Teoria Da Comunicação

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TEORIA DA

COMUNICAÇÃO

PROF.a KELLY DE CONTI


FACULDADE CATÓLICA PAULISTA

Prof.a Kelly De Conti

TEORIA DA
COMUNICAÇÃO

Marília/SP
2023
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 O QUE É COMUNICAÇÃO 06

CAPÍTULO 02 COMUNICAÇÃO – PROCESSOS E OBJETO DE 15


ESTUDO

CAPÍTULO 03 A COMUNICAÇÃO ENQUANTO CIÊNCIA 25

CAPÍTULO 04 AS CLASSIFICAÇÕES DAS TEORIAS DA 34


COMUNICAÇÃO

CAPÍTULO 05 MASS COMMUNICATION RESEARCH 47

CAPÍTULO 06 AS TEORIAS DE BASE 55

CAPÍTULO 07 A TEORIA MATEMÁTICA E OS EIXOS DA 63


MASS COMMUNICATION RESEARCH

CAPÍTULO 08 TEORIA DA AGULHA E HIPODÉRMICA E 72


TEORIA DA PERSUASÃO

CAPÍTULO 09 MODELO DE LASSWELL E TEORIA DOS 82


EFEITOS LIMITADOS

CAPÍTULO 10 DESDOBRAMENTOS NO JORNALISMO 91

CAPÍTULO 11 ESCOLA DE FRANKFURT 100

CAPÍTULO 12 A ESCOLA FRANCESA 112

CAPÍTULO 13 OS ESTUDOS CULTURAIS 124

CAPÍTULO 14 OS ESTUDOS LATINO-AMERICANOS 134

CAPÍTULO 15 A COMUNICAÇÃO É UMA CIÊNCIA 146

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CAPÍTULO 1
O QUE É COMUNICAÇÃO

1.1 O ser humano e o processo comunicativo


A comunicação é uma forma de relação intrínseca do ser humano com o mundo em
que habita, mas, ao contrário do que muitas vezes se pensa, não se trata apenas da
fala ou da escrita. As maneiras de criar sentidos sobre os sentimentos e pensamentos
possuem métodos variados.
Se observarmos os relacionamentos dos homens primitivos com a natureza,
podemos afirmar que ainda não existia uma linguagem articulada, mas, ainda assim,
havia comunicação. Falamos, então, dos desenhos em cavernas? Na verdade, essas
ferramentas de interação com outros vão muito além disso.
Imagine esses seres reunidos ao redor de uma fogueira. Esta representa, por exemplo,
um símbolo de aquecimento e proteção contra ameaças externas. Então, alguém
começa a assoviar imitando um pássaro. Esse som é instintivamente reconhecido pelos
demais, que observam e se manifestam com olhares, gestos e sons. No dia seguinte,
outro membro do grupo começa a batucar com duas pedras. Nesse momento, os
pés de outras pessoas acompanham o ritmo. Outros batem palmas na mesma toada.

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Essa reunião e as formas de expressão representam modos de comunicação. O


sentimento de grupo, a decifração de sons conhecidos, as relações com o espaço
compartilhado ficam firmemente marcadas nessas circunstâncias.
Nesse sentido, também vale ressaltar que o homem sempre se baseou nos elementos
da natureza – nas características ambientes – para elaborar suas próprias formas
de comunicação. Imitar o canto do pássaro, por exemplo, é um modo de fazer isso,
buscando no som da natureza um tipo de codificação sonora.
O mesmo também ocorre em uma cena de filme em que uma pessoa foge de um
perigo e, concomitantemente, uma trilha marca o suspense e a apreensão do momento.
Muitas vezes, esse fundo assemelha-se muito a batidas do coração. Mesmo que o
receptor do filme não esteja com a atenção voltada para a música, ela transmitirá
esse efeito, provocará a sensação de uma situação de perigo. Ou seja, a codificação
ocorre por meio de algo que é da natureza humana.
Neste caso, falamos de um elemento que foi inserido “artificialmente” – no sentido
de que essa trilha não estaria em uma situação cotidiana –, mas que representa algo
fundamental para a transmissão da mensagem. Basta imaginar como seria assistir
um filme retirando as trilhas e efeitos sonoros. A experiência é completamente distinta,
causando outros tipos de reações e sensações.

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Nos exemplos mencionados, observamos componentes distintos mas que se


entrelaçam quando falamos em teorias da comunicação. Discorremos, acima,
sobre meios de comunicação e também sobre o processo comunicativo. Para
compreendermos tudo isso, é importante tratarmos de suas definições e buscarmos
o entendimento das relações existentes dentro desse campo de conhecimento.
Por todos esses aspectos, antes de adentrarmos nas teorias da comunicação e
em seus impactos ao longo da história, devemos partir de algumas reflexões sobre
os usos desse termo. Isso porque a comunicação se faz presente de diversas formas
e os modos como nos referimos a ela são bastante variáveis e, por isso, algumas
definições e delineamentos se tornam necessários.
A seguir, veremos o conceito, as abordagens e o objeto dos estudos em comunicação.

ANOTE ISSO

Como destaca Bordenave (2004, p.23), durante bastante tempo discutiu-se a


origem da fala humana. Há a corrente que “os primeiros sons usados para criar
uma linguagem eram imitações dos sons da natureza”, como o exemplo anterior do
canto de um pássaro. Mas outros pesquisadores acreditam que “os sons humanos
vinham das exclamações espontâneas como o ‘ai’ da pessoa ferida, o ‘ah’ de
admiração, o ‘grrr’ da fúria”.
Mais importante do que isso, entretanto, é o estabelecimento das associações
desses elementos como forma de comunicação. Desse modo, nasce o “signo, isto
é, qualquer coisa que faz referência a outra coisa ou ideia, e a significação, que
consiste no uso social dos signos. A atribuição de significados a determinados
signos é precisamente a base da comunicação em geral e da linguagem em
particular” (BORDENAVE, 2004, p.24, grifos do autor).

1.2 O ser humano e o processo comunicativo


A definição de um campo de conhecimento e estudo não coincide, necessariamente,
com os primeiros usos de suas técnicas. Quando refletimos sobre a medicina, por
exemplo, devemos considerar que os meios de cura – como o uso de plantas medicinais
e outros recursos para cuidados com a saúde – iniciaram-se desde os primeiros
momentos dos seres humanos. A química também se tornou um campo de estudo ao
derivar da filosofia. Afinal, os alquimistas representaram os desbravadores dos usos de

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Outro exemplo bastante palpável se trata da estatística. Apesar de muito se


associar essa prática ao avanço tecnológico informático, sua utilização ocorre há
milhares de anos. Oldecir Silva (2014) explica que, “para responder ao desenvolvimento
social, surgiram as primeiras técnicas estatísticas. Muitos anos antes de Cristo, as
necessidades que exigiam o conhecimento numérico começaram a surgir, pois
contar e recensear sempre foi uma preocupação” (SILVA, 2014). O mesmo autor
relata os usos da estatística nesses períodos:

O primeiro dado estatístico disponível foi o de registros egípcios


de presos de guerra datado de 5.000a.C.; em 3.000 a.C. existem
também registros egípcios da falta de mão-de-obra relacionada à
construção de pirâmides. No ano de 2.238 a.C. o Imperador da China,
Yao, ordenou que fosse feito o primeiro recenseamento com fins
agrícolas e comerciais (BAYER et al., 2009). No ano 1.400 a.C.,
Ramsés II, mandou realizar um levantamento das terras do Egito.
Em 600 a.C. no Egito todos os indivíduos tinham que declarar todos
os anos ao governo de sua província a sua profissão e suas fontes de
rendimento, caso não a fizessem seria declarada a pena de morte.
De registros estatísticos se utilizaram também as civilizações
pré-colombianas dos maias, astecas e incas, conforme pesquisas
arqueológicas de Memória (2004). Segundo Lopes e Meireles
(2005), os romanos registravam, por exemplo, os nascimentos e
as mortes com o objetivo de taxação e cobrança de impostos, como
também para o censo do número de homens aptos a guerrear
(SILVA, 2014, p. 4)

No caso da estatística, o derradeiro passo para transformá-la em ciência começou


no século XVIII. Naquele momento, surgiram duas escolas principais: a alemã e a
inglesa. Esse foi o caminho inicial para a estatística que conhecemos hoje.
Percebemos, assim, que o desenvolvimento do conhecimento humano caminha
intrinsecamente próximo às necessidades sociais. No caso da comunicação, conforme
destacamos anteriormente, o exercício e os modos de realiza-la ganharam acréscimos
e novas formas de acordo com a evolução da espécie e das relações entre os seres. O
principal desses elementos foi a criação da linguagem. Entretanto, devemos destacar
que os delineamentos para o reconhecimento enquanto ciência são relativamente
recentes.
Não há uma data precisa para isso, mas a Revolução Industrial e as características
da sociedade capitalista foram aspectos fundamentais para a preocupação com as
relações de comunicação. Isso porque as ligações, trocas e transmissões de produtos,

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ideias e outros tipos de mensagens de um local a outros, o que engloba pessoas de


diferentes culturas e formas de comunicação, aumentaram substancialmente, o que,
naturalmente, criou uma demanda por reflexões sobre esses processos.

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Mas é preciso acrescentar uma observação a esse respeito. A natureza dos estudos
em comunicação começou a partir de olhares de outros campos de conhecimento.
Como afirma Vera França (p.7 – artigo Paradigmas da Comunicação), eles “claramente
se originaram do aporte de diversas disciplinas; as práticas comunicativas suscitaram
o olhar – e se transformaram em objeto de estudo das várias ciências. Sua natureza
interdisciplinar, fundada no cruzamento de diferentes contribuições, é indiscutível”.

ISTO ESTÁ NA REDE

“Como é possível que um monte de sons façam a gente sorrir, chorar, lutar ou
dançar? Que poder é esse da vibração das moléculas de ar que quando toca nossos
tímpanos cria todo tipo de sensação?”
Essas são algumas das perguntas respondidas no podcast Ser Sonoro. A produção
traz diversos aspectos presentes nos elementos sonoros que explicam os

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processos de comunicação. Também mostram o quanto a cultura está presente


nessas relações.
O podcast já foi escutado mais de 150 mil vezes em 40 países. No Brasil, chegou a
ser o podcast de música mais escutado no Spotify, ocupou o Top 10 da plataforma
ao longo de todo o ano de 2021 e foi escolhido um dos 20 principais lançamentos
do ano.
O projeto nasceu com Fernando Cespedes, pesquisador nas áreas de som, música
e escuta, músico, professor e sound designer. Mestre e Doutor em Comunicação
Digital pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo com
estágio na Stanford University, nos Estados Unidos e bolsa da CAPES durante o
Doutorado.
O podcast está disponível no Spotify e, gratuitamente, no site do projeto: https://
sersonoro.net/bio/

1.3 O ser humano e o processo comunicativo


Se mencionamos que os seres humanos sempre buscaram modos de comunicação,
já fica subentendido que existem diversas abordagens sobre o conceito e suas
delimitações. Contemporaneamente, com todos os recursos tecnológicos que
encurtaram as distâncias globais, o ato de comunicar e buscar informações passou
a estar entre os principais elementos para que um indivíduo exerça sua cidadania.
Assim, é impossível não interagir com outros seres humanos e locais por longos
períodos. Dentro de cenários tão distintos, naturalmente surgiram necessidades e
diversas formas de lidar com todos esses meios e processos.
Para iniciarmos essa discussão, busquemos o que diz o dicionário Michaelis sobre
o termos que estamos estudando. Trata-se de um substantivo feminino que apresenta
as seguintes definições e usos:
1. Ato ou efeito de comunicar(-se).
2. Na linguística: Ato que envolve a transmissão e a recepção de mensagens entre
o transmissor e o receptor, através da linguagem oral, escrita ou gestual, por
meio de sistemas convencionados de signos e símbolos.
3. O conteúdo da mensagem transmitida.
4. Transmissão de uma mensagem a outrem.
5. Exposição oral ou escrita sobre determinado assunto, geralmente de cunho
científico, político, econômico etc.
6. Ato de conversar ou de trocar informações verbais.
7. Nota, carta ou qualquer outro tipo de comunicado através da linguagem escrita.

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8. Comunicado oral ou escrito sobre algo; aviso.


9. Aquilo que permite acesso entre dois lugares; passagem.
10. União ou ligação entre duas ou mais coisas.
11. Na eletrônica: Transmissão de informações de um ponto para outro, usando-se
sinais em fios ou ondas eletromagnéticas.
12. Na física: Transmissão de uma força de um local para outro, sem a ocorrência
de transporte material.
13. Na anatomia: Ligação entre dois vasos sanguíneos ou entre outras estruturas
tubulares.
14. Na área militar: Sistema de rotas de acesso (aéreas, fluviais, marítimas ou
terrestres) para o deslocamento de veículos, tropas e suprimentos, incluindo-
se também a transmissão de ordens e comunicados.
15. Nas telecomunicações: Ligação por meio de diferentes meios (eletrônicos,
telefônicos, telegráficos etc.).
16. Na retórica: Figura em que o orador (ou escritor) parece tomar o público como
testemunha ou árbitro da causa em questão.
17. Na área jurídica: Figura em que o advogado, objetivando provar a improcedência
de uma imputação ao seu cliente, mostra que, de acordo com os argumentos
do acusador, diversas pessoas e até ele próprio estariam incursos nela.

Diante do conteúdo acima, fica bastante evidente que a definição de comunicação


não se trata de algo fácil de delimitar, uma vez que há uma grande diversidade de usos.
Nota-se, com muita clareza, a aplicação nas mais distintas áreas do conhecimento. No
caso acima, observa-se breves definições em campos como a linguística, a retórica, a
eletrônica, a anatomia e diversos outros. Todos eles muito diferentes entre si.
A semelhança que vemos entre as percepções desses distintos campos de conhecimento
refere-se à ideia de ligação, transmissão e troca. Ou seja, a comunicação é uma forma de
movimento. Mas o objeto posto em movimento, os meios usados para isso e os objetivos
desses processos mudam de acordo com as relações e usos particulares de cada um deles.
Se refletirmos sobre o conceito na anatomia, essa comunicação se dá de modo físico,
uma vez que se refere à união entre vasos sanguíneos ou entre outras estruturas tubulares.
Essa comunicação estabelece uma ligação entre eles, movimentando uma troca entre
componentes do organismo, como o sangue. No caso da definição dada pelo dicionário
no campo da eletrônica, fala-se em transmissão de informações de um ponto para outro,
usando-se sinais em fios ou ondas eletromagnéticas. Quando trazemos para a área da

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Comunicação, sobre a qual tratamos aqui, esta contém algumas semelhanças, como a
ideia de troca de informações. Mas seria apenas esse o princípio definidor que procuramos?
Após as definições acima, o dicionário enumera uma sequência de “expressões” que
acompanham o termo comunicação. comunicação analógica, comunicação coletiva,
comunicação interpessoal, comunicação de massa são algumas delas. No item sobre
Comunicação Social, há duas possibilidades, segundo o Michaelis: a) comunicação que
se processa entre uma empresa ou instituição e a comunidade; b) atividade profissional
que se ocupa de tal tarefa.
Essas definições começam a elencar alguns pontos importantes sobre o estudo das
teorias da comunicação. Mas ainda precisamos buscar outras questões que as envolvem.
Um aspecto importante de se mencionar trata-se do fato de alguns autores definirem
informação como o envio de mensagens sem a obrigatoriedade de retorno, enquanto
comunicação exige transmissão/recepção.
Se considerarmos essa definição, significaria que, antes do advento da internet, as
informações transmitidas por meios analógicos, como o rádio, não seria um processo
de comunicação caso não houvesse qualquer retorno – no sentido de resposta direta a
quem enviou a informação – por parte de outros indivíduos? Não se trata desse tipo de
retorno direto, mas da existência de outro indivíduo capaz de decodificar a informação.
Assim, ele a interpreta, o que já estabelece uma forma de comunicação. Isso significa
dizer que “a informação é a matéria prima da comunicação, mas existe independente
da comunicação. Quando o receptor interpreta a informação, realiza-se um processo de
comunicação” (TEMER E NERY, 2004, p. 16).

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Assim, notamos que a comunicação se estabelece a partir de códigos comuns, os


quais permitem que dois ou mais seres possam compreender as informações que
intentam transmitir. Quando pensamos a comunicação como um campo de saber,
entretanto, precisamos de mais algumas reflexões que permitam diferenciá-la das
outras disciplinas (como a retórica, a linguística, etc.).
Tratar a Comunicação como um campo de estudo, portanto, significa que devemos
considerar quais são seus caminhos específicos, e não limitá-la à ideia de envio de
mensagens de um ponto a outro. Os itens abaixo trazem essas explanações de modo
bastante didático e servem como elementos que nos permitem enxergar de forma
mais clara o objeto de estudo do qual tratamos, como destaca Vera França (2001, p.
15). Assim, tratemos a comunicação do seguinte modo:
• Um processo de troca, ação partilhada, prática concreta, interação – e não
apenas um processo de transmissão de mensagens;
• Atenção à presença de interlocutores, à intervenção de sujeitos sociais
desempenhando papéis, envolvidos em processos de produção e interpretação
de sentidos – mais do que simples emissores e receptores;
• Identificação dos discursos, formas simbólicas que trazem as marcas de sua
produção, dos sujeitos envolvidos, de seu contexto – e não exatamente mensagens;
• Apreensão de processos produzidos situacionalmente, manifestações singulares
da prática discursiva e do panorama sócio-cultural de uma sociedade - em lugar
do recorte de situações isoladas.

Resumidamente, a comunicação “compreende um processo de produção e


compartilhamento de sentidos entre sujeitos interlocutores, realizado através de uma
materialidade simbólica (da produção de discursos) e inserido em determinado contexto
sobre o qual atua e do qual recebe os reflexos” (FRANÇA, 2001, p. 16).
Tal modo de enxergar o processo comunicativo coloca em destaque a interseção entre
a relação dos interlocutores, a produção de sentidos (ou seja, as práticas discursivas
e seus elementos simbólicos) e a situação sócio-cultural (ou seja, a influência do
contexto do processo de comunicação para o estabelecimento dessas relações e os
sentidos apreendidos). Vista dessa forma, a comunicação é um processo dinâmico
que institui sentidos e relações e representa um espaço de realização e renovação
dos sujeitos e da cultura. Estes assumem papeis e se constroem socialmente. São
nesses espaços específicos que focamos nossos olhares ao buscarmos estudar as
teorias da comunicação.

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CAPÍTULO 2
COMUNICAÇÃO – PROCESSOS
E OBJETO DE ESTUDO

2.1 A relação entre o processo de conhecimento e o seu objeto


Quando falamos em conhecimento, devemos lembrar que tratamos do conhecimento
“de” ou “sobre” algo. Assim, pressupomos que sempre há um objeto a respeito do
qual tratamos. Isso não significa que esse foco de estudo seja, necessariamente,
algo fisicamente material – uma casa, uma árvore, um livro –, mas também existe
a possibilidade de se tratar de uma forma de pensamento que se materializa no
meio social. Na comunicação, essa materialização ocorre em práticas cotidianas que
podemos ver, ouvir e/ou tocar.
Assim, como ponto inicial, saliente-se que a comunicação é um processo de
conhecimento. Isso porque ela “ultrapassa o mero ‘dar-se conta de’ e significa a
apreensão, a interpretação”, como afirmam França e Simões (2016, p. 19). Assim, não
se trata de apenas tocar um jornal ou enxerga-lo, mas de compreender os símbolos
ali presentes e interpretá-los.

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Desse modo, as autoras também afirmam que o ato do conhecimento supõe quatro
aspectos primordiais: a) a presença de sujeitos, b) um objeto ou um problema que
suscita sua atenção compreensiva, c) o uso de instrumentos de apreensão, d) um
trabalho de debruçar-se sobre.
Mas a comunicação suscita que tipos de conhecimento humano? O primeiro deles
é o prático ou operacional, uma vez que a comunicação encontra-se no domínio do
fazer. Ou seja, trata-se da “ação humana, intervenção especializada dos indivíduos no
mundo” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 19). Desse modo, o trabalho com a comunicação
supõe o domínio de determinadas técnicas e operações, a familiaridade com suas
linguagens, o desenvolvimento de certas atitudes, como a criatividade, o senso crítico,
a capacidade de organização e de síntese.
Contudo, há um outro tipo de conhecimento tão importante quanto e, inclusive,
complementar ao prático. Este é um “conhecimento mais global, que vem indagar sobre
o alcance e o significado das próprias práticas comunicativas, sobre a intervenção
e a criação dos indivíduos no terreno das imagens e dos sentidos, sobre a produção
das representações e dos mundos imaginais” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 19). As
autoras referem-se a ele como o conhecimento a respeito dos significados, sobre os
contextos e a própria intervenção humana na prática da comunicação. Constitui-se,
portanto, em um saber sobre o fazer.
Essas questões fazem parte de estudos que buscam refletir a respeito da comunicação
e sua existência enquanto fenômeno social. A procura por conhecer, compreender e
explicar esse fenômeno é o que chamamos de Teorias da Comunicação.
Mas devemos salientar um ponto de suma importância. O conhecimento faz parte
do nosso mundo, da natureza humana. Mas o conhecimento científico é aquele que
utiliza um trabalho sistemático de pesquisa e estudo, com o recurso a metodologias
específicas e bem elaboradas. Chamamos a atenção para esse ponto pois devemos
lembrar que os estudos da comunicação devem ter métodos para que sejam validados.

ISTO ESTÁ NA REDE

Um artigo científico interessante para aprofundar o conhecimento sobre a


comunicação enquanto ciência e a respeito de seu objeto de estudo está disponível
no site da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. O
trabalho tem a autoria do professor Luiz Martino, da Universidade de Brasília:
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/520b5e9c86ccce328b10cf0c058d13c2.
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2.2 O conhecimento sobre a comunicação e seus processos


Retomemos o exemplo dos seres humanos primitivos. Suponha que voltamos a
esse período da história e levamos conosco um aparelho de televisão com as melhores
tecnologias da atualidade. Então, damos de presente a um pessoa ou comunidade do
local. Aquele objeto possivelmente será observado com curiosidade. Mas, certamente,
não terá o mesmo significado que, hoje, damos a ele.
Os homens e mulheres primitivos podem olhar para aquilo e imaginar que seu uso
seja semelhante ao de uma mesa ou de um utensílio para sentar-se, ou que se trate
de um tipo de armadilha para caça. As possibilidades são variadas e dependerão da
experiência do próprio indivíduo. Contudo, este jamais imaginará o real uso da televisão
e todas as memórias que existem a respeito dela. O mais provável é que a imaginem
empregada em situações de seu próprio cotidiano.
Agora, observe este desenho:

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Rapidamente, podemos notar que é uma representação de um programa jornalístico


televisivo. Diversos são os elementos que nos levam a essa conclusão: as vestimentas,
a bancada com os dizeres “breaking news”, as folhas nas mãos dos jornalistas, o
monitor ao fundo com a imagem de uma erupção vulcânica. Até mesmo as cores
escolhidas nos levam a esse caminho interpretativo.

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Agora, imagine que pudéssemos ligar a televisão e transmitir um telejornal para


os homens primitivos. Não é difícil supor o espanto e a curiosidade sobre aquilo.
Evidentemente, eles não saberão que se trata de um telejornal. Não saberão, inclusive,
o que é jornalismo. Mais do que isso: como aquelas pessoas estão dentro da pequena
caixa?
Podemos avançar alguns séculos e lembrar dos primeiros passos do rádio no Brasil.
Um dos pilares para o seu desenvolvimento foram as pesquisas do padre e cientista
Roberto Landell de Moura. Ele desejava fazer a transmissão da voz a longas distâncias,
algo revolucionário para a época. Entretanto, esse fenômeno não era algo comum
para a sociedade naquele momento, o que gerou espanto e, inclusive, acusações
de que o padre praticava bruxaria. Hoje, a transmissão da voz por meio de recursos
eletrônicos é algo até mesmo banal, pois crescemos com essa tecnologia inserida
no nosso cotidiano.
Essas comparações facilitam a compreensão a respeito do que discorremos no
tópico anterior. O conhecimento sobre a comunicação está na prática, em seu aspecto
operacional, que envolve nossa capacidade de compreensão e ação sobre o mundo.
Ao longo da nossa vida, adquirimos conhecimento prático em relação à linguagem e
modos de comunicar. Isso significa dizer que o contexto e tudo que o envolve – as
tecnologias disponíveis, a cultura, etc. – sempre será um fator primordial nos usos e
costumes da comunicação.
Com isso, os homens primitivos tinham seus próprios modos de expressão e
relacionamento, desenvolvidos ao longo de suas vidas. Contudo, não há processo
de comunicação entre eles e os jornalistas que aparecem na televisão, já que não
existe compreensão sobre os significados daqueles elementos e da linguagem. Como
mencionado anteriormente, eles nem mesmo entendem que se trata de um telejornal.
Há um ruído que impede o processo comunicacional de modo semelhante ao que
haveria com uma pessoa que possui as habilidades para a compreensão e interpretação
da mensagem.
Para uma pessoa da sociedade atual, entretanto, até mesmo um desenho que
representa esse tipo de programa já é o suficiente para gerar esse processo de
comunicação. Isso porque os elementos presentes e a linguagem utilizada são comuns
para nós. Tratam-se de símbolos que nos levam a interpretações sobre a mensagem
transmitida na imagem.

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Saliente-se, ainda, que não é preciso ser jornalista ou estudar Comunicação para
compreender isso. O entendimento fica claro para todos que têm esses elementos
como algo comum no seu cotidiano. Entretanto, quando falamos do segundo tipo de
conhecimento – a reflexão a respeito da prática – entramos em outro ponto: o estudo
sobre os modos de fazer. Neste, avaliamos e julgamos, por meio do conhecimento
adquirido a respeito da prática, os modos como aqueles jornalistas estão praticando o
ato de comunicar, por exemplo. Esse tipo de avaliação é que levou às diversas teorias
da comunicação, como veremos adiante.
Diante de tudo isso, vemos que a capacidade de interpretação é fundamental dentro
do processo de comunicação. E também, quando falamos em estudo (e, inclusive,
sobre as Teorias da Comunicação), devemos nos atentar aos aspectos científicos
envolvidos. Para começarmos a entender o que envolve esses estudos, devemos fazer
uma pergunta essencial: qual é o objeto de estudo da comunicação?

2.3 O objeto de estudo da ciência da comunicação


Destacamos anteriormente alguns importantes pontos relacionados aos processos
de comunicação e também o conhecimento a seu respeito. Quando observamos as
fotos abaixo, podemos, facilmente, supor quais são as profissões de cada uma dessas
pessoas.

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view=search&track=sph

Como as fotos anteriores foram retiradas de um banco de imagem, não,


necessariamente, correspondem às profissões reais desses indivíduos. Mas se tratam
de representações. Esses elementos já foram suficientes para compreendermos os
“papeis” atribuídos a elas. Mas estudar a Comunicação se refere apenas a esse tipo
de interpretação? É aí que devemos nos perguntar qual o objeto de estudo que nos
interessa.
As faces mais evidentes dos objetos de estudo da comunicação são os meios de
comunicação, ou seja, as mídias. Pensemos, novamente, em uma televisão. O “aparelho”
em si não é o objeto de estudo da Comunicação. Acrescente-se, ainda, que diversas
áreas do conhecimento estudam a televisão.
Por exemplo, o desenvolvimento tecnológico pode estar atrelado a áreas relacionadas
à eletrônica e ao design. A compreensão sobre a sociedade em torno da televisão
faz parte de estudos da sociologia. Os gêneros discursivos dos programas televisivos
podem ser foco da linguística. Mas e na Comunicação? Afirmam França e Simões
(2016, p. 27):

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Por esse caminho, entendemos que o objeto de estudo da


comunicação é exatamente a comunicação: uma concepção, uma
forma de ver, perceber e enquadrar uma ação qualquer enfocando e
resgatando sua dimensão comunicacional. Trata-se de um modelo
através do qual podemos ler um dado fenômeno, por exemplo, um
programa televisivo, um comício, uma conversa, enquanto prática
comunicativa, troca simbólica que envolve vários elementos.

O que as autoras afirmam é que a especificidade de um campo de estudo não


se encontra no objeto empírico, mas na forma de análise. Ou seja, “os meios de
comunicação podem ser analisados sob um viés psicológico, cultural, econômico... ou
comunicativo”. Neste último caso, significa dizer o estudo das práticas comunicativas,
sejam elas em um programa de uma emissora de televisão, a comunicação amorosa
de duas pessoas, as práticas comunicativas dentro de uma tribo, etc.
Então, trata-se de olhar para aquilo “enquanto processo comunicativo, processo
de produção e circulação de sentido entre duas ou mais pessoas; atividade de troca
simbólica através da produção de material discursivo em certo contexto” (FRANÇA;
SIMÕES, 2016, p. 27). Desse modo, o que distingue a especificidade de um estudo
sobre qualquer um desses temas não é o objeto material em si, sua empiria, mas a
maneira como vai ser tomado e analisado. Acrescentam as autoras:

O processo comunicativo compreende vários elementos: os


interlocutores (a presença correferenciada de um e do outro); uma
materialidade simbólica (a produção discursiva); a situação discursiva
(o contexto imediato; sua inserção numa estrutura sócio-histórica
particular). A relação que se estabelece entre esses elementos é
móvel e diversificada. O objetivo da análise comunicativa é justamente
captar o desenho dessas relações; o posicionamento dos sujeitos
interlocutores; a criação das formas simbólicas; a dinâmica de
produção de sentidos. O que, sem dúvida, é contribuição ímpar para
o conhecimento de nossa realidade contemporânea.

Diante de tudo isso, afirmam que o objeto empírico das Teorias da Comunicação é
a comunicação humana de uma maneira geral, e a comunicação midiática de forma
particular. Recorrendo ao exemplo da televisão, diversas disciplinas estudam o objeto
em si, mas a Comunicação estudará o processo comunicativo naquele programa,
naquela emissora, naquele jornalista em particular, etc.
Vejamos um exemplo prático disso. O resumo abaixo pertence ao artigo científico
“Webjornalismo: considerações gerais sobre jornalismo na web”, de João Canavilhas
(2003).
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O aparecimento de novos meios de comunicação social introduziu


novas rotinas e novas linguagens jornalísticas. O jornalismo escrito,
o jornalismo radiofónico e o jornalismo televisivo utilizam linguagens
adaptadas às características do respectivo meio. Com o aparecimento
da internet verificou-se uma rápida migração dos mass media
existentes para o novo meio sem que, no entanto, se tenha verificado
qualquer aliteração na linguagem. O chamado “jornalismo online”
não é mais do que uma simples transposição dos velhos jornalismos
escrito, radiofónico e televisivo para um novo meio. Mas o jornalismo
na web pode ser muito mais do que o actual jornalismo online. Com
base na convergência de texto, som e imagem em movimento, o
webjornalismo pode explorar todas as potencialidades da internet,
oferecendo um produto completamente novo: a webnotícia. Este
artigo pretende identificar potencialidades do webjornalismo a partir
de uma aproximação às linguagens utilizadas pelos actuais meios:
jornal, rádio e televisão.

Já o “Direito administrativo e linguagem: análise hermenêutica do princípio da


supremacia do interesse público no caso da televisão a cabo”, de Cristian da Silva
Correa e Luiz Mario de Mello Pimenta Filho (2021).

Buscando analisar um aspecto em particular da obra Os (Des)


Caminhos da Hermenêutica do Direito Administrativo de Leonel
Pires Ohlweiler, o presente artigo faz uma abordagem, relacionada
a linguagem como condição de possibilidade, destacando conceitos
hermenêuticos heideggeriano apresentados na obra, necessários para
a construção do discurso, trazendo alguns conceitos importantes da
filosofia hermenêutica referentes ao ser, ente e Dasein, bem como,
os pertinentes ao Direito e sua linguagem, envolvidos na discussão
a respeito do discurso jurídico e a interpretação da lei. Através da
análise de uma decisão envolvendo atos praticados pela administração
pública, a obra em questão faz uma abordagem com enfoque no
campo da linguagem e semântica pelo viés hermenêutico, servindo
de ponto inicial de análise. As interpelações relacionadas ao uso da
linguagem e seu sentido no discurso jurídico, no intuito de demostrar
as possibilidades de construção do mesmo, por um viés hermenêutico-
linguístico, trazendo à baila questões referentes a dogmática jurídica,
princípios do Direito e a importância da linguagem como elemento
de sentido e significação, tendo como parâmetro a referência daquilo
que se fala. Destacando a importância da linguagem como início da
construção de conceitos dentro do Direito, tendo em vista que o mesmo
é uma ciência e como tal nos traz conceitos abertos que precisam ser
significados de acordo com o contexto em que acontecem.

“A imunidade e isenção tributária das atividades jornalísticas nas empresas de


televisão aberta”, de André Bezerra dos Santos, Luís Fernando Moraes de Mello (2019):

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O presente trabalho traz à luz um dos principais problemas enfrentados


no Brasil pelas empresas de televisão aberta quando exploram
comercialmente suas atividades jornalísticas, através da tributação
de imposto da atividade considerada imune. O livre exercício da
atividade jornalística faz parte do rol de direitos e garantias individuais
com força de clausula pétrea na Constituição da Republica Federativa
do Brasil de 1.988, e a restrição ou limitação a essa atividade é
considerado um atentado ao próprio Estado Democrático de Direito.
Tal atentado paira sobre a legalidade sempre camuflada sobre uma
roupagem econômica, com subterfúgios comumente utilizados em
regimes autoritários para o cerceamento da liberdade de imprensa e
da livre comunicação. Este trabalho explora os conceitos e evoluções
históricas dos meios de comunicação, assim como sua acessão
ao posto de direito e garantia fundamental através da analise das
Constituições Brasileiras e da liberdade de expressão. Aborda os
limites do poder de tributar do Estado e as imunidades Constitucionais
com enfoque maior na atividade jornalística desenvolvida pela
empresa de televisão aberta, sempre com o objetivo de proporcionar
uma maior efetividade financeira e independência de suas relações
com o Estado. Realiza uma analise da aplicação prática da imunidade
prevista no artigo 150, VI, “d” da CF/88, traz o posicionamento do STF
no julgamento do Recurso Extraordinário 330.817, aborda a distinção
entre, impostos, taxas e contribuições e o alcance da imunidade
objetiva sobre o produto destinada aos meios de comunicação. O
processo metodológico da pesquisa caracterizou-se pela pesquisa
exploratória de caráter bibliográfico e natureza qualitativa dos dados.

“Marcas da identidade discursiva no jornalismo popularesco: análise do ethos nos


televisivos Documento Especial, Aqui Agora e Balanço Geral”, de Carlos Alberto Garcia
Biernath (2016):

Em virtude das buscas por novas e ávidas informações, além da


desenfreada luta pela audiência, novos modelos de ‘fazer jornalismo’
aparecem nos veículos televisivos e alternam o discurso identitário
jornalístico. De tal modo, algumas produções, que conquistaram
bons índices de audiência, têm feito uso de algumas estratégias a
fim de atingir seus objetivos, que vão desde a utilização de diferentes
discursos baseados em “verdades midiáticas” até os chamados
“efeitos de verdade”, que demarcam seu ethos discursivo. Em vista de
tais apontamentos, esta pesquisa pretende revisitar alguns modelos
de jornalísticos popularescos significativos – em termos de inovação
no fazer noticioso e na representação discursiva – das décadas de
80, 90 e 2000/10 do século XX: Documento Especial – Televisão
Verdade (década de 80); Aqui Agora (década de 90); e Balanço Geral
(surgido na primeira década dos anos 2000 e ainda no ar), à luz
da análise de discurso de tradição francesa, da análise retórica e

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da análise de elementos que compõe a narrativa sonoro-imagética.


Esse entrecruzamento metodológico nos possibilitou trabalhar
com o ethos projetado na enunciação de cada uma das atrações
supracitadas, no qual procuramos depreender como a identidade
jornalística era construída em seu conteúdo discursivo através de
projeções ethópicas.

As pesquisas acima nos mostram, claramente, distintos estudos dentro da área da


comunicação. Cada uma delas possui um foco e um tipo de análise, mas abordam
os processos de comunicação e suas características.

ISTO ESTÁ NA REDE

Um artigo científico interessante para aprofundar o conhecimento sobre a


comunicação enquanto ciência e a respeito de seu objeto de estudo está disponível
no site da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. O
trabalho tem a autoria do professor Luiz Martino, da Universidade de Brasília:
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/520b5e9c86ccce328b10cf0c058d13c2.
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CAPÍTULO 3
A COMUNICAÇÃO
ENQUANTO CIÊNCIA

1.1 As transformações
Uma das grandes transformações ocorridas ao longo do século XIX referem-se às
questões sociais, econômicas e aos modos de comunicação. Tais mudanças viraram
objetos de reflexão por parte de diversas ciências, como a sociologia, com o objetivo
de compreender os motivos, os processos e as consequências desses eventos.
Com isso, devemos lembrar que a própria ciência encontra-se inserida em um
processo histórico e social. Isso implica dizer que, em suas investigações, emergem
as marcas das vicissitudes de seu tempo, do conhecimento acumulado anteriormente
e dos recursos disponíveis. Refletir sobre a sociedade dos séculos XIX e XX nos levam
a compreender os motivos da emergência de novos meios de comunicação e das
pesquisas sobre a comunicação em si.
Esta, como vimos anteriormente, existe desde os primórdios da civilização humana.
Por meio das pinturas rupestres e outros elementos, as pessoas buscavam se comunicar.
Também não podemos ignorar a efervescência dos estudos filosóficos na Grécia Antiga,
que também implicavam as relações humanas e sociais com as características do
discurso. Como lembram França e Simões (2016, p. 34):

Encontramos os sofistas exercitando o uso da palavra e ensinando a


arte do discurso. Os filósofos, por sua vez, pregavam a necessidade
da discussão racional para a direção da pólis; Platão realça a
importância do discurso que busca a verdade, distinguindo-o da
Retórica; Aristóteles conceitua a Retórica como a busca de todos os
meios possíveis de persuasão, classifica e organiza suas técnicas.

Essa preocupação com as questões discursivas, no contexto em questão, entrelaça-


se com o surgimento da pólis grega, uma vez que grupos de indivíduos começaram
a conviver em uma região comum e criar relações políticas e comerciais. Este tipo de
interações estão, naturalmente, amplamente ligadas ao conhecimento sobre os modos

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de discurso e suas características. O domínio sobre essa habilidade tornar-se-ia um


facilitador para as relações com os demais membros da pólis.

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Voltando para os séculos XIX e XX, vemos a marcante presença de estudos sobre
a sociedade moderna, como fizeram, por exemplo, Alexis de Tocqueville, Max Weber,
Émile Durkheim, Karl Marx e Ferdinand Tönnies. Seus pensamentos e investigações
tomaram como ponto de partida as transformações daquele período.
Como afirma Ferreira (2001, p. 101), “a concentração populacional nos espaços,
caracterizados pela urbanização e industrialização, leva inevitavelmente a pensar na
massificação”. Esse fenômeno da “massa” foi alvo de estudos de várias áreas e com
distintos focos e objetivos. Uma consequência dessa urbanização foi o surgimento
de “organizações ditas de massa: partidos, associações, sindicatos... com suas
reivindicações coletivas. Isso sem falar em outras manifestações como o espetáculo
e o esporte, que vão neste mesmo sentido, como o cinema e o futebol”.
Nesses novos espaços e modos de convívio, agilizam-se os processos de
industrialização e de especialização da técnica. Esta fomenta a capacidade produtiva e
também afeta as relações. Ferreira (2001, p. 102) destaca que a especialização “suscitou
o aparecimento das relações contratuais. As pessoas são ligadas às obrigações por

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regras, por contratos. Há a necessidade de provas para o reconhecimento de suas


especialidades”, como diplomas universitários. Nessa linha, o autor acrescenta que
a transição da sociedade antiga para a moderna assentou-se sobre três terrenos
analíticos: a divisão do trabalho, a industrialização e a urbanização.

https://br.freepik.com/fotos-gratis/interior-vista-aco-fabrica_1119672.htm#query=trabalho%20f%C3%A1brica&position=41&from_view=search&track=ais

Os anseios e dúvidas a respeito de todas as transformações refletiram-se, portanto,


nos estudos a respeito dos grupos sociais e suas relações de pertencimento, os
processos industriais e as novas burocracias, as relações de trabalho, as percepções
de pertencimento e individuação, etc.
Toda essa mudança também impactou os modos de comunicação e as reflexões
sobre esta. Para França e Simões (2016, p. 35), “os estudos sobre a comunicação foram
provocados tanto pela chegada dos novos meios como foram também, e, sobretudo,
demandados por uma sociedade que necessitava usar melhor a comunicação para
a consecução de seus projetos”.
Podemos dizer que a sociedade capitalista industrial tornou extremamente imperativa
a necessidade por evoluir os instrumentos e as técnicas de comunicação. As relações
comerciais, as divulgações científicas, as novas demandas da convivência em uma
sociedade mais numerosa e outros fatores criavam caminhos para as buscas por

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inovações. Até mesmo as disputas territoriais foram determinantes nesse sentido,


uma vez que a comunicação é algo essencial durante uma guerra.
Nesse contexto, vieram as primeiras transmissões do som por meio de ondas
eletromagnéticas. Com isso, surgiu o telégrafo e, posteriormente, o rádio. A primeira
transmissão da voz humana ocorreu no início do século XX e foi o elemento precursor
para o desenvolvimento das emissoras de rádio.

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/telegrafo.htm

Após esse percurso, vale destacar que “não é apenas o conhecimento científico
que produz teorias”, mas também “nossa convivência e nosso desempenho no terreno
da comunicação promovem um grande estoque de conhecimentos sobre ela, mais
ou menos sistematizados”. Junto a esse conhecimento espontâneo, “no entanto, um
outro esforço compreensivo vem sendo desenvolvido no campo da ciência, através do
desenvolvimento de inúmeros estudos sobre os meios de comunicação e a realidade
comunicativa”. Desse modo, “a teoria ou as teorias da comunicação são o resultado

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e a sistematização dessas muitas e distintas iniciativas, com pretensão científica, de


conhecer a comunicação” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 29).
Toda essa revolução nos modos e alcances da comunicação geraram questionamentos
e necessidade por mais conhecimentos, tanto no aspecto tecnológico quanto social e
individual. Assim, os estudos para responder a essas indagações começaram a rondar,
cada vez mais, os cientistas e as universidades. Sobretudo nos Estados Unidos e em
diversos países europeus, o foco sobre esses objetos de estudo criaram correntes
de pensamento.

1.2 Ser humano, ciência e sociedade: o desenvolvimento dos estudos


A ciência emerge do ser humano, de seus questionamentos e observações. Com
isso, desenvolve-se dentro das condições contextuais vividas por ele. Nessa linha, a
aceleração dos estudos ao longo dos séculos XIX e XX também vem com o reflexo do
importante papel ocupado pela ciência, cujos resultados buscam diagnosticar modos
de progresso e preenchimento de necessidades humanas em seus diversos prismas.
Nesse contexto, observamos diversos novos trabalhos, o que inclui os estudos
sobre a comunicação. França e Simões (2016, p. 35) observam que “alguns autores
apontam o pioneirismo do alemão de Otto Groth que, em Estrasburgo (hoje, território
da França), nas primeiras décadas do século XX, dedicou-se a escrever uma espécie
de enciclopédia sobre o jornalismo, conhecida como ‘teoria do diário’”.
Contudo, nos Estados Unidos, a partir de 1930, floresce um tipo de pesquisa voltada
para os meios de comunicação de massa, particularmente para seus efeitos e funções.
Tais estudos ficaram conhecidos como Mass Communication Research. Eles teriam
inaugurado - ou marcado o “nascimento” - da Teoria da Comunicação.
Assim, “este nascimento teve paternidade reconhecida; quatro pesquisadores são
apontados como ‘pais fundadores’ da pesquisa em comunicação. São eles: Paul
Lazarsfeld, Harold Lasswell, Kurt Lewin e Carl Hovland” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 36).
O momento foi propício para a criação de vários institutos e centros de pesquisa, cujos
projetos desenvolveram experimentos que possibilitaram a formulação das primeiras
teorizações sobre o papel dos meios e o processo de influência, como afirmam as
autoras.

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Paul Lazarsfeld
https://lnrj.wordpress.com/teoricos-da-comunicacao/paul-lazarsfeld/

Todo esse contexto fica nítido nesses estudos, muitos dos quais estão intimamente
ligados a questões de ordem política e econômica. Por um lado, a expansão da produção
industrial e a necessidade de ampliar a venda dos novos produtos – ou seja, de
de estimular a formação e a ampliação dos mercados consumidores – “impulsiona
o investimento em pesquisas voltadas para o comportamento das audiências e
para o aperfeiçoamento das técnicas de intervenção e de persuasão”. Por outro, “a
reacomodação do mundo sob o impacto da fase monopolista do capitalismo, bem
como a ascensão dos Estados Unidos como grande potência imperialista, atribuem
à comunicação um papel estratégico” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 36).
Neste ponto, as duas Grandes Guerras também impactaram, consideravelmente,
os papeis dos meios de comunicação:

Já na Primeira Guerra Mundial, na Europa, os meios de comunicação


são chamados a desempenhar o papel de persuasores das vontades
e dos sentimentos individuais da população civil na sustentação da
economia e no fortalecimento do sentimento nacional. Pouco depois,
a crise de 1929 e a retomada econômica dos Estados Unidos sob a
égide do New Deal incluem a comunicação no projeto de planificação
e racionalização da sociedade (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 37).

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Se a guerra do início do século XX marcou o uso dos meios de comunicação com


fins persuasivos e para sustentar o sentimento nacionalista, a Segunda Guerra Mundial
mostrou que havia um alcance ainda maior. O Ministro da Propaganda na Alemanha
Nazista, Joseph Goebbels, entendeu isso e usou a propaganda como mecanismo de
controle e manipulação político-ideológica com a combinação de formas interpessoais
e massivas, a utilização máxima dos meios disponíveis em programas voltados tanto
a um público interno quanto externo (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 37).

Joseph Goebbels
https://www.elconfidencial.com/cultura/2015-04-20/goebbels-hitler-derechos-de-autor-nazismo_762747/

De outro lado, “os Estados Unidos adaptaram as técnicas de Goebbels e desenvolveram


seu modelo próprio de intervenção. Instituições públicas e privadas, civis e militares
se dedicam a análises e experimentos, testando e aperfeiçoando o desempenho e a
eficácia da comunicação” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 37).
Esses eventos tiveram seus impactos nas pesquisas. Por esta trajetória, salientamos
que, ao longo das correntes e modelos teóricos que apresentaremos na sequência,
devemos sempre ter em consideração as diversas fases da sociedade. Isso porque os

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estudos da comunicação também são processos históricos e refletem as experiências


dos momentos sociais.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

O pioneirismo de Otto Groth rende, até os dias atuais, diversas análises a respeito
de seus estudos e avanços. Alguns de seus principais textos constam na obra “O
poder cultural desconhecido: Fundamentos da ciência dos jornais”, traduzido para o
português por Liriam Sponholz.

1.3 A classificação das Teorias da Comunicação


Um ponto central quando discorremos a respeito das Teorias da Comunicação é
compreender que existem distintas formas de classificar os estudos e, assim organizá-

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los. Há a possibilidade de sistematização por zonas geográficas, por universidades,


institutos ou centros de pesquisa, por correntes de pensamento, etc.
Cada organização agrupa certos elementos, mas isola outros, o que faz com que
as obras a respeito das Teorias da Comunicação tenham classificações distintas
umas das outras, como observam França e Simões (2016, p. 40). Isso não significa,
porém, que elas, necessariamente, deixam de analisar os principais estudos da área.
No caso das correntes de pensamento, por exemplo, observamos divisões como a
corrente funcionalista (ou positivista), a marxista, a estruturalista. Contudo, existem
inúmeras tendências que se desdobram de cada uma delas.
Outro modo bastante comum de organização observa as zonas geográficas, o
que facilita a contextualização sócio histórica dos estudos, mas também acaba por
encobrir tendências distintas e, às vezes, cria uma falsa unificação. Por exemplo, o
rótulo “Escola Americana” se remete “mais especificamente à corrente funcionalista,
e deixa de fora outras tendências” (FRANÇA; SIMÕES, 2016, p. 41).

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CAPÍTULO 4
AS CLASSIFICAÇÕES DAS
TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

1.1 Diversidade de estudos


As teorias da comunicação são um conjunto de ideias e conceitos que buscam
explicar como a comunicação funciona e como ela afeta a sociedade e a cultura.
Esse campo de estudo vasto e complexo englobou diversas disciplinas ao longo
de sua história. Essa gama de bases de conhecimento, juntamente com a natureza
interdisciplinar da comunicação em si, pode tornar a classificação das teorias da
comunicação uma tarefa desafiadora, como vimos na aula passada.

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Uma das classificações mais comuns das teorias da comunicação é baseada em


abordagens teóricas. Nesse sentido, as teorias da comunicação são divididas em duas
categorias principais: teorias de processo e teorias de efeito. As teorias de processo
se concentram nos processos de comunicação, ou seja, como as mensagens são
criadas, transmitidas e recebidas pelas pessoas. Por exemplo, a Teoria Matemática
da Comunicação, proposta por Claude Shannon e Warren Weaver, é uma teoria de
processo que busca explicar como as informações são transmitidas através dos meios
de comunicação.
Já as teorias de efeito se concentram nos efeitos que a comunicação tem sobre as
pessoas e a sociedade. Essas teorias buscam entender como a comunicação influencia
o comportamento humano, as atitudes, os valores e as crenças. Um exemplo de teoria
de efeito é a Teoria da Persuasão, que explora como as mensagens podem ser usadas
para persuadir as pessoas a adotarem um determinado comportamento ou opinião.
Outra maneira de classificar as teorias da comunicação é com base no objeto de
estudo. As teorias da comunicação podem ser aplicadas a diferentes áreas, como a mídia
de massa, a publicidade, a comunicação interpessoal, a comunicação organizacional,
entre outras. Cada área tem suas próprias teorias e conceitos específicos que buscam
explicar como a comunicação funciona em diferentes contextos e situações.
Essa variedade afeta, diretamente, a possibilidade de existir uma única e fixa
taxonomia das teorias da comunicação. Algumas das dificuldades de classificação
incluem a própria interdisciplinaridade do campo, a diversidade de abordagens teóricas,
o que inclui os focos de determinadas escolas e centros de pesquisa, as mudanças
e evoluções do campo, etc. E cada classificação traz uma perspectiva única para
compreender como a comunicação afeta a sociedade e a cultura. Primeiramente,
vejamos alguns dos motivos e das dificuldades para a existência dessas classificações.

1.2 Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade é uma característica fundamental das teorias da comunicação,
uma vez que a comunicação é um fenômeno complexo que envolve diferentes
dimensões e perspectivas. Como campo de estudo, a comunicação engloba várias
disciplinas acadêmicas, como sociologia, psicologia, ciência política, antropologia,
linguística, filosofia, entre outras.

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Essa interdisciplinaridade se faz presente pois a comunicação é uma atividade


que envolve múltiplas dimensões, incluindo processos sociais, psicológicos, culturais,
históricos e políticos. Cada uma dessas dimensões pode ser estudada por diferentes
disciplinas, oferecendo perspectivas únicas para entender a comunicação.
Por exemplo, a sociologia pode se concentrar na estrutura social e nas relações de
poder envolvidas na comunicação de massa, enquanto a psicologia pode se concentrar
na cognição, na percepção e na memória envolvidas na comunicação interpessoal. A
antropologia pode estudar a diversidade cultural e a história da comunicação, enquanto
a filosofia pode explorar questões éticas e epistemológicas relacionadas à comunicação.
Assim, a interdisciplinaridade das teorias da comunicação permite que os
pesquisadores incorporem diferentes perspectivas e metodologias em suas análises,
oferecendo uma compreensão mais rica e complexa do campo de estudo. Uma
possibilidade de classificação, com isso, traria os focos principais das disciplinas.

1.3 Diversidade de abordagens teóricas


Também em função dessas múltiplas dimensões relacionadas ao campo da
comunicação, as teorias da comunicação apresentam uma grande diversidade de
abordagens teóricas, as quais possuem suas próprias premissas, metodologias e
objetivos. Entre as abordagens teóricas mais comuns nas teorias da comunicação,

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podemos citar estas abaixo. As definições são apenas alguns resumos de conceitos
e análises mais complexos, os quais veremos nos próximos capítulos.
• Abordagem funcionalista: esta abordagem teórica enfatiza a forma como a
comunicação é usada para satisfazer necessidades sociais, como a coordenação
social, a transmissão de informação e a formação de identidade.
• Abordagem crítica: destaca como a comunicação é usada para perpetuar
desigualdades e relações de poder na sociedade, e busca desafiar e transformar
essas relações.
• Abordagem cultural: neste caso, a análise engloba a forma como a comunicação
é usada para construir e transmitir significados culturais e simbólicos, e como
esses significados moldam as interações sociais.
• Abordagem interpretativa: esta abordagem teórica foca a interpretação e a
subjetividade na comunicação, e busca entender como os indivíduos constroem
significados a partir das mensagens que recebem.
• Abordagem histórica: destaca a importância do contexto histórico e das mudanças
sociais na compreensão da comunicação ao longo do tempo.
• Abordagem sistêmica: enfatiza a forma como a comunicação é integrada em
sistemas mais amplos, como sistemas políticos, econômicos e culturais.

Cada uma dessas abordagens teóricas oferece uma perspectiva para entender
a comunicação, e muitas teorias de comunicação combinam várias delas em suas
análises.

1.4 As mudanças e evoluções do campo


Como vimos nas aulas anteriores, os estudos sobre a comunicação têm intrínseca
relação com os contextos da sociedade. As mudanças nestes também levam a impactos
nas pesquisas. Assim, a evolução tecnológica, as mudanças de comportamento e
nas práticas sociais, bem como diversos outros elementos também marcaram seus
desdobramentos nos avanços dos estudos sobre a comunicação.

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Podemos citar algumas dessas mudanças e seus impactos nas teorias da


comunicação.
• Mudança do modelo de transmissão: as primeiras teorias da comunicação eram
baseadas em um modelo de transmissão que enfatizava a transferência de
informações de um emissor para um receptor. Com o tempo, essa visão foi
ampliada para levar em consideração a influência do contexto, do público e dos
meios de comunicação na comunicação.
• Integração de outras disciplinas: a já citada interdisciplinaridade do campo
também tem impacto neste ponto, uma vez que as outras áreas que se
entrelaçam com a comunicação passam por mudanças que trazem novas visões.
Assim, as teorias da comunicação, ao longo de seu percurso histórico, também
incorporou conceitos e abordagens de outras disciplinas, como a psicologia,
sociologia, antropologia e teoria crítica, ampliando as perspectivas teóricas e
as possibilidades de pesquisa.
• Consideração de fatores culturais: muitos estudos na área da comunicação
passaram a considerar mais atentamente o papel dos fatores culturais, como
identidade, linguagem e significado, na comunicação. Visões e análises com

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abordagens mais críticas e que também consideram o papel do receptor para


decifrar e construir mensagens também impactaram nos modos de examinar as
relações de poder, desigualdades e transmissão de significados na comunicação.
• Adaptação às novas tecnologias: as teorias da comunicação também têm se
adaptado às novas tecnologias de comunicação, incluindo a internet, as redes
sociais e a tecnologia móvel, levando em consideração as novas formas de
comunicação e os novos desafios que elas apresentam.

Essas mudanças e evoluções nas teorias da comunicação refletem a natureza


dinâmica da comunicação e a necessidade de teorias que possam se adaptar e
responder às mudanças na sociedade e na tecnologia. Por essas razões, é importante
reconhecer que as teorias da comunicação são diversas e evoluem ao longo do tempo,
e que a classificação delas pode ser limitada e sujeita a mudanças à medida que o
campo continua a se desenvolver.

1.5 A classificação por fases


Alguns autores dividem as teorias da comunicação em duas fases, enquanto outros
preferem incluir uma terceira. Vejamos quais são elas e suas características:

- Primeira fase
A primeira fase surgiu a partir da década de 1920 e é, predominantemente, baseada
em modelos de transmissão, os quais enfatizam a comunicação como um processo
de envio de mensagens de um emissor para um receptor através de um meio de
comunicação. Algumas das teorias dessa fase incluem:

• Modelo de Lasswell: desenvolvida pelo cientista político americano Harold Lasswell


em 1948. Esse modelo tem como objetivo responder a cinco perguntas fundamentais
sobre a comunicação: quem diz o quê, através de qual canal, para quem, com que
efeito. O modelo de Lasswell foi uma das primeiras tentativas de sistematizar o estudo
da comunicação, e influenciou o desenvolvimento de outras teorias da comunicação
na primeira fase. No entanto, ele também foi criticado por sua abordagem mecânica
e simplificada da comunicação, que não considera a complexidade das interações
humanas e a influência do contexto social e cultural na comunicação.

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• Modelo de Shannon e Weaver: Proposto em 1949 por Claude Shannon e Warren


Weaver, este modelo é baseado em um processo de transmissão de uma mensagem de
um emissor para um receptor através de um canal de comunicação. O modelo enfatiza
a importância da codificação, decodificação e ruído no processo de comunicação.
Assim como o modelo de Lasswell, que veremos com mais profundidade nos próximos
capítulos, também foi criticado por sua abordagem mecanicista e simplificada da
comunicação, que não leva em conta o papel ativo dos receptores na interpretação e
uso da informação transmitida, bem como as questões sociais e culturais que podem
afetar a comunicação.

• Teoria Hipodérmica ou Teoria da Bala Mágica: argumentava que os meios de


comunicação de massa têm um efeito direto e imediato nos indivíduos, que são
facilmente persuadidos e influenciados pelo conteúdo apresentado pelos meios de
comunicação. Do mesmo modo, recebeu diversas críticas pelo poder ilimitado dado
aos meios de comunicação.

Essas teorias foram importantes para o desenvolvimento das teorias da comunicação


e para a compreensão da comunicação como um processo de transmissão de
mensagens. No entanto, como destacado, elas também foram criticadas por sua
visão limitada e simplista da comunicação, que não leva em conta a complexidade
das relações sociais e culturais envolvidas na comunicação. Também não inclui, em
suas análises, o papel ativo dos receptores na interpretação e uso da informação
fornecida pelos meios de comunicação.

- Segunda fase
A segunda fase começou a surgir por volta da década de 1960 e foi marcada por
uma mudança de foco, que passou da transmissão de mensagens para a produção
de significados e sentidos na comunicação. Algumas teorias importantes desta fase
incluem:

• Teoria da Comunicação de Massa de Denis McQuail: o autor enfatiza o papel dos


meios de comunicação de massa na produção e disseminação de mensagens para
um grande público. A teoria destaca a importância do contexto social e cultural em
que a comunicação ocorre. Ela argumenta que a comunicação de massa pode ter

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efeitos tanto positivos como negativos, dependendo do contexto em que é recebida


e interpretada pelo público. Também enfatiza a importância da análise dos meios de
comunicação de massa em relação ao poder e à influência na sociedade. Ela argumenta
que os meios de comunicação de massa têm o poder de influenciar a opinião pública
e moldar a percepção da realidade, e que essa influência pode ser utilizada tanto para
fins democráticos como para fins autoritários.

• Teoria da Agenda Setting: Esta teoria, proposta por Maxwell McCombs e Donald
Shaw em 1972, sugere que a mídia não apenas transmite informações, mas também
tem a capacidade de influenciar a agenda pública, destacando certos temas e questões
em detrimento de outros. Desse modo, ela se concentra no papel da mídia na definição
da agenda pública, ou seja, na seleção e ênfase de tópicos e questões que se tornam
importantes na agenda pública. A teoria argumenta que a mídia tem o poder de definir
quais questões são consideradas importantes pela sociedade, ao enfatizar certos
temas e negligenciar outros. Ela sustenta que a mídia não apenas reflete a realidade,
mas também molda a percepção pública da realidade.

• Teoria da Comunicação Simbólica: Desenvolvida por Clifford Geertz em 1973,


esta teoria destaca a importância dos símbolos e significados na comunicação e na
construção da cultura. Assim, aponta que a comunicação é um processo simbólico,
em que as mensagens são criadas e interpretadas com base em códigos culturais
compartilhados pelos indivíduos. Ela enfatiza a importância da análise dos significados
simbólicos e dos contextos culturais na compreensão da comunicação e da mídia.
Também considera que as mensagens da mídia e da cultura popular são influenciadas
por diversos fatores, como a história, a política, a economia e as relações sociais. Ela
argumenta que as mensagens são criadas e interpretadas com base em referências
culturais compartilhadas pelos indivíduos, que são influenciados por suas experiências
pessoais e pela cultura em que estão inseridos.

• Teoria Crítica da Comunicação: Esta teoria, associada à Escola de Frankfurt, enfatiza


o papel da comunicação na reprodução das relações de poder na sociedade e na
manutenção da dominação cultural. A teoria critica a ideia de que a comunicação é um
processo neutro e objetiva, argumentando que a mídia é uma ferramenta utilizada para
manter o status quo. Assim, argumenta que a comunicação e a mídia são ferramentas

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de controle e manipulação social, usadas pelas elites dominantes para manter seu
poder e controlar a opinião pública. Ela questiona a ideia de que a mídia é um espaço
pluralista e democrático onde diferentes vozes e opiniões podem ser ouvidas.

Essas teorias representaram uma mudança significativa na compreensão da


comunicação, passando a considerá-la como um processo mais complexo e dinâmico,
que envolve a produção de significados e sentidos pelos diferentes atores envolvidos.
Essa fase também foi marcada por um aumento do interesse na pesquisa empírica
e na metodologia científica.

- Terceira fase

Alguns autores classificam apenas duas teorias da comunicação e, ao invés de


apontar um terceiro momento, incluem este dentro da segunda fase. Outros, preferem
apontar a existência de uma terceira etapa. Esta começou a emergir na década de
1980 e é caracterizada por uma abordagem mais crítica e reflexiva sobre a natureza da
comunicação e sua relação com a sociedade. Elas buscam compreender a comunicação
em um contexto mais amplo, que inclui a globalização, a cultura de massa e a tecnologia
digital. Algumas das teorias mais relevantes desta fase incluem:
•Teoria do Construtivismo Social: Esta teoria destaca a importância do contexto
social e cultural na comunicação. Ela sugere que a comunicação é uma construção
social e que a compreensão da comunicação depende do contexto cultural e social
em que ocorre.

•Teoria da Ecologia da Mídia: Esta teoria enfatiza a importância do ambiente midiático


em que ocorre a comunicação. Ela sugere que a comunicação é afetada pelo ambiente
midiático e que diferentes meios de comunicação interagem entre si para criar um
ecossistema midiático. Enfatiza a importância da análise do ambiente em que os meios
de comunicação operam, incluindo fatores como a economia, a política, a cultura e
a tecnologia. Ela argumenta que esses fatores afetam a maneira como os meios de
comunicação são usados e influenciam os efeitos que eles têm na sociedade.

•Teoria da Convergência: Esta teoria destaca a fusão de diferentes meios de


comunicação e tecnologias em um único sistema. Ela sugere que a convergência

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está mudando a forma como as pessoas consomem e produzem conteúdo, e está


criando novas oportunidades de comunicação. Também aponta que as pessoas estão
se tornando cada vez mais ativas na criação e compartilhamento de conteúdo, graças
às novas tecnologias de comunicação. A teoria tem implicações importantes para a
indústria de mídia e para a regulação dos meios de comunicação. Ela sugere que as
empresas de mídia precisam se adaptar às novas formas de consumo e produção
de conteúdo, e que os reguladores precisam acompanhar as mudanças tecnológicas
para garantir que as pessoas tenham acesso a uma ampla gama de conteúdos e
perspectivas.

•A Teoria da Comunicação Organizacional: concentra-se na comunicação dentro de


organizações, sejam elas empresas, instituições governamentais ou sem fins lucrativos.
Ela explora como a comunicação pode ser usada para alcançar objetivos organizacionais
e melhorar o desempenho da organização. Seu foco está, principalmente, em três áreas:
comunicação interna, comunicação externa e comunicação de crise. A comunicação
interna refere-se à troca de informações entre membros da organização, enquanto a
comunicação externa refere-se à comunicação entre a organização e outras entidades
externas, como clientes, fornecedores e a mídia. A comunicação de crise envolve a
comunicação durante situações de emergência ou crise. Ela enfatiza a importância
da comunicação para o sucesso da organização, o que inclui a compreensão da
cultura organizacional, das normas e valores, e como a comunicação pode ser usada
para promover mudanças positivas dentro da organização. Também explora como
as tecnologias de comunicação, como e-mails e redes sociais, estão transformando
a maneira como as organizações se comunicam.

Essas teorias representaram uma continuação do movimento crítico iniciado na


segunda fase das teorias da comunicação, mas com um foco mais amplo e diverso,
incluindo questões de gênero, raça, etnia e globalização. A terceira fase também foi
marcada por um aumento no interesse pela teoria crítica e pelos estudos culturais.

1.6 A classificação por escolas e centros de estudo


Existem várias escolas e abordagens teóricas nas teorias da comunicação, cada
uma com suas próprias perspectivas e métodos de estudo. No caso da classificação
por escolas, a ideia principal são os agrupamentos em torno de conjuntos de conceitos,

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métodos e pressupostos teóricos comuns. Essas escolas não são mutuamente


exclusivas e podem se sobrepor em alguns pontos, mas ajudam a organizar e
compreender as diferentes abordagens teóricas da comunicação. Vejamos algumas
delas:

• Escola Funcionalista: essa escola enfatiza a função da comunicação na sociedade e


como ela ajuda a manter a ordem social. As teorias funcionalistas veem a comunicação
como um processo que atende a determinadas necessidades sociais, como a
disseminação de informações e valores, a construção de identidades e a resolução
de conflitos.

• Escola Crítica: essa escola enfatiza a relação entre a comunicação e o poder,


questionando as estruturas sociais e políticas que moldam a comunicação. As
teorias críticas veem a comunicação como um processo que reflete e reproduz as
desigualdades sociais e que pode ser usado para promover ou desafiar o status quo.

• Escola Cultural: essa escola enfatiza a importância da cultura na comunicação


e como ela influencia a forma como as pessoas entendem e se relacionam com o
mundo ao seu redor. As teorias culturais veem a comunicação como um processo
que envolve significado, interpretação e negociação de sentido.

• Escola Fenomenológica: essa escola enfatiza a experiência individual da


comunicação e como as pessoas percebem e dão sentido ao mundo ao seu redor.
As teorias fenomenológicas veem a comunicação como um processo subjetivo que
envolve a percepção, a intuição e a compreensão.

• Escola Behaviorista: essa escola enfatiza o comportamento observável e mensurável


na comunicação e como ele pode ser influenciado por estímulos externos. As teorias
behavioristas veem a comunicação como um processo que pode ser estudado
empiricamente e que pode ser influenciado por recompensas e punições.

Quando pensamos nos centros de estudo, há, evidentemente, diversos existentes


ao redor do mundo. Esse tipo de taxionomia pode fornecer uma perspectiva detalhada
a respeito do desenvolvimento das teorias em diferentes localidades e como elas são

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influenciadas por fatores sociais, políticos e culturais específicos. A seguir, apresentamos


algumas das principais escolas e centros de estudo de teorias da comunicação:

• Escola de Chicago: esta escola de teorias da comunicação surgiu na Universidade de


Chicago nos anos 20 e 30 do século XX, e se concentrou na relação entre comunicação
e sociedade urbana. Os teóricos da Escola de Chicago enfatizaram a importância do
ambiente urbano na formação de padrões de comunicação e comportamento.

• Escola de Frankfurt: esta escola de teorias da comunicação surgiu na Alemanha


nos anos 20 e 30 do século XX, e se concentrou na relação entre comunicação, cultura
e poder. Os teóricos da Escola de Frankfurt enfatizaram a importância da cultura
popular e dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública e na
manutenção do poder.

• Escola de Toronto: esta escola de teorias da comunicação surgiu na Universidade de


Toronto nos anos 50 e 60 do século XX, e se concentrou na relação entre comunicação
e cultura. Os teóricos da Escola de Toronto enfatizaram a importância da cultura
popular na formação da identidade cultural e na mediação da relação entre indivíduos
e sociedade.

• Escola de Birmingham: esta escola de teorias da comunicação surgiu na Inglaterra


nos anos 60 e 70 do século XX, e se concentrou na relação entre comunicação, cultura
e poder. Os teóricos da Escola de Birmingham enfatizaram a importância dos estudos
culturais na compreensão dos meios de comunicação de massa e na relação entre
cultura popular e resistência cultural.

• Escola Latino-Americana de Comunicação: esta escola de teorias da comunicação


surgiu na América Latina nos anos 70 e 80 do século XX, e se concentrou na relação
entre comunicação e desenvolvimento social. Os teóricos da Escola Latino-Americana
de Comunicação enfatizaram a importância da comunicação popular na promoção
da participação cidadã e na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Essas são apenas algumas das principais escolas e centros de estudo de teorias da
comunicação, e há outros que se concentram em diferentes aspectos da comunicação

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e em diferentes regiões do mundo. A classificação por escolas e centros de estudo pode


ajudar a entender como as teorias se desenvolvem em diferentes contextos culturais
e sociais, e como elas podem ser aplicadas para resolver problemas específicos.

ANOTE ISSO

Ao longo dos próximos capítulos, focaremos, sobretudo, na classificação pelas


escolas e centros de estudo por facilitarem a compreensão dos contextos e as
relações sociais que colaboraram para seu desenvolvimento. Isso envolverá a
divisão geográfica onde começaram as pesquisas e/ou os pesquisadores pioneiros
em cada uma das linhas de estudo.

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CAPÍTULO 5
MASS COMMUNICATION
RESEARCH

1.1 Os primeiros passos


A Mass Communication Research surgiu como um campo de estudo no início do
século XX, quando a mídia de massa, como o rádio, começou a se tornar uma força
dominante na sociedade. Esses meios estavam transformando a forma como as
pessoas se comunicavam e consumiam informações. França e Simões (2016, p. 45)
apontam o pioneirismo dessas pesquisas:

A Mass Communication Research surgiu como um campo de estudo


no início do século XX, quando a mídia de massa, como o rádio,
começou a se tornar uma força dominante na sociedade. Esses meios
estavam transformando a forma como as pessoas se comunicavam
e consumiam informações. França e Simões (2016, p. 45) apontam
o pioneirismo dessas pesquisas:

A obra que se costuma indicar como o marco desse campo é “Propaganda Techniques
in the World War”, de Lasswell, publicada em 1927. Os primeiros estudos sobre a mídia
foram realizados por psicólogos e sociólogos que estavam interessados em entender
como a mídia poderia ser usada para educar e informar as massas. Com o passar dos
anos, a Mass Communication Research evoluiu para se tornar um campo interdisciplinar,
que busca entender como a comunicação de massa afeta a sociedade e a cultura.

https://www.amazon.com.br/Propaganda-Technique-World-Harold-Lasswell/dp/1614275068

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Os pesquisadores deste campo utilizam métodos científicos para coletar dados


empíricos e analisar como a mídia influencia as pessoas e a sociedade. Esses primeiros
estudos foram predominantemente qualitativos e baseados em observações e análises
de conteúdo.
Outro ponto importante para contextualizar o surgimento dessas pesquisas é que,
durante a Segunda Guerra Mundial, os governos dos EUA e do Reino Unido começaram
a investir em pesquisa sobre propaganda e comunicação de massa. O poder e domínio
sobre as formas de comunicação poderiam ser usadas para influenciar a opinião
pública naquele importante momento histórico.

No início dos anos 1940, a preocupação dos investigadores já não


está voltada unicamente para a comunicação interna no país, mas
abarca notadamente o desenvolvimento dos meios de propaganda
política de alcance internacional. Os pesquisadores se dedicam a
preparar a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial,
o que implica tanto planejar a moral e os espíritos de combate dos
soldados norte-americanos quanto conduzir a opinião pública norte-
americana (a favor da guerra) e internacional (a favor da intervenção
americana) (França e Simões; 2016, p. 46).

Por esse contexto, os estudos americanos sobre a comunicação de massa, aliás,


“tiveram início já nas primeiras décadas do século XX, e a Mass Communication
Research alcançou seu apogeu no período que vai do final dos anos 1930 até por
volta de 1950, quando os estudos vão se generalizando nos vários continentes e se
abrem a novas tendências e temáticas de estudo” (França e Simões; 2016, p. 46).
Entre essas novas temáticas estavam a propaganda eleitoral interna, a criação
de uma política de opinião pública para a expansão imperialista, a comunicação no
contexto da Guerra Fria, etc. No contexto dos EUA, figuras como “Mickey Mouse e o
Super-Homem - o herói que luta incansavelmente em nome da justiça e da democracia”
eram cuidadosamente criadas para transmitir determinadas mensagens (França e
Simões, 2016, p. 47). Além disso, muitas das principais revistas acadêmicas em
comunicação, como a Communication Research e a Journal of Communication, foram
fundadas nos EUA.

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https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/noticia/2021/12/hq-rara-do-super-homem-e-vendida-por-us-26-milhoes-ckxes21ja002a01fb29izy1oq.html

A influência dos movimentos sociais e políticos nos EUA, como o movimento


pelos direitos civis, também influenciaram a Mass Communication Research. Os
pesquisadores começaram a explorar como a mídia poderia ser usada para promover
a mudança social, e a teoria da agendamento, desenvolvida por Maxwell McCombs e
Donald Shaw na década de 1970, por exemplo, destacou o papel da mídia na definição
da agenda pública e política.
Tais estudos, estimulados por essa nova realidade que incluía o desenvolvimento da
imprensa de massa, a invenção do cinema, do rádio e da televisão, foram marcados
por três grandes áreas de preocupação: a eficácia da propaganda política, a utilização
comercial-publicitária dos meios de massa e a influência dos novos meios de
comunicação nos comportamentos e no quadro de valores sociais (França e Simões,
2016, p. 48).

1.2 O que são


As pesquisas em comunicação de massa, ou mass communication research em
inglês, são um conjunto de estudos que visam entender o papel e o efeito dos meios
de comunicação de massa na sociedade. As pesquisas nessa área cobrem uma ampla
gama de tópicos relacionados aos meios de comunicação, incluindo sua influência

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na formação da opinião pública, na criação de identidades sociais, na transmissão


de valores culturais e na promoção de estereótipos.
Como aponta Araújo (2001, p. 120), “essa tradição de estudos é composta por
abordagens e autores tão variados que vão desde a engenharia de comunicações,
passando pela psicologia e sociologia, com pressupostos teóricos e mesmo resultados
distintos e, em muitos casos, quase inconciliáveis”. A unidade encontrada nesse grupo
sobressai de algumas características comuns.
Uma das principais é a abordagem empiricista. Os pesquisadores usam métodos
científicos para coletar dados empíricos e analisar como a comunicação de massa
afeta os indivíduos e a sociedade. Isso significa que eles se concentram em observar
e medir como as pessoas percebem, interpretam e reagem aos conteúdos midiáticos.
Outro importante ponto da Mass Communication Research refere-se à orientação
pragmática. Isso significa dizer que “as pesquisas em comunicação desta tradição
de estudos têm origem em demandas instrumentais do Estado, das Forças Armadas
ou dos grandes monopólios da área de comunicação de massa”, além disso “têm por
objetivo compreender como funcionam os processos comunicativos com o objetivo
de otimizar seus resultados” (ARAÚJO, 2001, p. 120). Como também destacam França
e Simões (2016, p. 45):

Houve um grande investimento no desenvolvimento de projetos, na


criação e no fortalecimento de centros de pesquisa, investimento este
pautado por dois tipos de interesse. Por um lado, uma preocupação
ética sobre “o que os meios estão fazendo (ou podem fazer) com as
pessoas”. De outro, um interesse de cunho instrumental, por parte do
meio político e empresarial, voltado para a eficácia no uso dos meios
na obtenção de objetivos pretendidos.

O foco na audiência, com isso, também é um aspecto presente. Os pesquisadores


buscam entender como as pessoas são afetadas pela mídia, e como elas usam a mídia
para se informar, entreter ou se conectar com outras pessoas. Para isso, eles usam
abordagens teóricas e metodológicas de diferentes disciplinas, como a psicologia,
sociologia, antropologia, dentre outras.

1.3 Centros de pesquisa e correntes de estudo


Quando estudamos as teorias da comunicação, é muito comum fazermos referência
a determinados centros de pesquisa. Isso porque muitas linhas de pensamento se

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desenvolveram nesses locais, influenciados pelas demandas sociais. Esses estudos


são importantes para promover a pesquisa e a produção de conhecimento nessa área.
Através desses centros, é possível reunir pesquisadores, estudantes e profissionais para
discutir e aprofundar as teorias da comunicação existentes e gerar novas perspectivas
e abordagens.
Quando pensamos na Mass Communication Research, as escolas de Chicago e de
Palo Alto, nos Estados Unidos, são algumas das principais referências. Vejamos uma
base da linha de pesquisa que elas desenvolveram.

1.3.1 A Escola de Chicago


A Escola de Chicago foi um movimento intelectual fundado por sociólogos,
antropólogos e outros cientistas sociais na Universidade de Chicago no início do século
XX. A escola foi pioneira no uso de métodos empíricos para analisar problemas sociais,
e teve uma influência significativa no desenvolvimento da sociologia nos Estados
Unidos e em todo o mundo.
Os estudiosos da Escola de Chicago enfatizavam a importância da observação direta
e da coleta de dados empíricos para compreender a dinâmica social. Eles também
enfatizavam a importância do contexto social e geográfico para entender as questões
sociais e urbanas.

Enquanto uma outra vertente na sociologia se empenhava nas


generalizações, na descoberta de leis e de uma teoria única
da sociedade, em combinação com métodos quantitativos, os
pesquisadores de Chicago se interessavam pelo particular e pelas
pequenas ocorrências da vida cotidiana - tendo sido especialmente
afetados e tematizados pela própria cidade onde viviam (França e
Simões, 2016, p. 84).

Entre as áreas de estudo da Escola de Chicago, destacam-se a sociologia urbana,


a criminologia, a antropologia cultural e a psicologia social. Os pesquisadores da
escola analisavam problemas como pobreza, imigração, crime e segregação racial, e
buscavam entender as causas e consequências desses fenômenos sociais.

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De fato, Chicago era naquela época - e como eles diziam - um grande


“laboratório social”, tendo experimentado um crescimento vertiginoso
e uma composição bastante diversificada: de um pequeno povoado
no início do século XIX, Chicago entra no século XX com mais de 1
milhão de habitantes e alcança 3,5 milhões no censo de 1930.2 Sua
população era essencialmente de imigrantes: migrantes rurais, do
interior do país, e grandes contingentes de imigrantes estrangeiros,
das mais diferentes nacionalidades. Era uma cidade industrial,
moderna, experimentando embates políticos (grandes greves
operárias) e o impulso da vida artística e cultural. Dessa maneira,
a sociologia de Chicago foi uma sociologia urbana, voltada para a
temática da cidade e para os problemas da convivência urbana, da
absorção do estrangeiro e da marginalidade (França e Simões, 2016,
p. 85).

As pesquisas relacionadas à comunicação feitas por pesquisadores influenciados


pela Escola de Chicago costumavam utilizar o modelo linear da comunicação.
Também conhecido como o modelo de Shannon e Weaver, é baseado na ideia de
que a comunicação é um processo simples e linear de transmissão de informação
de um emissor para um receptor. Nesse modelo, a mensagem é codificada pelo
emissor, transmitida por meio de um canal e decodificada pelo receptor. O modelo
linear da comunicação enfatiza a importância da clareza e precisão na transmissão
da mensagem.

A Escola de Chicago, com isso, teve uma grande influência no desenvolvimento


da sociologia como disciplina acadêmica nos Estados Unidos e em todo o mundo, e
também em muitos aspectos das teorias da comunicação.

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ANOTE ISSO

O Interacionismo Simbólico é uma teoria sociológica que surgiu na década de 1920


na Escola de Chicago. Ele enfatiza o papel da comunicação simbólica na interação
social e na formação de significados compartilhados.
Os fundadores da Escola de Chicago, como George Herbert Mead, Charles Horton
Cooley e William I. Thomas, são frequentemente considerados os pioneiros do
Interacionismo Simbólico. Eles argumentaram que a linguagem e outros símbolos
são cruciais para o desenvolvimento da autoconsciência, da identidade e do
significado social.

1.3.2 A Escola de Palo Alto


A Escola de Palo Alto, também conhecida como Abordagem Sistêmica, é uma
corrente de pensamento que se originou na cidade de Palo Alto, na Califórnia, nos
anos 1950 e 1960. Ela surgiu a partir do trabalho de um grupo de pesquisadores
liderados por Gregory Bateson, que buscavam compreender como as interações sociais
influenciam o comportamento humano.
Ele acreditava que a comunicação era um processo complexo e dinâmico, e que
para compreendê-la era necessário considerar a interação entre os elementos do
sistema comunicativo.

https://www.californiamuseum.org/inductee/gregory-bateson

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Assim, a Escola de Palo Alto foi uma das pioneiras no estudo dos sistemas
complexos, entendendo que as interações entre os indivíduos e o ambiente são
mais importantes do que as características individuais isoladas. A partir disso, os
pesquisadores desenvolveram técnicas terapêuticas e educacionais que levam em
conta o contexto em que o indivíduo está inserido, além de buscar soluções que
envolvam a participação ativa de todas as partes envolvidas.
Entre as principais contribuições da Escola de Palo Alto estão a Terapia Familiar
Sistêmica e a Comunicação Não-Violenta, que se tornaram ferramentas importantes
em diversas áreas do conhecimento.
Com esse processo em mente, a Escola de Palo Alto desenvolveu um modelo de
comunicação que enfatiza a natureza circular e recursiva do processo comunicativo.
Nesse modelo, a comunicação é vista como um processo em que as pessoas trocam
informações por meio de símbolos, que são interpretados dentro de um contexto.
O modelo da Escola de Palo Alto enfatiza a importância da retroalimentação na
comunicação. De acordo com essa abordagem, a comunicação não é uma linha reta
entre emissor e receptor, mas sim um processo circular e recursivo. Isso significa que
a comunicação é influenciada pelo contexto em que ocorre e que a retroalimentação
é essencial para que a comunicação seja efetiva.
Além disso, a Escola de Palo Alto enfatiza a importância da meta-comunicação na
comunicação humana. A meta-comunicação é a comunicação sobre a comunicação, ou
seja, é quando as pessoas usam a comunicação para transmitir informações adicionais
sobre a mensagem, como sua intenção, emoções e atitudes.
Portanto, a Escola de Palo Alto se concentra nas interações entre os indivíduos e o
ambiente, e como isso influencia o comportamento humano. Essa escola é conhecida
por sua abordagem sistêmica, que busca entender como as interações entre as pessoas
em um contexto específico podem afetar o comportamento e a saúde mental dos
indivíduos.

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CAPÍTULO 6
AS TEORIAS DE BASE

6.1 As teorias de base da Mass Communication Research


Como vimos no capítulo anterior, a Mass Communication Research trouxe uma
confluência de diversas áreas científicas, criando bases teóricas bastante amplas e
múltiplas. Neste momento, observaremos algumas dessas filiações teóricas. Conhecê-
las permite observar as teorias da comunicação e enxergar as influências dessas
bases conceituais.
A seguir, traremos algumas delas, mas salientamos que existem outros aportes
teóricos que também foram usados pelos pesquisadores que focaram na área da
comunicação.

https://www.freepik.com/free-photo/laptop-computer-book-workplace-library-room_3737799.htm#query=livros%20
comunica%C3%A7%C3%A3o&position=8&from_view=search&track=ais

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6.2 A Teoria Funcionalista (ou o estrutural-funcionalismo)


O estrutural-funcionalismo é uma teoria sociológica que se concentra em como as
diferentes partes da sociedade trabalham juntas para manter a ordem e a estabilidade
social. A teoria é um braço do movimento positivista, o qual “se caracteriza pela presença
de alguns traços comuns: o primado da ciência (o único método de conhecimento é o
das ciências naturais)”, além da “exaltação da ciência como único meio em condições
de resolver, ao longo do tempo, todos os problemas humanos e sociais” e também
da “aproximação entre as ciências naturais e o estudo da sociedade e o combate às
concepções idealistas e espiritualistas da realidade” (FRANÇA e SIMÕES, 2016, p. 50-51).
Como um herdeiro dessa perspectiva teórica, o funcionalismo procura aplicar, na
realidade social, princípios bastante semelhantes aos das ciências físicas e naturais,
tendo estas como fonte de inspiração para seus modelos teóricos. Exemplo disso é
a consideração de que a sociedade é um sistema complexo composto de diferentes
partes interconectadas. Cada parte desempenha uma função específica que contribui
para a estabilidade e a continuidade da sociedade como um todo. Por exemplo, a família
é vista como uma instituição que desempenha a função de socializar os indivíduos e
transmitir valores e normas culturais para as gerações futuras.

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Ou seja, a sociedade, por essa visão, é como um organismo vivo, assemelhando-se


a um organismo biológico, uma vez que a parte influencia no funcionamento do todo.

O sistema social na sua globalidade é entendido como um organismo


cujas diferentes partes desempenham funções de integração e de
manutenção do sistema. O seu equilíbrio e a sua estabilidade provêm
das relações funcionais que os indivíduos e os subsistemas ativam no
seu conjunto; indivíduos se tornam meio para procurar atingir os fins
da sociedade e, em primeiro lugar, de sua sobrevivência auto-regulada.
A lógica que regulamenta os fenômenos sociais é constituída por
relações de funcionalidade que presidem à solução de problemas
fundamentais (Wolf, 1995, p. 57).

A teoria também enfatiza a importância da coesão social e da solidariedade para


a estabilidade da sociedade. A coesão social refere-se à força dos laços sociais que
unem os indivíduos em uma sociedade, enquanto a solidariedade refere-se ao grau
de interdependência e cooperação entre os membros da sociedade.
O estrutural-funcionalismo também presta atenção à maneira como a sociedade
se adapta a mudanças e desafios externos, como conflitos e mudanças tecnológicas.
A teoria sugere que a sociedade tem mecanismos integrativos que permitem que ela
se adapte a essas mudanças e mantenha a estabilidade.
Nas teorias da comunicação, a corrente funcionalista concentra-se na forma como a
comunicação pode atender às necessidades sociais e individuais. Com isso, enfatiza o
papel da comunicação na manutenção da ordem social e na promoção da estabilidade.
Isso corresponde a dizer que “pensar as funções da comunicação de massa – e,
consequentemente, as funções dos conteúdos midiáticos – significa observar quais
papéis são desempenhados por tal instituição e quais são as contribuições oferecidas
por ela a um determinado contexto” (ASSIS, 2011, p. 220).
Nessa linha, os teóricos funcionalistas veem a comunicação como um processo
que ajuda a garantir a coesão e a estabilidade da sociedade, argumentando que é uma
ferramenta importante para a transmissão de normas, valores e crenças, os quais têm
papel essencial para manter a harmonia social. A teoria funcionalista também destaca
o papel da comunicação no atendimento às necessidades individuais. Neste ponto,
os teóricos argumentam que ela ajuda a satisfazer as necessidades de informação,
entretenimento e socialização das pessoas.

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No entanto, uma das críticas à linha funcionalista destaca sua ênfase na estabilidade
e na harmonia social, em detrimento da mudança social e do conflito. Alguns críticos
argumentam que essa abordagem pode ser usada para justificar a manutenção de
estruturas sociais desiguais e opressivas.

ISTO ESTÁ NA REDE

Você pode conferir mais a respeito da teoria funcionalista no vídeo desenvolvido


pelo portal Brasil Escola. As origens e os pesquisadores expoentes desses estudos
são apresentados no conteúdo:
https://www.youtube.com/watch?v=I8CXmVnZX_s

6.3 Behaviorismo
O behaviorismo é uma abordagem psicológica que se concentra no estudo do
comportamento humano e animal. Ela enfatiza a importância do ambiente e da
experiência na formação do comportamento.
O fundador dessa linha de análise foi o norte-americano J. B. Watson (1878-1958). Se
anteriormente citamos a base das ciências biológicas no funcionalismo, aqui também
a proposta era tornar a Psicologia como as ciências naturais. Esse objetivo seria

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atingido ao retirar da “análise psicológica os dados intimistas (da introspecção), que


não podem ser submetidos à experimentação. A consciência não pode estar na base
da ciência psicológica; o que o psicólogo precisa estudar são os comportamentos”
(FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 53).
Watson estabelece três pontos fundamentais em sua proposta. A primeira é,
justamente, esse alinhamento às ciências da natureza. Para ele, “a psicologia como
o behaviorista a vê é um ramo experimental, puramente objetivo, da ciência natural”
(WATSON, 1913, p. 158).

https://www.firstdiscoverers.co.uk/child-development-theories-john-watson/

Outro ponto é o objeto de estudo. Neste caso, o comportamento: “Ou a psicologia


deve mudar o seu ponto de vista, de modo a incluir fatos do comportamento (...) ou
então o comportamento deve ser isolado como parte de uma ciência inteiramente
separada e independente” (WATSON, 1913, p. 159).
O terceiro pilar traz uma conclusão fundamental para a teoria, uma vez que estabelece
um objetivo para o estudo. Para o autor, o “objetivo teórico é a previsão e o controle
do comportamento” (WATSON, 1913, p. 159).
Após essas concepções de Watson, o behaviorismo também se desenvolveu em
outras direções. Por exemplo, “introduz-se a ideia de intencionalidade: as ações humanas

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(e também animais) não se dão através do simples esquema mecânico de estímulo-


resposta”. Pelo contrário, “os comportamentos podem ser mais bem explicados se
forem considerados como cadeias de ações voltadas para objetivos precisos” (FRANÇA
E SIMÕES, 2016, p. 54). França e Simões também apontam as críticas que envolvem
essa forma de análise:

Burrhus Frederic Skinner é o representante mais conhecido do


behaviorismo, amplamente criticado por suas aplicações dos
princípios comportamentalistas a projetos de reforma social, através
do uso do condicionamento dos comportamentos para reformar e
melhorar a sociedade. Skinner também rejeita a importância dos
esquemas mentais (intenções, emoções, sentimentos) em prol do
estudo do comportamento observável e do desenvolvimento de
técnicas de condicionamento - entre elas, a técnica do reforço, que
estimula um tipo de resposta e inibe outros (FRANÇA E SIMÕES,
2016, p. 54).

Burrhus Frederic Skinner é o representante mais conhecido do behaviorismo,


amplamente criticado por suas aplicações dos princípios comportamentalistas a projetos
de reforma social, através do uso do condicionamento dos comportamentos para
reformar e melhorar a sociedade. Skinner também rejeita a importância dos esquemas
mentais (intenções, emoções, sentimentos) em prol do estudo do comportamento
observável e do desenvolvimento de técnicas de condicionamento - entre elas, a técnica
do reforço, que estimula um tipo de resposta e inibe outros (FRANÇA E SIMÕES, 2016,
p. 54).

https://comportese.com/2012/06/14/o-behaviorismo-a-educacao-e-a-desinformacao/

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6.4 Teoria da sociedade de massa


Entre os primeiros estudos das teorias da comunicação, a ideia de “sociedade
de massa” esteve muito presente. Nesse contexto, o termo “massa” designa uma
coletividade de grande extensão, heterogênea e desestruturada socialmente, isto é,
desprovida de laços internos (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 54). A origem do conceito
remonta do pensamento político do século XIX.
Em fins deste século e início do XX, a teoria da sociedade de massa desejava
compreender as transformações sociais e culturais decorrentes do desenvolvimento
da sociedade industrial. Um dos principais pensadores foi o francês Gustave Le Bom.
Em sua obra mais conhecida, “Psicologia das multidões” (1895), Le Bon argumenta
que os indivíduos, quando reunidos em grandes grupos, perdem sua individualidade e
se tornam parte de uma “mente coletiva” ou “massa”, que é governada por emoções
irracionais e impulsos instintivos.
Para Le Bon, a sociedade de massa é caracterizada pela uniformidade,
homogeneização e ausência de pensamento crítico. Ele acreditava que a mídia de
massa desempenhava um papel fundamental na criação e manutenção da “mente
coletiva”, ao propagar informações simplificadas que eram facilmente assimiladas.
O autor também afirmava que a sociedade de massa era propensa a surtos de
violência e irracionalidade, além de que os líderes políticos e religiosos podiam facilmente
manipular a população para seus próprios fins. Ele acreditava que a única forma de
controlar a “mente coletiva” era através da liderança forte e carismática, que poderia
moldar a opinião pública de acordo com seus próprios objetivos.

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Essas ideias influenciaram muitos teóricos da comunicação e da cultura que


estudaram a cultura de massa e a comunicação de massa no século XX. Contudo, é
necessário fazer a ressalva de que a sociedade é muito mais complexa e heterogênea
do que a visão de Le Bon sugere, e que os indivíduos têm a capacidade de agir de
forma independente e racional, mesmo em grandes grupos.

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CAPÍTULO 7
A TEORIA MATEMÁTICA
E OS EIXOS DA MASS
COMMUNICATION RESEARCH

7.1 Funções e efeitos dos meios de comunicação de massa


As primeiras pesquisas sobre os meios de comunicação, como vimos, trouxeram
as experiências do final do século XIX e século XX. Isso inclui tanto as evoluções
tecnológicas quanto as características sociais da época e, claro, os referenciais teóricos
de diversas áreas da ciência.

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A junção desses diferentes pensamentos e conceitos foi essencial para a gênese da


Mass Communication Research. Dentro desta, houve o desenvolvimento de dois eixos
principais: (1) o estudo das funções sociais exercidas pelos meios de comunicação de

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massa; (2) o estudo dos efeitos provocados pelos meios nas audiências. Falaremos
sobre esses desdobramentos na sequência.
Antes de entrarmos neles, porém, vamos conhecer uma linha de estudos que se
desenvolveu nesse mesmo período: a Teoria Matemática da Comunicação. Como
se trata de uma forma de análise relativamente distinta em função de sua proposta,
traremos seu contexto e suas características antes de abordarmos as teorias da Mass
Communication Research.

7.2 Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da Informação


A teoria matemática da comunicação é uma teoria desenvolvida por Claude Shannon
e Warren Weaver na década de 1940. Ambos eram engenheiros matemáticos. O objetivo
da proposta deles era estudar a transmissão de informações de um emissor para um
receptor, levando em consideração a presença de ruído e outros fatores que podem
afetar a qualidade da comunicação. Essa teoria utiliza conceitos matemáticos para
calcular a quantidade de informação transmitida e sua eficiência.

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Assim, a teoria matemática é “menos um conjunto acabado de conceitos e


pressupostos teóricos, mas sim uma sistematização do processo comunicativo a
partir de uma perspectiva puramente técnica, com ênfase em aspectos quantitativos”
(ARAÚJO, 2001, p. 121).
Um dos principais conceitos da teoria matemática da comunicação é a entropia
da informação. A entropia é uma medida da incerteza de uma mensagem. Quanto
maior a entropia, maior é a incerteza da mensagem e, portanto, maior é a quantidade
de informação necessária para transmiti-la com precisão.
Outro ponto importante é que, quanto mais desordenada ou imprevisível for uma
mensagem, maior será sua entropia e, portanto, menor será a quantidade de informação
que ela contém. Essa quantidade é medida em “bits”.
Por exemplo, se uma mensagem é composta por apenas dois símbolos, A e B, e
eles ocorrem com a mesma frequência, então a entropia da mensagem é 1 bit. No
entanto, se um dos símbolos ocorre com muito mais frequência do que o outro, a
entropia da mensagem será menor do que 1 bit, pois é mais fácil prever qual símbolo
será o próximo.
A entropia é calculada usando a fórmula:
H(X) = - Σ p(x) log p(x), onde H(X)

é a entropia da mensagem, p(x) é a probabilidade de cada símbolo na mensagem


e log é o logaritmo na base 2.
Uma representação do sistema de comunicação pela perspectiva da teoria
matemática pode ser melhor observado conforme o diagrama abaixo:

Desse modo, “a comunicação é apresentada como um sistema no qual uma fonte de


informação seleciona uma mensagem desejada a partir de um conjunto de mensagens
possíveis”. A seguir “codifica esta mensagem transformando-a num sinal passível
de ser enviada por um canal ao receptor, que fará o trabalho do emissor ao inverso”.
Ou seja, a comunicação é entendida como um processo de transmissão de uma

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mensagem por uma fonte de informação, através de um canal, a um destinatário


(ARAÚJO, 2001, p. 121).
Em seu trabalho, Shannon discorre sobre o que considera o problema fundamental
da comunicação e sobre o aspecto semântico da mensagem:

O problema fundamental da comunicação é o de reproduzir em


um ponto ou exatamente ou aproximadamente uma mensagem
selecionada em outro ponto. Frequentemente as mensagens têm
significado, isto é, elas se referem a ou são correlacionadas com
algum sistema com certas entidades físicas ou conceituais. Estes
aspectos semânticos da comunicação são irrelevantes para o
problema de engenharia. (SHANNON, 1948, p. 1).

A grande problemática dessa teoria é o quão “enrijecido” fica a comunicação. Tratada


como um sistema fixo, ela deixa de considerar a inserção social desse fenômeno, o
que anula diversas variantes e imprevisibilidades. O sistema linear, com elementos
encadeados dessa forma, torna a análise excessivamente fixa e incapaz de considerar
outras situações existentes dentro do processo de comunicação, incluindo o aspecto
semântico.

1.2 Eixo das funções


Apesar de haver algumas ligações com a teoria matemática, como veremos adiante,
o grupo de teorias que se identificam ao eixo das funções tomam um caminho diferente
no que se refere a considerar e observar os aspectos sociais. Sai-se do olhar meramente
sistemático e passa-se para o processo social. A influência principal, aqui, é o estrutural-
funcionalismo, como vimos anteriormente. Essencialmente, a questão a seguir rondava
as pesquisas:

Quais são as consequências - para os indivíduos, os pequenos grupos,


os sistemas sociais e culturais - de uma forma de comunicação que
se dirige a audiências amplas, heterogêneas e anônimas, pública
e rapidamente, utilizando para este fim uma organização formal
complexa e cara? (Wright, 1985, p. 72)

Como destacam França e Simões (2016, p. 57), diversos pesquisadores tentaram


responder a essa pergunta. Para isso, apontavam tanto as funções (as consequências
positivas para o funcionamento normal de um sistema), quanto as disfunções
(consequências negativas, que comprometem o bom funcionamento do sistema)

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dos meios de comunicação na sociedade. Para Wright (1985), ambas as perspectivas


mereciam atenção e cuidado por parte dos pesquisadores e poderiam ser manifestas
(aquelas mais evidentes) ou latentes (leva-se mais tempo para notar, uma vez que
precisam de análises mais aprofundadas).
Vimos anteriormente alguns pressupostos da teoria funcionalista no que tange à
análise dos meios de comunicação. A ênfase fica na observação a respeito do papel da
mídia e da comunicação de massa na manutenção da ordem social. Também observa
que a mídia tem a função de informar e educar o público, bem como de moldar as
opiniões e comportamentos dos indivíduos.
Nessa perspectiva, o pesquisador Harold Laswell, cientista político norte-americano,
classificou os meios de comunicação em duas categorias: estrutural e funcional. Em
seus estudos, afirmava tratar das especializações que acarretam certas funções, as
quais ele divide em: “1) a vigilância sobre o meio ambiente; 2) a correlação das partes
da sociedade em resposta ao meio; 3) a transmissão da herança social de uma geração
para a outra” (LASWELL, 1978, p. 106). Posteriormente, Wright também acrescentaria
outra função: o entretenimento.

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A primeira trata da coleta e disseminação de informações relevantes para a


sociedade. Segundo Laswell, os meios de comunicação são importantes agentes na
vigilância sobre o poder, a política e outros aspectos da vida social. Eles têm o papel
de investigar e expor informações relevantes e de interesse público, como escândalos
políticos, crimes e problemas ambientais.
A função da correlação se refere ao papel dos meios de comunicação na integração
e coordenação das diversas partes da sociedade. Os meios de comunicação, nessa
linha, são importantes agentes na construção da opinião pública, na mediação de
conflitos e na formação de consensos. Eles têm o papel de estabelecer conexões
entre diferentes grupos sociais e de promover o diálogo e a comunicação entre eles.
A função da transmissão cultural trata da disseminação de valores, tradições e
conhecimentos de uma geração para outra. Para o autor, os meios de comunicação
representam agentes de preservação da cultura e na construção da identidade social.
Eles difundem informações sobre a história, a literatura, as artes e outras manifestações
culturais, além de promover a reflexão crítica sobre essas questões.
Já no caso da função de entretenimento, mencionada por Wright, é aquela que
busca divertimento e distração. Outras classificações de funções também foram
desenvolvidas por outros autores, bem como algumas “disfunções”.

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Como exemplo deste segundo caso, podemos citar a disfunção narcotizante, criadas
por Lazarsfeld e Merton (1978, p. 241). Neste caso, os meios de comunicação de
massa, como a televisão e os jornais, podem ter um efeito narcotizante sobre as
pessoas, levando-as a se preocupar mais com informações do que com a ação. Os
autores apontavam que, quando as pessoas são expostas a grandes quantidades de
informações sobre um assunto, elas podem se sentir mais informadas, mas também
podem se tornar passivas e apáticas em relação a ele. Isso ocorre porque elas acreditam
que já sabem o suficiente sobre o assunto e não sentem a necessidade de fazer
mais nada a respeito. Afirmam os autores que o cidadão, nessa situação, “acaba
confundindo conhecer os problemas do momento com fazer algo a seu respeito”
(Lazarsfeld; Merton, 1978, p. 241).
Vários outros autores também criaram classificações e definições sobre as funções
dos meios de comunicação de massa. Mas, mais do que apresentar todas, devemos
observar o objetivo comum a elas, o qual se trata de analisar os papeis desses meios
na perspectiva da sociedade e dos indivíduos e os impactos no bom funcionamento do
sistema social. Também consideremos que cada função elaborada pelos autores não
é, necessariamente, excludente. Ou seja, diversas funções podem se complementar.

ISTO ESTÁ NA REDE

No site da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação


(Intercom), há diversos artigos que abordam as contribuições da Mass
Communication Research para os avanços nos estudos. Selecionamos o trabalho
“A Contribuição do Mass Comunication Research para as Teorias das Relações
Públicas”, que aborda a comunicação enquanto ciência dentro da perspectiva dessa
linha teórica. Confira:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2009/resumos/r4-3868-1.pdf

1.3 Eixo dos efeitos


A maioria das pesquisas que compõe a Mass Communication Research faz parte
do eixo dos efeitos. Se as análises a respeito das funções tinham como foco principal
a sociedade, os estudos sobre os efeitos têm no indivíduo um olhar mais atento.
Como bem explicam França e Simões (2016, p. 62), “o estudo dos efeitos pergunta
sobre como os indivíduos são afetados e tem em vista a própria relação causa-efeito;

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nesse sentido, o foco analítico se volta para o âmbito da recepção, a fim de perceber
as mudanças individuais de opinião, atitude, comportamento”.

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O que também sempre gira em torno dessas pesquisas é a pergunta a respeito do


poder dos meios, em relação à sua maior ou menor capacidade de afetar e modificar os
indivíduos. As conclusões trazidas por elas variam. Algumas destacam a onipotência,
outros tratam essa influência como relativa. O contexto histórico também tem seu
impacto nessas visões:

É importante perceber que essa oscilação não se deveu apenas à


perspectiva e aos instrumentos metodológicos deste ou daquele
pesquisador, mas refletiu em grande medida mudanças nas
conjunturas nacional e internacional vividas pelos EUA (momentos
de crise reforçavam a perspectiva do poder dos meios; períodos de
estabilidade sugeriam uma capacidade mais branda de intervenção)
(França e Simões, 2016, p. 62).

Um elemento notório, ainda, é que grande parte das pesquisas – como aquelas
que tratavam das audiências, efeitos de campanhas políticas e propagandas – “eram

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encomendados e financiados por entidades diretamente interessadas na otimização


destes efeitos” (ARAÚJO, 2001, p. 124).
Tais pesquisas poderiam ser úteis para esses financiadores, uma vez que dariam
indicações a respeito dos efeitos sobre as atitudes, comportamentos e valores das
pessoas. Esse tipo de informação representaria um “manual” para compreender os
elementos que produziam ou não os efeitos que pretendiam.
No próximo capítulo, veremos com mais detalhes os modos de abordagem desse
eixo de análise dos meios de comunicação de massa.

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CAPÍTULO 8
TEORIA DA AGULHA E
HIPODÉRMICA E TEORIA
DA PERSUASÃO

8.1 A teoria da agulha hipodérmica


A teoria da Agulha Hipodérmica, também conhecida como Teoria da Bala Mágica
ou Teoria da Injeção Subcutânea, foi desenvolvida na década de 1920 e 1930 por
pesquisadores como Harold Lasswell e Paul Lazarsfeld. Basicamente, ela sugere que
a mídia tem um poder direto e imediato sobre o público, sem que haja qualquer tipo
de mediação ou filtragem.
A nomenclatura representa uma analogia criada pelos teóricos da época com
o processo de injeção de uma substância através de uma agulha hipodérmica. A
comparação sugere que, assim como ela injeta uma substância diretamente na corrente
sanguínea, a mídia poderia injetar mensagens diretamente na mente do público, sem
que houvesse qualquer tipo de filtragem ou resistência por parte do receptor.

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Os pesquisadores apontavam, com isso, o poder que a mídia de massa poderia


ter sobre a opinião pública, especialmente em tempos de crise ou conflito. O impacto
desse fenômeno sobre a sociedade seria algo que merecia atenção, uma vez que
moldaria a população a pensar da forma como os veículos desejassem.
Essa teoria tomou como base a psicologia dos instintos, abordagem teórica que
surgiu no final do século XIX e início do século XX. Segundo essa perspectiva, os
comportamentos humanos são impulsionados por instintos inatos e universais, que
são herdados biologicamente e que guiam as ações humanas.
Para chegar a essa conclusão, houve influência do trabalho de Charles Darwin e
sua teoria da evolução, que destacou a importância dos instintos na adaptação e
sobrevivência das espécies. Os psicólogos que trabalharam com essa abordagem
acreditavam que os instintos eram responsáveis por uma variedade de comportamentos
humanos, desde o comportamento sexual até o comportamento agressivo.
Desse modo, o comportamento humano seria herdado a partir dos mecanismos
biológicos do indivíduo e, concomitantemente, não possui uma raiz racional.
Considerando a linha de pensamento, “se a questão dos comportamentos e reações
humanas é definida pela estrutura biológica dos sujeitos, isso significa que estes
agem instintivamente - e, assim, de maneira mais ou menos uniforme (seria um
comportamento da espécie)” (FRANÇA, SIMÕES, 2016, p. 63). Se considerarmos as
mensagens da mídia, a reação dos indivíduos diante delas teria como base a ideia
do estímulo-resposta. Ou seja, os veículos de comunicação estimulam por meio das
mensagens e os sujeitos reagiriam a isso de maneira semelhante, mecanicamente.

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O que se encontra de semelhanças entre a teoria da agulha hipodérmica e a psicologia


dos instintos é que ambas apontam para as raízes instintivas e para a vulnerabilidade dos
indivíduos. Ambas defendem a ideia bastante simplista do estímulo-resposta.
Destaca-se que um fator de extrema importância para esse direcionamento teórico foi
o contexto social do mundo naquele instante. Trata-se do período entre as duas Grandes
Guerras. Alguns pesquisadores usaram a agulha hipodérmica para buscar compreender
os modos como os regimes totalitários, a exemplo da Alemanha nazista, utilizavam a
propaganda para influenciar e controlar as opiniões públicas em seus países.
A percepção era de que a propaganda nazista era altamente eficaz porque usava técnicas
de persuasão e manipulação para injetar suas mensagens diretamente na mente das
pessoas, sem qualquer resistência ou filtragem por parte do receptor. Essa visão também
se alimentava da crença de que a mídia poderia exercer um controle direto e imediato
sobre a mente das pessoas, sem que elas tivessem qualquer capacidade de resistência
ou questionamento.
No exemplo do cartaz abaixo, vemos os dizeres “Construir albergues e casas para
jovens”. A ideia era mostrar que o regime seria positivo para essa faixa da população
e, ao mesmo tempo, buscar com que crianças e adolescentes também apoiassem o
movimento. Esse tipo de mensagem, segundo a teoria da agulha hipodérmica, atingiria
os cidadãos e faria com que se tornassem simpáticos ao nazismo, uma vez que este
mostrava-se (nas mensagens das propagandas) positivo.

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Durante o período das duas guerras, inclusive, houve uma grande disputa
propagandista. Muitos dos cartazes americanos também ficaram bastante famosos.
O “Tio Sam” foi um dos mais impactantes nesse sentido. O pôster de recrutamento do
Exército dos EUA, ainda na época da Primeira Guerra Mundial, mostra um comandante
apontando o dedo para o espectador e incentivando os jovens a se alistar no esforço
de guerra.
A arte foi criada pelo ilustrador americano James Montgomery Flagg. A primeira
aparição foi na capa da edição de 6 de julho de 1916 da revista Leslie’s Weekly, com
o título “O que você está fazendo para se preparar?”. Posteriormente, “a imagem foi
adaptada pelo Exército dos EUA para o cartaz com o novo e inesquecível apelo à ação.
Mais de 4 milhões de cópias foram impressas entre 1917 e 1918” (KNAUER, 2017).
Na imagem ao lado, a ideia é bastante semelhante. O pôster de 1945 mostra uma
família alemã com roupas militares e afirma: “Frankfurt, a cidade da linha de frente,
será mantida [por nós]!”. A ideia é que a cidade deveria ser defendida contra os ataques
dos Aliados. Isso significava que até mesmo os civis deveriam se mobilizar pela causa.

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Mas não é apenas nas guerras e em espaços políticos que isso acontece. Esse
tipo de convencimento imperativo aparece de modo bastante semelhante em diversas
propagandas, por exemplo. É o caso da famosa mensagem “compre Baton” e “peça
Baton”, utilizadas em peças publicitárias da década de 1990. Buscava-se atingir as
crianças para que pedissem o chocolate da Garoto para os pais.

http://edasuaepoca.blogspot.com/2012/03/1990-propaganda-baton.html

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Para a teoria da agulha hipodérmica, esses tipos de mensagens veiculadas fariam


com que os indivíduos agissem da forma como foi planejado. Contudo, ainda nas
décadas de 1940 e 1950, diversas pesquisas apontaram que a influência dos meios
não acontecia de modo tão direto e sem reações de resistência. Para esses teóricos,
a própria propaganda nazista era eficaz não apenas por suas técnicas de persuasão,
mas também porque aproveitava as condições sociais e políticas da época, incluindo o
desemprego em massa, a crise econômica e a insatisfação pública com a democracia.
Como afirma Araújo (2001, p. 126), a teoria hipodérmica via os indivíduos como “seres
indiferenciados e totalmente passivos, expostos ao estímulo dos meios. O máximo
que os primeiros estudos distinguiram, em termos de diferenciações entre o público,
foi dividi-lo de acordo com grandes categorias”. Entre estas, estaria a idade, o sexto
e a classe socioeconômica.
Tratar a influência dos meios desse modo anula diversas variáveis que impactam nas
reações dos indivíduos, as quais incluem aspectos tanto psicológicos quanto sociais. A
partir do momento em que os pesquisadores passam a considerar tais novos elementos,
entra-se em uma etapa chamada de “efeitos limitados”, como veremos adiante.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

Publicidade Baton: https://www.youtube.com/watch?v=fzKKpUwJ2Fw

ISTO ESTÁ NA REDE

OS CORRESPONDENTES DE GUERRA E A COBERTURA JORNALÍSTICA DA


SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Resumo: O texto aborda o papel desempenhado pela imprensa na Segunda Guerra
Mundial, especialmente sobre as condições de trabalho e sobre os interesses,
político-militares e ideológicos, diretamente vinculados ao esforço de guerra, e
que de alguma forma influenciaram no teor das informações transmitidas pelos
correspondentes. A proposta global é a de ressaltar a importância da imprensa
como arma ideológica neste evento, construindo a imagem do inimigo com vistas
a angariar a adesão da opinião pública em torno de uma campanha de apoio ao
esforço de guerra.
https://periodicos.ufsm.br/index.php/sociaisehumanas/article/view/6022

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8.2 Teoria da persuasão ou empírico-experimental


Como vimos, a teoria da agulha hipodérmica, também conhecida como teoria da
bala mágica, sugere que as mensagens transmitidas pelos meios de comunicação
de massa têm um efeito imediato e direto sobre o público, como uma “injeção” que
atinge a mente das pessoas de forma instantânea e sem mediação. Sua perspectiva
de análise trata os meios de comunicação como onipotentes, enquanto seu público
fica em uma posição passiva de estímulo-resposta.
Já a teoria da persuasão ou empírico-experimental, por outro lado, tem uma
abordagem que busca entender como as mensagens são recebidas e interpretadas
pelas pessoas. Os pesquisadores que a propuseram utilizaram experimentos controlados
para observar e mensurar os efeitos das mensagens.
Carl Hovland foi um dos principais pesquisadores que contribuiu significativamente
para o desenvolvimento dessa teoria. O psicólogo social americano e seus colaboradores
desenvolveram uma abordagem empírica-experimental para estudar a persuasão, com
foco em mensurar e quantificar os efeitos das mensagens persuasivas (CONCEIÇÃO,
2011).
Ele propôs que a persuasão é uma função de três fatores principais: a fonte da
mensagem, a mensagem em si e o público receptor. Em suas análises, aponta que o
processo de convencimento é mais eficaz quando a fonte da mensagem é confiável,
a mensagem é clara e apresenta argumentos convincentes e o público receptor é
receptivo e está motivado para mudar de opinião.

https://lnrj.files.wordpress.com/2011/05/carliverhovland.jpg

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Como um dos pioneiros em estudos experimentais sobre a persuasão, Hovland


desenvolveu modos de estudar a manipulação de diferentes elementos da mensagem e
medir os efeitos resultantes nas atitudes e comportamentos das pessoas. Ele relatava
que a persuasão é mais eficaz quando a mensagem é apresentada de forma atraente
e emocionalmente envolvente, e quando os argumentos apresentados são relevantes
e convincentes para o público-alvo.
Um exemplo de suas propostas aborda a ideia da “exposição seletiva”, cujo
desdobramento dizia que as pessoas tendem a buscar informações que confirmam suas
crenças e atitudes existentes, evitando ou ignorando aquelas que são inconsistentes
com suas opiniões. Em outras palavras, as pessoas têm a tendência de se expor
seletivamente às informações que reforçam suas opiniões e a evitar aquelas que as
desafiam.
Hovland e seus colegas realizaram uma série de estudos sobre a exposição seletiva
e afirmaram que ela ocorre em diversas situações, incluindo a leitura de notícias, a
seleção de programas de TV e a escolha de amigos. Eles também descreveram que
a exposição seletiva pode levar a um aumento da polarização de opiniões, uma vez
que as pessoas se cercam de informações que confirmam suas crenças, reforçando
ainda mais suas posições.

https://www.linkedin.com/pulse/os-5-mandamentos-para-uma-boa-comunica%C3%A7%C3%A3o-luciana-carpinelli/?originalSubdomain=pt

Outro viés importante nos estudos do autor refere-se à credibilidade da fonte, considerando
ela uma das variáveis mais importantes na determinação da eficácia da mensagem

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persuasiva. De acordo com Hovland, essa credibilidade também sofre influência de alguns
fatores, sendo os principais: competência e confiabilidade.
A competência diz respeito ao grau em que a fonte da mensagem é percebida como
tendo conhecimento ou experiência em relação ao assunto em questão. Já a confiabilidade
se refere ao grau de percepção de que a fonte da informação é honesta e confiável.
Uma série de estudos buscou investigar a importância da credibilidade e, segundo o autor,
descobriram que as mensagens persuasivas apresentadas por fontes altamente credíveis
eram mais eficazes na mudança de atitudes do público do que aquelas apresentadas por
fontes de baixa credibilidade. Além disso, eles também apontavam que a importância
da credibilidade da fonte era maior em situações em que a mensagem era ambígua ou
contraditória.
Outro argumento importante discutido por Hovland era a de que a repetição da mensagem
é uma das maneiras mais eficazes de aumentar a persuasão. Segundo ele, a familiaridade
da mensagem a torna mais fácil de lembrar. Além disso, ele argumentou que a repetição
pode ajudar a reduzir a resistência à mensagem, permitindo que ela seja processada com
mais facilidade e levando a uma mudança mais rápida de atitudes.
Em suas investigações a esse respeito, propôs que a repetição da mensagem aumentava
a persuasão, mas apenas até um certo ponto. Ele percebeu que, depois de mostra-la
insistentemente, o convencimento começava a diminuir, sugerindo que a fadiga da
mensagem pode ocorrer se houver exagero.
Também apontou uma outra variável nesse sentido: se a fonte da mensagem for
considerada altamente credível e confiável, a repetição pode levar a uma mudança mais
rápida de atitudes. No entanto, se a fonte for considerada de baixa credibilidade, a repetição
pode não ser eficaz ou até mesmo prejudicar a persuasão.

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view=search&track=ais

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Com isso, nota-se que essa perspectiva busca compreender o que há além do
processo de estímulo e resposta. Ou seja, dava-se conta de que “esse processo obedece
a uma lógica bem mais complexa do que descrito pelas leituras anteriores”. Desse
modo, “dois avanços podem ser aqui contabilizados: primeiramente, a ideia de instinto
(resposta instintiva) cede lugar à identificação de respostas distintas emitidas por
indivíduos dotados de personalidades diferentes”. E outro ponto é que “a ideia de um
estímulo é substituída por uma estrutura de causas; os efeitos são resultados da
intervenção de vários fatores atuantes” (FRANÇA, SIMÕES, 2016, p. 65).

ISTO ESTÁ NA REDE

As contribuições dessas teorias foram importantes para a evolução dos estudos


da comunicação. E podemos encontrar trabalhos que utilizam algumas das bases
conceituais. Exemplo disso é o artigo “O poder persuasivo de anúncios publicitários
do creme dental Colgate Total 12”, que você pode acessar no site: https://
periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/21801
Confira o resumo do trabalho: O presente artigo se propõe a uma análise do
anúncio “Dentistas” do “Colgate Total 12” para verificação da estrutura persuasiva
das suas mensagens. Para atingirmos este objetivo utilizamos as referencias dos
pressupostos teóricos apresentados por Carl Hovland (1912-1961) sobre a teoria da
mudança de atitudes com a mensagem persuasiva, que nos apresenta, entre outras
informações relevantes, o conceito sintetizado da persuasão AIDA (para que uma
mensagem tenha sucesso é necessário que ela desperte a atenção, o interesse,
o desejo pelo objeto anunciado, e a ação pretendida, que pode ser a de compra)
enunciado pela primeira vez por Elmo Lewis em 1898. Realizamos também neste
texto, uma revisão bibliográfica em livros, periódicos e portais na internet sobre as
teorias da comunicação publicitária, para a contextualização do assunto proposto.

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CAPÍTULO 9
MODELO DE LASSWELL
E TEORIA DOS EFEITOS
LIMITADOS

1.1 O modelo de Lasswell


Harold Lasswell foi um cientista político e pesquisador americano, considerado
uma das figuras mais influentes na história da comunicação e das ciências sociais.
Ele nasceu em Donnellson, Illinois, nos Estados Unidos, e estudou na Universidade de
Chicago, onde obteve seu doutorado em 1926.
Além disso, ele também apresentou inovações no pensamento e estudos em áreas
como psicologia política, propaganda, relações internacionais e política pública. Ao
longo de sua carreira, Lasswell publicou vários livros e artigos influentes, incluindo
“Politics: Who Gets What, When, How” (1936), “World Politics and Personal Insecurity”
(1935), e “The Analysis of Political Behavior” (1951).
Ele também foi um dos fundadores da Escola de Comunicação de Chicago, a respeito
da qual já abordamos anteriormente. Resumidamente, essa corrente de pensamento
na comunicação e nas ciências sociais enfatizava a importância do estudo empírico
da comunicação e da influência social.

http://photoarchive.lib.uchicago.edu/db.xqy?one=apf1-10329.xml

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O pesquisador é mais conhecido por suas contribuições para o campo da


comunicação, especialmente pelo desenvolvimento do modelo que leva seu nome.
Trata-se de uma das teorias da comunicação mais conhecidas e influentes. Proposta
em 1948, ela enfatiza a importância do conteúdo da mensagem, bem como do seu
efeito sobre o receptor.
De acordo com o modelo de Lasswell, a comunicação é um processo em que
uma fonte ou emissor envia uma mensagem por meio de um canal para um receptor
ou público-alvo. A mensagem pode ser composta por diferentes elementos, como
informações, ideias, emoções e valores. Basicamente, o modelo compõe-se das
respostas a estas questões:
• Quem: refere-se ao emissor ou fonte da mensagem, que pode ser uma pessoa,
grupo ou instituição.
• Diz o que: refere-se ao conteúdo da mensagem e às informações transmitidas.
• Por meio de que canal: refere-se aos canais ou meios pelos quais a mensagem
é transmitida, como a televisão, o rádio, a internet ou o jornal.
• Para quem: refere-se ao receptor ou público-alvo da mensagem, que pode ser
uma pessoa, grupo ou instituição.
• Com que efeito: refere-se ao impacto ou efeito da mensagem sobre o receptor,
incluindo possíveis mudanças em atitudes, comportamentos ou crenças.

Além disso, o modelo de Lasswell reconhece que o processo de comunicação é


influenciado por fatores sociais, culturais e políticos. Por exemplo, a mensagem pode
ser moldada por interesses políticos ou econômicos, e o receptor pode ter diferentes
níveis de habilidade e conhecimento para processá-la.

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Para esse modelo, portanto, cinco elementos compõem a comunicação: o emissor


(quem envia a mensagem), a mensagem (o conteúdo que está sendo transmitido),
o canal (o meio pelo qual a mensagem é transmitida), o receptor (quem recebe a
mensagem) e o efeito (o impacto que a mensagem tem sobre o receptor).
Vemos também que se trata de uma perspectiva linear de comunicação. Ou seja, ele
considera que a comunicação segue uma linha reta do emissor para o receptor. Nesse
modelo, o emissor é o responsável pela criação da mensagem, que é transmitida através
do canal e recebida pelo receptor. Além disso, o foco da análise estaria, sobretudo, na
influência da mensagem sobre o comportamento do indivíduo que a consome. Desse
modo, o foco sobre a mensagem também fica evidente, uma vez que ele se preocupa
com o conteúdo da comunicação que está sendo transmitida.
Com isso, podemos afirmar que alguns elementos representativos do modelos de
Lasswell são o fato de que a comunicação é intencional e consciente, além de existirem
papeis bem delimitados para o emissor e o receptor, sem que haja reciprocidade.
O modelo de Lasswell é um dos representantes da compreensão de comunicação
caracterizada pela massa passiva de destinatários, que irá reagir quando “atingida”
pelos estímulos (WOLF, 2010, p.13). Ou, como afirmam Cambrón e Jané (2006, p. 41),
“essa teoria pressupõe que a iniciativa é sempre do comunicador e vê os membros
da audiência como receptores passivos das mensagens”.
Além disso, como destaca Rendón (2007, p. 14), ignora-se “os elementos externos
ao processo de comunicação de massas que exercem uma influência decisiva na
produção, distribuição e consumo das mensagens”. Entre eles estão o contexto social,
cultural e histórico em que a mensagem é criada e recebida.
Lasswell também não considerou a retroalimentação, ou seja, a comunicação não
é vista como um processo contínuo de feedback. Isso significa que o modelo não
leva em conta a possibilidade de o receptor responder à mensagem e influenciar a
comunicação de volta para o emissor. Assim, desconsidera que o consumidor também
tem papel importante no processo de comunicação, podendo dar seu parecer a respeito
da mensagem que recebeu.

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O modelo de Lasswell também enfatiza a persuasão como o principal objetivo da


comunicação, o que pode levar a uma visão limitada. A comunicação pode ter outros
objetivos, como informar, entreter, educar e inspirar, etc. Além disso, a cultura é outro
aspecto que pode influenciar a forma como a mensagem é criada e recebida, bem
como o impacto que ela tem sobre o receptor.

1.2 Efeitos limitados e o fluxo de comunicação em dois passos


A teoria dos efeitos limitados surgiu na década de 1940 como uma crítica à visão
de que a comunicação de massa tinha um efeito direto e poderoso sobre o público.
Em vez disso, essa teoria argumenta que os efeitos da comunicação são limitados
e influenciados por uma série de fatores. Estes incluem a seleção e interpretação
seletiva da informação pelo público, a influência social do ambiente em que as pessoas
vivem e a persuasão limitada da mídia. Essa teoria enfatiza que as pessoas não são
meros receptores passivos da informação da mídia, mas são ativamente envolvidas
no processo de interpretação e resposta à informação que recebem.

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jornal&position=25&from_view=search&track=ais

O clássico estudo “The People’s Choice” (1948), de Paul Lazarsfeld, Bernard Berelson
e Hazel Gaudet, todos da Universidade de Columbia, foi importante nessa linha de
raciocínio. Segundo Pedro Mundim (2007, p. 1), a pesquisa queria entender como
era “a formação, a mudança e o desenvolvimento da opinião pública durante uma
eleição presidencial. A hipótese era de que a mídia teria um importante papel nesse
processo. Tanto que o seu potencial para manipular a opinião pública era uma das
preocupações normativas dos pesquisadores”.
Contudo, como também destaca o autor, “os resultados da pesquisa apontaram
para um exagero das preocupações sobre os efeitos da mídia. Não era alto o número
de pessoas que tinha contato com as informações políticas produzidas durante as
eleições. Somente uma pequena parcela dos eleitores estava sujeito à mudança do voto:
os indecisos”. A influência das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação
acontecia “de maneira indireta e mediada, através do contato pessoal com indivíduos
mais expostos às informações políticas, os ‘líderes de opinião’.
Sobre esses personagens, falaremos a seguir. Antes, vejamos algumas das principais
ideias da teoria dos efeitos limitados incluem:

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• Seletividade: As pessoas tendem a selecionar e interpretar a informação de


acordo com suas próprias necessidades, interesses e valores. Isso significa que
nem todas as mensagens da mídia serão recebidas e interpretadas da mesma
forma pelo público.
• Influência social: As pessoas são influenciadas não apenas pela mídia, mas
também pelo ambiente social em que vivem. Isso inclui suas famílias, amigos,
colegas de trabalho e outras pessoas que desempenham um papel em suas
vidas.
• Persuasão limitada: A mídia pode influenciar as atitudes e opiniões das pessoas,
mas essa influência é limitada e depende de uma série de fatores, como a
credibilidade da fonte, a mensagem em si e a receptividade do público.
• Papel ativo do público: As pessoas não são meros receptores passivos da
informação da mídia, mas são ativamente envolvidas no processo de interpretação
e resposta à informação que recebem.
• Papel da personalidade: As características individuais, como a personalidade,
a educação e as experiências de vida, também influenciam a forma como as
pessoas recebem e interpretam a informação da mídia.

Uma das análises pioneiras nessa linha foi o “Estudo de Eleição de Erie County”,
desenvolvida pela equipe de pesquisadores da Universidade de Columbia liderada por
Paul F. Lazarsfeld. A pesquisa foi uma das primeiras a utilizar métodos empíricos para
analisar a influência dos meios de comunicação na formação de opiniões políticas e
comportamentos eleitorais.
O estudo foi conduzido durante a eleição presidencial dos Estados Unidos em
1940, na qual o candidato democrata Franklin D. Roosevelt foi reeleito. A equipe de
Lazarsfeld selecionou aleatoriamente um grupo de eleitores do Condado de Erie, em
Ohio, para participar do estudo.

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of_Neutrality_still_624x352.jpg

Os pesquisadores entrevistaram os eleitores antes e depois da eleição para avaliar


suas opiniões políticas e comportamentos eleitorais. Além disso, eles acompanharam
a exposição dos eleitores à mídia, incluindo jornais, rádio e campanhas políticas.
Os resultados apontaram que a influência da mídia era limitada e que outros fatores,
como o ambiente social dos eleitores e sua exposição a campanhas políticas pessoais,
eram mais importantes na formação de opiniões políticas e comportamentos eleitorais.
Os pesquisadores também descobriram que a mídia não tinha um efeito uniforme em
todos os eleitores, mas que as pessoas tendiam a selecionar e interpretar a informação
de acordo com suas crenças e valores pré-existentes. O Estudo de Eleição de Erie
County foi um marco na pesquisa de opinião pública e influência da mídia, e seus
resultados foram amplamente discutidos e debatidos na época.
Assim, a teoria dos efeitos limitados ajudou a fornecer uma perspectiva mais
complexa da comunicação de massa e destacou a importância de considerar a
diversidade e complexidade do público. Contudo, algumas das ressalvas a serem
colocadas na abordagem empírica de campo ou de efeitos limitados referem-se à
falta de atenção aos efeitos a longo prazo da comunicação de massa e sua ênfase na
persuasão individual em detrimento da influência coletiva. Alguns críticos argumentam
que essa abordagem também subestima o poder da mídia de influenciar e moldar
valores culturais e normas sociais e que não leva em conta o papel das instituições
e estruturas sociais na formação das opiniões e comportamentos do público.

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A respeito dos líderes de opinião, vale a pena citar a ideia do fluxo de comunicação
em dois passos (teoria do two-step flow of communication), segundo a qual a mídia não
influencia diretamente o público, mas sim através de pessoas influentes. As mensagens,
portanto, são transmitidas inicialmente para um pequeno grupo de líderes de opinião,
que depois disseminam essas mensagens para um público mais amplo. Essa teoria
enfatiza a importância do papel dos intermediários no processo de comunicação e
influência.

https://www.freepik.com/free-photo/still-life-business-roles-with-various-pawns_24749581.htm

O Estudo de Eleição de Erie County também influenciou a teoria do two-step flow of


communication, uma vez que os pesquisadores descobriram que a maioria dos eleitores
não formava suas opiniões políticas diretamente a partir dos meios de comunicação,
mas sim através de conversas com amigos, familiares e colegas.
Essa teoria sugere que as pessoas tendem a confiar mais em informações recebidas
de pessoas que conhecem e em quem confiam do que na informação recebida da mídia.
Isso significa que a influência da mídia é indireta e mediada por esses intermediários
sociais.
Na pesquisa, identificou-se aqueles indivíduos com capacidade de exercer influência.
Estes possuíam características como a posição de competência no assunto em
questão, acessibilidade, amplo envolvimento social, acesso a informações externas
a seu círculo imediato e consideradas relevantes pelo grupo, exposição aos meios de

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comunicação de massa, e defesa das atitudes e crenças de seu grupo (LAZARSFELD,


1969).
Entre as críticas a esses estudos, aponta-se a limitação da amostragem. Ou seja, a
pesquisa realizada em um pequeno grupo poderia limitar a generalização dos resultados
para outras populações. Outro ponto seria a carência de evidências empíricas robustas
que possam sustentar sua validade e relevância em diferentes contextos. Além de
uma simplificação da complexidade das relações sociais, assumindo que as pessoas
buscam líderes de opinião para orientar suas decisões e comportamentos. Isso pode
ignorar a diversidade de motivações e influências sociais que as pessoas enfrentam
no mundo cotidiano.

ISTO ESTÁ NA REDE

O Estudo de Eleição de Erie County foi um marco na pesquisa de opinião pública e


influência da mídia. Ele está disponível em:
https://www.icpsr.umich.edu/web/ICPSR/studies/7204#

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CAPÍTULO 10
DESDOBRAMENTOS
NO JORNALISMO

1.1 Algumas teorias


Como destacam Vera França e Paula Simões (2016, p. 78), as pesquisas sobre os
efeitos realizadas nos Estados Unidos na primeira metade do século XX apresentaram
desdobramentos nas décadas subsequentes. Alguns dos “estudiosos formados pela
geração de Paul Lazarsfeld e seus colaboradores retomaram contribuições e propuseram
outras formas de refletir sobre a relação entre a mídia e a sociedade”. Incluem-se
nas propostas as hipóteses do agendamento, a teoria dos usos e gratificações e o
newsmaking.
Entre suas perspectivas, vemos que buscam compreender como as informações
são produzidas, selecionadas e consumidas pelos indivíduos. Vejamos algumas de
suas características.

1.2 Agenda-setting ou agendamento


A hipótese do agendamento (agenda-setting) é uma teoria da comunicação que
se concentra no poder da mídia em determinar quais assuntos são considerados
importantes pela opinião pública. De acordo com essa hipótese, os meios de
comunicação de massa desempenham um papel fundamental na formação da agenda
pública ao decidirem quais eventos, questões e histórias merecem destaque e quais
não ficarão em tanta exposição.
Inicialmente, a proposta veio dos pesquisadores Maxwell McCombs e Donald
Shaw em um estudo realizado em 1968 sobre a cobertura da campanha presidencial
americana daquele ano. Os resultados mostraram que os assuntos considerados
importantes pelos eleitores eram, em grande parte, aqueles que haviam sido destacados
pela mídia. A partir daí, a hipótese do agendamento passou a ser amplamente discutida
e estudada em diversas áreas da comunicação e das ciências sociais.
Entretanto, alguns autores destacam que essa hipótese já era discutida anteriormente,
mas sem que alguém a nominasse:

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A ideia central do agenda setting já havia sido apontada por muitos


quando McCombs & Shaw a apresentaram com esse nome em 1972.
Em 1922, Walter Lippmann, em Public opinion, já destacava o papel
da imprensa no enquadramento da atenção dos leitores em direção
a temas por ela impostos como “de maior interesse coletivo”. Esse
livro de Lippmann, ainda extremamente atual, é, segundo o próprio
McCombs, a principal origem doutrinária de sua hipótese, apresentada
meio século depois (Barros Filho, 2008, p. 174).

Assim, como destacam França e Simões (2016, p. 78), ao propor essa função de
agenda dos meios de comunicação, a agenda-setting muda o olhar sobre a natureza
dos efeitos acarretados na sociedade. Eles passam a ser vistos como “consequências a
longo prazo, cumulativas e que afetam a construção do entorno cognitivo dos sujeitos.
Ou seja, emerge a visão de que os meios participam da construção do estoque de
conhecimentos do mundo e atuam, portanto, na própria construção da realidade sócia”.

https://www.elon.edu/u/news/2011/03/31/father-of-agenda-setting-theory-donald-shaw-leaves-impact-on-communications-students/

Diversos estudos foram realizados na tentativa de testar a hipótese. Entretanto,


relatam inúmeras dificuldades na comprovação científica. Entre elas, Barros Filho
(2008, p. 180) aponta “a envergadura da amostragem dos receptores em estudo”. O
autor afirma que ela “costuma variar entre 150 e 300 indivíduos, número que coloca
em dúvida sua representatividade para muitos universos sociais estudados”.
Por tal motivo, é importante destacar que aparece, em trabalhos de alguns autores,
a denominação “teoria do agendamento”. Entretanto, a ausência de uma comprovação

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e uma sistemática que relate essas influências apontadas leva essa proposta a ser
chamada, de modo mais frequente e preciso, de “hipótese do agendamento”.
Dessa forma, o agendamento agrega contribuições diversas nas reflexões a respeito
do modo como a mídia pauta temáticas e discussões na sociedade e, assim, partida da
construção da realidade. Mas a cautela necessária se refere ao fato de que é preciso
ter cuidado para não exagerar no poder dados aos meios de comunicação, como fez
a teoria da bala mágica no passado. Os elementos mais agregadores dessa hipótese
são as discussões sobre as escolhas dos temas e seus destaques dentro da mídia,
a importância disso para a realidade social e os efeitos de longo prazo que podem
advir dessas escolhas.

ISTO ESTÁ NA REDE

Uma entrevista com Maxwell McCombs, em 2008, abordou os impactos dessa


abordagem para os estudos em comunicação. Também questionou o pesquisador
a respeito das evoluções após 35 anos de sua proposta. Confira:
https://revistas.intercom.org.br/index.php/revistaintercom/article/download/176/169

1.3 Teoria dos usos e gratificações


A teoria dos usos e gratificações parte do pressuposto de que os indivíduos são
ativos no processo de escolha e consumo das informações e que utilizam os meios
de comunicação para satisfazer suas necessidades e desejos. Desse modo, há uma
inversão ao que se propunha em outras pesquisas, uma vez que dá mais poder ao
receptor do que ao produtor.
Outro ponto importante é que “a ideia de efeito é aqui substituída pela de uso, na
medida em que essa perspectiva procura apreender os modos como os receptores
utilizam os produtos da mídia a fim de atender a suas necessidades” (FRANÇA E
SIMÕES, 2016, p. 79-80).
Essa perspectiva foi muito explorada pelo sociólogo Elihu Katz, formado na tradição
funcionalista norte-americana. Em um trabalho publicado em 1974, “Katz, Blumler e
Gurevitch retomam alguns dos textos clássicos desenvolvidos na tradição da Mass
Communication Research e destacam a importância de buscar compreender as
necessidades dos indivíduos e como elas são canalizadas para um uso específico

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dos meios” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 80). Isso significa encontrar “uma vinculação
entre as necessidades do público e o uso dos meios de comunicação de massa”.

https://fch.lisboa.ucp.pt/pt-pt/noticias/memoriam-elihu-katz-1926-2021-63281

Nesse texto citado, os autores trazem dois eixos principais para investigar os
usos e gratificações pela mídia. O primeiro deles é “apreender as necessidades e os
interesses dos indivíduos, a partir de uma classificação e uma hierarquização dos
mesmos, de modo a identificar os conteúdos midiáticos que possam satisfazê-los”.
Já o segundo “analisa o conteúdo dos programas específicos, a fim de inferir as
possíveis necessidades que pretendem satisfazer” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 80).
Algumas das necessidades identificadas pelas pesquisas estão:
• Entretenimento: busca por diversão e como um escape às tensões do cotidiano;
• Relacionamento pessoal ou integração: uma procura de companhia ou de
insumos que possam garantir a conversação e a discussão sociais, ou seja,
as pessoas utilizam os meios de comunicação para expressar suas opiniões,
sentimentos e pensamentos
• Identificação: busca por reconhecimento de situações e personagens que possam
afirmar e/ou desconstruir questões ligadas à própria vida;
• Conhecimento ou vigilância: procura de informações e novidades que possam
enriquecer a experiência vivida pelos sujeitos e e obtenção de conhecimento
sobre o mundo ao seu redor.

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Essa abordagem também destaca que as pessoas podem usar os meios de


comunicação de maneiras diferentes em diferentes momentos e situações, e que
eles podem satisfazer diferentes necessidades para diferentes pessoas. Por exemplo,
uma pessoa pode assistir a um filme para se divertir, enquanto outra pessoa pode
assistir ao mesmo filme para obter informações ou para expressar sua opinião sobre
o assunto.

https://www.freepik.com/free-photo/happy-young-woman-sitting-sofa-home-watch-

Desse modo, também vemos que os receptores são vistos como indivíduos ativos e
racionais. Eles identificam suas próprias necessidades e realizam suas escolhas frente
ao leque de possibilidades oferecido pela mídia. Esse olhar sobre o modo como os
sujeitos agem na sua relação com os veículos de comunicação foi uma contribuição
essencial dessa teoria.
Contudo, também vale observar que muitos teóricos apontam as dificuldades de
sistematizar e categorizar de modo preciso as necessidades humanas e os níveis de
satisfação. Outro ponto é que, muitas vezes, tais usos da mídia por advir de aspectos que
se encontram inconscientes no sujeito. Esse fator pode levar a resultados imprecisos
se a pesquisa não tiver o aprofundamento necessário. Tomar os indivíduos de modo
isolado e autônomo também pode ser um risco se minimizar o poder da mídia na
determinação daquilo que vai ser veiculado e oferecido aos sujeitos.

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1.3 Newsmaking
A teoria do newsmaking (produção de notícias, em tradução livre) é uma abordagem
da comunicação que se concentra na maneira como as notícias são produzidas pelos
jornalistas e pela mídia em geral. Ela sugere que a produção de notícias não é um
processo neutro, mas sim influenciado por fatores como valores jornalísticos, pressões
comerciais, interesses políticos e ideológicos, entre outros.
A teoria parte do pressuposto de que os jornalistas selecionam, organizam e
apresentam as informações de acordo com suas próprias crenças e valores, bem
como de acordo com as normas e práticas profissionais da indústria jornalística. Desse
modo, as notícias não são uma simples representação da realidade, mas sim uma
construção social que reflete as prioridades e perspectivas dos jornalistas e da mídia.
O conceito de gatekeeper (ou “guardião do portão”) desenvolvido por Kurt Lewin,
em texto sobre as dinâmicas dos grupos sociais, publicado em 1947, “é retomado em
diferentes estudos que procuram perceber o que (ou quem) funciona como cancela ou
porteiro em um fluxo de notícias”. Ou seja, refere-se ao papel dos jornalistas na seleção
e no controle do fluxo de informações que chegam ao público por meio das notícias.
De acordo com esse conceito, os jornalistas atuam como gatekeepers, decidindo
quais informações serão divulgadas e em que formato, e quais serão descartadas
ou deixadas de lado.

https://www.freepik.com/free-photo/young-business-man-talking-phone-working-computer_11601442.htm#query=telefone%20escritorio&position=3&from_
view=search&track=ais

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Mauro Wolf (2003, p. 185) apresenta a pesquisa de David Manning White, que
conduziu um estudo de caso sobre um jornalista, com 25 anos de experiência,
cujo papel é selecionar notícias de agências que serão publicadas no jornal. Ele
permitiu “compreender como ocorre o processo de seleção, tanto quantitativa como
qualitativamente”.
Os gatekeepers, assim, podem ser influenciados por diversos fatores, como sua visão
de mundo, sua formação profissional, os valores jornalísticos, as pressões comerciais,
as preferências dos leitores e as demandas dos editores e proprietários dos meios de
comunicação. Esses fatores podem levar os jornalistas a selecionar certas notícias
em detrimento de outras, a dar mais destaque a algumas histórias do que a outras,
ou a interpretar os eventos de maneira particular.

https://www.freepik.com/free-photo/top-view-women-doing-radio-together_11797742.htm#from_view=detail_serie

A importância do conceito de gatekeeper é o levantamento dessa possibilidade


de influência dos jornalistas e da mídia na formação da opinião pública e na agenda
política. As decisões dos gatekeepers sobre o que é notícia e como as informações
são apresentadas podem ter um grande impacto na maneira como o público percebe
o mundo ao seu redor. Segundo Traquina (2003, p. 54), a aplicação desse conceito
criou uma das tradições mais persistentes e prolíferas na pesquisa sobre as notícias.

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Na teoria de White, o processo de produção das notícias é concebido


como uma série de escolhas, onde um fluxo de notícias tem de passar
por diversos “portões” (os famosos gates), que são momentos de
decisão em relação aos quais o gatekeeper (o jornalista) tem de
decidir se vai escolher ou não essa notícia, deixá-la passar ou não.
O conceito de gatekeeper seria altamente influente numa fase do
estudo do jornalismo que cobre as décadas de 50 e 60 [...] e continua
nos anos 90 a alimentar todo um filão de investigação, embora sem a
hegemonia que conseguiu em tempos passados (TRAQUINA, 2003,
p. 54).

Outro ponto que vale destaque na teoria do newsmaking é que as notícias são vistas
como uma construção da realidade, mas não como distorção ou manipulação (WOLF,
2003), formas de observação que orientaram muitas das pesquisas anteriormente.
Além disso, levantou possibilidades de análises sobre a atuação dos jornalistas.
Um aspecto, por exemplo, é observar como os jornalistas atuam como intermediários
entre os eventos e o público, interpretando as informações e fornecendo contexto
e análise crítica. Eles também podem servir como mediadores entre as fontes de
informação e o público, selecionando e filtrando as informações de acordo com suas
próprias crenças e valores.
Eles também fazem escolhas como o enquadramento das notícias. Ou seja,
organizam as informações em torno de um foco, que é uma perspectiva ou ponto de
vista específico que guia a cobertura da notícia. O enquadramento pode ser influenciado
por fatores como os valores jornalísticos, as pressões comerciais, os interesses políticos
e ideológicos, entre outros.

https://www.freepik.com/free-photo/woman-s-hands-with-magazine_933063.htm#query=reda%C3%A7%C3%A3o%20jornal&position=24&from_
view=search&track=ais

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Tais características do newsmaking destacam a complexidade da produção de


notícias e a influência dos jornalistas e da mídia na formação da opinião pública. Elas
também sugerem que o processo de produção de notícias é influenciado por uma
série de fatores e atores.
Ao conhecer essa teoria, uma das dimensões importantes para a reflexão dos
profissionais que fazem parte da mídia é pensar criticamente nessas escolhas. A busca
por ter mais conhecimento sobre os fatores que influenciam o modo como o profissional
irá selecionar e organizar as informações torna-se cada vez mais fundamental em um
mundo conectado e com uma gama enorme de compartilhamento de informações.

ISTO ACONTECE NA PRÁTICA

O estudo dessa teoria da comunicação ainda é mote de muitas pesquisas atuais. O


trabalho de Enio Moraes Junior, por exemplo, busca compreender as novas relações
das produções jornalísticas dentro do cenário do mundo conectado. Ele aborda as
rotinas dentro das redações, bem como o relacionamento entre os profissionais e
a audiência, já que essa troca é muito mais facilitada atualmente. Confira o artigo
“Jornalismo e newsmaking no século XXI: novas formas de produção jornalística no
cenário online”: https://www.revistas.usp.br/alterjor/article/view/121436

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CAPÍTULO 11
ESCOLA DE FRANKFURT

1.1 Os passos iniciais


O Institut für Sozialforschung (Instituto para Pesquisa Social), fundado na Alemanha
em 1923, foi o lar da Escola de Frankfurt. O local foi criado como resultado de uma
“iniciativa do filho de um rico comerciante de grãos, Felix Weil, que adquiriu os meios
para assegurar que o Instituto pudesse desenvolver-se com pressões e restrições
externas mínimas”. De fato, “embora formalmente ligado à Universidade de Frankfurt,
seus fundos privados lhe deram uma considerável autonomia” (HELD, 2017).
Em 1930, o filósofo e sociólogo Max Horkheimer assumiu a direção e, a partir daí,
diversos pesquisadores se uniram aos estudos do Instituto. Muitos deles que mais tarde
se tornaram famosos como membros da Escola de Frankfurt (HELD, 2017). A cultura
que Horkheimer implementou durante sua gestão buscava mudar direcionamentos da
análise filosófica que focava do indivíduo, mas sem inseri-lo dentro de sua base social.
Para ele, esse tipo de estudo tornava os pensamentos exageradamente abstratos,
uma vez que a análise não considerava o contexto em que o sujeito estava inserido.

https://www.fischerverlage.de/autor/max-horkheimer-1002297

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Nessa linha, também devemos contextualizar o crescimento da instituição. O


diversificado grupo de intelectuais que se uniu ao Instituto reunia, como destacam
França e Simões (2016, p. 111), “judeus e marxistas”, os quais tiveram “a experiência
da permanente marginalidade e perseguição. Em segundo lugar, naquele contexto, a
Alemanha sofria os custos materiais e morais da derrota na Primeira Guerra”. Ou seja,
a presença de grupos marginalizados socialmente foi um dos fatores primordiais para
a essência da Teoria Crítica, principal herança deixada pela Escola de Frankfurt, como
veremos ao longo do capítulo.
No início de sua trajetória como diretor, Horkheimer (1974, p. 40) já defendia “uma
penetração dialética e desenvolvimento da teoria filosófica e da práxis das disciplinas
científicas individuais”. Ou seja, a ideia era sair da análise filosófica mais abstrata e
observar a funcionalidade dentro do sistema onde está inserida, o que significava,
por exemplo, considerar aspectos da constituição do indivíduo, mas dentro de uma
sociedade que engloba questões como política, economia e cultura.
Essa linha de raciocínio, consequentemente, também configura o tom interdisciplinar
para as pesquisas. Como destaca Held (2017), Horkheimer “sustentou que era
necessário reintegrar disciplinas porque a divisão do trabalho nas ciências humanas
e sociais estava tão avançada e seus resultados tão fragmentados”. Para ele, haveria “a
necessidade de um programa de estudo interdisciplinar no qual ‘filósofos, sociólogos,
economistas, historiadores e psicólogos devem unir-se numa parceria de trabalho
duradoura’” e, desse modo, “fazer o que todos os pesquisadores genuínos sempre
fizeram: perseguir as grandes questões filosóficas com os métodos mais refinados”.
Mas, afinal, o que ficou conhecido como Escola de Frankfurt são as pesquisas
desenvolvidas no Instituto para Pesquisa Social? Trata-se, na verdade, do entrelaçamento
de três dimensões: “uma realidade institucional (um Instituto de Pesquisa criado junto à
Universidade de Frankfurt na década de 1920, e que atravessa nas décadas seguintes
uma existência itinerante); um grupo de intelectuais (Theodor Adorno, Max Horkheimer,
Herbert Marcuse, entre outros); uma perspectiva filosófica, reconhecida como Teoria
Crítica” (FRANÇA e SIMÕES, 2016, p. 111).

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https://www.blogletras.com/2019/05/engagement-de-theodor-w-adorno.html

O primeiro ponto destacado pela autora é a reunião de pensadores que deram os


pioneiros passos da Escola de Frankfurt. A questão da “existência itinerante” se deve
ao fato de que, durante a Segunda Guerra Mundial, muitos membros da Escola de
Frankfurt, que eram judeus e socialistas, foram perseguidos pelo regime nazista e
tiveram que fugir da Alemanha.
Alguns dos principais pensadores, como Max Horkheimer e Theodor Adorno, estavam
em exílio nos Estados Unidos durante a guerra. Durante esse tempo, eles produziram
trabalhos importantes, como “A Dialética do Esclarecimento” e “Minima Moralia”, que
exploram a relação entre a cultura e o poder. Após a guerra, alguns dos membros
da Escola de Frankfurt retornaram à Alemanha e refundaram o Instituto de Pesquisa
Social de Frankfurt.
O segundo ponto – o grupo de intelectuais – refere-se aos pensadores que
contribuíram para o desenvolvimento do pensamento. Entre eles, o próprio Horkheimer,
Adorno, Marcuse e Benjamin. Eles colaboraram para a elaboração da perspectiva de
pensamento (terceiro ponto) da chamada teoria crítica, a qual examina as estruturas

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sociais e políticas para entender como elas perpetuam a desigualdade e a injustiça. Esta
foi a principal contribuição da Escola de Frankfurt. Ao longo deste capítulo, veremos
como isso funcionou e as heranças deixadas por esse grupo de pensadores.

1.2 As duas gerações da Escola de Frankfurt


A proposta de Horkheimer, como diretor do Instituto para Pesquisa Social, era unir teóricos
que observassem as relações sociais de modo interdisciplinar. Com isso, o movimento
intelectual foi formado por um grupo de filósofos, sociólogos, teóricos políticos, críticos
culturais e outros, que tinham como objetivo realizar uma análise crítica da sociedade
moderna e de seus problemas, a fim de contribuir para sua transformação.
Por essa natureza interdisciplinar, a comunicação não foi o único foco da Escola
de Frankfurt, mas foi uma das áreas que receberam muita atenção por parte dos
pesquisadores. De modo geral, eles acreditavam que a sociedade moderna era
caracterizada por problemas profundos, como a dominação das elites, a alienação do
trabalho, a opressão das minorias, a exploração econômica e a manipulação cultural.
Eles argumentavam que esses problemas estavam enraizados nas estruturas sociais
e culturais da sociedade moderna, e que precisavam ser abordados em conjunto, a
fim de criar uma sociedade mais justa e democrática. Dentro das pesquisas desse
grupo, os meios de comunicação também entravam nesse contexto de dominação
das elites e exclusão dos grupos já marginalizados.
Vale destacar que há uma “primeira geração da Escola” – com pesquisadores como
Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Erich Fromm – que atuam na Alemanha até
1933. Nesse momento, Hitler é nomeado chanceler e, devido a perseguições a judeus
e pensadores que trabalhavam com uma linha esquerdista, o Instituto é fechado. Os
membros da Escola de Frankfurt, então, iniciam uma longa diáspora.

Adorno e Horkheimer https://comunidadeculturaearte.com/a-escola-de-frankfurt-e-a-teoria-critica/

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O instituto teve representantes em filiais abertas em Genebra, Paris e Londres, “mas


os membros logo se deram conta de que a Europa como um todo não lhes oferecia
segurança. Assim, Horkheimer viaja aos Estados Unidos em 1934, para averiguar a
possibilidade de se instalarem em Nova York”, como destacam França e Simões (2016,
p. 114). Acolhidos pela Universidade de Columbia, em 1938, “praticamente todos os
membros do Instituto foram para os EUA”, pontuam as autoras.
Houve avanços nas pesquisas, mas, ao mesmo tempo, o contexto histórico e
econômico influenciaram em diversas dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores
no período em que permaneceram nos EUA. Após o fim da guerra, já na década de
1950, o Instituto retorna a Frankfurt e novos membros também passam a compor a
“segunda geração”. O novo diretor do instituto, então, foi Theodor Adorno.

ANOTE ISSO

Como vimos, a Escola de Frankfurt teve duas gerações de pensadores que


desenvolveram suas ideias em momentos históricos e contextos diferentes. Aqui
está uma breve descrição de cada uma delas:
• Primeira geração: formada por intelectuais que atuaram principalmente nas
décadas de 1920 e 1930, em um contexto de crise econômica, ascensão do
nazismo e ameaça à democracia liberal. Entre seus principais representantes
estavam Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walter Benjamin e Herbert Marcuse.
Eles desenvolveram uma teoria crítica da sociedade, enfatizando a importância
da cultura, da comunicação de massa e da psicologia social na compreensão
das formas de dominação e alienação na sociedade moderna.
• Segunda geração: formada por pensadores que atuaram principalmente nas
décadas de 1950 e 1960, em um contexto de reconstrução da Europa pós-
guerra, da Guerra Fria e da emergência dos movimentos sociais. Além dos já
citados, entre seus principais representantes estavam Jürgen Habermas, Axel
Honneth e Claus Offe. Eles deram continuidade à teoria crítica da sociedade,
incorporando novas questões como a esfera pública, a democracia deliberativa
e a teoria da justiça. Além disso, procuraram atualizar as críticas à sociedade
contemporânea, diante dos novos desafios políticos e culturais da época.

1.3 A Teoria Crítica


Os pesquisadores da Escola de Frankfurt desenvolveram perspectivas próprias de
estudo. Em certos pontos, havia até mesmo pressupostos conflitantes no pensamento

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de diferentes autores. Contudo, a Teoria Crítica apresenta um eixo comum: a “expressão


da crise teórica e política do século XX” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 118), a qual
reflete em três críticas marcantes dessa linha de pensamento.
(1) A Escola de Frankfurt critica o racionalismo e o positivismo porque acredita que
essas abordagens reduzem as questões humanas a meras relações técnicas e
ignoram as complexidades e contradições da vida social. Em vez disso, a escola
argumenta que a razão deve ser entendida como um processo crítico, capaz de
analisar e questionar as estruturas de poder e opressão presentes na sociedade.
(2) Ela também critica a dominação da sociedade tecnológica. Neste ponto,
influenciada pelo fato de que o Iluminismo prometia “aos indivíduos a autonomia
da razão”, mas, ao invés disso, “promoveu a submissão a uma razão instrumental”.
Assim, “no lugar da emancipação, a realização do projeto iluminista subjugou
os seres humanos a um tipo de razão que se confunde com progresso; a um
projeto de dominação crescente da natureza e dos próprios sujeitos” (FRANÇA
E SIMÕES, 2016, p. 119). Dessa forma, o desenvolvimento tecnológico não é
algo neutro. A tecnologia é frequentemente usada para perpetuar a opressão e
a exploração, uma vez que é controlada por elites poderosas que usam a ciência
e a tecnologia para manter sua posição de poder.
(3) Critica a deterioração da cultura, argumentando que ela era cada vez mais
comercializada e transformada em um produto de consumo. Esse fato negaria
sua natureza transcendente e seu papel de conscientização e humanização dos
indivíduos. Assim, os pesquisadores acreditam que a cultura é uma parte essencial
da vida humana e que ela deve ser preservada e protegida da comercialização
e da mercantilização. Além disso, “o desenvolvimento e a ação dos meios de
comunicação bloquearam definitivamente o potencial libertador da cultura e
transformaram-na em instrumento de domesticação” (FRANÇA E SIMÕES, 2016,
p. 119).

Fica bastante evidente, na Teoria Crítica, uma perspectiva que busca promover a
crítica aos rumos tomados pela racionalidade iluminista. Esta, prometeria a libertação
da razão, mas promoveria uma coerção por trás desse discurso.
Adorno e Horkheimer (1985, p. 24) afirmam que “o esclarecimento comporta-se
com as coisas como o ditador se comporta com os homens. Este conhece-os na
medida em que pode manipulá-los”. Na citação, eles comparam o esclarecimento -

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entendido como o processo de avanço da razão e da ciência - ao comportamento


do ditador em relação aos homens. Assim como o ditador conhece os homens para
poder manipulá-los, o esclarecimento conhece as coisas para poder controlá-las e
explorá-las. Os pensadores argumentam que a razão se tornou um instrumento de
dominação, uma vez que é usada para manipular as ocorrências e as pessoas em
nome do progresso técnico e econômico. Assim, apontam que o projeto do Iluminismo
de usar a razão para libertar a humanidade do obscurantismo e da opressão acabou
sendo pervertido pelo capitalismo, pela tecnologia e pelo Estado, que usam a razão
como uma ferramenta de dominação e controle.
Como bases conceituais que contribuíram para as características da Teoria Crítica
estão os pensamentos de Hegel, Marx, Freud, além de elementos da visão pessimista
de Nietzsche e Schopenhauer.
Algumas das principais contribuições desses pensadores para a teoria crítica foram:
• Hegel: A filosofia de Hegel foi importante para a Escola de Frankfurt porque ofereceu
uma crítica da razão abstrata e da abordagem cartesiana do conhecimento. Em
particular, os frankfurtianos estavam interessados na ideia de Hegel de que a
história é um processo dialético em que as contradições e conflitos levam a
mudanças e transformações sociais. Eles também foram influenciados pelo
conceito hegeliano de alienação, que descreve a perda do contato humano com
o mundo em que vivemos.
• Marx: O pensamento de Marx foi fundamental para a Escola de Frankfurt, uma
vez que a teoria crítica é frequentemente vista como uma versão desenvolvida
da teoria marxista da sociedade. Os frankfurtianos estavam interessados na
análise marxista das relações de classe e do capitalismo, mas foram críticos
da interpretação economicista da teoria de Marx, que enfatiza a primazia da
produção material na determinação da história. Em vez disso, eles buscaram
expandir a análise marxista para incluir outros fatores importantes, como a
cultura e a psicologia.
• Freud: A teoria psicanalítica de Freud foi influente para a Escola de Frankfurt
porque ofereceu uma crítica da ideia de que os seres humanos são seres racionais
e autônomos. Em vez disso, Freud argumentou que nossos comportamentos
e emoções são frequentemente moldados por fatores inconscientes e sociais.
Os frankfurtianos estavam interessados na análise freudiana da cultura e da
subjetividade, bem como em seu conceito de repressão.

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Já Nietzsche influenciou por meio de pensamentos como a “vontade de poder”,


que descreve a força que impulsiona a vida e a natureza humana. Os estudiosos de
Frankfurt também compartilharam a preocupação de Nietzsche com a erosão da
cultura e da arte em uma sociedade dominada pela tecnologia, pela racionalidade e
mercantilização.
Enquanto isso, a filosofia de Schopenhauer influenciou a teoria crítica da Escola
de Frankfurt através de seu conceito de vontade e representação. Schopenhauer
argumentou que a vontade é a força que impulsiona a vida, enquanto a representação é
a maneira como os seres humanos percebem o mundo ao seu redor. Os frankfurtianos
observavam a análise schopenhaueriana da natureza humana e sua crítica ao idealismo
e à ilusão da razão. Eles também compartilharam a preocupação de Schopenhauer
com a condição humana e a busca por uma vida autêntica.

https://redahelp.com.br/repertorio/arthur-schopenhauer/

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Evidentemente, existem particularidades na visão de cada autor, incluindo na forma


como enxergam esses conceitos acima citados. Haviam concordâncias, discordâncias,
acréscimos, enfim, modos de pensamento que se influenciaram por elas, mas não,
necessariamente, seguiam exatamente os mesmos trilhos. A importância de conhecer
esses fundamentos refere-se ao conhecimento dos alicerces teóricos da escola de
pensamento em questão.
A seguir, observaremos um conceito fundamental presente nas reflexões da Teoria
Crítica: a indústria cultural. Certamente, esta é uma contribuição significativa da Escola
de Frankfurt para os estudos na área da comunicação.

1.4 A indústria cultural e os meios de comunicação


Dentro da perspectiva da crítica da cultura e do anti-iluminismo, o conceito de
“indústria cultural” foi apresentado por Adorno e Horkheimer no famoso livro “A dialética
do esclarecimento” (1947). O conceito trata-se “de uma aplicação direta do conceito
marxista de fetiche da mercadoria aos produtos culturais: convertida em mercadoria,
coisificada em produtos agora regidos por seu valor de troca, a cultura se converte em
apenas mais um ramo de produção do capitalismo avançado” (FRANÇA E SIMÕES,
2016, p. 121).
A obra citada apresenta uma análise da cultura e da sociedade que destaca as
consequências negativas da busca pelo esclarecimento e da produção em massa de
cultura. Além disso, a obra inspirou movimentos sociais e políticos que lutam contra
a dominação e a opressão na cultura e na sociedade em geral.
Os autores argumentam que a busca pelo esclarecimento, que é uma característica
fundamental da cultura ocidental, levou à dominação da natureza e à exploração do
homem pelo homem. O esclarecimento é apresentado como uma força que busca a
razão e a liberdade, mas que, ao mesmo tempo, contribui para a opressão e a dominação.
Essa busca, na verdade, levou a uma obsessão pela eficiência e pelo controle, que foi
fundamental para o desenvolvimento da sociedade capitalista e industrial.
É nessa linha que Adorno e Horkheimer apontam que a cultura moderna é
caracterizada pela “indústria cultural”, a qual seria uma forma de produção em massa
de cultura que busca criar um padrão de consumo uniforme para a sociedade. Eles
argumentam que a indústria cultural é um produto do esclarecimento e contribui para
a padronização da cultura e a alienação das pessoas de si mesmas e de sua cultura.

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Um aspecto importante para se destacar a esse respeito é que, segundo Adorno e


Horkheimer, a sociedade capitalista promoveria uma atomização dos indivíduos. Por
esse motivo, como afirma Machado (2009, p. 87), “a produção de cultura na sociedade
capitalista obedeceria aos mesmos princípios da produção econômica em geral, isto
é, aqueles associados à lógica comercial, portanto, ao lucro”.
Essa ideia, inclusive, leva os autores a recusarem o termo “cultura de massa”, que
sugeriria uma cultura espontânea advinda das massas, “e formulam o conceito analítico
de indústria cultural: esse mecanismo criado pela sociedade capitalista que fabrica
produtos adaptados ao consumo das ‘massas’ que, geralmente, resulta na determinação
desse consumo”. Dentro dessa perspectiva, tudo o que é produzido pela indústria
cultural é considerado integralmente “mercadoria”.
Ou seja, é a indústria que cria essa “cultura”, enquanto os indivíduos que compõem a
sociedade se restringem ao papel de consumidores. Estes não confrontariam o sistema
criado pela indústria cultural. Adorno (1987, p. 293) afirma que “através da ideologia
da indústria cultural, o conformismo substitui a consciência: jamais a ordem por ela
transmitida é confrontada com o que ela pretende ser ou com os reais interesses
dos homens”.
Outro pesquisador que fez grandes críticas à indústria cultural foi Walter Benjamin.
Uma de suas ideias centrais está na noção da reprodutibilidade técnica. Segundo
ele, a tecnologia de reprodução, como a fotografia, o cinema e a imprensa, tornou
possível a disseminação em massa de obras de arte e informações, o que teve um
impacto significativo na cultura e na sociedade. Para Benjamin, a reprodutibilidade
técnica mudou a natureza da arte e da cultura, uma vez que a arte deixou de ser uma
experiência única e irrepetível e passou a ser reproduzida em série.
Outro conceito importante de Benjamin é o de aura, que se refere à autenticidade e
unicidade de uma obra de arte. Para ele, a reprodutibilidade técnica acarretou na perda da
aura das obras de arte, uma vez que elas deixaram de ser únicas e irrepetíveis. Isso teve
implicações tanto na forma como as obras de arte são valorizadas e comercializadas,
quanto na forma como as pessoas as experienciam.
Outros pensadores também elaboraram suas críticas à indústria cultural.
Basicamente, alguns dos principais pontos levantados nesse período foram:
• Produção em massa: A indústria cultural é caracterizada pela produção em
massa de produtos culturais, tais como filmes, programas de televisão, música,

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livros, etc. Esses produtos são produzidos em grande quantidade e padronizados


para atender a um grande público.
• Padronização e uniformidade: A indústria cultural busca produzir produtos
culturais padronizados e uniformes que possam ser consumidos pela maioria
das pessoas. Isso significa que esses produtos são produzidos para atender a
um gosto médio, sem muita variação ou inovação.
• Controle dos meios de produção: A indústria cultural é controlada por um pequeno
grupo de empresas que detêm o poder econômico e político para determinar o
que é produzido e como é distribuído.
• Objetivos comerciais: A indústria cultural é guiada por objetivos comerciais, ou
seja, a produção de produtos culturais é feita com o objetivo de gerar lucro.
• Conformismo: A indústria cultural pode levar ao conformismo, uma vez que
os produtos culturais produzidos em massa podem levar as pessoas a seguir
padrões culturais que são impostos pela indústria. Isso pode levar a uma falta
de diversidade cultural e à perda de identidades culturais únicas.
• Influência da cultura de massa: A cultura produzida pela indústria cultural tem
uma grande influência sobre a cultura popular e pode moldar a opinião pública
e a percepção da realidade.

1.5 Limites da Teoria Crítica e do conceito de indústria cultural


Ao longo do desenvolvimento das pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento
– como a comunicação, a sociologia, a filosofia, etc. –, algumas críticas foram levantadas
a respeito do pensamento dos frankfurtianos.
Um desses aspectos é uma visão elitista do que é cultura. A ideia de existir uma
arte superior a outra acaba por negligenciar e desvalorizar a cultura popular em favor
de formas mais eruditas e apontadas como superiores.
O apontamento de uma visão maniqueísta também passou a marcar as críticas
a essas concepções, uma vez que “os autores não apenas promovem uma divisão
muito nítida entre o bem o mal, mas também uma verdadeira demonização desse
mal (da indústria cultural)” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 130).
Ainda há uma supervalorização do pessimismo, uma vez que a Teoria Crítica tende
a ter essa postura em relação à cultura e à sociedade. Além disso, tratam os indivíduos
de modo negativo, como frágeis e sem resistência. Isso subestima a capacidade das

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pessoas de analisar o que consomem e agir de forma autônoma em relação às formas


de dominação cultural e social.
Uma ideia de concepção linear e simplificadora do processo de comunicação também
é criticada. Assim, “do ponto de vista da eficácia da indústria e da estrutura psicológica
dos indivíduos, essa teorização lembra - no que tange ao processo comunicativo - a
velha teoria da agulha hipodérmica)”, afirmam França e Simões (2016, p. 131).

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CAPÍTULO 12
A ESCOLA FRANCESA

1.1 Vertentes da teoria francesa


Nos capítulos iniciais, vimos que um dos pontos centrais a respeito das Teorias da
Comunicação é compreender que existem distintas formas de classificar os estudos
e, assim organizá-los. Há a possibilidade de sistematização por zonas geográficas, por
universidades, institutos ou centros de pesquisa, por correntes de pensamento, etc.
Todos os sistemas são possíveis de serem escolhidos. Mas o que se faz importante
mencionar é o fato de que cada organização agrupa certos elementos, mas isola outros.
Quando escolhemos uma taxionomia, vemos que existem inúmeras tendências que se
desdobram de cada uma delas.
Por exemplo, observamos as diversas abordagens presentes na Mass Communication
Research. Vimos certas semelhanças de estudo e também antagonismos existentes entre
as teorias da agulha hipodérmica e dos efeitos limitados. Ambas analisam os efeitos das
mensagens veiculadas. Entretanto, enquanto a primeira sugere que a mídia de massa tem
uma consequência direta e poderosa na opinião pública, a teoria dos efeitos limitados
argumenta que os efeitos da comunicação de massa são limitados e variam de acordo
com o contexto social, cultural e individual em que as mensagens são recebidas.
No capítulo atual, discutiremos a escola francesa das teorias da comunicação. Nela, as
divergências entre as diferentes abordagens ficam ainda mais nítidas. Alguns pensadores,
inclusive, colocam-se em polos opostos de análise.
A preocupação com temas como a cultura de massa, a indústria cultural, a mídia e a
comunicação colocam essas pesquisas em sintonia. Contudo, existe uma heterogeneidade
bastante evidente entre as linhas de estudo. Como afirma Juremir Machado da Silva (2001,
p. 172), “para cada grupo de estudiosos em sintonia, surgiu outro, em contraposição,
explorando a divergência, delimitando territórios conceituais, brigando por ideias, ideologias,
visões de mundo e utopias”. Mas ainda é possível afirmar que as divergências também
foram importantes para o desenvolvimento das pesquisas, uma vez que proporcionaram
grande profundidade nos debates.

1.2 Os estudos da estrutura da linguagem


A ênfase nos aspectos simbólicos da linguagem é um dos parâmetros que nortearam
certas pesquisas da escola francesa. Os teóricos, de modo geral, tratam a comunicação
não apenas como a transmissão de informações, mas também como a produção de

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sentidos e significados. Isso é alcançado através do uso de signos e símbolos, que são
influenciados pelas normas culturais e sociais.
Além disso, a escola francesa é uma abordagem multidisciplinar que combina ideias
da linguística, filosofia, antropologia, psicanálise e a comunicação. Assim, há estudos
com variados focos.
Um dos precursores dos estudos foi Ferdinand de Saussure, considerado o pai da
linguística moderna. Em sua corrente, buscou delimitar, em seu Curso de Linguística Geral,
o objeto de estudo da Linguística: a língua. A respeito desta, destaca-se sua circunscrição
em relação à linguagem:

[...] mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a
linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela,
indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias,
adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade
nos indivíduos. (...) A língua constitui algo adquirido e convencional”.
(SAUSSURE, 2000, p. 17)

Essa separação entre língua e linguagem é importante em seu trabalho por abrir caminho
para delimitar as relações dicotômicas por ele estabelecidas, a começar pela bifurcação
língua (langue) e fala (parole). A primeira precede a segunda, uma vez que a língua é uma
instituição social, enquanto a fala configura um ato individual. Esta representa o colocar
em prática a língua – o código socialmente compartilhado – pelo falante.

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Por ser esse produto social que acontece em determinada comunidade linguística e
possuir um código homogêneo é que Saussure caracteriza a língua como o objeto de
sua área do conhecimento. Enquanto a fala é um mecanismo psíquico-físico individual,
a língua possui seus padrões de combinação com “[...] um sistema gramatical que
existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, num cérebro dum conjunto
de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe
de modo completo” (SAUSSURE, 2000, p. 21).
Outra dicotomia determinante nos estudos desse linguista, aliás, refere-se ao par
“sincronia” e “diacronia”. A primeira estuda a língua e suas estruturas em determinado
momento. A diacronia se refere à perspectiva que investiga as transformações ao
longo do tempo. Saussure debruçava-se sobre o primeiro modo para investigar as
estruturas linguísticas em determinado recorte temporal.
A partir dessas percepções, ele pôde desenvolver a formulação do signo linguístico, o
qual “[...] une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica”
(SAUSSURE, 2000, p.80). O autor, posteriormente, denominá-los-á de significado e
significante, respectivamente. Este confere à língua uma instância psíquica, afinal,
os falantes não são capazes de uma execução idêntica dos sons. O que permitiria
o reconhecimento mútuo desses sons é a identificação dos fonemas, “[...] a imagem
sensorial que temos da produção física dos sons”. Então, ocorrem psiquicamente “[...]
representações dos sons fazendo que, mesmo que foneticamente não sejam iguais,
possa haver um mecanismo psíquico que permite o reconhecimento desses sons em
torno de uma mesma unidade da língua, os fonemas” (DEZERTO, 2010, p.66).
O papel da língua, portanto, é “[...] servir de intermediário entre o pensamento e o
som, em condições tais que uma união conduza necessariamente a delimitações
recíprocas de unidades.” (SAUSSURE, 2000, p. 131). Ou seja, a associação entre
significado e significante não pode ser mudada pela vontade individual, pois essa
relação é indissolúvel.

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Essas contribuições de Saussure foram de extrema importância para levar o foco


de estudo de diversas áreas do conhecimento para a mensagem. No seu caso, a
estrutura dela, daí a ideia da corrente estruturalista.
Um autor que teve seu trabalho influenciado por essa visão foi Émile Benveniste.
Contudo, ele apontava outro fator determinante para a estrutura da linguagem: ela é
uma atividade fundamentalmente social. Essa perspectiva coloca o foco dos estudos
linguísticos não mais na língua, mas no discurso. Este conceito, como destaca Fiorin
(2017, p. 93), “é a produção social da linguagem. Ao dar um estatuto científico ao
exercício da língua, Benveniste volta a inseri-la na vida social, na cultura e na história”.
Benveniste também desenvolveu a teoria do sujeito, que é central para entender a
relação entre a linguagem e a identidade individual. Ele argumentou que o sujeito não
é uma entidade fixa e imutável, mas uma construção social e histórica que é moldada
e transformada pela linguagem.
Outra proposta importante de Benveniste é a ideia de que a linguagem é uma forma
de ação. Ele argumentou que quando falamos, não estamos apenas transmitindo
informações, mas também estamos realizando ações específicas, como fazer
promessas, fazer pedidos ou expressar desejos.

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Dessas premissas, veio a principal contribuição do autor: o conceito de enunciação,


que se trata da realização concreta e singular do ato de fala. Ou seja, é o momento
em que um sujeito específico emite seu discurso, que é compreendido por um ouvinte
específico em um contexto comunicativo particular. Segundo Benveniste (1989, p. 87),
“o que caracteriza a enunciação é a acentuação da relação discursiva com o parceiro,
seja este real ou imaginário, individual ou coletivo”.
Ainda de acordo com ele, a enunciação é um processo complexo que envolve não
apenas a produção de sons, mas também a mobilização de um conjunto de recursos
linguísticos e extralinguísticos para construir um sentido e estabelecer uma relação
entre os interlocutores. Para ele, a enunciação é uma atividade social que implica a
interação entre falante e ouvinte, e que é sempre situada em um contexto específico.
Além disso, Benveniste argumentou que a enunciação é inseparável do sujeito
que a produz. Para ele, o sujeito não é apenas um agente que produz enunciados,
mas é também construído e transformado pela linguagem. Assim, a enunciação é
vista como uma atividade que não só reflete, mas também contribui para moldar a
identidade do sujeito.

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Diversos outros autores, tanto franceses como de diversas partes do mundo,


tomaram essas propostas como ponto de partida para seus estudos. Contudo, é
importante destacar a heterogeneidade do pensamento desses autores.

1.3 Para além da estrutura: linguagem, sujeitos, contextos


“O inconsciente é estruturado como uma linguagem”. O famoso aforismo de
Jacques Lacan demonstra a indissociabilidade entre homem e linguagem. Ele parte
das descobertas de Freud para analisar, entre outros elementos, as relações do homem
com a ordem simbólica, observando os vínculos entre as formações do inconsciente
e a linguagem.
É curioso notar o uso do conceito “estrutura” em sua formulação. Lacan toma como
um de seus referenciais a proposta de estudo das relações e estruturas da língua
de Saussure, a respeito da qual tratamos no item anterior. Contudo, essas bases e
seus intercâmbios são reelaborados pelo psicanalista, cuja percepção se distingue,
sobretudo, na abertura desse sistema e na criação de novas variantes. Assim, seu
modo de observar essas funcionalidades “quebra” as estruturas fechadas.
Saussure desenvolveu sua teoria do signo composto pelo significado e significante,
considerando essas duas unidades indissociáveis, ou seja, há uma ligação unívoca
entre ambos. Isso representaria dizer que “a significação estaria totalmente dada e
garantida no momento em que o signo linguístico fosse isolado da cadeia” (DOR, 1989,
p. 37). Qualquer signo, dessa forma, seria interpretado da mesma maneira, não haveria
nenhuma diferença de significação. Para ele, a língua é comparável a uma folha de
papel, o que significa que o pensamento “é a face, e o som é o verso; não se pode
cortar a face sem cortar ao mesmo tempo o verso; assim também, na língua, não
poderíamos isolar o som do pensamento, nem o pensamento do som” (SAUSSURE,
2000, p. 157).
Lacan trabalha com uma perspectiva oposta, sugerindo uma quebra dessa união:
um mesmo significante pode se ligar a diferentes significados, assim como um mesmo
significado pode se conectar a diferentes significantes. Ou seja, há um deslizar do
que o autor chama de “cadeia significante” (a sequência de significantes). A relação
entre significante e significado é, na visão do autor, “sempre fluida, sempre prestes a
se desfazer” (, 1988, p. 297).
Como exemplo desse processo, tomemos a seguinte frase: “irei emprestar dinheiro
a você, mas espere até o dia 30 de fevereiro”. Quando o enunciador profere a primeira
parte, o indivíduo que pediu a quantia emprestada pode concluir que a receberá.
Contudo, no “deslizar da cadeia significante”, a significação muda após a enunciação se

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concluir, uma vez que a data informada não existe. Como afirma Lacan (1998, p. 508),
“o que essa estrutura significante revela é a possibilidade que eu tenho, justamente
na medida em que sua língua é comum com outros sujeitos, isto é, em que a língua
existe, de me servir dela para expressar algo completamente diferente do que ela
diz”. Ao contrário do algoritmo saussuriano, cuja estrutura já trazia previamente os
elementos de sua composição de forma indissociável, o lacaniano preza por essa
variação significante e sua imersão no contexto.
De diversos modos e em várias áreas do conhecimento, outros autores também
utilizaram reflexões semelhantes para tratar das relações entre a linguagem, o sujeito,
a sociedade e os contextos envolvidos na comunicação.
Jacques Derrida, por exemplo, desenvolveu uma crítica radical à noção de estrutura,
enfatizando a importância da desconstrução como método de análise crítica. Ele
contribuiu para as reflexões que criticavam a ideia de que a linguagem pode transmitir
significado de forma objetiva e transparente. Derrida argumenta que todas as estruturas
têm lacunas e contradições internas que são suprimidas pelo uso da linguagem, e
que a desconstrução revela essas falhas e instabilidades.
Já Michel Foucault buscou a análise das relações de poder, das instituições sociais
e da sexualidade. No que tange às relações de poder, Foucault acreditava que elas não
são algo que se possa possuir, mas sim uma relação social que se estabelece entre
as pessoas em contextos específicos. Ele propôs uma análise das práticas discursivas
e institucionais que constituem e mantêm as relações de poder.

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A ideia de discurso, em sua concepção, não é simplesmente uma forma de


comunicação ou um conjunto de ideias que são expressas por meio da linguagem.
Em vez disso, o discurso é uma prática social que envolve poder e conhecimento.
Para Foucault, o discurso não é neutro, mas sim uma forma de exercer poder sobre
as pessoas, ao moldar o que é dito e como é dito.
De acordo com Foucault, o discurso é um sistema de pensamento que define e regula
as relações entre pessoas e instituições, e que é moldado por fatores sociais, políticos
e culturais. Ele argumenta que o discurso não é apenas uma forma de expressão,
mas sim uma forma de controle social, na qual certos tipos de conhecimento são
valorizados e outros são marginalizados ou suprimidos.
Por sua vez, Pêcheux desenvolveu uma abordagem mais linguística da Análise do
Discurso, enfatizando a relação entre discurso e ideologia. Ele argumenta que o discurso
é um meio de reproduzir as ideologias dominantes, que podem ser invisíveis para
aqueles que as produzem e consomem. Pêcheux propõe que a ideologia se manifesta
na linguagem através de palavras e expressões que são carregadas de significado
ideológico, e que a análise do discurso pode revelar esses significados ocultos.
Uma das principais contribuições de Pêcheux para a Análise do Discurso é o conceito
de “formação discursiva”, que se refere a um conjunto de práticas discursivas que
são organizadas em torno de uma ideologia dominante. Ele propõe que as formações
discursivas são fundamentais para a compreensão do discurso, pois moldam a forma
como as palavras são usadas e interpretadas em diferentes contextos.

1.2 As relações com a comunicação


Essas ideias desenvolveram diversas formas de análise da comunicação. Entre os
métodos derivados estão a semiótica e a análise do discurso. Ambas estão preocupadas
com a transmissão de mensagens por meio de sistemas simbólicos.
A semiótica é uma abordagem teórica que se preocupa com a interpretação dos
significados que estão subjacentes aos signos, sejam eles linguísticos ou não. Nesse
sentido, a semiótica é muito útil para a análise dos meios de comunicação, uma vez
que esses meios são compostos por uma variedade de signos, tais como imagens,
sons, textos e outros elementos que transmitem significados.

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Uma das principais ferramentas utilizadas pela semiótica para a análise dos meios
de comunicação é a análise dos códigos. Os códigos são sistemas de regras que
governam a forma como os signos são utilizados para transmitir significado. Através
da análise dos códigos, a semiótica busca identificar os padrões e as convenções que
governam a utilização dos signos em um determinado meio de comunicação, tais
como o cinema, a televisão, a publicidade, entre outros.
A semiótica também utiliza a noção de polissemia para a análise dos meios de
comunicação. A polissemia se refere à capacidade que os signos têm de transmitir
múltiplos significados. Ao analisar a polissemia em um determinado meio de
comunicação, a semiótica busca identificar os diferentes significados que os signos
utilizados nesse meio podem transmitir, e como esses significados podem ser
interpretados de maneiras diferentes por diferentes grupos de pessoas.
Enquanto isso, a análise do discurso é uma abordagem que busca entender o
discurso como um fenômeno social, cultural e político que está relacionado a questões
de poder, ideologia e identidade. Ela considera que o discurso é uma prática social

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que é influenciada por fatores como a cultura, a história e as relações de poder, e que,
por sua vez, contribui para moldar esses fatores.
A análise do discurso envolve a investigação a respeito de como o discurso é
produzido, transmitido e interpretado em diferentes contextos e por diferentes grupos
de pessoas. Isso inclui a análise de elementos como a estrutura linguística do discurso,
as formas de expressão e as convenções sociais que governam sua produção e
interpretação.
Em diversos estudos, a análise das ideologias, dos valores e das relações de poder
também estão em evidência. Isso envolve a compreensão de como o discurso é usado
para construir e reforçar as identidades sociais, para sustentar ou contestar normas
sociais e políticas, e para reproduzir ou transformar as relações de poder existentes.
Entre as duas abordagens mencionadas, a semiótica concentra-se na análise dos
signos, como imagens, textos, sons, entre outros, e como eles transmitem significado.
Por outro lado, a análise do discurso se concentra na relação entre o discurso e o
contexto social, político e histórico em que ele é produzido e interpretado.
Em termos de metodologia, a análise do discurso utiliza principalmente técnicas que
examinam as características discursivas e os contextos de produção desse discurso,
o que inclui as relações de poder, a cultura, etc. A semiótica utiliza uma variedade de
técnicas para analisar os signos, incluindo a análise estrutural, a análise narrativa e
a análise semiótica multimodal.
A semiótica ajuda a entender como esses sistemas de signos funcionam e como eles
são usados na comunicação. Por exemplo, na comunicação verbal, a semiótica ajuda
a entender como as palavras são utilizadas para construir significados e como esses
significados são interpretados pelos indivíduos. Na comunicação visual, a semiótica
ajuda a entender como as imagens são usadas para transmitir mensagens e como
essas mensagens são interpretadas pelos indivíduos.

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Na comunicação, a análise do discurso é frequentemente utilizada para analisar


as mensagens que são transmitidas através de diferentes meios, como o jornalismo,
a publicidade e a política. Por meio dela, é possível entender como essas mensagens
são construídas e como elas afetam a sociedade e a cultura.
Além disso, também é possível analisar os processos de produção e recepção das
mensagens comunicativas. Por exemplo, a análise do discurso pode ser utilizada
para estudar como as mensagens são produzidas por diferentes atores sociais, como
jornalistas e políticos, e como elas são interpretadas pelos indivíduos que as recebem.
Um exemplo de análise de discurso na comunicação seria a análise da cobertura
midiática de um evento político, como uma eleição. Nesse caso, ela pode revelar como
a mídia constrói discursos em torno dos candidatos e dos temas políticos, e como
esses discursos afetam a percepção pública do evento.
Essa análise do discurso pode investigar como a mídia representa os candidatos,
se há algum viés ou preconceito presente na cobertura, e como os discursos dos
candidatos são selecionados, editados e apresentados para o público. Além disso, a
análise do discurso também pode examinar como as mensagens são interpretadas
pelos eleitores e como elas afetam a opinião pública.

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Outro exemplo seria a análise da cobertura midiática de um evento esportivo, como


uma Olimpíada ou uma Copa do Mundo. Nesse caso, a análise do discurso pode
investigar como a mídia constrói discursos em torno dos atletas e dos países e dos
esportes, além de como esses discursos afetam a percepção pública do evento.

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CAPÍTULO 13
OS ESTUDOS CULTURAIS

1.1 A formação dos Estudos Culturais


Os Estudos Culturais Ingleses (English Cultural Studies) são uma abordagem
teórica e metodológica para a análise da cultura, que se desenvolveu na Inglaterra
por volta da década de 1960. O Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (Centre
for Contemporary Cultural Studies - CCCS), da Universidade de Birmingham, foi um
marco importante para essa linha de pesquisa.
O CCCS foi fundado em 1964, sob a liderança de Richard Hoggart, e posteriormente
dirigido por Stuart Hall. O centro tornou-se um importante ponto de encontro para
acadêmicos, ativistas e artistas, que trabalhavam juntos para desenvolver uma nova
abordagem para o estudo da cultura e da sociedade.

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Naquele momento, o contexto da Grã-Bretanha envolvia mudanças sociais,


políticas e culturais. Nesse período, a sociedade britânica passava por transformações
significativas, como a expansão da indústria cultural, o aumento da diversidade cultural
e a emergência de novos movimentos sociais, como o feminismo, o antirracismo e
o movimento LGBT.
Os estudiosos que faziam parte do CCCS criam uma perspectiva de contraposição
em relação à tradição elitista e conservadora de cultura que vigorava na Inglaterra
até meados do século XX e propõem uma nova concepção de cultura, desenvolvida a
partir de três textos fundadores: “As utilizações da cultura” (1957), de Richard Hoggart;
“Cultura e sociedade” (1958), de Raymond Williams; e “A formação da classe operária
inglesa” (1963), de Edward P. Thompson.
No livro de Hoggart, por exemplo, o autor analisa a cultura dentro do desenvolvimento
industrial e tecnológico. Ele “mostrou como a classe operária cria, no seu ‘encontro’
com os processos de industrialização e urbanização, formas culturais específicas”.
Ao fazê-lo, “mostrou que a produção e o consumo culturais expressam as relações
sociais básicas, as formas de vida de uma dada sociedade. O pressuposto que guia
The uses ofliteracy é o de que a cultura é expressão dos processos sociais básicos
(Gomes, 2004, p. 121).
Já a obra de Raymond Williams buscou “reconstruir um histórico do conceito de
cultura, entre 1780 e 1950, e propor outra forma de defini-la” (FRANÇA E SIMÕES, 2016,
p. 144). O autor considera que a cultura deve ser pensada como “todo um modo de
vida” (Williams, 1969, p. 20). Desse modo, ela não se limita a “evidências tais como
a forma de morar, a maneira de vestir ou de aproveitar o lazer” (p. 333) e deve ser
pensada a partir das relações com a sociedade em que se inscreve, como destacam
França e Simões.
Assim, essa cultura “é a instituição democrática coletiva, seja nos sindicatos,
no movimento cooperativo, ou no partido político”. E também “a cultura da classe
trabalhadora, nos estádios através dos quais vem passando, é antes social (no
sentido em que criou instituições) do que individual (relativa ao trabalho intelectual
ou imaginativo)”. Colocada no contexto da sociedade, “essa cultura representa uma
realização criadora notável” (Williams, 1969, p. 335).

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No caso de “A formação da classe operária inglesa” (1963), Edward P. Thompson


centra seu estudo na vida das classes populares. O autor chama a atenção para “o
lugar da experiência e do cotidiano na conformação da classe, que não é, portanto,
definida apenas pela dimensão econômica, mas na relação entre os sujeitos e na
interseção entre economia e cultura” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 148). Assim como
em Williams, “encontra-se uma visão de história construída no terreno das lutas sociais
e da experiência, tecida pela prática, pela dimensão concreta e pela a inserção ativa
dos indivíduos na vida de todos os dias” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 148). Conforme
as palavras do autor, “é no processo ativo - que é ao mesmo tempo o processo pelo
qual os homens fazem sua história - que insisto” (Thompson, 1961 apud FRANÇA E
SIMÕES, 2016, p. 148).
Com essas bases, os estudos culturais consideravam que a cultura diz respeito a
toda produção de sentido que emerge das práticas vividas dos sujeitos. Ou seja, “ela
não engloba apenas textos e representações, mas toda a dimensão simbólica que
constrói a experiência ordinária dos indivíduos. Para analisar a cultura, a perspectiva
dos Estudos Culturais atenta para as estruturas sociais e para o contexto histórico”
(FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 149). Isso inclui as análises dos meios de comunicação,
uma vez que estão inseridos em uma estrutura e em determinado contexto.

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1.2 Bases teóricas e interdisciplinaridade


Os primeiros estudos culturais ingleses foram influenciados pelo marxismo, pela
sociologia e pela antropologia, e tinham como objetivo compreender as relações entre
cultura e sociedade.
Vale destacar que se trata de “uma tradição de natureza interdisciplinar que se
propõe a pensar sobre as relações entre cultura e sociedade, rompendo com uma
visão elitista e conservadora de cultura que vigorava naquele país entre o fim do
século XIX e as primeiras décadas do século XX” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 145).
Essa abordagem interdisciplinar permite uma análise mais abrangente e complexa
da cultura.
A perspectiva marxista, que é uma das principais influências nos estudos culturais,
enfatiza a importância das relações sociais de produção na construção da cultura e
dos significados. Segundo o marxismo, as formas culturais são criadas e mantidas
em função dos interesses das classes dominantes, que buscam perpetuar seu poder
e sua ideologia através da cultura. Assim, a análise da cultura e dos bens simbólicos
deve ser feita a partir da perspectiva das relações de poder e da luta de classes.
Os estudos culturais tomam emprestado alguns conceitos e visões da teoria
marxista. Nessa perspectiva, a cultura é pensada a partir de sua autonomia relativa:
como destacam França e Simões (2016, p. 150), “ela sofre influências, sim, das relações
econômicas, mas não pode ser entendida como um mero reflexo delas”. Isso porque
“a cultura envolve poder, é um local de diferenças e lutas sociais, e seria reducionista
pensar que ela é simplesmente determinada pela base econômica de uma sociedade”.
Outra vertente é o estruturalismo, que defende que a cultura é um sistema de signos
e significados que deve ser analisado em sua estrutura e funcionamento. De acordo
com essa perspectiva, a cultura é um sistema simbólico que organiza e dá significado
à realidade, e as formas culturais devem ser analisadas em relação aos sistemas de
significação que as estruturam.
Já o pós-estruturalismo propõe uma crítica à ideia de que as estruturas sociais e
culturais são fixas e estáveis, enfatizando a importância dos processos de mudança,
de transformação e de contestação na cultura. Essa perspectiva destaca a importância
da diferença, da diversidade e da heterogeneidade cultural, e propõe uma abordagem
mais situada e contextualizada da cultura.
O estruturalismo e a semiologia/semiótica são, assim, outras bases teóricas
importantes para os estudos culturais. Da primeira abordagem, “retomam a ideia

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de que a sociedade é uma totalidade complexa, uma estrutura composta de partes


interligadas”. Desse modo, “a cultura, como uma das partes que compõem esse todo,
também é vista como uma estrutura complexa e deve ser analisada a partir de suas
interconexões (internas e externas)”. Isso significa dizer que ela “está relacionada com
a dimensão econômica da sociedade, mas deve ser pensada a partir de sua autonomia
relativa” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 151). Já da semiologia/semiótica, “retomam
a importância da linguagem e da produção simbólica no estudo da cultura”, além de
reconhecerem as variações dos significados e sua relação com os contextos envolvidos.
Com essas e outras bases teóricas, os estudos culturais também valorizam a
interdisciplinaridade e a colaboração entre diferentes campos do conhecimento, e
propõem uma abordagem crítica e reflexiva da cultura e dos processos de significação
na sociedade.
Essa interdisciplinaridade pode ser facilmente vista pelos estudos de seus principais
teóricos. O sociólogo Raymond Williams, por exemplo, foi um dos pioneiros na análise
da cultura popular e na valorização das práticas culturais cotidianas como objeto de
estudo. Ele propôs uma abordagem que considerava a cultura como um processo
social em constante mudança, influenciado por fatores econômicos, políticos e sociais.

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Já o historiador Edward Palmer Thompson utilizou a cultura popular como fonte


para entender as relações de poder na sociedade inglesa do século XVIII. Ele mostrou
como as lutas populares por direitos e justiça social estavam presentes nas formas
de cultura popular da época, como a literatura de cordel e as canções populares.
Stuart Hall, por sua vez, foi um dos principais teóricos dos estudos culturais ingleses
e contribuiu para o desenvolvimento de uma abordagem crítica e política em relação
à cultura de massa. Ele enfatizou a importância de se compreender como as formas
de dominação e resistência são construídas e disputadas dentro dela.

1.3 Os Estudos Culturais e as Teorias da Comunicação


Os estudos culturais têm uma relação muito próxima com os meios de comunicação
de massa, já que estes são considerados um dos principais meios de difusão e
construção de significados culturais. Desde o surgimento dos estudos culturais ingleses
na década de 1950 e 1960, os meios de comunicação são um objeto importante de
análise e crítica dentro desse campo.
Uma das principais preocupações dos estudos culturais em relação aos meios de
comunicação é a sua influência na formação de opinião pública e na construção de
imaginários sociais. Segundo essa perspectiva, os meios são capazes de moldar a
percepção que as pessoas têm sobre si mesmas, sobre os outros e sobre o mundo,
o que pode ser usado tanto para fortalecer a hegemonia dominante quanto para
contestá-la.
Outro aspecto que tem sido objeto de análise dos estudos culturais em relação
aos meios de comunicação é o papel da indústria cultural na produção e circulação
de bens simbólicos. A indústria cultural é vista como um setor da economia que tem
como objetivo a produção em massa de produtos culturais, como filmes, programas
de TV, músicas e livros, que são consumidos em larga escala pela sociedade. Para os
estudos culturais, ela tem uma relação ambígua com a cultura, já que ao mesmo tempo
em que produz bens simbólicos, pode reproduzir padrões dominantes e desvalorizar
as formas de cultura popular.

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Os estudos culturais também têm se preocupado com a relação entre os meios de


comunicação e as minorias, como grupos étnicos, sexuais e religiosos, que têm sido
historicamente sub-representados na mídia. Nesse sentido, eles buscam entender
como a mídia pode reforçar estereótipos e preconceitos em relação a esses grupos,
mas também como pode ser um espaço de resistência e de construção de identidades.
Mas também vale destacar a crítica feita por Stuart Hall ao paradigma linear de
comunicação, que vinha sendo adotado em inúmeras pesquisas em comunicação
de massa. O autor jamaicano afirma que “esse modelo tem sido criticado pela sua

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linearidade - emissor/ mensagem/receptor; por sua concentração no nível da troca de


mensagens; e pela ausência de uma concepção estruturada dos diferentes momentos
enquanto complexa estrutura de relações” (Hall, 2003, p. 387). Esse modelo, portanto,
assume que a mensagem é transmitida de forma unidirecional, do emissor para o
receptor, sem interrupções ou interferências. Exemplos disso são algumas das teorias
que já vimos, como a agulha hipodérmica. Essa abordagem desconsidera o fato de que
a comunicação é uma atividade complexa e dinâmica que envolve diversos elementos
culturais, sociais e políticos.
Do ponto de vista de Hall, a comunicação não é uma simples transmissão de
informações, mas um processo complexo que envolve a construção social de
significados. Segundo ele, as mensagens midiáticas não têm um único significado
fixo e universalmente compreendido, mas são interpretadas de forma diferente pelos
indivíduos, dependendo de suas experiências, crenças e identidades culturais.
Hall também destaca que a produção midiática é influenciada por fatores como a
regulação dos meios de comunicação, a propriedade dos meios de comunicação e a
estrutura do mercado midiático. Esses fatores podem limitar a diversidade de vozes
e a pluralidade de interpretações das mensagens, reforçando as relações de poder e
as ideologias hegemônicas.
Considerando essas contribuições de Hall e de diversos outros autores dos estudos
culturais, os focos de análise podem estar, por exemplo, na construção da mensagem
midiática. Nessa abordagem, os estudos buscam entender como as mensagens
midiáticas são construídas, levando em consideração os elementos culturais e sociais
presentes na sociedade em que foram produzidas. Isso inclui a identificação de padrões
narrativos, temas recorrentes, estereótipos e representações que podem ter impacto
na forma como a mensagem é percebida pelos receptores.
Outra possibilidade é a recepção das mensagens. Os Estudos Culturais valorizam
a participação ativa dos receptores na interpretação dos conteúdos midiáticos. Nesse
sentido, é importante considerar as diferentes formas como as pessoas recebem e
interpretam as mensagens, levando em conta suas experiências pessoais, valores,
crenças e identidades culturais.
As questões políticas, de diversidade e inclusão também se encontram em diversos
estudos. Isso inclui a análise de como as mensagens podem reforçar ou desafiar as
relações de poder, os valores dominantes e as ideologias hegemônicas. Além disso,
os Estudos Culturais consideram a importância da diversidade cultural e da inclusão

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na produção e na recepção das mensagens midiáticas. Isso envolve a valorização


da representatividade de diferentes grupos sociais e culturais, a desconstrução de
estereótipos e a promoção do diálogo intercultural.
Com isso, vemos distintas contribuições dos estudos culturais para as teorias da
comunicação. O próprio conceito de cultura ampliado “permite olhar para a experiência,
para o cotidiano, para as práticas sociais que a engendram”. Desse modo, é possível
analisar “como os produtos culturais trazem as marcas das relações sociais, ou seja,
do contexto em que se inscrevem”. Soma-se a isso, a “perspectiva atenta para o âmbito
da recepção como uma nova produção de sentidos, enfatizando a circularidade que
marca o processo comunicativo” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 161)

1.4 A Escola de Toronto


A Escola de Toronto (também conhecida como Escola de McLuhan) é um grupo de
pensadores da comunicação que se concentraram na análise dos efeitos da mídia e da
tecnologia na sociedade. Ela não é uma escola propriamente dita, mas trazemos um
espaço para ela por se tratar de uma das principais correntes de pensamento dentro
das teorias da comunicação. Fundada na década de 1950 pelo teórico canadense
Marshall McLuhan e seus colegas na Universidade de Toronto, a Escola de Toronto
enfatiza a importância do meio de comunicação em si e como ele afeta a percepção
e a experiência do público em relação à mensagem transmitida.

https://torontolife.com/city/marshall-mcluhan-profile/

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A abordagem da Escola de Toronto é interdisciplinar e enfatiza a relação entre a


comunicação, a cultura e a tecnologia. Os teóricos que a compõem estão interessados
em analisar como a mídia e as tecnologias de comunicação moldam a experiência
humana e influenciam as mudanças sociais e culturais. Eles também exploram questões
relacionadas à aculturação, globalização e identidade cultural em um mundo cada
vez mais conectado pela tecnologia. Além de McLuhan, outros teóricos importantes
associados à Escola de Toronto incluem Harold Innis, Walter J. Ong e Eric A. Havelock.
Embora a Escola de Toronto não seja uma escola formal, ela é frequentemente
considerada uma das principais correntes de pensamento dentro das teorias da
comunicação. A abordagem de McLuhan enfatiza a importância do meio de comunicação
em si e como ele afeta a percepção e a experiência do público em relação à mensagem
transmitida.
Além disso, McLuhan também estava interessado em explorar as implicações
culturais e sociais das tecnologias de comunicação. Ele foi um dos mais importantes
teóricos da comunicação do século XX, e suas contribuições foram fundamentais para
o desenvolvimento das teorias da comunicação.
Uma de suas principais contribuições é a ideia de que “o meio é a mensagem”.
Por essa perspectiva, McLuhan argumentou que o meio de comunicação em si é
mais importante do que a mensagem transmitida. Ele afirmava que cada meio de
comunicação tem características distintas que afetam a forma como a mensagem é
recebida e compreendida pelo público.
Outro conceito de suma relevância é o de “aldeia global”. O autor previu que a
tecnologia eletrônica transformaria o mundo em uma “aldeia global”, na qual as pessoas
estariam conectadas em tempo real, independentemente da distância física.
Além disso, McLuhan também estudou os efeitos das tecnologias de comunicação
na sociedade, argumentando que elas têm o poder de transformar a forma como as
pessoas pensam, agem e interagem entre si. Outro ponto importante é que ele distinguia
os meios de comunicação “quentes” e “frios”. Meios quentes, como a televisão, são
altamente imersivos e exigem pouca participação ativa do público. Meios frios, como
o livro, exigem mais esforço cognitivo do público para serem compreendidos.
Essas são apenas algumas das principais contribuições de McLuhan para as teorias
da comunicação. Sua obra continua sendo estudada e debatida até hoje por estudiosos
de várias áreas.

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CAPÍTULO 14
OS ESTUDOS LATINO-
AMERICANOS

1.1 Os primeiros estudos na América Latina


ELACOM é uma sigla que se refere à Escola Latino-Americana de Comunicação, um
movimento intelectual surgido na década de 1960 que propôs uma abordagem crítica
e contextualizada da comunicação na América Latina, em contraposição às teorias e
práticas de comunicação dominantes na época, que eram principalmente de origem
europeia e norte-americana. As teorias da comunicação propostas pela ELACOM se
baseavam na realidade social, política e cultural da região, buscando entender como
a comunicação se relaciona com a formação e manutenção das estruturas de poder
e com a construção da identidade cultural latino-americana.
O surgimento ocorreu em meio ao contexto político e social de diversos países
da América Latina, marcado por processos de redemocratização e luta contra as
desigualdades sociais e culturais. A escola é conhecida por sua abordagem crítica,
que busca compreender as relações de poder e a exploração presentes nas práticas
comunicativas e na produção midiática. Como observado por Gobbi (2015, p. 159), “a
comunicação de e para os trabalhadores ganhou, na América Latina, principalmente
a partir da segunda metade do século XX, a força e o paradigma de um movimento
social e estabeleceu, para as nações latino-americanas, novos canais de comunicação
entre a sociedade e o Estado”.
Um marco da pesquisa em comunicação nesses países é a criação do Centro
Internacional de Estúdios Superiores de Comunicación para América Latina (CIESPAL),
em 1959, com sede em Quito, Equador. O CIESPAL foi fundado com o objetivo de
promover o desenvolvimento de uma comunicação mais justa e democrática na
região latino-americana, através da formação de profissionais e pesquisadores em
comunicação.

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https://arquitecturayempresa.es/noticia/ciespal-casa-de-tarzan-para-los-quitenos

O Centro ofereceu cursos de formação para profissionais, pesquisadores, dirigiu


grandes projetos de pesquisa e promoveu a vinda de professores renomados dos EUA
e outras partes do mundo. Com isso, sua fundação foi de extrema importância para
o pensamento comunicacional na região.
Ainda hoje, o CIESPAL tem oferecido programas de treinamento, capacitação e
pesquisa em comunicação, incluindo cursos de pós-graduação, oficinas, seminários
e congressos para profissionais e acadêmicos. Além disso, o CIESPAL tem promovido
o intercâmbio de informações e conhecimentos entre os países da América Latina,

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visando fortalecer as capacidades e habilidades dos profissionais de comunicação


da região.
Também no Brasil e na Venezuela, a fundação de dois centros de pesquisa foram de
grande relevância para o avanço nos estudos na América Latina na década de 1960.
No caso venezuelano, foi o Instituto de Investigações de Imprensa da Universidade
Central da Venezuela, a partir de uma iniciativa de Jesus Marcano Rosas. No Brasil, o
Instituto de Ciências da Informação da Universidade Católica de Pernambuco, fundado
por Luiz Beltrão, representou o caminho inicial. Ao longo das décadas de 1970 e 1980,
outros países também tiveram seus primeiros centros de estudo, como Peru e Cuba.
Como destaca José Marques de Melo (1999, p. 101), “o trabalho investigativo deles
encontra forte ressonância no continente, num período caracterizado pela busca de
alternativas comunicacionais ou pela construção de políticas democráticas de gestão
dos meios massivos”. Nesse período, dois paradigmas apresentavam bastante presença
nas investigações.
Um deles é a Teologia da Libertação, cuja compreensão teológica surge como uma
resposta às desigualdades e injustiças sociais e econômicas que afetavam a região
na época. A Teologia da Libertação se caracteriza por uma abordagem crítica da
religião, que busca compreender a fé cristã em relação às questões sociais, políticas
e econômicas da América Latina.
Essa teoria aborda a perspectiva da fé considerando o objetivo promover a justiça
social, a igualdade e a liberdade para os oprimidos e marginalizados. Ela se baseia em
uma interpretação crítica das Escrituras e da tradição cristã, que enfatiza a mensagem
de libertação presente na Bíblia, a partir de uma perspectiva social e histórica. Ela
influenciou tanto os estudos teológicos quanto diversas outras áreas, como a própria
comunicação, a filosofia, a sociologia e a política.
Outro paradigma é a denúncia do imperialismo cultural. Muitos estudos destacam
a necessidade de se compreender a comunicação como um fenômeno político e
econômico, que reflete as desigualdades e assimetrias presentes nas relações
internacionais. Essas abordagens enfatizam a importância de se valorizar e preservar
a diversidade cultural, bem como de se desenvolver mecanismos que permitam aos
países da região controlar a produção e a distribuição de seus próprios bens culturais.
Alguns dos tópicos da pesquisa em comunicação na América Latina englobam a
análise crítica da mídia, dentro de temas como as relações de poder, a democracia,
a identidade cultural, a globalização, a cidadania, a violência, entre outros. Essas

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abordagens, somada à combinação com teorias críticas que enfatizam a análise das
estruturas de poder subjacentes à produção e consumo de mensagens midiáticas,
são importantes para entender como os veículos de comunicação podem ser usados
para controlar ou desafiar as estruturas de poder existentes na sociedade.
Vejamos, também, alguns pontos para sintetizar certas características da Escola
Latino-Americana das Teorias da Comunicação:
• Contextualização histórico-social: A escola valoriza a análise dos processos
históricos, políticos e sociais que influenciam a comunicação em diferentes
contextos latino-americanos. Nesse sentido, a comunicação é entendida como
uma prática social e cultural que se relaciona diretamente com o desenvolvimento
histórico da região.
• Abordagem crítica: A escola latino-americana das teorias da comunicação possui
uma abordagem crítica, que busca entender como as práticas comunicativas
podem ser utilizadas para reforçar ou contestar as relações de poder e as
desigualdades sociais e culturais presentes na região.
• Valorização da diversidade cultural: A escola valoriza a diversidade cultural da
América Latina e busca entender como as diferentes manifestações culturais
são representadas e reproduzidas nas práticas comunicativas e na produção
midiática.
• Foco na participação popular: A escola também valoriza a participação popular
na produção e no consumo de conteúdos comunicativos, buscando entender
como as comunidades locais podem se apropriar dos meios de comunicação
para reforçar sua identidade cultural e lutar por seus direitos.
• Diálogo com outras áreas do conhecimento: A escola latino-americana das teorias
da comunicação dialoga com outras áreas do conhecimento, como a sociologia,
a antropologia e a política, para compreender as práticas comunicativas em
sua complexidade.

Assim, a Escola Latino-Americana das Teorias da Comunicação contribui


significativamente para a compreensão das práticas comunicativas na América Latina,
valorizando a diversidade cultural da região e buscando entender como as relações
de poder se manifestam nas práticas comunicativas e na produção midiática.

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ISTO ESTÁ NA REDE

Para ficar informado sobre os estudos da comunicação na América Latina, o site


do CIESPAL é uma importante ferramenta para ampliar seus estudos. Confira em:
https://ciespal.org/

1.1 Teóricos de destaque e abordagens conceituais


Vejamos, agora, alguns dos principais nomes da Escola Latino-Americana das Teorias
da Comunicação, bem como suas contribuições para a reflexão e o desenvolvimento
dos estudos.

1.2.1 Jesús Martín-Barbero

http://mescla.cc/2021/06/30/o-legado-de-jesus-martin-barbero/

Diversos pesquisadores elaboraram novas teorias a partir das investigações do


cenário latino-americano. Um dos mais conhecidos foi Jesús Martín-Barbero, semiólogo,
antropólogo e filósofo naturalizado colombiano, nascido na Espanha. Ele se mudou
para a Colômbia em 1963 e faleceu no país em 2021. Foi um teórico e pesquisador da
comunicação e cultura e um dos expoentes nos Estudos Culturais contemporâneos.
A abordagem de Martin-Barbero enfatiza a dimensão cultural da comunicação,
considerando-a como um processo de construção de significados e sentidos que
ocorre em um contexto histórico e social específico. Para ele, a comunicação não é

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apenas um meio de transmissão de informações, mas um processo complexo que


envolve relações de poder e influencia a cultura e a sociedade.
Uma das principais contribuições de Martin-Barbero para as teorias da comunicação
foi a noção de “mediações”, que se refere aos diferentes processos culturais que
ocorrem entre a produção da mensagem e sua recepção pelo público. Esses processos
incluem a seleção de conteúdos, a interpretação das mensagens, a negociação de
sentidos e a produção de novos significados pelos receptores.
As mediações são influenciadas pelo contexto cultural, social e histórico em que
ocorrem. Elas são moldadas por fatores como a educação, a religião, a política, a
economia, a etnia e a identidade cultural. Assim, as mensagens são produzidas e
recebidas em um contexto social específico, com uma série de mediações que afetam
a sua interpretação e significado.
Para Martin-Barbero, a análise das mediações é fundamental para entender a
relação entre comunicação, cultura e poder. Ele argumenta que as elites culturais e
políticas exercem controle sobre os meios de comunicação e influenciam a produção e
a recepção das mensagens. Por isso, a democratização da comunicação é fundamental
para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em que todas as vozes
possam ser ouvidas e representadas.

1.2.2 Néstor García Canclini

https://www.cronicajalisco.com/notas/2018/90604.html

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Néstor García Canclini (1939 - ) é um antropólogo argentino, considerado um dos


principais teóricos da cultura e da comunicação na América Latina. Ele é autor de
diversos livros que tratam das transformações culturais e sociais que ocorrem no
continente, com destaque para os processos de globalização e as relações entre
cultura popular e erudita.
Canclini desenvolveu uma abordagem interdisciplinar e crítica sobre a cultura e
a comunicação, que combina a antropologia, a sociologia, a história e a teoria da
comunicação. Seu trabalho é influenciado pela escola de pensamento conhecida como
estudos culturais, sobre a qual tratamos anteriormente, que busca entender as relações
entre cultura, poder e identidade em um contexto global.
Entre suas obras mais conhecidas estão “Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar
e Sair da Modernidade” (1989) e “Consumidores e Cidadãos: Conflitos Multiculturais
da Globalização” (1995). Em ambos os livros, Canclini analisa os processos culturais
que ocorrem em um mundo globalizado, destacando a importância da cultura popular
na formação de identidades e na construção de comunidades.
Uma de suas principais contribuições para as teorias da comunicação é a noção
de “heterogeneidade cultural”. Ele argumenta que a cultura não é homogênea, mas
sim um processo de produção e negociação de significados que envolve múltiplas
vozes e perspectivas. Nesse sentido, a comunicação é um processo fundamental para
a construção de uma cultura democrática e pluralista.
Dessa forma, a heterogeneidade cultural se refere à coexistência de diferentes
culturas e formas de expressão dentro de um mesmo contexto social. Ela é resultado
de processos históricos, políticos e culturais que geram uma diversidade de práticas
e valores.
Para Canclini, a heterogeneidade cultural não deve ser vista como um obstáculo
para a coesão social, mas sim como uma riqueza que pode ser explorada de forma
criativa e produtiva. Ele defende a ideia de que a diversidade cultural pode gerar novas
formas de identidade e pertencimento, e que a interação entre diferentes grupos pode
levar a uma maior compreensão e tolerância.

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1.2.3 Luiz Beltrão

https://www.portalintercom.org.br/premios_new/luiz-beltrao/luiz-beltrao-patrono

O jornalista brasileiro Luiz Beltrão (1918-1986) foi um pioneiro nos estudos da


comunicação em seu país. Sua principal contribuição foi a criação das pesquisas em
folkcomunicação, uma abordagem da comunicação que tem como objeto de estudo
as práticas comunicativas populares.
A folkcomunicação, então, tem como objeto de estudo as práticas comunicativas
populares, ou seja, aquelas que são produzidas e consumidas pelas classes populares.
Essas práticas incluem, por exemplo, lendas, provérbios, canções, danças, festas
populares, entre outros elementos da cultura popular.
A ideia de folkcomunicação foi desenvolvida no Brasil na década de 1970. Essas
práticas, segundo Beltrão, eram diferentes da comunicação de massa tradicional, que
era controlada pelos grandes meios de comunicação e tinha como objetivo impor
uma cultura de elite. Ela é vista como uma forma de comunicação horizontal, que
promove a interação entre as pessoas e valoriza as tradições culturais populares. Ela
tem como objetivo dar voz às classes populares e tornar suas práticas comunicativas
mais visíveis e reconhecidas.

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1.2.4 Mario Kaplun

https://www.rededucom.org/os-precursores/mario-kaplun-pt.htm

Mario Kaplun (1923-1984) foi um importante teórico da comunicação e educador


uruguaio. Ele é considerado um dos pioneiros no desenvolvimento de uma perspectiva
crítica da comunicação na América Latina e sua obra teve uma grande influência no
campo da educação e da comunicação em vários países da região.
Kaplun foi professor de Comunicação e Educação na Universidade de Paris, na
Universidade Nacional de Cuyo (Argentina) e na Universidade de Brasília (Brasil). Ele
também atuou como consultor da UNESCO e de outros organismos internacionais,
contribuindo para a elaboração de políticas e programas de comunicação e educação
em vários países da América Latina.
Entre as suas principais obras, destacam-se “Una pedagogía de la comunicación”
(1974), “La comunicación masiva en el proceso de liberación” (1977), “El comunicador
popular” (1985) e “Los medios y la educación en la cultura contemporánea” (1986). Em
seus escritos, Kaplun defendia uma perspectiva crítica e participativa da comunicação,
que buscava promover a participação ativa das pessoas nos processos comunicativos
e na construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Kaplun também desenvolveu importantes contribuições no campo da educação,
enfatizando a importância da comunicação como um elemento fundamental no
processo de ensino-aprendizagem. Ele propunha uma abordagem pedagógica que

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valorizava a participação e a criatividade dos alunos, buscando desenvolver habilidades


de reflexão crítica e de produção de conhecimento a partir da comunicação e do diálogo.

1.2.5 Guillermo Orozco


Guillermo Orozco (1969) é um acadêmico mexicano, professor de Comunicação e
Educação na Universidad de Guadalajara, México. Ele é um dos principais especialistas
em comunicação e educação na América Latina, e suas pesquisas se concentram na
relação entre mídia e educação, alfabetização midiática, cidadania digital e uso crítico
e reflexivo da tecnologia na educação.
Orozco é autor de vários livros, artigos e pesquisas sobre a relação entre comunicação
e educação, incluindo “Educomunicación: más allá del 2.0” e “Alfabetización Mediática
y Cultura Participativa”. Ele também é membro fundador do Observatório de Educação
em Mídias, que busca promover a reflexão e a pesquisa sobre a relação entre mídia
e educação na América Latina.
Orozco é reconhecido como um dos principais defensores da alfabetização midiática
na América Latina, e sua obra tem sido influente na construção de políticas públicas
e programas de educação em mídia em vários países da região.

1.2.6 José Marques de Melo

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/06/mortes-pesquisador-do-jornalismo-foi-um-maioral-na-academia.shtml

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José Marques de Melo (1937-2020) foi um importante pesquisador, professor e


teórico da comunicação brasileiro. Ele é considerado um dos pioneiros no estudo
acadêmico da comunicação no Brasil e teve uma grande influência no desenvolvimento
da área no país.
Marques de Melo formou-se em jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP)
e obteve seu doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de Louvain,
na Bélgica. Ele foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e fundou o
primeiro programa de pós-graduação em Comunicação no Brasil.
Entre as suas principais contribuições para a área da comunicação, destacam-se
os estudos sobre a história da imprensa no Brasil e na América Latina, a teoria da
comunicação e a análise crítica dos meios de comunicação de massa. Ele também
foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação
(INTERCOM), que se tornou uma das principais organizações da área no país.
Marques de Melo escreveu diversos livros e artigos sobre a comunicação, incluindo
“História da imprensa no Brasil” (1981), “Teoria da comunicação: paradigmas latino-
americanos” (1990) e “Comunicação e cultura: teorias e práticas” (2006). Ele também
recebeu diversos prêmios e homenagens ao longo de sua carreira, sendo reconhecido
como uma das principais referências da comunicação no Brasil e na América Latina.

1.2.7 Muniz Sodré


Muniz Sodré (1942-) é um importante teórico da comunicação brasileiro, que tem
se dedicado à reflexão crítica sobre a relação entre a comunicação, a cultura e a
sociedade. Ele é conhecido por suas análises profundas e abrangentes sobre os meios
de comunicação de massa e suas implicações para a cultura e a política.
Formado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Sodré é
doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor
emérito da mesma universidade. Ele também foi presidente da Associação Brasileira
de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compós) e é membro da Academia
Brasileira de Letras.
Entre as suas principais obras, destacam-se “Reinventando a cultura: a comunicação
e seus produtos” (1996), “Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear
e em rede” (2002), “Mestres do jornalismo” (2004) e “Samba, o dono do corpo” (2015).
Em seus escritos, Sodré defende uma perspectiva crítica da comunicação, que busca

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compreender como os meios de comunicação influenciam a construção da cultura e


das identidades sociais, bem como os desafios para a democracia e para a cidadania.
Sodré é um dos mais importantes teóricos da comunicação no Brasil e na América
Latina, tendo contribuído de forma significativa para o desenvolvimento da área e para
o debate sobre a relação entre comunicação, cultura e sociedade.

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CAPÍTULO 15
A COMUNICAÇÃO
É UMA CIÊNCIA

1.1 Dos passos iniciais aos dias atuais


Vimos no início de nossos estudos que os seres humanos sempre buscaram
formas de comunicação. Trata-se de uma necessidade básica, uma vez que permite
trocar informações, estabelecer relações e colaborar uns com os outros. De fato,
a comunicação é uma característica fundamental da nossa espécie, e é uma das
principais razões pelas quais somos capazes de viver em sociedade e nos relacionarmos
com o ambiente que habitamos.
No início, a comunicação era feita por meio de gestos, expressões faciais e sons
vocais. Com o tempo, os seres humanos começaram a desenvolver desenhos, sistemas
de escrita e a criar linguagens complexas para se comunicar.
A escrita, por exemplo, surgiu por volta de 4000 a.C., na Mesopotâmia, e permitiu
que as pessoas registrassem informações de forma duradoura. A partir daí, foram
criadas outras formas mais sofisticadas, como a escrita hieroglífica egípcia e a escrita
cuneiforme suméria.
Já a imprensa, por exemplo, foi inventada no século XV, permitindo que as informações
fossem disseminadas de forma mais rápida e eficiente. Com o surgimento do rádio
e da televisão, a comunicação de massa se tornou uma realidade, permitindo que as
informações chegassem a um público cada vez maior.
Com o advento da internet e das redes sociais, a comunicação se tornou ainda mais
rápida e acessível. Hoje em dia, as pessoas podem se comunicar instantaneamente
com qualquer outra em qualquer lugar do mundo, por meio de mensagens de texto,
videoconferências e outras formas de comunicação digital.

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Cada um desses passos foram dados a partir das necessidades que a vida conjunta
criou para os seres humanos. E vimos como isso levou, também, ao estudo a respeito
da comunicação. A conjuntura da revolução industrial, urbanização e desenvolvimento
tecnológico foi determinante nesse sentido. Neste capítulo, traremos um resumo do que
estudamos para termos uma visão das contribuições de cada uma das classificações
das teorias da comunicação.

1.2 Os primeiros estudos e as classificações


A ciência da comunicação é uma área do conhecimento que estuda os processos
de comunicação em suas diversas formas e mídias. No século XX, esta área teve um
grande desenvolvimento, em parte impulsionada pelo surgimento de novas tecnologias
de comunicação, como o rádio e a televisão.
Como vimos, os avanços de uma forma sistemática de estudos começaram a partir
da década de 1920, quando as primeiras pesquisas sobre os efeitos da propaganda
na opinião pública foram realizadas. A partir daí, a área evoluiu para o estudo mais

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amplo dos processos comunicativos, que incluem desde a linguagem verbal até as
mídias digitais.
Assim, desse período até os dias atuais, as teorias da comunicação surgiram aos
poucos, emprestando conceitos e propostas de outras áreas do conhecimento, como
a sociologia e a psicologia. Com o progresso dos estudos, tornaram-se um conjunto
de ideias e conceitos que buscam explicar como a comunicação funciona e como ela
afeta a sociedade e a cultura.
Por ser esse campo vasto e complexo, que englobou diversas disciplinas ao longo
de sua história, a classificação das teorias da comunicação é uma tarefa desafiadora.
Cada uma delas utiliza determinados critérios específicos, como, por exemplo, a divisão
por fases e a classificação por centros de estudos.
Nas nossas aulas, optamos pela classificação por escolas e centros de estudo por
ajudar a entender como as teorias se desenvolvem em diferentes contextos culturais
e sociais, e como elas podem ser aplicadas para resolver problemas específicos. A
primeira categoria foi a Mass Communication Research.

ISTO ESTÁ NA REDE

O Ministério da Educação elaborou uma obra que aborda as teorias da


comunicação de modo bastante didático. Ela está disponível no site:
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teorias-da-comunicacao&Itemid=30192

1.3 A Mass Communication Research


No começo do século XX, uma gama de estudos sobre a comunicação surgia,
sobretudo nos Estados Unidos. Tratava-se do que ficou conhecido como Mass
Communication Research (ou Pesquisa da Comunicação de Massa). Ela buscava
compreender fatores como a influência dos meios de comunicação de massa sobre
a opinião pública e o comportamento das pessoas. Nessa abordagem de estudo,
destacou-se a Escola de Chicago.
Uma das principais bases conceituais é a teoria funcionalista, a qual procura
aplicar, na realidade social, princípios bastante semelhantes aos das ciências físicas
e naturais, tendo estas como fonte de inspiração para seus modelos teóricos. Nessa
linha de raciocínio, considera-se que a sociedade é um sistema complexo composto

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de diferentes partes interconectadas. Cada parte desempenha uma função específica


que contribui para a estabilidade e a continuidade da sociedade como um todo. Por
exemplo, a família é vista como uma instituição que desempenha a função de socializar
os indivíduos e transmitir valores e normas culturais para as gerações futuras.
Nessa linha, os teóricos funcionalistas veem a comunicação como um processo
que ajuda a garantir a coesão e a estabilidade da sociedade, argumentando que é uma
ferramenta importante para a transmissão de normas, valores e crenças, os quais têm
papel essencial para manter a harmonia social. A teoria funcionalista também destaca
o papel da comunicação no atendimento às necessidades individuais. Neste ponto,
os teóricos argumentam que ela ajuda a satisfazer as necessidades de informação,
entretenimento e socialização das pessoas.
Outra corrente importante para a Mass Communication Research foi o behaviorismo,
uma abordagem psicológica que estuda o comportamento. E também a teoria da
sociedade de massa, a qual desejava compreender as transformações sociais e
culturais decorrentes do desenvolvimento da sociedade industrial. Um dos principais
pensadores foi o francês Gustave Le Bom. Em sua obra mais conhecida, “Psicologia
das multidões” (1895), Le Bon argumenta que os indivíduos, quando reunidos em
grandes grupos, perdem sua individualidade e se tornam parte de uma “mente coletiva”
ou “massa”, que é governada por emoções irracionais e impulsos instintivos.

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A junção desses diferentes pensamentos e conceitos foi essencial para a gênese da


Mass Communication Research. Dentro desta, houve o desenvolvimento de dois eixos
principais: (1) o estudo das funções sociais exercidas pelos meios de comunicação
de massa; (2) o estudo dos efeitos provocados pelos meios nas audiências.
Entre as principais teorias que emergiram está a Agulha Hipodérmica, também
conhecida como Teoria da Bala Mágica ou Teoria da Injeção Subcutânea. Basicamente,
ela sugere que a mídia tem um poder direto e imediato sobre o público, sem que haja
qualquer tipo de mediação ou filtragem.
Já a Teoria da Persuasão traz uma abordagem que busca entender como as
mensagens são recebidas e interpretadas pelas pessoas. Os pesquisadores que a
propuseram utilizaram experimentos controlados para observar e mensurar os efeitos
das mensagens.
Enquanto isso, o Modelo de Lasswell sugere que a comunicação é um processo
em que uma fonte ou emissor envia uma mensagem por meio de um canal para um
receptor ou público-alvo. A mensagem pode ser composta por diferentes elementos,
como informações, ideias, emoções e valores. Basicamente, o modelo compõe-se
das respostas a estas questões: quem, diz o que, por meio de que canal, para quem
e com que efeito.
A Teoria dos Efeitos Limitados surgiu na década de 1940 como uma crítica à visão
de que a comunicação de massa tinha um efeito direto e poderoso sobre o público. Em
vez disso, argumenta que os efeitos da comunicação são limitados e influenciados por
uma série de fatores. Estes incluem a seleção e interpretação seletiva da informação
pelo público, a influência social do ambiente em que as pessoas vivem e a persuasão
limitada da mídia. Essa teoria enfatiza que as pessoas não são meros receptores
passivos da informação da mídia, mas são ativamente envolvidas no processo de
interpretação e resposta à informação que recebem.
Assim, a teoria dos efeitos limitados ajudou a fornecer uma perspectiva mais
complexa da comunicação de massa e destacou a importância de considerar a
diversidade e complexidade do público. Contudo, algumas das ressalvas a serem
colocadas na abordagem empírica de campo ou de efeitos limitados referem-se à
falta de atenção aos efeitos a longo prazo da comunicação de massa e sua ênfase
na persuasão individual em detrimento da influência coletiva.

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1.4 A Escola de Frankfurt


Max Horkheimer, diretor do Instituto para Pesquisa Social, propunha unir teóricos
que observassem as relações sociais de modo interdisciplinar. Com isso, o movimento
intelectual da Escola de Frankfurt foi formado por um grupo de filósofos, sociólogos,
teóricos políticos, críticos culturais e outros, que tinham como objetivo realizar uma
análise crítica da sociedade moderna e de seus problemas, a fim de contribuir para
sua transformação.
Por essa natureza interdisciplinar, a comunicação não foi o único foco da Escola de
Frankfurt, mas cresceu como uma das áreas que receberam muita atenção por parte
dos pesquisadores. De modo geral, eles acreditavam que a sociedade moderna era
caracterizada por problemas profundos, como a dominação das elites, a alienação do
trabalho, a opressão das minorias, a exploração econômica e a manipulação cultural.
Também argumentavam que esses problemas estavam enraizados nas estruturas
sociais e culturais da sociedade moderna, e que precisavam ser abordados em conjunto,
a fim de criar uma sociedade mais justa e democrática. Dentro das pesquisas desse
grupo, os meios de comunicação também entravam nesse contexto de dominação
das elites e exclusão dos grupos já marginalizados.

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A Teoria Crítica foi a base conceitual principal. Ela busca compreender a forma como
as ideias e as instituições se relacionam com a manutenção do poder e da dominação
social. Um dos principais conceitos advindos dela é o de “Indústria Cultural”, que se
refere ao modo como as formas culturais são produzidas em massa e vendidas como
mercadorias para consumo em massa, muitas vezes reproduzindo e reforçando as
desigualdades sociais e culturais existentes.
Entre as críticas à Escola de Frankfurt está a visão elitista sobre a cultura. A ideia
de existir uma arte superior a outra acaba por negligenciar e desvalorizar a cultura
popular em favor de formas mais eruditas e apontadas como superiores.
A concepção maniqueísta também passou a marcar as críticas, uma vez que “os
autores não apenas promovem uma divisão muito nítida entre o bem o mal, mas
também uma verdadeira demonização desse mal (da indústria cultural)” (FRANÇA E
SIMÕES, 2016, p. 130).

1.5 A Escola Francesa


A ênfase nos aspectos simbólicos da linguagem é um dos parâmetros que nortearam
certas pesquisas da escola francesa. Os teóricos, de modo geral, tratam a comunicação
não apenas como a transmissão de informações, mas também como a produção de
sentidos e significados. Isso é alcançado através do uso de signos e símbolos, que
são influenciados pelas normas culturais e sociais.
Além disso, a escola francesa é uma abordagem multidisciplinar que combina ideias
da linguística, filosofia, antropologia, psicanálise e a comunicação. Assim, há estudos
com variados focos.
Um dos precursores dos estudos foi o Ferdinand de Saussure, considerado o pai da
linguística moderna. Em sua corrente, buscou delimitar, em seu Curso de Linguística
Geral, o objeto de estudo da Linguística: a língua. O pesquisador francês criou uma
série de dicotomias que influenciaram diversos outros autores.
Um deles foi Émile Benveniste. Contudo, ele apontava outro fator determinante
para a estrutura da linguagem: ela é uma atividade fundamentalmente social. Essa
perspectiva coloca o foco dos estudos linguísticos não mais na língua, mas no discurso.
Este conceito, como destaca Fiorin (2017, p. 93), “é a produção social da linguagem.
Ao dar um estatuto científico ao exercício da língua, Benveniste volta a inseri-la na
vida social, na cultura e na história”.
Outra proposta importante de Benveniste é a ideia de que a linguagem é uma forma
de ação. Ele argumentou que quando falamos, não estamos apenas transmitindo

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informações, mas também estamos realizando ações específicas, como fazer


promessas, fazer pedidos ou expressar desejos.
Dessas premissas, veio a principal contribuição do autor: o conceito de enunciação,
que se trata da realização concreta e singular do ato de fala. Ou seja, é o momento
em que um falante específico emite uma sequência de sons que é compreendida por
um ouvinte específico em um contexto comunicativo particular.
Outras pesquisas buscaram observar a produção do discurso influenciada (e
influenciando) por diversos aspectos culturais. De diversos modos e em várias áreas
do conhecimento, outros autores também utilizaram reflexões semelhantes para tratar
das relações entre a linguagem, o sujeito, a sociedade e os contextos envolvidos na
comunicação.
Jacques Derrida, por exemplo, desenvolveu uma crítica radical à noção de estrutura,
enfatizando a importância da desconstrução como método de análise crítica. Ele
contribuiu para as reflexões que criticavam a ideia de que a linguagem pode transmitir
significado de forma objetiva e transparente. Derrida argumenta que todas as estruturas
têm lacunas e contradições internas que são suprimidas pelo uso da linguagem, e
que a desconstrução revela essas falhas e instabilidades.

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Para Foucault, a ideia de discurso não é simplesmente uma forma de comunicação


ou um conjunto de ideias que são expressas por meio da linguagem. Em vez disso, o
discurso é uma prática social que envolve poder e conhecimento. Assim, o discurso
não é neutro, mas sim uma forma de exercer poder sobre as pessoas, ao moldar o
que é dito e como é dito.
Esses estudos ainda são amplamente utilizados dentro das análises na área da
comunicação. As aplicações apresentam-se bastante variadas de acordo com o campo
que se encontra no foco, como o jornalismo, a publicidade, etc.

1.6 Os Estudos Culturais Ingleses


Os Estudos Culturais Ingleses (English Cultural Studies) são uma abordagem
teórica e metodológica para a análise da cultura, que se desenvolveu na Inglaterra
por volta da década de 1960. O Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (Centre
for Contemporary Cultural Studies - CCCS), da Universidade de Birmingham, foi um
marco importante para essa linha de pesquisa.
Vale destacar que se trata de “uma tradição de natureza interdisciplinar que se
propõe a pensar sobre as relações entre cultura e sociedade, rompendo com uma
visão elitista e conservadora de cultura que vigorava naquele país entre o fim do
século XIX e as primeiras décadas do século XX” (FRANÇA E SIMÕES, 2016, p. 145).
Os estudos culturais combinam elementos da sociologia, antropologia, estudos
literários e de mídia, história e teoria crítica para compreender a cultura em suas diversas
dimensões. Essa abordagem interdisciplinar permite uma análise mais abrangente e
complexa da cultura.
Com essas bases, consideravam que a cultura diz respeito a toda produção de
sentido que emerge das práticas vividas dos sujeitos. Ou seja, “ela não engloba apenas
textos e representações, mas toda a dimensão simbólica que constrói a experiência
ordinária dos indivíduos. Para analisar a cultura, a perspectiva dos Estudos Culturais
atenta para as estruturas sociais e para o contexto histórico” (FRANÇA E SIMÕES,
2016, p. 149). Isso inclui as análises dos meios de comunicação, uma vez que estão
inseridos em uma estrutura e em determinado contexto.
Um de seus principais teóricos, o sociólogo Raymond Williams, por exemplo, foi
um dos pioneiros na análise da cultura popular e na valorização das práticas culturais
cotidianas como objeto de estudo. Ele propôs uma abordagem que considerava a
cultura como um processo social em constante mudança, influenciado por fatores
econômicos, políticos e sociais.

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Uma das análises dos estudos culturais em relação aos meios de comunicação
é a sua influência na formação de opinião pública e na construção de imaginários
sociais. Segundo essa perspectiva, os meios são capazes de moldar a percepção que
as pessoas têm sobre si mesmas, sobre os outros e sobre o mundo, o que pode ser
usado tanto para fortalecer a hegemonia dominante quanto para contestá-la.
Essa vertente também tem se preocupado com a relação entre os meios de
comunicação e as minorias, como grupos étnicos, sexuais e religiosos, que têm sido
historicamente sub-representados na mídia. Nesse sentido, eles buscam entender
como a mídia pode reforçar estereótipos e preconceitos em relação a esses grupos,
mas também como pode ser um espaço de resistência e de construção de identidades.

1.7 A Escola de Toronto


A Escola de Toronto (também conhecida como Escola de McLuhan) é um grupo de
pensadores da comunicação que se concentraram na análise dos efeitos da mídia e da
tecnologia na sociedade. Fundada na década de 1950 pelo teórico canadense Marshall
McLuhan e seus colegas na Universidade de Toronto, ela enfatiza a importância do
meio de comunicação em si e como ele afeta a percepção e a experiência do público
em relação à mensagem transmitida.
Os teóricos que a compõem estão interessados em analisar como a mídia e as
tecnologias de comunicação moldam a experiência humana e influenciam as mudanças
sociais e culturais. Eles também exploram questões relacionadas à aculturação,
globalização e identidade cultural em um mundo cada vez mais conectado pela
tecnologia. Além de McLuhan, outros teóricos importantes associados à Escola de
Toronto incluem Harold Innis, Walter J. Ong e Eric A. Havelock.
Embora a Escola de Toronto não seja uma escola formal, ela é frequentemente
considerada uma das principais correntes de pensamento dentro das teorias da
comunicação. A abordagem de McLuhan enfatiza a importância do meio de comunicação
em si e como ele afeta a percepção e a experiência do público em relação à mensagem
transmitida.
Uma de suas principais contribuições é a ideia de que “o meio é a mensagem”.
Por essa perspectiva, McLuhan argumentou que o meio de comunicação em si é
mais importante do que a mensagem transmitida. Ele afirmava que cada meio de
comunicação tem características distintas que afetam a forma como a mensagem é
recebida e compreendida pelo público.

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Outro conceito de suma relevância é o de “aldeia global”. O autor previu que a


tecnologia eletrônica transformaria o mundo em uma “aldeia global”, na qual as pessoas
estariam conectadas em tempo real, independentemente da distância física.

1.8 A Escola Latino-Americana


ELACOM é uma sigla que se refere à Escola Latino-Americana de Comunicação, um
movimento intelectual surgido na década de 1960 que propôs uma abordagem crítica
e contextualizada da comunicação na América Latina, em contraposição às teorias e
práticas de comunicação dominantes na época, que eram principalmente de origem
europeia e norte-americana. As teorias da comunicação propostas pela ELACOM se
baseavam na realidade social, política e cultural da região, buscando entender como
a comunicação se relaciona com a formação e manutenção das estruturas de poder
e com a construção da identidade cultural latino-americana.
O surgimento ocorreu em meio ao contexto político e social de diversos países
da América Latina, marcado por processos de redemocratização e luta contra as
desigualdades sociais e culturais. A escola é conhecida por sua abordagem crítica,
que busca compreender as relações de poder e a exploração presentes nas práticas
comunicativas e na produção midiática.

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Alguns dos tópicos da pesquisa em comunicação na América Latina englobam a


análise crítica da mídia, dentro de temas como as relações de poder, a democracia,
a identidade cultural, a globalização, a cidadania, a violência, entre outros. Essas
abordagens, somada à combinação com teorias críticas que enfatizam a análise das
estruturas de poder subjacentes à produção e consumo de mensagens midiáticas,
são importantes para entender como os veículos de comunicação podem ser usados
para controlar ou desafiar as estruturas de poder existentes na sociedade.

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