado à transição do passado ao presente, mas também do presente ao futuro:
o cidadão, tendo sido frustrada a sua confiança com relação à eficácia da norma anterior pela
modificação introduzida pela norma presente, passa a desconfiar de que também a eficácia da
norma presente pode ser alterada por um norma futura. Em outras palavras, o fenômeno da
retroatividade causa tanto uma frustração da confiança normativa com relação ao passado
quanto o nascimento de uma desconfiança jurídica com relação ao futuro. Retroatividade, enfim,
é um problema toca tanto à exigência de confiabilidade quanto à de calculabilidade do
ordenamento jurídico. Ela atinge, em suma, a segurança jurídica na sua dupla dimensão.
Portanto, por promover a segurança jurídica, a garantia de irretroatividade ocupa papel central em um
Estado de Direito, tendo ganhado na Constituição Federal de 1988 dois dispositivos que lhe servem como
fundamentos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver
instituído ou aumentado;
Como vimos, o que caracteriza a garantia da irretroatividade é o princípio da segurança jurídica. Não há no
texto constitucional nenhuma atenuação ou exceção à irretroatividade tributária. A lei instituidora ou
majoradora de tributos tem de ser necessariamente prospectiva, não se admitindo nenhum tipo de
retroatividade, seja máxima, média ou mínima.
Em suma, a irretroatividade da lei tributária significa que é vedado cobrar tributos com fatos
geradores anteriores ao início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.
Veja que a proibição tem, por objetivo, evitar que uma lei seja instituída hoje e venha a instituir ou aumentar
tributos cujos fatos geradores ocorreram antes do início da vigência desta lei. Por exemplo, seria
cj.estrategia.com |81
82
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
inconstitucional se uma lei fosse editada hoje, afirmando que o IPTU seria majorado e que todos aqueles que
possuíssem imóveis urbanos a partir de 2010 sofreriam tal ônus para pagar agora, referente a algo de 2010
Além disso, perceba a diferença entre esse princípio e os princípios da anterioridade anual e
nonagesimal. Nesses, o marco temporal utilizado para vedar a cobrança de tributos é a
publicação da lei; naquele, trata-se da vigência da lei.
Não há que se falar em retroatividade tampouco na sua variante conhecida por retrospectividade ou
retroatividade imprópria, mas apenas em prospectividade da lei tributária impositiva mais onerosa.
Contudo, o CTN previu situações em que a norma pode retroagir, desde que seja expressamente
interpretativa ou, tratando de infração, que venha a beneficiar os infratores.
O princípio da irretroatividade da lei tributária, que institui ou aumente tributo, não possui qualquer
exceção (Certo).
Essa questão ganha contornos mais complexos com os tributos com fatos geradores continuados, aqueles
suja concretização se prolonga no tempo, havendo a eleição, na lei, de um momento formal no qual se
considera implementado o fato gerado, como o IPTU, o ITR e o IPVA, e periódicos ou complexivos, aqueles
cujos fatos geradores ocorrem repetidamente ao longo de um decurso de tempo e são reunidos para fins de
tributação, como o Imposto de Renda, em contraste aos fatos geradores instantâneos, que ocorrem de uma
só vem em um momento temporal bem definido, como o IPI, o ICMS e o ISS.
Nesses casos, a jurisprudência que tem se formado no STF é no sentido de que deve ser aplicada a lei vigente
na data em que a lei tributária eleger como de ocorrência do fato gerador, tanto para os tributos de fatos
geradores continuados quanto para os de fatos geradores periódicos, em enquanto espécies de fatos
geradores pendentes, ainda que isso impacte “fatos geradores” ocorridos antes, já que, formalmente, o
fato gerador efetivamente ocorrerá apenas na data eleita pela lei. Tomemos o IPTU como exemplo, que,
em regra, tem como data eleita por lei para ocorrência do fato gerador continuado o dia 01 de janeiro.
cj.estrategia.com |82
83
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Ainda que pareça estranha essa interpretação, é o entendimento formalista, de que o fato gerador só ocorre,
de fato, quando implementado todos os seus elementos, em especial o critério temporal eleito pela lei, que
nos conduz a essa possibilidade de que a lei nova “retroaja” para alcançar parcelas do fato gerador
continuado ou complexivo que ocorreram antes da sua entrada em vigor.
Portanto, guarde duas coisas que veremos mais na frente no nosso curso:
Outra coisa, é comum fazer uma comparação entre a irretroatividade no direito tributário e no direito penal.
Em ambos os casos, é necessário que exista uma lei anterior que defina o crime ou o tributo. Até esse ponto,
as semelhanças são claras.
No entanto, alguns alunos confundem os efeitos da revogação de uma norma penal com os efeitos da
revogação de uma norma tributária. Nesse aspecto, os sistemas se diferenciam significativamente: quando
uma lei penal deixa de considerar uma conduta como crime, ela pode retroagir para beneficiar o acusado. Já
no direito tributário, a revogação de um tributo ou a redução de sua alíquota não tem efeito retroativo.
Assim, se no dia "X" ocorreu o fato gerador e este se enquadrou perfeitamente na hipótese de incidência
tributária, não importa se posteriormente o tributo foi revogado ou a alíquota reduzida. O tributo devido
será calculado com base na lei vigente no momento do fato gerador, e a alíquota aplicável será a daquela
data, independentemente de alterações subsequentes.
Aplica-se retroativamente lei que conceda isenção àqueles contribuintes que não tiverem recolhido o
tributo devido à época, mas se encontravam contemplados pela nova legislação.
Certo.
Errado.
Comentários: ERRADO
cj.estrategia.com |83
84
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A questão está incorreta. A regra é a irretroatividade da lei tributária, conforme art. 105 do CTN: “A
legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim
entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo
116.”
A exceção é apresentada no dispositivo legal em sequência, entretanto, não existe qualquer menção à
isenção tributária. Desse modo, necessário seguir a regra. Nesse sentido já decidiu o STJ: “(...) 3.
Ocorrido o fato gerador do tributo anteriormente à vigência da lei que veicula isenção, inviável a
aplicação retroativa, porquanto, in casu, não se trata de norma de caráter interpretativo ou obrigação
gerada por infração (art. 106 do CTN).” (REsp 464.419/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 15/05/2003, DJ 02/06/2003, p. 193)
Passaremos a analisar o artigo 150, inciso III, alínea a, que diz respeito ao princípio da irretroatividade
tributária, objeto da nossa matéria.
CTN, Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos
pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa
nos termos do artigo 116.
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que
não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua
prática.
Acima temos dois casos de retroatividade prevista no CTN. Se você não entender agora, não se preocupe,
vamos estudar aprofundando mais na frente.
Como visto, a regra é a irretroatividade das leis tributárias que alterem o próprio tributo, a carga tributária
imposta, seja majorando-a, reduzindo-a ou instituindo um novo tributo. Ocorre que esse não é o
entendimento que se aplica, segundo o CTN, a outras normas de Direito Tributário que não se liguem
diretamente à carga tributária imposta, mas à administração tributária.
cj.estrategia.com |84
85
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O Artigo 105 do Código Tributário Nacional estabelece que a legislação tributária aplica-se a fatos
geradores futuros e a situações pendentes, não incidindo sobre fatos geradores ocorridos antes
do início de sua vigência. Isso se baseia no princípio da irretroatividade tributária que determina
que a lei tributária não pode retroagir para prejudicar o contribuinte, aplicando-se apenas aos
fatos geradores ocorridos após sua vigência(Certo).
O CTN prevê expressamente que a lei tributária será aplicada a fatos pretéritos em duas situações, as quais
são objeto constante de cobrança em provas.
Cuidado: Não há aplicação retroativa da lei mais benéfica sobre tributos, mas apenas sobre
multa!
–Lei posterior que venha reduzir as alíquotas de tributo não pode ser aplicada retroativamente.
1) Em qualquer caso, quando a lei tributária for apenas interpretativa, ou seja, traga a definição de
conceitos jurídicos ou princípio hermenêuticos, excluída a aplicação de penalidade a infração dos
dispositivos interpretados;
a. Perceba: a lei tributária que apenas prevê normas expressamente interpretativas35 pode
alcançar a análise dos fatos geradores ocorridos antes da sua entrada em vigor, já que não se
trata de alteração do tributo em si, apenas da norma jurídica que se extrai do seu dispositivo
legal;
b. A modificação da interpretação não pode levar à imposição de penalidades ao contribuinte
que, na interpretação vigente anteriormente, não seriam aplicáveis, já que não é
proporcional a retroação de leis sancionatórias para penalizarem fatos que, quando
cometidos, não eram tidos por ilícitos, ainda que fora do direito penal (vide ARE 843.989/PR).
35 Essa possibilidade de modificação da interpretação de normas tributárias alcançar fatos pretéritos gera certa insegurança jurídica, e foi objeto de tratamento
pelos novos artigos de Direito Público da LINDB, em especial o artigo 23, o qual, embora não trate de alteração interpretativa por meio de lei, é apontado pela
doutrina como um direcionador para a aplicação dessa nova interpretação de forma a se garantir segurança jurídica, promovendo um regime de transição, quando
indispensável para seu cumprimento de forma proporcional, equânime e eficiente, promovendo estabilidade jurídica; e
cj.estrategia.com |85
86
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Um cuidado: o STF já reconheceu que a lei que, a pretexto de ser interpretativa, modifique a
interpretação que vinha sendo até então adotada pelo Poder Judiciário, como em casos de
backlash, não pode ser aplicada retroativamente, limitando-se aos fatos que ocorrerem a partir
da sua vigência (RE 566.621/RS).
Cabe destacar que “não definitivamente julgado”, na concepção do STJ, significa ausência de
trânsito em julgado judicial sobre a questão, não sendo óbice à aplicação da nova lei tributária
sancionatória mais benéfica a simples coisa julgada administrativa (e.g. REsp 181.878/RS).
Diante do silêncio da norma acerca de quais as sanções alcançáveis pela retroação da lei
sancionatória tributária mais benéfica, o STJ entende (REsp 954.521) de que a retroação
alcança tanto as multas moratórias (punem apenas o atraso no pagamento) quanto as
punitivas (punem também ilícitos outros, como descumprimento de obrigações acessórias).
Essa previsão, contudo, se limita às sanções tributária. Portanto, não alcança os tributos,
para os quais, uma vez surgida a obrigação tributária pela prática do fato gerador, a
revogação do tributo não retroage para impedir a exigência de seu adimplemento.
Por fim, já que a retroação da lei sancionatória tributária mais benéfica é norma geral de Direito Tributário,
submetida a reserva de lei complementar (CTN), a lei ordinária que gerar a extinção do ilícito ou a redução
da sanção não pode impedir a sua própria retroação (RE 407.190/RS). Caso a lei mais benéfica traga em si
dispositivo impedindo a sua retroação, esse dispositivo será tido por inconstitucional.
cj.estrategia.com |86
87
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A retroatividade de nova lei não pode ser aplicada quando se diminui alíquota de tributo devido
anteriormente.
Certo.
Errado.
Comentários
CERTO
A questão está correta. Para resolver a questão é necessário conhecimento do art. 144 do CTN: “O
lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então
vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.”
Verifica-se, assim, que eventual redução da alíquota do tributo não irá retroagir, sendo imperioso
observar sua fixação à data do fato gerador.
3.3.1 Significado da expressão fatos geradores ocorridos, empregada pelo artigo 150, inciso III, alínea a, da
CF.
Ao examinar a alínea "a", do inciso III, do artigo 150 da Constituição Federal, observa-se que a expressão fato
gerador é crucial. Esse termo pode ser interpretado de duas maneiras distintas:
2)Fato Jurídico Tributário: Realização concreta do comportamento previsto na norma tributária. Exemplo:
o recebimento de um salário em janeiro de 2018.
A Constituição, ao proibir a cobrança de tributos sobre "fatos geradores ocorridos antes do início da vigência
da lei", usa a segunda acepção do termo. Em outras palavras, é vedado cobrar tributos sobre fatos jurídicos
que ocorreram antes da vigência da nova lei.
cj.estrategia.com |87
88
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Outro problema surge ao definir quando se considera ocorrido o fato gerador. Existem duas respostas
possíveis:
2)Realização de eventos isolados: A realização de cada evento que, em conjunto, dá origem à obrigação
tributária, mesmo que nem todos os eventos tenham sido completados.
A jurisprudência atual, em conformidade com o CTN, entende que o fato gerador só se realiza quando todos
os elementos previstos pela hipótese de incidência se concretizam.
Suponha que o Poder Executivo editou o Decreto 1.291/95 com a promessa de reduzir gradativamente a
alíquota do tributo em dois percentuais por ano, passando da alíquota de 32% em 1995 até 20% em 2011.
No meio do caminho, ainda em 1995, o Poder Executivo editou o Decreto 1.427/95, voltando atrás em sua
promessa, e aumentando a alíquota do tributo para 70%.
Um contribuinte celebrou o contrato de compra e venda na época em que vigia o Decreto 1.291/95, de
alíquota menor. Contudo, o fato gerador do tributo somente efetivamente ocorreu em 03/04/1995, quatro
dias após vigência do decreto que a majorou.
Isto porque, o elemento “temporal” do imposto de importação é quando o bem “entra no território
nacional”. Nesse caso, o Tribunal afastou a alegação de irretroatividade, justamente em razão de o fato
gerador ter ocorrido após a edição do novo decreto.
Relembre:
Imposto de Renda
cj.estrategia.com |88
89
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Agora que você já sabe distinguir os princípios, e sabe também os que se aplicam e os que não se aplicam ao
IR, vamos entender como funciona o fato gerador desse imposto.
O fato gerador do IR é denominado periódico, tendo em vista que se prolonga durante um período
estabelecido em lei, sendo considerado ocorrido no final deste período. Ademais, diferentemente do que
ocorre com o IPVA ou IPTU, o fato gerador do IR é composto de diversos eventos ocorridos dentro do período
citado, fazendo com que seja chamado de fato gerador período composto (ou complexivo).
Observação: O IPTU e o IPVA possuem fatos geradores periódicos simples, pois são constituídos
de um único evento no período, qual seja a propriedade de veículo automotor ou de imóvel
urbano.
Assim, por exemplo, no regime de tributação anual do IRPF, o imposto é apurado com base nos rendimentos
recebidos pelo contribuinte no decorrer do exercício financeiro. O fato gerador considera-se ocorrido no dia
31 de dezembro, embora seja constituído do conjunto de fatos isolados durante o ano. No ano seguinte, o
contribuinte tem um prazo para entregar a declaração à Receita Federal, demonstrando a apuração do IRPF
anual e o pagamento, se houver, do imposto.
Você já deve estar se perguntando onde os princípios estudados neste tópico entram em toda essa
explicação. Ora, foi necessário te fornecer toda essa explicação, para que você seja capaz de responder a
seguinte pergunta: caso uma lei que majore o IR seja publicada no meio do ano de 2020, essa lei produziria
efeitos sobre todo o IR apurado em 2020?
Não poderia, pois se assim o fosse, a lei acabaria produzindo efeitos sobre rendimentos anteriores ao início
da sua vigência (afinal, há rendimentos auferidos desde o início do ano 2020).
Isso, por si só, já violaria o princípio da irretroatividade. Ademais, essa aplicação também violaria o princípio
da anterioridade anual, pois a lei produziria efeitos sobre o fato gerador ocorrido no mesmo exercício de
sua publicação, isto é, dentro do próprio ano 2020.
Estamos explicando com detalhes essa situação, pois havia uma súmula do STF (Súmula 584), que previa que
a lei vigente no ano da declaração do imposto de renda (2021), poderia se aplicada aos rendimentos do ano-
base (2020):
Em 19 de junho de 2020, o STF decidiu cancelar a Súmula 584 no julgamento do Recurso Extraordinário
159180/MG. O STF concluiu que a aplicação da lei vigente no ano da declaração era incompatível com os
princípios constitucionais da irretroatividade e da anterioridade tributária. Sacha Calmon, renomado
tributarista, explicou que o imposto de renda é um imposto de natureza complexiva, significando que o fato
gerador se compõe de diversos eventos ao longo do ano-base, finalizando-se em 31 de dezembro.
cj.estrategia.com |89
90
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Assim, a lei aplicável ao imposto de renda deve ser aquela vigente em 31 de dezembro do ano-base, não
podendo uma nova lei publicada no ano da declaração retroagir para alcançar fatos geradores ocorridos
anteriormente:
“Como se sabe, o imposto de renda, no Brasil, das pessoas físicas e jurídicas, salvo determinadas
exceções, como mudança para o estrangeiro, encerramento de atividades e outras, está
estruturado pelo dualismo: ano-base/ano da declaração. No ano-base, 1º de janeiro a 31 de
dezembro, ocorrem os fatos jurígenos. No ano da declaração, o contribuinte recata os fatos
tributáveis, aproveita as deduções, compensa os créditos fiscais, dimensiona a base imponível,
aplica as alíquotas, obtém o quantum devido e recolhe o imposto sob a condição suspensiva de,
a posteriori, o Fisco concordar com o imposto declarado. Em caso de recolhimento a menor,
ocorrerão lançamentos suplementares.
A Súmula do STF, no entanto, entendia o contrário, impressionada por uma polêmica acadêmica
(mas não só por isso) que discutia sobre o dies ad quem do período aquisitivo da renda, se em
31 de dezembro do ano-base ou em 1º de janeiro do exercício seguinte (exercício da declaração).
Academicismo irritante, pois o importante é e sempre será o contribuinte saber, antes de realizar
as suas atividades, o quadro jurídico de regência dessas mesmas atividades, o que leva à tese de
que só o dia 31 de dezembro seria, ética e juridicamente, o dia apropriado. Caso contrário, falar
em princípio da anterioridade traduziria enorme toleima, a crer-se na seriedade e nas funções
do princípio.
Interessa aos jogadores de um time qualquer, de um esporte qualquer, jogar sem saber das
regras? E só tomar conhecimento delas após o jogo no vestiário? Privilegiado é o árbitro. Pode
valorar a posteriori o vencedor e os vencidos.
Ora, tal era a situação do IR no Brasil antes da Constituição de 1988. Vale dizer o IR não só não
respeitava o princípio da anterioridade como tornava o imposto retroativo, contra um princípio
geral do Direito universalmente aceito e praticado.
Agora o quadro é outro. O art. 150, III, “a”, “b” e “c” rechaça a prevalência da Súmula nº 584,
sem qualquer sombra de dúvidas. Esse é, ao menos, o nosso sentir, no que somos acompanhados
cj.estrategia.com |90
91
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
por grande parte da doutrina e até mesmo por precedentes do STJ.” (CALMON, Sacha. Curso de
Direito Tributário Brasileiro. 17ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 274-276).
Com o cancelamento da Súmula 584, o STF estabeleceu que o imposto de renda deve ser calculado com base
na lei vigente em 31 de dezembro do ano-base.
Qualquer mudança na legislação tributária após essa data só pode afetar o próximo exercício financeiro. Por
exemplo, se uma lei que aumenta o imposto de renda for publicada em 30 de dezembro de 2023, ela não
pode ser aplicada aos rendimentos de 2023. Somente os rendimentos de 2024, apurados e declarados em
2025, estarão sujeitos à nova alíquota.
Em termos mais simples, a Súmula 584 dizia que a lei do ano da declaração do imposto de renda determinava
o cálculo dos rendimentos do ano anterior. O STF cancelou essa súmula porque ela violava a regra de que as
leis não devem retroagir para afetar fatos passados e devem ser aplicadas no exercício seguinte ao de sua
publicação. Agora, a lei que vale para calcular o imposto de renda é a que está em vigor no último dia do ano
em que os rendimentos foram obtidos, garantindo que todos saibam as regras aplicáveis com antecedência,
proporcionando mais segurança e previsibilidade para os contribuintes.
RESUMO
1 - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
O princípio da legalidade tributária tem raízes históricas na Carta Magna de 1215, mas também em
regulamentações de corporações de ofício medievais. Essencialmente, ele estabelece que a criação e
modificação de tributos dependem de leis formais aprovadas por representantes eleitos, refletindo o
conceito de "não pode haver tributação sem representação".
A Carta Magna inglesa de 1215 é frequentemente citada como a origem do princípio da legalidade tributária.
Entretanto, estudiosos como Luiz Eduardo Schoueri argumentam que suas raízes são ainda mais antigas,
remontando às corporações de ofício e ao feudalismo. Independentemente da origem precisa, é claro que o
princípio está intimamente ligado ao desenvolvimento da democracia, assegurando que a criação de tributos
seja um processo transparente e democrático.
O princípio da legalidade tributária foi incorporado em todas as constituições brasileiras, exceto na de 1937.
A Constituição de 1988, por exemplo, consagra o princípio tanto no art. 5º, II, que trata dos direitos e deveres
individuais e coletivos, quanto no art. 150, I, dentro do sistema tributário constitucional.
cj.estrategia.com |91
92
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
3)Majoração e extinção de tributos, exceto onde a Constituição permite aumento por ato infralegal.
4)Exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, conforme art. 150, § 6º, da CF, requerendo lei
específica.
Exceções e Flexibilizações
1)IPI, IOF, II, IE, ICMS-Combustível e CIDE-Combustível, que permitem alteração de alíquotas por ato do
Poder Executivo.
2)Medidas Provisórias (MPs) podem instituir ou majorar tributos, exceto aqueles reservados à Lei
Complementar.
3)Normas infralegais podem regulamentar obrigações acessórias, alterar datas de vencimento e atualizar
monetariamente a base de cálculo de tributos.
A tipicidade cerrada, que exigia uma definição precisa de todos os elementos da obrigação tributária, vem
sendo substituída por uma legalidade suficiente, permitindo o uso de conceitos indeterminados e normas
tributárias em branco, desde que a lei forneça parâmetros mínimos e razoáveis.
Exemplos incluem a delegação ao Executivo para ajustar alíquotas de tributos como PIS e COFINS,
conforme limites legais estabelecidos.
a) todos os critérios da regra-matriz de incidência tributária, a saber: critério material, critério espacial e
critério temporal, no antecedente; critério quantitativo e critério pessoal, no consequente;
c) a majoração de tributos, salvo nos casos em que a Constituição autoriza o aumento por ato infralegal;
cj.estrategia.com |92
93
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
2 - PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
No Estado Democrático de Direito, é fundamental a existência de princípios que protejam os cidadãos contra
o excesso de poder do Estado, destacando-se o princípio da segurança jurídica, que assegura a previsibilidade
e a estabilidade das normas tributárias. Este princípio visa resguardar os fatos e relações jurídicas já ocorridos
da incidência de exações instituídas ou majoradas posteriormente, garantindo ao contribuinte um prazo
razoável antes do início da cobrança.
Geraldo Ataliba observa que a expressão "cobrar tributos" não visa apenas obstar a atividade de cobrança,
mas também impedir a formação da relação jurídica que permita a incidência do tributo sobre fatos
passados.
O princípio da anterioridade anual impede a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que a
lei foi publicada. Já a anterioridade nonagesimal estabelece um período de 90 dias após a publicação da lei
para que esta produza efeitos.
1)Anterioridade Anual: Art. 150, III, "b" - veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro da
publicação da lei.
2)Anterioridade Nonagesimal: Art. 150, III, "c" e Art. 195, § 6º - veda a cobrança de tributos antes de
decorridos 90 dias da publicação da lei.
Ambas as anterioridades são aplicáveis à instituição ou majoração de tributos, sendo o marco inicial de
contagem a publicação da lei que os instituiu ou majorou.
cj.estrategia.com |93
94
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
1)Anterioridade Nonagesimal: Aplicável apenas às contribuições para a seguridade social (Art. 195, § 6º).
2)Exceções à Anterioridade Anual: II, IE, IPI, IOF, Imposto Extraordinário de Guerra, Empréstimos
Compulsórios para Calamidade Pública ou Guerra Externa, CIDE-Combustível e ICMS-Combustível.
3)Exceções à Anterioridade Nonagesimal: II, IE, IOF, Imposto Extraordinário de Guerra, Imposto de Renda,
fixação da base de cálculo do IPTU e IPVA.
O STF reconhece que a anterioridade anual (Art. 150, III, "b") e a anterioridade nonagesimal (Art. 195, § 6º)
são cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser abolidas por Emenda Constitucional. No entanto, há dúvidas
sobre a condição de cláusula pétrea da anterioridade nonagesimal prevista no Art. 150, III, "c", inserida pela
EC 42/2003.
1)Anterioridade Anual: O prazo inicial é a edição da MP quando se trata de outras espécies tributárias que
não impostos. Para impostos, o prazo inicia-se com a conversão da MP em lei.
3)Se a instituição ou majoração do tributo ocorrer apenas durante a tramitação legislativa da MP, o termo
inicial é a conversão em lei.
1)Alteração na data de pagamento: Não precisa observar o princípio da anterioridade, conforme Súmula
Vinculante 50 do STF.
3)Redução ou extinção de desconto para pagamento antecipado: Não precisa observar o princípio da
anterioridade, conforme STF.
3 - PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE
No item anterior, discutimos o princípio da anterioridade e sua relação com o sobreprincípio da segurança
jurídica, que visa promover os estados de calculabilidade, confiabilidade e cognoscibilidade. O princípio da
irretroatividade também se fundamenta na segurança jurídica, impedindo que normas novas comprometam
a confiança e previsibilidade das normas anteriores.
cj.estrategia.com |94
95
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Segundo Humberto Ávila, a retroatividade jurídica frustra a confiança na eficácia das normas passadas e gera
desconfiança quanto às normas futuras, impactando negativamente a segurança jurídica. O princípio da
irretroatividade, portanto, é essencial para garantir a estabilidade das relações jurídicas em um Estado de
Direito.
Art. 5º, XXXVI: A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Art. 150, III, "a": É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos em
relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.
A irretroatividade da lei tributária significa que é proibido cobrar tributos sobre fatos geradores anteriores
ao início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado. A lei deve ser necessariamente
prospectiva, não podendo retroagir para alcançar eventos passados.
O princípio da anterioridade utiliza como marco temporal a publicação da lei, enquanto o princípio da
irretroatividade se refere à vigência da lei. Em ambos os casos, a intenção é proteger os contribuintes contra
mudanças retroativas nas obrigações tributárias.
Embora a Constituição Federal não preveja exceções ao princípio da irretroatividade, o Código Tributário
Nacional (CTN) estabelece situações específicas em que a norma pode retroagir:
Art. 105: A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes.
Quando beneficie o infrator, deixando de definir como infração, tratando como lícito ou cominando
penalidade menos severa.
A aplicação do princípio da irretroatividade se torna mais complexa em tributos com fatos geradores
continuados (como IPTU, ITR e IPVA) e fatos geradores periódicos (como o Imposto de Renda). Nesses casos,
a jurisprudência do STF determina que a lei vigente na data em que a lei tributária eleger como de ocorrência
do fato gerador deve ser aplicada, mesmo que isso impacte eventos anteriores à vigência da nova lei.
cj.estrategia.com |95
96
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A Súmula 584 do STF, que permitia a aplicação da lei vigente no ano da declaração do Imposto de Renda aos
rendimentos do ano anterior, foi cancelada em 2020. O STF concluiu que essa prática violava os princípios
da irretroatividade e da anterioridade, estabelecendo que o imposto de renda deve ser calculado com base
na lei vigente em 31 de dezembro do ano-base.
QUESTÕES COMENTADAS
Procurador
A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 150, III, “c”, o chamado princípio da anterioridade
nonagesimal ou noventena, que estabelece a vedação aos entes federativos de cobrar tributos antes de
decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Alternativas
D)imposto sobre a transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, de competência dos
Estados e do Distrito Federal.
Comentários
IR
cj.estrategia.com |96
97
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
III Se uma pessoa jurídica de direito público interno detiver competência para prestar determinado serviço
específico e divisível aos contribuintes, ela, em princípio, poderá instituir taxa correspondente, observando
o regramento constitucional.
IV O princípio da estrita legalidade aplica-se a todos os impostos, no que diz respeito à definição de hipóteses
de incidência, alíquotas e bases de cálculo.
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV
e) I, III e IV
Comentários
A assertiva I está incorreta, conforme arts. 157 a 162 da CF/88, a repartição é feita por meio de repasse,
cabendo ao ente que instituiu e cobrou (ente maior), entregar ao beneficiário (ente menor), o percentual
devido, sem qualquer implicação de deslocamento da competência para tais fins.
O Tribunal de Contas do Espírito Santo explica, ainda, que o repasse das receitas pode ser feito de duas
maneiras.
“Repartição Direta: Feita diretamente do ente que arrecada, para o ente beneficiado, sem
qualquer intermediário, sem precisar passar por algum fundo de participação. Não leva em conta
a interferência de algum índice ou parâmetro”.
cj.estrategia.com |97
98
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Dessa forma, nota-se que é o ente instituidor que realiza a cobrança, não sendo possível falar em
deslocamento de competência para tais fins.
A assertiva II está correta, conforme art. 154, I da CF/88, é de competência da União a instituição de impostos
não previstos no art. 153.
O próprio STF, em diversos julgados - como no RE-393946, presente no informativo nº 368 – se utiliza do
termo “competência residual da União” para indicar a regra estabelecida no art. 154 da CF/88.
A assertiva III está correta, conforme arts. 77 e 80 do CTN, que apresentam a competência comum dos entes
para criação e cobrança das taxas, no âmbito de suas respectivas atribuições.
A competência encontra, também, correspondência no art. 145, II da Constituição federal que determina
que os entes poderão instituir “taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva
ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua
disposição;”
A assertiva IV está incorreta, vez que a própria CF/88 apresenta exceções ao princípio da estrita legalidade,
bastando verificar o art. 153, §1º que permite ao “Executivo, atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.”
Dessa forma, os impostos que incidem sobre importação de produtos estrangeiros, exportação, para o
exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados, produtos industrializados e operações de crédito, câmbio
e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, não necessitam de lei em sentido estrito para alteração
de suas alíquotas.
I Não viola a legalidade tributária a lei que determina um limite máximo para uma taxa e permite que um
ato normativo infralegal estabeleça o valor da taxa de forma proporcional aos custos da atuação estatal,
desde que esse valor não possa ser atualizado pelo próprio conselho de fiscalização em um percentual
superior aos índices de correção monetária legalmente estabelecidos.
II A revogação de benefício fiscal por meio de um ato normativo não constitui um aumento indireto do
tributo, portanto, não está sujeita ao princípio da anterioridade tributária.
III A redução ou extinção de descontos para pagamento de tributos conforme condições estabelecidas em
lei, como o pagamento antecipada em parcela única, é equiparada à majoração de tributo, sujeitando-se ao
princípio da anterioridade tributária.
cj.estrategia.com |98
99
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Comentários
A assertiva I está correta, conforme determinado em tema nº 829 do STF, Leading Case: RE 838284, “não
viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o valor
de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por
ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária
legalmente previstos.”
Conforme apresentado no próprio voto, “o princípio da reserva de lei não é absoluto. Caminha-
se para uma legalidade suficiente, sendo que sua maior ou menor abertura depende da natureza
e da estrutura do tributo a que se aplica. No tocante às taxas cobradas em razão do exercício do
poder de polícia, por força da ausência de exauriente e minuciosa definição legal dos serviços
compreendidos, admite-se o especial diálogo da lei com os regulamentos na fixação do aspecto
quantitativo da regra matriz de incidência. A lei autorizadora, em todo caso, deve ser
legitimamente justificada e o diálogo com o regulamento deve-se dar em termos de
subordinação, desenvolvimento e complementariedade.”
Destaca-se, ainda, que não se trata de uma renúncia do Legislativo à sua atividade típica de legislar, tendo
em vista que este pode, a qualquer tempo, estabelecer de forma diversa novos pontos a serem considerados
para elaboração do regulamento.
A assertiva II está incorreta, o plenário do STF, nos autos RE 564225 AgR-EDv-AgR, julgou que “aplica-se o
princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de supressão de
benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta de tributos.”.
Tanto a supressão quanto a redução, diferenciando-se pela extensão, são hipóteses que agravam a situação
do contribuinte, razão pela qual deve ser aplicado também o princípio da não surpresa.
O CTN, em seu art. 104, III resguarda o contribuinte nesse sentido, ao determinar que “entram em vigor no
primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a
impostos sobre o patrimônio ou a renda que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de
maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178.”.
A assertiva III está incorreta, o STF, no julgamento da ADI 4016 MC / PR, determinou que “a redução ou a
extinção de desconto para pagamento de tributo sob determinadas condições previstas em lei, como o
cj.estrategia.com | 100
99
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
pagamento antecipado em parcela única, não pode ser equiparada à majoração do tributo em questão, no
caso, o IPVA. Não-incidência do princípio da anterioridade tributária.”.
O princípio da retroatividade benigna aplica-se à situação de lei nova que reduz a multa de contribuinte que
tenha praticado ato infracional antes da lavratura do auto de infração respectivo, por versar sobre aplicação
menos severa da penalidade, já que se trata de ato não definitivamente julgado.
Comentários:
A questão está correta. Trata-se da aplicação pura e direta do art. 106, II, “c” do CTN: “A lei aplica-se a ato
ou fato pretérito: II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: c) quando lhe comine penalidade
menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.”
Cumpre ressaltar que o CTN não apresenta um conceito real do significado da expressão “não
definitivamente julgado”, entretanto, o STJ possui julgado no sentido que “a expressão “ato não
definitivamente julgado” constante do artigo 106, II, letra c, do Código Tributário Nacional
alcança o âmbito administrativo e também o judicial; constitui, portanto, ato não definitivamente
julgado o lançamento fiscal impugnado por meio de embargos do devedor em execução fiscal”
EDREsp 181.878-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, DJU de 22.03.99.
Considerando, pelo enunciado, que não houve nem mesmo a lavratura do auto de infração, fácil constatar
que tal marco temporal não foi cruzado, atraindo, portanto, o dispositivo legal supracitado.
Sobre a alínea “c” importante, ainda, pontuar que não existe restrição quanto à espécie de penalidade,
podendo abranger multas punitivas e moratórias, de forma que, em qualquer dessas situações, a alternativa
permaneceria correta.
Cumpre apontar que a lei nº 8212/91, em seu art. 35, após alteração feita pela lei nº 9528/97,
previu hipótese em que a multa sobre contribuição em atraso, cujo fato gerador ocorresse a
partir de 1º de abril de 1997, teria tratamento diferente do previsto no CTN, entretanto, o STF
declarou a inconstitucionalidade da fixação do marco temporal, tendo em vista que se tratava de
lei ordinária tutelando assunto reservado à lei complementar.
cj.estrategia.com |100
101
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
abril de 1977”, constante do artigo 35 da Lei nº 8.212/91, com a redação decorrente da Lei nº
9.528/97, ante o envolvimento de matéria cuja disciplina é reservada à lei complementar. (STF -
RE: 407190 RS, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 27/10/2004, Tribunal Pleno,
Data de Publicação: DJ 13-05-2005 PP-00006 EMENT VOL-02191-03 PP-00534 RDDT n. 118, 2005,
p. 157-162 LEXSTF v. 27, n. 319, 2005, p. 296-306).
Gabarito: CERTO
Comentários:
A questão está incorreta. Necessário verificar a redação do art. 106, II, “a” do CTN: “A lei aplica-se a ato ou
fato pretérito: I - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como
infração;”
Cumpre ressaltar que o CTN não apresenta um conceito real do significado da expressão “não
definitivamente julgado”, entretanto, o STJ possui julgado no sentido que “a expressão “ato não
definitivamente julgado” constante do artigo 106, II, letra c, do Código Tributário Nacional alcança o âmbito
administrativo e também o judicial; constitui, portanto, ato não definitivamente julgado o lançamento fiscal
impugnado por meio de embargos do devedor em execução fiscal” EDREsp 181.878-RS, Rel. Min. Ari
Pargendler, DJU de 22.03.99.
De toda forma, é certo que o CTN deixou expresso que a lei que deixa de definir fato como infração só irá
retroagir caso trate-se de ato não definitivamente julgado, tornado incorreta a ressalva feita pela assertiva.
Gabarito: ERRADO
Comentários:
A questão está incorreta. A regra é a irretroatividade da lei tributária, conforme art. 105 do CTN: “A legislação
tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles
cuja ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do artigo 116.”
Sendo a irretroatividade a regra, deve a exceção, hipóteses que conferem a norma possibilidade de retroagir,
ser arrolada de forma exaustiva e não meramente exemplificativa. Tratando-se de isenção, importante
ressaltar que não existe qualquer previsão para retroatividade nesse sentido.
Conforme ensina Hugo de Brito Machado, “a aplicação 'retroativa' da lei tributária atende aos mesmos
princípios prevalentes no Direito Penal. Não diz respeito ao pagamento do tributo, que não deixa de ser
exigível em face de lei nova, a não ser nos casos de remissão, nos termos do art. 172 do Código.”.
cj.estrategia.com |101
102
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O STJ já possui entendimento consolidado quanto a impossibilidade de retroatividade da norma que concede
isenção. Vejamos:
Gabarito: ERRADO
7. (Cebraspe/PGE – RR/2023) A retroatividade de nova lei não pode ser aplicada quando se diminui
alíquota de tributo devido anteriormente.
Comentários:
A questão está correta. Para resolver a questão é necessário conhecimento do art. 144 do CTN: “O
lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente,
ainda que posteriormente modificada ou revogada.”
Sendo a irretroatividade a regra, deve a exceção, hipóteses que conferem a norma possibilidade de retroagir,
ser arrolada de forma exaustiva e não meramente exemplificativa. O art. 106 do CTN, que comporta as
exceções para retroatividade da norma tributária, alcança apenas multas e penalidades, jamais o tributo
propriamente dito.
Por outro, a regra do art. 144 do CTN é clara ao firmar que alíquota observada deve ser a determinada pela
lei vigente à data do fato gerador, ainda que – posteriormente – seja modificada ou revogada.
Ante à ausência de dispositivo legal capaz de afastar o art. 144, correto afirmar que retroatividade de nova
lei não alcança questões referentes à diminuição de alíquota de tributo devido anteriormente, devendo, para
estes fins, ser observada a lei vigente à época.
Gabarito: CERTO
8. Sobre o princípio da anterioridade tributária, considerando que a anterioridade geral está prevista
na alínea “b” do inciso III do artigo 150 da Constituição Federal e a anterioridade nonagesimal, na alínea
“c” do mesmo dispositivo constitucional, assinale a alternativa correta.
cj.estrategia.com |102
103
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
c) Os princípios da anterioridade geral e nonagesimal aplicam-se aos impostos sobre a propriedade territorial
urbana e sobre a propriedade de veículos automotores em toda e qualquer situação, sem exceção.
d) A lei que majora o Imposto sobre Produtos Industrializados submete-se aos princípios da anterioridade
geral e nonagesimal.
e) Uma lei que majora o Imposto de Renda, publicada em dezembro do ano de 2023, aplica-se aos fatos
geradores ocorridos a partir de 01 de janeiro de 2024, uma vez que a ele se aplica apenas a anterioridade
geral e não a nonagesimal.
Comentários
A questão cobra a leitura atenta do art. 150 da Constituição Federal, buscando diferenciar os impostos que
se submetem a cada uma das modalidades do princípio da anterioridade. Vejamos:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos
noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado
o disposto na alínea b; § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts.
148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos
nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos
nos arts. 155, III, e 156, I.”
Nesse sentido, é possível concluir que a lei que majora o Imposto de Renda se submete apenas a
anterioridade anual. Para facilitar a visualização da questão, vejamos uma tabela de cada uma das exceções:
cj.estrategia.com |103
104
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A alternativa A está incorreta. Imposto de importação é uma exceção as duas anterioridades, conforme
dispositivo constitucional apresentado.
A alternativa B está incorreta. empréstimo compulsório instituído para subsidiar investimento público de
caráter urgente e de relevante interesse nacional se submete à Anterioridade anual.
A alternativa C está incorreta. A fixação base de cálculo do IPTU e IPVA constituem exceção à anterioridade
nonagesimal apenas.
A alternativa D está incorreta. O Imposto sobre Produtos Industrializados é uma exceção apenas à
anterioridade anual.
Ministérios Públicos
9. VUNESP - 2024 - MPE-RJ - Promotor de Justiça Substituto - Determinado estado brasileiro publica
lei que tem por objetivo majorar a base de cálculo e a alíquota do Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores – IPVA com aplicação imediata, gerando grande repercussão entre os contribuintes.
A esse respeito, considerando os princípios constitucionais ao poder de tributar, é correto afirmar que
b) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade
nonagesimal e da anterioridade de exercício.
c) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota não necessitam observar o princípio da
anterioridade nonagesimal e da anterioridade de exercício.
d) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade de
exercício, e o aumento da alíquota deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA precisa observar o princípio da
anterioridade de exercício, conforme comentários à alternativa D abaixo.
cj.estrategia.com |104
105
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A alternativa B está incorreta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA não precisa observar o princípio
da anterioridade nonagesimal, conforme comentários à alternativa D abaixo.
A alternativa C está incorreta, pois (i) a majoração da base de cálculo do IPVA precisa observar o princípio da
anterioridade de exercício e (ii) a majoração da alíquota do IPVA precisa observas os princípios da
anterioridade de exercício e nonagesimal, conforme comentários à alternativa D abaixo.
A alternativa D está correta, pois a majoração da base de cálculo do IPVA é exceção ao princípio da
anterioridade nonagesimal, conforme art. 150, III, “b” e “c” c/c art. 150, §1º, da CF:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos
noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado
o disposto na alínea b; § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts.
148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos
nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos
nos arts. 155, III, [IPVA] e 156, I.”
A alternativa E está incorreta, pois (i) a majoração da alíquota de IPVA precisa observar os princípios da
anterioridade de exercício e nonagesimal e (ii) a majoração da base de cálculo do IPVA não precisa observar
o princípio da anterioridade nonagesimal, conforme comentários à alternativa D acima.
Delegado
I Sujeita-se ao princípio da anterioridade a norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação
tributária.
III O princípio da irretroatividade veda a cobrança de tributos em relação a fatos geradores pretéritos ao
início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.
IV O Estado tributa com a finalidade precípua, mas não exclusiva, de arrecadar recursos para os cofres
públicos.
cj.estrategia.com |105
106
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
Comentários
A banca aponta não haver alternativa correta, mas a alternativa correta é a letra D.
A relação de tributação é relação jurídica na qual o Estado impõe a sua vontade ao particular, dito
contribuinte, determinando-lhe, mesmo contra vontade, o comportamento a ser adotado, especialmente o
de carrear dinheiro aos cofres públicos. Nesse sentido, o direito tributário almeja efetivar o controle do poder
de tributar, transformando a relação tributária, que outrora era mera relação de poder, em relação jurídica.
Por desaguar em relação jurídica, o poder de tributar não pode ser absoluto. Os princípios tributários são
limitações ao poder de tributar estabelecidos na Constituição a fim de condicionar a invasão patrimonial pelo
Estado, levando-se em conta o poder de tributar como exercício da soberania estatal.
Com efeito, o traço marcante da tributação é a sua compulsoriedade, servindo os princípios tributários como
freio à atuação estatal, motivo pelo qual são dirigidos especialmente ao legislador, sem descurar da
possibilidade de intervenção judicial em caso de desrespeito, especialmente do STF, por envolver nítida
questão constitucional. Ademais, por serem verdadeiros direitos e garantias individuais contra o poder
tributante do Estado, os princípios são cláusulas pétreas.
Os princípios tributários podem ser sintetizados da seguinte maneira: legalidade tributária (art.
150, I); isonomia tributária (art. 150, II); irretroatividade tributária (art. 150, III, “a”);
anterioridade tributária (art. 150, III, “b” e “c”); vedação ao confisco (art. 150, IV); não limitação
ao tráfego de pessoas e bens (art. 150, V); uniformidade geográfica (art. 151, I); proibição da
tributação federal diferenciada da renda da dívida pública e da remuneração dos agentes, em
âmbito não federal (art. 151, II); proibição das isenções heterônomas (art. 151, III).
Todavia, os princípios delimitados na seção constitucional “Das Limitações do Poder de Tributar” não são ali
exauridos, já que a Constituição, em toda a sua extensão, traz normas tendentes a inibir o poder do Estado
no campo da tributação.
O item I está incorreto, pois contraria a Súmula Vinculante 50: “Norma legal que altera o prazo de
recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.”
Com efeito, o princípio da anterioridade, decorrência do princípio da não-surpresa, restou positivado no art.
150, III, “b” e “c”, da CF, o qual determina que os tributos não podem ser cobrados: (b) no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou (anterioridade de exercício); (c)
cj.estrategia.com |106
107
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b (anterioridade nonagesimal).
Ocorre que, como dito, por possuírem feição constitucional, o STF exerce papel fundamental na
interpretação dos princípios tributários. Nesse contexto, a despeito da redação constitucional do princípio,
celeumas surgem acerca da sua aplicação nas mais variadas situações, a exemplo da redução indireta de
tributos, alteração de prazo para pagamento etc.
No exercício de seu mister constitucional, o STF editou a Súmula 669, convertida na Súmula Vinculante 50:
Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da
anterioridade.
O item II está incorreto, pois os impostos que não devam ser instituídos por lei complementar podem ser
veiculados por medida provisória, conforme art. 62, §2º, da CF:
O princípio da legalidade encontra guarida no art. 150, I, da CF, o qual determina que os tributos não podem
ser criados ou aumentados sem lei que o estabeleça. Trata-se da aplicação na seara tributária do princípio
da legalidade estampado no art. 5º, II, da CF.
Todavia, a questão trata de medida provisória como instrumento de instituição de impostos, cabendo
rememorar que tal instrumento é ato normativo editado pelo Chefe do Poder Executivo, com força de lei,
conforme art. 62, caput, da CF. Ora, se a própria Constituição afirma que o instrumento terá força de lei, é
porque lei não é.
Nessa linha, em virtude de não se tratar de lei propriamente dita, corrente de relevo na doutrina não admite
a medida provisória como ato normativo que se alinha ao princípio da legalidade, todavia, por expressa
previsão constitucional (art. 62, §2º) é admitido o uso do ato com algumas restrições, sendo a conduta
chancelada pelo STF.
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores
ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado”.
cj.estrategia.com |107
108
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O item IV está correto, conforme entendimento doutrinário. O tributo possui duas finalidades, quais sejam
fiscal, que é carrear dinheiro aos cofres públicos e extrafiscal, que é a utilização do tributo como meio de
fomento ou inibição de condutas e intervenção no domínio econômico.
A alternativa D está correta, uma vez que os itens III e IV estão corretos.
Outros
b) Viola a isonomia tributária a concessão, por lei complementar, de isenção de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) para as operações de aquisição de automóveis por servidores públicos de
determinado Estado-membro.
c) Na jurisprudência atual Supremo Tribunal Federal (STF), não se acolhe a chamada “legalidade suficiente”,
sendo inviável que ocorra o diálogo da lei com os regulamentos para a fixação do aspecto quantitativo da
regra matriz de incidência.
d) Lei que restringe os contribuintes da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP)
aos consumidores de energia elétrica do Município ofende o princípio da isonomia, uma vez que não abarca
todos os usuários do serviço de iluminação pública.
Comentários
A alternativa B está correta, conforme decidido pelo STF no julgamento da ADI 4.276:
cj.estrategia.com |108
109
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A alternativa C está incorreta, pois vai de encontro ao Tema de Repercussão Geral 829 do STF:
“Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo
infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor
esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual
superior aos índices de correção monetária legalmente previstos.”
A alternativa D está incorreta, conforme decido pelo STF no RE 573.675/SC: “Lei que restringe os
contribuintes da COSIP aos consumidores de energia elétrica do município não ofende o princípio da
isonomia, ante a impossibilidade de se identificar e tributar todos os beneficiários do serviço de iluminação
pública”.
12. (CONSULPLAN/Cartórios TJ-MA/2023) A conformação do regime jurídico tributário cada vez mais
vem sendo feita pelo Poder Judiciário, em especial pelo Supremo Tribunal Federal. Este, inclusive, já editou
diversas Súmulas Vinculantes sobre matérias pertinentes ao direito tributário. Assim, diante das Súmulas
Vinculantes já editadas, assinale a afirmativa correta.
a) O princípio da anterioridade tributária, previsto na Constituição Federal, não se aplica à hipótese de mera
alteração do prazo de recolhimento de obrigação tributária.
b) Por se enquadrar no conceito de serviço, a locação de bens móveis constitui fato gerador do Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) a ser cobrado pelos municípios.
d) A taxa cobrada, exclusivamente, em razão dos serviços públicos de limpeza de logradouros públicos,
coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola a
Constituição Federal.
Comentários
A alternativa A está correta, conforme teor da Súmula Vinculante 50: “Norma legal que altera o prazo de
recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.”
A alternativa B está incorreta, conforme teor da Súmula Vinculante 31: “É inconstitucional a incidência do
imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre operações de locação de bens móveis.”
cj.estrategia.com |109
110
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
A alternativa C está incorreta, conforme teor da Súmula Vinculante 29: “É constitucional a adoção, no cálculo
do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que
não haja integral identidade entre uma base e outra.”
“A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento
ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da
Constituição Federal”. Observe que o teor da Súmula não inclui “limpeza de logradouros
públicos”.
LISTA DE QUESTÕES
Procurador
A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 150, III, “c”, o chamado princípio da anterioridade
nonagesimal ou noventena, que estabelece a vedação aos entes federativos de cobrar tributos antes de
decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Alternativas
D)imposto sobre a transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, de competência dos
Estados e do Distrito Federal.
cj.estrategia.com |110
111
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
III Se uma pessoa jurídica de direito público interno detiver competência para prestar determinado serviço
específico e divisível aos contribuintes, ela, em princípio, poderá instituir taxa correspondente, observando
o regramento constitucional.
IV O princípio da estrita legalidade aplica-se a todos os impostos, no que diz respeito à definição de hipóteses
de incidência, alíquotas e bases de cálculo.
a) I e II
b) I e III
c) II e III
d) II e IV
e) I, III e IV
I Não viola a legalidade tributária a lei que determina um limite máximo para uma taxa e permite que um
ato normativo infralegal estabeleça o valor da taxa de forma proporcional aos custos da atuação estatal,
desde que esse valor não possa ser atualizado pelo próprio conselho de fiscalização em um percentual
superior aos índices de correção monetária legalmente estabelecidos.
II A revogação de benefício fiscal por meio de um ato normativo não constitui um aumento indireto do
tributo, portanto, não está sujeita ao princípio da anterioridade tributária.
III A redução ou extinção de descontos para pagamento de tributos conforme condições estabelecidas em
lei, como o pagamento antecipada em parcela única, é equiparada à majoração de tributo, sujeitando-se ao
princípio da anterioridade tributária.
cj.estrategia.com |111
112
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
O princípio da retroatividade benigna aplica-se à situação de lei nova que reduz a multa de contribuinte que
tenha praticado ato infracional antes da lavratura do auto de infração respectivo, por versar sobre aplicação
menos severa da penalidade, já que se trata de ato não definitivamente julgado.
c) Os princípios da anterioridade geral e nonagesimal aplicam-se aos impostos sobre a propriedade territorial
urbana e sobre a propriedade de veículos automotores em toda e qualquer situação, sem exceção.
d) A lei que majora o Imposto sobre Produtos Industrializados submete-se aos princípios da anterioridade
geral e nonagesimal.
e) Uma lei que majora o Imposto de Renda, publicada em dezembro do ano de 2023, aplica-se aos fatos
geradores ocorridos a partir de 01 de janeiro de 2024, uma vez que a ele se aplica apenas a anterioridade
geral e não a nonagesimal.
Ministérios Públicos
9. VUNESP - 2024 - MPE-RJ - Promotor de Justiça Substituto - Determinado estado brasileiro publica
lei que tem por objetivo majorar a base de cálculo e a alíquota do Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores – IPVA com aplicação imediata, gerando grande repercussão entre os contribuintes.
A esse respeito, considerando os princípios constitucionais ao poder de tributar, é correto afirmar que
cj.estrategia.com |112
113
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
b) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade
nonagesimal e da anterioridade de exercício.
c) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota não necessitam observar o princípio da
anterioridade nonagesimal e da anterioridade de exercício.
d) tanto a majoração da base de cálculo, quanto da alíquota devem respeitar o princípio da anterioridade de
exercício, e o aumento da alíquota deve respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.
Delegado
I Sujeita-se ao princípio da anterioridade a norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação
tributária.
III O princípio da irretroatividade veda a cobrança de tributos em relação a fatos geradores pretéritos ao
início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.
IV O Estado tributa com a finalidade precípua, mas não exclusiva, de arrecadar recursos para os cofres
públicos.
Outros
cj.estrategia.com |113
114
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
b) Viola a isonomia tributária a concessão, por lei complementar, de isenção de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) para as operações de aquisição de automóveis por servidores públicos de
determinado Estado-membro.
c) Na jurisprudência atual Supremo Tribunal Federal (STF), não se acolhe a chamada “legalidade suficiente”,
sendo inviável que ocorra o diálogo da lei com os regulamentos para a fixação do aspecto quantitativo da
regra matriz de incidência.
d) Lei que restringe os contribuintes da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP)
aos consumidores de energia elétrica do Município ofende o princípio da isonomia, uma vez que não abarca
todos os usuários do serviço de iluminação pública.
12. (CONSULPLAN/Cartórios TJ-MA/2023) A conformação do regime jurídico tributário cada vez mais
vem sendo feita pelo Poder Judiciário, em especial pelo Supremo Tribunal Federal. Este, inclusive, já editou
diversas Súmulas Vinculantes sobre matérias pertinentes ao direito tributário. Assim, diante das Súmulas
Vinculantes já editadas, assinale a afirmativa correta.
a) O princípio da anterioridade tributária, previsto na Constituição Federal, não se aplica à hipótese de mera
alteração do prazo de recolhimento de obrigação tributária.
b) Por se enquadrar no conceito de serviço, a locação de bens móveis constitui fato gerador do Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) a ser cobrado pelos municípios.
d) A taxa cobrada, exclusivamente, em razão dos serviços públicos de limpeza de logradouros públicos,
coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola a
Constituição Federal.
GABARITO
1. B
2. C
3. A
4. CORRETA
5. INCORRETA
6. INCORRETA
7. INCORRETA
8. E
9. D
10. D
cj.estrategia.com |114
115
115
Estratégia Carreira Jurídica
III ENAM - Direito Constitucional Tributário - Prof.: Thiago Föetsch Dias de Carvalho, Prof.: Felipe Duque
11. B
12. A
cj.estrategia.com |115
116
115