Diego, 1632

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.

17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

O estado da arte da competência em informação no


Brasil e o protagonismo científico
The state of the art of information literacy in Brazil and scientific protagonism

Regina Celia Baptista Belluzzo


Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
[email protected]

RESUMO
Trata-se de palestra proferida durante o V Seminário de Competência em Informação (UNESP-Marília-
SP) com o objetivo de apresentar a Competência em Informação como uma área de estudos e pesquisas
por meio de um briefing em face das origens desse movimento e do seu protagonismo científico no
Brasil.

Palavras–chave: Competência em informação; Protagonismo científico; Produção científica.

ABSTRACT
This is a lecture given during the V Seminar on Information Literacy (UNESP-Marília-SP) with the
objective of presenting Information Literacy as an area of studies and research through a briefing on
the origins of this movement and the its scientific protagonism in Brazil.

Keywords: Information literacy; Scientific protagonism; Scientific production.

1 INTRODUÇÃO

Vamos adentrar pelo tema “Competência em Informação” (CoInfo) e apresentar um


panorama acerca de sua trajetória e do seu protagonismo científico.
Para tanto, inicia-se por traçar uma régua no tempo, salientando que a partir de uma
prática tradicional fechada em si mesma, algumas áreas científicas passaram a incorporar,

1
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

de forma gradual, recursos informacionais e mecanismos midiáticos, tendo na visibilidade


da informação e da mídia uma dessas maneiras de se legitimar socialmente.
É nesse contexto que a figura do cientista é criada como o indivíduo envolvido em
atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para se promover e obter recursos para
futuras pesquisas e a consequente produção acadêmica.
Atualmente, por meio da Internet, multiplicam-se perfis de cientistas em redes
sociais digitais, tais como: Facebook, Twitter, Google+ e em redes específicas para
cientistas e profissionais: Linkedin, ResearchGate e Academia.edu, sendo que essas duas
últimas redes congregam, respectivamente, 17.000.000 (OLIVEIRA, 2021) e
aproximadamente 18.300.000 de pesquisadores de todo o mundo (COMUNICAR, 2017) e
que buscam nelas um espaço para compartilhar artigos científicos e informações sobre
ciência de uma forma colaborativa.
Ao longo da sua trajetória, a ciência firmou-se como uma atividades importante para
a sociedade, transformando o modo como habitamos o mundo e moldamos nossas
aspirações por meio do tripé: instituição científica, sujeito cientista e discurso científico
(WATANABE; KAWAMURA,2017).
Falar de prática científica e do que significa ser cientista passa, então, por
compreender as construções sociais e práticas discursivas que moldam esses objetos.
No decorrer da trajetória da prática científica, o processo de construção ocorreu de
maneira dispersa e sem uniformidade e os cientistas, em meio a isso, são seres de
linguagem que se constroem por meio do discurso, da apropriação de gêneros discursivos
e da sua socialização. Portanto, a construção de discursos nas comunidades científicas
está relacionada a aspectos sociais, tais como: a interação entre cientistas e as posições
sociais ocupadas por eles no campo científico.
Levar à compreensão do modo como os cientistas se constroem por meio da
linguagem requer olhar para suas relações sociais e para a sua condição de protagonismo,
objeto de atenção deste artigo e a relação com a Competência em Informação (CoInfo) e o
seu protagonismo científico.

2 O PROTAGONISMO CIENTÍFICO E A COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO

O passo inicial requer o entendimento de que todo campo científico se constitui


como um espaço heterogêneo e desigual e que esses elementos conformam posições

2
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

sociais distintas para os cientistas. Vale lembrar que essa heterogeneidade também se
refere à diversidade de áreas de conhecimento existentes.
Devemos pensar os cientistas como membro de uma mesma comunidade de
práticas, uma vez que compartilham o mesmo empreendimento – o de fazer avançar o
conhecimento científico – constituindo-se por meio da aprendizagem coletiva sobre o
método científico e técnicas experimentais, compartilhando as mesmas terminologias de
suas área do conhecimento em que se acham envolvidos. Além disso, convém salientar
que existem esforços desses cientistas quando tratam de temas complexos para que se
façam compreender pela sociedade dita leiga, de acordo com Zamboni (2001), devendo-
se levar em conta que cada dia mais tentam aproximações com o seu entorno social.
Assim, temos a menção de Watanabe; Kawamura (2017, p.304) ao afirmarem que:

No entanto, ainda que a esfera social e a percepção individual dos


cientistas entendam a importância de divulgar como elemento fundante
para o reconhecimento da ciência pela sociedade, ainda existe um espaço
expresso por ideais e sentidos que são inerentes ao contexto dessas
compreensões que perpassam pela distância entre o que constitui o
discurso e o que se torna prática efetiva. Em especial, e não obstante a
intencionalidade recorrente e socialmente aceita, é a existência de uma
necessária aproximação, mesmo que limiar, entre o mundo externo
(leigo) e o mundo científico (WATANABE; KAWAMURA, 2017, p.304).

Desse modo, considerando-se o conceito do campo científico de Pierre Bourdieu


(1976, p. 98) que o apresenta como sendo “[...](lugar de luta política pela dominação
científica) é que designa a cada pesquisador, em função da sua posição, seus problemas
políticos-científicos, bem como seus métodos e estratégias [...]”, podemos compreender a
estrutura das comunidades científicas brasileiras a partir de seus atores sociais e sua
representatividade.
Produzir ciência no país envolve uma variedade de atores sócio discursivos que
assumem diversos papéis, tais como: professores doutores, pesquisadores, estudantes de
pós-graduação (níveis de mestrado, doutorado e pós-doutorado), bolsistas de graduação,
técnicos de laboratórios, tomadores de decisões políticas nos ministérios de Ciência e
Tecnologia (C&T) e as agências de fomento e financiamento de pesquisa, como o Conselho
Nacional de Pesquisa (CNPq), Fundações de Amparo à Pesquisa etc. além de divulgadores
de ciência nas mais diferentes formas. Entender como se dá a construção do
conhecimento científico nas diferentes áreas, requer, então, prestar atenção ao modo
distinto com que esses grupos sociais trabalham a literatura científica, criticam ideias e
3
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

produzem questões científicas. Salienta-se que elementos sociais, como as


hierarquizações entre cientistas e as diferenças entre as comunidades de práticas das
áreas de conhecimento, são reiterados no discurso científico e materializados por meio
da circulação de objetos textuais na comunidade científica. Além disso, no sistema
científico contemporâneo, a demanda por produção através da publicação constante
aparece como estrutura dominante que determina as ações dos cientistas e as práticas
compartilhadas entre os cientistas de uma disciplina específica auxiliam na criação de
uma identidade para essa comunidade, o que permite o seu protagonismo científico.
Esse é o cenário do que ocorre também com os cientistas e a pesquisa em
Competência em Informação no Brasil em face de seu protagonismo científico, cabendo
salientar que esse protagonismo tem relação conceitual com o paradigma social da CI ao
deslocar seus atores/cientistas para o papel principal, por revelar uma dimensão pessoal
e, paralelamente, um tempo plural de convivência com seus pares, com a comunidade a
qual pertence, promovendo ações em diferentes níveis, inclusive informacionais, e
potencializado uma dinâmica social, cultural e científica em seu próprio ambiente e no
seu entorno social. Cria-se, então uma dinamização mediante a intervenção, ao implantar
ações que podem ajudar o protagonista a se apropriar da informação em um movimento
de produção de conhecimento e de cultura que fazem com que os protagonistas se
tornem, ao mesmo tempo cientistas e objetos dos processos em que estão inseridos,
produtores e criadores de significados, sentidos e práticas sociais. (PERROTTI;
PIERUCCINI, 2007).
Para Klein (2009, p. 10) “[...] protagonismo é um conceito cujo significado é
relacional, na medida em que só pode ser compreendido em relação aos diferentes
sujeitos, envolvidos num acontecimento”. Portanto, pode-se dizer que o protagonismo
científico requer, a partir da concepção de Bordieu (1976) reconhecimento, marcado e
garantido socialmente por todo um conjunto de sinais específicos de consagração que os
pares-concorrentes concedem a cada um de seus membros, é função do valor distintivo
de seus produtos e da originalidade (no sentido da teoria da informação) que se reconhece
coletivamente à contribuição que ele traz aos recursos científicos já acumulados.
Após essa breve explanação sobre o protagonismo científico, vamos abordar a
competência em informação fazendo um briefing sobre sua situação e o protagonismo que
está exercendo.

4
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

Inicia-se por mencionar Paul Zurkowski (1974) enquanto Presidente da Information


Industry Association e que apresentou proposta dirigida à National Commition on Libraries
and Information Science (EUA) tendo utilizado pela primeira vez o termo information
literacy. Ele chamou a atenção, na época, para uma superabundância de informação,
considerada como um atributo da sociedade da informação. Como essa superabundância
já era considerada uma condição universal, ele recomendou a competência em
informação enquanto um movimento que pudesse estimular, nos indivíduos, o
desenvolvimento de capacidade para transformar a informação disponível em
conhecimento aplicável nas situações do dia a dia. No documento, ele identificou o
indivíduo “competente em informação” como sendo aquele capaz de utilizar a ampla gama
de ferramentas de informação e fontes primárias para planejar soluções apoiadas em
informações para seus problemas.
A partir dos anos de 1980 até o momento, ocorreram manifestações de adesão
pouco refletida por parte de diferentes instituições e profissionais a um “discurso de
autoridade” promovido por organismos como American Library Association (ALA),
International Federation Library Associations (IFLA) e United Nations Educational,
Scientific and Cultural Organization (UNESCO), os quais assumem a Information Literacy
(CoInfo), em Alexandria no ano de 2005, como “Farol da Sociedade da Informação” (IFLA,
2005, p. 1).
O movimento da Competência em Informação surgiu em um contexto de
ressignificação da prática bibliotecária de educação de usuários como uma linha de ação
do Serviço de Referência em Informação nas bibliotecas. Uma síntese cronológica pode
evidenciar as principais fases e domínios desse movimento:
 Em 1976 - a expressão information literacy apresenta diferentes perspectivas -
fator de emancipação política ou relacionado à questão da cidadania e
responsabilidade social no que diz respeito ao uso competente da informação
(CAMPELLO, 2003).
 Nos anos 80 - recebe a influência da tecnologia da informação, configurando-se
uma ênfase instrumental e restrita para a information literacy (SANTOS, 2011).
 Nos anos 90 – época foi marcada pela busca de fundamentação teórica e
metodológica para o desenvolvimento de programas dessa competência, em todo
o mundo e em várias organizações. Destaca-se a publicação do livro Information

5
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

Power, em 1998, que auxiliou na assimilação do conceito de competência em


informação pela classe bibliotecária (CAMPELLO, 2003).
Com a contribuição expressiva dos Estados Unidos da América, o movimento da
competência em informação ganhou proporções mundiais. E, embora a prática da CoInfo
tenha surgido antes mesmo de sua utilização numa perspectiva ligada a bibliotecas e
centros de documentação, com seu crescimento e expansão, e devido a sua similaridade
com outras práticas biblioteconômicas, consolidou-se em instituições de ensino e
pesquisa, sendo sua precursora a “Educação de Usuários”.
A ênfase nas habilidades de uso e busca da informação, ambas presentes na
Educação de Usuários e no novo referencial de Coinfo, não se inseriu de imediato nas
bibliotecas brasileiras, mas sim se consolidou nos Estados Unidos, com a criação de
comitês e grupos de estudo sobre o tema Educação de Usuários, como por exemplo o
Library Orientation Instruction Ex-change (LOEX, 2021) da Eastern Michigan University,
tornando-se uma atividade essencial naquele país no cotidiano de bibliotecas escolares e
universitárias, em especial.
Atualmente, o movimento da competência em informação, inclui-se, dentre as
capacidades para o processo de busca e de avaliação crítica da informação,
compreendendo a preocupação com o aprendizado do acesso e uso da informação de
forma inteligente para a construção do conhecimento e aplicação à realidade social, além
de envolver questões mais amplas como o exercício da cidadania e o aprendizado ao longo
da vida.
Por sua vez, em nosso contexto, as iniciativas em relação à CoInfo são realizadas
desde o ano 2000, em especial na área da Ciência da Informação, destacando-se as
atividades pioneiras pela Seção da América Latina e Caribe da IFLA (IFLA/LAC),
Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e
Instituições (FEBAB) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
(IBICT), Universidade de Brasília (UnB), UNESP, a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Ciência da Informação (Ancib), dentre outras universidades, organizações
e institutos de pesquisa de importância no país.
Destaca-se também no que tange à realização de projetos, eventos e publicações
especificamente voltadas para a CoInfo e o lançamento de marcos históricos, tais como: a
Declaração de Maceió (2011), Manifesto de Florianópolis (2013) e Carta de Marília(2014),
oferecendo maior visibilidade sobre a emergência de estudos e pesquisas, além de

6
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

permitir a divulgação de experiências e vivências com a CoInfo em diferentes cenários.


Ainda, é importante chamar atenção para a importância das parcerias e da criação e
fortalecimento de redes nesse processo de construção do campo científico da CoInfo no
Brasil (Figura 1).
Um dos convênios de importância ocorreu, quando em 2014, nas dependências da
UNESP-Marília (SP), aconteceu o IV Seminário de Competência em Informação em
conjunto com o IV Seminário Hispano-Brasileiro de Pesquisa em Informação,
Documentação e Sociedade, como resultado da união entre a Universidade Estadual Júlio
de Mesquita (UNESP), a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Complutense de
Madri (Espanha). O objetivo foi promover o intercâmbio acadêmico e científico entre
instituições brasileiras e espanholas, além de outras instituições em âmbito internacional,
de modo a consolidar a cooperação e o vínculo estabelecido pelas universidades e seus
representantes, reforçando o conhecimento em relação às novas perspectivas de
pesquisa, destacando-se a Competência em Informação como um dos temas centrais do
evento.

Figura 1 – Algumas vivências, parcerias e convênios de Competência em Informação no Brasil

Fonte: elaborado pela autora (2021)


Descrição da imagem: Apresentação de várias vivências, parcerias e convênios efetuados com instituições
destacando-se a parceria com a FEBAB na maioria dos eventos, desde 2004 até 2018, utilizando treze
elipses, sendo 10 em cores lilás claro e com bordas em cor laranja, além de três em cor laranja e com bordas
em azul escuro (estas últimas, destacando os resultados de seminários de competência em informação que
se tornaram os marcos históricos – Declaração de Maceió, Manifesto de Florianópolis e Carta de Marília –
para a área.

7
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

Destaca-se no momento, inclusive, a criação do Grupo de Trabalho - GT/CoInfo/


FEBAB e que está sob a Coordenação da Profa. Dra. Camila Araújo Santos, pesquisadora
que traz consigo em sua trajetória várias contribuições ao movimento dessa competência.
Por outro lado, estudos brasileiros como a pesquisa de Leite et. al. (2016) em
levantamento realizado no portal da ANCIB - ENANCIB, mostrou que a partir de 2009 há
um crescimento na produção de trabalhos sobre CoInfo apresentados no ENANCIB. Além
disso, também pode ser encontrado um breve panorama em artigo de Simeão et al. (2019)
sendo que as autoras ressaltam os principais estudos e vivências envolvendo o campo
científico que diz respeito ao cenário atual da CoInfo, com destaque para evidência e
importância dos estudos e pesquisas no campo da Ciência da Informação no Brasil e no
mundo e para o papel das parcerias nacionais e internacionais.
Ampliando e, de certa forma ratificando os resultados anteriores, pesquisa
realizada por mim e publicada em 2018 sobre a situação da CoInfo no contexto brasileiro,
procurou definir categorias de indicadores de produção científica da área CoInfo entre
2000 e 2016. Desse modo, ao analisar a produção científica por tipo de produção e
indicadores de assuntos, constatou-se que houve um desenvolvimento considerável na
produção científica de artigos de periódicos, teses e dissertações e livros, identificando
vários grupos de pesquisa, devidamente cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa
do CNPq e envolvidos com o tema Competência em informação em diferentes áreas
(BELLUZZO, 2018).
Em artigo mais recente, publicado por Farias et al. (2021) é apresentado um
overview sobre os 20 anos de pesquisa sobre Competência em Informação (CoInfo), por
meio da análise das temáticas abordadas nas pesquisas desenvolvidas nos Programas de
Pós-Graduação em Ciência da Informação do Brasil. Assim, essa pesquisa consistiu em
identificar as perspectivas temáticas e a transversalidade da CoInfo na produção científica
brasileira que teve como referência como marco temporal o período referente aos anos
2000-2019. Para a seleção das teses e dissertações, foi utilizado o Catálogo de Teses e
Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Para compilação e análise dos resultados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo
(BARDIN,2016) quando se fez uso dos indicadores propostos por Belluzzo (2018) como
categoria de análise do conteúdo de cada pesquisa. Os resultados indicaram que a maior
parte das publicações se concentra como tema de Mestrado. As autoras também
observaram aumento da produção científica sobre o tema a partir do ano de 2011, com

8
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

um pico no ano de 2016. As cinco Instituições de Ensino Superior que mais reuniram
trabalhos sobre CoInfo foram: a Universidade de Brasília, a Universidade Federal de Minas
Gerais, a Universidade Estadual Paulista –Campus de Marília, a Universidade Federal da
Bahia e a Universidade Federal de Santa Catarina. Além disso, também salientaram que a
produção científica sobre o tema ainda se acha muito centrada na área da Ciência da
Informação e com um fluxo grande de produções na região centro-sul do Brasil.
Destacaram que os docentes/pesquisadores que mais orientaram sobre o tema estão
inseridos entre 08 e 11 trabalhos orientados. No que concerne às temáticas, também
houve destaque para a transversalidade, em especial com a área de Educação.
Isso demonstra um cenário de certa forma favorável ao protagonismo científico do
tema, apesar de sermos um país em desenvolvimento com grandes restrições econômicas
e culturais, aspectos que influenciam fortemente o desenvolvimento e constituem
barreiras à sua consolidação, principalmente por questões de ordem prática e estruturais.
Mas, mesmo assim, podemos dizer que ainda nos encontramos em estado inicial de
difusão e investigação, ainda que possa se observar um crescimento significativo nessa
área. Esse crescimento, além de certa forma expressivo, também se dilui, portanto, em
diferentes grupos de pesquisa e com distintas aplicações, seja no contexto escolar e
institucional, seja no ambiente corporativo.
Pode-se dizer que o alcance de um status científico a uma área de saber é o uso de
uma metodologia e a possibilidade de testar suas proposições e, nesse sentido, a
Competência em Informação já tem luz própria, como área de estudos na Ciência da
Informação, com bastante autonomia, apesar de sua grande interface com outras áreas do
conhecimento, entre as quais podemos mencionar a educação, as ciências sociais, a
psicologia cognitiva, a comunicação, o marketing, o direito e a Informática, entre outras.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A CoInfo não é opcional e, nesse milênio, ela se torna o conceito fundamental em


torno do qual outras competências se aglutinam. Gerenciar e usar as informações de
maneira eficaz é uma habilidade básica de sobrevivência para todos nós, como indivíduos
e como cidadãos.
Existe até mesmo uma recomendação da UNESCO no sentido da união da
Competência em Informação com a Competência Midiática (AMI) a fim de contribuir para

9
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

o alcance do Desenvolvimento Social, Inovação e a Sustentabilidade na sociedade


hiperconectada em que vivemos. (GRIZZLE; MOORE; DEZUANNI, 2016) em primeira
publicação a tratar a AMI como um conceito composto, além de considerar a liberdade de
expressão e o acesso à informação por meio das tecnologias de informação e comunicação
(TIC). Essas diretrizes oferecem uma abordagem harmonizada, que, por sua vez, permite
a todos os atores a articulação de políticas e estratégias nacionais da AMI mais
sustentáveis, que descrevem o processo e o conteúdo a serem inseridos. Considera-se,
portanto, que a inserção das tecnologias de informação e comunicação em praticamente
todas as dinâmicas e atividades da sociedade moderna tornou necessário o
desenvolvimento e a apropriação da CoInfo em inter-relação com as habilidades de acesso
e uso inteligente das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Aqueles que
conseguem entender e usar confortavelmente as facilidades tecnológicas e midiáticas
colocam-se em vantagem em termos não só de educação e empregabilidade, mas em todos
os aspectos da vida que demandam comunicação e informação.
Se acreditarmos que a competência em informação educa as pessoas para a vida
como seres humanos livres que têm a capacidade de influenciar o mundo, então a CoInfo
precisa incorporar a compreensão de como as notícias e os fluxos de informações são
modelados por algoritmos e, para tanto, é preciso saber mais sobre como as pessoas
interagem com plataformas orientadas por eles – surge no cenário a “ Algorithm literacy”,
uma nova vertente da CoInfo., sendo que a UNESCO (2021) em seu The Algorithm Literacy
Project menciona, em síntese, que os algoritmos estão em toda parte na web, mas
geralmente são invisíveis. Os algoritmos aprendem com seu comportamento, podem
limitar as opções disponibilizadas on-line e influenciar suas escolhas. Por meio desse
processo, as pessoas podem ficar presas em uma 'bolha de preferências': o algoritmo
passa a mostrar apenas as coisas que elas acham que gostarão, restringindo sua visão do
mundo. É recomendável, portanto, que as gerações mais novas e as futuras desenvolvam
essa vertente da CoInfo porque elas estão emergindo como cidadãos digitais e futuros
tomadores de decisão em um mundo onde precisarão aprender como proteger seus dados
e usar a tecnologia de forma responsável.
Devemos considerar cursos de ação para a preparação de profissionais que
entendam a importância da informação e do conhecimento, das tecnologias e das forças
sociais que moldam a circulação de notícias e informações na sociedade hoje, a fim de

10
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

poder consolidar o protagonismo científico da CoInfo e enfrentar as incertezas atuais e


futuras.
Finalizando, deixo aqui uma mensagem da poetisa Cora Coralina como reflexão...
“Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.”

REFERÊNCIAS

BELLUZZO, Regina Celia Baptista. Competência em informação: cenários e espectros. São


Paulo: ABECIN, 2018.

BOURDIEU, Pierre. Campo científico. Actes de Ia Recherche en Sciences


Sociales, n. 2/3, jun. 1976, p. 88-104. Tradução de Paula Montero. Disponível em:
https://cienciatecnosociedade.files.wordpress.com/2015/05/o-campo-cientifico-pierre-
bourdieu.pdf Acesso em: 29 jun. 2021.

CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o


letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v.32, n.3, p.28-37, set./dez. 2003.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ci/a/9nQgbdkq5nXsNBLfv5MBHNm/?format=pdf&lang=pt Acesso
em: 02 jun. 2021.

CARTA de Marília. 2014. Disponível em: https://labirintodosaber.com.br/wp-


content/uploads/2018/02/labirinto-do-saber-carta-de-marilia.pdf. Acesso em: 2 jun. 2021.

DECLARAÇÃO de Maceió sobre competência em informação.2011. Disponível em:


http://febab.org.br/declaracao_maceio.pdf Acesso em: 2 jun. 2021.

FARIAS, Gabriela Belmonte de; MATA, Marta Leandro da; ALVES, Ana Paula Meneses; Santos,
Camila Araújo dos. 20 anos de pesquisa sobre Information Literacy no Brasil: análise temática
das teses e dissertações do Catálogo da CAPES. RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., Brasília, v. 14, n. 1,
p. 289 -301, jan./abr. 2021.

GRIZZLE, Alton; MOORE, Penny; DEZUANNI, Michael. Alfabetização midiática e


informacional: diretrizes para a formulação de políticas e estratégias. Brasília: UNESCO:
Cetic.br, 2016.

INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATIONS AND INSTITUTIONS.


Declaração de Alexandria sobre competência informacional e aprendizado ao longo da
vida. 2005. Disponível em:
https://www.ifla.org/files/assets/wsis/Documents/beaconinfsoc-pt.pdf. Acesso em: 02
jun. 2021.

KLEIN, O. J. Para compreender o protagonismo social na construção do telejornalismo em rede.


In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 22. 2009, Curitiba. Anais...
Curitiba: Intercom–Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação,

11
Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 17,
n. esp. V Seminário de Competência em Informação, p. 01-12, 2021 |

2009.Disponível em: http://www.inpecc.pro.br/media/uploads/pesquisas/r4-2268-1.pdf


Acesso em: 04 jun. 2021.

LEITE, Cecília; SIMEÃO, Elmira Luzia Melo Soares; NUNES, Eny Marcelino de Almeida;
DIÓGENES, Fabiene Castelo Branco; FERES, Glória Georges; FREIRE, Isa Maria; BELLUZZO,
Regina Celia Baptista. Cenário e perspectiva da produção científica sobre competência em
informação (CoInfo) no Brasil: estudo da produção no âmbito da ANCIB. Informação
&Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 26, n. 3, p. 151-168, set./dez. 2016. Disponível em:
http://www.periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/31983/16876 Acesso em: 25
maio 2021.

LOEX -LIBRARY ORIENTATION, INSTRUCTION AND EX-CHANGE. Disponível em:


https://www.loex.org/index.php Acesso em: 2 jun. 2021.

MANIFESTO de Florianópolis sobre a competência em informação e as populações vulneráveis.


2013. Disponível em: http://febab.org.br/manifesto_florianopolis_portugues.pdf. Acesso em: 02
jun. 2021.

OLIVEIRA, Antonella Carvalho de. Research por Atena Editora. Disponível em:
https://www.atenaeditora.com.br/blog/researchgate-por-atena-editora/ Acesso em: 30 maio
2021.

PERROTTI, E.; PIERUCCINI, I. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. In: LARA,


Marilda. Lopes Ginez de; FUJINO, Asa; NORONHA, Dayse Pires (Orgs.). Informação e
contemporaneidade: perspectivas. Recife: Néctar, 2007. p. 47-96

REDES sociais científicas. Disponível em: https://www.revistacomunicar.com/wp/escola-de-


autores/redes-sociais-cientificas-academia-edu/ Acesso em: 30 maio 2021.

SANTOS, C. A. Análise de instrumentos de avaliação da competência informacional


voltados para a educação superior. 180f. Marília. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2011.

WATANABE, Graciela; KAWAMURA, Maria Regina. A divulgação científica e os físicos de


partículas: a construção social de sentidos e objetivos. Ciência & Educação, Bauru, v. 23, n. 2, p.
303-320, abr.-jun. 2017. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ciedu/a/PVVLgBxW7WGtHnB43vNS3Lv/?lang=pt Acesso em:2 jun.
2021.

SIMEÃO, Elmira Luzia Melo Soares; BELLUZZO, Regina Celia Baptista; DIÓGENES, Fabiene
Castelo Branco; NUNES, Eny Marcelino de Almeida; LEITE, Cecília. Estruturação estratégica do
campo científico da Competência em Informação no Brasil: integrando redes e instituições. RICI:
R.Ibero-amer. Ci. Inf., Brasília, v. 12, n. 2, p. 440-453, maio/ago., 2019. Disponível em:
https://labirintodosaber.com.br/wp-content/uploads/2019/05/CoInfo-Campo-
Cient%C3%ADfico-revista-RICI-maio-agosto-2019.pdf. Acesso em: 25 maio 2021.

UNESCO. The Algorithm Literacy Project. 2021.Disponível em: https://algorithmliteracy.org/


Acesso em: 8 jun. 2021.

ZURKOWSKI, Paul. G. The information service environment relationshipand priorities.


Washington, D.C.: National Commission on Libraries and Information Science. Nov. 1974. 30p.
Related paper, n.5. Disponível em: http://files.eric.ed.gov/fulltext/ED100391.pdf Acesso em: 2
jun.2021.

12

Você também pode gostar