Tema 2. O Porquê Da Revelação - Opus Dei
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Tema 2. O Porquê Da Revelação - Opus Dei
org
01/10/2022
Sumário:
O porquê da Revelação
A chamada à comunhão e à fé
1. O porquê da Revelação
Deus, no entanto, não deixou o homem nesta situação. Quis se revelar, ou seja,
manifestar-se, sair do seu mistério e tirar o “véu” que nos impedia de conhecer
quem é e como Ele é. Não fez isso para satisfazer a nossa curiosidade e nem
apenas comunicando uma mensagem sobre Si mesmo, mas se revelou vindo
Ele mesmo ao encontro dos homens – especialmente como o envio de seu Filho
ao mundo e com o dom do Espírito Santo – e convidando-os a entrar em uma
relação de amor com Ele. Quis revelar a sua própria intimidade, tratar os
homens como amigos e como filhos amados, para fazê-los plenamente felizes
com o seu amor infinito.
Por isso, o Deus que o Antigo Testamento nos apresenta é plenamente superior
e transcendente ao mundo e, ao mesmo tempo, intimamente relacionado com
o mundo, com o homem e com sua história. Por si mesmo, permanece
inacessível em sua grandeza, mas seu amor o torna imensamente próximo dos
homens. É soberanamente livre em suas decisões e, ao mesmo tempo, está
inteiramente comprometido com elas.
Isto não significa, obviamente, que sejam três Deuses, e sim que são três
pessoas distintas na unidade do único Deus. Isto se entende melhor se se
consideram os nomes das pessoas, pois falam de que a relação entre elas é de
intimidade profunda. Entre os homens é natural que a relação paterno-filial
seja de amor e de confiança. No plano divino, esse amor e confiança são tão
plenos que o Pai é totalmente íntimo ao Filho e vice-versa. Analogamente a
relação entre cada um e seu próprio espírito é de intimidade. Tantas vezes nos
encontramos conosco mesmos, no fundo da nossa consciência, escrutamos
nossos pensamentos e sondamos nossos sentimentos: assim nos conhecemos
interiormente. De modo análogo, o Espírito Santo é Deus que conhece o
coração de Deus, Ele mesmo é o mistério dessa intimidade recíproca do Pai e
do Filho. Tudo isso nos conduz a uma conclusão: Deus é um mistério de Amor.
Não de amor ao exterior, às criaturas, mas de amor interior, entre as pessoas
divinas. Esse amor é tão forte n’Ele que as três pessoas são uma única
realidade, um só Deus. Um teólogo do século XII, Ricardo de São Vitor,
pensando na Trindade, escreveu que “para que possa existir, o amor necessita
de duas pessoas, para que seja perfeito requer se abrir a um terceiro” (De
Trinitate, III.13). Pai, Filho e Espírito Santo têm a mesma dignidade e natureza:
são os três um único Deus, um só mistério de amor.
4. A chamada à comunhão e à fé
Aqui podemos nos perguntar como essa Revelação de Deus chega a cada um,
quais são os instrumentos de que Deus se serve, ou que meios Deus emprega
para que os homens saibam que foram chamados a uma comunhão de
amor e de vida com seu Criador. A resposta para estas perguntas tem uma
dupla vertente.
Por um lado, é preciso frisar que Cristo fundou a Igreja para que continuasse a
sua missão no mundo. A Igreja é intrinsecamente evangelizadora e a sua tarefa
consiste em levar a Boa Nova do Evangelho a todas as nações e a cada época
histórica, de modo que, por meio da pregação, os homens possam conhecer a
Revelação de Deus e o seu projeto salvador. Mas a Igreja não realiza essa tarefa
sozinha. Cristo, seu Senhor e Fundador, é, na realidade, quem continua
dirigindo a Igreja do seu lugar no céu, junto ao Pai. O Espírito Santo, que é
Espírito de Cristo, conduz e anima a Igreja para que leve a sua mensagem aos
homens. Deste modo, a tarefa evangelizadora da Igreja está vivificada pela
ação da Trindade.
Até aqui, falamos quase sempre da Revelação como um convite de Deus para a
comunhão com Ele e para a salvação. Mas qual é o papel do homem? Como se
aceita essa salvação que Deus oferece, quando chama os homens a ser filhos
de Deus em Jesus Cristo? A resposta é dada pelo Catecismo da Igreja Católica,
no n. 142: “A resposta adequada a este convite é a fé”. E o que é a fé? Como
obtê-la?
A fé é uma luz interior que vem de Deus e toca o nosso coração, empurrando-o
a reconhecer a Sua presença e a Sua atuação. Quando, por exemplo, em um
território de missão alguém entra em contato com o cristianismo pelo trabalho
de um missionário, pode acontecer que se interesse e fique fascinado pelo que
ouve. Deus o ilumina e o faz perceber que tudo isso é muito bonito, que
realmente dá sentido à sua vida, descobre esse significado que talvez já
estivesse procurando há tempo, sem êxito até então. Essa pessoa não ouviu
apenas um discurso que faz sentido, além disso, recebeu uma luz que a faz se
sentir feliz porque se abriram horizontes de sentido que ela talvez não achasse
que existissem. Por isso abraça com alegria aquilo que ouviu, esse sentido da
sua vida que lhe fala de Deus e de um grande amor, e tem a certeza de que aí
está a chave da sua existência, nesse Deus que a criou, que a ama e a chama à
salvação. Essa luz é um dom, uma graça de Deus, e a resposta que essa luz fez
fecundar na alma é a fé.
Portanto, a fé é algo ao mesmo tempo divino e humano, é ação divina na alma
e abertura do homem a essa ação divina: ato de adesão ao Deus que se revela.
O Concílio Vaticano II resume esta ideia quando afirma que “para que se preste
esta fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus, e os auxílios internos
do Espírito Santo, que move o coração e converte-o a Deus, abre os olhos
da mente, e dá a todos a suavidade no consentir e crer na verdade” (Dei
Verbum, 5).
Antonio Ducay
Bibliografia básica
Leituras recomendadas
– C. Izquierdo Urbina, et al., Revelación, em Diccionario de teología, EUNSA,
Pamplona 2006, p. 864ss.
Antonio Ducay