Radiação Cósmica de Fundo em Micro-Ondas - Wikipédia, A Enciclopédia Livre

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Radiação cósmica

de fundo em micro-
ondas
radiação eletromagnética remanescente
da época quente e densa do universo

Em Cosmologia, a radiação cósmica de fundo em micro-ondas é uma forma de radiação


eletromagnética, cuja existência foi prevista teoricamente por George Gamov, Ralph Alpher e
Robert Herman em 1948, e que foi descoberta experimentalmente em 1965 por Arno Penzias
e Robert Woodrow Wilson. Ela se caracteriza por apresentar um espectro térmico de corpo
negro com intensidade máxima na faixa de micro-ondas. A radiação cósmica de fundo em
micro-ondas é o remanescente da radiação eletromagnética espalhada numa época em que
o Universo era muito quente e denso, cerca de 380 mil anos após o Big Bang.[1]

A radiação cósmica de fundo em micro-ondas é, ao lado do afastamento das galáxias e da


abundância de elementos leves, uma das mais fortes evidências observacionais do modelo
do Big Bang, que descreve a evolução do universo.[2] Penzias e Wilson receberam o Nobel de
Física em 1978 por essa descoberta.[3]
Características
A radiação cósmica de fundo em micro-ondas é uma radiação eletromagnética que preenche
todo o universo, cujo espectro é o de um corpo negro a uma temperatura de 2,725 kelvin. Ela
tem uma freqüência de pico de 160,4 GHz, o que corresponde a um comprimento de onda de
1,9 mm. Ela é isotrópica até uma parte em 100 000: as variações de seu valor eficaz são de
somente 18 µK.[4] O Far-Infrared Absolute Spectrophotometer (FIRAS), um instrumento no
satélite COsmic Background Explorer (COBE) da NASA, mediu cuidadosamente o espectro da
radiação cósmica de fundo, o que o tornou a medida mais precisa de um espectro de corpo
negro de todos os tempos.[5]

O ruído provocado por essa radiação está presente em cerca de 1% no funcionamento dos
nossos aparelhos elétricos. Este ruído pode ser compreendido como um "fóssil" de uma
época em que o universo era muito novo.[6]

A radiação cósmica de fundo em micro-ondas é uma predição da teoria do Big Bang.


Segundo essa teoria, o universo inicial era composto de um plasma quente de fótons,
elétrons e bárions. Os fótons interagiam constantemente com o plasma através do Efeito
Compton. À medida que o universo se expandia, o desvio para o vermelho cosmológico fazia
com que o plasma esfriasse até que fosse possível aos elétrons combinarem-se com os
núcleos atômicos de hidrogênio e hélio para formarem átomos. Isso aconteceu por volta de
3 000 K, ou quando o universo tinha aproximadamente 380 000 anos de idade (z=1088).
Nesse momento, os fótons puderam começar a viajar livremente pelo espaço. Esse processo
é chamado "recombinação".

Imagem WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy


Probe) da anisotropia da radiação cósmica de
fundo em micro-ondas. (Março de 2006)
Os fótons continuaram a esfriar desde então, atingindo a temperatura de 2,7 K, e essa
temperatura continuará a diminuir enquanto o universo continuar a se expandir. Assim, a
radiação do espaço que se mede hoje é oriunda de uma superfície esférica, chamada
superfície de última difusão, que representa a coleção de pontos no espaço (a cerca de 46
bilhões de anos-luz da Terra, ver universo observável) na qual ocorreu o processo de
recombinação descrito acima, há 13,7 bilhões de anos, e cujos fótons chegam agora na
Terra.

A teoria do Big Bang sugere que a radiação cósmica de fundo preenche todo o espaço
observável, e que a maior parte da energia do universo está na radiação cósmica de fundo
em micro-ondas, que constitui uma fração de aproximadamente 5×10−5 da densidade total
do universo.[7]

Dois dos maiores sucessos da teoria do Big Bang são suas predições do seu espectro de
corpo negro praticamente perfeito e sua detalhada predição das anisotropias na radiação
cósmica de fundo em micro-ondas. A recente sonda Wilkinson Microwave Anisotropy Probe
(WMAP) mediu com precisão essas anisotropias através de todo o céu até escalas
angulares de 0,2 graus.[8] Elas podem ser utilizadas para estimar os parâmetros do modelo
padrão Lambda-CDM do Big Bang. Algumas informações, como a forma do universo, podem
ser obtidas diretamente da radiação cósmica de fundo, enquanto outras, como a constante
de Hubble, não são óbvias e precisam ser inferidas de outras medidas.[9]

História
A radiação cósmica de fundo em micro-ondas foi prevista por George Gamov, Ralph Alpher e
Robert Herman em 1948. Além disso, Alpher e Herman foram capazes de estimar a
temperatura dessa radiação como sendo de 5 K.[10] Apesar de que existissem diversas
estimativas anteriores da temperatura do espaço, essas sofriam de diversos inconvenientes.
Primeiramente, elas eram medidas da temperatura efetiva do espaço, e não sugeriam que o
espaço fosse repleto com um espectro de Planck térmico; segundo, elas eram dependentes
da nossa posição específica na beira da Via Láctea e não sugeriam que a radiação fosse
isotrópica. Além disso, elas levariam a predições completamente diferentes se a Terra
estivesse localizada em um outro lugar do Universo.[11]

Os resultados de Gamov não foram amplamente discutidos. No entanto, eles foram


redescobertos por Robert Dicke e Yakov Zel'dovich no início da década de 1960. Em 1964,
isso incentivou David Todd Wilkinson e Peter Roll, colegas de Dicke na Universidade de
Princeton, a começar a construção de um radiômetro Dicke a fim de medir a radiação
cósmica de fundo.[12] Em 1965, Arno Penzias e Robert Woodrow Wilson, do Bell Telephone
Laboratories perto de Holmdel, New Jersey, construíram um radiômetro Dicke que
pretendiam utilizar para experiências de radioastronomia e comunicação via satélite. O
instrumento deles tinha um ruído térmico excessivo de 3,5 K que eles não podiam explicar, e
após diversos testes Penzias se deu finalmente conta que aquele ruído nada mais era do que
a radiação prevista por Gamov, Alpher e Herman e mais tarde por Dicke. Após receber um
telefonema de Penzias, Dicke disse a famosa frase: "Gente, nos passaram para trás (Boys,
we've been scooped)".[13] Uma reunião entre as equipes de Princeton e Holmdel determinou
que o ruído da antena era devido efetivamente à radiação cósmica de fundo. Penzias e
Wilson receberam o Prêmio Nobel de Física de 1978 pela descoberta.

Melhoramentos sucessivos das observações das anisotropias (ou


flutuações) da radiação cósmica de fundo em micro-ondas

A interpretação da radiação cósmica de fundo em micro-ondas foi um assunto controverso


nos anos 1960, com alguns defensores da teoria do estado estacionário argumentando que
a radiação de fundo era o resultado da difusão de luz estelar de outras galáxias. Usando
esse modelo, e baseando-se no estudo de características da linha de absorção no espectro
de estrelas[nota 1], o astrônomo Andrew McKellar escreveu em 1941: "Pode-se calcular que a
temperatura rotacional do espaço interestelar é de 2 K."[14] No entanto, durante a década de
1970, o consenso foi estabelecido que a radiação cósmica de fundo é um resquício do Big
Bang. Isso ocorreu principalmente porque novas medidas em uma gama de freqüências
mostraram que o espectro era um espectro térmico, de corpo negro, um resultado que o
modelo de estado estacionário foi incapaz de reproduzir.
Harrison, Peebles e Yu, e Zel'dovich deram-se conta que o universo primordial deveria ter
heterogeneidades a nível de 10−4 ou 10−5.[15] Rashid Sunyaev mais tarde calculou a marca
observável que essas heterogeneidades teriam na radiação cósmica de fundo.[16] Limites
crescentes na anisotropia da radiação cósmica de fundo foram colocados através de
experiências, mas a anisotropia foi detectada pela primeira vez pelo Differential Microwave
Radiometer (Radiômetro de microondas diferencial) do satélite COBE.[17]

Inspiradas pelos resultados obtidos pelo COBE, uma série de experiências de solo e
baseadas em balões mediram as anisotropias da radiação cósmica de fundo em escalas
angulares inferiores ao longo da década seguinte. O objetivo principal dessas experiências
era medir a escala do primeiro pico acústico, que COBE não tinha resolução suficiente para
resolver. O primeiro pico na anisotropia foi detectado por tentativas pela experiência Toco e o
resultado foi confirmado pelos experimentos BOOMERanG e MAXIMA.[18] Essas medidas
demonstraram que o universo é plano e foram capazes de indicar a teoria de string cósmico
como uma teoria de formação da estrutura cósmica, e sugeriram que a Inflação cósmica é a
teoria correta de formação estrutural.

O segundo pico foi detectado por tentativas por diversas experiências antes de ser
definitivamente detectado pelo WMAP, que também detectou por tentativas o terceiro pico. A
polarização da radiação cósmica de fundo foi primeiramente descoberta pelo Degree Angular
Scale Interferometer (DASI).[19] Várias experiências para melhorar as medidas da polarização
da radiação cósmica de fundo em pequenas escalas angulares estão em andamento. Estas
incluem DASI, WMAP, BOOMERanG e o Cosmic Background Imager. Outras experiências
incluem a sonda Planck, o Telescópio cosmológico de Atacama e o Telescópio do Polo Sul.

Ver também

BICEP2
Big Bang
COBE
WMAP

Notas

1. As observações da polarização de
Planck da radiação cósmica, em
2015, nos dizem que a "Idade das
Trevas" terminou cerca de 550
milhões de anos após o Big Bang -
mais de 100 milhões de anos mais
tarde do que se pensava
anteriormente.[1]

Referências

1. European Space Agency (5 de


fevereiro de 2015). «Cosmology: First
stars were born much later than
thought» (https://www.sciencedaily.c
om/releases/2015/02/15020513123
3.htm) . ScienceDaily. Consultado
em 7 de fevereiro de 2015

2. Kolb, Edward; Turner, Michael (1994).


The Early Universe (em inglês).
Reading: Addison-Wesley. p. 14-16.
ISBN 0-201-62674-8

3. «The Nobel Prize in Physics 1978» (h


ttp://www.nobelprize.org/nobel_prize
s/physics/laureates/1978/) (em
inglês). Fundação Nobel. Consultado
em 3 de março de 2012
4. Isso ignora a anisotropia dipolar, que
é devida ao efeito Doppler da
radiação de fundo causado pela
nossa velocidade relativa ao resto do
cosmos. Essa característica é
consistente com o movimento da
Terra a 380 km/s em direção da
constelação de Virgo.

5. D. J. Fixen et al., "The Cosmic


Microwave Background Spectrum
from the full COBE FIRAS data set",
Astrophysical Journal 473, 576–587
(1996).
6. VILLELA NETO, Thyrso (dezembro de
2009). «A radiação cósmica de fundo
- O ruído do universo». ICH. Ciência
Hoje. 45 (266): 28-33

7. A densidade de energia de um
espectro de corpo negro é
, onde T é a
temperatura, kB é a constante de
Boltzmann, é a constante de
Planck e c a velocidade da luz no
vácuo. Isso pode ser relacionado à
densidade crítica do universo através
dos parâmetros do modelo Lambda-
CDM.
8. Astrophysical Journal Supplement,
148 (2003). Em particular, G.
Hinshaw et al. "First-year Wilkinson
Microwave Anisotropy Probe
(WMAP) observations: the angular
power spectrum", 135–159.

9. D. N. Spergel et al., "First-year


Wilkinson Microwave Anisotropy
Probe (WMAP) observations:
determination of cosmological
parameters", Astrophysical Journal
Supplement 148, 175–194 (2003).
10. G. Gamow, "The Origin of Elements
and the Separation of Galaxies,"
Physical Review 74 (1948), 505. G.
Gamow, "The evolution of the
universe", Nature 162 (1948), 680. R.
A. Alpher and R. Herman, "On the
Relative Abundance of the Elements,"
Physical Review 74 (1948), 1577.
11. A. K. T. Assis, M. C. D. Neves, "History
of the 2.7 K Temperature Prior to
Penzias and Wilson," (1995, PDF (htt
p://redshift.vif.com/JournalFiles/Pre
2001/V02NO3PDF/V02N3ASS.PDF)
| HTML (http://www.dfi.uem.br/~mac
edane/history_of_2.7k.html)
Arquivado em (https://web.archive.or
g/web/20060815145257/http://ww
w.dfi.uem.br/~macedane/history_of_
2.7k.html) 15 de agosto de 2006, no
Wayback Machine.) mas veja
também N. Wright, "Eddington did
not predict the CMB", [1] (http://www.
astro.ucla.edu/~wright/Eddington-T
0.html) .
12. R. H. Dicke, "The measurement of
thermal radiation at microwave
frequencies", Rev. Sci. Instrum. 17,
268 (1946). Esse projeto básico para
um radiômetro foi utilizado na
maioria das experiências posteriores
implicando a radiação cósmica de
fundo.
13. A. A. Penzias and R. W. Wilson, "A
Measurement of Excess Antenna
Temperature at 4080 Mc/s,"
Astrophysical Journal 142 (1965),
419. R. H. Dicke, P. J. E. Peebles, P. G.
Roll and D. T. Wilkinson, "Cosmic
Black-Body Radiation," Astrophysical
Journal 142 (1965), 414. A história é
contada em P. J. E. Peebles,
Principles of physical cosmology
(Princeton Univ. Pr., Princeton 1993)

14. A. McKellar, Publ. Dominion


Astrophys. Obs. 7, 251.
15. E. R. Harrison, "Fluctuations at the
threshold of classical cosmology,"
Phys. Rev. D1 (1970), 2726. P. J. E.
Peebles and J. T. Yu, "Primeval
adiabatic perturbation in an
expanding universe," Astrophysical
Journal 162 (1970), 815. Ya. B.
Zel'dovich, "A hypothesis, unifying the
structure and entropy of the
universe," Monthly Notices of the
Royal Astronomical Society 160
(1972).
16. R. A. Sunyaev, "Fluctuations of the
microwave background radiation," in
Large Scale Structure of the Universe
ed. M. S. Longair and J. Einasto, 393.
Dordrecht: Reidel 1978. Enquanto
esta é a primeira publicação a
discutir a marca observável das
heterogeneidades de densidade
como anisotropias na radiação
cósmica de fundo, parte do trabalho
de base baseava-se em Peebles e Yu,
acima.
17. G. F. Smoot et al. "Stucture in the
COBE DMR first year maps",
Astrophysical Journal 396 L1–L5
(1992). C. L. Bennett et al. "Four year
COBE DMR cosmic microwave
background observations: maps and
basic results.", Astrophysical Journal
464 L1–L4 (1996).
18. A. D. Miller et al., "A measurement of
the angular power spectrum of the
cosmic microwave background from
l = 100 to 400", Astrophysical Journal
524, L1–L4 (1999). A. E. Lange et al.,
"Cosmological parameters from the
first results of Boomerang". P. de
Bernardis et al., "A flat universe from
high-resolution maps of the cosmic
microwave background", Nature 404,
955 (2000). S. Hanany et al.
"MAXIMA-1: A measurement of the
cosmic microwave background
anisotropy on angular scales of
10'-5°", Astrophysical Journal 545
L5–L9 (2000).
19. J. Kovac et al., "Detection of
polarization in the cosmic microwave
background using DASI", Nature 420,
772-787 (2002).

Ligações externas

Missões

«Site da missão COBE» (http://aether.lb


l.gov/www/projects/cobe/) (em inglês)

«Site da missão Archeops» (http://www.


archeops.org/) (em inglês)

«Site da missão BOOMERANG» (http://c


mb.phys.cwru.edu/boomerang/) (em
inglês)
«Site da missão WMAP» (http://map.gsf
c.nasa.gov/) (em inglês)

Resultados

«The Cosmic Microwave Background


Spectrum» (http://fr.arxiv.org/pdf/astro-
ph/9705101) (em inglês), por George
F. Smoot
«The CMB Dipole: The Most Recent
Measurement And Some History» (htt
p://fr.arxiv.org/pdf/astro-ph/9609034)
(em inglês), por Charles H. Lineweaver

«A catalog of galaxies behind the


Southern Milky Way» (http://www.edpsc
iences.org/journal/index.cfm?v_url=aa
s/full/2000/01/h1636/h1636.html) (em
inglês), por R.C. Kraan-Korteweg
«The Cosmic Microwave Background
Anisotropy Experiments» (http://fr.arxiv.
org/pdf/astro-ph/9705135) (em inglês)
(pre BOOMERANG) por George F.
Smoot

Aspectos cosmológicos

«A física das anisotropias da radiação


cósmica de fundo em micro-ondas» (htt
p://background.uchicago.edu/) (em
inglês)

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title=Radiação_cósmica_de_fundo_em_micro-
ondas&oldid=65346610"
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