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Ana Mónica Martins de Matos Leite

Obturação em Endodontia

Universidade Fernando Pessoa


Faculdade de Ciências da Saúde
Porto 2014
Ana Mónica Martins de Matos Leite

Obturação em Endodontia

Universidade Fernando Pessoa


Faculdade de Ciências da Saúde

Porto 2014
Ana Mónica Martins de Matos Leite

Obturação em Endodontia

“Trabalho apresentado à Universidade


Fernando Pessoa como parte dos requisitos
para obtenção do grau de Mestre em
Medicina Dentária.”

___________________________________
RESUMO

Introdução: A Endodontia constitui uma ciência integrada no conjunto das ciências da


saúde. O tratamento endodôntico não cirúrgico divide-se em três grandes fases: Acesso
endodôntico, preparação biomecânica e obturação dos canais radiculares. A obturação
consiste na etapa final do tratamento endodôntico não cirúrgico oferecendo condições
de regeneração aos tecidos perirradiculares.

Objetivo: O objetivo deste trabalho é realçar a importância da obturação do sistemas de


canais radiculares, apresentar algumas técnicas usadas e avaliar os efeitos nos tecidos
periodontais da variação da temperatura e extrusão apical associada às técnicas de
obturação termoplásticas.

Materiais e Métodos: Para a realização deste trabalho foi efetuada uma pesquisa
bibliográfica nas bibliotecas da Universidade Fernando Pessoa e Faculdade de Medicina
Dentária da Universidade do Porto e nos motores de busca Pubmed, SciencDirect,
SciElO, Google Académico, B-on. As palavras-chaves utilizadas foram: Temperature
changes in obturation, temperature damages in obturation, filling gutta-percha
extrusion, gutta-percha overfiling, warm obturation, leakage and endodontics, filling
and endodontics, System B, Termoplastic. A pesquisa foi limitada a artigos de revisão
em Inglês, Espanhol e Português, publicados desde o ano 1999 até ao ano de 2013.

Desenvolvimento: As técnicas termoplásticas favorecem a obturação tridimensional


dos sistemas de canais radiculares, sendo frequente a obturação de ramificações laterais
e deltas apicais. Estas novas técnicas têm a vantagem de proporcionar um melhor
selamento apical em que todos os canais radiculares são selados hermeticamente, devido
ao material ser facilmente introduzido até as irregularidades do sistema de canais
radiculares. Contudo estas técnicas apresentam desvantagens como lesar o ligamento
periodontal, cemento e osso alveolar devido à temperatura que é dissipada pela dentina
ao sistema de canais radiculares e à elevada extrusão apical.

Conclusão: Conclui-se então que o profissional tem que ter a consciência de que cada
caso é um caso e como tal necessita de uma avaliação criteriosa de forma a saber que
técnica escolher para a obturação dos canais radiculares.

I
ABSTRACT

Introduction: Endodontics is an integrated science in the field of health sciences. Non-


surgical endodontic treatment is divided into three major phases: Endodontic access,
biomechanical preparation and obturation of root canals. Obturation is the final stage of
non-surgical endodontic treatment and enables regeneration of periradicular tissues.

Objective: The objective of this work is highlighting the importance of root canal
system obturation, presenting some of the techniques used and evaluating the effects on
periodontal tissues of the temperature variation and apical extrusion associated with
thermoplastic obturation techniques.

Materials and Methods: The study involved a literature review in the libraries of the
Fernando Pessoa University and the Dentistry Faculty of the University of Porto and in
the Pubmed, SciencDirect, SciElO, Google Scholar and B-on search engines. The key
words used for the searches were: Temperature changes in obturation, temperature
damages in obturation, filling gutta-percha extrusion, gutta-percha overfilling, warm
obturation, leakage and endodontics, filling and endodontics, System B, Thermoplastic.
The search was limited to review articles in English, Spanish and Portuguese, published
between 1999 and 2013.

Development: Thermoplastic techniques favour three-dimensional obturation of root


canal systems, and lateral branches and apical deltas are frequently filled. These new
techniques have the advantage of providing better apical sealing in which all root canals
are hermetically sealed, because the material is easily inserted in the irregularities of the
root canal system. However, these techniques have disadvantages, such as damaging the
periodontal ligament, cementum and alveolar bone, due to the temperature that is
dissipated by the dentine into the root canal system, and due to high apical extrusion.

Conclusion: It is concluded that the professional must be aware that each case is
different and careful evaluation is therefore required to assess which technique to use to
fill root canals.

II
DEDICATÓRIAS

Dedico esta dissertação à minha mãe, pelo esforço e dedicação que teve para poder
tornar possível este sonho, ao meu companheiro pelo carinho, compreensão, à minha
madrinha por todo o apoio sempre prestado e a todos aqueles que acreditaram em mim,
e estiveram sempre do meu lado.

III
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha orientadora Alexandra Martins, que desde a primeira abordagem me


deu total apoio, pela disponibilidade para me orientar, pela paciência e ensinamentos ao
longo destes meses.

A todos os docentes que me acompanharam durante o meu percurso, pelo conhecimento


transmitido e dedicação.

Agradeço à minha família pela força, atenção, carinho demonstrado sempre que
necessitei, e não poderia deixar de salientar mais uma vez a força da minha mãe para me
ajudar nesta caminhada, um muito obrigado.

Agradeço ao meu binómio pela amizade, companheirismo sempre demonstrado.

Agradeço em especial à minha grande amiga Cristiana Costa por todo carinho, amizade,
companheirismo demonstrado desde o início, à Anabela que mesmo descoberta mais
tarde se revelou uma verdadeira amiga e à Liliana Canelas que sempre demonstrou ser
uma grande amiga para todos os momentos.

Ao meus amigos Eva Esteves e Hugo Morais pela amizade, por todo apoio prestado,
pela força que me deram sempre que precisei.

Aos meus cunhados pela amizade e pelo apoio dado sempre que necessitei.

IV
ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE FIGURAS .............................................................................................................. VII

ÍNDICE DE TABELAS ........................................................................................................... VIII

ABREVIATURAS ...................................................................................................................... IX

I. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1

II. DESENVOLVIMENTO ........................................................................................................... 2

1. Materiais e Métodos .................................................................................................................. 2

2. Tratamento Endodôntico Não Cirúrgico ................................................................................... 2

2.1. Cavidade de Acesso ........................................................................................................... 2


2.2. Preparação Biomecânica .................................................................................................... 3
2.3. Obturação Endodôntica ...................................................................................................... 4
2.3.1. Objetivos ..................................................................................................................... 4

2.3.2. Cimentos Obturadores ................................................................................................. 6

2.3.3. Gutta-Percha ................................................................................................................ 9

2.3.4. Resilon....................................................................................................................... 11

3. Técnicas de Obturação ............................................................................................................ 11

3.1. Técnica de Condensação Lateral ...................................................................................... 12


3.2. Técnicas Termomecânicas ............................................................................................... 13
3.2.1. Técnica de Termocompactação de McSpadden ........................................................ 13

3.2.2. Técnica Hibrida de Tagger ........................................................................................ 14

3.2.3. J.S.Quickfill............................................................................................................... 15

3.3. Técnicas Termoplásticas .................................................................................................. 16


3.3.1. Compactação Vertical Aquecida (Schilder) .............................................................. 16

3.3.2. System B – Sistema de Condensação em Ondas Contínuas...................................... 18

3.3.3. Sistema Thermafil® .................................................................................................. 20

3.3.4. Sistema Microseal© .................................................................................................. 22

3.3.5. Sistema Obtura® II ................................................................................................... 24

3.3.6. Sistema Ultrafil® 3D................................................................................................. 25

4. Erros e Insucessos na Obturação ............................................................................................. 26

5. Avaliação da Capacidade de Obturação por Várias Técnicas ................................................. 28

V
6. Avaliação da Infiltração Apical por Várias Técnicas .............................................................. 30

7. Preenchimento Canalar ........................................................................................................... 33

8. Temperatura ............................................................................................................................ 34

9. Extrusão Apical ....................................................................................................................... 37

III. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 39

IV. BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 41

VI
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Unidade de Aquecimento Touch´n Heat ....................................................... 17


Figura 2 - Unidade System B® ..................................................................................... 18
Figura 3 - Forno do Thermafil® .................................................................................... 21
Figura 4 - Forno com seringa Microseal© .................................................................... 23
Figura 5 - Unidade de controlo e pistola ....................................................................... 24
Figura 6 - Aquecedor Ultrafil®, pistola e cânulas ........................................................ 26

VII
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Valores médios (mm) do teste de infiltração com corantes (Adaptado de


Silveira et al., 2007). .................................................................................... 31

Tabela 2 - Valores Médios (mm) do teste de infiltração com tintas (Adaptado Gençoglu
et al., 2002). ................................................................................................. 32

Tabela 3 - Valores Médios (%) do preenchimento canalar com gutta-percha com as 4


técnicas presentes no estudo. (Adaptado Gençoglu et al., 2002)................. 33

Tabela 4 - Valores médios (%) do preenchimento canalar pelas três técnicas de


obturação. (Adaptado De-Deus et al., 2008). .............................................. 34

Tabela 5 - Incidência (%) extrusão apical de ambas as técnicas (Abarca et al., 2001). 38

VIII
ABREVIATURAS

CL – Condensação lateral

C.R.T – Comprimento Real de Trabalho

GP – Gutta-percha

TENC – Tratamento Endodôntico Não Cirúrgico

N- Número

mm – Milímetros

% - Percentagem

Ca++ - Cálcio

OH- - Hidróxido

IX
Obturação em Endodontia

I. INTRODUÇÃO

A Endodontia constitui uma ciência integrada no conjunto das ciências da saúde. O seu
objetivo é o estudo da estrutura, morfologia, fisiologia e patologia da polpa dentária e
dos tecidos perirradiculares (Canalda et al., 2001).

O tratamento dos canais radiculares é constituído por etapas que, mesmo independentes,
formam um elo cuja finalidade é alcançar o objetivo maior do tratamento endodôntico,
que consiste em manter na cavidade oral um dente capaz de exercer as suas funções (Gil
et al., 2009).

O objetivo principal da endodontia é a eliminação total ou diminuição significativa das


bactérias e seus produtos em polpas não vitais, através da combinação da
instrumentação do sistema de canais radiculares com a limpeza química e a obturação
dos mesmos com um material inerte de forma a manter ou restabelecer a saúde dos
tecidos perirradiculares (Mann et al., 2007).

A etapa final do tratamento endodôntico consiste na obturação dos canais radiculares,


onde se pretende um preenchimento tridimensional e compacto, oferecendo condições
de regeneração aos tecidos perirradiculares (Gil et al., 2009., Martins et al., 2011).

O tratamento endodôntico visa o acesso aos canais radiculares com o propósito de


eliminar o tecido pulpar inflamado, limpeza e conformidade dos canais. O material
obturador deve ser inerte, biocompatível, estável que preencha os espaços deixados
pelos tecidos pulpares, para que se proporcione um selamento adequado no sentido
apical, lateral e coronário (Conceição et al., 2012).

Considera-se que um canal está bem obturado quando se visualiza, nas radiografias uma
massa radiopaca, homogénea e contínua, sem espaços vazios, adaptada às paredes
laterais, confinada ao seu interior e que termine perto do ápice radiográfico
designadamente a 0,5-1mm deste (Fava et al., Dummer et al., cit in. Teles, 2002).

O objetivo deste trabalho é realçar a importância da obturação do sistemas de canais


radiculares, apresentar e comparar algumas técnicas usadas e avaliar os efeitos nos

1
Obturação em Endodontia

tecidos periodontais da variação da temperatura e extrusão apical associada às técnicas


de obturação termoplásticas.

As motivações para a escolha deste tema foram melhorar o conhecimento acerca das
técnicas termoplásticas, interrelacionar as diferentes técnicas de obturação
endodônticas, comparar e averiguar as vantagens e desvantagens de cada uma, para que
no meu futuro profissional possa optar em cada situação, pela técnica mais adequada.

II. DESENVOLVIMENTO

1. Materiais e Métodos

Para a realização deste trabalho foi efetuada uma pesquisa bibliográfica nas bibliotecas
da Universidade Fernando Pessoa e Faculdade de Medicina Dentária da Universidade
do Porto e nos motores de busca Pubmed, SciencDirect, SciElO, Google Académico, B-
on. As palavras-chaves utilizadas foram: Temperature changes in obturation,
temperature damages in obturation, filling gutta-percha extrusion, gutta-percha
overfiling, warm obturation, leakage and endodontics, filling and endodontics,
thermoplastic techniques. A pesquisa foi limitada a artigos de revisão em Inglês,
Espanhol e Português, publicados desde o ano 1999 até ao ano de 2013.

2. Tratamento Endodôntico Não Cirúrgico

O tratamento endodôntico pode ser dividido em três fases: o acesso da cavidade


endodôntica, preparação biomecânica e a obturação dos canais radiculares. Estas fases
relacionam-se entre si, podendo a má execução de uma das etapas comprometer todo o
tratamento endodôntico (Teles, 2002).

2.1. Cavidade de Acesso

O planeamento do acesso é fundamental para o sucesso do tratamento endodôntico e


deve abranger o acesso à camara pulpar e ao canal. Ao analisar as informações obtidas
no planeamento será possível executar uma abertura coronária adequada ao dente em
tratamento e de acordo com as necessidades operatórias. Ao contrário aberturas

2
Obturação em Endodontia

coronárias não planeadas terminarão por causar iatrogenias que poderão dificultar e ou
impedir a concretização do tratamento endodôntico (Soares et al., 2001a).

Uma boa cavidade de acesso permite uma boa localização da entrada dos canais
radiculares, boa limpeza e conformação canalar, boa irrigação. Os objetivos da cavidade
de acesso são:

 Acesso direto ao sistema de canais radiculares, no máximo possível da sua


extensão
 Conservar o máximo de estrutura dentária para termos uma referência anatómica
duradoura e inalterável, mantendo assim o comprimento de trabalho durante
todo o tratamento endodôntico
 Remover todo o teto da camara pulpar
 Eliminar todo o conteúdo da camara pulpar
 Não afetar o solo da camara, evitando perfurações (Teles, 2002).

Segundo Walton (cit. in. Teles, 2002) todo o esforço e tempo despendidos durante a
preparação da cavidade de acesso iram facilitar as fases subsequentes do tratamento
endodôntico.

2.2. Preparação Biomecânica

O preparo biomecânico configura-se como uma das fases mais importantes no controlo
da infeção endodôntica, pois a ação de corte e remoção de tecidos pelos instrumentos,
associada ao fluxo do irrigante e à sua ação antimicrobiana, é capaz de alterar,
significativamente, a flora microbiana situada no canal radicular principal (Borin et al.,
2007, Zollner et al., 2007, Soares et al., Céser et al., cit in. Barbien et al, 2010).

A preparação biomecânica consiste na instrumentação e irrigação, proporcionando


limpeza e conformação do canal radicular, predispondo-o para uma obturação correta
(Teles, 2002).

3
Obturação em Endodontia

A ação dos instrumentos endodônticos, no entanto, ocorre somente no canal principal


não abrangendo o sistema de canais radiculares. Assim é de alta importância a utilização
de uma substancia química auxiliar durante o ato de instrumentação, para facilitar a
ação dos instrumentos e penetrando em todos os sistemas de canais. A circulação
hidráulica pelo interior do canal radicular, é concebida pela ação física do líquido
irrigante, arrastando as matérias orgânicas, bem como os restos de dentina. De todas as
soluções irrigantes, a solução de hipoclorito de sódio (5,25%) como irrigante químico
tem sido bem empregue mundialmente (Borin et al., 2007).

A completa desinfeção do sistema de canais radiculares é essencial para o sucesso do


tratamento endodôntico, sendo necessário a eliminação dos microrganismos e seus
produtos metabólicos pois são os responsáveis pelas doenças pulpares e periapiacais
(Pretel et al., 2011).

2.3. Obturação Endodôntica

2.3.1. Objetivos

A obturação do canal radicular assinala a ação complementar e expressiva da tríade


endodôntica, abertura coronária, limpeza/conformação dos canais e o selamento
endodôntico. Assim realça o conceito da importância de se eliminar os espaços vazios
deixados dentro dos canais (Raymundo et al., 2005)

Tecnicamente, os objetivos da obturação consistem em selar de forma hermética todo o


sistema de canais radiculares, com um material inerte ou antisséptico, oferecendo
repouso aos tecidos periapicais (Raymundo et al., 2005, Gil et al., 2009).

O sistema de canais radiculares apresenta uma anatomia interna muitíssimo complexa


que deve ser considerada com especial atenção durante o tratamento, uma vez que
estudos revelam existir uma enorme variedade de canais laterais acessórios, istmos,
nomeadamente no terço médio e apical da raiz (Karabucak et al., 2008).

Para o sucesso do tratamento endodôntico não cirúrgico (T.E.N.C.) é necessário a


eliminação completa de todos os detritos do sistema de canais radiculares, o selamento

4
Obturação em Endodontia

do sistema de canais radiculares com um material adequado (Borin et al., 2007,


Marques et al., 2011).

A ação dos instrumentos endodônticos, no entanto, ocorre somente no canal principal


não abrangendo todo o sistema de canais radiculares. Assim é de alta importância a
utilização de uma substancia química auxiliar durante o ato de instrumentação,
facilitando a instrumentação e a entrada no maior número de canais acessórios (Borin et
al., 2007).

No processo da preparação do canal radicular, a irrigação do mesmo é um elemento


essencial. Existem cinco benefícios principais para a utilização destas soluções
irrigadoras durante a limpeza do canal radicular (Sundqvist et al., 2004):

 Humedecimento das paredes do canal e remoção de resíduos pelo fluxo


 Eliminação de microrganismos
 Dissolução de matéria orgânica
 Remoção e amolecimento dentinário
 Limpeza das áreas inacessíveis pelos instrumentos mecânicos

No momento da obturação do sistema de canais radiculares devemos ter em atenção os


seguintes parâmetros:

 Impedir a existência de espaços vazios, que contribuem para manutenção duma


reação inflamatória persistente
 Impedir que bactérias ou seus produtos metabólicos, proliferem e agridam o
periápice
 Impedir que os líquidos tecidulares apicais penetrem no canal radicular
 Permitir a reparação das lesões periapicais previamente existentes
 Manter a assepsia dentro do sistema de canais radiculares (Teles, 2002).

Segundo alguns autores cerca de 60% dos insucessos endodônticos devem-se à


inadequada obturação do sistema de canais radiculares (Bueno et al., 2005, Ferreira et
al., 2006, Martins et al., 2011).

5
Obturação em Endodontia

A obturação do canal radicular, deverá promover o processo de reparo apical e


periapical. Para tal, os procedimentos mecânicos desta etapa deverão prever este
respeito pelos tecidos periapicais, sobretudo no que se refere à seleção do material
obturador. O objetivo da obturação endodôntica é selar todas as vias de entrada e saída
de possíveis infiltrações para o interior dos canais radiculares. Deve promover um
selamento apical hermético, que confine dentro dos canais qualquer eventual irritante
que não tendo sido removido durante a preparação biomecânica possa vir a ser a causa
de um insucesso endodôntico (Martins et al., 2011).

Para não irritar os tecidos periapicais todas as etapas da endodontia devem ser
realizadas cuidadosamente (Beger et al., 2002).

2.3.2. Cimentos Obturadores

A passagem de microrganismos pode ser facilitada devido a alterações dimensionais


que gerem sulcos e espaços ao longo da interface cimento/dentina ou cimento/gutta-
percha. A propriedade seladora de um cimento depende principalmente da sua
adesividade, solubilidade, resistência ao desgaste e estabilidade dimensional (Araújo et
al cit in. Marques et al., 2011).

Obturar o sistema de canais radiculares significa preenche-lo com um material


antisséptico ou inerte, que sele permanentemente e da forma mais hermética e
tridimensional possível, prevenindo a permanência de microrganismos nos tecidos
perirradiculares, e não interferindo no processo de reparação apical e periapical que
deve ocorrer após o tratamento endodôntico (Duarte et al., Leonardo et al., cit in.
Raymundo et al., 2005).

É essencial que o canal radicular após a obturação esteja bem selado, pois os fluidos
proeminentes dos tecidos periapicais podem induzir uma recontaminação dos canais
radiculares (Tanomaru et al., Castro et al., cit in. Marques et al., 2011).

Os cimentos endodônticos são utilizados com o intuito de eliminar a interface existente


entre os cones de gutta-percha e entre a gutta-percha e as paredes do canal radicular,

6
Obturação em Endodontia

tornando a obturação mais homogénea e diminuindo o risco de infiltração (Araújo et al.,


Almeida et al., cit in. Marques et al., 2011).

O cimento endodôntico tem como principal função impermeabilizar o sistema de canais


radiculares, manter coesa a massa obturadora para facilitar a adaptação da mesma à
superfície dentinária (Estrela et al.,2008).

Lacunas no selamento podem possibilitar que bactérias persistentes no interior dos


canais voltem a crescer e induzir lesões nos tecidos periapicais, como também oferecer
condições para contaminação dos canais por via anacorética (Roldi et al., 2010). À que
ter em atenção os canais laterais, acessórios e deltas apicais, que quando não são
preenchidos, podem perpetuar uma infeção, mesmo estando o canal principal
completamente obturado (Morgental et al., 2008).

Para Grossaman (cit in. Cohen et al., 2007), o cimento endodôntico ideal deveria conter
as seguintes propriedades:

 Promover boa adesividade entre ele e as paredes do canal após a presa


 Estabelecer um bom selamento hermético
 Possuir uma radiopacidade que possa ser vista na radiografia
 Possuir um pó fino, de maneira que possa se misturar facilmente com o líquido
 Não sofrer contração ao tomar presa
 Não colorar as estruturas dentárias
 Ser bacteriostático ou, pelo menos, não estimular o crescimento bacteriano
 Exibir tempo de presa razoável
 Ser insolúvel nos fluidos teciduais
 Ser biocompatível, ou seja, não irritante aos tecidos perirradiculares
 Ser solúvel em solvente comum caso seja necessário a remoção do material
obturador

Os cimentos endodônticos em função do seu componente principal são classificados em


diversas categorias: óxido de zinco e eugenol, cimentos com hidróxido de cálcio, à base
de ionômero de vidro e resinas (Johnson et al., 2007, Marques et al., 2011).

7
Obturação em Endodontia

Cimentos à base de óxido de zinco eugenol, têm tempo de presa longo, são
reabsorvíveis se houver extrusão para os tecidos perirradiculares, sofrem contração ao
tomar presa e solubilidade, selamento razoável, excelente plasticidade, dissolvem-se em
meio húmido. Apresentam a grande vantagem de ser antimicrobianos e a desvantagem
da solubilidade nos fluidos tecidulares e alguma toxicidade (Johnson et al., 2007.,
Freires et al., 2011).

O eugenol têm ainda uma desvantagem a inibição da reação de polimerização das


resinas, o que pode condicionar o tipo de restauração (Huang et al., 2004).

Os cimentos de hidróxido de cálcio foram desenvolvidos para estimular o selamento


biológico apical, portanto têm sido promovidos como tendo efeito terapêutico. Para
haver esta vantagem é necessário que ocorra a dissociação do hidróxido de cálcio em
iões CA++ e OH-, ou seja, pressupõe que o cimento se dissolva podendo criar espaços no
interior do canal obturado, facto que invalidaria o propósito do isolamento. São
biocompatíveis, tem ação antimicrobiana inicial, necessitam de pouco tempo de
trabalho, tem baixo custo e boa aderência à dentina (Teles, 2002., Johnson et al., 2007,
Freires et al., 2011).

Os cimentos à base de ionômero de vidro têm sido utilizados pela sua adesividade
dentinária, terem ação antimicrobiana, libertação e recarga de fluor, biocompatibilidade
e radiopacidade, como desvantagem o cimento ionômero de vidro apresenta dificuldade
na sua remoção, caso seja necessário o retratamento (Johnson et al., 2007, Freires et al.,
2011).

Segundo Silveira et al., (2007), os cimentos à base de resina demonstraram ter uma
maior união com a gutta-percha e com a dentina canalar, enquanto que os cimentos à
base de oxido de zinco eugenol, à base de ionômero de vidro ou hidróxido de cálcio,
apresentam ter uma união reduzida com a dentina e a gutta-percha.

Os cimentos resinosos têm como principal característica oferecer adesão e não conter
eugenol. As resinas epóxi são de presa lenta e com libertação de formaldeído assim que
endurece (De Moor et al., cit in. Cohen et al, 2007).

8
Obturação em Endodontia

As principais características dos cimentos resinosos são:

 Baixa contração e solubilidade


 Estabilidade dimensional aceitável
 Bom selamento e fluidez
 Boa capacidade de adesão às paredes dentinárias e a gutta-percha (Costa et al.,
2009).

2.3.3. Gutta-Percha

Bowman em 1867 introduziu a gutta-percha como material obturador de canais


radiculares (cit in Mayid et al., 2010).

A gutta-percha é um polímero que pode ser encontrado em duas formas cristalinas


distintas: alfa e beta. Na fase alfa é frágil à temperatura ambiente, mas quando aquecida
é pegajosa, aderente e altamente fluida. A temperatura de fusão é de 65ºC. Por outro
lado, quando está na fase beta, é estável e flexível à temperatura ambiente, mas quando
é aquecida é menos adesiva e fluida do que na fase alfa. A temperatura de fusão é 56ºC.
A desvantagem da fase alfa é a contração que o material sofre ao endurecer (Johnson et
al., 2007).

De acordo com Mayid et al., (2010), para se realizar a obturação dos canais radiculares
devem ser utilizados matérias em estado sólido (cones de gutta-percha). Os cones de
gutta-percha apresentam-se na forma cristalina beta. A fabricação dos cones de gutta-
percha segue as normas ISO (Organização Internacional de Standardização), onde
podem ser encontrados em vários calibres.

A gutta-percha apresenta na sua composição uma combinação de produtos,


nomeadamente 18,9 a 21,8% de gutta-percha, 56,1 a 75,3% de óxido de zinco, 1,5 a
17,3% de sulfato de bário entre outras. Para aperfeiçoar as suas propriedades físicas,
foram adicionadas ceras, resinas e sulfatos metálicos, que lhe conferem radiopacidade.

9
Obturação em Endodontia

O óxido de zinco concede rigidez e atividade antimicrobiana aos cones de gutta-percha


(Mayid et al., 2010).

Segundo Siqueira et al., (1999), as vantagens dos cones de gutta-percha como material
obturador são:

 Adaptam-se facilmente às irregularidades do canal quando utilizados em várias


técnicas de obturação
 São bem suportados pelos tecidos perirradiculares
 São radiopacos
 Podem ser facilmente plastificados por meios físicos e químicos, consoante as
modificações das técnicas
 Têm estabilidade dimensional
 Utilizados no limite coronário adequado da obturação do canal, não alteram a
cor da coroa do dente
 Podem ser removidos com facilidade do canal radicular

As desvantagens dos cones de gutta-percha como material obturador são:

 Tem pouca resistência mecânica, o que complica o seu uso em canais curvos e
atresiados
 Têm pequena adesividade, o que exige a complementação da obturação com
cimentos endodônticos
 Pode ser movido pela pressão, provocando sobreobturação durante os processos
de condensação.

A gutta-percha deve ser o principal constituinte em volume da parte sólida da obturação,


os cimentos endodônticos são usualmente aplicados para eliminar a interface existente
entra a gutta-percha e as paredes do canal. Os cimentos também preenchem lacunas e
irregularidades no canal principal, lateral e acessório, atua excluindo a interface entre os
cones de gutta-percha, tornando a obturação mais homogenia, quando aplicada a técnica
de condensação lateral (Johnson et al., 2007).

10
Obturação em Endodontia

2.3.4. Resilon

Recentemente, os sistemas de obturação à base de resinas foram introduzidos como uma


alternativa à gutta-percha. O Resilon (Pentron Clinical Technologies) consiste num
polímero à base de material termoplástico sintético, que foi desenvolvido no intuito de
criar uma camada adesiva entre o material obturador sólido e o cimento. É constituído
por vidro bioativo, oxicloreto de bismuto, sulfato de bário e materiais de preenchimento
radiopacos (Johnson et al., 2007, Anna-Júnior et al., 2009)

O Resilon tem propriedades físicas semelhantes à gutta-percha, manuseia-se da mesma


forma e para a sua remoção utiliza-se o calor ou solventes, tal como clorofórmio. Pode
ser aplicado, utilizando-se a compactação lateral, a compactação vertical com calor ou a
injeção termoplástica. Consiste num cone de resina, composto por poliéster, resina de
metacrilato disfuncional, cristais bioativos e materiais radiopacos, além de uma resina
cimentada. O Resilon não apresenta toxicidade, não é mutagénico e é biocompatível.
Apresenta comercialmente as mesmas apresentações que a gutta-percha: cones
calibrados, cones auxiliares, bastões para técnicas termoplásticas (Johnson et al., 2007).

As vantagens do resilon segundo Johnson et al., (2007):

 Não ser toxico

 Não é mutagénico

 Biocompatível

3. Técnicas de Obturação

Na atualidade, existem imensas técnicas para obturação dos canais radiculares, tendo
todas elas uma única intenção, o selamento hermético, de modo a eliminar qualquer
comunicação do meio externo com o espaço pulpar, podendo assim estimular uma
possível reparação biológica (Cavatoni et al., 2009).

11
Obturação em Endodontia

Segundo Estrela et al., (2008), o repouso dado aos tecidos periapicais por meio da
obturação favorece a osteogénese, a reinserção do ligamento periodontal, a reintegração
da lâmina dura e a formação de osteocemento.

3.1. Técnica de Condensação Lateral

A Condensação Lateral, concebida por Callahans, em 1914, é a técnica de obturação


mais conhecida e utilizada entre os profissionais. A predileção pelo seu uso deve-se à
sua simplicidade de execução e aos resultados que ela pode proporcionar. (Berger et al.,
2002, Carvalho et al., 2006).

Na Técnica de Condensação lateral, após a preparação do canal radicular é selecionado


um cone que será designado de cone principal, este cone terá um diâmetro igual ao da
lima mais grossa usada na extensão do comprimento de trabalho. Após a colocação do
cone principal, os condensadores laterais especialmente concebidos são colocados no
canal até a zona mais próxima possível do ápice, sendo posteriormente o cone principal
compactado lateralmente contra as paredes do canal. Quando o condensador lateral é
removido coloca-se o primeiro cone acessório no espaço deixado pelo condensador
lateral e compactado contra as paredes do canal radicular. Este procedimento será
repetido até que não seja possível colocar mais cones acessórios. O excesso de gutta-
percha é removido do orifício do canal com o auxílio de um instrumento aquecido, e a
compactação final da porção coronária é realizada com um condensador vertical. Este
procedimento é realizado até que o condensador atinga o terço cervical do canal
(Johnson et al., 2007).

Uma das vantagens desta técnica é o excelente controlo do comprimento endodôntico


(Martins et al., 2011).

No entanto esta técnica apresenta inúmeros inconvenientes, impossibilidade de obter


uma obturação tridimensional, não produz uma massa homogénea de material de
obturação, excessivo consumo de material, tempo despendido, selamento apical
deficiente e a má adaptação do material obturador às paredes dentinárias, espaços
vazios, risco de fratura radicular, fusão incompleta dos cones de gutta-percha e

12
Obturação em Endodontia

insuficiente adaptação à superfície canalar (Camões et al., 2007., Gençoglu et al., 2007.,
Martins et al., 2011).

A técnica de condensação lateral é a técnica mais utilizada, mas muitos autores


questionam a incapacidade de replicar a superfície interna do canal já que se observam
espaços vazios, provenientes das falhas na adaptação do material obturador à superfície
canalar (Ingle et al., Lee et al., cit in. Cavatoni et al., 2009).

3.2. Técnicas Termomecânicas

3.2.1. Técnica de Termocompactação de McSpadden

McSpadden, em 1980 (cit in. Martins et al., 2011) introduziu a técnica de


termocompactação da gutta-percha. O instrumento fundamental da técnica é um
instrumento de aço inoxidável e apresenta configuração semelhante a uma lima
Hedstroem, porém com as espiras invertidas, sendo chamado de termocompactador. Os
compactadores variam de calibre, sendo disponíveis desde o número 25 até ao número
140. Esta técnica visa a plastificação da gutta-percha pelo calor e a condensação da
mesma por intermédio de um instrumento semelhante a uma lima Hedstroem. Este
instrumento é montado em contra angulo e é através da rotação em sentido horário que a
gutta-percha por fricção é plastificada e condensada lateral e verticalmente (Gil et al.,
2009, Tavares et al., 2012).

A técnica consiste na adaptação do cone principal de gutta-percha no comprimento real


de trabalho (C.R.T.) que apresenta calibre uma ou duas vezes maior que o ultimo
instrumento utilizado no preparo químico-cirúrgico. O compactador deve apresentar o
mesmo diâmetro da maior lima utilizada e deve se ajustar 1,5 a 4mm do C.R.T. O cone
principal é levado ao interior do canal e o compactador é adaptado às paredes do canal
até deparar leve resistência, sendo nesse momento realizado o acionamento do contra
ângulo em sentido horário permanecendo em posição por 4 a 5 segundos a fim de
plastificar a gutta-percha Gil et al., 2009).

13
Obturação em Endodontia

Esta técnica que emprega compactadores termomecânicos, trouxe para a endodontia


uma alternativa nova e importante para obturação dos canais radiculares (Beger et al.,
2002).

A seleção pela escolha desta técnica aplica-se ao fato de ser uma técnica amplamente
divulgada, onde produz resultados satisfatórios em relação à melhor adaptação da gutta-
percha às paredes dentinárias e ao excelente selamento apical, além de depender de
aparelhos simples (Roldi et al., 2010).

Segundo Beger et al., (2002), está técnica apresenta como desvantagem:

 Não permitir um perfeito controle do limite apical da obturação, possibilitando


sobreobturação
 Risco de fratura do compactador
 Não existe sensação tátil sobre os procedimentos realizados
 Exige grande atenção para que o compactador não entre no canal em sentido
contrário, pois levaria a fratura

Contudo, esta técnica apresentou problemas como extrusão de gutta-percha além do


forâmen apical e ter um risco elevado de desgaste e fratura de compactadores, com a
desvantagem de produzir uma elevada temperatura podendo levar à lesão dos tecidos
vitais do periodonto (Lipski et al., 2005a).

3.2.2. Técnica Hibrida de Tagger

Desta forma, e para resolver esta lacuna, Tagger introduziu a Técnica Híbrida em 1984
que reúne a técnica de Condensação Lateral com o uso de termocompactadores. A
técnica tem como objetivo a obtenção de uma obturação tridimensional, sem o
indesejável extravasamento do material obturador (Tavares et al., 2012). Defenderam
também que a técnica combinava o melhor das duas anteriores. Um cone de GP
principal bem adaptado na porção apical que evitava o seu deslocamento durante a
condensação subsequente, atuando como barreira contra a sobreobturação da GP
plástica que por seu lado, possibilitava o preenchimento completo do interior do canal

14
Obturação em Endodontia

radicular. No entanto Tagger fez salientar de que esta técnica não é universal e não está
indicada para canais curvos (Martins et al., 2011).

Os passos para a realização desta técnica são:

 Remoção do excesso do cimento a nível da camara pulpar e do orifício da


entrada do canal, pois pode interferir com a compactação termomecânica, e deve
ser removido
 Introduzir o alargador para contra angulo, em rotação, na intimidade da
obturação. É introduzido o alargador até que a obturação ou as paredes do canal
ofereçam resistência
 O instrumento é removido em movimento
 Não usar por um período longo, senão trará uma grande quantidade de gutta-
percha plastificada (Beger et al., 2002).

3.2.3. J.S.Quickfill

J.S.Quickfill, é mais uma técnica de compactação termomecânica da gutta-percha. Este


sistema utiliza a gutta-percha na fase alfa revestindo um núcleo rotatório de titânio para
ser utilizado num aparelho de baixa rotação, não utiliza forno nem chama para o seu
aquecimento. A plastificação da gutta-percha será realizada pela fricção resultante da
rotação do sistema (Beger et al., 2002).

Os passos desta técnica são:

 Colocar o cimento nas paredes do canal


 Selecionar o “carrier” de titânio revestido de gutta-percha, de acordo com
anatomia do canal
 Introduzir o núcleo no canal, em movimento, até o comprimento de trabalho
 O núcleo de titânio pode ser mantido no canal ou removido
 Se permanecer dentro do canal é cortado com uma broca de cone invertido a
nível do orifício do canal e procedendo à condensação vertical com
compactadores a frio

15
Obturação em Endodontia

 Se for removido deverá ser retirado em movimentos de rotação, e


procedendo à condensação vertical da gutta-percha termoplástica (Berger et
al., 2002).

3.3. Técnicas Termoplásticas

As técnicas termoplásticas favorecem obturação tridimensional dos sistemas de canais


radiculares, sendo frequente a obturação de ramificações laterais e deltas apicais. São de
uma enorme valia em casos de reabsorções internas, lesões perirradiculares associadas a
canais laterais e de acidentes ocorridos durante a instrumentação que não foram
corrigidos como degraus e desvios (Roldi et al., 2010).

Segundo, (Rapisarda cit in. Cavatoni., 2009), as técnicas termoplásticas foram


introduzidas no mercado, com o objetivo de uma melhor homogeneidade, obturação
tridimensional e adaptação superficial da gutta-percha às paredes do canal radicular.

Desde o protótipo criado em 1977, os sistemas de termoplastificação de gutta-percha


têm sido aprimorados e comercializados. Estão indicadas nos casos em que o sistema de
canais radiculares possuem irregularidades em que a técnica de condensação lateral não
seria adequada para suprimir a necessidade do selamento apical ideal. Estas técnicas são
divididas em compactação termomecânica injetável (Obtura® II e Ultrafil® 3D) e não
injetável (Compactação vertical aquecida, System B®, Thermafil®) e sistemas Dual
(MicroSeal©) (Gil et al., 2009).

3.3.1. Compactação Vertical Aquecida (Schilder)

A compactação vertical aquecida foi introduzida por Schilder como método de


preenchimento tridimensional do espaço radicular. A forma de preparação para
aplicação desta técnica inclui a preparação do canal de forma cónica progressiva,
mantendo o menor diâmetro no forame apical e o maior diâmetro no orifício de entrada
do canal (Johnson et al., 2007).

16
Obturação em Endodontia

Esta técnica consiste em selecionar um cone não calibrado de gutta-percha, que não
alcança a longitude de trabalho no interior do canal, uma vez que deve ficar 1 a 2mm
acabando por atingir o ápice, após aquecido e condensado verticalmente (Teles, 2002).

À semelhança da técnica de condensação lateral o cimento é preparado e previamente


introduzido no canal radicular, com auxílio de uma lima limpa que tenha o calibre
equivalente ao da última lima utilizada durante a preparação do canal. Esta técnica
consiste na termoplastificação e condensação vertical de gutta-percha quer no sentido
apical quer no sentido lateral, favorecendo uma obturação tridimensional do sistema de
canais radiculares. Para remover os segmentos coronários e plastificar a gutta-percha é
utilizado um transportador de calor como o Touch’n Heat como mostra a figura nº 1. A
compactação apical e lateral da gutta-percha é realizada com o auxílio de um
condensador a frio (Teles,2002., Johnson et al., 2007).

Figura 1- Unidade de Aquecimento Touch´n Heat


(http://www.sybronendo.com/index/sybronendo-fill-touch-and-heat-5004-02. Acedido a
03/02/14).

Os procedimentos de aquecimento, remoção e compactação de novos segmentos de


gutta-percha são repetidos até que o canal fique totalmente preenchido (Johnson et al
2007).

17
Obturação em Endodontia

Uma das desvantagem desta técnica é o facto não haver controlo de material empregue
dentro do canal radicular, e consequentemente levar a um extravasamento para a zona
periapical, comprometendo a reparação tecidual (Teles, 2002).

Segundo Johnson et al., (2007), outra desvantagem que está técnica apresenta é a fratura
vertical da raiz.

A técnica de obturação parece não afetar a distribuição do cimento na parede do canal,


considerando a porção apical do mesmo, no entanto, a condensação lateral resulta numa
melhor distribuição nos terços médio e cervical, quando comparada com a compactação
vertical com gutta-percha aquecida (Wu et al., 2000).

3.3.2. System B – Sistema de Condensação em Ondas Contínuas

Em 1987, Buchanan, com o apoio da Analytic Technology começou o desenvolvimento


de uma técnica que viria a ser chamada de Continuous Wave of Condensation
Obturation Technique (obturação com onda contínua de condensação) (Tavares et al.,
2012).

Este sistema é formado por uma peça de mão na forma de um bastão, acoplado a um
gerador de calor como demonstra a figura 2 (Soares et al.,2001b).

Figura 2 - Unidade System B®


(http://www.sybronendo.com/index/sybronendo-fill-system-b-heat-source-02 acedido a
3/02/14).

18
Obturação em Endodontia

A técnica de compactação de ondas contínuas utiliza um condutor de calor elétrico,


unidade System B® e condensadores cónicos de aço inoxidável nº0,06, nº0,08, nº0,10 e
nº0,12, cada um com 0,5mm de diâmetro na ponta (Johnson et al., 2007).

O procedimento de obturação consiste em posicionar o cone principal com prévia


colocação de uma pequena quantidade de cimento endodôntico. De seguida introduz-se
o condensador selecionado no canal radicular e, ao mesmo tempo, pressiona-se o
interruptor localizado na peça de mão, o que eleva a temperatura do condensador até
aproximadamente 200ºC (Soares et al., 2001b).

Durante o procedimento de introdução do condensador aquecido, será produzido o


amolecimento e compactação da gutta-percha, que tende a fluir ocupando os espaços no
sistema de canais. Conseguida a profundidade desejada normalmente o terço apical, o
interruptor é desligado e o condensador arrefecerá imediatamente. Com o calcador frio,
sustenta-se a pressão nesse ponto durante 10 segundos. Após isso, aciona-se novamente
o interruptor, e o condensador aquecido separa-se da gutta-percha e será removido do
canal. Desta forma, será alcançada a obturação tridimensional da porção apical do canal,
radicular, ficando os terços médio e coronário desprovidos de obturação. Em
continuidade, os terços médio e cervical poderão ser obturados novamente com System
B® com outros cones de gutta-percha ou com técnicas de gutta-percha
termoplastificada injetável, como Obtura® II, Ultrafill® (Soares et al., 2001b, Beger et
al., 2002, Johnson et al., 2007).

Esta técnica promove um selamento tridimensional hermético da anatomia do sistema


de canais radiculares, com excelente controlo apical dos materiais obturadores (Lea et
al., 2005).

O System B® têm como intuito obturar a zona apical do canal radicular, selando
inclusivamente canais acessórios e ramificações de uma forma mais eficaz do que a
técnica de condensação lateral (Dulac et al., cit in. Teles, 2002).

Apesar de esta técnica ser bastante difundida pelos Endodontistas, ela apresenta falhas
de obturação durante a execução e possibilidade de formação de bolhas. O alto custo

19
Obturação em Endodontia

deste aparelho poderia justificar a escolha por outra técnica que pudesse garantir a
qualidade de um selamento hermético (Cohen et al., Haikel., cit in. Tavares et al., 2012).

Segundo alguns autores, a utilização dos pluggers, a 2-3mm do comprimento de


trabalho, poderá causar um aumento de stresse nas paredes do canal, aumentando assim
o risco de fratura (Angerame et al., 2012).

3.3.3. Sistema Thermafil®

Em 1978 Johnson apresentou um método simples de distribuição e aplicação da gutta-


percha termoplastificada (Méndez cit in. Mayid, 2010). Apresentou também um sistema
de obturação composto por limas de aço inoxidável revestidas por gutta-percha, onde
mais tarde viria a substitui as limas por uma estrutura de titânio e mais recentemente de
plástico, revestida por gutta-percha na fase alfa e iniciou a sua comercialização com a
designação de “ Thermafil®” (Teles, 2002).

Os canais para receberem esta obturação são preparados de forma cônica, com um
enorme alargamento cervical, uma vez que os carriers apresentam uma conicidade um
pouco maior do que os instrumentos endodônticos (Beger et al., 2002)

Segundo Martins et al (2011), o sistema Thermafil® consiste numa combinação única


de uma haste padronizada recoberta uniformemente com gutta-percha em fase alfa e
envolta num transportador.

Atualmente, os transportadores podem ser em aço inoxidável, em titânio ou plástico. O


núcleo do Thermafil® é constituído por uma haste flexível de 25mm com 04 de
conicidade feita em plástico, sendo esta biocompatível e radiopaca. A haste selecionada
é colocada num forno especial como demonstra a figura 3, Com um controle de
temperatura e tempo. O seu uso está indicado para as seguintes situações clinicas: raízes
finas, canais mesiais de molares inferiores, canais vestibulares de molares superiores,
obstruções intracanalares, canais longos, muito curvos ou calcificados, pré-molares com
mais do que um canal (Cavatoni et al., 2009, Martins et al., 2011).

20
Obturação em Endodontia

Figura 3 - Forno do Thermafil®


(http://www.qedendo.co.uk/acatalog/Thermaprep_Plus_Oven.html acedido a 04/02/14).

Segundo Johnson recomendou o uso de um cimento, uma lima de aço inox e gutta-
percha termoplastificada para obter a obturação tridimensional do canal radicular. O
autor argumentou que esta técnica eliminaria o uso de um cone principal, e não requeria
habilidades especiais que são necessárias em outras técnicas para a adaptação de cone
principal (Beger et al., 2002).

O sistema Thermafil® executa-se da seguinte forma:

 Ajuste do cursor, de acordo com o comprimento de trabalho


 Desinfeção do “carrier” com hipoclorito de sódio a 5,25%, de seguida com
álcool a 70% e secar numa superfície limpa
 Aquecimento da gutta-percha no forno durante 5 minutos ou de acordo com o
calibre do material
 Secar as paredes do canal, com cones de papel absorventes e pincelar com
Sealapex ou material recomendado pelo fabricante e leva-lo com auxílio de
instrumentos endodônticos até 0,5mm aquém do comprimento de trabalho
 Introdução do conjunto Thermafil® até 0.5mm aquém do comprimento de
trabalho, tomando como orientação as guias de comprimento que o “carrier”
apresenta próximo do cabo. A introdução deve ser com uma firme pressão apical
 Radiografia de controlo
 Remoção do cabo de “carrier” feita com uma broca de cone invertido, junto do
orifício de entrada do canal radicular, mantendo pressão apical no cabo

21
Obturação em Endodontia

 Compactação vertical através de condensadores com diâmetro compatível com a


anatomia do terço cervical do canal
 Selamento cavitário (Beger et al., 2002).

O sistema thermafil® tem como vantagens:

 Facilidade de aplicação
 Propriedades de maleabilidade da gutta-percha
 Rapidez de execução

Como desvantagens apresentadas pelo sistema Thermafil® são:

 Com o núcleo de metal procedimentos como a colocação de pinos


intracanalares e retratamentos do canal radicular são de difícil execução
 Verifica-se que a gutta-percha se remove frequentemente do condutor,
deixando-o como material obturador na porção apical do canal
 O contacto direto, sem presença de gutta-percha ou de cimento, do cone plástico
do obturador com as paredes do canal radicular, caso este fenómeno ocorra na
porção apical, pode comprometer o selar hermético do canal (Juhlin et al.,
Barkins et al cit in. Teles, 2002, Johnson et al., 2007).

Segundo alguns autores o sistema Thermafil® é superior em relação as suas


capacidades de adaptação, quando comparados com a condensação lateral (Dummer et
al., cit in. Deus et al., 2007),

3.3.4. Sistema Microseal©

O sistema Microseal© é um sistema de obturação dual, que emprega, simultaneamente,


cones de gutta-percha especial, de conicidade 0,02 ou 0,04 e gutta-percha
termoplastificada oriunda de um cartucho, que é acoplado a uma seringa e aquecido
num forno. Ambas as gutta-perchas dos cones e dos cartuchos são homogeneizadas, no
interior do canal, por meio de um compactador de níquel titânio como demonstra a
figura 4 (Soares et al., 2001b).

22
Obturação em Endodontia

Figura 4 - Forno com seringa Microseal©


(http://endodontiafob.wordpress.com/2009/05/20/sistema-microseal/. Acedido a
05/02/14).

As instruções para a utilização deste sistema são:

 Aplicação do cone principal de gutta-percha com o comprimento de trabalho


 Confirmação radiográfica da adaptação longitudinal do cone
 Preparação do cimento endodôntico e inserir no canal radicular
 Levar o cone principal até ao comprimento de trabalho
 Inserir o condensador ao lado do cone principal e depois remover o condensador
deixando uma forma cónica livre no canal
 Colocar a seringa com a capsula de gutta-percha de baixa fusão no forno e
depois impregnar o condensador de gutta-percha com a gutta-percha já
plastificada
 Levar o condensador ao canal introduzindo até próximo do comprimento de
trabalho, sem fazer qualquer movimento de rotação
 Aplicar rotação no condensador, numa velocidade de 5000-7000 rpm e remover
o condensador com rotação
 Tempo de rotação 2 segundos aproximadamente
 Introduzir um espaçador no canal, caso se verifique a necessidade de introduzir
mais gutta-percha plastificada
 Este procedimento será repetido por todos os canais (Beger et al., 2002).

23
Obturação em Endodontia

3.3.5. Sistema Obtura® II

O aquecimento da gutta-percha fora do dente e a sua consequente injeção dentro do


canal radicular é uma variação adicional das técnicas termoplásticas, como exemplos
temos os sistemas Obtura® II e Ultrafil®3D (Johnson et al., 2007).

Obtura® II consiste num aparelho similar de uma “ pistola” que contem uma camara
envolta por um elemento aquecedor dentro da qual, bastões de gutta-percha são
aplicados, agulhas de prata estão encaixadas para permitir a injeção do material
termoplastificado no canal radicular. A unidade de controlo permite ao profissional
ajustar a temperatura e consequentemente a viscosidade da gutta-percha como mostra
figura 5 (Johnson et al., 2007., Cavatoni et al., 2009).

Figura 5 - Unidade de controlo e pistola


(http://www.dentesse.ro/tehnologie. Acedido em 05/02/2014).

O sistema Obtura® II aquece a gutta-percha a 160ºC, enquanto o sistema Ultrafil® 3D


utiliza a gutta-percha a uma temperatura de 70ºC (Johnson et al., 2007).

Para a utilização deste sistema é necessário seguir os seguintes requisitos:

 A porção apical deverá ser a menor possível para prevenir a extrusão da gutta-
percha
 Secar as paredes do canal para poder receber o cimento endodôntico com o
auxílio da última lima usada na extensão de instrumentação

24
Obturação em Endodontia

 A gutta-percha é pré aquecida na “pistola” e a agulha é posicionada no canal


radicular de forma que penetre até 3 a 5mm aquém do preparo apical
 A gutta-percha é então injetada passiva e gradualmente, apertando-se o gatilho
da “pistola”
 A agulha vai ser projetada para fora do canal enquanto a porção apical é
preenchida
 São usados condensadores embebidos em álcool para compactar a gutta-percha
 A condensação deverá continuar enquanto a gutta-percha se apresentar plástica
(Beger et al., 2002., Johnson et al., 2007).

Este sistema apresenta como dificuldades a falta de controlo da extensão da obturação,


tanto a sobreobturação quanto a subobturação são achados comuns (Johnson et al.,
2007).

3.3.6. Sistema Ultrafil® 3D

O Ultrafil® 3D, é uma técnica de injeção termoplástica que envolve cânulas de gutta-
percha, uma unidade de aquecimento e uma seringa para a injeção (Johnson et al.,
2007).

Este sistema emprega tês tipos de cânulas que são comercializadas em branca, azul e
verde do mesmo calibre mas com diferentes escoamentos de gutta-percha como mostra
figura 6. A gutta-percha das cânulas branca e azul tem maior escoamento do que a verde
que todavia cristaliza com mais rapidez. As cânulas são colocadas no aquecedor a uma
temperatura de 70ºC, onde irá ocorrer a plastificação da gutta-percha. De seguida
aplica-se a cânula no extremo da pistola e fazendo pressão de forma intermitente sobre o
gatilho para que a gutta-percha possa fluir (Soares et al., 2001b., Johnson et al., 2007).

25
Obturação em Endodontia

Figura 6 - Aquecedor Ultrafil®, pistola e cânulas


(http://www.pattersondental.com/Supplies/ProductFamilyDetails/24130.
Acedido em 06/02/14).

É recomendável obturar e condensar a gutta-percha por terços. Finalizada a colocação


de gutta-percha, em cada terço, deve-se proceder à condensação vertical com
condensadores digitais ou manuais. Em ambos os sistemas descritos, antecedendo a
colocação da gutta-percha, é necessário colocar, junto às paredes do canal radicular,
uma pequena quantidade de cimento endodôntico. O Cimento utilizado nestas técnicas
deve ter uma certa fluidez para permitir o escoamento e não ser muito influenciado pela
temperatura (Soares et al., 2001b).

Como as demais técnicas de gutta-percha termoplastificada, mostra dificuldades


relativas ao controlo vertical da obturação e, portanto apresenta indicações específicas
para os casos em que haja uma boa constrição apical do canal (Beger et al., 2002).

4. Erros e Insucessos na Obturação

O sucesso do tratamento da lesão apical, está dependente da combinação da desinfeção


do canal radicular, através de meios químico-mecânicos, do selamento hermético do
mesmo através da obturação apical, do selamento intracoronário e restauração definitiva
a nível coronário com materiais que irão prevenir a reinfeção (Shipper et al., 2004).

Segundo Schilder (2006), deve ser feita uma distinção importante entre sobreobturação
subobturação, sobre extensão sub-extensão. Sobre-extensão e sub-extensão, referem-se
apenas à dimensão vertical da obturação do canal radicular além ou aquém do ápice
radicular. Subobturado refere-se a um dente, cujo sistema de canais radiculares foi

26
Obturação em Endodontia

inadequadamente obturado em qualquer dimensão, deixando grandes reservatórios para


recontaminação e infeção. Uma sobreobturação é aquela em que a obturação dos canais
radiculares foi executada adequadamente em toda a sua tridimensionalidade, onde
apenas uma pequena porção de material extraiu além do forâmen apical.

Para Abarca et al (2001), as falhas no tratamento endodôntico são atribuídas 60% à


incompleta obturação do sistema de canais radiculares.

Para outros autores, todavia a causa mais frequente dos consequentes fracassos que
surgem após a obturação tem a sua origem na inapropriada preparação dos sistemas de
canais radiculares (Lin et al., Buckey cit in. Teles, 2002).

A presença de lesão periapical indica falhas no tratamento endodôntico permitindo a


contaminação da região apical, seja por dificuldades do profissional em manter um
adequado preparo e obturação do canal, seja pela infiltração na região coronária por
demora na realização da respetiva restauração, ou ainda contaminação do remanescente
da obturação endodôntica após o alívio do canal na colocação da contenção intra-
radicular (Oliveira et al., cit in. Luckmann et al., 2013).

Podemos observar inúmeros fatores para o insucesso endodôntico. Instrumentação


inadequada, acidentes e complicações ocorridas durante o tratamento, presença de
biofilme bacteriano periapical, obturação e selamento inadequado dos sistemas de
canais radiculares, uso de materiais irritantes aos tecidos periapicais e restaurações
coronárias deficientes. Assim é referenciado que os insucessos endodônticos estão
associados, na grande parte dos casos, com manutenção da infeção intra-radicular, ou
infeções secundarias decorrentes de erros do tratamento endodôntico (Luckmann et al.,
2013).

Alguns autores (Brito-Junior et al., cit in Luckmann et al., 2013), observaram que a
obturação defeituosa foi o principal fator associado à etiologia do insucesso da
T.E.N.C., estando presente em 94% dos casos avaliados. Salientando que a deficiente
obturação está relacionada, geralmente com o fracasso da terapia empregada, devido à
ineficácia dos procedimentos de desinfeção dos canais radiculares, permitindo a
permanência de bactérias.

27
Obturação em Endodontia

Para (Taschieri et al., cit in. Luckmann et al., 2013), uma das possibilidades de
insucesso endodôntico era a falha da qualidade da obturação. Em todos os dentes
avaliados, os que permaneciam com lesão apical, tinham falhas de obturação. Essas
falhas no selamento permitem que ocorram infiltrações de microrganismos, que irão
promover a manutenção da lesão no periápice. Sendo destacado que as principais causas
dos insucessos dos tratamentos ocorreram, devido à ausência do selamento apical e
incorreta preparação da cavidade de acesso.

O sucesso do tratamento endodôntico depende da obturação mas também da correta


instrumentação e desinfeção do sistema de canais radiculares, de modo, a reduzir o
potencial a uma futura recolonização bacteriana (Sabeti et al., 2006).

A primeira barreira à entrada de bactérias no sistema de canais radiculares é o selamento


apical, entretanto, a perda do selamento coronário pode contribuir para a
recontaminação bacteriana, sendo deste modo igualmente responsável por um possível
insucesso endodôntico (Collins et al., 2006).

5. Avaliação da Capacidade de Obturação por Várias Técnicas

Num estudo de revisão contemporânea da obturação termoplástica comparou-se a


técnica de compactação termomecânica de McSpadden com a técnica hibrida de Tagger,
tendo-se concluído que a técnica termomecânica de McSpadden é de fácil e rápida
execução, consegue produzir uma obturação homogénea, utilizando menos material e a
adaptação da gutta-percha nos canais é melhor. A técnica hibrida de Tagger mostra ser
rápida e de fácil manuseamento, conseguindo uma obturação mais compacta e com
menor risco de extravasamento de material obturador. Como desvantagem foi atribuída
à técnica termomecânica de McSpadden maior corte de dentina, possibilidade de fratura
do compactador e sobreobturação (Gil et al., 2009).

Este estudo permitiu comparar a percentagem de área preenchida de gutta-percha pelas


técnicas Thermafil® e System B®. A Condensação Lateral foi usada como grupo
controlo. O grupo da técnica Thermafil® apresentou melhores resultados tanto a 4mm
como a 6mm do ápice radicular. Demonstrou uma massa mais homogénea e o cimento

28
Obturação em Endodontia

apresentava-se numa camada fina e distribuído uniformemente pelo canal radicular.


Encontraram espaços vazios, mas comparando com as outras técnicas eram muito
pequenos. A técnica de System B® evidenciou resultados superiores comparativamente
à técnica de Condensação Lateral, mas foram mais fracos comparativamente com a
técnica Thermafil®. Estas diferenças foram estaticamente significativas em todos os
aspetos. As técnicas Condensação Lateral e System B® demonstraram um défice de
preenchimento em canais radiculares ovais, tendo sido a técnica Thermafil® a única
eficiente no preenchimento dos canais radiculares (De-Deus et al., 2007).

Segundo Guttierrez, a técnica de condensação lateral não oferece um bom selamento


apical, apesar de radiograficamente mostrar o inverso (cit in. Berger et al., 2002).

O objetivo do estudo levado a cabo por Ozawa et al 2009, foi a comparação da técnica
CL com o sistema Thermafil® e de cone único. Em canais ovais, os autores concluíram
que as três metodologias alcançaram uma boa adaptação no preenchimento do terço
apical dos canais radiculares. Verificaram também que com a técnica de CL, os cones
acessórios raramente chegavam à porção apical do canal e mostraram uma condensação
variável nos terços médios e coronal. Já com o sistema Thermafil® os terços médios e
coronal foram preenchidos na quase totalidade do seu espaço.

Neste estudo o objetivo foi comparar a capacidade de preenchimento tridimensional dos


canais radiculares com diferentes técnicas, a condensação lateral, a compactação
termomecânica, a condensação de ondas contínuas e o Thermafil®. Os autores
concluíram que todas as técnicas termoplásticas alcançaram um melhor preenchimento
do que a técnica de condensação lateral. Constataram também que os dentes obturados
com a técnica de condensação lateral mostravam grandes áreas com espaços vazios,
tendo sido visível nos cortes o espaço criado pelo condensador, que é utilizado nesta
técnica (De-Deus et al., 2008).

Segundo Collins et al. (2006), o objetivo do estudo em questão era entender quais das
técnicas em estudo a Condensação Lateral, a Condensação Lateral Aquecida e a
Condensação de Ondas Continuas, conseguiam reproduzir melhor as irregularidades
criadas artificialmente nos canais radiculares. A Condensação Lateral não conseguiu
replicar nenhum dos defeitos criados, em comparação com as outras duas técnicas que

29
Obturação em Endodontia

conseguiram replicar pelo menos parte de todos os defeitos criados. As técnicas de


Condensação de Ondas Continuas como a de Condensação Lateral Aquecida
demonstraram um desempenho significativamente melhor do que a Condensação
Lateral. Estas duas últimas técnicas não apresentam diferenças significativas.

O objetivo deste estudo era comparar a efetividade de quatro técnicas obturadoras no


selamento de canais laterais confecionados artificialmente, através da análise
radiográfica. As técnicas estudadas são a Condensação Lateral, Thermafil®, Técnica
Hibrida de Tagger e Técnica de McSpadden. Os autores observaram nos resultados que
as técnicas termoplásticas evidenciam diferenças estatisticamente significativas na
obturação total dos canais laterais, sendo a técnica do Thermafil® superior às outras
duas técnicas. As técnicas Hibrida de Tagger e McSpadden são semelhantes entre si,
enquanto a técnica de Condensação lateral apresentou resultados inferiores no
preenchimento dos canais laterais. Conclui-se então que as técnicas que utilizam a
gutta-percha termoplastificada apresentam maior eficácia no selamento dos canais
laterais, sendo a técnica Thermafil® superior (Raymundo et al., 2005).

6. Avaliação da Infiltração Apical por Várias Técnicas

Diferentes métodos de análise da infiltração marginal apical têm sido utilizadas como a
penetração de corantes e ou clivagem, penetração bacteriana, análise da radiopacidade,
métodos eletroquímicos, e métodos de infiltração de fluidos (Cobankara et al., Onay et
al., cit in. Marques et al., 2011).

O estudo apresentado por Silveira et al., (2007), foi comparar a infiltração apical por
tintas entre a técnica System B e a técnica de Condensação Lateral a frio, utilizando a
gutta-percha e o resilon. Os resultados obtidos do estudo são apresentados na tabela
abaixo nº 1.

30
Obturação em Endodontia

Técnicas de
N Mínimo Máximo Médio
obturação
Condensação
Lateral com 25 0,43mm 3,38mm 1,28mm
gutta-percha
System B®
com gutta- 25 0,00mm 2,31mm 0,81mm
percha
System B®
25 0,00mm 2,23mm 0,76mm
com resilon
Condensação
Lateral com 25 0,00mm 1,90mm 0,77mm
resilon
Tabela 1 - Valores médios (mm) do teste de infiltração com corantes (Adaptado de
Silveira et al., 2007).

A técnica de Condensação Lateral com gutta-percha apresenta os valores mais elevados


de infiltração comparado com as outras técnicas, os valores apresentados são
estatisticamente significativos com (P=0,023).

A Condensação lateral com resilon foi a que demonstrou melhor desempenho, não
sendo a sua diferença estatisticamente significativa em comparação com a técnica
System B utilizando o resilon ou a gutta-percha (P>0,05). A média da infiltração apical
do corante é maior para a técnica de Condensação lateral com gutta-percha com valores
de 1,28mm, enquanto que a técnica de Condensação Lateral com Resilon apresentou um
valor médio é de 0,77mm.

O método de penetração de corantes e clivagem mostrou ser uma maneira eficaz e de


fácil execução para esta avaliação, embora não representem exatamente o que acontece
clinicamente, apresenta resultados que podem ser revelantes na escolha clinica dos
cimentos endodônticos (Marques et al.,2011).

31
Obturação em Endodontia

Gençoglu et al., (2002) realizaram um estudo onde o objetivo era comparar a infiltração
apical usando tintas nas técnicas da Condensação lateral, do System B, da técnica
Quick-Fill® e Thermafil®. Os resultados são apresentados na tabela abaixo nº 2.

Técnicas de
N Média
Obturação
Condensação
15 7,65mm
Lateral
System B® 15 5,30mm
Quick-Fill® 15 4,35mm
Thermafil® 15 3,80mm
Tabela 2 - Valores Médios (mm) do teste de infiltração com tintas
(Adaptado Gençoglu et al., 2002).

Tanto a técnica Quik-Fill® como a técnica Thermafil® têm significativamente menos


infiltração do que a técnica de Condensação lateral, (P<0,05). A técnica System B® é
inferior à técnica de Condensação Lateral, no entanto, a diferença apresentada não têm
significado estatístico, (P>0,05).

Bueno et al., (2005) realizou um estudo em que comparou o nível de infiltração apical
entre a técnica de Condensação Lateral a frio e a técnica System B®. O estudo foi
dividido em quatro grupos, o grupo um com a técnica o System B®, grupo dois com a
Condensação lateral a frio, grupo três controlo negativo e grupo quatro controlo
positivo. Os autores encontraram diferenças estatisticamente significativas de infiltração
apical com a técnica de Condensação lateral a frio e a técnica System B®. A técnica de
Condensação a frio apresentou um maior número de infiltração comparando com o
System B®.

Neste estudo o objetivo dos autores era comparar a infiltração apical da tinta-da-china
em dentes obturados com as técnicas de Condensação Lateral, Condensação Ultra
Sónica e System B®. Os resultados apresentados mostraram que houve uma maior
infiltração da tinta por parte da técnica de Condensação Lateral do que com a
Condensação Ultra Sónica. Tanto a técnica de condensação Lateral como a System B®

32
Obturação em Endodontia

apresentaram maior infiltração comparado com a Condensação Ultra Sónica (Mente et


al., 2007).

7. Preenchimento Canalar

O objetivo do presente estudo foi comparar a percentagem da área preenchida com


gutta-percha e o cimento selador. As técnicas utilizadas foram a Condensação lateral a
frio, a técnica System B®, a técnica Thermafil® e a técnica Quick-Fill®, estando na
tabela nº 3 abaixo apresentada os resultados obtidos (Gençoglu et al., 2002).

Distância do Ápex
Técnicas de
Média±dp 1mm 2mm 3mm 4mm
obturação
Condensação
81,21±0,87 73,99±21,57 82,66±13,14 86,26±1,12 81,85±2,19
Lateral

System B® 86,74±0,27 86,69±11,22 80,84±15,75 89,61±1,12 90,52±4,42

Thermafil® 98,85±2,96 99,8±0,60 99,25±2,56 98,50±4,10 97,83±6,31

Quick-Fill® 96,23±7,98 99,35±1,47 98,36±2,56 96,69±3,49 91,42±4,66

Tabela 3 - Valores Médios (%) do preenchimento canalar com gutta-percha com as 4


técnicas presentes no estudo. (Adaptado Gençoglu et al., 2002).

O estudo apresentou que as técnicas Thermafil® e Quick-Fill® apresentam maior


percentagem de preenchimento do canal com gutta-percha, comparado com as técnicas
System B® e Condensação Lateral, sendo os valores estatisticamente significativos
(P<0,05). A técnica de Condensação Lateral apresentou ser a técnica com menor
percentagem de preenchimento na relação gutta-percha/cimento selador. A
Condensação Lateral apesar de apresentar diferenças, com resultados inferiores à
técnica System B®, estas não são significativamente estatísticas nos cortes 2 e 3mm a
partir do ápice (Gençoglu et al., 2002).

O objetivo do estudo foi comparar a percentagem de preenchimento canalar com gutta-


percha e o cimento selador, com três técnicas de obturação, System B®, Condensação

33
Obturação em Endodontia

Lateral e Thermafil®. Os resultados são apresentados na tabela nº 4 abaixo (De-Deus et


al., 2008).

Técnica de Obturação N Área preenchida Média


Thermafil® 10 47,02/98,9 78,31±15,82
System B® 10 48,08/95,69 70,15±16,96
Condensação Lateral 10 45,88/82,61 68,15±10,98
Tabela 4 - Valores médios (%) do preenchimento canalar pelas três técnicas de
obturação. (Adaptado De-Deus et al., 2008).

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a técnica de


Condensação Lateral, a Técnica System B® e a técnica Thermafil®, (P>0,05).

8. Temperatura

Os métodos de obturações termoplásticas têm demonstrado causar um aumento de


temperatura na superfície radicular, podendo levar a alterações histológicas que ocorrem
dentro do cemento, ligamento periodontal e osso alveolar (Lipski et al 2004).

O aumento da temperatura em algum ponto da superfície radicular pode ser responsável


por um imediato ou futuro comprometimento das estruturas periodontais. Para que
possa ocorrer lesões nos tecidos periodontais através do aquecimento da superfície
radicular torna-se necessário o aumento da temperatura igual ou superior a 47ºC num
minuto (Roldi et al., 2010).

A gutta-percha é um ótimo isolador de modo que a temperatura transferida para a zona


apical é mínima. É comercializada em fase beta e passa a alfa quando aquecida à
temperatura de 46ºC-48ºC, passando posteriormente por uma fase amorfa de 56ºC-62ºC
(Sweatman et al., 2001).

Acredita-se que altas temperaturas possam lesar o ligamento periodontal, cemento e


osso alveolar. É geralmente aceite que um aumento de 10ºC acima da temperatura
corporal pode causar danos nas estruturas envolventes do dente (Sweatman et al 2001.,
Lipski et al., 2005a).

34
Obturação em Endodontia

No estudo de Roldi et al (2010), o objetivo do estudo foi avaliar a variação térmica nos
terços cervical e médio da superfície radicular externa durante a obturação pela técnica
de condensação termomecânica da gutta-percha. Os resultados apresentaram um
aumento significativo entre a temperatura inicial e final cerca de 2,98ºC, porém inferior
ao aumento considerado prejudicial à superfície externa da raiz.

O objetivo do presente estudo foi avaliar as alterações da temperatura radicular externa


em dentes que foram obturados pela técnica Thermafil®. Conclui-se que a esse nível, a
temperatura tinha aumentado não mais de 5ºC além da temperatura corporal normal
(Hosoya et al., 2000).

Lipski et al (2004), conferiu que o aumento da temperatura variava entre 4,26ºC para o
canal mesio-vestibular de molares superiores e para os incisivos superiores de 4.87ºC
para o sistema Thermafil®. Conclui que com este sistema não é de esperar danos nos
tecidos perriradiculares.

Neste estudo o objetivo era medir a temperatura na superfície radicular durante a


obturação com a técnica hibrida de Tagger em comparação com o sistema Microseal©.
Observou-se que após 10 segundos do início da técnica, no sistema Microseal© havia
um aumento de 4,7ºC além da temperatura corporal, enquanto que na técnica de Tagger
esse valor era 4 vezes maior. O aumento de temperatura gerada pelo sistema
Microsesal© fica abaixo do nível crítico enquanto a técnica hibrida de Tagger
apresentou um elevado aumento de temperatura, podendo causar danos nos tecidos
periodontais (Lipski et al., 2005a).

O uso não controlado da temperatura dos instrumentos aquecidos para plastificar a


gutta-percha pode levar a um aquecimento de 300ºC causando a sua degradação assim
como aumenta o risco de provocar danos nos tecidos perriradiculares (Bode et al., cit in
Maniglia-Ferreira et al., 2008).

Como medida preventiva de lesões perriradiculares aquando obturadas pelas técnicas


termoplásticas não se deve exceder o tempo de 15 segundos de manipulação
intrarradicular (Mente et al., 2007).

35
Obturação em Endodontia

O objetivo deste estudo era medir a temperatura radicular interna e a superfície radicular
externa, aquando obturados com System B® e Obtura®II. A temperatura mais alta
significativamente na superfície radicular interna foi de 74,19ºC a 6mm do
comprimento de trabalho e a menor temperatura atingida na superfície interna da raiz
foi de 2,09ºC a 0mm do comprimento de trabalho para a técnica System B®. Com a
técnica Obtura®II a temperatura mais elevada foi de 26,63ºC a 6mm, e a menor
temperatura atingida foi de 5,22ºC a 0mm. Deste modo o System B® mostrou ter um
menor aumento de temperatura a 0mm do comprimento de trabalho (Sweatman et al.,
2001).

Segundo Lipski et al., (2005b), num estudo onde o objetivo era avaliar o aumento da
temperatura na superfície radicular com a técnica System B®. Os resultados
apresentados neste estudo demonstram que a técnica System B® teve um aumento de
temperatura de 108ºC para os incisivos inferiores. Concluíram que a técnica System B®
produz alterações de temperatura na superfície externa aquando aplicada em dentes com
paredes relativamente finas.

Para o autor Dimitrov et al., (2009), o objetivo do estudo era investigar as mudanças de
temperatura na superfície radicular durante o tratamento endodôntico em função da
dentina. Demonstraram que durante a obturação com as técnicas termoplásticas é
necessário apenas 5 segundos de aquecimento continuo, para ocorrer aumento da
temperatura. Para prevenir e diminuir lesões decorrentes do excesso de temperatura, o
profissional deve executar as técnicas com máxima atenção possível, com a dosagem
exata do tempo de manipulação e arrefecimento da dentina.

De acordo com o estudo apresentado por Behnia et al., (2001) que consistiu em avaliar
as temperaturas das superfícies radiculares através do sistema Thermafil®, o aumento
médio de temperatura a partir da temperatura ambiente para as raízes mesiais foi de
4,26ºC, para as raízes disto vestibular foi de 4,76ºC, e para as raízes palatinas de 4,87ºC
e para as raízes anteriores 4,87ºC. Concluíram que as temperaturas apresentadas foram
inferiores ao nível considerado crítico de 10ºC.

36
Obturação em Endodontia

O autor Lipski et al., 2006, apresentou um estudo em que permitiu avaliar a mudança de
temperatura na superfície externa da raiz pelas técnicas termoplásticas. Foram usados os
incisivos centrais superiores e os incisivos centrais inferiores para o estudo, os dentes
foram obturados com o sistema Obtura® II a 160ºC. O estudo demonstrou haver um
aumento de temperatura de 8,5ºC e 22,1ºC. Os autores concluíram que a gutta-percha
aquecida a 160ºC para tratamento de incisivos centrais superiores não atinge o nível
critico, enquanto que, para os incisivos centrais inferiores resulta num aumento superior
a 10ºC.

O presente estudo teve como objetivo medir as transferências de calor para os tecidos
periodontais com a técnica de condensação de ondas contínuas. Os autores concluíram
que com 3 segundos apenas de ativação houve um aumento de temperatura que quase
chegou aos 47ºC. Realçaram que com a utilização da condensação de ondas contínuas
os clínicos devem ter em especial atenção o tempo para não ultrapassar os 3 segundos
(Zhou et al., 2010).

9. Extrusão Apical

Comparando o sistema Thermafil®, com o sistema System B® e com a técnica de


Condensação Lateral verificou-se neste estudo que o sistema Thermafil® apresentou
maior incidência de extrusão apical, onde a incidência apresentada foi em canais retos.
Sugere que a preparação quanto mais paralela for, maior a quantidade de gutta-percha
que extravasa para o ápice, e consequentemente maior risco de extrusão de material para
os tecidos perriradiculares (Robinson et al., 2004).

Neste presente estudo o objetivo foi comparar a qualidade da obturação dos canais
radiculares, entre a técnica de condensação Lateral e o sistema Thermafil®, dando
especial atenção para a extrusão apical. Constataram que ocorreu extrusão apical tanto
de gutta-percha como do cimento selador em todos os canais obturados pelo sistema
Thermafil® (Silva et al., 2002).

O objetivo deste estudo foi avaliar a importância do cone principal utilizando diferentes
técnicas de obturação. Concluíram que é fundamental uma correta seleção do cone
principal para evitar extrusão apical (Van et al., 2005).

37
Obturação em Endodontia

Segundo Keçeci et al., (2005), o sistema de obturação System B® demonstrou uma


enorme incidência de extrusão apical de cimento selador de 79,16%, mas não houve
extrusão da gutta-percha.

Yelton et al., (2007), constataram que quando a extrusão ocorre, os tecidos


perriradiculares toleram bem a gutta-percha, desde que o canal radicular tenha sido
corretamente limpo e selado, e não haja evidência pré-operatória de lesão periapical.
Contudo, mostrou que os melhores resultados são atingidos quando a obturação está
entre 0-2mm do comprimento de trabalho.

O objetivo deste estudo consistiu na comparação do selamento apical e extrusão pelas


técnicas de Condensação Lateral e o sistema Thermafil®. O estudo demonstrou que o
sistema Thermafil® tanto a nível de selamento como de extrusão é adequado e não
difere muito da condensação lateral como mostra tabela abaixo nº5.

Classificação Thermafil® Condensação Lateral


0 60 75
1 15 15
2 25 10
Tabela 5 - Incidência (%) extrusão apical de ambas as técnicas (Abarca et al., 2001).

A classificação 0 significa que não houve cimento nem gutta-percha no forame, no 1


cimento ou gutta-percha apenas no forame e no 2 o cimento e a gutta-percha além do
forame. Perante os resultados apresentados concluíram que o sistema Thermafil® é uma
alternativa satisfatória para substituir a Condensação Lateral principalmente em canais
curvos que apresentem grau de curvatura entre 20ºC e 40ºC (Abarca et al., 2001).

Segundo Schafer et al., (2002), concluiu que quase um quarto dos dentes obturados com
o sistema Thermafil® apresentava um grau de extrusão apical de gutta-percha associada
ou não ao cimento endodôntico.

38
Obturação em Endodontia

III. CONCLUSÃO

Nos últimos anos os profissionais têm vindo a observar e acompanhar um enorme


crescimento e evolução de toda a Endodontia.

Através do preenchimento hermético e tridimensional de todo o sistema de canais


radiculares, com um material inerte ou antisséptico, é evitada a recolonização bacteriana
de forma a estimular a reparação tecidual.

É importante o uso de cimento selador na obturação pois é essencial para uma boa
conexão entre o material obturador e as paredes dentinárias.

Devido às desvantagens apresentadas pela técnica de Condensação Lateral foram


criadas novas técnicas de obturação termoplásticas no âmbito de melhorar as lacunas
existentes pela técnica de Condensação Lateral e também melhorar as competências.

As técnicas termoplásticas foram introduzidas no mercado, com o objetivo de uma


melhor homogeneidade, obturação tridimensional e adaptação superficial da gutta-
percha às paredes do canal radicular

As técnicas termoplásticas favorecem obturação tridimensional dos sistemas de canais


radiculares, sendo frequente a obturação de ramificações laterais e deltas apicais. São de
uma enorme valia em casos de reabsorções internas, lesões perirradiculares associadas a
canais laterais e de acidentes ocorridos durante a instrumentação que não foram
corrigidos como degraus e desvios.

Estas novas técnicas, têm a vantagem de proporcionar um melhor selamento apical, uma
melhor obturação tridimensional, em que todos os canais radiculares são selados
hermeticamente, devido ao material ser facilmente introduzido até as irregularidades do
sistema de canais radiculares.

Nenhuma das técnicas de obturação estudadas consegue um selamento totalmente


hermético de forma a preencher por completo a infiltração canalar.

39
Obturação em Endodontia

As técnicas de obturação com aplicação de calor permitem obter resultados mais


lineares, exigindo contudo uma curva de aprendizagem maior quando comparada com
as técnicas de obturação a frio.

Contudo estas técnicas apresentam desvantagens como ferir o ligamento periodontal,


cemento e osso alveolar devido à temperatura que é dissipada pela dentina ao sistema de
canais radiculares e a elevada extrusão apical.

O profissional deve ter em conta alguns aspetos para que o tratamento endodôntico
tenha sucesso:

 Analisar a complexidade anatómica


 Grau de conservação de estrutura que cada técnica oferece
 A posição do dente na arcada
 O grau de abertura da cavidade oral
 Finalidade restauradora

Conclui-se então que o profissional têm que ter a consciência de que cada caso é um
caso e como tal necessita de uma avaliação criteriosa de forma a saber que técnica deve
escolher para a obturação dos canais radiculares. Mais estudos precisam ser realizados
para ser encontrados os sistemas de obturação ideal.

40
Obturação em Endodontia

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