O Reisado de Laranjeiras

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1

GOVERNO DE SERGIPE UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE


SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
GEOGRAFIA

ANAIS DO SIMPÓSIO DO ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS:


2017-2018

São Cristóvão
Março de 2018
2

Anais do Simpósio do Encontro Cultural de Larnajeiras: 2017-2018/ Maria Augusta


Mundim Vargas, Jorgenaldo Calazans dos Santos, Vanessa Santos Costa. (Organizadores).
Aracaju. 2018

1. Encontro Cultural de Laranjeiras. 2.Festas. 3.Cordel. 4. Patrimônio. 5.Memória.


6.Tradição

ISBN 978-85-7822-607-7
3

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 04

1 SIMPOSIO 2017: CANTORIA: DA VIOLA AO CORDEL 05

1.1 CIRCULAR 06
1.2 PROGRAMAÇÃO 13
1.3 RESUMOS 16
1.3.1 Eixo: Pesquisa e produção da literatura de cordel 17
1.3.2 Eixo: Práticas festivas tradicionais e contemporâneas 23
1.3.3 Eixo: Memória, espaços e tempos da cultura popular 30
1.3.4 Eixo: Gestão, patrimônio e políticas da cultura 34

2 SIMPOSIO 2018: NOSSO PALCO É A RUA 40

2.1 CIRCULAR 41
2.2 PROGRAMAÇÃO 48
2.3 PALESTRA: Tradição e contemporaneidade nas festas de rua: o 51
exemplo de Salvador
2.4 RESUMOS 68
2.4.1 Eixo: Performances: tradições e contemporaneidades 69
2.4.2 Eixo: Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas 78
2.4.3 Eixo: Práticas festivas tradicionais e contemporâneas 105
2.4.4 Eixo: Memória, espaços e tempos da cultura popular 129
2.4.5 Eixo: Gestão e políticas de cultura 138

3 INDICE REMISSIVO 143


4

APRESENTAÇÃO

O Simpósio do Encontro Cultural de Laranjeiras foi concebido como


espaço de integração e junção de saberes e práticas entre produtores de
cultura, e a academia e as organizações governamentais e não
governamentais. Desde sua primeira edição em 1976, realiza-se com a sólida
parceria entre a Prefeitura Municipal de Laranjeiras (PML), a Secretaria de
Estado da Cultura (SECULT) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS),
independe de governos e dirigentes.
A trajetória do Simpósio é marcada pela grande contribuição de
pesquisadores, estudantes e produtores de cultura que se prontificaram em
trazer para o debate suas ideias e produções nos diversos eixos temáticos
propostos a cada ano, a despeito da intermitência da publicação de suas
produções. Trilhando os caminhos solidários, o Grupo de Pesquisa Sociedade
e Cultura do Programa de Pós-Graduação em Geografia, assume em 2017, a
publicação interrompida dos Anais do Simpósio. Essa publicação disponibiliza
os Anais dos trabalhos apresentados nas edições de 2017/ 2018 com as
temáticas: Cantoria: da viola ao cordel e Nosso palco é a rua, respectivamente.
Apresentamos os requisitos catalográficos da publicação: ISBN número 978-
85-7822-607-7, Ano de edição: 2017/18, tipo de suporte: PDF disponibilizado
na internet.
Desejamos que se amplie a participação do público presente até
então nas edições anteriores (pesquisadores e estudantes, produtores e
promotores de cultura e suas representações, representantes de organizações
não governamentais e de instituições públicas e, demais envolvidos com a
cultura, o folclore, o patrimônio e as festas populares), assim como que
permaneça a integração entre agentes e sujeitos da cultura no fortalecimento
das identidades e da autoestima do povo sergipano.
Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, 06 de janeiro de 2018.

Profª Drª Maria Augusta Mundim Vargas


Lider do Grupo de Pesquisa Sociedade e Cultura
5

1. SIMPÓSIO 2017: CANTORIA DA VIOLA AO CORDEL


6

1.1 CIRCULAR
7

SIMPÓSIO DO XLII DO ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS/


V FÓRUM NACIONAL PATRIMÔNIO E FESTAS
TEMA 2017: CANTORIA: DA VIOLA AO CORDEL

SEGUNDA CIRCULAR (30/10/2016)

A Comissão Cientifica do Simpósio do XLII Encontro Cultural de Laranjeiras e


do V Fórum Nacional Patrimônio e Festas informa à comunidade acadêmica a
nova data do Simpósio que acontecerá entre os dias 12 e 14 de janeiro de
2017, no campus da Universidade Federal de Sergipe/ Campus Laranjeiras/SE.
Até o dia 18 de novembro de 2016 a Comissão Científica receberá as
inscrições de trabalhos a serem submetidos à avaliação de acordo com as
normas contidas na primeira circular e reapresentadas nessa Segunda Circular,
com indicação nos seguintes eixos temáticos:

1. Pesquisa e produção da literatura de cordel;


2. Cantorias e suas modalidades;
3. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas;
4. Memória, espaços e tempos da cultura popular;
5. Gestão, patrimônio e políticas de cultura;

Os trabalhos poderão ser apresentados nas modalidades oral ou pôster, de


acordo com a indicação do autor no momento da inscrição.
Serão aceitos resumos de até 500 palavras para as apresentações oral e
pôster, de acordo com a indicação no momento da inscrição.
O encaminhamento de trabalho completo é opcional e aqueles aceitos pela
Comissão serão encaminhados para publicação em Anais.
Serão aceitas inscrições com coautoria. Cada proponente poderá se inscrever
em até 02 (dois) trabalhos como autor e outro como coautor.

Aracaju, 30 de outubro de 2016.


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ANEXO 01
NORMAS PARA SUBMISSÃO DE RESUMOS –
MODALIDADES PÔSTER E APRESENTAÇÃO ORAL
SIMPÓSIO DO XLII DO ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS/
V FÓRUM NACIONAL PATRIMÔNIO E FESTAS
CANTORIA: DA VIOLA AO CORDEL

 O prazo final para submissão de trabalhos é dia 18 de novembro de 2016.


 As seções de pôsteres e apresentação oral serão divididas em três grupos de
acordo com o tipo da produção:
A) Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação, Extensão e afins;
B) Relatos de Experiência de professores da Educação Básica, produtores de
cultura e afins;.
C) trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins;

 O resumo deve ser encaminhado para apreciação da comissão científica do


encontro através do e-mail: [email protected], juntamente
com a ficha de inscrição.
 O resumo deve obedecer às normas estabelecidas;
 O conteúdo do texto deve ser analisado criteriosamente por um profissional de
gramática de responsabilidade do autor;
 O resumo deverá ser digitado em Word for Windows e conter no máximo 500
palavras;
 O trabalho deve ter no máximo três autores;
 Cada autor pode submeter no máximo 02 trabalhos;
 Cada proponente poderá se inscrever em até 02 trabalhos como autor e
outro como coautor.
 Ao encaminhar o resumo o(s) autor(es) deve (m) definir o eixo temático, o tipo de
produção, assim como a modalidade de apresentação pôster ou oral. Os eixos
temáticos são:
1. Pesquisa e produção da literatura de cordel;
2. Cantorias e suas modalidades;
3. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas;
4. Memória, espaços e tempos da cultura popular;
5. Gestão, patrimônio e políticas de cultura.

 A Comissão Científica encaminhará o resumo para os pareceristas que o


analisarão observando: a) sua qualidade científica; b) sua pertinência em relação
ao eixo temático; c) o tipo de produção e, c) o respeito às normas;
 Estrutura do Trabalho: Título do trabalho: todo em maiúsculo, tamanho 14,
negrito, centralizado. Nome dos autores: centralizados logo abaixo do título,
tamanho 12, espaçamento simples; embaixo do nome, colocar as
informações referentes à(s) instituição(ões) a que pertence(m), grupo (s) de
pesquisa (s) que participa/coordena, bem como endereço postal e o(s)
correio(s) eletrônico(s) do(s) autor(es). Após o nome dos autores indicar o
eixo temático e o tipo de produção.
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 Resumo: dois espaços abaixo dos nomes dos autores com espaçamento simples
e em língua portuguesa com no máximo 500 palavras.
 OS RESUMOS APROVADOS NA MODALIDADE PÔSTER DEVEM SER
FORMATADOS DE ACORDO COM AS SEGUINTES NORMAS:
1. O pôster deverá ter a seguinte dimensão: 0,60m (largura) x 0,90m (altura);

2. Em destaque deverá aparecer o título, o(s) nome(s) do(s) autor(es) e vinculo


institucional;

3. Ilustrações: As figuras, fotografias, desenhos, gráficos, mapas, quadros,


tabelas etc., deverão ser apresentadas de acordo com as normas da ABNT.

4. Palavras-chave: Entre três e cinco e devem representar o conteúdo do texto.

5. Citações: com mais de 03 (três) linhas devem ser destacadas com recuo da
margem esquerda, justificado, espaçamento simples, mesma fonte, tamanho
reduzido e sem aspas, sem parágrafo e sem itálico. (ver normas ABNT).

6. Os resumos aprovados na modalidade apresentação oral devem indicar na


ficha de inscrição a forma de apresentação com ou sem Datashow.
7. Referências: Entre linhas simples, Espaçamento entre parágrafos antes de
6pts, alinhamento de texto a esquerda, ordenado alfabeticamente. Para
organização das referências, deve-se seguir as normas da ABNT e relacionar
somente os autores citados. Exemplos:

Livro:
DEL PRIORE, Mary. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo:
Brasiliense, 1994.
Parte de Livro:
GONÇALVES, J. R. S. O patrimônio como categoria do pensamento. In: ABREU,
Regina; CHAGAS, Mario. (Org.). Memória e Patrimônio. Ensaios
Contemporâneos. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009, p. 25-33.
Artigo:
PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das memórias
individuais e coletivas. Patrimônio e Memória, UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1,
p. 95-109, 2007.
Endereço Eletrônico:
UNESCO. Patrimônio Cultural no Brasil. Disponível em:
http://www.unesco.org/pt/brasilia/culture-in-brazil/world-heritage-in-brazil/cultural-
heritage-in-brazil/. Acessado em: 30 de Junho de 2011.
Dissertações/Teses:
SILVA, José Borzacchiello da. Movimentos sociais populares em fortaleza:
uma abordagem geográfica . São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1986. 268p. (Tese, doutorado
em Ciências: Geografia Humana).
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ANEXO 02
NORMAS PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS COMPLETOS (opcional)
SIMPÓSIO DO XLII DO ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS/
V FÓRUM NACIONAL PATRIMÔNIO E FESTAS
CANTORIA: DA VIOLA AO CORDEL

 Enquadram-se nessas normas os resumos aceitos pela Comissão


Científica e que foram desenvolvidos por seu (s) autor(es).
 O período para envio dos artigos é de 18 de novembro a 2 de dezembro
2016.
 O artigo deve ser encaminhado para apreciação da comissão científica
do encontro através do e-mail: [email protected]
 O artigo deve obedecer às normas estabelecidas;
 O conteúdo dos textos deve ser analisado criteriosamente por um
profissional de gramática de responsabilidade do autor;
 O artigo deverá ser digitado em Word for Windows e ter entre 10 e 15
páginas;
 O artigo deve ter no máximo dois autores;
 Cada autor pode submeter no máximo 02 trabalhos.
 Cada proponente poderá se inscrever em até 02 trabalhos como autor e
outro como coautor.
 Ao encaminhar o trabalho completo o(s) autor(es) devem definir o eixo
temático, assim como o tipo de produção e a modalidade de apresentação
pôster ou oral. Os eixos temáticos são:
1.Pesquisa e produção da literatura de cordel;
2.Cantorias e suas modalidades;
3.Práticas festivas tradicionais e contemporâneas;
4.Memória, espaços e tempos da cultura popular;
5.Gestão, patrimônio e políticas de cultura;

 Configuração da página: formato A4; orientação retrato (em todo o


trabalho); margens: superior e esquerdo 3,0 cm; inferior e direita 2,0 cm;
cabeçalho e rodapé 1,5 cm.
 Formatação: Fonte Times New Roman; tamanho 12, justificado; recuo
inicial de parágrafo 1,25 cm, espaçamento 1,5; sem espaço entre os
parágrafos; sem paginação.
 Estrutura do Trabalho: Título do trabalho: todo em maiúsculo, tamanho
14, negrito, centralizado. Nome dos autores: centralizados logo abaixo
do título, tamanho 12, espaçamento simples; embaixo do nome, colocar
as informações referentes à(s) instituição(ões) a que pertence(m), grupo
(s) de pesquisa (s) que participa/coordena, bem como endereço postal e
o(s) correio(s) eletrônico(s) do(s) autor(es). Após o nome dos autores
indicar o eixo temático e o tipo de produção.
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 Resumo: dois espaços abaixo dos nomes dos autores com


espaçamento simples e em língua portuguesa com no máximo 200
palavras.
 Textos e Ilustrações: Apresentar o texto em um único arquivo com
ilustrações (figuras, fotografias, desenhos, gráficos, mapas, quadros,
tabelas etc.), centralizados na página e inseridos em seus devidos
lugares (conferir normas ABNT).
 Palavras-chave: Entre três e cinco e devem representar o conteúdo do
texto.
 Citações: com mais de 03 (três) linhas devem ser destacas com recuo
de 4,0 cm da margem esquerda, justificado, espaçamento simples,
mesma fonte, tamanho 11 e sem aspas, sem parágrafo e sem itálico.
(ver normas ABNT).
 Notas de rodapé: deve ser utilizando o recurso “inserir notas de rodapé”
e apresentadas em ordem crescente, em algarismos arábicos, com fonte
Times New Roman, tamanho 10, justificado.
 Referências: Entre linhas simples, Espaçamento entre parágrafos antes
de 6pts, alinhamento de texto a esquerda, ordenado alfabeticamente.
Para organização das referências, deve-se seguir as normas da ABNT,
e relacionar somente os autores citados. Exemplos:

Livro:
DEL PRIORE, Mary. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense,
1994.
Parte de Livro:
GONÇALVES, J. R. S. O patrimônio como categoria do pensamento. In: ABREU,
Regina; CHAGAS, Mario. (Org.). Memória e Patrimônio. Ensaios Contemporâneos.
2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009, p. 25-33.
Artigo:
PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das memórias
individuais e coletivas. Patrimônio e Memória, UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1, p.
95-109, 2007.
Endereço Eletrônico:
UNESCO. Patrimônio Cultural no Brasil. Disponível em:
http://www.unesco.org/pt/brasilia/culture-in-brazil/world-heritage-in-brazil/cultural-
heritage-in-brazil/. Acessado em: 30 de Junho de 2011.
Dissertações/Teses:
SILVA, José Borzacchiello da. Movimentos sociais populares em fortaleza: uma
abordagem geográfica . São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, 1986. 268p. (Tese, doutorado em Ciências:
Geografia Humana).
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REALIZAÇÃO:
Secretaria Estadual de Cultura – SECULT
Parceiros:
Secretaria do Turismo e do Esporte de Sergipe- SECTUR
Secretaria de Estado de Comunicação - SECOM
Secretaria Municipal de Cultura de Laranjeiras
Universidade Federal de Sergipe – Campus Laranjeiras e PPGEO/Campus São
Cristóvão
Apoio:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
COMISSÃO CIENTIFICA
Coordenação:
Maria Augusta Mundim Vargas: Grupo e Pesquisa Sociedade & Cultura
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Universidade Federal de Sergipe
Auceia Matos Dourado – S&C/PPGEO/UFS – UFAL
Anete Marilia Pereira - UNIMONTES
Ângela Fagna Gomes de Souza – S&C/PPGEO/UFS – UNB
Antônio Alves do Amaral – CEC/SE
Caio Augusto Amorim Maciel - UFPE
Daniella Pereira de Souza Silva – S&C/PPGEO/UFS
Fernando Antônio Santos de Souza – UFS
Isabel Nascimento - SECULT
Jorgenaldo Calazans dos Santos– S&C/PPGEO/UFS
José Rogério Lopes - UNISINOS
Jussara Rosa Tavares – UFS
Lindolfo Alves do Amaral Filho – SECULT/SE
Luis Gustavo Molinari Mundim – IEPHA/MG
Kleber Rocha Queiroz – IPHAN/SE
Maria Augusta Mundim Vargas – S&C/PPGEO/UFS
Maria Geralda de Almeida - UFG
Maria Salomé Lopes Fredrich - S&C/PPGEO/UFS - UFOPA
Mercia Sylviane Rodrigues Pimentel - UFAL
Pericles Morais de Andrade Junior - UFS
Priscila Maria de Jesus – UFS
Roseane Cristina Santos Gomes – S&C/PPGEO/UFS
Rosiane Dias - UFG
Rodrigo Herles dos Santos – S&C/PPGEO/UFS – IBAMA
Rodrigo Santos Lima - S&C/PPGEO/UFS
Solimar Guindo Messias Bonjardim – Fundação Raul Bauab
Suely Gleyde Amancio Martinelli – UFS
Vanessa Santos Costa - S&C/PPGEO/UFS
Verônica Nunes – UFS
13

1.2 PROGRAMAÇÃO
14

XLII SIMPÓSIO
ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS
PROGRAMAÇÃO 2017

12/01/2017 – Quinta feira – MANHÃ


09h – Cerimonial abertura: homenagens aos Mestres: Sales (Laranjeiras),
Rindú (São Cristovão), Idelfonso (Carmópolis) e Neguinho (Japaratuba)
Palavras de Aglaé d’Ávila Fontes (SE)
9h40 – Exibição do documentário: “A cantoria”, de Geraldo Sarno
10h – Conferência de abertura – Prof. Jackson da Silva Lima (SE)
12h – Exibição do documentário: “Jornal do sertão”, de Geraldo Sarno
12h20 – Almoço

12/01/2017 – Quinta feira – TARDE


14h30 – Exibição do documentário “Cordel” de Fátima Goes e Edu Freitas
14h50 – Mesa com poetas populares
Coordenação Klévisson Viana (CE)
Participantes cordelistas sergipanos: Luiz Alves,
Izabel Nascimento
Salete Nascimento
Pedro Amaro
Zezé de Boquim
Chiquinho do Além Mar
Ronaldo Dória
17h – Apresentação do Imbuaça – “A peleja de Leandro na Trilha do
Cordel”

13/01/2017 – Sexta feira - MANHÃ


9h – Mesa: “A pesquisa e a produção da literatura de cordel”
Coordenação Profª. Aglaé d’Ávila Fontos.
Participantes: Rosilene Alves de Melo (CE)
Clotilde Tavares (RN)
Klévisson Viana (CE)
11h – Mesa: “As cantorias e suas modalidades”
Coordenação: Profº. Antonio Amaral (SE)
Partcipantes: Ivanildo Vilanova (PE)
Raullino Silva (PE)
Rogério Menezes (PE)
Raimundo Caetano (PE)
João Miguel (DF)
13h – Almoço

13/01/2017 – Sexta feira – TARDE


14h30 – Comunicações – Profª. Drª. Maria Augusta Mundim Vargas/ UFS
17h – Apresentação de violeiros:Ivanildo Vilanova e Raullino Silva (PE)
Rogério Menezes e Raimundo Caetano (PE)
Vem, Vem do Nordeste e João Bezerra (SE)

14/01/2017 – Sábado – MANHÃ


9h – Mesa: “Eneás Tavares: percurso de um poeta e xilogravurista”
15

Hildênia Oliveira – Museu Théo Brandão (AL) e Moises Oliveira - UFAL


(AL)
10h – Mesa: “Bráulio do Nascimento: presente!”
Coordenação: Cássia Frade (RJ)
Participantes: José Fernando (PE)
Beatriz Góis (SE)
Aglaé d’Ávila (SE)
Jackson da Silva Lima (SE)
Luiz Fernando Ribeiro Soutelo (SE)
12h – Lançamento do selo comemorativo dos 50 anos do Conselho
Estadual de Cultura.
Lançamento do folheto de cordel “Rio Caiçá de Simão Dias e sua súplica
pela vida” Gilmar Ferreira
12h30 – Moções e congratulações
13 h – Escolha do tema do para o XLIII Encontro Cultural de Laranjeiras
13h30 – Encerramento.

Exposições
12/01/2017 – Quinta feira – MANHÃ
Exposição “Xilogravura: Esculpir a madeira para expor a vida!”
Organização: Secretaria de Estado da Cultura
Local: Museu Afrobrasileiro de Sergipe.

Exposição “Os folguedos laranjeirenses em cores, ritos e significados”


Local: Salão de entrada do Campus de Laranjeiras.
Organização: Universidade Federal de Sergipe

Exposição “Cordéis de Chiquinho D’Além Mar e de Crianças laranjeirenses” –


no salão de entrada do Campus de Laranjeiras.
16

1.3 RESUMOS
17

1.3.1 Eixo: Pesquisa e produção da literatura de cordel

A (des)naturalizaçao do gênero: leitura de um folheto de cordel de


Valeriano Felix dos Santos
Edleide Santos Roza

A representação do cangaço nos cordeis de Manoel D’Almeida Filho: um


recorte temático
Izabel Cristina Santana do Nascimento
Wagner Gonzaga Lemos

A utilização do cordel no ensino de geografia nas séries iniciais: um


relato de experiência
Marcos Vinicius dos Santos Souza
Jonatas Ribeiro Marques Barbosa

Cultura popular em cordel: o projeto Cordel e Cia. e sua contribuição para


a educação pública
Uedson José da Silva
Sergiana Vieira dos Santos

A dança e o cordel
Clécia Correa dos Santos
Ianca Caroline Carregosa Silva
Antony Felipe dos Santos
18

A (DES)NATURALIZAÇAO DO GÊNERO: LEITURA DE UM


FOLHETO DE CORDEL DE VALERIANO FELIX DOS SANTOS
Edleide Santos Roza
Universidade Federal de Sergipe
Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS)
E-mail: [email protected]

O estudo do folheto de cordel A mulher que se casou dezoito vezes..., de


Valeriano Felix dos Santos, objetiva discutir a questão da (des)naturalização do
gênero a partir da análise da construção da personagem principal da narrativa
– Dorotéa Carvalhal – uma mulher caracterizada, em sua ampla maioria, por
signos, tradicionalmente, concebidos como próprios do masculino que, como
diz o próprio título, já se casou dezoito vezes e, como versado no interior da
obra, continua donzela e louca para casar. A versão escolhida como objeto de
estudo é a original, sem data, cujo registro mais antigo datado, que se tem
conhecimento, é de 1972. Atualmente, a obra continua sendo publicada pela
Editora Luzeiro. O projeto será aplicado na Escola do Ensino Fundamental
Professor Luiz Antonio Barreto, vinculada a Rede Municipal de Ensino, em
Riachão do Dantas/SE, cidade natal do referido autor do folheto. A turma
escolhida é a 8ª série (denominação ainda utilizada na escola), composta por
vinte e cinco alunos. O trabalho encontra-se dividido em dois capítulos: o
primeiro versa sobre o letramento de um modo geral, delimitando, a partir
deste, o letramento literário, cujo gênero escolhido foi a literatura de cordel e o
recorte feito foi o folheto citado; o segundo constará do relato acerca das
atividades de leitura e interpretação desenvolvidas na turma mencionada a
partir do estudo do referido folheto. A delimitação feita neste projeto veio ao
encontro dos fatores que justificaram a sua realização: a necessidade do
letramento literário e do estudo de uma obra escrita por um filho do município
onde vivem e estudam os alunos envolvidos no projeto; a atualidade do tema (a
mulher e as questões de gênero); a possibilidade da realização de uma leitura
verbal e visual da obra, da análise acurada da construção de sua personagem
principal. Espera-se que os alunos compreendam o modo como é construída a
personagem e sua importância para a efetivação da narrativa; reflitam sobre a
questão do gênero, passando a ter um olhar crítico acerca das concepções de
"mulher" existentes no meio social; e passem a valorizar mais o meio em que
vivem, passando a atuar de modo transformador sobre ele.

Palavras-chave: Letramento; letramento literário; folheto de cordel; gênero;


personagem.
19

A REPRESENTAÇÃO DO CANGAÇO NOS CORDEIS DE


MANOEL D’ALMEIDA FILHO: UM RECORTE TEMÁTICO
Izabel Cristina Santana do Nascimento
Faculdade São Luís de França
E-mail: [email protected]

Wagner Gonzaga Lemos


Faculdade São Luís de França/USP
E-mail: [email protected]

Este trabalho de caráter bibliográfico trata da representação do cangaço na


literatura de cordel do poeta Manoel de Almeida Filho (1914-1995). Embora
paraibano de nascimento, Almeida se radicou em Aracaju, Sergipe, onde
escreveu a maior parte de sua produção que a casa de centenas de livretos e
ocupa, ao lado de nomes como Leandro Gomes de Barros destacado lugar na
poesia popular brasileira. Analisamos nas obras “Os Cabras de Lampião”,
“Vida, Vingança e Morte de Corisco” e “Zé Baiano, Vida e Morte”, como o poeta
representou o cangaço nos versos, bem como tecemos considerações acerca
do papel do cordel como elemento de comunicação, além de recurso didático.

Palavras-chave: Literatura de Cordel; Cangaço; Sergipe; Manoel d’Almeida


Filho.
20

A UTILIZAÇÃO DO CORDEL NO ENSINO DE GEOGRAFIA NAS


SÉRIES INICIAIS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Jonatas Ribeiro Marques Barbosa
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

Marcos Vinicius dos Santos Souza


Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

O presente trabalho objetiva apresentar um relato de experiência de utilização


da literatura de cordel como ferramenta de ensino no estágio curricular
obrigatório de Geografia, desenvolvido na Escola Municipal Dr. Martinho Dorta
de Oliveira Bravo, no município de São Cristóvão/SE. Além disso, discute-se o
papel e a importância da utilização de metodologias que elucidem a geografia
escolar nas séries iniciais, bem como, podendo despertar a compreensão do
sentido das relações entre os sujeitos nos múltiplos lugares, que estão sempre
rodeadas de símbolos, significados, representações, trocas, dentre outros
elementos que perpassam pelo conteúdo idenitário desses sujeitos. O percurso
metodológico se fez por meio de pesquisa bibliográfica, que contribuiu para a
construção do referencial teórico-metodológico pertinente a utilização do cordel
no ensino da geografia. Utilizou-se autores que refletem acerca do ensino de
Geografia na educação básica, tais como Almeida (1991), Calai (2005),
Kaercher (2011) e Selbach (2010). Desse modo, observou-se que a utilização
do cordel como recurso didático no ensino de Geografia proporcionou aos
discentes uma dinâmica pouco, ou quase nunca vivenciada em sala de aula,
além de estimular a interação, o conhecimento da cultura local-global, a escrita,
criatividade, como também reconhecer-se agente integrante e modificador do
espaço geográfico.

Palavras-chaves: Cordel, Geografia Escolar, Ensino.


21

CULTURA POPULAR EM CORDEL: O PROJETO CORDEL E


CIA. E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA
Uedson José da Silva
Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Universidade Federal de Alagoas.
E-mail: [email protected]

Sergiana Vieira dos Santos


Universidade Federal de Alagoas.
E-mail: [email protected]

Este trabalho faz uma análise do cordel A Saga de Berenice com seu Boizinho
Encantado do autor e cordelista alagoano João Gomes de Sá. A presente obra
foi contemplada com o Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel de 2010,
Edição Patativa do Assaré do Ministério da Cultura. O cordel levanta questões
sobre os conflitos sociais que vivenciamos em nossos dias, como: a questão
agrária, a desigualdade social e o abuso de poder, as crianças em situação de
risco e a pobreza refletida no lixão. Um conto popular com uma narrativa
envolvente. Dividida em sete partes que trazem a estória da menina Berenice e
suas aventuras com seu Boizinho Encantado passando por lugares e
encontrando outros personagens que remontam a vida sertaneja no seu
período de estiagem. Berenice tem a missão de encontrar seus pais e sua irmã
que desapareceram em busca de um lugar para viver longe da secura do
sertão. A proposta de João Gomes de Sá vai além da escrita de cordéis, seu
trabalho envolve o Projeto Cordel e Cia. que leva essa expressão artística
popular para as escolas de São Paulo, onde o autor reside atualmente. Em
2015 lançou vários outros cordéis, entre eles Literatura de Cordel: Atividades,
onde o autor propõe atividades lúdicas para acompanhar a leitura de seus
textos e de outros cordelistas. Traz sugestões para os professores onde os
mesmos podem fazer um roteiro com atividades que incentivem o interesse dos
estudantes por esse gênero literário, além de contribuir com discussões que
envolvam o cotidiano e nossa relação com o “outro”.

Palavras-chave: Cultura Popular; literatura de cordel; educação.


22

A DANÇA E O CORDEL

Clécia Correa dos Santos


Escola Municipal Maria de Souza Campos
[email protected]

Ianca Caroline Carregosa Silva


Escola Municipal Maria de Souza Campos

Antony Felipe dos Santos


Escola Municipal Maria de Souza Campos

Brincar e cantar faz parte do universo infantil e acontece naturalmente com as


crianças. Uma boa brincadeira cantada é uma atividade apropriada para os
momentos de lazer e de socialização, para o exercício da memorização, da
dramatização e, especialmente, para disseminação da cultura infantil brasileira.
As brincadeiras cantadas tem um valor ainda maior na atualidade, quando as
crianças são bombardeadas pela mídia com programas que deixam em último
plano a cultura da infância, levando-as a passarem precocemente para o
mundo adulto. Este trabalho oferece as crianças a importante oportunidade de
resgatar a leitura, através do cordel e da dança. Ao fazerem isso, além de
brincarem, cantarem, divertirem-se e aprenderem sobre a importância dos
textos para a nossa cultura, os alunos vão ler, escrever e refletir sobre textos
cujos conteúdos já conhecem ou estão conhecendo através do nosso trabalho.
As crianças que leem e escrevem de forma convencional, por sua vez, tem a
possibilidade de avançar em seus conhecimentos, preocupando-se com
questões como a ortografia e a segmentação, das palavras, aprimorando-se no
uso das estratégias de leitura que já construíram. O trabalho com brincadeiras
cantadas pode contribuir com diversas finalidades no cotidiano das crianças
entre elas: ampliar o repertório de brincadeiras, para os momentos de lazer,
divertir o grupo, ensinar uma brincadeira para um grupo de crianças. Neste
caso, para se colocar diante de um público numa situação de comunicação oral
precisarão desenvolver habilidades, como falar de maneira clara, na sequência
de passos adequados à brincadeira, em um tom de voz que todos consigam
escutar, dando a entonação necessária a cada parte da brincadeira, retomando
partes não compreendidas pelos ouvintes e seguindo a instrução à partir dali. A
cultura brasileira é muito focada na oralidade, nos ritmos, na musicalidade
presente na língua portuguesa com sua variada sonoridade espalhados por
nosso vasto território, podemos encontrar os tiradores de versos, os
repentistas, as pessoas que memorizam imensas histórias contadas em forma
de versos - a literatura de cordel - e que entretêm o público ao recitarem em
praças públicas, nos quintais das casas, nos terreiros das fazendas e nas mais
variadas formas e lugares.

Palavras-chave: Literatura de cordel; Dança; Música; Prática pedagógica.


23

1.3.2 Eixo: Práticas festivas tradicionais e contemporâneas

Comunicação, sociabilidade e tradição no Entrudo de Arraias, Tocantins


Verônica Dantas Meneses
Bianca de Carvalho Martins
Nayara Keicyane Bueno Borges

Cultura popular: um olhar acerca da tradição dos caminhoneiros de


Itabaiana/SE
Letícia Menezes Santos
Leylane Meneses Martins

Festa como performance e contradição : negros e índios , caboclos e


escravos em conflito
Vanessa Regina dos Santos

Os significados da tradicional festa do padroeiro São José da


comunidade Alto dos Coelhos em Água Branca – AL
Patrícia Quirino Rocha
Angela Fagna Gomes de Souza

Reelaboração, comunicação e cultura popular: Taieiras e Cavalhada no


Tocantins
Verônica Dantas Meneses
Maria Eduarda Campos de Sá Ferraz
Lauane Silva dos Santos

Sociabilidade tradicional, festas e modernização em Cabo Verde, África


José Rogério Lopes
Anelise Fabiana Paiva Schierholt
24

COMUNICAÇÃO, SOCIABILIDADE E TRADIÇÃO NO ENTRUDO DE


ARRAIAS, TOCANTINS

Verônica Dantas Meneses


Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Bianca de Carvalho Martins


Universidade Federal do Tocantins

Nayara Keicyane Bueno Borges


Universidade Federal do Tocantins

O trabalho aborda a valorização dos modos de ser, fazer e viver das comunidades e
grupos que não estão no padrão de visibilidade da grande mídia e da sociedade em
geral a partir do estudo da festa do Entrudo, na cidade de Arraias, Tocantins. A
pesquisa integra o Projeto Cultura e Comunicação: folclore, identidades culturais e
memória, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico). O entrudo á a principal comemoração do carnaval de Arraias, abrindo os
festejos nas alvoradas de quinta à terça-feira de carnaval, agregando novos valores a
este período ao mobilizar moradores da cidade que, com coletivismo, alegria e
simbolismos próprios, buscam dar visibilidade ao lugar, reforçar o sentimento de
pertencimento e a imagem de preservadores da tradição. O folclore e as
manifestações folclóricas e populares tem se revelado cada vez mais como um
discurso afirmativo de identidades culturais, de vocação turística e econômica, e de
comunicação da cultura do lugar, que estão sujeitos às transformações inerentes à
própria dinâmica do cotidiano. A pesquisa de campo foi realizada a partir da proposta
etnográfica conduzidas pelas referências teórico-metodológicas da folkcomunicação.
O entrudo tem suas origens em Portugal, chegando ao Rio de Janeiro ainda no século
XVII, logo levado a outras cidades do Brasil. Em Arraias, um dos poucos relatos da
realização do Entrudo atualmente no Brasil, a festa começou a partir do ciclo familiar,
nas casas dos coronéis, na zona rural, mas logo o entrudo popular, com brincadeiras
mais pesadas, que misturavam tinta, cal e lama, e impunham a brincadeira aos que
não queriam participar, ganhou adesão. Aos poucos estes excessos foram banidos
pela comunidade, e motivou a criação de uma comissão organizadora, a única com
permissão para entrar nas casas e convidar os moradores para brincar. O início da
festa acontece por volta das 7 horas da manhã e é marcado por um rojão. Os foliões
percorrem as ruas da cidade com baldes d’água e entoando marchinhas com bandas
locais, ou a banda da Polícia Militar ou a banda própria dos foliões, com sanfona e
triângulo, representando o jeito bem sertanejo, “bem do nosso interior”. Para os
moradores o entrudo de Arraias é uma festa democrática, que não identifica ricos nem
pobres. Diferente da folia do carnaval, no entrudo existem algumas regras, como
homem molha mulher e vice-versa e a adesão explícita à brincadeira de quem estiver
na rua. Os participantes também se oferecem para ser anfitriões servindo lanches e
bebidas aos brincantes. Há também marcações simbólicas que reforçam a identidade
da festa, como expressões próprias (“chibungagem” - quando homem molha homem
ou mulher molha mulher; “Afofar” - quando se solicita que a pessoa puxe a camisa na
parte das costas para ser molhada). Orgulho e pertencimento são destacados pelos
símbolos e slogans espalhados, como a etiqueta colada em baldes dizendo “Eu amo
Arraias”. A água do Entrudo também funciona como uma espécie de batizado, pois os
membros da comunidade trazem o outro, molham e ao mesmo tempo o inserem
dentro do lugar e do movimento.

Palavras-chave: Identidades; Comunidade; Entrudo; Arraias; Tocantins.


25

CULTURA POPULAR: UM OLHAR ACERCA DA TRADIÇÃO DOS


CAMINHONEIROS DE ITABAIANA/SE
Letícia Menezes Santos
Universidade Federal de Sergipe.
[email protected]

Leylane Meneses Martins


Universidade Tiradentes
[email protected]

O presente artigo visou compreender os processos históricos, econômicos e


culturais no espaço itabaianense e como se manifestou ao longo dos anos. O
transporte de carga no município de Itabaiana é uma das atividades mais
tradicionais, sendo uma cultura que perpassa a gerações, a qual afeta a
economia local significativamente, pois está ligada diretamente a circulação de
mercadorias e pessoas, tornando a cidade uma das grandes referências
nacional e principalmente regional no que diz respeito à indústria de carroceria,
com grande oferta de fábricas de carrocerias, lojas de autopeças, oficinas,
revendedoras de caminhões entre outras atividades. Esta pesquisa tem como
objetivo central construir o conhecimento a cerca da tradição do Caminhoneiro
de Itabaiana/Se através das vertentes sociais, culturais e econômicas do
município, bem como entender a importância do profissional do caminhão com
o passar dos anos. Conhecer as atividades desenvolvidas por eles, fortalecidas
por suas religiosidades e crenças, alicerçadas pelas relações sociais e
econômicas. Com um olhar mais aguçado sobre o caminhoneiro, pretendeu-se
analisar sua interferência na vida diária da comunidade itabaianense e mostrar
sua influência na educação das crianças. O desenvolvimento deste trabalho
teve como embasamento metodológico a pesquisa bibliográfica através de
materiais já elaborados como livros e artigos científicos, trabalhos acadêmicos,
periódicos em geral e materiais eletrônicos, encontrados através do acesso a
sites ligados ao tema e/ou específicos, cujas principais temáticas foram cultura,
identidade, tradição e desenvolvimento local, além de visitas in loco para
descobrir a força do caminhoneiro através de conversas informais com a
população. O município foi pesquisado de forma minuciosa em todos os seus
aspectos, processos históricos, econômicos e culturais. Ser caminhoneiro é
motivo de muito orgulho na cidade, além de ter mês tradicional para
comemorar esta profissão: A Festa do Caminhoneiro que acontece anualmente
em junho, junto com a Feira Nacional do Caminhão, proporcionando a todos,
principalmente aos caminhoneiros, a oportunidade de conhecer as novidades,
tendências e produtos do setor de cargas, caminhão e carrocerias. A proposta
foi estudar a tradição de ser caminhoneiro, constatando sua influência nos
âmbitos sociais, culturas e econômicos da cidade.

Palavras-chave: Caminhoneiro; Cultura popular; Desenvolvimento Local;


Itabaiana e Tradição.
26

FESTA COMO PERFORMANCE E CONTRADIÇÃO : NEGROS E


ÍNDIOS , CABOCLOS E ESCRAVOS EM CONFLITO
Vanessa Regina dos Santos
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

A festa conhecida como “teatro a céu aberto” tem como cenário as ruas de
Laranjeiras, uma pequena cidade localizada no interior do Estado de Sergipe-
Brasil em que sua história foi construída por conflitos de classes entre brancos,
negros e índios, seu nome é Festa dos Lambe Sujos versus Caboclinhos. A
luta apresentada teatralmente é a saga do negro em busca de liberdade,
fugidos das fazendas de cana de açúcar, constroem seus refúgios nas matas,
caçados e capturados pelos índios. Etnograficamente descrita, as ações
servem exatamente para direcionar o olhar acerca dos símbolos, a priori
desorganiza a estrutura social já que sai do que se define como cotidiano,
permitindo excessos e exageros, mas que os papéis e personagens que ali se
encontram dentro de um tempo e espaço específico através da performance,
seguem uma lógica de acontecimentos sociais, perpassa além dos muros do
teatro já que possui sentido e sua fundamentação é legitimada pelo momento
festivo. O diálogo apresentado entre performance e festa enaltece durante o
evento dramas e as contradições sociais no sentido de se festejar a própria
derrota (lambe sujos) embasada pelo contexto, mas tomam destaque pela
euforia, pela efervescência coletiva, num curto espaço de tempo revela a
multiplicidade de sentidos vivenciadas por aqueles que dão continuidade aos
grupos ano a ano . Revelam-se por meio dos gestos, da oralidade (perceptível
pelas músicas, suas letras entoadas e falas elaboradas) pelas indumentárias
como roupas e adereços, símbolos que buscam compor a história pungente da
cidade de Laranjeiras.

Palavras-chave: Festa cultural, rito, dramas sociais.


27

OS SIGNIFICADOS DA TRADICIONAL FESTA DO PADROEIRO SÃO JOSÉ


DA COMUNIDADE ALTO DOS COELHOS EM ÁGUA BRANCA – AL

Patrícia Quirino Rocha


Universidade Federal de Alagoas
patrí[email protected].

Angela Fagna Gomes de Souza


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

A comunidade tradicional de Alto dos Coelhos pertence ao município de Água Branca


– AL, a presença do catolicismo na comunidade existe desde a sua fundação.
Segundo os relatos dos moradores o senhor Antônio Coelho, um dos primeiros
moradores da localidade, era uma pessoa de muita fé. Por ser religioso ensinou desde
cedo a seus filhos a fé católica e, construiu a igreja católica da comunidade onde é
celebrada as missas e festejos católicos. Dessa forma, esse artigo busca compreender
quais são os significados que a festa tem para os moradores e para isso realizamos
entrevistas, pesquisas de campo, registros fotográficos e observações empíricas,
utilizando a metodologia geoetnografia visando estar inseridos na festa não apenas
como observador passivo, mas como um agente participativo sempre buscando
compreender a festa a partir da percepção dos próprios moradores. Atualmente a
principal festa promovida pela comunidade é a festa do Padroeiro, São José, que é
celebrada no mês de março com missas, procissão, nove noites de novena e show
musical. Todos os moradores de alguma forma participam da festa, seja participando
das missas, das novenas, dos bingos; recebendo parentes e amigos em suas casas
ou apenas indo aos shows musicais. De diferentes maneiras todos estão envolvidos
no festejo inclusive os que são de religiões diferentes da católica, pois é o momento
em que a comunidade se reúne para festejar o padroeiro e, portanto, sua própria
comunidade. A festa do padroeiro São José, não acontece somente no momento da
missa ou da festa com banda musical, mas é um processo de construção ao longo das
semanas que antecede. O significado da festa está para além do momento da
celebração, está em todo o processo de realização e motivação que estimula a
comunidade a se envolver em função de um único objetivo, a celebração. Os
moradores mencionam a festa como sendo o principal momento do ano em que a
comunidade se reúne. Algo interessante dessas confraternizações é que os
moradores da comunidade não participam da festa da mesma forma, pois uns
preferem os momentos de realização das novenas, outros das bandas de música,
outros dos jogos de sorte, porém todos consideram esses momentos de fundamental
importância enquanto integrantes da comunidade. Nesse sentido, o morador Zé Padre
afirma, “tudo faz parte da festa do padroeiro a parte religiosa e também outras partes
que não são religiosas, que vem gente de fora né, bota barraca ai, tem banda de fora,
armam um palco.” Portanto, percebemos que a realização da festa está intimamente
atrelada a religiosidade e a fé, pois os moradores são muito ligados à religião católica
sendo, portanto, um elo de fortalecimento tanto da fé como da sua própria história e,
ainda, da sua identidade, pois “A festa é, num sentido bem amplo, a produção de
memória e, portanto, de identidade no tempo e no espaço social.” (Guarinello, 2001
apud ARAÚJO; HAESBEART, 2007, p.73). Logo, a festa de São José é uma produção
social construída pela e para a comunidade que fortalece a identidade territorial dos
seus moradores.

Palavras-chave: Festa de padroeiro; geoetnografia; comunidade tradicional.


28

REELABORAÇÃO, COMUNICAÇÃO E CULTURA POPULAR:


TAIEIRAS E CAVALHADA NO TOCANTINS

Verônica Dantas Meneses


Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Maria Eduarda Campos de Sá Ferraz


Universidade Federal do Tocantins

Lauane Silva dos Santos


Universidade Federal do Tocantins

O artigo estuda as Taieiras, município de Monte do Carmo, e as Cavalhadas,


município de Taguatinga, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre os
processos de comunicação articulados à memória e às identidades culturais regionais,
presentes no folclore e outras manifestações da cultura popular no Tocantins. A
pesquisa integra o Projeto Cultura e Comunicação: folclore, identidades culturais e
memória, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico). Schmidt (2011, p.1) analisa que “são diversas as formas de expressão
popular que fazem a transmissão de valores e sentimentos como mídias próprias ao
seu público”. Estas manifestações, como parte da cultura, mudam, agregam novos
significados, pois "sobrevivência e renovação são leis próprias das memórias,
aplicadas aos fatos folclóricos que englobam, em suas vigências, todo o fazer e todo o
saber de um povo" (BARRETO, 2005, p.85). A pesquisa segue o suporte teórico-
metodológico da Folkcomunicação. Desenvolveu-se entrevistas e observação não-
participante e a produção de vídeo etnográfico. As Cavalhadas narram a batalha entre
mouros e cristãos. Em Taguatinga, a festa teve início em 1936, foram interrompidas
em 1946, e retornaram na década de 1990, sempre no mês de agosto junto com os
festejos da padroeira do município, Nossa Senhora D’abadia. Os taguatinguenses se
envolvem durante todo o período, mas o último fim de semana é o mais movimentado,
pois os cavaleiros saem em campo, dramatizando o fato histórico e participando de
competições. Personagens como rainhas, princesas, imperador e madrinha são eleitos
a cada ano. Os cavaleiros, ao contrário, entram no grupo por meio de convite caso
possuam uma vida socialmente bem vista, mas só são dispensados em caso de
descumprimento de regras ou por vontade própria. Interpretar estas personagens é
sinônimo de orgulho, especialmente o cavaleiro. Como agentes folkcomunicacionais,
eles reproduzem a imagem de honra e tradição, descrevendo o sentimento de toda a
comunidade durante todo o ano; é um papel que vem acompanhado de glória e
responsabilidade. Já Monte do Carmo realiza simultaneamente a festa do Divino
Espírito Santo, da Padroeira Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do
Rosário, esta última realizada há mais de 200 anos. Rainha, rei, imperador, imperatriz,
taieiras, caretas, tamborzeiros e congos são as principais personagens. Durante os
quatro últimos dias de festa, a celebração a Nossa Senhora do Rosário movimenta
ainda mais o pequeno município: caçada da rainha, folia das mulheres, jantar do
imperador, banquetes, café e licor, preparados e oferecidos pelos personagens
anfitriões naquele ano. A Folia das Mulheres foi inserida à festa há alguns anos. As
mulheres saem de casa em casa entoando um hino criado pela mestra Bela para
arrecadar contribuições no meio urbano para as despesas da Festa. É na festa em
homenagem a Nossa Senhora do Rosário que as Taieiras se apresentam. As Taieiras
de Monte do Carmo, compostas por 12 mulheres vestidas com saias rodadas, colares
no pescoço e adereços na cabeça - vestimentas que lembram a tradição e herança
negra, saem pelas ruas acompanhadas pelos congos bailando e entoando hinos
durante o cortejo da rainha.
Palavras-chave: Folkcomunicação; Invenção; Monte do Carmo; Taguatinga.
29

SOCIABILIDADE TRADICIONAL, FESTAS E MODERNIZAÇÃO


EM CABO VERDE, ÁFRICA
José Rogério Lopes
Universidade do Vale do rio dos Sinos-Unisinos/ Universidade Federal do
Tocantins
[email protected]

Anelise Fabiana Paiva Schierholt


Universidade do Vale do rio dos Sinos-Unisinos
[email protected]

A apresentação inicia por descrever e analisar os processos de modernização


(sobretudo a urbanização) que ocorreram em Cabo Verde, África, desde a
independência do país, em 1975, buscando expor como tais processos
ultrapassam sua delimitação territorial, em ondas de “extensão funcional para
além de suas fronteiras físicas” (SIMMEL, 1967, p. 23). O que se percebe em
Cabo Verde é que essa extensão funcional da modernização não opera por
ondas lineares, mas em circunvolução. Isso significa que as ondas de
modernização se estendem de acordo com a capacidade de as mesmas
desenraizarem os modos de organização social de suas culturas tradicionais
(HARVEY, 1993) e influenciarem mudanças nos mesmos, em uma formação
inclusiva (WILLIAMS, 1979). Tal extensão funcional de uma modernização por
circunvolução, ao gerar mudanças através de uma crescente formação
inclusiva, também produz apropriações circulares entre os modos de
modernização e os modos de organização tradicionais da sociedade cabo-
verdiana. E aqui, supomos que essas apropriações circulares se expressam
regularmente nas lógicas de sociabilidade cotidianas de sua população,
principalmente naquelas que se reproduzem em comunidades e localidades do
interior das ilhas que compõem o país. E é buscando reconhecer o alcance de
tal suposição, assim como compreender a maneira como tal circularidade de
apropriações vai constituindo a modernização dos modos de organização
locais, que esse estudo objetiva descrever e analisar as dinâmicas culturais
que se reproduzem em duas comunidades do interior da Ilha de Santiago: as
zonas de São Francisco e do Ribeirão do Chiqueiro. Da descrição etnográfica
por essas zonas destacamos alguns quadros da experiência das comunidades
locais que configuram lógicas de sociabilidade cotidiana e se reproduzem ou
ampliam em contextos festivos. Destacam-se desses quadros, para análise,
alguns referentes de territorialidade em torno de arranjos familiares e de
vizinhança, que se articulam com processos de modernização dos territórios,
em torno dos códigos de interação reconhecidos entre os indivíduos. Esses
arranjos e articulações, por seu lado, operam segundo uma lógica local de
adequação das coisas para as celebrações e se reproduz em outros contextos
festivos de Cabo Vede, embora em escalas distintas, conforme os processos
de modernização tenham afetado de maneira mais ou menos intensa os modos
de organização tradicionais com os quais interagem.

Palavras-Chave: Sociabilidade tradicional; festa; modernização.


30

1.3.3 Eixo: Memória, espaços e tempos da cultura popular

Memória e identidade: o ofício das rezadeiras em Delmiro Gouveia, sertão


alagoano.
Sergiana Vieira dos Santos
José Moisés de Oliveira Silva

No trilhar da percepção: a procissão de Nosso Senhor dos Passos e seus


sentidos
Acácia Santos de Araújo
Genésio José dos Santos

A escola e o compromisso com a sergipanidade: um estudo sobre a


presença das manifestações culturais nas práticas curriculares
Kátia Simone Lima Santos
Maria de Fátima Campos da Silva
31

MEMÓRIA E IDENTIDADE: O OFÍCIO DAS REZADEIRAS EM


DELMIRO GOUVEIA, SERTÃO ALAGOANO
Sergiana Vieira dos Santos
Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

José Moisés de Oliveira Silva


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

O estudo da memória e das representações no ofício das rezadeiras tem sido


amplamente apropriado pelas Ciências Humanas contribuindo para um
aprofundamento de várias análises sobre esse ofício. Neste trabalho, a
proposta é de um estudo do ritual, sob uma visão antropológica, onde o mesmo
será descrito e analisado: sentidos do ritual; representação ritualística; memória
e identidade das rezadeiras, símbolos presentes nessas práticas e alguns
apontamentos sobre a eficácia resultada pela cura dos “males que rezador
cura”. Delmiro Gouveia é uma cidade interiorana do Sertão de Alagoas que é
contemplada com a presença desses importantes personagens da cultura
popular, rezadeiras ou benzedeiras, que se constituem com sua contribuição
como referências para o estudo da identidade, da memória indissociável da
cultura, e das representações através da prática ritualística do rezar ou do
benzer que figuram no imaginário popular de cidades do interior. Suas práticas
voltadas à cura de infortúnios materializados nas mais variadas doenças ou no
“mal que rezador cura” tem sido objeto de pesquisa de muitas outras áreas no
mundo acadêmico. É nesse sentido que este trabalho, em vias de
desenvolvimento, contribuirá para a discussão de uma ressignificação e
reinterpretação desse ofício que carrega consigo influências dos povos
indígenas, ibéricos e africanos, trazendo noções sobre quem são as rezadeiras
e quais são os elementos presentes nos rituais de cura, sorte ou presságios e
sua simbologia. Na intenção de dar visibilidade à prática ritualística que se
constitui uma resistência desse ofício de mulheres rezadeiras é que se ancora
a justificativa desse trabalho.

Palavras-chave: Memória; Rezadeiras; Antropologia.


32

NO TRILHAR DA PERCEPÇÃO: A PROCISSÃO DE NOSSO


SENHOR DOS PASSOS E SEUS SENTIDOS

Acácia Santos de Araújo


Universidade Federal de Sergipe - UFS
[email protected]

Genésio José dos Santos


Universidade Federal de Sergipe - UFS
[email protected]

Pessoas de diversos povoados, municípios e estados se deslocam em peregrinação,


trajando roupas de cor roxa ou branca, e carregando consigo objetos pessoais ou
objetos produzidos especialmente para essa ocasião. Aos poucos vão chegando, seja
de ônibus, vans, carros, bicicletas e muitos a pé, todos motivados pela fé e com um
objetivo: Trilhar os passos de Jesus de Nazaré antes de sua morte, que é reproduzida
num cenário histórico, onde se encontra consolidado uma identidade religiosa, pelas
influências que obteve da igreja católica, sendo também a antiga capital de Sergipe, a
terra que sediou grandes batalhas e que é a 4º Cidade mais antiga do Brasil, embora
não seja tão conhecida nacionalmente. Estamos nos referindo a cidade de São
Cristóvão que reproduz, em dois dias durante a quaresma, os 7 passos sofridos por
Jesus antes de sua crucificação. A procissão ocorre no centro histórico da cidade, que
enfeitada de tecidos da cor roxa recebe diversos fieis e visitantes que são atraídos
pelo som da matraca que segue as imagens de Nosso Senhor dos Passos com sua
coroa de espinhos em sua cabeça e Nossa Senhora das Dores, portando em suas
mãos, um lenço que seriam para enxugar o suor, o sangue e as lagrimas de seu filho,
reflexo da dor em seus últimos passos carregando a cruz que posteriormente serviria
de base para pregar seu corpo. Durante a celebração religiosa que revive os últimos
passos de Jesus, há o pagamento de promessas feita por fieis em diversas
modalidades, mas o que chama a atenção de todos são os objetos que são colocados
no interior da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, que fazem parte da devoção ao
Nosso Senhor dos Passos. Devido a quantidade de peças, resultado da religiosidade
popular que foram depositadas no claustro dessa igreja durante diferentes épocas, foi-
se criando de forma natural um museu neste local, conhecido como Museu de Ex-voto
de Sergipe, onde estão expostas essas peças expressas de gratidão e fé. Além da
motivação religiosa que atraem pessoas para São Cristóvão durante a quaresma, há
também diversas pessoas que são motivadas por outros fatores. Da mesma forma que
diversos moradores esperam ansiosamente esse evento religioso por conter um
sentido espiritual, outros têm a mesma ansiedade pela chegada desse evento, mas
que sobre passa o objetivo religioso. Considerando que existem outros fatores que
guiam as pessoas para acompanharem a procissão de Nosso Senhor dos Passos,
este trabalho tem como objetivo analisar, compreender e destacar os sentidos, os
símbolos e significados desse evento, além do religioso, para os visitantes e
moradores da cidade a partir do método Fenomenológico, fazendo o uso, para auxiliar
esta pesquisa, relatos informais de moradores, frequentadores e organizadores da
cerimônia religiosa, referenciais teórico e pesquisas acadêmicas, que foram essenciais
para a construção deste trabalho.

Palavras-chave: Procissão, fé, percepção.


33

A ESCOLA E O COMPROMISSO COM A SERGIPANIDADE: UM


ESTUDO SOBRE A PRESENÇA DAS MANIFESTAÇÕES
CULTURAIS NAS PRÁTICAS CURRICULARES
Kátia Simone Lima Santos
Universidad Autonoma del Sur – UNASUR
[email protected]

Maria de Fátima Campos da Silva


Universidad Autonoma del Sur – UNASUR
[email protected]

Este Trabalho tem por objetivo, a abordagem analítica acerca da inserção das
Disciplinas Cultura Sergipana e Sociedade e Cultura, na grade curricular das unidades
de ensino da rede estadual, municipais e até escolas particulares do Estado de
Sergipe, em conformidade com a Lei de Diretrizes e Base da Educação (LDB), Nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996 – para aplicabilidade efetiva a partir do primeiro
semestre de 1998. O que não aconteceu, mesmo estando de acordo com parâmetros
específicos próprios relativos à valorização das Culturas e manifestações populares e
suas memórias, aprovada e respaldada pela Constituição do Estado de Sergipe em
seu Art. 215, VII, pelo então Secretário de Estado da Educação, Luiz Antônio Barreto.
O estudo priorizou pesquisas documentais, entrevistas e relatos de alguns integrantes
de grupos culturais, paralelamente à aplicação de questionários aos professores do
Colégio Estadual Professora Zizinha Guimarães e Escola Municipal Dr. Lourival
Batista, do Município de Laranjeiras/Se, onde foram encontrados documentos
comprovando a existência legal e formal para que as salas de aula recebam
profissionais que apliquem seus conhecimentos lecionando essas disciplinas que são
um diferencial de inestimável valor para a preservação da imensa riqueza do povo
laranjeirense e sergipano, a manutenção da sua identidade histórica, folclórica e
cultural, e dessa maneira estimular a partir das escolas, a conexão dos antepassados,
seus espaços, tempos e toda sua bagagem cultural com o presente, através de uma
contextualização e leitura educacional contemporânea sobre as manifestações
culturais em todo Estado, observando as principais características, físicas, étnicas e
sociológicas de identificação da Sergipanidade, buscando a participação de estudiosos
e pesquisadores da U.F.S., para escolhas na inclusão de livros sobre as culturas e
conhecimentos regionais, e/ou criação de uma Comissão regional ou local que possa
avaliar e dar o feedback de escolha desses livros, através da Secretaria de Estado da
Educação conjuntamente com Universidade Federal de Sergipe no sentido de
estimular os estudantes da área de interesse a escolherem cursos direcionados para
essas matérias, aumentando assim, a cadeia de estudos e a relação
ensino/aprendizagem das disciplinas sobre a cultura e conhecimentos regionais/locais,
enquanto demanda escolar para todas as unidades do Estado, no sentido de
aumentar o índice de progressão por absorção de conhecimentos regionais, e as
diversas formas de manifestações, eventos, danças, artesanatos e culinária que as
disciplinas Sociedade e Cultura e Cultura Sergipana poderão oferecer aos estudantes
da terra, de forma a fazê-los (as) descobrir o verdadeiro significado de Sergipanidade.

Palavras-chave: Disciplinas; Cultura Sergipana; Valorização; Contextualização;


Identidade; Conhecimentos Regionais; Sergipanidade.
34

1.3.4 Eixo: Gestão, patrimônio e políticas da cultura

Notas Sobre o patrimônio e o pertencimento: uma análise dos resultados


no estudo sobre a Igreja e Convento Nossa Sr.ª Dos Anjos, Penedo, AL
Sergiana Vieira dos Santos
Levy Felix Ribeiro

O chão da festa: sobre resíduos, catadores e carnaval


Dumara Regina de Lima
André Felipe Simões

Renda de Bilro - tecendo história com identidade, memória e meio de


viver na cidade de São Sebastião - AL
Levy Felix Ribeiro
José Moisés de Oliveira Silva
Sergiana Vieira dos Santos

Reflexões da construção do roteiro integrado da civilização do açúcar no


estado de Alagoas (2007 –2011)
Levy Felix Ribeiro
José Moisés de Oliveira Silva
Sergiana Vieira dos Santos

Revalorização da cultura educacional no município de Laranjeiras – SE


Maria de Fátima Campos da Silva
Kátia Simone Lima Santos
35

NOTAS SOBRE O PATRIMÔNIO E O PERTENCIMENTO: UMA


ANÁLISE DOS RESULTADOS NO ESTUDO SOBRE A IGREJA E
CONVENTO NOSSA SR.ª DOS ANJOS, PENEDO, AL
Sergiana Vieira dos Santos
Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

Levy Felix Ribeiro


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

Este trabalho é uma análise dos resultados obtidos com a pesquisa sobre a relação
que envolve o pertencimento dos moradores da cidade de Penedo – AL, com seu
patrimônio. A cidade foi tombada Patrimônio Histórico e Cultural em 1996, desde então
várias obras envolvendo reparos e restauros tem acontecido. A análise proposta nesse
trabalho versará sobre as ações da Educação Patrimonial que tem o papel, nessa
discussão como meio para ajudar a construir uma identidade coletiva na relação
comunidade-patrimônio. Nesse sentido, o trabalho aqui proposto traz uma abordagem
que pode contribuir para o entendimento de questões como a do pertencimento e de
como perceber o patrimônio como algo ligado diretamente a história de cada sujeito
dessa comunidade. Vale salientar que essa busca pela compreensão do que a
comunidade entende como bem cultural a ser preservado se faz imperativo, pois, a
educação patrimonial não pode em hipótese alguma surgir como um mecanismo
impositivo de “sugestão” daquilo que deve ou não ser preservado. No Brasil, pelo
modo como se deu a formação de nossa identidade nacional, fincadas em preceitos
eurocêntricos, a manutenção da relação entre o patrimônio cultural e o sentimento de
pertencimento se dá de maneira relativamente restrita. No que se refere ao patrimônio
cultural edificado, este não deixa “apenas suas paredes” como elemento agregador de
elemento identitário, mas sim toda significação e ressignificação que foi empregado no
processo histórico. Com uma metodologia pautada em entrevistas semiestruturadas e
aplicação de questionários, a análise dos dados coletados se deu através de uma
discussão pautada no conceito de História Oral além da transformação dos dados em
gráficos e sua respectiva interpretação. A Igreja e Convento de Nossa Senhora dos
Anjos representa para além da devoção um lugar importante pela sua história. Nos
relatos orais colhidos através de entrevistas dirigidas é perceptível na fala dos
entrevistados os mesmos sempre se reportando ao tempo de construção da Igreja, ao
que representa a mesma para a afirmação da cidade de Penedo como lócus histórico
e turístico. Contudo, no que concerne o alcance das ações de Educação Patrimonial
para contribuir na melhoria da relação comunidade-patrimônio, muito há o que se
fazer. Apesar de ações desenvolvidas, como as do NUPEAH/Sertão acontecerem
desde 2012, e de outras pontuais, como recentemente a fundação da Casa do
Patrimônio, uma grande parcela dessa comunidade ainda desconhece essas ações
e/ou sequer ouviram falar desse termo. Nesse sentido este trabalho tem como
objetivo analisar a existência ou não do sentimento de pertencimento da comunidade
de Penedo com o patrimônio, mais especificamente a Igreja e Convento de Nossa
Senhora dos Anjos, erguidos no século XVII, e com isso apresentar a relação de
identidade e interesse dentro do que os mesmos entendem como preservação desse
patrimônio.

Palavras-chave: Patrimônio; Pertencimento; Educação Patrimonial.


36

O CHÃO DA FESTA: SOBRE RESÍDUOS, CATADORES E


CARNAVAL

Dumara Regina de Lima


Universidade de São Paulo
[email protected]

André Felipe Simões


Universidade de São Paulo
[email protected]

As imagens de centenas de catadores vindas de distantes aterros e lixões


sempre surpreendem os olhares mais atentos, tanto pelo desperdício
espetacular da sociedade de consumo como pelas condições degradantes de
trabalho e vida destinadas a uma parcela da população. Porém, muito mais
próximas de nós estão as festas populares que, ao se transformam em
megaeventos realizados nos espaços públicos das cidades, passam também a
gerar resíduos em grande quantidade e a abrigar centenas de catadores de
materiais recicláveis, cujo trabalho se realiza de forma precária e sem qualquer
proteção. Não fossem as multidões apinhadas a ocupar praças, ruas e
avenidas, um olhar sobre o chão das festas nos faria ver a massa de resíduos
produzida e a vasta população que se ocupa dela, tal como os distantes aterros
e lixões. Assim, a partir da problemática dos resíduos sólidos urbanos e
buscando uma aproximação com o campo festivo, o presente trabalho discute
o renascimento do Carnaval de Rua de São Paulo, recentemente disciplinado
pelo Decreto 56.690 de 7 de dezembro de 2015, e sua transformação, em curto
espaço de tempo, em grande gerador de resíduos sólidos urbanos. Por meio
de revisão bibliográfica, análise documental e fotodocumentação, buscou-se
identificar os novos arranjos institucionais na organização da festa, sua nova
espacialidade e os impactos socioambientais associados aos resíduos
gerados. Os resultados indicam a entrada da política de cultura na organização
direta do Carnaval- historicamente organizado na cidade exclusivamente como
política de turismo desde a década de 1960 – e, em especial, a necessidade da
gestão sustentável dos resíduos gerados por meio da plena adequação à
Política Nacional de Resíduos Sólidos –arcabouço legal de cumprimento
obrigatório, instituído em 2010 – o que compreende educação ambiental,
gestão compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e inclusão social de
catadores.

Palavras-chave: resíduos sólidos urbanos; catadores de materiais recicláveis;


Carnaval; gestão sustentável; políticas públicas
37

RENDA DE BILRO - TERCENDO HISTÓRIA COM IDENTIDADE,


MEMÓRIA E MEIO DE VIVER NA CIDADE DE SÃO SEBASTIÃO
– AL
Levy Felix Ribeiro
Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

José Moisés de Oliveira Silva


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

Sergiana Vieira dos Santos


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

O trabalho tem como foco principal demonstrar a importância da renda de bilro


para o desenvolvimento social, econômico e cultural de algumas famílias da
cidade de São Sebastião – AL, e bem como salientar a importância e proteção
através da memória e de práticas de saberes passada de mãe para filha no
processo de construção desde as almofadas até a peça final a renda de bilro.
Pretende-se assim levantar questionamentos sobre patrimônio imaterial,
cultura, sociedade e a memória que possam assim nortear qual a melhoria que
a renda de bilro possa trazer para as moradoras da cidade de São Sebastião,
uma vez que não é reconhecida como turística, mas o gestor explora a renda
de bilro como uma atividade que possa movimentar e que proporciona melhoria
e até reconhecimento para a cidade como uma identidade cultural.

Palavras-chave: Gestão, Renda de Bilro, Patrimônio, Identidade Cultural,


Memória.
38

REFLEXÕES DA CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO INTEGRADO DA


CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR NO ESTADO DE ALAGOAS (2007 –
2011)

Levy Felix Ribeiro


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

José Moisés de Oliveira Silva


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

Sergiana Vieira dos Santos


Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

O trabalho busca refletir sobre o desenvolvimento do Roteiro Integrado da


Civilização do Açúcar em Alagoas, entre os anos de (2007 – 2011) com
acompanhamento da implantação, desenvolvimento e consolidação do roteiro,
através de políticas públicas voltadas para os patrimônios históricos que
compõe a roteirização. A construção do Roteiro Integrado da Civilização do
Açúcar é formada pelos Estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco e os
municípios que fazem parte deste roteiro foram aqueles que até hoje tem uma
representatividade histórica no ciclo açucareiro remontando essa monocultura
ao período colonial, assim como seu patrimônio histórico e os produtos
artesanais. O estudo buscou analisar dados econômicos, fatos sociais, fontes
bibliográficas e documentais que foram desenvolvidas para elaboração do
produto (roteiro), livros, artigos e outros, além de algumas entrevistas com os
gestores públicos. De fato, o trabalho traz em sua temática abordagens
teóricas que relacionam turismo, políticas públicas e patrimônio.

Palavras-chave: Roteiro Integrado da Civilização do Açúcar; Turismo Cultural;


Políticas Públicas; Patrimônio Material e Imaterial.
39

REVALORIZAÇÃO DA CULTURA EDUCACIONAL NO


MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS – SE
Maria de Fátima Campos da Silva
Universidad Autonoma del Sur – UNASUR
[email protected]

Kátia Simone Lima Santos


Universidad Autonoma del Sur – UNASUR
[email protected]

Este Trabalho tem por objetivo analisar e verificar como estão sendo aproveitadas as
diversas formas de expressão da cultura, folclore e movimentos artísticos em sua
totalidade e sua relação com a educação escolar no município de Laranjeiras/Se, por
intermédio de ações de políticas públicas para manutenção e preservação dessas
riquezas culturais e patrimoniais tão próprias da região, no sentido de revalorizar e
fortalecer os índices de desempenho dos estudantes do município, para que a partir
da escola, eles aproveitem toda infraestrutura histórica, patrimonial e cultural,
enquanto instrumento de qualificação profissional sustentável. Os estudos foram
efetuados através de entrevistas e aplicação de questionários com representantes de
grupos locais e empresários da região, coleta de informações estatísticas atuais sobre
as escolas municipais, estaduais locais para dar melhor entendimento de como outras
cidades históricas como São João Del Rei, Olinda, Parati e Porto Alegre, se
sobressaíram ao adotarem o ensino de suas culturas e tradições a partir das escolas
do ensino fundamental básico, e assim, desenvolveram a cultura do turismo histórico,
religioso, do livro, e outras atrações regionais que aguçam a curiosidade dos que
gostam de usufruir dos conhecimentos culturais e históricos de qualidade. Como
grande parte da cidade de Laranjeiras é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional - IPHAN, por suas ruas em pedras, igrejas, casarios e estruturas
de construção barroca, sua cultura popular e folclórica riquíssima, porém, com alto
índice de reprovação, evasão escolar e abandono de estudos nas escolas da rede
municipal, é imprescindível a atuação da gestão municipal no sentido reverter a
situação atual e trazer de volta as características da Laranjeiras da época da
Professora Zizinha Guimarães, quando a cidade foi apelidada de “Atenas Sergipana”.
Para isso são necessárias atitudes de gestão que modifiquem o perfil canavieiro para
o turístico de qualidade, que mantenha os costumes e valores culturais da população
de forma sustentável. A cidade não possui uma programação voltada para o turismo
religioso, nem um calendário para esses eventos. De acordo com empresários locais,
os gestores do Município têm como proporcionar as condições para que a cidade
viabilize seu polo turístico adequadamente, e que as manifestações culturais tenham
organização, no sentido de mobilizar o setor de serviços e o comércio local, tendo em
vista que atualmente, de acordo dados oficiais, não há trabalho de fortalecimento
nesse sentido, nem investimentos que criem reais condições para que a revalorização
cultural aconteça. E mesmo partindo das escolas de ensino básico, a revalorização
cultural empreende forças que podem revitalizar qualquer município que tem uma
Zizinha com referência para a Educação.

Palavras-chave: Movimentos Artísticos, Riquezas Culturais, Patrimoniais, Educação,


Revalorização Cultural.
40

2 SIMPÓSIO 2018: NOSSO PALCO É A RUA


41

2.1 CIRCULAR
42

XLIII SIMPÓSIO DO ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS/


VI FÓRUM NACIONAL PATRIMÔNIO E FESTAS
NOSSO PALCO É A RUA

PRIMEIRA CIRCULAR (07/08/2017)

A Comissão Cientifica do Simpósio do XLIII Encontro Cultural de


Laranjeiras e do VI Fórum Nacional Patrimônio e Festa convida a comunidade
acadêmica e os produtores de cultura a participarem do encontro que
acontecerá entre os dias 04 e 06 de Janeiro de 2018, na Universidade Federal
de Sergipe/ Campus Laranjeiras/SE.
A realização do Simpósio insere-se nesse tradicional evento, fruto de
parceria entre a Secretaria Estadual de Cultura – SECULT com a Universidade
Federal de Sergipe – UFS e a Prefeitura Municipal de Laranjeiras que ao longo
de décadas tem garantido um espaço de diálogo entre a sociedade, a
academia e os produtores de cultura.
Essa edição tem como tema “NOSSO PALCO É NA RUA”!
No período entre 11 de setembro a 10 de novembro de 2017 a
Comissão Científica receberá as inscrições de trabalhos a serem submetidos à
avaliação de acordo com as normas contidas nesta circular e com indicação
nos seguintes eixos temáticos:

6. Performances: tradições e contemporaneidades;


7. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas;
8. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas;
9. Memória, espaços e tempos da cultura popular;
10. Gestão e políticas de cultura;

As normas para apresentação dos trabalhos e a ficha de inscrição estão


nos Anexos 1, 2 e 3 desta Circular.

Aracaju 07 de Agosto de 2017.


43

COMISSÃO CIENTIFICA

Coordenação: Maria Augusta Mundim Vargas: Grupo e Pesquisa Sociedade &


Cultura
Programa de Pós-Graduação em
Geografia
Universidade Federal de Sergipe

Auceia Matos Dourado – S&C/PPGEO/UFS – UFAL


Anete Marilia Pereira - UNIMONTES
Ângela Fagna Gomes de Souza – S&C/PPGEO/UFS – UNB
Antônio Alves do Amaral – CEC/SE
Caio Augusto Amorim Maciel - UFPE
Daniella Pereira de Souza Silva – S&C/PPGEO/UFS
Fernando Antônio Santos de Souza – UFS
Jorgenaldo Calazans dos Santos– S&C/PPGEO/UFS
José Rogério Lopes - UNISINOS
Jussara Rosa Tavares – UFS
Lindolfo Alves do Amaral Filho – SECULT/SE
Luis Gustavo Molinari Mundim – IEPHA/MG
Kleber Rocha Queiroz – IPHAN/SE
Maria Augusta Mundim Vargas – S&C/PPGEO/UFS
Maria Geralda de Almeida - UFG
Maria Salomé Lopes Fredrich - S&C/PPGEO/UFS - UFOPA
Mercia Sylviane Rodrigues Pimentel - UFAL
Pericles Morais de Andrade Junior - UFS
Priscila Maria de Jesus – UFS
Roseane Cristina Santos Gomes – S&C/PPGEO/UFS
Rosiane Dias - UFG
Rodrigo Herles dos Santos – S&C/PPGEO/UFS – IBAMA
Rodrigo Santos Lima - S&C/PPGEO/UFS
Solimar Guindo Messias Bonjardim – Fundação Raul Bauab
Suely Gleyde Amancio Martinelli – UFS
Terezinha Oliva - IHGS
Vanessa Santos Costa - S&C/PPGEO/UFS
Verônica Nunes – UFS

REALIZAÇÃO:
Secretaria Estadual de Cultura – SECULT
Parceiros:
Secretaria de Estado de Comunicação - SECOM
Secretaria Municipal de Cultura de Laranjeiras
Universidade Federal de Sergipe – Campus Laranjeiras e PPGEO/Campus São
Cristóvão
Apoio:
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe - IHGS
44

ANEXO 01
NORMAS PARA SUBMISSÃO DE RESUMOS

 O prazo final para submissão de trabalhos é dia 17 de novembro de 2017.


 O período para envio de resumos é de 11 de setembro a 10 de novembro de
2017.
 As seções de pôsteres e apresentação oral serão divididas em três grupos de
acordo com o tipo da produção e que deverão ser especificados na ficha de
inscrição:

A) Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação, Extensão e afins;

B) Relatos de Experiência de professores da Educação Básica, produtores de cultura


e afins;

C) Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins;

 O resumo deve ser encaminhado para apreciação da comissão científica do


encontro através do e-mail: [email protected], juntamente
com a ficha de inscrição (Anexo 03).
 O resumo deve obedecer às normas estabelecidas;
 O conteúdo do texto deve ser analisado criteriosamente por um profissional de
gramática de responsabilidade do autor;
 O resumo deverá ser digitado em Word for Windows;
 O trabalho deve ter no máximo três autores;
 Cada autor pode submeter no máximo 02 trabalhos;
 Cada proponente poderá se inscrever em até 02 trabalhos como autor e outro como
coautor.
 Ao encaminhar o resumo o(s) autor(es) deve(m) definir o eixo temático, o tipo de
produção, assim como a modalidade de apresentação pôster ou oral. Os eixos
temáticos são:

6. Performances: tradições e contemporaneidades;


7. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas;
8. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas;
9. Memória, espaços e tempos da cultura popular;
10. Gestão e políticas de cultura;

 A Comissão Científica encaminhará o resumo para os pareceristas que o


analisarão observando: a) sua qualidade científica; b) sua pertinência em relação
ao eixo temático; c) o tipo de produção e, c) o respeito às normas;

 Estrutura do Trabalho: Título do trabalho: todo em maiúsculo, tamanho 14,


negrito, centralizado. Nome dos autores: centralizados logo abaixo do título,
tamanho 12, espaçamento simples; embaixo do nome, colocar as informações
45

referentes à(s) instituição(ões) a que pertence(m), grupo (s) de pesquisa (s) que
participa/coordena, bem como endereço postal e o(s) correio(s) eletrônico(s) do(s)
autor(es). Após o nome dos autores indicar o eixo temático e o tipo de produção.

 Resumo: O resumo deve conter no mínimo 700 palavras e o máximo de 1000


palavras, considerando do título às referências, observando:

- Iniciar dois espaços abaixo dos nomes dos autores com espaçamento simples e em
língua portuguesa;
- O texto deve conter: i) Introdução do tema com objetivos; ii) Desenvolvimento/
metodologia de trabalho; iii) Conclusões / considerações finais; iv) referências.
- Ao término do texto (antes das referências) apresentar entre três e cinco palavras-
chave que representem o conteúdo do texto.
- As referências devem ser digitadas entre linhas simples; espaçamento entre
parágrafos antes de 6pts, alinhamento de texto a esquerda, ordenado alfabeticamente.
Para organização das referências, deve-se seguir as normas da ABNT e relacionar
somente os autores citados. Exemplos:

Livro:

DEL PRIORE, Mary. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense,
1994.

Parte de Livro:

GONÇALVES, J. R. S. O patrimônio como categoria do pensamento. In: ABREU,


Regina; CHAGAS, Mario. (Org.). Memória e Patrimônio. Ensaios Contemporâneos.
2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009, p. 25-33.

Artigo:

PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das memórias


individuais e coletivas. Patrimônio e Memória, UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1, p.
95-109, 2007.

Endereço Eletrônico:
UNESCO. Patrimônio Cultural no Brasil. Disponível em:
http://www.unesco.org/pt/brasilia/culture-in-brazil/world-heritage-in-brazil/cultural-
heritage-in-brazil/. Acessado em: 30 de Junho de 2011.

Dissertações/Teses:

SILVA, José Borzacchiello da. Movimentos sociais populares em fortaleza: uma


abordagem geográfica . São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, 1986. 268p. (Tese, doutorado em Ciências:
Geografia Humana).
46

ANEXO 02
NORMAS PARA APRESENTAÇÃO PÔSTER E ORAL

 Os trabalhos aprovados nas modalidades Pôster e Oral devem cumprir os


seguintes prazos:
-10 de novembro de 2017: prazo máximo para envio dos resumos;

-24 de novembro de 2017: prazo máximo de envio da avaliação pela Comissão


Científica;

-8 de dezembro de 2017: prazo máximo de recebimento dos trabalhos corrigidos;

-15 de dezembro de 2017: envio da circular 02 com programação final e


distribuição das salas de apresentação Oral e local de exposição dos Pôsteres

 OS RESUMOS APROVADOS NA MODALIDADE PÔSTER DEVEM SER


FORMATADOS DE ACORDO COM AS SEGUINTES NORMAS:

1. O pôster deverá ter a seguinte dimensão: 0,60m (largura) x 0,90m (altura);

2. Em destaque deverá aparecer o título, o(s) nome(s) do(s) autor(es) e vinculo


institucional;

3. Ilustrações: As figuras, fotografias, desenhos, gráficos, mapas, quadros, tabelas


etc., deverão ser apresentadas de acordo com as normas da ABNT.

4. Palavras-chave: Entre três e cinco e devem representar o conteúdo do texto.

5. Citações: com mais de 03 (três) linhas devem ser destacadas com recuo da
margem esquerda, justificado, espaçamento simples, mesma fonte, tamanho reduzido
e sem aspas, sem parágrafo e sem itálico. (ver normas ABNT).

6. Referências: Conforme especificado no ANEXO 01.

 OS RESUMOS APROVADOS NA MODALIDADE ORAL DEVEM SER


APRESENTADOS DE ACORDO COM AS SEGUINTES NORMAS:

1. Os resumos aprovados na modalidade apresentação oral devem indicar na ficha de


inscrição a forma de apresentação com ou sem Datashow;

2. O trabalho deve ser apresentado em no máximo 15 minutos;


47

ANEXO 03
FICHA DE INSCRIÇÃO

EIXO TEMÁTICO
Performances: tradições e contemporaneidades
Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas
Práticas festivas tradicionais e contemporâneas
Memória, espaços e tempos da cultura popular
Gestão e políticas de cultura

TIPO DE PRODUÇÃO
Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação, Extensão e afins
Relatos de Experiência de professores da Educação Básica, produtores de
cultura e afins
Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

MODALIDADE
Pôster
Oral

NOME AUTOR:
NOME COAUTOR(ES):

TITULO:

PALAVRAS-CHAVE:
48

2.2 PROGRAMAÇÃO
49

PROGRAMAÇÃO
Dia 4 de janeiro

8h30 - Cortejo de grupos folclóricos:


- Cacumbi mirim
- Samba de Pareia mirim
- São Gonçalo mirim
9h30 - Abertura:
- Palavras de boas vindas do Prefeito Municipal de Laranjeiras - Paulo
Hagenbeck e do Secretário de Estado da Cultura- João Augusto Gama
10 horas - Lei do Patrimônio Vivo - As experiências de Pernambuco e Ceará
- Fabiano Piuba Secretário de Estado da Cultura/CE
- Marcelino Granja - Secretário de Estado da Cultura/PE
- Mestres dos grupos de Laranjeiras : Zé Rolinha e Maria da Conceição
11h30 - Patrimônio Imaterial: um debate aberto
- Katia Bogéa- Presidente do Iphan Nacional
- Fernando Aguiar – professor e membro do Conselho Estadual da
Cultura
- Edílio José Soares Lima- Representante do IPHAN/SE
13 horas - Intervalo para o almoço
14h30 - As festas tradicionais e os diferentes processos de atualização:
- Oswaldo Trigueiro/PB
- Oswald Barroso/CE
15h - Apresentação do projeto do Largo da Gente Sergipana
- Ézio Deda – Diretor do Museu da Gente Sergipana

Dia 5 de janeiro

9 horas - Nosso palco é na rua: Tradição e contemporaneidade nas festas


de rua
- Angelo Perret Serpa/BA
- Alexandra Dumas/SE
11 horas - Mesa: A diversidade do palco e da rua:
- As manifestações populares: fontes para a construção de novas
abordagens nas artes - Lindolfo Amaral
-Nosso palco é o canavial Projeto Teatro na Usina com Performances
Folkcomunicacionais - Severino Lucena : professor do Programa de Pós
Graduação no Posmex na Universidade Federal Rural de Pernambuco
e Italo Romany – mestrando do programa de pós-graduação do Posmex
na Universidade Rural de Pernambuco
- Encontro Nordestino de Cultura: multiplicidade de linguagens- Neu
Fontes/SE e Tiara Câmera/SE
- Mestre Satu e o enterro do boi
- Aglaé d’Ávila/SE
13 horas - Intervalo para o almoço
14h30 - Apresentação de comunicações
- Coordenação: Maria Augusta Mundim Vargas

Dia 6 de janeiro

9 horas - Mesa: Políticas Públicas para Arte Pública


- Amir Hadad/RJ
- Representante do MinC
11 horas - Mesa: Os mestres e seus saberes
- Mestre Dió (Samba de Coco do Mosqueiro)
50

- Mestre Sabaú (Reisado do Marimbodo)


- Dona Holanda (Samba de Coco da Barra)
- Mestra Barbara (Taieira de Laranjeiras)
- Mediador: Antonio Amaral – presidente do Conselho Estadual de
Cultura
13 horas - Moções
13h30 - Escolha do tema do XLIV Simpósio e Encerramento
51

2.3 PALESTRA
52

TRADIÇÃO E CONTEMPORANEIDADE NAS FESTAS DE RUA:


O EXEMPLO DE SALVADOR1
Angelo Serpa2

Introdução

No período contemporâneo, o “consumo cultural” parece ser o novo paradigma


para o desenvolvimento urbano. As cidades são reinventadas a partir da
reutilização das formas do passado, gerando uma urbanidade que se baseia,
sobretudo, no consumo e na proliferação (desigual) de equipamentos culturais.
Nasce a cidade da “festa-mercadoria”. Esta nova (velha) cidade folcloriza e
industrializa a história e a tradição dos lugares, roubando-lhes a alma3. É a
cidade das requalificações e revitalizações urbanas, a cidade que busca
vantagens comparativas no mercado globalizado das imagens turísticas e dos
lugares-espetáculo.

Em cidades como Salvador tudo vai sendo organizado para tornar-se


espetáculo em prol do incremento da atividade turística, reproduzindo, tanto no
centro antigo como nos municípios praianos de sua região metropolitana, a
velha lógica de concentrar os lucros nas mãos de poucos empreendedores e
de empregar a população local em funções subalternas, sem programas
efetivos de qualificação de mão de obra ou de estímulo às microempresas do
turismo. É um turismo majoritariamente financiado pelo Estado, em parceria
com organismos financiadores internacionais. O discurso é sempre o da
geração de empregos e do planejamento estratégico, baseado na parceria
público-privado.

Em sua dissertação de mestrado, Dias mostra que, em 2001, os empregos


gerados no carnaval de Salvador, em sua maioria, eram precários e mal

1
Versão revista e atualizada de artigo publicado em 2007 na revista Espaço e Cultura (SERPA,
2007), para apresentação no XLIII Simpósio do Encontro Nacional de Laranjeiras.
2
Professor titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia,
pesquisador 1B do CNPq. E-mail: [email protected]
3
“Alma seria o que fica de melhor de um lugar e que por isso transcende o tempo – mas não
existe sem um corpo. Alma são materialidades, práticas e representações com uma aura que
se contrapõe ao que chamaríamos de ‘desalmado’ (...) Há alma quando há paixão das gentes
pelo lugar” (YÁSIGI, 2001, p. 24).
53

remunerados. 50.000 trabalhadores exerciam função de cordeiros4, recebendo


entre 8 e 12 reais por dia trabalhado. Um contingente ainda maior de catadores
de lata precisava recolher em torno de 60 unidades para alcançar um quilo pelo
qual eram pagos de 1 a 1,5 reais. Em contraponto a isso, um cantor ou cantora
de fama regional ou nacional recebia, por dia de apresentação, algo entre
100.000 e 150.000 reais (DIAS, 2002, p. 161). O autor cita dados relativos ao
carnaval de 2001 para mostrar que 79,41% dos empregos gerados no carnaval
eram ocupados pelas camadas mais pobres da população, representadas
pelos cordeiros, seguranças de bloco, catadores de lata, ambulantes,
barraqueiros e baianas de acarajé, mas apenas 5,13% dos lucros gerados nos
negócios realizados no período momesco eram apropriados por estes
segmentos. Em 2001, o carnaval de Salvador movimentou, segundo a própria
EMTURSA5, mais de 500 milhões de reais (DIAS, op. cit., p. 160-161).

Portanto, a cidade-festiva, que se reinventa para o espetáculo e para o turismo,


prepara uma “festa” centralizadora e concentradora de renda. Nasce a “festa-
mercadoria”, que nega a invenção lúdica6 e vai transformando história, cultura
e tradição em divertimento e lazer.

Segundo Arendt (2002) a expressão “cultura de massa” origina-se de outra,


não muito mais antiga, “sociedade de massa”, e evidencia o relacionamento
altamente problemático entre sociedade e cultura. A “sociedade de massa”
sobrevém quando a massa da população se incorpora à sociedade, com a
eliminação de instâncias mediadoras. Sociedade de massa e cultura de massa
parecem ser fenômenos inter-relacionados, porém seu denominador comum
não é a massa, mas a sociedade onde as massas foram incorporadas. A
autora aponta ainda um antagonismo entre sociedade e cultura que é anterior à
ascensão da sociedade de massa: o monopólio da cultura pela sociedade, em
função de seus objetivos próprios, tais como posição social e status,
evidenciando o caráter objetivo do mundo cultural, na medida em que este

4
O cordeiro tem a função de não permitir invasões na área do bloco por qualquer pessoa ou
grupo que não sejam seus associados (cf. DIAS, 2002).
5
Empresa Municipal de Turismo do Salvador.
6
Expressão cunhada por Henri Lefebvre no sentido de “dar ao tempo prioridade sobre o
espaço” e de “por a apropriação acima do domínio” (LEFEBVRE, 1991, p. 132-133).
54

contém coisas tangíveis, compreende e testemunha todo o passado registrado


da humanidade (Compare: ARENDT, op. cit.).

Com as leis do mercado penetrando na substância dos objetos culturais e


tornando-se imanentes a eles como leis estruturais, tudo – difusão, escolha,
apresentação e criação – se orienta, nos setores amplos da cultura, de acordo
com estratégias de venda do mercado. Em Salvador, o processo de
mercantilização de algumas festas populares segue o caminho da
“retradicionalização” ou da “modernização” por intervenção direta do mercado
ou do “Estado-Espetáculo”. “É possível que no futuro todas as manifestações
populares da Bahia estejam estatizadas” (ALBERGARIA, 2003, p. 7). A Bahia e
sua capital transformam-se em produtos turístico-publicitários, com a
distribuição desigual e segregadora de equipamentos culturais no tecido
urbano-regional. Assistimos à emergência de “novas” tradições reinventadas a
cada dia para um consumo turístico cada vez mais segmentado e diferenciado.

É um consumo de classes médias urbanas com “capital escolar” elevado,


norteado por uma “conduta de acumulação”, baseada, sobretudo, na sensação
da “descoberta”. Busca-se tudo aquilo que pode ser assimilado nas tradições
locais e regionais, a fim de confirmar sua própria identidade cultural de classe.
É uma lógica homogeneizante, que exprime uma posição “de força”, afirmando
a universalidade dos valores culturais das classes médias urbanas, se
apropriando de tudo que parece digno de ser extirpado das classes populares,
num processo de “vampirismo cultural”. Vista neste contexto, a atividade
turística faz com que as populações locais reinventem seu cotidiano e, nesta
reinvenção, a lógica da atividade turística se sobrepõe às tradições locais e à
própria identidade dos lugares, impactados por novos valores, novos símbolos,
novas referências e expectativas (FONTELES, 1999).

Questiona-se nesse contexto:

- Por que algumas manifestações estão aparentemente mais “aptas” para os


processos de espetacularização e retradicionalização? Quem são os agentes
desses processos?

- Qual a história dessas manifestações populares? Quem as organiza? Que


tipo de apoio recebem?
55

- Ao serem incorporadas à cultura de massa perdem suas características


originais?

- Até que ponto essas manifestações oferecem parâmetros alternativos à


lógica homogeneizante das cidades organizadas para o consumo cultural e
turístico?

- Como resgatar o sentido lúdico da festa, como proposto por Lefebvre (op.
cit.), em espaços turísticos cada vez mais “transversais”? Como reconstruir a
“centralidade lúdica” em espaços cada vez mais dominados pela troca e pela
circulação?

Mudança social e tradição: Para entender os processos de


“retradicionalização” e espetacularização

As teorias sociais que buscam explicar as mudanças da sociedade consideram


em geral tradição e modernidade como categorias antitéticas, contrapondo as
sociedades ditas tradicionais à sociedade moderna. Essa perspectiva –
compartilhada por autores como Spencer, Durkheim e Weber – descreve os
processos de mudança social em termos essencialmente evolucionários, seja
explicando a mudança social como a substituição gradual de uma solidariedade
mecânica por uma solidariedade orgânica7 (como em Durkheim), seja como
uma tendência gradual e irreversível em direção a formas mais complexas e
impessoais de organização (como em Weber), onde o mundo exterior participa
apenas como fornecedor de estímulos à adaptação (BURKE, 2002, p. 184).

De acordo com isso, as sociedades tradicionais possuem baixo grau de


mobilidade social e seus membros tendem a ser mais hostis à mudança, por
vezes sequer tomando conhecimento das transformações sociais em curso. Já
os membros das sociedades modernas não só têm pleno conhecimento dessas
transformações, como as esperam e aprovam. Assim, se nas sociedades
modernas as mudanças são rápidas e constantes, nas sociedades tradicionais,
formadas por grupos pequenos e de convívio direto, as mudanças são mais
lentas e encontram em geral maior resistência de seus membros. Submetidas à

7
Segundo Burke (2002), a solidariedade mecânica é a solidariedade do semelhante e a
solidariedade orgânica é a solidariedade da complementaridade, que se origina de uma
crescente divisão de trabalho da sociedade.
56

“modernização”, as comunidades tradicionais cederiam lugar a uma grande


“sociedade” impessoal.

Vista nesse contexto, a “festa” é um fenômeno social, sujeito às


transformações e mudanças da sociedade. Concorda-se com Corrêa (2005)
que os estudos realizados sobre esse fenômeno social permanecem reféns de
uma ótica durkeimiana, articulando uma estreita relação entre o ritual e a festa
e “não estabelecendo reflexões inovadoras sobre o tema” (CORRÊA, 2005, p.
142). Em Durkheim, a festa proporciona a comunicação entre os indivíduos, a
partir da superação das distâncias sociais entre eles, suscitando um estado de
“efervescência psíquica”, para transmutá-los do mundo ordinário do trabalho e
reintegrá-los com sua “natureza primordial”. A festa é, pois, um momento de
ruptura e transgressão das normas coletivas, que na vida cotidiana identificam
os indivíduos como seres sociais (CORRÊA, op. cit.). Ainda sob o olhar
durkheimiano, “as principais características da festa são delimitadas por uma
fronteira flutuante com a religião e consideradas pelo autor sob uma
perspectiva universal” (CORRÊA, op. cit., p. 142).

As festas e as tradições religiosas pertencem à esfera da experiência,


constituindo-se das impressões que o psiquismo incorpora na memória, das
excitações que jamais se tornaram conscientes e que, transmitidas ao
inconsciente, deixam nele traços mnêmicos duráveis. Memórias individual e
coletiva fundem-se nas sociedades tradicionais através da festa e do culto,
onde episódios significativos do passado coletivo são rememorados,
“permitindo a cada indivíduo incorporar essas memórias à sua própria
experiência, e recordar-se delas, ao mesmo tempo em que recorda seu próprio
passado. Os dias festivos se destinam a provocar conscientemente essas
rememorações, e nesse sentido pertencem ao domínio da memória
involuntária” (ROUANET, 1987, p. 49).

Mas a incorporação dos bairros populares da cidade contemporânea ao


processo de produção capitalista vai produzir mudanças evidentes, incluindo o
desaparecimento gradual da experiência, privando os moradores de sua
história e da capacidade de integrar-se numa tradição (SERPA, 2004). Pode-se
mesmo falar, como Benjamin (1996), em um “violento abalo da tradição”, que
se relaciona intimamente com os movimentos de massa de nossos dias. Deste
57

modo, retiram-se os objetos culturais de seu invólucro, destruindo-se sua aura.


E, no momento em que os critérios da autenticidade e da unicidade deixam de
aplicar-se à produção cultural, toda a função social desta produção se
transforma. No mundo massificado do capitalismo atual, o homem tem um tipo
de percepção voltado para o idêntico e para o contato direto com as coisas, o
que exclui a unicidade e a distância que definem a aura (Compare: ROUANET,
op. cit. e BENJAMIN, op. cit.). Para Adorno e Horkheimer (1985), a cultura
contemporânea confere a tudo um “ar de semelhança”.

Assim, pode-se pensar os processos de “retradicionalização” e


espetacularização das festas e outras manifestações da cultura popular como
sua transferência da esfera da tradição para a esfera do consumo, descartando
e/ou domesticando diletantismos ingênuos e inoportunos. Assim, algumas das
manifestações culturais das classes populares vão sendo lapidadas e
aperfeiçoadas como mercadorias, tornando-se lazer, diversão e espetáculo
para o consumo imediato. O participante transmuta-se em espectador, que não
tem necessidade de nenhum pensamento próprio, já que “o produto prescreve
toda a reação” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 128).

Para compreender essa mudança social, como a cultura popular transmuta-se


em cultura de massas, devemos analisar como ela acontece, já que em geral
as teorias sociais já mencionadas fazem pouca referência à dinâmica da
mudança. Esse tipo de procedimento alimenta o falso pressuposto de
unilinearidade, fazendo o processo de mudança social parecer uma seqüência
automática de estágios sucessivos, da “sociedade tradicional” a “era do
consumo de massa”. Mas, “em vez de unilinear, a mudança social parece
multilinear. Há mais de um caminho para a modernidade” e esses caminhos
não são “necessariamente suaves” (BURKE, op. cit., p. 196).

Os ingredientes da “retradicionalização” (e da espetacularização) ou


como construir um produto cultural de massas: um exemplo do universo
soteropolitano

Pretende-se agora retomar as questões formuladas, buscando respondê-las a


partir da análise de um exemplo de manifestação cultural em bairros populares
de Salvador. Segue-se o pressuposto de Burke (op. cit.), de que o processo de
mudança social que transforma objetos/manifestações culturais populares em
58

mercadorias para o consumo de massas precisa ser destrinchado quanto à sua


dinâmica “multilinear”, a partir da caracterização dos agentes sociais envolvidos
no processo, assim como dos lugares onde esses processos se manifestam.

A questão central, norteadora da análise aqui proposta, parece já ter sido


formulada por Harvey (2005), quando o autor reconhece que na
contemporaneidade a cultura e as manifestações culturais parecem ter se
transformado em algum gênero de mercadoria: “Como a condição de
mercadoria de tantos desses fenômenos se harmoniza com seu caráter
específico?” (HARVEY, 2005, p. 221). A este questionamento inicial
acrescentamos outras questões, que nos servem aqui de norte: Onde buscar
esse caráter específico das manifestações culturais populares? Por que
algumas delas parecem estar mais aptas à transmutação em produto
mercadológico para o consumo de massa? Quem transforma e com que
objetivos?

Harvey constrói sua argumentação a partir de uma análise conceitual da “renda


monopolista”, para compreender como os processos de globalização do
período contemporâneo se relacionam com os diferentes lugares e formas
culturais. O autor, ao invocar o conceito de “renda monopolista”, dentro da
lógica de acumulação capitalista, quer demonstrar

que o capital possui meios de se apropriar e extrair excedentes das


diferenças locais, das variações culturais locais e dos significados
estéticos, não obstante a origem. Nos Estados Unidos, a indústria da
música, por exemplo, tem grande êxito na apropriação da fantástica
criatividade de origem popular e localizada dos músicos de todos os
tipos (quase sempre em benefício da indústria e não dos músicos). A
desavergonhada transformação em commodities e comercialização
de tudo são, afinal, indicadores de nossos tempos (HARVEY, op. cit.,
p. 237).

É preciso então questionar se essa lógica também é válida para metrópoles


regionais de países da periferia capitalista, se também podemos pensar nesses
termos para a análise das manifestações culturais em Salvador. Partimos do
pressuposto de que também na capital baiana essa lógica está presente,
enquanto estratégia de inserção da cidade nos circuitos turísticos nacional e
internacional, pinçando também do universo de manifestações culturais
populares aquelas mais aptas ao consumo enquanto mercadorias, a fim de
59

extrair rendas monopolistas também nos campos da cultura, da história, do


patrimônio e da estética.

O resgate da história oral dos bairros populares de Salvador, das diferentes


visões de mundo e de “espaços vividos”, no âmbito das atividades do Grupo
Espaço Livre de Pesquisa-Ação (DGEO/POSGEO/UFBA), mostra que são
múltiplas as representações desses espaços, entre os grupos/agentes que
compõem suas redes de relações sociais. Descobre-se que os bairros são
culturas transversais, que abarcam muitas e múltiplas subculturas: “da pesca”,
“do remo”, “jovem”, “negra”, “capoeirista”, “afro-brasileira” ou “bairrista”; o outro
lado da moeda traz para dentro dos bairros o mundo e suas subculturas:
“turística”, “patrimonialista” ou “conservacionista” (BRITO; SERPA, 2004).

Nos bairros populares das metrópoles capitalistas são os moradores os


verdadeiros agentes de transformação do espaço. Eles articulam-se em “rede”,
de acordo com o tema em foco. Temos que diferenciar, por exemplo, os tópicos
específicos dos jovens, das mulheres casadas, os tópicos dos homens adultos
etc., em cada lugar concreto, e também diferenciar os tópicos das etnias, nas
diversas formas em que podem se apresentar suas culturas e subculturas
(VILLASANTE, 1996). Para os bairros com mais chances de incorporação ao
circuito turístico da cidade, as imagens hegemônicas, associadas ao marketing
turístico, vão, aos poucos, sobrepondo-se aos espaços de representação dos
moradores e contrapondo-se às suas práticas espaciais cotidianas (Compare:
LEFEBVRE, 2000).

Há um nítido deslocamento da esfera da experiência para a esfera da vivência,


transformando determinadas práticas e manifestações culturais e tornando-as
residuais no cotidiano de cada lugar. No entanto, por trás das imagens
hegemônicas, pode-se ainda pinçar, nos depoimentos dos moradores,
manifestações culturais às vezes “esquecidas” pela mídia e pelo marketing
turístico: a capoeira, as rendeiras, a costura artesanal, as festas de
pescadores, o teatro popular, as festas e palestras promovidas pelas
associações de moradores, a pescaria, os costumes, os corais, os carnavais de
60

bairro, os autos de natal, os blocos afro, os terreiros de candomblé, o


maculelê8, o Movimento Negro Unificado, as danças afro.

A questão das subculturas aponta, nos bairros pesquisados, para a importância


da questão étnica e para inúmeras tentativas de afirmação de uma identidade
afro-brasileira. Na maioria das vezes, é no espaço das Associações de
Moradores, das Paróquias e dos Terreiros de Candomblé, que essas
subculturas encontram algum espaço de expressão. Ao mesmo tempo, muitas
dessas manifestações vão desaparecendo, permanecendo vivas apenas na
memória de alguns moradores (SERPA, 2004, 2005a, 2005b).

O Ilê Aiyê e a reinvenção das tradições afro-brasileiras: “namoro” com o


mercado?9

Pode-se dizer, em certos casos, que o resgate de algumas subculturas


residuais (ou mesmo excluídas) e sua transformação em emergentes, vai aos
poucos impregnando a vida dos bairros pesquisados, reafirmando e
transformando valores do passado e deflagrando novos – ou renovados –
processos identitários: No Curuzu, são notáveis os aspectos culturais que
demonstram sua forte ligação com as tradições afro-brasileiras. As
manifestações culturais “emergentes” (COSGROVE, 1998), relacionadas com a
atuação de terreiros de candomblé e do bloco Ilê Aiyê, tornam-se,
gradativamente, hegemônicas no bairro. Elas só podem ser consideradas
“emergentes” vistas no contexto da cidade, como afirmação da cultura negra
numa metrópole desigual e segregacionista. A emergência do bloco Ilê Aiyê a
partir do bairro do Curuzu, irradiando seu sucesso para a cidade e o Mundo,
parece indicar a possibilidade de revalorização da experiência para as
manifestações culturais populares, no sentido indicado por Benjamin (1996),
baseada numa filosofia do tribalismo e numa visão coletivista (SERPA, 2004).

Para Dantas (1996), a liderança de Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê,
proporcionou uma nova significação para a comunidade negra baiana:

A ressonância de sua visão de agrupamento da população negra em


torno de um discurso ideológico uno iria remeter a símbolos

8
Maculêlê: Misto de jogo e dança de Bastões, de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano.
9
Dados relativos às pesquisas de Bruno Carvalho Soares e Flávia Silva de Souza, bolsistas de
iniciação científica do PIBIC/CNPq.
61

importantes da ancestralidade negra, como os quilombos ou mesmo


os reinos tribais da áfrica medieval. A relação do líder com os rituais
de candomblé, por outro lado, trar-lhe-ia uma legitimidade
hierárquica quase mítica no grupo (DANTAS, op. cit., p.158).

Primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê inicia sua história em 1º de novembro de


1974, no Curuzu. O objetivo da entidade é preservar, valorizar e expandir a
cultura afro-brasileira. Para isso, desde que foi fundado, vem homenageando
os países, nações e culturas africanos, bem como lembrando e enaltecendo as
revoltas dos escravos, visando ao fortalecimento da identidade étnica e da
auto-estima do negro brasileiro, tornando populares os temas da história
africana e vinculando-os com a história do negro no Brasil, buscando construir
um passado comum, uma linha histórica da negritude. O seu movimento rítmico
musical revolucionou o carnaval baiano. A partir desse movimento, a
musicalidade do carnaval da Bahia ganha força com os ritmos oriundos da
tradição africana, favorecendo o reconhecimento de uma identidade baiana,
marcadamente negra.

O Ilê Aiyê foi fundado por jovens negros do Curuzu, com faixa etária de 17 a 19
anos. Esses jovens sempre buscaram formas de entretenimento no bairro,
organizando passeios, grupos de samba, rezas de Santo Antonio, carurus de
São Cosme, times de futebol. Com três mil associados, o Ilê Aiyê é hoje um
patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de reafricanização do
Carnaval da Bahia. Nos ensaios da Banda Ilê Aiyê, composta por 150
integrantes, são cobrados ingressos (a preços que variavam de 10 a 30 reais
em 2006). O público é composto por soteropolitanos, mas também por turistas.
Esses últimos, principalmente no período que antecede o carnaval, participam
de forma efetiva destes eventos. Enquetes realizadas no âmbito das atividades
do Grupo Espaço Livre de Pesquisa-Ação, junto ao público participante de um
desses ensaios às vésperas da folia momesca, em 2006, comprovam que mais
de 50% do público presente eram turistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre, França, Itália e Argentina; dentre os soteropolitanos, a maioria provinha
de outros bairros da cidade, com veículo próprio.

A estrutura organizacional do Ilê é composta pela presidência, a diretoria e


seus assessores. A organização é departamental, incluindo os departamentos
62

comercial, financeiro, de projeto, administrativo, de marketing, de patrimônio


etc. Há pessoas do corpo administrativo do bloco que cuidam especificamente
do carnaval, outras que cuidam dos projetos pedagógicos etc. A estrutura
organizacional é a um só tempo hierárquica e hereditária:

Essas organizações, cuja inserção social e econômica se concretiza


por intermédio de expressão de uma identidade cultural que está na
origem das raízes étnicas da negritude, introduziram novas formas
de gestão, singulares e bem-sucedidas. Também inauguraram um
novo estilo de relação entre o mundo organizacional e a realidade
exterior e social. Um novo modelo se esboça a partir dessas
organizações. Criadas sob forma de associações e grupos culturais,
elas passam por um processo de transformação, saindo de um status
informal e até de uma certa marginalidade em relação ao mercado
para se tornarem produtos valorizados da indústria cultural
(DANTAS, op. cit., p.151).

Ainda segundo Dantas (op. cit.),

Os blocos afro do carnaval da Bahia tornaram-se uma nova força na


economia local. Parte fundamental do imaginário baiano, eles
influenciam a música e a cultura, ao mesmo tempo em que criam
empregos, acumulam lucros e investimentos e também diversificam
suas atividades e produtos, começando a desenvolver uma espécie
de nicho de mercado (DANTAS, op. cit., p.152).

De acordo com alguns diretores e pessoas envolvidas diretamente com a


organização e manutenção do Ilê, o bloco contava, na época de nossas
pesquisas, com quatro patrocinadores ligados diretamente às atividades
sociais e culturais desenvolvidas: Petrobras S. A., Extra Supermercados,
Brahma e Claro Telefonia Celular. A Claro e a Brahma eram parceiras na
organização do carnaval, o Extra, além de também patrocinar o Carnaval,
apoiava a organização anual da Noite da Beleza Negra 10, além de outros
projetos, como a cozinha do Ilê e o festival do Wa Jean11. Já a Petrobras, tida
à época como uma das maiores parceiras do Ilê, financiava os cursos
profissionalizantes e apoiava os projetos na área social. Outras parcerias, com
o BNDES e a Eletrobras (além da Petrobras), viabilizaram a construção da

10
Este evento é uma tentativa de mostrar que existe um padrão de beleza diferente dos
padrões de beleza europeus. Em 2006, a Noite da Beleza Negra elegeu a 27ª Deusa do Ébano
do Ilê Aiyê (representante do bloco durante o carnaval da Bahia de 2006), Kátia Alves de
Jesus, de 20 anos. O concurso de beleza aconteceu no Festival de Verão de Salvador e contou
com a participação de 15 jovens.
11
O festival Wa Jean, que significa “vamos comer”, é um festival da culinária africana e baiana.
63

nova sede do bloco no Curuzu. O prédio, inaugurado em novembro de 2003,


tem oito andares, com cinco mil metros quadrados de área construída,
incluindo área de eventos para quatro mil pessoas, estúdio, restaurante,
escolas formal, de dança, de percussão e profissionalizante, espaço para
ensaio da Banda Erê e cozinha-escola (Jornal A Tarde, 22/2/2004, p.3).

Os argumentos das empresas parceiras para justificar o apoio prestado ao Ilê


variavam do “marketing de causas” a uma estratégia de aproximação com o
público consumidor:

Existe uma premissa no mercado e aplicável a toda e qualquer


empresa, independente do seu tamanho: a chamada ética da
responsabilidade social. É através deste pilar que se constrói uma
relação saudável com o mercado e com as comunidades em seu
entorno. É certo que tais investimentos agregam muitos benefícios
para as empresas, entre os quais, respeito e valorização de suas
marcas no mercado e considerável retorno institucional para as
corporações. Mas o maior benefício ainda é o de valor humano e
sentimento de missão cumprida. O Grupo Pão de Açúcar defende o
chamado marketing de causas e nele tem se apoiado
cotidianamente. Detectamos a importância de valorizar a cultura
afro-brasileira uma vez que 70% dos cidadãos soteropolitanos são
de descendência negra. Queríamos nos aproximar do nosso público.
Entendemos que iniciativas como o Ilê trazem identificação e
resgate da cultura aos cidadãos e contribuem para uma sociedade
mais culta e responsável (Departamento de Marketing do Extra
Supermercados).

Porém, o discurso das empresas era, por vezes, ambíguo, negando


expectativas quanto ao retorno do apoio em termos de “imagem”, mas, ao
mesmo tempo, reconhecendo a importância e a visibilidade do Ilê Aiyê:

O patrocínio de projetos sociais não é considerado como


investimento de retorno de imagem. A ação faz parte do programa
Petrobras Fome Zero, que tem como uma de suas linhas de atuação
a formação profissional. O Ilê é um dos grupos carnavalescos mais
importantes para a cultura do carnaval baiano além de sua história e
de seu engajamento em prol de uma sociedade mais justa e
igualitária (Departamento de Marketing da Petrobras S. A.).

Raciocinando nos termos de Benjamin (op. cit.), observamos que o “valor de


exposição” das manifestações afro-brasileiras, no caso do Ilê Aiyê, coloca em
risco seu “valor de culto” original e as possibilidades de resgate da memória
coletiva através da cultura. O que significa, afinal, o impacto, na vida do bairro,
de quatro mil visitantes nos ensaios do bloco? Não estaríamos assistindo mais
64

uma vez a um processo de superposição da vivência à experiência, detectado


por Benjamin (op. cit.) na percepção do homem moderno, quando da
consolidação do capitalismo nas grandes cidades? Afinal, o processo de
“retradicionalização” das manifestações culturais nos bairros populares de
Salvador não estaria transformando cultura em lazer e diversão, ao “devorar
os objetos do mundo” e transformá-los em “mercadorias”, como pressupõe
Arendt (op. cit.)?

À guisa de conclusão: As festas de rua e a cidade-espetáculo

Guy Debord preconizou a sociedade do espetáculo e a alienação do


espectador contemporâneo, que quanto mais contempla, menos vive; que ao
reconhecer-se nas imagens dominantes, menos pode compreender sua
existência e seu desejo; que não se sente em casa em lugar algum, pois o
espetáculo está em toda parte. O estágio espetacular da sociedade resulta da
combinação de cinco fatores: a ininterrupta renovação tecnológica, a fusão
mercado-Estado, o segredo generalizado, a mentira não contestada e o
presente eterno.

Nesse contexto, as cidades são reinventadas a partir das formas do passado,


gerando uma urbanidade que se baseia no consumo e na busca de vantagens
no mercado globalizado das imagens turísticas. As manifestações culturais
locais se organizam evitando os imprevistos e impondo uma nova
temporalidade, útil às exigências do espetáculo. As relações são regidas por
códigos pré-determinados que vão favorecer mecanismos de controle e
“pacificação” social.

Em Salvador o Natal também se transformou em espetáculo. O Dique do


Tororó se tornou mais uma vez, em 2014, “palco da cena natalina”, para
encenação do show “Salvador: cidade natal do Brasil”, durante quatro dias de
dezembro, com participação de atores, bailarinos e cantores e missa campal
organizada pela Arquidiocese de Salvador, parceira da Prefeitura. Foi o
segundo ano da iniciativa que, desde 2013, atraiu milhares de espectadores,
segundo o jornal A tarde. A declaração do prefeito no lançamento do evento de
2014 diz muito sobre seu objetivo: “Promover o espírito cristão e fortalecer esse
tipo de produto, que visa incentivar o turismo”. O secretário de
65

Desenvolvimento, Turismo e Cultura quer, com a continuidade do Natal-


espetáculo, tornar a cidade uma “referência nacional de festa natalina”, vendo o
projeto como estímulo para o “turismo religioso”.

Ultimamente nos acostumamos ao discurso oficial de que Salvador deverá se


tornar referência para a festa de ano novo, para as feiras de artesanato e
gastronomia, e agora também para os festejos natalinos. A lógica do
espetáculo vai se apropriando da cultura local para vender a cidade aos
turistas. Mas também para justificar parcerias público-privado duvidosas, como
a concessão de exclusividade para a venda de uma marca de cerveja no Dois
de Fevereiro, substituindo as cores azul e branco de Yemanjá pelo laranja da
“marca exclusiva” na tradicional festa popular. O espetáculo adquire aqui ares
de mercantilização explícita.

Não há dúvida de que a história da Cidade do São Salvador da Baía de Todos


os Santos é uma história de dias santos e procissões, de festas religiosas
católicas; mas também de festas das religiões afro-brasileiras, que permeiam e
dão novos sentidos a manifestações religiosas sincréticas que pontuam seu
calendário religioso. A questão é se ainda nos reconhecemos nestas
manifestações da religiosidade popular. Ou estamos naquela situação do
personagem do filme “O Show de Truman”, que passou sua vida inteira em
uma cidade que era, na verdade, um estúdio gigantesco, iludido de que vivia ali
uma “vida real”?

E por que, afinal, devemos sempre aceitar sem ressalvas o discurso oficial
recorrente de que tudo deve virar “produto” para o consumo turístico? (...)

Em tempo: Notícia veiculada no Correio da Bahia no dia 4/1/2018, intitulada


“Diversão e Dindin”, destaca:

O calendário de eventos de Salvador é assim, uma verdadeira


maratona de rua: começa dia 11 de janeiro, com a Lavagem do
Bonfim, segue com as festas de São Lázaro, no final de janeiro, e de
Iemanjá, dia 2 de fevereiro. E, depois de tudo isso, chega o Carnaval.
Mas não é só curtição: de acordo com a prefeitura da capital, as
festas populares devem fazer circular R$ 3,9 bilhões na cidade, só no
primeiro trimestre de 2018. A estimativa é da Secretaria Municipal de
Cultura e Turismo (Secult), que também aguarda por 2,5 milhões de
turistas na cidade somente entre janeiro e fevereiro. Do total de
66

visitantes esperados, segundo a prefeitura, 85% são brasileiros e


15% estrangeiros. Segundo o setor, a maior parte dos brasleiros vêm
do Sul e Sudeste do Brasil e de países como Chile, Argentina e
Uruguai.

(http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/diversao-e-dindin-
festas-populares-vao-movimentar-r-39-bi-em-salvador/).

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http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/diversao-e-dindin-festas-
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ROUANET, Sérgio Paulo. Do Trauma à Atrofia da Experiência. In: Édipo e o
Anjo: Itinerários Freudianos em Walter Benjamin. Rio de Janeiro: Editora
Tempo Brasileiro, 1987.
SERPA, Angelo. Cultura de massa versus cultura popular na cidade do
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2007.
SERPA, Angelo. Por uma Geografia das Representações Sociais. OLAM –
Ciência e Tecnologia, Rio Claro-SP, v. 5, n. 1, p. 220-232, 2005a.
SERPA, Angelo. Mergulhando num mar de relações: redes sociais como
agentes de transformação em bairros populares. Geografia, Rio Claro-SP, v.
30, n. 2, p. 211-222, 2005b.
SERPA, Angelo. Experiência e Vivência, Percepção e Cultura: Uma
Abordagem Dialética das Manifestações Culturais em Bairros Populares de
Salvador. Ra´e Ga – O Espaço Geográfico em Análise, Curitiba-PR, v. 8, n. 8,
p. 19-32, 2004.
SOARES, Bruno Carvalho. As relações entre manifestações culturais,
identidade social e urbanização popular, nos bairros do Curuzu e São Tomé de
Paripe, Salvador-BA. Relatório Final de Pesquisa. Salvador: PIBIC/CNPq,
UFBA, 2006.
SOUZA, Flávia Silva de. Identidade de Bairro e Manifestações Culturais em
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PIBIC/CNPq, UFBA, 2004.
VILLASANTE, Tomás R. Metodologia dos Conjuntos de Ação. In: FISCHER,
Tânia (org.). Gestão Contemporânea – Cidades Estratégicas e Organizações
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YÁZIGI, Eduardo. A Alma do Lugar – Turismo, planejamento e cotidiano. São
Paulo: Contexto, 2001.
www.ileaiye.com.br. Acessado em 12/05/06 e 01/06/06; e em 07/01/2017.
68

2.4 RESUMOS
69

2.4.1 Eixo: Performances: tradições e contemporaneidades

Performance artística ou experiência com o sagrado? O olhar de Walter


Firmo e José Castello sobre Arthur Bispo do Rosário
Tayara Barreto de Souza Celestino

A queijadinha de Dona Marieta em São Cristóvão/SE no contexto do


folkturismo como estratégia para o desenvolvimento local
Flávio Menezes Santana
Severino Alves de Lucena Filho

Processo de investigação em dança: alimentando-se poeticamente dos


elementos das Taieiras de Laranjeiras/SE
Amanda Cristina da Conceição
70

PERFORMANCE ARTÍSTICA OU EXPERIÊNCIA COM O


SAGRADO? O OLHAR DE WALTER FIRMO E JOSÉ CASTELLO
SOBRE ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO
Tayara Barreto de Souza Celestino
Mestranda no Programa Interdisciplinar em Culturas Populares (PPGCULT-
UFS)
Integrante do Grupo de Estudos em Memória e Patrimônio Sergipano -
(GEMPS/CNPq)
[email protected]

Eixo temático: 01. Performances: tradições e contemporaneidades


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins.

A presente comunicação discute as circunstâncias de produção e a


repercussão do ensaio fotográfico e matéria jornalística realizada em parceria
pelo fotógrafo Walter Firmo com o jornalista José Castello e publicada na
revista “IstoÉ” no ano de 1985 a respeito de Artur Bispo do Rosário, com a
apresentação de fotografias produzidas naquela ocasião e com relatos da
experiência de trabalho dos profissionais da revista, expressos no
documentário “Walter Firmo: um olhar sobre Bispo do Rosário”, dirigido pela
psicanalista Flávia Corpas, lançado no ano de 2013. De acordo com Corpas,
coube ao fotógrafo Walter Firmo a tarefa de lançar um olhar artístico sobre
Bispo, o que nos permite questionar sobre qual a imagem a respeito de qual
personagem se consolidou no Brasil como maneira de contar que foi e como
viveu Bispo do Rosário. O trabalho destes profissionais em visitação à colônia
Juliano Moreira pode ser entendido como um marco na veiculação de uma
performance artística atribuída à Bispo, correspondendo à imagem geralmente
cultivada em torno do artista. Ao mesmo tempo, os trabalhos produzidos
naquela ocasião não conseguem deixar de expressar uma diversidade de
experiências que vão além da performance artística, possibilitando enxergar
performances culturais mais amplas, expressas nas relações de Bispo com o
sagrado e o profano, com a reclusão e a loucura. Neste contexto, a fotografia
alcançou os objetivos de culto e de veneração da exposição. Ao mesmo tempo,
resumiu ao aspecto artístico a complexidade do sujeito Bispo, “sujeito cheio de
si”, menos interessado na arte e mais interessado em revelar e organizar seu
mundo, original e incompreendido, mas não isolado mundo das outras
pessoas. A atitude de ouvir menos “quem fala sobre Bispo” para ouvir mais o
próprio Bispo, nos permite perceber um sujeito repleto de desejos, obstinado
em fazer cumprir sua missão e em concretizar sua passagem, que podemos
sugerir tratar-se da morte, mas que ocupou um lugar alternativo, festivo,
celebrado, esperado e temido. Bispo organizou sua própria morte, viveu para
ela, conversou com outros mortos, apresentou-se como Jesus Cristo. Ao exigir
“senhas secretas” como critério para permitir que alguém entre em sua cela,
Bispo também exigiu tudo de si para carregar consigo a certeza de que viveria
a vida dos santos após sua passagem. Em vida, organizou o lixo, fiou e
desfiou, criou cenários, mudou a cela e tudo o mais que as “vozes” lhe
requisitou. A performance de Bispo não pode ser resumida a uma performance
artística. Podemos praticar a alteridade para enxergar um Bispo fora da
“caixinha” da performance artística, para enxergar um sujeito complexo, que
71

viveu várias vidas em uma vida. Assim, podemos pensar em um Bispo a partir
de um acervo de performances culturais amplas, que revelam um intenso
diálogo do sujeito com o sagrado, com o profano, a loucura, a sexualidade, a
exclusão, a criação, dentre outras possibilidades. Neste rico ambiente, Firmo e
Castello constrangeram o sujeito a um tipo de enquadramento que terminou
por apresentar o artista Bispo no cenário da arte contemporânea do século XX.
Não há dúvida que o enquadramento foi eficaz o suficiente para ter sido
apropriado, reproduzido e fabricado em outros espaços em momentos e
lugares posteriores, a exemplo da imagem fabricada em Japaratuba, sua
cidade natal, já no século XXI. Em todos estes espaços, vê-se menos o Bispo
que viveu a vida em função da passagem (morte) em toda a complexidade da
experiência do sagrado por ele mesmo criado para vê-se mais o artista, tal
como enxergaram Firmo e Castello.

Palavras-chave: Performance Artística; Performance Cultural; Artur Bispo do


Rosário.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, Walter [et. Al.]. Benjamin e a obra de arte: técnica, imagem,


percepção. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
CAMPOS, Marcelo. Um canto, dois sertões: Bispo do Rosário e os 90 anos
da Colônia Juliano Moreira. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2016.
CORPAS, Flávia. Walter Firmo: um olhar sobre Bispo do Rosário. Rio de
Janeiro: Caixa, 2013.
CAMARGO, Robson Correa de; REINATO, Eduardo José; CAPEL, Heloísa
Selma Fernandes. Performances culturais. São Paulo: Hucitec, 2011.
72

A QUEIJADINHA DE DONA MARIETA EM SÃO CRISTÓVÃO/SE


NO CONTEXTO DO FOLKTURISMO COMO ESTRATÉGIA PARA
O DESENVOLVIMENTO LOCAL
Flávio Menezes Santana
Pesquisador da Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação -
Mestrando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo.
[email protected]

Severino Alves de Lucena Filho


Pesquisador da Rede de Estudos e Pesquisas em Folkcomunicação -
Professor Pós Doutor do curso de turismo da Universidade Federal da Paraíba
- FFPB e do Programa de Pós-Graduação do POSMEX - Universidade Federal
Rural de Pernambuco.
[email protected]

Eixo temático: 01. Performances: tradições e contemporaneidades.


Tipo da produção: C.Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins.

São Cristóvão, quarta cidade mais antiga do Brasil estabelece-se como


histórica, pois mantém viva uma história caracterizada pela arquitetura ibérica e
ricas tradições acumuladas ao longo das lutas e batalhas, as quais deram a
Portugal domínio massivo pelo seu território. Dentre suas tradições, destaca-se
a queijada (ou queijadinha, como também é popularmente chamada),
denominada assim porque originalmente era feita com queijo, ingrediente de
difícil acesso na época e, por isso, substituído pelo coco, elemento abundante
no litoral do Nordeste do Brasil. Trazida pelos portugueses no início da
colonização de São Cristóvão, é considerada uma herança dos escravos da
cidade, afinal foram eles os principais responsáveis pela modificação. Hoje, a
tradição é perpetuada por Dona Marieta Santos, descendente de negros, 74
anos, bisneta de uma escrava que foi trazida para São Cristóvão no período da
escravidão. Cascudo (2014) menciona a forte presença de escravas na cozinha
portuguesa, uma ocupação natural e própria. Inclusive, a negra se tornou
importante na culinária brasileira, e segundo Freyre (2007), há comidas que só
são saborosas se forem feitas por mãos negras. A continuação da prática a
partir da herança das suas descendentes construiu a tradição da queijadinha
em São Cristóvão. Diante disso, esse doce foi inserido como patrimônio
imaterial da cidade sergipana. Assim como as manifestações culturais, Schlüter
(2003) destaca que a gastronomia foi incorporada como patrimônio histórico
pela dimensão social e cultural, possibilitando que ganhasse importância na
atração turística. Percebemos que a cultura se configura como processo de
síntese de saberes de uma determinada comunidade que gera produtos com
profunda carga simbólica que poderá ser transmitido ao turista. Dessa forma,
como processo de conhecimento acumulado, se estabelece a partir das
tradições que são processadas e transmitidas na contemporaneidade
acompanhando sua dinâmica e tornando cada comunidade única. A noção de
cultura enquanto prática que acompanha as dinâmicas da vida social foi melhor
desenvolvida por Luiz Beltrão (1918-1986), que possibilitou que nascesse a
teoria da Folkcomunicação, trabalhada pela primeira vez na década de 60 e
que tem por objetivo estudar as formas de comunicação presentes nas
73

comunidades populares através de meios ligados direta ou indiretamente ao


folclore. Seus seguidores criaram outros protocolos que contribuem na
atualização do seu arsenal metodológico. O Folkturismo consiste em analisar a
prática turística como elemento de fortalecimento da cultura popular através de
ferramentas da comunicação e da informação. Deste modo, através de uma
pesquisa qualitativa, o presente trabalho consiste em apontar a Queijada de
Dona Marieta como elemento folkturístico na cidade de São Cristóvão e como
esta iguaria contribui para o desenvolvimento local. Buscou-se também, um
estudo bibliográfico e alguns depoimentos de atores sociais que estão ligados
direta e indiretamente a prática da produção de queijadas em São Cristóvão.
Este debate tem por obrigação ressaltar a importância dessa iguaria na cidade
história sergipana, assim como colaborar para o reconhecimento da teoria
beltraniana e expandir os olhares dos discípulos de Luiz Beltrão. Inicialmente,
constatou-se que a doceria é um elemento cultural muito forte, constituindo-se
como um dos símbolos identitários de são Cristóvão, principalmente porque se
configura como uma cidade histórica pequena caracterizada pelo regionalismo
e tradições culturais. Lucena Filho (2003) explica que a cultura popular se
constitui como atração turística motivando despertar o interesse das pessoas
em conhecer determinado lugar. E o folclore se torna um dos fatores que dão
as suas regiões um tom de exotismo, diferente e especial. Mas, como bem
declara Tigreiro (2005), manifestações como festas, danças e culinária, por
exemplo, passam a não pertencerem apenas aos seus protagonistas. Contudo,
se o turismo for aliado a prática cultural e ao povo, sua prática serve de efeito
para o fortalecimento das manifestações artísticas. Logo, o turismo enquanto
prática que busca a comercialização da cultura inserido na visão da
folkcomunicação pode trazer para São Cristóvão alguns benefícios
significativos, como por exemplo, a difusão das manifestações e da culinária
local. É preciso esclarecer também que a relação desses dois elementos
precisa, antes de mais nada, servir para preservar as manifestações e incluí-las
em projetos de políticas públicas voltadas para o turismo e o desenvolvimento
local.

Palavras-chave: Folkturismo; Queijadinha; São Cristóvão; Turismo.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Luiz Antônio. Folclore – invenção e comunicação. Aracaju:


Typografia Editorial / Scortecci Editora, 2005.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil. 4. ed. São
Paulo, SP: Global, 2011.
FREYRE, Gilberto. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e
doces do nordeste do Brasil. 5. ed., rev. São Paulo, SP: Global, 2007.
LUCENA FILHO, S. Folkturismo: vivências do turismo popular. In: GASTAL S.;
CASTRIGIOVANNI, A.(orgs). Turismo na Pós-Modernidade: (des)
inquietações. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.
MELO, José Marques de. Mídia e cultura popular: história, taxonomia e
metodologia da Folkcomunicação. São Paulo: Paulus, 2008.
74

SCHLÜTER, Regina G. Gastronomia e turismo. Traduzido por Roberto


Sperling. São Paulo: Aleph, 2003.
SERGIPE. SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA E MEIO AMBIENTE.
Aspectos históricos, artísticos, culturais e sociais da cidade de São
Cristóvão. Aracaju: SECMA, 1989.
TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. A espetacularização das culturas populares
ou produtos culturais folkmidiáticos. Seminário Nacional de Políticas
Públicas para as Culturas Populares, fev./ 2005 em Brasília–DF. Disponível
em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/trigueiro-osvaldo-espetacularizacao-culturas-
populares.pdf.
75

PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO EM DANÇA: ALIMENTANDO-


SE POETICAMENTE DOS ELEMENTOS DAS TAIEIRAS DE
LARANJEIRAS/SE
Amanda Cristina da Conceição
Graduada Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

Eixo temático: 01. Performances: tradições e contemporaneidades


Tipo de produção: C. Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins

O presente trabalho abordará sobre uma pesquisa desenvolvida com base no


meu envolvimento direto com o grupo popular Taieira do município de
Laranjeiras estado de Sergipe, que tem como organizadora Bárbara Cristina,
Alôxa da Irmandade Nagô Santa Bárbara Virgem. A pesquisa teve como foco o
estudo da dança tradicional das Taieiras de Laranjeiras-SE, que a partir de
seus elementos simbólicos buscou possibilidades de investigação e
experimentação em dança, na perspectiva de uma estética criativa que dialoga
com os saberes populares na contemporaneidade. A Taieira de Laranjeiras é
uma manifestação folclórica formada por mulheres, crianças e idosos, que
dançam e cantam em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
conhecidos como os santos protetores dos pretos. No dia 6 de janeiro em
Laranjeiras é comemorada a Festa dos Reis Magos onde acontece anualmente
o Encontro Cultural. Após a celebração da missa o celebrante retira a coroa da
imagem de Nossa senhora e a coloca simbolicamente na cabeça da Rainha da
Taieira, começando o louvor aos santos de devoção dos pretos, São Benedito e
Nossa Senhora do Rosário, em que a Taieiras entoam seus cantos e danças e
os demais grupos prosseguem com as louvações. Considerando estes
aspectos, esta pesquisa foi norteada pelo seguinte questionamento: de que
forma, eu como pesquisadora intérprete da dança e ex-brincante da Taieira
utilizarei e me apropriarei dos elementos já codificados de uma manifestação
popular brasileira que possui como eixo norteador as formas tradicionais de
dança, como ponto de ignição e transgressão dessa manifestação para um
processo de investigação contemporânea em dança, que aponte para
processos de criação? O estudo teve como objetivo geral desenvolver
possibilidades de ensino por meio de processos investigativos a partir dos
elementos ritualísticos existentes nas Taieiras, localizada na cidade de
Laranjeiras Sergipe. Este estudo centra-se especificamente em: a) investigar
sobre os aspectos históricos das Taieiras de Sergipe, na cidade de Laranjeiras;
b) identificar os elementos ritualísticos que constituem a dança das Taieiras; c)
trabalhar processos de investigação em dança a partir dos elementos
simbólicos das Taieiras. A escolha por esse objeto de estudo deu-se
primeiramente pelo fato da pesquisadora ter uma relação direta com as Taieiras
enquanto ex-brincante, relação essa que despertou sensações e satisfação de
ser mais uma que contribui para a perpetuação das Danças Tradicionais
Populares da cidade de Laranjeiras. Esse estudo se faz relevante por
possibilitar a investigação e o debate acerca de uma manifestação de extrema
relevância cultural para o povo Laranjeirense e acima de tudo para o povo
afrodescendente, enquanto lócus de pesquisa para a investigação com
possibilidades para a criação em dança. Para o desenvolvimento deste estudo,
76

foi realizada uma pesquisa bibliográfica e de campo do tipo experimental, a


partir de laboratórios de dança com alunos do curso de Licenciatura em Dança,
pertencentes ao Projeto de Extensão Aldeia Mangue. O trabalho de conclusão
de curso estrutura-se em três capítulos, apresentando-se no primeiro capítulo
breve contextualização sobre a cidade de Laranjeiras/Sergipe. No segundo
capítulo é abordada a Dança Tradicional Popular Sergipana Taieira, envolvendo
sua história, seu processo ritualístico e performático, mencionando a
importância da preservação da sua tradicionalidade, evidenciando aspectos
particulares que distinguem a Taieira de Laranjeiras das demais Taieiras do
estado de Sergipe. O terceiro capítulo caracteriza a pesquisa de campo
realizada com a Taieira envolvendo posteriormente a experimentação
laboratorial aplicada ao grupo de extensão Aldeia Mangue da Universidade
Federal de Sergipe. A realização desse estudo revelou que, por meio dos
laboratórios os participantes compartilharam questões internas, voltando para
as próprias raízes. Os corpos que estavam presentes nesse estudo, eram
corpos permissivos para deixar vir essas memórias e brincar com o imaginário,
criando paisagens de danças a partir do entrelaçar de histórias de vida e da
poética da Taieira. Eu, enquanto propositora desses laboratórios dirigidos,
descubro-me com outras potências para criar dança, para além da reprodução
do repertório fixo das danças da Taieira.

Palavras-chave: Taieira; Dança; Laranjeiras; Investigação em dança.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, Aglaé D’Ávila Fontes. Danças e folguedos. Laranjeiras, 1998.


ARAGÃO, Ivan Rego. Hibridismo cultural-religioso em devoção a Nossa
Senhora do Rosário e São Benedito na cidade de Laranjeiras/Sergipe. Anais
2ºSimpósio Nordeste da ABHR (Associação brasileira de história das
religiões). Recife. GT-6, 2015.
DANTAS, Beatriz Góis. Taieira de Sergipe. Petrópolis. Ed vozes Ltda. 1972.
LEMOS, Andrey R. et al. A Taieira: cultura e identidade no município de
Laranjeiras. Monografia (Licenciatura em História). Aracaju: UNIT, 2007.
LIRA, Ana. Cortejos sob as bênçãos de Rosário e Benedito. In: Revista
Continente, ano XII, nº 133, janeiro de 2012, p. 36-43.
MACHADO, Lara Rodrigues. O jogo da construção poética: processo criativo
em Dança. Tese (doutorado). Campinas, 2008.
OLIVEIRA, Filadelfo Jônatas de. Registros dos fatos históricos de
Laranjeiras. 2ª edição. Introdução e notas de Luiz Antônio Barreto. Secretaria
do Estado da Cultura. Aracaju. 2005.
RIBEIRO, H.L. Etnomusicologia das Taieiras de Sergipe: Uma tradição
revista. Tese (Mestrado). Bahia: UFBA, 2003.
77

RODRIGUES, Bianca Bazzo; MACHADO, Lara Rodrigues. Benza Quebranto: o


jogo da construção poética e o saber popular do benzimento. Revista
Urdimento. Santa Catarina. UDESC. v.1, n.24, p42-58, julho 2015.
RODRIGUES, Graziela E. F. O método BPI (bailarino-pesquisador-interprete) e
o desenvolvimento da imagem corporal: Reflexões que consideram o
discurso de bailarinas que vivenciaram um processo criativo baseado
neste método. Tese (doutorado). Campinas: UNICAMP, 2003.
SANTOS, Verônica C. Bispo. “Ó vós todos que passais pelos caminhos...”
Musealizando o percurso a indumentária e o canto da figura da Verônica
nas procissões da Semana Santa em Laranjeiras-Se (1941- 2017).
Monografia. Universidade Federal de Sergipe. Laranjeiras, 2017.
SILVA, Neide Santana da. Memórias Musicais: a trajetória da Filarmônica
Municipal Coração de Jesus em Laranjeiras (1981-2002). Monografia.
Universidade Federal de Sergipe. Itabaiana, out. 2002.
78

2.4.2 Eixo: Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e


políticas

Barco-de-fogo: patrimônio imaterial de Sergipe


Luan Lacerda Ramos
Maria Augusta Mundim Vargas

A deposição de um rei:
Práticas de silenciamento na procissão de santos reis em Laranjeiras/SE
Roberto Fernandes dos Santos Junior
Darly Anderson Calumby dos Santos

Ilha Mem de Sá: perspectivas museológicas e atratividade turística


Estefanni Patricia Santos Silva
Fabiana Faxina
Janaina Cardoso de Mello

A “invenção” da praia como patrimônio cultural para o veraneio e do


turismo
Priscila Pereira Santos
José Wellington Carvalho Vilar

Educação patrimonial e turismo:


Os cursos de capacitação do Prodetur/SE no polo costa dos coqueirais
Priscila Pereira Santos
Verônica Santiago Teixeira de Alencar Façanha
José Wellington Carvalho Vilar

A importância do patrimônio gastronômico na composição e no


fortalecimento do cenário turístico da cidade de São Cristóvão - SE
Eliane Avelina de Azevedo

Turismo cultural: perfil do visitante do museu da Polícia Militar de Sergipe


(MPMSE)
Mônica Maria Liberato
Lício Valério Lima Vieira

Movimento das catadoras de mangaba, um patrimônio imaterial


Sergipano
Lara Brunelle Almeida Freitas
Estefanni Patricia Santos Silva

Á água: um patrimônio
Rodrigo Santos de Lima
Maria Augusta Mundim Vargas

Uma leitura de Denis Cosgrove aplicada a paisagem dos parques eólicos


no Brasil
Vanessa Santos Costa
Maria Augusta Mundim Vargas
79

BARCO-DE-FOGO: PATRIMÔNIO IMATERIAL DE SERGIPE

Luan Lacerda Ramos


Mestrando do Programa de Pos-Graduação em Geografia da UFS
[email protected]

Maria Augusta Mundim Vargas


Profa. Drª do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFS
Líder do Grupo Sociedade e Cultura-PPGEO/UFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas.


Tipo de produção: Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins.

A produção de Barco-de-fogo é uma atividade tradicional singular do município


de Estância, Sergipe. Nesta prática os produtores imprimem, na figura de um
barco, um conjunto de materialidades e significados que vivificam as ruas do
município durante os festejos juninos. A criação do Barco-de-fogo deu-se no
inicio do século XX, tendo como criador o ex-funcionário público Francisco da
Silva Cardoso, popularmente conhecido como Chico Surdo. A proposta
simbólica do Barco é clara: representar o principal meio de obtenção de
alimento, recursos e transporte de pessoas. Em outras palavras, o Barco-de-
fogo é a síntese que representa a (re)produção da vida na comunidade
ribeirinha do bairro Porto D’Areia localizado às margens do rio Piauí. É certo
que essa produção, nos dias atuais, não se restringe ao bairro citado, mas
nossa proposta é de avaliar a produção no seu lugar de origem. A importância
simbólica e econômica que o Barco-de-fogo exerceu em suas múltiplas
escalas, viabilizou seu reconhecimento como patrimônio cultural e imaterial do
estado de Sergipe através da lei n. 7.690 de 23 de julho de 2013, considerando
Estância como a capital nacional do Barco-de-fogo. O dispositivo legal de
tombamento de um patrimônio é o instrumento que possibilita o
reconhecimento de bens culturais como pertencentes à identidade de um povo,
comunidade, etc. Neste sentido, reconhecer o Barco-de-fogo como patrimônio
cultural significa compreendê-lo como traço identitário da comunidade que
inspirou, através de seus fazeres, sua idealização. Por patrimônio imaterial
compactuamos com a definição que o toma como os processos e os
significados das criações humanas. Deste modo, o patrimônio imaterial é
concebido pela visão antropológica que reconhece como tal o conjunto de
formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações artísticas,
tecnológicas e científicas (VIANNA, 2004). Assim, neste estudo, objetivamos a
apreensão do conjunto de fatores, materiais e simbólicos, que tornam possível
o reconhecimento do Barco-de-fogo como um patrimônio imaterial de Sergipe.
Neste intuito, um conjunto de procedimentos foram elencados com o proposito
de comporem nosso corpus metodológico. O procedimento basilar consistiu da
leitura e revisão bibliográfica. As obras e legislações lidas compreenderam
abordagens pertinentes às categorias territorialidades, patrimônio imaterial e
Barco-de-fogo. Compreendemos as territorialidades como o conjunto de
relações que configuram os territórios. Outros procedimentos adotados
referem-se às práticas de observação livre, entrevista semiestruturada e
registro fotográfico. Pela observação livre tornou-se evidente as relações
80

existente entre moradores e produtores de Barco-de-fogo do bairro Porto


D’Areia. Estas relações foram observadas em suas multidimensionalidades, o
que significa dizer que à produção do Barco-de-fogo somam-se inúmeras
territorialidades que se mesclam entre os produtores, moradores, turistas,
governos, etc. e que compõem o território do Barco-de-fogo. Esta constatação,
advinda das primeiras observações em campo, foram afirmadas através da
aplicação das entrevistas semiestruturadas em que os sujeitos demonstraram
em suas falas as múltiplas relações existentes na fabricação dos Barcos. As
fotografias registradas também evidenciaram estas colocações: o memorial a
céu aberto, os imóveis utilizados pelos produtores para desenvolvimento de
suas atividades, o rio Piauí, foram alguns dos elementos registrados que
representam a importância e o significado que o Barco-de-fogo tem para os
múltiplos sujeitos a ele envolvidos. Assim, consideramos que as materialidades
e simbolismos presentes na produção do Barco-de-fogo, ponderando as
múltiplas territorialidades a ele atreladas, desvelam os modos de criar, fazer e
viver da comunidade e de seus produtores, o que legitima a consideração do
Barco-de-fogo como um patrimônio imaterial de Estância, de Sergipe e do
Brasil.

Palavras-chave: Territorialidades; Patrimônio Imaterial; Barco-de-fogo.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição da República federativa do Brasil. 1988.
ESNTÂNCIA. Lei n. 1.474 de 18 de agosto de 2010. Reconhece o Barco-de-
fogo como Patrimônio Cultural e imaterial do Município de Estância e
estabelece otras providências. Estância, SE. ago. 2010.
HAESBAERT, Rogério. Território e Multiterritorialidade: um debate. Revista
GEOgraphia, ano IX, n. 17, 2007.
SERGIPE. Lei n3 7.690 de 23 de julho de 2013. Torna o Barco-de-fogo da
cidade de Estância patrimônio imemorial do Estado de Sergipe, e dá
providencias correlatas. Sergipe, jul. 2013.
VIANNA, Letícia C. R. Patrimônio imaterial: legislação e inventário
culturais. A experiência do projeto Celebrações e Saberes da Cultura
Popular. In. LONDRES, Cecília et. al. (Org.) Celebrações e saberes da cultura
popular: pesquisa, inventário, crítica, perspectivas. Rio de Janeiro: Funarte,
Iphan, CNFCP, 2004.
81

A DEPOSIÇÃO DE UM REI:
PRÁTICAS DE SILENCIAMENTO NA PROCISSÃO DE SANTOS
REIS EM LARANJEIRAS/SE
Roberto Fernandes dos Santos Junior
Universidade Federal da Bahia
Membro do Grupo de Pesquisa Observatório da Museologia Baiana
Bolsista CAPES
[email protected]

Darly Anderson Calumby dos Santos


Universidade Federal de Sergipe
Bolsista PIBIC
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e política


Tipo da produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

O presente trabalho tem por finalidade fazer uma abordagem em torno das
práticas de silenciamento da imagem do Rei Mago Baltazar (São Baltazar),
durante as festividades denominadas pelo catolicismo popular como “Santos
Reis”. Tendo por objetivo principal, apresentar de que forma as políticas de
preservação do patrimônio cultural material, atingem as manifestações voltadas
a ressonância de uma imaterialidade, pensando a igreja e as procissões como
lugares de memória. Algo em especial merece ser destacado em meio a toda
essa efervescência, que por sua vez mobiliza e movimenta toda a cidade. A
procissão de Santos Reis é uma prática antiga do catolicismo das irmandades
para pretos, e é realizada em diversas cidades brasileiras como expoente de
uma prática iniciada no período escravista, perpetuada até a atualidade. Em
Laranjeiras, as festividades são inauguradas pela Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário e São Benedito, e continuam sendo realizadas
anualmente, mesmo que com o tempo tenha perdido alguns dos seus
aspectos. Anualmente, especificamente no mês de janeiro, uma explosão
cultural toma conta das ruas da cidade da cidade de Laranjeiras. Merecendo
destaque para as danças, cortejos, encenações, folguedos, performances,
exposições e música. Um misto expressivo da cultura sergipana que se expõe
durante uma semana de festa para a cultura popular, denominado Encontro
Cultural de Laranjeiras-ECL. Com o início das atividades do Encontro Cultural
de Laranjeiras algumas modificações começaram a implementadas na
celebração de reis, que por sua vez, inicia o processo de silenciamentos de
alguns momentos importantes para a prática processional que ocorria no dia 6
de janeiro. Pensando nesses silêncios fabricados, a Igreja de Nossa Senhora
do Rosário e São Benedito em Laranjeiras tinha em seus altares as
iconografias de: São Benedito, Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia,
Santo Antônio, São José, São Gonçalo Garcia de Bessain e Santo Rei
Baltazar. Essas imagens não estão expostas na igreja, hoje o que predomina
nas igrejas de Laranjeiras são réplicas, devido ao roubo de peças de valor
artístico e histórico para serem vendidas no mercado negro. Sendo assim,
como mecanismo de proteção foi criado em 1978 o Museu de Arte Sacra de
82

Laranjeiras, com o objetivo principal de preservar e conservar a arte sacra em


estado de vulnerabilidade do Vale do Cotinguiba, onde o município está
localizado. Com isso alguns anos antes da instituição do museu, a criação do
Encontro Cultural de Laranjeiras - ECL se tornaria um marco do início nas
práticas de silenciamento na Festa de Santos Reis. Nos seus momentos
iniciais o ECL era realizado no mês de maio, mas não demorou para que as
atividades passassem a ser realizadas na primeira semana de janeiro atrelado
as festividades de Reis. Com o passar dos anos o ECL passa a englobar um
número maior de dias, deixando de ser realizado em três dias, para agora ser
realizado em uma semana. Daí por diante, aspectos tradicionais começam a
ser reinventados. A realização da procissão de Santos Reis passa a ser
realizada em dias aleatórios de acordo com o fim do encontro. Deixando de ser
realizado no seu dia inicial que é o 6 de janeiro, como previsto pelas
irmandades de pretos. Durante os anos além da não realização das
festividades no seu dia ordenado, o rei foi deposto e silenciado. A imagem que
abriria a procissão de Santos Reis, a iconografia que dar sentido a toda festa
do dia, deixa de ser utilizada nas procissões. A imagem do Santo Rei Baltazar
está a anos sem sair na procissão. Diante disso o trabalho fará uma
abordagem metodológica de cunho qualitativo, através de pesquisa
documental, bibliográfica e realização de entrevistas. Diante de estudos
preliminares, á um grande incomodo da comunidade católica laranjeirense
acerca da ausência do Rei Mago na procissão, a descaracterização dos
festejos e a desvalorização da festa pelo Encontro Cultural de Laranjeiras.

Palavras-chave: Silenciamento, Catolicismo, Rei Mago Baltazar, Lugar de


Memória.

REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Jose Reginaldo S. Ressonância, Materialidade e
Subjetividade: as culturas como patrimônios. In: _ Antropologia dos objetos:
coleções, museus e patrimônios. Rio de Janeiro, 2007.
GOMES, Ângela de Castro. A guardiã da memória. Acervo: Revista do
Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, v. 9, jan/dez, 1996.
KARASCH, Mary. Construindo comunidades: As Irmandades dos pretos e
pardos no Brasil Colonial e em Goiás. In: The 12th Annual Gilder Lehrman
Center International Conference at Yale University , 2010, Connecticut.
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP:
EDUSC, 2005.
NORA, Pierre. “Entre memória e história: a problemática dos lugares”.
Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História
e do Departamento de História da PUC-SP, n. 10. São Paulo, dez.-1993.
83

ILHA MEM DE SÁ: PERSPECTIVAS MUSEOLÓGICAS E


ATRATIVIDADE TURÍSTICA

Estefanni Patricia Santos Silva


Museóloga e mestranda em Turismo pelo PPMTUR-IFS
[email protected]

Fabiana Faxina
Turismóloga e Drª em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UESC
Professora do departamento de Turismo pelo PPMTUR-IFS
[email protected]

Janaina Cardoso de Mello


Mestranda em Turismo pelo PPMTUR-IFS e Dra. em História Social
Professora do Departamento de História DHI-UFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

Abordando sobre as características pertinentes a um planejamento turístico, o


artigo trata da comunicação entre referências que articulam as peculiaridades
presentes em um processo de estruturação do plano. A respeito do fato, é
apresentada a perspectiva de um caso de plano museológico, situado na ilha
Mem de Sá que encontra-se no Polo Turístico Costa dos Coqueirais, no
município de Itaporanga D’Ajuda, Sergipe, Brasil, que utiliza das estratégias do
planejamento turístico para a sua constituição, uma vez que o mesmo possui o
objetivo de ser um atrativo ao turismo local. A pesquisa é de revisão
bibliográfica, analítica, realiza estudo de caso e se enquadra à natureza
qualitativa. Cada comunidade precisa obter um planejamento para as ações do
turismo voltadas aos seus potenciais. No caso da proposta de um plano
museológico voltado para a comunidade da Ilha Mem de Sá, o documento visa
apresentar diretrizes que organizarão uma futura implantação de um espaço
museológico. Por isso, será realizada uma discussão sobre o espaço e onde o
local está situado para compreender a importância do espaço museu numa
comunidade, para entender como ocorre o gerenciamento de ideias entre
planejadores e os anseios dos moradores do local, e como poderá ser
efetivado o procedimento do planejamento nessa contextualização. Sempre é
necessário lembrar que o museu é um espaço voltado, em sua gênese, à
comunidade, pois é sobre ela que o espaço comunica por meio do seu acervo
e é ela que o aceita. Nesse caso, esse museu será mais um atrativo turístico à
ilha, se configurando em uma opção a mais para o visitante o que leva ao
fortalecimento do turismo de base comunitária presente na localidade.
Pensando na sustentabilidade e no papel do museu nesse cenário, percebe-se
que por ser um local cuja beleza natural é seu principal atrativo, a ideia do
museu, nesse planejamento, deverá estar integrada ao ideal de conservação
da natureza. Afinal, “o produto turístico natural baseia-se na venda dos
aspectos ambientais das localidades e a estrutura receptiva deve ser pequena,
refinada, integrada e harmoniosa em relação ao meio”, como dialoga o autor
Ruschmann (1997, p. 25). Para o plano museológico serão considerados os
84

argumentos da comunidade quanto a tipologia de acervo que o local tem


potencial para expor, as variedades de discursos sobre as peças que serão
musealizadas e, principalmente, o que querem que a instituição promova, pois
por consequência, o espaço museal promoverá conhecimento aos seus
visitantes e comunicará a trajetória da historicidade do local, dos seus
moradores e dos seus potenciais. Então, “mais importante do que a
consciência do lugar é a consciência de mundo que se tem por meio do lugar”,
como ressalta o autor Yásigi (2001, p. 38). Percebe-se que um museu
proporciona a afirmação identitária e agregação de valor ao patrimônio local.
Conforme o IBRAM: “Os museus brasileiros fazem parte desse universo de
atrativos turísticos e são potenciais indutores de visitações” (2014, p.45),
capazes de dinamizar a produção artesanal, a gastronomia, a hospitalidade,
dentre outros serviços ofertados pela comunidade. (SILVA, 2017, p. 8).
Portanto, o espaço museológico, entre as suas características, possui o
objetivo de preservar a memória, salvaguardar as peculiaridades contidas
sobre a temática do espaço e proporcionar a reflexão sobre o tempo
contemporâneo diante do encontro com o acervo que pode remeter a tempos
remotos, dados presentes ou mesmo perspectivas de um futuro. Desse modo,
a comunidade pretende obter um espaço de memória, para assim, concretizar
esse objetivo de conservar informações a respeito de sua trajetória.

Palavras-chave: Planejamento; Atrativo Turístico; Museu.

REFERÊNCIAS

EMBRAPA TABULEIROS COSTEIROS. Gestão Participativa para o


Desenvolvimento da Comunidade Mem de Sá - Itaporanga D’Ajuda/SE.
Aracaju:Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2007.
BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru EDUSC,
2002.
BRAGA, Debora Cordeiro. Planejamento turístico: teoria e prática. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.
HALL, C. M. Planejamento turístico: políticas, processos e relacionamentos.
2. ed. São Paulo: Contexto, 2004.
MOLINA, Sergio. Turismo: metodologia e planejamento. Bauru, SP: Edusc,
2005.
MTUR. Dinâmica e diversidade do turismo de base comunitária: desafio
para a formulação de política pública/Ministério do Turismo. Brasília:
Ministério do Turismo, 2010
MURPHY, Peter E. Tourism as a community industry: an ecological model
of tourism development. Tourism Management September, p. 1980-1993,
1983.
PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das
memórias individuais e coletivas. Patrimônio e Memória,
UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1, p. 95-109, 2007.
85

PETROCCHI, Mario. Turismo: Planejamento e Gestão. São Paulo: Futura,


2002.
RUSCHMANN, Doris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentável: A
proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus, 1997
SILVA, Estefanni Patricia Santos. Um museu de aratus: plano museológico
no tbc da ilha Mem de Sá. 2017. 9f. Projeto de Mestrado (Profissional em
Turismo) – Departamento de Pós-Graduação, Instituto Federal de Sergipe,
Aracaju.
YÁZIGI, Eduardo. A alma do lugar: turismo, planejamento e cotidiano em
litorais e montanhas. São Paulo: Contexto, 2001.
86

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E TURISMO:


OS CURSOS DE CAPACITAÇÃO DO PRODETUR/SE NO POLO
COSTA DOS COQUEIRAIS
Priscila Pereira Santos
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO/UFS
Universidade Federal de Sergipe – UFS
Integrante do Grupo de Pesquisa em Gestão Territorial de Ambientes Costeiros
GESTAC/IFS
Instituto Federal de Sergipe - IFS
[email protected]

Verônica Santiago Teixeira de Alencar Façanha


Discente do Curso de Especialização em Planejamento do Turismo –
DTUR/UFS
Departamento de Turismo - DTUR
Universidade Federal de Sergipe – UFS
[email protected]

José Wellington Carvalho Vilar


Doutor em Análisis Geográfico en la Ordenación del Teritorio pela Universidade
de Granada
Professor do IFS
Professor Colaborador do PPGEO/UFS
Coordenador do Grupo de Pesquisa em Gestão Territorial de Ambientes
Costeiros GESTAC/IFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas


Tipo de produção: C) Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

Turismo indica movimento e deslocamento pelo espaço geográfico. Ao mover-


se entre o destino emissor e o receptor, o olhar tende a direcionar-se em busca
da diferenciação espacial. O patrimônio do espaço turístico visitado, seja
material ou imaterial, dá o tom as particularidades e as singularidades do lugar.
Assim, verifica-se uma relação direta de dependência entre o turismo e o
patrimônio na configuração do produto turístico. Sob a perspectiva de Melo e
Cardozo (2015), pode-se entender que todas as formas de patrimônio resultam
das ações humanas deixadas como herança para as próximas gerações. Neste
contexto, o turismo mostra-se como mediador da democratização, socialização
e apropriação histórico-cultural do patrimônio material e imaterial tanto pela
população local quanto pelos turistas. Contudo, sem educação patrimonial a
população local e os turistas podem tornar-se nocivos ao patrimônio. Sob o
prisma da atuação do Estado, as políticas de turismo devem apresentar-se
também como políticas de preservação e conservação do patrimônio,
principalmente direcionadas a educação patrimonial. Neste entrelaçar entre
patrimônio, turismo e educação, o objetivo desta pesquisa é analisar como a
educação patrimonial manifesta-se nos cursos de capacitação de turismo
estruturados pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) no
Polo Costa dos Coqueirais em Sergipe. Para tanto, esta análise foi elaborada a
87

partir de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo. Na


pesquisa bibliográfica, as leituras concentraram-se nos seguintes temas:
patrimônio, educação patrimonial e turismo, com destaque para os autores
Melo e Cardozo (2015), Barretto (2007), Figueira (2007), Pereiro Peréz (2009)
e Horta; GrunBerg; Monteiro (1999). No que diz respeito ao documentos,
realizou-se um estudo do Plano Nacional de Turismo (PNT) (2007-2010; 2013-
2016), do Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) em
Sergipe e o Programa de Capacitação Profissional e Empresarial do Polo
Costa dos Coqueirais. O trabalho de campo desenvolveu-se através de
observação sistemática no processo de implantação dos cursos de capacitação
do PRODETUR no Polo Costa dos Coqueirais. O PRODETUR em Sergipe com
o intuito de “criar condições necessárias para a promoção do turismo
sustentável na região (Polos Velho Chico e Costa dos Coqueirais)”
(PRODETUR-SE) sob a perspectiva de um produto turístico socialmente
inclusivo, implementa a partir de 2016 o Plano de Capacitação Profissional e
Empresarial em consonância com o Programa de Capacitação Profissional e
Empresarial do Polo Costa dos Coqueirais. Os cursos de capacitação ofertados
são: cozinheiro(a), garçom/garçonete, camareiro(a), vendedor(a) de artigos
para turista, artesão/artesã, prestador(a) de informações turísticas e
elaborador(a) de roteiros para condutores de visitantes, eletrônica e
manutenção geral para hotéis. Cada turma é composta por no mínimo 25
alunos e distribuídas espacialmente no Polo Costa dos Coqueirais da seguinte
maneira: Aracaju com 19 turmas; Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do
Socorro, Laranjeiras, Santo Amaro, Pirambu, Pacatuba e Brejo Grande
totalizam 14 turmas e os municípios de Indiaroba, Santa Luzia do Itanhi,
Itaporanga D´Ajuda, Estância e São Cristóvão com 12 turmas ao total. Os
cursos de capacitação são estruturados em três módulos: o módulo
introdutório, o módulo específico e o módulo complementar com noções de
informática e idiomas, língua inglesa e espanhola. O módulo introdutório é
segmentado em sete unidade. Na Unidade V – Geografia e Cultura Sergipana -
verificou-se o direcionamento específico do conteúdo programático para a
socialização, a conservação e a preservação do patrimônio de Sergipe nos
seguintes conteúdos: Sergipe e o Polo Costa dos Coqueirais como Produto
Turístico; Atrativo turístico; Geografia e História de Sergipe; Principais pontos
turísticos do município; Manifestações folclóricas e artísticas da cultura popular.
Nos módulos específicos, somente o curso de prestador(a) de informações
turística apresenta conteúdo programático direcionado ao patrimônio. Na
Unidade V – Processo de Trabalho do Informante Turístico - do referido curso
aborda-se o conteúdo a saber: “potencial turístico: patrimônio turístico, cultural,
histórico e ambiental ou natural”. Acredita-se que o estudo e a compreensão do
patrimônio no contexto do turismo em Sergipe deve voltar-se especificamente
em todos os cursos para o despertar da identidade do “ser” sergipano, do “ser”
distinto dos demais, enfim, do “ser” patrimonial, que perpassa pelo complexo
conceito de “sergipanidade”.

Palavras-chave: Patrimônio; Educação; Turismo; Cursos de Capacitação;


Políticas Públicas.

REFERÊNCIAS
88

BARRETTO, M. Turismo y cultura. España: Colección Pasos Edita, 2007.


BRASIL. Plano Nacional de Turismo 2007-2010. Uma viagem de inclusão.
Brasília: Ministério do Turismo, 2007.
BRASIL. Plano Nacional de Turismo 2013-2016. O turismo fazendo muito
mais pelo Brasil. Brasília: Ministério do Turismo, 2013.
FIGUEIRA, G. K. A educação patrimonial (cultural) e o desenvolvimento
sustentável do turismo. Pós-graduação Latu Sensu. Especialização em
Turismo e Desenvolvimento Sustentável. Brasília: Centro de Excelência em
Turismo, 2007. 64p. (Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização).
HORTA, M. de L. P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A. Q. Guia básico da
educação patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, Museu Imperial, 1999.
MELO, A.; CARDOZO, P. F. Patrimônio, turismo cultural e educação
patrimonial. Revista Educação & Sociedade, Campinas – SP, v. 36, nº 133, p.
1059-1075, 2015.
PEREIRO PÉREZ, X. Turismo cultural: uma visão antropológica. España:
Colección Pasos Edita, 2009.
SERGIPE. Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) em
Sergipe. Programa de Capacitação Profissional e Empresarial do Polo
Costa dos Coqueirais. 2016. (Material não publicado).
89

A “INVENÇÃO” DA PRAIA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL


PARA O VERANEIO E DO TURISMO
Priscila Pereira Santos
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia - PPGEO/UFS
Universidade Federal de Sergipe – UFS
Integrante do Grupo de Pesquisa em Gestão Territorial de Ambientes Costeiros
GESTAC/IFS
Instituto Federal de Sergipe - IFS
[email protected]

José Wellington Carvalho Vilar


Doutor em Análisis Geográfico en la Ordenación del Teritorio pela Universidade
de Granada
Professor do IFS
Professor Colaborador do PPGEO/UFS
Coordenador do Grupo de Pesquisa em Gestão Territorial de Ambientes
Costeiros GESTAC/IFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas


Tipo de Produção: C) Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

O desejo de morar próximo ao mar parece hoje enraizado no imaginário


ocidental. Porém nem sempre foi assim, a apropriação simbólica e cultural do
espaço litorâneo passou por um processo de mudanças que transitou do medo
ao culto à saúde e, posteriormente, ao prazer. Até a primeira metade do século
XVIII os ocidentais temiam o mar e repugnavam as praias, como mostra o
historiador Alain Corbin (1989) no seu livro clássico O Território do Vazio: a
praia e o imaginário ocidental. O autor explica que tanto a literatura religiosa
quanto a literatura antiga revelam uma visão negativa do litoral. Hoje, a praia é
preenchida de signos e significados relacionados ao prazer, ao lazer, às férias,
ao veraneio e ao turismo. Mas como praia tornou-se um patrimônio cultural?
Para refletir sobre esta questão, o objetivo desta pesquisa é analisar a
“invenção” da praia como patrimônio cultural sob a perspectiva das práticas
socioculturais do o veraneio e do turismo de sol e praia. O procedimento
metodológico utilizado fundamenta-se na pesquisa bibliográfica. Destacam-se
no desvelar sobre a gênese do usos do espaço à beira-mar os estudos de
Corbin (1989), Urry (2001), Turner e Ash (1991), Boyer (2003) e Vera Rebollo
et al. (1997). A partir do século XVIII as descobertas das propriedades
terapêuticas da água do mar e do ar geram na elite uma ‘corrida’ as praias para
a cura dos desequilíbrios do corpo e da alma, concebe-se a prática da
talassoterapia. Simultâneo à cura, nasce o prazer do contato com o mar e com
os demais aspectos dos espaços litorâneos por meio das atividades
recreativas, do morar temporariamente à beira-mar (vilegiatura marítima,
veraneio) e do turismo de sol e praia. Os banhos terapêuticos estimularam a
formação de balneários marítimos. Neste momento, a hospedagem se dava em
alojamentos (lodging houses, espécie de albergues), em casas alugadas ou de
amigos; geralmente as casas tinham as costas voltas para o mar e não haviam
habitações especializadas na apreciação da paisagem à beira-mar. O banho
90

terapêutico contribuiu com a codificação de condutas na praia. Não se ia à


praia para se expor ao sol nem ficar deitado na areia, ia-se a praia para
conversar, andar e às vezes simplesmente para sentar-se e descansar. Os
balneários foram inicialmente construídos ao longo das praias do Canal da
Mancha, do mar do Norte e do mar Báltico, coordenados respectivamente pela
Inglaterra, França e Alemanha (CORBIN, 1989). A praia ‘medicalizada’
(re)configura-se para a recreação e o prazer a partir do século XIX (URRY,
2001; TURNER; ASH, 1991). Neste sentido, Turner e Ash (1991) esclarecem
que os aspectos de cura dos balneários são eclipsados pelos seus aspectos
sociais, por sua própria moda. O habitar temporariamente no ambiente praial
(re)modela a paisagem litorânea inglesa que se constitui num modelo de
ocupação territorial da Europa continental. A vilegiatura marítima a partir do
século XIX se desenha no prazer e passa a ser apreendida como as
temporadas em casas de praia, ou seja, uma opção de moradia secundária
utilizada nos momentos de recreação, a segunda residência. Os períodos de
banhos de cura e a busca do prazer nas praias concentravam-se no outono e
inverno. Somente em meados do século XX o bronzeado torna-se moda na
Europa e as praias passam a ser frequentadas também no verão. Como se vê,
a partir do século XVIII a água do mar e todos os aspectos do ambiente
litorâneo são valorizados. As patologias urbanas físicas, psíquicas e sociais
fizeram a alta aristocracia caminhar em direção ao litoral. O turismo se
apresenta no século XIX como emulação da vilegiatura marítima. Boyer (2003)
entende que a imitação acontecia por capilaridade, pois os estratos inferiores
copiavam os comportamentos e os destinos escolhidos pelas famílias reais.
Nos séculos XVIII e XIX as segundas residências se multiplicaram. A prática de
morar temporariamente à beira-mar é territorializada em outras “periferias do
prazer”, Buades (2006). A geografia da segunda residência se redesenha. O
progresso dos meios de transporte possibilitou a rápida expansão de
informações pelo Ocidente e consequentemente, as práticas marítimas
desenvolvidas pelos europeus e americanos influenciaram a moda dos banhos
de mar, da vilegiatura e do turismo em outros países, inclusive o Brasil. Assim,
a talassoterapia, a vilegiatura marítima, o veraneio e turismo mostram-se como
um conjunto de usos do litoral que tem a praia como patrimônio natural para
territorialização do patrimônio cultural herdado pela sociedade ocidental
europeia. A praia é um patrimônio público natural e cultural. A “invenção” de
vários usos hedonistas torna a praia um patrimônio cultural também e nos
convida a ampliar os horizontes sobre o conceito de patrimônio cultural.

Palavras-chave: Praia; veraneio; turismo; patrimônio cultural.

REFERÊNCIAS

BOYER, M. História do turismo de massa. Tradução: Viviane Ribeiro. Bauru:


EDUSC, 2003.
BUADES, J. Exportando paraísos: La colonización turística del planeta.
Palma de Mallorca: La Lucerna, 2006.
CORBIN, A. O território do vazio. A praia e o imaginário ocidental.
Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
91

TURNER, L.; ASH, J. La horda dorada. El turismo internacional y la


periferia del placer. Tradução: Miguel Martínez-Lage Alvarez. Madrid:
Endymion, 1991.

URRY, J. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas.


Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Studio Nobel:
SESC, 2001.
VERA REBOLLO, J. F. et al. Análisis territorial del turismo. Barcelona:
Editora Ariel, 1997.
92

A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO GASTRONÔMICO NA


COMPOSIÇÃO E NO FORTALECIMENTO DO CENÁRIO
TURÍSTICO DA CIDADE DE SÃO CRISTÓVÃO - SE
Eliane Avelina de Azevedo
Mestranda em Turismo-Instituto Federal de Sergipe;
Pós graduanda em Planejamento do Turismo- Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas


Tipo de produção: C. Trabalhos acadêmicos de pós graduação e afins

A importância da gastronomia tem crescido, não apenas no âmbito do consumo


quotidiano, como também do turístico. Frente a isso, um destino deve apostar
na preservação da sua gastronomia enquanto patrimônio intangível, bem como
na promoção, divulgação da qualidade e diferenciação dos seus produtos
locais, com vista a potencializar a sua competitividade face aos seus
concorrentes. Dessa maneira, a pesquisa em tela teve por objetivo geral:
mostrar a gastronomia local e sua importância enquanto elemento de reforço
identitário, com vistas para a promoção e diversificação da oferta turística,
partindo de uma pesquisa de campo na cidade de São Cristóvão, cidade essa
que está localizada a 23 km de Aracaju, capital Sergipana. Metodologicamente
é uma pesquisa de natureza básica, cujo abordagem é exploratório-descritiva,
exposta na construção do diálogo com a literatura especializada que
apresentou conceitos correlatos ao tema Gastronomia, elementos identitários,
Patrimônio Cultural e suas relações com o Turismo. O aporte teórico foi
baseado em autores como: Cavaco (1995); Schlüter (2003; 2006); ); Fagliari
(2005); Corner (2006); Funari; Pelegrini, (2006); Gimenes (2006; 2014); Coelho
Neto; Azevedo (2010) ;Croce; Perri (2010); Aragão; Leal, (2012) e
Mascarenhas; Gândara (2015), que mostram em seus escritos que a
gastronomia e suas possibilidades de conferir afirmativas e diferenciação ao
produto turístico é uma temática importante para ser tratada de maneira
significativa, consistente e aplicada, para que assim como outros atrativos de
ordem natural, cultural e artístico possam ser reconhecidos. A relevância
dessas discussões acerca da produção de doces em São Cristóvão, se dá,
mediante a sua Historicidade, intrínseca ao desenvolvimento arquitetônico da
cidade, mas que diferente do patrimônio material ainda não tem o
reconhecimento devido, é pouco explorado e pouco trabalhado. Ainda nesse
contexto, percebe-se que mesmo diante da importância política, histórica e
cultural, São Cristóvão, que detém um Patrimônio arquitetônico riquíssimo e
que tem a praça são Francisco eleita patrimônio da Humanidade, ainda não se
consolidou no turismo sergipano e brasileiro, havendo a necessidade de
estudos que contribuam para melhorar essa realidade. No tocante aos
resultados, através da observação in loco e elucidado na pesquisa de Aragão e
Leal (2012) foi possível elencar uma fasta produção doceira que está presente
no cotidiano e nas festividades. São especialidades culinárias tais como:
cocadas de forno, doces em compota, geleia de pimenta, o sarolho, o beiju
molhado, o pé de moleque, o má casado, a bolachinha de goma, além das
famosas queijadinhas que é patrimônio imaterial de Sergipe desde março de
2011 através do decreto de número 27.720 e dos delicados bricelets. Face ao
93

exposto, as iguarias figuram como verdadeiros Patrimônios Imateriais e como


tal são passíveis de serem experimentados no que pode ser chamado de
consumo simbólico, apreciados e compartilhados com os turistas (Gândara,
2009). Conclui-se, portanto, que a vocação doceira de São Cristóvão é algo
notório e traduz um ofício comum entre as mulheres do município. Assim,
considera-se que esses elementos de referência identitária constituem uma
fonte inesgotável de saberes da comunidade e apresentam o delinear de toda a
trajetória histórica, econômica e social da cidade. Pode-se afirmar, que as
“iguarias” figuram como uma oferta turística evidente e sua preservação e
sinergia com outros atrativos turísticos compõem e enriquecem o cenário
turístico de São Cristóvão e são passíveis de tornarem-se fortes elementos no
desenvolvimento e consolidação da atividade turística na cidade.

Palavras-chave: Gastronomia local; Patrimônio Cultural; Atrativos Turísticos;


Diversificação de oferta.

REFERÊNCIAS

ARAGÂO, Ivan Rêgo; LEAL, Rosana Eduardo Silva. Memória, Patrimônio e


Atrativo turístico: A doçaria na festa de Senhor dos Passos, em São Cristóvão
– Sergipe. Revista Rosa dos ventos, v. 4, n. 3, Caxias do Sul, jul-set de 2012,
p. 384-396. Disponível em
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/rosadosventos/article/viewFile/1561/pdf
_83 . Acesso em 11 de Julho de 2017
CAVACO, Carminda Maria Mariano. Turismo Rural e Desenvolvimento Local.
In: CAVACO, Carminda Maria Mariano. As Regiões de Fronteira - Inovações
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401.
COELHO NETO, Ernani; AZEVEDO, Marcelo. “Turismo, Imagem Territorial e
Gastronomia: o valor simbólico da culinária na atratividade de destinos
turísticos brasileiros”. Revista Acadêmica Observatório de Inovação do
Turismo, v. 5, n. 2, jan. 2010, p. 1-13. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/oit/article/view/5768/4480. Acesso
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Turismo Cultural. In: VI Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul.
Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2006.
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FAGLIARI, Gabriela Scuta. Turismo e Alimentação: análises introdutórias.
São Paulo: Rocca, 2005.
FUNARI, Pedro Paulo; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio
histórico e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
GÂNDARA, José Manoel Gonçalves. “Reflexões sobre o turismo gastronômico
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M. G. R. Segmentação do mercado turístico: estudos, produtos e


perspectivas. Barueri, São Paulo: Manole, 2009, p. 179-191.
GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Patrimônio Gastronômico,
Patrimônio turístico: uma reflexão introdutória sobre a valorização das
comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no Brasil. In: Anais
do IV Seminário de Pesquisa em Turismo do MERCOSUL, realizado entre 7 e
8 de julho de 2006. Caxias do Sul. p. 1-15.
GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Atrativos gastronômicos da
cidade de São Paulo (SP): análise preliminar. In: XI Seminário da
Associação Nacional Pesquisa e Pós-Graduação em Turismo, realizado entre
24 e 26 de setembro de 2014. Fortaleza/CE, p. 1-17. Disponível
em:https://www.anptur.org.br/anais/anais/v.10/Anais/DCL5/026.pdf. Acesso em
10 junho de 2017.
95

TURISMO CULTURAL: PERFIL DO VISITANTE DO MUSEU DA


POLÍCIA MILITAR DE SERGIPE (MPMSE)
Mônica Maria Liberato
Instituto Federal de Sergipe
Grupo de Pesquisa: Educação, Turismo e Cultura
[email protected]

Lício Valério Lima Vieira


Instituto Federal de Sergipe
Grupo de Pesquisa: Educação, Turismo e Cultura
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

O turismo cultural representa uma área de grande benefício econômico para


museus. Segundo Dias (2006) e Silberberg (1995) o turismo cultural é um dos
principais segmentos do turismo que incorpora uma variedade de formas
culturais, em que se incluem museus, galerias, eventos cultural, festivais,
festas, arquitetura, monumentos históricos, apresentações artísticas e outras,
que, identificam uma comunidade e que motivam os visitantes pelo interesse
em conhecer características singulares de uma comunidade, região, grupo ou
instituição. Em tempos em que a geração de renda no setor de turismo se torna
um desafio para os gestores públicos e privados, os museus convivem com a
perspectiva de encontrar formas de aumentar o fluxo de visitantes, ampliando
os atrativos culturais e, em alguns casos, acrescentando opções de
entretenimento (COGAN, 2011), com vistas à melhoria da qualidade dos seus
serviços. O Museu da Polícia Militar de Sergipe (MPMSE) teve suas portas
abertas ao público pela primeira vez em 1969, funcionando por 43 anos na rua
Itabaiana, centro de Aracaju. Depois foi transferido para o Centro Histórico de
São Cristóvão/SE, fazendo parte dos atrativos turísticos do município. O
MPMSE tem um acervo de documentos, armamentos, fardamentos e
equipamentos militares que se configuram como verdadeiros atrativos capazes
de contar a sua história. Neste contexto, este estudo teve como objetivo
principal diagnosticar o perfil do visitante do Museu da Polícia Militar de Sergipe
(MPMSE). Com base no objetivo da pesquisa, a mesma teve caráter quali-
quantitativo, a partir das estratégias utilizadas em estudos exploratórios e
descritivos, pois buscou construir o perfil do visitante do museu e descrevê-lo
para fazer uma análise desse visitante e assim usar o resultado como um
indicador para a gestão do museu. Os instrumentos utilizados basearam-se
em: entrevista com o diretor do museu e análise dos registros de presenças
nos livros de assinaturas do ano de 2016. Na primeira etapa da pesquisa foi
feita uma entrevista em profundidade com o Diretor do MPMSE, e através dela
foram coletados os dados sobre a história do Museu, a gestão e as estratégias
utilizadas para aumentar o fluxo de visitantes. Na segunda etapa, as
assinaturas dos livros foram digitadas em planilhas excel, onde os dados foram
tabulados, cruzando variáveis (nome, gênero, dia da semana e mês) e
transformados em gráficos estatísticos para analisar o perfil desse visitante. Em
relação a gestão do MPMSE, observou-se que foram utilizadas estratégias
96

diferenciadas dos demais museus existentes em São Cristóvão/SE, como por


exemplo abrir um salão para exposição de artes para artistas de diversos
segmentos. Assim, além de conhecer as memórias militares de Sergipe, o
visitante tem a oportunidade de apreciar obras de pinturas, fotográficas,
monumentos, esculturas, dentre outras formas de artes. Outra estratégia
identificada corresponde a presentear o visitante com um chaveiro com o
brasão militar. O MPMSE também é o único do município que não cobra a
entrada, portanto, pressupõe que todo turista visitante São Cristóvão/SE tenha
interesse em visitar o museu. Ressalta-se neste estudo que os livros de
assinaturas de visitação do museu são os únicos indicadores de fluxo de
turismo mais próximo da realidade do município. Com a estatística criada a
partir dos livros de assinaturas foi possível identificar que em 2016 o MPMSE
recebeu 6.484 visitantes, desses 99% de brasileiros e apenas 1% provenientes
de outros países. Dos brasileiros, 64% são de Sergipe, 9% de São Paulo, 8%
de Bahia e 6% do Rio de Janeiro, os outros são distribuídos em percentuais
entre 1% e 2% dos demais Estados. Pode-se analisar também que dos
visitantes de Sergipe, 32% são de Aracaju, 25% de Itaporanga D'Ajuda e São
Cristóvão e Itabaianinha aparecem com 9%. O gênero predominante dos
visitantes de 2016 foi o feminino com 33% do total e 26% masculino, porém,
42% restantes não foram passíveis de identificação ou porque não se
compreendeu o nome ou porque o mesmo foi abreviado. Considerando o mês
com maior fluxo, 22% visitaram o museu em agosto, 14% em abril e 9% nos
meses de janeiro e fevereiro. Também, a pesquisa mostra que o sábado é o
dia da semana com maior índice de visitas com 34% do total, seguindo vem à
sexta-feira com18%, terça-feira com 12% e domingo com 11%. A partir dos
resultados da pesquisa foi possível conhecer o perfil dos visitantes do MPMSE,
seu ponto de origem, gênero, os meses e dias com maiores fluxos. Como os
livros de assinaturas fornecem apenas os nomes e datas não foi possível obter
mais variáveis, como idade, escolaridade, horários e motivações. A pesquisa
possibilitou também ter uma noção de fluxo de turistas/visitantes no centro
histórico de São Cristóvão/SE, a 4ª. Cidade mais antiga do Brasil, visto que não
existe nenhum outro indicador que mensure esse fluxo. O perfil do visitante do
MPMSE irá servir de ferramenta de gestão, permitindo a direção criar
estratégias e ações de marketing focadas no perfil do visitante.

Palavras-chaves: Turismo Cultural, Museu da PMSE, Perfil Turístico.

REFERÊNCIAS

COGAN Andrea. Pesquisa de Público do Museu Militar do Comando Militar do


Sul: Quem são seus visitantes? Mouseion, n.10, jul-dez, 2011.
DIAS, Reinaldo. Turismo e Patrimônio Cultural: Recursos que Acompanham
o Crescimento das Cidades. São Paulo: Saraiva, 2006.
MPMSE. Museu da Polícia Militar de Sergipe. Disponível em:
http://www.pm.se.gov.br/museu-da-policia-militar-do-estado-de-sergipe-
mpmse/. Acessado em: 20 de novembro de 2017.
SILBERBERG Ted. Cultural tourism and business opportunities for museums
and heritage sites. Tourism Management, Vol. 16, no. 5, pp. 361-365, 1995.
97

MOVIMENTO DAS CATADORAS DE MANGABA, UM


PATRIMÔNIO IMATERIAL SERGIPANO
Lara Brunelle Almeida Freitas
Gestora de Turismo IFS e Mestranda em Turismo –IFS
[email protected]

Estefanni Patricia Santos Silva


Museóloga-UFS e Mestranda em Turismo –IFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas;


Tipo da produção: C: Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins;

Para o presente estudo analisam-se as catadoras de mangaba em Sergipe,


enquanto um patrimônio sergipano por se enquadrar nos parâmetros do art. 2º
da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Além
disso, nota-se o seu potencial atrativo turístico diante da exposição de seus
elementos identitários que as diferenciam das demais regiões. A atividade das
catadoras, inclusive, recebeu uma contribuição da Embrapa e Petrobras para
ser iniciado e desenvolvido, resultando em conquistas significativas pelo seu
engajamento. Ressalta-se que as famílias do povoado Pontal, Indiaroba,
Sergipe, e do povoado Capuã em Barra dos Coqueiros tem sua base
econômica fundamentada na pesca artesanal e no cultivo da mangaba in
natura e, também, na utilização agroindustrial dos seus derivados, ora para
subsistência da comunidade, ora para a comercialização destes produtos locais
aos visitantes. Desta maneira, esta interação homem e meio ambiente reflete
na relação que a comunidade tem com os recursos naturais disponíveis,
enquanto base de subsistência material para o sustento das famílias no
povoado. Partindo dessas premissas, a problemática desta pesquisa consiste
em observar no modo de vida dessas famílias que sobrevivem do cultivo da
mangaba, que tem sido ameaçado pelo processo de valorização da fruta no
mercado. O objetivo desta pesquisa é compreender os procedimentos e as
políticas em relação aos conceitos e princípios do turismo sustentável, da
gestão funcional e de patrimonialização presentes nas localidades. A pesquisa
abrange um estudo de caso nas comunidades, utilizando-se de técnicas de
coletas como seleções e levantamentos bibliográficos sobre turismo,
sustentabilidade, gestão funcional e patrimônio cultural; Posteriormente, a fim
de uma melhor compreensão, as sedes foram visitadas e foram entrevistadas
representantes e responsáveis pela gestão operacional dos movimentos das
catadoras de mangaba em Sergipe. As observações em campo seguidas das
entrevistas semi-estruturadas com perguntas abertas resultaram numa análise
etnográfica e comparativa entre os municípios de Indiaroba e Barra dos
Coqueiros, que possibilitou uma sistematização das informações análoga ao
referencial teórico-conceitual de Mota et al. (2003; 2005; 2008; 2009; 2010;
2011); Do ponto de vista da gestão funcional e sustentável, neste estudo,
observou-se sob o ponto de vista técnico metodológico e teórico-conceitual de
Swarbrooke (2000) e Sachs (1993), através de atributos sociais, econômicos,
culturais, ecológicos, políticos e institucionais. Assim sendo, destacou-se neste
estudo a mangaba e processos derivados a extração, produção
98

comercialização, valorizando a tradições e modos de vida que passam de


geração para geração. Os resultados foram embasados em respectivas
vivências por meio da atuação e acompanhamento histórico dos movimentos
que refletem lutas e reivindicações que ocasionaram numa forte atuação por
meio de cobranças e parcerias do poder público e privado, fatos que promovem
a garantia de direitos sociais que antes foram suprimidos ou negados por
proprietários de terra e até pelos mesmos. Por fim, os dados constataram que
as catadoras de mangaba visualizam essas áreas de cultivo como um
patrimônio que precisa ser preservado para as gerações futuras. O movimento
acredita que trabalhando em equipe pode-se desenvolver o turismo de forma
sustentável na comunidade, visto que já partilham de regras comuns no
trabalho e boas práticas para conservação da espécie, aspectos contribuintes
para a proposta de sustentabilidade, preservação de aspectos identitários e
patrimônio.

Palavras-chave: patrimônio cultural; sustentabilidade; turismo; catadoras de


mangaba.

REFERÊNCIAS

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reprodução social de uma população tradicional de catadores de
mangaba no litoral sul sergipano. In: Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da
Mangaba, 2003, Aracaju. Anais... Aracaju: Embrapa Tabuleiros Costeiros,
2003. CD-ROM.

MOTA, Dalva Maria da; SILVA JUNIOR, Josué Francisco da; SCHMITZ,
Heribert. Os catadores de mangaba e a conservação da biodiversidade no
território Sul sergipano. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E
SOCIOLOGIA RURAL, 43., 2005, Ribeirão Preto. Anais... Brasília: SOBER.
Disponível em:< http://www.catadorasdemangaba.com.br/publicacoes/texto-
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Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente
e Sociedade (Anppas), 4, Brasília, 2008.

____________; Gestão coletiva de bens comuns no extrativismo da


mangaba no Nordeste do Brasil. Ambiente & Sociedade, Campinas, v.12,
n.2., p.273-293, jul.-dez. 2009.Nordeste, Embrapa Tabuleiros Costeiros, 2005.
256p. (Série Teses e Dissertações 1).

____________; Conflito e consenso pelo acesso aos recursos naturais no


extrativismo da mangaba. Antropolítica. Niterói, n. 31, p. 123-146, 2. sem.
2011.

____________. Divisão social do trabalho no extrativismo de mangaba no


nordeste e norte do Brasil. Agricultura Familiar. Belém: n5/8, p. 53-70,
2005/2008a.
99

MOTA, D.M. da, SCHMITZ, H., SILVA JUNIOR, J.F. da, RODRIGUES, R.F.A. e
ALVES, J.N.F. O extrativismo de mangaba é “trabalho de mulher”? Duas
situações empíricas no Nordeste e Norte do Brasil. Novos Cadernos NAEA,
v. 11, n. 2, p. 155-168, dez. 2008.

PELEGRINI, Sandra C. A. O patrimônio cultural e a materialização das


memórias individuais e coletivas. Patrimônio e Memória,
UNESP/FCLAs/CEDAP, v.3, n.1, p. 95-109, 2007.

SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M.


Para Pensar o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993. p.
29-56.

SWARBROOKE, John. Turismo sustentável: gestão e marketing. 3. ed.


Trad. Esther Eva Horovitz. São Paulo: Aleph, 2000.
100

Á ÁGUA: UM PATRIMÔNIO

Rodrigo Santos de Lima


Doutorando PPGEO/UFS
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Maria Augusta Mundim Vargas


Líder do Grupo Sociedade e Cultura-PPGEO/UFS
[email protected]

Eixo temático: 02. Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas.


Tipo da produção: Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins.

Compreendemos o planeta como um sistema interconexo que reúne


características únicas que proporcionaram ao longo do tempo a existência da
vida num processo evolutivo que alcançou níveis máximos ao permitir a
presença de seres considerados pensantes ao ponto de transformar
intensamente os elementos naturais contidos nele. Nesse sentido, temos por
objetivo mostrar a importância da água como patrimônio da humanidade. A
vida presente na Terra está intrinsicamente ligada a hidrosfera, a atmosfera e a
litosfera e se constitui uma teia ligada por elementos químicos e tendo a água o
ponto convergente nessa trama de alta complexidade. “Tudo é água” como
afirmara Tales de Mileto no século VI a.C e aos poucos tal frase foi se
confirmando ao longo da evolução da ciência no decorrer do tempo histórico. A
água adquiriu tanta importância que incorporou vários significados ao longo do
tempo com três sentidos principais: água como fonte de vida, como meio de
purificação e como centro de regeneração (BRUNI, 1994). O fato é que
devemos compreender a água primordialmente pela sua concretude pelos
mares, oceanos, rios, lagos, riachos, cascatas, torrentes, chuvas, fontes,
nascentes, praias, gelo, orvalho, etc., sendo que cada cultura traça um sentido
para ás aguas ao seu redor (BRUNI, 1994) e tem um trato diferenciado para
ela, desde a veneração e a sacralidade à indiferença. Dentre os sentidos da
água, o mais importante está relacionado à vida, pois é o sangue do Planeta
Terra (PEDRAZA, 2009), é veículo de toda a vida, é um dom do céu, é
fertilidade, é fecundidade (BRUNI, 1994), é vitalidade, está em nós (ROMANO
FILHO et al, 2002) e continuará depois de nós e nesse contexto a importância
da água é notada em todo o planeta, desde os locais de abundância e
principalmente os de escassez. Em algumas religiões adquire sentidos
associados a criação, a vida, a pureza, a graça e virtude (BRUNI, 1994). No
campo da purificação, são encontradas vastas culturas que realizam seus
rituais procurando purificar seus seguidores, desde os cristãos aos hindus dão
tal sentido à água. Como símbolo de regeneração, está presente desde os
cristãos aos ateus. “Assiste-se, então, a uma multiplicação infinita de
simbolismos que unem o imaginário, apesar das diferenças existentes entre as
crenças religiosas. A água é germinal e fecundante, ao mesmo tempo sexo
masculino e o sexo feminino. As lendas que rodeiam o boto nos Estados
amazônicos são elucidativas neste aspecto. A água é medicinal, por vezes
comprovadamente, por outras ilusoriamente. A água é batismal, introdutória
101

aos rituais superiores. A água é diluvial, castigadora, orientada contra os infiéis


e os imprudentes”. (SAADI, p. 19, 1989).Os sentidos criam apego, sentimento e
identidade aos humanos perante á agua, entretanto tal fenômeno pode ou não
garantir a devida proteção e cuidado necessários à permanência da vida
humana no planeta, já que á agua está na Terra antes de nós e continuará
depois de nós (ROMANO FILHO, et al, 2002). Notadamente, os sentidos para
com á agua são importantes para que compreendamos a relação simbiótica
presente entre os elementos da Terra, e por isso precisamos garantir que o
planeta continue nos prestigiando com a água. A água está presente em 70%
do corpo humano e de 50 a 90% de quase todas as frutas, vegetais e outros
alimentos consumidos por nós todos os dias (ROMANO FILHO, et al, 2002),
devemos beber em média dois litros e meio de água por dia, a água está em
todos os líquidos do corpo, é essencial para o transporte de nutrientes,
eliminação de toxinas, lubrifica o corpo etc, e essa relação é muito mais
profunda e íntima do que se possa imaginar (SANZ, 2007). “A presença ou
ausência de água escreve a história, cria culturas e hábitos, determina a
ocupação de territórios, vence batalhas, extingue e dá vida às espécies,
determina o futuro de gerações. Nosso planeta não teria se transformado em
ambiente apropriado para a vida sem a água. Desde a sua origem, os
elementos hidrogênio e oxigênio se combinaram para dar origem ao elemento-
chave da existência da vida”. (BACCI; PATACA, p. 211, 2008).O
desenvolvimento econômico e a complexidade da organização das sociedades
humanas produziram inúmeras alterações no ciclo hidrológico e na qualidade
da água, a qual é afetada até mesmo pelas atividades de cunho religioso
(TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2011). Após a industrialização mundial,
água deixou de ser percebida como um bem natural para ser considerada
como um recurso hídrico, e seu uso aumentou exponencialmente causando
desequilíbrios entre a quantidade disponível e a necessidade. Com o aumento
da população mundial ocorreu um aumento no uso e a intensidade da
escassez aumentou em determinadas áreas do planeta causando uma grave
crise socioambiental a ponto da presença dos humanos na Terra ficar
ameaçada. Mesmo dependendo da água para sobrevivência e para o
desenvolvimento econômico, os humanos poluem e degradam tanto as águas
superficiais quanto as subterrâneas. Os usos diversos, o lançamento de
efluentes sólidos e líquidos em rios, lagos e represas, destruição das matas
ciliares têm gerado incessante e ordenada degeneração e extravio elevados da
quantidade e qualidade da água. (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2011). A
trajetória da água no planeta é multifacetada e se relaciona diretamente com o
crescimento populacional associado principalmente ao grau de urbanização e
aos usos. Afeta também a saúde, gera conflitos e tensões afetando a
convivência harmônica entre os homens e entre os homens e a natureza.
Nesse sentido devemos encarar o problema que envolve a água levando em
conta nossas necessidades e pelo que está descrito na Declaração Universal
dos Direitos a Água, no qual “Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do
planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade,
cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. Art. 2º - A água é
a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser
vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a
atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
Palavras-Chave: Água; Patrimônio; Símbolo.
102

REFERÊNCIAS

BACCI, D. de la C. PATACA, E. M. Educação para água. Estudos Avançados.


22 (63), São Paulo, 2008. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n63/v22n63a14.pdf> Acesso em: 20 set. 2016.
BRUNI, José Carlos. A água e a vida. Tempo Social. Revista de Sociologia
da USP, São Paulo, 5(1-2): 53-65, 1993 (editado em novembro de 1994).
PEDRAZA, Lorenzo García. Hablemos del tempo. AME boletìn. Julho de 2009.
N.º 25. Disponível em: < http://pkp.ame-
web.org/index.php/TyC/article/viewFile/423/419> Acesso em: 20 set. 2016.
SAADI, Allaoua. Os rios: da constituição física à construção da sociedade. IN:
Revista Espaço Aberto. AGB-Seção Fortaleza, 1995.
SANZ, Javier Sancho. Agua es vida. Rev. Real Academia de Ciencias.
Zaragoza. 62: 65-74, 2007.
ROMANO FILHO, D. SARTINI, P. FERREIRA, M. M. Gente cuidando das
águas. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2002.
TUNDISI, J. G. MATSUMURA-TUNDISI, T. Recursos hídricos no século XXI.
– São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
103

UMA LEITURA DE DENIS COSGROVE APLICADA A PAISAGEM


DOS PARQUES EÓLICOS NO BRASIL
Vanessa Santos Costa
Doutoranda PPGEO/UFS
Universidade Federal de Sergipe
Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Maria Augusta Mundim Vargas


Universidade Federal de Sergipe
Programa de Pós-graduação em Geografia / UFS
Líder do Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Eixo temático: 02: Patrimônio: dimensões materiais, simbólicas e políticas.


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins.

A energia elétrica é um dos insumos mais relevantes para o desenvolvimento


econômico e social, contudo, um terço da população mundial não possui
acesso à eletricidade. Na busca em atender essa carência e ao rápido
crescimento do consumo mundial, as fontes energéticas renováveis
apresentaram-se como a solução para esses problemas. A consciência pela
preservação ambiental chamou atenção à necessidade da geração de energia
alternativa que suprisse a demanda sem agregar poluição. No contexto da
política energética brasileira, destaca-se a energia eólica, e a Região Nordeste
representa um cenário de destaque devido às boas condições de vento que
chega a ter velocidade média de 8 m/s (Amarante, 2001). Além, interesse
declarado pelas concessionárias de energia elétrica, motivado principalmente
pela necessidade de expansão da geração de energia; diversidade das
características dos projetos quanto à localização, aspectos topográficos e
características da rede; possibilidade de garantias de financiamento e
desenvolvimento da indústria nacional de sistemas eólicos; estabelecimento de
uma legislação favorável à disseminação da tecnologia eólica para geração de
eletricidade em grande escala (ADALBÓ, 2002). Nela foram instaladas as
primeiras centrais geradoras eólicas do país, com o intuito de aumentar a
geração de energia, diversificar a matriz energética e contribuir para a
preservação do meio ambiente. A proposta desse estudo é enfocar como um
parque eólico pode ser visto de maneira simbólica Para tanto buscamos
através da leitura de Cosgrove (1998) fazer essa análise, uma vez que a
chegada de parques eólicos ocasionam transformações na paisagem das
localidades advindas pela instalação dos aerogeradores, bem como mudanças
no cotidiano da população de entorno. Objetiva-se demonstrar a conexão entre
a instalação de um parque eólico, a alteração visual do ambiente e da
paisagem para garantia de direitos da comunidade local e de outros que se
identificam com o espaço utilizado. Tomamos como caminho metodológico a
pesquisa qualitativa que se dá por meio de pesquisa bibliográfica das
normativas e das convenções internacionais para responder ao problema
contido na necessidade de produção de uma energia de menor impacto
ambiental, econômico e socialmente favorável como a energia eólica e a
104

paisagem, quando sua principal externalidade é a visual. Entendemos que a


paisagem não é apenas o produto, mas um agente ativo que desempenha
importante papel na reprodução da cultura. Ela, não é apenas uma forma
material resultante da ação humana transformando a natureza, mas também é
simbólica e traz consigo valores. Além de sua origem, estrutura e organização,
devem ser levados em consideração os aspectos simbólicos. De acordo com
Cosgrove (1998), a paisagem é um conceito precioso para a ciência
geográfica, pois ela traz consigo a representação de diversos significados. Este
autor considera a paisagem como “um texto cultural” que pode ser lido através
de diversas leituras, que pode se aplicar a algumas habilidades interpretativas,
tais como: o estudo de um romance, um poema, um quadro, uma música, de
abordá-la como uma expressão humana intencional repleta de diversos
significados. Para Cosgrove (1998), as paisagens tomadas como verdadeiras
do no nosso dia-a-dia estão cheias de significados e a geografia se interessa
em decodifica-las. E qualquer pessoa pode realizar essa tarefa, basta apenas
se apropriar delas, porque a geografia está em toda parte, reproduzida por
cada um de nós e o significado dessas paisagens dizem muito sobre nós
mesmos. Assim, a paisagem deve ser considerada através do “modo de ver”
daquele que a contempla, associado às transformações econômicas, sociais,
políticas, técnicas e artísticas. A ideia de paisagem que registramos se vincula
à ação prática em um período de transformações na sociedade, envolvendo a
apropriação e o controle do espaço, sendo representada nas mediações,
representações cartográficas, na pintura, nas artes. Corrêa e Rosendhal (2007)
corroboram com Cosgrove possibilidade de estudar a paisagem por intermédio
de textos diversos, como as letras de músicas, poesias, filmes, pinturas e
outras representações. Para tanto, é necessário trabalhar a paisagem num
cenário no qual cada pessoa se reconheça e se localize como ser no tempo e
no espaço, sendo, inclusive, o lugar em que o individuo constrói seus
caminhos, produzindo as modificações para se adequar vida em seu tempo,
sem se distanciar de seus referenciais. Neste sentido, aparece a produção de
energia, capaz de gerar mais segurança e conforto, mas que demanda
alterações significativas do espaço. Percebe-se, dessa maneira, a importância
e o significado das mudanças na paisagem impostas pelas estruturas de um
parque eólico, e observa-se que a presença de torres traz alterações (positivas
e negativas) não apenas nas paisagens, mas, sobretudo no modo de vida das
pessoas. Como vimos, a implantação de parques eólicos causa transformações
na paisagem. Assim busca-se através da nossa pesquisa desvelá-las para
compreender a magnitude da instalação desses empreendimentos nas
localidades na qual estão instalados, para a região nordeste e para o Brasil.
Palavras-Chave: Paisagem; Energia Eólica; Símbolo.

REFERÊNCIAS

ADALBO, Ricardo. Energia Eólica. São Paulo: Artliber, 2002.


AMARANTE, O.A.C; ZACK. J; BROWER. M; SÁ.A.L. Atlas do Potencial Eólico
Brasileiro. Brasília, 2001.
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cultural. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
COSGROVE, Denis E. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas
paisagens humanas. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDHAL, Zeny (Orgs).
Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EDERJ, 1998.
105

2.4.3 Eixo: Práticas festivas tradicionais e contemporâneas

Esse rio é minha rua: as memórias do “carnavalo” que emergem nas


lembranças dos moradores do povoado Cabeço, município de Brejo
Grande
Darly Anderson Calumby dos Santos

Taieiras no Tocantins: reelaboração do sagrado e do profano


Verônica Dantas Meneses

Festa de Nossa Senhora dos Remédios: decifrando quais os produtos


comercializados na festa
Júnior Castro Costa
Jorgeanny de Fátima R. Moreira

Um olhar sobre os festejos de Nossa Senhora dos Remédios e o seu


papel de lazer e comércio em Arraias-TO
Maíza Dias Xavier
Jorgeanny de Fátima R. Moreira

O reisado de Laranjeiras: presente no cenário cultural sergipano


Josiane Alves Barreto Novais
Gilberto Correia Júnio
José Jairo Santos Lima

Performances folkcomunicacionais nos ensaios de rua da Quadrilha


Junina Tradição em Recife/PE
Giselle Gomes da Silva Prazeres
Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
Severino Alves de Lucena Filho

Do rural para o mundo: uma periodização do forró


Monaquelly Carmo de Jesus

A ressignificação da cavalgada do povoado Tapera - Itaporanga D’Ajuda


/SE
Daniele Luciano Santos
Maria Augusta Mundim Vargas

“Tambor é oco do pau, curtiço da uruço”: ancestralidade, cultura popular


e memórias no Samba de Aboio (SE)
Alexandra Gouvêa Dumas
Luan Vinícius Carvalho de Almeida
106

ESSE RIO É MINHA RUA: AS MEMÓRIAS DO “CARNAVALO”


QUE EMERGEM NAS LEMBRAÇAS DOS MORADORES DO
POVOADO CABEÇO, MUNICÍPIO DE BREJO GRANDE
Darly Anderson Calumby dos Santos
Universidade Federal de Sergipe
[email protected]

Eixo temático: 03. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo da produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

O “carnavalo” foi uma manifestação cultural que aconteceu todos os anos no


povoado Cabeço, município de Brejo Grande/SE. Uma espécie de carnaval
construído a partir do que o ambiente proporcionava aos indivíduos que
residiam naquela comunidade. O enredo, distante do que era visto nas cidades
grandes, ditas civilizadas, eram carregadas de energias sociais. A invenção do
saber fazer tradicional proporcionava aos moradores um jeito peculiar de
brincar; o cavalo, a carroça e as baterias faziam o cortejo carnavalesco,
arrastando, além dos aproximados 400 moradores, os visitantes de todo o
Brasil que freqüentava o local em busca do conhecimento e do modelo de vida
simples. No ano 2000 a comunidade de pescadores sofre um episódio trágico
por conta da construção da hidrelétrica de Xingó, localizada entre os estados
de Sergipe e Alagoas, situando-se a 12 quilômetros do município de Piranhas e
a 6 quilômetros do município de Canindé, trazendo efeitos no avanço do mar
sobre o rio São Francisco que conseqüentemente adentra a comunidade do
Cabeço destruindo aspectos materiais, físicos e simbólicos. A ideia do
progresso eleva termos de destruição, morte e desterritorialização, porém, a
ordem dos que tem poder econômico acaba por negligenciar a existência dos
que não tem. O rio São Francisco é pensado como lugar de sociabilidade que
constrói memórias diaspóricas, fazendo do lugar um não lugar e do rio a rua
daqueles que tanto necessitam dele para a subsistência. A lembrança do
passado faz com que a configuração do pensamento estabeleça mecanismos
que proporcione a pensar os vários patrimônios culturais, de acordo com a
afirmativa estabelecida por José Reginaldo Santos Gonçalves (2009). A festa
tradicional do povo ribeirinho, do povoado Cabeço, se permite lembrar como
única manifestação que celebra a alegria de viver no antigo local, hoje,
cadastrado como primeiro sítio arqueológico subaquático do estado de Sergipe
(2013), estabelecendo ao produto final como o povoado que vive submerso ao
rio e negligenciam as lembranças e os discursos dos traumas que lhes foram
causados durante toda a história, permitindo pensar, categorias de análises
que estão cravadas como ancoras jogadas ao mar do esquecimento, mas que,
ousam em gritar em sons firmes que as histórias e memórias do povoado
Cabeço parte da manifestação daqueles que lembram, surgindo assim, a
afirmativa de que rio e rua são palcos dos mesmos sentidos, sendo que, estes
celebram as mesmas vivencias e rituais fruto de uma determinada cultura, de
um determinado lugar e de um determinado povo. Desse modo, o objetivo
desse trabalho faz uso da abordagem Etnográfica, da pesquisa bibliográfica e
da História Oral para buscar subsídios que constituem histórias silenciadas,
dos perdedores da nação, que tiveram as lembranças arraigadas pelo trauma
107

da desterritorialização. A história existe a partir da lembrança, são essas, que


permitem analisar como os indivíduos do antigo povoado pensam sobre suas
ações festivas. Por conseguinte, é considerável perceber que as dimensões do
pensamento social produzido em torno do povoado é poder crucial que
dissemina através dos discursos, da oralidade e das vivências, testemunhos
vivos, das memórias traumáticas, que tem a capacidade motora para que os
indivíduos possam contar através das narrativas, aquilo que lhes é permitido
lembrar e esquecer, como um direito humanitário. Quase nada se vê a respeito
de comunidades ribeirinhas, que vivem diretamente da pesca artesã, é como
se eles fossem excluídos do processo da noção de patrimônio, por isso, é
importante trazer a história para que se possa pensar nas várias ruas e
manifestações que existem nas lembranças dos indivíduos, através das festas
tradicionais ancoradas nas lembranças do passado que permite constituir um
novo presente. A história oral permitiu analisar a exclusão, marginalização e as
lacunas existentes, permitindo romper com o discurso oficial, sendo, portanto,
objetivo central, desvendar histórias e memórias que foram ocultadas e
massacradas pelo poder, compreendendo que estes são os verdadeiros
guardiões da sua verdadeira história.

Palavras-chave: Carnavalo; Povoado Cabeço; Festas tradicionais.

REFERÊNCIAS

CALLOU, Angelo Brás Fernandes. Povos do mar – herança sociocultural e


perspectivas no Brasil. Ciênc. Cult. SP; 62(3): 45-48, 2010.
ECKERT, Cornélia; ROCHA, Ana Luzia Carvalho da. Etnografia: saberes e
práticas. Revista Iluminuras. V.9, n.21, 2008.
GONÇALVES, J. R. S. A Retórica da Perda: os discursos do patrimônio
cultural no Brasil. Rio de janeiro, Ed. UFRJ/Ministro da cultura IPHAN, 1996.
156 p; 15 x 20,5 cm.
GONÇALVES, J. R. S. O patrimônio como categoria do pensamento. In:
ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. (Org). Memória e Patrimônio. Ensaios
Contemporâneos. 2 ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009, p. 25-33.
RAMBELLI, Gilson. Arqueologia até embaixo d’água. São Paulo: Marante,
2002.
RIOS, Kênia, R. HISTÓRIA ORAL que história é essa? Cadernos do CEON –
Ano 14 – nº 12 – Unoesc-Chapecó- junho/2000.
JÚNIOR, Ademir, R. RAMBELLI, Gilson. SANTOS, Luis, Felipe, D. Antigo
povoado cabeço: O primeiro Sítio Arqueológico Subaquático Cadastrado
em Sergipe. Disponível em:
https://issuu.com/canoadocs/docs/antigo_povoado_cabe_o_o_primeiro_s_tio_a
rqueol_gic Acessado em: 30 de outubro de 2017.
108

TAIEIRAS NO TOCANTINS: REELABORAÇÃO DO SAGRADO E DO


PROFANO
Verônica Dantas Meneses
Universidade Federal do Tocantins
Núcleo de Pesquisa e Extensão em Comunicação, Imagem e Diversidade
Cultural (CID)
[email protected]

Eixo Temático: 03. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo de produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Gradução, Extensão
e afins

O artigo estuda as Taieiras que se apresentam durante a Caçada da Rainha,


ritual presente na festa de Nossa Senhora do Rosário, realizada há mais de
200 anos no município de Monte do Carmo, Tocantins. Tem o objetivo de
ampliar o conhecimento sobre os processos de comunicação articulados à
memória e às identidades culturais regionais, presentes no folclore e outras
manifestações da cultura popular no Tocantins. Buscou-se ainda compreender
as configurações relativas a participação das Taieiras nos festejos,
especificamente na Festa de Nossa Senhora do Rosário. A pesquisa segue o
suporte teórico-metodológico da Folkcomunicação, que entende estas formas
de expressão popular como mídias que transmitem, histórias, expressões e
valores. Estas manifestações, como parte da cultura, mudam, agregam novos
significados, pois "sobrevivência e renovação são leis próprias das memórias,
aplicadas aos fatos folclóricos que englobam, em suas vigências, todo o fazer e
todo o saber de um povo" (BARRETO, 2005, p.85). Desenvolveu-se entrevistas
e observação não-participante bem como a produção de vídeo etnográfico. A
festa integra uma tríade realizada conjuntamente no mês de julho, conhecidos
como Festejos de Monte Carmo. Compõem ainda a festa a Folia do divino
Espírito Santo e a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Carmo. Juntas, são
uma das maiores manifestações daquela região e do Tocantins, marcadas por
aspectos fortes da cultura popular, sincretismo religioso, demonstração de fé e
espiritualidade junto com as manifestações de cunho popular e pagão que
demonstram todo hibridismo de seus elementos históricos e tradições
transmitidas entre as gerações (MARÇAL; CARACRISTI; MENESES, 2011).
Rainha, rei, imperador, imperatriz, Taieiras, caretas, tamborzeiros e congos são
as principais personagens. É na festa em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário que as Taieiras se apresentam. As Taieiras de Monte do Carmo,
compostas por 12 mulheres vestidas com saias rodadas e coloridas, pulseiras,
colares no pescoço e turbantes - vestimentas que lembram a tradição e
herança negra, saem pelas ruas acompanhadas pelos congos bailando e
entoando hinos durante o cortejo da rainha. Na festa, é realizada a caçada da
rainha, que ritualiza a procura de uma imagem que desaparecia do altar e só
permaneceu após um cortejo com danças e músicas. “O mistério do
desaparecimento da imagem, que ocorreu pela segunda vez, levou um grupo
de homens e mulheres a se organizarem e travarem uma verdadeira caçada à
referida imagem [...] seguindo em cortejo, rumo a caçada da rainha [...] com os
tambores, cantaram e dançaram intensamente e assim reencontraram a santa
e em ritual levaram-na de volta a cidade” (MESSIAS, 2010, p.10). Em Monte do
109

Carmo, as Taieiras são, em sua maioria, idosas e negras, que se unem, todos
os anos, seguindo a Rainha de Nossa Senhora do Rosário em seu cortejo.
Durante o percurso são acompanhadas por 12 congos, que tocam instrumentos
de percurssão, feitos por eles próprios, e cantam cantigas regionais, enquanto
elas dançam sussia - dança folclórica de origem escravagista, executada
comumente na folia do Divino Espírito Santo em muitas cidades do Tocantins.
Essas características são um reflexo da cultura afrodescendente, que deu
origem a essa manifestação. Além disso, é possível perceber que as Taieiras
de Monte do Carmo traduzem a forte identidade religiosa da cidade ao passo
que inserem elementos mais populares, como uma dança que desenvolvem
com uma garrafa na cabeça. "Dançamos com muita alegria!", explica uma
taieira. A dinâmica inerente à própria cultura e os cambiamentos gerados no
interior das culturas populares tem alterado as evoluções de muitos grupos
folclóricos de cunho religioso, como as Taieiras, que tem apresentado, devido a
“atuação em festas populares e seu repertório musical”, características
profanas (RIBEIRO, 2003, p. 4). O ritual de apresentação das Taieiras tem sido
reelaborado durante os anos, em parte devido à força dos festejos e dos
elementos de diversão e brincadeira, ainda que permaneça a devoção à
padroeira local e aos demais santos, como Nossa Senhora do Rosário. De
qualquer forma, para muitos as Taieiras ainda são vistas como uma simples
diversão em homenagem ao Rei da Festa do Divino, e não à rainha, ou mesmo
se dissociando de Nossa Senhora do Rosário; as festas reunidas acabam
dando certo destaque aos foliões que integram a Festa do Divino, também
realizada no mesmo período.

Palavras-chave: Folkcomunicação; Taieiras; Ressignificação; Monte do


Carmo.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Luiz Antônio. Folclore: invenção e comunicação. Aracaju:


Typografia Editorial/Scortecci Editora, 2005.
MARÇAL, D. C. ; CARACRISTI, M. F. A. ; MENESES, V. D.. A
Folkcomunicação nos festejos de Monte do Carmo/TO. Anais... XIV
Conferência Brasileira de Folkcomunicação, 2011, Juiz de Fora/MG, 2011.
MESSIAS, Noeci C. Negros e Brancos em Monte do Carmo(TO):
Manifestações culturais e Religiosidade. Disponível em:
https://pos.historia.ufg.br/up/113/o/36_NoeciMessias_NegrosEBrancosEmMont
eDoCarmo.pdf. Acesso em: nov/2017.
RIBEIRO, Hugo Leonardo. Etnomusicologia das Taieiras de Sergipe: uma
tradição revista. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Música -
Mestrado em Música –Etnomusicologia). Universidade Federal da Bahia.
Salvador, 2003.
110

FESTA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS: DECIFRANDO


QUAIS OS PRODUTOS COMERCIALIZADOS NA FESTA
Júnior Castro Costa
Discente do Curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental
Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Jorgeanny de Fátima R. Moreira


Docente do Curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental
Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Eixo temático: 03. Práticas Festivas Tradicionais e Contemporâneas


Tipo da produção: A. Trabalho/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação, Extensão
e afins

Este trabalho irá discutir sobre a importância da cultura popular como


instrumento de desenvolvimento local, considerando essas manifestações e
expressões populares como um fator de identidade cultural. Quando
conhecemos a nossa cultura e nos empoderamos dos elementos que a
compõe reforçamos a ideia de valorização bem como o próprio incentivo ao
desenvolvimento regional. Sabemos que essas práticas exercidas no
dia-a-dia da comunidade vêm consolidar e valorizar ainda mais a cultura de
maneira geral. Com isso algumas manifestações que perpassam de geração
em geração, marcando a vida de várias pessoas principalmente quando diz
respeito a fé e a religiosidade, pois são aspectos que conseguem revigorar a
autoestima das pessoas. Desta forma, iremos no decorrer deste trabalho
discutir sobre a Festa de Nossa Senhora dos Remédios que acontece na
cidade de Arraias Tocantins no mês de Setembro, fazendo uma observação
principalmente para os produtos que são comercializados no decorrer do
evento. Sendo que a metodologia utilizada consistiu em uma pesquisa
quantitativa, na qual Mattar (2001), a descreve como uma tentativa de validar
hipóteses mediante a utilização de dados, estatísticos. Além disso, ela avalia
os dados e desenvolve os resultados da amostra para os interessados, que no
nosso caso será exposto para a comunidade arraiana. A cidade de Arraias
Tocantins fica localizada na região norte do Brasil e sudeste do estado, com
uma população em média de 10 mil habitantes segundo o último censo do
IBGE (2010). A sua origem está relacionada ao processo de mineração
aurífera, na qual ficou caracterizado como um dos mais ricos polos de extração
do século XVIII na redondeza. Até os dias de hoje ainda se escuta boatos que
a riqueza desta localidade era tão grande que o presidente da capitania
paulista na época, Dom Luís de Mascarenhas veio pessoalmente tomar posse
do arraial da Chapada dos Negros, local da mineração. Ainda hoje é possível
identificar os vestígios desta exploração através dos costumes que se mantem
até os dias atuais, como é o caso da festa em honra a Nossa Senhora dos
Remédios, na qual acredita-se que esta santa veio juntamente com os
escravos que vinham trabalhar no garimpo e servia como uma intercessora e
protetora dos trabalhadores que viviam flagelados em virtude da carga de
serviço maçante e a própria vivência em situação precária. A própria
111

arquitetura existente na parte central da cidade e os costumes que aqui ficaram


e permanecem no dia-a-dia do povo arraiano. Além disso, a própria
predominância das comunidades quilombolas no entorno da cidade, que nos
remete a lembrar sobre esse passado um pouco negativo que levou a
construção da cidade de Arraias. Considerada por muitos como a segunda
maior festa religiosa do estado, ficando atrás somente da festa em honra ao
Senhor do Bonfim que acontece em Natividade, a romaria a Nossa Senhora
dos Remédios é uma festa que vem acontecendo há muitos anos na cidade de
Arraias. Acredita-se que esta festa já acontece a mais de cem anos. A festa
movimenta toda a cidade, atraindo milhares de romeiros de toda parte do
estado e do país. Outro fato bastante que ocorre durante festa é a tradicional e
frequente presença de comerciantes conhecidos por todos os moradores como
“mascates”, que vem no período da romaria pra comercializarem seus
produtos, aproveitando o público devoto que participa todos os anos. A festa já
se inicia ao término de outra com a escolha dos mastreiros e festeiros do ano
seguinte, isso faz com que estes encarregados tenha o ano pela frente para
prepararem toda a programação do evento. O ato religioso em si de fato se
inicia 9 dias antes com as novenas em preparação para o grande dia, que no
caso é o dia 8. No decorrer da novena acontece bingos, rifas, leilões, bailes,
quermesses entre outros elementos que engrandecem ainda mais a
festividade. Porém, por ser uma festa que atraí várias pessoas, foram surgindo
outros eventos paralelos para aproveitar a presença destas pessoas, como é o
caso das tradicionais festas de noitadas que já ocorre a um certo tempo, e esse
comércio a céu aberto que acontece nas ruas da cidade no período do festejo.
Na tentativa de buscar decifrar quais os produtos comercializados neste
mercado que acontece no mesmo período do festejo, foi proposto uma
atividade da disciplina de Gestão das cidades e Patrimônio Cultural que e
ministrada pela professora Dra. Jorgeanny de Fátima Rodrigues Moreira a
realização de uma pesquisa quantitativa que respondesse tanto essas quanto
outros questionamentos. Por ser uma festa que atrai diversas pessoas de
várias parte do país, vários vendedores ambulantes vem comercializar seus
produtos na cidade durante a romaria. Eles ficam alojados na rua central e tem
que pagar uma taxa a prefeitura pra comprarem os espaços pra montarem
seus espaços. Para realização da pesquisa foram entrevistados mais de 50
comerciantes e onde tivemos em contrapartida que a maior parte dos
comerciantes vendiam roupas em seus estabelecimentos, tendo um total de
44,0%, algo que comprova uma ideia muito antiga e que predomina a cidade
até mesmo em tempos atuais, que diz que as pessoas vem pra festa e já
aproveitam para comprar roupas novas pra irem participar da santa missa no
dia 8. Além disso, como segundo colocado ficaram as confecções em geral
com um total de 12% e em Acessórios e barraca de alimentos com 6%
representando os três principais produtos comercializados no festejo conforme
gráfico abaixo. Portanto, podemos evidenciar a importância das festividades
culturais como importantes elementos revigorador da autoestima de uma
população, principalmente quando diz respeito a fé. E por ter sido uma cidade
colonizada em seu passado, Arraias dispõe de vários elementos que a
configura como uma cidade com características fortes no aspecto religioso
deixado pelos escravos e pelos europeus que faziam suas expedições
anunciando a palavra de Deus e fazendo o batismo nas raças consideradas
impuras na época. Porém, já nas sociedades contemporâneas, que são
112

marcadas pela fragmentação, por meio do consumo, as festas populares se


caracterizam também como espaço de construção de identidades coletivas. E
mesmo LARAIA (1986) dizendo que a cultura é dinâmica e que está em
constante mudança devido as relações sociais que são produzidas, ajudando a
manter a identidade e, ao mesmo tempo, construindo novas identidades em
função da interação entre culturas diversas e as próprias necessidades dos
seres humanos, esses elementos continuam enriquecendo o imaginário de
diversas pessoas. Nesta perspectiva que os comerciantes dos festejos de
Nossa Senhora dos Remédios ganham importância, por mais que seja um
evento paralelo, ele já se configura como um importante complemento da festa,
pois está ali para sanar uma um problema que a cidade enfrenta que é
principalmente a falta de um comércio adequado pro tamanho da população.
Ou seja, este fato de haver comerciantes durante o festejo pode ser que algum
momento possa tirar o foco da romaria que é o principal evento da cidade, mas
ele também acrescenta valores a festividade de certa forma, pois acaba
atraindo movimento para a cidade, promovendo o entretenimento na vida dos
moradores. E de certa forma esta valorização das manifestações populares
englobando traços e características particulares que distinguem cada região,
ao mesmo tempo trazendo elementos da globalização da modernidade
envolvendo as relações culturais diversas só favorecem ao crescimento e
desenvolvimento de cada localidade, por mais que exista aspectos negativos,
pois eles sempre existirão.

Palavras-Chaves: Festa de Nossa Senhora dos Remédios; Arraias;


Comerciantes; Roupas; Globalização.

RERERÊNCIAS

BUENO, Marielys Siqueira. Festas tradicionais e turismo. SEMINÁRIO DE


PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, v. 1, 2003.
CAPONERO, Maria Cristina; LEITE, Edson. Inter-relações entre festas
populares, políticas públicas, patrimônio imaterial e turismo. Revista
Eletrônica Patrimônio: Lazer & Turismo-ISSN, p. 700X, 1806.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar ed., 1986.
LÓSSIO, Rúbia Aurenívea Ribeiro; PEREIRA, Cesar de Mendonça. A
importância da valorização da cultura popular para o desenvolvimento
local. Encontro de Estudos Multidisciplinares de Cultura, III, 2007.
113

UM OLHAR SOBRE OS FESTEJOS DE NOSSA SENHORA DOS


REMÉDIOS E O SEU PAPEL DE LAZER E COMÉRCIO EM
ARRAIAS-TO
Maíza Dias Xavier
Discente do Curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental
Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Jorgeanny de Fátima R. Moreira


Docente do Curso de Turismo Patrimonial e Socioambiental
Universidade Federal do Tocantins
[email protected]

Eixo temático: 03. Práticas Festivas Tradicionais e Contemporâneas


Tipo da produção: A. Trabalhos/projeto do PIBID, PIBIC, graduação, extensão,
afins

Festividade religiosa é um fenômeno que vem crescendo como atividade


turística no Brasil, segundo dados da MTur ( Ministério do Turismo 2015), uma
vez que 96 destinos possuem calendário de eventos exclusivos do turismo
religioso no país, e 344 municípios possuem atrativos nesse segmento. Ainda
de acordo com estudos da MTur, essa atividade movimenta cerca de 17,7
milhões de brasileiros, sendo o setor responsável por gerar R$ 15 bilhões
anualmente e representa mais de 3% de toda a movimentação do turismo
nacional, que gira em torno de 492 bilhões. O Tocantins é um dos estados
brasileiros que carregam as festividades religiosas enraizadas em sua cultura.
Nesse Estado algumas referências são fortes como expressão cultural, a
exemplo a festa do Nosso Senhor do Bonfim em Natividade-TO, que acontece
tradicionalmente na primeira quinzena de agosto, recebendo cerca de 60 mil
fiéis vindos de diversas regiões do país, que caminham grandes distâncias em
procissão (PORTAL BRASIL, 2014). Assim como essa festa religiosa de
Natividade, outros municípios da região norte se destacam, dentre elas a
Romaria de Nossa Senhora dos Remédios de Arraias -TO. Nesta proposta
tem-se por objetivo analisar a importância do festejo Nossa Senhora dos
Remédios, Romaria tradicional em Arraias -TO, bem como refletir, se este
comércio contribui com o desenvolvimento da economia local, ou apenas trata-
se de um acontecimento efêmero que não traz benefícios econômicos para o
munícipio, mas cumpre o seu papel de lazer e recreação à comunidade. Esse
evento é uma das tradições mais valorizadas no município, sendo que a
padroeira de Arraias é uma referência da cultura e da religiosidade local.
Localizada no Sudeste do Tocantins na região norte do Brasil, a cidade de
Arraias tem origem com o ciclo do ouro, sua fundação ocorreu no ano de 1740.
Com extensão territorial de 5.787 km² e altitude de 580 metros acima do nível
do mar, o munícipio destaca sua riqueza em seus aspectos naturais, culturais e
religiosos. Em 2010 sua população atingia 10.645 habitantes (ARRAIAS, 2017).
Arraias possui grandes tradições culturais e religiosas como a folia do Divino
Espírito Santo, Folia dos Santos Reis, Carnaval com Entrudo, Festa Junina e a
Romaria Nossa Senhora dos Remédios. Sendo que esta última atrai
comerciantes de diversas regiões do país, tornando-a peculiar já que além dos
114

rituais religiosos, a festa abriga uma grande feira que ocupa todo o centro da
cidade. Os produtos comercializados são variados, desde utensílios
domésticos à acessórios de moda. Comemorada no dia 08 de setembro, a
missa de Nossa Senhora dos Remédios, santa considerada padroeira do
município, é uma tradição que reúne fiéis, romeiros e peregrinos de todo o
Estado do Tocantins e a região norte do Estado de Goiás. Para os romeiros e
devotos esse é o momento de cumprir promessas, de depositar sua fé e
realizar rituais com familiares. Além da missa, outro momento que
complementa os festejos da padroeira, é o comércio em todo o centro da
cidade, onde vendedores ambulantes montam suas barracas e comercializam
uma diversidade de mercadorias. Os fiéis e todos os participantes desse
evento aproveitam este momento para comprar roupas, calçados, utensílios
domésticos, acessórios de moda, além dos espaços destinados ao lazer e
recreação como barraquinhas de tiro ao alvo e alimentação. De acordo com os
questionários aplicados durante o evento à comerciantes, fiéis e outros
participantes foi possível identificar informações referentes à origem dos
produtos que são comercializados durante a festa. Com base na análise dos
dados coletados é possível perceber que a cidade de Goiânia-GO apresenta
44% de comercialização de produtos a serem vendidos em Arraias Tocantins,
por apresentar um índice superior das demais cidades representadas no
gráfico. As explicações mais comuns é a proximidade da capital Goiânia à
região sudeste do Tocantins. Outro fator refere-se por Goiânia representar um
pólo de confecção no país, onde comerciantes ambulantes adquirem esses
produtos para comercialização em eventos que envolvem feiras. De acordo
com as informações, podemos afirmar que o comércio durante os festejos de
Nossa Senhora dos Remédios causa impressão à comunidade local de que há
movimentação na economia nesse período. Todavia, os recursos gerados não
ficam no município, uma vez que os comerciantes não são oriundos de Arraias
– TO. Mas ainda assim, esse evento é considerado importante pelos
entrevistados, já que a cidade não oferece estrutura de comércio que atenda a
necessidade da comunidade. Arraias ainda carece de comércios para serem
oferecidos durante os festejos, conta com poucos supermercados, alguns
bares, três restaurantes, mas há falta de lojas de roupas e acessórios,
utensílios domésticos, brinquedos e não apresenta variedade em alimentos e
bebidas. Dessa forma, contrariamos os conceitos que caracterizam a festa
como momentos ainda não incorporados pelo mercado, como posto por
Mariano (2006), mas admitimos que trata-se espaços para fortalecer o convívio
social, onde se abandona as atividades ordinárias para dar lugar ao lazer
(COX, 1974). É notável que o festejo de Nossa Senhora dos Remédios
promove a ideia de desenvolvimento e crescimento da cidade de Arraias-
Tocantins para a comunidade local. Mesmo que a cidade não se apropria da
renda gerada, exceto os espaços alugados para a locação das barraquinhas.
No entanto, observa-se que os Festejos de Nossa Senhora dos Remédios –
romarias, procissões, missas e comércio -, são oportunidades para lazer e
sociabilidade da comunidade local que carece de espaços e eventos que
promova esses efeitos. Tanto moradores, como comerciantes vindos de fora,
aguardam durante todo o ano a chegada desse momento. A festa cumpre o
seu papel, apesar de desafios e entraves como falta de infraestrutura
adequada – banheiros públicos para comerciantes e participantes, diversidade
115

de serviços -, de ofertar lazer e uma fuga do cotidiano baseado no trabalho


baseado na agropecuária, característica da economia arraiana.

Palavras-chaves: Evento; Festa Religiosa; Comércio; Turismo.

REFERÊNCIAS

ARRAIAS. História da Cidade. Disponível em


http://www.arraias.to.gov.br/Nossa-Cidade/Historia/. Acesso em 22 de Nov.
2017.
COX, Harvey. A festa dos foliões: um ensaio teológico sobre festividade e
fantasia. Tradução de Edmundo Binder. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1974.
MARIANO, Neusa F. Divina Tradição Ilumina Moji das Cruzes: o Espírito
Santo faz a festa. Tese (Doutorado). Programa de Pós Graduação em
Geografia Humana. Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2006.
MINISTÉRIO DO TURISMO. Turismo religioso continua em alta no Brasil.
Disponível em <http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/712-turismo-
religioso-continua-em-alta-no-brasil.html >. Acesso em: 22 Nov. 2017.
116

O REISADO DE LARANJEIRAS: PRESENTE NO CENÁRIO


CULTURAL SERGIPANO
Josiane Alves Barreto Novais
Graduada em História pela Universidade Tiradentes - UNIT
[email protected]

Gilberto Correia Júnio


Graduado em Gestão de Turismo – IFS
[email protected]

José Jairo Santos Lima


Graduado em História pela Universidade Tiradentes – UNIT
[email protected]

Eixo temático: 03.práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de pós-graduação e afins.

O reisado veio para o Brasil através dos portugueses que no século XVI, com
o intuito de explorar as terras brasileiras e catequizar os indígenas, bem como
os africanos inseridos no Brasil através do tráfico de escravos, nesta mistura de
povos, houve uma troca informativa permitindo o intercâmbio cultural, que deu
origem as danças presente no Brasil, entre elas o Reisado que com outra
dinâmica esta presente no cenário cultural sergipano, salientaremos também
as mudanças que ocorreram ao longo do tempo, e como afetas a cultura
popular . Partindo do pressuposto que na atualidade o acesso á comunicação e
os atrativos tecnológicos e a cultura de massa tornou-se atrativo passageiro
para a geração atual, pressupõe uma ameaça de extinção aos grupos de
folguedos, o seja percebeu-se a diminuição de pessoas nos grupos sua grande
maioria jovem. Portanto nosso objeto de estudo é o reisado de Laranjeiras,
intitulado, “O Reisado de Laranjeiras: presente no cenário cultural sergipano,
tem como objetivo analisar, e fazer uma reflexão em torno da importância
desse grupo para a cultura sergipana, salientar também contribuição dos
africanos nesse processo de transmissão cultural, nesse sentido a historia da
formação do povo brasileiro pode ser entendida pelo viés da arte, ou seja
preservada e valorizada, que pode ser apresentada no ambiente escolar não
somente de maneira simbólica e sim na prática com cantos danças e toda
dinâmica que envolve a brincadeira de reis . Metodologia da pesquisa foi um
trabalho de campo realizado nos dias 09 e 13 de agosto 2015 em torno das
manifestações presente na cidade, no encontro cultural realizado anualmente,
um trabalho investigativo e exploratório percebemos nitidamente a diminuição
de jovens nos grupos, e o esforço de pessoas da terceira idade que tentam
transmitir a tradição de dançar reis. Nosso referencial teórico, para o
desenvolvimento desse artigo foi cadernos de graduação (2015) feito por
docente da universidade Tiradentes, entre pétalas e espinhos, o reisado do
bom fim de Itabaiana, que conta a história de dona Maria mulher que
representa todas as mulheres que dançam o reisado e que lutam para
prosseguir praticando a brincadeira enfrentando as dificuldades na atualidade
evitando a extinção do seu grupo, e destacado também a cultura de massa que
se tornou atrativo para uma sociedade atual que visa o consumo e o descarte,
117

não valorizando a cultura de tradição, usamos também MELO (2012) vozes


que cantam, vozes que dançam práticas cotidiana e tradição cultural de
Laranjeiras que destaca as origens dos centros históricos e suas
transformações ou longo do tempo, as transformações na cidade que influencio
nas relações sociais.VI colóquio internacional de educação realizado em São
Cristóvão (2012) revisando as danças populares nas escolas a partir de uma
linguagem cênica, as escolas de Laranjeiras como palco, e como proposta
desse encontro inclui as danças buscando refletir sobre o tratado pedagógico,
proposta pertinente de grande significado para cultura e que dialoga com nosso
trabalho. E para entender a origem das danças e cantos THIORÃO (2008) que
nos remete ao Brasil colônia o autor reúne os primeiros registros das
manifestações musicais no Brasil recorrendo as mais diversas formas de
pesquisa, como cartas de missionários jesuítas, pinturas, poemas e relatos de
viajantes, entre outros documentos. Fontes sobre o encontro cultural de
Laranjeiras Múltiplas e dispersas feito por DANTAS (2015) que muito contribui
para valorização da cultura da cidade para Dantas Laranjeiras é o berço
cultural de Sergipe e tem grande importância para o estado, e seu livro devoto
dançante e Taieira nos ajuda a entender as manifestações presentes na
cidade. LARAIA (2008) conceitua cultura e todas suas formas e como essa
cultura e passada de pai para filho, e pra finalizar FREIRE( 1996) pedagogia da
autonomia, o autor conhecido mundialmente por implantar o método da
aprendizagem significativa, foi de fundamental importância para o
desenvolvimento do nosso trabalho, sua proposta coloca o aluno como sujeito
da história atribuindo à suas ações significados, em que é sujeito do processo
de aprendizagem. Por fim sabemos da importância dos folguedos presentes no
estado, em especial Laranjeira que concentra boa parte desses grupos, que
segue uma tradição dos seus antepassados, nesse sentido divulgar nas
escolas nos festivais, encontros, é de fundamental importância porque,
preserva e valorizar a historia, bem como as tradições de um povo, nossa
proposta de divulgar nas escolas de forma aprofundada, é algo a ser
conquistada ao poucos, requer o apoio da equipe pedagógica e órgãos
competentes, que incentive a divulgação e a participação de jovens que estão
cada dia plugados na internet. Portanto diante desse cenário de mudanças, e
rápidas informações propomos práticas pedagógicas que incluía a história afra
brasileira não somente pela escravização, e sim pelo viés da arte de dançar
reis, colocando em prática a lei 10.639/2003, que a história do povo brasileiro
seja contada de forma que valorize a contribuição dos negros nas danças e
cantos presentes no cenário cultural do Brasil em especial Laranjeiras.

Palavras-chave: Reisado; Cultura; História; Prática.

REFERÊNCIAS

DANTAS, Beatriz Góis Dantas. Fontes sobre o encontro cultural de


/420/411> Acesso em 10/11/2015 Laranjeiras: Multiplicas e Dispersas.
CADERNO DE GRADUAÇÃO Universidade Tiradentes UNIT( 2015) Entre
Pétala e Espinhos Dona Rosa e o Reisado do Bom Fim.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. – Coleção Leitura
118

MELO Janaina Cardoso (2012) Vozes que cantam, vozes dançam práticas
cotidianas e tradição cultural de Laranjeiras.
NASCIMENTO, Bráulio do. Encontro Cultural de Laranjeiras, 20 anos. (Org.)
Aracaju: Secretaria Especial da Cultura. 1995. p.11.
RAMOS, José Tinhorão editora 34, 2008.
119

PERFORMANCES FOLKCOMUNICACIONAIS NOS ENSAIOS DE


RUA DA QUADRILHA JUNINA TRADIÇÃO EM RECIFE/PE
Giselle Gomes da Silva Prazeres
Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
[email protected]

Ítalo Rômany de Carvalho Andrade


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
[email protected]

Severino Alves de Lucena Filho


Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE
[email protected]

Eixo temático: 03. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo de produção: C. Trabalho acadêmico de pós-graduação e afins

Anarriê, Alavantu! Durante o mês de junho, o povo nordestino comemora os


festejos populares dedicados aos santos juninos, ao som de muito xote e
baião. As quadrilhas juninas constituem tal ambiente, mais que uma dança
típica da festa, onde diversos casais gritam, se entrelaçam entre fitas e mãos, a
exemplo da Junina Tradição, do Morro da Conceição, periferia do Recife,
Pernambuco. Entretanto, os quadrilheiros desse grupo utilizam esse
movimento cultural como um espaço de lutas, de resistência e de quebra de
preconceitos (mobilizando toda a comunidade). Dentro desse contexto, o
trabalho analisa as performances folkcomunicacionais na Quadrilha Junina
Tradição, no tocante ao processo do desenvolvimento local, na perspectiva do
empoderamento e do protagonismo social. O local da pesquisa é o Morro da
Conceição, um espaço solidário, heterogêneo e territorializado por diversos
segmentos culturais, religiosos e sociais. As ressocializações estabelecidas na
comunidade trazem consigo também a troca e a partilha de bens materiais e
imateriais entre os sujeitos. As escadarias estreitas do Morro levam os
visitantes e moradores até o ponto extremo, onde fica o Santuário de Nossa
Senhora da Conceição, santa que deu origem ao nome do bairro. Os fios dos
postes entrelaçados nas vielas refletem, de alguma maneira, as relações com a
comunidade, onde o cenário é propício à exclusão social. No entanto, há ações
de mobilização, como também de participação social, sobretudo a partir dos
ensaios de rua e os processos criativos sob a ótica do social, no debate em
torno da igualdade de gênero, valorização dos saberes e do endógeno,
percepção da identidade cultural. Especificamente, o estudo identifica essas
relações a partir do cotidiano dos quadrilheiros com os moradores do Morro da
Conceição. É válido ressaltar, assim, como pontua Tauk Santos (2009), que os
contextos populares devem ser compreendidos como cenários, onde
predominam populações que vivem em condições de desigualdades do ponto
de vista social, político e econômico. A principal característica desses grupos é
a contingência, ou seja, o acesso aos bens materiais e imateriais se dá de
forma incompleta, desigual e desnivelada (TAUK SANTOS, 2009). Segundo
Hobsbawm (1995), esses grupos são unidos pela coletividade: é o domínio do
“nós” sobre o “eu”, o que dá para a Quadrilha Junina Tradição uma força
120

original que é justificada pela convicção dos quadrilheiros que entendem que
só podem melhorar e ganhar os campeonatos pela ação coletiva, daí a
importância dos ensaios de rua e da participação dos moradores na construção
das coreografias, a título de exemplo. O processo de participação popular, de
ocupação de espaços, de cidadania são, dentro dessa conjuntura, valores
endógenos na constituição da identidade e dos anseios entre os moradores do
Morro. A Folkcomunicação, assim, vem a permear os estudos sob os aspectos
sociais do popular, focalizando, principalmente, na comunicação marginalizada,
nas performances culturais que são inerentes ao processo de construção do
desenvolvimento local, na esfera do protagonismo enquanto ser participante
das ações, segundo a visão de Beltrão (1980). Performances
folkcomunicacionais, a partir desses esboços, ampliam as margens da teoria
no século XXI, principalmente em tempos de discussões e debates acerca de
gênero, cor, classe social, que surgem nas redes sociais e no cotidiano dos
grupos marginalizados. Em termos metodológicos, trata-se de um estudo de
caso, onde foram usadas técnicas combinadas de coleta de dados, observação
direta, análise documental e roteiro de entrevista semiestruturado com
moradores do Morro da Conceição que assistem aos ensaios dessa
manifestação cultural na rua. O período foi de abril a junho de 2017, pois
antecede o ciclo junino. Para o aporte teórico, buscou-se Lucena Filho (2012),
Tauk Santos (2009) e Jesus (2003). Nos resultados, constata-se que os
moradores têm forte influência nos critérios avaliativos, mesmo informais,
assim como apresentam uma relação diferenciada na Quadrilha Junina
Tradição. Deve-se ressaltar ainda dois pontos importantes: a relação de
parceria entre os moradores com os quadrilheiros, fortalecendo os espetáculos,
motivando a parceria existente. A partir das considerações dos ensaios de rua,
acontece os ajustes necessários para as performances folkcomunicacionais na
quadrilha, avaliando os processos formativos e as especificidades de cada
manifestação cultural.

Palavras-chave: Folkcomunicação; Cultura popular; Performances; Quadrilha


Junina.

REFERÊNCIAS

BELTRÃO, Luís.Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São


Paulo: Cortez, 1980.
HOBSBAWM, Eric.Era dos Extremos.O breve século XX - 1914- 1991. São
Paulo: Companhia das letras, 1995.
JESUS. Desenvolvimento local. In:CATTANI , D. A Outra economia. Porto
Alegre: Veraz Editores, 2003.
LUCENA FILHO, Severino Alves de. Festa Junina em Portugal: marcas
culturais no contexto de folkmarketing. João Pessoa: UFPB, 2012.
TAUK SANTOS, Maria Salett. Inclusão digital, inclusão social? Recife:
UFRPE, 2009.
121

DO RURAL PARA O MUNDO: UMA PERIODIZAÇÃO DO FORRÓ


Monaquelly Carmo de Jesus
Mestrado Profissional em Ensino de História (UFS)
[email protected]

Eixo temático: 03. Práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo de produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

No Nordeste, no início do século XX, forró ou forrobodó era o nome dado aos
eventos onde havia dança e música, geralmente tocada por um sanfoneiro
numa sanfona pé-de-bode de oito baixos executando diversos ritmos locais,
como o xaxado, xote, toada, e baião (ALBIN, 2006). O uso da palavra forró
como espaço aparece em diversas músicas do período inicial, começando, na
obra de Luiz Gonzaga, em 1949, nas duas músicas de um 78 RPM: “Forró de
Mano Vito” e “Dezessete Légua e Meia” (MATOS, 2007) O uso da palavra forró
para designar um ritmo só veio a ocorrer várias décadas depois, sendo
encontrada nas letras de cantores da década de 1970, como “O bom do Amor”,
composta por Agnaldo Alves e Ilmar Cavalcante e interpretada por Flávio José;
e Forró do Xenhenhém, composta por Cecéu e interpretada por Elba Ramalho.
Assim, a palavra forró pode significar um evento, um espaço em si, um gênero
musical e até mesmo uma situação. No entanto, neste trabalho, utilizo o
significado musical da palavra. O brasilianista Draper III divide a história do
Forró em três fases: primeira, o apogeu das carreiras de Luiz Gonzaga e
Jackson do Pandeiro, seguidas de um declínio depois da ascensão da bossa
nova; segunda, reemergência nos anos 1970 com uma segunda geração de
artistas, incluindo Dominguinhos, Elba ramalho e Alceu Valença; e a terceira, a
divisão do forró em três subgêneros após a aposentadoria e morte de
Gonzaga. [...] Essas fases podem ser historicamente datadas, a grosso modo,
correspondendo a três eras: primeira, modernização/urbanização pós-guerra e
substituição de importação; segunda, liberação do comercio nos anos 1970
com crescimento da dívida externa e a transnacionalização da industria
musical; e, finalmente, a era pós ditatorial na qual a renacionalização cultural
ocorreu através da produção de grupos subalternos e regionais como os
nordestinos e favelados. (2014, 35). Como se pode perceber, o brasilianista
define o início do forró com Luiz Gonzaga. Dessa maneira, parece significar
que o forró surgiu de repente, e do zero, com o aparecimento do cantor, e que
ele criou algo completamente novo, negando a música nordestina pré-
existente. Além disso, é importante destacar que Luiz Gonzaga afirma, nesse
momento, ter criado o baião, apenas um dos elementos que afirmamos fazer
parte do forró. Sendo assim, é possível incluir outras manifestações musicais
anteriores ao cantor como pertencentes à história do forró. Neste artigo,
pretendo propor uma outra periodização histórica, a partir de pesquisa
bibliográfica. O forró tem origem nas mais diversas expressões musicais do
nordeste, como as cantigas de cantadores, de onde se percebe a extensão de
uma oitava e a presença de acordes de sétimas menores (LOPES, 2007). No
lundu, dança e canto de origem africana, provavelmente angolana (ALBIN,
2002) e nas bandas cabaçais, que já utilizavam o triângulo e a zabumba
(CARVALHO, 1999). No entanto, a popularização da música rural nordestina
em rede nacional ocorreu a partir do lançamento de Luiz Gonzaga em 1946.
122

Tido como o precursor do gênero, acabou sendo reconhecido como o criador


do forró. No entanto, Luiz Gonzaga apenas estilizou, ou adaptou para um
público urbano, vários ritmos rurais. O próprio baião, que em alguns momentos
Gonzaga diz ter criado, já existia anteriormente, conforme defende Tinhorão
(1991), provavelmente nascido de uma forma especial dos violeiros tocarem
lundus na zona rural do nordeste (onde essa dança e depois canção citadina
chamada de lundu chegou com o nome de baiano), com o que concorda
Ellmerich (1962), dizendo também que é uma dança cantada, de pares solistas,
com sapateados, palmas umbigadas e meneios, em allegreto, compasso
binário. Assim, pode-se dizer que antes de Luiz Gonzaga havia um Forró rural,
produzido, tocado e fruído apenas no âmbito das áreas rurais nordestinas. Com
a música Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), inicialmente gravada pelo
grupo Quatro Ases e Um Curinga e depois por ele mesmo, Gonzaga lança para
o público urbano o ritmo que seria até o ano de 1954 o de maior sucesso no
país e com repercussão até no exterior. Feito que se deve, em boa parte, a
uma estratégia de conquista de mercado especialmente voltada ao migrante
nordestino que vivia no sudeste e ao público das capitais nordestinas que podia
consumir discos, mas aceita por outros grupos da sociedade pela curiosidade
nacionalista (DRAPPER III, 2014) (ALBUQUERQUE JR, 2011). É por esse foco
na afirmação da identidade do nordestino que podemos entender o forró de
Gonzaga e daqueles sob a sua égide como forró de afirmação.É claro, a
existência de um período não exclui o outro, mas apenas acrescenta uma nova
camada de referências e fazeres que é sustentada pela anterior. Como não
poderia deixar de ser, já que a cultura se significa pela própria mutabilidade.

Palavras-chave: Forró; Cultura; História.

REFERÊNCIAS

ALBIN, Ricardo Cravo. (Org.) Dicionário Houaiss ilustrado da Música Popular


Brasileira. Rio de Janeiro: Paracatu, 2006

ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. São
Paulo: Cortez, 2011

CARVALHO, Gilmar de. Madeira Matriz: Cultura e Memória. Annablume: São Paulo,
1999.

DRAPER III, Jack A. Forró e regionalismo redentor do Nordeste brasileiro: Música


popular em uma cultura de migração. Tradução de Newton Milanez. São Paulo:
Intermeios, 2014

ELLMERICH, Luiz. Guia da Música e da Dança. Boa Leitura Editora: São Paulo, 1962

LOPES, Ibrantina Guedes de Carvalho. Forró de pé-de-serra: Descompasso entre


letra e música. Recife. 2007. 61f. Monografia (pós-graduação em letras com
especialização em Cultura Pernambucana). Faculdade Frassinetti, Recife, 2007.

MATOS, C. N. Namoro e briga, as artes do forró: auto-retrato de um baile popular


brasileiro. In: COSTA, Nelson Barros da. (Org.) O charme dessa nação: música
popular, discurso e sociedade brasileira. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora,
2007, p. 421-441.
123

A RESSIGNIFICAÇÃO DA CAVALGADA DO POVOADO TAPERA


- ITAPORANGA D’AJUDA /SE
Daniele Luciano Santos
Universidade Federal de Sergipe
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia
Integrante do Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Maria Augusta Mundim Vargas


Universidade Federal de Sergipe
Professora do Programa de Pós-graduação em Geografia
Líder do Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Eixo temático: 03 Práticas festivas tradicionais e contemporâneas


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

A variação ocorrida desde a década de 1990 na composição e na estrutura da


cavalgada no povoado Tapera em Itaporanga d’Ajuda/SE levou-nos a
questionar suas sócio-espacialidadades, em que pese sua manifestação como
prática festiva tradicional e contemporânea. Temos por objetivo expor pela
abordagem da Geografia cultural as sócio-espaciais que envolvem a cavalgada
como tradição ressignicada nesse povoado. Embasamos nossas reflexões em
Hobsbawm & Ranger (2002) sobre tradição inventada; Vargas & Neves (2009)
e Marques & Brandão (2015) sobre as festas populares e suas ressignificações
e, Tuan (2012) sobre a topofilia e a topofobia para entendermos o lugar da
festa enquanto afetivo ou repulsivo. Adotamos como metodologia a pesquisa
documental em sites e jornais e a pesquisa de campo com uso da observação,
aplicação de entrevistas e registro fotográfico. Em Itaporanga d’Ajuda a junção
do casamento caipira e da missa do vaqueiro deu origem ao casamento dos
tabaréus que posteriormente passou a ser chamado de cavalgada. A Tapera é
um povoado distante 14 km da sede municipal de Itaporanga d’Ajuda, os
taperenses preservam práticas cotidianas ligadas à criação de animais e ao
trabalho com a terra ao mesmo tempo em que lidam com atividades comerciais
e prestação de serviços básicos. Essa mistura entre o tradicional e o
contemporâneo é refletida em suas festas, como é o caso da cavalgada que
ocorre em data móvel no ciclo junino. Os sujeitos locais estimam que o
percurso da cavalgada de 4,5 km, que se estende da praça do povoado Telha
até a praça da Tapera, possui aproximadamente 50 anos. No passado as
carroças ornamentadas com palhas saiam pelas estradas em direção à Tapera,
onde um padre esperava para a celebração da missa do vaqueiro.
Posteriormente, todos assistiam a encenação do casamento caipira com a
presença de alguns personagens como o “padre” vivido por Zé Orgines e
posteriormente por Zé Ralino, antigos moradores do povoado; os “noivos” e o
“Grilo” responsáveis por dar graça à encenação eram escolhidos anualmente e,
a “Primeira Dama da Tapera”, vivida por Dona Darcilene, é lembrada por sua
dança irreverente com forte batida dos pés no chão “levantando a poeira”, em
seguida a quadrilha local se apresentava e a festa era encerrada com o forró
pé de serra. Na década de 1990, com o objetivo de projetar a imagem dos
124

festejos juninos do município, a prefeitura assume explicitamente a realização


da festa que deixa de ser casamento dos tabaréus e passa a ser chamada de
cavalgada. Houve uma intensificação na divulgação, melhorias estruturais e
funcionais como palanques mais estruturados, banheiros químicos,
ornamentação do espaço da festa, serviço de segurança, atendimento médico,
registro e controle de vendedores ambulantes, contratações de atrações
artísticas do município, do estado e do Brasil. Nesse contexto Marques;
Brandão (2015) afirmam que a ressignificação das festas populares pode ser
desencadeada a partir do momento que determinados fenômenos como a
modernização, o sistema capitalista e suas atividades comerciais, e a formação
de redes de interação e comunicação se infiltram e alteram o sentido das
mesmas. A ideia dos autores é confirmada quando os padres começaram a se
recusar a celebrar a missa do vaqueiro alegando que a festa havia se tornado
mundana; quando o falecimento de alguns dos moradores mais antigos e o
pouco envolvimento dos mais jovens resultaram no fim da encenação do
casamento caipira. As contribuições de Vargas e Neves (2009) nos ajudam a
compreender a ressignificação da cavalgada da Tapera, perceber as variação
em sua estrutura, que o antigo e o novo passaram a coexistir no processo de
manutenção da cavalgada, como por exemplo, vestimentas de couro que
fazem referencia ao vaqueiro e camisas de equipes organizadas semelhantes
ao abadá, carroças rusticas e trio elétrico com tecnologia moderna, entre
outros. A cavalgada da Tapera continua ser tradicional porque após anos de
existência, com a inserção de novos elementos em sua estrutura,
rigorosamente mantém a periodicidade, o mesmo percurso e o caráter
mobilizador local. Entendemos por tradição tal como Hobsbawm & Ranger
(2002, p. 9), o conjunto de práticas, ritos e símbolos construído no passado e
que continua a ser aceito e atuante no presente, “muitas vezes, ‘tradições’ que
parecem antigas são bastante recentes, quando não são inventadas, [...] e que
se estabeleceram com enorme rapidez”. Inspirados em Tuan (2012)
identificamos que o perfil dos participantes também foi modificado, as atrações
e shows de artistas do momento vêm atraindo jovens que se afeiçoam ao
ambiente da festa (Topofilia) e o aumento da comercialização de bebidas
alcoólicas e da violência tem despertado nos mais antigos a aversão
(Topofobia) ao mesmo tempo em que lembram, saudosistas, das antigas
cavalgadas que remetiam a familiaridade do lugar e das pessoas. Com base no
exposto, esperamos construir uma análise na qual, elementos e dimensões da
Geografia de abordagem cultural sejam enfatizados e, sobretudo, que elucidem
as tessituras que envolvem o antigo e o novo na manutenção da Cavalgada do
povoado Tapera.

Palavras-chaves: Socioespacialidades; Festa Populares; Ressignificações;


Cavalgadas.

REFERÊNCIAS

HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. São Paulo:


Paz e Terra, 2002.
MARQUES, Luana Moreira; BRANDÃO, Carlos Rodrigues. As festas populares
como objeto de estudo: contribuições geográficas a partir de uma análise
escalar. In: Ateliê Geográfico. Goiânia, v. 9, n. 3, p. 7 – 26, dez/ 2015.
125

TUAN, Yi-Fu Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do


meio ambiente (Tradução de Lívia de Oliveira). Londrina: Eduel, 2012.
VARGAS, Maria Augusta Mundim; NEVES, Paulo Sergio da Costa. Inventario
Cultural dos territórios de Sergipe e elaboração de um atlas da cultura
sergipana. Relatório. Seplan/SE: Aracaju, 2009.
126

“TAMBOR É OCO DO PAU, CURTIÇO DA URUÇO”:


ANCESTRALIDADE, CULTURA POPULAR E MEMÓRIAS NO
SAMBA DE ABOIO (SE)
Alexandra Gouvêa Dumas
Universidade Federal de Sergipe-UFS
[email protected]

Luan Vinícius Carvalho de Almeida


Universidade Federal de Sergipe-UFS
[email protected]

Eixo temático: 03. Memórias, espaços e tempos da Cultura Popular


Tipo de produção: B. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins.

O samba geralmente está atrelado a diversas outras manifestações populares


e garante um lugar de bastante expressividade e relevância, além de
representação, na cultura popular brasileira. Por ser um gênero musical de
bastantes vertentes e modalidades no leque de sambas existente, alguns
sambas possuem projeções e alcance mais amplos do que outras. O samba a
ser abordado aqui é o não tão popular Samba de Aboio que ocorre no povoado
de Aguada, cidade de Carmópolis, em Sergipe. A espetacularidade dessa
manifestação evidencia seu caráter festivo, sem eliminar, porém, sua complexa
rede de significados e tensões aliados às suas origens afro-religiosas. No
Samba de Aboio, a delimitação aqui apresentada traz para o campo da análise
de comportamentos espetaculares, o ciclo de tensões e suas consequentes
formas de resolução que tangem os discursos e práticas dos envolvidos nessa
festa. A busca por outras sonoridades e histórias do samba dá seus passos em
solo sergipano. Apesar de ser um dos ritmos que mais identifique o Brasil,
tendo como referência a popularidade do samba de estética carioca, pensá-lo
de forma homogênea é um risco por colocá-lo numa perspectiva única em
relação aos demais tipos e variações de expressões acolhidas por essa
denominação, samba. O pesquisador Hermano Vianna localiza no tempo essa
“colonização” quando afirma que: “Foi só nos anos 30 que o samba carioca
começou a colonizar o carnaval brasileiro, transformando-se em símbolo de
nacionalidade.” (VIANNA, 2002, p. 29). A vontade de observar, falar e vivenciar
mais o samba foi evoluindo, até que nossa interferência desde o início teve a
licença e permissão dos mestres, mestras e da comunidade local para que
pesquisássemos mais sobre o samba de aboio. O samba se mostra totalmente
envolto de um ritual em homenagem a Santa Bárbara e para que a festa
aconteça, é preciso que o ritual para a santa também ocorra, em todo sábado
de aleluia e domingo da ressurreição, unicamente. Observando esses dois
dias, notamos a extrema ligação da religiosidade sincrética para a existência
deste samba nos moldes como o encontramos hoje. O passado histórico do
samba possui origem escravista e a cidade onde ele ocorre era um ponto de
bastante fluxo de pessoas devido à economia que alimentava a região no
período colonial. Os elementos que encontramos vão de questões profanas as
sagradas. De acordo com o mestre Zé de Paizinho e com a mestra Maria José,
127

o samba de aboio acontece desde o século XIX e possui ligação remota com
os Nagôs e as/os sambadeiras/sambadeiros remontam em todo ano da festa o
mito de origem do samba, que nasceu depois que uma pedra em forma de
santa foi encontrada por descendentes de africanos. A pedra possui destaque
no altar produzido para ela e outras imagens de santos/santas, outras pedras
das mais variadas origens. Além de também estarem presentes elementos
relacionados a matrizes africanas, a exemplo do azeite de dendê e do mel,
usado para abençoar e purificar os/as participantes da festa e do banho de
ervas e sangue nas pedras, este foi um fator intrigante que nos chamou
atenção, pois ao tempo que existem esses elementos de matrizes africanas, os
nativos negam qualquer relação com o candomblé e reforçam a extinção da
presença dos Nagôs na manifestação atualmente. No entanto, mais do que
esses elementos no ritual do samba de aboio, outro fator bastante crucial e
marcante como característica fundamental na execução do samba, é o
sacrifício de animais (machos) para a comunidade e como forma de agradecer
a Santa Bárbara pelas graças alcançadas, o que os locais chamam de
“matança”, também bastante frequente nos rituais de matrizes africanas.
Analisamos que os processos ritualísticos observados no Samba de Aboio de
Santa Bárbara aproximam-se de religiões como o candomblé, e mesmo que
esse samba possua em sua ancestralidade elo com os Nagôs, os realizadores
do Samba, em seus depoimentos, negam que hoje exista qualquer resquício de
tal ligação, como dito anteriormente. No entanto, a afirmação do catolicismo
mostra-se bastante presente e expressiva, exemplo disto está nas várias
imagens de Santas Bárbaras dispostas no altar na sala da sede do Samba de
Aboio. Chegamos a um ponto extremamente crucial nessa pesquisa,
compreendendo que tal negação das africanidades gera problematizações
acerca do “embraquencimento” de tais expressões, devido um fator colonizador
ou mesmo como um acordo de resistência e subsistência no contexto de
violências sofridas por intolerância religiosa, que é fator sintomático na
sociedade brasileira do século XXI. Ao identificar e discutir os elementos
presentes, assim como seus significados, nos leva a um caminho de
questionamentos sobre até que ponto algumas interferências religiosas ou
mesmo motivações pessoais contribuem com a preservação da memória do
Samba de Aboio. Ao enxergar sob esse viés, enxergamos um horizonte que
não existe, e que continua vivo na tradição que perdura até os dias de hoje,
independente das modificações que sofre ou dos obstáculos que surgem que
poderiam impedir que a festa acontecesse. Como uma expressão de caráter
popular, o Samba de Aboio permeia a esfera da religiosidade, pois é realizada
apenas uma vez ao ano como promessa pelas graças alcançadas para Santa
Bárbara, e de uma identidade coletiva, através do Samba como comemoração,
como celebração dessas graças, além de prosseguir com o legado deixado por
sua fundadora e que resiste até atualmente.

Palavras-chave: Samba; Cultura afro-sergipana; Etnocenologia.

REFERÊNCIAS

ALBIN, RICARDO CRAVO. "O livro de ouro da MPB: a história de


nossa música popular de sua origem até hoje". Ediouro Publicações,
2003.
128

CABRAL, SÉRGIO. Falando de samba e de bambas. In: História da


música popular brasileira (Fascículo Bide, Marçal e Paulo da Portela). Abril
Cultural, 1984, p. 2
CASTRO, Felipe; COSTA, Luana; MARQUESINI, Janaína; MUNHOZ,
Raquel. Quelé, a voz da cor: biografia de Clementina de Jesus. Ed.1.
Vol.1. Editora Civilização Brasileira. 2017.
129

2.4.4 Eixo: Memória, espaços e tempos da cultura popular

Alimentação e cultura no ensino de história: uma experiência com alunos


do 8º ano
Monaquelly Carmo de Jesus

(Re)discutindo a presença indígena na festa do Lambe Sujo e Caboclinho


Bernardo Ferraz Pinheiro
Hildenia Santos de Oliveira

A quadrilha junina no contexto escolar: ações dançantes


Thiago da Silva Santana
Bianca Bazzo Rodrigues

Zabumba biográfica do Encontro Cultural de Laranjeiras nos periódicos


sergipanos
Elinoan Silva Cruz
Janaina Cardoso de Mello
Eixo Gestão e políticas de cultura
130

ALIMENTAÇÃO E CULTURA NO ENSINO DE HISTÓRIA:


UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DO 8º ANO
Monaquelly Carmo de Jesus
Mestrado Profissional em Ensino de História (UFS)
[email protected]

Eixo temático: 04. Memória, espaços e tempos da cultura popular;


Tipo de produção: B. Relatos de Experiência de professores da
Educação Básica, produtores de cultura e afins;

A chave do verdadeiro aprendizado está na motivação. Mas como motivar um


público tão diverso, com desejos tão diferentes? Embora seja difícil encontrar
um ponto de convergência, há um tema que parece ser quase unanimidade: a
comida. Assim, quando decidi trabalhar diretamente com conceitos-chave do
Ensino de História, tendo dessa maneira liberdade para escolher o tema
gerador, percebi que a alimentação seria uma escolha adequada. Esta
temática possibilita criar vínculo afetivo com a História, levando os alunos a se
reconhecerem dentro dela, o que aumenta a possibilidade de que aprendam.
Mas para além de trabalhar conceitos-chave, percebi a necessidade de trazer
os pais para escola, de modo a demonstrar tanto aos alunos como aos próprios
pais que a escola não é a detentora do conhecimento, e que a família em muito
pode contribuir no aprendizado. Também nesse sentido a temática
alimentação contribui, já que possibilita uma ampla gama de familiares com
conhecimento sobre o assunto, de modo a ser possível driblar as dificuldades
de horário que os pais porventura poderiam ter. Assim, o presente artigo tem
como objetivo relatar uma experiência de aplicação de uma sequência didática
utilizando a temática alimentação para trabalhar os conceitos de cultura,
identidade e mudanças e permanências, bem como para abrir a sala de aula
para a participação da família. A escolha do conceito de cultura se deve a que
esta é um dos principais temas das ciências humanas e aparece de maneira
protagônica nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de História.
No entanto, os conceitos de cultura são múltiplos e podem ser contraditórios.
Para alguns, a cultura abrange todas as realizações materiais e os aspectos
espirituais de um povo. Já para outros se refere à produção artística e cultural.
Seja qual for o significado a ela atribuído, a cultura é peça chave para a
compreensão da sociedade (SILVA E SILVA, 2009). Outro conceito
diretamente ligado ao Ensino de História é a memória pois “Não há como
recordarmos quem somos sem recordarmos nosso passado” (FERREIRA E
FRANCO, 2010). Mas como a alimentação se relaciona à cultura? O ato de
comer não se resume apenas à saciação das necessidades nutricionais, mas
carrega toda uma ritualística e conjunto de preferências que são produto da
cultura. O próprio gostar e desgostar de certas comidas são aprendidos dentro
das idiossincrasias inerentes à nossa cultura. (TOSCANO, 2013). Sendo assim,
a alimentação é um tema que possibilita o estudo da cultura e da identidade(s),
como também das mudanças e permanências, já que tanto os gostos como as
preparações culinárias se modificam com o passar do tempo. Tendo em mente
esse arcabouço teórico, produzi uma sequencia didática que gira em torno de
três atividades principais: entrevista com familiares, pesquisa sobre uma
comida considerada típica e análise de cadernos de receita. Esta sequência foi
131

aplicada em duas turmas de 8º ano da Escola Municipal Manoel Bomfim,


localizada no Conjunto Bugio, Aracaju-SE. Para a primeira atividade, antes da
entrevista com um familiar, os alunos responderam a questões sobre seus
gostos e hábitos alimentares, de modo a posteriormente comparar com as
respostas do familiar. Ao cotejar as respostas junto com os alunos, eles
puderam perceber que alguns costumes alimentares eram os mesmos para a
maioria deles, e que já eram uma prática na infância de seus familiares. Ao
mesmo tempo, alguns outros pratos passaram a ser mais consumidos em sua
geração. Sendo assim, eles puderam perceber que ao mesmo tempo em que
houve mudanças nos hábitos alimentares, alguns outros permaneceram quase
que inalterados. A partir das respostas dos questionários, pedi que os alunos,
em grupo, trouxessem um prato que fizesse parte da história deles e de sua
família, bem como um familiar que pudesse explicar o processo de produção
desse alimento hoje e no passado, e a sua história com a cozinha. As mães
ficaram bastante à vontade em falar sobre o assunto e agradeceram a
oportunidade de participar, além de se mostrarem dispostas a participar em
outra oportunidade. A fala das mães foi significativa, pois os alunos ficaram
admirados pela dificuldade que elas enfrentavam para a produção de certos
alimentos sem as facilidades dos eletroportáteis. Para a pesquisa sobre
comidas, as turmas foram separadas em grupos, onde deveriam fazer um
trabalho escrito e apresentar brevemente as origens daqueles alimentos. Essa
etapa possibilitou aos alunos perceber as influencias indígenas, africanas e
europeias na culinária brasileira. Já o trabalho com cadernos de receita foi
inspirado numa sequência didática de Marcella Lopes de Guimarães (2012). Os
alunos analisaram tanto o conteúdo como a forma e o aspecto do caderno de
receitas, bem como entrevistaram a proprietária, de modo a saber as intenções
por trás da produção daquele objeto. Dessa maneira, os estudantes puderam
conhecer e exercitar algumas técnicas do trabalho do historiador, como a
análise de fonte documental e entrevistas. Ao final da sequência didática, os
alunos quiseram continuar estudando sobre alimentação, principalmente ao
saber que há livros inteiros falando sobre a temática, já que pensavam que
temas do cotidiano não eram relevantes historicamente. Quando mostrei o livro
História da Alimentação (FLANDRIN E MONTANARI, 1998) e comentei alguns
temas presentes nele, eles disseram que queriam estudar todo o livro.

Palavras-chave: Alimentação, Ensino de História, Cultura

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Marieta; FRANCO, Renato. Aprendendo História: reflexão e ensino. São Paulo:
Editora do Brasil, 2010

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da Alimentação. Estação


Liberdade, 1998.

GUIMARÃES, Marcella Lopes. Capítulos de História: o trabalho com fontes. Curitiba: Aymará
Educação, 2012

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos. São
Paulo: Editora Contexto, 2009.

TOSCANO, Frederico de Oliveira. Alimentação e Cultura: Caminhos para o estudo da


Gastronomia. In: Revista Contextos. SESC-SP, vol. 1 p. 215-227 – abril.2013
132

(RE)DISCUTINDO A PRESENÇA INDÍGENA NA FESTA DO


LAMBE SUJO E CABOCLINHO
Bernardo Ferraz Pinheiro
Universidade Federal de Alagoas
[email protected]

Hildenia Santos de Oliveira

Eixo Temático: 04. Memória, espaços e tempos da cultura popular


Tipo da produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

A festa do Lambe-sujo e Caboclinhos é tradicional no município de laranjeiras,


sendo ela, umas das celebrações mais aguardadas do calendário cultural do
município. A manifestação conta com a encenação de dois grupos de
brincantes, os lambe-sujos representando os escravos fugidos, e os
caboclinhos, sendo os indígenas encarregados de prender escravos e destruir
o mocambo. A manifestação toma todo o primeiro final de semana de outubro,
sendo o sábado o espaço dado para ação de esmolar, que seria recolher
mantimentos na feira para confecção da feijoada do dia seguinte e no domingo
acontecem os atos da celebração ao longo de todo o dia, iniciando com a
alvorada e terminando com os confrontos e a destruição do mucambo. O ponto
de partida para as discussões realizadas nesse trabalho surgem da percepção
dos dois grupos, visto que, a própria população demonstra uma identificação
muito grande com o grupo dos lambe-sujos, sendo perceptível na cidade a
venda de vários objetos relacionados com o grupo dos negros, enquanto o
outro lado da manifestação, ou seja, os caboclinhos não possuem uma ligação
tão forte com os moradores, tornando a festividade voltada praticamente para
as figuras do lambe-sujos e invisibilizando o outro lado necessário para que
tudo aconteça, sendo assim, o principal objetivo desse trabalho em produção é
perceber como foi construída essa imagem do caboclinho junto da memoria
coletiva de brincantes, membros dos grupos e população de laranjeiras,
visando assim, não somente compreender a negação implícita desse
personagem, mas também dialogar numa perspectiva histórica a ponto de
entender o desaparecimento desse grupo étnico. Partindo do referencial de
tradição popular exposto por E. P. Thompson em sua obra “costumes em
comum”, essas manifestações são baseada em acontecimentos e experiências
humanas, dinâmicas sociais formulando assim valores crenças e costumes;
colaborando com essa ideia existe a na memoria coletiva do município de
laranjeiras que a tal celebração ela remete ao contexto histórico de conflitos do
séc. XIX. Então é possível que essa presença indígena realmente tenha
ocorrido na região, acabou “desaparecendo” fisicamente, mas permaneceu na
celebração reproduzida ao longo do tempo. O segundo ponto utilizado para
fundamentação metodológica se encontra no paradigma posto por Maria
Regina Celestino de Almeida para tratar do indígena como protagonista e
agente da historia. Diferente do tratado anterior a suas discussões, acordos,
alianças e práticas de aldeamentos pode ser são consideradas formas de
resistência indígena. Ideia esta, que fomentas possíveis hipóteses para trazer a
luz de uma analise histórica possíveis motivações para os grupos indígenas
133

locais participarem dessa captura de escravos, que é representada na festa.


Isso seria uma tentativa de trazer uma discussão para rever esse olhar sobre
esse individuo, o que remeteria ao que o historiador Eric Hobsbawn chama de
perspectiva de uma “historia de baixo para cima”. O ponto final da
fundamentação metodológica seria a busca pela memoria desses eventos
através de entrevistas com brincantes, membros do grupo e moradores de
Laranjeiras a fim de encontrar uma memoria coletiva nas memorias singulares
dos entrevistados e assim construís uma memória historia em que os indígenas
possam estar visíveis. Trata-se de um trabalho que ainda esta em construção,
mas já conta com informações relevantes sobre o auto reconhecimento da
população de Laranjeiras e reflexos dessa aceitação presentes na celebração
do Lambe-sujo e Caboclinho. Contudo a discussão dessa perspectiva é
inovadora, no sentido de que a atenção dada pelas produções acadêmicas se
encontra também apenas na figura do lambe-sujo, e trazer incialmente esse
debate cria a possibilidade de uma abertura para formulação de novas
hipóteses sobre a presença indígena na região.

Palavras-chave: Festas tradicionais; Lambe Sujo e Caboclinhos; Laranjeiras.

REFERÊNCIAS

ALBERTI, Verena. Manual de Historia Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV,


2005
ALBERTI, Verena. Ouvir contar – Textos em História Oral. Rio de Janeiro,
FGV, 2004
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de
Janeiro: Editora FGV, coleção FGV de Bolso, 2010
THOMPSON, E.P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
HOBSBAWN, Eric. Introdução: a invenção das tradições. In: HOBSBAWN,
Eric; RANGER, Terence (Orgs.). A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1984.
HOBSBAWN, Eric. A história de baixo para cima. In HOBSBAWN, Eric.
Sobre Historia. São Paulo: Companhia das letras, 2013.
LE GOFF, Jacques. História e memória / Jacques Le Goff;- Campinas, SP
Editora da UNICAMP, 1990.
134

A QUADRILHA JUNINA NO CONTEXTO ESCOLAR: AÇÕES


DANÇANTES
Thiago da Silva Santana
Universidade Federal de Sergipe.
Grupo de Pesquisa Interinstitucional Corpo e Ancestralidade/CNPq
[email protected]

Bianca Bazzo Rodrigues


Universidade Federal de Sergipe.
Grupo de Pesquisa Interinstitucional Corpo e Ancestralidade/CNPq
[email protected]

Eixo temático: 04. Memória, espaços e tempos da cultura popular.


Tipo de produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

A escrita apresenta uma possibilidade de trazer a cultura popular para o âmbito


escolar a partir de ações desenvolvidas na disciplina de Artes/Dança,
realizadas durante o Estágio Obrigatório do Ensino da Dança III, do curso de
licenciatura em Dança/UFS, com os discentes do Colégio Estadual Nossa
Senhora de Fátima, localizada na cidade de Fátima-BA. Tendo a prática como
uma abordagem didática integrativa, no qual o discente se fez importante no
desenvolvimento das aulas. A proposta se baseou na aplicação de aulas de
Dança tendo a Quadrilha Junina como ponto de conexão, apresentando
possibilidades coreográficas embasadas no contexto do Cangaço. Propiciando
aos participantes, novas experiências com as Culturas Populares,
aprofundando seu lado de construção de conhecimento dentro do ambiente
escolar. Observou-se certo descompasso em relação ao contexto das festas
de São João, mais especificamente a dança da Quadrilha, no que toca aos
saberes que a envolvem, como exemplo, o ritmo do xaxado já marcante dessa
dança e que adentra as histórias e feitos de Lampião e seu bando. Ao
percebermos esse desconhecimento por parte dos discentes, foi possível
oportunizar esse reconhecimento das culturas nordestinas, discutindo fatores
históricos, culturais e de saberes que envolvem esses locais. Sublinho que o
ciclo junino, que se faz muito presente no nosso Nordeste, traz com ele toda
uma bagagem que apesar das modificações constantes na atualidade,
principalmente nas formas de viver, prevalece um cuidado em se manter viva
certas tradições, buscando não deixar morrer a essência da festa. É importante
frisar que trabalhar a Quadrilha na escola foi muito significativo para os
discentes e à comunidade, visto possibilitar uma reflexão em torno do contexto
cultural dessas pessoas, no qual nossas raízes prevalecem firmes até hoje.
Para Graziela Rodrigues há uma peculiaridade de ser nas pessoas que estão
dentro das manifestações populares brasileiras. Para a autora, esses corpos
são movidos por lembranças ancestrais que religa, a todo o momento, o
passado no presente e projetando para o futuro, resistindo dessa forma as
dificuldades existentes. Nesse ponto, a proposta buscou se concentrar no
seguinte propósito: não deixar a cultura que pertencem ser esquecida e, a
partir dela, propiciar reflexões através da dança da Quadrilha. Os objetivos
traçados ao longo da proposta, iniciaram-se com aulas atravessadas pelos
135

gêneros musicais e ritmos dançantes do xote, baião, xaxado e arrasta-pé,


seguidos das discussões que envolvem a construção e fazer dessas danças
dentro dos espaços que atuam, ligadas à tradição dos festejos juninos e da
cultura nordestina. Aos poucos, foram sendo introduzidos o contexto histórico,
social e cultural que envolve o fenômeno do Cangaço, mais particularmente a
figura de Lampião e seu bando. Discussões essas costuradas a partir de
possibilidade de criação coreográfica. A proposta de composição partiu da ideia
de incentivar os discentes a investigarem suas próprias histórias, sejam
particulares, familiares e/ou coletivas dentro desse contexto e a partir disso,
serem criadores através dos seus próprios entendimentos sobre a questão,
seguindo os questionamentos levantados por Isabel Marques, no que tange as
particularidades e individualidades de cada um na dança. Estimulando-os a
serem intérpretes de suas próprias histórias. Ressalto que a danças populares
brasileiras, infelizmente, tem sido pouco trabalhada nas escolas, principalmente
como espaço de conhecimento. Tem sido colocada como algo mais
demonstrativo, sem um significado conciso nas vidas desses discentes. As
danças populares quando ensinadas de forma mais cuidadosa e aprofundada,
pode propor trabalhos que saiam do lugar de reprodução de movimentos
codificados que não contextualizam o lugar de onde nascem e estão. É
necessário destacar que a Quadrilha Junina vem sofrendo modificações há
muito tempo. Modificações essas que perpassam por um processo natural se
tratando de Cultura (em constante movimento e adaptações). Porém, o
problema é que muitos hoje se esqueceram que ela traz consigo
conhecimentos e simbologias únicas. De acordo com Aglaé Alencar, já em
1820 a quadrilha já era dançada no Brasil, de influências europeias e
reorganizadas aqui, particularmente no Nordeste. Friso que esse processo
desenvolvido no Estágio III, possibilitou através de uma das expressões da
Quadrilha Junina e todo o contexto que a envolve, problematizar o lugar da
Dança, assim como da Cultura Popular nos espaços escolares. Todo o
processo sobre o contexto retratado pôde ser relacionado com outros
questionamentos que perpassam a atualidade, saindo do comodismo de como
a Quadrilha costuma ser desenvolvida nos festejos juninos escolares.
Propondo dinâmicas de processos de criação com os discentes, sendo esses
não apenas reprodutores do que é estabelecido e sim, podem ampliar as
discussões desses lugares. Compreendendo o quanto a dança popular pode
ser repensada, de forma que não perca suas particularidades e,
principalmente, continue fortemente viva na nossa identidade cultural.

Palavras-chave: Cultura Popular; Dança; Quadrilha Junina; Escola.

REFERÊNCIAS

ALENCAR, Aglaé. São João Dormiu, São Pedro acordou. Aracaju: Caderno
Secretária da Cultura/FUNDESC, 1994.

MARQUES, Isabel. Ensino de Dança Hoje Textos e Contextos. São Paulo:


Cortez, 2011.

RODRIGUES, Graziela. Bailarino-Pesquisador-Intérprete: processo de


criação. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.
136

ZABUMBA BIOGRÁFICA DO ENCONTRO CULTURAL DE


LARANJEIRAS NOS PERIÓDICOS SERGIPANOS
Elinoan Silva Cruz
PIBIC Voluntário/DHI-UFS
[email protected]

Janaina Cardoso de Mello


DHI-UFS
[email protected]

Eixo temático: 04. Memória, espaço e tempos da cultura popular


Tipo de produção: A. Trabalhos/projetos de PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

É na festa dos reis em janeiro, sob os auspícios da colina azulada que os


brincantes sergipanos ressignificam em seu cotidiano a memória que lhes foi
transmitida. Entre danças e cantorias, um ritual se consolida no “palco das
ruas”. O patrimônio cultural imaterial se agiganta nos cortejos dos grupos, na
coroação da rainha das Taieiras, na emoção de quem acompanha o festejo.
Entretanto, o olhar sobre a historicidade do Encontro Cultural de Laranjeiras
nos faz lembrar dos coturnos, rifles e fardas militares. A memória da repressão,
da destituição do governador Seixas Dória em Sergipe, de mandatos cassados
e medo nos olhares permeia a cultura local e nacional. Entre os ecos do AI-5 e
o início de uma distensão programada, a cultura sergipana vai de encontro ao
público mesclado entre intelectuais e brincantes populares, agentes políticos e
institucionais e artistas que já integravam a indústria fonográfica. É nesse
contexto que a pesquisa busca responder: quais as representações políticas do
Encontro Cultural de Laranjeiras nos periódicos sergipanos do contexto da
Ditadura civil-militar brasileira (1976-1985)? O trabalho intitulado “Zabumba
Biográfica: O Encontro Cultural de Laranjeiras nas Hemerotecas” visa coletar
informações das hemerotecas aracajuanas sobre os Encontros Culturais da
cidade de Laranjeiras, especificamente durante o contexto político da Ditadura
Civil-Militar Brasileira (1976-1985). Em 2015, o ECL chegou à 40º edição do
evento, marcado pela mescla da participação entre intelectuais e brincantes
que anualmente se reúnem nesse evento para celebração da cultura,
transmitida através da memória e da oralidade em suas expressões artísticas,
assim como visivelmente presente nas estruturas arquitetônicas da cidade,
ressignificando sua preciosidade histórica e patrimonial. Em 1976, o Brasil se
encontrava vivendo o governo do presidente Ernesto Geisel, 4º presidente do
Regime Militar que 2 anos antes no começo de seu mandato, acabava de dar
inicio a uma política de distensão e de abertura política, amenizando a
rigorosidade da Ditadura Civil-Militar, extinguindo, por exemplo, um de seus
vestígios mais famosos: o AI-5. É nesse contexto político que nasce o primeiro
encontro cultural de laranjeiras. A nível nacional, aquele era o momento de
valorização do folclore e do patrimônio arquitetônico das cidades históricas
para potencialização do turismo no país, no entanto, Laranjeiras estava em
estado de decadência e todas as atenções se voltavam para São Cristóvão,
ponto de atração turística para a qual eram designados os visitantes que iam à
Sergipe. A Criação do PNDA (Programa Nacional de Desenvolvimento ao
137

Artesanato) em 1977, que viria a dar uma maior visibilidade à temática


artesenal inspirando o ECL de 1981, estava inserido em um dos processos de
política cultural do governo militar para incentivo de criação de órgãos que
desenvolvesse e prestigiasse a cultura popular e assim, com a percepção da
herança histórica e cultural da Cidade, reiterada pelo próprio ex ministro da
Educação e da Cultura Jarbas Passarinho quando disse que “Laranjeiras é um
museu a céu aberto”, a população da cidade passa a trazer de volta para o
cotidiano interiorano a memória do passado enquanto colônia mesclada às
tradições provenientes dos negros escravizados, reconstruindo sua identidade
enquanto povo e dando uma nova feição ao local. Desse conúbio de forças,
nasce então em 1976 o primeiro ECL, na gestão do governador José
Rollemberg Leite que se empenhou junto ao prefeito de Laranjeiras José
Monteiro Sobral para garantir a permanência do evento. Mas qual era o
posicionamento do governo sergipano em relação à ditadura militar instaurada
12 anos antes, passando por momentos de austeridade sob a política de
governantes como Costa e Silva e Emilio Médici? O foco da pesquisa se
centraliza justamente na questão da compreensão de uma vertente ainda não
abordada no referente aos aspectos políticos do Encontro Cultural de
Laranjeiras dentro desse recorte de tempo estabelecido. Inúmeros agentes
políticos são elencados durante o processo de levantamento de fontes a cerca
do assunto e nesse curto espaço de tempo de pesquisa, nada ainda pode ser
afirmado sem que seja feito um estudo mais detalhado nas hemerotecas
sergipanas para coleta de informações que se encontram em estado de
desorganização arquivística, dificultando o processo de coleta de dados para
os pesquisadores. Com o material trabalhado, o que se tem de respostas às
perguntas anteriormente feitas são apenas pressupostos. Devido à ausência
dos anais a partir do III ECL, tendo sido apenas alguns resgatados pelo Bráulio
Nascimento e publicados em seu livro “Encontro Cultural de Laranjeiras – 20
anos”, tem-se como consequência a impossibilidade de respostas precisas até
o presente momento, sem que uma investigação mais árdua seja feita para que
se possa fazer entender os interesses políticos existentes por trás do
surgimento do Encontro Cultural de Laranjeiras

Palavras-chave: Ditadura civil-militar; Encontro cultural de Laranjeiras;


periódicos sergipanos.

REFERÊNCIAS

DANTAS, Beatriz Góis. Encontro Cultural de Laranjeiras: 40 anos de Simpósio.


Aracaju: IHGSE, 2015.

DANTAS, Beatriz Góis. As Fontes Sobre o Encontro Cultural de Laranjeiras:


Múltiplas e Dispersas. Aracaju: IHGSE, 2015.

CRUZ, Jackeline Fernandes da. Um Estudo sobre as Práticas Intelectuais no


Encontro Cultural de Laranjeiras – SE. São Cristóvão: UFS, 2015.

AGUIAR, Luciana de Araújo. O Encontro Cultural de Laranjeiras e a cidade de


Laranjeiras: uma análise da apropriação dos lugares da cidade pelo evento.
Disponível em: < http://www.cp2.g12.br/blog/perspectivasociologica/edicoes-
anteriores/jan-jul-2011-no-6-e-7/o-encontro-cultural-de-laranjeiras-e-a-cidade-de-
laranjeiras-uma-analise-da-apropriacao-dos-lugares-da-cidade-pelo-evento >
138

2.4.5 Eixo: Gestão e políticas de cultura

Laranjeiras e as práticas do espeleoturismo no estado de Sergipe


Jorgenaldo Calazans dos Santos
Maria Augusta Mundim Vargas

O sketchup como auxílio na concepção de espaços expositivos: estudo


de caso da Casa de Cultura João Ribeiro
Ranielle Menezes de Figueiredo
Edilene Rodrigues Guimarães
Erica Cristina Pereira de Souza
139

LARANJEIRAS E AS PRÁTICAS DO ESPELEOTURISMO NO


ESTADO DE SERGIPE
Jorgenaldo Calazans dos Santos
Doutorando PPGEO/UFS
Universidade Federal de Sergipe
Pesquisador do Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Maria Augusta Mundim Vargas


Universidade Federal de Sergipe
Lider do Grupo de Pesquisa Sociedade & Cultura
[email protected]

Eixo temático: 05. Gestão e políticas de cultura


Tipo da produção: C. Trabalhos acadêmicos de Pós-Graduação e afins

No estado de Sergipe, Laranjeiras é o município possui maior número de


grutas catalogadas pelo CECAV, são 18 grutas que formam o seu conjunto
espeleológico. Nesse estudo apresentam-se as características das principais
grutas cársticas situadas nas áreas rurais do município de Laranjeiras, Estado
de Sergipe, com foco em suas singularidades culturais, isto é, como são
apropriadas pela população do entorno e as possibilidades da exploração
dessas cavidades para o uso turístico. Além de uma rápida abordagem sobre
condições de acesso ao local e acessibilidade das grutas, tratamos dos
principais elementos que fazem parte do imaginário das comunidades, suas
estórias, lendas, rituais religiosos, dentre outros. Os dados foram obtidos
através da observação de campo e entrevistas realizadas com moradores de
entorno de três grutas situadas no município de Laranjeiras, todas elas de fácil
acesso e de boas condições de uso turístico. O município é um sitio
arqueológico a céu aberto que mantém viva a tradição das culturas indígena,
negra e portuguesa, distante 20 km da capital Aracaju, sua sede é considerada
uma das mais importantes cidades históricas do estado, com expressivo
número de manifestações culturais, a exemplo: Reisado, Taieira, Lambe-Sujo,
Caboclinho, Cacumbi, Dança de São Gonçalo, Chegança, Samba de Coco,
marcas da preservação de sua riqueza cultural. Além do panorama cultual a
cidade possui belezas naturais expressivas a proposta do espeleoturismo,
modalidade do turismo que utilizam as grutas como principal atrativo da pratica
turística. A Gruta da Matriana, situada no povoado Vila do Faleiro, é uma gruta
que está entre os atrativos turísticos da cidade, possuindo boa sinalização
turística que conduz o visitante da entrada do município até a gruta. As
moradias mais próximas da gruta estão situadas em média de 1 km, segundo
os moradores mais antigos a gruta foi utilizada pelos jesuítas para orações e
recolhimento, por estar em uma região afastada do complexo urbano da
cidade. Nessa gruta ocasionalmente ocorre visitação, reconhecida pelo
governo municipal, que a considerada um local turístico, já os moradores de
Laranjeiras considera a gruta como exemplo de lugar belo. A Gruta da Pedra
Furada, está situada no Povoado Machado distante 5km da sede de
Laranjeiras, esse povoado possui registro de 10 grutas, dentre elas a Gruta da
Pedra Furada, que mesmo estando em uma propriedade particular o acesso
140

aos visitantes e curiosos é sempre franqueado. A Gruta está incluída no


mapeamento turístico do município de Laranjeira, sendo assim, ao chegar à
cidade é possível notar a sinalização turística desde a entrada da cidade até o
Povoado Machado. É a gruta mais conhecida entre os moradores, muitos
depoimentos informam que a gruta serviu de refúgio para os nativos da região.
Nessa gruta os jesuítas celebravam missas durante o período de invasão dos
holandeses. Muitas lendas rondam a história dessa gruta, inclusive a de que
existia um túnel que levaria até a capela de Nossa Senhora da Conceição da
Comandaroba, que era utilizado pelos padres, como rota de fuga em caso de
invasões dos holandeses. A distancia existente entre a gruta e a igreja são de
aproximadamente 2km, sendo confirmada a existência desse túnel a Gruta da
Pedra Furada se tornaria a maior do estado de Sergipe. Devido a Gruta da
Pedra Furada estar localizada em uma área urbana, torna-se um instrumento
de uso educacional, periodicamente professores acompanham os seus alunos
para atividades práticas na gruta. A Gruta da Pedra Furada II, situada em uma
propriedade particular no Povoado Mussuca, com distancia aproximada de
10km da sede do município de Laranjeiras, não possui sinalização, para chegar
até a entrada da sede é necessário estar acompanhado por condutores locais.
É uma gruta menos conhecida, com relação as anteriores, mas que detém
elementos importantes para o possível desenvolvimento de atividades
relacionadas ao turismo. Nessa gruta também existem aspectos culturais
devido a várias lendas que estão a ela relacionadas. Uma delas é a presença
de espíritos que habitam a gruta. Segundo relatos de moradores antigos a
gruta serviu de abrigo para escravos e que existia uma conexão entre ela e a
Gruta da Pedra Furada, servindo também como rota de fuga. Apesar de não
estar inserida como produto turístico natural do município a gruta apresenta
belezas peculiares, como a entrada bem espaçosa e com fácil acesso, possui
largas dimensões que permite tranquilamente que o visitante conheça toda
parte interna da gruta. Do inicio ao final da gruta onde se encontra o maior
salão, é possível fazer todo o percurso sem curvar o corpo devido a altura do
teto. Foi constatada uma forte relação de topofilia entre os moradores do
entorno das três grutas pesquisadas, principalmente aqueles que desenvolvem
algum tipo de uso nesses espaços, sobretudo os relacionados as religiões de
matriz africana, como o candomblé, que as utilizam para depositar oferendas
aos seus orixás. Todavia, embora constatados potenciais turísticos, verificou-se
desinteresse imediato da iniciativa privada e da gestão pública de dotar esses
espaços com infraestrutura, bem como das agências que atuam no estado em
abarcar a modalidade do espeleoturismo.
Palavras-Chave: Potencialidades turísticas; Espeleoturismo; Grutas.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. G. Em busca do poético do sertão: um estudo de representação. In:


ALMEIDA M. G. de RATTIS A. J. P Geografia: leituras culturais. Goiânia: Alternativa
2003.

CROSGROVE, Denis E. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas


paisagens humanas. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zenny (Org.)
Paisagem, tempo e cultura. 2. Ed. Rio de janeiro: Eduerj, 2004.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio


ambiente. Tradução Lívia de Oliveira. Londrina: Edual, 2012.
141

O SKETCHUP COMO AUXÍLIO NA CONCEPÇÃO DE


ESPAÇOS EXPOSITIVOS: ESTUDO DE CASO DA CASA DE
CULTURA JOÃO RIBEIRO
Ranielle Menezes de Figueiredo
Profª substituta do departamento de Museologia- UFS
[email protected]

Edilene Rodrigues Guimarães


Graduanda em museologia- UFS
[email protected]

Erica Cristina Pereira de Souza


Graduanda em museologia- UFS
[email protected]

Eixo temático: 05. Gestão e políticas de cultura


Tipo da produção: A. Trabalhos/projetos do PIBID, PIBIC, Graduação,
Extensão e afins

Os Museus são meios de comunicação que transmitem informações, sendo as


exposições museológicas, a sua principal forma de diálogo com os visitantes.
Nesse contexto, esse trabalho visa desenvolver uma reflexão e análise da
utilização do SketchUp, um software livre, que auxilia na concepção de
espaços expositivos. Iniciamos está pesquisa a partir de uma observação da
exposição de longa duração da Casa de Cultura João Ribeiro, buscando
sintetizar alguns conceitos e entender como a mensagem pode vir a ser
processada a partir de um projeto expositivo em 3D e de que forma esse
projeto pode otimizar a criação de um espaço expositivo. Partimos de uma
abordagem do procedimento da comunicação e suas características no campo
da museologia, de modo a verificar qual a importância da utilização do
software no enquadramento comunicativo dos museus. Faz parte da
metodologia deste trabalho, a leitura sistematizada de textos teóricos e
técnicos, na área de desing e comunicação museológica. Foram realizados, a
partir desses textos, um projeto expositivo para uma das salas da Casa de
Cultura João Ribeiro. A abordagem teórica se fez a partir do entendimento de
conceitos de museologia trabalhados por Desvallées e Mairesse (2013),
Granato (2015), e o conceito de museologia sob o ponto de vista Cury (2006 e
2003). A intenção do projeto é mostrar e propor uma reflexão sobre os
métodos de exposição, averiguando os diversos fatores que interferem nas
relações museológicas, partindo do plano de que os museus são instituições
construtoras de conhecimento. Para tal, é necessário que possuam um espaço
expositivo que atenda as necessidades da sociedade, sempre levando em
conta o seu caráter educativo. Desta maneira, buscamos compreender quais
mudanças estão ocorrendo na contemporaneidade a partir de uma análise da
aplicação dos elementos visuais e do design, tendo como estudo de caso, a
criação de um projeto expositivo para uma das salas da Casa de Cultura João
Ribeiro, situada na cidade de Laranjeiras Estado de Sergipe. A casa de Cultura
tem como finalidade difundir e preservar a cultura de Laranjeiras
salvaguardando obras de João Ribeiro, um sergipano de destaque nacional no
142

campo intelectual brasileiro. A pesquisa enfoca a técnica criativa de um espaço


expositivo utilizando o SketchUp como ferramenta de modelagem, se trata de
um software que permite a criação de projetos em 3D com técnicas tradicionais
para gerar uma geometria do objeto. A criação de projetos nesta plataforma
permite a concepção mais precisa da sala expositiva trabalhada, utilizando das
suas ferramentas básicas, proporcionando uma amplitude na descrição tanto
em cômodos quanto em objetos, possibilitando uma recuperação rápida e
eficiente dos dados armazenados obtendo assim a organização de
metodologias com ênfase na comunicação. Sendo assim, buscamos refletir
sobre o papel do SketchUp no contexto informacional do museu e observar a
forma como a representação descritiva é utilizada. O trabalho congrega a
evolução, ao longo de sua história, dos métodos de organização de seu acervo
e das informações dele derivadas. No decorrer da pesquisa constatou-se que
todo o processo de comunicação da Casa de Cultura João Ribeiro seguiu os
procedimentos relativos ao processo museológico, girando em torno de três
eixos: gerenciamento das coleções, o expositivo (envolvendo a pesquisa) e o
documental (identificativo dos objetos/coleções), sendo que cada um deles
responde às necessidades informativas diferenciadas. Esse software de
modelagem permitiu tanto criações totalmente flexíveis e livres de parâmetros
fixos, quanto modelagens precisas, passíveis, inclusive, de servirem
diretamente de parâmetro para construções. Possibilitando integração total
com os principais programas de edição de imagens, modelos e vídeos. Com a
utilização desse software o museu pode vir a experimentar e buscar organizar
seus espaços expositivos através de reflexões sobre os processos de
comunicação, averiguando os diversos fatores que interferem nas relações
museológicas. Portanto, acreditamos que, o desenvolvimento tecnológico e
novas ferramentas podem vir a ser utilizadas a favor da concepção de espaços
culturais, possibilitando a criação de circuitos interativos, minimizando os riscos
causados no manuseio dos objetos, ampliando a possibilidade de
deslocamento, apenas no meio virtual. Permitindo, assim, criar uma dinâmica
na concepção dos espaços expositivos, e ampliar as possibilidades.

Palavras-chave: Comunicação; Informação; Memória; Preservação.

REFERÊNCIAS

CURY, Marília Xavier. Exposição, Concepção, Montagem e Avaliação. São


Paulo: Annablume, 2006.

DESVALLÉES, André.; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de


Museologia. Tradução Bruno Brulon Soares e Marilia Xavier Cury. Paris:
Armand Colin, 2013.

GRANATO, Marcus (Org.). Museologia e Patrimônio, Coleção. MAST: 30


Anos de Pesquisa. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia e Ciências Afins
(MAST), 2015.

________. O exercício metodológico da exposição Brasil 50 Mil Anos e


outras considerações. In: Encontro de profissionais de museus. A
comunicação em questão: exposição e educação, proposta e compromissos.
São Paulo; Brasília: MAE, USP, 2003
143

3 INDICE REMISSIVO
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AUTORES TITULO PÁG


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escravos em conflito
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Salvador
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