Educação de Surdos

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Educação de surdos - A aquisição da linguagem (Ronice M.

Quadros)

Ao abordar a história da educação de surdos no Brasil, o autor identifica duas fases distintas e
uma terceira, que é a atual, caracterizada por um processo de transição. A primeira fase é
caracterizada pelo método de ensino oralista (Couto, 1988), cujos princípios ainda influenciam o
campo até o presente momento. O oralismo, em sua essência, busca promover a recuperação
das pessoas surdas, denominadas deficiências auditivas, através do uso da língua falada como
uma abordagem terapêutica. Lenzi (1995) analisa a linguagem sob a ótica inatista e apresenta
seu ponto de vista sobre o assunto: “(...) os surdos, como seres humanos que são, possuem,
também, essa capacidade, o que explica sua possibilidade de adquirir a língua falada em seu
país(...)”. Com base na prática do ensino em diversas cidades brasileiras, o autor ressalta em
seu texto que o oralismo tem se mostrado, e ainda se mostra, uma abordagem que não traz
resultados satisfatórios para o desenvolvimento da linguagem e da comunidade surda. Isso é
claramente exposto por Sacks (1990, p.45) “O oralismo e a supressão do Sinal resultaram
deterioração dramática das conquistas educacionais das crianças surdas e no grau de instrução
do surdo em geral. Percebemos que Sacks destaca um ponto crucial sobre as consequências
negativas do oralismo e da supressão da Língua de Sinais na educação de surdos. O oralismo,
que prioriza a fala em detrimento da Língua de Sinais, pode limitar o desenvolvimento completo
das habilidades linguísticas e cognitivas das crianças surdas. Ao ignorar ou reprimir a Língua de
Sinais, uma forma natural e eficiente de comunicação para surdos, o sistema educacional
comprometeu severamente o progresso acadêmico e o nível de instrução geral dos indivíduos
surdos. Esse impacto negativo sublinha a importância de métodos educacionais que reconheçam
e valorizem a Língua de Sinais, promovendo uma abordagem mais inclusiva e eficaz para o
aprendizado e o desenvolvimento das crianças surdas.
Na segunda fase o autor aborda o Bimodalismo, que permitia o uso da língua de sinais e a
oralidade ao mesmo tempo, em que os autores Duffy, 1997 e Ferreira Brito, 1990 descreve o
bimodalismo como “um sistema artificial considerado inadequado”, em que acredita ser ineficiente
para o ensino de língua portuguesa, pois as crianças com deficiência auditiva continuam com
atrasos tanto na leitura como na escrita e também no conhecimento de conteúdos escolares. A
partir dessas duas fases, delinear-se o bilinguismo, para que os leitores possam repensar sobre o
ensino para pessoas com deficiência auditiva. O autor descreve que o bilinguismo é “uma
proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas
no contexto escolar” ou seja, as crianças surdas são bilingues por terem o uso da língua de sinais
e a língua majoritária, em que Skliar et al. (1995) defendem que “o reconhecimento dos surdos
enquanto pessoas surdas e da comunidade linguística assegura o reconhecimento das línguas de
sinais dentro de um conceito mais geral do bilinguismo”. Visto isso, percebemos que o autor
enfatiza a importância de reconhecer os surdos como membros de uma comunidade linguística
distinta e valorizar a Língua de Sinais como uma língua legítima dentro de um contexto mais
amplo de bilinguismo, ou seja, ter o reconhecimento da Identidade Surda, pois faz necessário
reconhecer os surdos como uma comunidade cultural e linguística com uma identidade própria.
Isso implica respeitar e valorizar suas experiências, necessidades e formas de comunicação,
percebemos também valorização das Línguas de Sinais, isso implica que é fundamental vê a
LIBRAS como uma língua importante e válida, ao invés de vê-la apenas como uma "substituta"
para a língua falada, e por fim, Bilinguismo, indica que, dentro do conceito de bilinguismo, a
Língua de Sinais deve ser considerada ao lado da língua falada (como o português no Brasil). O
bilinguismo aqui se refere à habilidade e ao direito de surdos de usar ambas as línguas — a
Língua de Sinais e a língua escrita ou falada — como partes integradas de sua educação e
comunicação. Portanto, o Skliar defende que para garantir uma educação e um reconhecimento
justos e adequados para os surdos, é essencial considerar a Língua de Sinais como uma parte
legítima e fundamental do bilinguismo, respeitando a identidade cultural e linguística dos surdos.
Nesse mesmo aspecto, o autor Skutnabb-Kangas (1994) aborda alguns critérios: A Origem
(Aprendizagem de duas línguas dentro da família ou paralelamente para comunicação);
Identificação (a própria pessoa se identifica como bilingue); Competência (domínio de duas
línguas), Função (a pessoa pode usa ou pode usar duas línguas em variadas situações).
Segundo Ronice,” as línguas de sinais são sistemas linguísticos que passaram de geração em
geração de pessoas surdas. São línguas que não se derivaram das línguas orais, mas fluíram de
uma necessidade natural de comunicação entre pessoas que não utilizam o canal auditivo-oral,
mas o canal espaço-visual como modalidade linguística” em suma, o autor ressalta que a
singularidade das línguas de sinais, evidenciando que elas são sistemas linguísticos autênticos e
independentes que evoluíram de maneira própria entre pessoas surdas. Ao enfatizar que essas
línguas não derivam das línguas orais, a citação sublinha a adaptação natural e a inovação
comunicativa que surgem da necessidade de usar o canal espaço-visual em vez do auditivo-oral.
Isso demonstra a riqueza e a complexidade das línguas de sinais, refletindo a capacidade
humana de criar sistemas de comunicação adequados às suas condições e necessidades. Nesse
mesmo panorama, Ronice ressalta ainda que “As línguas de sinais apresentam o mesmo tipo de
princípios organizacionais e parâmetros que formam a gramatica das línguas”, sendo assim, as
línguas de sinais possuem princípios e estruturas gramaticais semelhantes aos das línguas
faladas. Ou seja, elas seguem regras organizacionais e parâmetros linguísticos próprios que são
tão complexos e organizados quanto os encontrados em línguas orais, as pessoas com
deficiência auditiva usam um sinal para se identificarem.
Por conseguinte, o autor aborda que “conhecer o desenvolvimento da linguagem e conhecer as
condições que se impõem ao processo de aquisição de uma segunda língua devem ser os pontos
de partida para qualquer profissional que objetive trabalhar com o ensino da língua portuguesa
para surdos” dessa maneira, a citação enfatiza a importância de compreender o desenvolvimento
da linguagem e as condições específicas que afetam a aquisição de uma segunda língua para
qualquer profissional que deseje ensinar português a surdos. Conhecer essas condições é
essencial para adaptar métodos e estratégias de ensino de maneira eficaz, garantindo que o
processo de aprendizagem seja acessível e adequado às necessidades dos alunos surdos.
As pesquisas sobre o aprendizado da linguagem estão intimamente ligadas às diversas
perspectivas sobre como a linguagem é adquirida, posto isso, a aquisição é dividida em três
abordagens: Abordagem comportamentalista, Abordagem linguística e a Abordagem
interacionista. A Abordagem Comportamentalista tem como principal teórico Skinner (1997). A
ideia central é o aprendizado da linguagem é visto como um processo de condicionamento e
reforço. De acordo com essa perspectiva, as crianças adquirem a linguagem por meio da
imitação, prática e feedback recebido do ambiente. As respostas linguísticas são incentivadas
positivamente, e os erros são ajustados, o que favorece a repetição das formas corretas de fala e
entendimento. Na segunda abordagem temos a AL, tendo como principal teórico Noam Chomsky,
a ideia central é que aquisição da linguagem é vista como um processo inato. Chomsky propôs a
teoria da "gramática universal", sugerindo que os seres humanos têm uma capacidade inata para
aprender a linguagem. De acordo com essa abordagem, todas as línguas compartilham uma
estrutura básica subjacente, e as crianças nascem com um conhecimento prévio de regras
gramaticais, o que lhes permite adquirir qualquer língua com a qual sejam expostas. E por fim,
temos a Abordagem Interacionista, como principal teórico Lev Vygotsky e Jerome Bruner. Nessa
abordagem, a ideia central é que a aquisição da linguagem é um processo que ocorre através da
interação social e do uso da linguagem em contextos comunicativos. De acordo com essa
perspectiva, as crianças desenvolvem a linguagem ao interagir com adultos e outras crianças,
que oferecem apoio e exemplos de como usar a língua. O foco está na relevância do ambiente
social e no papel comunicativo da linguagem no processo de aprendizado.

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