A Posição Nas Relações Amorosas Abusivas Contribuições Da Psicanalise
A Posição Nas Relações Amorosas Abusivas Contribuições Da Psicanalise
A Posição Nas Relações Amorosas Abusivas Contribuições Da Psicanalise
ABSTRACT: In this summary, it is evident that in contemporary times the discussion about abusive
love relationships has gained contours of evidence, reinforcing the need for this issue to be
addressed from different aspects. It is observed that in the legal and legal scope, public policies have
emerged, represented in the form of laws of protection and support for women who are victims of
abusive relationships permeated by the most diverse forms of violence. Through a theoretical
discussion, it is intended to shed light on abusive relationships, establishing reflections that allow
thinking beyond the social and legal reality, and to accomplish this purpose, we will resort to the
concepts proposed by Psychoanalysis. The aim of this study is, above all, to address dominant
views, legitimized by society and marked by a culture that places women as supporting actors in
different experiences. This article aims to show the importance of the analytical process, as an
important mechanism that allows reflection on the female position of subjection to abusive
relationships, aiming at changes and repositioning by women, in order to redirect their desire from
new possibilities, including breaking through devastating experiences and proposing new directions.
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Bacharelado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá. E-mail: [email protected]
2 Doutora em Psicanálise pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Docente da Graduação em Psicologia da Universidade Estácio de Sá –Polo
Campos dos Goytacazes. Rio de Janeiro. Brasil. Psicóloga do Hospital Ferreira Machado – Campos dos Goytacazes. Rio de janeiro. Brasil. E-mail:
[email protected]
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1. Introdução
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O homem necessita colocar a mulher numa posição de inferioridade, pra que assim,
possa exercer seus desejos de forma livre, sem restrições morais e julgamentos. Esse
modo de ser masculino corresponde a incapacidade que o homem tem em equilibrar as
dimensões afetivas e sexuais, necessitando, pois, de um objeto sexual depreciado para
satisfação de seus desejos sexuais. “É naturalmente, tão desvantajoso para uma mulher
se um homem a procura sem sua potência plena como o é se a supervalorização inicial
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Desse modo, o entendimento de que existe uma diferença anatômica entre os sexos
é uma das grandes descobertas na vida infantil da sexualidade feminina e deixará
consequências. Inicialmente podemos destacar o inconformismo diante de sentir-se
castrada, assim como, o desejo de ter o mesmo órgão sexual que o do menino, entende-
se que tais consequências desencadeadas pela “inveja do pênis” exercerão influências
sobre o desenvolvimento da sexualidade na menina, juntamente com a construção da sua
feminilidade.
A descoberta da diferença sexual traz para as meninas o complexo de castração.
Elas passam por um período em que acreditam terem o falo ou que este ainda iria crescer
e, posteriormente, reconhecem a diferença entre os órgãos sexuais. Todavia, elas se
comportam como se tivessem perdido o falo, trazendo consigo a ideia de castração. A
constatação sobre a perda fálica leva a menina leva ao desenvolvimento de complexos de
inferioridade em relação ao menino.
Nas meninas, a castração desencadeia sentimentos complexos relacionados a
autodepreciação e desvalorização, visto que acreditam na infância terem sido punidas
através da castração. A perda dos órgãos genitais, promoverá sentimentos de inferioridade
em relação a si próprias, só entendem posteriormente que a ausência do falo é
característica comum de todas as mulheres e percebem que a ausência não ocorreu por
conta de um castigo.
Entende-se que a natureza feminina está, portanto, vinculada ao desenvolvimento
de sua sexualidade que ocorre na vida infantil. As vivências originadas com a relação
afetiva com os pais, bem como as descobertas sexuais desencadeiam sentimentos e
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De acordo com Freud a neurose feminina está associada a “inveja do pênis”, ou seja,
ao sentimento de inferioridade desenvolvido em função da descoberta da falta do falo no
período que corresponde ao complexo de castração que ocorre a partir da diferenciação
genital infantil. Assim, a estrutura psíquica neurótica feminina se constrói a partir da falta,
do vazio, que gera insatisfação na mulher e a busca por preencher a falta.
É fundamental destacar o desejo insatisfeito como sendo um dos principais sintomas
da mulher histérica. O sintoma será sempre endereçado ao outro, ou seja, coloca-se a
expectativa no outro, como se a outra pessoa fosse capaz de corresponder ao ideal
esperado e satisfazer os desejos intrínsecos a mulher.
Entende-se a estrutura histérica como sendo uma estrutura predominantemente
feminina, justificando a posição assumida pelas mulheres nos diversos percursos de vida,
sobretudo nas relações amorosas. Dessa maneira, as mulheres tendem a permanecer
sustentando relações amorosas conflituosas, marcadas pelo desprazer em função do seu
desejo maior que é a satisfação dos seus desejos idealizados, verifica-se assim, o
permanente conflito psíquico entre prazer e desprazer tendo em vista que a realização
plena é um desejo inalcançável a humanidade.
Assim, em função do desejo, a histérica submete-se a experiências desprazerosas
consideradas uma forma de satisfação do desejo, tendo em vista que a satisfação total do
desejo não é possível de ser concretizada. O prazer é concebido como algo possível de ser
obtido, ainda que a partir da vivência de experiências não totalmente agradáveis. “Então,
pautado pela observação que relata no texto, Freud concluiu que essa capacidade de
repetir uma experiência desagradável está associada à sensação de produzir uma prazer
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Observa-se desse modo, que a resistência por parte das mulheres em aceitar o
acompanhamento psicológico torna-se um evento comum, tendo em vista que existe uma
barreira inconsciente que atua na ordem do desejo, do gozo e que muitas vezes o coloca
em primeiro plano, dificultando o rompimento de situações de violência mas que ao mesmo
tempo oferecem um ganho secundário na visão subjetiva da mulher.
O amor e a devastação são pontos importantes na clínica com mulheres. Na
falta do amor, o parceiro sintoma se manifesta com a devastação. Desta
forma, o gozo feminino, ilimitado, em excesso, tem efeito de devastação, ao
passo que o encontro com um homem, pelo acesso do amor, pode autorizar
alguma inscrição que limite esse gozo (SOUZA; PIMENTA, 2014, p.6).
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Freud aponta que o sujeito que quer viver o amor coloca-se numa posição de
extremismos, ao mesmo tempo vivencia fascinação e servidão pelo objeto de amor. Desse
modo, para a mulher, tudo que ela fizer em função do outro será válido, coloca-se na
posição que o outro determinar para vivenciar seu desejo de viver o amor.
A mulher se coloca como objeto de gozo do homem para que ele possa satisfazer
seus desejos e como consequência o homem lhe oferece proteção para seu desamparo e
preenche a falta, o vazio que sente. Dessa maneira, muitas mulheres matem-se na posição
de servidão como forma de satisfazer seu desejo em relação a este estar associado a
companhia do outro.
Freud a partir do conceito de narcisismo, aponta que as mulheres sentem a
necessidade de se sentirem amadas, sendo assim, permaneceriam em relacionamentos
abusivos, não porque amam o homem ou acreditam na sua mudança, mas pelo desejo de
serem amadas, mesmo que para viverem esse desejo tenham que se submeter a relações
tóxicas.
A fantasia feminina é se sentir plena e completa a partir da realização de seu desejo
de ser amada pelo outro, se sentir completa, preencher vazios, assim deposita na relação
amorosa a solução para se sentir segura e amparada. As mulheres que sofrem violência
querem na verdade continuar vivendo seu desejo, o seu gozo, o de ser amada, elas
demandam do amor do outro para não se sentirem fragilizadas.
O entendimento da permanência das mulheres nos relacionamentos abusivos não
ocorre pela via da objetividade, indo para a via da fantasia. Trata-se de questões
inconscientes que integram a subjetividade feminina, direcionando o desejo e colocando o
relacionamento como necessidade, depositando no mesmo a concretização da
completude, idealizada pela mulher.
Muitas mulheres suportam a violência, a dor na tentativa de realizarem o desejo de
viverem o amor, isso as fazem acreditar que tenham que passar pela dor para conseguirem
realizar o desejo de serem amadas, como se sentissem que após a dor serão
recompensadas (ganho secundário).
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Abrir mão do desejo é algo angustiante e conflituoso para as mulheres e por isso idealizam
que a mudança ocorrerá por parte do outro.
O rompimento do relacionamento abusivo exige um enfrentamento por parte da
mulher, de forma a assumir a responsabilidade de sua vida, elaborando suas questões e
aprendendo a lidar com seus desejos e angústias. Faz-se necessária a conscientização de
que não se deve atribuir a mudança ao outro, sendo preciso elaborar as questões da ordem
do desejo, manejando-o de forma equilibrada, reposicionando-se diante da vida e das
(im)possibilidades que a constituem.
Considerações finais
O artigo apresentou a problemática dos relacionamentos abusivos enfatizando a
posição feminina diante destas relações, abordando aspectos além das questões jurídicas
e sociais. Desse modo, entende-se que a posição de permanência ou a dificuldade de
rompimento das relações abusivas por parte da mulher está para além de aspectos da
consciência, pois se assim o fosse a ruptura ocorreria de maneira mais pragmática.
Tendo em vista a dificuldade, que as mulheres tem de assumir um posicionamento
de modo a romper com as relações amorosas devastadoras, compreende-se, que se trata
de algo para além da consciência, ou seja, trata-se da estrutura do inconsciente feminino,
que funciona de modo particular, sendo movida pelo desejo e direcionado por energias
pulsionais.
A pesquisa foi centrada na dimensão do funcionamento psíquico inconsciente.
Entretanto, torna-se necessário considerar que a subjetividade feminina embora apresente
predominantemente um funcionamento histérico, ocorre as particularidades na forma de
produzir os sintomas e vivenciar as situações, não sendo possível previsões deterministas
e nem um modelo classificatório para designar sentimentos e conflitos internos.
Entende-se que o papel de vítima atribuído à mulher por parte das leis, da sociedade
de modo geral e muitas vezes por parte da própria mulher dificulta a ruptura da situação de
sofrimento vivenciada.
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Referências
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