Analise de Evidencias Comportamentais
Analise de Evidencias Comportamentais
Analise de Evidencias Comportamentais
COMPORTAMENTAIS
(BEHAVIOR EVIDENCE
ANALYSIS) E
COMPORTAMENTO
CRIMINOSO
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7
UNIDADE I
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS.................................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
ANÁLISE, EVIDÊNCIA E INVESTIGAÇÃO...................................................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS E PADRÕES DE PRÁTICA DE ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS.............................................. 20
UNIDADE II
CIÊNCIAS SOCIAIS E ANÁLISE DE CRIME................................................................................................................................................................ 32
CAPÍTULO 1
TIPOS DE ANÁLISE DE CRIME........................................................................................................................................................................ 32
CAPÍTULO 2
ASPECTOS PRÁTICOS........................................................................................................................................................................................ 38
UNIDADE III
VITIMOLOGIA E ASPECTOS HISTÓRICOS................................................................................................................................................................. 42
CAPÍTULO 1
VITIMOLOGIA......................................................................................................................................................................................................... 42
CAPÍTULO 2
VITIMOLOGIA E ASPECTOS HISTÓRICOS................................................................................................................................................. 57
UNIDADE IV
CRIMES SEXUAIS, PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA FORENSE............................................................................................................................. 62
CAPÍTULO 1
ASPECTOS E CONTEXTOS CONCERNENTES AOS CRIMES SEXUAIS......................................................................................... 62
CAPÍTULO 2
PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA FORENSE COM EXEMPLOS DE CASOS......................................................................................... 69
CAPÍTULO 3
CRIAÇÃO DE PERFIS, PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA FORENSE........................................................................................................ 77
REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................................................... 83
APRESENTAÇÃO
Caro aluno
Conselho Editorial
4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.
5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
6
INTRODUÇÃO
7
Introdução
Objetivos
» Apresentar contextos gerais relacionados à BEA.
8
ANÁLISE DE
EVIDÊNCIAS UNIDADE I
COMPORTAMENTAIS
CAPÍTULO 1
Análise, evidência e investigação
Embora essa teoria forneça plataforma teórica sólida para interpretações de BEA,
suas considerações também se tornam importantes ao tentar entender e explicar a
durabilidade das características inferidas do infrator ou ao comparar as características
evidentes em vários casos em esforços de análise de ligação.
9
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
10
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
As conclusões da BEA devem ser o resultado da compreensão mais completa dos eventos
que cercam a prática do crime. Uma análise de cena de crime ou perfil criminoso no
estilo BEA não resultará em conclusão, a menos que existam evidências para apoiá-la.
Em vez de confiar em estatísticas médias (inexistentes/abstratas) de infratores, os
criadores de perfis BEA conduzem o exame detalhado de uma cena e de comportamentos
relacionados para determinar quais características são evidenciadas. Essa abordagem
requer mais trabalho, mais estudo e mais humildade do que outros métodos alternativos
de criação de perfil. Em geral, as informações usadas para desenvolver um perfil BEA
são extraídas, pelo menos, dos seguintes exames individuais: análise forense, vitimologia
forense e análise da cena do crime (TURKEY, 2012).
Uma análise forense completa é necessária para estabelecer os pontos fortes e os limites
das evidências físicas existentes. Essa demanda de limite garante a integridade do
comportamento e as características subsequentes da cena do crime, que serão analisadas
pelo criador de perfil do crime. Consequentemente, os comportamentos da vítima
e do agressor usados para criar um perfil devem ser estabelecidos a partir de fontes
confiáveis. A evidência comportamental não pode ser simplesmente presumida ou
inferida por aqueles sem educação, treinamento e experiência forense suficientes – ou
por aqueles com uma agenda. Isso significa compreender e aplicar o método científico
11
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Uma análise forense competente requer reconstrução informada do crime. Existem mais
do que alguns criadores de perfis criminais que sofrem de bloqueio metacognitivo
nessa área; eles acreditam que, em virtude de serem criadores de perfis de criminosos,
também estão, de alguma forma, qualificados para realizar a reconstrução do crime.
Mesmo com as melhores intenções, ainda segundo o autor supracitado, as interpretações
das evidências comportamentais resultantes tendem a variar do intelectualmente
incompleto ao totalmente incompetente. Se um criador de perfis criminais também
não for um cientista forense e não for devidamente educado e treinado em métodos
de reconstrução de crimes e seus limites, ele não deverá seguir seu próprio conselho
ao buscar compreender e integrar uma imagem do comportamento relacionado ao
crime, a partir das evidências físicas.
Vitimologia forense
12
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
» método de abordagem;
» método de ataque;
» método de controle;
» materiais usados;
Talvez o equívoco mais comum sobre o perfil do criminoso seja desejar obter resultado
estático e inflexível, não muito diferente de diagnóstico clínico. O resultado é então
presumivelmente aplicado a um crime ou a uma série de crimes e pode ser usado para
sugerir precisamente o policial. Isso é evidenciado pela crença persistente, embora
imprecisa, de que existe padrão, perfil psicológico ou comportamental médio que
descreva um típico assassino em série, um estuprador típico ou até mesmo uma
cena de crime típica. Essa visão clínica da definição de perfil considera os grupos de
comportamento do ofensor e as classificações penais subsequentes, como possíveis
transtornos de saúde mental, os quais podem ser diagnosticados com o propósito de
recomendar o tratamento ou delinear a causa. Será posição altamente desejável se
alguém for profissional de saúde mental (TURKEY, 2012).
14
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
Fase de investigação
15
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Fase de teste
Experiência de vida
17
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Embora cada exemplo represente 15 anos no que pode ser geralmente referido como
experiência de aplicação da lei, a natureza específica e a qualidade dessa experiência
são bastante variadas. A questão é que, antes de começarmos a aplicar a experiência
investigativa ou policial, ou aceitar as experiências de outra pessoa, como base para
nosso raciocínio, devemos ter compreensão da natureza precisa dessa experiência.
Posteriormente, o conhecimento obtido dessa experiência deverá ser medido, pesado e
aplicado de forma adequada, em vez de indiscriminadamente. Nem todas as experiências
são de igual qualidade ou medida, por mais semelhantes que possam parecer à primeira
vista (TURKEY, 2012).
O bom senso é melhor definido como bom julgamento nativo. Dito de outra forma,
refere-se ao conhecimento acumulado por um indivíduo; é útil, mas específico para
tomar decisões nos locais que frequenta. O bom senso, então, não é comum. O que é
socialmente aceitável, razoável e esperado nem sempre é transferido de um país para
18
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
outro, de um estado para outro, de uma cidade para outra, de um bairro para outro
ou mesmo de uma pessoa para outra. Portanto, usar nosso próprio senso comum,
nossos próprios olhos e nossas crenças para compreender o comportamento de outra
pessoa pode ser uma expedição ao absurdo. Supõe-se, incorretamente, que o ofensor
e o criador de perfil compartilhem percepção do que é bom senso, como se fossem
criaturas que habitam a mesma cultura. Por exemplo, na própria casa, é comum
remover o lixo e restos de comida para uma área externa à sala de estar. Isso faz todo
o sentido por razões de saúde e conforto. Contudo, se for acampar, essa mesma ação
fará menos sentido, pois, dependendo da localização, corre-se o risco muito real de
atrair predadores, alguns dos quais ameaçam a saúde ou a vida (TURKEY, 2012).
19
CAPÍTULO 2
Princípios e padrões de prática de
análise de evidências comportamentais
20
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
Motivo é o conceito que usamos para descrever as forças que agem sobre ou dentro de
uma pessoa para iniciar e direcionar o comportamento. Ninguém age sem motivação. Todo
Princípio da
comportamento tem causas e origens subjacentes. As origens podem ser conscientes ou
motivação
subconscientes, mas também podem ser o resultado de um raciocínio brilhante ou incompetente.
comportamental As decisões motivacionais, planejadas ou reacionárias, são fortemente influenciadas por
emoções, defeito mental, doença mental e uso de drogas e álcool.
O comportamento relacionado ao crime, como estupro e agressão, é “complexo e
multideterminado”, servindo a múltiplos objetivos e propósitos. Um único comportamento/
escolha/ação pode resultar de uma combinação de motivos. Considere um estuprador que opta
Princípio da
por trazer uma lanterna Mag-Lite pesada durante o cometimento do delito. Ela pode ter várias
multideterminação funções: fonte de luz, arma para ajudar a controlar a vítima, arma para punir a vítima ou para
inserção na boca, na vagina ou no reto da vítima em ato de substituição. Um comportamento, por
exemplo, o ato de trazer uma lanterna, tem várias funções para um único infrator.
Um infrator individual possui múltiplos motivos para cometer múltiplas ofensas ou mesmo para a
prática de uma única ofensa. Durante uma única ofensa, um estuprador em série pode evidenciar
variedade de comportamentos, como sádico, zangado e arrependido, mas então roubar a vítima
Princípio da para obter lucro. Em vários crimes, um assassinato em série pode estuprar uma vítima e depois
dinâmica esfaqueá-la até a morte para eliminar testemunha em potencial; um mês depois, pode sair do
motivacional seu caminho para atirar em um casal de homens estacionados e, em seguida, roubá-los, o que é
motivado pelo ódio contra homossexuais. Esse princípio deve impedir a classificação de infratores
específicos por causa de seus crimes conhecidos. Do ponto de vista investigativo e forense, ter
uma parte da imagem (crimes conhecidos) não é o mesmo que ter a imagem completa.
Os infratores diferentes podem invocar comportamento/escolha/ação igual ou semelhante por
motivos completamente diferentes. Por exemplo, alguns estupradores usam armas, mas nem
todos pelo mesmo motivo. Um agressor traz uma arma para proteção e não a mostra durante
Princípio o crime; outro agressor traz uma arma para obter e manter o controle sobre a vítima; e outro
da variação ainda precisa da arma como parte de uma fantasia, apontando a arma para a cabeça da vítima
comportamental durante o ato de estupro. Um comportamento, o ato de trazer uma arma, tem várias funções
para diferentes infratores. Esse princípio deve impedir que o criador de perfil presuma que um
comportamento sempre significará a mesma coisa. Uma arma nem sempre é um instrumento de
morte; um beijo nem sempre é um ato de intimidade.
Nem todos os resultados do comportamento são intencionais. As consequências nem sempre
são previstas. O julgamento pode ser prejudicado, a percepção pode ser alterada e acidentes
Princípio das
acontecem, por exemplo, as bombas podem explodir prematuramente ou não explodir; pode
consequências
ocorrer atolamento de armas; o objetivo pode ser pobre; o fogo pode queimar fora de controle
não intencionais ou extinguir-se rapidamente por falta de combustível. Isso deve impedir que o criador de perfil
presuma que a cena encontrada é a que foi planejada.
Refere-se ao fato de que as declarações das testemunhas não são inerentemente confiáveis
por uma variedade de razões. Primeiro, a memória não é um registro fixo de eventos. Ela muda
à medida que novas memórias são formadas. Também pode ser corrompida por “curva de
esquecimento”, foco da arma, identificação inter-racial, preconceito, sugestão, expectativa e
Princípio de tendência humana para “preencher as lacunas”. A memória também pode ser afetada pelo uso
corrupção de de substâncias que alteram a percepção, como drogas e álcool. Finalmente, as testemunhas
memória podem contar verdades parciais e mentiras por vários motivos, incluindo constrangimento.
Ademais, podem tentar ocultar seu envolvimento em um crime ou ocultar seu envolvimento
no crime em questão. Todas essas forças podem contribuir para corrupções conscientes e
subconscientes da memória, que devem impedir qualquer examinador forense de confiar em
uma única testemunha sem corroboração.
Os resultados dos exames forenses, incluindo perfis criminais, são tão confiáveis quanto as evidências
e o raciocínio subjacentes. O comportamento deve ser estabelecido de forma confiável. A lógica e o
Princípio da
raciocínio devem ser isentos de falácias. Se o comportamento foi assumido e não estabelecido ou se
confiabilidade a lógica tem falácias, o perfil é inválido. Esse princípio deve impedir o criador de perfil de presumir
fatos para fins de análise e de desconsiderar a lógica e o raciocínio falhos da análise.
Fonte: adaptada de Turkey, 2012, pp.129-132.
21
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Os examinadores forenses devem desejar que suas descobertas sejam precisas e seus
métodos, confiáveis. Os padrões de prática definem um limite mínimo de competência.
Eles também ajudam a definir a função de um profissional e delinear mecanismo
para demonstrar suas instalações. Eles são uma bússola para os praticantes e uma tela
contra a qual aqueles que se perderam podem ser atrasados e educados. Desse modo,
o objetivo de definir padrões de prática não é apenas ajudar os profissionais a atingir
nível de competência, mas também fornecer aos revisores independentes uma base
para verificar o trabalho que pretende ser competente. Os padrões de prática definem
o padrão e são uma proteção contra a ignorância, incapacidade e incompreensão
disfarçada de ciência e razão. Em um campo no qual o argumento mais comum tende
a ser o de que as conclusões são precisas simplesmente por causa dos anos de trabalho
do profissional, deve ser evidente a necessidade de fornecer padrões de prática.
22
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
forense é a lente imprecisa por meio da qual surge uma forma de entendimento.
Especificamente, existem pelo menos dois tipos de preconceito que devem ser
mitigados pelo examinador forense a fim de manter suas lentes profissionais
– preconceito do observador e viés de confirmação. O viés do observador
pode ser descrito como a tendência consciente ou inconsciente de ver ou
encontrar o que se espera ver ou encontrar. Em sentido prático, isso significa
que o examinador forense pode desenvolver expectativa de descobertas com
base nas informações e opiniões que aprendeu com a mídia popular, com
testemunhas e com opiniões e descobertas de outras pessoas. Essas influências
são particularmente insidiosas, porque, ao contrário da fraude aberta,
podem ser subconscientes. A menos que seja intencionalmente rastreado
ou reconhecido pelo examinador de alguma forma, as influências podem
empurrar ou arrastar as descobertas do examinador em uma direção específica.
O viés de confirmação pode ser descrito como a tendência consciente ou
inconsciente de afirmar teorias, opiniões ou descobertas anteriores. É um
tipo específico de viés do observador, no qual as informações e as evidências
são selecionadas para incluir aquelas coisas que confirmam uma posição
e para ignorar ativamente, não procurar ou subestimar a relevância de
qualquer coisa que contradiga essa posição. Geralmente, manifesta-se na
forma de procurar apenas tipos específicos de evidências que apoiem dada
teoria de caso (suspeita de culpa ou inocência) e expliquem ativamente as
evidências ou descobertas indesejáveis. Como afirmado anteriormente, pode
ser a seleção da evidência a ser examinada por pessoas que defendem uma
teoria específica ou por pessoas interessadas em “observar o orçamento”, de
modo que a evidência potencialmente justificativa não seja selecionada para
análise, porque isso custaria mais dinheiro ou exigiria muito tempo. Lutar
contra o viés de confirmação é extremamente difícil, muitas vezes porque
é institucional. Muitos examinadores forenses trabalham em sistemas nos
quais são recompensados com elogios e promoção por defenderem com
sucesso seu lado, mas a verdadeira ciência trata de qualquer situação para
além de defender com sucesso qualquer um dos lados. Consequentemente, a
maioria dos examinadores forenses que sofrem de viés de confirmação não
tem ideia do que é ou se é mesmo um problema. Embora essa diretriz seja útil
com relação ao bloqueio de material suspeito didático, os suspeitos podem
emergir naturalmente do conjunto de testemunhas do crime ou da cena do
crime. Esta é a informação que o criador de perfil deve ter. Em tais casos, a
adesão estrita aos padrões de prática, bem como aos princípios de pensamento
23
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
24
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
25
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Os criadores de perfil do crime devem, sempre que possível, visitar a cena do crime: é
altamente preferível que o criador de perfis criminais visite a cena do crime. A seguir,
estão exemplos de informação que pode ser aprendida:
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ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
suficiente para resolver os problemas em questão. Cada caso é diferente e deve ser
considerado separada e cuidadosamente em relação a esse assunto.
27
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
A análise da cena do crime e as conclusões do perfil do crime devem ser alcançadas com
o auxílio do método científico: o método científico exige que observações cuidadosas
das evidências sejam feitas e que hipóteses sejam geradas. Posteriormente, serão
testadas contra todas as evidências conhecidas e os fatos aceitos. Subsequentemente, o
criador de perfil do crime deverá fornecer não apenas conclusões, mas todas as outras
teorias postuladas que foram falsificadas por meio de exames, testes e experimentos.
A falsificação, não a validação, é a pedra angular do método científico. As teorias que
não foram submetidas a nenhum teste, ou que aparecem em um relatório ou testemunho
28
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
29
Unidade I | ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
30
ANÁLISE DE EVIDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS | Unidade I
criminoso. Embora o termo evoque noções típicas do analista policial sentado atrás de
um computador, extraindo tendências e links de crimes de um banco de dados, é uma
grande área que envolve muitos tipos diferentes de análise. Apesar desses critérios de
inclusão bastante amplos, este capítulo não discute todas as áreas de análise potencial,
mas examina, primeiro, as técnicas analíticas mais comumente chamadas de análise
de crime.
31
CIÊNCIAS SOCIAIS E
ANÁLISE DE CRIME UNIDADE II
CAPÍTULO 1
Tipos de análise de crime
32
Ciências Sociais E Análise De Crime | Unidade II
em sua totalidade. Qualquer um ou todos os tipos podem ser usados por uma agência,
mesmo no exame de incidentes únicos de crime.
Os analistas de pesquisa (ARs) ocupam o papel acadêmico mais tradicional, cuja função
é estar familiarizado com as pesquisas acadêmicas mais recentes, realizar estudos
longitudinais e servir como bibliotecários da agência. Ao mesmo tempo em que se mantêm
atualizados com as pesquisas mais recentes que refletem as boas práticas, os ARs devem
Análise de pesquisa
informar ao departamento que certas políticas ou procedimentos estão atrasados ou que a
teoria atual ultrapassou a prática atual. Infelizmente, embora conselhos oportunos possam
ser fornecidos sobre as melhores práticas, mesmo isso pode ficar rapidamente desatualizado
com o lento giro das rodas burocráticas.
É tarefa dos analistas estratégicos (SAs) examinar as tendências do crime, e elas podem
ser encontradas em agências que possuem abordagem baseada em dados para direcionar
recursos. Esses analistas podem estar envolvidos no exame de tendências de longo prazo
e de dados com o objetivo de fornecer resultados de longo prazo. Esses analistas fornecem
dados nomotéticos que se relacionam a grupos em vez de indivíduos. Os objetivos principais
dos SAs são: auxiliar na identificação e análise de problemas de longo prazo, como
atividade de drogas ou roubo de veículos, e estudar e avaliar respostas e procedimentos.
Análise estratégica
Os tipos de procedimentos examinados incluem implantação e pessoal, redistritamento
de beats ou distritos, entrada e integridade de dados e processo de relato. O resultado da
análise estratégica do crime pode terminar em uma apresentação de “mesa redonda” das
descobertas para os oficiais comandantes, as principais partes interessadas; em alguns
casos, para o público. Exemplos disso incluem o “compstat” do Departamento de Polícia da
Cidade de Nova York (PDs) e as reuniões de análise de crimes do Departamento de Polícia de
Boston.
Os analistas táticos (ATs) estão mais envolvidos na interpretação do que os dois tipos
anteriores de analistas. Sua tarefa é associar pessoas ou suspeitos a eventos, pessoas a
pessoas e eventos a eventos. Duas das funções específicas dos ATs são fornecer recursos
de vinculação de casos e usar modelos estatísticos complexos para determinar onde um
criminoso em série pode atacar em seguida. Os analistas devem possuir uma riqueza de
Análise tática conhecimento e uma memória espaçosa devido à quantidade de materiais de caso que devem
ser lidos e processados. O papel do TA é fornecer informações específicas sobre eventos
criminais, tais como método e ponto de entrada, ações suspeitas, tipo de vítima, tipo de arma
utilizada e outras particularidades do crime em si, por exemplo, dia, data, hora e local. Depois
de compiladas, essas informações serão disseminadas para os policiais de patrulha e as
agências de detetives.
Sugere-se que os analistas operacionais (OAs) sejam mais parecidos com os investigadores.
Devem conhecer o suspeito, acompanhar as pistas e interagir com outras unidades da
mesma agência e também com agências externas. Deve-se notar que os OAs podem ser civis
em algumas jurisdições e, como tal, suas capacidades investigativas podem ser limitadas.
Análise operacional
Na verdade, algumas jurisdições podem nem mesmo usar OAs. Outros ainda podem estar
contando mais com esse tipo de analista de crime em um esforço para difundir funções e
liberar outros investigadores para tarefas que exijam pessoal juramentado, como prisão e
interrogatório de suspeitos.
33
Unidade II | Ciências Sociais E Análise De Crime
Dependendo da jurisdição, um analista de crime (CA) pode ser um termo geral para
qualquer indivíduo, juramentado ou civil, que examina materiais de casos, dados de crimes,
tendências de crimes ou qualquer outro aspecto do crime com o objetivo de abordar questões
específicas. Em algumas jurisdições, uma CA incluiria alguém para vasculhar bancos de
Análise de crime dados de computador, como o Sistema de Análise e Ligação de Crimes Violentos, procurando
correspondências, e alguém para compilar informações sobre ameaças a funcionários
públicos em um esforço para determinar a veracidade dessas ameaças. O leitor deve estar
ciente de que o título e a distinção para vários tipos de analistas são ditados não apenas por
suas funções e responsabilidades, mas também pela jurisdição em que atuam.
34
Ciências Sociais E Análise De Crime | Unidade II
chamados de psicóticos. Embora esse método possa ser descrito como predominante
entre os grupos de aplicação da lei, o programa de certificação oferecido pela International
Criminal Investigative Analysis Fellowship (ICIAF) não abrange o maior grupo de criadores
de perfis em todo o mundo. Embora os números reais sejam difíceis de determinar, seu site
(http://www.iciaf.org) afirma que eles têm 37 substitutos em todo o mundo. Atualmente, não é
mais necessário ser um agente da lei juramentado para ingressar, com o ICIAF , ingressaram
vários civis na última década. Talvez em função de seu status quase de celebridade, o método
foi amplamente criticado.
Preocupado com o grau em que o FBI confiava na experiência pessoal e na intuição, David
Canter, psicólogo britânico, desenvolveu um método amplamente indutivo; em vez de se
basear na experiência pessoal, depende de pesquisas publicadas para determinar as
características do agressor. De acordo com o site do programa (http://www.i-psy.com, 2013),
a psicologia investigativa (IP) envolve a aplicação de princípios psicológicos a todos os
aspectos de análise, investigação e acusação de crime. Apesar desse amplo mandato, grande
Psicologia
parte do produto de trabalho publicado gira em torno da criação de perfis. De fato, a IP criou
investigativa seu próprio jornal no Journal of Investigative Psychology and Offender Profiling. Com base na
disciplina de psicologia, a base da teoria da PI é excepcionalmente ampla e, muitas vezes,
envolve o teste estatístico de teorias e suposições usadas no processo de criação de perfil.
Essa base inclui análise dos diferentes tipos de agressão; suposição de homologia; validade
da tipologia de criminoso organizado e desorganizado do FBI; e comportamento geográfico
dos infratores.
O perfil geográfico poderá ser considerado uma forma de perfil apenas à medida que
atender a um aspecto central da definição. O perfil envolve tentativas de determinar as
características do criminoso e o crime, e o perfil geográfico envolve tentativa de discernir
apenas um elemento: a localização física. Para fazer isso, um algoritmo matemático
complexo interpreta todos os aspectos relevantes do crime, como a hora e a data do crime;
Perfil geográfico a localização física; a ordem do crime na série; e, dependendo do programa, os estilos de
caça e ataque do agressor. Muitos programas diferentes, baseados em computador, existem
para esse propósito. Depois de todas essas informações serem inseridas no computador, o
resultado será geralmente restrição de intervalo em torno dos locais do crime considerados
mais importantes dentro do algoritmo (geralmente ditado por um círculo ou alguma outra
35
Unidade II | Ciências Sociais E Análise De Crime
O perfil do criminoso é uma forma específica de análise do crime que visa inferir as
características de um criminoso a partir das evidências físicas deixadas para trás. Embora
a análise do crime aplicada (AC) possa certamente mergulhar em uma série de supostas
características da mesma maneira, também é o termo usado para descrever um tipo
particular de análise que visa dar certo significado a conjunto específico de informações. Isso
pode incluir o seguinte:
» exame de comportamento para determinar as deficiências investigativas e legais no
julgamento;
» exame de comportamento para fornecer ao advogado um conjunto de questões
comportamentais relevantes para levantar durante o processo de apelação;
» compilação de cronograma para examinar a veracidade de uma série de declarações de
testemunhas de determinado evento;
» de um crime ou série de crimes para determinar se existe algum risco para a vítima ou
vítimas, bem como a origem desse risco;
» exame do comportamento de uma vítima ou série de vítimas para determinar as práticas
de intervenção e reduzir ou eliminar o comportamento (geralmente referido como
Análise de crime gerenciamento de ameaças);
aplicada
» exame de uma série potencial de crimes para determinar quais, se houver, são obras do(s)
mesmo(s) infrator(es); e
» exame de um crime ou uma série de crimes para determinar a motivação do(s) infrator(es)
ou a escalada ou diminuição do(s) motivo(s) do(s) infrator(es) ao longo do tempo.
Embora não seja uma lista exaustiva, certamente dá ideia suficiente quanto ao alcance
das análises que poderão ser realizadas pelo AC aplicado no exercício das suas funções,
independentemente da organização que as utiliza. Então, o que separa o AC aplicado de
todos os outros tipos discutidos anteriormente, se houver alguma coisa? A análise de crime
aplicada refere-se ao processo de identificação, comparação, interpretação e relato dos
resultados do estudo ideográfico de um único caso; o objetivo é fornecer compreensão
holística de um crime ou uma série de crimes. Dado o escopo de seu envolvimento potencial
conforme discutido, pode-se dizer que as ACs aplicadas são um amálgama dos tipos
discutidos no início deste capítulo. Devem possuir o conhecimento acadêmico da AR e atuar
como bibliotecários para aqueles que buscam seus serviços. Eles devem saber sobre as
tendências do crime e o que constitui pico versus onda de crimes. Eles devem ser capazes de,
como o AT pode, associar várias pessoas a lugares e a outras pessoas em qualquer evento
criminal, independentemente do tipo de crime. As investigações do OA devem ser de segunda
36
Ciências Sociais E Análise De Crime | Unidade II
37
CAPÍTULO 2
Aspectos práticos
Mesmo questões específicas podem exigir análise completa da situação para fornecer
cenário que vise à resolução de consultas específicas de casos. Embora alguns possam
caber na competência do analista de crime aplicado, eles não serão discutidos aqui.
Certos crimes não serão de prevalência suficiente para exigir o envolvimento de um AC
nem sua escala justificará o custo financeiro ou logístico. Os roubos de baixo valor são
apenas um exemplo. Outras áreas, como o crime do colarinho branco, embora sejam
áreas importantes de interesse criminológico, também não serão discutidas mais adiante.
Devido à natureza dessa ofensa, qualquer exame desse tipo de atividade provavelmente
será realizado por contadores forenses ou uma variedade de analistas de negócios.
É com base na experiência do autor que a análise de crime é aplicada de modo mais
adequado para crimes violentos e interpessoais repletos de informações de muitas
fontes, como vítima, testemunhas, provas documentais, físicas etc. (PETHERICK, 2014).
Como tal, a discussão que vem se limita a essas áreas, com algumas exceções. Observe
na Tabela 3 que há sobreposição entre muitas áreas, de modo que a análise de uma
questão criminal pode vir a ser usada em uma questão civil envolvendo prevenção de
crime, avaliação de risco ou ambos:
Tabela 3. Prevenção de crime, avaliação de risco ou ambos.
Um crime é geralmente definido como qualquer ato ou omissão que constitua violação da lei,
de modo que será punível. A gama de possíveis ofensas é considerável e variará, em parte,
Casos criminais
com o tempo e o local. Por exemplo, o termo “regra prática” é referência ao espancamento
permissível de uma esposa pelo marido, contanto que o interruptor (bastão ou outro objeto
38
Ciências Sociais E Análise De Crime | Unidade II
semelhante) não fosse mais grosso do que seu polegar. Embora isso possa ter sido permitido
há centenas de anos, a maioria das nações ocidentais e desenvolvidas consideraria isso forma
de violência doméstica hoje, e o crime seria punível por lei. Antes de 1990, o stalking como
crime não era reconhecido, embora as leis “anti-stalking” tenham se espalhado rapidamente
nos Estados Unidos, na Austrália e em muitos outros países depois dessa época. Como
resultado, o que é permitido hoje pode ser ofensa amanhã, e a paisagem mudará com o passar
do tempo. Em geral, certos crimes, como assassinato e agressão sexual, serão contra a lei.
Deve-se notar, entretanto, que há exceções a essa regra geral. Por exemplo, em muitos países
do Oriente Médio, as mortes por honra ainda são permitidas quando os perpetradores do sexo
masculino matam membros femininos da família ou esposas por indiscrições, muitas vezes
tão menores quanto usar o tipo errado de roupa. De acordo com a lei jordaniana, o artigo 340
isenta o homem da pena se ele matar sua esposa ou parente após a descoberta de adultério;
o artigo 98 permite uma pena reduzida se ele cometer o crime com fúria, desde que a vítima
tenha se envolvido em atos ilícitos ou perigosos (O site http://www.change.org tem uma petição
internacional contra essas leis). No Irã, o artigo 630 permite que o marido mate a esposa caso
suspeite de adultério. Além disso, o que é crime em um contexto ou uma situação pode ser
desculpado pelo direito penal em outro contexto. O homicídio, a morte de uma pessoa por
outra, pode ser assassinato intencional e sem desculpa legal ou pode ser legítima defesa,
desde que a resposta seja proporcional à ameaça e ao indivíduo temido por sua segurança ou
a segurança de outro. O ponto aqui é simples: as leis mudam com o tempo e o lugar, e o assunto
da análise provavelmente também mudará com o tempo e entre os lugares. No entanto, alguns
exemplos de crimes que podem ser analisados incluem perseguição (por exemplo, gestão de
ameaças, avaliação de risco, criação de perfil, vitimologia), homicídio (por exemplo, intenção,
planejamento, criação de perfil, avaliação de risco, autodefesa e provocação) e agressão sexual
(por exemplo, avaliação de risco, gerenciamento de ameaças, vitimologia, criação de perfis).
Os casos civis giram em torno de relações privadas, como dívidas, multas não pagas, danos
e perdas, discriminação, arrendamento, divórcio, custódia e várias questões de relações de
trabalho. Dois desses exemplos dos arquivos dos autores envolvem caixas de banco que
processaram suas respectivas instituições financeiras por trauma psicológico em decorrência
de repetidos assaltos à mão armada. Após cada evento, houve uma falha em informar
adequadamente a equipe e, subsequentemente, em aumentar a segurança física para
Processos cíveis impedir eventos futuros. Esses casos envolveram avaliação de prevenção de crime do local,
entrevista com os clientes, o que incorporou avaliação psicológica separada indicando trauma
psicológico, e exame da literatura para prevenir roubos a banco (incluindo, por exemplo,
treinamento, resposta da equipe durante eventos, a disposição física do ambiente, emprego
de guardas de segurança). Em outro tipo de avaliação civil, o analista determinará o grau de
responsabilidade de um licenciado, gerente ou proprietário por danos ocorridos a clientes ou
terceiros que utilizem suas instalações. Isso é chamado de responsabilidade de premissas.
A responsabilidade das instalações é a responsabilidade civil incorrida pelos proprietários,
os quais têm relação especial com seus clientes, locatários e clientes, não fornecendo
segurança razoável e adequada. Pode envolver questões criminais, em que a ação civil
decorra de processo por dano ou morte; pode, por sua vez, ser usada para alavancar a ação
civil. Tem havido aumento no uso de segurança privada para controlar as instâncias de crime
e incivilidade como resultado do fracasso da aplicação da lei estadual em produzir o mesmo
resultado, proporcionando a aplicação da linha de frente do comportamento antissocial,
especialmente em áreas regularmente utilizadas pelo público, como shoppings, distritos de
Responsabilidade entretenimento, boates e, em alguns locais, escolas e universidades. Subsequentemente,
das instalações há aumento nas reivindicações de responsabilidade das vítimas por danos causados em
decorrência de atos criminosos. Dado o foco dos analistas aplicado sobre o crime e a
criminalidade, faz sentido que sua função possa ser ampliada para incluir as perdas e danos
que resultem do comportamento criminoso. Desse modo, eles poderão relatar ou testemunhar
os danos decorrentes do crime. Geralmente, há duas questões principais envolvidas na
avaliação da responsabilidade das instalações:
» O primeiro problema é a previsibilidade; previsibilidade está relacionada à capacidade
de prever a probabilidade de que algo ocorrerá. Diferente da previsão concreta, a
previsibilidade realmente trata de determinar se um evento era, ou não, mais provável.
39
Unidade II | Ciências Sociais E Análise De Crime
» A segunda questão é a terribilidade. Se uma ofensa era previsível, a segunda questão será:
“Esse evento teria sido ruim se os mecanismos apropriados tivessem sido usados?”.
Existem dois componentes específicos de terribilidade:
» O primeiro componente é a dissuasão geral e busca estabelecer se os infratores desse
tipo de crime (ou qualquer tipo de crime) seriam dissuadidos se medidas fossem
implementadas. Os guardas de segurança privada são um exemplo de dissuasão geral.
» O segundo componente é a dissuasão específica; esse criminoso em particular, nesse
ambiente particular, teria sido dissuadido de cometer esse crime em particular? A
dissuasão específica justifica exame detalhado do caso e de todas as suas peculiaridades.
Isso envolve avaliação de psicopatologia, vitimologia, motivação do infrator, ambiente
físico, natureza da área (por exemplo, comercial, industrial, residencial) e tipos de crime
comuns nessa área. Isso é crítico, pois a dissuasão específica não pode ser assumida
automaticamente em relação à dissuasão geral. Por exemplo, um guarda de segurança
estático é um impedimento geral para assaltos a bancos porque isso efetivamente fortalece
o alvo e aumenta o risco do crime (Instituto Australiano de Criminologia). No entanto, um
guarda estático desarmado pode ser visto como pequeno inconveniente para um grupo
de ladrões fortemente armados, que estão bem preparados e sabem que determinada
instituição tem grande reserva de dinheiro no momento do ataque pretendido. A dissuasão
específica, nesse caso, pode não ser alcançada se a única medida for a segurança privada
solitária.
A avaliação de risco tem sido historicamente praticada por psicólogos forenses e psiquiatras,
embora isso esteja mudando cada vez mais. Hoje, policiais, conselheiros de drogas e álcool,
Avaliação de risco educadores, investigadores fiscais, funcionários dos correios, criminologistas e muitos outros
estão conduzindo avaliações de risco. “Risco” é um termo nebuloso, e as práticas atuais
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Ciências Sociais E Análise De Crime | Unidade II
Por razões óbvias, qualquer identificação de psicopatologia deve ser limitada àqueles com
formação em psicologia e outras áreas da saúde mental. No entanto, se um caso não foi
avaliado anteriormente, e o analista aplicado está realizando o primeiro exame sério, ou se
a evidência de psicopatologia foi previamente negligenciada ou perdida, o analista poderá
estar em melhor posição para identificar não apenas a evidência de disfunção, mas também
o que isso pode indicar. Se identificadas, as informações podem ser repassadas para análises
e diagnósticos adicionais e mais completos por pessoa devidamente qualificada. Evidências
de psicopatologia podem fornecer informações essenciais para o desfecho de um caso. Essa
Avaliação da psicopatologia inclui toda a gama de transtornos psicóticos, tanto orgânicos quanto induzidos
psicopatologia por drogas; os transtornos de personalidade, particularmente o Eixo II, Grupo B; e qualquer
outra condição psicológica que possa afetar o comportamento e a cognição. Sempre que
possível, essa avaliação deverá ser realizada no(s) agressor(es) e na(s) vítima(s) para fornecer
imagem completa. Em um dos casos do autor, o indivíduo que acabou se tornando vítima de
homicídio havia sido previamente diagnosticado com transtorno de personalidade antissocial
e transtorno de personalidade limítrofe, com características de personalidade histriônica e
psicose induzida por drogas. Esses fatores combinados, por um longo tempo, com extenso
histórico de conflito com parceiros interpessoais, resultaram em caso de homicídio explosivo
com seu então parceiro, em 2009, o que resultou em sua morte.
Em resumo, Petherick (2014) informa que “analista de crime” é um termo geral usado
para descrever variedade de indivíduos envolvidos em vários e diferentes estágios da
investigação do crime e de problemas relacionados ao crime. “Análise de crime” é um
termo abrangente usado para descrever vários tipos de análise, incluindo:
» análise de inteligência;
» análise de pesquisa; e
» análise estratégica.
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VITIMOLOGIA
E ASPECTOS UNIDADE III
HISTÓRICOS
CAPÍTULO 1
Vitimologia
Definição de vitimologia
A vitimologia, de acordo com Petherick e Ferguson (2014), é uma especialidade que
existe dentro do campo geral da criminologia e é definida como o estudo científico dos
danos físicos, emocionais e financeiros que as pessoas sofrem por causa de atividades
ilegais. Em geral, os vitimologistas pertencem a um dos três subgrupos principais:
vitimologia geral, vitimologia interacionista e vitimologia crítica.
Vitimologia geral refere-se ao estudo mais amplo daqueles que sofreram danos ou
perdas, como resultado de crime, acidente de trânsito, desastre ou qualquer outra causa.
Os vitimologistas gerais identificam e desenvolvem medidas e ferramentas preventivas
para as vítimas, bem como enfocam os remédios e as causas. Os vitimologistas
interacionistas (também conhecidos como vitimologistas penais ou positivistas)
preocupam-se, principalmente, com as interações entre a vítima e o agressor. Na
verdade, muito do trabalho inicial de vitimologistas, como Mendelsohn, advogado
romeno; von Hentig, advogado alemão; e Schaefer, advogado húngaro, fala sobre
a interação entre a vítima e o agressor e os níveis de culpabilidade que podem estar
associados à relação entre os dois (PETHERICK; FERGUSON, 2014).
A violência pode ser evitada e superada. Entretanto, enfrentar de forma eficaz esse mal
tão devastador e cheio de complexidade demanda ações multidisciplinares alinhadas e
comprometidas com os mesmos objetivos. Assim, é essencial o empenho de entidades
públicas, educacionais e organizações da sociedade civil na prática de políticas públicas,
programas, planos e ações de prevenção. Devem ter o objetivo de combater as causas,
intervindo nos aspectos que geram e contribuem para o aumento de acontecimentos
dessa natureza.
Ações sociais só apresentam eficácia na vida do indivíduo quando trabalham em seus
diferentes aspectos de forma simultânea. Dito isso, é imprescindível atuar em unidade
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
com vários setores para tentar criar padrão de proteção total, levando justiça social e
estabelecendo a cultura de paz. Paralelamente a isso, é fundamental intensificar esforços
com o objetivo de empreender ações e operações sociais que fomentem o alinhamento
entre ações de cunho governamental e não governamental, evitando a desintegração
de forças. Para a eficácia das medidas preventivas, é de extrema necessidade a atuação
em todos os âmbitos: regional, nacional e global. No que diz respeito ao âmbito
regional, são indicadas as ações coletivas, abrangendo setores da educação, da saúde e
da assistência social, organizações sem fins lucrativos, associações formais e informais
e líderes de comunidades, entre outros, formando parcerias sólidas.
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
Acerca desse assunto, Petherick e Ferguson (2014) trazem uma série de definições que
são fundamentais para nossos estudos:
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
série de fatores de risco supostos tenham sido identificados, nem todos são
o resultado de análise empírica; há alguma inconsistência entre os fatores
que identificam o risco de ofensa ou vitimização.
A partir disso, é formada a base de dados sobre a violência contra a mulher, sendo
possível traçar um perfil das pessoas que sofrem desse tipo de violência e o perfil
das pessoas que o praticam. Com isso, criam-se políticas públicas para atender essas
mulheres e saber com precisão o tamanho desses problemas.
A Lei n. 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi aprovada em 7
de agosto de 2006, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, viabilizando aos
órgãos competentes a obtenção de melhores mecanismos de prevenção, enfrentamento
e coibição da violência doméstica e familiar contra as mulheres. Por intermédio dela,
podemos criar medidas para promover a igualdade do gênero e reduzir as diferentes
formas de vulnerabilidade que causam tanto prejuízo à mulher.
Antes de entrarmos no tema central sobre a lei, cabe explanar brevemente a circunstância
que a motivou. Para isso, precisaremos voltar alguns anos. A criação da Lei Maria
da Penha não aconteceu da noite para o dia; levou anos até ser implantada em nosso
sistema judiciário. Até a década de 1980, não havia no Brasil, no âmbito judiciário,
alguma lei específica para proteger as mulheres desse tipo de violência. As mulheres,
então, uniram-se e criaram seus movimentos por todo o país. Saíram às ruas, nos anos
1970, protestando e gritando “quem ama não mata”, expondo cartazes com imagens
de violência sofrida por elas. Assim, pela primeira vez, iniciou-se a construção de algo
para enfrentar a violência contra a mulher.
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
Isso mostra que nossa sociedade ainda tinha pensamento cultural de que a violência
praticada dentro do ambiente privado e doméstico era assunto interno (a velha frase
“em briga de marido e mulher, não se mete a colher”) e de que o Estado e a sociedade
não poderiam interferir. Para exemplificar essa estrutura cultural, em 1997 perdeu a
validade (foi revogado) o artigo 35 do Código de Processo Penal, o qual determinava:
“A mulher casada não poderá exercer o direito de queixa sem consentimento do marido,
salvo quando estiver dele separada ou quando a queixa for contra ele”.
Prosseguindo ainda nos pontos levantados por Petherick e Ferguson (2014), temos:
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
Esse tipo de ocorrência pode até mesmo acontecer antes ou ao longo do encarceramento.
A vida de uma detenta ou o período em que ela está nessa condição muitas vezes se
confunde com a história de sua vida. Elas nos mostram que há relação muito forte
entre a vida antes e após a entrada no sistema carcerário. Mais de 95% dessas mulheres
que estão no sistema prisional já sofreram algum tipo de violência na juventude, no
matrimônio ou nas mãos de autoridades policiais. Com isso, analisamos que isso começa
desde cedo, tanto em questões sociais como educacionais; 75% já sofreram algum tipo
de agressão em pelo menos duas dessas possibilidades; 35% sofreram violência nessas
três possibilidades.
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
Da mesma forma, aquelas coisas que são fatos do caso devem ser delineadas
a partir das opiniões do analista.
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
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CAPÍTULO 2
Vitimologia e aspectos históricos
Fatores de proteção para muitos tipos de crime também existem, incluindo resiliência,
elementos interpessoais e contextuais. Ao avaliar uma vítima de crime violento, os
vitimologistas forenses são encarregados de compilar muitos detalhes, de muitas fontes,
para entender a natureza exata da pessoa e de sua vitimização. Histórias demográficas,
psicológicas, médicas, criminais e de relacionamento são elementos importantes a serem
incluídos em vitimologia, junto com qualquer vitimização anterior, avaliação de lesões
e avaliação de risco, incorporando fatores dinâmicos e estáveis. Se forem compilados
de forma completa e diligente, esses relatórios poderão ajudar a formar conclusões
sobre como a vítima chegou à situação violenta ou criminal, de onde provavelmente
provêm os riscos em suas vidas e, portanto, os possíveis suspeitos (PETHERICK;
FERGUSON, 2014).
Sobre essas questões, Petherick e Ferguson (2014) fornecem mais detalhes, conforme
consta na Tabela 4:
Um aspecto da vitimologia que pode ser difícil de adquirir é o histórico médico da vítima, porque isso é
considerado forma de informação privilegiada, privada e confidencial. Algumas vítimas que sobrevivem
à vitimização podem ser totalmente diretas com essas informações, enquanto outras podem relutar
em fornecê-las. Caso a vítima tenha falecido em jurisdição na qual o sigilo médico se estenda além da
Histórico morte, as informações de terceiros poderão ser o limite de conhecimento sobre quaisquer questões
médico médicas que contribuíram para o dano ou a morte da vítima. Dessa forma, o analista deve ter cautela
em quaisquer interpretações feitas em decorrência dessas informações. Em determinado caso, uma
vítima do sexo feminino, de homicídio precipitado pela vítima, alegou ter autismo. No entanto, nenhum
arquivo médico real refletiu esse diagnóstico, e as únicas fontes de informação foram as próprias
alegações da vítima, que foram comunicadas a uma série de outras pessoas.
Como o histórico médico, o histórico psicológico pode ser difícil de obter, porque também está
sujeito à confidencialidade. Também como no histórico médico, algumas vítimas mantêm registro
detalhado de seu contato com psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde. Isso pode ser
especialmente verdadeiro quando existe outra psicopatologia, como quando a vítima acredita que
está sendo envenenada, visada ou assediada; a maneira de registrar isso e expor o ofensor ocorre
História mediante documentação extensa. Anotações e histórias detalhadas podem servir para reforçar
psicológica ainda mais, em suas próprias mentes, seu status de vítima ou alvo. Outros, como aqueles que tiveram
relacionamentos com a vítima no passado, podem fornecer boas informações gerais sobre como a
vítima respondeu a certos desafios na vida, sobre uso de drogas e álcool, características gerais de
personalidade e uma série de outras características importantes. Mais uma vez, deve-se ter cautela
ao considerar essas informações pelo valor de face. A informação mais ideal é aquela corroborada
por várias testemunhas independentes ou para a qual existe outra confirmação.
Conforme discutido acima, em relação aos vários tipos de crime, histórico de comportamento
antissocial ou contato com o sistema de justiça podem aumentar o risco de vitimização para
História do certos crimes. O contato prévio com o sistema de justiça criminal pode representar uma atitude
sistema de antissocial geral ou indicar uma gama mais diversa de comportamento criminoso, apontando para
justiça risco aumentado de vitimização devido a associações de exposição a criminosos e/ou a outras
populações em risco. Histórias de ofensas podem ser usadas para educar o analista quanto ao tipo
de comportamento da vítima ou do ofensor durante eventos passados, bem como em relação aos
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Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
tipos de coisas a que eles possam ter sido expostos. O envolvimento em crimes violentos pode ser
incomum para alguém que cometeu apenas atos de crimes menores contra a propriedade, e essa
mudança precisa ser investigada e contabilizada, pois pode responder a perguntas críticas sobre
tempo e local associados ao problema. A evidência de um histórico de vítima ou ofensor também
pode ser útil para as estimativas de mitigação do risco de uma pessoa em particular. Se ocorrer
um homicídio e o agressor estiver envolvido em agressão relacionada ao álcool, cerca de 20 anos
antes, isso representará grande diferença em relação a um agressor que está em prisão preventiva
por agressão há apenas 2 meses. Um exame dessa história pode ser altamente instrutivo para
determinar a versatilidade e a especialização criminosa, podendo fornecer mais informações sobre
redes criminosas e associados.
Drogas e álcool desempenham papel tanto na vitimização quanto na ofensa; a relação entre álcool
e violência foi discutida anteriormente. Como tal, é fundamental determinar o grau em que as
drogas e o álcool podem ter desempenhado papel como fator contribuinte, por exemplo, embotar
a capacidade da vítima de fazer julgamentos racionais, sua capacidade de avaliar os riscos em seu
ambiente ou sua capacidade de se defender. Essa história incluiria substâncias lícitas e ilícitas.
Não deve ser feito apenas o registro de quaisquer drogas ilegais ou adquiridas ilegalmente (como
medicamentos prescritos, obtidos fora dos serviços médicos legítimos, bem como narcóticos). Tanto
os medicamentos prescritos legalmente quanto os não prescritos e sua origem, quando possível,
devem ser discriminados, incluindo o tipo, a dosagem e o histórico de ingestão, principalmente se
Histórico de
a não adesão a uma dosagem prescrita/recomendada for indicada. Além disso, os medicamentos
drogas e álcool prescritos também devem ser listados, incluindo, quando possível, o tipo de medicamento(s), a
dosagem do(s) medicamento(s), a frequência com que as prescrições são fornecidas, quando
a última receita foi fornecida e se as prescrições foram usados em relação à data de emissão.
Isso pode fornecer informações sobre o uso e o abuso potencial. Quando houver evidência de
uso de múltiplas drogas, as interações medicamentosas deverão ser pesquisadas e listadas. Se
o medicamento for prescrito legitimamente, a condição para a qual foi administrado deverá ser
identificada, se possível. Isso também deve ser verificado em relação à toxicologia na autópsia ou
durante a intervenção médica após o crime, de modo que toda e qualquer substância no sistema da
vítima seja identificada e que seus efeitos sejam contabilizados.
Os comportamentos dos criminosos e das vítimas não ocorrem no vácuo e não ocorrem isoladamente.
Ocasionalmente, o evento que leva ao envolvimento de um vitimologista não será o primeiro desse
tipo. Como resultado, é possível – e até provável – que os mesmos comportamentos que culminaram
em um evento criminoso grave ou violento tenham sido evidentes, vistos ou experimentados por
outras pessoas anteriormente. Realmente não há limite para o número de indivíduos que podem ter
testemunhado, ouvido falar ou experimentado o histórico de relacionamento relevante de uma vítima.
As testemunhas podem ser aqueles a par das reações da vítima em relação a rejeição e abandono,
histórico de violência, disposição e temperamento. Parceiros íntimos anteriores podem fornecer
visão sobre os seguintes aspectos:
» comportamentos agressivos e de enfrentamento, riscos e fatores de proteção;
Histórico de » a equipe de segurança pode fornecer informações sobre o comportamento de um usuário sob a
relacionamento influência de álcool;
» empregadores e colegas podem fornecer informações vitais sobre o desempenho no trabalho;
» amigos e familiares podem informar o analista sobre relacionamentos anteriores e sua função ou
disfunção.
Obviamente, é necessário ter cuidado e muita discrição com relação à fonte e à certeza das
informações fornecidas. Essas informações devem ser compiladas cronologicamente com o
máximo de detalhes possível. Ademais, podem ser comparadas às informações médicas, sobre
drogas e álcool, vitimizações anteriores e outras informações vitimológicas. Sempre que possível, a
documentação primária deve ser usada para complementar as informações fornecidas verbalmente
por pessoas conhecidas da vítima ou testemunhas do crime.
Sempre que possível, todos os esforços devem ser feitos para estabelecer histórico residencial que
História inclua endereço, tipo de moradia e status do proprietário/aluguel. O método, a origem e o destino
residencial dos pagamentos feitos devem ser determinados por meio de documentação primária, como extratos
bancários e cartão de crédito. O vitimologista está em busca de fatos que possam ter colocado a
58
Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
vítima em contato com os infratores ou em ambiente no qual certos crimes sejam mais comuns. Os
dados básicos sobre a taxa de criminalidade das áreas em que a vítima residiu devem ser obtidos
e levados em consideração em quaisquer determinações de risco e ameaça. O nome e a identidade
de quaisquer indivíduos que compartilharam acomodação com a vítima ajudarão em uma série de
determinações, e esforços devem ser feitos para estabelecer a história criminal e relacional desses
indivíduos. Também pode ser prudente, em circunstâncias nas quais seja permitido ou possível,
entrevistar vizinhos, bem como agentes imobiliários ou proprietários que alugaram propriedades às
vítimas. Muitas vezes, eles podem fornecer informações valiosas sobre as várias facetas da vida da
vítima e, possivelmente, da morte.
Informações de empregos atuais e anteriores devem ser buscadas e totalmente escrutinadas.
Isso ajudará a estabelecer coisas como níveis básicos de renda, se a vítima vivia acima de suas
possibilidades, fontes potenciais de ameaças ou danos e informações vitais sobre personalidade
e comportamento daqueles que encontraram a vítima em vários contextos diferentes. Como cada
pessoa normalmente tem vários domínios de personalidade diferentes (persona do trabalho, persona
da família, persona social etc.), conversar com colegas de trabalho e empregadores pode fornecer
Histórico de
uma peça valiosa do quebra-cabeça da vítima. As informações coletadas devem ser comparadas
empregos com o curriculum vitae ou currículo da vítima, se disponível. As informações obtidas do histórico
de empregos muitas vezes podem ser comparadas com outras informações financeiras ou com o
histórico residencial, o que ajuda a estabelecer um quadro geral de quem foi a vítima e de como
viveu a vida. As ameaças do meio ambiente podem, em teoria, vir de qualquer direção, com qualquer
número possível de influências; portanto, quanto mais diversas forem as fontes de informação, mais
completo será o quadro geral.
O histórico financeiro e o histórico de empregos são considerados vinculados em muitos níveis,
para muitas finalidades. A situação financeira de uma pessoa é ditada em grande parte pela renda
do emprego. No entanto, a renda complementar de outras fontes (legítimas e ilegítimas) deve ser
História identificada e contabilizada. Qualquer receita “fora dos livros” ou “por baixo da mesa” pode ajudar
financeira a explicar a vitimização ou a identificar outras vias de investigação que devam ser consideradas e
excluídas como relevantes. Se o vitimologista tiver a chance de passar um tempo com os pertences
da vítima, então coisas como extratos bancários e de cartão de crédito poderão fornecer informações
sobre o que estava entrando, o que estava saindo, de onde vinha e para quem estava indo.
Em um mundo conectado, uma variedade de tecnologias é fonte potencialmente rica de informações
sobre vítimas e vitimização. Nossa pegada digital geralmente é muito mais extensa do que
acreditamos; uma variedade de informações é mantida on-line, para recuperação, por praticamente
qualquer pessoa com acesso ou conhecimento de computadores e da internet. Com o aumento de
modalidades pelas quais as vítimas se conectam ao mundo digital, mais fontes de informação sobre
elas e seu comportamento se tornam disponíveis. O número de dispositivos e tipos de conexão são
ditados por recursos financeiros, emprego, conhecimento técnico e necessidade etc., portanto
uma primeira etapa crucial é determinar o número e o tipo de dispositivos da vítima. Em alguns
casos, o acesso ao próprio dispositivo pode ser limitado, por exemplo, quando é propriedade de um
empregador ou quando o dispositivo é levado por um criminoso porque contém informações sobre
ele ou sua relação com a vítima. Mesmo que informações sobre a atividade do navegador possam
estar disponíveis no próprio dispositivo, outras informações, especialmente as de empresas de
História telecomunicações, serão difíceis de obter sem causa legal e papelada necessária. Como tal, uma
tecnológica imagem detalhada terá de ser compilada a partir das informações disponíveis. Computadores,
tablets, smartphones, outros telefones celulares e até mesmo consoles de jogos podem fornecer
imagem da atividade on-line e do comportamento, o que pode ser fundamental para determinar
algumas informações materiais sobre a vítima e os danos sofridos. Historicamente, o e-mail era
comumente a fonte mais rica dessas informações, embora qualquer número de redes sociais,
clientes de mensageiro ou navegadores da web possam gerar inteligência volumosa e valiosa de
materiais. As listas de amigos, cookies, caches, favoritos do navegador, e-mails e mensagens de
texto de redes sociais são fundamentais para fornecer imagem holística sobre a vítima, sobre
seu eu cibernético e sobre seu comportamento on-line. Pode parecer lógico supor que, como uma
pessoa não usa a internet, não possui computador ou publica nada sobre si mesma on-line, essas
informações não estariam disponíveis. Essa suposição seria incorreta. Informações sobre qualquer
pessoa podem ser postadas por qualquer outra pessoa, em seu nome e sem seu consentimento, para
fins bons ou ruins. Um exemplo disso vem dos arquivos de um caso de cyberstalking: a vítima afirmou
59
Unidade III | Vitimologia E Aspectos Históricos
veementemente que não haveria nenhuma informação sobre ela na internet. Ela estava inflexível de
que, por não ter postado nada, não haveria nada. Demorou menos de 10 segundos para encontrar
uma foto dela on-line, vinculada a um perfil de modelo.
Ainda sob a ótica geral da vitimologia, Petherick e Ferguson (2014) trazem mais alguns
pontos importantes:
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Vitimologia E Aspectos Históricos | Unidade III
61
CRIMES SEXUAIS,
PSICOLOGIA E UNIDADE IV
PSIQUIATRIA FORENSE
CAPÍTULO 1
Aspectos e contextos concernentes
aos crimes sexuais
Perfis criminais
Turvey (2012a) diz que os criadores de perfis criminais devem ser totalmente versados
na prevalência, natureza e variedade de crimes sexuais que possam ser encontrados
na pesquisa e no tratamento de casos. Prestam-lhe um péssimo serviço aqueles que
ingressam na profissão sem conhecer o assunto, e aqueles que evitam estudar o assunto
farão melhor abandoná-lo imediatamente. Não se pode ser um investigador criminal
competente ou um criador de perfis criminais sem exposição significativa e apreciação
saudável da sexualidade humana e de suas manifestações criminais. O termo “crime
sexual” geralmente se refere a qualquer confluência de atos criminosos e sexuais.
Em alguns casos, a atividade sexual é inerentemente criminosa, como aquela que
envolve a falta de consentimento. Em outros casos, a atividade sexual ocorre entre as
partes “consentidas”, mas ainda envolve um crime, como acontece com a prostituição,
em certas jurisdições.
Aqueles que cometem crimes sexuais são corretamente chamados de criminosos sexuais.
No entanto, os criminosos sexuais não são todos iguais. Eles são variados; cada um
com sua própria constelação de comportamentos, motivos e capacidades, existindo
em um amplo continuum de intensidade e severidade. Atualmente, ainda segundo
Turvey (2012a), a principal causa dessa mesma falta geral de conhecimento preciso
é a aceitação acrítica de filmes, televisão e relatos de crimes na mídia – ficção e não
ficção. Em particular, o autor fica continuamente surpreso com o fato de o cinema e
a televisão serem vistos como fontes confiáveis de informação, mesmo entre aqueles
que absolutamente sabem mais. Isso resultou em:
» educação mal informada;
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Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
» esforços de investigação;
A idade é fator de consentimento quando a vítima é legalmente vista como muito jovem para
dar consentimento. Desse modo, muitas sociedades afirmam que seus cidadãos devem atingir
a idade mínima antes de serem considerados maduros o suficiente, conhecedores o suficiente
ou simplesmente conscientes o suficiente para assinar contratos, tomar decisões médicas por
si próprios e consentir com a atividade sexual. Dado que a idade de consentimento varia de
Era
uma jurisdição legal para outra, ser acusado de um crime sexual e rotulado como culturalmente
“desviante” pode ser apenas uma questão de viver no CEP errado e despertar a ira do promotor
local. Isso ocorre porque o agressor sexual de uma jurisdição é, muitas vezes, o parceiro íntimo
legal de outra – e porque, mesmo quando é um crime, o promotor tem ampla discrição nos “casos de
consentimento”.
O álcool é uma droga; é uma substância que causa alteração fisiológica ao entrar no corpo.
Mencionamos drogas e álcool em nossa discussão apenas porque os alunos, junto com muitos
profissionais, não incluiriam a droga álcool se usássemos apenas o termo “drogas”. Essa separação
Drogas e álcool inadequada existe porque o entendimento profissional e coloquial do termo “droga” é bastante
desigual. Em alguns casos, as drogas são intencionalmente, embora sub-repticiamente, dadas à
vítima por um agressor para facilitar o estupro. Na verdade, existem muitos tipos diferentes de
drogas de “estupro”, incluindo sedativos, pílulas para dormir e, mais especificamente, Rohypnol.
63
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
Todos eles podem incapacitar as vítimas, induzir o sono e causar perda de memória, dependendo
do tipo e da dosagem. No entanto, a droga número um é o álcool; junto com outros efeitos
colaterais bem conhecidos, reduz as inibições, prejudica o julgamento e, em última análise, impede
o consentimento informado. Também é verdade que o álcool geralmente não requer um parto sub-
reptício – as vítimas ingerem álcool em excesso regularmente e por própria vontade. Na verdade,
o álcool é frequentemente usado recreacionalmente por causa de seus efeitos narcóticos, e não
apesar deles. No entanto, isso cria um ambiente de maior risco, favorecendo a ocorrência de certas
atividades, especialmente dentro de grandes grupos de estranhos (por exemplo, bares e certos
tipos de festas). Embora se refira especificamente à intoxicação por álcool, as questões discutidas
na literatura permanecem as mesmas em relação a outras drogas que causam defeitos mentais
semelhantes. O estado temporário de ser incapaz de avaliar racionalmente a natureza da própria
conduta é referido como incapacidade mental.
Em muitas jurisdições, é crime ter contato sexual com pessoa incapaz de consentir em razão de ser
física ou mentalmente deficiente. Deficiência física ou mental refere-se a qualquer doença física
ou mental ou defeito que cause estado permanente de incapacidade de avaliar racionalmente a
Deficiência
natureza de sua própria conduta. Um exemplo de deficiência física que exclui a possibilidade de
física ou
consentimento é estar em coma, e há muitos casos envolvendo profissionais de saúde acusados
mental e condenados por estuprar pacientes em várias enfermarias de coma. Um exemplo de deficiência
mental que exclui a possibilidade de consentimento é o retardo mental (ou deficiência de
desenvolvimento), que é acompanhado por QI abaixo da média e baixo funcionamento cognitivo.
Os agressores sexuais são variados, cada um com sua própria constelação de comportamentos,
motivos e capacidades, existindo em amplo continuum de intensidade e severidade. Alguns
ofensores são fixos ou preferenciais, com atração patológica de longo prazo pelo comportamento
sexual desviante que remonta à adolescência. Outros podem ser chamados de regredidos, sendo
o desvio um interesse temporário ou experimental em resposta a ansiedade, conflito, estresse ou
crise em seus relacionamentos adultos. Tudo isso se reflete, necessariamente, em sua história e na
natureza dos crimes que cometem. Considere os seguintes tipos de crimes sexuais (discutidos em
nenhuma ordem específica), com o entendimento de que esta não é uma lista completa: estupro/
agressão sexual. Dependendo da jurisdição legal, os termos “estupro” e “agressão sexual” podem
ser usados quase que indistintamente, mas isso é impróprio do ponto de vista criminológico. O
estupro é uma penetração sexual não consensual. “Agressão sexual” é um termo que geralmente
se refere a qualquer contato sexual não consensual. Portanto, é possível que uma vítima seja
abusada sexualmente sem ser estuprada (penetrada). Nenhum deles requer força ou prova de
força, apenas intenção criminosa por parte do agressor e a ausência de consentimento por parte
da vítima. Como o crime de homicídio, geralmente há diferentes graus de estupro ou agressão
sexual, com níveis crescentes de severidade e penas associadas, definidas explicitamente nos
estatutos criminais. Há muitas variações para relacionar aqui, portanto os leitores são incentivados
Tipos de crimes a consultar suas leis penais locais. Nesse contexto, os dados relatados pelo Departamento de
sexuais Justiça dos EUA, Bureau of Justice Statistics, fornecem o seguinte: nos Estados Unidos, houve
aumento de 25% no total de estupros e agressões sexuais relatados entre 2005 e 2007 (de 190.600
a 248.300 casos). As vítimas relatadas eram mais frequentemente mulheres (236.980, ou 95%, de
todos os casos relatados), e os agressores relatados eram, na maioria, não estranhos, como amigos,
conhecidos e íntimos (58%). Curiosamente, 91% (226.410) dos casos notificados não envolveram
arma de qualquer tipo, sendo a arma de escolha a faca, em 3% (6.280) dos casos notificados. As
armas de fogo foram as armas de escolha menos relatadas, em menos de 1% do total de casos.
Os motivos são as necessidades emocionais, psicológicas e materiais que impulsionam e são
satisfeitas pelo comportamento. A intenção é o objetivo que orienta o comportamento. O motivo
é a necessidade geral, e a intenção é o plano específico. Muitos estupros são cometidos para
satisfazer à necessidade emocional ou psicológica de um estuprador de expressar poder, raiva ou
desejo sádico. O lucro também pode ser um complemento, pois a criação de oportunidade para
roubar a vítima pode desempenhar algum papel. Nesses casos, poder, raiva, sadismo e lucro são os
motivos possíveis (sem nenhuma linha clara entre eles), e o estupro é a intenção.
No Brasil, a Lei n. 8.930/1994 caracteriza o estupro e o atentado violento ao pudor como crimes
hediondos; isso significa que são crimes de extrema gravidade e inafiançáveis. Consumar atos
sexuais com menor de 14 anos é crime de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A do Código
Penal. As consequências são graves, visto que a lei prevê penas que podem, inicialmente, variar
64
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
de 8 a 15 anos. Para configurar o estupro de vulnerável, basta que o indivíduo tenha qualquer nível
de relações sexuais com pessoa menor de 14 anos (com ou sem penetração). Este é o terceiro ano
consecutivo que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresenta essa análise dos microdados
de estupros. Para os dados de 2020, analisamos 60.926 registros de violência sexual no Brasil,
sendo 16.047 de estupro e 44.879 de estupro de vulnerável, que vieram dos boletins de ocorrência
registrados pelas polícias civis. Os registros de microdados indicam aumento nos números
informados pelos estados nas tabelas apresentadas anteriormente, em que os registros de vítimas
no último ano somam 60.460 casos. O trauma sofrido pelas vítimas deixa muitas sequelas na vida
e na saúde dessas pessoas, resultando em sérios efeitos nas esferas física e/ou mental, em curto
ou ao longo do tempo. Vítimas de estupro podem sofrer lesões nos órgãos genitais, contusões
e fraturas, alterações gastrointestinais, infecções no órgão reprodutor, gravidez indesejada e
contração de doenças sexualmente transmissíveis. Nas questões psicológicas, o estupro pode
resultar em diversos transtornos, tais como depressão, disfunção sexual, ansiedade, transtornos
alimentares, uso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e síndrome de estresse pós-traumático.
Apesar do número elevado de casos no país, a pandemia parece ter contribuído para a redução
dos registros de violência sexual, o que não necessariamente significa a redução da incidência.
Isso porque crimes sexuais, em sua maioria, não são notificados, e a falta de pesquisas periódicas
das vítimas e medo ou constrangimento os tornam ainda mais difíceis de identificar. Estudos que
sugerem as hipóteses sobre as razões desse fato têm ganhado espaço. Discutem-se os aspectos
como construção coletiva de pactos que ocultam e silenciam esses crimes, a chamada cultura do
estupro; ainda há o compartilhamento de práticas de masculinidade violentas que transcorrem
essas ações.
O abuso sexual de crianças é uma subclasse particular de agressão sexual, referindo-se a qualquer
Abuso sexual contato sexual com criança ou adolescente abaixo da idade de consentimento. Inclui amplo
infantil espectro de crimes sexuais criminais, de incesto a pedofilia, e representa a maior porcentagem de
criminosos sexuais condenados.
Bestialidade, também conhecida como zooerastia, refere-se a qualquer ato sexual com
animal; zoofilia, ou bestialidade preferencial, refere-se a uma preferência clara por se envolver
sexualmente com animais. Em algumas jurisdições, bestialidade ou molestamento e crueldade
de animais são crimes por si só. Em outros, a bestialidade pode ser tratada como crime contra a
propriedade, e o infrator será acusado apenas de invasão.
Deve-se notar que, historicamente, a bestialidade tem sido tratada como fenômeno
Bestialidade extremamente raro, sem muitos ofensores preferenciais. Abundam os estudos de caso de
adolescentes rurais curiosos e inexperientes. No entanto, a internet oferece aos pesquisadores
ferramenta valiosa para pesquisar o assunto com mais precisão e discernimento. Por causa da
janela recente oferecida por comportamento e preferências sexuais humanas pela internet, a
bestialidade está entre os muitos tipos de crimes sexuais, os quais estão entrando em uma era de
pesquisas mais precisas. No mínimo, aprendemos que é mais comum e mais preferencial do que
foi sugerido anteriormente.
Voyeurismo é uma das muitas ofensas sexuais sem contato, como masturbação em público e
assédio sexual. Refere-se a interesse sexual ou prática de espionagem de pessoas envolvidas em
comportamentos íntimos ou privados, como despir-se, praticar atos sexuais, urinar ou defecar. Isso
inclui “perpetradores olhando pelas janelas com a esperança de ver pessoas em vários estados
de nudez; tirar fotos de outras pessoas em banheiros; e ver os outros em camarins sem o seu
conhecimento” (TORRES; VAN DER WALT, 2009, p. 459). As definições de voyeurismo no sentido
clínico não conseguiram acompanhar a cultura e a tecnologia, dada a prevalência de reality shows
de TV com temática sexual e a facilidade com que a pornografia orientada para o voyeur pode ser
Voyeurismo
vista, mesmo não intencionalmente, na internet. Nesse sentido, a proliferação de sites dedicados
explicitamente ao prazer voyeurístico criminoso e não criminoso revela que ver esse tipo de
material é amplamente atraente, tornando-o menos estatisticamente e culturalmente incomum
(ou desviante) do que se entendia anteriormente. Como acontece com a maioria dos crimes
sexuais discutidos neste capítulo, há espantosa falta de material de referência e pesquisa de
qualidade, com legislação e modelos de tratamento desenvolvidos com base em vinhetas de casos
pouco examinadas. Espera-se que, com o advento da internet e da tecnologia de comunicação
relacionada, melhores pesquisas e percepções estejam no horizonte.
65
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
A necrofilia se refere a uma excitação sexual persistente associada com os mortos ou à atividade
sexual com os mortos. Revisão da literatura para o termo revela carência de terminologia
consistente, bem como total falta de qualquer pesquisa significativa. Em vez disso, o assunto da
necrofilia parece raramente ser abordado por profissionais legítimos e, mesmo assim, a cobertura
é fraca, desinformada e profundamente enganosa. O que se pode dizer é que os casos verificáveis
são bastante raros. Na maioria das vezes, a necrofilia entra na consciência pública por meio de uma
das seguintes formas:.
» Primeiro, muitas vezes é revelado como complemento das atividades de assassinos sexuais que
violam sexualmente os cadáveres de suas vítimas. Às vezes, isso é feito para pura gratificação
Necrofilia sexual; às vezes, é feito para humilhação motivada pela raiva do cadáver. Além disso, em
algumas jurisdições, a necrofilia é considerada fator agravante que aumenta a gravidade das
acusações criminais associadas ao homicídio.
» Em segundo lugar, a necrofilia é frequentemente revelada como parte de um escândalo
funerário, em que funcionários atuais ou ex-funcionários cometeram atos sexuais em corpos sob
seus cuidados. Certamente, existem outros casos, mas esses são os mais comumente relatados.
Embora atualmente a necrofilia seja considerada um desvio de perspectiva legal como parte dos
estatutos de “abuso de um cadáver”, algumas pessoas não estão satisfeitas com a leniência das
sentenças resultantes.
Em muitas jurisdições, é crime oferecer dinheiro para sexo, receber dinheiro para sexo, transportar
pessoas para fins de prostituição (também conhecido como tráfico) ou viver dos ganhos de uma
prostituta. Em outras palavras, muitas vezes é crime ser prostituta, solicitar os serviços de uma
prostituta, traficar prostitutas ou “cafetá-las”. Isso não é universal, pois existem formas legalizadas
de prostituição em muitos países, geralmente restritas a determinada área. Isso não quer dizer que
todos concordem com a prostituição ou com o uso dos serviços de prostitutas, mas sim que ela é
Prostituição/ claramente aceita e incentivada por muitos. É até uma característica do recrutamento em alguns
casos. Não há como negar isso, pois a evidência existe e existe há gerações. A única questão é
solicitação/
o que isso significa. Embora seja mais do que justo classificar a constelação de crimes sexuais
tráfico sexual associados à prostituição como desviantes da perspectiva legal, é difícil classificá-los como
desviantes da perspectiva ideológica. Existem várias razões para isso, a saber:
» Primeiro, eles são amplamente prevalentes, implicando ampla aceitação por grandes setores da
sociedade.
» Em segundo lugar, as graves consequências negativas para os envolvidos e para a sociedade em
geral são amplamente ignoradas, quase sem protestos públicos.
66
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
» Terceiro, muitos dos responsáveis pela aplicação da lei aplicam de forma seletiva os estatutos
da prostituição. A aplicação da lei geralmente está ciente de onde ocorre a prostituição e quem
está envolvido, mas não está disposta a fazer prisões devido à falta de recursos e à motivação
pública insuficiente.
» Em quarto e último lugar, a constelação de crimes sexuais associados à prostituição é
tacitamente aceita por muitos governantes e militares que apoiam, encorajam e, em última
análise, dependem dos serviços de prostitutas.
De acordo com pesquisa e revisão da literatura conduzida por alguns pesquisadores, em 2004,
três fatores são associados às preferências sexuais dos estupradores. Eles são descritos como:
ambiente familiar sexualmente impróprio, uso de pornografia durante a infância e adolescência e
fantasias sexuais desviantes durante a infância e adolescência. Um ambiente familiar sexualmente
impróprio refere-se àquele que envolve os seguintes aspectos: testemunhar comportamento
Questões de incestuoso dentro da família; ser vítima de comportamento incestuoso; e testemunhar sexo
desenvolvimento promíscuo dentro da família.
A convergência dessas circunstâncias cria uma base perfeita para o desenvolvimento e a nutrição
de preferências sexuais desviantes por meio de modelagem e aprendizagem vicária. Essas
preferências são, então, reforçadas por ciclo de fantasia, uso de pornografia ou “adereços” sexuais
e gratificação física e liberação química alcançada durante a masturbação. Deve-se notar que esse
ciclo recapitula como os comportamentos não criminosos também são desenvolvidos e nutridos.
Há muito mais agressores sexuais masculinos do que femininos, e os homens são muito mais
agressivos. No entanto, deve-se admitir que os valores culturais têm desempenhado um papel aqui.
As mulheres são tradicionalmente vistas como vítimas, e os homens são tradicionalmente vistos
como agressores. Essa generalização colore e contextualiza tudo sobre o estudo do crime sexual.
Se um homem, ao passar por um apartamento, observar uma mulher se despindo diante da janela,
será preso como observador. Se uma mulher parar para ver um homem se despindo diante da janela,
o homem será preso como exibicionista. A essência da questão é simplesmente que as mulheres
são menos propensas a comportamentos que ofendam a sociedade, e a sociedade se recusa a se
ofender com atos cometidos por mulheres, os quais, se cometidos por homens, acarretariam prisão
e condenação. Embora esses cenários sejam certamente verdadeiros nas circunstâncias certas,
também é verdade que o agressor sexual feminino não é tão raro quanto os proverbiais dentes de
galinha. O abuso sexual tem sido historicamente visto como crime masculino contra mulheres,
Ofensoras crianças e adultas, em que os homens cometem aproximadamente 95% dos crimes sexuais nos
sexuais Estados Unidos. A resistência cultural tem dificultado a identificação de crimes sexuais cometidos
femininas por mulheres. Embora casos de abuso sexual de crianças, praticados por mulheres, tenham sido
documentados desde os anos 1930, as mulheres agressoras sexuais permaneceram bem escondidas.
Em casos de abuso sexual feminino, ou o abuso não é descoberto por muitos anos ou, se descoberto,
é rejeitado ou desacreditado. Foi apenas a partir de meados da década de 1980 que uma pequena
amostra de agressores sexuais do sexo feminino foi descrita na literatura científica; somente a partir
da década de 1990 esse grupo foi estudado de forma mais sistemática. Historicamente, esses crimes
foram subnotificados e não identificados pelas vítimas e facilmente dispensados por adultos.
O abuso sexual por mulheres tende a ser minimizado e justificado como extensão do papel de
nutrir da mulher, em vez de prejudicial ou agressivo. Tudo isso se combina para demonstrar que
os agressores sexuais do sexo feminino são historicamente mal compreendidos, amplamente
subnotificados, visto que homens e mulheres desempenham papéis de gênero (seja experimentando
vitimização, seja participando de um júri ou conduzindo pesquisas sexuais) e são cada vez mais
comuns no sistema de justiça criminal conforme a sociedade adquire consciência.
A tecnologia não causa crimes sexuais, mas pode facilitar isso; a tecnologia é moralmente neutra.
Uma pistola, um spray de pimenta e um conjunto de algemas fixadas no cinto de um policial servem a
um propósito, enquanto as mesmas ferramentas, no kit de um estuprador, podem servir a outro.
Crimes sexuais
Um banco de dados pesquisável de nomes, endereços e e-mails é uma coisa para um velho amigo
e tecnologia de
da faculdade, outra coisa para um vendedor, e outra para um criminoso sexual. A tecnologia da
comunicação computação, a internet e os mundos virtuais são praticamente iguais a qualquer outra ferramenta ou
ambiente –prontos para serem abusados por aqueles com intenções criminosas. Qualquer outra visão
tende a remover a responsabilidade pessoal em favor de culpar algo externo pelas escolhas criminosas.
67
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
Não faltam aqueles que desejam usar a internet e as tecnologias de comunicação relacionadas
para a exploração sexual de várias populações de vítimas. As novas tecnologias de comunicação
e informação criaram uma revolução global nas comunicações, no acesso à informação e na
distribuição de mídia. Essas novas tecnologias de comunicação e informação estão facilitando
a exploração sexual de mulheres e meninas em âmbito local, nacional e transnacional. A
exploração sexual de mulheres e crianças é uma crise global de direitos humanos, a qual está
Mundos sendo agravada pelo uso de novas tecnologias. Usando novas tecnologias, predadores sexuais e
virtuais e cafetões perseguem mulheres e crianças. Novas inovações técnicas facilitam a exploração sexual
exploração de mulheres e crianças, porque permitem que as pessoas comprem, vendam e troquem facilmente
milhões de imagens e vídeos de exploração sexual de mulheres e crianças. Essas tecnologias
permitem que os predadores sexuais prejudiquem ou explorem mulheres e crianças de forma
eficiente e anônima. A acessibilidade e o acesso às tecnologias de comunicação globais permitem
que os usuários realizem essas atividades na privacidade de suas casas. O aumento de tipos de
mídia, formatos de mídia e aplicativos diversifica os meios pelos quais os predadores sexuais
podem alcançar suas vítimas.
68
CAPÍTULO 2
Psicologia e psiquiatria forense
com exemplos de casos
69
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
Esses conflitos éticos devem ser reconhecidos e resolvidos, conforme ressalta Mcgrath
e Torres (2012). Os profissionais de saúde mental forense podem realizar avaliações
em casos civis e criminais. Os casos civis envolvem questões relacionadas a bens ou
atos ilícitos (lesões ou alguma outra perda que possa ser resolvida por meio de ação
judicial). Algumas avaliações envolvem avaliações de risco e da custódia dos filhos, por
exemplo. Os casos criminais, por outro lado, são aqueles que envolvem ato criminoso.
Algumas avaliações criminais comuns são responsabilidade criminal no momento da
ofensa (sanidade) e competência para comparecer a julgamento.
O caso de Andrea Yates é bem conhecido, tanto por causa dos aspectos psiquiátricos
quanto por causa das questões relacionadas com o testemunho psiquiátrico. É ilustrado
de características típicas e atípicas relacionadas à avaliação de saúde mental forense.
70
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
Yates era mãe de cinco filhos, com idades entre 6 meses e 7 anos. Ela sofria de depressão
(que se acredita ser depressão pós-parto) e psicose há algum tempo; havia sido tratada
com medicamentos antipsicóticos e antidepressivos. Em 1999, ela havia tentado suicídio
por overdose, tomando os medicamentos de seu pai.
Em março de 2001, seu pai faleceu. Parece que ela começou a piorar a partir de
então. Ela foi hospitalizada e liberada para atendimento ambulatorial pouco antes dos
homicídios. Dois dias antes dos assassinatos, foi vista por seu psiquiatra, que diminuiu
sua medicação antidepressiva, mas a impediu de tomar antipsicóticos. Em 20 de junho
de 2001, depois de seu marido sair para trabalhar, Yates metodicamente afogou seus
cinco filhos. Então, ligou para o 911, para relatar o que tinha feito, e para o marido
no trabalho.
Yates foi levada sob custódia, e o juiz emitiu ordem de silêncio sobre o caso. Yates disse
aos examinadores que acreditava não ser uma boa mãe, que a marca do diabo estava
escondida sob seus cabelos e que seus filhos sofreriam no inferno. No momento de sua
prisão e encarceramento, o psiquiatra da prisão relatou que Yates não tinha nenhuma
percepção de sua doença mental; estava “profundamente” deprimida e psicótica (sem
contato com a realidade). Por exemplo, ela achava que os desenhos animados que seus
filhos assistiam ‘estavam enviando mensagens para eles’.
Andrea Yates relatou ao psiquiatra que começou a ouvir vozes após o nascimento de
seu primeiro filho. Ela também disse que ouviu rosnados e relatou “sentir” que estava
na presença de Satanás. Além disso, argumentou que as crianças não estavam bem
(espiritualmente) e que a culpa era dela. Ela estava convencida de que eles estavam
condenados a sofrer no ‘fogo do inferno’. O psiquiatra teve a impressão de que Yates
estava alucinando (ouvindo vozes) durante a entrevista.
Yates acreditava que seus filhos seriam atormentados e morreriam no fogo do inferno
se não fossem mortos. Yates foi diagnosticada com depressão maior, com características
psicóticas, com início pós-parto (psicose pós-parto). O psiquiatra da prisão informou
durante o julgamento que Andrea Yates foi a paciente mais doente que ela já tratou.
Um psicólogo realizou testes neuropsicológicos em Yates enquanto ela estava
encarcerada. A opinião do psicólogo foi que ela sofria de esquizofrenia e transtorno
depressivo comórbido.
Em caso de destaque como esse, questões relacionadas à competência para ser julgado
rapidamente vêm à tona, e a defesa moveu-se para que Yates fosse considerada
incompetente. Em setembro de 2001, um júri deliberou mais de dois dias, depois de
71
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
A ex-enfermeira Andrea Yates foi presa, em 20 de junho de 2001, após ligar para a
polícia de Houston e relatar que havia afogado seus quatro filhos e sua filha na banheira.
Yates é retratada aqui com seus filhos e marido, Rusty Yates:
Vários especialistas em defesa testemunharam que, em sua opinião, Yates era incapaz
de distinguir o certo do errado no momento em que matou seus filhos. Yates foi
condenada por assassinato capital na morte de três de seus filhos e sentenciada à prisão
perpétua. Um recurso foi interposto em 6 de janeiro de 2005, e a Primeira Corte de
Apelações do Texas anulou sua condenação. Após novo julgamento, em 26 de julho
de 2006, Yates foi declarada inocente por motivos de insanidade pelas mortes de três
de seus filhos, Noah, John e Mary.
72
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
Em alguns casos, profilers treinados pelo FBI entraram na água da avaliação de saúde
mental forense. Um dos primeiros casos registrados, e certamente um dos mais notórios,
foi o de Jeffrey Dahmer. Esse caso envolveu profissionais de saúde mental e perfis do
FBI. Em 22 de julho de 1991, policiais prenderam Jeffrey Dahmer. Um homem algemado
escapou do apartamento de Dahmer e foi localizado por dois policiais de Milwaukee.
Ao ser interrogado, o homem relatou encontro com um homem que o deixou muito
desconfortável e deu à polícia o endereço do apartamento. Jeffrey Dahmer abriu a
porta. Fotos de corpos e partes do corpo (incluindo cabeças) foram encontradas no
apartamento. A investigação subsequente revelou uma onda de mortes de 13 anos.
Dahmer matou 17 vítimas entre 1978 e 1991. Seu modus operandi era convidar homens
ou meninos homossexuais para seu apartamento e drogá-los. Quando eles estavam
incapacitados, Dahmer os estrangulava. Ele relatou ter feito sexo com alguns corpos
e, ocasionalmente, ter comido partes do corpo.
Embora Dahmer tenha, inicialmente, entrado com confissão de inocente por motivo
de insanidade, ele mudou para confissão de culpado, mas insano. Um não culpado por
motivo de julgamento de insanidade é uma absolvição; um julgamento culpado, mas
insano, é veredicto de culpado. Consequentemente, isso resultaria no cumprimento
da pena de Dahmer em instalação psiquiátrica sob a jurisdição do departamento de
correções em Wisconsin. Uma vez “curado” (não exigindo hospitalização psiquiátrica),
ele seria enviado para prisão regular.
73
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
a confissão de Dahmer como culpado, mas insano, e deveria ter sido conduzido por
psiquiatra qualificado ou psicólogo.
Figura 2. Jeffrey Dahmer – Condenado a 15 sentenças consecutivas de prisão perpétua, em 17 de fevereiro de 1992.
O ponto importante é que Ressler, que não é psicólogo nem psiquiatra, parecia
disposto a oferecer o que acreditava ser uma opinião de especialista quanto à
responsabilidade de Dahmer na prática de seus crimes. Além do fato de que Ressler
se baseou em dicotomia que nunca foi validada e é essencialmente inútil de qualquer
perspectiva, investigativa ou científica, ele atribuiu significado psicolegal com certeza
implícita aparente a uma ferramenta investigativa. Entretanto essa não é uma prática
aceitável.
75
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
Figura 3. Dr. O. C. Smith fotografado enquanto recebia atenção médica na noite em que foi encontrado, em 2002.
76
CAPÍTULO 3
Criação de perfis, psicologia
e psiquiatria forense
Psicólogos e psiquiatras podem ter muito a oferecer quando tomam o cuidado de limitar
a contribuição investigativa a opiniões sustentáveis e evitar a mera especulação; insights
investigativamente relevantes devem ser o objetivo da consulta, não a compilação
de conjecturas psicodinamicamente interessantes, mas, em última análise, inúteis.
A psiquiatria forense e a psicologia forense compartilham várias características com
o perfil do infrator, conforme apresentado na Tabela 6:
78
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
Assim como um psicólogo/psiquiatra forense não deve formar opinião com base apenas em sua
Confiança experiência, o criador de perfil precisa ter o cuidado de fazer inferências a partir dos dados do caso
nos fatos de em questão. O psiquiatra ou psicólogo forense não faria diagnóstico com base em um sintoma, não
caso ou casos importa quantas vezes possa ter visto o sintoma em determinado diagnóstico. De maneira análoga, o
específicos fato de a maioria dos homicídios ser intrarracial pouco diz a um profiler em caso específico, a menos
que haja outros indicadores relevantes para a raça.
Psiquiatras forenses, psicólogos ou criadores de perfis podem ser defensores de suas opiniões,
mas não devem defender nenhum dos lados em arena adversarial (legal) ou mesmo no âmbito
Necessidade
investigativo. Não é função do criador de perfil ajudar um lado específico a prevalecer ou ajudar
de evitar
uma entidade específica a provar algo. O único dever do criador de perfil é apresentar opiniões
advocacy consistentes com os fatos do caso. Abundam as pressões sutis para assumir uma posição de
advocacy, e a melhor defesa é a conscientização.
O psiquiatra ou psicólogo podem diagnosticar doença mental e prescrever tratamento. Em
alguma data posterior, o médico poderia ser questionado em tribunal, durante ação judicial ou
ação criminal não relacionada ao tratamento, sobre qual era o diagnóstico. O praticante deve
considerar o contexto. Se depor como testemunha de fato, dará o diagnóstico no prontuário médico.
Se testemunhar como perito, o médico deverá responder que não tem opinião forense, pois o
Diferenças
paciente nunca foi examinado para depor tribunal. A avaliação do paciente seria (e deveria) ser
contextuais marcadamente diferente nos dois contextos (tratamento versus forense). O criador de perfil precisa
entender a diferença entre renderizar um perfil investigativamente útil e um perfil que atenda a
um limite de nível de tribunal, transmitindo valor probatório. É impróprio oferecer perfil criminal
desenvolvido para fins investigativos em tribunal e sugerir que ele atenda aos padrões de um
processo judicial, a menos que o perfil tenha sido desenvolvido inicialmente para esse padrão.
Tanto o perfil quanto a prática psiquiátrica ou psicológica forense precisam ser realizados de maneira
ética. Os profissionais dessas áreas precisam tomar os devidos cuidados para que outros não usem
indevidamente seu produto de trabalho e não representem de maneira materialmente falsa sua
experiência. Além disso, o criador de perfil precisa entender que seu perfil não pode e não deve ser
Prática ética usado para indicar a culpa de determinado indivíduo. Se for questionado se uma pessoa específica
“se encaixa” em um perfil, será razoável fazer tal indicação, mas deve esclarecer que “encaixar” perfil
não é a mesma coisa que fazer identificação. O padrão não é diferente do padrão para um criminalista
que oferece opinião de que dois fios de cabelo são uma “combinação”. Não tentar adicionar o que uma
“correspondência” significa de uma perspectiva científica é enganar o júri.
Um psiquiatra ou psicólogo forense que gostaria de buscar perfis como parte de seu repertório
profissional precisaria ter experiência adequada na avaliação de criminosos para obter
O que um conhecimento aplicado de indivíduos antissociais, especialmente aqueles que se enquadrem na
psiquiatra categoria de desvio sexual e criminosos sexuais. Precisaria obter conhecimento extra nas ciências
forenses e em questões investigativas para ser capaz de entender o que será e o que não será útil
ou psicólogo
para o investigador no campo. Os caminhos que alguém pode seguir para obter tal conhecimento
forense
são variados e não existe currículo acordado. Quantidade significativa de trabalho pode ser
precisa para realizada por meio da leitura de textos aplicados e dos cursos disponíveis on-line, em faculdades e
traçar perfil universidades, e por meio de organizações profissionais. Uma ressalva é que o praticante precisará
competente? usar suas habilidades de pensamento crítico para eliminar cursos ou programas duvidosos. Fazer
curso de criação de perfil, de um dia, com alguém que afirma que você aprenderá o que precisa
saber para criar perfil competente, provavelmente não ajudará em nada.
Um psicólogo forense ou psiquiatra que atua como criador de perfis pode consultar autoridades
policiais, promotores ou advogados de defesa sobre questão específica relacionada à definição de
perfis ou em “caso arquivado”. Também pode atuar como parte de equipe multidisciplinar (criador
Papel do
de perfis + investigadores + cientistas forenses) envolvida em investigação atual. O psiquiatra/
psicólogo
psicólogo-profiler pode fornecer interpretações investigativamente relevantes relacionadas aos
forense ou comportamentos da cena do crime e à vitimologia, com a palavra-chave sendo “relevante”. Opinar
psiquiatra que a mutilação vaginal é uma tentativa inconsciente, por parte do assassino, de voltar ao útero
como criador pode atender às necessidades do profiler, mas não é provável que seja de muita ajuda para o
de perfil investigador que está tentando resolver o crime. Em contraste, inferir (se garantido) que a castração
de um menino em agressão sexual foi tentativa de desfazer ato homossexual, transformando o
menino em menina, pode economizar o tempo dos investigadores, evitando que se concentrem em
79
Unidade IV | Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense
80
Crimes Sexuais, Psicologia E Psiquiatria Forense | Unidade IV
investigadores e cientistas forenses, mas não todos, serão bons criadores de perfis. Se alguém
estiver disposto a investir o esforço extra necessário para se educar nas ciências forenses básicas
e nas questões investigativas, o campo do perfil do infrator terá muito a oferecer ao psiquiatra ou
psicólogo forense e muito a ganhar com sua experiência.
81
PARA (NÃO) FINALIZAR
Assim, indicamos os conteúdos para dar cadência aos seus estudos de temáticas para
pesquisas (não tratadas ou não necessariamente aprofundadas neste material de apoio):
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