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Evolução das vantagens

comparativas do Adelson Martins Figueiredo 1

Brasil no comércio Maurinho Luiz dos Santos2

mundial de soja
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a evolução das vantagens comparativas do
Brasil nos segmentos de soja em grão, farelo e óleo, no período de 1990 a 2002, tendo em vista o
conjunto de políticas adotadas na agricultura brasileira nesse período. Especificamente, pretende-
se quantificar e comparar as vantagens comparativas de Brasil, Argentina, EUA e resto do mundo,
no comércio mundial de soja. A teoria de vantagem comparativa revelada (VCR) foi utilizada,
permitindo computar índices de VCR para o Brasil, Argentina, EUA e resto do mundo nos segmentos
de grão, farelo e óleo. Esses indicadores mostraram que o Brasil não tinha vantagem comparativa
no segmento de soja em grão, adquirindo vantagens a partir de 1998. Já no segmento de farelo de
soja, as vantagens comparativas do Brasil têm sido reduzidas, destarte o Brasil sempre deteve
vantagens comparativas nesse segmento. No segmento de óleo de soja, o Brasil não apresentou
vantagens comparativas. Identificou que a Lei Kandir teve um impacto positivo sobre as exportações
de soja em grão e negativos sobre as exportações de farelo e óleo de soja. Ademais, políticas
como Moderfrota podem alterar as vantagens comparativas do Brasil, em razão da redução dos
custos unitários de produção via aumentos de produtividade.
Palavras-chave: vantagem comparativa, exportações, soja, Brasil.

Introdução soja, devido à capacidade competitiva do


Paraguai e, principalmente, da Argentina em
A abertura da economia brasileira, produtos mais elaborados, como os processados.
acompanhada por redução gradual e contínua
das barreiras tarifárias e não-tarifárias, nos anos Para combater a instabilidade macroeco-
90, estimulou a busca por modernização e nômica interna, adotou-se o Plano Real, em
ganhos de competitividade. Além disso, a primeiro de julho de 1994. Esse plano conduziu a
criação do Mercado Comum do Sul3 (Mercosul) economia brasileira a um ambiente macroeco-
promoveu maior exposição do agronegócio nômico de maior controle sobre as variáveis
brasileiro à competição externa. Essa maior preço, renda, taxa de juros e câmbio. No âmbito
exposição ocorreu no caso dos segmentos de governamental, existia o objetivo de reduzir a

1
Doutorando em Economia Aplicada pelo Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa (UFV), bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). [email protected].
2
Professor do Departamento de Economia Rural da UFV. [email protected].
3
As negociações para formação de um bloco regional de comércio entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai iniciaram-se em 1991, culminando na criação
do Mercosul em 31 de dezembro de 1994 (LIRIO, 2001).

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incerteza e melhorar as expectativas dos influência da desvalorização da moeda
produtores; como conseqüência, seria obtida nacional, ocorrida a partir de dezembro de
uma maior competitividade agrícola. 1998, sobre a competitividade da soja brasileira,
devido à alteração nos termos de troca. Nesse
aspecto, também é importante destacar o
Entretanto, Figueiredo e D'Almeida impacto do Programa de Modernização da
(2001) argumentam que o sucesso do Plano Real Frota de Tratores Agrícolas e Implementos
estava, em grande parte, vinculado à Associados e Colheitadeiras (Moderfrota),
administração da política cambial que servia criado em março de 2000, sobre a produtividade
de âncora do plano de estabilização. Dessa do setor agrícola e, conseqüentemente, nas
forma, o que ocorreu inicialmente foi um exportações brasileiras.
choque cambial que valorizou a moeda
Diante desse conjunto de fatos ocorridos na
nacional, penalizando a competitividade
década de 90 e início do século 21, pretende-se,
agrícola, principalmente nos setores que são
com este trabalho, analisar o comportamento das
grandes exportadores, como o de soja.
vantagens comparativas do Brasil e de seus
Para amenizar esses impactos negativos, concorrentes no mercado mundial de soja.
o governo implementou, em setembro de 1996, Especificamente, propõe-se quantificar e
a Lei Kandir, que isentou do Imposto Sobre comparar as vantagens comparativas de Brasil,
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Argentina, EUA, e resto do mundo, estabelecendo
as exportações de produtos primários e semi- relações entre esses indicadores com intuito de
elaborados. Além disso, de acordo com Coelho identificar possíveis tendências dos fluxos
(2001), merece destaque também a criação da comerciais desses países para os segmentos de
Cédula do Produtor Rural (CPR), que tem a soja em grão, farelo e óleo. A relevância deste
vantagem de cobrir duas operações importantes: tema está na importância da agroindústria
fornecer liquidez e assegurar os preços. Em brasileira de soja para a economia brasileira,
2000, foi criada a CPR Financeira, com a qual principalmente na geração de divisas, cabendo
a cobertura do seguro de preços ficou mais destacar que sua participação nas exportações
ampla, pois o produtor não deixa de ganhar se brasileiras totais foi de 8,6%, em média, na década
os preços estiverem acima do previsto na época de 90 (FIGUEIREDO, 2004).
do vencimento da cédula.
A competitividade externa do complexo
agroindustrial da soja foi afetada por essas Metodologia
políticas, em especial pela isenção total do
ICMS de 13% sobre as exportações de grãos.
Por um lado, Mafioletti (2000), estudando os Referencial teórico
preços do setor nas décadas de 80 e 90, Existem diversas teorias sobre o comércio
argumenta que a utilização dos novos internacional que buscam explicar as interações
instrumentos de financiamento da agricultura, comerciais entre os países. A primeira delas foi
desenvolvidos pelo governo, provocou a Teoria da Vantagem Absoluta, criada por
alterações no processo de formação de preços Adam Smith, que preconizava que aquele país
do setor soja, que é uma variável estratégica que produzisse uma mercadoria com o menor
para a comercialização interna e externa da custo, sendo este medido em termos de horas
oleaginosa. Por outro, houve incentivo às de trabalho, poderia realizar trocas com outros
exportações do produto in natura em detrimento países, de forma benéfica.
das exportações dos produtos processados,
principalmente o óleo de soja. De acordo com Aperfeiçoando a teoria de Smith, segundo
Batista (2002), não se deve desprezar, ainda, a Krugman e Obstfeld (2001), David Ricardo

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desenvolveu a Teoria das Vantagens Comparati- Ao analisar a vantagem comparativa
vas, que explicava os benefícios do comércio revelada, algumas limitações podem surgir,
mesmo entre nações que não possuíam vantagem devido ao protecionismo inerente às relações
absoluta na produção de nenhum bem, uma vez comerciais, como tarifas sobre importação,
que considerava as diferentes produtividades subsídios às exportações, poder de mercado,
entre as nações. desalinhamento cambial e outras que, em
conjunto, podem afetar os resultados da vantagem
Esses modelos não esclareciam os efeitos
comparativa revelada. Essas limitações surgem
do comércio internacional, passando a idéia de
porque a noção de vantagem comparativa
que o comércio sempre traz benefícios aos seus
revelada está interligada a fatores estruturais do
participantes. No intuito de estudar a
processo produtivo, sendo associada de forma
distribuição de renda entre os proprietários dos
direta aos custos relativos de produção. Segundo
fatores produtivos, surge a Teoria das
Fontes (1992), nesse aspecto, a definição de
Proporções dos Fatores, criada pelos econo-
vantagem comparativa preserva as pressupo-
mistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin em
sições clássicas da concorrência perfeita, dentre
1933. Nessa teoria, a justificativa para a
as quais a ausência de barreiras comerciais e o
existência do comércio reside nas diferentes
protecionismo.
dotações de fatores entre os países. De acordo
com Krugman e Obstfeld (2001), essa teoria Considerando a existência de barreiras
mostra que ganham com o comércio os comerciais e protecionismo no comércio externo
proprietários dos fatores abundantes e perdem de produtos agrícolas e seus efeitos sobre a
os proprietários de fatores escassos, pois os competitividade das exportações dos países, a
países tendem a exportar bens intensivos em teoria da competitividade adquire grande
fatores que eles possuem abundantemente, importância. Na década de 80, Paarlberg et al.
enquanto tendem a importar bens intensivos em (1985) já destacavam os efeitos de barreiras
fatores que possuem com relativa escassez. comerciais e protecionismo sobre a
competitividade dos países no comércio
A propagação do processo de integração internacional de produtos agrícolas. De acordo
de mercados tem tornado problemática a com Fontes (1992) e Hidalgo (1998), enquanto as
explicação dos fenômenos relacionados ao vantagens comparativas refletem os fluxos
comércio internacional, baseando-se apenas comerciais, determinados pelos custos relativos
nas teorias tradicionais do comércio, de produção, sob a pressuposição de um comércio
especialmente quando a análise está centrada livre de intervenções, a competitividade reflete
em um produto ou cadeia produtiva em os diferenciais de preços de mercado. Dessa
particular. forma, essa competitividade incorpora diversas
Grande contribuição ao entendimento da variáveis que influenciam os preços de mercado,
competitividade no comércio internacional foi como custos de comercialização, subsídios,
dada por Bela Balassa, em 1965, citada por impostos e outras.
Fajnzylber et al. (1993), que criou o conceito Embora haja limitações nas análises do
de vantagem comparativa revelada. Esse comércio internacional, pautadas em indicadores
método surgiu como uma proposta alternativa de vantagem comparativa revelada, eles têm sido
para identificar setores nos quais um país possui bastante utilizados por causa da facilidade de
vantagem comparativa na produção e, por construção e, por conseguinte, maior adequação
conseguinte, na exportação. Segundo Ponciano às bases de dados de comércio internacional.
(1995), nesse método, a vantagem comparativa Ademais, a utilização desses indicadores é
é considerada como revelada porque sua importante por permitir acompanhar a evolução
quantificação se baseia em dados ex-post, ou do fluxo de comércio externo dos produtos, ao
seja, pós-comércio. longo do tempo, por serem diretrizes importantes

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na detecção de impactos positivos e, ou, Agriculture Organization of the United Nations
negativos de políticas realizadas. (FAO); b) United States Department of Agriculture
(USDA), por meio do Economic Research Service
(ERS); e c) Ministério da Agricultura, Indústria e
Referencial analítico Comércio Exterior (MDIC), através da Secretaria
De acordo com Carvalho (1995), os de Comércio Exterior (SECEX). Na construção dos
indicadores de vantagem comparativa revelada indicadores de VCR foram utilizados dados anuais
são importantes porque permitem definir o compreendidos no período de 1990 a 2002.
padrão de especialização internacional que
segue a pauta de exportação dos países. Em
estudos sobre a competitividade de cadeias Resultados e discussão
agroindustriais de países competidores no
mercado externo, esses indicadores são úteis
para identificar em qual produto um país Evolução das vantagens
exportador tem maior vantagem comparativa. comparativas do Brasil
Com base no estudo de Fajnzylber et al. Nas Fig. 1, 2 e 3 é mostrado o compor-
(1993), para quantificar a vantagem comparativa tamento das vantagens comparativas dos três
do Brasil e de seus principais concorrentes no principais exportadores e o resto do mundo, na
mercado internacional da agroindústria da soja, comercialização de produtos da cadeia
este trabalho propõe o seguinte indicador de agroindustrial da soja.
vantagem comparativa revelada: De acordo com os resultados apresen-
tados na Fig. 1, na primeira metade da década
de 90, o Brasil não possuía vantagens
comparativas no comércio internacional de soja
em grão, apresentando índices abaixo da
unidade até 1997. A partir de 1996, os índices
(1)
de VCR cresceram consideravelmente,
em que: passando a atingir valores superiores à unidade
= parcela das exportações do produto a partir de 1998, refletindo as vantagens
(i) do país A ( ) nas exportações comparativas do Brasil na exportação de grãos.
totais do complexo agroindustrial Analisando as taxas de crescimento desses
desse mesmo país ( ); e indicadores para o período de 1997 a 2002,
constata-se um crescimento médio estimado de
= parcela das exportações mundiais 2,56% a.a., indicando a melhoria no
do produto (i) igual a ( ) nas desempenho do Brasil, no comércio externo de
exportações mundiais totais do soja em grão, após isenção do ICMS sobre as
complexo agroindustrial do mundo exportações desse produto.
( ).
Na primeira metade da década de 90,
Este indicador, quando maior que a unidade, especificamente no período de 1990 a 1996, o
demonstra que o país A possui vantagem Brasil e a Argentina apresentaram taxas
comparativa revelada no produto analisado. geométricas de crescimento negativas de
8,84% a.a. e 3,94% a.a. para os índices de VCR,
enquanto isso, os EUA apresentaram taxas
Fonte de dados positivas de 1,31% a.a. Isso sugere grande
Os dados utilizados nesta pesquisa foram concorrência entre o Brasil, Argentina e EUA.
obtidos nas seguintes instituições: a) Food and Foram calculados coeficientes de correlação

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entre os indicadores de VCR para esses três
países. Esses coeficientes apresentaram
correlação negativa de 0,47 e 0,48 entre o
Brasil e a Argentina e entre o Brasil e os EUA,
respectivamente. Entre a Argentina e os EUA o
coeficiente também foi negativo, porém
relativamente menor, de apenas 0,08, indicando
maior concorrência entre o Brasil e os EUA e
entre o Brasil e a Argentina do que entre
Argentina e EUA.
No período de 1997 a 2002, a Argentina
Fig. 1. Indicador de vantagem comparativa revelada experimentou grande expansão nos índices de
para o segmento de soja em grão do Brasil, em relação VCR, com crescimento médio estimado em
aos seus principais concorrentes. 29,77% a.a. Todavia, não apresentou vantagem
Fonte: FIGUEIREDO (2004). comparativa na comercialização de soja em
grão, com indicadores se situando abaixo da
unidade. Já os EUA apresentaram índices de
VCR maiores que a unidade, em todo o período
analisado, tornando clara a vantagem com-
parativa desse país na exportação de soja em
grão. Esse último resultado pode estar associado
aos subsídios norte-americanos à exportação de
soja, os quais aumentaram ao longo da década
de 90, atingindo cerca de 27,5% do preço
médio de mercado em 2002, sendo essa taxa
calculada pelo diferencial entre o preço médio
de mercado e o preço-meta estabelecido pela
Fig. 2. Indicador de vantagem comparativa, revelada
U.S. Farm Security Act of 2002 (BERALDO,
para o segmento de farelo de soja do Brasil, em 2002). No entanto, espera-se que a vantagem
relação aos seus principais concorrentes. comparativa dos EUA nas exportações de soja
em grão se torne menor à medida que os seus
Fonte: FIGUEIREDO (2004).
concorrentes, principalmente o Brasil, se tornem
mais competitivos. O resto do mundo, até
mesmo pela baixa representação no comércio
externo de soja em grão, não apresentou vanta-
gem comparativa, com índices estimados
sempre abaixo da unidade e com tendência de
queda nos últimos anos compreendidos na
análise, não se constituindo, assim, em ameaça
direta às exportações brasileiras.
Na Fig. 2, percebe-se que o comporta-
mento das vantagens comparativas no segmento
de farelo de soja não é favorável às exportações
brasileiras. Na primeira metade da década de
Fig. 3. Indicador de vantagem comparativa revelada 90, o Brasil e a Argentina possuem vantagem
para o segmento de óleo de soja do Brasil, em relação comparativa, com indicadores sempre acima
aos seus principais concorrentes. da unidade e apresentando apenas pequenas
Fonte: FIGUEIREDO (2004). oscilações, devido à concorrência do resto do

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mundo, que experimentaram brando cresci- Os coeficientes de correlação entre os
mento nos indicadores de VCR. Nesse primeiro índices de VCR estimados para o segmento de
período, o país mais prejudicado foi os EUA, farelo de soja demonstram que os países
que mostraram queda nos indicadores, com taxa tradicionalmente produtores de soja têm
estimada em 4,09% a.a., além de não apresentar enfrentado forte concorrência no mercado
vantagem comparativa revelada nesse seg- internacional nesse segmento. A correlação
mento. estimada para os índices dos EUA e do Brasil
atingiu um valor negativo de 0,41, enquanto
A partir da primeira metade da década
esse mesmo índice estimado para os EUA e o
de 90, o resto do mundo consegue atingir
resto do mundo também foi negativo, porém
vantagens comparativas, no comércio
superior ao estimado para os EUA e o Brasil em
internacional, de farelo de soja, impulsionado
80,48%, atingindo um valor de 0,74. Isso
principalmente pelo desempenho considerável
evidencia que, quando os países exportadores
do Paraguai na exportação desse produto.
vendem o produto in natura no comércio
A partir de 1999, a Argentina consegue internacional, eles transferem parte de suas
recuperar significativamente suas vantagens vantagens naturais para o mercado importador,
comparativas, possivelmente em razão da além de propiciar uma maior concorrência
política comercial de incentivo às exportações futura nos segmentos a jusante da cadeia
de produtos de maior valor agregado e da agroalimentar. A correlação estimada entre os
maxidesvalorização do peso argentino. índices de VCR do Brasil e da Argentina e da
O Brasil continuou perdendo vantagem Argentina e do resto do mundo também foi
comparativa nesse segmento; contudo, essa expressiva, apresentando valores negativos de
queda nos índices de VCR pode estar refletindo 0,55 e 0,53, respectivamente.
a transferência de vantagens comparativas da No segmento de óleo de soja,
cadeia produtiva (CPA) da soja para outras representado pela Fig. 3, nota-se que o Brasil
CPAs, como, por exemplo, a cadeia de carnes. não possui vantagens comparativas no comércio
Segundo Rosário (2001), a demanda derivada internacional, exceto nos anos de 1994 a 1996.
da indústria de rações para alimentação animal Nos primeiros anos da década de 90, o País
cresceu consideravelmente na década de 90, apresentou surpreendente crescimento das
com taxa média estimada em 9,73% a.a., ao vantagens comparativas, com taxa estimada
passo que a produção nacional de farelo de soja para os índices de VCR de 7,2% a.a., no período
teve crescimento médio bastante inferior (5,7%) de 1990 a 1996. Uma das possíveis explicações
nesse mesmo período. para isso foi o reduzido poder de compra da
Considerando todo o período analisado, população brasileira, causado pelo processo
não houve muita instabilidade nos índices de inflacionário crônico pelo qual passava a
VCR dos EUA, mas estes permaneceram abaixo economia brasileira. Entretanto, a partir de
da unidade, significando que esse país não 1996, como reflexo do aumento no poder
possui vantagem comparativa nas exportações aquisitivo da população brasileira, promovido
de farelo de soja. Todavia, deve-se considerar pelo Plano Real, que controlou a inflação,
que o país se destaca como maior consumidor houve redução dos excedentes exportáveis de
de farelo de soja do mundo, com uma óleo de soja, pois este é produto essencial na
participação no consumo médio mundial de dieta alimentar brasileira. O incentivo à
24% em 2001. Esse fato tem forte reflexo em exportação de produtos primários, como a soja
suas vantagens comparativas na exportação do em grão, mediante isenção do ICMS incidente
produto, devido à prioridade em atender o sobre as exportações, pode ter atuado também
mercado interno, reduzindo, conseqüentemente, com o fim de reduzir as exportações brasileiras
a capacidade de gerar excedentes exportáveis. de óleo de soja.

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Os resultados mostram que a Argentina e mundo foram superiores à unidade em todo o
o resto do mundo apresentaram vantagens período analisado.
comparativas na exportação de óleo de soja,
com indicadores de VCR em níveis superiores
aos exibidos pelo Brasil e pelos EUA. Nota-se Conclusões
também certa correlação no comportamento
desses indicadores. Por meio dos coeficientes A análise de vantagem comparativa
de correlação estimados, para as séries do revelada mostrou que o Brasil não possui
Brasil e dos demais países, foi possível detectar vantagem nas exportações de óleo de soja e
correlação negativa entre o Brasil e o resto do que o País adquiriu vantagem nas exportações
mundo e entre o Brasil e a Argentina, com de soja em grão a partir de 1998, com
coeficiente de 0,47 e 0,15, respectivamente. tendência de crescimento desse índice. Esse
aspecto é importante, pois mostra claramente
Esses indicadores mostram que há
o impacto da Lei Kandir sobre as exportações
competição entre Brasil e Argentina e resto do
brasileiras de soja em grão; além disso, outras
mundo no comércio internacional de óleo de
políticas, como o Moderfrota, que de alguma
soja. Destaca-se, ainda, a magnitude desse
forma reduz os custos unitários de produção
coeficiente entre EUA e Argentina e entre EUA
e resto do mundo, que também foram negativos: devido ao aumento de produtividade, por
0,19 e 0,77, respectivamente. Isso é uma exemplo, podem impulsionar as exportações
evidência empírica das estratégicas de política brasileiras.
comercial, pautadas em operações de Detectou-se, ainda, vantagem comparativa
importação de produtos in natura e exportação nas exportações brasileiras de farelo de soja,
de produtos de maior valor agregado, efetuadas, embora haja uma tendência de redução dessa
principalmente, pelos países da União Européia, vantagem, uma vez que a Argentina se torna mais
os quais têm se apresentado como competi- competitiva nesse segmento. Os EUA
dores no mercado internacional de óleo de soja. apresentaram vantagem comparativa apenas nas
Para realização dessa estratégia, os países da exportações de soja em grão, e a Argentina, nas
União Européia adotam, desde 2001, tarifa zero
exportações de farelo e óleo. Assim, conclui-se
para as importações de soja em grão, enquanto
que o Brasil concorre diretamente com os EUA
as tarifas incidentes sobre as importações de
nas exportações de soja em grão, e com a
óleo de soja bruto e refinado variam entre 3,8%
Argentina, nas exportações de derivados de soja.
e 7,6% e entre 6,1% e 11,4%, respectivamente
(AMARAL, 2002). Os coeficientes de correlação estimados
Na qualidade de grandes consumidores entre os índices de vantagem comparativa
de óleo de soja, o Brasil e os EUA, de maneira revelada da Argentina, do Brasil, dos EUA e do
geral, não conseguiram gerar excedentes resto do mundo mostram que a política
exportáveis de óleo em níveis que permitissem comercial adotada ao longo da década de 90,
a ambos os países atingirem vantagens pela UE e Japão, foi prejudicial aos países
comparativas na comercialização externa exportadores de soja. A estratégia comercial foi
desse produto. Os indicadores de VCR do Brasil estimular a importação de produtos in natura e
apresentaram-se superiores aos estimados para desestimular a importação de produtos
os EUA em todo o período analisado. Em se processados por meio de tarifas discriminatórias.
tratando da Argentina e do resto do mundo, Assim, esses países se apropriavam de parte das
percebe-se que eles detêm vantagens vantagens naturais dos países exportadores e,
comparativas, reveladas em relação ao Brasil ainda, criavam as condições necessárias para
e aos EUA, na exportação de óleo de soja. Os concorrer no mercado internacional de
índices de VCR da Argentina e do resto do produtos processados, em período subseqüente.

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