A SABEDORIA DE BUDA - Leitura Do DHAMMAPADA - 1 - 5 - Lúcia Helena Galvão

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Olá!

Sejam bem-vindos para nossa mais nova aventura em conjunto.

Começo de uma viajem por esse livro.

Aproveito já para mostra para vocês a edição que seguirei.

Que é a edição da editora pensamento.

Já ouvi dizer que não está tão fácil de encontrar assim, que é quase uma
generalidade dos livros que têm indicados.

As pessoas sempre me dizem, "na hora que você indica os livros somem", mas são
livros que infelizmente nos dias atuais não são tão valorizados assim.

Não são livros da moda.

Então, infelizmente as editoras não se interessam em fazer, relançar, fazer novas


edições.

O que é um erro porque é um dos livros que considero que não poderíamos deixar de
ler.

Um clássico, um livro sagrado.

Então, recomendo que dêem uma procurada, talvez encontrem em outras edições, essa
me parece muito boa.

Aproveito também para antes de começarmos as nossas palestras,

avisar a todos aqueles nossos ouvintes que tem vindo prestigiar a minha biblioteca
que nem todos os livros que têm aqui são indicados por mim.

Não coloquei esses livros para fazer propaganda, é uma biblioteca pessoal, algumas
coisas nem li ainda e outras nem gostei tanto assim.

Então, indicações de livros são aquelas que estão lá no Youtube, não tomem a minha
biblioteca como uma indicação, uma mega indicação de livros.

Realmente estou recebendo vocês em casa sem nenhum filtro.

Não selecionei os livros que estão aqui.

São os que tenho, mas não necessariamente são os melhores que li.

Então, voltando ao nosso assunto, hoje falaremos sobre o Dhammapada, sobre essa
tradição tão bela, que é o Budismo.

O seu livro considerado o mais importante.

O livro sagrado por excelência da tradição budista.

Nós vamos começar, ele tem 26 capítulos.

Devemos hoje ver provavelmente os quatro primeiros e depois vamos dando seguimento
na velocidade que for possível.

Teremos um passeio em conjunto, espero de que umas seis ou sete palestras e espero
como sempre, acompanhem lendo porque a finalidade é essa.

As minhas leituras comentadas não são para fazer propaganda de uma editora, nem
para promover nenhum produto,

mas para promover um estado de consciência em vocês, promovendo aquilo que de mais
belo li na minha vida.

Então, eu espero que possam acompanhar com a leitura.

Sejam bem vindos ao Dhammapada.

Sidarta Gautama, nós temos uma palestra sobre ele no nosso canal da Nova Acrópole
no Youtube, muito boa por sinal.

O Buda, o Buda histórico, tem uma história sensacional, muito bela que vale a pena
ser conhecida, mas não vamos falar dela aqui, não vamos desviar tanto assim.

Sim, ele é o fundador do budismo, as máximas do Dhammapada são dele, mas a história
que estamos abordando é a história do livro Dhammapada.

Sidarta Gautama, um maravilhoso mestre que viveu no sexto século antes de Cristo.

Acredita-se, datas aproximadas, que teria nascido em 563 a.C., nas planíceis de
Lumbini no Nepal, onde hoje é o Nepal.

Quando a sua mãe, Maya Devi, caminhava em direção a casa dos pais para ter o seu
filho e teria falecido aos 80 anos,

na chamada planície do Servo em Kushinagara, em 483 a.C.

A partir daí, houve uma série de concílios.

O primeiro deles que estabelece muito bem o Sutta Pitaka e o Vinaya Pitaka, que são
dois livros daquilo que vai ser chamado, Tripitaka, de onde vem o Dhammapada.

E posteriormente, no terceiro concílio é estabelecido o terceiro livro que é o


Abhidhama Pitaka.

Tripitaka vem exatamente de três cestos.

Havia o hábito dos monges na época das chuvas de se recolherem e redigirem os


ensinamentos dos mestres.

Nem sempre foi redigido, durante muito tempo é passado por tradição oral,

mas diz-se que o Dhammapada começa a ser escrito, o Tripitaka começa a ser escrito,
em folhas de palmeiras e colocados nesses cestos.

Aproximadamente, em 250 a.C., no terceiro concílio de Pattariputra.

Posteriormente em torno de 50 a.C., 70 a.C. é transcrito ao Pale, a língua mais


recente.

De Dentro desse Tripitaka, os três cestos onde foram colocados os ensinamentos,

você tinha o Vinaya Pitaka, é o livro de instruções aos monges,

o Sutta Pitaka, que é um conjunto de instruções éticas à doutrina budista,


e o Abhidhama Pitaka, que é onde havia uma série de reflexões filosóficas,
colocações filosóficas sobre a doutrina.

Do Sutta Pitaka que teria sido recitado pelo próprio primo e discípulo de Buda,

esse Sutta Pitaka tem dentro dele cinco coleções de livros.

Uma delas que é kudaka Nikaya, tem dentro dela 15 livros, e um desses livro então é
o nosso Dhammapada.

Apenas como referência, apenas como localização para que vocês saibam como tudo
começou.

Essa transcrição que muitas vezes em várias palestras falo,

é comum que em tradições históricas, nas épocas onde a vida física se torna menos
ativa,

ou seja, outono, inverno, os homens se recolham para vida interior, enquanto que na
primavera, verão, prima a vida exterior.

Então, esse monges muitas vezes redigem seus textos sagrados por ocasião dessa
estação de outono-inverno, de chuvas, de frio,

eles se recolhem e redigem os ensinamentos do mestre.

Então, estamos aqui, chegamos do Tripitaka ao Kudakanikaya e ao Dhammapada que é o


que nos interessa.

Ele é composto então de uma série de livros, de capítulos, que são 26 como já
falamos,

aproximadamente quatrocentos e poucos versos e nós vamos tratar hoje de alguns dos
primeiros deles.

Não seria possível pra gente com 400 versos ler todos, nem seria necessário,

porque uma das características do Dhammapada, é que em algumas ocasiões, ele é um


pouco repetitivo.

Cada capítulo tem uma tônica e os versos muitas vezes vão reforçando uns ao outros.

Isso não significa que vocês não vão ler todos.

Não significa inclusive que em algumas ocasiões, gostem até mais de outros versos
que não aqueles que selecionei.

Apenas vou fazer uma seleção e comentar alguns, que acredito que dão uma tônica boa
para entendermos aquele capítulo.

O primeiro dos capítulos que é sobre os versos gêmeos, Uyama kavagga. A tônica dele
é muito voltada sobre a questão da mente.

Lembram do nosso Caibalion, onde começamos com essa ideia do princípio do


mentalismo, de que o universo é mental.

O budismo então fala da mente precedendo a matéria e das formas mentais dos homens
escrevendo as suas histórias,
ou seja, o que vivemos hoje é o que pensamos ontem e assim a vida vai adiante.

Então, os versos gêmeos começam falando exatamente dessa idéia do pensamento.

Primeiro:

"O que pensamos hoje é o que seremos amanhã, nossa vida é uma criação de nossa
mente".

Entendam que esse princípio tão universal, ele nos dá a possibilidade, a liberdade
de termos as rédeas da nossa vida na nossa mão.

O que construímos mentalmente hoje é o que viveremos amanhã.

As nossas projeções, os nossos planejamentos, as vezes até o elemento inconsciente


das nossas revoltas, dos nossos desgostos e rancores,

tudo isso vai criando uma prestação de contas, correr atrás das coisas no dia de
amanhã.

As vezes não percebemos que o que fizemos hoje foi programado em algum momento do
passado.

Algo mal resolvido.

Se tivéssemos uma consciência muito clara das consequências dos nossos pensamentos,
da nossa vida prática,

começaríamos uma prática necessária de domínio da nossa mente.

Que inclusive nos daria um estado de paz de espírito muito grande, porque no fundo
vida interior é domínio da mente.

Quando conseguimos colocar uma certa ordem, um certo foco nesse mundo, temos paz,
temos serenidade, como dizíamos lá na "Luz do Caminho":

"Temos a flor que desabrocha depois da tormenta".

O segundo verso vai dizer: " Se o homem fala ou age com a mente pura, a felicidade
o acompanha como sua sombra inseparável ".

Ou seja, mente pura, vai ter paz, vai ter coerência, vai ter felicidade.

O que ele necessita para ser feliz, coincidir consigo mesmo.

As adversidades do mundo externo não são capazes de ofender este mundo interior que
só ele decide, ele é absolutamente soberano.

Lembrem, já falamos muitas vezes sobre a corrente filosófica do Estoicismo,


sobretudo do Estoicismo Romano.

Quando eles diziam que há coisas que dependem e não dependem de nós.

Nós deveríamos ser infelizes, por aquilo que depende de nós e que não fizemos.

As circunstâncias externas há que ter a necessária fortaleza para passar por elas,

mas as internas nos abatem profundamente, quando falhamos naquilo que nos
correspondia.

E todas as circunstâncias internas nascem da maneira como pensamos sobre a vida,

ou seja, o nosso pensamento, como diziam os antigos, é oficina, oficina da nossa


vida.

Terceiro verso:

" Ele me insultou, me maltratou, me rebaixou, me roubou, os que abrigam tais


pensamentos , não se libertarão do ódio e do ressentimento".

Ou seja, quem alimenta um pensamento de rancor, um pensamento de vitimização, que


tanto temos falado porque hoje é um vício terrível.

Isso vai ficar eternamente pendente na sua vida.

Eternamente achando que há fatores externos que justificam, ele não ter ido na
direção dos seus sonhos, não ter realizado a sua vida.

Isso torna uma bengala para a debilidade, ou seja, não fiz, por quê? porque tais
pessoas impediram.

Não fiz, por quê? porque tais circunstâncias estiveram no meu caminho.

E pessoas que tiveram em circunstâncias muitos piores do que essas e fizeram.

Então, a nossa forma mental, a nossa resistência, a nossa incapacidade de passar


por cima das adversidades, é uma responsabilidade nossa.

Não tomar fatores externos como bengala, quem nutre esse tipo de pensamento fica
travado na vida.

Lembram que eu gosto muito daquele livro muito atual, que já fiz um curso a
respeito,

que é "A Guerra da Arte" de Pressfield, onde ele vai fala sobre essas
racionalizações

que nos impedem de correr em direção aos nossos sonhos, como armas da resistência

e aqui nós temos raízes profundas, um livro clássico, falando dessa mesma idéia.

"O ódio jamais será vencido pelo ódio, o ódio só se extingue com o amor; esta é uma
Lei eterna".

Ou seja, lembrem do Caibalion, o princípio que fala que ódio e o amor, são na
verdade vibrações diferente de uma única reta, que é o sentimento.

Podemos não necessariamente.

Entendam bem, quando nós queremos transmutar um sentimento de ódio para o amor, não
significa que eu vou transmutá-lo para uma paixão.

Eu não necessito trazer essa pessoa muito próxima da minha vida ou essa situação,
não necessito conviver com ela o tempo todo.

Eu necessito simplesmente começar a vê-la como um ser complexo, que talvez tenha
esses defeitos mesmos, mas que tenha inúmeras outras qualidades.
Sabendo colocar as coisas na distância e no ritmo correto, posso aprender muito com
ela, posso ensinar muito para ela.

Sabendo manter a distância e o ritmo correto, conseguimos ver as coisas de forma


mais sóbria, mais equilibrada.

E começamos a perceber que o mundo inteiro é dual, não seria essa pessoa que seria
uma exceção, não seria essa circunstância que seria uma exceção.

Simplesmente por um sentimento negativo, eu impedi a visão do outro lado, há um


outro lado.

Posso fazer uma prática de todas as vezes que me vem uma crítica, procurar os
elementos positivos dessa mesma pessoa, dessa mesma circunstância,

e assim eu vou neutralizando o ódio através do amor.

Não paixão, mas um amor, equilibrado, sóbrio, que sabe manter a distância e o ritmo
necessário para harmonizar-se com o Todo.

Essa deve ser a nossa busca.

Lembrem, eu sou uma filósofa, eu não tenho sabedoria.

Também isso tenho lutado, como vocês.

Eu não falo daquilo que já tenho, mas daquilo que estou buscando ter, não sou dona
de nenhuma verdade.

O que diferencia um filósofo de uma pessoa comum é simplesmente, ânimo de


aperfeiçoamento,

ou seja, é derrotado e volta a lutar, mas não significa que eu lute como vocês
contra os mesmos problemas.

O Filósofo não é um Sábio.

É simplesmente aquele que tem um ânimo de aperfeiçoamento incansável, cai mil


vezes, levanta mil e uma, também eu luto contra essas mesmas coisas.

"Muitos não sabem que estamos neste mundo para viver em harmonia, esquecendo-se de
que morrerão um dia".

"Para os que meditam nisso, não há divergências e a vida se torna mais branda".

Meditar sobre isso é um elemento fantástico, trabalho muito com isso, quando faço,
por exemplo, administração do tempo, que é um curso tremendamente filosófico.

Onde eu digo: olha! Quer planejar o seu tempo?

Ótimo! Comece pela vida como um todo.

Saiba aonde você que chegar com tudo isso.

Saiba o que vai ser real no final da linha.

Começa pelo grande círculo, depois vai enquadrando os menores da década, do ano, do
mês, do dia de hoje,
mas pensar grande, nos faz valorizar as coisas na sua devida proporção.

Dar valor correto, dar o peso correto a cada circunstância.

A harmonia se alcança, quando pensamos grande.

Ao pensarmos pequeno, nos afogamos num copo d´água, porque simplesmente ficamos do
tamanho dele.

Então, ao aconselhar a vida como um todo, percebemos que a harmonia é algo


fundamental,

e que tem um valor específico muito maior, do que as nossa pequenas vaidades, e
orgulhos feridos, e rancores um pouco banais.

Encontramos a devida proporção para lidarmos com cada coisa.

O caminho justo, onde cada coisa é tratada na devida proporção, no devido ritmo, na
devida distância, para que tudo se harmonize.

Sete...

"Aquele que vive somente a procura de prazeres, ocioso, descontrolado nos sentidos,
intemperante na alimentação é dominado por Mara (tentação),

como as árvores fracas são derrubadas pela ventania".

Percebam, uma coisa é ter prazer, outra coisa é ser escravo dos prazeres,

de tal maneira que quando os prazer vão para lá, eu largo o meu caminho para correr
atrás dele.

Como aquela velha frase que sempre cito de Sir Ram.

Quando ele diz : "Eu caminho em direção ao meu objetivo, eu caminho em direção ao
meu ideal "

Se sopra uma brisa suave, eu me delicio com a brisa suave.

Se faz um sol causticante, eu sofro com um sol causticante, mas nenhum nem outro me
tiram do meu caminho.

Eu não saiu correndo atrás dele.

Quem sai correndo atrás de prazeres, a sua vida vai ser uma mera coleção de
prazeres.

De momentos passageiros e que talvez no final sempre deixem aquele amargor na boca.

Por que não valeram o preço que você pagou por eles, muito fugazes, muitos
inconsistentes.

Então ter prazeres, não somos medievais, nem queremos colocar aqui algum código de
tentações e de austeridades,

mas simplesmente dizer que nós devemos saber onde queremos chegar

e não deixar que elementos que não são maus em si, mas fúteis demais, nos roubem
das coisa que realmente tem valor.

No fundo tem haver também com a administração do tempo do que estamos colocando
importante, a frente do urgente, do agradável, do sensível,

colocar aquilo que inteligimos, acima daquilo que meramente sentimos.

Os sentidos são bons, são necessários, e são ferramentas que nos trazem muitos
elementos,

mas cuidado para não serem nossos amos, eles não foram feitos para isso.

E por fim, o verso 12 nesse primeiro capítulo, diz:

"Quem reconhece o Real como Real e ilusão como ilusão, com segurança alcançará a
Verdade".

Percebam que ao termos essa grande dimensão do tempo e sabemos aonde queremos
chegar com isso,

quem somos nós e o que queremos chegar a construir em nós, damos uma noção de
realidade,

que podemos contrapor com elementos momentâneos, que são muitas vezes,

desvios do caminho que gastam um tempo precioso, o tempo é vida.

Que nos roubam um tempo que eles não valem.

Saber qual o valor específico de cada coisa, saber como investir o nosso tempo, a
nossa vida.

Precisamos ter uma dimensão grande de tempo.

Precisamos querer saber o que é real, ter um amor grande, e para isso confrontar o
sentido da nossa vida com as coisas momentâneas.

Quem tem a noção da realidade e a máxima realidade que podemos ter é:

Aonde queremos chegar com a nossa vida?

O que queremos somar ao mundo?

Queremos sair daqui maiores do que chegamos?

Queremos fazer diferença para o mundo e para nós?

Ainda que uma pequena diferença, nós queremos ser fator de soma?

Isso é o real e com isso deveríamos confrontar todas as circunstâncias momentâneas


da vida.

Verso 13...

"Da mesma maneira que a chuva penetra na casa mal coberta de palha, as paixões
invadem a mente mal vigiada".

Uma mente mal vigiada é disperça, é sem foco.


Ela não sabe aonde ela quer chegar, então, qualquer distrativo pode entrar e roubá-
la de si mesma.

Lembrem, a nossa identidade tem haver com o nosso sentido de vida.

Quem sou eu? Eu sou a Lúcia. E quem é a Lúcia? É aquela que quer chegar a ser
mais justa, mais equilibrada, mais fraterna do que é hoje, ao final da vida.

Essa sou eu, eu não posso esquecer quem sou eu e me confundir com elementos
passageiros.

Isso significa uma casa mal coberta cheia de frestas por onde a chuva vai penetrar.

Então, quando os elementos sensoriais, banais, passam pela minha cabeça, se eu sei
quem eu sou , eu olho para eles e digo: "lá vem um pensamento banal".

"está passando um pensamento banal, tchau! pensamento banal."

Eu não corro atrás dele e sei distinguir o que é e o que não é meu dentro da minha
mente.

Dizem que grandes sábios impedem aquilo que não é sadio que não é produtivo, que
não é coerente com seus princípios de entrar no seu plano mental.

Não somos nós esses, não somos grandes sábios.

Nós temos que aprender a reconhecer dentro da nossa mente de tudo que está aí, quem
somos nós e quem não é, aquilo que não é nosso.

Lembrem daquela definição de inteligência, intelege, (escolher dentre).

Saber o tempo todo dentro do plano mental o que é meu e o que não é, e deixar que
esse que não é, passe.

Uma mera observação de algo que flutua no plano mental, mas sem criar laços nem
identidade.

Ou seja, uma mente atenta, garante que você não seja influenciado por aquilo que
não é teu.

Agora quem tem mente atenta?

É uma questão de prática, é como se fosse uma musculatura.

Hoje nós vivemos um momento mais disperso, eu acho da história.

Não tenho notícia de um momento onde os homens fossem mais dispersos do que hoje,

porque a infelicidade, a angústia existencial de não termos um sentido de vida


muito claro,

faz com que qualquer coisa, seja um distrativo para que a gente não encontre
conosco mesmo.

E a sociedade produz uma montoeira de distrativos que é capaz de manter um ser


humano distraído de si mesmo a vida inteira.

Vejam quando nos envolvemos numa coisa qualquer, no computador, na internet.


A internet te rouba uma hora brincando.

Quando você menos percebe, lá se foi uma hora, duas, três,

ou seja, distrativos de todos os tipos, nunca tivemos uma sociedade que oferecesse
tantos.

Então, se você quer fugir de si próprio, olha! tem muitas vias de fuga.

Precisa haver um pacto seu consigo mesmo, com seu destino, com seu sentido de vida.

E uma atenção concentrada nisso, como se diz popularmente: "não tirar o olho da
bola",

porque quem perde o olho da bola tem trezentas coisas no seu campo de visão,

na arquibancada, no portão, em todos os cantos, tem trezentos objetos para os quais


ele pode se desviar e não voltar mais as vezes.

Então, desvios as vezes perigosos e difíceis de se encontrar a volta, formam


vícios.

Por fim, para esse primeiro capítulo o verso 20.

"Falar e recitar pouco os textos sagrados, mas praticá-los, libertando-se da


cobiça, da ira e de toda ilusão com verdadeira sabedoria,

com a mente livre dos vínculos deste mundo ou de outro qualquer, na verdade este
homem participa da vida santa".

Ou seja, tão interessante veja como é forte isso.

Já havia neste contexto, aliás, o Budismo nasce num contexto já de decadência do


Hinduísmo.

Já havia neste contexto a idéia do homem repetir para si mesmo palavras sagradas o
tempo todo.

Como se isso de alguma maneira penetra-se na sua alma, gerasse um estado de


consciência.

Lembrem daquela frase que sempre repito: "você não vive daquilo que come, mas
daquilo que assimila".

Então, repetir, repetir, repetir, frases sagradas, sem assimilar nada disso, sem
trazer para tua vida

é como uma outra passagem de um livro sagrado diz: "A sopa e a colher".

Fala que "as vezes o homem percebe as verdades, como a colher percebe o gosto da
sopa".

Ou seja, está grudado nela, mas não percebe nada.

Já a língua num mero toque percebe o gosto da sopa.

Então, não é só uma questão de proximidade ou de decorar, ou de recitar mil vezes


um versos sagrado, mas é pegá-lo e ir para vida com ele.
Hoje eu vou andar com esse verso do Dhammapada, enquanto eu não encontrar dentro de
mim, eco, eu não largo isso.

Eu quero encontrar um eco na minha vida, como isso se realiza, o que isso tem a me
dizer de prático.

Muitas vezes pego isso, um livro como esse e ando com ele meses a fio dentro da
bolsa.

Enquanto eu não conseguir codificar, traduzir para a minha vida prática, não largo,

porque não basta ler trezentas vezes, não significa nada, é como a colher e a sopa.

Vamos então para o segundo capítulo que é a Appamadavagga (merecimento).

Que trata sobre o merecimento.

Na verdade ele vai falar sobre a vigilância.

E o verso número 25 vai dizer o seguinte:

"Pelo esforço, reflexão, vigilância e auto domínio, o sábio se torna uma ilha
jamais submersa pelas ondas".

Percebam que o que há dentro há fora, o que há acima há abaixo, como dizia o
Caibalion.

Se eu dentro de mim tenho as verdades fundamentais que é onde eu quero chegar, a


existência do Dharma, a existência do Karma,

a necessidade de controlar as formas mentais que vem de fora,

controlar as estruturas da minha própria personalidade para que não sejam


distrativas para que não lutem contra mim, ou seja, os pontos cardeais da vida.

Se eu estou atenta a isso e sei onde eu quero chegar, não vai haver nada de fora
que possa submergir a minha identidade.

E se a minha identidade não se deixar submergir dentro,

não haverá circunstâncias fora que sejam capazes de submergir a minha determinação
em direção ao meu caminho.

Dizem de antigas escolas de artes marciais, normalmente do seio do próprio Budismo,

que as vezes aqueles mestres mais antigos, caminhavam em cima de uma linha

e colocavam vários discípulos tentando fazer com que ele se detivesse.

E os discípulos se atiravam, se enrolavam entre eles mesmos e o mestre passava


pelas frechas e ia embora.

Ou seja, um homem que tem foco, está centrado e não deixa que dentro, nada submerja
sua identidade,

fora também muito dificilmente alguém vai conseguir fazê-lo.

Ou seja, aonde á uma vontade, há um caminho e onde há um caminho e um caminhante


determinado e com foco, nada pode detê-lo.
Então, a vigilância como elemento fundamental dentro primeiro, e fora o que
acontecer é uma consequência.

Vinte e nove...

"Vigilante entre os desatentos, desperto entre os indolentes, o sábio avança rápido


como um corcel veloz, que deixa após si, um pobre rocinante".

Ou seja, vigilante entre os desatentos, desperto entre os adormecidos.

Já falei para vocês algumas vezes que, você pode ter várias formas de se destacar
ou são muitos deitados no chão, muita gente chama atenção, ou um único, de pé.

Esse se destaca também.

Nós não estamos buscando destaque, mas a capacidade de não deixar que nada nem
ninguém nos roube a nós mesmos.

E isso é fundamental o que ele fala, manter-se de pé e atento, e com foco, e


sabendo onde queremos chegar com tudo isso.

A identidade vem do sentido de vida e buscar ferramentas coerentes com nosso


sentido de vida que nos permitam caminhar,

ou seja, atento ao sentido e atento ao caminho, buscando a cada momento, trazer à


tona as melhores ferramentas.

Como falamos sempre dos contos de fada.

O príncipe que vai libertar a princesa do dragão, atento a tudo no meio do caminho
que possa ajudá-lo, a empreender melhor essa tarefa.

No 31, ainda falando sobre a vigilância, ele vai dizer:

"O monge que se compraz na vigilância e conhece o perigo da negligência, avança no


caminho como o fogo, queimando pequenos e grandes obstáculos".

Na negligência entra os nossos vícios, na negligência entra os nossos maus


pensamentos,

que muitas vezes absorvemos do meio, muitas vezes nós mesmo criamos, na negligência
entram todas as indisposições de todos os planos,

ou seja, uma porta mal fechada, mais cedo ou mais tarde vai entra algo que não é
desejável.

Não temos um bom controle daquilo que é capaz de determinar a nossa identidade.

Percebam, há duas formas de você, por exemplo: eu quero dominar um povo;

Tenho duas formas;

Ou eu vou lá e seguro, infiltro naquele pessoal idéias que são estranhas a natureza
deles, a identidade deles, faço com que eles neguem a sua própria tradição,

os seus próprios símbolos, seus próprios folclores e isso vai fazer com que eles
se percam,
ou entro no plano mental deles e começo a fazer com que eles se sintam
envergonhados de tudo aquilo que é próprio da identidade deles.

Ou seja, ou você vai no plano físico ou você vai no plano mental.

Quando muitas vezes acontece, um dia desses eu via isso.

Estamos em 2018, e acabamos de sair de uma copa do mundo, perdemos.

Eu estava andando com meu carro pela rua e vi uma bandeira daquelas de porta mala
de carro que tinha sido arrancada e estava jogada no meio da avenida.

Eu não tinha como parar, mas era muito triste de ver aquilo.

A Bandeira toda suja, toda rasgada e batendo nos carros que passavam.

Eu fiquei pensando, a pessoa que jogou isso no meio de uma estrada, ela não sabe o
dano que causa a si próprio e a uma nação inteira.

Por que um símbolo é altamente estruturante, um símbolo representa a nossa


identidade.

O desrespeito aos símbolos faz com que percamos a confiança, não só em nós mesmo
como nação, mas cada um de nós como indivíduo.

Vai corroendo as bases da nossa identidade.

Então, um dos elementos fundamentais, para se manter no caminho e poder como fogo,
vencer as adversidades, é cuidar da nossa identidade.

E quando ela é representada por símbolos, cuidar dos nossos símbolos.

Cuidado com as coisa que desmerecemos.

É terrível que os nossos símbolos nacionais, por exemplo, sejam muitas vezes tão
depredados, maltratados,

porque isso atinge profundamente a psique de cada ser humano que está inserido
sobre a cobertura desse símbolo.

Pensem, reflitam um pouco sobre isso.

Então vigiar a nossa identidade é nosso sentido de vida e manter-se no caminho.

Manter-se no caminho fora é uma consequência de manter-se atento ao caminho de


dentro.

Não há como.

Quanto mais dentro mais fora, a velha máxima que já falamos.

O contrário é muito difícil, há um adestramento para caminha fora, mas dentro não
existe nenhuma convicção.

Bom... a primeira idéia nova que surgir vai te tirara do caminho.

O terceiro capítulo do pensamento (CITTAVAGGA).

Vamos pegar o verso 33.


"Da mesma forma que o armeiro fabrica flechas que sejam retas, o sábio corrige sua
mente incerta e instável, difícil de vigiar e dirigir".

Ou seja, acordamos de manhã, limpamos nossa casa, cuidamos do cachorro, limpamos a


área, ajeitamos a cozinha.

Teremos que ter um protocolo interno de também perceber como é que está a nossa
mente.

Aliás , já falei muitas vezes para vocês a maneira quando acordamos pela manhã, uma
boa música, uma boa leitura ainda que muito rápida, uma página, um parágrafo.

Deveríamos dar uma ajeitada na nossa mente para começarmos o dia com tudo
organizado.

Com a mente no nível mais elevado possível, consciência focada em coisas elevadas,
nobres, que nos inspirem para o dia.

Então, esse elemento de corrigir a nossa mente, cada vez que ela se desvia, passa
necessariamente pela atenção, sobre o que esta acontecendo com a nossa mente.

Já falei sobre isso em várias palestras e aqueles que me acompanham sabem disso.

Que em uma ocasião, passei um exercício para os meus alunos, alunos de filosofia de
Nova Acrópole.

Perguntei: vocês são críticos?

Não, ninguém é crítico, ninguém era, uma sala de vinte pessoas, não tinha nenhum
crítico, um fenômeno.

Aí pedir que três vezes por dia parassem, e percebessem onde é que a mente deles
estava.

Três vezes por dia, marcassem o horário, oito, meio-dia, seis horas da tarde, e
vissem onde a mente deles andava.

E passara uma semana.

A maioria deles que tiveram coragem de me dizer, falaram: "Olha! as três vezes que
a minha mente parou, eu estava criticando algo ou alguém".

Sabe o que é você saber nem aonde anda a sua mente?

Ficarmos tão desatentos que não sabemos nem o que pensamos durante o dia.

Você sabe o que pensou hoje?

Quantas vezes criticou algo ou alguém?

Que tipo de pensamento teve?

Ou seja, a atenção e a vigilância para saber onde anda a nossa mente, as vezes nem
isso temos.

Não temos uma visão clara do que passou pela nossa cabeça, pelas nossa emoções ao
longo de um dia.
Vigiar a nossa mente.

Puxá-la para cima cada vez que ela decai.

Estar atento ao que realmente importa na nossa vida.

Estar atento há realidade.

Onde queremos chegar com tudo isso.

Um dia não é tão pouco assim para desperdiçarmos.

Lembrem...

Vivemos setenta, oitenta anos.

Um dia dentro do contexto como esse é muito.

Se vivêssemos oitenta mil anos, talvez não fosse tanto, mas numa vida tão curta, um
dia é precioso.

Onde andou a sua mente hoje?

O quanto você se aproximou do seu ideal, da sua identidade, no dia de hoje?

Se não, por quê? porque esse fator que te freou hoje ou que te desviou hoje, se
você presta atenção a ele, você pode combatê-lo amanhã,

senão vai roubar o dia de amanhã também.

Ou seja, atenção, vigilância que nos permite avançar feito fogo.

Trinta e seis...

"A mente é invisível e sutil, difícil de ser vigiada, correndo para onde lhe apraz,
que o sábio há vigie: vigiada é uma fonte de felicidade".

Então, sabermos adquirir cada vez um maior comando sobre ela.

Eu digo para as minhas pernas: "me leve até a parede! e elas me levam".

Eu digo para as minhas emoções: "sintam tal coisa agora! não obedecem!"

Digo para mina mente: "pense tal coisa! não penso!"

Eu acho engraçado aquelas caixinhas que colocam dentro das bibliotecas, das
universidades para o estudante sentar ali e vê apenas o seu livro e estudar.

Daqui a pouco você vai vê, as caixinhas estão cheias de coisas escritas.

O estudante entra ali e fica lendo as coisas que estão escritas na caixinha.

Você não passou por isso? eu passei!

Mas eu acho curioso, como é que nós estamos sempre fugindo, sempre pegando caminhos
de evasão.

Há uma resistência muito grande de nos entregarmos aquilo que nos corresponde a
cada momento.
Saber educar essa dispersão mental.

Fazer práticas de concentração.

Relembrar todos os dias o que é importante.

Fazer um bom planejamento do tempo.

Ou seja, ir treinando musculatura para ter um básico controle mental que não te
permita perder um dia após o outro por dispersão.

O que eu fiz? um monte de coisas.

Quantas eram as que você deveria ter feito? nenhuma, então você perdeu seu dia.

Andou aleatoriamente...

Talvez tenha feito coisas até que tenham alguma utilidade,

mas se não estavam dentro daquilo que você deveria fazer, foram perda de tempo
também e é uma inclusive das justificativas.

Fazemos um monte de coisas... ah! mas isso foi importante.

Se foi importante, por que não estava dentro do seu planejamento?

Se não estava, porque não era prioritário, não era o momento de ser feito.

Cuidado com as desculpas que criamos para justificar a nossa dispersão.

Considerando... verso 40, perdão!

"Considerando esse corpo frágil como uma jarra de argila, façamos da mente uma
fortaleza, subjugando Mara (tentação), com a espada da sabedoria.

Depois da vitória, a conquista é mantida pela constante vigilância".

Então não pense que somos fortes pelo nosso corpo, nosso corpo é extremamente
frágil, como ele diz: "um vaso de barro".

Epíteto que era um filósofo estoico, ele dizia:

"Proteja a sua mente e ela protegerá você".

Quem pode nos proteger é a atenção, é a consciência elevada, é a inteligência.

São fenômenos que só ocorrem, quando a mente está concentrada e desperta, fora
disso somos uma folha a mercê do vento.

Se o dia vai ser bom ou desastroso, depende do vento e não de você.

Se tornou marionete na mão de circunstâncias naturais ou as vezes até antinaturais.

Então, cuidado com isso, a maior fortaleza que temos é a nossa única garantia, é
estarmos atentos, tendo um básico controle de nossa mente.

Nosso corpo não nos garante nada, é muito mais frágil do que imaginamos,
passageiro.
Cheio de limitações.

A nossa mente é que tem que velar pelo corpo e nunca o contrário.

A prioridade é o plano mental que é onde tudo nasce e tudo pode ser mantido, ou
seja, conquistar a si próprio e manter a vigilância.

Não abrir mão, não temos nada definitivamente conquistado.

Se você hoje é uma pessoa que controlou, por exemplo, a preguiça, cuide!

porque amanhã ela vai voltar a correr atrás de você e um momento de desatenção, ela
se instala novamente.

Ah! então a vida é um inferno! não a vida não é um inferno, a gente tem que achar
vigilância, é uma coisa boa.

A gente tem que achar essa conquista de si próprio, diária, uma coisa boa.

Recentemente falava isso numa palestra.

Uma criança adora ir num parque, e pegar uma roda gigante, uma montanha russa,
gosta da aventura.

Um jovem que vai para um jogo, gosta de níveis de dificuldades cada vezes maiores,
gosta da aventura.

Por que você não gosta? porque não gostamos da aventura de estar constantemente
lutando contra a dispersão.

Isso é um herói.

Mais do que aquele que vence mil homens em batalha, é quem vence a si mesmo.

Enfim, esse é a grande aventura da nossa vida, curtir, por isso senão a vida
realmente se torna um inferno.

Curtir a arte de viver como ser humano.

Perceber que isso é o melhor que podermos fazer por nós, e por todos aqueles que
amamos a nossa volta.

Quarenta e um...

"Não tardará muito e esse corpo jazerá por terra, abandonado, sem vida,
inconsciente, insensível, semelhante ao inútil galho seco.

Mas não perecerão as consequências de seus pensamentos, os bons engendrarão boas


ações, e os maus engendrarão más ações".

Esse que é um exemplo muito usado também no Hinduísmo, é algo muito preocupante.

Percebam em primeiro lugar que constantemente, se usa a idéia da brevidade da vida,


como um estímulo e não como um "bicho papão".

A morte não era usada para assustar, mas para chamar o homem de volta ao centro
para ele não perder tempo, porque o tempo é fugas.
Não se usava a morte como uma coisa assustadora, mas como uma boa companheira para
nos lembrar do que devemos fazer.

Agora, isso que ele diz que mesmo depois do corpo ter morrido, as idéias continuam
atuando no mundo.

Isso é algo sério a ser considerado.

Elas continuam atuando e gerando Karma.

Ou seja, as vezes uma pessoa morreu, não é difícil vermos isso historicamente.

Uma pessoa que viveu a dois, três séculos atrás, mas projetou um preconceito, uma
forma mental negativa, e isso ainda hoje produz vítimas.

Alguém que viveu a mil anos, dois mil anos e criou idéias altamente positivas, como
diz o próprio Dhammapada,

aquela palavra que trás consolo a quem a ouve, essa palavra está ecoando há dois
mil anos.

Ainda gera um Karma positivo.

Percebam que uma pessoa que erra, segundo a tradição indiana e budista também do
Hinduímos e do Budismo,

uma pessoa que erra, porque copiou o seu exemplo, um pouco desse carma ainda é seu.

Uma pessoa que acerta, porque se inspirou no seu exemplo, um pouco desse Karma é
seu.

Que dizer, idéias ficarão por aí, ecoando.

Muitas vezes vemos pessoas nas ruas vivendo determinadas idéias, que elas não sabem
nem qual é o nome do autor.

As vezes a gente conheceu um pouco mais e sabe: esse foi fulano!

Essa pessoa já não sabe nem quem gerou essa idéia, mas ainda há vive e toma como
sua, e ainda é fonte de um monte de equívocos, no mundo atual.

Então cuidado, percebam isso, as nossas idéias são maiores do que a nossa vida.

Aqui os frutos do nosso plano mental, são mais duradouros que os frutos do nosso
corpo físico.

Muito mais e podem trazer proporcionalmente prejuízos e benefício muito maiores,


ainda quando não estivermos mais aqui.

É duro mais é importante de vezes em quando dá um choque elétrico na nossa


consciência para que ela perceba o que é essencial, o que é real,

o que estamos de fato semeando no mundo.

Quarenta e dois...

"Qualquer que seja o mal que alguém faça a quem odeie ou que, entre si, façam dois
inimigos, maior mal é o causado pela mente mal dirigida".
Ou seja, um pensamento circular, negativo, de complexo, de preconceito, de ofensa,
não existe nenhum inimigo teu no mundo, que possa te fazer tanto mal quanto ele.

Infiltra-se nas suas relações sociais, infiltra-se na sua ação profissional,


infiltra-se nos momentos íntimos e públicos, e sai causando terra arrasada.

Prejuízos em toda a sua vida.

Nenhum ser humano seria capaz de fazer isso com você.

Prejudicar tão profundamente a ponto de te roubar a beleza da vida, a ponto de te


roubar a paz.

Um pensamento é capaz de fazer isso, não pode haver inimigo pior, nem amigo melhor,

do que um bom pensamento, uma boa forma mental, um bom princípio, que norteie o teu
plano mental.

Continuando...

O quarto capítulo, o último que vamos tratar hoje.

Das flores, Upavagga.

Ele vai tratar, sobretudo, da questão de fazer com que floresça o nosso melhor,
tendo cuidado com os insetos.

Fazer com que floresça a nobreza, a beleza, tendo cuidado com os insetos das
paixões, da sensualidade excessiva, de uma série de elementos que nos desviam do
caminho.

Sempre considerando, não estamos na Idade Média, não estamos considerando que as
coisas sejam más em si, mas cada coisa no seu lugar e na sua medida.

Aí nasce a Consciência Humana.

Muitas vezes temos confusões. Eu percebo pessoas as vezes que lêem Nietzsche, por
exemplo, quando ele fala do Dionisíaco, do Apolínio.

Acham que o Dionisíaco é entregar-se as paixões e aos prazeres aqui embaixo e que o
Apolínio é a idéia da unidade.

Na verdade vocês vão perceber, que a idéia é nos entregarmos, não as paixões do
plano animal, mas as paixões da alma, lá em cima.

Que também existem.

A alma também se apaixona.

Apaixona-se por idéias grandiosas, apaixona-se por metas elevadas, ou seja, há


paixões também da alma, não só as do corpo.

Elas são filtradas pelo Apolínio, ou seja, esse triângulo inferior da dualidade
Dionisíaca,

vai gerar não Dionísio à greus, despedaçado, mas um Dionísio lá em cima que gera os
prazeres da alma,

ou seja, conciliar Dionísio com Apolo não significa cair na matéria, cair nos
instintos.

Há que saber lidar com as paixões humanas, que também existem, com os prazeres
humanos que também existem.

E os prazeres do plano animal?

Alguns no seu momento certo também, mas não nos tornarmos escravos deles, ou seja,
cada coisa no seu lugar, é o conceito de justiça platônico.

Cada coisa no seu lugar não existe mal no mundo, ou seja, isso não é um
puritanismo, isso é discernimento.

Importante entender isso.

Então, verso 46...

"Aquele que sabe que este corpo é efêmero como a espuma das ondas, e ilusório como
uma miragem, desviará a flecha florida de Mara( sensualidade),

e desapercebido do rei da morte, prosseguirá no caminho".

O tempo todo percebendo que aquilo que nós tomamos como absoluto é passageiro.

Percebam que esse contraste, no contraste nasce a consciência.

Sempre falo para vocês sobre isso, que a teoria do impacto, o contraste entre duas
coisas você percebe ambas,

no contraste entre o silêncio e o som, você percebe os dois, o silêncio e o som.

O mundo plano, homogêneo, não há discernimento, a consciência não nasce.

Então, de vez em quando nós temos que confrontar o passageiro com o eterno.

O pouco durável com o duradouro para que nós possamos dar o valor correto as
coisas.

Então, as sensações muito agradáveis, no momento delas, nada mal, mas fazermos da
nossa vida um acumulo de sensações.

Como se diz por aí: "o que vale é o acúmulo de momentos", cuidado! porque você pode
ter um quebra cabeça onde nada encaixa.

O acúmulo de momentos que se encaixam todos eles numa direção, tudo bem!

mas desconexos e conectados simplesmente pela sensualidade, pelas paixões


descontroladas, pode gerar simplesmente,

terra arrasada, um ferro velho, onde nada conecta com nada e nada se constrói.

O quarenta e oito, continuando nessa mesma temática vai dizer:

"Aquele que, ávido de desejos, colhe as flores das paixões, é surpreendido pela
morte antes mesmo da saciedade".

Por que os desejos, eles se multiplicam, existe aí uma teoria do princípio do


gênero, como dizia o Caibalion.
Um desejo combina com outro, daqui a pouco tem uma prole enorme, ele gera um vício,
ele nunca se sacia.

Antes que você sacie o último dos seus desejos, vai ter dado o seu último sopro de
vida.

A vida não é suficiente para uma febre insaciável de desejos.

E você vê, um dia eu vou fazer uma coisa séria e agora deixa eu me distrair, quando
você percebe a sua vida foi uma grande distração.

A vida é muito fugas e as vezes é difícil passarmos essa idéia para um jovem.

Alguém na minha faixa de idade, na faixa dos cinquenta, tem impressão que vinte
anos, trintas anos, foi ali, agora.

O tempo é muito fugas. A única coisa que se pode dizer sobre a vida é, que ela
passa rápido,

ou seja, é importante percebermos, confrontarmos esse duradouro com o passageiro


para termos uma noção do que vale a nossa atenção,

do que vale a nossa energia, e não nos percamos num mundo de futilidade.

Não vamos nos submergir num mundo de ruínas e de futilidades.

E sermos fúteis e passageiros como ela que acabamos tendo identidade com aquilo que
buscamos.

Verso 49...

"Que o sábio viva em sua aldeia assim como a abelha recolhe o néctar, sem
prejudicar a cor e o perfume da flor".

Vocês percebem que até isso que é harmonia, tem haver com termos uma certa
sobriedade na nossa saciedade.

Que nós possamos como a abelha, tira o néctar da flor sem prejudicá-la em nada.

Ela não fica menos bela, ela não fica menos perfumada porque tiramos o néctar.

A interação com o mundo, onde não sejamos sempre consumidores e nunca doadores;

O que damos ao mundo?

Já falei para vocês sobre daquela continha matemática meio desesperadora, que é o
quanto consumimos de água,

o quanto consumimos de alimentos em geral, da terra, dos animais e o que damos à


terra.

O que somamos? O que contribuímos?

com idéias positivas, com a construção de coisas boas; o que somamos?.

Qual é a conta da nossa vida?

Será que somos só grandes consumidores?


Que vamos deixando terra arrasada?

Nós deveríamos ter essa capacidade de consumir sim, o mínimo que necessitamos, o
tanto que necessitamos com uma vida digna,

mas sermos capazes de perceber que nós também somos fator de soma, também
contribuímos para esse mundo.

Eu adoro aquela passagem de Calih Gibran, do profeta que tantas vezes já falei, que
quando você sacrifica um animal ou sacrifica uma planta para se alimentar,

você diga:

"Olha, a mesma faca que te imola, me imolará um dia".

Ambos trabalhamos para construir algo ainda maior na vida.

Ambos somamos, seremos alimento de algo muito maior no futuro, somamos para a vida.

Eu não sou simplesmente um consumidor da tua vida, a tua vida viverá em mim e
através da minha vida, muitos viverão no futuro.

Imagina ser capaz de dizer isso.

Ou seja, temos uma relação onde não ferimos a flor que nos alimenta.

Somos capazes de deixá-la intacta e também, espalharmos o seu pólen pelo mundo
afora.

Ou seja, somarmos, fazermos diferença, isso seria a síntese da vida, no final das
contas é o que vai ficar.

Verso 50...

"Não vos ocupeis com palavras ásperas, faltas ou negligências alheias, mas sede
conscientes de vossas próprias palavras, atos e negligências".

Mais uma vez a velha história da vitimização.

Deixa os outros fazerem, dizerem, naquilo que dependem de nós,

tentamos dar exemplo, tentamos ajudar, mas somos particularmente responsáveis pelas
nossas palavras, pelos nossos atos.

É aquela velha frase que já é um chavão.

Ela é muito verdadeira gente.

"Que o ensinamento se dá através do exemplo".

E as vezes a maneira que você convive com alguém num ambiente, por exemplo de
trabalho,

é muito mais transmutador e impactante do que fazermos um discurso para essa


pessoa.

Ninguém aguenta mais discursos.

As pessoas necessitam que alguém prove, que aquilo que ela diz é possível, que
prove através de sua vida.

Então, parar de se preocupar tanto, seja com a as palavras negativas, com os


comportamentos negativos,

e passar a se comprometer, a sermos somos nós, o fator de soma.

Bom! O mundo não tem virtudes!

Se você tem a virtude, o mundo já tem virtude, porque você é parte do mundo.

Ou seja, suprir em si aquilo que falta no mundo, é difícil, é palavra bonita, mas
se você insiste um pouco mais a cada prazo de tempo, você vai encontrar dentro de
você.

Não é possível que a gente vai pegar aquele álbum de fotografias antigas, abrir e
perceber que a gente mudou, não só fisicamente,

mas que somos mais maduros, mais íntegros, mais fraternos, mais conscientes daquilo
que estamos fazendo no mundo.

Não é possível que só mude a moda e que por dentro sejamos sempre os mesmos.

Então esse é um elemento fundamental, fugir da vitimização, fugir de buscar nos


outros as respostas

e nos responsabilizarmos com a vida, fazendo a nossa parte.

Cinquenta e um...

"Semelhante as belas flores coloridas, mas sem perfume, são infrutíferas as belas
palavras dos que as dizem, mas não as seguem".

Chega a um ponto tal que hoje em dia.

É difícil.

As palavras estão se esvaziando tanto, que é difícil dizer para alguém de uma
forma sóbria e confiável,

eu te amo.

As palavras estão gastas.

Quem trabalha com publicidade, sabe que é difícil convencer alguém de alguma coisa.

Ninguém acredita, quando alguém diz: "esse produto é bom, eu usei", porque, é um
jogo de máscaras, é um farsa,

ou seja, é necessário dizer com a tua própria vida, é necessário coerência e essa
coerência alimenta a nossa Alma e a única forma de inspirar aqueles que nos seguem.

Mais do que nunca, necessitamos de coerência, é a única forma de passa uma mensagem
contundente para alguém, é estarmos fortemente comprometidos,

que não significa sermos infalíveis, mas sim termos ânimo de aperfeiçoamento.

Ou seja, vou cometer esse erro, mas vou corrigí-lo assim que cair no meu campo de
consciência.
E com isso vou cada vez mais criando resistência a certos fatores, isso não me pega
mais, outras coisas pegarão mais a diante,

mas também vou aprender a me prevenir em relação a ela, eu vou ficando cada vez
mais resistente, até que um dia, eu não cairei mais.

Mas nesse momento eu já estou comprometido com esse dia, no futuro.

De uma certa maneira ele já esta aqui, porque eu estou comprometido com ele.

Cinquenta e quatro...

"O perfume da flores, do sândalo, do jasmim ou do incenso, não é levado conta o


vento, mas o perfume da virtude ultrapassa o vento, alcançando os confins do
mundo".

Ou seja, uma flor, algumas tem perfumes maravilhosos, eu tenho aqui a dama da
noite, que é um perfume maravilhoso,

mas se o vento vem e sopra contra ela, ela não tem como vencer o vento, o perfume
vai para trás, o vento é capaz de brecar o suave aroma de uma flor.

Agora o aroma da virtude, eu acho uma coisa muito impressionante.

Digam-me como a dois mil anos, dois mil e seiscentos anos para ser mais específica,
nós conhecemos a mensagem de um Buda.

Uma época onde não havia meios de comunicação e aliás esses meios de comunicação
que temos hoje,

são particularmente da metade do século vinte para cá, antes disso tínhamos muito
pouco.

Como essa mensagem se espalhou pelo mundo afora?

Isso nasceu na Índia.

Há dois mil e seiscentos anos.

Como essa mensagem se espalhou pelo mundo afora?

É um aroma que nada nem ninguém é capaz de deter.

Parece mesmo que inconscientemente, esse aroma é percebido por todos os seres
humanos.

Quando se conta da vida do Buda, se fala isso que sem saber por que toda humanidade
sente um certo alívio das suas dores, quando um homem se ilumina.

Ou seja, o perfume da virtude não encontra barreiras que sejam capazes de detê-la.

E sabendo ou não sabendo de onde ele veio, toda a humanidade por um prazo muito
longo, se beneficia com ela.

É a maior herança que podemos deixar para a humanidade, ainda que não sejamos nem
seremos tão brevemente um Buda,

mas na nossa medida, podemos deixar um aroma que se estenda pelo mundo e beneficiar
um máximo de pessoas que nos seja possível beneficiar.

E por fim... cinquenta e oito, cinquenta e nove...

"Como o lírio perfumado cresce e floresce no lodo, à beira da estrada, o discípulo


do Supremo Liberto brilha, pela pureza e sabedoria, entre a multidão cega deste
mundo".

Ou seja, para quem sabe aquela história do "Sermão de Bernares", onde uma velhinha
com uma pequena lamparina, no alto de uma montanha,

quando cai uma grande tempestade, apaga as tochas de todos os príncipes da terra,

mas ela que tinha uma lamparina muito pequena protege essa lamparina com o próprio
corpo.

E mesmo no meio da máxima ventania, ela não é apagada porque é muito pequena.

E quando se faz escuridão absoluta, essa pequena lamparina é capaz de ser vista a
uma distância muito grande.

Vós sois a Luz do Mundo.

Não se pode esconder uma cidade erguida sobre um Monte.

Ou seja, quando algo belo em nós desperta, é algo muito elevado, está sobre um
monte, está no ápice da condição humana.

É uma luz ainda que pequena, no momento de escuridão, pode iluminar uma distância
muito grande.

Experimentem apagar todas as luzes da sua casa, e ascender uma luz muito pequena,
uma pequena vela, um isqueiro, uma pequena chama,

e você vai perceber a possibilidade de iluminação.

Quanto mais o mundo se faz obscuro, uma pequena luz é capaz de brilhar.

Que nós possamos bilhar, pela pureza e sabedoria, entre a multidão cega do mundo.

Que possamos ser uma gota num tempo árido.

E isso consiste em estarmos atentos, vigilantes, controlarmos nossa mente, e nos


mantermos fiéis a nossa identidade.

Esse é o começo da nossa jornada no Dhammapada e eu espero que vocês lêem esses
quatro primeiros capítulos.

Reflitam, mastiguem, andem com eles pelo dia afora.

Convidem um verso do Dammapada a passar o dia com vocês.

Reflitam, aprofundem, mastiguem.

Que possam daí, extrair algum ensinamento que esteja gravado na sua vida.

E vamos continuando.

Próxima semana mais alguns capítulos a partir do quinto.


Muito obrigada!

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