Endocrino - Ebook - 26mar24 - Suplementação Esportiva - EDIT
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Resumo sobre
Endocrinologia
do Esporte
e do Exercício
com questões para praticar
Material Bônus
Nota elaborada pelos professores:
Alguns tópicos relacionados à Endocrinologia do
Esporte carecem de evidências científicas
suficientes, com informações divergentes em
diferentes fontes. Buscamos nos basear nas
principais publicações da área, assim como no
manual da SBEM, que consta nas referências
bibliográficas do TEEM.
Outros tópicos, que já foram abordados
no curso, têm relação com o tema e
podem ser revisados:
Abuso de esteroides
anabolizantes
Amenorreia hipotalâmica
Avaliação de risco
cardiovascular no DM1
Composição corporal
Sarcopenia
Capítulo 1:
Princípios Básicos
Atividade física versus exercício
Atividade física: ação muscular com gasto de energia acima do repouso,
como uma caminhada, por exemplo.
Exercício físico: atividade programada com objetivo e intensidade específica,
como na musculação.
2. Especificidade
Aplicação do treinamento o mais perto possível do objetivo e da individualidade do
paciente.
3. Adaptação
Adaptação à carga de treinamento. Para maiores ganhos é necessário buscar sobrecarga
(“sair” da adaptação).
4. Sobrecarga
Pode ser trabalhada em volume (quantidade de treino) e intensidade (maior esforço).
5. Interdependência volume/intensidade
Um trabalho muito intenso só consegue ser mantido por curto espaço de tempo.
Havendo necessidade de um esforço de maior duração, a carga deverá ser reduzida para
que haja a execução do movimento.
6. Individualidade biológica
Capacidades e limitações de cada indivíduo.
7. Periodização
Programação para desenvolvimento de treino, em um período predeterminado.
Capítulo 2:
O exercício físico no tratamento
das doenças metabólicas
Em um estudo observacional, com 4.840 indivíduos com sobrepeso e
obesidade, observou-se melhora dos parâmetros cardiometabólicos com os
maiores níveis de atividade física. Houve redução dos níveis de LDL,
colesterol não HDL e triglicérides.
Miocinas:
Citocinas e peptídeos produzidos pelo músculo com ações metabólicas autócrinas,
parácrinas e endócrinas.
As miocinas reduzem resistência insulínica, estimulam a oxidação dos ácidos graxos, a
biogênese mitocondrial (provocando o fenômeno de "amarronamento" do tecido
adiposo), a termogênesse e a lipólise.
Destacamos a irisina, a miostatina, o BDNE, a IL-6 e a IL-15. O BDNF tem sido estudado
como fator protetor do desenvolvimento de demência, preservação de memória e
melhora de cognição.
Capítulo 3:
Suplementação de nutrientes
em atletas
Macronutrientes
A quantidade diária ideal de ingestão de carboidratos e proteínas depende da
intensidade do treino. Quando intenso, é preciso 6 a 10 g/kg/dia de carboidratos e
1,2 a 1,4 g/kg/dia de proteínas.
Não se deve restringir gordura (manter 25 a 30% das calorias diárias), mas restringir
gorduras saturadas até no máximo 10%.
Em competições esportivas ou treinos de moderada a alta intensidade, deve ser
realizada ingestão de carboidratos antes (para maximizar a quantidade de glicogênio a
ser utilizada durante a atividade) e depois (para repor o glicogênio consumido).
Para adequada reposição no pós-treino, recomenda-se a ingestão de até 1 g/kg de
carboidrato de alto índice glicêmico logo após o término do exercício (podendo repetir
após 2 horas).
Caso o treino dure mais 90 minutos, o estoque de glicogênio será completamente
consumido, recomendando-se o consumo de até 1 g/kg/h de carboidrato durante a
atividade para evitar a queda de performance e desempenho caso o glicogênio se
esgote.
Após uma atividade física, ocorre aumento da síntese proteica no organismo por um
período de 24 horas. Este aumento pode ser intensificado pela suplementação proteica.
Para ganho de massa muscular, recomenda-se 1,6 a 2 g/kg/dia de proteína de alto
valor biológico.
Não há obrigatoriedade deste consumo ser imediatamente após o treino, podendo ser
dividido em 3 a 4 tomadas diárias.
Micronutrientes
Suplementação de minerais
A suplementação de ferro só deve ser realizada quando houver níveis baixos de
ferritina ou anemia por deficiência de ferro.
Quando indicada, a suplementação de ferro deve ser feita preferencialmente com
ferripolimaltose.
Deve-se considerar suplementação de cálcio nos atletas que não ingerem leite e
derivados e naqueles com deficiência energética relativa do esporte.
Mas o objetivo não é o de melhorar a performance. A suplementação pode ser feita
com carbonato de cálcio.
A suplementação de sódio só deve ser considerada quando a atividade física for
prolongada (ou realizada em ambientes muito quentes), pelo risco de hiponatremia
devido à perda exacerbada de sódio pelo suor.
Suplementação de vitaminas
Na ausência de deficiências, não parece haver benefício da suplementação rotineira
de vitaminas do complexo B nem de vitaminas E, A, K, C ou D.
No entanto, há evidência de que a suplementação diária de vitamina C em quem faz
exercícios intensos reduz o risco de sintomas respiratórios em quadros de infecção de
vias aéreas superiores.
Pode-se considerar a suplementação de vitamina D em atletas que estejam treinando
em vigência de baixa exposição a raios UVB, como durante o inverno.
Não há evidências que determinem o nível ótimo de 25-hidroxivitamina D sérica nos
atletas.
Capítulo 4:
Suplementos e exercício físico
Hipercalóricos e carboidratos
Introdução
Os suplementos chamados hipercalóricos são de uso mais restrito. São reservados,
por exemplo, para situações nas quais não se consegue atender às demandas
energéticas relacionadas ao exercício somente via dieta, o que ocorre, em geral, quando
o praticante tem peso corporal muito alto ou quando a carga (volume/intensidade) do
treinamento é elevada.
Por outro lado, os suplementos à base de carboidratos (CHOs), como gel de CHO,
maltodextrina, waxy maize, isomaltulose e dextrose, estão indicados nos esportes de
endurance (corrida, natação e ciclismo) com duração maior do que 60 minutos, com
vistas a preservar os estoques de glicogênio muscular durante a sessão de treinamento
(ou durante a prova), melhorando a performance; e também após a prática esportiva,
com vistas à recomposição do glicogênio muscular, pensando já na próxima sessão de
treinamento.
Abastecimento crônico:
Aporte rotineiro somando dieta + suplementação.
Abastecimento agudo:
De 1 a 4 g/kg oferecidos de 1 a 4 horas antes do evento. Preferência por fontes pobres
em gorduras, fibras, proteínas e resíduos.
Introdução
A creatina é um composto de aminoácidos sintetizado pelo próprio organismo no rim,
fígado e pâncreas a partir da arginina, glicina e metionina. A creatina, também obtida
pela ingestão de carnes e peixes, é transportada no plasma através da proteína
transportadora de creatina (CRT). Cerca de 95% da reserva de creatina se encontra no
músculo esquelético, e os 5% restantes, no cérebro, fígado, testículos e rins.
De forma geral, a suplementação de creatina proporciona a melhora do desempenho
em exercícios de alta intensidade e curta duração de até 150 segundos, apresentando
efeito mais pronunciado em atividades de até 30 segundos. Nesse contexto, a ressíntese
do ATP nos primeiros segundos críticos do esforço é obtida predominantemente pela
degradação anaeróbica da fosfocreatina e do glicogênio muscular.
Prescrição de creatina
Dose de carga:
20 a 25 g por dia, divididas em 4 vezes diariamente durante cinco a sete dias
(controversa).
Manutenção: 5 g por dia, por um período médio de quatro a seis semanas.
A suplementação reduz a produção endógena. Tal efeito é revertido em caso de
interrupção da suplementação.
Estudos sugerem também que consumir a creatina imediatamente após o exercício
parece proporcionar maiores resultados em relação ao consumo antes do esforço para a
melhora da composição corporal e força devido à resposta adaptativa ao exercício
relacionada ao tempo de ingestão.
Recomendações
Em 2013, a International Society of Sports Nutrition (ISSN) emitiu o seguinte
posicionamento com relação à suplementação com HMB:
• O HME pode ser utilizado com o intuito de atenuar o dano muscular induzido pelo
exercício tanto em indivíduos treinados quanto em não treinados;
• Com relação ao timing de sua suplementação, parece que o seu consumo próximo ao
exercício (1 hora antes, por exemplo) é o mais adequado;
• Assim como ocorre com outros suplementos, o início de sua suplementação deve
acontecer algum tempo antes do início do ciclo de treinamento (de duas a três
semanas antes, em casos de indivíduos não treinados, e seis ou mais semanas, em
caso de indivíduos treinados durante o período de periodização do treinamento);
• A dose de 3 g/dia (geralmente dividido em 3 tomadas) parece ser a mais eficaz para
otimizar a hipertrofia, a força e a potência musculares;
• Existem duas formulações de suplementos contendo HMB: HMB cálcico
(HMB-Ca) e HMB Free Acid (HMB-FA). Este último, ainda não disponível no Brasil,
teoricamente poderia ter alguma vantagem em promover maiores absorção e
retenção de HMB (dados controversos).
• O HMB vem despontando como um suplemento eficaz para ganho de massa
muscular e funcionalidade em idosos sedentários;
• O HMB, em conjunto com um programa estruturado de dieta e exercícios, pode
promover maior perda de massa gorda durante o processo de perda de peso;
• O seu consumo crônico parece ser seguro tanto em jovens quanto em idosos.
Bicarbonato de sódio
A ingestão de NaHCO origina íons de bicarbonato (HCO), elevando o pH e gerando um
ambiente alcalino no compartimento extracelular.
Ocorre estimulo do cotransporte de lactato/H+ com remoção desses elementos do
miócito, gerando uma ganho de rendimento na ordem de até 12%.
O uso agudo de bicarbonato parece ter um efeito preferencial sobre as células
musculares do tipo 2 (fibras de contração rápida), responsáveis pelas atividades físicas
mais explosivas, tendo maior beneficio na via glicolítica (anaeróbia).
Efeitos adversos
Os principais efeitos adversos do NaHCO são alterações gastrintestinais como
náuseas, dor de estômago, cólicas intestinais, diarreia e vômitos.
Recomenda-se tomar o bicarbonato com bastante água ou associado à comida, ao
longo de um período de 1 hora, para reduzir o risco de diarreia hiperosmótica ou
administração por meio de cápsulas de liberação entérica.
Outros efeitos adversos seriam a retenção hídrica e a super-hidratação decorrente do
aporte de uma grande quantidade de sal (6 g de Na+ num atleta de 70 kg) e água num
período curto de tempo. É prudente o controle da pressão arterial, sendo a
suplementação contraindicada a hipertensos.
Beta-Alanina
A Beta-Alanina (BA) é um aminoácido não essencial produzido endogenamente
sobretudo pelo figado (e, em menor quantidade, pelo intestino e pelos rins) e que
também pode ser obtido na dieta por meio do consumo de carne e aves.
Atua como elemento formador da carnosina (em combinação com L-histidina,
encontrada em abundância no plasma e no músculo).
A carnosina atua como tampão intracelular durante exercícios de alta intensidade e
como antioxidante reduzindo radicais livres e o estresse oxidativo. É considerada mais
efetiva que o bicarbonato nessa ação. A reposição oral direta de carnosina não é viável
devido à carnosinase, enzima que degrada a carnosina antes que ela alcance o músculo.
A suplementação resulta em aumento de até 80% do conteúdo de carnosina
intramuscular, correspondendo a um incremento de 3 a 5% na capacidade de
tamponamento celular, podendo ser maior nas fibras de contração rápida (tipo 2).
É recomendada, sobretudo, para atividades físicas de alta intensidade e curta duração
(60 a 240 segundos).
Efeitos adversos
A beta-alanina é considerada segura quando usado nas doses recomendadas.
O efeito adverso mais relatado é a parestesia 10 a 20 minutos após a ingestão e que
pode durar até 1 hora.
Whey protein
Em alguns estudos, o uso de whey protein foi associado a retardo do esvaziamento
gástrico, com aumento da secreção das incretinas GLP-1 e GIP, levando a uma redução
da glicemia pós-prandial em pacientes portadores de diabetes mellitus.
O efeito glicêmico do whey protein parece ser maior quando administrado pela
manhã e antes da refeição.
Veja um resumo do efeito glicêmico desse suplemento no esquema a seguir:
Creatina
O uso da creatina em idosos com sarcopenia está associado ao aumento da massa
magra e da força muscular. Em pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 2,
o uso desse suplemento promoveu aumento da massa magra, redução da glicemia
pós-prandial e da HbA1c.
O uso da creatina na dose de 3 a 5 g/dia é considerado seguro, mas seu impacto
em pacientes com comprometimento leve da função renal ainda não foi bem definido.
Por fim, salientar que o uso da creatina deve ser feito por pacientes mantendo
programa regular de treino com força.
Isomaltulose
A isomaltulose é um dissacarídeo de baixo índice glicêmico, totalmente digerido e
absorvido no intestino delgado, porém de modo mais lento quando comparado aos
carboidratos convencionais.
Pela absorção mais lenta em relação à sacarose, a isomaltulose promove menos picos
glicêmicos pós-prandiais em pacientes com DM2. Além disso, ajuda a estabilizar os níveis
glicêmicos em pacientes com DM1.
Beta-hidroxibetametilbutirato (HMB)
Quanto ao beta-hidroxibetametilbutirato (HMB), ainda não há evidências suficientes
para recomendação formal de uso em pacientes com diabetes mellitus.
Fonte: Whey protein: the "whey" forward for treatment of type 2 diabetes?, 2015.
Capítulo 6:
Termogênicos
Definição
São suplementos também como conhecidos como pré-treinos vendidos
com a promessa de melhorar o desempenho do praticante de atividade
física, auxiliar na perda de peso e até mesmo “queimar” gorduras. São
comumente comercializados como misturas de vários componentes, muitos
dos quais sem benefício ou segurança para o uso. Sem contar as
substâncias não declaradas nos rótulos, as quais podem conter hormônios,
diuréticos, anorexígenos dentre outros. Dentre as moléculas isoladas
usadas para esse fim, citaremos algumas características a seguir.
Cafeína
É uma metilxantina encontrada nos grãos de café e folhas de chá verde.
Tem ações múltiplas:
• Inibição da fosfodiesterase: amplifica a ação das catecolaminas;
• Antagonista da adenosina no SNC: aumento do estado de alerta;
• Ação muscular: melhora da contração muscular.
Tem metabolização hepática.
Promove aumento do gasto energético, porém sem relevância clínica em termos de
perda de peso.
Pode melhorar performance atlética principalmente em atividades aeróbicas.
Efeitos adversos: taquicardia, sudorese, palpitações, cefaleia, ansiedade, insônia, até
arritmias, aumento da pressão arterial.
Prescrição usual: 3 a 6 mg/kg de cafeína 1 h antes da atividade física.
L-carnitina
Aminoácido produzido naturalmente no organismo humano. Na dieta, obtido por
fontes animais.
Transporta ácidos graxos através das mitocôndrias para serem convertidos em energia
pela beta-oxidação lipídica. Daí o racional, ao menos teórico, de levar a “queima” de
gorduras, entretanto resultados consistentes em relação à perda de peso são
controversos na literatura.
Efeitos adversos: gastrintestinais, potencial promoção de aterosclerose.
Prescrição usual: 1 a 6 g/dia divididos em 2 a 3 doses/dia.
Chá verde
Os extratos de chá verde são ricos em polifenóis (catequinas) e cafeína. Acredita-se
que os polifenóis possam aumentar o gasto energético e a oxidação lipídica, já que a
cafeina isoladamente não explicaria o aumento total do gasto energético.
Assim como a cafeína, também é questionada a relevância clínica da perda de peso
com os extratos de chá verde, já que não é consistente entre estudos, é de pequena
monta e não isenta de efeitos adversos.
Eventos adversos são usualmente relacionados a doses excessivas, não
recomendadas: náuseas, dispepsia, insônia, tonturas, taquicardia, hepatotoxicidade.
Agentes catecolaminérgicos
ATENÇÃO!
Substâncias catecolaminérgicas como: clembuterol, ioimbina, sinefrina,
DMAA (dimetilamilamina) e efedrina, além de não serem
comercializados com regulamentação adequada sobre composição
e doses, não apresentam literatura com bom nível de evidência
que justifique seus potenciais benefícios frente a seus riscos à saúde
(arritmias). Dessa forma, as duas últimas já foram banidas pelo FDA
(órgão regulatório americano) devido a questões de segurança, e
o uso do clembuterol é considerado doping pelo Comitê Olímpico
Internacional.
Vale ressaltar que o gasto enérgico durante a prática de atividade física não deve ser
exatamente igual ao consumo energético, pois não sobraria energia para manter
os processos homeostáticos do organismo. A esta quantidade de energia residual,
chama-se, atualmente, disponibilidade energética, cuja fórmula é a seguinte:
Fonte: adaptado de 2023 International Olympic Commiמּee's (IOC) consensus statement on Relative Energy
Deficiency in Sport (REDs), 2023.
Quando o atleta é exposto à disponibilidade energética baixa problemática de forma
severa e prolongada, pode desenvolver a deficiência energética relativa do esporte.
ATENÇÃO!
Deficiência energética relativa do esporte
Síndrome de comprometimento do funcionamento fisiológico
e/ou psicológico vivenciado por atletas femininos ou masculinos
e causada pela exposição prolongada à baixa disponibilidade
energética problemática.
ATENÇÃO!
Tríade da síndrome da mulher atleta:
1. Redução do aporte calórico (pode ou não estar associado a distúrbios
alimentares como bulimia/anorexia);
2. Alterações do ciclo menstrual (até amenorreia e infertilidade);
3. Perda de massa óssea (baixa massa óssea para idade até osteoporose).
Síndrome de overtrainning
Condição decorrente de um conjunto de fatores que pode acometer o atleta de alto
rendimento, como excesso de treinamento, ingestão insuficiente de nutrientes e
calorias, sono de má qualidade, falta de descanso físico e mental, os quais resultariam
numa piora de performance atlética (mais de 10%), fadiga e até distúrbios psicológicos.
Como resultado, ocorre um “descondicionamento” global do atleta.
Apesar do nome overtrainning, o excesso de treinamento não parece ser a única
condição que desencadeia a síndrome, que é multifatorial.
Na sua fisiopatologia estão envolvidos: hipometabolismo global, hipoestimulação
hipotalâmica relativa (em comparação a atletas sem a síndrome), não reparação de
danos, entre outros.
É diagnóstico de exclusão, após afastadas causas orgânicas: infecções, doenças
sistêmicas (cardiológicas, endocrinológicas, renais, pulmonares, neurológicas etc.).
A detecção precoce dos atletas em risco pode ser mais eficaz que o manejo da
síndrome, uma vez que é de lenta e por vezes não completa recuperação.
ATENÇÃO!
Como critério básico para o diagnóstico da síndrome de overtrainning,
precisamos demonstrar a perda do rendimento físico maior que 10%
(seja em intensidade, peso, velocidade) em relação ao que o atleta
fazia previamente. É fundamental a exclusão de causas sistêmicas.
Sua prevenção se baseia em: ingesta adequada calórica por kg/peso do atleta, evitar
treinamentos intensos sem a devida recuperação, priorizar a hidratação, realizar boa
higiene do sono e evitar intensificar os treinos em momentos de estresse pessoal do
atleta.
Capítulo 9:
Exercício físico no DM1
O exercício físico é uma estratégia essencial para o adequado tratamento
de pacientes com diabetes mellitus tipo 1 (DM1). No entanto, o impacto de
cada exercício sobre a glicemia deve ser considerado na elaboração do
plano terapêutico, com atenção especial ao risco de hipoglicemia.
Insulina estável
(insulina aplicada, sem controle endógeno)
Hipoglicemia
Resposta ao exercício aeróbico
Exercícios de alta intensidade podem aumentar os níveis glicêmicos e não os reduzir,
especialmente se a glicemia pré-exercício estiver elevada ou se os efeitos dos hormônios
contrarreguladores se sobressaírem aos da insulina circulante.
Alguns cuidados podem prevenir hipoglicemia durante o exercício e aumentar a
segurança das pessoas com diabetes e insulinizados, entre os quais:
• Informar aos profissionais que estejam supervisionando/orientando e aos seus
parceiros de exercício sobre sua condição clínica;
• Ter disponível carboidrato de rápida absorção;
• Monitorar a glicemia capilar antes, durante e após o exercício;
• Atentar para possíveis sintomas de hipoglicemia.
Em pessoas com DM1, podemos considerar a monitorização contínua da glicose
intersticial durante o exercício físico.
ATENÇÃO!
O exercício resistido pode aumentar a glicemia durante a sua execução,
determinando menor risco de hipoglicemia, tanto agudamente quanto
pós-exercício, em comparação ao exercício aeróbico. Antecipar
o exercício resistido em relação ao treino aeróbico parece eficiente
para minimizar o risco de hipoglicemia em pessoas insulinizadas.
O quadro a seguir sugere ajustes de dose de bolus de insulina para refeições que
antecedem em até 90 minutos os exercícios de pessoas com DM1.
Dietas paleolíticas
Estimativa de 35% de gorduras, 35% de carboidratos e 30% de proteínas, com cerca
de 100 g de fibras diárias.
O papel das dietas Low Carb High Fat (LCHF) no consumo de fibras
Dietas low carb podem reduzir o consumo de fibras e impactar negativamente sobre a
função intestinal e a saúde em geral.
Jejum intermitente
Definição
Jejum Intermitente (JI): indivíduo abstém voluntariamente do consumo de alimentos
por um determinado período de tempo.
Vantagens: reduzir o percentual de gordura e manter a massa magra. Tem sido
considerado estratégia para o controle dos lipídios, glicemia e marcadores de atividade
inflamatória.
Os protocolos mais comuns de JI são compostos por jejuns diários de 16 horas
(também chamados 16/8) ou jejuns de 24 horas, duas vezes por semana.
O protocolo Leangains, ou método 16/8, propõe uma janela de alimentação de 8 horas e
um período de jejum de 16 horas. Dentro da janela de alimentação, podem-se fazer de duas
a três refeições, ou até mais, mantendo dieta balanceada, para alcançar restrição calórica.
Para seguir esse método, basta não comer nada depois do jantar e pular o café da
manhã. Um efeito colateral inicial do protocolo 16/8 é a sensação de fome aumentada no
início, mas a adaptação costuma ser rápida.
Está liberado o consumo de água, café e qualquer outra bebida não calórica durante o
período de jejum, o que ajuda a reduzir os níveis de fome.
Mecanismos fisiológicos
Os efeitos positivos do JI sobre a redução do peso e do percentual de gordura não são
explicados completamente apenas pela restrição calórica, tendo em vista que estudos
randomizados comparando um grupo que fez JI com outro que fez Restrição Calórica
Simples (RCS) mostraram uma redução mais acentuada no percentual de gordura no
grupo do JI mesmo com o consumo de quantidades semelhantes de calorias.
Vários estudos mostram um aumento dos níveis de adiponectina em pacientes
submetidos a protocolos de JI do tipo 16/8. A adiponectina teria um papel no estímulo
da via da AMPK-PGC-1-alfa, responsável pela biogênese mitocondrial. A adiponectina
também atuaria no cérebro, estimulando o gasto energético e, consequentemente, a
perda de peso.
Outra hipótese seria uma melhora na resposta termogênica à epinefrina,
o que elevaria o gasto energético em repouso.
Além do aumento da adiponectina, o JI promove uma redução dos estoques de
glicogênio e a ativação das vias de neoglicogênese, com redução da resistência
insulínica, aumento da mobilização de gorduras e melhora no perfil lipídico.
O JI acarreta, ainda, aumento na secreção de hormônio do crescimento (essa elevação é
comum em qualquer estado de privação alimentar), diminuição na expressão de genes
pró-inflamatórios e em marcadores de inflamação (TNF-alfa, IL-1 beta e IL-6) e ativação
de genes benéficos relacionados ao aumento da longevidade.
Questão 2: C
Ela deve fazer, no mínimo, 150 minutos semanais de exercício aeróbico de moderada ou
vigorosa intensidade, não permanecendo mais do que dois dias consecutivos sem
exercício físico. Há necessidade de estratificar o risco cardiovascular antes de iniciar um
programa de exercícios físicos. O exercício resistido pode aumentar a glicemia durante a
sua execução, determinando menor risco de hipoglicemia, tanto agudamente quanto
pós-exercício, em comparação ao exercício aeróbico. É necessário checar a glicemia
capilar antes, durante o exercício físico e depois, principalmente nos exercícios de maior
duração.
Questão 3: D
A disponibilidade energética se refere à energia que sobra após o gasto com o exercício,
sendo necessária para manter as funções homeostáticas basais. Quando baixa, causa
deficiência energética relativa do esporte. Em mulheres, isso ocorre com valores abaixo
de 30 kcal/kg de massa magra. Nos homens, o ponto de corte é ainda discutível, mas
varia de 9 a 25. Perceba, então, que o valor de 10 kcal/kg não se refere à ingestão
calórica diária. Esta condição também aumenta o risco de fraturas de estresse.
Questão 4: B
O DHEA é considerado doping. A nandrolona não é feita por via oral. E a trembolona não
tem qualquer indicação clínica em humanos (seu uso é veterinário).
Questão 5: A
O uso da creatina está associado a discreto ganho ponderal e retenção hídrica
intramuscular, sem impacto na volemia. Alguns estudos apontam melhora na função
vascular e muscular com potenciais benefícios na IC (alternativa B incorreta). O uso não
é considerado doping, mas a entidade alerta sobre potenciais contaminantes nas
formulações. Não há evidências de elevação de níveis de creatinina nem de lesão renal
nas doses habituais indicadas.
Questão 6: A
A via da fosfocreatina é responsável pela ressíntese de ATP, fornecendo energia em
atividades de muito alta intensidade e de curta duração. A via anaeróbica (ou glicolítica)
fornece energia com maior velocidade, porém menor eficiência na produção de ATP. A
via aeróbica (fosforilação oxidativa ou respiração mitocondrial) fornece maior
quantidade de ATP, porém demanda maior tempo para sua ativação, sendo mais
utilizada em exercícios de maior duração com intensidade intermediária.
Questão 7: A
As fibras musculares tipo II são chamadas brancas, com menor vascularização e
conteúdo de mioglobina, são rápidas, utilizando a via glicolítica (anaeróbia) para
disponibilizar energia mais rapidamente para exercícios de alta intensidade e curta
duração (alternativa B incorreta).
Exercícios de menor intensidade usam primariamente gorduras e glicogênio como fonte
de energia. Porém, para que ocorra perda de gordura corporal, é necessário déficit
energético, ou seja, precisariam de maior duração para garantir efetividade
(alternativa C incorreta).
O ponto de compensação respiratória é quando ocorre falha no mecanismo de aumento
da frequência respiratória na compensação do excesso de lactato
(alternativa D incorreta).
Questão 8: C
Suplementação de aminoácidos isolados ou BCAAs não tem evidência de aumento na
síntese proteica (alternativa A incorreta).
Fontes proteicas vegetais têm menor concentração de AAEs quando comparadas a
fontes animais (alternativa B incorreta).
As doses proteicas devem ser idealmente distribuídas ao longo do dia, a cada 3 a 4 horas.
Os benefícios da ingestão proteica acontecem com a tomada tanto antes quanto depois do
treinamento resistido. A janela anabólica se estende por até 24 h após o treino resistido.
Questão 9: D
Condição que pode acontecer quando o excesso de atividade física vem acompanhado
de uma restrição calórica excessiva nas mulheres. Pode ocasionar amenorreia ou
oligomenorreia de causa hipotalâmica e como consequência do hipoestrogenismo,
perda de massa óssea associada. Há maior risco de infecções gastrintestinais e das vias
aéreas superiores (IVAS).
Questão 10: B
Demonstrar a perda do rendimento físico maior que 10% (seja em intensidade, peso,
velocidade) em relação ao que o atleta fazia previamente. É fundamental a exclusão de
causas sistêmicas.
Referências bibliográficas:
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