Tema 03: - Reconvenção

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TEMA 03 – RECONVENÇÃO

Aula 01 – Reconvenção

Nos temas anteriores verificaram-se aspectos fundamentais da


contestação. Percebeu-se que a contestação é uma peça processual de
resposta do réu/demandado, de natureza puramente defensiva. Isso significa
que, na contestação, não se podem alegar novos fatos ou novos fundamentos
jurídicos, deve-se restringir-se apenas á refutar todos os argumentos e
pedidos trazidos pelo autor/demandante. Existem questões defensivas que
podem ser arguidas em sede de preliminar processual e questões que podem
ser arguidas em preliminar de mérito. Existem questões de ordem pública que
podem ser alegadas a qualquer tempo, mesmo que intempestivamente, pois
não sofrem os efeitos da preclusão. É o caso das defesas processuais, exceto
a alegação de incompetência relativa e compromisso arbitral, e das
preliminares de mérito: prescrição e decadência.
Contudo, a contestação não é a única forma do réu/demandado se
manifestar em juízo. Existem também outro instituto legal: a reconvenção. A
reconvenção, diferentemente da contestação, tem natureza jurídica de ação,
e isso significa que ela é uma manifestação de contra-ataque da parte
demandada. Portanto, não significa que um réu/demandado em um processo
cível pode apenas se defender dos fatos e argumentos alegados pelo
autor/demandante. Ele pode também contra-atacar, porém, não na
contestação propriamente dita, mas na reconvenção.
Muitos profissionais podem se confundir, acreditando que se trata de
um mesmo instituto processual e que, portanto, podem mesclar a
reconvenção com a contestação, sem especificar, claramente, na peça
processual, a subdivisões entre contestação e reconvenção. Isso ocorre,
principalmente, pelo fato de que a reconvenção é uma espécie de ação
inserida dentro da própria contestação: “Como regra, o réu poderá alegar
dentro da contestação toda a matéria de defesa, inclusive formular pretensão
contra o autor por meio de reconvenção” (BARROSO; LATIERRE, 2019, p.
123). Assim, as apesar de a reconvenção estar inserida na peça da
contestação, trata-se de um instituto legal distinto.
Para não se incorrer em equívocos e mesclar as matérias de
contestação e reconvenção, observe-se o modelo a seguir:

 Figura 8: Modelo de contestação com reconvenção:


Deve-se atentar para o fato de que na peça processual, os primeiros
argumentos elencados pela defesa deverão ser restritos à contestação dos
fatos e argumentos elencados pelo autor/demandante. Após a redação da
contestação, abre-se um novo tópico: da reconvenção. Neste tópico serão
argumentados novos fatos e fundamentos de natureza de contra-ataque à
petição inicial. É por isso que quando há uma contestação com reconvenção,
há a indicação de pedidos e não apenas requerimentos. Os requerimentos
são devidos à contestação, enquanto que os pedidos se referem à
reconvenção.
Na reconvenção, invertem-se os polos da demanda e,
consequentemente suas denominações. O autor originário da ação se torna o
réu reconvindo, enquanto que o réu originário se torna o réu reconvinte. Para
melhor compreender essa inversão de polos, observe-se a figura a seguir:

 Figura 9: Inversão da denominação dos polos da demanda em


contestação com reconvenção:
A título de conhecimentos gerais, observe-se também o quadro a
seguir com a forma correta de denominação das partes de acordo com o
procedimento:

 Quadro síntese sobre a nomenclatura das partes de acordo com o


processo

Fonte: BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática no processo civil. 9. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 36.

Portanto, a reconvenção é apresentada na mesma peça processual


que a contestação. Quando há reconvenção, há a caracterização de uma
ação judicial em face do autor/demandante originário, ora denominado réu
reconvindo. Por se tratar de uma ação judicial, ela deve, consequentemente,
elencar os pedidos. Assim, é importante delimitar que, se apenas for uma
contestação a ser apresentada em juízo, a boa técnica processual orienta a
relacionar requerimentos. Se for uma contestação com reconvenção, serão
relacionados requerimentos relativos aos argumentos da contestação, e
pedidos, relacionados aos argumentos da reconvenção.

Para a doutrina,

A reconvenção é a medida processual que possibilita ao réu


manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com
o fundamento da defesa (art. 343 do CPC). A reconvenção é a ação
do réu em face do autor que será realizada dentro da própria
contestação, podendo o réu propor a reconvenção
independentemente de oferecer contestação (art. 343, § 6o, do
CPC). A reconvenção deve ser apresentada na própria contestação
(na mesma peça) e não em petição avulsa como ocorria no Código
de Processo Civil de 1973. (BARROSO; LATIERRE, 2019, p. 140).

É importante destacar que no Código Processual Civil passado, datado


de 1973, a reconvenção devia ser apresentada em juízo em petição
autônoma, apartada da contestação. Com o novo Código Processual de 2015,
a reconvenção adquiriu novas configurações, agora podendo ser apresentada
na mesma peça processual da contestação.
Isso não significa, por outro lado, que a reconvenção dependa
necessariamente da apresentação da contestação. Ela pode ser apresentada
de forma autônoma, sem a necessidade de uma contestação. Conforme
explica a doutrina: “Importante ressaltar que o réu poderá reconvir sem
contestar (evidentemente, será revel em relação ao mérito). A propositura de
reconvenção não depende de contestação” (BARROSO; LATIERRE, 2019, p.
140). Assim, observe-se o quadro esquematizado abaixo:

 Quadro sintetizado sobre a apresentação de peças processuais:


contestação e reconvenção

No caso de propositura de contestação com reconvenção, é possível


seguir o modelo abaixo relacionado como base para a peça processual:
 Figura 10: Modelo de contestação com reconvenção
Fonte: BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática no processo civil. 9. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 140-141.

No que se refere a base jurídica para a reconvenção, há apenas um


artigo elencado no CPC/2015, o artigo 343:

Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para


manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o
fundamento da defesa.
§ 1º Proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa de
seu advogado, para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze)
dias.
§ 2º A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que
impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento do
processo quanto à reconvenção.
§ 3º A reconvenção pode ser proposta contra o autor e terceiro.
§ 4º A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com
terceiro.
§ 5º Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá afirmar
ser titular de direito em face do substituído, e a reconvenção deverá
ser proposta em face do autor, também na qualidade de substituto
processual.
§ 6º O réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer
contestação. (BRASIL, 2015, s.p.).

Proposta a reconvenção, o autor originário da demanda, agora réu


reconvindo, tem o prazo de 15 dias para se manifestar das alegações do réu
reconvinte, por meio da resposta à reconvenção.
Ainda, é importante mencionar, neste momento do estudo, que a
reconvenção, por possuir natureza de ação, deve seguir os requisitos legais
de uma petição inicial. Assim, a reconvenção deve ter

Art. 319. A petição inicial indicará:


I - o juízo a que é dirigida;
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço
eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos
fatos alegados;
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de
conciliação ou de mediação.
§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II,
poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências
necessárias a sua obtenção.
§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de
informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.
(BRASIL, 2015, s.p.).

Portanto, assim como uma petição inicial, a reconvenção deve conter


requisitos como o valor da causa discriminado. Inclusive, ela se submete às
mesmas regras sobre o indeferimento da petição inicial, bem como, pode-se
incorrer aos efeitos da preclusão se não forem alegados fatos ou argumentos
ou sanado os vícios processuais no momento processual oportuno.
A reconvenção também tem efeitos sobre a parte do réu reconvindo
que, se não se manifestar sobre todos os termos da reconvenção, incorrerá
em revelia e estar-se-ão preclusas as alegações que são passíveis desse
efeito. O réu reconvindo deve se defender da reconvenção, nos mesmos
termos de uma contestação. Isso significa que ele pode alegar as preliminares
processuais de defesa próprias da contestação, nos termos do artigo 337 do
CPC/2015.
Aula 02 – Reconvenção

Nesta segunda aula do tema da reconvenção, serão observados alguns


pressupostos dessa modalidade de resposta do réu/demandado. Deve-se
frisar que a reconvenção é norteada por princípios como celeridade e
efetividade do processo.

O princípio da celeridade processual foi introduzido no ordenamento


jurídico brasileiro por intermédio da Emenda Constitucional n. 45/2004. A
emenda adicionou o inciso LXXVIII ao artigo 5º da Constituição Brasileira, e
dispõe que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação” (BRASIL, 1988, s.p.). Tal princípio objetiva estipular um prazo
hábil de duração dos processos judiciais, tendo em vista que problemas
relacionados às condições materiais da instituição judicial traz como
consequência a morosidade na tramitação das demandas que pode prejudicar
o direito pleiteado. Assim, pelo princípio da celeridade processual, os
processos judiciais devem ter uma duração adequada, nem muito longa, nem
muito curta, mas que garanta uma apreciação judicial minuciosa e também
que o direito não se deteriore pelo decorrer do tempo.

O princípio da efetividade do processo ordena que os processos devem


corresponder efetivamente à finalidade a que se destinam. Um processo
efetivo é aquele que observa a segurança processual e a duração razoável,
proporcionando às partes uma resposta efetiva ao litígio, no sentido de que a
controvérsia será resolvida em seu mérito, sem que haja o perecimento do
direito em virtude do decorrer o tempo ou de quaisquer outras situações que
tangenciem o processo judicial.
Nesse sentido, a reconvenção é um instrumento jurisdicional
interessante, porque possibilita uma contra argumentação da parte ré nos
mesmos autos do processo movido em face de si. Isso caracteriza,
evidentemente, uma economia processual, mas também uma celeridade e
efetividade, no sentido de que não é necessária a interposição de uma nova
ação judicial para que o réu realize alegações contra o autor originário, o que
gera uma maior demanda ao judiciário e também possui um prazo de
processamento mais moroso. Portanto, a reconvenção não é apenas uma
forma de resposta do réu, mas sim um mecanismo jurisdicional de garantia de
princípios constitucionais, como a celeridade processual.
Por mais que a reconvenção acompanhe a contestação, ela deve
seguir os mesmos requisitos que uma ação (petição inicial), porque a sua
própria natureza é de ação, e não meramente defesa. É neste sentido, que se
relaciona que a reconvenção deve seguir, obrigatoriamente, os requisitos
elencados no artigo 319 do CPC/2015. A fim de recordar elementos
importantes de uma reconvenção, observe-se a tabela a seguir:
 Quadro síntese sobre elementos de uma reconvenção:

Fonte: BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática no processo civil. 9. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 142.

Portanto, por mais que os elementos da petição inicial dos incisos I e II


do artigo 319 do CPC/2015 (juízo a que é dirigida e nomes, os prenomes, o
estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição
no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica,
o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu) já estarem
especificados na ação originária, é importante e mencioná-los brevemente na
reconvenção, em virtude da observância da técnica processual adequada.
Contudo, o mais importante a ser referenciado na reconvenção são os incisos
III, IV, V, VI e VII do artigo 319 do CPC/2015 (o fato e os fundamentos jurídicos
do pedido; o pedido com as suas especificações; o valor da causa; as provas
com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; a opção
do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação).
Por mais que a reconvenção não necessite seguir à risca as
formalidades legais para assim ser reconhecida pelo juízo, é importante que
ela demonstre todos esses elementos. Na prática cotidiana, é comum uma
reconvenção ser reconhecida pelo juízo, mesmo que não esteja claramente
indicada na peça contestatória. Muitas vezes, um pedido realizado na
contestação já a transmuta em uma contestação com reconvenção. Por outro
lado, quando os textos da contestação e da reconvenção se encontram
mesclados, pode-se incorrer em problemas relativos à confusão de dados e
declarações que inviabilizem uma leitura e interpretação clara pelo
magistrado. Portanto, mesmo que toda essa estruturação da redação da
reconvenção não seja obrigatória, ela é importante para fins de organização
e interpretação do magistrado.
Assim,

Não obstante ter natureza jurídica de ação, a reconvenção é


oferecida dentro da própria contestação, com distribuição por
dependência (art. 286, parágrafo único), justamente para a hipótese
de a ação principal ser extinta (art. 343, § 2º). Cumpre registrar que
para se considerar proposta a reconvenção não há necessidade de
uso desse nomen iuris, ou dedução de um capítulo próprio,
bastando ser inequívoco o pedido de tutela jurisdicional qualitativa
ou quantitativamente maior que a simples improcedência da
demanda inicial (Enunciado 45 do FPPC). (LOURENÇO, 2021, p.
260).

Nessa senda, destaca-se o Enunciado 45 do Fórum Permanente de


Processualistas Civil, que dispõe:

Para que se considere proposta a reconvenção, não há


necessidade de uso desse nomen iuris, ou dedução de um capítulo
próprio. Contudo, o réu deve manifestar inequivocamente o pedido
de tutela jurisdicional qualitativa ou quantitativamente maior que a
simples improcedência da demanda inicial. (FÓRUM
PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS, 2020, s.p.).

Logo, independentemente da formalidade, se, em uma contestação,


algum pedido for reconhecido pelo magistrado como de natureza de contra-
ataque a parte autora (natureza de ação), estará caracterizada a reconvenção
e será apreciada como tal. Contudo, isso não significa que a boa prática
processual deva ser desconsiderada. Ainda é importante guardar as regras
de formatação e subdivisão das partes de uma contestação seguida de
reconvenção, a fim de demonstrar maior organização na matéria defensiva.
Essa organização será benéfica tanta para a apreciação da matéria pelo
magistrado quanto para a própria organização dos argumentos defensivos do
procurador da parte. É por esse motivo que a subdivisão clara nas peças
processuais de contestação e reconvenção são consideradas aspectos de
uma boa prática jurídica.
Da mesma forma que a reconvenção não carece necessariamente de
um apontamento explícito, ela pode ser interposta sem a necessidade da
contestação. A reconvenção é uma peça processual autônoma, porém, cujo
prazo de apresentação é concomitante à contestação e que deve ser
apresentada em anexo à peça contestatória. Assim, é possível também que
ela seja apresentada sem que esteja acompanhada da contestação. Contudo
a boa prática processual afirma que o ideal é apresentar a reconvenção em
conjunto com a contestação, e não apenas reconvir, deixando de contestar.
Isso porque se a contestação deixar de ser apresentada, se, por ventura a
reconvenção não ser reconhecida, haverá os efeitos da revelia para a parte
demandada. Da mesma forma, se a reconvenção não elencar os fundamentos
que a peça contestatória poderia ter elencado, estará também caracterizada
a revelia. Logo, para preservar o direito da parte demandada é importante que
o profissional jurídico se empenhe em apresentar tanto a contestação quanto
a reconvenção.
Nesse contexto, pode surgir o seguinte questionamento de ordem
prática:

É possível apresentar a reconvenção e, posteriormente, a


contestação?
De acordo com a doutrina, isso não é possível. A legislação é clara ao
afirmar que a reconvenção deve ser apresentada em conjunto com a peça
contestatória ou de forma autônoma, porém, nos mesmos prazos processuais
que a contestação. Não é possível ingressar com a reconvenção em juízo e,
posteriormente, contestar. Isso porque vale a máxima de que os argumentos
e instrumentos processuais deixados de serem utilizados no momento
oportuno, sofrem os efeitos da preclusão. Assim, a resposta ao
questionamento de ordem prática é que não é possível apresentar
reconvenção e posteriormente apresentar a contestação. Ambas devem ser
apresentadas em conjunto ou então de forma autônoma, mas, ao optar pela
interposição de apenas um destes instrumentos processuais, estar-se-á
abrindo mão do outro.

Mesmo que a contestação seja protocolada dentro do prazo legal, se


antes houver sido protocolada a reconvenção, a pretensão contestatória
estará preclusa. Não se trata apenas de uma questão e prazo processual, mas
sim da própria ordenação das peças a serem apresentadas em juízo. Então,
se a reconvenção for apresentada e, posteriormente, o procurador desejar
ingressar com a contestação, mesmo se dentro do prazo legal, tal pretensão
estará preclusa.

Contudo, se for interposta a contestação sem reconvenção, é possível


que ainda haja alternativas para que a parte demandada exerça seu direito de
contra-ataque. Porém, não se valerá do instrumento da reconvenção, mas sim
de uma ação autônoma. A reconvenção possui natureza de ação autônoma e
só se insere neste contexto de apresentação em conjunto da contestação para
fins de celeridade e efetividade do processamento da demanda. É possível
que, se a reconvenção estiver preclusa, a parte demandada ingresse com
ação autônoma. Entretanto, nestes casos deve-se estar ciente de quer há
possibilidade de que a ação seja suspensa por motivos de conexão com a
ação originária. É por este motivo que, se houver possibilidade de
reconvenção, ela deve ser interposta em conjunto com a peça contestatória.
É a melhor estratégia jurídica, sendo que as outras hipóteses se aplicam
subsidiariamente, em casos de esgotamento de prazos processuais.
Por outro lado, apresentada a reconvenção,

pode o magistrado determinar a sua emenda (art. 321) para evitar


a sua rejeição prematura e, sendo recebida, será o autor reconvindo
intimado, na pessoa do seu advogado, para contestá-la (art. 343, §
1º) no prazo de 15 dias, recebendo o advogado tal poder por força
de lei. Frise-se que não sendo apresentada tal contestação, será
possível a incidência dos efeitos materiais da revelia (art. 344).20
Tendo sido apresentada contestação com reconvenção, o autor
será intimado para contestar a reconvenção, podendo, com a
mesma intimação, ser instado a manifestar-se sobre a contestação
(ato denominado, na prática, de réplica), previsto nos arts. 350/351.
(LOURENÇO, 2021, p. 260).

Um ponto que deve ser ressaltado é que nos juizados especiais regidos
pela lei n. 9.099/1990 não cabe reconvenção. Ela é substituída pelo pedido
contraposto que já foi objeto de estudo neste módulo. Sobre os principais
aspectos de semelhanças e diferenças entre reconvenção e pedido
contraposto, pode-se observar o seguinte quadro síntese:

 Quadro síntese sobre reconvenção e pedido contraposto:

Fonte: LOURENÇO, Haroldo. Processo Civil Sistematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense;
Método, 2021. P. 260

E, por fim, o último aspecto importante sobre os pressupostos da


reconvenção é a competência. Deve-se ressaltar sempre que a competência
da reconvenção é absoluta, definida por dependência. Isso significa que o
juízo competente para julgar a reconvenção é o mesmo juízo que está
processando a ação principal. Se a reconvenção for interposta em juízo
incompetente, será resolvida sem resolução de mérito, pois possuirá um vício
processual gravosos, em virtude da não observância da incompetência
absoluta.
Contudo, não é incomum existirem contestações e reconvenção que
interpelam o reconhecimento da incompetência do juízo da ação principal
diante do magistrado. Nestes casos específicos, pode surgir o seguinte
questionamento prático:

Em caso de conflito de competência, onde protocolar a reconvenção?

Para solucionar essa questão, deve-se sempre retornar à máxima de


que a reconvenção é de competência absoluta do juízo ao qual pertence a
ação originária e, portanto, não poderá ser interposta em juízo distinto.
Contudo, para sanar esta problemática, observada a incompetência do juízo
da ação principal, ao invés de reconvenção, a parte ré/demandada pode
ingressar com uma nova ação judicial no juízo competente. A parte não
deixará de contestar e reconvir, contudo, apresentará ainda uma ação sob os
mesmos fundamentos da reconvenção, a fim de buscar o reconhecimento e
resguardo de seus direitos sobre todas as vias possíveis. Mais informações
sobre esse pressuposto da reconvenção estão elencadas no próximo tópico
do estudo.
Aula 03 – Reconvenção

Prosseguindo com o estudo sobre os requisitos ou pressupostos para a


reconvenção, nesta terceira aula, são abordadas questões sobre a identidade
do procedimento e a conexão na reconvenção. Também serão destacadas
situações exemplo para melhor figurar as questões teóricas abordadas. E, por
fim, inicia-se a abordagem sobre os casos em que não se admite a
reconvenção.
É importante, em sede inicial, retomar que a competência para análise
da reconvenção é definida por dependência. Isso significa que o magistrado
competente para o julgamento da reconvenção é o mesmo que está
analisando o mérito da ação principal/originária. Essa competência é absoluta,
isto é, não se admite uma reconvenção apresentada em juízo distinto da ação
originária. Em 2008, o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região destacou
veementemente em sua jurisprudência o seguinte trecho:

COMPETÊNCIA PARA APRECIAR A RECONVENÇÃO. A


competência para apreciar a Reconvenção é do Juiz da causa
principal, desde que a possua de forma plena (funcional e/ou
absoluta), não se podendo desconsiderar o quanto foi decidido em
face da causa principal, pois estas se pautam no mesmo objeto ou
causa de pedir. (TRT-5 – RO, Data de Publicação: DJ 13/10/2008).

Esse é um julgado importante porque descreveu claramente a ideia que


estava já firmada antes do advento do Código de Processo Civil de 2015 sobre
a competência absoluta da apreciação da reconvenção.

Destaque-se que a reconvenção possui natureza de ação judicial e,


portanto, o réu reconvindo poderá apresentar sua defesa na réplica. Se houver
uma reconvenção proposta em juízo incompetente, essa pode ser uma matéria
de defesa processual a ser alegada pelo réu reconvindo. Como se trata de
competência absoluta, ela pode ser alegada a qualquer tempo, pois não sofre
os efeitos da preclusão. Também pode ser reconhecia de ofício. Tem como
consequência jurídica a resolução do tema proposta na reconvenção sem
resolução de mérito, pois ela é acessória a ação principal. A ação principal não
é resolvida pela alegação de incompetência absoluta da reconvenção. Da
mesma forma, se a reconvenção for inadmitida, estará preclusa, e o réu
reconvinte só poderá se manifestar de forma ativa no processo em sede
recursal.

Destacados esses aspectos sobre a competência, é possível analisar a


questão da identidade de procedimento como pressuposto/requisito de
reconvenção. Identidade de procedimento significa a identificação com algum
procedimento jurisdicional cível. No Brasil, a justiça possui os seguintes
procedimentos: procedimento comum e procedimento especial. O
procedimento comum pode ser considerado o procedimento residual, no
sentido de que o procedimento especial depende de legislação específica.
Assim, o

Procedimento especial: é aquele disciplinado pela lei. Ex:


mandado de injunção, habeas data, ação civil pública.
Procedimento comum: é aquele que não há procedimento
especial previsto em lei para que seja solucionado o conflito.
(JUSBRASIL, 2015, s.p. Grifo próprio).

Exemplificativamente, uma ação de revisão contratual não possui


legislação específica, apenas as diretrizes gerais do CPC/2015. Essa ação
seguirá seu processamento no procedimento comum. Por outro lado, uma
ação de alimentos será processada no procedimento especial, porque possui
uma legislação específica que dispõe sobre peculiaridades sobre esse tipo de
ação. O procedimento especial diferirá do procedimento comum no que a lei
específica dispuser.
Nesse sentido, a identidade processual como pressuposto da
reconvenção diz respeito ao processamento da demanda. Apesar de a
reconvenção ser uma peça processual autônoma em relação à contestação,
ela não o é em relação à petição inicial do processo. Isso significa que a
reconvenção é acessória a ação principal. Como acessória, ela precisa manter
uma identidade com a ação principal. Essa identidade diz respeito à relação
de correspondência com a ação principal.

Portanto, a identidade de processamento diz respeito à obrigatoriedade


que a reconvenção tem de seguir o mesmo procedimento que a ação principal.
Não é possível, assim, ingressar com uma ação no procedimento comum e
interpor reconvenção no procedimento especial. Em razão da identidade de
processamento, a reconvenção deve seguir, obrigatoriamente, o mesmo
procedimento que a ação principal.

A conexão é o próximo pressuposto da reconvenção a ser abordado


nesta aula. A conexão aqui mencionada não possui o mesmo sentido da
conexão elencada no artigo 337 do CPC/2015, que trata da preliminar
processual como matéria de defesa na contestação.

A conexão como pressuposto da reconvenção diz respeito à relação que


a reconvenção deve manter com a ação principal (petição inicial). Essa relação
é manifestada em duas dimensões:
a) Relação com o pedido ou causa de pedir: trata-se da conexão
obrigatória que deve existir entre a reconvenção e os fatos e/ou
pedidos da petição inicial.
b) Relação com os fundamentos da defesa (contestação): trata-se
da conexão obrigatória que a reconvenção deve possuir com a
contestação. A contestação, por sua vez, possui uma relação direta
com a petição inicial, isto é, com a ação originária. Assim, essa
conexão é reconhecida como indireta, pois, apesar de a
reconvenção não estar diretamente relacionada com os fatos ou
pedidos da ação original, ela está relacionada com os fundamentos
da contestação.

A título exemplificativo, pode-se pensar em uma situação hipotética de


ação de execução baseada em obrigação contratual contraída. A execução se
baseia no inadimplemento das condições de pagamento. Contudo, em sede
de reconvenção, o demandado alega nulidade do contrato. Trata-se de uma
conexão direta com a ação originária, no sentido de que se baseia nos mesmos
fatos (causa de pedir) da ação.
Por outro lado, é possível citar o caso do julgado pelo Tribunal de Justiça
de Minas Gerais em 2018, versando sobre o pagamento de honorários
advocatícios. Tratava-se de ação monitória na qual o réu reconvinte solicitava
o pagamento do dobro do valor atribuído à causa como pena por litigância de
má-fé. Nas palavras do Tribunal,

Nos termos do art. 343 do CPC, é indispensável à reconvenção a


existência de conexão com a ação principal ou com os
fundamentos de defesa. Quanto à conexão com os fundamentos
de defesa, o réu deve alegar fato novo impeditivo, extintivo ou
modificativo do direito do autor, servindo, ao mesmo tempo, como
fundamento de defesa e do pedido reconvencional. Em relação
à conexão com a ação principal, deve-se atentar ao disposto no
art. 55 do CPC, onde preceitua que são conexas duas ou mais
ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir. No
caso dos autos, a ação principal é uma ação monitória e o
pedido reconvencional de pagamento de diárias dos bens móveis
se refere a uma ação de indenização, na qual resta claro que não
há conexão entre as ações, eis que a causa de pedir é totalmente
diverso. (TJMG, Data de Publicação, DJ: 14/12/2018).

No caso em questão, o tribunal reconheceu que o pedido formulado em


sede de reconvenção que buscava aumentar o valor da causa do processo
como forma de sanção devido à alegação de litigância de má-fé pelo réu
reconvindo não guardava conexão com o pedido ou causa de pedir, bem como
com os fundamentos da contestação. Isso significa que a relação que deve
haver na reconvenção com esses pressupostos é essencial para o mérito da
demanda, e não pode se referir a uma questão tangente ou a uma tentativa de
retaliação entre as partes. Nesse sentido, deve-se retomar o caput do artigo
343 do CPC/2015, que dispõe: Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor
reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a ação
principal ou com o fundamento da defesa. (BRASIL, 2015, s.p. Grifo nosso).
O último pressuposto da reconvenção a ser analisado nesta aula é a
interesse processual, que já foi abordado anteriormente neste módulo do
estudo. O interesse processual “pressupõe, além da correta descrição da
alegada lesão ao direito material, a aptidão do provimento solicitado para
protegê-lo e satisfazê-lo” (LUCON, 2017, s.p.). Trata-se, portanto, do interesse
que a parte possui no processo, no sentido de que seu objeto ou direito possua
alguma relação substancial com ela. Deve-se frisar que

A doutrina, comumente, distingue interesse substancial de interesse


processual. O segundo é exercido para a tutela do primeiro. O
interesse processual é secundário e instrumental em relação ao
interesse substancial (primário). O interesse substancial recai sobre
o bem da vida que se busca proteger, já o interesse processual recai
sobre a tutela jurisdicional pleiteada. (LOURENÇO, 2021, p. 105).

Da mesma forma que só pode propor uma ação ou interpor uma


contestação uma parte que possua efetivo interesse processual na demanda,
o interesse processual deve ser mantido também na reconvenção. Não é lícito,
portanto, a apresentação de reconvenção por um terceiro não interessado na
causa.
Estes são, portanto, os pressupostos/requisitos da reconvenção, a
retomar:
a) Competência;
b) Identidade de Processamento;
c) Conexão com a ação principal;
d) Interesse processual.
A fim de sintetizar tais pressupostos e requisitos, observe-se o quadro
síntese a seguir:
 Quadro síntese sobre os requisitos da reconvenção:

Superados esses aspectos relativos a esses pressupostos, pode-se


partir para o próximo assunto desta aula, que é referente às hipóteses nas
quais não cabe reconvenção. Existem casos que devido ao procedimento
especial norteado pela legislação específica não admitem a reconvenção.
Assim, não cabe reconvenção nos seguintes casos:
a) Processos de execução e cumprimento de sentença;
b) Ação de divórcio;
c) Ação de alimentos norteada pelo procedimento especial;
d) Ação popular;
e) Ação de falência;
f) Ação de partilha;
g) Procedimento dos Juizados Especiais.
Para fixar melhor o conteúdo, observe-se o quadro síntese a seguir:
 Quadro síntese sobre hipóteses em que não cabe reconvenção:

Em processos de execução e cumprimento de sentença não cabe


reconvenção porque não se trata de um processo de conhecimento. A
reconvenção é peça que deve ser apresentada em conjunto com uma
contestação. Em processos de execução e cumprimento de sentença não há
momento processual para apresentação de contestação, logo, não há
momento para a reconvenção.

Assim, deve-se ressaltar que em a reconvenção só cabe no processo


de conhecimento. Em execução e cumprimento de sentença não cabe
reconvenção.

Da mesma forma, em situações como ação de divórcio, ação de


decretação de falência e em partilhas a reconvenção não cabe devido à
natureza da ação proposta. Por outro lado, no caso da ação popular, a
reconvenção não é devida diante da indeterminabilidade das partes
envolvidas. Na ação popular é possível que uma coletividade seja
representada para que se ingresse com uma ação, contudo, não é possível a
interposição de reconvenção justamente porque a parte autora da demanda é
uma representação. A reconvenção só pode ser reformulada em face do autor
específico da demanda, que será o réu reconvindo. Na impossibilidade de
identificar os autores específicos em uma ação popular, não se pode ingressar
com reconvenção.
Também na ação de alimentos a reconvenção não é possível e isso se
deve ao fato de que a lei de alimentos estipula um procedimento especial no
qual não cabe a reconvenção. A ação de alimentos que aqui é referida é a
regida pela lei n. 5.468/1968 que determina o procedimento especial dessa
demanda judicial.
E, por fim, a reconvenção não é cabível nos procedimentos dos
Juizados Especiais cíveis. Devido aos princípios que regem o procedimento
dos juizados especiais, vinculados à celeridade e simplicidade dos atos
processuais, a reconvenção não é admitida. Contudo, isso não significa que
nestes casos o réu não pode contra-atacar a parte autora. Ao invés da
reconvenção, nos juizados especiais se admite o pedido contraposto.
Mais informações sobre essas situações em que a reconvenção não é
admitida serão abordadas na próxima aula deste tema.
Aula 04 – Reconvenção

Dadas as especificidades da reconvenção, muitos questionamentos


podem insurgir relativos às hipóteses de cabimento ou não de reconvenção.
Como observou-se anteriormente, diversos procedimentos especiais não são
passíveis de reconvenção, como é o caso da ação de divórcio, ação de
alimentos, possessórias ou procedimentos submetidos ao juizado especial.
Contudo, ainda nos procedimentos comuns que admitem reconvenção
permanecem algumas dúvidas. Nesta última aula sobre reconvenção,
portanto, serão explicadas algumas dessas questões importantes que podem
surgir quando se está no cotidiano da prática processual cível.
Uma primeira questão interessante é referente à resposta à
reconvenção. Assim como a parte ré/demandada possui o direito de resistir
contra a pretensão da parte autora/demandante, o mesmo se aplica ao réu
reconvindo. A reconvenção, por possuir natureza de ação, admite que a parte
atingida pelos seus argumentos se defenda. Normalmente, essa defesa é
interposta por intermédio da réplica no processo civil. Contudo, é possível que
uma segunda reconvenção seja formulada, dessa vez pelo réu reconvindo,
juntamente com a réplica. Nesses casos, se está diante da reconvenção
sucessiva.

Segundo Barroso Moura (2017, s.p.), a questão que melhor descreve a


reconvenção sucessiva é a seguinte: “para as situações em que é possível o
exercício da reconvenção, é permitido, quando for intimado para apresentar
sua manifestação, ao reconvindo, o protocolo de uma nova reconvenção?”. A
resposta a este questionamento, por sua vez, é a seguinte: “é lícito ao
reconvindo deduzir uma nova desde que a primeira reconvenção tenha sido
fundamentada nos fundamentos de defesa do réu” (MOURA, 2017, s.p.).
Nesse sentido é importante mencionar o Recurso Especial n. 1690216,
do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O recurso foi interposto em 2017 e
versava sobre o direito do consumidor. Em 2020, no julgamento do referido
recurso, o STJ firmou a tese que reconhece que a reconvenção sucessiva é
possível na medida em que seu exercício seja viável a partir da questão
suscitada em sede de contestação ou da primeira reconvenção. O recurso
versava sobre um acórdão proferido no Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul que não reconhecia a reconvenção sucessiva. O entendimento
do STJ sobre o tema foi de que inexiste vedação legal a propositura de
reconvenção sucessiva, exceto na hipótese de ação monitória, nos termos do
artigo 702, parágrafo 6º, do CPC/2015: “§ 6º Na ação monitória admite-se a
reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção”
(BRASIL, 2015, s.p.).
Não obstante, a decisão também reconheceu que a reconvenção
sucessiva não é prejudicada pelo tema repetitivo 622 do STJ, que dispõe:

A aplicação da sanção civil do pagamento em dobro por cobrança


judicial de dívida já adimplida (cominação encartada no artigo 1.531
do Código Civil de 1916, reproduzida no artigo 940 do Código Civil
de 2002) pode ser postulada pelo réu na própria defesa,
independendo da propositura de ação autônoma ou do manejo de
reconvenção, sendo imprescindível a demonstração de má-fé do
credor. (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2016, s.p.).

Segundo o voto da relatora do Recurso Especial, Ministra Nancy


Andrighi, tal precedente simplesmente autoriza a arguição da repetição de
indébito desde que a matéria contasse na contestação. Por outro lado, nada
diz a respeito a proibição de sua arguição a partir dos argumentos elencados
em sede de reconvenção. Portanto, não é uma disposição que pode ser
interpretada no sentido de desautorizar a reconvenção.
A reconvenção sucessiva não pode ser confundida com o pedido
contraposto nas ações dúplices. O pedido contraposto, como observado
anteriormente, é uma modalidade de resposta do réu de características de
ação principal, mas não é o mesmo que a reconvenção. Deve-se retomar que
as ações dúplices possuem duas acepções:
(i) processual: é toda aquela em que se admite um contra-ataque
interno à contestação, por exemplo, em um pedido contraposto,
como nos Juizados Especiais Cíveis, nas ações possessórias (art.
556 do CPC/2015), ações renovatórias de locação comercial (art. 74
da Lei 8.245/91) e na ação de exigir contas (art. 550 do CPC/2015).
Cumpre registrar que com o CPC/2015 a reconvenção passou a ser
realizada na contestação, semelhante ao pedido contraposto (art.
343 do CPC/2015). (ii) Material: é aquela que veicula um direito, cuja
contestação do réu serve, a um só tempo, como defesa e ataque, ou
seja, a contestação é também um ataque. Sendo hipótese de ação
materialmente dúplice, não há opção ao réu, pois ao contestar,
automaticamente, já se estará atacando, ressalvada a hipótese de
reconvenção com pretensão distinta à da ação principal.1 Os
exemplos de ações materialmente dúplices são os mais diversos: a)
ação de oferecimento de alimentos (o filho, ao se defender, já está
afirmando que a oferta é pequena e, sendo acolhido o pedido do
autor, não obstante este ser o vencedor, o réu é que executará o
julgado. Enfim, as posições de autor e réu se misturam); b)
consignação em pagamento: com o ajuizamento, o autor se diz
devedor; com a contestação, o credor-réu, afirmando ser a quantia
insuficiente, já está atacando; c) ação de desapropriação: o ente
público oferece o valor “X” e o expropriado, contestando, afirma que
o valor é de “X + 300”, por exemplo. (LOURENÇO, 2021, p. 98).

Nesse sentido, as ações dúplices podem ser definidas como ações nas
quais os polos da demanda (ativo e passivo) se confundem mutuamente. As
ações que permitem o pedido contraposto são denominadas processualmente
dúplices (LOURENÇO, 2021). São ações regidas por legislações específicas
e, portanto, seguem o procedimento especial. Isto porque o pedido contraposto
apenas pode ser formulado em casos específicos em que a lei especial
permite.
A principal característica distintiva, portanto, entre reconvenção e
pedido contraposto é que o pedido contraposto se manifesta nos
procedimentos especiais das ações dúplices, por intermédio de um pedido na
contestação. A reconvenção é mais elaborada e abrangente, tendo em vista
também o fato de que o pedido contraposto deve estar limitado aos
argumentos da petição inicial. Assim, enquanto que a reconvenção pode
alegar novos fatos e argumentos, o pedido contraposto não pode fazê-lo,
estando estritamente limitado ao que já foi demonstrado na petição inicial.
Destarte, pedido contraposto em ações dúplices não se confunde com a
reconvenção sucessiva.
Esses são, portanto, aspectos importantes sobre os casos em que
cabem ou não a reconvenção, e suas distinções entre pedido contraposto e
reconvenção sucessiva. Em sede de análise final desta aula, partem-se para
outras questões igualmente importantes sobre a reconvenção, quais sejam:
ampliação subjetiva e objetiva, recurso cabível, procedimento e intimação.
Ao se falar sobre a ampliação subjetiva ou objetiva é preciso, antes,
definir o que significa tal ampliação. Ampliação objetiva tem relação com o
objeto da demanda. A reconvenção possui capacidade para ampliar o objeto
de demanda, no sentido de que pode apresentar novos fatos e argumentos à
lide processual. Por outro lado, a ampliação subjetiva diz respeito aos sujeitos
da lide. Ampliar uma demanda judicial subjetivamente significa aumentar o
número de indivíduos vinculados aos polos ativo e passivo, isto é, ampliar o
número de autores/demandantes ou réus/demandados. Também significa a
possibilidade de inserir-se um terceiro polo na demanda, por intermédio da
intervenção de terceiros no processo.
Assim, a reconvenção possui capacidade de ampliar objetiva a
subjetivamente a lide. Isso porque a reconvenção, além de poder elencar
novos fatos e fundamentos ao processo, também permite que terceiros se
vinculem ao processo em litisconsórcio com a parte demandada (ré). Isso nos
termos do artigo 343, parágrafo quarto do CPC/2015: “ § 4º A reconvenção
pode ser proposta pelo réu em litisconsórcio com terceiro” (BRASIL,
2015, s.p.).
A ampliação do limite subjetivo da lide na reconvenção é muito
interessante, pois significa que o réu/demandado pode ingressar com uma
reconvenção sozinho ou em litisconsórcio com terceiro. Não é possível,
todavia, que um terceiro estranho ao processo ingresse com uma reconvenção
de forma autônoma, sem a presença do réu/demandado. Isso porque não há
reconhecido interesse processual no terceiro para ingresso de reconvenção,
uma vez que ela é uma forma de resposta do réu, e o terceiro não é parte do
processo. Assim, essa possibilidade de terceiro ingressante no processo por
intermédio de reconvenção só é viável se ele estiver em litisconsórcio com o
réu reconvinte.
Um ponto interessante de se ressaltar, neste momento do estudo, é que
a reconvenção é distribuída por dependência a tramita no mesmo juízo da ação
principal. Isso não significa, contudo, que ela tramita em apenso à ação.

O trâmite em apenso significa que o documento foi anexado a um


processo. Isso o torna um acessório, vinculado necessariamente a existência
da ação principal. Nesse sentido, a reconvenção não é um mero documento
em apenso, porque nem sequer resguarda uma natureza acessória. Tanto é
que, mesmo se a petição inicial tiver seus pedidos indeferidos pelo juízo, a
apreciação da reconvenção permanecerá. Portanto, a reconvenção é um
processo autônomo formulado dentro de um processo já existente, e não um
processo acessório.

Deve-se ressaltar também que, em caso de indeferimento da


reconvenção, pode-se ingressar com os seguintes recursos: apelação ou
agravo de instrumento, dependendo da matéria analisada pelo juízo. Se a
reconvenção for apreciada em seu mérito, caberá apelação da decisão do
magistrado que indefere seus pedidos. Contudo, se a reconvenção for
indeferida liminarmente, isto é, sem análise de seu mérito, caberá agravo de
instrumento.
Sobre tais recursos, observe-se o que a doutrina dispõe sobre a
apelação e o agravo de instrumento:

Assim, a apelação é o recurso, em regra, adequado a se atacar as


sentenças, com ou sem resolução de mérito, proferidas no processo
civil (art. 1.009 do CPC), que vierem a pôr fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extinguir a execução (art. 203, §
1º c/c art. 316), dentro do prazo de 15 dias úteis (art. 1.003, § 5º, c/c
o art. 219 do CPC/2015). (LOURENÇO, 2021, p. 621).

E, sobre o agravo de instrumento, é importante destacar que


O agravo de instrumento passou a ser admissível às situações
previstas em lei, ou seja, o rol do agravo de instrumento é, em tese,
taxativo, portanto sempre estará em um catálogo legal, o que não
significa que seja somente o CPC tal lei, muito menos que seja
somente o art. 1.015, como se percebe do art. 354, parágrafo único,
e do art. 356, § 5º, em que há outras hipóteses de agravo de
instrumento, contudo, mais a frente faremos maiores considerações
sobre essa taxatividade. (LOURENÇO, 2021, p. 630).

Portanto,

A apelação é o recurso cabível contra sentenças, enquanto que o


agravo de instrumento é um recurso cabível às decisões interlocutórias
elencadas no artigo 1.015 do CPC/2015.

As hipóteses de admissão de agravo de instrumento pelo rol do artigo


1.015 do CPC/2015 são as seguintes:

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões


interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do
pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos
embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra
decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença
ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no
processo de inventário. (BRASIL, 2015, s.p.).

Apesar de nenhuma dessas hipóteses trazer claramente a menção à


reconvenção, a jurisprudência de diversos tribunais de justiça em todo o Brasil
reconhece a procedência de agravo de instrumento contra decisão de
indeferimento liminar da reconvenção. A exemplo disso, relaciona-se o
entendimento de que

o ato de indeferimento da ação de reconvenção é uma decisão


interlocutória que estaria suscetível ao recurso denominado agravo
de instrumento, respeitadas as demais tendências que provêm de
amplos estudos jurídicos sob a liderança de ilustres processualistas
em inúmeras opiniões amadurecidas pela sabedoria e experiência
da pesquisa científica que merecem profundo respeito e admiração.
(MALAQUIAS, 2015, p. 11).

Portanto, destaca-se o entendimento de que o recurso cabível contra a


decisão que indefere liminarmente a reconvenção é o agravo de instrumento.

Em sede de análises finais sobre a reconvenção, duas questões


permanecem importantes de destaque. A primeira é a questão da intimação da
reconvenção e, a segunda, da relação entre os pedidos da petição inicial e da
reconvenção. A reconvenção pode ter natureza de ação, porém, ela não
implica na existência de uma citação. A citação é o meio pelo qual a parte é
chamada a responder um processo judicial, é a primeira comunicação sobre a
demanda, que dá ciência de sua existência à parte. Contudo, na reconvenção,
ambas as partes já têm ciência do processo e, como ela é formulada nos
mesmos autos que a contestação, o réu reconvindo será intimado a respondê-
la, e não citado. Portanto, a reconvenção origina uma intimação.
Contudo, a intimação da reconvenção gera os mesmos efeitos que uma
citação. Assim, fala-se que a intimação da reconvenção tem efeitos de citação.
E isso tem uma série de implicações jurídicas, dentre as quais, destacam-se
as constantes no artigo 240 do CPC/2015:

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo


incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui
em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena
a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à
data de propositura da ação.
§ 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as
providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não
se aplicar o disposto no § 1º.
§ 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável
exclusivamente ao serviço judiciário.
§ 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência
e aos demais prazos extintivos previstos em lei.

Destarte, o instrumento jurídico de cientificação da reconvenção é a


intimação, porém, essa intimação possui os mesmos efeitos jurídicos de uma
citação.

Ainda referente à intimação da reconvenção, a parte poderá ser


cientificada na pessoa de seu advogado. Contudo, não se abre novo prazo
para audiência de mediação ou conciliação, como ocorre quando há uma
demanda ajuizada (petição inicial). O trâmite seguirá diretamente para a
resposta do réu reconvindo.
Por fim, é importante mencionar que a petição inicial e a reconvenção
são autônomas em relação uma com a outra. Isso significa que o indeferimento
do pedido de uma das peças processuais não implica efeitos imediatos sobre
os pedidos da outra peça processual. Inclusive, é possível que ambas, petição
inicial e reconvenção tenham todos seus pedidos reconhecidos ou indeferidos.
Assim sendo,

A procedência da petição inicial não obsta a da reconvenção, e vice-


versa.

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