Soc EM MIOLO

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Cartilha de práticas

pedagógicas
S O C I O LO G I A
Ensino Médio

Horizontes
compartilhados:
Sociologia
e a temática
étnico-racial
no Ensino Médio
BRUNO VILAS BOAS BISPO
RAFAELA SANTIAGO LOBO
Equipe Técnica

SECRETARIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO - SEDE


Tarcia Regina da Silva

SUPERINTENDÊNCIA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS


DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E INOVAÇÃO PEDAGÓGICA – SUPEFI
Rodrigo César Barroncas Silva

PRODUÇÃO EDITORIAL
Companhia Editora de Pernambuco - Cepe

SOBRE OS AUTORES
Bruno Vilas Boas Bispo: Professor Adjunto na UPE, graduado em Licenciatura e Bacharelado
em Ciências Sociais pela UFBA, com mestrado e doutorado na mesma instituição no
PPGCS. Com experiência na rede básica de Ensino e na Formação de Professores na
Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Sua pesquisa está concentrada nas seguintes
áreas: sociologia da arte, cinema, utopia, emancipação e movimentos sociais.

Rafaela Santiago Lobo: Mestranda no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais


da UFBA e Licenciada em Ciências Sociais pela mesma universidade. Com experiência
na rede básica de ensino na Bahia. Sua pesquisa está concentrada nas seguintes
áreas: sociologia da arte, cinema, sociologia urbana, gênero e relações raciais.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bispo, Bruno Vilas Boas


Horizontes compartilhados : sociologia e a
temática étnico-racial no ensino médio / Bruno Vilas
Boas Bispo, Rafaela Santiago Lobo. -- Recife, PE :
Secretaria de Educação e Esportes, 2024. -- (Cartilha
de práticas pedagógicas. Sociologia : ensino médio)

Bibliografia.
ISBN 978-65-85999-05-2

1. Diversidade cultural 2. Sociologia (Ensino


médio) 3. Relações étnico-raciais 4. Teoria social
I. Lobo, Rafaela Santiago. II. Título. III. Série.

24-199310 CDD-301

Índices para catálogo sistemático:

1. Sociologia : Ensino médio 301

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

Impresso no Brasil 2024


Foi feito o depósito legal
Sumário

Para início de conversa....................................................................... 4

Capítulo 1
Teoria social e relações étnico-raciais ......................................... 5

Capítulo 2
Sociologia da Educação e relações étnico-raciais .................... 8

Capítulo 3
A racialização das desigualdades sociais no Brasil ................11

Capítulo 4
Teoria Social Brasileira sob uma perspectiva racializada ����� 14
4.1 Florestan Fernandes ..................................................................... 15
4.2 Guerreiro Ramos ............................................................................. 15
4.3 Clóvis Moura ..................................................................................... 15
4.4 Lélia González ................................................................................... 15
4.5 Luiza Bairros ..................................................................................... 16

Capítulo 5
A questão indígena no Brasil ......................................................... 17

Capítulo 6
Identidade e diversidade cultural ................................................. 20

Capítulo 7
Sugestões de metodologias didáticas ......................................... 23
7.1 Analisando o filme Como era gostoso o meu francês ���� 23
7.2 Corrida do privilégio ...................................................................... 25
7.3 Vozes da comunidade: mapeando experiências raciais
em nossa escola ...................................................................................... 26
7.4 Perfis de intelectuais em redes sociais..............................28
Considerações finais ......................................................................... 29
Referências bibliográficas .............................................................. 30
Para início de conversa
A escola é um espaço fundamental de socialização das sociedades modernas.
Por um lado, a educação carrega o potencial de uma ferramenta poderosa na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária; por outro, tem sido his-
toricamente um espaço privilegiado de reprodução de desigualdades e pre-
conceitos. A integração da temática étnico-racial no currículo de Sociologia
representa uma oportunidade de promover o entendimento, a empatia e o res-
peito pela diversidade, assim como a “desnaturalização” da vida social, qual
seja, do entendimento que os fenômenos sociais estão inseridos no devir his-
tórico e são dinâmicos e mutáveis.
Refletir sobre as questões étnico-raciais envolve o esforço de não elaborar
uma narrativa determinista sobre os grupos subalternizados, evitando refor-
çar os estereótipos de pessoas negras, indígenas, ciganas, entre outros grupos;
de modo que os povos e suas identidade sejam reconhecidas também por suas
contribuições à humanidade e suas potências em geral, não relegando-os à sua
condição histórica de povos que foram escravizados ou tratados como seres so-
cialmente inferiores.
Este material didático visa fornecer aos professores e professoras recursos
complementares para abordar a temática étnico-racial de maneira construtiva
e significativa, alinhada aos princípios e conceitos fundamentais da Sociologia
e das diretrizes curriculares do estado de Pernambuco. Buscamos, sempre que
pudemos, extrapolar o papel com recursos adicionais, através de QR Codes.
Desejamos uma boa jornada a vocês.

Tiganá - Maçalê.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=AyelJOizOxo

4 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


1
Teoria social e relações
étnico-raciais

Um dos aspectos específicos da Sociolo-


gia é a sua relação com o seu objeto de
estudo. Enquanto a cisão entre sujeito e
objeto na maior parte das ciências mo-
dernas é bem estabelecida, nas Ciências
Humanas em geral e na Sociologia em
particular essa fronteira é menos deli- Clipe oficial de Mandume de Emicida,
com participação de Drik Barbosa, Amiri,
mitada, com alguma turbidez. A pessoa Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaafin.
que produz conhecimento sobre a socie- Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=mC_vrzqYfQc
dade é, ela própria, parte da sociedade,
relativamente determinada por aquela.
O contexto social de produção do
conhecimento sociológico, antropológico e político interfere de maneira direta
ou indireta no conteúdo da sua produção. Isso faz com que identifiquemos na
produção sociológica não somente o acúmulo técnico da sua produção científi-
ca, mas, junto a isso, alguns indicadores de seu próprio contexto de produção.
Assim, faz-se necessário pensarmos criticamente a nossa práxis pedagógi-
ca e as teorias ensinadas, entendendo suas potências e limitações a partir dos
contextos específicos de seu desenvolvimento e difusão. Nossa área de conhe-
cimento não está isenta dessas influências, ainda que não possamos reduzi-la
a isso. Por outro lado, uma das características de toda construção científica é a
postura crítica de quem a produz.
No decorrer do século XX, a ascensão e queda da União Soviética (URSS), e a
Segunda Guerra mundial alteraram consideravelmente o panorama geopolítico

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 5


mundial. Após a grande crise econô-
FALA PESQUISADOR/A mica dos países europeus, criou-se um
ambiente em que intelectuais revolu-
“Em uma sociedade em que cionários, como Che Guevara e Frantz
o racismo está presente na Fanon, não somente tenham pego em
vida cotidiana, as instituições armas para alterar a realidade política
que não tratarem de maneira que os rodeava, mas que também te-
ativa e como um problema nham produzido conhecimento sobre
a desigualdade racial irão essas dinâmicas políticas e sociais em
facilmente reproduzir as que intervieram.
práticas racistas já tidas como Nesse contexto, intelectuais de
“normais” em toda a sociedade. todo o mundo se deram conta dos po-
É o que geralmente acontece tenciais danos do eurocentrismo, a
nos governos, empresas e partir de distintas perspectivas teóri-
escolas em que não há espaços cas, potencializando vozes que já vi-
ou mecanismos institucionais nham denunciando isso desde muito
para tratar de conflitos raciais e tempo atrás, como, por exemplo, o
sexuais” (Almeida, 2019). martinicano Du Bois (2020).
Nesse movimento de crítica interna
das ciências humanas e deslocamento
do conhecimento de forma centrífuga
em relação à perspectiva eurocêntri-
PARA SABER MAIS ca, as ciências sociais desenvolveram
diversas análises.
Sobre Racismo Estrutural. Uma delas é a abordagem decolo-
https://www.youtube.com/ nial do pensamento, que entende a
watch?v=PD4Ew5DIGrU herança da relação colonial na funda-
ção e manutenção da estrutura social
capitalista contemporânea, de forma a
apontar uma relação imbricada entre a
modernidade e a colonialidade. Assim,
mesmo que as relações formais entre
metrópole e colônia tenham se extinto
formalmente, na prática, aspectos de
colonialidade teriam permanecido.
A colonialidade do saber refere-se
à maneira como o conhecimento e as
formas de entender o mundo foram
moldados e dominados por perspec-
tivas eurocêntricas desde a coloni-
zação. Este conceito, intimamente
ligado à colonialidade do poder, argu-
menta que as formas de conhecimen-

6 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


to, epistemologias e metodologias de-
senvolvidas no contexto europeu não FALA PESQUISADOR/A
apenas se estabeleceram como uni-
versais, mas também marginalizaram Trecho de Discurso sobre o
e desvalorizaram outras formas de colonialismo, de Aimé Césaire.
https://www.youtube.com/
conhecimento, especialmente aque- watch?v=bTgcQAnST18
las originárias de sociedades não oci-
dentais. Isso resultaria em uma hie-
rarquia global de conhecimento que
privilegia as perspectivas ocidentais
e perpetua as desigualdades sociais e
culturais herdadas do colonialismo.
Essa crítica envolve um questiona-
mento profundo das bases epistemo-
lógicas das ciências sociais e a busca
por uma maior inclusão de perspec-
tivas não ocidentais. Isso implica re-
conhecer a pluralidade de saberes e
a necessidade de descolonizar o co- ISSO É MASSA!
nhecimento, valorizando as episte-
mologias que emergem das experiên- Conferência Atravessando o
cias históricas e culturais de povos tempo e construindo o futuro
que foram subjugados violentamente da luta contra o racismo,
pelo colonialismo europeu. Assim, proferida por Ângela Davis,
ao lermos os teóricos da sociologia, em 25/07/2017, na UFBA.
se faz premente a observação de seus https://www.youtube.com/
aspectos eurocêntricos, assim como watch?v=waCyuZZap9I

a valorização das contribuições de


intelectuais ao redor do mundo que
tendem a não alcançar o devido reco-
nhecimento por não terem suas traje-
tórias validadas pelas instituições ca-
nônicas ocidentais, especialmente as
europeias e estadunidenses.

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 7


2
Sociologia da Educação e
relações étnico-raciais

Consideramos que uma educação


para a autonomia deve se iniciar com
a reflexão da comunidade escolar so-
bre essa instituição social, seja como
atividade autorreflexiva da institui-
ção escolar como um todo, seja como
Kaê Guajajara Part. DJ Bieta performing
componente curricular de Sociologia
Mãos vermelhas at Sofar Rio de Janeiro on na sala de aula.
April 22, 2019. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=P9aAhuJLnt0 Acreditamos que a reflexão coletiva
entre discentes, docentes, familiares,
merendeiras, vigilantes, coordenação
pedagógica sobre o que significa a edu-
cação e a escola não somente é aspecto a ser trazido na discussão curricular sobre
a escola em sala de aula, mas em todos os espaços de construção de uma escola
que se pretende democrática.
O francês Durkheim (2013), mesmo sob as limitações do positivismo a que ele
se filiou, identificou uma série de aspectos inerentes à educação enquanto fenô-
meno social. Ele enfatizou que o sistema educacional e seu conteúdo são deter-
minados pela sociedade e sua estrutura e argumentou que a educação reflete as
necessidades e valores da sociedade em que está inserida.
Durkheim defendia que uma das principais funções da educação é a socializa-
ção das novas gerações. E a escola desempenha um papel crucial neste processo,
transmitindo conhecimentos e habilidades, mas também a moral e a coesão so-
cial. Assim, o autor acreditava que o sistema educacional reflete a organização e os

8 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


valores da sociedade. Isso significa que
mudanças na estrutura social levariam PARA REFLETIR...
a mudanças na educação.
Os sociólogos Bourdieu e Passeron O percentual da população
(1982) identificam na instituição escolar com ensino superior
um processo ativo de violência da clas- completo saltou de 17,5%
se dominante através dos sistemas de em 2019 para 19,2% em
ensino. Eles formularam o conceito de 2022. No entanto, nota-
violência simbólica para explicar como se novamente realidades
as normas e valores da classe dominante distintas no recorte por cor
são impostas de maneira aparentemen- ou raça: enquanto 60,7%
te consensual, mas na verdade servem dos brancos com pelo
para perpetuar a dominação de classe. menos 25 anos haviam
Os autores argumentam que o siste- finalizado o ensino médio,
ma educacional desempenha um papel entre os pretos e pardos
crucial na reprodução das estruturas essa taxa foi de 47%
de poder e desigualdade na sociedade, (Gomes e Ferreira, 2023)
através da transmissão e legitimação do https://agenciadenoticias.
capital cultural das classes dominantes. ibge.gov.br/agencia-
noticias/2012-
A formação do Estado e do sistema agencia-de-noticias/
noticias/37089-em-2022-
educacional no Brasil têm influência di- analfabetismo-cai-mas-
reta dos modelos de estado e sociedade continua-mais-alto-
entre-idosos-pretos-e-
europeus. No entanto, enquanto o pro- pardos-e-no-nordeste

cesso de modernização europeu se deu


entre colonizadores, o processo de mo-
dernização brasileiro se insere em um
contexto de subalternização na relação colonial. Assim, a leitura que podemos fazer
dos teóricos franceses supracitados carece de uma adaptação à nossa realidade.
Se por um lado a reflexão sobre a racialidade na educação demorou a adentrar
a discussão institucional no nosso país, por outro, temos cada vez mais pesqui-
sadoras e pesquisadores se debruçando sobre o tema. Em suma, as pessoas não
brancas encontraram imensa dificuldade em exercer o direito constitucional de
frequentar a escola. Por isso, apesar da influência das culturas negras e indígenas
em nosso país, o que se destacava era a exclusão desses segmentos da educação
formal, seja enquanto corpo da comunidade escolar, à exceção de funções subal-
ternizadas, seja como referência bibliográfica.
A educação é um dos fatores determinantes para o acesso a oportunidades,
rendimentos do trabalho, status ocupacional e mobilidade social nas sociedades
democráticas. Apesar da expansão e democratização do ensino superior no Brasil
desde os anos 2000, as desigualdades de acesso com base em características so-
cioeconômicas, incluindo classe social, gênero e cor ou raça, permanecem eleva-
das. Essas desigualdades limitam a mobilidade social e perpetuam as disparidades
no mercado de trabalho (IBGE, 2022).

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 9


A pandemia da Covid-19 exacerbou essas desigualdades, criando condições
desiguais de estudo à distância e levando muitos estudantes vulneráveis a desistir
de concorrer a uma vaga no ensino superior. A suspensão das aulas presenciais
afetou desproporcionalmente os alunos da rede pública, estudantes com menor
renda, e, principalmente, aqueles de cor ou raça preta ou parda, moradores da
zona rural e das regiões Norte e Nordeste do Brasil. O que impactou negativa-
mente a continuidade da educação desses estudantes durante a pandemia. Além
disso, a pandemia interrompeu a tendência de democratização do perfil dos par-
ticipantes do Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, com uma redução no total
de inscritos e uma queda na proporção de participantes pretos ou pardos de 2019
a 2021 (IPEA, 2023; IBGE, 2022).
As desigualdades educacionais por cor ou raça no Brasil são profundas e mul-
tifacetadas, afetando o acesso ao ensino superior, a experiência educacional du-
rante a pandemia e, posteriormente, as oportunidades no mercado de trabalho.

PARA REFLETIR...

Uma pesquisa no México


replicou um experimento feito
anteriormente nos EUA em que
crianças são expostas a bonecas
brancas e negras e respondem
a perguntas de entrevistadores.
https://www.youtube.com/
watch?v=Sq4z2Vq2K1w

10 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


3
A racialização das desigualdades
sociais no Brasil

A desigualdade social entre pessoas racializadas e não racializadas no Brasil é


multifacetada e profundamente enraizada em vários aspectos da sociedade.
Essas desigualdades são evidentes em diversas dimensões. Além da educação,
mencionada no capítulo anterior, podemos destacar a renda, a exposição a si-
tuações de violência e participação política, entre outras, refletindo disparida-
des históricas e sistêmicas.
Pessoas racializadas, especialmente pretas e pardas, enfrentam significati-
vas desigualdades no mercado de trabalho, incluindo taxas mais altas de de-
semprego, maior informalidade e rendimentos inferiores em comparação com
pessoas brancas. Essas disparidades limitam a capacidade de acumulação de
patrimônio e acesso a melhores condições de vida.
Não obstante, pessoas racializadas são desproporcionalmente afetadas pela
violência, incluindo taxas mais altas de homicídios. Homens jovens pretos e
pardos são particularmente vulneráveis à violência letal, refletindo desigual-
dades raciais profundas na segurança pública e justiça criminal.
A representação política de pessoas racializadas é significativamente menor
do que a de pessoas brancas, tanto em cargos eletivos quanto em políticas de
combate ao racismo. Isso limita a ca-
pacidade de pessoas racializadas in-
fluenciarem políticas públicas e pro- Racionais - A vida é
desafio – Nada como
moverem mudanças que abordem as um dia após o outro
dia (Chora agora).
desigualdades raciais. Disponível em: https://
Desigualdades raciais também são www.youtube.com/
watch?v=Wb3rvC6z5ao
evidentes nas condições de moradia,

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 11


com pessoas racializadas mais propensas a viver em moradias informais, sem do-
cumentação de propriedade e com acesso limitado a serviços básicos de sanea-
mento, o que afeta a qualidade de vida e o valor patrimonial de suas residências.
A desigualdade no acesso ao financiamento de campanhas eleitorais refle-
te e perpetua a sub-representação política de pessoas racializadas, limitando
suas chances de eleição e, consequentemente, sua capacidade de influenciar
políticas públicas. Desta forma, existem muito menos candidatas e candidatos
negros e indígenas aos diversos cargos eletivos da nossa democracia.
Essas desigualdades são interconectadas e reforçam-se mutuamente, crian-
do um ciclo de desvantagem que afeta gerações. Abordar essas desigualdades
requer um compromisso contínuo com políticas públicas inclusivas e esforços
direcionados para garantir igualdade de oportunidades e justiça para todos os
cidadãos, independentemente de sua cor ou raça.
Dados de 2022 apontam que a renda média do trabalhador branco é 75,7%
maior que de trabalhadores pretos. Brancos também enfrentam menor desem-
prego, menor taxa de informalidade no trabalho, e compõe parcela minoritária
da população abaixo da linha da pobreza.
Na outra ponta da concentração de renda, podemos observar que pessoas
pretas ou pardas têm somente 19,0% das propriedades de grandes estabele-
cimentos agropecuários (mais de 10 mil hectares), enquanto pessoas brancas
acumulam 79,1% dessas propriedades no país.
Tais desigualdades se expressam também em diversos índices que dialogam
com as taxas de morte por homicídio, na participação na gestão pública e na
ocupação de cargos eletivos do Estado e no acesso à educação de qualidade.
Tais aspectos se expressam no acesso às políticas de saúde e diminuição da
expectativa de vida, o que pode ser observado na imensa discrepância de da-
dos de mortes por Covid-19, por exemplo. No caso da saúde da mulher negra
observa-se que a mortalidade materna e o número de internações por aborta-
mento são os índices mais expressivos: 65,9% das mortes maternas ocorrem
entre mulheres negras.

FALA PESQUISADOR/A
Em um sistema efetivamente democrático, minorias, como os
indígenas, teriam que fazer parte dos parlamentos para que
seus interesses e anseios fossem realmente ouvidos, em um
verdadeiro espírito multicultural. Essa falta de representação
indígena só agrava um processo histórico de exclusão e
segregação social. (Dornelles & Veronese, 2018, p.53)

12 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101972_informativo.pdf

Essa desigualdade abissal que envolve o aspecto racial no Brasil não é mero
acaso, mas resultado da nossa formação. E é importante ressaltarmos que a es-
cola teve e tem papel importante nesse processo histórico de manutenção das
desigualdades.

PARA SABER MAIS


IPEA (2021) - Atlas
da Violência 2021
https://www.ipea.gov.br/
atlasviolencia/publicacoes/212/
atlas-da-violencia-2021

IPEA (2021) - Desigualdades


raciais e de renda no
acesso à saúde
https://repositorio.ipea.gov.
br/bitstream/11058/11454/1/
td_desigualdades_raciais_renda_
publicacao_preliminar.pdf

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 13


4
Teoria Social Brasileira sob uma
perspectiva racializada

A teoria social brasileira, rica e diversificada, é marcada pela contribuição de


vários teóricos que se destacaram por suas análises críticas e reflexões sobre a
sociedade, cultura, política e economia do Brasil.
Gilberto Freyre investiga a formação da sociedade brasileira através da mis-
cigenação de indígenas, africanos e europeus, com destaque para a influência
das relações sociais durante o período colonial. Sérgio Buarque de Holanda in-
troduziu o conceito de “homem cordial” para descrever a personalidade social
brasileira. Caio Prado Júnior adotou uma abordagem marxista para interpretar
a história brasileira, enquanto Darcy
Ribeiro explorou a formação étnica e
cultural do Brasil propondo a teoria
Salve as Folhas (Maria
Bethânia - Brasileirinho) do “povo novo”. Roberto da Matta
Disponível em: https://
www.youtube.com/
analisa a sociedade brasileira, desta-
watch?v=PoHXiJlu7cw cando aspectos como relações sociais,
identidade e cultura. Esses teóricos
contribuíram para a compreensão da
complexidade da sociedade brasilei-
ra, oferecendo perspectivas que refletem os desafios e particularidades do con-
texto histórico, social e cultural do país.
No entanto, a maior parte das nossas discussões carecem do aporte de in-
telectuais negras e negros que nos deram uma perspectiva interpretativa po-
tente da nossa sociedade. Pretendemos, aqui, dar ênfase a algumas contribui-
ções de cientistas sociais para o entendimento da realidade brasileira a partir
das análises que dão ênfase às questões raciais.

14 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


4.1 Florestan Fernandes
VOCÊ SABIA?
Florestan Fernandes desenvolveu sua
pesquisa num período em que o Brasil Em 2023 foi instituído o
passava por intensas transformações Estatuto da Igualdade Racial
sociais, econômicas e políticas. O au- em Pernambuco, através da
tor desafia a noção de que o Brasil seria Lei Nº 18.202, de 12 de junho
uma “democracia racial”, onde a mis- de 2023. Mesmo tento mais
cigenação teria levado a uma igualda- de 66% da sua população
de racial. Florestan critica o papel do declarada negra ou parda,
Estado e das instituições brasileiras na Pernambuco era um dos
perpetuação da desigualdade racial, poucos estados sem uma
argumentando que, ao negligenciar legislação específica.
políticas de inclusão social e econô- https://g1.globo.com/
mica para a população negra, o Estado pe/pernambuco/
noticia/2023/06/12/lei-que-
contribuiu para a manutenção de um cria-estatuto-da-igualdade-
racial-em-pernambuco-
sistema de desigualdades. e-sancionada-entenda-o-
que-preve-a-norma.ghtml

4.2 Guerreiro Ramos

De forma relativamente divergente da produção de Florestan Fernandes, Guer-


reiro Ramos se debruçou mais sobre a questão da administração pública do Es-
tado brasileiro. Ele critica o eurocentrismo na teoria social e na administração,
o que pode ser extrapolado para uma crítica à forma como as estruturas estatais
e políticas no Brasil foram moldadas por concepções europeias, muitas vezes
desconsiderando as realidades locais, incluindo questões raciais e culturais.

4.3 Clóvis Moura

Clóvis Moura aborda a questão racial a partir de uma perspectiva crítica, desta-
cando o papel ativo dos negros na história e na sociedade brasileira. Moura critica
o racismo institucionalizado e o eurocentrismo na historiografia e na Sociologia
brasileiras. Ele desenvolve ainda o conceito de “dependência racial”, que analisa
como as estruturas de poder e as relações sociais no Brasil foram construídas so-
bre bases raciais, perpetuando a desigualdade e a exclusão dos negros.

4.4 Lélia González

Lélia González investigou como o caráter triplo da discriminação que recai sobre
as mulheres negras interfere na forma como essas são inseridas na sociedade.

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 15


González aponta o mito da democracia racial como uma ferramenta eficaz
de dominação ideológica, que projeta, no imaginário brasileiro, a ideia falsa de
uma igualdade de direitos legais e institucionais, quando, na verdade, existe
uma hierarquização racial da sociedade que discrimina e estigmatiza pessoas
não brancas, afastando-as das oportunidades de ascensão social.

4.5 Luiza Bairros

Luiza Bairros (1953-2016) foi pioneira na aplicação do conceito de interseccio-


nalidade no Brasil, analisando como raça, gênero e classe social se entrelaçam
para criar formas complexas de discriminação e desigualdade. Ela destacou a
necessidade de abordar essas questões de maneira integrada, especialmente no
que diz respeito às políticas públicas.

Mano Brown entrevista


Sueli Carneiro.
Disponível no podcast
Mano a Mano, no
Spotify.

16 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


5
A questão indígena no Brasil

Os povos originários foram, desde sempre, agentes ativos na história do Bra-


sil. Desde os primeiros contatos com os colonizadores eles empreendem es-
tratégias de resistência à dominação que reconfiguram-se às diferentes admi-
nistrações governamentais.
Nas teorias antropológicas dos séculos XIX e XX, prevaleceu a concepção
de aculturação das comunidades indígenas como um processo de perda das
características culturais tradicionais em favor da assimilação dos indivíduos à
sociedade industrializada. A partir da década de 1970, interpretações menos
fatalistas do fenômeno passaram a surgir, entendendo a aculturação como um
movimento natural do contato entre culturas. Nessa perspectiva, a aculturação
é vista como um processo de intercâmbio de conhecimentos, costumes e tec-
nologias entre diferentes modos de vida que se influenciam mutuamente.
O Art. 231 da Constituição estabelece que as comunidades indígenas cons-
tituem-se em sujeitos coletivos de direitos coletivos. Esse movimento de afir-
mação dos direitos constitucionais das comunidades indígenas resultou em um
aumento significativo na autoidenti-
ficação desses grupos.
A identidade indígena considera a
presença de ascendência pré-colom-
biana e a pertença a um grupo étnico
distintivo em relação à sociedade na-
cional. Além disso, Viveiro de Castro
explica que a referência indígena não é
um atributo individual, mas um movi- OWERÁ - Guarani Kaiowá (Official Video).
Disponível em: https://www.youtube.
mento coletivo e define: “Índio é qual- com/watch?v=qf93m-on65w
quer membro de uma comunidade

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 17


indígena, reconhecido por ela como
ISSO É MASSA! tal.” (Castro, apud. ISA, 2006.)
Ou seja, o indivíduo indígena é
Dados de satélite mostram que considerado assim por ser membro
territórios indígenas formam de uma comunidade indígena e re-
uma espécie de barreira conhecido por ela como tal. O autor
contra o desmatamento no também chama atenção para a im-
Brasil, contribuindo para a portância dos conhecimentos tradi-
preservação das florestas. cionais produzidos e disseminados
https://brasil.mapbiomas. pelos povos originários no atual ce-
org/2022/04/19/terras- nário de crise causada pela explora-
indigenas-contribuem-para-a-
preservacao-das-florestas/ ção desenfreada dos recursos naturais
do planeta.
Os modos de vida tradicionais das
comunidades indígenas estabelecem
uma conexão particular com o território. Um estudo conduzido pela organiza-
ção MapBiomas revela que, entre 1985 e 2020, as áreas de floresta mais conser-
vadas coincidiram com as terras indígenas, tanto aquelas já demarcadas quanto
as que lutam por demarcação (IPAM, 2021).
Ailton Krenak , liderança indígena, filósofo e escritor, critica uma noção de
humanidade que não se estende para todos os povos e exclui, principalmente,
aqueles que não correspondem aos ideais eurocêntricos do capitalismo mo-
derno (Campos e Krenak, 2021). Nos últimos anos, com o recrudescimento do
autoritarismo, esses povos enfrentaram múltiplas violações de direitos huma-
nos, como o caso das comunidades Yanomamis que vivem no extremo norte da
amazônia e sofrem com a prática ilegal do garimpo que destrói a floresta, con-
tamina o solo e diminui a oferta de alimentos na região. Nesse sentido, asse-
gurar os direitos originários de permanência nas terras tradicionalmente ocu-
padas significa também salvaguardar o modo de vida, o habitat e a reprodução
social e cultural desses grupos.
A utilização generalizada do termo “índio” foi uma forma de classificar os
povos que habitavam o território brasileiro antes da colonização. Essa desig-
nação é limitante e não considera a forma como essas comunidades eram di-
versificadas entre si. Segundo o IBGE, em 2022 o número de indígenas no Bra-
sil era de 1.693.535 pessoas, o que corresponde a 0,83% da população total.
Só em Pernambuco, estado que possui a quarta maior população indígena do
país, existem pelo menos dez etnias
que vivem no Agreste e Sertão. São
Ailton Krenak: Tragédia elas: Truká; Atikum-Umã; Pankará;
Yanomami mostra que
o clube da humanidade Pipipã; Kambiwá; Pankararu; Tuxá;
não é para todos. Kapinawá; Fulni-ô; Xukuru.
Disponível no podcast
Ilustríssima Conversa, É importante pontuar que existem
no Spotify.
casos de povos que não possuem ter-

18 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


ritórios específicos passíveis de regularização e indígenas não aldeados que vi-
vem em contextos urbanos. Por isso, é essencial ampliar o debate sobre os di-
reitos dos povos originários e abrir espaço para que expressem suas demandas,
de acordo com as realidades e necessidades específicas de cada comunidade.

ATIVIDADE SUGERIDA
1. Pedir que os estudantes
escrevam uma carta em
resposta a uma das Cartas
para o Bem Viver, do livro
(gratuito) de Suzane Lima
Costa e Rafael Xucuru-Kariri.
https://cartasindigenasaobrasil.com.
br/livro/cartas-para-o-bem-viver/

2. Junto com os alunos,


explorar o Atlas do
Pernambuco Indígena para
descobrir qual comunidade
indígena está mais próxima
da sua região. A partir daí,
realizar uma pesquisa sobre
essa etnia específica, sua
língua, costumes, tradições,
modos de vida, entre outros
aspectos relevantes.
https://cartasindigenasaobrasil.com.
br/livro/cartas-para-o-bem-viver/

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 19


6
Identidade e diversidade cultural

Chico Science & Nação A identidade cultural de um grupo


Zumbi – Maracatu étnico se desenvolve à medida que
atômico
Disponível em: https:// ele interage e confronta outros gru-
www.youtube.com/
watch?v=_G63uF288T4 pos étnicos. Nesses encontros, os va-
lores culturais e o sistema simbólico
de cada grupo emergem como fer-
ramentas fundamentais para a afir-
mação de sua própria identidade (Teodoro, 1987). O Brasil, pelo seu processo
histórico de formação, possui uma cultura pluriétnica e, a partir da organi-
zação dos povos indígenas, tem buscado desenvolver políticas específicas de
reconhecimento e valorização dessa diversidade cultural, reconhecendo a
importância de promover o respeito e a inclusão das manifestações culturais
presentes em seu território.
O Art. 215 da Constituição atribui ao Estado a responsabilidade de prote-
ção das “manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras e
das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”. Esse
reconhecimento dos direitos culturais é importante não apenas para celebrar
as diferenças, mas também para fortalecer laços de coesão social e promover
a equidade entre os diferentes grupos étnicos e culturais que habitam o terri-
tório nacional.
No caso de Pernambuco, além da diáspora africana e da significativa presen-
ça de distintas etnias indígenas, podemos destacar as influências da colonização
portuguesa, da efêmera dominação holandesa (1630 a 1654) e da recente imigra-
ção nipônica como componentes essenciais que se entrelaçam para dar origem

20 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


a uma complexa tapeçaria de expres-
sões e tradições culturais no estado. ISSO É MASSA!
Entretanto, para compreender o
processo de construção das identi- Luís da Câmara Cascudo
dades culturais pernambucanas, de- escreveu um livro fenomenal
vemos nos voltar inicialmente ao re- sobre a nossa cultura alimentar.
conhecimento da história dos grupos Essa obra foi adaptada para o
indígenas e afro-brasileiros que exer- audiovisual através de uma série
cem influência nas principais mani- documental intitulada História
festações da cultura popular do esta- da alimentação no Brasil. Veja
do. Tais manifestações surgem como o teaser da série através do QR
criações coletivas, compartilhadas Code.
de geração a geração, principalmen- https://www.youtube.com/
te pela oralidade, e sua proliferação watch?v=gdSBYMh5s_g

relaciona-se, diretamente, com a re-


sistência cultural de grupos étnicos,
cujos membros historicamente pos-
suem menos poder político e recursos
econômicos (Guillen, 2008).
Exemplificando a riqueza da cultu-
ra popular pernambucana, destacam-
-se os blocos do carnaval do Recife, o
frevo, cavalo marinho, os grupos de
afoxé, o maracatu, a ciranda, o toré,
a literatura de cordel, a xilogravura,
as bandas de pífanos, o xaxado, entre VOCÊ SABIA?
outras expressões. A diversidade cul-
tural do estado manifesta-se também A apropriação cultural é uma
no cinema, na literatura, nas artes vi- forma de transformar símbolos
suais, bem como na sua cena musical, e produções culturais de
que abrange desde o tradicional até o outras culturas em mercadoria
mais contemporâneo. sem retorno efetivo aos povos
Canclini (2003) destaca uma crí- que as originaram.
tica aos estudos folcloristas, os quais https://www.youtube.com/
tendem a retratar os elementos da watch?v=8Q_H99xE9_U

cultura popular com uma certa nos-


talgia, encarando-os como relíquias
de um passado distante. Essa pers-
pectiva, por vezes, sugere que a sin-
gularidade da cultura popular está in-
trinsecamente ligada à sua fidelidade
ao passado rural, negligenciando
assim as profundas transformações

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 21


provocadas pela industrialização e
urbanização crescentes nas socieda-
des modernas.
Apesar dessas visões estáticas, a
cultura popular mantém sua vitali-
dade e continua a ser moldada e re-
Conheça o ritual indígena toré. configurada de maneira coletiva e
https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/ cotidiana. Por isso, uma análise da
noticias/2022-02/conheca-o-tore-ritual- dinâmica das transformações cul-
de-diferentes-etnias-do-nordeste-do-pais
turais deve levar em consideração a
agência dos indivíduos e seus grupos
no processo criativo de construção
da cultura. A diversidade dessas ex-
pressões culturais reflete não apenas
a resistência histórica desses grupos,
mas a riqueza do sistema simbólico e
a criatividade que emerge das intera-
ções sociais.
Noite dos tambores silenciosos de Olinda.
Existe na cultura uma potência ca-
paz de produzir e criar oportunidades
https://www.youtube.com/
watch?v=yIiPVTLazmE de inserção social e política. A agên-
cia dos indivíduos e comunidades na
criação e reprodução dessas expres-
sões culturais não apenas reforça suas
identidades coletivas, como também
desafia as estruturas dominantes e
reivindica espaços de reconhecimen-
to e valorização dentro da sociedade.

Documentário (curta): Naná Vasconcelos.

https://www.youtube.com/
ATIVIDADE SUGERIDA
watch?v=c74M2eowmS8
Se houver recursos em sua
escola, vocês poderiam
organizar uma ida ao
maracatu mais próximo a sua
cidade ou ao centro histórico
de Recife, visitando, por
exemplo, o Paço do Frevo.

22 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


7
Sugestões de metodologias
didáticas

“Exu matou um pássaro ontem com


uma pedra que só jogou hoje”.
(Antigo ditado Yorubá)

7.1 Analisando o filme


Como era gostoso Yaya Massemba - Virgínia Rodrigues.
Disponível em: https://www.youtube.

o meu francês
com/watch?v=r-70cBxqHYE

Para orientar estudantes do ensino


médio na análise sociológica da ques-
tão racial no filme Como era gostoso o
meu francês (dirigido por Nelson Pe-
reira dos Santos, em 1971, e influen-
ciado pelo relato de Hans Staden em
sua experiência entre os Tupinambás,
no século XVI), pode-se propor um
roteiro que incentive a reflexão crí-
tica sobre as representações de raça,
as relações interculturais e o contexto
histórico retratado no filme. O longa, Informações sobre o filme:
https://www.papodecinema.com.br/
ambientado no Brasil do século XVI, filmes/como-era-gostoso-o-meu-frances/
oferece uma rica oportunidade para

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 23


discutir a construção social da raça, o colonialismo e suas implicações nas rela-
ções entre europeus, indígenas e africanos.

Roteiro de análise

Contextualização histórica:
1) Pesquise e discuta o contexto histórico do Brasil no século XVI, focando na
chegada dos europeus, nas relações com os povos indígenas e na introdução da
escravização africana.
2) Reflita sobre como o filme retrata essas relações e se há anacronismos ou
distorções históricas.

Representação dos povos indígenas:


1) Analise como os indígenas são retratados no filme. Eles são mostrados de
maneira estereotipada ou como personagens complexos?
2) Discuta a representação da cultura indígena, língua, costumes e sua relação
com os colonizadores.

Perspectiva colonial:
1) Observe como o filme apresenta a perspectiva dos colonizadores europeus em
relação aos povos indígenas e africanos. Há sinais de etnocentrismo ou racismo?
2) Considere a escolha do título do filme e como ele reflete a visão dos coloni-
zadores.

Relações de poder e resistência:


1) Identifique e discuta as dinâmicas de poder entre os personagens europeus,
indígenas e africanos no filme.
2) Explore como o filme aborda temas de resistência e submissão entre esses
grupos.

PARA SABER MAIS


Entre diversos materiais didáticos, o blog Café com
Sociologia tem uma lista de filmes que podemos
utilizar para trabalhar a temática étnico-racial.
https://cafecomsociologia.com/questoes-etico-
raciais-suigestoes-de-filmes-sobre-a-tematica/

24 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


Reflexão crítica:
1) Reflita sobre o impacto do colonialismo nas relações raciais retratadas no fil-
me. Como essas relações do passado se conectam com questões raciais con-
temporâneas no Brasil?
2) Discuta a relevância do filme para entender a história e a construção social
da raça no Brasil.

Conexões com o presente:


1) Faça conexões entre as representações do filme e a realidade atual dos povos indí-
genas e afro-brasileiros. Quais são os desafios atuais enfrentados por esses grupos?
2) Pense em como o filme pode contribuir para o debate sobre racismo, multi-
culturalismo e reconhecimento da diversidade cultural no Brasil atual.

7.2 Corrida do
privilégio
Objetivo: Sensibilizar estudantes do
Ensino Médio sobre desigualdades
sociais, raciais e de gênero, utilizando
a Corrida do privilégio.
Materiais: Espaço amplo, lista de afir-
mações, quadro para anotações.
Jogo do privilégio branco:
Introdução https://www.youtube.com/
watch?v=MuOE3IJZoZU
Breve explicação sobre privilégio so-
cial e o propósito da atividade.

Instruções
1. Alinhar os estudantes e explicar o procedimento: passos à frente ou atrás
conforme as afirmações lidas.
2. Ler as afirmações adaptadas ao contexto local, permitindo que os alunos se
movam conforme suas experiências.
3. Discussão: manter as posições finais e iniciar uma discussão sobre as obser-
vações e sentimentos durante a atividade. (Observação: destacar a importância
da empatia e do respeito pelas diferentes vivências e fomentar a reflexividade
acerca da relação entre experiência individual e estrutura social)

Avaliação: participação ativa e reflexão crítica durante a discussão.

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 25


Sugestões de afirmações a serem adaptadas à realidade local:

1. Se já se sentiu sozinho(a) ou acuada(o) por ser a única pessoa da sua cor em
algum lugar, dê um passo atrás.
2. Se você acha que nunca perdeu uma chance de trabalho ou na escola só por ser
menino ou menina, dê um passo à frente.
3. Se seu pai esteve presente e te ajudou a crescer, avance.
4. Se já ficou desconfortável ou chateado(a) com algo que falaram do seu jeito de
ser, cabelo ou aparência, mas ficou com medo de responder, dê um passo atrás.
5. Se teve que trabalhar enquanto estudava para ajudar em casa, dê um passo atrás.
6. Se você anda tranquilo(a) pelas ruas do seu bairro, sem medo, dê um passo à
frente.
7. Se o nome que as pessoas te chamam é o mesmo que está no seu RG, dê um passo
à frente.
8. Se você acha que pessoas como você quase não aparecem na TV ou nos filmes,
ou, aparecem em papéis secundários ou de subordinação, dê um passo atrás.
9. Se nunca te deram um apelido chato por causa da sua cor, raça ou de onde você
vem, dê um passo à frente.
10. Se tinha muitos livros em casa quando você era criança, dê um passo à frente.

Avaliação: participação ativa e reflexão crítica durante a discussão.

7.3 Vozes da comunidade: mapeando


experiências raciais em nossa escola
Nas obras Educar pela pesquisa e Pesquisa: princípio científico e educativo, Pedro
Demo (2011a, 2011b) define a pesquisa como princípio educativo, para além da
academia. Essa abordagem fomenta a participação ativa na construção do co-
nhecimento, promovendo aprendizagem significativa, pensamento crítico e au-
tonomia intelectual. Nessa proposta o/a docente assume o papel de orientador(a),
criando um ambiente de investigação colaborativa entre alunos e educadores.

Objetivo geral:
Investigar e documentar as diversas experiências raciais dentro da comunidade
escolar, destacando os aspectos positivos (como inclusão e representatividade)
e os negativos (como discriminação e racismo), para promover um ambiente
escolar mais inclusivo e consciente.

26 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


Objetivos específicos:
• Identificar e analisar as percepções e experiências de estudantes, professores
e funcionários relacionadas à raça e ao racismo na escola.
• Mapear iniciativas e práticas existentes na escola que promovam a inclusão e
a diversidade racial.
• Propor recomendações baseadas nas descobertas para melhorar a inclusão ra-
cial e combater o racismo na comunidade escolar.

Apresentação dos resultados:


•E
 laboração de um relatório ou apresentação que sintetize as descobertas, in-
cluindo citações diretas dos participantes (mantendo o anonimato) para ilus-
trar os pontos principais.
•R
 ealização de um fórum ou seminário aberto a toda a comunidade escolar para
discutir os resultados da pesquisa e coletar feedback.

Ações baseadas na pesquisa:


•D
 esenvolvimento de um plano de ação que inclua recomendações para a es-
cola, com base nas descobertas da pesquisa, buscando o combate ao racismo.
•P
 roposição de iniciativas como workshops, palestras, formação de grupos de
discussão e revisão do currículo escolar para incorporar mais conteúdos sobre
diversidade racial e cultural.

Avaliação:
A avaliação da pesquisa será baseada na profundidade da investigação, na cla-
reza da apresentação dos resultados e na viabilidade das recomendações pro-
postas. O envolvimento ativo dos participantes e a reflexão crítica sobre o pro-
cesso e os resultados também serão considerados.

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 27


7.4 Perfis de intelectuais em redes sociais
A integração de conteúdos de ativistas indígenas e afrodiaspóricos nas redes
sociais por professores da rede básica de ensino enriquece o ambiente educa-
cional, atualizando e diversificando materiais e atividades com perspectivas
contemporâneas. Essa prática promove uma educação inclusiva, combate o
racismo e o preconceito, e fomenta um ambiente de aprendizagem empático,
contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos, incenti-
vando a análise crítica das narrativas dominantes, e empodera estudantes in-
dígenas e afrodiaspóricos, valorizando sua herança cultural e fortalecendo sua
autoestima e identidade cultural.

INSTAGRAM

APIB: @apiboficial
ANMIGA: @anmigaorg
Geni Núñez: @genipapos
Tukumã Pataxó: @tukuma_pataxo
Alice Pataxó: @alice_pataxo
Txai Suruí: @txaisurui
Samela Sateré-Mawé: @sam_sateremawe
Cristian Wariu: @cristianwariu
Lídia Guajajara: @lidiaguajajara
Trudruá Dorrico: @trudruadorrico
Priscila Tapajowara: @priscilatapajowara
Elison Santos: @indigena_memes
Bárbara Carine: @uma_intelectual_diferentona
Erika Hilton: @hilton_erika
Instituto Luiz Gama: @institutoluizgama
Rádio Yande: @radioyande
Giovanna Heliodoro: @transpreta
Nath Finanças: @nathfinancas
Kananda Eller: @deusacientista
Natália Romualdo: @pretasflix
Maristela Rosa: @papodepreta
Jade lobo: @jadealobo
Thiago Torres: @chavosodausp.02
Nátaly Nery: @natalyneri
ABECS: @abecs.nacional

28 Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio


PARA SABER MAIS
Indicações de Bases Teóricas

Sociedade Brasileira de Sociologia:


https://sbsociologia.com.br/congressos/anais-de-congressos/

Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs): https://abecs.com.br/

Café com Sociologia: https://cafecomsociologia.com/

Capes periódicos: https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php

Associação Brasileira de Antropologia (ABA): https://portal.abant.org.br/anais-rbas/

Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP): https://cienciapolitica.org.br/web/

Associação Brasileira de Pesquisadores Negros/as (ABPN): https://abpn.org.br/

Associação dos povos indígenas do Brasil (APIB): https://apiboficial.org/

Considerações finais

Como educadores e educadoras comprometidos com a construção de uma so-


ciedade mais justa e igualitária, reconhecemos a escola como um espaço fun-
damental de transformação social. Entendemos que a educação possui o poten-
cial de ser uma ferramenta poderosa na luta contra o racismo e na promoção da
diversidade, da solidariedade e do respeito mútuo. Conscientes de que a escola
tem sido historicamente um local de reprodução de desigualdades e preconcei-
tos, reafirmamos o compromisso de transformá-la em um ambiente inclusivo,
onde todas as pessoas, independentemente de sua origem étnico-racial, sin-
tam-se valorizadas e respeitadas. Além disso, é fundamental que o ambiente
educativo estimule o desenvolvimento das capacidades e potências humanas
em cada indivíduo, proporcionando uma formação crítica e cidadã que favore-
ça o desenvolvimento da autonomia intelectual e o protagonismo na constru-
ção de trajetórias individuais e da História coletiva.
A integração da temática étnico-racial no currículo de Sociologia é uma
oportunidade crucial para promover o entendimento, a empatia e o respeito
pela diversidade. Abraçamos o desafio de “desnaturalizar” a vida social, ou
seja, compreender que os fenômenos sociais são produtos do devir histórico
dinâmicos e mutáveis para refletir sobre as questões étnico-raciais de forma

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 29


consciente e responsável. É preciso reconhecer e valorizar as contribuições de
todos os grupos étnico-raciais que compõem a sociedade brasileira, o que im-
plica em não perpetuar narrativas deterministas sobre grupos subalternizados,
nem reforçar estereótipos prejudiciais.
Esta cartilha fornece aos professores e professoras recursos necessários para
abordar a temática étnico-racial de maneira construtiva e significativa. E pro-
põe uma reflexão coletiva que envolva discentes, docentes, familiares, funcio-
nários e gestores, não apenas como parte do currículo de Sociologia, mas como
um componente essencial de todos os espaços de construção de uma escola
verdadeiramente democrática, onde todas as pessoas se sintam acolhidas, res-
peitadas e capacitadas a contribuir para a construção de uma sociedade inclu-
siva e igualitária. Em prol de uma educação antirracista que promova a igual-
dade, o respeito e a dignidade de todas as pessoas.

Referências bibliográficas

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tade deles vive na Amazônia Legal. 2012.

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Desigualdades raciais e de renda no acesso à saúde nas cidades brasileiras. Texto
para Discussão Ipea, 2832. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Cartilha de práticas pedagógicas | SOCIOLOGIA | Ensino Médio 31


GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Raquel Teixeira Lyra Lucena


Governadora do Estado

Priscila Krause Branco


Vice-Governadora

Ivaneide de Farias Dantas


Secretária de Educação e Esportes – SEE/PE

Tarcia Regina da Silva


Secretária Executiva de Desenvolvimento da Educação – SEDE

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