Investigação Da Atividade Biológica Do Óleo de Baru

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Investigação da atividade biológica do Óleo de Baru (Dipteryx alata

Vogel).
Brenda Soares Caixeta1 (IC) *; Valber Canêdo Mesquita2; Drauton Danilo de Jesus Pinto2 (PQ);
Giuliana Muniz Vila Verde3 (PQ)

1Discente da Universidade Estadual de Goiás, Câmpus de Ciências


Exatas e Tecnológicas, CP 459, 75132-400, Anápolis, GO, Brasil.
*Email: [email protected]

2Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás,


Câmpus Anápolis, CP 75131-457, Anápolis, GO, Brasil.

3LPBioS/Câmpus de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade


Estadual de Goiás, CP 459, 75132-400, Anápolis, GO, Brasil.

Resumo: O Baru (Dipteryx alata Voguel) pertencente à família Fabaceae, ocorre em todo o território
brasileiro, principalmente nos estados da região centro-oeste e tem ampla aplicação na alimentação
humana, como forrageiro na alimentação animal, madeireiras na fabricação de estacas, postes,
moirões, dormentes, na construção civil, paisagismo e medicinal. Estudos fitoquímicos realizados com
este óleo rico em insaturações sugerem traços de antraquinonas e presenças consideráveis de
alcaloides, taninos, flavonoides, glicosídeos cardiotônicos e saponinas. Essas substâncias são
metabólitos secundários que aparecem em resposta a agentes externos e são responsáveis pelos
efeitos farmacológicos. Os compostos fenólicos encontrados no óleo agem como terminais para os
radicais livres diminuindo o estresse oxidativo. Outra classe de metabólitos encontrada são os
alcaloides possivelmente responsáveis pela ação inibitória da enzima acetilcolinesterase. Essas duas
classes juntas conferem ao óleo de baru papel na prevenção e retardamento da doença de Alzheimer,
uma doença degenerativa causada principalmente por disfunção colinérgica e estresse oxidativo.

Palavras-chave: Acetilcolinesterase. Antioxidante. Dipteryx alata Vog.. Alzheimer.

Introdução

O Cerrado brasileiro é considerado hotspots de biodiversidade, ou seja,


áreas com grande biodiversidade ricas principalmente em espécies endêmicas. Está
distribuído entre os estados do centro-oeste, além dos estados de Tocantins, Bahia,
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo, Amapá, Roraima e Amazonas. A
riqueza de espécies do cerrado oferece diversos recursos que aliados com o
conhecimento tradicional abre campo para pesquisa e descoberta de inúmeros
novos fármacos. Até o ano de 2012, segundo o Ministério do Meio Ambiente, já
havia cerca de 12 mil espécies catalogadas de plantas nativas, como a Cagaita
(Eugenia dysenterica), Cajuzinho do cerrado (Anacardium humile), Araticum
(Annona crassifolia), Baru (Dipteryx alata), entre outras (BRASIL, 2012; BARREIRO,
2009).
O Dipteryx alata é uma leguminosa arbórea, pertencente à família Fabaceae,
conhecida popularmente como baru, cumbaru, barujo, coco-feijão, cumarurana,
pau-cumaru. Ocorre em território brasileiro, principalmente nos estados de Goiás,
Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (BOTEZELLI et
al.,2000).
Quanto à morfologia, apresenta folhas alternadas, compostas pinadas e
pecioladas, suas flores são curto-pediceladas com cálice petaloide e corola
papilionácea e seu fruto é do tipo drupa ovoide (SANO et al.,2004).
A espécie tem diversas aplicações como: alimentação humana, devido ao
alto valor nutritivo de sua polpa e semente; forrageiro na alimentação animal;
madeireiras na fabricação de estacas, postes, moirões, dormentes e também na
construção civil; paisagismo; e medicinal. O óleo extraído da semente possui
metabólitos secundários responsáveis pela ação analéptica, antioxidante,
antirreumática, anticolinesterásica e funciona, também, como regulador menstrual
(SANO et al.,2004).
Os metabólitos secundários são os responsáveis pelos efeitos
farmacológicos e aparecem em resposta a agentes externos como insetos, fatores
ambientais, parasitas, fungos, etc. É possível direcionar ensaios para avaliar
atividade biológica de plantas com base na natureza, estrutura química e
concentração de seus fitoconstituintes (SANCHEZ, 2014). Estudos fitoquímicos
realizados com o óleo extraído, com alto grau de insaturação, do D. alata mostraram
concentrações baixas de antraquinonas e concentrações consideráveis de
alcaloides, taninos, flavonoides, glicosídeos cardiotônicos e saponinas
(HARBORNE, 1973).
A ação antioxidante presente no óleo de baru é típica de compostos da
classe de fenóis, ácidos fenólicos e seus derivados, flavonóides, tocoferóis,
pigmentos, esteróis e etc. Os compostos fenólicos agem como terminais para os
radicais livres precavendo a oxidação de substratos envolvidos na formação de
radicais livres, diminuindo assim o estresse oxidativo e, consequentemente, a
incidência de doenças crônicas e degenerativas (ROESLER et. al., 2007;
GIORDANI et. al., 2008).
A ação inibitória da enzima acetilcolinesterase de diferentes espécies
estudadas, incluindo D. alata, está associada à presença de alcaloides, visto que a
maioria das substâncias com essa atividade biológica são alcaloides (BARBOSA,
2006). Isso se deve a sua estrutura nitrogenada complexa semelhante aos sítios
alvos de inibição da acetilcolinesterase. Desse modo, famílias que possuem esta
classe de metabólitos secundários são fontes promitentes para a pesquisa desta
atividade.
A atividade anticolinesterásica do óleo de baru ocorre devido à sua ação
inibitória sobre a enzima acetilcolinesterase presente, principalmente, nas
membranas pré e pós-sinápticas da sinapse colinérgica, impedindo a hidrólise do
neurotransmissor acetilcolina, ou à sua ação direta sobre os receptores nicotínicos.
Esta classe farmacológica pode ser utilizada no tratamento de doenças
degenerativas como, por exemplo, a doença de Alzheimer (SILVA, 2013).
A doença de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, irreversível e
progressiva que altera a memória e habilidades cognitivas. Essa patologia é
considerada multifatorial e tem como causas mais prováveis para o desenvolvimento
da doença: a deposição extracelular de peptídeo β-amiloide, também conhecidas
como placas senis, que possuem grande citotoxicidade; hiperfosforilação da proteína
tau, responsável pela formação de emaranhados neurofibrilares dentro dos corpos
neuronais afetando sua comunicação bioquímica; disfunção colinérgica, devido a
taxa anormal de degradação da acetilcolina pela enzima acetilcolinesterase;
estresse oxidativo, envolvido na geração de espécies reativas de oxigênio e
nitrogênio levando a disfunção e morte neuronal (BIAZOTTO, 2014; KONRATH,
2011).
Até 2016 eram estimados que, em todo o mundo, mais de 47 milhões de
idosos possuíam a doença de Alzheimer e, a cada ano, são registrados por volta de
10 milhões de novos casos. No Brasil, nesse mesmo ano, havia 1,2 milhão de
pessoas e, por ano, cerca de 100 mil novos casos são diagnosticados. O aumento
do número de casos se deve ao principal fator de risco para o desenvolvimento
dessa doença, o avançar da idade, juntamente com o envelhecimento geral da
população mundial (BRASIL, 2012).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho será, de maneira geral, avaliar a
atividade biológica do óleo de baru, e como objetivos específicos estão a coleta e
identificação do material botânico, a investigação da qualidade da amostra e a
realização da pesquisa de atividade anticolinesterásica e atividade antioxidante.

Material e Métodos

1. Obtenção do material botânico


Os frutos do baru foram obtidos no estado de Goiás no geoposicionamento
de 17º00’38.6’’ de latitude sul e 47º58’19’’de longitude oeste de Greenwich. As
amostras foram identificadas pela profa. Dra. Giuliana Muniz Vila Verde.

2. Prospecção fitoquímica das amêndoas do baru


Os testes da prospecção fitoquímica foram realizados em duplicata, a fim de
pesquisarem as classes de metabólitos secundários seguindo a metodologia de
Matos e Matos (1998).

3. Obtenção do óleo das amêndoas de baru


Para a obtenção do óleo fixo de baru foi realizada prensagem em prensa
mecânica de acordo com Pinto (2017) e Pimentel (2008). A prensa foi alimentada
diretamente com a amêndoa in natura e o óleo foi coletado posteriormente. Cada
extração foi realizada com lotes de amostras de 0,5 Kg.

4. Análise da atividade antioxidante


A determinação de atividade antioxidante do óleo fixo de baru foi realizada
pelo método do sequestro de radical estável 2,2-difenil-1-piecril-hidrazil (DPPH)
seguindo a metodologia de Malheiro (MALHEIRO et al., 2012).
5. Análise da atividade anticolinesterárica
A capacidade de inibição dos compostos sobre a acetilcolinesterase está em
teste com base no método de Ellman (ELLMAN et al., 1961) modificado por Rhee
(RHEE et al., 2001).

Resultados e Discussão

A coleta do baru se dá no chão após a queda natural dos frutos, para


reconhecer a existência de sementes sadias no interior do fruto, analisa-se a
presença do som das sementes deslizando no interior deste. Os frutos coletados são
colocados dentro de um recipiente e em seguida despejados em sacos de
polipropileno que são dispostos embaixo das árvores das quais foram coletadas a
espera de transporte. Os frutos com ausência da polpa também são coletados.
Estes, em tese, já serviram como alimento para animais. O coletor recolhe os sacos
que estão embaixo das árvores coletadas com o auxílio de um carrinho de mão.
Estes sacos são transportados para um armazém próximo ao local da colheita. Em
seguida são encaminhados para o povoado e finalmente para a unidade produtiva.
A prospecção fitoquímica da amêndoa resultou no perfil das classes de
metabólitos secundários presentes nas amostras analisadas, descritas na tabela 1.
Tabela 1: Resultado da prospecção fitoquímica das amêndoas do baru.
Metabólitos secundários Amostra 1 Amostra 2
Flavonoides + +
Alcaloides + +
Taninos + +
Resinas + +
Antraquinonas + +
Saponinas + +
Fonte: Próprio autor, 2018.
O resultado da prospecção química das amêndoas foi importante para
direcionar as próximas análises a serem feitas. A presença abundante de alcaloides
e flavonoides indicou um grande potencial inibitório da acetilcolinesterase assim
como potencial antioxidante.
A extração do óleo pode ocorrer através das amêndoas inteiras ou trituradas.
A prensagem mecânica se fundamenta no esmagamento da amêndoa, para separar
o óleo da torta. A torta do baru pode ser empregada como ração animal, sem a
necessidade de um preparo especial do farelo, ou como farinha da semente para
consumo humano. Após a prensagem da amêndoa, o óleo passa por decantação
onde posteriormente ao seu descanso, a manteiga será decantada facilitando o
processo de filtragem. A filtragem pode ser feita por filtros de prensa ou por papel
filtro e tem como objetivo retirar do óleo bruto materiais em suspensão. Por último é
feito o envase em recipiente adequado como vasilhames, bombonas, tambores,
entre outros.
A atividade antioxidante da amostra de óleo foi realizada pelo ensaio da
capacidade de sequestrar radicais livres de DPPH, o resultado obtido foi de 35,80%.
A partir desse método é capaz de estimar a atividade antiradical dos óleos expressa
com o decréscimo da absorbância de extrato em solução de DPPH (MALHEIRO et
al., 2012).
A análise da atividade anticolinesterásica está em ajuste metodológico para
posterior avaliação do óleo.

Considerações Finais

A coleta e análise da qualidade dos frutos do baru ocorrem de forma


artesanal após queda natural dos mesmos, que são encaminhados para o povoado
e finalmente para a unidade produtiva onde ocorre a extração do óleo através de
prensa mecânica onde obteve um bom rendimento de 35,80%. A prospecção
fitoquímica apresentou resultados dentro do esperado indicando a presença de
flavonoides, alcaloides, taninos, saponinas, resinas e antraquinonas. O teste por
DPPH sugere a presença de atividade antioxidante, exercida principalmente pelos
flavonoides. Todos os dados expostos indicam a variedade de compostos presentes
no baru e evidenciam que essa é uma espécie promissora.
Agradecimentos

Agradeço a Prof.ª Dr.ª Giuliana Muniz Vila Verde pela orientação, oportunidade e dedicação,
a Universidade Estadual de Goiás e a todos os colaboradores do Laboratório de Pesquisa de
Bioprodutos e Síntese (LPBioS), em especial ao Prof. Me. Drauton Danilo que sempre esteve
disposto a me ajudar e sanar minhas dúvidas.

Referências

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