Bem Estar em Anestesiologia
Bem Estar em Anestesiologia
Bem Estar em Anestesiologia
Bem-estar
ocupacional em
anestesiologia
Editor
Gastão F. Duval Neto
Brasília
2013
Copyright © 2013 - Sociedade Brasileira de Anestesiologia
ISBN 978-85-87077-33-2
CDD 617.96
CDU 362:617.96
Sumário
Apresentação ................................................................................. 7
Prefácio da SBA .............................................................................. 9
Prefácio da WFSA .......................................................................... 11
Introdução ...................................................................................... 15
Parte 1 – Princípios e fundamentos em saúde
ocupacional .................................................................................... 17
Avaliação do bem-estar ocupacional dos
anestesiologistas em diferentes partes do mundo ......................... 19
Gustavo Calabrese Torchiaro
Airton Bagatini
Presidente da Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Seres humanos são falíveis por definição e, por isto, todos co-
metemos erros. A vida moderna não permite que erremos, haja
vista que tudo o que dá errado deve ser atribuído a uma falha
de alguém ou de uma organização, e estes devem pagar por seu
engano. Fato que aumenta o estresse de indivíduos que, frequen-
temente, sem razão óbvia erram.
David J. Wilkinson
Presidente da World Federation of Societies of Anaesthesiologists
1. Introdução
Os riscos ocupacionais e estilo de vida relacionados com a prática da
anestesiologia são motivo de preocupação na comunidade inter-
nacional de anestesiologia representada pela World Federation of
Societies of Anaesthesiologists (WFSA) e suas filiais, sobre os riscos
ocupacionais e estilo de vida relacionados à prática da anestesio-
logia. Por isso, o Comitê de Bem-estar em Anestesiologia da WFSA
realizou uma pesquisa mundial – Proffessional Wellbeing Work Party
– para alertar anestesiologistas sobre os riscos a que são expostos e
elaborar estratégias para melhorar sua qualidade de vida.
2. Evolução histórica
No início do século XX, a maior preocupação relacionada aos ris-
cos ocupacionais em anestesia eram os incêndios e explosões em
sala de cirurgia, ocasionados pelo uso de agentes inalatórios in-
flamáveis. Mais tarde, a contaminação do ambiente cirúrgico e a
inalação crônica dos gases anestésicos ganharam destaque.
3. Classificação
Atualmente, classificam-se os riscos ocupacionais em anestesiolo-
gia de acordo com o tipo de agente ou situação desencadeante,
destacam-se 1:
Incidência
A incidência de estresse ocupacional na população médica é de
28% 7 e entre os anestesiologistas essa incidência é claramente
mais alta, situando-se em 50% na Europa 8 e em 59% até 96% na
América Latina 9-11. Resultados semelhantes foram encontrados
em outras pesquisas que relacionam o estresse ocupacional a di-
versos aspectos da complexa atividade profissional do anestesio-
logista. A falta de controle sobre sua jornada de trabalho foi citada
em 83% dos casos, o comprometimento da vida familiar em 75%,
os aspectos médicos e legais em 66%, os problemas de comunica-
ção em 63% e os problemas clínicos em 61% 12.
••tipo de especialidade;
••complexidade do trabalho;
••ambiente estressante;
••falta de controle sobre a própria rotina;
••comprometimento da vida familiar;
••possíveis problemas médico-legais;
••desequilíbrio das expectativas profissionais;
••insegurança no trabalho.
Impacto familiar
É caracterizado por dificuldades para equilibrar a vida familiar,
isolamento, falha no relacionamento com os filhos, dificuldades
no relacionamento conjugal, falta de apoio emocional, divórcio e
destruição da família 1-4.
Impacto no emprego
Entre outras características, destacam-se a falta de interesse no
trabalho, absenteísmo, insatisfação, má qualidade de trabalho e
possibilidade de erros médicos, que podem ocorrer por negligên-
cia e resultarem problemas legais. Todas essas situações denigrem
a imagem do profissional e, por vezes, ocorre o abandono ou mu-
dança de especialidade médica, aposentadoria prematura e, em
Recomendações
Para a redução da prevalência de estresse ocupacional crônico
e suas consequências recomendam-se medidas preventivas em
relação aos fatores estressantes. Considera-se uma doença ocu-
pacional quando gerada por uma “responsabilidade compartilha-
da”, e a prevenção deve ser realizada a partir de três perspectivas:
nível pessoal, nível da equipe, nível institucional 15.O conceito de
prevenção primária é eliminar e/ou reduzir estressores; a preven-
ção secundária é a tentativa de detecção precoce da depressão e
ansiedade; e a terciária envolve a reabilitação e recuperação de
pessoas que sofreram 3,5,6,15.
Nível individual 15
Recomenda-se um processo pessoal de adaptação às expectati-
vas diárias:
Nível de equipe 15
Os colegas de trabalho são a chave para o diagnóstico e apoio.
Nível institucional 15
As empresas devem possuir um programa de saúde ocupacional
para o anestesiologista que inclua a prevenção de fatores estres-
santes, apoio psicológico, apoio a doenças físicas, prevenção e
tratamento de possíveis alterações comportamentais, abuso de ál-
cool e drogas, além de um programa de saúde mental específico15.
Síndrome de burnout
Diversas doenças físicas e mentais podem ser associadas ao es-
tresse ocupacional. A síndrome de burnout (anglicanismo bem
estabelecido) ou “ser queimado”, definida como a resposta física e
emocional ao estresse ocupacional 8,22-24, se destaca no panorama
atual. Burnout afeta a qualidade de vida e desempenho do profis-
sional. Os anestesiologistas podem ser incluídos na lista de profis-
sionais acometidos pela síndrome de burnout 1,8,24-34, caracteriza-
da pela exaustão emocional, despersonalização, sentimentos de
incompetência profissional e não cumprimento de metas 5,6,24-34.
Fatores de risco
A síndrome de burnout está associada ao desequilíbrio crônico e
cumulativo entre as demandas psicológicas e profissionais, além de
outros fatores relacionados à organização laboral, tais como 22-34:
••sobrecarga de trabalho;
••injustiça;
••falta de reconhecimento pelo trabalho realizado;
••conflitos de valores;
••dificuldades de relacionamentos entre os profissionais da
equipe;
••perda do controle sobre as tarefas executadas;
••burocracia excessiva e outras particularidades institucionais,
ambientais e pessoais.
Como se desenvolve?
O processo ocorre de forma insidiosa, progressiva, cumulativa
e crônica com tendência à negação. Em sua evolução, ocorre o
desgaste do idealismo pela falta de reconhecimento e realização
profissional, levando à exaustão emocional, despersonalização e
desvalorização e indiferença profissional que afeta a qualidade de
vida dos profissionais e a qualidade do atendimento ao pacien-
te 24-34.
Efeitos 24-34
Entre os sintomas da síndrome de burnout, destacam-se:
Recomendações
Considera-se uma doença ocupacional quando gerada por uma
“responsabilidade compartilhada”, e a prevenção deve ser reali-
zada a partir de três perspectivas: nível pessoal, nível da equipe,
nível institucional 15.
Nível pessoal 15
A prevenção pessoal é realizada por meio do conhecimento, edu-
cação, antecipação e controle dos fatores de estresse. A negação
deve ser evitada para não retardar o diagnóstico e a interven-
ção. É muito importante diminuir a intensidade da vida cotidiana,
aprender a dizer “não”, aprender a delegar. Deve-se ter em mente
que a principal dificuldade é a resistência, por parte do médico,
em admitir que existe um problema emocional e/ou psicológico,
para posterior aceitação do papel de paciente.
Nível da equipe 15
Colegas de trabalho possuem um papel importante:
Nível institucional 15
Empresas que tenham anestesiologistas em seu quadro de fun-
cionários devem desenvolver programas de saúde ocupacional
que incluam um programa de saúde mental, e oferecer aconse-
lhamento psicológico para os profissionais que apresentarem sin-
tomas da síndrome de burnout.
Organização do trabalho
O cenário de trabalho dos anestesiologistas sofreu grandes mu-
danças nos últimos tempos, devido aos efeitos da globalização
econômica, das novas regras e tendências de mercado e dos mo-
delos de gestão em administração de saúde 41,42. Nesse contexto,
os riscos ocupacionais relacionados com a organização do traba-
Fator de risco
Os fatores de risco ligados aos horários de trabalho inadequados
evidenciam um desequilíbrio entre a carga horária de trabalho e o
tempo para descanso e lazer 1,15,37-40.
Fatores causais
A jornada de trabalho do anestesiologista é marcada pelo excesso
de horas trabalhadas por dia/semana, no período diurno e notur-
no, horas extras, jornada prolongada, plantões noturnos seguidos
por trabalho durante todo o dia, levando a intensa sobrecarga de
trabalho, sem ambientes adequados para descanso médico 1,37-40.
Efeitos
Horários de trabalho inadequados podem desencadear distúr-
bios do ritmo circadiano, distúrbios do sono, fadiga, alterações
cardiovasculares, digestivas e interferir na vida familiar; portanto,
podem causar impactos principalmente sobre a saúde do pro-
fissional, fato que mais tarde se refletirá em seu desempenho e
na segurança ocupacional e do paciente 43,45. Alterações no ritmo
circadiano levam a alterações da digestão, sono, temperatura cor-
poral, secreção de adrenalina, pressão sanguínea e frequência car-
díaca e alterações comportamentais 46.
Recomendações
Aplicar normas que regulem limites de horas de trabalho na prá-
tica anestésica, como limites de horas por dia, horas contínuas ou
com intervalos para descanso, horas extras e horas trabalhadas no
período noturno, rodízio de plantões, momentos para descanso
entre os plantões, folgas semanais, férias anuais 1,66.
Abuso de drogas
Nos últimos anos a comunidade internacional de anestesiologia
apresenta efetiva preocupação com relação ao bem-estar ocupa-
cional, evidenciada pela pesquisa Professional Wellbeing Working
Party conduzida pelo Comitê de Bem-estar em Anestesiologista
da WFSA, que demonstrou que 42,9% das sociedades de aneste-
Incidência
Nos últimos anos, os problemas de consumo de drogas entre anes-
tesiologistas ganharam destaque. Estudos como os de Barreiro re-
latam maior tendência dos anestesiologistas em comparação aos
clínicos para o consumo de drogas e substâncias psicoativas 74. Hu-
ghes e Paris relatam que o consumo de opioides é mais comum
entre os anestesiologistas que em outras especialidades 75,76. Es-
tatísticas reais sobre o abuso, vício e dependência química entre
médicos e, especialmente, entre os anestesiologistas são difíceis de
obter. Por isso, as informações são extraídas em sua maior parte dos
estudos retrospectivos e/ou dos dados fornecidos por programas
de tratamento em estudos prospectivos.
Estudo realizado pela Clasa, em 2000, revelou que 16% dos anes-
tesiologistas da América Latina fazem uso de drogas ilícitas, 1,3%
sofrem de abuso de opiáceos e 0,4% utilizam sedativos e hipnóti-
cos 9. Relatório recente (2013) do Comitê de Riscos Ocupacionais
da Clasa mostra que foram registrados em seu banco de dados
156 casos de abuso de drogas nos últimos 10 anos, sendo 121 re-
lacionados com opiáceos, 20 com sedativos e 15 com hipnóticos 84.
Foram também registradas 140 consultas por abuso de drogas,
principalmente do consumo de opiáceos 84.
Fatores de risco
O abuso de drogas é uma situação complexa, afetada por diversos
fatores gerais e específicos.
Fatores gerais
São aqueles que se relacionam com qualquer tipo de dependência
de drogas e estão relacionados com a predisposição genética, fa-
tores psicossociais, biológicos, história pessoal e/ou familiar de
abuso de drogas 71-73. A predisposição genética contribui para a
progressão da dependência, momento em que se estabelece uma
base bioquímica cerebral relacionada com alterações no circuito
neurológico e mediada por receptores dopaminérgicos 71-73. A histó-
Fatores específicos
No caso dos anestesiologistas, os fatores específicos são 71-73:
Consequências
Deve-se entender a evolução do problema desde o consumo da
droga, abuso da droga, drogadição até que a dependência quími-
ca torna-se uma realidade na vida do anestesiologista, que, dete-
riorado, pode se envolver em graves problemas pessoais, familia-
res, profissionais e legais 71-73.
Consequências pessoais
Consequências pessoais são muito importantes e graves em al-
guns casos, levando a uma deterioração progressiva de suas
Morte e suicídio
As recaídas são frequentes entre anestesiologistas com histó-
ria prévia de dependência de opiáceos, bem maiores que entre
os viciados em drogas não opioides e álcool 89. A incidência de
recaídas em anestesiologistas que retornam às atividades variou
de 19% para 26% 90 até 40% 91, sendo a morte o desfecho da pri-
meira recaída em 16% 92 dos casos.
Consequências do trabalho
Devemos também observar que este problema pode afetar a ca-
pacidade de trabalho e impedir que o profissional desempenhe
suas funções diárias, além de oferecer menor segurança ao pa-
ciente, com maior incidência de acidentes anestésicos e erros por
negligência. A dependência pode exigir o abandono da especiali-
dade, com difícil retorno 71-73,95.
Consequências legais
As consequências legais para o anestesiologista são polêmicas,
pela complexidade da doença e pelas diferenças legislativas entre
os países. As leis de determinados países consideram o profissional
com abuso ou viciado em drogas como não capacitado e exigem
a mudança de especialidade médica, após se submeterem a um
processo de recuperação. Se um anestesiologista apresentar trata-
mento bem-sucedido, com boa recuperação, mantendo controles
normais, o empregador não pode negar-lhe um emprego 71-73.
Retorno ao trabalho
Esta fase é crucial, pois nela ocorre a decisão sobre o restabele-
cimento das atividades profissionais. Este processo de reinserção
contempla diferentes cenários simultaneamente: trabalho, família
e sociedade. O retorno é controverso, sendo um processo difícil
para o anestesista quimicamente dependente de opiáceos e que
ainda está em recuperação. Portanto, os casos devem ser indivi-
dualizados 86, 96.
Recomendações 15,96,97
O que fazer a partir de agora?
Políticas preventivas
Os programas devem se basear nas estratégias de prevenção con-
junta:
••educação, informação, divulgação,
••identificação dos anestesiologistas em risco potencial de
drogadição,
Conclusões
Estamos diante de uma dura e preocupante realidade para os
anestesiologistas, que leva à deterioração de suas condições de
vida e saúde, lesa sua família e causa danos irreparáveis, motivo
pelo qual devemos assumir a responsabilidade compartilhada a
partir de três perspectivas:
Reflexões
O vício é uma doença para toda a vida, seus efeitos agudos po-
dem ser superados, mas suas consequências deixam suas marcas
permanentes em cada vítima.
5. Estratégias
A pesquisa Professional Wellbeing Working Party realizada pelo Co-
mitê de Bem-estar em Anestesiologia da WFSA evidencia a falta
de estratégias institucionais relacionadas ao bem-estar do anes-
tesiologista, onde 81% não têm comitês ou grupos de trabalho
dedicados a esses temas. Por isso, sugere-se que as sociedades de
anestesiologia ou federações desenvolvam uma política institu-
cional por meio de um comitê ou comissão de saúde ocupacional,
capaz de estudar os problemas referentes ao tema e planejar es-
tratégias para sua melhoria.
Reflexão final
Apesar das melhorias nos padrões de segurança, tecnologia de
ponta e novas drogas, os anestesiologistas continuam sofrendo
os danos causados pelos riscos ocupacionais de sua especialida-
de. Deve haver uma preocupação genuína e consciência coletiva
em relação a essas questões ocupacionais para que estratégias
efetivas sejam estabelecidas, priorizando a educação contínua,
políticas de prevenção, proteção e apoio, aplicação de normas e,
em última análise, exercício digno da especialidade, com o obje-
tivo final de saúde e qualidade de vida adequadas para os anes-
tesiologistas. Assim, médicos se especializam para contribuir com
os cuidados da saúde dos pacientes, mas muitas vezes esquecem
de cuidar da própria saúde 1,2,96,99.
Introdução
Os pacientes devem ser atendidos por equipes médicas bem pre-
paradas, capazes de atuar da melhor forma possível para o desfe-
cho adequado do caso.
Grupos humanos
Recursos tecnológicos
Falta de medicamentos
Falta de treinamento
Instabilidade no emprego
Excesso de trabalho: horas e qualidade
Causas extra-hospitalares
Instabilidade familiar
Influência dos amigos
Insatisfação com a moradia
Plantões e o estresse
A assistência hospitalar é um serviço contínuo que pode ser com-
parado com as atividades que requerem atenção 24 horas por dia,
tais como: geradores de energia, militares, policiais, fornecedores
de combustíveis, bombeiros, comunicações, transportes etc. O
exercício dessas atividades exige mudanças fisiológicas dos pro-
fissionais. A luz é o sincronizador mais potente do sistema nervo-
so central (SNC), funciona como um estímulo na retina, seguindo
através da via espinotalâmica até o núcleo supraquiasmático do
hipotálamo, o centro regulador do ritmo circadiano 70, 71, permitin-
do ao SNC perceber se é dia ou noite para sincronizar a liberação
de hormônios, atividade digestiva, função imunológica 72,73,50,51,
humor, níveis de vigília e desempenho profissional. Os trabalha-
dores de saúde que exercem sua profissão dentro dos hospitais
devem ser capazes de trabalhar dia ou noite; a equipe médica
Alfred Sauvy em seu livro O custo e o valor da vida humana 109,110 re-
lata os critérios relacionados à vida quando avaliadas caracterís-
ticas sociais, religiosas, raciais, políticas, econômicas e profissio-
nais. Uma carga horária pesada e suas responsabilidades podem
ser negociadas para aumentar a disponibilidade de tempo em
família 111-113 e para melhorar a qualidade de atendimento aos pa-
cientes.
Conclusões
Vidas humanas são salvas a cada dia graças a novas descobertas
nas ciências médicas e biológicas. Os anestesiologistas devem se
O problema
Por várias razões, as discussões sobre o possível uso e abuso de
medicamentos por anestesistas e outros profissionais da área mé-
dica têm sido geralmente silenciadas e contidas. Infelizmente, o
público está se tornando ciente deste problema por meio de fon-
tes independentes de notícias sobre os quais a profissão médica
tem pouco ou nenhum controle 1,2. É óbvio que nenhuma pro-
fissão gostaria de chamar a atenção negativa, especialmente na
visão dos órgãos públicos. Paralelamente, se o problema existe,
uma intencional falta de atenção pode desestimular o desenvol-
vimento de métodos de intervenção e estratégias de tratamento.
Portanto, como primeiro passo, a negação deve ser posta de lado
e faz-se necessário responder a pergunta diretamente: anestesio-
logistas apresentam um problema? Décadas de literatura pare-
cem fornecer resposta definitiva para esta questão.
SUFENTENIL 12 4
COCAÍNA 7 2
OXIDO NITROSO 5 0
MEPERIDINA 3 0
MIDAZOLAM 3 0
DIAZEPAM 2 1
KETAMINA 2 1
HALOTANO 2 0
PROPOFOL 1 1
OUTROS 23 9
Fatores genéticos
A genética, durante a última década, tem se tornado cada vez
mais importante para a anestesiologia por várias razões. Agora
já podemos reconhecer uma ligação genética para o desenvolvi-
mento de hipertermia maligna. Muitas variações genéticas têm
sido relacionadas a uma predisposição para o aparecimento des-
ta enfermidade, sendo a mutação genética mais comum a que
ocorre no gene 1 Ryanodine Type (RYR1) do cromossomo 19 24,25.
Do mesmo modo, a ocorrência de vômitos pós-operatório 26, in-
suficiência renal 27, hemorragia 28 e acidente vascular cerebral 29
pode ter uma conexão ampla de variações genéticas. O efeito dos
agentes anestésicos sobre os pacientes é, em parte, modulada
por meio do controle genético. Existem diferenças conhecidas na
sensibilidade à anestesia entre os mamíferos, com base nas dife-
renças da composição genética. Em particular, uma série de es-
tudos realizados com ratos mostram que variações de um único
gene podem produzir diferenças significativas no estado hemo-
dinâmico anestésico e sensibilidade ao propofol 30,31. Diferenças
na sensibilidade da anestesia foram também observados com ad-
ministração intravenosa 32 e por via intratecal de fentanil 33, bem
como com remifentanil intravenosa 34.
Os EUA 122, a Austrália e a Nova Zelândia 20, o Canadá 18, bem como
a Grã-Bretanha e Irlanda 123, foram os líderes tanto em reconhecer
o problema como em tentar lidar com o mesmo. No entanto, des-
de a implementação de mecanismos para evitar a fadiga, as me-
didas são tomadas em um nível local e a aderência das recomen-
dações tem sido variável. A preocupação com os danos potenciais
aos pacientes levou a Fundação de Segurança do Paciente em
Anestesia a dedicar um boletim inteiro para diferentes aspectos
deste problema 124.
Fadiga e burnout
O conceito de burnout, originalmente usado para descrever os
usuários de drogas que haviam atingido o fundo do seu vício, foi
expandido para incluir as pessoas que trabalham e que responde-
ram negativamente ao trabalho crônico pleno de tensões emo-
cionais e interpessoais 130,131. As três dimensões principais que
definem o burnout são exaustão, cinismo e ineficácia profissional.
O elemento-chave que leva ao esgotamento, considerado como
o mais importante, é um estado de exaustão que ocorre nos ní-
veis físico, emocional e mental 132. É a combinação de carga de
trabalho e exigências emocionais no trabalho, que servem como
geradores de estresse e que levam à burnout 131.
Erros médicos
Quando um novo médico faz o juramento de Hipócrates, fica claro
que sua principal preocupação ao cuidar de um paciente será a de
não fazer nenhum mal: ”Por Apolo, o médico (...) Eu vou manter
esse juramento. Eu vou seguir aquele sistema de regime que, de
acordo com a minha capacidade e julgamento, considero para o
benefício de meus pacientes, abstendo-me de tudo o que é noci-
vo e malicioso”.
Em primeiro lugar, uma avaliação séria deve ser realizada por gru-
pos de anestesiologia – e organizações de cuidados de saúde –
sobre como lidar com a programação operacional da assistência
ao médico imediatamente após este ter experimentado uma ca-
tástrofe intraoperatória. Devido ao abalo emocional e distração
produzida por um evento do tipo, o profissional deve fazer uma
pausa que pode ajudar a evitar uma “terceira vítima” resultante
dessas circunstâncias infelizes. A “terceira vítima” pode ser o pró-
ximo paciente do anestesiologista, que neste momento se apre-
senta distraído e estressado.
Processos médicos
O processo de negligência é um resultado infeliz e emocional-
mente desgastante para um profissional envolvido com um erro
médico, levando dano ao paciente 156. Não é apenas o sentimento
de superar a culpa de ter cometido algum erro, ou ter tido um
resultado adverso, mas o estresse de lidar com um processo de
acusação. Uma resposta típica, vista em mais de 95% dos médicos
que recebem a notificação de um processo de negligência pen-
dente, é o sofrimento emocional grave que se intensifica à medi-
da que o processo avança 157. De fato, a sensação inicial de raiva e
pavor é equivalente a qualquer grande evento negativo de vida,
como a perda de um cônjuge ou de um emprego 158.
Falta de sono
Diagnóstico diferencial
Se torna necessário separar as desordens psiquiátricas primárias.
Por exemplo, aquelas independentes do meio externo do esgota-
mento. Além do mais, doenças somáticas crônicas, como infecções
(ex.: hepatite viral), endocrinopatias (ex.: desordens tireoidianas,
doença de Addison), doenças autoimunes, tumores ou a chamada
síndrome da fadiga crônica (SFC) devem ser consideradas.
Prevalência
Muitos estudos relataram altos níveis de burnout entre médicos,
com uma morbidade psicológica atingindo valores de 19% a
47% quando comparados com uma taxa de 18% em trabalhado-
res na população em geral 11. Para médicos de família ou clínicos
gerais, a maioria dos estudos relata grau moderado de burnout,
especialmente relacionado à exaustão de dimensão emocional.
Estudos em diversos países da Europa ocidental, incluindo Suí-
ça, Itália e França, reportaram prevalência de 20% a mais de 50%.
Anestesiologistas também apresentam nível moderado de bur-
nout, com alta satisfação no trabalho compensando os aspectos
negativos estressores. Entretanto, a literatura não é consistente
acerca de quais especialidades médicas apresentam maiores per-
centuais de burnout.
Prevenção
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os níveis
de prevenção podem ser divididos em primários (evitar contato/
remover os fatores que podem levar os pacientes à doença), secun-
dários (detecção precoce – intervenção a doenças manifestadas)
e terciários (lidar com as consequências da doença – reabilitação
e profilaxia da recaída). Esses conceitos de comportamento para
prevenção são mostrados na literatura como o foco da prevenção
primária e são os “mandantes” da psicologia 10,11.
Na Índia 40, cerca de 41,7% dos anestesistas (num total de 115 en-
trevistados) sentiram-se sobrecarregados na maioria das vezes e
29,6%, às vezes. Cerca de 50% sentiam estar estressados, embo-
ra as horas diárias de trabalho média variassem entre 5-12 horas.
Apesar de 47,2% estarem satisfeitos com seus ganhos, apenas
1,7% afirmaram receber excelente remuneração, e 26,1% acredi-
tam receber remunerações inadequadas. Quase 60% dos anes-
tesistas tinham bom relacionamento com os cirurgiões e quase
metade sentiram que não recebiam o devido reconhecimento por
seus serviços.
Resumo
Um novo termo “Weingologia” foi cunhado para promover a im-
portância deste assunto no ambiente de trabalho atual. A Wein-
gologia se refere, praticamente, em se afastar de um “modelo de
burnout” negativo e se aproximar de um saudável e encorajador
“engajamento no trabalho”. Estudos que podem nos ajudar a guiar
as intervenções necessárias para reduzir os aborrecimentos diá-
rios permitem que tenhamos maior controle sobre o nosso tempo
e trabalho, bem como promovem um ambiente positivo de enga-
jamento. A “teoria da personalização” tem sido proposta como um
obstáculo à liberdade para trabalhar, e a despersonalização pode
realmente ser benéfica. Políticas nacionais para prevenir e tratar a
síndrome de burnout e patologias relacionadas no profissional de
saúde devem ser desenvolvidas.
Bem-estar ocupacional
Ao contrário da visão clássica de bem-estar subjetivo como um
processo puramente afetivo, outros investigadores incorpora-
ram dimensões não afetivas ao conceito de bem-estar. Estas di-
mensões, como o comportamento e a motivação, aumentaram
o espectro do construto do bem-estar subjetivo e permitiram a
derivação de modelos conceituais para o bem-estar subjetivo
Medindo o bem-estar-ocupacional
Em medicina, a pesquisa sobre o bem-estar ocupacional tem sido
direcionada principalmente à investigação da prevalência de dis-
túrbios mentais entre profissionais de saúde. Depressão, uso de
drogas e álcool, distúrbios do humor, tendências suicidas e sín-
O planejamento da pesquisa
O processo de planejamento deve envolver quatro fases, cada
qual representada por uma pergunta 12:
3. extração dos dados: que tipo de dados devem ser extraídos e ta-
bulados para permitir as análises propostas? – nesta fase, os tipos
de variáveis e respectivas escalas devem ser determinadas, bem
como eventuais transformações programadas para permitir o uso
dos dados de forma a obter resultados válidos e confiáveis nas
análises programadas;
Confiabilidade
A confiabilidade assume diferentes formas:
Validade
Além das validades de face e de conteúdo determinadas a partir
da análise do instrumento por especialistas antes de sua aplica-
ção, outras formas de validade podem ser estimadas:
Conclusões
O bem-estar ocupacional parece ser um construto único, compos-
to por facetas relacionadas a afeto, competência social, saúde físi-
ca e motivação intrínseca. O bem-estar de anestesiologistas ainda
não pode ser medido, dada a inexistência de ferramentas espe-
cíficas que abordem todas as facetas identificadas do construto
“bem-estar ocupacional”. A construção de tal instrumento deve se-
guir os procedimentos técnicos preconizados para a produção de
instrumentos de avaliação de construtos psicossociais.
Introdução
As questões ligadas à qualidade de vida representam, hoje, uma
prioridade para os profissionais de países desenvolvidos. No Brasil,
a literatura do mundo leigo e, em especial, a mídia, vêm difundindo
e popularizando a importância da mudança de hábitos nocivos de
vida. Daí, resultarem programas inovadores e sistemáticos na busca
pela valorização da saúde e bem-estar coletivo 1,2. Nesse processo,
a saúde ocupacional dos profissionais médicos também vem rece-
bendo enfoques preventivos institucionais, uma vez que o desgas-
te físico e mental, inerente às atividades assistenciais, compromete
a qualidade do seu desempenho junto à comunidade.
Desenvolvimento
Impacto do problema e causas determinantes
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de
vida é a percepção que cada indivíduo tem no contexto da cultura
e do sistema de valores em que vive, levando em conta suas me-
tas, suas experiências, seus padrões. O período de especialização
em anestesiologia incorpora mudanças abruptas comportamen-
tais nos indivíduos as quais, dependendo do grau de imaturidade
emocional do médico residente e/ou portador de baixa resiliência,
podem provocar graves crises de saúde física e mental. O Quadro
1 apresenta os desencadeantes, sendo que as repercussões do es-
forço de adaptação estão representadas na Figura 1.
Burnout
É uma síndrome que se refere a um tipo de estresse crônico ocu-
pacional e institucional integrado por atitudes e sentimentos
negativos (Quadro 2), sendo prerrogativa dos profissionais que
mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, so-
bretudo quando a atividade é considerada de ajuda (médicos, en-
fermeiros, professores, juízes e policiais).
II - Despersonalização
• Distanciamento emocional/baixa coesão social
• Indiferença pelo trabalho/usuários; queda do respeito pelo paciente
• Olhar desfocado de quem perdeu o rumo
• Baixa coesão social
• Perda da identidade (armadura da saúde mental)
III - Eficácia profissional
• Falta de perspectiva para o futuro
• Frustrações frequentes
• Sentimentos de incompetência
• Baixa autoestima
Fonte: referências 9 a 11.
Burnout e depressão
Facilmente se rotula como deprimido o indivíduo que é portador
de fadiga crônica. De fato, na constelação sintomática depressiva
Vulnerabilidade
•• O risco de estar exposto a situações de crise (exposição);
••O risco de não ter recursos necessários para lutar contra estas
situações (incapacidade);
••O risco de estar sujeito a sérias consequências como resulta-
do das crises (potencialidade).
A oficina foi uma rodada intensiva para criar uma moldura dos
problemas que afetam a qualidade do trabalho no perioperatório.
No pentágono estão alinhados seis pontos de consenso para bus-
car maior equilíbrio interno.
APA- Avaliação pré-operatória ambulatorial. UBC- Unidade bloco cirúrgico. CCA- Centro
cirúrgico ambulatorial. CO- Centro obstétrico. RX – Radiologia. HD- Hemodinâmica. Urpa-
Unidade de recuperação pós-anestésica. Radio- Radioterapia.
Fonte: referência 23.
Recomendações
••Mobilizar coordenadores de residência médica para redefi-
nição de atributos concorrentes e complementares dos res-
ponsáveis e corresponsáveis para a abordagem de problemas
comportamentais.
••Na presença de sintomas clássicos de exaustão, é preciso
criar estratégias para analisar a frequência com que ocorrem
e as causas psicossociais subjacentes nos sintomas dos indiví-
duos.
••No zelo por cuidados preventivos com a saúde dos jovens
colegas, é preciso implementar medidas capazes de promover
níveis pessoais compatíveis de resiliência.
••Criar fórum para debate sobre o tema, respeitando carga li-
mite de trabalho e infraestrutura de acordo com as normas de
segurança ocupacional.
••A aplicação de questionários e entrevistas para identificar
vantagens, desvantagens, preferências e dificuldades no tra-
balho deveria ser periódica e incorporar a ótica dos precepto-
res. O Anexo 2 alinha os itens dirigidos para os preceptores.
••Em avaliação, muitos esforços acabam se dissipando sem
deixar rastros positivos. Sabe-se, no entanto, que o sucesso da
formação profissional está diretamente relacionado à impor-
tância dada nas avaliações aos atributos pretendidos.
••Dar e receber feedbacks é uma forma de desenvolvimento
profissional que não é uma simples crítica pela crítica. Visa tor-
nar o profissional mais capacitado para reconhecer e apontar
falhas e vulnerabilidades no trabalho.
••Em tempos de crescente demanda pela formação profissio-
nal mais abrangente, os processos avaliativos devem contem-
Tradicional Atual
Lealdade à instituição Lealdade a si mesmo
Busca estabilidade Busca empregabilidade
Nível médio de confiança em si Alta confiança em si
Não espera permanecer no mesmo
Foco no salário e no cargo
emprego por muito tempo
Foco no crescimento pessoal, na
Plano de carreira de longo prazo
oportunidade financeira
Sonho com vida equilibrada Necessidade de vida equilibrada
Mudanças fazem parte de sua
Medo das mudanças
evolução
Uso de novas tecnologias como
Resistências às novas tecnologias
segunda natureza
Longa jornada de trabalho Que ser avaliado por resultados
Dependente da chefia Exige chefia coerente/consistente
Acostumado a ser regido pela Sem chefia competente abandona
hierarquia o cargo
Trabalhar bem, desfrutar o trabalho,
Lema: trabalho duro versus êxito
superar-se
Liderança organizacional: conceitos
Formação em gestão hospitalar
intuitivos
Estresse físico-emocional, com Lida melhor com estabilidades
mudanças sociais e/ou políticas próprias dos novos tempos*
Fonte: * referência 29.
Conclusões
O objetivo deste capítulo não é causar alarde em função da vulne-
rabilidade biopsicossocial do anestesiologista. Mas propor ao lei-
tor uma reflexão do que pode estar acontecendo em seu ambien-
te de trabalho, para onde pode estar evoluindo e quem poderá
ser afetado. De qualquer modo, é hora para que toda a comunida-
de educativa das sociedades de anestesiologia busque intervir de
maneira conjunta, harmônica e convergente, pois faz-se necessá-
rio considerar que as exigências da atualidade, impulsionando os
profissionais a atender mais e em menos tempo, podem tornar-se
Distúrbio do humor
Perda de energia
Sabem pedir ajuda
Disciplinados
Organizados
Respeitosos
Éticos
Comprometidos
Confiáveis
V- Assinale abaixo
Você busca informações sobre o nível
de desenvolvimento de cada residente / SIM NÃO JAMAIS
Abordagem interacional
Teorias mais recentes enfatizam a interação entre a pessoa e seu
ambiente. Em Quadro cibernético, de Cummings e Cooper (1979),
Abordagem transacional
Na abordagem transacional de Lazarus, o estresse pode ser enten-
dido como um processo: uma falta de equilíbrio entre um indiví-
duo e seu ambiente particular (Lazarus e Folkman, 1984). Indiví-
duos, de acordo com esta teoria, fazem uma avaliação cognitiva
das ameaças que vêm do ambiente. O grau em que as pessoas
avaliam o estresse como séria ameaça revela o nível de estresse
percebido. Neste modelo, mais ênfase é colocada sobre as dife-
renças individuais do que nos modelos interativos.
Burnout
Burnout refere-se a uma consequência crônica negativa do es-
tresse relacionado ao trabalho (Maslach et col., 2001). Modelos
teóricos de esgotamento individual podem ser caracterizados por
sua origem interpessoal, organizacional e social. Muitos compar-
tilham a suposição de uma discrepância crônica entre as expecta-
tivas de um funcionário e a realidade das condições de trabalho
desfavoráveis. O desenvolvimento do burnout ocorre pelas diver-
sas formas disfuncionais de lidar (Schaufeli e Enzmann, 1998). Es-
tudos têm demonstrado que neuroticismo, alexitimia, fragilidade
As condições de trabalho
As condições de trabalho podem ser caracterizadas como as con-
dições físicas e mentais relacionadas com o ambiente de trabalho.
São conhecidas por serem fontes potenciais de estresse, riscos à
saúde e doenças, mas também podem aumentar o bem-estar, a
capacidade de trabalho e a satisfação com a vida. Adicionalmente,
podem moldar comportamentos de saúde (Stansfeld et col., 1998;
Kouvonen et col.,2007; Heponiemi et col., 2008). Contudo, as dife-
renças individuais – ligadas ao sexo, genética, ambiente de vida,
eventos de vida, modelos de lidar com o estresse e situações reais
de vida – desempenham papel crucial na cadeia etiológica entre
as condições de trabalho, bem-estar e saúde (Antonovsky, 1979;
Cummings e Cooper, 1979; McEwen, 2002, 2007). Adicionalmente,
fatores individuais podem tornar uma pessoa mais propensa a se
abater na doença ou mesmo mantê-la.
Este modelo tem sido criticado por sua relevância para a homo-
geneidade do trabalho, estabilidade ao longo do tempo e con-
ceituação. Trabalhar com seres humanos, como na profissão de
saúde, é diferente e mais complexo do que trabalhar com objetos.
Exigências emocionais (enfrentar a doença, a dor, o sofrimento)
e os conflitos entre os objetivos e a realidade são inexistentes a
partir dos conceitos. O modelo também tem sido criticado pela
interdependência dos dois conceitos básicos: um trabalhador rea-
lizado com bom poder de decisão sobre seu trabalho é capaz de
diminuir essas demandas, o que não se encaixa no modelo. O mo-
delo de tensão no trabalho tornou-se, no entanto, mais aplicável a
organizações que trabalham com seres humanos, quando o apoio
social foi adicionado (Söderfeldt, 1996).
Apesar das críticas, este modelo, com sua modificação, foi vali-
dado em vários estudos epidemiológicos (Bosma et col., 1998).
Algumas meta-análises têm indicado que o modelo de Karasek
está relacionado com os resultados inconclusivos de saúde ocu-
pacional e aumento na doença coronária, em particular, o que
não é explicado por exposições físicas ou químicas no local de
trabalho (Kivimäki et col., 2006). Estudos Whitehall II revelaram
que o controle reduzido no trabalho é fator que une baixo estado
socioeconômico com maior mortalidade por mortes cardiovascu-
lares (Marmot et col., 1997). Estudo recente sugere que o modelo
Justiça organizacional
A justiça organizacional refere-se ao grau como os funcionários são
tratados de forma justa pelo seu trabalho. Inclui um componente
processual (à medida que as tomadas de decisão incluem formas
justas e consistentes podem suprimir esse viés, tornando-se preci-
sas e éticas) que tem se mostrado importante preditor de atitudes
organizacionais, tais como comprometimento e envolvimento, e
também dos sentimentos e comportamentos dos empregados
(Cropanzano et col., 2001). Vários estudos suportam a ligação da
baixa justiça organizacional e o aparecimento de problemas de
saúde (Elovainio et al., 2001, 2002; Kivimäki et al. 2003b, 2003c).
Conclusão
O estresse no trabalho entre os anestesiologistas é alto quando
medido por uma série de indicadores, como o nível de estresse, a
carga de permanência no serviço, sintomas de estresse, burnout,
licença médica, privação do sono, ideação suicida e baixo com-
prometimento com o trabalho. No entanto, os anestesiologistas
têm boa satisfação no trabalho e com a vida – o que pode de-
pender de seus bons mecanismos de enfrentamento de situações
estressantes.
Intervenções pessoais
Tratamento adequado – incluindo o tratamento no âmbito cogni-
tivo-comportamental e técnicas de relaxamento – deve, quando
necessário, ser recomendado para cada indivíduo, sem prejudicar
o emprego e sem violar a confidencialidade do paciente. O forta-
lecimento dos vínculos – civil, familiar e amigos – reforça as neces-
sidades do indivíduo. Essas terapias, nos médicos, se mostraram
mais bem-sucedidas do que na população em geral (Wallace et
col., 2009).
Introdução
A correlação entre a saúde ocupacional de anestesiologistas e a
incidência de incidentes críticos em anestesiologia clínica está
bem evidenciada na literatura atual, sendo a fadiga do profissio-
nal, nessa área da medicina, um dos principais fatores responsá-
veis pela elevação da prevalência desse tipo de complicação 1-5.
Níveis de Burnout
Idades Anos Moderado Alto
<30 4 34 24
30-35 8 21 12
35 11 12 15
Conclusões
A literatura médica tem evidenciado ao longo do tempo que o
ambiente de trabalho dos profissionais da área da saúde, incluin-
do os médicos anestesiologistas, apresenta nível de estresse bem
mais elevado quando comparado com o ambiente de outras ati-
vidades profissionais.
Introdução
Nos anos 70 a poluição ambiental dos anestésicos representava a
principal preocupação dos anestesiologistas, com especial aten-
ção à toxicidade dos anestésicos inalatórios e, principalmente, de
seus metabólicos 1. O estudo de efeitos de anestésicos e de seus
metabólitos no organismo, tanto do paciente quanto dos profis-
sionais que aplicam anestesia e trabalham em centros cirúrgicos,
era objeto de preocupação sempre presente nos principais livros-
texto 2-3. Os anos 80 representaram, para a saúde ocupacional dos
anestesiologistas, a preocupação principal com agentes infeccio-
sos como a transmissão do HIV e da hepatite. Atualmente, um
sem-número de riscos ocupacionais estão presentes e são cons-
tantemente descritos em diversas publicações.
Tipos de radiação
As radiações eletromagnéticas podem ser classificadas como ioni-
zantes e não ionizantes:
Radioproteção em anestesia
Salas de ultrassonografia e ressonância magnética
Nestes locais não são necessários métodos de proteção radiológi-
ca, haja vista que tais equipamentos não emitem nenhuma radia-
ção ionizante.
Medidas de controle
Necessidade de educação e treinamento em segurança do traba-
lho para anestesiologistas.
Normas regulamentadoras
As Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Tra-
balho foram aprovadas a partir da Portaria nº 3.214, de 8/6/1978,
pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – (Brasil, 1978).
Torna-se necessário aos empregadores e empregados o conheci-
mento sobre os fatores de risco no trabalho (denominados riscos
ocupacionais) para que o controle possa ser realizado 13.
Introdução
Independentemente de fatores externos, por si só a administração
de anestesia exige intensa atividade física e cognitiva ao envolver
tarefas manuais complexas, vigilância contínua, monitorização
intensiva e tomadas de decisões pontuais e precisas. Em parale-
lo, em função de vários fatores, na atualidade a anestesiologia se
destaca como especialidade médica capaz de oferecer níveis con-
sideráveis de segurança.
Atenção e vigilância
A atenção é definida como “o esforço consciente para permanecer
alerta e poder perceber e selecionar informações” e a vigilância,
como “um estado de atenção sustentada” 35. Em anestesia, ela pode
ser percebida como um estado de consciência clínica no qual alte-
rações ou condições perigosas são antecipadas ou reconhecidas 35.
Junto com a memória e a necessidade de tomadas de decisões, a
vigilância compõe um dos aspectos mais vulneráveis da atividade
mental, pois sabe-se que o homem não é um bom vigilante. Sua
capacidade de manter-se atento decresce rapidamente e em cerca
de 30 minutos de monitorização contínua ela se encontra esgota-
da, o que se deve, em parte, à necessidade de identificação de si-
nais ou fenômenos relativamente infrequentes 35.
Consciência da situação
Estar consciente do que acontece em torno de si e entender o sig-
nificado de cada informação recebida, permitindo prever e pre-
parar os próximos momentos, constitui a base para o conceito
deste tópico 46 que descreve a habilidade de um indivíduo man-
ter adequada representação interna do estado do ambiente em
situações complexas e dinâmicas, nas quais a constante de tem-
Considerações finais
A anestesia, em seus cerca de 170 anos de existência, desenvolveu
a imagem indesmentível de que é capaz de oferecer níveis muito
altos de segurança. No entanto, para que isto seja obtido, diversas
vezes são ultrapassadas as capacidades de muitos dos seus profis-
sionais. Efetivamente, os anestesiologistas enfrentam, há muito,
altos níveis de estresse – o que lhes tem sido danoso em variadas
proporções. Do estresse à fadiga e ao estabelecimento de doença
física ou psíquica, este é um caminho não necessariamente longo.
Além disso, por razões as mais variadas, eles, como os médicos
em geral, são reconhecidamente maus cuidadores de si próprios e
dificilmente procuram ajuda quando sobrecarregados 49. Justifica-
se, assim, a atual preocupação com a saúde desses profissionais,
pois ela lhes é cara e vital à segurança de seus pacientes 50.
Por tudo isso, é bom que sejam mantidas abertas as portas para
a ergonomia se quisermos praticar uma anestesia segura para os
pacientes e termos uma profissão saudável e de longa duração.
I. Histórico
Ainda que a ação teratogênica dos anestésicos inalatórios tenha-
sido inicialmente estudada em 1910 por Stockard 1, somente a
partir da segunda metade da década de 1960 a preocupação com
a exposição prolongada a resíduos de anestésicos inalatórios, e os
seus possíveis efeitos, surgiu entre anestesiologistas da União So-
viética, Dinamarca, Inglaterra e Estados Unidos da América (EUA).
Em nosso país, artigos publicados na Revista Brasileira de Aneste-
siologia, a partir da década de 1970, denotaram a crescente preo-
cupação com o tema 2,3.
Produtos do metabolismo
Os anestésicos voláteis modernos apresentam grau de toxicidade
sistêmica muito pequeno, resultante de mínima biodegradação.
A toxicidade do anestésico inalatório tem correlação direta com a
solubilidade no sangue e em outros tecidos.
Fontes de poluição
Idealmente, todas as salas cirúrgicas deveriam funcionar com
sistema de exaustão do ar ambiente, em decorrência das inúme-
ras fontes de poluição resultantes da administração da anestesia
inalatória. Fontes praticamente inevitáveis incluem o vazamento
da máscara facial mal adaptada, da cânula traqueal sem balone-
te, da máscara laríngea, do ventilador, dos sistemas respiratórios
pediátricos, da amostragem dos analisadores de gases, do oxige-
Níveis de exposição
O determinante da concentração de anestésico inalatório no ar
ambiente depende do escape de anestésico e da quantidade de
ar fresco introduzido no ambiente. Contudo, pode ocorrer varia-
ção espacial e temporal porque a mistura do anestésico inalatório
no ar ambiente não é imediata nem completa. As concentrações
costumam ser mais altas na área do anestesiologista.
Controle da poluição
Sempre que possível, minimizar os fatores já mencionados nas
fontes de contaminação. As salas devem ser equipadas com ar-
condicionado sem reinalação e sistema de exaustão com fluxo de
sucção alto.
Genotoxicidade
A genotoxicidade resultante da exposição ocupacional aos anes-
tésicos inalatórios ainda é discutível. Entre os marcadores indi-
cativos de genotoxicidade incluem-se a formação de aberrações
cromossômicas e de micronúcleos e a troca de cromátides irmãs.
O aumento de micronúcleos em linfócitos tem valor preditivo
para risco de câncer e a troca de cromátides irmãs está associa-
da a malformações fetais e abortos espontâneos frequentes. Os
estudos demonstram elevação destes marcadores especialmente
a exposições acima dos níveis recomendados. Exposição a baixos
Carcinogênese
Estudos não demonstram aumento na incidência de câncer entre
os anestesiologistas. Em animais, não foi demonstrado risco car-
cinogênico quando expostos, por dois anos, a baixas concentra-
ções de N2O e halotano 28. Alguns estudos concluem que apenas
os anestésicos mais antigos, como o tricloroetileno, fluroxeno e
o clorofórmio, apresentam potencial carcinogênico em roedores
quando administrados em concentrações elevadas 27,28.
Toxicidade na reprodução
Fertilidade - recente meta-análise demonstrou haver risco au-
mentado de aborto espontâneo e malformações congênitas em
enfermeiras expostas a anestésicos inalatórios. Porém, a associa-
ção não foi tão evidente entre os estudos bem conduzidos e a sig-
nificância dos achados foi limitada pelo número e heterogeneida-
de dos estudos incluídos 36.
Efeitospsicofisiológicos
A maioria dos estudos não mostra efeito significante nas funções
cognitivas ou motoras após exposição a várias concentrações de
N2O, com ou sem halotano, quando comparadas com as funções
antes da exposição ou com grupos controles não expostos 28.
Introdução
A prática da anestesia está intimamente relacionada a exposição
a vários fatores ambientais potencialmente prejudiciais à saúde.
São riscos físicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes e quími-
cos 1. Desses, os últimos ocupam o maior espaço. Felizmente, nos
últimos anos, com avanços tecnológicos, farmacológicos, com
protocolos e diretrizes operacionais, houve uma minimização dos
prejuízos da exposição a agentes nocivos, embora as medidas
para proteção da saúde dos profissionais ainda estejam longe de
ser ideais 2.
Normas regulamentadoras
O Ministério do Trabalho, mediante normas regulamentadoras
(NRs), visa eliminar ou controlar os riscos ocupacionais. São 32
NRs, com destaque para a NR 32, direcionadas para o trabalho ur-
bano, das quais algumas são de relevância para o trabalhador de
saúde 3,4:
Mapa de risco
Mapa é a representação gráfica do reconhecimento dos riscos
existentes nos locais de trabalho, por meio de círculos de diferen-
tes tamanhos e cores. É um instrumento que pode ajudar a dimi-
nuir a ocorrência de acidentes do trabalho, objetivo que interessa
aos empresários e trabalhadores. O mapa de riscos é feito pela
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa), após ouvir
os trabalhadores de todos os setores produtivos, sob a orientação
do Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e Medicina
do Trabalho (Sesmt) da empresa, quando houver. É importante
ter uma planta do local, mesmo que um desenho simplificado, es-
quema ou croqui. Os riscos de acidentes de trabalho podem ser
classificados de acordo com o Quadro I.
Anestésicos voláteis
Apesar da inalação de éter dietílico, óxido nitroso e clorofórmio
terem ocorrido a primeira vez em 1840,os riscos da exposição
ocupacional não tinham sido investigados até 1960, quando foi
descrita a relação de exposição a anestésicos com prejuízo à saú-
de, na literatura russa 2. Relatos de efeitos da exposição ambiental
crônica a anestésicos têm incluído levantamentos epidemiológi-
cos, estudos in vitro, pesquisa celular e estudos experimentais. Os
objetivos são definir a potencial influência de resíduos de con-
centrações anestésicas sobre a incidência na população exposta,
Glutaraldeído
É um líquido incolor, de odor forte, que foi muito utilizado no
ambiente hospitalar para a esterilização de materiais sensíveis ao
calor. Uma de suas principais desvantagens é a toxicidade, prin-
cipalmente pelo descuido dos profissionais com a proteção indi-
vidual, motivo pelo qual seu uso tem sido substituído por outras
substâncias químicas. Seus principais efeitos tóxicos se manifes-
tam com 16:
Éter etílico
Também chamado de éter sulfúrico, é um líquido extremamente
volátil, incolor, com odor característico. Tem potencial explosivo. Os
efeitos danosos da intoxicação aguda podem ser a narcose – com
um estado inicial de excitação seguido de torpor. Vômitos, palidez
facial, bradicardia e sialorreia também compõem o quadro. É um
irritante médio das vias aéreas, mas se o líquido for aspirado pode
resultar em pneumonite química. Em contato com a pele, causa de-
sidratação e leve irritação local, podendo levar a um aspecto greta-
do. A exposição crônica a altas concentrações da substância pode
se manifestar por fadiga, náuseas, vômitos, cefaleia 17.
Óxido de etileno
Por suas propriedades bactericidas, esse gás incolor tem sido am-
plamente utilizado para esterilizar materiais médicos que não po-
dem ser submetidos a calor. Tem potencial explosivo e mantém-
se impregnado no material esterilizado, o que significa que este
deve ser subsequentemente ventilado para que sejam removidos
os resíduos da substância tóxica.
Látex
O látex é um dos produtos ao qual os profissionais de saúde cos-
tumam estar mais expostos em ambiente hospitalar. As proteínas
Fumaça cirúrgica
Muita atenção deve ser direcionada aos aerossóis gerados pelo
uso dos bisturis elétricos, harmônicos e de argônio. O eletrocau-
tério foi popularizado em salas de operação em 1920 pelo neu-
rocirurgião Harvey Cushing. Desde então e com o surgimento de
outros tipos de equipamentos, a inalação de aerossóis (fumaça)
passou a ser parte da rotina de cirurgiões, anestesiologistas e ou-
tros profissionais da sala de operações. O montante e o conteúdo
da fumaça gerada pelos bisturis podem variar, dependendo da
natureza e da patologia do tecido tratado, da técnica cirúrgica, do
tipo de energia e do tempo de aplicação. Além de vírus intactos,
células tumorais viáveis, algumas análises têm encontrado nume-
rosas substâncias químicas tóxicas em quantidades relevantes.
Formol
Solução aquosa de formaldeído, comumente utilizada para preser-
var amostras de tecidos a serem encaminhados para exame his-
topatológico. Sua concentração média durante a exposição é 0,5
ppm. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
publicou uma resolução (RDC 37/2008) que proíbe o uso de pasti-
lhas contendo formol ou paraformaldeído nos processos de desin-
fecção e esterilização de artigos, superfícies e equipamentos.
Quimioterápicos
A introdução e manuseio de quimioterápicos na sala de operação,
implantador com o advento da hipec (hyperthermic intraperito-
neal chemotherapy), que por sua vez é realizada subsequente-
mente à cirurgia citorredutora, deve determinar uma mudança de
hábitos dos profissionais envolvidos no procedimento. A cirurgia
citorredutora demanda longos períodos de ressecção peritoneal
e visceral, utilizando eletrocautério de alta voltagem, o que gera
quantidade importante de partículas aerossolizadas no ambien-
te da sala de operações. Além dos efeitos físicos mais comuns, as
partículas ultrafinas e as substâncias tóxicas liberadas estão as-
sociadas a disfunções pulmonares, alterações cardiovasculares e
aumento da mortalidade. Os agentes citotóxicos mais utilizados
nessa técnica são mitomicina-C, cisplatina, doxorrubicina e oxali-
platina, administrados numa forma diluída. Embora a toxicidade
desses agentes esteja bem descrita para doses terapêuticas, efei-
tos de longo prazo e exposição ocupacional repetida de baixas
doses continuam desconhecidos. Por essa razão, todas as medi-
das de proteção devem ser adotadas.
Conclusão
A exposição a que são submetidos os anestesiologistas pode re-
sultar em importantes problemas de saúde. Entretanto, a maior vi-
gilância dos órgãos governamentais e maior conscientização dos
profissionais têm resultado em melhores índices relacionados à
exposição profissional a agentes químicos. A metodologia de pre-
venção e eventuais efeitos associadosà exposição profissional a
agentes químicos continuará sendo fundamentalmente baseada
na avaliação externa, haja vista que para a maioria das substân-
cias químicas os conhecimentos de toxicocinética e toxicodinâ-
mica não possuem marcadores biológicos com especificidade e
sensibilidade validadas.
Profilaxia
Precauções universais que devem ser adotadas na assistência a
todos os pacientes durante a manipulação de sangue, secreções
e excreções e o contato com mucosas e pele não íntegra (Quadro
1), bem como a utilização de equipamento de proteção individual
– EPI (Quadro 2).
Realização de curativos X X * **
Aplicação parenteral de
X X **
fármacos
Punção ou dissecção
X X X X
venosa profunda
Aspiração das vias aéreas e
X X X X
entubação traqueal
Endoscopias e
X X X X
broncoscopias
Procedimentos dentários X X X X
Introdução
Por que é importante que todo médico conheça a síndrome de
dependência?
O diagnóstico de dependência
É importante que os profissionais saibam fazer o diagnóstico
correto dos problemas relacionados ao consumo de substâncias.
A literatura médica cita como um dever ético o cuidado com a
saúde dos colegas. Assim, cabe a cada médico alertar os seus co-
legas logo que perceba mudanças comportamentais que sugiram
problemas de saúde mental, dependências ou a necessidade de
uma consulta especializada.
Manejo da abstinência
Ainda que seja condição de grande sofrimento físico e mental, ra-
ramente é uma situação de risco para a vida. Em casos nos quais
se faça necessário o uso de opioides de substituição, a droga que
encontra mais respaldo na literatura médica é a metadona. A dose
de metadona inicial varia de 20 mg a 120 mg por dia; no entanto,
na maioria das vezes, fica entre 30 mg e 60 mg por dia.
Exames de rastreamento
Exames de fio de cabelo têm sido reportados como mais válidos,
pois são mais difíceis de sofrerem adulteração e também por con-
templarem uma janela temporal mais ampla 48. Amostras de saliva
ainda carecem de validação 63. Em dependentes de opioides (po-
pulação geral não médica) o monitoramento, tanto da evolução
comportamental quanto dos exames aleatórios de rastreamento,
relaciona-se com um melhor prognóstico 64.
Prevenção
A literatura sugere que formas eficientes de abordagem envolvam
prevenção por meio da melhoria das condições de trabalho, me-
Inalantes
Ainda que menos estudados, levantamentos recentes têm obser-
vado significativa taxa de mortalidade por agentes inalantes entre
os anestesistas que abusam destas substâncias, bem como baixa
frequência de reingresso bem-sucedido ao desempenho profis-
sional seguro 76.
Ketamina
O consumo de ketamina tem sido reportado entre anestesistas,
porém em menor frequência 48,77.
Propofol
Os primeiros relatos de abuso de propofol apareceram na litera-
tura médica há aproximadamente 20 anos 78. Observa-se que o
Considerações finais
A dependência entre anestesistas, além de ser mais prevalente,
tem algumas nuances que a tornam distinta de outras formas de
adoecimento – o profissional que sofre desta patologia geralmen-
te não pode buscar ajuda, com medo de perder a profissão 39, e
necessita de um cuidado pós-tratamento bastante compassivo e
firme.
Introdução
Os anestesiologistas são submetidos a uma série de riscos ocu-
pacionais em decorrência do local de trabalho e de sua ativida-
de profissional. Podemos citar danos físicos, como a toxicidade
de gases anestésicos, a exposição ao sangue e secreções (meios
de transmissão de doenças infecciosas) e as radiações ionizantes,
entre outras. Também existem os riscos relacionados aos danos
psíquicos, como a drogadição e a síndrome de burnout, os quais
estão no foco deste capítulo.
A questão ética
Os conselhos de medicina foram criados pela Lei Federal nº 3.268,
de 30/9/1957, assinada pelo presidente Juscelino Kubitschek. O
Decreto nº 44.045, de 19/7/58, aprovou o regulamento do con-
selho federal e dos conselhos regionais de medicina, aos quais se
refere essa legislação federal.
Responsabilidade civil
As ações por responsabilidade civil buscam a reparação integral
do dano injusto sofrido pela vítima. Imputada ao agente causa-
dor, ela pode ser de dois tipos, dependendo dos pressupostos im-
plicados. Na forma subjetiva, é necessário observar se o ato prati-
cado foi doloso ou culposo para justificar o direito à reparação. Na
objetiva, não se cogita observar essa característica.
Por sua vez, quanto ao dano moral não há meios ou fórmulas se-
guros de se atribuir valores. A grande variação nos valores fixados
pelos juízes nos impede determinar com precisão uma média. O
Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem adotado, em geral, um parâ-
metro de 500 salários mínimos para ações deste tipo.
Responsabilidade penal
O profissional médico, em especial o anestesiologista, não pode
trabalhar com a certeza do sucesso, pois vários fatores externos
à sua vontade podem mudar o curso dos fatos. Por exemplo, há
reações diferentes a tratamentos semelhantes. Para alguns, um
determinado procedimento ou medicamento pode levar à recu-
peração; para outros, pode ser o caminho para efeitos indesejá-
veis e danosos.
Isto pode ocorrer dado que se considera dolo não apenas a in-
tenção de causar o dano (chamado de dolo direto). Também são
dolosas as condutas em que o médico assume o risco de causar
o resultado (no chamado dolo eventual). Na prática, considera-se
dolo eventual a imprudência e a negligência, que são tão desme-
suradamente graves que seria injusto punir o fato com a pena re-
duzida do crime culposo, sendo mais adequada a pena do crime
doloso, que no homicídio é de 6 a 20 anos.
Atividade do anestesiologista
Pela doutrina majoritária, a natureza da obrigação do médico
anestesiologista depende no sentido da contratualidade, ou não,
da relação médico-paciente. No caso de atendimento particular
ou de convênio, existe caráter contratual da relação. Diferente-
mente do anestesiologista que trabalha em hospitais do serviço
público, que não tem feições contratuais.
Não existe norma que torne obrigatório o uso da forma escrita para
manifestação do consentimento, basta que ele ocorra. Todavia, é
importante o documento firmado pelo paciente para que o aneste-
siologista possa se defender em eventual demanda jurídica.
Conclusão
Os estudos e a prática médica têm sugerido que a anestesiologia
congrega quantidade significativa de profissionais submetidos a
riscos e expostos a problemas que os tornam vulneráveis ao apa-
recimento de problemas físicos e psíquicos. Situações de estresse,
de crises de ansiedade e de consumo de substâncias psicoativas,
com instalação do quadro de drogadição, ocorrem com relativa
frequência.
RESOLVE:
c) ao estado de consciência;
d) à intensidade da dor.
Anexo III
Instrumental e materiais
1. Máscaras faciais;
2. Cânulas oronasofaríngeas;
3. Máscaras laríngeas;
4. Tubos traqueais e conectores;
5. Seringas, agulhas e cateteres venosos descartáveis;
6. Laringoscópio (cabos e lâminas);
7. Guia para tubo traqueal e pinça condutora;
8. Dispositivo para cricotireostomia;
9. Seringas, agulhas e cateteres descartáveis específicos para
os diversos bloqueios anestésicos neuroaxiais e periféricos.
Anexo IV
Fármacos
1. Agentes usados em anestesia, incluindo anestésicos locais,
hipnoindutores, bloqueadores neuromusculares e seus anta-
gonistas, anestésicos inalatórios e dantroleno sódico, opioides
e seus antagonistas, antieméticos, analgésicos não opioides,
corticosteroides, inibidores H2, efedrina/etil-efrina, broncodila-
tadores, gluconato/cloreto de cálcio.
2. Agentes destinados à ressuscitação cardiopulmonar, incluin-
do adrenalina, atropina, amiodarona, sulfato de magnésio, do-
pamina, dobutamina, noradrenalina, bicarbonato de sódio,
soluções para hidratação e expansores plasmáticos.
RESOLVE:
ISBN 978-85-87077-33-2