Tese - Alberto Toledo Resende - 2020 - Completa

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Centro de Educação e Humanidades


Faculdade de Formação de Professores

Alberto Toledo Resende

Terminais pesqueiros públicos: normas e implementação da política de


Estado e suas relações territoriais no governo do PT (2003 a 2016)

São Gonçalo
2020
Alberto Toledo Resende

Terminais pesqueiros públicos: normas e implementação da política de Estado e suas


relações territoriais no governo do PT (2003 a 2016)

Tese apresentada, como requisito parcial


para obtenção do título de Doutor, ao
Programa de Pós-Graduação em História
Social da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Área de concentração: História
Social do Território.

Orientadora: Profª. Dra. Catia Antonia da Silva

São Gonçalo
2020
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CEHD

R433 Resende, Alberto Toledo.


Terminais pesqueiros públicos: normas e implementação da política de
Estado e suas relações territoriais no governo do PT (2003 a 2016) / Alberto
Toledo Resende. – 2020.
190f.: il.

Orientadora: Prof.ª Dra. Catia Antonia da Silva.


Tese (Doutorado em História Social) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.

1. Recursos pesqueiros – Teses. 2. Pesca – Legislação – Teses. 3. Pesca –


Política governamental – Teses. I. Silva, Catia Antonia da. II. Universidade do
Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Formação de Professores. III. Título.

CRB/7 – 4994 CDU 639.2

Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial


dissertação, desde que citada a fonte.

______________________________________ ___________________
Assinatura Data
Alberto Toledo Resende

Terminais pesqueiros públicos: normas e implementação da política de Estado e suas


relações territoriais no governo do PT (2003 a 2016)

Tese apresentada, como requisito parcial


para obtenção do título de Doutor, ao
Programa de Pós-Graduação em História
Social da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Área de concentração: História
Social do Território.

Aprovada em 14 de maio de 2020.

Banca Examinadora:

_____________________________________________
Prof.ª Dra. Catia Antonia da Silva (Orientadora)
Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo – UERJ

_____________________________________________
Prof. Dr. Gelsom Rozentino de Almeida
Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo – UERJ

_____________________________________________
Prof.ª Dra. Maria Letícia Corrêa
Faculdade de Formação de Professores de São Gonçalo – UERJ

___________________________________________________
Prof. Dr. Márcio Antônio Cataia
Universidade Estadual de Campinas

___________________________________________________
Prof. Dr. Ulisses da Silva Fernandes
Instituto de Geografia- UERJ

São Gonçalo
2020
DEDICATÓRIA

À minha família, mãe, querida esposa e filha, pela paciência e a vivência do compromisso
solidário durante todos os momentos desse trabalho, e aos meus amigos pelos períodos de
descontração que possibilitaram a revitalização para a escrita.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a minha mãe Iracema Toledo Miranda a maior incentivadora


do meu crescimento como pessoa durante todas as etapas da minha vida, muito obrigado pelos
puxões de orelha durante as fugas dos estudos durante a minha infância. Seguida a minha
orientadora Catia Antonia da Silva que considero parte da minha família, ou melhor minha
segunda mãe, pela amizade estimulante e presença constante que permitiram segurança para
pesquisar durante esses 17 anos de trabalhos.
A minha companheira de vida e de ofício, minha esposa Glauce Batista Junior sempre
fiel em todos os momentos da nossa caminhada, obrigado pelo amor e apoio intelectual
fundamental nos momentos de dúvidas e angústias. E a minha filha e maior inspiração para
continuar todos os dias, June Batista Toledo.
Aos professores e colegas da graduação, da pós-graduação, mestrado e doutorado,
presentes tanto em meu coração quanto em minha escrita através de suas reflexões críticas e
apoio nos debates.
Por mais individuais que sejam as nossas memórias, elas são apesar de tudo
estruturadas, e até os seus mecanismos cerebrais são afetados pela natureza coletiva, social,
do nosso modo de vida de seres humanos. [...] nossa sociedade impregnada pelas suas
próprias produções culturais, a memória ultrapassou os limites do individual e do pessoal, e
tornou-se coletiva.

Joël Candau
RESUMO

RESENDE, Alberto Toledo. Terminais Pesqueiros Públicos: normas e implementação da


política de Estado e suas relações territoriais no governo do PT (2003 a 2016). 2020. 190f.
Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Formação de Professores, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2020.

A investigação da política nacional dos Terminais Pesqueiros Públicos é o ponto


central deste trabalho, em relação ao seu impacto no ordenamento territorial da atividade
pesqueira, já existente. Impacto semelhante já foi visto, no início do século XX, com a
implantação do sistema de Colônias de Pescadores, sob tutela da Marinha, pelo qual a
demanda do Estado por controle territorial levava as embarcações de pescadores a se tornarem
a terceira frota da Marinha brasileira. Esse objeto requer a compreensão e a descrição da
legislação federal (principalmente, do Decreto nº 5.231, de 6 de outubro de 2004) e de
convenções e de tratados internacionais (com destaque para a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar), com capacidade de alterar a realidade local, através da normatização,
com a objetivação das ações dos órgãos envolvidos e considerando as interconexões destas
ações com as espacialidades e com as historicidades. Nessa apreensão da legislação, a
observação do entrelaçamento entre tratados e convenções internacionais acaba gerando
demandas, que nem sempre se igualam às necessidades locais, provocando alterações no
território, não, somente, a nível de mercado, mas podendo chegar, hipoteticamente, até ao
cotidiano dos pescadores e aos seus costumes, pois as relações sociais e as ações mercantis
dos agentes envolvidos, sejam públicos, como os órgãos normatizadores (ministérios e
secretarias), sejam privados, como os setores petroquímico, de fábricas de gelo, de logística
de portos, de sindicatos e de ONGs na atividade do setor pesqueiro também devem ser
observadas, para compreendermos a alteração territorial pelo viés do mercado.

Palavras-chave: Terminais Pesqueiros Públicos. Legislação. Pesca. Território e Circuito


Produtivo.
ABSTRACT

RESENDE, Alberto Toledo. Public Fishing Terminals: norms and implementation of State
policy and its territorial relations in the pt government (2003 to 2016). 2020. 190f. Tese
(Doutorado em História Social) – Faculdade de Formação de Professores, Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2020.

Texto do The investigation of the national policy of public fishing terminals is the
central point of this work, in relation to its impact on the territorial planning of fishing
activity, which already exists. A similar impact has already been seen, at the beginning of the
20th century, with the implementation of the Fishermen's Colonies system, under the tutelage
of the Navy, whereby the state's demand for territorial controlled fishermen's vessels to
become the third fleet of the Brazilian Navy. This object requires the understanding and
description of federal legislation (mainly Decree No. 5,231 of October 6, 2004) and
international conventions and treaties (with emphasis on the United Nations Convention on
the Law of the Sea), with the ability to alter the local reality, through standardization, with the
objectification of the actions of the agencies involved and considering the interconnections of
these actions with spatialities and historicities. In this apprehension of the legislation, the
observation of the intertwining between treaties and international conventions ends up
generating demands, which do not always equate to local needs, causing changes in the
territory, not only at the market level, but may reach, hypothetically, up to the daily lives of
fishermen and their customs, because the social relations and market actions of the agents
involved, are public, such as the standardorgans (ministries and secretariats) , are private, such
as the petrochemical, ice factories, port logistics, trade unions and NGOs sectors in the fishing
sector's activity should also be observed, in order to understand territorial change by market
bias.

Keywords: Public Fishing Terminals. Legislation. Fishing. Territory and Productive Circuit.
LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Tabela 1 – Produção de pescado no Brasil ............................................................. 21

Tabela 2 – Ranking de produção de pescado mundial, por países 2003 e 2004 /


Países por área e por extensão litorânea ................................................ 21

Figura 1 – Mapa da distribuição dos TPPs - Situação 2015 ................................... 80

Figura 2 – Placa da obra do TPP de Aracaju .......................................................... 130

Figura 3 – Imagem do TPP Laguna ........................................................................ 131

Figura 4 – Imagem do TPP de Santos .................................................................... 132

Figura 5 – Imagem do TPP de Ilhéus ..................................................................... 133

Figura 6 – Imagem do TPP de Camocim ............................................................... 134

Figura 7 – Imagem do TPP de Santana .................................................................. 135

Figura 8 – Imagem do TPP de Natal ...................................................................... 136

Figura 9 – Imagem do TPP Cabedelo ..................................................................... 137

Figura 10 – Imagens do projeto do TPP Belém ....................................................... 138

Figura 11 – Imagens do projeto do TPP Bragança ................................................... 138

Figura 12 – Imagem do TPP de Beberibe ................................................................ 139

Figura 13 – Imagem do TPP de Salvador ................................................................. 140

Figura 14 – Imagem do TPP de Vitória .................................................................... 141

Figura 15 – Imagem do TPP de Niterói .................................................................... 142

Figura 16 – Imagem do TPP de Cananéia ................................................................ 144


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFRMM Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante

CAT Centro de Atividades Turísticas

CGU Controladoria-Geral da União

CIRM Comissão Interministerial para os Recursos do Mar

CNBS Conselho Nacional de Biossegurança

CODESP Companhia Docas do Estado de São Paulo

CONAPE Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca

CONUDM Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

CS Circuito superior

CSM Circuito superior Marginal

CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança

CTP Conselhos dos Terminais Pesqueiros

DAS Grupo-Direção e Assessoramento Superiores

DOU Diário Oficial da União

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

FFP Faculdade de Formação de Professores

FGCN Fundo de Garantia para a Construção Naval

FMM Fundo da Marinha Mercante

IBAMA Instituto Brasileiro Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis

MP Ministério Público

MPA Ministério da pesca e Aquicultura

MPF Ministério Público Federal


OGM Organismos Geneticamente Modificados

ONU Organização das Nações Unidas

PGPAF Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar

PNB Política Nacional de Biossegurança

PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNDP Plano nacional de desenvolvimento da pesca

PPGS Programa de Pós-Graduação em História Social

PROFROTA Programa de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota


Pesqueira Nacional

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PTPP Política dos Terminais Pesqueiros Públicos

RGP Registro Geral da Atividade Pesqueira

SEAP Secretaria Especial da Aquicultura e Pesca

SIN Secretaria de Infraestrutura

SINPESQ Sistema Nacional de Informações da Pesca e Aquicultura

SUDEPE Superintendência de Desenvolvimento da Pesca

TTP Terminal Pesqueiro Público

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

ZEE Zona Econômica Exclusiva


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

1 COMPREENSÃO DAS POLÍTICAS DOS TERMINAIS PESQUEIROS


PÚBLICOS ........................................................................................................ 18

1.1 Os Terminais Pesqueiros Públicos e a ossatura do Estado ........................... 32

1.2 O Estado e o Direito .......................................................................................... 42

2 UMA SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO PESQUEIRA BRASILEIRA: A


CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS DOS TERMINAIS PESQUEIROS
PÚBLICOS ........................................................................................................ 51
2.1 A Territorialização da atividade pesqueira brasileira: Análise das
Legislações do início do século XX, até a implantação das Políticas
Públicas Dos TPPs ............................................................................................. 57

2.2 Reforma da legislação Pós-Segunda Guerra Mundial ................................... 70

2.3 Uma proposta de restruturação do espaço pesqueiro nacional: Terminais


Pesqueiros Públicos ........................................................................................... 79
3 APROFUNDAMENTO DA POLÍTICA DOS TERMINAIS
PESQUEIROS PÚBLICOS ............................................................................. 107
3.1 Uma breve análise sobre o Governo do PT ..................................................... 113
3.2 Apontamentos sobre a política internacional no governo Lula e a
construção institucional dos Terminais Pesqueiros Públicos ........................ 122
3.3 Situação atual dos Terminais Pesqueiros Públicos implantados ou em
projeto ................................................................................................................ 130
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 146
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 152
ANEXO A - Audiência pública - realizada em 18 maio de 2015 – Terminais
Pesqueiros Públicos ............................................................................................ 161
ANEXO B – Principais acordos e tratados assinados pelo Brasil ...................... 178
ANEXO C – Legislações impactantes a atividade de pesca .............................. 184
12

INTRODUÇÃO

Pensando na política nacional dos Terminais Pesqueiros Públicos, instituída em 2004,


e na forma com que foi construída, com a proposta de parceria público-privada e com um
cunho centralizador do mercado local, tanto na compra de pescado quanto na sua distribuição,
tal política, implantada sem a devida análise das comunidades impactadas, poderá, a médio e
a longo prazos, gerar supressão do comércio de portos locais tradicionais, como os dos
pescadores artesanais e, talvez, chegar até os pescadores industriais de menor escala.
Os Terminais Pesqueiros Públicos, resultantes de política pública direcionada à
(re)construção de um mercado pesqueiro nacional, podendo afetar o comércio internacional,
com sua centralidade no Estado, hipoteticamente, poderiam, em alguns casos pontuais,
eliminar os mercados populares existentes, a exemplo do ocorrido no início do século XX,
com a implantação da Colônia de Pescadores, que centralizou toda a atividade pesqueira
artesanal, como veremos adiante.
Portanto, este trabalho teve, como principal objetivo, trazer à compreensão as relações
entre as legislações e a organização institucional, expondo a semelhança intrínseca entre a
estruturação legislativa, formadora dos Terminais Pesqueiros Públicos, e os acordos e as
convenções normativas internacionais anteriores ao seu desenvolvimento, abrangendo,
portanto, a possibilidade do ordenamento territorial ser um conjunto de normas e de ações do
Estado, que regulam o uso e a apropriação do espaço e que buscam inserir o país na lógica do
mercado global, refletindo e ampliando o conceito de território, a partir do diálogo com
Raffestin (1993), com Poulantzas (2000), com Bertha Becker (2010), entre outros, ao analisar
as ações do Estado, no contexto do planejamento territorial. Destaca-se, neste debate teórico,
a seriedade de pensar a gestão costeira, a logística marítima e a distribuição nacional e
internacional da pesca, ressaltando a importância da compreensão de tais políticas nos
contextos do mercado e dos circuitos produtivos da pesca. Mas gostaria de ressaltar que o
objetivo da tese não é o de apresentar a produção de pescado no Brasil e, portanto, o presente
trabalho não vai tratar da compreensão espacial do circuito da atividade pesqueira no Brasil.
O texto visa, sim, a problematizar o lugar da política e o impacto desta na estrutura
organizacional da atividade pesqueira nacional.
Chega-se, portanto, à proposta central desta tese: promover a análise histórica das
legislações, relacionadas à atividade pesqueira brasileira, no século XX e no início do século
XXI, considerando as normativas dos acordos internacionais e a sua relação com a
13

configuração territorial, proposta pela política dos Terminais Pesqueiros Públicos (TPP).
Deste modo, o trabalho faz parte de uma trajetória de pesquisa construída na demanda de
compreensão da relação legislativa entre o território e o Estado, em que a pesca passa ser um
ponto de interseção.
Minhas primeiras indagações sobre o tema (Estado e atividade pesqueira, com
destaque para a pesca artesanal) tiveram lugar no curso de mestrado, concluído junto ao
PPGHS/FFP/UERJ, e incluíram, como ponto inicial de análise, o período histórico de 1890-
1919, quando o setor pesqueiro foi institucionalizado pela primeira vez, a nível nacional, com
a instalação de fixos em todo o território brasileiro. Por meio deste estudo, foi possível
verificar que a relação entre Estado e pesca tem seu primeiro marco histórico neste período,
no qual a pesca não era vista como uma atividade econômica central, mas, sim, como um
instrumento de organização e de domínio/controle do Estado sobre o território.
Portanto, o diálogo com a Geografia política se pautava na compreensão da soberania
do Estado, por meio do controle do território. No início do século XX, a pesca era
subordinada à Marinha do Brasil (Companhia dos Portos), sendo, a embarcação do pescador,
considerada, nesse período, o terceiro braço da frota da Marinha, encarregado de monitorar o
litoral brasileiro, já que, naquele período, a Marinha do Brasil possuía um número limitado de
embarcações, que não conseguiam dar conta de todo o extenso mar continental e das águas
ribeirinhas do país. Depois desse período, a literatura define quatro novos marcos
institucionais da pesca (SILVA, 2015).
O primeiro marco é estabelecido em 1930, no governo Vargas. Tal política pública é
voltada à organização do circuito produtivo, por meio dos primeiros empréstimos aos
pescadores (cartas de crédito) e pela escrita das primeiras legislações de controle da produção.
Já havia um desejo de modernização da pesca, visando à produção em grande escala, mas os
resultados foram pequenos e pontuais, espacialmente falando.
O segundo marco foi a criação da Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
(SUDEPE), vinculada ao Ministério da Agricultura. Este órgão, que funcionou entre 1961 e
1989, foi central na Política Nacional de Pesca, implementada pelo governo Jânio Quadros.
Na conjuntura da ditadura militar, este órgão e esta política estiveram integrados ao Plano
Nacional de Desenvolvimento (PND), mas este tema será retomado neste texto.
Antes de citar o terceiro grande marco, vamos entender um pouco do processo
constituinte de 1988, que altera totalmente o debate sobre a atividade pesqueira, dando novos
rumos à sociedade brasileira.
14

Em seu livro, Villa (2011, posição 1734 1) coloca que a eleição de 15 de novembro de
1986 teve a maior parte dos estados conquistado pelo PMDB, dando ao partido a maioria
absoluta das cadeiras na Constituinte. Com essa característica, “em 1º de fevereiro de 1987,
foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte”, a qual, segundo Villa (2011), já possuía
um problema, em sua sessão de abertura: a questão dos senadores eleitos em 1982, com
mandatos de oito anos e, portanto, sem a “devida delegação constituinte”. Acabou sendo
aceita a participação desses senadores, mesmo sem terem sido escolhidos constituintes pelos
eleitores.
Esse crescimento artificial do PMDB, durante as eleições constituintes, gerou,
segundo Villa (2011, posição 1746), uma crise interna do PMDB com a divisão do partido,
durante a constituinte, acarretando o surgimento do PSDB, que “também foi um elemento que
colaborou com a balbúrdia constitucional. (...) A direção partidária, em certo momento dos
trabalhos, perdeu a liderança. Grupos suprapartidários foram surgindo”.

O texto final da Constituição foi aprovado na sessão de 22 de setembro de 1988.


Recebeu 474 votos favoráveis e apenas 15 contrários Os 15 eram da bancada do PT,
que considerou a Carta “elitista e conservadora”. Apenas um deputado petista se
recusou a votar “não”: João Paulo, de Minas Gerais. (VILLA, 2011, posição 1752)

Villa (2011) ainda descreve:

A Constituição de 1988 é a mais longa de todas as anteriores: são 250 artigos e mais
70 nas disposições transitórias, perfazendo um total de 320 artigos. Acabou até
ficando enxuta, pois na primeira versão tinha 501 artigos, depois “sintetizados” em
334, até chegar, quando da votação, aos 250. Em relação às disposições transitórias,
se comparado com as Cartas produzidas por assembleias constituintes, o
crescimento ou a prolixidade, questão de escolha, é evidente. A de 1891 tinha
apenas oito artigos, em 1934 saltou para 26, em 1946 aumentou para 35 e em 1988
duplicou, alcançando 70 artigos. (VILLA, 2011, posição 1760)

A Constituição de 1988 teve um características política marcante, segundo Villa


(2011, posição 1767): em um curto prazo, antes mesmo da ocorrência de um prazo aceitável
para a consolidação dos textos nas raízes na vida nacional, ela recebeu, até outubro de 2011,
67 emendas, o que resulta em uma média de três emendas por ano, aproximadamente. A
pretexto comparativo, a Constituição dos Estados Unidos, datada de 1787, teve 27 emendas
em 224 anos de vigência, das quais as dez primeiras entraram em vigor em 1791, como o Bill
of Rights americano. Já a brasileira, no período de 1992 a 2011, só não foi emendada em

1
Posição é uma referência utilizada pelo dispositivo Kindle, da Amazon, no lugar da paginação, em seus e-
books.
15

1994. “O período presidencial recordista de emendas foi o de Fernando Henrique Cardoso


(35), seguido do de Luís Inácio Lula da Silva (27) e dos governos de Fernando Collor e de
Itamar Franco, com duas cada um” (VILLAR, 2011, posição 1767).
Outra característica da Constituição de 1988 é a tentativa de normatização da vida
social: “Acabou se transformando em um programa econômico-político-social para o país. Foi
promulgada em uma conjuntura internacional, que foi profundamente alterada, no ano
seguinte” (VILLAR, 2011, posição 1780)2.
Um dos pontos altos da Constituição, segundo Villar (2011), é o Artigo 5º, que:

garante as amplas liberdades, principalmente para um país como o nosso, marcado


pelo autoritarismo. Foram asseguradas as liberdades de manifestação, opinião e
organização. O crime de racismo foi considerado inafiançável e imprescritível,
foram abolidos a pena de morte e o banimento. Contudo, o artigo – o mais longo da
Constituição – foi muito mal redigido. Começa falando que “todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, para depois tratar de assuntos que
não têm a mesma importância legal, como a defesa do consumidor (XXXII), ou que
“às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos, durante o período de amamentação”. (VILLAR, 2011, posição 1820)

Finalizando esse ponto, em relação a constituição de 1988, Villar (2011, posição 1838)
lembra que foram editadas ou reeditadas milhares de medidas provisórias no período de 1988
a 2011. Ele ressalta que, na maioria delas, não havia um caso de “relevância e urgência”.
Como um exemplo, entre centenas de outros, temos a Medida Provisória de 3 de novembro de
1988, surgida antes mesmo da Constituição completar um mês de existência, que tinha, como
ponto principal, disciplinar a proibição da pesca de espécies em períodos de reprodução.
O terceiro grande marco institucional aparece com a subordinação do setor pesqueiro
ao Instituto Brasileiro Meio Ambiente Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no período
1989-1999. Este marco é considerado crítico para a pesca, pois o órgão, com uma visão
ambiental protecionista, passou a tentar proteger, com decretos e com leis, o período de
reprodução das espécies (defeso), proibindo técnicas de grande captura, como o arrastão, e
extinguir alguns avanços conquistados no período anterior, relacionados ao crescimento da
atividade pesqueira dentro da zona marítima exclusiva, sob o pretexto da proteção ambiental.
Os setores hegemônicos da pesca, principalmente, o da pesca industrial, fizeram pressão,
junto ao governo Fernando Henrique Cardoso, que decretou a vinculação do órgão ao
Ministério de Agricultura e Abastecimento, no ano de 1999.

2
Com a queda do Muro de Berlim, que levou ao fim da Guerra Fria, ao mesmo tempo, o modelo social-
democrata da Europa, do estado de bem-estar social, também começou a dar sinais de esgotamento (VILLAR,
2011, posição 1780).
16

O quarto marco institucional histórico tem início em 2003 e se estende à época atual.
Novos órgãos e legislações foram criados, tais como a Secretaria Especial da Aquicultura e
Pesca (SEAP), em 2003, vinculada diretamente à Presidência da República, no primeiro
governo Luiz Inácio Lula da Silva, e o Ministério da Pesca e Aquicultura, bem como a Lei da
Pesca, em 2009, no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No debate, que envolveu o
circuito produtivo da pesca, em suas esferas de captura, de produção, de distribuição e de
comercialização, aparece a problemática do entreposto, seja para o pescador artesanal 3, seja
para o pescador industrial, seja para o comerciante de pescado, o que, junto com outros
fatores, fortaleceu a implementação da política dos Terminais Pesqueiros Públicos (TPP).
É importante ressaltar que cerca de 60% do pescado nacional vem da pesca artesanal 4,
enquanto os cerca de 40% restantes resultam da pesca industrial, no que se refere à pesca
marinha. A aquicultura ainda é muito pequena no país e, no caso de espécies exóticas, tem o
rio como local principal de extração, junto com os tanques de criação de espécies, como
tilápia, tambaqui e camarão.
São milhares de pescadores, de acordo com Diegues (1983), sempre sofrendo com a
atuação do Estado, com seus projetos (como a criação das Colônias de Pescadores, no início
do século XX), o que acabou por produzir uma separação entre a forma artesanal 5, que ocorre,
ao longo da costa, trabalhando com pouca tecnologia, possuindo uma relação de trabalho em
parceria e capturando em pequena escala, marcada, principalmente, pelo uso de caícos e de
embarcações, que raramente ultrapassam 12 metros de comprimento (DIEGUES, 1983;
RESENDE, 2006; SILVA, 2010). Os pescadores industriais, fortalecidos pela ação da antiga

3
Atividade exercida por trabalhadores, que capturam moluscos, mariscos e crustáceos perto da costa, amiúde,
sem usarem de embarcação nenhuma, ou pescam perto ou longe, servindo-se de embarcações de pequeno porte
(como jangadas ou canoas), as quais a legislação em vigor manda terem, no máximo, 15 m de comprimento, e
que, em média, conduzem dez pescadores. A pesca artesanal é praticada em regime de trabalho familiar ou em
grupos de parentesco e de vizinhança, utiliza recursos tecnológicos poucos e simples e se baseia em
conhecimentos empíricos, transmitidos por tradição oral, dentro das famílias e das comunidades que a
exercem. Os pescadores artesanais confeccionam seus próprios meios de produção e escolhem seus processos
de trabalho autonomamente, produzindo em pequena escala, tanto para o consumo familiar quanto para o
mercado. Por disporem de parcos recursos financeiros e tecnológicos, esses pescadores não costumam se
aventurar em águas muito afastadas da costa, o que restringe suas áreas de pesca, sobre as quais a modernidade
faz sentir, com maior força, os efeitos socialmente deletérios para trabalhadores de baixa renda, como eles.
4
Saberes, narrativas e conflitos na pesca artesanal [recurso eletrônico] / KNOX, Winifred; TRIGUEIRO,
Aline. (orgs.). Vitória: EDUFES, 2015. Disponível em:
http://repositorio.ufes.br/bitstream/10/1337/6/Livro%20edufes%20saberes%2C%20narrativas%20e%20conflit
os%20na%20pesca%20artesanal.pdf, acessado em 16/07/2018.
5
São trabalhadores que têm dificuldades de distribuir e de beneficiar o pescado e que, portanto, necessitam
rapidamente de vender o que acabaram de pescar, gerando situação de exploração, por parte dos varejistas.
17

SUDEPE, concentram-se, principalmente, no sudeste e no sul do Brasil, e são menos


numerosos, mas produzem com alta tecnologia, mais longe da costa e em grande escala.
Esses pontos são importantes, para percebermos como o Estado vem gerindo as
políticas voltadas à pesca, no último século. Retomarei algumas dessas políticas nos próximos
capítulos, acrescentando os resultados da nova investigação, utilizando dados obtidos das
políticas implementadas no primeiro mandato do governo Lula, cujo objeto de investigação
passa ser as políticas públicas dos terminais pesqueiros, com seus processos de estruturação e
de modernização, as quais vêm sendo norteadas pela construção do zoneamento costeiro e que
vêm recebendo influências externas de convenções e de acordos internacionais, resultantes
das políticas da Organização das Nações Unidas (ONU), bem como da territorialização feita
pela Marinha do Brasil, por meio da qual o Estado busca a industrialização do circuito
produtivo da pesca, com a adoção de inovações tecnológicas na captura (em termos de
embarcação e de petrechos) e na comercialização, em grande escala.
Dessa forma, baseei a presente tese na esfera legislativa, avaliando, portanto, as leis
produzidas neste último período, isto é, os jogos políticos, que deram origem à política
nacional dos Terminais Pesqueiros Públicos.
18

1 COMPREENSÃO DAS POLÍTICAS DOS TERMINAIS PESQUEIROS PÚBLICOS

No livro Território e regulação: espaço geográfico, fonte material e não-formal do


direito, Ricardo Mendes Antas Jr (2005) trabalha uma questão importante para a tese, que é a
compreensão do espaço geográfico, enquanto fonte direta ou indireta de legislações. O autor
observa que, ao mesmo tempo, o espaço pode ser moldado pelas legislações ou pode moldá-
las.
Para entender legislação da atividade pesqueira ou, melhor, os impactos das leis sobre
o pescador, como no caso da implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos, temos,
inicialmente, que identificar a origem da legislação: se ela é demandada localmente, a partir
das necessidades da categoria, ou se ela é externa, para impor questões de Estado. Portanto,
não adianta partir diretamente para o estudo de vários pontos do território brasileiro ou utilizar
tempos históricos diferentes, para abranger as estruturas da atividade pesqueira e suas
necessidades, sem debater a formulação da lei, em sua origem.
Nesse ponto, lembro Reinhart Koselleck, que propõem, no livro Estratos do Tempo, de
2014, uma revisão dos fundamentos conceituais decisivos, para a compreensão da
Modernidade e de seus impactos. Ele mostra que, em vez de um tempo linear, o tempo
estratificado, que rompe com a alternativa entre sincronia e diacronia, é mais esclarecedor,
pois pode “reunir, em um mesmo conceito, a contemporaneidade do não contemporâneo, em
um fenômeno histórico mais revelador” (KOSELLECK, 2014, p. 9), revelando que a memória
coletiva está sujeita ao esquecimento e à fragmentação. Tal fenômeno, expressado por
Koselleck, foi observado na desintegração da memória coletiva de vários núcleos pós-
estruturação da atividade pesqueira em Colônias de Pescadores, regida pelo Estado, no início
do século XX, considerando os relatos de Villar (1945)6, e, agora, na nova tentativa de

6
Em nenhum trecho do seu relatório, Villar (1945) oculta o real interesse da Marinha com essa população
litorânea pobre e excluída. Como observa ele, nas suas justificativas para a “missão”, era impossível tornar os
pescadores parte do Estado, como força militar ou como potência na economia, sem criar uma nova
organização social, que incluísse melhorar-lhes as condições de existência: “[...] de nada poderão servir
homens, embora inteligentes e bravos, assim, em grande parte, em lamentável estado de deficiência física,
vivendo, ou melhor, vegetando, abandonados nas curvas da costa, vilmente explorados pelos mandões locais e
por eles cruelmente escravizados. ERA, POIS, PRECISO LIBERTAR, SANEAR, INSTRUIR, EDUCAR E
DEFENDER O NOSSO BONÍSSIMO CABOCLO PRAIANO. A Missão do cruzador José Bonifácio foi,
assim, obra de reação nacionalista e de grande relevância cívica. [...] iniciando do extremo Norte para o Sul os
trabalhos de organização e de defesa dos nossos pescadores: REUNI-LOS EM COLÔNIAS
COOPERATIVAS. CRIAR ESCOLAS. EDUCÁ-LOS. FUNDAR POSTOS DE SANEAMENTO. DAR-
LHES TERRAS. DAR-LHES SAÚDE, INSTRUÇÃO PROFISSIONAL, AMPARO E LIBERDADE. Eis os
objetivos que buscávamos colimar. (VILLAR, 1945, p. 23). O grande projeto da Marinha era que as Colônias
de Pescadores, formadas em áreas abrangidas ou não por um só município, fossem reunidas em federações de
pescadores, dentro de cada estado brasileiro, totalizando entre 15 e 25 colônias por estado, e acolhendo o maior
19

rompimento com a memória coletiva, pela implantação da política dos Terminais Pesqueiros
Públicos e pela possível desconstrução dos núcleos pesqueiros locais, como as colônias e
como os pequenos atracadouros das associações de pescadores.
Com isso, busco, na interseção entre os campos da História, da Geografia e do Direito,
compor uma interpretação para a reestruturação da atividade pesqueira, no final do século XX
e no início do XXI, através do processo legislativo, tomando, como alicerces, algumas teorias
da História e da Geografia, bem como os conceitos de Estado territorial, de soberania e de
regulação. Do mesmo modo, aproveito-me dos debates iniciados por Antas Jr. (2005, posição
63), nos quais o autor estabelece o tripé Estado-corporações-instituições civis não estatais,
que pode ser aplicado à compreensão da atividade pesqueira no último século, marcada por
transformações resultantes de uma maior interpenetração de modelos distintos de concepção
jurídica, derivando na legislação dos Terminais Pesqueiros Públicos.
A política dos Terminais Pesqueiros Públicos parte de uma demanda de
regulamentação apresentada pelo Estado, objetivando, não, somente, a regulação da atividade
pesqueira nacional, mas procurando impor um maior controle sobre o volume de recursos
marinhos vivos, observando, ainda, normativas internacionais.
De acordo com Antas Jr. (2005, posição 108), a partir do “entrelaçamento entre
Estados hegemônicos e outros agentes institucionais e corporativos”, pode-se fazer uma
relação deste processo com o fenômeno, que vem produzindo pressão legislativa sobre a
atividade pesqueira, semelhante ao resultado proposto por Antas Jr. (2005, posição 108) “em
efeitos diversos sobre os modos de regulação das formações socioespaciais, dentre os quais se
destaca o ressurgimento do pluralismo jurídico, cujo funcionamento essencial se distingue
bastante daquele, observado antes da formação dos Estados territoriais”.
Para compreende as diversidades legislativas e políticas que circundam a construção
dos Terminais Pesqueiros Públicos, retomo os textos de Koselleck (2014, p. 19), para quem os
estratos do tempo admitem a “transformação da história humana, política ou social, que
permite separar analiticamente os diversos planos temporais, em que as pessoas se

número desses trabalhadores. Tais Colônias, constituídas de agrupamentos de pescadores no litoral, em ilhas,
em rios e em lagoas, seriam um ponto de apoio, para a ação social, administrativa e militar do governo da
República, dando corpo à ossatura do governo e conferindo a este representatividade. No projeto da Marinha,
que deveria ser executado por Villar (1945) em um período de quatro anos, cada Colônia seria um “centro de
orientação técnica e profissional”, que, dentro de suas estruturas, contaria com espaços para preparar todos os
pescadores. E o mais importante: seria um “núcleo de vigilância da costa e de defesa nacional, facilmente
mobilizável, de instrução e de educação cívica, além de um posto de fiscalização da pesca, de defesa da fauna e
da flora aquáticas e dos processos de trabalho em nossas águas”. Objetivava-se dotar o Estado com uma
estrutura de controle territorial que ele nunca antes tivera, tanto no que se refere às riquezas naturais quanto à
produção da atividade pesqueira (VILLAR, 1945, p. 24).
20

movimentam, os acontecimentos se desenrolam e os pressupostos de duração mais longa são


investigados”. Este ponto é fundamental na elaboração da tese, pois possibilita a compreensão
das políticas voltadas à atividade pesqueira, tanto no contexto brasileiro quanto no
internacional, as quais serviram como base para a implantação dos TPPs locais. Contudo,
temos que levar em consideração que esse campo é uma metáfora, como explica Koselleck:

a expressão “estrato do tempo” remete a formações geológicas que remontam a


tempos e a profundidades diferentes, que se transformaram e se diferenciaram uma
das outras em velocidades distintas, no decurso da chamada história geológica. É
uma metáfora que só pode ser usada, a partir do século XVIII, depois que a antiga
ciência natural, a historia naturalis, foi temporalizada. (KOSELLECK, 2014, p. 19)

Como ensina Koselleck, a estratificação temporal consiste em compreender que os


tempos históricos são compostos de vários estratos, que remetem uns aos outros, mas sem
dependerem completamente, uns dos outros. Do mesmo modo, os estratos do tempo se
referem, também, a vestígios de experiência e, nesse ponto, posso inserir a questão da pesca
no debate, isto é, a compreensão da relação entre a atividade pesqueira e o processo
legislativo.
A teoria de Koselleck sobre a estratificação temporal ajuda a compreender o processo
legislativo estatal de estruturação da pesca no Brasil no início do século XX, que culminou
com a formulação das Colônias de Pesca, tuteladas pela Marinha do Brasil:

[...] na relação entre as leis e a justiça (...) as leis precisam ser formuladas de modo
tão geral que possam ser aplicadas repetidamente; só assim se pode assegurar a
justiça. Todos os casos individuais se distinguem, em sua singularidade, mas, para
que as leis possam ser aplicadas a eles, é necessário que haja um mínimo de
recorrência. Todas as teorias da justiça baseiam-se na duração relativa dos textos
legais e na sua replicabilidade. (KOSELLECK, 2014, p. 22)

Koselleck (2014, p. 33) tem preocupação com a História, seja pela linguística, seja
pela experiência, pois, para ele: “o fato de histórias surgirem primeiramente das experiências
das pessoas envolvidas e atingidas é condição de sua narrativa e, portanto, também é condição
da narratividade de experiências alheias”, o que nos leva a pensar na tese das experiências
vivida e narrada, seja pessoal, seja “alheia” aos pescadores, no que tange às políticas
implantadas. O tipo de análise que busco fazer, para compreender o surgimento dos Terminais
Pesqueiros Públicos, domina a historiografia moderna.
Esse rumo de compreensão dos terminais pesqueiros e, consequentemente, da
atividade pesqueira, nos remete à ideia de Antas Jr. (2005, posição 125), que observa que
“grande parte do pensamento geográfico está fundado na ideia de Estado-Nação e,
21

evidentemente, também, no correspondente sistema jurídico erigido sobre o conceito de


soberania”, a partir do qual somente o Estado legisla. “Desde Ratzel, essa noção tem sido
basilar para a Geografia e se constitui como a fonte de poder legítima na produção de normas
jurídicas, isto é, aquelas que todo ente (individual ou coletivo) é obrigado a cumprir”
(ANTAS JR., 2005, posição 126). Na atividade pesqueira, foi assim que o Estado, através da
Marinha, agiu diretamente sobre o espaço geográfico, no início do século XX, sendo um ator
único na construção das normas jurídicas, que deram origem às Colônias de Pescas e às
demais estruturas. Hoje, na formação dos Terminais Pesqueiros Públicos, não mais
observamos o Estado, somente, mas, sim, vários agentes envolvidos no processo de controle
do espaço geográfico, através da construção da nova legislação pesqueira e da restruturação
do mercado.
Nesse sentido, frisa-se um ponto central interessante: a reestruturação da atividade
pesqueira nacional. Em 2003, a atividade respondia por um volume de 990.272 toneladas de
pescado, que passou para 1.015.914,0 toneladas, em 2004 (Tabela 1). Este é um volume
significativo de captura, mas ainda é muito pequeno, em relação a outro, que engloba
territórios e extensões litorâneas menores, como exposto na Tabela 2.

Tabela 1 ‒ Produção de pescado no Brasil


Produção (t) 2003 2004 Crescimento
relativo (%)
Pesca extrativa marinha 484.592,5 500.116,0 + 3,2
Pesca extrativa continental 227.551,0 246.100,5 + 8,2
Maricultura 101.003,0 88.967,0 (-)11,9
Aquicultura continental 177.125,5 180.730,5 + 2,0
Total 990.272,0 1.015.914,0 + 2,6
Fonte: MMA (2005)

Tabela 2 – Ranking mundial de produção de pescado, por países, em


2003 e 2004 (incluindo dados sobre área e sobre extensão litorânea)
Países 2003 (tonelada) 2004 (tonelada) Área (km²) Litoral (km)
China 16.755.659 16.892.793 9.326.410 14.500
Peru 6.085.912 9.613.180 1.280.000 2.414
EUA 4.938.956 4.959.826 9.161.923 19.924
Chile 3.612.912 4.935.376 748.800 6.435
Indonésia 4.627.149 4.811.320 1.826.440 54.716
Japão 4.670.452 4.401.341 374.744 29.751
Índia 3.712.149 3.615.724 2.973.190 7.000
Rússia 3.281.448 2.941.533 16.995.800 37.653
Tailândia 2.849.697 2.845.088 511.770 3.219
Noruega 2.548.975 2.522.225 307.442 25.148
Filipinas 2.165.904 2.211.570 298.170 36.289
Vietnam 1.856.105 1.879.488 325.360 3.444
22

Islândia 1.978.135 1.728.085 100.250 4.988


Myanmar 1.343.860 1.586.660 657.740 1.930
Países 2003 (tonelada) 2004 (tonelada) Área (km²) Litoral (km)
Coreia do Sul 1.642.905 1.575.337 98.190 2.413
México 1.451.276 1.450.063 1.923.040 9.330
Malásia 1.287.084 1.335.764 328.550 4.675
Bangladesh 1.141.241 1.187.274 133.910 580
Canadá 1.110.547 1.173.827 9.093.507 202.080
Dinamarca 1.036.154 1.089.986 42.394 7.314
Argentina 915.994 951.412 2.736.690 4.989
China Taiwan 1.134.713 907.742 32.260 1.566
Marrocos 885.131 894.608 446.300 1.835
África do Sul 822.882 881.939 1.219.912 2.798
Espanha 896.442 803.336 499.542 4.964
Brasil 712.144 746.217 8.456.510 7.491
Fonte: FAO (2004) / Wikipédia (excerto) (2020)

Portanto, o Brasil, com seus 8.456.510 km² de área, que o posicionam como o quinto
maior país do mundo, e com sua grande extensão litorânea de 7.491 km, que o colocam em
décimo lugar, apresenta um imenso potencial marítimo e ribeirinho subaproveitado, se
analisarmos os volumes de pescado dos países, no ano de 2004, apresentados nas tabelas, que
o colocam na vigésima sexta posição, atrás de muitos países com território e com extensão
litorânea bem menores.
Na solução desse subaproveitamento, surgem as políticas nacionais, no século XX, das
quais Antas Jr. (2005) ressalta a soberania como uma fonte real e indiscutível de poder para
produzir normas. Segundo o autor: “[...] foi a partir do princípio da norma como verdade
absoluta que os sistemas de técnicas jurídicas modernos se consolidaram e passaram a drenar
eficazmente tributos de extensões territoriais contíguas [...]” e, fazendo uma analogia de seus
pensamentos com a atividade pesqueira, “[...] produzindo [...] grandes concentrações de
riqueza, sob a tutela de uma forma pública de poder.” (ANTAS JR., 2005, posição 132).
Na tentativa de Antas Jr. (2005) de facilitar o entendimento da legislação e de seu
poder ou não sobre o espaço geográfico, tem-se:

território como norma e hegemonia soberana, território como norma corresponde,


em certa medida, àquela concepção do direito definido como tendo três dimensões
nucleares – a comunicacional, a burocrática formalismo e a repressiva. É a norma
entendida para além do lógico com que é concebida, estudada e aplicada pelo
pragmatismo predominante no modo de produção jurídico, cujos alicerces se
encontram no direito acadêmico positivista ortodoxo. Na inflexibilidade dessa
corrente majoritária (porque utilitária) do direito acadêmico é que podemos, muito
provavelmente, encontrar as raízes da crise de regulação por que passam os Estados
de direito ocidentais, pois são incapazes de lidar com o ressurgimento do pluralismo
jurídico. Território como norma significa condicionamento dos usos das técnicas, de
seus produtos (os objetos técnicos) e, por extensão, das relações sociais. A cada
criação e implementação de objetos técnicos no território, configuram-se demandas
por normas de uso e demandas sociais por regulação, e da soma destas resulta a
densidade normativa que, de fato, é imensurável”. (ANTAS JR., 2005, posição 360)
23

Uma coisa deve ficar clara, quanto ao processo de implantação da legislação e,


subsequentemente, dos próprios Terminais Pesqueiros Públicos: a parceria público-privada,
tanto na formulação do projeto quanto em sua administração, não diminui “a eficiência do
Estado no exercício cotidiano da hegemonia soberana, que lhe confere o monopólio do modo
de produção das normas jurídicas, pelo menos, em todas as formações socioespaciais
capitalistas ocidentais” (ANTAS JR., 2005, posição 465). Portanto, seguindo no intuito de
tentar compreender a legislação da atividade pesqueira, a partir da discussão do espaço
geográfico de Antas Jr., “a denominada desregulamentação da economia não pode ser
confundida com a perda das funções do Estado” (idem, posição 480).
Ainda temos que pensar que a experiência analisada, relativa à atividade pesqueira,
não é adquirida, somente, quando ocorre, mas, também, quando se repete, como quando
foram fundadas as Colônias de Pesca, no início do século XX, e como poderão ser os TPPs,
quando estiverem em pleno funcionamento. Outro ponto fundamental a ser ressaltado, como
exemplo de experiência analisada, no sentido de entender as novas políticas pesqueiras e a
instalação dos Terminais Pesqueiros Públicos, é o de que:

o desenvolvimento do sistema econômico mundial, que, partindo da Europa,


transformou toda a estrutura estatal e social do globo, tanto em termos de política
interna como externa. Esses processos de longo prazo, que atuam em cada conflito
ou ajudam a provocá-los, permanecem presentes como experiência de fundo, mesmo
que muitas vezes só possam ser trazidos à consciência por meio de investigações
históricas. (KOSELLECK 2014, p. 37)

Antas Jr. (2005) ressalta, ainda, que o contexto do trabalho de pesquisa deve observar
e interligar o objeto aos campos da História, da Geografia e do Direito:

Por mais recente e progressista que se pretenda uma lei, ela já é fruto de
necessidades passadas, e o seu papel é o de promover uma espécie de congelamento
ou, no melhor dos casos, de estabilização das relações sociais no espaço e no tempo.
A geografia não escapa a essa condição mesmo que os geógrafos anseiem o inverso;
o ensino de geografia, expressão mais difundida desse campo de conhecimento, ao
explicar o funcionamento do mundo ou a constituição de um dado território, revela
uma coisa que já não é mais. (ANTAS JR., 2005, posição 526)

Refletindo sobre o fato de que a “norma jurídica” vai ser vista e analisada de forma
diferente, por cada ciência (História, Geografia, Direito, Sociologia, entre outras), deve-se
entender que existe pelo menos uma interligação, que unifica tais normas na ideia de que são
a materialidade condicionadora da vida social, conforme coloca Antas Jr. (2005, posição 540).
Tal lógica permitiu o que aconteceu à pesca, no início do século XX, e permite que o
fenômeno se repita, no início do século XXI:
24

[...] a sociedade busca produzir e ao mesmo tempo controlar seu território. Como ela
sempre se apresenta fragmentada em grupos, classes, castas etc., os graus de
controle se afirmam conforme os recursos e as possibilidades dos grupos ou
indivíduos para efetivamente exercê-lo. Por outro lado, as formas produzidas (bem
como as não produzidas mas igualmente humanizadas) não poupam a dinâmica
social de atritos e condicionamentos, gerando, desse modo, uma forma peculiar de
regulação. (idem, posição 568)

Na busca pelo entendimento das mudanças ocorridas, tanto no início do século XX


quando no princípio do século XXI, Koselleck (2014, p. 41) define “registro histórico” como
um procedimento primário, “através da narração ou da redação se constitui uma história,
sempre sob influência das experiências imediatas dos historiadores”. E complementa:

A experiências também podem ser transformadas em narrativas sem investigação


prévia (...) para tanto duas perguntas têm sido formuladas desde a Antiguidade e
agora com as políticas voltadas para atividade pesqueira: o que aconteceu? Como
isso foi acontecer? Só assim a experiência singular pode ser transformada em
conhecimento (KOSELLECK, 2014, p. 41)

Isso caracteriza a metodologia. Portanto, quando reconstruímos a narrativa da


estruturação da atividade pesqueira brasileira, seja a das Colônias, seja a dos Terminais,
devemos tentar entender como e o que aconteceu.
Outro ponto marcante do início do século XX ressurge, no início do século XXI, no
prelúdio das políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos e na reorganização espacial das
atividades pesqueiras artesanal e industrial, bem como na atuação das comunidades
pesqueiras e em seus hábitos:

Indivíduos, grupos e/ou populações têm seus comportamentos constantemente


submetidos a enquadramentos geradores de resultados “socialmente desejáveis”.
Essa coação produzida externamente aos sujeitos pode ter sua fonte numa
materialidade apenas aparentemente inerte, uma vez que os conjuntos de objetos
artificiais e humanizados que a constituem arranjam-se intencionalmente, de modo a
obstaculizar dadas ações ou, ao contrário, a promover-lhes a fluência. Outra origem
provável da coação externa é a norma/lei ou regra que, desobedecida, impõe alguma
punição. Empresas e instituições também conhecem a força condicionadora das
normas e das formas. A diferença é que, neste caso, há uma grande capacidade de
produção de normas e/ou formas dirigidas, isto é, especializadas em produzem
objetos setores. (ANTAS JR., 2005, posição 597)

As instituições públicas ou privadas acabam sendo “[...] produtoras de normas que, em


muitos casos, tal como afirma Milton Santos, geografizam-se, isto é, ganham formas
geográficas” (ANTAS JR., 2005, posição 612). Como exemplo, temos o caso das secretarias
públicas, responsáveis pelo setor de habitação: “[...] elas produzem padrões e regras, para
ordenar todo o conjunto de habitações de uma cidade e a sua distribuição pelo território,
25

segundo alguns recursos estratégicos, como rios, montanhas, vales, etc.” (ANTAS JR., 2005,
posição 613). Através desse exemplo, podemos observar a norma participando ativamente da
configuração territorial urbana. Tais narrativas explicitam que as instituições e as suas normas
são apenas um dos elementos geradores das configurações territoriais, como se observa nas
políticas públicas de implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos.
Nessa linha, ressalta-se o seguinte ponto, que possibilita afirmar que as construções
estabelecidas, não, somente, pela lei que cria os Terminais Pesqueiros Públicos, mas pelas
normas que regulamentam seus usos, revelam a íntima relação entre formas geográficas e
normas:

[...] geram, por meio de alguns mecanismos de controle peculiares a cada uma delas,
o que se denomina usualmente regulação. A regulação pode ser econômica, social
ou política. Frequentemente abarca essas três instâncias, indiferenciadamente.
Assumindo-se como problema de fundo as questões relativas às principais fontes
reguladoras dos territórios nacionais no período contemporâneo e o modo como se
dá essa regulação, justificam-se as diretrizes metodológicas adotadas: partimos das
reflexões de autores geógrafos que se preocuparam exclusiva ou tangencialmente
com essa temática. (ANTAS JR., 2005, posição 620)

De posse desses elementos e entendendo a relação do Estado com a estruturação do


território, apoiando-me em Antas Jr. (2005, posição 625), quando afirmo que é “fato
inequívoco [...] que a norma jurídica é um elemento central na produção dos territórios".
Com a construção de uma legislação influenciada por demandas do Estado, conjugada
com as normativas das convenções e dos acordos internacionais, os Terminais Pesqueiros
Públicos e seus múltiplos agentes produtores de normas acabam delimitando novos contextos
geográficos e gerando mudanças profundas na conjuntura da pesca, as quais vão além de suas
estruturas físicas.
Portanto, para nos aprofundarmos na reestruturação da atividade pesqueira, a partir da
implantação das políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos, seguindo uma analogia, em que
a compreensão da constituição, juntamente com o funcionamento de seus objetos técnicos,
deve ser pensada, para desvendar o emaranhado de agentes compreendidos na ação de
construção dessas políticas, torna-se necessário um maior aprofundamento no entendimento
das normas. Lembrando, ainda, que as normas jurídicas:

[...] regulam a produção dos sistemas e objetos técnicos e as ações que


incidem sobre tais objetos, segundo finalidades que variam conforme o
contexto socioeconômico de cada período histórico. Tomados em conjunto,
esses sistemas constitutivos do território demandam a existência de sistemas
normativos, adequados às exigências mais gerais da sociedade de um
determinado período, de modo que seu funcionamento satisfaça àqueles
26

grupos sociais que concentram maior poder. (ANTAS JR., 2005, Posição
766)

Antas Jr. (2005) observa que as normas jurídicas, como, no caso que construo, as dos
Terminais Pesqueiros Públicos, são formais e externas aos indivíduos e não exigem uma
adesão interna dos sujeitos, enquanto as normas morais “expressam-se, sobretudo, nos
costumes de uma dada sociedade, na medida em que eles exprimem os valores dos indivíduos
que a compõem” (ANTAS JR., 2005, posição 778). No caso da atividade pesqueira, as
normas morais estão entrelaçadas às normas jurídicas, desde o início do século XX, pelas
quais as Colônias de Pescadores foram implantadas e enraizadas, dentro dos costumes locais.
Mas as normas, segundo Antas Jr. (2005, posição 779), “permeiam cada etapa de realização
de um costume específico (desde um rito, até uma técnica), se fazem cumprir pela convicção
íntima dos indivíduos de que se trata de algo justo e necessário”.
Nesse sentido, Antas Jr. (2005) explica:

Tal como as normas jurídicas, as normas morais se territorializam. Mas as jurídicas


realizam esse processo principalmente através da forma, da formalização territorial;
as morais, sobretudo pela estrutura, quer dizer, pela estruturação do território.
Evidentemente o limite entre forma e estrutura, norma jurídica e norma moral, é
difuso. As normas jurídicas produzem formas geográficas ou são produzidas por
elas, para a realização de funções diferentes na divisão social e territorial do
trabalho. As fronteiras nacionais, os estados federados, os municípios, a propriedade
privada, a região administrativa, etc., são formas jurídicas e também geográficas.
(ANTAS JR., 2005, posição 789)

Retomando a questão da estratificação de múltiplos espaços, Koselleck (2014, p. 98)


apresenta um ponto importante, para a compreensão das políticas estatais voltadas à pesca,
tanto no território brasileiro quanto nas demais partes do mundo: a sobreposição dos espaços
não anula a oposição das categorias “interno” e “externo”; ao contrário, a pressupõe.
Isso é mais evidente nas entidades militares, que abrangem grandes territórios, no
Oriente e no Ocidente. A interdependência global cria espaços biológica ou economicamente
complexos e estratificados, condicionados, também, pela ecologia, o que não basta para
dissolver as fronteiras nacionais (KOSELLECK, 2014, p. 98).
A atividade pesqueira brasileira é estruturada, no século XX 7, a partir de uma demanda
do Estado Republicano recém-formado, ansioso por reconhecimento e pela legitimação de seu
território, como apresentado por Resende (2011), e uma de suas políticas é a implementação
gradativa de uma legislação reguladora e estrutural da atividade pesqueira brasileira, sem a
consulta ou o levantamento do que, de fato, era a pesca ou de que eram os pescadores. A

7
O tema será apresentado neste trabalho, posteriormente.
27

partir daí, foram implantadas várias ações, pelo Estado, das quais se destaca a imposição de
que o pescador e sua embarcação se tornassem parte da terceira frota nacional da Marinha
brasileira (sendo, a primeira, a Marinha de Guerra, e a segunda, a Marinha Mercante).
Koselleck propõem, em seus estudos, em suma, uma compreensão do processo de formulação
de leis, que posso aplicar na tese, para uma melhor apreensão da atual política de implantação
dos Terminais Pesqueiros Públicos.
Para que uma decisão jurídica justa seja emitida, a exegese da lei trata qualquer caso
específico de tal forma, que os fatos possam ser subsumidos à afirmação da lei. Um caso
jurídico subsumido à lei é formado, linguisticamente, de modo diferente de um caso
investigado pela Psicologia ou pela História Social. A submissão aos termos da lei pré-
formata o caso, de modo a facilitar a aplicação da lei. O texto da lei tem, portanto, uma função
reguladora na interpretação do caso particular. O mesmo caso que termina em um veredicto
de culpa pode, sob outros aspectos – os da Psicologia, da Moral ou da Crítica da Ideologia,
por exemplo ‒, redundar em inocência, contrariando a interpretação jurídica.
Quando, em decorrência de mudanças nas condições políticas e sociais, a interpretação
da lei é alterada, a exegese do texto se modifica, porém com algum atraso (KOSELLECK,
2014, p. 106).
Outro ponto importante para a pesquisa é a abrangência linguística do texto legal. O
entendimento linguístico de um texto legal precisa ser precedido por uma compreensão – de
certa forma, também linguística – da História ou, melhor, da mudança histórica, que se
manifesta, em novas leis ou na reinterpretação radical de textos antigos. Em comparação com
os textos jurídicos, os teólogos e os filólogos estão ainda mais presos ao status de suas fontes.
O mesmo não ocorre com o historiador: basicamente, ele se serve dos textos, apenas, como
testemunhas, para extrair uma realidade que existe além deles. Portanto, mais do que todos os
outros exegetas de textos, ele destaca um fato extratextual, apesar de reconstituí-lo, por meios
linguísticos (KOSELLECK, 2014, p. 107).
Para Koselleck (2014, p. 107), escrever a História de um determinado período, no caso
desta pesquisa, o início do século XX e o início do século XXI, significa fazer afirmações que
nunca poderiam ter sido feitas naquele momento: “Elaborar uma História baseada em suas
condições econômicas significa empreender análises de fatores que não podem ser
diretamente deduzidas das fontes”.
Portanto, Koselleck (2014, p. 154) apresenta que:
28

[...] a simultaneidade cronológica de fatos políticos e sociais assincrônicos provoca


situações de conflito”, cujas tentativas de solução, quando comparadas com os
tempos passados são experimentadas como aceleração (...) nossa categoria de
aceleração pode ser vista também como instrumento do conhecimento, que visa a
uma teoria da crise, sem que sejamos obrigados a deduzir dela outras acelerações
para ao futuro.

Outro debate muito interessante para esta tese, que posso relacionar com as políticas
voltadas à construção dos Terminais Pesqueiros Públicos, é o conceito de História do presente
ou História contemporânea ou Nosso tempo, utilizado por Koselleck (2014, p. 229). Este é um
aspecto notável, pois toda a História é uma narrativa com representações, ao longo de uma
sequência temporal, logo não existe História sem vínculo temporal.
Dentro dessas lógicas, as normas são essenciais, pois, por meio delas, são
determinados os usos de parcela do espaço geográfico, no intuito de preservar os elementos
naturais ou sociais. Igualmente, nelas se conferem as condições fundamentais de valor na vida
da comunidade. “Entende-se, assim, o território como fonte material e não formal do direito”
(ANTAS JR., 2005, posição 838). Nesse sentido, podemos observar que “os sistemas
jurídicos são sistemas abertos, na medida em que a dinâmica socioterritorial, com suas
peculiaridades culturais e históricas, afigura-se uma fonte de produção de normas [...].”
(ANTAS JR., 2005, posição 860).

Os sistemas normativos produzem o território. E, do mesmo modo, observa-se que o


território, por reunir a intencionalidade humana e a espontaneidade da natureza,
demanda a produção intensa de normas. A própria formação do direito ocidental é
prova de que o espaço geográfico produz normas. Os sistemas normativos, porque
pressupõem um arranjo lógico e encadeado de normas, são fruto da ação humana.
As normas que vêm do meio natural e do meio produzido – isto é, do território – não
se constituem, em princípio, arranjadas em sistema. Contudo, produzem e alimentam
tais sistemas, se não completamente, em parte significativa deles [...]. (ANTAS JR.,
2005, posição 1021)

Uma coisa deve ficar bem clara: os Terminais Pesqueiros Públicos, muito além de
constituírem uma política de reestruturação da cadeia produtiva da pesca, são, também, uma
difusão das infraestruturas, que se torna uma centralidade e interliga diferentes regiões. Na
relação com a visão de Antas Jr. (2005), o projeto dos TPPs “difundiu a construção de uma
consciência de território uno, ao mesmo tempo em que promoveu a capacidade de regular e de
gerenciar o uso de toda a extensão espacial pertencente ao Estado-Nação, a partir de um
centro decisório”. Esse ponto me lembra que, diferentemente das políticas de implantação das
Colônias de Pescadores, no início do século XX, que estava atrelada à Marinha do Brasil,
como uma de suas forças, os Terminais Pesqueiros Públicos estão ligados diretamente ao
29

Estado, ainda que sua administração seja baseada na parceria público-privado, que deve se
apoiar, geralmente, em uma ou em várias regiões.

É que o poder disciplinar se tornou hegemônico pela forma das corporações


transnacionais. Estamos aqui chamando de hegemonia corporativa a essa forma
assumida pelo poder disciplinar, e em contraposição, sob determinados aspectos,
mas igualmente em conjunção em tantos outros, temos a hegemonia estatal ou de
Estado, que advém do poder soberano. Não se trata de operar uma divisão sumária
em que qualquer empreendimento que vise à acumulação de excedentes seja
associado ao poder corporativo. Tampouco se está dizendo que os Estados não
tenham em sua constituição os mesmos elementos disciplinares, posto o que
Foucault deixa bastante claro − o poder disciplinar alavancou a força coercitiva do
Estado, no que concerne, por exemplo, às forças armadas, à polícia. Outra ressalva
refere-se ao uso conveniente, por parte do poder corporativo, das normas jurídicas
do Estado. Aliás, neste aspecto, ambas as esferas estão tão imbricadas em
determinadas matérias, que é muito difícil precisar quem de fato as produz. (ANTAS
JR., 2005, posição 1769)

Esses argumentos apresentam uma face da política, que se pode interligar à ideia
debatida no decorrer do trabalho sobre a legislação dos Terminais Pesqueiros Públicos, cuja
relação dialética se dá entre o território normado e o território como norma, isto é, está entre o
direito e o espaço geográfico:

[...] coloca-se em relevo o fato de a lex mercatoria, como uma ordem jurídica a-
nacional, ao regulamentar a relação entre os grupos transnacionais estabelecendo
formas de organização e ação, mais a padronização de técnicas de produção (que
concerne ao direito da produção, igualmente ligado às ações das empresas),
apresenta forte poder de intervenção nas políticas territoriais locais (e nacionais), nas
quais a participação do Estado se mostra cada vez mais frágil e moldável, sendo que
se tratava, outrora, de uma prerrogativa. (ANTAS JR., 2005, posição 2363)

O momento contemporâneo da implantação das políticas dos Terminais Pesqueiros


Públicos pode ser definido como de transição, caracterizando-se por rupturas, em
determinados processos historicamente construídos, como na saída do Estado do controle
organizacional local, por meio de privatizações e por concessões dos entrepostos e dos
serviços públicos a particulares, ao mesmo tempo em que se mantém, em seu papel regulador
nacional, conforme os mecanismos tradicionais.
Outra questão fundamental debatida por Antas Jr. (2005, posição 2378) é a de que a
“medida temporal do direito – qualquer direito – se baseia em sua repetibilidade estrutural,
não importa se ele reivindica uma duração eterna ou se já prevê prazos de validade”, em
alguns casos, sobrevivendo às mudanças no poder.
30

Koselleck (2014, p 328) apresenta dois pontos importantes no debate do aspecto


temporal, considerando que a História do Direito tem uma participação genuína na História
Geral:

1. os textos jurídicos que constituem fontes do direito visam à duração, à aplicação


repetida, ao contrário de textos narrativos, mesmo quando estes tratam de assuntos
jurídicos. Textos narrativos ou documentos se referem a ocorrências singulares, das
quais eles dão testemunho. Textos que sustentam o direito, documentos que também
resultam de atos, sentenças decorrentes de processos e leis preestabelecidos ou
contratados resultantes de negociações criam uma fissura nas sequencias de eventos
e inauguram uma nova duração. A fim de viabilizar esse tipo de durabilidade,
direitos consuetudinários são repassados oralmente de geração em geração ou
fixados por escrito. Todos esses textos reivindicam uma aplicação repetida que
ultrapassa sua aplicação singular. (...) a profundidade da dimensão temporal, que
nesse caso visa a uma duração relativa, confere às fontes específicas do direito um
status próprio, que não deve ser confundido com o status de uma fonte política,
comercial ou narrativa.
[...]
2. A relação da história do direito com suas disciplinas afins. Todas as fontes têm
em comum o fato de remeterem a uma realidade extratextual. As fontes jurídicas
compartilham esse status com os textos de todas as disciplinas históricas. Cada texto
pode se transformar em fonte para cada indagação histórica. Assim, os textos que
ambicionam uma validade jurídica específica podem ser lidos também sob uma
perspectiva econômica, política, sócio-histórica, teológica, histórico-linguística ou
qualquer outra, sempre dirijam perguntas a cada uma dessas áreas. Isso vale também
na direção inversa. (KOSELLECK, 2014, p. 328-329)

Koselleck também acrescenta que o Direito está diretamente ligado a interesses e a


constelações de poder e que devemos identificar, entre outras coisas, já explicadas, as
diferenças temporais geradas pela reinvindicação de perdurabilidade e de repetibilidade de
todo o Direito. Lembrando, também, que a História do Direito possui um ritmo mais lento, se
comparado ao da História Política, portanto, quando analiso a legislação dos Terminais
Pesqueiros Públicos, implantada no início do século XXI, percebo que esta tem sua origem
em políticas organizacionais do final do século XX e que leva em consideração acordos e
convenções assinados pelo Brasil, isto é, pode-se afirmar que sua origem remonta a meados
do século XX.
Olhar para o passado da atividade pesqueira e para a sua participação na formação
territorial leva a pensar sobre a atuação da nova política legislativa de implantação dos
Terminais Pesqueiros Públicos. Se o Estado tem um papel definido e a corporação, também,
falta, a nosso ver, um “terceiro elemento, que forma o tripé da regulação, tal como a norma é
constituída por três elementos: o sistêmico, o repressivo e o comunicativo. Esse terceiro
elemento é o Homem, como indivíduo e, também, como coletividade”, indicado na leitura de
31

Antas Jr. (2005, Posição 3349) e na tentativa de entrelaçá-lo às necessidades da atividade


pesqueira:

O Homem é o centro da noção de mundial, enquanto o Estado é o objeto central do


internacional, e as firmas corporativas, do global. O processo de mundialização
“engloba a globalização” e não o contrário, como supõem muitos autores das
ciências aplicadas. Há espaços globais no interior de um território, há a intersecção
das redes, o espaço reticular, as verticalidades, mas não há um planeta globalizado.
Isto é uma antinomia. (idem)

Procurando o entendimento sobre o papel do Estado e de seu controle sobre o


território, por meio do poder e dos estratos temporais, proposto por Koselleck (2014),
retomamos este teórico.
Como a Geografia, a História analisa o papel da logística no contexto atual de
desenvolvimento do capitalismo, pautado na aceleração-tempo mundo? Seguindo essa linha
de raciocínio, é possível compreender a política nacional de pesca como um evento temporal,
em uma analogia com o que propõe Koselleck (2014), ao recortar as experiências e ao compor
os estratos do tempo, que podem ser colocados nos limites político, econômico e social e que,
neste sentido, contribuem para o avanço da História Social.
Para aprofundar as questões da interligação entre a política nacional dos Terminais
Pesqueiros Públicos (TPPs) e as normativas internacionais, tema que será tratado no próximo
item, torna-se necessária a compreensão do Estado como ponto inicial. Nesse sentido, Nicos
Poulantzas, em seu livro O Estado, o Poder, o Socialismo, ajuda no entendimento da noção de
organização e do papel do Estado, facilitando a construção da tese, relativamente à
reestruturação da atividade pesqueira. A esse debate sobre Estado, poder, política e
população, conexo à atividade pesqueira, somam-se os pensamentos de Claude Raffestin
sobre poder, expostos em seu livro Por uma geografia do poder, da década de 1980. Esta obra
encerra a preocupação de relacionar a problemática do poder com o Estado, através do olhar
geográfico, com um debate crítico sobre a Geografia política clássica, tocando em um ponto
fundamental desta tese: as relações entre recursos (renováveis e não renováveis) e o poder.
32

1.1 Os Terminais Pesqueiros Públicos e a ossatura do Estado

Tratando de Estado, existe um tema de grande importância, que é a distinção entre


territorialidade e gestão do território, que são “duas faces conflitantes de um só processo de
reorganização política do espaço contemporâneo”, segundo Becker (2010, p. 19).
A natureza do Estado, apresentada por Poulantzas (2000, p. 11), está relacionada ao
poder ou ao domínio político, revelando a dupla natureza do Estado. De um lado, há um
núcleo do Estado separado da luta de classes, com uma estrutura econômica e com medidas
puramente técnicas ou, melhor, puramente sociais. A segunda estrutura diz respeito à
existência de um superestado dentro do Estado, ou seja, um Estado de classe, que, nesse caso,
é o da burguesia e da dominação política. A compreensão desta dupla natureza do Estado é
fundamental nesta tese, para se identificar, não, somente, a política atual pesqueira, mas toda a
trajetória nacional normativa da atividade de pesca.
Poulantzas compreende o Estado e as suas estruturas e apresenta uma forma, que se
torna essencial para a tese, no que toca à temática da atividade pesqueira brasileira:

O Estado apresenta uma ossatura material própria que não pode de maneira alguma
ser reduzida à simples dominação política. O aparelho de Estado, essa coisa de
especial e por consequência temível, não se esgota no poder do Estado. Mas a
dominação política está ela própria inscrita na materialidade institucional do Estado.
Se o Estado não é integralmente produzido pelas classes dominantes, não o é
também por elas monopolizado: o poder do Estado (o da burguesia no caso do
Estado capitalista) está inscrito nesta materialidade. Nem todas ações do Estado se
reduzem à dominação política, mas nem por isso são constitutivamente menos
marcadas. (POULANTZAS, 2000, p. 12)

Para empreender um debate mais amplo entre Estado e poder, Poulantzas (2000, p. 13)
coloca que devemos procurar o fundamento da ossatura material do Estado (suas estruturas)
nas relações de produção e na divisão social do trabalho. Como ponto crucial da pesquisa, as
Colônias de Pescadores foram desenvolvidas e implantadas como uma parte da estrutura do
Estado, e a reestruturação da atividade pesqueira, pela adoção dos Terminais Pesqueiros
Públicos, molda a pesca nacional, novamente, fazendo-a parte da ossatura do Estado.
Ainda na construção de um raciocínio sobre as políticas dos TPPs, podemos construir
um analogia com a conjectura de Poulantzas (2000, p. 15) sobre a ossatura do Estado, em que
o autor apresenta a concepção de uma “teoria geral da economia, enquanto objeto
epistemologicamente isolável, teoria do funcionamento trans-histórico do espaço econômico”,
33

pela qual as diferenciações do objeto-economia, em diversos modos de produção, estariam


ilustrando somente as metamorfoses internas de um espaço econômico autorregulado.
Para Poulantzas, o Estado, como objeto epistemológico:

[...] deve possuir limites inalteráveis que lhe seriam atribuídos por exclusão, fora dos
limites intemporais da economia. As fronteiras intrínsecas do objeto-economia,
realidade auto reproduzível do interior por força de suas leis internas, tende às
fronteiras intrínsecas do exterior, isto é, do estado, espaço imutável, pois que
envolve o próprio espaço imutável da economia. (POULANTZAS, 2000, p. 15)

Em um Estado capitalista, Poulantzas (2000, p.17) explica que a base da ossatura


institucional está relacionada à produção capitalista, que transforma a força de trabalho em
mercadoria e o excesso de trabalho em mais-valia, gerando a relação Estado capitalista e
economia, embora com relativa separação. Por essa perspectiva, na pesquisa, apoiando-me em
Poulantzas (2000), observo que as estruturas dos Terminais Pesqueiros Públicos,
centralizadores da produção local e distribuidores para os demais mercados, poderão fazer
parte da ossatura do Estado, sim.
Outro ponto importante, trabalhado por Poulantzas (2000, p 24), é o da ligação entre o
Estado e as relações de produção, que se constitui na primeira afinidade do Estado capitalista
com as classes sociais. Com isso:

[...] o Estado capitalista, a separação relativa das relações criadas pelas relações de
produção constitui o fundamento organizacional de sua ossatura orgânica e revela
sua ligação com as classes sociais e a luta de classes sob o capitalismo.
(POULANTZAS, 2000, p. 25)

Enfim, esta é a primeira atuação do Estado na formação e na reprodução das classes


sociais, em suma, na luta de classes. Segundo Poulantzas (2000, p 26): “Em outras palavras,
situar o Estado em sua ligação com as relações de produção é delinear os contornos primeiros
de sua presença na luta de classes”. Podemos dizer que o Estado capitalista tem várias ações:
ele é capaz, em sua materialidade, de renovar ou de disciplinar o povo, através das leis, ou
melhor, por meio das leis, o Estado adestra, arregimenta, os corpos ou, nas palavras de
Poulantzas (2000, p 28): “o Estado defende, proíbe e/ou ilude.”
Segundo Poulantzas (2000, p 48), a separação entre Estado e economia é, na verdade,
a separação do Estado e da sociedade civil. Mas o que é a sociedade civil? Consiste em uma
associação contratual de sujeitos jurídicos individualizados. Essa separação reduz a um
mecanismo ideológico, localizado no âmago das relações mercantis: o famoso fetichismo da
mercadoria.
34

O Estado capitalista hierárquico-burocrático supõe, necessariamente, uma


organização:

[...] particular do espaço político sobre o qual exerce o poder. O Estado


(centralizado, burocratizado etc.) instaura essa atomização e representa (Estado
representativo) a unidade do corpo (povo-nação), fracionando-o em mônadas 8
formalmente equivalentes (soberania nacional, vontade popular). A materialidade
desse Estado é, sobre um corpo social fracionando, homogêneo em sua atomização,
desde o exército moderno à administração, à justiça, à prisão, à escola, as mídias etc.
(POULANTZAS, 2000, p. 61)

O papel do Estado não é o de imprimir uma ideologia dominante, mesmo quando


materializada em práticas, mas de contribuir, para criar individualidades, por um conjunto de
técnicas de saber e de práticas de poder, de acordo com Poulantzas (2000).
Para este autor, a lei é outro ponto importante, que sempre estará presente na ordem
social. A lei “detém um papel importante (positivo e negativo) na organização da repressão,
ao qual não se limita; é igualmente eficaz nos dispositivos de criação do consentimento”
(POULANTZAS, 2000, p. 81). Ela concretiza a ideologia dominante: “a lei-regra, por meio
de sua discursividade e textura, oculta as realidades político-econômicas, comporta lacunas e
vazios estruturais” (idem). Outro ponto é o da ocultação-inversão da cena política, ou seja, a
lei acaba refletindo a representação imaginária da sociedade e do poder da classe dominante.
Tal compreensão da lei aplicada e construída pelo Estado, apresentada por Poulantzas
em seu trabalho, é fundamental, para entender o processo ocorrido com a atividade pesqueira
brasileira no decorrer desta tese, seja no início do século XX, seja pelas atuais propostas
legislativas, do início do século XXI.

Muitas das ações do Estado que ultrapassam seu papel repressivo e ideológico, suas
intervenções econômicas e sobretudo os compromissos materiais impostos pelas
classes dominadas às classes dominantes, uma das razões do consentimento, vêm
inscrever-se no corpo da lei, fazendo parte da sua estrutura interna. A lei apenas
engana ou encobre, reprime, obriga a fazer ou proibindo. Também organiza e
sanciona direitos reais das classes dominadas (claro que investidos na ideologia
dominante e que estão longe de corresponder em sua aplicação à sua forma jurídica)
e comporta os compromissos materiais impostos pelas lutas populares às classes
dominantes. (POULANTZAS, 2000, p. 82)

Para Poulantzas (2000, p. 85), a lei moderna incorpora espaço-tempo em um quadro de


referência material do processo de trabalho: espaço/tempo serial, cumulativo, contínuo e

8
Mónada, ou mônada, é um conceito-chave na filosofia de Leibniz. No sistema filosófico deste autor, significa
substância simples ‒ do grego μονάς, μόνος ‒, que se traduz por "único", "simples". Como tal, faz parte dos
compostos, sendo ela própria sem partes e, portanto, indissolúvel e indestrutível.
35

homogêneo. A lei “transforma os indivíduos em sujeitos-pessoas jurídico-políticas, ao


representar a unidade como povo-nação”.
Essa passagem do indivíduo para uma figura do “povo-nação” gera, em muitos casos,
um conflito de identidade, como observado por Villar (1945), quanto aos pescadores, durante
a implantação das Colônia de Pescadores, e, em hipótese, na proposta de criação dos
Terminais Pesqueiros Públicos.
A respeito da relação entre a lei e o sistema jurídico, Poulantzas ainda complementa:

Esta especificidade da lei e do sistema jurídico está inscrita na ossatura institucional


próprio do Estado capitalista. O arcabouço centralizador-burocrático-hierárquico
desse Estado só é possível em si porque se calca num sistema de normas gerais,
abstratas, formais e axiomatizadas, sistema esse que organiza e regula as relações
entre os escalões e aparelhos impessoais de exercício do poder. O que se designa sob
o termo “direito administrativo” corresponde exatamente a esta lei em seus efeitos
de estruturação do Estado. (POULANTZAS, 2000, p. 87)

Retomando a questão da relação Estado e economia, Poulantzas (2000, p. 170) afirma:


“O Estado se reorganiza, atualmente, em relação ao seu papel econômico”, tendo consciência
de que esse ponto tem valor, além de suas medidas ideológico-repressivas, cuja “ação na
normalização disciplinar, a estruturação do espaço e do tempo, o estabelecimento de novos
processos de individualização e de corporalidade capitalistas, para a elaboração de discursos
estratégicos e para a produção da ciência”. Tal acaba mudando as estruturas institucionais e
afetando todo o aparelho do Estado, que tem, como fio condutor, seu papel econômico. Esse
fenômeno, demonstrado por Poulantzas (2000), também pode ser delineado nas estruturas
físicas e normativas propostas para os Terminais Pesqueiros Públicos, as quais buscam, não,
somente, mudar a ossatura do Estado, quanto à organização da atividade pesqueira nacional, a
partir da local, mas, também, alterar individualmente a relação do pescador com o mercado,
empoderando mais ainda o capitalista, dentro da parceria público-privada.
Para Raffestin (1993, p. 6), é a relação de poder que merece destaque, pois “não é nem
uma categoria espacial, nem uma categoria temporal, mas está presente em toda a ‘produção’,
que se apoia no espaço e no tempo”. Com isto, “o poder não é fácil de ser representado, mas
é, contudo, decifrável” (idem). Raffestin (1993) ainda ressalta que: “o poder estatal é tratado
como um fato evidente, que não precisa de explicação, uma vez que se encontra nas
cristalizações espaciais, que manifestam suficientemente a sua ação” (idem). Um dos pontos
que justifica essa alegação é o de que “os sistemas de fluxos diversos, que, na origem do
poder estatal, contribuem para elaborar essas formas, não são muito bem descritos e
explicados” (RAFFESTIN, 1993, p. 17). Seguindo nesta linha de raciocínio, uma das grandes
36

preocupações desta tese é tentar identificar as relações de poder, que possibilitaram a criação
da legislação e a implantação das políticas voltadas à atividade pesqueira, principalmente,
aquelas ligadas à implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos e suas influências
internacionais, a partir dos acordos e das convenções construídos.
A respeito do poder político, Raffestin escreve:

Admitimos que há poder político desde o momento em que uma organização luta
contra a entropia que a ameaça de desordem. Esta definição nos faz descobrir que o
poder político é congruente a toda forma de organização. Ora, a geografia política,
no sentido estrito do termo, deveria levar em consideração as organizações que se
desenvolvem num quadro espaço-temporal que contribuem para organizar ou... para
desorganizar. (RAFFESTIN, 1993, p. 18)

Raffestin (1993, p. 19) lembra que, por muito tempo, esse poder político ou, melhor, o
estudo dele, pela geopolítica, estava vinculado diretamente ao estudo de uma Geografia
aplicada ao Estado, herança de um período de estudo de estados totalitários. Mas ele mostra
que, de modo genérico, ainda que com algumas exceções, a Geografia Política do século XX
foi uma Geografia do Estado. Uma contribuição, para mudar esse panorama, foram os estudos
da Geografia do Estado “construída a partir de uma linguagem, de um sistema de sinais, de
um código que precede do Estado” (RAFFESTIN, 1993, p. 22).
Para explicar a Geografia do Estado, Raffestin (1993) observa:

O Estado, neste caso, é o Estado-nação, o mesmo que a cisão política da Revolução


Francesa fez emergir. Em suma trata-se, portanto, de um fenômeno recente, que não
tem mais que dois séculos. Mas nem todos os Estados são Estados-nação, mesmo
que o Estado seja tomado como a expressão política da nação, é o Estado na
qualidade de ser político que é, de início definido. Se há um conceito sobre o qual os
geógrafos concordam é com certeza o da definição do Estado. O estado existe
quando uma população instalada num território exerce a própria soberania. Portanto,
três sinais são mobilizados para caracterizar o Estado: a população, o território e a
autoridade. Toda a geografia do Estado deriva dessa tríade. (RAFFESTIN, 1993, p.
22)

A existência do Estado vinculado à população tem alguns pontos interessantes, nas


palavras de Raffestin (1993, p. 26): “na Geografia do Estado, a população perde seu
significado próprio, isto é, é concebida e, não, vivenciada. Ela só tem significado pela ação do
Estado”. Pode-se fazer uma analogia, para visualizar tal impacto no contexto de vida do
pescador, relatado por Villar (1945), que perde sua identidade e que passa a ser moldado pelo
Estado, por meio de uma legislação autoritária, no início do século XX.
37

Segundo Raffestin (1993, p. 39), na “Geografia Política clássica, o Estado é o ator


privilegiado”, pois, para ele, existe uma forma mais elaborada de organização, na escala de
atores:

Para não cair na análise micrológica, consideramos os grupos primários, tal como o
Estado, e os grupos secundários, que podem ser organizações de tipos bem diversos.
Mas o Estado é uma organização como qualquer outra; simplesmente está investido
de um peso enorme. Etzioni o mostrou bem: nossa sociedade é uma sociedade de
organização. Nascemos em organizações, fomos educados por organizações e a
grande maioria de nós consagra uma grande parte de sua existência a trabalhar para
organizações. E, se é verdade que a maior das organizações é o Estado ele não é a
única: As organizações canalizam, bloqueiam, controlam, ou seja, domesticam as
forças sociais. Essa observação é muito significativa, pois exprime de uma só vez o
jogo das organizações no espaço e no tempo. [...] Domesticar é, portanto, encerrar
numa rede, numa malha em que todas as partes estão debaixo do olhar. Mas por
quê? Porque toda organização é ameaçada, seja de dissolução interna, seja de
regressão por causa da concorrência das outras organizações. O Estado só recorta o
espaço em malhas mais ou menos cerradas por uma única razão: deve encontrar a
“malha” mais adequada para, levando em consideração os meus meios, “ver” o
melhor possível. (RAFFESTIN, 1993, p. 39)

Raffestin (1993, p. 53) relaciona alguns pontos, que podem ajudar a identificar e a
compreender a natureza do poder nesta tese e, subsequentemente, a natureza das políticas
voltadas ao setor da pesca: “o poder não se adquire; é exercido, a partir de inumeráveis
pontos”. Nesse sentido, temos que entender que “as relações de poder não estão em posição
de exterioridade, no que diz respeito a outros tipos de relações (econômicas, sociais, etc.), mas
são imanentes a elas” (idem); que a origem “do poder vem de baixo, não há uma oposição
binária e global entre dominador e dominados” (idem); que “as relações de poder são,
concomitantemente, intencionais e não subjetivas” (idem); e, por fim, que “onde há poder há
resistência e, no entanto, ou por isso mesmo, esta jamais está em posição de exterioridade, em
relação ao poder” (idem).
Apesar das inserções do teórico facilitarem o entendimento da natureza do poder,
temos que ter claro que o enquadramento conceitual de poder é extremamente difícil, pois ele
“brota de estruturas profundas e, não, de estruturas de superfície”. Por isso, não se pode,
simplesmente, analisar os Terminais Pesqueiros Públicos, sem compreender todo o processo
político que os antecedeu.
Com essa problemática, ligada à identificação e à conceituação do poder, acaba se
tornando “inútil distinguir um poder político, econômico, cultural, etc., sendo toda relação um
lugar de poder”, pois o poder está “ligado intimamente à manipulação dos fluxos, que
atravessam e que desligam a relação, a saber: a energia e a informação”. Raffestin (1993, p.
54) vai além, afirmando que o “espaço-tempo relacional é organizado pela combinação de
38

energia e de informação” e que o laço entre “o poder e o saber é evidente, mas não há nem
informação pura nem energia pura”, ressaltando, ainda, que, para termos uma informação,
seja oral, seja escrita, seja de qualquer outra natureza, precisamos de uma quantidade de
energia, para que a comunicação tenha lugar.
Na busca por analisar e por compreender o poder, faz-se necessário notar alguns
aspectos:

O poder coercitivo está baseado na aplicação de sanções físicas, o poder


“remunerador” (rémunérative) está fundado sobre o controle dos recursos materiais,
sobre a destinação de salários ou gratificações, enquanto o poder normativo se funda
sobre a manipulação de recursos simbólicos. Em outros termos, pode-se dizer que o
poder, quanto aos meios mobilizados, é definido por uma combinação variável de
energia informação. Com esses dois elementos presente, é possível dizer que há
poderes com forte componente energético ou, inversamente, poderes com forte
componente informacional. (RAFFESTIN, 1993, p. 55)

Ainda tentando compreender o poder, a partir de Raffestin (1993, p. 56), e


relacionando o poder ao trabalho, pois é no trabalho que ele se enraíza, “as relações de poder,
aquelas mesmas derivadas do trabalho, são imanentes a outras relações: a alienação do
trabalho apodrece todas as demais relações sociais”. Com isso, a relação do poder é
“intencional e, não, subjetiva, uma vez que a transformação pelo trabalho não se concebe, sem
uma intencionalidade e que a não subjetividade é evidente”, pois a organização à qual o
trabalho 9 está recolhido ultrapassa e, ao mesmo tempo, dá significado ao sujeito.
Para Raffestin (1993, p. 67), é importante entendermos a questão que relaciona
população e domínio do poder, em que a população é uma definição de totalidade, como uma
coleção de seres humanos. Esse conjunto finito é possível de ser recenseado e permite que se
possa criar uma imagem relativamente precisa. Essas contagens são fundamentais, pois
permitem ao Estado fazer um levantamento do recurso humano fundamental, para, a partir
dessa informação sobre um grupo, compor estratégias para exercer o domínio sobre ele:

A organização não só manipula a vida, mas também a morte, para assegurar o seu
domínio sobre a população. Aliás, no século XX o poder descobriu que, para atingir
os seus objetivos, algumas vezes era necessária a eliminação física em grande
escala. A revolução Industrial matou gerações inteiras para chegar às suas
finalidades. Não falamos de genocídio, sem dúvida, mas aqui se trata da morte lenta

9
Apropriar-se do trabalho significa destrui-lo ou, mais exatamente, submetê-lo a uma dicotomia e separar a
energia da informação: apropriar-se de uma e/ou de outra. No fundo, é impedir o homem de dispor de uma e de
outra, ao mesmo tempo, o que, consequentemente, significa privá-lo de sua capacidade primitiva de
transformação. As organizações, ao separarem a energia da informação, no nível do trabalho, realizaram a
primeira fissura social. Desde então, a energia liberada pode ser combinada com outra informação, resultado de
uma acumulação anterior, e com outras energias. Isso significa que o trabalho deixou de ser uma entidade com
suas duas faces, pois as duas faces foram “deslocadas”, “destacadas” (RAFFESTIN, 1993, p. 57).
39

de crianças, homens e mulheres nas fábricas. Há uma geografia da vida, como há


uma da morte. Mas o poder não tem por único objetivo aumentar ou diminuir o
estoque; ele se interessa também pela repartição, pela distribuição desse estoque no
espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 79)

Dentro desse controle da população, temos o controle do número de pessoas no


mercado de trabalho. Esse controle possibilita a que o mercado permaneça com salários em
níveis baixos, tornando estruturas centralizadoras locais um bom exemplo de controle
centralizado da produção e do preço, como observado na leitura aprofundada da legislação
dos Terminais Pesqueiros Públicos.
Não me deterei na questão linguística, mencionada por Raffestin (1993, p. 97), mas
gostaria de destacar a principal ideia: “a língua, sem nenhuma dúvida, é um dos mais
poderosos meios de identidade de que uma população dispõe. Contudo, devemos lembrar que
a linguagem possui uma relação de poder, pois é possível encontrar muitos atores para os
quais a língua é um instrumento 10 de ‘poder’”.
Pensando na estrutura atual da atividade pesqueira, na qual a informação é precarizada
e mal distribuída, a linguagem adquire um lugar fundamental, pois, mesmo que a informação
chegue, ela tem que ser compreendida. Mas a quem importa essa linguagem da informação,
ou a língua utilizada para a mesma? Raffestin pode ajudar a compreender esse ponto da tese:

É natural que a integração das diferentes áreas dialetais pela promoção de uma
língua única faça crescer as possibilidades de controle e de gestão de uma
organização central sobre as coletividades periféricas. A partir daí é possível
visualizar a criação de transmissores centrais de informação e controlar a informação
que circula. Tudo saber, tudo ver, eis aí o objetivo de qualquer organização. A
língua única pode ajudar nisso. É, em todo o caso, uma das condições para aí chegar.
Além de que, se a distribuição e a coleta de informação são centralizadas, há
economia de meios, portanto de energia, mas no mesmo tempo há a marginalização
ou a eliminação da informação que não passa pelos canais autorizados. O poder da
organização cresce à medida que há a marginalização ou a eliminação da informação
que não passa pelos canais autorizados. O poder da organização da informação que
não cresce à medida que há diminuição dos modelos culturais à disposição, mas, ao
mesmo tempo, decresce o poder das coletividades cujos modelos desaparecem.
Existe uma relação de tensão constante entre a organização periféricas, que tentam
emitir mensagens específicas. (RAFFESTIN, 1993, p. 110)

Com Koselleck (2014), discuti as questões de tempo e de espaço. O espaço era tratado
como uma totalidade e seu interesse era debater a questão do “espaço histórico”. Com
Raffestin, entro na questão geográfica do espaço, cuja lógica é, igualmente, a da totalidade.

10
É metafórico definir a linguagem como um instrumento, porque ela tem muito mais utilizações do que, em
geral, tem um instrumento. Assim como se fala em instrumento, fala-se também de função. Função de
comunicação, de organização do real e de transmissão. Na qualidade de instrumento, a língua pertence à
cultura (aqui, em seu sentido antropológico) e pode ser definida como “o conjunto de toda a informação não
hereditária e dos meios para sua organização e sua conservação”. (RAFFESTIN, 1993, p. 97)
40

Como estamos tratando de poder, o ponto, agora, é o território, visto como uma forma, a partir
do espaço, que resulta de uma ação conduzida por um ator sintagmático 11, em qualquer nível.
“É um espaço, em que se projetou um trabalho, seja energia, seja informação, e que, por
consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a ‘prisão original’ e o
território é a prisão que os homens constroem para si” (RAFFESTIN, 1993, p. 143).

A representação proposta aqui é, portanto, um conjunto definido em relação aos


objetivos de um ator. Não se trata, pois do “espaço”, mas de um espaço construído
pelo ator, que comunica suas intenções e a realidade material por intermédio de um
sistema sêmico. Portanto, o espaço representado não é mais o espaço, mas a imagem
do espaço, ou melhor, do território visto e/ou vivido. É, em suma, o espaço que se
tornou o território de um ator, desde que tomado numa relação social de
comunicação. (RAFFESTIN, 1993, p. 147)

Quanto às questões território/territorialidade, Raffestin (1993, p. 158) mostra uma


perspectiva, através da qual o valor adquirido é bem particular e “reflete a
multidimensionalidade do ‘vivido’ territorial, pelos membros de uma coletividade, pela
sociedade em geral”. As pessoas vivem, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto
territorial, através de sistemas de relações existentes e/ou produtivistas. Todas as relações
acabam sendo de poder, principalmente, pelas interações entre os atores, que procuram
modificar, tanto as relações sociais quanto as naturais, o que pode ser visto claramente nas
estruturas da atividade pesqueira.
Outro ponto debatido por Raffestin é o da hierarquização territorial: “A geopolítica vê
o poder territorial hierarquizado: o poder vem do alto e o poder se apoia em áreas, cujas
posições relativas permitem ao Estado controlar o meio. O Estado, com maiúscula, é o único
ator que a geopolítica leva em consideração” (RAFFESTIN, 1993, p. 199). Portanto, uma das
críticas de Raffestin é a de que a geopolítica costuma confrontar o poder, sempre, de cima
para baixo. Para solucionar essa unidimensionalidade da geopolítica, o autor propõe a
Geografia Política do poder.
Um último ponto a ser ressaltado, a partir das problemáticas apresentadas por
Raffestin (1993, p. 227), tem um grande valor para esta tese, permitindo relacionar a técnica
da atividade pesqueira com o seu debate:

[...] a tecnicidade nos introduz diretamente na esfera do poder, e tanto mais quando
ela exprime relações de poder não somente com a matéria, mas também com os

11
Diz-se da relação entre unidades da língua, que se encontram contíguas na cadeia da fala e que não podem se
substituir, mutuamente, pois têm funções diferentes (p. ex., em céu azul e em eles chegaram ocorre a relação
entre céu e azul e entre eles e chegaram).
41

homens para os quais essas matérias é um trunfo. A produção dos recursos supõe,
pois, uma dominação mínima de uma porção do quadro espaço-temporal dentro do
qual, e para o qual, a tecnicidade interage com a territorialidade. A relação com a
matéria é portanto, ipso facto, uma relação com o espaço e com o tempo.
(RAFFESTIN, 1993, p. 227)

Para Raffestin (1993, p. 267), o “poder” só sobrevive nas relações; o objeto da


Geografia Humana não é, para ele, o “espaço”, mas a prática e o conhecimento que os homens
têm dessa realidade, a qual chamamos espaço.
Retomando Becker (2010, p. 18), a territorialidade e o poder do Estado, juntamente
com a questão da revolução tecnológica, principalmente, na segunda metade do século XX,
possibilitaram avanços, pela introdução de novas técnicas de produção, que acabaram gerando
novas organizações sociais no contexto da reestruturação do sistema econômico.
Como Raffestin (1993) já mencionou, é muito importante compreender quais são os
atores envolvidos com o “poder”. Becker (2010, p. 19) ressalta a hipercentralização do poder,
pelas multinacionais, principalmente, em relação ao domínio das novas técnicas cientificas,
que, com sua escala e com seu ritmo de instrumentalização do espaço e do tempo, acaba
retirando da sociedade a sua capacidade de autorregulação, o que favorece à compreensão da
proposta dos Terminais Pesqueiros Públicos na legislação, cuja centralidade não está no
pescador e em suas estruturas, mas no estabelecimento de parcerias público-privadas com
grandes empresas nacionais e multinacionais. “No momento em que se privilegiam as
relações multidimensionais do poder, privilegiam-se a prática espacial e o território; não,
apenas, as do Estado-Nação, mas, também, as dos diferentes atores sociais” (BECKER, 2010,
p. 19).
Outro ponto levantado por Becker (2010, p. 19) diz respeito à importância de
distinguir territorialidade e gestão do território, que são “duas faces conflitantes de um só
processo de reorganização política do espaço contemporâneo”.
Nesse sentido, para Becker (2010, p. 19), território pode ser explicado como “um
produto usado, vivido pelos atores, utilizado como meio para prática”, ideia que se assemelha
à de Raffestin, que observa que a territorialidade é a face vivida do poder, manifestada em
todas as escalas e fundamentada na identidade, ao passo que a malha territorial vivida “é uma
manifestação das relações hegemônicas de poder”.
Quanto ao entendimento da gestão territorial, segundo Becker (2010, p. 20), tal
problemática “é um conceito associado à modernidade: é prática estratégica, científico-
tecnológica, que dirige, no tempo, a coerência de múltiplas decisões e de ações, para atingir
uma finalidade”, tornando-se algo estratégico, como a realidade das relações de poder. Ainda,
42

para Becker (2010), a gestão territorial “pode articular e instrumentalizar múltiplas decisões
coerentemente, no espaço-tempo”. Tal proposta pode ser aplicada nesta tese e se coloca no
cerne dos TPPs, cuja justificativa de implantação é a nova gestão produtiva, resultando em
uma prática estratégica, principalmente, na questão alimentar, com a adoção de melhorias
científico-tecnológicas às ações dos pescadores, em seu cotidiano.
Outro ponto são as articulações das escalas, que permitem relações de poder, como
“princípio organizador da análise geopolítica, as escalas geográficas, entendidas como arenas
políticas dinâmicas e articuladas, permitem quebrar compartimentações fossilizadas do
espaço” (BECKER, 2010, p. 21).
Para Becker (2010, p. 22), outro ponto importante, que se pode ressaltar na tese,
encerra os debates, ligados à implantação dos TPPs: “o planejamento, para ser bem-sucedido,
deve focalizar problemas bem definidos e delimitados. As novas territorialidades têm, assim,
que ser reconhecidas como um componente a ser fortalecido, para o desenvolvimento regional
sustentável”, descontruindo as antigas territorialidades.
Como os TPPs são políticas públicas construídas pelo Estado, em uma possível
relação de poder vertical com provável unilateralidade, demostrando uma imaginável questão
de poder, baseada na construção legislativa, mesmo respeitando todos os trâmites de Direito.
Para melhor compreender esse ponto da tese, busco em Weber o sentido dos conceitos de
“poder” e de “Estado”, pretendendo vislumbrar uma possibilidade de debate, a partir do
próximo subitem.

1.2 O Estado e o Direito

A questão do poder é ponto fundamental no entendimento das políticas públicas


voltadas à atividade pesqueira, considerando o debate sobre o espaço e sobre os seus usos, a
partir de Weber 12. Para este autor, o “poder” impõe sua vontade numa relação social, mesmo
contra resistências. Os conceitos que melhor representam o poder são o de “dominação” e o
de “disciplina”.
Tais conceitos formam uma questão central no impacto dos TPPs na organização
espacial brasileira, considerando a atividade pesqueira, em sua grande variedade de esferas,

12
Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva, de Max Weber, edição em português de
2009.
43

seja de indivíduos, seja de recursos pesqueiros. Quem ressalta bem este aspecto é Santos13,
com sua teoria dos circuitos da economia, colocando uma luz sobre a problemática da pesca.
Mas o que são dominação e disciplina, em Weber, e como estes conceitos impactam a
atividade pesqueira brasileira?

É a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo,


entre determinadas pessoas indicáveis; disciplina é a probabilidade de encontrar
obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem, entre uma pluralidade
indicável de pessoas, em virtude de atividades treinadas.
1. O conceito de “poder” é sociologicamente amorfo. Todas as qualidades
imagináveis de uma pessoa e todas as espécies de constelações possíveis podem pôr
alguém em condições de impor sua vontade, numa situação dada. Por isso, o
conceito sociológico de “dominação” deve ser mais preciso e só pode significar a
probabilidade de encontrar obediência a uma ordem.
2. O conceito de “disciplina” inclui o “treino” na obediência em massa, sem crítica
nem resistência. (WEBER, 2009, p. 33)

Para Weber (2009, p. 34), a dominação está sempre ligada à presença efetiva de
alguém mandando em outro(s) alguém(ns), mas, não, necessariamente, à existência de um
quadro administrativo. É claro que, para ele, a associação política não necessita
primeiramente de uma coação física, como único meio, mas tal pode se tornar uma
possibilidade.

Nem toda dominação se serve de meios econômicos. E ainda muito menos tem fins
econômicos. Mas toda dominação de um a pluralidade de pessoas requer
normalmente (não invariavelmente) um quadro de pessoas, isto é, a probabilidade
(normalmente) confiável de que haja uma ação dirigida especialmente à execução de
disposições gerais e ordens concretas, por parte de pessoas identificáveis com cuja
obediência se pode contar. Esse quadro administrativo pode estar vinculado à
obediência ao senhor (ou aos senhores) por costume ou de modo puramente afetivo,
ou por interesses materiais ou por motivos ideais (racionais referentes a valores). A
natureza desses motivos determina em amplo grau o tipo de dominação. [...]
Conforme ensina a experiência, nenhuma dominação contenta-se voluntariamente
com motivos puramente materiais ou afetivos ou racionais referentes a valores,
como possibilidades de sua persistência. (WEBER 2009, p. 139)

Weber apresenta três tipos de dominação legítima:

1. De caráter racional: baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do


direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para
exercer a dominação (dominação legal), ou;
2. De caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições
vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições,
representam a autoridade (dominação tradicional, ou, por fim;
3. De caráter carismático: baseada na veneração extracotidiana da santidade, da
santidade, do poder heroico ou do caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por
esta reveladas ou criadas (dominação carismática). (WEBER, 2009, p. 141)

13
O espaço dividido, de Milton Santos, em edição de 2004.
44

Outra questão de dominação demostrada por Weber (2009, p. 141) é a da dominação


baseada em estatutos, através da qual se obedece à ordem impessoal, objetiva e legalmente
estatuída e aos superiores por ela determinados, em relação à legalidade formal.
Essas questões me levam a pensar sobre como o cotidiano do pescador foi moldado,
no início do século XX, pelas necessidades do Estado, levando ao controle da atividade
pesqueira, até os dias de hoje, nos quais, mesmo após a Constituição de 1988, pela qual as
Colônia de Pescadores tiveram mais autonomia, igualando-se aos sindicatos, não é visível
uma maior coesão, a nível nacional, que possa articular os movimentos de pescadores, a ponto
de possuírem capacidade inclusiva, seja no poder legislativo, seja no executivo. Aos olhares
dos indivíduos e da sociedade, o Estado permanece como um poder de mando, na figura de
governo e de dominação. Nesse ponto, vemos a questão da autoridade, que é intrínseca ao
Estado.
Contudo, o Estado não é imutável e, sim, possui uma forma dinâmica social e uma
forma política da socialidade. No aspecto jurídico, o Estado é um sistema de direito, uma
ordem jurídica.
No Direito Internacional, o território não precisa ser contínuo, como, por exemplo, é
reconhecida a jurisdição dos estados sobre a faixa de água situada entre as respectivas costas e
o alto-mar, denominada águas territoriais, que é um exemplo importante, para a compreensão
dos limites marinhos e do impacto da atividade pesqueira.
Outra questão interessante é a da relação entre poder, Estado e pessoas (população,
povo ou nação), pois o Estado pode exercer o poder diretamente sobre o território e, como
consequência disso, também o exerce sobre as pessoas. Como explicar as situações
extraterritoriais (por exemplo, navios em alto-mar)? Então, existe outro lado, no qual o Estado
exerce seu poder diretamente sobre as pessoas e só através delas é que seu poder atinge o
território 14. A competência do Estado, o que ele deve ou não fazer, não é uma unanimidade:
uns entendem que o Estado deve e pode fazer quase tudo; outros afirmam que ele deve reduzir
suas atividades ao mínimo e, com isso, deixar as atribuições dos indivíduos no máximo.
Chega-se a cogitar o fim do Estado, inclusive. Em qualquer das opções, o Estado sempre tem
uma única finalidade: realizar o bem público.
O poder do Estado é formado pela função legislativa, pela executiva e pela judiciária.
Toda atividade estatal é regida por normas e por preceitos gerais e permanentes. O conjunto
de normas e de preceitos é dominado, amplamente, pelo Direito, que dispõe sobre a

14
Azambuja (2006, p. 47).
45

organização do próprio Estado, dando base a construir e a reconstruir a atividade pesqueira, a


nível nacional, e, conseguintemente, impactar toda uma parcela de seus cidadãos
(pescadores).
Para compreender melhor essa relação do Estado com seu território, é necessário,
primeiramente, entender que o espaço de um país subdesenvolvido é marcado por “enormes
diferenças de renda na sociedade, que se exprimem, no nível regional, por uma tendência à
hierarquização das atividades e, na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma
natureza, mas de níveis diferentes”, como explica Santos (2004, p. 21), gerando o que ele
denomina circuitos da econômica.
Mas o que são os circuitos da economia, para Santos (2004, p. 22)? Primeiramente, ele
acredita que os espaços urbanos não podem ser vistos como uma “máquina maciça”. Portanto,
estes se dividem em subsistemas, os quais, para facilitar a compreensão, são denominados de
“circuito superior” ou “moderno” e “circuito inferior”.

O circuito superior originou-se diretamente da modernização tecnológica e seus


elementos mais representativos hoje são os monopólios. O essencial de suas relações
ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e tem por cenário o país ou o
exterior. O circuito inferior, formado de atividades de pequena dimensão e
interessado principalmente às populações pobres, é, ao contrário, bem enraizado e
mantém relações privilegiadas com sua região. (SANTOS, 2004, p. 22)

Há que se ter em mente que os circuitos, principalmente, o inferior, são uma questão
muito mais ampla do que uma simples análise de mercado. Portanto, a política dos TPPs não
pode estar vinculada, somente, à estocagem e à comercialização de pescado.

A questão não se reduz ao simples estudo dos mercados, mas deve fazer-se em
termos de sistema ou, antes, como um subsistema dentro do comércio em geral.
Pode-se ir mais longe ainda estudando o fenômeno do mercado no seu contexto,
como um subsistema do sistema geral de relações espaciais, do qual a cidade é um
dos centros ou um dos elementos. Por outro lado, o comércio é apenas um dos
elementos desse subsistema. O circuito inferior compreende as atividades de
fabricação tradicional, como o artesanato, assim como os transportes tradicionais e a
prestação de serviços. (SANTOS, 2004, p. 22)

Considerando Santos (2004, p. 29), a abordagem em circuitos é útil por diversas


razões: primeiramente, permite datar os fenômenos e levar em conta a sua origem. Na pesca, é
possível fazer uma análise aprofundada da denominada pesca artesanal, que se encontra no
circuito inferior, trazendo à lume sua evolução e sua situação atual, dentro do sistema.
46

Outro ponto de extrema importância, que Santos ressalta, é o da modernização, pelo


qual, no contexto desta pesquisa, é possível perceber que boa parte da justificativa para a
política dos Terminais Pesqueiros Públicos está pautada na modernização do setor.

Cada período é caracterizado pela existência de um conjunto coerente de elementos


de ordem econômica, social, política e moral, que constituem um verdadeiro
sistema. Cada um desses períodos representa uma modernização, isto é, a
generalização de uma inovação vinda de um período anterior ou da fase
imediatamente precedente. Em cada período histórico assim definido, as regiões
“polarizadas” ou centros de dispersão do poder estruturante dispõem de energias
potenciais diferentes e de diferentes capacidades de transformá-las em movimento.
A cada modernização, o sistema tende a desdobrar sua nova energia par os
subsistemas subordinados. Isso representa uma pressão para que, nos subsistemas
antigos, haja também modernização. No sistema “dominado”, aqui chamado
subsistema, as possibilidades de inovação estão abertas, assim, às mesmas variáveis
que foram objeto de modernização no sistema “dominante”. (SANTOS, 2004, p. 31)

Para Santos (2004, p. 35), o período atual é diferente dos anteriores, na questão da
modernização, por sua capacidade de inventar e de reinventar, pela existência de uma
aceleração da informação e pela ampliação do consumo de bens e de serviços, em países
subdesenvolvidos.
No caso do circuito inferior, apresentado por Santos (2004) nos países
subdesenvolvidos, torna-se difícil chamá-lo de tradicional, pois ele não é, somente, um
produto da modernização; ele está em constantes processos de transformação e de adaptação.
Além disso, o circuito inferior possui uma dependência, em relação ao circuito superior
(SANTOS, 2004, p. 39). Portanto, fazendo uma relação com o ocorrido na pesca artesanal,
observa-se que existe uma tradição nas formas de navegação, na preparação dos apetrechos
para pescaria, na relação de trabalho entre os pescadores, entre outros aspectos, mas não é
possível dizer que a pesca artesanal inscrita no circuito inferior é tradicional.
Para Santos (2004, p. 43), as diferenças fundamentais entre as atividades dos dois
circuitos residem na tecnologia e na organização empregadas em cada um. O circuito superior
é caracterizado por apresentar uma tecnologia importada e de alto nível, com “capital
intensivo”, enquanto o circuito inferior utiliza baixa tecnologia e é marcado por um “trabalho
intensivo”, sendo repetidamente local ou localmente adaptado ou recriado. Logo, para Santos,
o primeiro é imitativo, enquanto o segundo tem um potencial de criação considerável, o que
pode ser observado, dentro da atividade pesqueira artesanal, no circuito inferior.
Outro ponto destoante, entre os circuitos apresentados por Santos (2004, p. 46), é o do
lucro. No circuito superior, trata-se de “acumular capitais indispensáveis à continuidade da
atividade e à sua renovação, em função dos progressos técnicos”, como visto nesta pesquisa,
47

relativamente à pesca industrial, cujas grandes embarcações se aventuram na zona econômica


exclusiva e, algumas, em mar aberto. No circuito inferior, “a acumulação de capital não
constitui a primeira preocupação”; trata-se, em primeiro plano, da sobrevivência ou de melhor
assegurar a vida cotidiana da família, o que pode ser encontrado nos pequenos armadores e na
pesca artesanal.
Um ponto importante na interpretação dos dados de Santos (2004) diz respeito à
descrição da população do circuito inferior, os “pobres”:

Os pobres, na visão de nosso estudo, são aqueles que não tem acesso, de modo
regular, aos bens de consumo corrente considerados com o mínimo indispensável
numa certa sociedade. Muito raramente tem acesso ao crédito institucional e
representam o essencial da clientela dos pequenos estabelecimentos comerciais ou
artesanais, que oferecem crédito pessoal a taxa usurárias. Trata-se, em geral, dos
não-empregados e dos subempregados, mas também dos assalariados que recebem
muito pouco. (SANTOS, 2004, p. 50)

Mas por que os países subdesenvolvidos têm boa parcela de sua população nas
atividades ligada diretamente ou indiretamente ao circuito inferior? Santos tenta explicar tal
aspecto, a partir da questão da industrialização. Sabemos que existem diversos fatores, mas,
para este estudo, a explicação que segue é suficiente:

Esse processo de industrialização, os países hoje desenvolvidos não conheciam uma


redução (em porcentagem) da população ativa em relação à população total,
enquanto isso é a regra na maior parte dos países subdesenvolvidos. É que nos
primeiros as condições de industrialização criavam mais empregos do que a
população da cidade tinha capacidade de preencher, donde o apelo à mão-de-obra do
campo. Nos países subdesenvolvidos, uma industrialização com alto coeficiente de
capital atrai mais e mais pessoas, mas não é capaz de fornecer empregos suficientes.
É por isso que desde os primeiros momentos de sua modernização, as cidades dos
países subdesenvolvidos têm um terciário mais importante que o secundário, ao
contrário do que se passou nos países desenvolvidos, onde a expansão do setor
terciário foi mais tardia. De qualquer modo, o terciário dos países pobres é de outra
natureza: é um terciário “primitivo”, um terciário “refúgio”. (SANTOS, 2004, p. 71)

Outro ponto marcante, apresentado por Santos (2004, p. 89), referente à


industrialização, encaixa-se plenamente no entendimento desta tese, quanto ao setor pesqueiro
brasileiro: “o progresso tecnológico não atinge por igual os diferentes setores, já dotados de
características especificas, o que explica as diferentes dimensões das indústrias”. Em hipótese
a ser corroborada em muitos estudos, esse mesmo impacto poderá ser sentido pelos
pescadores, caracterizados pelo progresso tecnológico, ao qual são submetidos.
Um questionamento importante: como fica o Estado, em relação aos circuitos urbanos
regionais e locais? Para Santos (2004, p. 161), o Estado é um aliado do circuito moderno da
48

economia urbana, em países subdesenvolvidos, dando apoio à modernização tecnológica e


assumindo os mais variados papeis: “Esse apoio é oferecido, ora abertamente, ora de modo
mais discreto, mas leva invariavelmente ao agravamento da dependência externa do país e faz
a população sofrer as cargas ficais”. Tal posicionamento ocorre, em boa parte dos casos, sem
dar contrapartidas, sem melhorias na situação de emprego ou, ainda, sem uma melhora das
condições de bem-estar social.
Santos (2004, p. 162) ainda lembra que, atualmente, todos os Estados são modernos e
nenhum pode ficar de fora da vida internacional. Com isso, mesmo de Estados pequenos ou
pobres, são exibidas adaptações a um certo número de condições novas, seja nas políticas
internacionais, seja no comércio exterior, seja na moeda.
As políticas adotadas pelos Estados dos países subdesenvolvidos, junto com estruturas
monopolísticas, vêm criando, cada vez mais, uma situação de pobreza, na qual a “existência
do circuito inferior da economia urbana é uma das consequências principais dessa situação”,
segundo Santos (2004, p. 162).
Outro ponto importante a se entender é a questão do emprego. Mesmo que não haja
uma relação direta com a pesca em si, em muitos casos, os pescadores, em momentos
adversos, caracterizados pela impossibilidade de sair ao mar para pescar, podem se submeter a
atividades denominadas subempregados, no circuito inferior.

O emprego no circuito inferior é uma realidade difícil de definir, pois compreende,


tanto o trabalho mal remunerado como o trabalho temporário ou instável. Em que
critérios se apoiar para separar emprego e subemprego, de um lado, e subemprego e
desemprego, de outro? E que dizer do trabalho irregular? [...] no circuito inferior, só
haveria empregados ou desempregados jamais os não-empregados. Mas, como o
empregado de hoje pode ser o desempregado de amanhã, o uso das estatísticas
supõe, antes de tudo, o conhecimento dos dados estruturais da economia assim com
as regras de seu funcionamento. (SANTOS, 2004, p. 103-104)

Outro ponto tratado por Santos, que, para a tese, é intrinsicamente vinculado à
atividade pesqueira artesanal, é o limite de crescimento:

Como no pequeno artesanato, a produção atinge nem certo momento, um limite


intransponível: falta de crédito bancário, falta de integração a um circuito comercial.
Mas, paradoxalmente, quando essa se realiza, a empresa se expõe, sem defesa, aos
acasos das flutuações do mercado e os problemas só se agravam, porque as técnicas
empregadas em geral são arcaicas e as formas de produção e de comercialização
específicas. (SANTOS, 2004, p. 103-104)

Santos também conceitua um terceiro circuito econômico:


49

Circuito superior marginal: é frequente encontrarem-se atividades do circuito


superior marginal nas cidades intermediárias. Mas suas características e suas
relações com outas atividade da cidade não são as mesmas que nas metrópoles. De
fato, as relações existentes entre as atividades industrial do circuito superior típico e
a do circuito superior marginal variam segundo se trata de uma metrópole completa,
de uma metrópole incompleta ou de uma cidade intermediária. (SANTOS, 2004, p.
314)

O circuito superior marginal na metrópole:

Na metrópole completa, a distância geográfica entre os dois tipos de estabelecimento


é nula. O mercado é unificado, apesar da diferença dos preços de custo devido às
diferenças de nível tecnológico e organizacional. Essas diferenças ajudam a
estabelecer mais que uma complementaridade, uma verdadeira cumplicidade no
nível de mercado. É o próprio princípio do funcionamento dos oligopólios que
encontra aqui um excelente exemplo. Os preços de custo mais elevados no CSM
fazem com que os preços de venda ao consumidor sejam elevados, mas também
servem de referência ao CS que ajusta os preços em relação ao CSM, aumentando
assim seus lucros. (SANTOS, 2004, p. 314)

O circuito superior marginal na metrópole incompleta:

Na metrópole incompleta, alguns ramos industriais não existiriam sem o circuito


superior marginal. Devido à falta de algumas economias externas locais no nível
superior da atividade de fabricação, aparece uma complementaridade na produção
pela solidariedade dos dois níveis do circuito superior. Todavia, é necessário fazer
uma diferencia entre as metrópoles incompletas dos países subdesenvolvidos e
industrializados e as dos países não industrializados. As primeiras apresentam várias
das características das cidades intermediárias, encontro as segundas, em geral,
representam as cidades primacial para cada país. (SANTOS, 2004, p. 315)

O circuito superior marginal na cidade intermediária:

Na cidade intermediaria, a indústria “marginal” deve se preocupar com seus preços,


quando, na metrópole, o acordo aberto ou tácito com a indústria moderna permite a
esta última impor preços mais elevados e aumentar assim seus lucros, na cidade
intermediária, todas oscilações dos preços para cima põe em perigo a atividade do
CSM, já que assim a concorrência da CS acha-se facilitada, e o ramo “marginal”
torna-se mais suscetível de ser esmagado pelo ramo concorrente da metrópole. Na
cidade intermediária, o CSM depende também do nível do consumo, devido à sua
incapacidade de manipular os preços. (SANTOS, 2004, p. 315)

Santos (2004, p. 368) ainda esclarece que o circuito inferior tem uma importância
fundamental na sobrevivência dos mais pobres, pois é ele que acolhe as pessoas expulsas do
campo, tendo um papel amortizador dos choques das migrações, dado que o circuito superior
é incapaz de empregar todo mundo.
Acrescentamos, neste debate teórico, a importância de pensar a gestão costeira, a
logística marítima e a distribuição nacional e internacional do pescado. O Terminal Pesqueiro
50

Público está direcionado à (re)construção do mercado pesqueiro nacional, centralizado pelo


Estado na tentativa de superar os mercados populares existentes (portos dos pescadores
artesanais e industriais), podendo se tornar a única opção de circulação do pescado nas
localidades em que forem instalados.
Para melhor sistematizar a análise das legislações, utilizou-se uma ordem linear do
tempo, mesmo sem esquecer que a proposta não era linear e que, tampouco, eram-no as
demandas do povo ou a efetiva transformação destas propostas em leis. Procurou-se, deste
modo, discorrer didaticamente sobre as sucessivas mudanças, que levaram a pesca a ser uma
atividade econômica moldada pelo Estado. Como veremos no próximo capítulo, no debate da
legislação regulamentadora da atividade pesqueira, principalmente, no governo PT, com
destaque para o primeiro mandato do governo Lula.
51

2 UMA SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO PESQUEIRA BRASILEIRA: A CONSTRUÇÃO


DAS POLÍTICAS DOS TERMINAIS PESQUEIROS PÚBLICOS

Para discorrer sobre o processo legislativo brasileiro e para se chegar à questão


principal da tese, as políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos (TPPs), apresentadas no
primeiro mandato do governo Lula, que parte da restruturação das infraestruturas aquícola e
pesqueira brasileiras, com a função de entrepostos (armazenamento e comércio) de pescado
nas áreas litorâneas ou ribeirinhas 15, durante a primeira década do século XX, buscamos
explicar alguns dos fenômenos socioespaciais brasileiros, a partir da legislação formadora dos
TPPs. Para tanto, torna-se cada vez mais necessário o conceito de território, nascido da
Geografia clássica, na Alemanha, pelas mãos de Frederic Ratzel16. Mas Poulantzas (2000)
adverte que a relação do Estado com o território tem sido a de controlar coercitivamente a
sociedade e o espaço geográfico. O autor contribui, ainda, para definir o território como
próprio da ossatura do Estado, isto é, fazendo parte da estrutura deste e da racionalidade
inerente à burocracia estatal e à imposição da soberania.
Por outro lado, o termo território conota, sobretudo, as noções de fronteira e de
relações de poder, quer estejam presas à noção de soberania do Estado, quer a outras, por
exemplo, às culturais (como memória e pertencimento), à de territorialização (fruto das ações
daqueles que produzem o seu território) ou à de desterritorialização (pela qual os indivíduos o
perdem). Entretanto, apesar da farta diversidade semântica, os ideais de domínio e de poder
estão presentes em todas essas conotações (HAESBAERT, 2006).
As leis, nota Blomley (1994), estão por toda a parte, nas sociedades modernas, e não
perguntamos a nós mesmos de onde vêm, como se utilizam e por que devemos obedecê-las. O
mesmo autor sugere que, se quisermos responder a tais perguntas, melhor será não o fazer,
focalizando nas contradições internas dos discursos jurídicos, mas, situando na lei, isto é,
examinando e questionando as suas teses, quanto ao seu papel na sociedade.
Como a lei é uma forma de controlar o comportamento social, a Geografia e a História
podem contribuir para estudá-la, tornando a lei uma variável geográfica e/ou histórica. Faz-se
necessário lembrar que os imperativos instrumentais impulsionam o conhecimento jurídico do

15
Segundo o Decreto-Lei nº 5231, de 2004, articulado entre as três escalas de poder: federal, estadual e
municipal, o que ainda será tratado, neste texto.
16
Ainda hoje, é importante, para se tentar compreender melhor o espaço, porque ela continua servindo à
expansão territorial (RATZEL, 1990, p. 180), pois exige a conquista de novas terras.
52

Estado, bem como aprofundam a visão crítica acerca do poder, advertindo que a lei não se
presta apenas para comandar, senão, ainda, para redefinir, para capacitar, para construir, para
dividir, para encerrar e para ofuscar no espaço.
Lefebvre (apud BLOMLEY, 1994) argumenta que:

O espaço não é um objeto científico alheio à ideologia e à política; sempre foi


político e estratégico. Se ele se tem um ar de neutralidade e de indiferença em
relação aos seus conteúdos [...], é exatamente porque foi ocupado e usado [...]. O
espaço tomou forma e feitio com os elementos históricos e naturais, mas isso foi um
processo político. O espaço é político e ideológico. É um produto literalmente
preenchido com ideologias. 17 (tradução nossa)

Não, apenas, a lógica da economia, senão, também, as normatizações impostas pelo


Estado regem os atuais processos de modernização ‒ essa modernização excludente, que a
tantas pessoas e a instituições recusa acesso a muito do que se proporciona de social e de
espacialmente cobiçável, entre os frutos nem todos benfazejos do seu ímpeto inovador, ao
mesmo tempo que desvaloriza e que suprime certas formas de trabalho. A pesca, mesmo
sendo importante posto de trabalho e contribuindo relevantemente para a produção de víveres,
anda sempre nos contraditórios e paradoxais limites do capitalismo. Para Santos (2000), o
território usado, que oferece uma visão mais abrangente e totalizadora da Geografia, por essa
mesma razão, tanto aclara as ações dos grandes agentes modernizadores e as dos agentes não
hegemônicos quanto é produtor, ele mesmo, de espaço geográfico.
Assim, o território usado permite identificar a totalidade, analisando-se, como
processos, as relações entre lugar, formação socioespacial e mundo. Pensar no território como
espaço banal conduz, pois, à ideia do que Santos denomina “o espaço de todos, todo o
espaço” (2000, p. 5). Trata-se do espaço de todas as pessoas, por mais que estas sejam vistas
como desiguais; de todas as instituições, quer fortes, quer fracas; de todas as empresas; do
Estado; e de quantas formas de poder pulsem na sociedade. Para Milton Santos, esse é “o
espaço de todas as dimensões do acontecer, de todas as determinações da totalidade social”
(ibidem, p. 8).
As políticas federais geram impactos importantes nas zonas costeiras e limitam
espaços de atuação de pescadores artesanais (SILVA; RESENDE; MARTINS, 2010), devido

17
O original está em inglês. “Space is not a scientific object removed from ideology or politics; it has always
been political and strategic. If space has an air of neutrality and indifference with regard to its contents and
thus seems to be "purely" formal, the epitome of rational abstraction, it is precisely because it has already been
occupied and used, and has already been the focus of past processes.... Space has been shaped and moulded
from historical and natural elements, but this has been a political process. Space is political and ideological. It
is a product literally filled with ideologies”.
53

a um maior adensamento do urbano. Além disso, grandes projetos de logística e de produção


industrial vêm contribuindo com o aumento da urbanização nas áreas rurais, com projetos da
indústria petroquímica, com a exploração do petróleo em águas marítimas e com a ampliação
da indústria naval.
Esses processos de modernização, mediados ou não pela ação direta do Estado,
configuram uma atividade pesqueira amórfica, pois a correspondente estrutura estatal, embora
reconheça a pesca como atividade econômica e de geração de trabalho e de renda, não reflete
a realidade social dos pescadores artesanais, precarizada, principalmente, pelo grande impacto
dos adensamentos urbanos nas águas litorâneas e ribeirinhas. E, em boa parte das disputas por
melhores condições na atividade pesqueira, há uma mistura de necessidades estruturais, na
esfera da qualidade de vida, com necessidades de melhora das condições de trabalho, o que
termina prevalecendo é o intuito estatal de manter a situação como está, apesar de toda a
autonomia construída nos momentos de luta, não, somente, para a categoria dos pescadores,
mas para diversas entidades, no período da Constituinte de 1988. No final do século XX, os
pescadores deveriam assumir a presidência das suas instituições representativas (colônias,
federações e confederações) e essas instituições deveriam se transformar em sindicatos ou em
algo semelhante. Essa ideia está sendo suprimida pela política pública voltada à implantação
dos Terminais Pesqueiros Públicos e à centralização da organização espacial da pesca no
mercado e, não, nas instituições.
Desse modo, para compreender o jogo de interesses, as articulações políticas, os
conflitos e a disputa de território entre pesca, com destaque para a pesca artesanal, e
empresas, que também fazem parte das relações de classes sociais, adapto os pensamentos de
Poulantzas (2000, p. 24), em que “a ligação do Estado às relações de produção constitui a
primeira relação do Estado com as classes sociais e com a luta de classes”, o que possibilitaria
a constituição organizacional de uma ossatura orgânica aplicável à atividade pesqueira, sob o
prisma capitalista.
Em relação aos Terminais Pesqueiros Públicos, podemos fazer uma analogia com
alguns fatos ocorridos na Europa, narrados por Polanyi (2000, p. 53), em relação aos
surgimentos dos mercados e à reorganização dos espaços produtivos: “Os cerceamentos foram
chamados, de uma forma adequada, de revolução dos ricos contra os pobres”, podendo ser
através da violência ou, simplesmente, da intimidação: “eles literalmente roubaram o pobre na
sua parcela de terras comuns”, deixando o tecido social destruído. A partir desse ponto,
Polanyi (2000, p. 60) apresenta uma visão do “sistema de mercado”, em que “todas as rendas
devem derivar de alguma coisa e, qualquer que seja a verdadeira fonte de renda de uma
54

pessoa, ela deve ser vista como resultante de uma venda”, com destaque para a “peculiaridade
[...] surpreendente do sistema repousa no fato de que, uma vez estabelecido, tem que se lhe
permitir funcionar, sem qualquer interferência externa”.
Essa nova produção “envolve uma transformação que é a da substância natural e
humana da sociedade em mercadorias”. Nesse sentido, lembra Polanyi (2000, p. 61):
“Obviamente, a desarticulação causada por tais engenhos deve desorganizar as relações
humanas e ameaçar o seu habitat de aniquilamento”. Portanto, transpondo essa teoria para o
contexto dos pescadores, com a implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos em
municípios de grande relevância na produção nacional de pescado, estes trabalhadores passam
a deixar de lado a relação com suas instituições representativas e a ser absorvidos pelo
mercado, como meros fornecedores de matéria-prima, prejudicando sua relação cultural, já
tão fragilizada, pelos impactos da modernização, tanto em sua forma de trabalho quanto no
meio ambiente.
Modernização, essa, na qual, como Santos (2004) explicava “cada período é
caracterizado pela existência de um conjunto coerente de elementos de ordem econômica,
social, política e moral, que constituem um verdadeiro sistema”. Portanto, a modernização é a
universalização da inovação de um período anterior, isto é, “[em] cada modernização, o
sistema tende a desdobrar sua nova energia para os subsistemas subordinados. Isso representa
uma pressão para que, nos sistemas atingidos, haja também modernização” (SANTOS, 2004,
p. 395, inserção nossa). Tal é o caso da atividade pesqueira, afetada pelo impacto dos novos
terminais pesqueiros.
A pesca pertence, em grande parte, ao circuito inferior, com características de trabalho
intensivo e de cunho local, mas com uma capacidade de criação considerável, de acordo com
o que Santos (2004) descreveu, em seus estudos sobre os circuitos, mas os dois circuitos estão
presentes na atividade pesqueira: o superior, com todos os avanços tecnológicos de alto nível,
denominado pesca industrial, que está interligado a um capital intensivo e a uma dimensão
nacional ou supranacional.
O Estado tem um papel importante nesta questão, pois “se apresenta como um aliado
do circuito moderno da economia” (SANTOS, 2004), através da proteção concedida à
concentração e aos monopólios, do financiamento direto ou indireto, da construção de
infraestruturas, dos subsídios à produção e à exportação e de todas as formas de acordo, de
leis de investimentos e de planos de desenvolvimento, entre outros.
Um Terminal Pesqueiro Público, em seu cerne, em analogia ao entendimento de
Santos (2004) sobre o circuito inferior, tem “o papel de intermediário [...] ele é inicialmente
55

um distribuidor de produtos importados e um comprador de produtos exportáveis”, sendo um


“elo entre a demanda e a oferta”, com um papel dominante, devido a sua capacidade de
armazenar mercadorias.
Ainda relacionando a política estatal dos TPPs, relativamente ao circuito produtivo,
descrito por Santos (2004), parece claro que o Estado tem sua ação exercida, em todos os
níveis espaciais, por meio da construção de redes unificadoras de transportes, extensas o
suficiente para assegurar a sua presença em todo o território.
Com a implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos, temos, hoje, em hipótese, uma
nova política de ordenamento territorial do Estado, que vai além da substituição gradativa dos
pontos tradicionais de venda de pescado nas regiões produtoras (praias, píeres de pescadores,
etc.) e passa a ter a transferência da normatização e do controle das atividades pesqueiras
(legalização da atividade, controle das embarcações, entre outras), que, desde o início do
século XX, eram das Colônias (lembrando que foi, somente, no final do século XX, após a
Constituição de 1988, que as Colônias passaram a ser geridas pelos próprios pescadores), para
os TPPs, com administração e com objetivos privados, que visam ao lucro, como visto na
legislação de 2004 e no edital e na posterior audiência pública, em 18 de maio de 2015, que
precedeu à criação do Decreto dos TPPs.
A partir desse ponto de vista, a representatividade da pesca ‒ não, somente, a
artesanal, mais fragilizada, mas, também, a das demais categorias 18 19
(industrial, aquicultura
e armadora) ‒, tem novas relações, geridas pelos agentes econômicos, que, não, só, alteram as
políticas de Estado, mas interferem no cotidiano local do circuito produtivo, por exemplo,
pela implantação dos TPPs.
Hipoteticamente, a eliminação dos pontos de vendas, a partir das novas políticas,
como as descritas na legislação dos TPPs, por exemplo, pode gerar consequências
gravíssimas, ao relacionar esses impactos aos mercados de pescado populares locais, que têm,
como centro, os pescadores artesanais, para compreender que essa possibilidade de proscrição
da venda direta, principalmente, se pensarmos que, mesmo com todas as questões culturais

18
Pesca Comercial Artesanal: é aquela praticada por pescador profissional, de forma autônoma ou em regime de
economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parceria, desembarcado ou
podendo utilizar embarcações com Arqueação Bruta 1 (AB1) menor ou igual a 20; Pesca Comercial Industrial:
é a praticada por pessoa física ou jurídica, com o envolvimento de pescadores profissionais empregados ou em
regime de parceria, utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte (de qualquer AB), com
finalidade comercial (MPF, 2017).
19
Armador de Pesca: aquele que, em seu nome e sob a sua responsabilidade, apresta, para sua utilização, uma ou
mais embarcações pesqueiras, cuja soma de suas Toneladas de Arqueação Bruta totalize ou ultrapasse a 10
(dez) Toneladas de Arqueação Bruta (BRASIL, 1989)
56

envolvidas, mesmo sabendo que o pescador é um extrativista e que não possui recursos para
armazenar seu pescado por muito tempo e que tem que estar, sempre, retomando sua atividade
de pesca, para manter o seu sustento. A existência de um local com compra constante e
garantida (os TPPs) gera uma grande dúvida, quanto ao estabelecimento de uma grande
resistência, por muito tempo, ao novo mercado, o que trará, como consequência hipotética, a
extinção de boa parte dos pontos tradicionais de venda direta de pescado e da cultura neles
existente.
A problemática da relação entre pesca e Estado contribuiu para a reflexão, tanto na
História quanto na Geográfica, acerca da relação entre ordenamento territorial, gestão pública
e modernização econômica e relações internacionais. Os desafios dos campos econômicos e
políticos são compreender o tempo presente, com a problemática aproximação temporal do
objeto de estudos, e entender como se dão os processos de dominação e de produção da ordem
capitalista nos territórios nacional e internacional, marcados por uma história política de forte
ação estatal na produção da economia e do mercado. Mais uma vez, por meio de estudo do
setor de portos pesqueiros e da política federal para o setor pesqueiro, pode-se trazer novos
elementos ao fazer geográfico do século XXI, em que política e poder são gestados por
projetos de colonização do futuro, dentro da articulação Estado-empresas.
Penso na compreensão teórica dos processos de modernização do território nacional,
na presente fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, com suas novas relações
internacionais, mostrando a inserção do país na globalização e como este modelo altera a
história dos lugares. Tais orientações conceitual, teórica e metodológica têm, por finalidade,
igualmente, avaliar de que forma o estudo dos Terminais Pesqueiros Públicos, e das suas
consequências, na realidade dos pescadores brasileiros, contribuirá ao avanço dos estudos
históricos.
Na tentativa de dispor sobre a implantação dos TPPs, busco, no próximo subcapítulo,
analisar os períodos históricos de 1890-1919 e de 2003-2015: o primeiro, da estruturação das
Colônias de Pesca, com a intervenção do Estado no território, através da instalação de fixos; e
o segundo, da implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos, com a normatização do espaço
e com a possível reestruturação da cadeia produtiva e do mercado.
57

2.1 A Territorialização da atividade pesqueira brasileira: Análise das Legislações do


início do século XX, até a implantação das Políticas Públicas Dos TPPs

Esta tese faz parte de uma trajetória de pesquisa que foi, e continua sendo, dirigida à
compreensão da relação entre o território e o Estado, tendo a pesca como ponto de interseção,
especificamente, nos períodos históricos de 1890-1923 e de 2003-2015, quando o setor foi
institucionalizado e, posteriormente, reestruturado. Neste sentido, posso afirmar que a
institucionalização da pesca teve, como primeiro marco histórico, o período de 1890-1923,
momento no qual a atividade não ocupava um papel central na economia, mas, sim, era vista
como atividade que organizava o domínio, o controle, sobre o território. Portanto, o diálogo
da Geografia Política com a História se pautava na compreensão da soberania do Estado, por
meio do território.
O marco central das políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos está vinculado a
processos de estruturação e de modernização, que têm, como desiderato, a construção do
zoneamento costeiro como ponto internacional da territorialização da Marinha do Brasil e, ao
mesmo tempo, a busca pela industrialização do circuito produtivo da pesca, com a adoção de
inovações tecnológicas na captura (embarcação e petrechos) e na comercialização em grande
escala. A justificativa do marco temporal se dá pelas conjunturas nacional e internacional de
controle das Zonas Econômicas Exclusivas costeiras (ZEEs), nesse período, e pelos acordos
firmados entre o Brasil e as organizações internacionais, com destaque para a Convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar20.
Para esclarecer sobre as reais estruturas atuais da pesca brasileira, é preciso
compreender o processo da institucionalização, ocorrido no início do século XX, pensado e
organizado pelo Estado, e o seu fortalecimento, através da instalação dos fixos (as Colônias
de Pescadores), vinculados à Marinha do Brasil.
Em 1923, último ano da missão do Cruzador José Bonifácio 21, destinada a reconhecer
a costa brasileira e a regulamentar a atividade de pesca, por meio das Colônias de Pescadores,
ocorreram as primeiras mudanças marcantes. A 25 de outubro, o Decreto nº 16.183 transferiu
20
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar será mais bem explicada, no decorrer do trabalho.
21
Foi uma missão concebida pelo Almirante Gomes Pereira, que durou de 1919 a 1923, sob o seu comando,
executada pela Marinha de Guerra do Brasil, com a participação de cerca de duzentas pessoas no Cruzador
Auxiliar José Bonifácio, tendo o objetivo cívico de conhecer social e ambientalmente a costa brasileira. Ao dar
à embarcação o nome do “Patriarca da Independência”, o Estado assinalou o quanto esse trabalho de
nacionalizar a pesca do país se filiava, historicamente, ao remoto alvorecer do Brasil e ao patriotismo e ao
nacionalismo, que a missão deveria infundir nas comunidades visitadas.
58

para a Marinha brasileira a organização da Diretoria da Pesca e Saneamento do Litoral,


tornando-a anexa e subordinada à Inspetoria de Portos e Costas e conferindo ao Ministério da
Marinha plenos poderes, para administrar e para fiscalizar a atividade pesqueira e, desta
forma, para garantir o saneamento do litoral. Para tanto, a Marinha devia organizar e
regulamentar as embarcações, os instrumentos de pesca, o pessoal e a polícia naval, além de
manter os escoteiros do mar. Assim, as diretorias da pesca foram organizadas regionalmente:

Art. 2º A Directoria da Pesca, como repartição federal, exercerá no dominio fluvial,


nos lagos e lagôas da União, nas aguas territoriaes brasileiras (dentro de tres milhas
a partir do littoral, desde o Cabo Orange, na foz do Oyapock, ao arroio Chuy, no Rio
Grande do Sul) ) e ilhas, a jurisdicção compativel com a natureza de seus serviços
administrativos, ficando directamente subordinada á Inpcctoria de Portos o Costas.
Paragrapho unico. A distancia de tres milhas será contada para fóra das linhas rectos
que unirem as pontas mais salientes do littoral, distantes no maximo dez milhas
umas das outras. (BRASIL, 1923a)

Abrangia-se, não, só, todo o litoral e as suas reentrâncias, como, ainda, os rios e as
águas continentais. Mas as incumbências da Diretoria da Pesca iam muito além de resguardar
os limites territoriais:

Art. 3º A Directoria da Pesca tem por fim:


a) tornar effectivas as providencias necessarias para o saneamento do littoral;
b) estudar e divulgar os recursos naturaes das aguas brasileiras, desenvolvel-os tanto
quanto possivel, regulando a sua utilização;
c) fiscalizar e superintender as confederações e colonias de pescadores nos serviços
que lhe são affectos; bem assim, os mercados, depositos e estabelecimentos de pesca
e suas industrias;
d) animar as industrias da pesca;
e) prover o povoamento das aguas nacionaes com as especies mais valiosas, quer
indigenas, quer exoticas, tanto de agua doce como de agua salgada, por meio dos
melhores ensinamentos da piscicultura,
f) promover o incumbir-se do levantamento da carta batimetrica da costa,
determinando e localizando os pesqueiros e épocas apropriadas ás pescarias;
g) organizar um museu de apparelhos e cartas de pesca o do colleções de especies
das faunas maritima, lacustre e fluvial
h) providenciar para concessão de terrenos de marinha e terrenos publicos nas costas
e nas ilhas, para fundação de colonias do pescadores, estabelecimentos de pesca e de
aproveitamente industrial dos productos aquaticos; suggerir a desapropriação por
utilidade publica dos terrenos necessarios á edificação de escolas, estaleiros,
parques, depositos, salga, frigorificos, etc.;
i) promover a importação e construcção no paiz de embarcações movidas a motores
do explosão, combustão interna, a vapor ou a vela, destinadas exclusivamente á
pesca e ao transporte do pescado pelas suas installações e caracteristicos; dos
apparelhos de pesca e material proprio para o reparo dos mesmos e material preciso
para a installação dos serviços de preparo, salga e conserva do peixe, inclusive os
accessorios e aprestos para o acondicionamento de peixe conservado, de
combustivel para o funccionamento dos barcos e demais installações attinentes á
industria da pesca.
§ 1º Por colonia de pescadores se comprehende todo o agrupamento de, pelo menos,
quarenta brasileiros natos ou naturalizados, matriculados como pescadores nas
Capitanias de Portos e estabelecidos em zonas limitadas pela Directoria da Pesca,
59

tendo por fim unil-os por laços de salidariedade fraternal, promovendo instrucção,
auxilio mutuo e prosperidade dos associados e suas familias. visando
particularmente a sua utilização como auxiliares da Marinha, na paz e na guerra.
§ 2º Haverá duas especies de confederações: estaduaes e geral.
§ 3º Por confederação estadual comprehende-se o agrupamento de delegados das
colonias de um Estado, com o fim de tratar de questões de seus interesses e
represental-as perante os poderes publicos e privados, em juizos ou fóra delles.
§ 4º Por confederação geral comprehende-se o agrupamento de delegados das
confederações estaduaes e delegados das colonias do Estado doRio e do Districto
Federal. Terá a sua séde na Capital Federal, cabendo-lhe a administração da Caixa
do Soccorros da Pesca. (BRASIL, 1923a)

O Decreto nº 16.183, pela primeira vez, na história nacional, regulamentava e


organizava, de fato, a atividade pesqueira; não, somente, a voltada à produção industrial ou
em larga escala, mas a atividade praticada individualmente, pelos pescadores, que, de acordo
com Artigo 3º, passariam a se organizar em colônias de pesca, segundo uma estrutura estatal,
que prometia organização e serviços essenciais a esse grupo da sociedade.
Em resumo, os fins a que o artigo visava eram: promover o saneamento das regiões
litorâneas voltadas à atividade pesqueira; fomentar a pesquisa sobre as espécies marinhas e de
água doce, que povoavam o litoral e, quando possível, prover o repovoamento de áreas
degradadas, incentivando a piscicultura; garantir a posse da terra aos pescadores de fato;
possibilitar a implantação de novas tecnologias e técnicas, que garantissem melhor
produtividade aos pescadores nacionais; mapear o litoral, não, somente, para a navegação,
mas para localizar os pesqueiros e para conhecer as épocas apropriadas à pescaria; e organizar
a pesca em Colônias de Pescadores, levando em consideração grupos já existentes no litoral e
trazendo saneamento básico e instrução.
O Artigo 12 determinava que, ao diretor da pesca, o qual era um oficial superior do
corpo de armada da Marinha brasileira, competia:

[...]
g) suggerir a nomeação do pessoal para o serviço sob a direcção da Directoria da
Pesca;
j) receber, fazer archivar e extractar dos relatorios e demais documentos que forem
enviados pelas Capitanias dos Portos e repartições dellas dependentes, pelas
Confederações Geral e Estaduaes, Colonaias de Pescadores etc., as estatisticas e
informações sobre a pesca e industrias correlatas, não só no que diz respeito á
piscicultura, industrias, pessoal e material empregado na pesca, como na adaptação
de dados logisticos que interessem ao Estado Maior da Armada
[...] (BRASIL, 1923a)

Na figura do diretor da pesca, a Marinha organizou as Colônias de Pescadores e as


suas atividades, cujas informações deveriam ser passadas para as capitanias dos portos, para a
Confederação Estadual e para a Confederação Geral, sediada na capital do país.
60

No Decreto nº 16.184, também de 25 de outubro de 1923, e também referente à pesca,


o Ministério da Marinha, junto com o Governo Federal, regulamentou pontos, que não tinham
sido detalhados no Decreto nº 16.183, passando a congregar todas as necessidades da
atividade pesqueira e a caracterizá-la pela localização e pelo tipo de pescado e pelos materiais
que nela se utilizavam.

Art. 1º Entende-se por pesca a industria extractiva, animal ou vegetal, de qualquer


producto das aguas salgadas, salobras ou doces.
Art. 2º A pesca divide-se em;
I - Pesca maritima;
II - Pesca fluvial.
Art. 3º A pesca maritima abrange;
a) a pesca em alto mar;
b) a pesca costeira;
c) a pesca interior.
Art. 4º A pesca do alto mar e aquella que se faz no mar largo, nas aguas territoriaes
da Nação, além de uma milha da costa, contada para fóra das linhas rectas que
unirem as pontas mais salientes do littoral, distantes, no maximo, dez milhas, umas
das outras.
a) a pesca costeira é aquella que se faz até á distancia de uma milha da costa,
contada do mesmo modo;
b) a pesca interior é aquella que se faz:
1º, nos portos, lagunas, lagôas, lagos, espraiados, braços de mar, canaes e quaesquer
outras bacias de agua salgada, ainda que só communiquem com o mar, pelo menos,
durante uma parte do anno;
2º, nas aguas dos rios e correntes de agua doce, dos canaes navegaveis que
desembocam no mar, portos o lagôas, do ponto onde começa a mistura das aguas
salgadas com as doces para seu escoadouro.
Art. 5º A pesca fluvial é aquella que se faz nos rios, navegaveis ou não, e em
quaesquer bacias de agua doce, onde se não faça sentir nem o fluxo nem o refluxo da
maré do equixonio.
Paragrapho unico. A pesca fluvial sob e jurisdicção do Governo Federal e de que
trata o presente regulamento é a exercida.
a) nos rios que teem suas nascentes em paizes confinante com o Brasil;
b) nos rios que, nascendo no Brasil se dirigem a paizes tambem confinantes;
c) nos rios que servem de linha divisoria entre o Brasil e paizes vizinhos;
d) nos rios que atravessam dous ou mais Estados da Republica;
e) nos rios que servem de linha divisoria entre dous ou mais Estados da Republica;
f ) nos rios navegaveis e nos comprehendidos no plano geral da viação da Republica;
g) nos rios que, futuramente, forem por decreto legislativo considerados vias de
comunicação de utilidade nacional, por satisfazerem a interesses de ordem politica e
administrativa;
h) nos rios em que, por accôrdo com o Estado a que pertencerem, o Governo Federal
estabelecer ou auxiliar navegação propria ou subvencionada;
i) nos rios existentes no territorio indispensavel para a defesa das fronteiras,
fortificações e construcções militares.
Art. 6º A pesca de alto mar póde ser exercida em todos os mares, de uma milha da
costa, até o limite das aguas territoriaes das nações estrangeiras, observadas as
prescripções do Direito Maritimo Internacional e as deste regulamento.
Art. 7º A pesca interior fica limitada pela acção da maré de sysigia na agua doce, de
acordo com o art. 4º. (BRASIL, 1923b)

O primeiro capítulo do Decreto tem, por objetivo principal, determinar os limites


territoriais da atividade pesqueira no Brasil, usando as duas divisões que a Marinha brasileira
61

criou para a pesca. A primeira divisão era a marítima, que assentava os limites da atividade
em águas internacionais, de modo que se beneficiasse a pesca brasileira e que se garantisse a
defesa nacional, controlando melhor os que circulavam, quase diariamente, por águas
próximas às das fronteiras marítimas do país. A outra divisão era a da pesca fluvial, que, além
de autorizada em todo o país, tinha, no período da Primeira República, um imenso potencial
econômico pouco explorado, em boa parte do território, além de um potencial estratégico para
a segurança do Brasil, nos pontos mais críticos das suas fronteiras, servindo, os dias de pesca
nos rios e no mar, para, de certo modo, vigiá-las.
O segundo capítulo do decreto estipula a quem pertence explorar a atividade pesqueira
nacional, direito garantido, no Artigo 8º, a todos os brasileiros maiores de 16 anos:

Art. 8º A pesca é exclusivamente nacional desde 4 de janeiro de 1917, como previu


o art. 73 da lei 2.544, de 4 de janeiro de 1912, e como tal livre a todos os brasileiros
maiores de 16 annos sob condição de observarem as prescripções do presente
regulamento e ulteriores disposições do Governo da Republica, tomadas pelo
Ministerio da Marinha.
Art. 9º Todos os brasileiros, natos ou naturalizados, que da pesca fizerem profissão
habitual, matricular-se-hão como pescadores nas Capitanias dos Portos e estações
dellas dependentes, e bemassim serão obrigados a registrar ou arrolar as
embarcações com que exercerem o seu mistér, excepto jangadas.
a) tanto a matricula desses individuos como o arrolamento de suas embarcações será
feito gratuitamente;
b) para os effeitos deste regulamento o arrolamento será para as embarcações que se
empregarem na pesca costeira, na interior ou na fluvial;
c) os pescadores serão obrigados a fazer parte de uma colonia, nos Estados em que
residirem.
Art. 11. A pesca a pé, isto é, feita sem embarcações e de terra, é facultativa a todos
os residentes no territorio nacional, sem outros onus ou restricções além das medidas
de policia maritima e as de protecção ao peixe, consignadas no presente
regulamento. (BRASIL, 1923b)

Além de garantir a atividade pesqueira aos brasileiros, ressalta como essa atividade
deveria ser controlada e normatizada, pelo Estado, para cujo exercício todos os pescadores
profissionais deveriam ser registrados, junto com suas embarcações, em suas Colônias de
Pesca e, posteriormente, nas Diretorias de Pesca, de forma gratuita. Para tanto, estabeleceram-
se regras para o registro, que deveria ser controlado e fiscalizado pela Capitania dos Portos
local, como descrito no capítulo terceiro do decreto:

Art. 12. Nas capitanias dos portos e estações dellas dependentes haverá livros
especiaes para os matriculados pescadores de profissão e registro c arrolamento de
suas embarcações, segundo o modelo adoptado.
Art. 13. A matricula pessoal será tirada nas capitanias de portos ou onde for
determinado pela Inspectoria de Portos e Costas, e deverá conter : nome do
matriculado, filiação, nacionalidade, naturalidade, idade, côr, rôsto, nariz, cabellos,
olhos, barba, estatura, estado civil, residencia e signaes caracteristicos.
62

§ 1º Aos pescadores brasileiros natos, que não puderem conseguir a certidão de


idade, substituirá esse documento o cartão ou papeleta de vaccinação que lhe for
entregue pelo medico da Saude Publica Federal, quando se vaccinar.
§ 2º Os brasileiros naturalizados, além dos documentos exigidos no art. 13, deverão
apresentar o titulo original do naturalização como brasileiro e a caderneta de
identidade.
§ 3º Os nacionaes pescadores que houverem de se matricular e bem assim arrolar as
suas embarcações de pesca, fóra das sédes das Capitanias de Portos, procuração o
capataz ou subcapataz do seu domicilio, e estes enviarão o capitania respectiva a
relação nominal dos ditos individuos e das embarcações, com os documentos
precisos ao arrolamento, para que se proceda do accôrdo com o art. 43, o exigido no
Regulamento de Capitanias.
Art. 14. Annualmente, no correr do mez de fevereiro, as matriculas dos pescadores
serão apresentadas ao visto gratuito da autoridade naval competente. da localidade
onde o pescador for colonizado.
Art. 15. As licenças de pesca a amadores serão renovadas, si elles assim o quizerem.
nos ultimos 15 dias do seu periodo annuo.
Art. 16. As matriculas serão nominativas e intransferiveis. (BRASIL, 1923b)

Não havendo muitas mudanças para o registro do pescador, o maior destaque fica para
a figura do capataz, o qual, como membro da Colônia de Pescadores e representante militar
das áreas mais distantes, tinha a incumbência de identificar as demandas das comunidades
pesqueiras na localidade e de resolver os problemas, junto à Capitania dos Portos. De acordo
com o Decreto nº 16.184, não era possível a inserção de estrangeiros na atividade pesqueira,
mesmo que temporariamente, sendo, a única alternativa, sua naturalização. Outro ponto
apresentado é o de que, necessárias para os pescadores obterem licença de exercer a sua
atividade, as matrículas deles e de suas embarcações tornaram-se intransferíveis. Em
consonância com isto, o capítulo quatro do decreto outorga direitos aos pescadores e lhes
impõe deveres, para com a nação, relacionados à matrícula, junto ao Ministério da Marinha.

Art. 17. Todo pescador, de profissão ou amador, no exercicio da pesca deverá estar
munido de sua matricula ou licença.
Art. 18. Os pescadores de profissão estão isentos do serviço militar no Exercito e nas
milicias estaduaes.
Art. 19. Os pescadores que pelas leis da Republica forem sorteados para o serviço
militar só serviço na Marinha de Guerra, na fórma dos regulamentos em vigor.
Art. 20. Os pescadores matriculados, que tenham i serviço na Armada, terão
preferencia para exercer cargos nas capitanias dos portos, Directoria da Pesca e suas
dependencias, já creadas ou por crear, desde que tenham a idoneidade precisa para o
desempenho das respectivas funcções.
Art. 21. Os pescadores, como reservistas da Armada que são, farão parte do pessoal
naval das estações em cujas proximidades tiverem domicilio e onde tiverem
paradouro as embarcações que empregam na pesca. Estão directamente
subordinados aos capitães dos portos e aos seus delegados, agentes, capatazes e sub-
capatazes da secção em que funccionarem.
Art. 22. Por intermedio da Directoria da Pesca os pescadores levarão aos poderes
competentes as suas queixas contra as vexações que qualquer autoridade lhes tenha
feito em detrimento de seus direito, garantidos no presente regulamento.
Paragrapho unico. O offendido poderá recorrer directamente an inspector de Portos e
Costas, com recurso para o ministro da Marinha.
63

Art. 23. Todos os pescadores são obrigados a deixar que as autoridades navaes
insppeccionem as embarcações em que estiverem pescando ou em que transportarem
o producto da pesca, bem como seus depositos e estabelecimentos de pesca.
Paragrapho unico. O producto da pesca só poderá ser vendido si estiver obedecendo
ás prescripções da Inspectoria de Portos e Costas, tornadas publicas pela Directoria
da Pesca.
Art. 24. Os pescadores que tiverem conhecimento de, infracções á policia da pesca o
de qualquer procedimento é conservação das especies de seres marinhos, os levarão
immediatamente ao conhecimento da autoridade naval competente mais proxima.
Art. 25. Os pescadores que reconhecerem sobre as praias ou costas destroços ou
salvados de embarcações perdidos ou naufragadas deverão recolhel-os e entregal-os
aos capatazes, que lhes darão o destino legal.
Art. 26. Os pescadores de cada estação maritima ou fluvial deverão associar-se em
colonias e nomear dentre elles um para os representar junto ás autoridades
competentes.
Art. 27. Quando se fizer necessario tomar medidas de protecção ou outras para
conservação ou policia da pesca, os pescadores, collectivamente ou por seus
representantes, fundamentando a representação, as solicitarão da Directoria da
Pesca.
(BRASIL, 1923b)

Tal qual nos decretos anteriores, neste, um dos deveres do pescador é salvaguardar os
limites do país, atuando como parte da frota militar nacional, mesmo que de forma indireta,
como no Decreto nº 9.672, de 17 de julho de 1912, que passava o controle da atividade
pesqueira ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, mas conservava nas mãos da
Marinha a legalização das embarcações e o controle da frota privada nacional. A imposição,
pelo Decreto nº 16.184, de que tanto o pescador amador quanto o profissional obtivessem
licença para a sua atividade demostra a importância das embarcações para a segurança
nacional.
Parecendo contraditórios com a liberação do pescador do serviço militar, apresentada
no Artigo 18, os demais artigos do capítulo quatro fazem com que todos os pescadores
devidamente matriculados pertençam à frota militar de reserva, e lhes incumbe a constante
vigilância do litoral brasileiro, obrigando-os a informar qualquer anomalia ao capataz da sua
colônia ou à Capitania dos Portos. A este respeito, o capítulo cinco estabelece algumas regras
para as embarcações:

Art. 28. As embarcações empregadas na pesca, movidas a motor ou machinas a


vapor, terão além dos tripulantes pescadores, o pessoal determinado pelas capitanias
dos portos, para os trabalhos das machinas e caldeiras, pessoal esse que tambem
deverá ser brasileiro.
Art. 29. As embarcações maiores de oito tonelada que,se destinarem á pesca de alto
mar serão matriculadas nas capitanias dos portos, como são as embarcações de
cabotagem; e no tocante ao pessoal, que será reduzido de accôrdo com que for
determinado, deverá todo elle ser brasileiro .
Art. 33. As embarcações de pesca, quer sejam á vela, a motor ou quer a vapor,
devem observar as seguintes regras:
I - Toda embarcação de pesca levará á prôa, de um e outro bordo, um distico na
borda com a lettra *Z" e o numero da colonia correspondente, sendo que tudo será
64

pintado em caracteres bem visiveis. As embarcações de maior porte levarão mais, na


pôpa, o nome da embarcação e o da séde da capitania em que as mesmas estiverem
matriculadas.
II - Os mesmos signaes caracteristicos serão reproduzidos de cada lado da vela
grande da embarcação em côr conveniente e com dimensões para ficarem bem
visiveis; e si a embarcação for a vapor, de um e de outro lado da chaminé.
lII - Todos os instrumentos de pesca e accessorios das embarcações deverão ser
marcados com os mesmos signaes caracteristicos, além do numero da embarcação.
IV - Toda embarcação de pesca em exercicio deve estar munida dos documentos
seguintes :
a) arrolamento ou registro, licença annual (excepto a ,jangada) matricula da
tripulação;
b) si fôr de pesca de alto mar, em logar do arrolamento, deverá, ter o titulo do
registro o rol de equipagem.
V - Nenhuma embarcação de pesca poderá amarrar ou fundear sobre as boias, vedes
ou instrumentos de pesca de outra embarcação, e nem suspender ou visitar, sob
qualquer pretexto, os apparelhos que 1hc não pertencerem.
VI - A embarcações que pescarem á linha deverão conservar-se proximas ao local
em que as mesmas estiverem armadas, fundeando ou pairando, conforme as
circumstancias o permittirem.
VII - As embarcações de pesca não podem exercer a pesca nos logares em que
causem embaraço á navegação ou ao trafego ordinario do porto.
VIII - Nos casos de enrascarem as suas linhas com as de outra embarcação, aqualla
que as suspender não poderá cortal-as, salvo caso deverá maior Neste caso deverá
reatar as ditas linhas antes de as largar de novo.
IX - As embarcações de pesca costeira, quando em pescaria á noite, deverão indicar
as respectivas posições por meio de uma luz banca collocada no minimo a dous
metros acima da horda.
X - As embarcações de pesca de alto mar observarão, no que respeita a luzes
externas, o disposto no aviso numero 40, de 12 de janeiro de 1901, que se refere ao
art. 9º do regulamento, para evitar abalroamento no mar.
XI - As embarcações que concorrem á pesca em uma certa zona não poderão lançar
suas rêdes de modo a se prejudicar em mutuamente.
Art. 34. As embarcações de pesca serão inspecionadas de accôrdo com o
Regulamento das Capitanias dos Portos
Paragrapho unico. As embarcações julgadas em máo estado serão cassadas as
matriculas, que só serão restituidas depois de reparadas e julgadas em bom estado.
Art. 35. As embarcações de pesca terão as lotações estabelecidas pela natureza da
pesca e pelos usos da mesma. fixadas opportunamente, pela Directoria da Pesca.
Art. 36. As embarcações que chegarem ao mesmo tempo ao logar da pesca
occuparão, as menores, o lado de barlavento das maiores, em distancia nunca
inferior a cincoenta metros; si as maiores quizerem collocar-se a barlavento das
menores, tomarão posição a cem metros destas.
Art. 37. As embarcações que chegarem aos logares da pesca depois desta encetada
pelosembarcações presentes, tomarão logar a sotavento em distancia nunca inferior a
cincoenta metros.
Art. 38. As embarcações que estiverem pescando com redes fixas deverão
conservar-se sobre asmesmas ou nas proximidades, arriando as velas, afim
de indicarem que se acham em posição.
Paragrapho unico. As embarcações sem tripulante algum não guardam nem
assignalam logarde pesca, devendo ser consideradas em abandono, podendo ser
apprehendidas.
Art. 39. O logar circumscripto pelas rêdes de uma embarcação de pesca fica
interdicto ao acesso de qualquer outra embarcação de pesca.
Art. 40. Prevalecendo os interesses da navegação sobre os da pesca, nenhuma
indemnizaçãopoderá o pescador reclamar por prejuizos soffridos, si suas rêdes ou
apparelhos estiveremcollocados em logares que embaracem a navegação ouo trafego
do porto, ou quando nãoestiverem, mesmo em outros logares, assignalados
convenientemente.
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Art. 41 . A embarcação de pesca que haja attestado o seu carregamento de peixe e


não possacolher todas as suas rêdes, será auxiliada por aquella que lhe estiver mais
proxima, com direito estaá metade do peixe a colher, devendo restituir a rêde dentro
do prazo de 2 horas.
Art. 42. As embarcações de pesca não poderão conduzir passageiros, cargas ou
bagagens. Aconducção de productos da pequena lavoura será permittida mediante
licença trimestral paga nacapitania.
Art. 43. As embarcações de pesca, em caso de accidente no mar, se devem mutuo
auxilio, e a queencontrar rêdes ou utensilios de urna outra os entregará ao proprio
dono ou á autoridade naval desua estação. (BRASIL, 1923b)

A primeira mudança mais marcante, quanto às embarcações de pesca, é a questão da


capacidade de carga e a possibilidade de alcance. Caso ultrapassassem o limite de oito
toneladas com navegabilidade marítima, as embarcações deveriam ter a bordo operadores de
máquinas, independentemente de serem pescadores, mas que fossem brasileiros, como o
restante da tripulação, sendo este um dos critérios para obter, da Capitania dos Portos, a
autorização para a saída do porto.
Para diferenciar as embarcações de pesca das de outro tipo, fosse no mar ou nas águas
continentais, todas passaram a ter um “Z”, proveniente da demarcação territorial de “Zonas de
Pesca”, e o número da Colônia a que pertenciam, sendo as de maior porte obrigadas a trazer o
registro da Capitania dos Portos. Outra exigência é a mesma identificação em todos os
apetrechos de pesca da embarcação.
Outra preocupação do Decreto nº 16.184/1923 é com a possibilidade de as
embarcações interferirem umas nas outras, seja pela atividade pesqueira, seja pelo simples
navegar. Por isso, fixaram-se distâncias mínimas, a serem mantidas entre as embarcações, nas
áreas de circulação e de pesca, e lhes foi imposto prestar ajuda mútua, em caso de acidente ou
de outras dificuldades, estabelecendo que, se uma embarcação abarrotada de peixes estivesse
impossibilitada de recolher todas as suas redes, teria o direito de ser auxiliada pela
embarcação mais próxima e o dever de dar a esta metade do peixe que, então, tivesse colhido.
Todas as regras são uma tentativa da Marinha de harmonizar a navegação em águas
brasileiras e de evitar demasiada competição por pescado.
O inciso seis trata da legalização dos instrumentos empregados pelo pescador, em sua
atividade rotineira. O inciso sete estabelece regras para a utilização desses instrumentos e, em
conjunto com o inciso oito, determina os períodos do ano de cada espécie e os apetrechos que
se pode utilizar, assim como as épocas de interdição da pesca, durante as desovas.
Um dos pontos mais interessantes da nova legislação de pesca, descrito no inciso
nove, tem origem, provavelmente, na viagem do Cruzador José Bonifácio, pelo qual os
marinheiros, sob o comando de Frederico Villar, além de reconhecerem e de regulamentarem
66

a pesca, registraram quais eram as formas mais agressivas da atividade, que poderiam levar à
extinção de espécies de grande importância para o Brasil.

Art. 59. O uso da dynamite ou do outro qualquer explosivo na pesca é rigorosamente


prohibido em todo tempo e logar.
Art. 60. O uso de substancias toxicas ou não, que possarn servir para matar ou
entorpecer o poixe, é da mesma fórma prohibido em todo tempo e logar.
Art. 61. E' prohibida toda pesca, seja qual for o meio empregado, nas proximidades
das descargas dos esgotos das materias fecaes ou do hospitaes, em distancia menor
de 500 metros em torno da bocca do tubo de descarga.
Art. 62. Será prohibida a pesca de certos peixes em épocas determinadas,
prohibições que irão sendo tornadas publicas e effectivas á medida que o regimen
dos ditos peixes for sendo estabelecido, de accôrdo com a sciencia e a observarção.
Art. 63. E' prohibido apanhar, commerciar, guardar ou destruir de qualquer maneira
os ovos de peixe, molluscos ou crustaceos, e bem assim as especies comestiveis de
peixes, molluscos ou crustaceos que não hajam attingido as dimensões determinadas
pela Directoria da Pesca.
Art. 64. E' prohibido pescar, vender, comprar,transportar e empregar em qualquer
uso peixes que não tenham o comprimento determinado pela Directoria da Pesca.
Paragrapho unico. Todos os ditos peixes, excepção feita dos que na idade adulta não
attingem a esses comprimentos, accidentalmente colhidos nas rêdes ou apparelhos,
devem ser immediatamente lançados ao mar.
Art. 65. As cercadas ou curraes de peixes, fixos, de qualquer denominação, são
prohibidos.
Art. 66. Não podem ser lançados nas aguas interiores os detrictos das fabricas ou
residuos de oleos dos navios.
Art. 67. E' prohibido desalojar os peixes ou outros seres marinhos quaesquer batendo
nas aguas ou nas bordas das embarcações com varas, com bambús ou outros
instrumentos, arremessando pedras ou outros projectos, com o fim de impellil-os por
esses meios a irem de encontro ás rêdes.
Art. 68. E' prohibido pescar junto ou proximo ás pedras pelo processo denominado
catuque ou de arco.
Art. 69. E' permittido o uso de fachos ou luzes de qualquer natureza na pesca, desde
que não embaracem a navegação.
Art. 70. E' prohibido impedir a livre entrada e sahida dos peixes e outros productos
marinhos, cercando com rêdes, paris ou armadilhas de qualquer especie ou
denominação as barras das bahias, portos, enseadas, lagôas, rios, riachos e canaes, e
das circumvizinhanças dos ditos logares, bem como os mangues.
Art. 71. E' prohibida a pesca com rêdes ou apparelhos de arrasto nas lagôas, nos rios,
riachos e canaes em communicação com o mar, excepção feita pelos apparelhos
especiaes nas occasiões de pesca de ostras e mariscos. (BRASIL, 1923b)

Entre as formas de pescaria proibidas, destaca-se o uso de dinamite, de substâncias


tóxicas, de redes de malha pequena, que capturem filhotes, de armadilhas fixas, com cercados
ou com currais, de cerco na foz de rios ou em outras áreas, que impeçam a circulação dos
peixes, e da técnica conhecida como arrasto na proximidade da costa ou em águas
continentais. Porém, mais inovadora, para a época, foi a proibição, expressa no Artigo 61, de
pescarias em áreas de emissários de esgotos domésticos ou hospitalares.
Quanto aos tipos de pescados e às correspondentes práticas de pesca, o Decreto nº
16.184 criou um segundo título, denominado Pescas Especiais, para tratar o assunto caso a
67

caso, dando destaque aos moluscos, às algas e às plantas marinhas, aos crustáceos, às
tartarugas e às técnicas mais rentáveis de pesca à baleia.
Ao elaborar o decreto que estabelecia estas relações na prática da atividade pesqueira,
o governo procurou, com os artigos de 125 a 135, salvaguardar a pesca e os pescadores,
vinculando direitos e deveres aos pescadores:

Art. 125. Aos brasileiros que, sós ou associados em fórma de colonia de pescadores,
ou de outra qualquer, quizerem explorar a pesca ou industrias della resultantes, no
littoral, nos rios e lagôas do dominio federal, o Governo poderá conceder os
seguintes favores:
I - Concessão de marinhas e terrenos publicos nas costas de terra firme e nas ilhas,
de accôrdo com o decreto nº 14.594, de 31 dezembro de 1920, para a fundação de
estabelecimentos industriaes de pesca;
II - Reducção dos direitos aduaneiros á metade, a pescadores colonizados, para a
importação das duas primeiras embarcações de pesca, movidas a machina ou motor
e exclusivamente destinadas á pesca pelas suas disposições internas e installações,
por intermedio da Directoria da Pesca;
IV - Isenção de todos os direitos aduaneiros para os motores marinhos, machinas,
apparelhos e mais material necessario ao inicio dos serviços da pesca e de conserva
do pescado e aproveitamento industrial dos productos aquaticos, desde que sejam
importados pela Directoria da Pesca;
V - Faculdade de sahir livremente do porto ou entrar, tanto de dia com de noite,
sendo avisada a autoridade naval a que estiver affecto o serviço da pesca, na fórma
do estabelecido no art. 31 e paragraphos.
Art. 126. A concessão dos favores das alineas IV e V do artigo acima será extensiva
ás companhias ou emprezas que estiverem funccionando na industria da pesca,
desde que só tenham nacionaes ou estrangeiros naturalizados em sua direcção
administrativa.
Art. 127. A concessão dos favores constantes do art. 126 será feita mediante
contracto, lavrado na Directoria da Pesca, no qual a companhia ou empreza
concessionaria obrigar-se-ha:
I - A não empregar estrangeiros em numero superior a um quinto dos seus
funccionarios em terra;
II - A receber e sustentar, como aprendizes, os filhos dos pescadores orphãos, que
lhes forem remettidos pela Directoria da Pesca. O numero e a idade minima desses
menores serão fixados no contracto, segundo a importancia da empreza;
III - A prestar a esses menores a instrucção pratica da industria exercida pela
companhia ou empreza;
IV - A pagar aos ditos menores, no segundo anno e seguintes, os salarios que
houverem sido fixados no contracto de que reza o art. 127, os quaes serão
independentes dos encargos da condição anterior;
Art. 129. Os terrenos de que trata o § 1º do art. 125 serão concedidas para a
fundação de colonias de pescadores mediante petição, feita pela Confederação Geral
dos Pescadores, dos terrenos de marinha e publicos, nas ilhas ou nas costas de terra
firme, depois de medidos e demarcados por empregados mandados pelo Governo,
obedecendo ás disposições dos decretos ns. 14.594 e 14.596, de 31 de dezembro de
1920. (leis de uso e disposição do solo)
Art. 134. Nas bahias, lagôas, enseadas ou ainda nos mares da costa, bem como nos
rios, as colonias de pescadores não prejudicarão, de modo algum, nem impedirão o
exercicio da pesca aos pescadores amadores, devendo-lhes prestar todos os auxilios
de que porventura carecerem.
Art. 135. O desenvolvimento do Serviço da Pesca e Saneamento do Littoral, será
garantido por uma verba de rubrica - *Pesca e Saneamento do Littoral", que fará
parte da lei annua. (BRASIL, 1923b)
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Estes artigos, embora apenas confirmem as legislações mencionadas em outros trechos


do mesmo Decreto, tentam sistematizar os direitos e as condições de trabalho dos pescadores
e deixam bem claro estar na Colônia de Pescadores o elo principal entre o pescador e o
Estado. Um dos artigos que merece especial comentário é o 127, cujo segundo inciso
condiciona as empresas, como na legislação imperial, a admitirem e a sustentarem jovens
aprendizes, que podem ser filhos de pescadores ou órfãos. Um ponto interessante do mesmo
decreto é a hierarquização do tratamento aos pescadores. Por meio dele, a Marinha, ao
estruturar a pesca nacional, institui que, para serem ouvidos, nas suas eventuais queixas e
reivindicações, os pescadores deviam submetê-las aos trâmites burocráticos. Desse modo, os
trabalhadores deveriam apresentá-las, por intermédio da Diretoria da Pesca, ou diretamente ao
diretor de portos e costas, com a possibilidade de este, em nome deles, impetrar recurso, junto
ao Ministério da Marinha. No caso de concessões federais, as representações deveriam, ainda,
passar pela Confederação Geral dos Pescadores, com sede na capital. Apesar de parecer
excesso de burocracia, tratava-se de uma tentativa de evitar desmandos locais, como os
acontecidos, antes da fundação das Colônias de Pesca, cometidos por pessoas que abusavam
do seu poder político ou econômico, para auferirem vantagens indevidas na exploração da
atividade pesqueira.
Alguns dos últimos pontos tratados, quanto aos direitos dos pescadores, são a proteção
da atividade pesqueira, por meio de projetos de saneamento, e a concessão de condições
especiais de crédito para a compra de aparelhos e de utensílios de pesca, através da Capitania
dos Portos. Ficaria, para tanto, a cargo do Ministério da Marinha a fiscalização de todas essas
concessões, segundo os artigos 136 até 140.

Art. 136. A pesca, para todos os effeitos, ficará sob a administração do Ministerio da
Marinha.
Art. 137. Para auxiliar os serviços administrativos da pesca será creada na
Inspectoria de Portos e Costas uma Directoria da Pesca, lotada com o pessoal
marcado no regulamento respectivo.
Art. 138. A' Inspectoria de Portos e Costas serão enviados todos os papeis relativos a
assumptos de pesca, os quaes, depois de estudados convenientemente e informados,
serão encaminhados ao ministro da Marinha para os devidos fins.
Art. 139. A' Inspectoria de Portos e Costas, para fiscalização da pesca, conhecimento
de paragens abundantes de peixes e mais estudos relativos á piscicultura e á pesca,
serão fornecidos navios proprios para o desempenho de taes missões os quaes farão
parte do quadro dos navios da Armada, embora estejam sob a jurisdicção daquella
inspectoria.
Art. 140. Para os estudos que se referirem á pesca e á piscicultura, empregar-se-ha,
sob a direcção da Directoria da Pesca, uma parte da verba destinada ao
desenvolvimento da pesca e saneamento do littoral.
Paragrapho unico. Nas despezas que puderem ser feitas em obediencia a este artigo,
estão incluidas as acquisições de peixes para reproducção e tudo quanto se
relacionar com a piscicultura natural e artificial. (BRASIL, 1923b)
69

Para uma maior fiscalização das atividades pesqueiras, sabendo que a Capitania dos
Portos é responsável por todas as embarcações que circulam e que atracam nos portos de sua
região, independentemente da atividade, criou-se, na Inspetoria de Portos e Costas, a Diretoria
de Pesca, dirigida por oficiais da Marinha, cuja principal obrigação, como dito anteriormente,
era a de fiscalizar a pesca e de realizar estudos e pesquisas, que beneficiassem a pesca ou a
piscicultura.
Os artigos 141 até 187, referentes à polícia da pesca, realizada regionalmente pelo
capitão dos portos e localmente pelos capatazes, mais os artigos referentes à pesca fluvial
(sobretudo, na região amazônica, desvendada pela missão do Cruzador José Bonifácio),
tratam das contravenções e das penalidades e estabelecem disposições gerais, relacionadas à
pesca (ANEXO A).
Um artigo que não pode passar despercebido é o 184, o qual determinava que os
regimentos e os estatutos das colônias e das confederações de pescadores deveriam ser
aprovados e organizados pela Marinha, por meio da Inspetoria de Portos e Costas.
A última lei do período republicano, relativa à pesca, é a nº 4.793, de 7 de janeiro de
1924, que fixa a despesa geral da República, em cujo Artigo 45 se estipula de quais formas o
governo poderia empregar as verbas públicas:

Art. 45. É o Governo autorizado:


IV. A contractar technicos competentes para ministrar aos pescadores o ensino do
preparo e conservação de peixes, principalmente aquelles que mais se prestem a
substituir em nossos mercados o bacalháo.
X. A desapropriar por utilidade publica uma área de terreno de 50mX50m,
necessaria á construcção de uma Escola Profissional da Pesca e séde social para a
Colonia de Pescadores Z-S de S. Christovão, nesta Capital, correndo a construcção
do edificio por conta da referida Colonia, que se obrigará tambem a manter alli um
mercado de venda directa dos productos das suas pescarias á população da cidade.
XII. A transferir para os Serviços da Pesca do Ministério da Marinha os empregados
da extincta Inspectoria de Pesca do Ministerio da Agricultura com os mesmos
vencimentos ou gratificações que percebem neste ultimo Ministerio.
Art. 48. As sub-consignações da verba «Pesca e Saneamento do Littoral»
comprehendidas as subvenções ás escolas, serão entregues nos mezes de janeiro,
abril, julho e outubro, por quotas trimestraes, á Inspectoria de Portos e Costas, do
Ministerio da Marinha, que as dispenderá e applicará com as formalidades do codigo
de Contabilidade nos serviços a que se destinam, á vista de documentos que provem
o seu justo emprego, e de mappas de frequencia enviados por intermedio das
Capitanias de Portos e suas delegacias e agencias.
Art. 49. Dentro das verbas votadas, a Directoria da Pesca creará premios para as
Colonias de Pescadores que apresentarem melhor qualidade de peixe em conserva de
determinados typos. (BRASIL, 1923b)

O Decreto nº 16.184/1923, por sua vez, mandava que o Governo investisse na


estruturação da atividade pesqueira nacional, com o intuito de promover o aperfeiçoamento
70

técnico, realizando a contratação de especialistas, que ministrem cursos, principalmente, de


preparo e de conservação do pescado, promovendo a construção de sedes para as escolas de
pesca das Colônias de Pescadores e ampliando as estruturas institucionais, pela incorporação
da extinta Inspetoria de Pesca ao Ministério da Agricultura.
A legislação produzida na Primeira República, por influência da Marinha, datada do
Período Imperial, para regulamentar e para desenvolver a atividade pesqueira em todas as
regiões, não, somente, promoveu o reconhecimento da figura do pescador, como, também,
resultando de um melhor conhecimento do território brasileiro, permitiu integrar o
desenvolvimento dessa atividade às estruturas do Estado. No próximo subcapítulo, o debate
parte do ponto que não há mais o interesse, por parte do Estado, de manter os veículos
empregados na pesca como uma terceira frota, vinculada à Marinha brasileira, mas, sim, de
tratar a pesca como uma atividade econômica extrativista primaria e ampliar sua inserção ao
mercado indo além da subsistência das localidades.

2.2 Reforma da legislação Pós-Segunda Guerra Mundial

Na segunda metade do século XX, a pesca experimenta vários processos de


reorganização, e a atividade pesqueira passa a não ser mais como no início do século,
adequando-se a uma nova gerência, pela criação da Superintendência do Desenvolvimento da
Pesca (SUDEPE), por meio do Decreto nº 1.942, de 21 de dezembro de 1962. Este Decreto,
instituído pelo Conselho de Ministros, reorganizou a pesca no país.
No primeiro artigo, fica clara a retirada da Marinha, como gestora da atividade
pesqueira, que passa para o Ministério da Agricultura. Diretamente, isso significa a
diminuição da pesca como ponto importante para a segurança nacional e sua inscrição, agora,
como fonte primaria de produção de alimentos: “Art. 1º Fica aprovado o Regulamento da
Superintendência do Desenvolvimento da Pesca - SUDEPE, que a êste acompanha, assinado
pelo Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura.” (BRASIL, 1962).
Para regulamentar a nova estrutura, destaco alguns dos artigos do Decreto:

Art. 2º A SUDEPE tem por finalidade:


I - elaborar o Plano Nacional de Desenvolvimento da Pesca (PNDP) e promover a
sua execução;
II - prestar assistência técnica e financeira aos empreendimentos da pesca;
71

III - realizar estudos, em caráter permanente, que visem à atualização das leis
aplicáveis à pesca ou aos recursos pesqueiros, propondo as providências
convenientes;
IV - aplicar, no que couber, o Código de Pesca e a legislação das atividades ligadas à
pesca e aos recursos pesqueiros;
V - pronunciar-se sôbre pedidos de financiamento destinados à pesca, formulados a
entidades oficiais de crédito;
VI - coordenar programas de assistência técnica nacional ou estrangeira;
VII - assistir aos pescadores na solução de seus problemas econômico-sociais;
§ 1º Para a finalidade definida neste artigo, a fauna e a flora de origem aquática são
considerados recursos pesqueiros.
§ 2º A SUDEPE exerce atribuições sôbre as atividades de piscicultura e de pesca
interior e marítima. (BRASIL, 1962)

Logo no segundo artigo, observa-se que a atividade pesqueira sofre uma mudança
brusca, passando da tutela da Marinha para a da SUDEPE. Essa mudança fica clara, pois, em
todos os itens, é ressaltada uma estrutura de arranjo assistencialista, com possibilidade de
organização, colocando o pescador como um ator, que deveria tomar parte nas decisões.
Mas, logo no Artigo 3º, vemos que a autonomia da atividade pesqueira ainda não vem
com a SUDEPE, pois fica a cargo dessa superintendência, não, só, gerir, mas executar
diretamente a função de ponte entre os profissionais da pesca e a Administração nacional,
limitando sobremodo a autonomia da categoria no período:

Art. 3º A SUDEPE poderá:


I - executar, diretamente, ou mediante convênio, acôrdo ou contrato, projetos
relativos ao desenvolvimento da pesca;
II - completar, quando conveniente, a ação dos órgãos estaduais e exercer,
supletivamente a fiscalização do cumprimento das normas federais no âmbito de
suas atribuições;
III - propor ao órgão federal competente a fixação de preços de produtos pesqueiros
para efeito de redesconto de títulos negociáveis representativos de mercadorias
depositadas;
IV - propor à Superintendência Nacional do Abastecimento a fixação de preços de
gêlo e outros produtos essenciais à pesca e ao beneficiamento e distribuição de
pescado;
V - avaliar a necessidade de importação em função do PNDP, fixando quantitativos
de utilidade e recursos para satisfaze-la, em cooperação com os órgãos de contrôle
de comércio exterior;
VI - formar e aperfeiçoar pessoal especializado;
VII - efetuar operações de revenda e financiamento de embarcações equipamentos e
outros artigos essenciais às atividades pesqueiras;
VIII - efetuar quaisquer operações financeiras com as entidades oficiais de crédito,
inclusive sob garantia do Tesouro Nacional;
IX - propor a concessão de licenças especiais visando a execução do PNDP;
X - subscrever capital de emprêsas que executem projetos industriais essenciais no
âmbito do PNDP;
XI - assumir, através de convênio, a administração dos setores federais e estaduais
ligados às atividades pesqueiras;
XII - pronunciar-se sôbre iniciativas de órgãos públicos, que afetem a pesca;
XIII - praticar quaisquer outros atos necessários ao desempenho de suas atribuições.
72

§ 1º As delegações de poderes concedidas aos Estados e que estiverem em vigor na


data de publicação do presente Regulamento, para executar a legislação aplicável a
pesca ou aos recursos pesqueiros, passarão a ser fiscalizadas pela SUDEPE.
§ 2º A SUDEPE incentivará e assistirá a criação de órgãos e serviços nos Estados
visando ampliar à área geográfica da delegação de poderes para execução da
legislação aplicável à pesca ou aos recursos pesqueiros. (BRASIL, 1962)

Essas mudanças não retiram, totalmente, a Marinha da organização da atividade


pesqueira nacional, pois ela permanece no Conselho Deliberativo, exercendo, ainda, um
controle sobre as embarcações dos pescadores, como veremos adiante. Outro ponto, dentro
dessa nova regulamentação, é a criação do Conselho Consultivo, cujo significado, de acordo
com o dicionário 22, é dar conselhos e emitir pareceres, mas, não, gerir. No entanto, devo
ressaltar que a única participação das entidades representativas dos pescadores nesse conselho
se dá, por meio da Confederação Geral dos Pescadores do Brasil, cujos participantes, nesse
período, não eram pescadores, e, sim, funcionários públicos indicados para o cargo. Além
desses pontos, temos a inserção do sistema financeiro na direção e na organização da
atividade pesqueira, visando, não, mais, à subsistência do pescador, mas às necessidades do
mercado.

Art. 4º A SUDEPE será dirigida por um Superintendente, nomeado pelo Presidente


da República.
Art. 5º As atividades da SUDEPE serão exercidas pelos seguintes órgãos:
I - Conselho Deliberativo - CD;
II - Conselho Consultivo - CC;
III - Secretaria Executiva - SE.
Art. 6º O CD do qual o Superintendente é membro nato será constituído de
representantes dos seguintes órgãos:
I - Ministério da Agricultura;
II - Ministério da Fazenda;
III - Ministério da Indústria e do Comércio;
IV - Ministério da Marinha;
V - Ministério das Relações Exteriores;
VI - Ministério da Viação e Obras Públicas;
VII - Banco do Brasil S.A.;
VIII - Banco Nacional do Crédito Cooperativo;
IX - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico;
X - Superintendência da Moeda e do Crédito;
XI - Superintendência Nacional do Abastecimento;
XII - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste;
XIII - Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia.
Art. 7º Os membros do CD e seus suplentes serão indicados pelos títulos dos
respectivos órgãos, escolhidos dentre os seus funcionários efetivos e designados por
decreto do Presidente da República.
Art. 8º O CC será constituído de representantes das seguintes entidades:
I - Confederação Geral dos Pescadores do Brasil;
II - Confederação Nacional da Indústria;
III - Confederação Nacional do Comércio;
IV - Sindicatos de Armadores de Pesca;

22
Disponível em: dicio.com.br, no verbete “consultivo”, acessado em 12/02/18.
73

V - Sindicatos de Industrias de Conservas de Pescado.


§ 1º A critério do Ministro da Agricultura, por proposta do Superintendente, poderão
ser convidados a integrar o CC, em caráter permanente ou temporário,
representantes de outras entidades.
§ 2º Os membros do CC e seus substitutos eventuais serão indicados em lista tríplice
pelas entidades representadas e designadas por portaria do Ministro da Agricultura.
§ 3º A escolha dos membros do CC recairá sôbre pessoa de reconhecida capacidade
técnica em assuntos relacionados com a finalidade da SUDEPE.
Art. 9º A SE funcionará diretamente subordinada ao Superintendente.
Art. 10. A SE terá a seguinte organização:
II - Procuradoria Jurídica - PJ.
II - Procuradoria Jurídica - PJ.
III - Departamento de Operações - DO.
a) Divisão de Projetos e Financiamentos - DPF.
b) Divisão de Comercialização e Mercados- DCM.
IV - Departamento de Serviços Básicos - DSB.
a) Divisão de Pesquisas e Assistência Técnica - DPT.
b) Divisão de Treinamento - DT.
V - Departamento de Administração.
VI - Serviço de Fiscalização - SF - DA.
a) Divisão de Serviços Gerais - DSG.
b) Divisão de Assistência Social - DSA.
VI - Serviço de Fiscalização - DF.
VII - Delegacias Regionais - DR.
Art. 11. As Divisões e o Serviço de Fiscalização poderão ser subdivididos em
seções, cujo número e competência constarão do Regimento Interno, que disporá
também, sôbre a organização das Delegacias Regionais.
Art. 12. As DDRR terão as seguintes sedes e jurisdição:
I - Delegacia Regional Norte, em Belém (PA), compreendendo: Acre, Amazonas,
Pará e Territórios do Amapá, Rio Branco e Rondônia;
II - Delegacia Regional Nordeste Setentrional, em Fortaleza (CE) compreendendo:
Maranhão, Piauí e Ceará;
III - Delegacia Regional do Nordeste Oriental, em Recife (PE), compreendendo: Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Fernando de
Noronha;
IV - Delegacia Regional Centro Sul, no Rio de Janeiro (GB), compreendendo:
Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Guanabara, São Paulo e Mato Grosso;
V - Delegacia Regional Sul, no Rio Grande do Sul (RS), compreendendo: Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
VI - Delegacia Regional Centro, em Brasília (DF) compreendendo Goiás e Distrito
Federal. (BRASIL, 1962)

O Artigo 17 mostra, claramente, que o Conselho Consultivo tem, como principal


papel, garantir a execução dos objetivos da SUDEPE:

Art. 17. Ao CC, compete:


I - promover medidas de colaboração das classes representadas, visando à execução
do PNDP e o cumprimento dos demais objetivos da SUDEPE;
II - assessorar o Superintendente no exame de matéria do interêsse das classes
representadas;
III - formular sugestões sôbre assuntos relacionados com a pesca e a assistência
econômico-social aos pescadores;
IV - aprovar o seu regimento interno. (BRASIL, 1962)
74

No Capítulo V, é tratado, brevemente, o Plano Nacional de Desenvolvimento da


Pesca, cujo principal objetivo era o de financiar a estruturação da atividade, tanto em terra
quanto no mar, para aumentar a produção pesqueira e para lhe garantir uma maior qualidade.
Não se observa nesse plano, contudo, como ele afetaria o pequeno pescador, pois tudo o que é
apresentado fica acessível, principalmente, à pesca industrial e às embarcações maiores, com
maior poder financeiro.

Art. 27. O Plano Nacional de Desenvolvimento da Pesca (PNDP) discriminará pelos


diversos setores, os empreendimentos, e medidas diversas destinadas ao
desenvolvimento das atividades pesqueiras e relacionadas com a pesca.
Art. 28. O PNDP compreenderá:
I - Justificação econômico-social da política da pesca e dos investimentos
específicos do Govêrno Federal, definindo o seu alcance nos setores básicos em que
se concentrem os investimentos públicos;
II - análise das perspectivas dos investimentos privados, com indicação das medidas
para incentivá-los e enumeração das condições prioritárias, para recebimento de
ajuda das entidades oficiais, de crédito e da SUDEPE;
III - critérios a que deve obedecer a colaboração federal com os Estados e
Municípios.
§ 1º O PNDP abrangerá período mínimo de três (3) anos, podendo ser anualmente
revisto.
§ 2º O PNDP dará destaque à realização de pesquisas e de experimentos bancários,
ao desenvolvimento da piscicultura, à organização e expansão da infraestrutura da
pesca, à informação e capacitação de mão-de-obra especializada e à assistência
técnica e financeira àqueles que exerçam atividades relacionada com a pesca ou seus
produtos.
§ 3º A amortização de financiamento concedidos pela SUDEPE segundo as
diretrizes do PNDP, pode à ser efetuada em função do valor da produção do
mutuário, mensalmente apurado.
Art. 29. As obras e serviços integrantes do PNDP não incluídas no orçamento da
SUDEPE constará dos planos de aplicação de recursos dos órgãos do Govêrno
Federal reunidos em cada caso, sob título autônomo.
Art. 30. A SUDEPE, em coordenação com a Superintendência Nacional do
Abastecimento, promoverá junto à Companhia Brasileira de Armazenamento, a
participação destas na execução de projetos do PNDP.
Art. 31. O PNDP será financiado com recursos da SUDEPE e de outras entidades
oficiais.
Art. 32. Os recursos atribuídos a outras entidades e órgãos governamentais, para
execução do PNDP e dos programas decorrentes, serão aplicados sob a supervisão e
fiscalização da SUDEPE.
Art. 33. Os órgãos ou entidades responsáveis pela execução de investimentos
integrantes do PNDP deverão apresentar à SUDEPE, até o dia 31 de dezembro de
cada ano, planos e orçamentos das obras e serviços a iniciar ou prosseguir, no
exercício imediato.
Art. 34. A SUDEPE em cooperação com os órgãos executivos interessados, atuará
junto ao Ministério da Fazenda no sentido de estabelecer calendário de entrega de
numerário em consonância com os cronogramas de execução das obras e serviços do
PNDP.
Art. 35. Os órgãos executores de obras integrantes do PNDP apresentarão à
SUDEPE, semestralmente ou sempre que esta o solicite, relatório detalhado, da
execução de cada obra definida como projeto individual e dos recursos aplicados.
Art. 36. A SE apresentará, trimestralmente, ao CD, relatório circunstanciado sôbre a
execução do PNDP, discriminando os projetos que não estejam sendo regularmente
executados. (BRASIL, 1962)
75

Outro ponto marcante é o de que a SUDEPE passa a ter todas as gerências sobre a
pesca, além de planejar, de fomentar e de ser órgão fiscalizador da atividade.

Art. 41. A fiscalização do cumprimento do Código da Pesca e de outras leis


relacionadas com a pesca ou com os recursos pesqueiros será efetuada pela
SUDEPE, diretamente ou por delegação a entidades da administração estadual ou
municipal, reservando-se, no que couber, poderes normativos.
§ 1º A administração direta será exercida nos Territórios Federais, no Distrito
Federal e nos Estados que não disponham de instrumento administrativo adequado.
§ 2º Por instrumento administrativo adequado entendem-se órgãos e serviços que
tenham condições para exercer atividades de fiscalização do cumprimento das leis e
disposições relacionadas com a pesca ou os recursos pesqueiros. (BRASIL, 1962)

Reforçando essa nova atitude, frente à atividade pesqueira nacional, entra em vigor,
em 1967, o Decreto-Lei 221 23, mais conhecido como Lei da Pesca. Ele tem, como objetivo
central, dar proteção e estímulo à pesca nacional. Mas podemos observar algumas mudanças,
que alteram a estrutura pesqueira, levando a uma valorização da produção para o mercado.
Nos primeiros artigos, que descrevem a atividade pesqueira, não há grandes mudanças
estruturais:

Art. 1º. Para os efeitos dêste Decreto-lei define-se por pesca todo ato tendente a
capturar ou extrair elementos animais ou vegetais que tenham na água seu normal ou
mais freqüente meio de vida.
Art. 2º. A pesca pode efetuar-se com fins comerciais, desportivos ou científicos;
§ 1º Pesca comercial é a que tem por finalidade realizar atos de comércio na forma
da legislação em vigor.
§ 2º Pesca desportiva é a que se pratica com linha de mão, por meio de aparelhos de
mergulho ou quaisquer outros permitidos pela autoridade competente, e que em
nenhuma hipótese venha a importar em atividade comercial;
§ 3º Pesca científica é a exercida ùnicamente com fins de pesquisas por instituições
ou pessoas devidamente habilitadas para êsse fim.
Art. 3º. São de domínio público todos os animais e vegetais que se encontrem nas
águas dominiais.
Art. 4º. Os efeitos dêste Decreto-lei, de seus regulamentos, decretos e portarias dêle
decorrentes, se estendem especialmente:
a) às águas interiores do Brasil;
b) ao Mar Territorial brasileiro; às zonas de alto mar, contíguas ou não ao Mar
Territorial, em
c) conformidade com as disposições dos tratados e convenções internacionais
ratificadas pelo Brasil;
à plataforma continental, até a profundidade que esteja de
d) acôrdo com os tratados e convenções internacionais ratificados pelo Brasil.
(BRASIL, 1967)

Como mencionado, a atividade pesqueira passa ao controle do Ministério da


Agricultura nesse período, mas ainda mantém uma ligação com a Marinha, como podemos
ver, através do sétimo artigo. No oitavo, é mantida a necessidade de ser brasileiro nato ou

23
Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca.
76

naturalizado para ser pescador. No nono artigo, passa da Marinha para o ministro da
Agricultura a responsabilidade de liberar, pessoalmente, embarcações estrangeiras para a
pesca em águas nacionais.

Art. 7º. As embarcações de pesca de qualquer natureza, seus tripulantes e


proprietários, excetuada a competência do Ministério da Marinha, no que se refere à
Defesa Nacional e à segurança da navegação, e a do Ministério do Trabalho e
Previdência Social, no que se refere à Previdência Social, ficam sujeitos às
disposições dêste Decreto-lei.
Art. 8º. O registro de propriedade de embarcações de pesca será deferido pelo
Tribunal Marítimo exclusivamente a brasileiros natos e naturalizados ou a
sociedades organizadas no País.
Art. 9º. As embarcações estrangeiras sòmente poderão realizar atividades pesqueiras
nas águas indicadas no art. 4º dêste Decreto-lei, quando autorizadas por ato do
Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura. (BRASIL, 1967)

Diferentemente das leis do início do século, a de 1967 define melhor a atividade


industrial da pesca no seu decimo oitavo artigo, e a caracteriza como uma atividade
agropecuária.

Art. 18. Para os efeitos dêste Decreto-lei define-se como "indústria da pesca", sendo
conseqüentemente declarada "indústria de base", o exercício de atividades de
captura, conservação, beneficiamento, transformação ou industrialização dos sêres
animais ou vegetais que tenham na água seu meio natural ou mais freqüente de vida.
Parágrafo único. As operações de captura e transformação de pescado são
consideradas atividades agropecuárias para efeito dos dispositivos da Lei nº 4.829,
de 5 de novembro de 1965 que institucionalizou o crédito rural e do Decreto-lei nº
167, de 14 de fevereiro de 1967, que dispõe sôbre títulos de crédito rural. (BRASIL,
1967)

A organização da atividade de pesca é bem similar à da legislação anterior, com


ressalvas, quanto à paridade com as leis trabalhistas do mesmo período e à subjugação ao
Ministério da Agricultura e à SUDEPE. Também não há menção à pesca profissional
artesanal e a sua regulamentação peculiar, deixando-a no mesmo patamar da industrial e da
dos armadores.

Art. 22. O trabalho a bordo dos barcos pesqueiros é essencialmente descontínuo,


tendo, porém, os tripulantes o direito a um descanso diário ininterrupto, seja a bordo
ou em terra, de pelo menos oito horas, a menos que se torne necessário interrompê-
lo para a efetivação de turnos extraordinários que terão duração máxima de duas
horas.
Art. 23. A guarnição das embarcações de pesca é de livre determinação de seu
armador, respeitadas as normas mínimas estabelecidas pelo órgão competente para a
segurança da embarcação e de sua tripulação. Art. 24. Na Composição da tripulação
das embarcações de pesca será observada a proporcionalidade de estrangeiros
prevista na Consolidação das Lei do Trabalho.
77

Art. 25. Os tripulantes das embarcações pesqueiras deverão, obrigatòriamente, estar


segurados contra acidentes de trabalho, bem como filiados a instituições de
Previdência Social.
Parágrafo único. O armador que deixar de observar estas disposições será
responsabilizado civil e criminalmente, além de sofrer outras sanções de natureza
administrativa que venham a ser aplicadas.
Art. 26. Pescador profissional é aquêle que, matriculado na repartição competente
segundo as leis e regulamentos em vigor, faz da pesca sua profissão ou meio
principal de vida.
Parágrafo único. A matrícula poderá ser cancelada quando comprovado que o
pescador não faça da pesca sua profissão habitual ou quando infringir as disposições
dêste Decreto-lei e seus regulamentos, no exercício da pesca.
Art. 27. A pesca profissional será exercida por brasileiros natos ou naturalizados e
por estrangeiros, devidamente autorizados pelo órgão competente.
§ 1º É permitido o exercício da pesca profissional aos maiores de dezoito anos;
§ 2º É facultado o embarque de maiores de quatorze anos como aprendizes de pesca,
desde que autorizados pelo Juiz competente.
Art. 28. Para a obtenção de matrícula de pescador profissional é preciso autorização
prévia da Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), ou de órgão
nos Estados com delegação de podêres para aplicação e fiscalização dêste Decreto-
lei. § 1º A matrícula será emitida pela Capitania dos Portos do Ministério da
Marinha, de acôrdo com as disposições legais vigentes.
§ 2º Aos aprendizes será expedida matrícula provisória. (BRASIL, 1967)

O trigésimo quinto artigo mantém uma questão já observada nas legislações do início
do século XX, que é a da preservação das espécies e da não contaminação da população. Mas
há um parágrafo único preocupante, que permite ao poder público utilizar substâncias
nocivas, para eliminar espécies invasoras, não se preocupando com impactos às demais
espécies.

Art. 35. É proibido pescar:


a) nos lugares e épocas interditados pelo órgão competente;
b) em locais onde o exercício da pesca cause embaraço à navegação; com dinamite e
outros explosivos comuns ou com substâncias
c) que em contato com a água, possam agir de forma explosiva;
d) com substâncias tóxicas;
e) a menos de 500 metros das saídas de esgotos.
Parágrafo único. As proibições das alíneas "c" e "d " dêste artigo não se aplicam aos
trabalhos executados pelo Poder Público, que se destinem ao extermínio de espécies
consideradas nocivas. (BRASIL, 1967)

Um ponto interessante, e mais aprofundado, nessa legislação, é o da aquicultura, com


incentivos a sua formação e a sua implantação.

Art. 50. O Poder Público incentivará a criação de Estações de Biologia e


Aquicultura federais, estaduais e municipais, e dará assistência técnica às
particulares.
Art. 51. Será mantido registro de aquicultores amadores e profissionais.
Parágrafo único. Os aquicultores profissionais, pagarão taxa anual correspondente a
um quinto do salário mínimo mensal vigente na Capital da República.
78

Art. 52. As emprêsas que comerciarem com animais aquáticos ficam sujeitas a
registro na SUDEPE e pagarão taxa anual equivalente a metade do salário mínimo
mensal vigente na Capital da República. (BRASIL, 1967)

A Lei da Pesca também trata detalhadamente da fiscalização, quanto às punições pelo


não cumprimento de seus preceitos, mas, como essa parte da lei não interessa para o trabalho,
no momento, não farei uma leitura detalhada dos artigos 55 até 90, que tratam das infrações,
das penas, das isenções fiscais, das deduções tributárias, para a atividade pesqueira. Como
mencionado, trata-se de uma política voltada a toda a cadeia produtiva da pesca, não havendo
uma legislação específica para a pesca artesanal, que é um dos focos dos Terminais
Pesqueiros Públicos estudados.
A partir do artigo nonagésimo primeiro, trata-se da estimulação da atividade pesqueira
e se prevê a criação de cooperativas, junto aos núcleos pesqueiros (que, nesse momento,
caracterizam as comunidades pesqueiras artesanais) e junto às colônias já existentes, através
de criação de postos e de entrepostos de pesca, para centralizar a venda dos pescados das
pequenas comunidades em núcleos urbanos adensados. Esta centralização, que não foi
concluída em sua plenitude nesse período, no território nacional, pode gerar um paralelo com
as políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos do início do século XXI, mostrando que a
intenção da centralização do mercado pesqueiro não é uma ideia recente.

Art. 91. O Poder Público estimulará e providenciará: a criação de cooperativas de


pesca nos núcleos pesqueiros, ou a) junto às atuais Colônias de Pescadores; a criação
de postos e entrepostos de pesca nas principais cidades b) litorâneas ou ribeirinhas.
Parágrafo único. Os planos e os regulamentos dos Postos e Entrepostos de Pesca
serão elaborados com a audiência da SUDEPE.
Art. 92. Quando o interêsse público o exigir, será determinada a obrigatoriedade da
comercialização do pescado através dos postos e entrepostos de pesca.
Art. 93. Fica instituído o Registro Geral da Pesca, sob a responsabilidade da
SUDEPE.
Parágrafo único. O registro dos armadores de pesca e das indústrias que se dediquem
à transformação e comercialização do pescado será feito mediante o pagamento de
uma taxa anual correspondente a um salário mínimo mensal vigente na Capital da
República. (BRASIL, 1967)

Outro ponto sobre o qual também é possível traçar um paralelo diz respeito à
continuidade das políticas públicas voltadas para os pescadores artesanais, que sai da tutela da
Marinha brasileira, no início do século XX, para o controle financeiro e administrativo da
SUDEPE, na década de 1960, não tendo, contudo, uma autonomia real.

Art. 94. As Colônias de Pescadores, as Federações e a Confederação Nacional dos


Pescadores, serão reorganizadas e suas atividades regulamentadas por ato do Poder
Executivo.
79

Parágrafo único. Até que seja definida a nova jurisdição e regulamentado o


funcionamento das Colônias de Pescadores, Federações e Confederação dos
Pescadores, poderão ser destinadas, através da SUDEPE, verbas específicas no
Orçamento da União, para a manutenção e execução dos programas de assistência
médica e educacional, propiciados por essas entidades aos pescadores profissionais e
suas famílias.
(BRASIL, 1967)

No início do século XXI, os Terminais Pesqueiros Públicos são parte de uma política
pública voltada à reestruturação da atividade pesqueira e das infraestruturas aquícola e
pesqueira brasileiras. Atrelado a eles está todo um peso normativo internacional, que impõe
certas regras, que não podem ser ignoradas, que é o ponto central do próximo subcapítulo.

2.3 Uma proposta de restruturação do espaço pesqueiro nacional: Terminais Pesqueiros


Públicos

Como observado no texto legal, os Terminais Pesqueiros Públicos têm, como ponto
central, serem responsáveis pela reestruturação da atividade pesqueira e das infraestruturas
aquícola e pesqueira brasileiras, considerando a necessidade e o interesse públicos, segundo o
Decreto-Lei nº 5.231, de 2004.
Diferente dos marcos históricos anteriores, já citados, a nova política pública de
reestruturação visa, segundo o governo, a fortalecer a atividade pesqueira:

1. Fortalecimento da parceria público-privado, pois os entrepostos são estruturas


construídas e implementadas com recursos do Estado e sua administração é entregue
ao setor privado conforme a legislação 5231/2004,
2. Acordo internacional de controle das águas de ZEE (zona econômica exclusiva)
segundo a NORMAM-04/DPC e a lei 10849/2004 que regulamenta o programa
nacional de financiamento e regulação da frota pesqueira nacional com o objetivo de
ampliar a frota de pesca oceânica até as 200 milhas das águas territoriais brasileiras.
3. Inserção do Projeto dos terminais no contexto da política nacional de logística e
transporte 108 PNLT;
4. Maior controle da distribuição do pescado com o objetivo de ordenamento da
arrecadação de impostos lei 5231/2004.
5. Articulação com a Política nacional de fiscalização sanitária que busca uma
padronização do pescado com o mercado e normas internacionais.
6. Ordenamento nacional do mercado de pescado no país. (BRASIL, 2004)

Ainda na tentativa de demostrar que todo o projeto dos Terminais Pesqueiros Públicos
não é para benefício da categoria artesanal, somente, existiu um reforço no documento
resultante da audiência pública realizada em Brasília, em 18 de março de 2015 (ANEXO A),
80

como já estabelecido, anteriormente, no Decreto-Lei nº 5.231, de 2004, os TPPs são para uso,
tanto da pesca artesanal quanto da industrial.
Em 2015, eram 18, os TPPs criados ou em criação, pelo Estado, assim divididos:
quatro estavam em operação; cinco encontravam-se em pré-operação; três constavam em
construção/aparelhamento; quatro não passavam da fase de projeto/licenciamento; e um ainda
estava no debate do planejamento, conforme o mapa da Figura 1.

Figura 1 ‒ Mapa da distribuição dos TPPs

Fonte: MPA (2015)

Neste marco mais recente, observam-se duas conjunturas: de 2004 a 2014, quando as
normas fazem referência à criação e à implementação da Lei; e de 2015, quando da
modificação proposta na legislação, pela audiência pública. Tais modificações são as
seguintes:

- O principal ponto é a mudança para permitir as concessões dos TPPs acompanhado


de mudanças estruturais na administração.
- Não é mais prioridade o beneficiamento do pescado tendo como principal atividade
a descarga e comercialização, priorizando as estruturas de porto e transporte;
- Os TPPs deverão ser instalados um por município priorizando local que demostre a
maior necessidade.
- No artigo “5º” que substitui o artigo “3º” mostra o interesse pela criação e
anexação dos mercados locais incluindo a aquicultura: O terminal Pesqueiro Público
81

é uma infraestrutura de apoio à cadeia logística da pesca e da aquicultura e serve de


entreposto do pescado nas áreas costeira e continentais de acordo com as
necessidades e interesse público;
- No artigo “6º” que substitui o artigo “4º” o principal ponto é a inclusão do
monitoramento do desembarque tanto da pesca como da aquicultura nos terminais
para um maior controle da produção e comercialização;
- Na audiência teve uma grande pressão das pessoas jurídicas que tem como objetivo
administrar os TPPs em retirar ou tornar opcional o beneficiamento do pescado (art.
7), pois demandam (para eles) maior investimento, manutenção e adequação as
normas sanitárias, o que poderá causar frequentes interrupções nas operações;
- Outra mudança marcante é no artigo “14º” que trata dos conselhos dos TPP (CTP)
que tinha a “colônia de pescadores artesanais” como membro e passa ser “entidade
de classe representativa dos pescadores profissionais artesanais no âmbito do
município”. Mudança ocorrendo também com a pesca industrial e armadores, onde
foi retirada a possibilidade de associações. (MPA, 2015, p. 1)

Na tentativa de compreensão dos Terminais Pesqueiros Públicos e de suas possíveis


interferências no rumo da história da atividade pesqueira nacional, o olhar sobre a gestão do
território e sobre o ordenamento pesqueiro faculta, hoje, a especialização na análise de
diferentes assuntos políticos, entre os quais se pode incluir o das consequências da ação do
Estado sobre a atividade pesqueira e a interferência desta ação no circuito produtivo
pesqueiro. Mas se deve ressaltar, a respeito do processo legislativo, como ensina Braverman
(2014), que, se o estudo da legislação sobre o território destaca a presença do poder no espaço
da lei, cumpre ter muito cuidado com as particularidades desse poder, que nunca deve ser
observado em sua generalidade, e, sim, nas suas manifestações específicas: dominação,
autoridade, coerção, entre outras.
Nesse sentido, devemos ressaltar dois fatores:
1. Os efeitos das leis, que exercem, por meio do estabelecimento de novas estruturas
estatais (os Terminais Pesqueiros Públicos), uma função reorganizadora da pesca e da
relação desta com a historicidade institucional das antigas estruturas pesqueiras (as
Colônias), partindo-se da premissa de que há uma demanda, da parte do Estado, por
controle territorial e sua relação com o mercado (as empresas, que vêm assumindo as
administrações dos TPPs implementados);
2. O fato de que as mudanças espaciais e sociais ocorridas nacionalmente, no decorrer
das últimas décadas, resultantes, sobretudo, dos intensos processos de modernização,
têm criado novas configurações territoriais para a atividade pesqueira, entre elas, a
diminuição das institucionalidades nos territórios da pesca. Tal mudança elucida a
lógica da produção social do urbano, que prevalece sobre a produção social do rural, e
contribui, para se compreender as consequências territoriais da nova política na vida
dos pescadores, nas suas localidades e na sua atividade econômica. A pesca tem forte
82

relação com o espaço rural e é considerada uma das mais importantes formas
extrativistas da atualidade (DIEGUES, 1983), mas a atividade adquire novos
conteúdos e sentidos no contexto da urbanização.

Na esfera atual do mercado, é necessário investigar os eventos realizados, tais como os


que deram origem à política nacional dos Terminais Pesqueiros Públicos, em seu formato
organizativo e em seus impactos espaciais, junto aos pescadores industriais e artesanais.
De acordo com a necessidade e com o interesse público, o Decreto-Lei nº 5.231, de
2004, coloca, nos seus artigos 4º, 5º e 7º, que os terminais são estruturas físicas construídas e
aparelhadas, para atender às necessidades das atividades de movimentação e de armazenagem
de pescado e de mercadorias, relacionadas à pesca. Estas necessidades são compreendidas por
instalações de apoio à atividade pesqueira, tais como: ancoradouros, docas, cais, pontes e
píeres de atracação e de acostagem, terrenos, armazéns frigorificados, ou não, edificações,
entrepostos e vias de circulação interna, bem como por infraestruturas de proteção e de acesso
aquaviário ao Terminal Pesqueiro Público, envolvendo guias correntes, quebra-mares,
eclusas, canais, bacias de evolução e áreas de fundeio. Segundo o texto do Decreto, sua
administração será realizada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, diretamente ou
indiretamente, podendo haver arrendamento, por pessoa jurídica de direito público ou
privado, motivo pelo qual os terminais envolvem o Ministério da Pesca e Aquicultura, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e o Ministério dos Transportes.
Claramente, estas mudanças não se originam e muito menos se limitam ao ano de
2004, pois sua origem se observa na Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre
a proteção e os estímulos à pesca, voltando com destaque na Lei nº 11.959, de 29 de junho de
2009, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e
da Pesca e regula as atividades pesqueiras, nas quais já havia a intenção de implantação e de
modernização dos terminais.

DECRETO-LEI Nº 221, DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967.


Art. 91. O Poder Público estimulará e providenciará: (Revogado pela Lei nº 11.959,
de 2009)
a) a criação de cooperativas de pesca nos núcleos pesqueiros, ou junto às atuais
Colônias de Pescadores; (Revogado pela Lei nº 11.959, de 2009)
b) a criação de postos e entrepostos de pesca nas principais cidades litorâneas ou
ribeirinhas. (Revogado pela Lei nº 11.959, de 2009)
Parágrafo único. Os planos e os regulamentos dos Postos e Entrepostos de Pesca
serão elaborados com a audiência da SUDEPE. (Revogado pela Lei nº 11.959, de
2009)
83

Art. 92. Quando o interêsse público o exigir, será determinada a obrigatoriedade da


comercialização do pescado através dos postos e entrepostos de pesca. (BRASIL,
1967)

LEI Nº 11.959, DE 29 DE JUNHO DE 2009.


Art. 7º O desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira dar-se-á mediante:
I – a gestão do acesso e uso dos recursos pesqueiros;
II – a determinação de áreas especialmente protegidas;
III – a participação social;
IV – a capacitação da mão de obra do setor pesqueiro;
V – a educação ambiental;
VI – a construção e a modernização da infraestrutura portuária de terminais
portuários, bem como a melhoria dos serviços portuários;
VII – a pesquisa dos recursos, técnicas e métodos pertinentes à atividade pesqueira;
VIII – o sistema de informações sobre a atividade pesqueira;
IX – o controle e a fiscalização da atividade pesqueira;
X – o crédito para fomento ao setor pesqueiro. (BRASIL, 2009)

Uma mudança significativa, estabelecida pelo Decreto-Lei nº 5.231, de 2004, é a de


que os Terminais Pesqueiros Públicos são de uso, tanto da pesca artesanal quanto da pesca
industrial, mas esse procedimento não leva em consideração as características das
embarcações, quanto aos artifícios de pesca, só sendo regulamentados, de fato, na atual Lei nº
11.959, de 29 de junho de 2009, que faz a distinção de cada categoria, em seu Artigo 8º:

Art. 8º Pesca, para os efeitos desta Lei, classifica-se como:


I – Comercial:
a) artesanal: quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma
autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou
mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de
pequeno porte;
b) industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver pescadores
profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes, utilizando
embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial;
II – não comercial:
a) científica: quando praticada por pessoa física ou jurídica, com a finalidade de
pesquisa científica;
b) amadora: quando praticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentos ou
petrechos previstos em legislação específica, tendo por finalidade o lazer ou o
desporto;
c) de subsistência: quando praticada com fins de consumo doméstico ou escambo
sem fins de lucro e utilizando petrechos previstos em legislação específica.
(BRASIL, 2009)

O Decreto nº 5.231, de 6 de outubro de 2004, que dispõe sobre os princípios a serem


observados, pela Administração Pública Federal, na criação, na organização e na exploração
de Terminais Pesqueiros Públicos, apesar de seu Artigo 2º deixar claro que a criação, a
implementação, a organização, a administração e a fiscalização são de competência do
Estado, através de suas instituições, permite, por meio do Artigo 7º, que o Estado entregue a
administração dos TPPs ao setor privado (terciarização do espaço público, da comercialização
84

e da regulamentação do pescado), criando um estrutura estatal pública/privada, que se


sobrepõe às atividades das Colônias de Pescadores, descrita posteriormente pelo Artigo 28 da
Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009.

DECRETO Nº 5.231 DE 6 DE OUTUBRO DE 2004


Art. 2º Compete à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da
República criar, implementar, organizar, administrar, fiscalizar e apoiar os
Terminais Pesqueiros Públicos.
§ 1º A fiscalização sanitária do pescado e de seus derivados nos entrepostos e
unidades de beneficiamento dos Terminais Pesqueiros Públicos é da competência do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
§ 2º Ficam resguardadas as competências da autoridade portuária nas áreas e
infraestruturas de proteção e acesso aquaviário utilizadas concomitantemente por
portos organizados e Terminais Pesqueiros Públicos.
Art. 7º A administração do Terminal Pesqueiro Público será realizada pela
Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, diretamente
ou mediante contrato de arrendamento ou de permissão de uso celebrado com pessoa
jurídica de direito público ou privado constituída e capacitada para este fim,
respeitado o procedimento licitatório. (BRASIL, 2004)

LEI Nº 11.959 DE 29 DE JUNHO DE 2009


Art. 28. As colônias de pescadores poderão organizar a comercialização dos
produtos pesqueiros de seus associados, diretamente ou por intermédio de
cooperativas ou outras entidades constituídas especificamente para esse fim.
(BRASIL, 2009)

Para normatizar definitivamente a questão da fiscalização, não, somente, dos TPPs,


mas da pesca, o Artigo 31 da Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009, determina que a
atividade pesqueira, seja ela artesanal, seja ela industrial, deve ser fiscalizada e normatizada
pelo Estado.

Art. 31. A fiscalização da atividade pesqueira abrangerá as fases de pesca, cultivo,


desembarque, conservação, transporte, processamento, armazenamento e
comercialização dos recursos pesqueiros, bem como o monitoramento ambiental dos
ecossistemas aquáticos.
Parágrafo único. A fiscalização prevista no caput deste artigo é de competência do
poder público federal, observadas as competências estadual, distrital e municipal
pertinentes. (BRASIL, 2009)

Mas o Artigo 6º do Decreto nº 5.231, indo além da normatização das atividades, que
poderiam ser realizadas nos TPPs, através de um mecanismo que permite que a administração
dos terminais seja entregue ao setor privado, tornando-o órgão fiscalizador e normatizador,
junto das instituições públicas lá instaladas, suprimindo, mesmo que de forma indireta, a
atuação das Colônias e dos demais sindicatos e associações de pesca.

Art. 6º. Na área do Terminal Pesqueiro Público, somente poderão ser realizadas as
seguintes atividades:
85

I - descarga, transporte, manuseio, classificação e pesagem de pescado;


II - beneficiamento, comercialização, estatística e armazenagem de pescado;
III - fabricação e armazenagem de gelo;
IV - comercialização de víveres, combustível, petrechos, energia elétrica, água
e gelo para o abastecimento de embarcações pesqueiras;
V - aproveitamento industrial de resíduos e rejeitos do manuseio e do
beneficiamento de pescado;
VI - reparos e manutenções de embarcações pesqueiras;
VII - formação, capacitação e qualificação de pessoal para o desempenho da
atividade pesqueira e de apoio à atividade pesqueira;
VIII - serviços bancários, de comunicações, de alimentação e ambulatoriais
destinados a atender aos usuários do Terminal Pesqueiro Público;
IX - fiscalização e inspeção do exercício da atividade pesqueira e das questões
trabalhista, sanitária, aduaneira, fazendária, ambiental e marítima, realizadas pelos
órgãos competentes, que exercerão suas funções no Terminal Pesqueiro Público de
forma integrada e harmônica;
X - realizadas pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência
da República; e
XI - definidas como de interesse do setor pesqueiro e que tenham aprovação do
Conselho do Terminal Pesqueiro de que trata o art. 11 e da Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca da Presidência da República. (BRASIL, 2004)

Este processo de substituição local das entidades representativas da pesca, através das
estruturas e das garantias de comercialização, pela administradora dos Terminais Pesqueiros
Públicos, fica mais claro no Artigo 9º do Decreto nº 5.231, que estabelece o modelo
administrativo a ser adotado:

Art. 9º Cabe à administração do Terminal Pesqueiro Público:


I - cumprir e fazer cumprir a legislação vigente e as cláusulas de eventual
contrato;
II - fiscalizar, autorizar e suspender a execução das ações de apoio à atividade
pesqueira descritas no art. 6º deste Decreto, exceto aquelas executadas por entes
públicos, zelando para que as atividades se realizem com regularidade, eficiência,
segurança e respeito ao meio ambiente, resguardada a competência da autoridade
marítima;
III - assegurar aos usuários o gozo das vantagens decorrentes dos
melhoramentos e aparelhamentos do Terminal Pesqueiro Público;
IV - elaborar os termos do regimento interno do Terminal Pesqueiro Público,
no qual, obrigatoriamente, deverão constar os custos dos serviços prestados, horários
de funcionamento, jornadas de trabalho dos seus funcionários e de eventuais
prestadores de serviços, bem como a organização e regulamentação dos serviços de
vigilância e segurança;
V - elaborar os termos do plano de desenvolvimento e zoneamento do Terminal
Pesqueiro Público;
VI - arrecadar as tarifas ou remunerações relativas aos serviços por ela
prestados na área do Terminal Pesqueiro Público;
VII - encaminhar proposta de sublocação de área para terceiros, nos casos em
que a administração dos terminais estiver regida por contrato, à Secretaria Especial
de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, visando à implementação das
atividades de apoio à pesca descritas nos incisos I a VIII e XI do art. 6o deste
Decreto;
VIII - fiscalizar a execução, ou executar diretamente, obras de construção,
reforma, ampliação, melhoramento e conservação das instalações de apoio à pesca
do Terminal Pesqueiro Público;
86

IX - adotar, no âmbito de sua competência, as medidas solicitadas pelas


autoridades pesqueira, trabalhista, sanitária, fazendária, aduaneira, ambiental e
marítima;
X - promover a remoção de embarcações, cascos de embarcações ou quaisquer
outros materiais que, por sua natureza, possam prejudicar a movimentação de
embarcações de pesca na área do Terminal Pesqueiro Público;
XI - autorizar a entrada, a saída, a acostagem, a desacostagem, o fundeio e a
movimentação de embarcações de pesca na área do Terminal Pesqueiro Público,
submetendo-se às decisões da Autoridade Marítima quando se tratar de navios da
Marinha do Brasil, de embarcações em situação de risco ou necessitando de
assistência imediata, informando a programação destes fatos aos demais órgãos
públicos competentes; e
XII - realizar coleta de dados para a elaboração de estudos estatísticos sobre
espécies, quantidades e valores de comercialização do pescado na área do Terminal
Pesqueiro Público.
§ 1o A suspensão de que trata o inciso II deste artigo se dará quando a atividade
estiver oferecendo risco às pessoas ou à qualidade ou integridade econômica do
pescado e seus derivados, destinados ao consumo humano, ou, ainda, infringindo
normas do regimento interno.
§ 2o As competências deste artigo não afastam as da Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca da Presidência da República, nem impedem que esta altere
qualquer decisão da administração do Terminal Pesqueiro Público. (BRASIL, 2004)

É possível ver a preocupação legislativa no Artigo 11 do Decreto nº 5.231, com a


possibilidade de controle da atividade pesqueira local pelos TPPs. Para que isto não aconteça,
foi estabelecido que, além da entidade administrativa (seja pública, seja privada), deverá
existir um conselho, que delibere sobre as demandas, dentro da área de atuação dos TPPs.
Esse conselho é bem amplo, como podemos ver:

Art. 11. Os Conselhos dos Terminais Pesqueiros - CTP, organizados e constituídos


em ato da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República,
são órgãos de consulta nas decisões do Secretário Especial de Aquicultura e Pesca
da Presidência da República, e integrado por um representante de cada um dos
seguintes órgãos, entes federados e organizações:
I - Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, que
os presidirá;
II - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
III - Ministério do Trabalho e Emprego;
IV - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
V - Ministério do Meio Ambiente;
VI - Estado da Federação em que se localiza o Terminal Pesqueiro Público;
VII - Município em que se localiza o Terminal Pesqueiro Público;
VIII - administração do Terminal Pesqueiro Público;
IX - pescadores profissionais artesanais;
X - pescadores profissionais industriais;
XI - armadores de pesca;
XII - empresários do setor pesqueiro; e
XIII - Colônia de Pesca do Município em que se localiza o Terminal Pesqueiro
Público.
§ 1o Todo Terminal Pesqueiro Público terá um CTP, ao qual caberá
pronunciar-se sobre:
I - o regimento interno do Terminal Pesqueiro Público;
II - a racionalização e a otimização do uso das instalações do Terminal
Pesqueiro Público;
III - o fomento, ação industrial e comercial da atividade pesqueira;
87

IV - o cumprimento, por parte da administração do Terminal Pesqueiro


Público, da legislação pesqueira, trabalhista, sanitária, aduaneira, fiscal, ambiental e
marítima;
V - o plano de desenvolvimento e zoneamento do Terminal Pesqueiro Público;
VI - as alterações dos custos dos serviços prestados no Terminal Pesqueiro
Público, em função da alteração das planilhas de custos;
VII - os programas de obras, aquisições e melhoramentos da infraestrutura;
VIII - os estudos objetivando compatibilizar o plano de desenvolvimento do
Terminal Pesqueiro Público com a política pesqueira estabelecida pela Secretaria
Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República;
IX - a sublocação de áreas do Terminal Pesqueiro Público; e
X - as ações e obrigações da administração do Terminal Pesqueiro Público e o
cumprimento deste Decreto, em especial quanto ao disposto no art. 8o.
§ 2o O quórum mínimo de aprovação dos pronunciamentos do CTP será de sete
membros. (BRASIL, 2004)

Em 18 maio de 2015, foi realizada uma audiência pública, para regulamentar o


Decreto nº 5.231. Nela, houve a participação, tanto de entidades representativas da pesca
quanto de órgãos federais, estaduais e municipais, além de empresas interessadas em ampliar
sua atuação no mercado, através dos Terminais Pesqueiros Públicos, mas, analisando as
características de cada participante da reunião, que apresento, a seguir, posso afirmar que o
comparecimento dos pescadores ou das entidade representativa da pesca foi minoritário. Em
função disso, as mudanças propostas ao Decreto atendem muito mais ao mercado do que às
necessidades dos pescadores.
Para uma melhor compreensão, quanto à lista de pessoas presentes a essa reunião
(ANEXO A), busquei, junto aos órgãos regulamentadores e aos sites das instituições, a
principal afiliação de cada participante, destacando sua atuação no órgão ou na empresa
(pública ou privada). Ressalto a necessidade de cruzamento destas análises com os dados da
pesquisa, considerando cada participante, cuja fonte documental estará em nota de rodapé.
- O primeiro participante analisado é um dos poucos representantes da categoria
pesqueira, a Confederação Nacional dos Pescadores Artesanais (CNPA), que foi
criada em agosto de 1920, com o objetivo de constituir e de defender os direitos dos
pescadores artesanais, segundo o seu estatuto, fazendo um importante papel no
laboral, no social e no cultural, para a sociedade brasileira, em relação à produção e à
comercialização de pescado, possuindo longos e exitosos 100 anos de luta pelos
direitos da importante classe trabalhadora pesqueira artesanal 24. Na audiência, este
partícipe teve um papel fundamental, como voz ativa da categoria.
- A Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa
Civil da Presidência da República esteve representada, também. A competência e a

24
Fonte: sítio http://www.cnpa.org.br/, acessado em 27/08/2020.
88

forma de atuação deste órgão são definidas pelo Art. 12. do Decreto nº 9.678, dando
um posicionamento claro, quanto a sua presença na audiência, estando, entre suas
atribuições (redação dada pelo Decreto nº 9.979, de 2019):

I - assessorar o Ministro de Estado no acompanhamento da formulação e na análise


de mérito de programas e projetos governamentais;
II - proceder à análise do mérito, da oportunidade e da compatibilidade das
propostas e dos projetos submetidos ao Presidente da República e das matérias em
tramitação no Congresso Nacional com as diretrizes governamentais;
III - promover, em articulação com a Subchefia de Articulação e Monitoramento, a
coordenação e a integração das ações do Governo federal;
IV - solicitar informações e proceder a análises e estudos sobre projetos, propostas
ou temas relativos a políticas públicas sob o seu exame;
V - preparar a mensagem presidencial de abertura da sessão legislativa do Congresso
Nacional;
VI - articular-se com os órgãos interessados para efetuar os ajustes de mérito
necessários nas propostas de atos normativos;
VII - solicitar informações, quando julgar conveniente, aos órgãos da administração
pública federal, para instruir o exame dos atos normativos sujeitos à apreciação do
Presidente da República;
VIII - disponibilizar orientações de apoio à elaboração dos pareceres de mérito;
IX - exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Ministro de Estado.
(BRASIL, 2019)25

- Um representante interessante na audiência foi o da Atlântica Combustíveis Ltda, que


é uma distribuidora de combustíveis do Grupo Calezani, que oferece produtos e
serviços aos segmentos pesqueiro e industrial há mais de 60 anos. Tal entidade possui
um interesse claro na atuação, junto aos TPPs, pois é a única empresa distribuidora do
ES com base de distribuição e com frota próprias, atendendo às demandas do Espírito
Santo, de Minas Gerais e da Bahia 26.
- Outro participante com grande interesse de atuação nos TPPs foi o representante da
Farol Indústria de Gelo e Comércio de Conveniências Ltda, uma empresa de
Navegantes (SC), que tem, como principal atividade, a fabricação e a comercialização
de gelo comum 27, para conservação, principalmente, dos pescados nas embarcações
sem refrigeração própria.
- As presenças do Presidente e do Secretário Executivo da Organização das
Cooperativas Brasileiras demonstra um viés de estímulo ao cooperativismo,
relativamente aos TPPs, prática que pode ser incitada, para gerar a ponte entre as
25
Fonte: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/composicao/orgaos-especificos-singulares/subchefia-de-analise-e-
acompanhamento-de-politicas, acessado em 27/08/2020.
26
Fonte: http://www.atlanticapetroleo.com.br/empresa.html, acessado em 27/08/2020.
27
Fonte: https://cnpjs.rocks/cnpj/08741323000148/farol-industria-de-gelo-e-comercio-de-conveniencias-ltda-
epp.html, acessado em 27/08/2020.
89

comunidades e o abastecimento de pescado dos terminais. A OCB foi criada em 1969,


durante o IV Congresso Brasileiro do Cooperativismo, com vistas a substituir e a
unificar a Associação Brasileira de Cooperativas (ABCOOP) e a União Nacional de
Cooperativas (UNASCO). Sua atuação principal é junto aos poderes executivo,
legislativo e judiciário, promovendo intermediações com entidades internacionais,
com respeito a temas ligados ao cooperativismo 28.
- Uma participação bem interessante foi a do Diretor-Presidente da Bahia Pesca,
acompanhado do Diretor Administrativo e Financeiro e do corpo técnico da empresa,
representado pelo Assessor Técnico e pelo Assessor Especial. A Bahia Pesca é uma
empresa pública, criada em 1982, vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária,
Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (SEAGRI), que tem, como finalidade,
fomentar a aquicultura e a pesca, mediante a implantação de projetos sustentáveis,
observando as naturezas econômica, social, ambiental e cultural, como forma de
contribuir para o desenvolvimento do estado da Bahia 29. Atualmente, ela possui
controle de dois TPPs (como veremos adiante) e tem, como principal modo de
atuação, a atração de investimentos, os desenvolvimentos científico e tecnológico, a
criação de polos produtores e o fortalecimento das cadeias produtivas no estado da
Bahia.
- Outra participação interessante foi a da Secretaria Executiva e Assessoria do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que tem, como principais funções, a
abertura dos dados de execução do orçamento da União e das compras
governamentais; a disseminação da cultura de abertura de dados públicos, junto a
governos locais; a implantação de tecnologias de suporte e de modelos de
licenciamento, para a publicação de dados abertos; e a apresentação de propostas de
disponibilização de informações dos sistemas governamentais, em formato de dados
abertos30. Ou seja, os prováveis motivos de sua presença eram validar investimentos e
assessorar os governos locais nas escolhas.
- Outro representante estatal era o do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, órgão que foi extinto com a edição da Lei nº 13.844, de 18 de
junho de 2019, cujas funções foram atribuídas ao atual Ministério da Economia. O

28
Fonte: https://www.ocb.org.br/ocb, acessado em 27/08/2020.
29
Fonte: http://www.bahiapesca.ba.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
30
Fonte: https://www.gov.br/cgu/pt-br/governo-aberto/a-ogp/planos-de-acao/2o-plano-de-acao-
brasileiro/ministerio-do-planejamento-orcamento-e-gestao, acessado em 27/08/2020.
90

MDIC era o órgão responsável por formular, por executar e por avaliar políticas
públicas, para a promoção da competitividade, do comércio exterior, do investimento e
da inovação nas empresas e do bem-estar do consumidor 31. A presença desta entidade
poderia estar vinculada à possibilidade de avaliar a competitividade dos TPPs, com
relação à colocação do pescado no comércio exterior.
- A presença do Presidente da Federação Nacional dos Engenheiros de Pesca do Brasil
se tornou um caso interessante, pois a FAEP-BR foi fundada em 26 de junho de 1979
e é a entidade máxima representativa da classe dos engenheiros de pesca do Brasil,
tendo sido constituída para fins de aprimoramento, de coordenação, de proteção, de
reivindicação e de representação legal dos engenheiros de pesca, quer sejam
profissionais liberais, quer sejam autônomos, quer sejam servidores públicos. É uma
sociedade civil de caráter federativo, de duração ilimitada, de base territorial nacional
e com sede e foro na cidade de Brasília (DF) 32. Em nossa avaliação, não havia motivo
para a presença desta entidade em uma audiência pública voltada diretamente à
atividade pesqueira de pequena escala, mas, analisando a função do engenheiro de
pesca, que está vinculada à criação e à captura, estendendo-se à industrialização de
organismos aquáticos, os TPPs poderiam ser uma expansão para as suas atividades.
- A Marinha do Brasil não poderia faltar a uma audiência pública sobre a atividade
pesqueira, visto que existe uma relação muito forte entre a pesca e a instituição. A
presença do Assessor para Assuntos Marítimos e Ambientais do Estado-Maior da
Armada reforça essa ideia. O Estado-Maior da Armada (EMA) teve sua origem no
período de transição do regime monárquico para o republicano, por intermédio do
Decreto nº 430, de 29 de maio de 1890. A atual versão do Regulamento do EMA foi
aprovada pela Portaria nº 126, de 7 de julho de 2008, editada pela Chefia do Estado-
Maior da Armada, e incorpora à sua estrutura organizacional as Divisões de Portos e
Hidrovias e de Mobilização. Cabe ao EMA as seguintes tarefas:

I - coordenar e controlar as atividades que lhe forem atribuídas pelo Comandante da


Marinha;
II – formular a doutrina, a política e o planejamento estratégico da Marinha;
III – exercer a coordenação e o controle das atividades dos órgãos de Direção
Setorial (ODS);
IV - formular e acompanhar a execução do Programa de Reaparelhamento da
Marinha (PRM);

31
Fonte: sítio http://dados.gov.br/organization/about/ministerio-da-industria-comercio-exterior-e-servicos-mdic,
acessado em 27/08/2020.
32
Fonte: sítio http://faep.eng.br/quem_somos.php, acessado em 27/08/2020.
91

V – controlar e coordenar a Política Marítima Nacional (PMN);


VI – supervisionar as atividades inerentes ao Plano Plurianual (PPA) do Governo
Federal, na MB;
VII - exercer a direção-geral do Sistema do Plano Diretor (SPD);
VIII - supervisionar o Sistema de Planejamento de Pessoal (SPP);
IX - planejar a logística naval e supervisionar sua execução;
X - planejar a mobilização marítima;
XI – exercer a Direção do Sistema de Ciência e Tecnologia da Marinha (SCTM);
XII - coordenar e controlar a participação da Marinha em grupos de trabalhos no
âmbito do Ministério da Defesa e interministeriais ou de interesse governamental;
XIII - coordenar com o Ministério de Defesa, e com os outros Comandos de Força, a
participação de efetivos da Marinha nas representações das Forças Armadas no País
e no exterior;
XIV - coordenar a Comissão Coordenadora dos Assuntos da Organização Marítima
Internacional (CCA-IMO);
XV – representar a Marinha nas atividades do Grupo Executivo para Modernização
dos Portos (GEMPO); e
XVI – assessorar o Comandante da Marinha no tocante às atribuições da Autoridade
Marítima. (BRASIL, 2008)33

- Um ponto obscuro e de difícil análise é a participação do Conselheiro do CONAPE,


uma instituição constituída, exclusivamente, por anistiados, que pertenceram aos
quadros das empresas do Sistema Petrobrás. Por regra, necessita-se de seus associados
uma condição estatutária, com comprovante de ser anistiado, mediante publicação no
Diário Oficial da União. Sua atuação abrange a tomada de todas as providências, que
se fizerem necessárias, nos âmbitos administrativo, judicial ou político, à defesa dos
direitos dos anistiados. Com fundação em 1979, de maneira informal, na forma de uma
comissão ‒ Comissão Nacional dos Anistiados da Petrobrás (CONAPE) 34 ‒, esta
entidade não teria nenhuma ação a fazer, no âmbito da reunião, a não ser como
investidora privada na administração dos TPPs.
- Uma empresa com fortes interesses em assumir, tanto a administração como parte das
logísticas dos TPPs, é a Posto Náutico Farol Ltda. Localizada na cidade de Navegantes
(SC), esta empresa representa, atualmente, um dos principais polos da indústria
pesqueira no Brasil, com destaque para a captura de sardinhas. Sua atuação, desde
1981, está vinculada à composição de estruturas, para abastecer as grandes
embarcações, e à fabricação de gelo 35, além de trabalhar com transporte e com
carregamento de insumos.

33
Fonte: sítio http://www.arquivodamarinha.dphdm.mar.mil.br/index.php/estado-maior-da-armada-3, acessado
em 27/08/2020.
34
Fonte: sítio http://conape.org.br/nossa-historia/, acessado em 27/08/2020.
35
Fonte: sítio http://www.postofarol.com.br/#sobrefarol, acessado em 27/08/2020.
92

- A participação do Consultor Jurídico do Ministério do Meio Ambiente tem sua


justificativa, tanto na repercussão ambiental local, com a implantação dos TPPs,
quanto pelo impacto na fauna da área de atuação de pesca. O Ministério do Meio
Ambiente (MMA) foi criado em novembro de 1992, com a missão de formular e de
implementar políticas públicas ambientais nacionais, de forma articulada e pactuada
com os atores públicos e com a sociedade, para o desenvolvimento sustentável36.
- A presença da Assessora da Secretaria Executiva do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão está ligada à preocupação com a reformulação dos princípios dos
TPPs e com o formato desta parceria público-privada, pois o Ministério do
Planejamento tem, como missão, planejar e coordenar as políticas de gestão da
Administração Pública Federal, para fortalecer as capacidades do Estado em promover
o desenvolvimento sustentável e o aprimoramento da entrega de resultados ao
cidadão 37.
- Uma participação importantíssima, para garantir o funcionamento dos TPPs, foi a do
Coordenador-Geral de Logística Portuária da Secretaria de Portos da Presidência da
República, instituição criada pela Medida Provisória n° 369, de 7 de maio de 2007.
Após aprovação pelo Congresso Nacional, o então presidente Luiz Inácio Lula da
Silva sancionou, em setembro daquele mesmo ano, a Lei nº 11.518, que consolidou o
funcionamento da SEP e o novo modelo de gestão do setor portuário, com a revogação
de diversas leis, decretos-lei e dispositivos legais. Este órgão possuía atribuições e
competências de formular políticas e diretrizes para o fomento do setor, além de
executar medidas, programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da infraestrutura
portuária, com investimentos orçamentários e com os do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). Mas esta Coordenadoria foi extinta, em 2016, através da Lei nº
13.341, repassando suas atribuições ao Ministério dos Transportes, que passou a se
chamar Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil 38.
- O Assessor Especial da Secretaria de Estado da Pesca e Aquicultura do Maranhão
tinha sua presença vinculada à própria finalidade da Secretaria, que é de formular, de
articular, de planejar e de coordenar as políticas e as diretrizes para o desenvolvimento

36
Fonte: sítio https://www.mma.gov.br/institucional.html, acessado em 27/08/2020.
37
Fonte: sítio https://www.gov.br/cgu/pt-br/governo-aberto/a-ogp/planos-de-acao/2o-plano-de-acao-
brasileiro/ministerio-do-planejamento-orcamento-e-gestao, acessado em 27/08/2020.
38
Fonte: sítio https://portogente.com.br/portopedia/78620-atribuicoes-e-metas-da-secretaria-de-portos, acessado
em 27/08/2020.
93

sustentável, integrado e participativo das atividades pesqueira e aquícola, articulado


aos objetivos e às diretrizes e à regulação das atividades de pesca e de aquicultura,
objetivando a promoção e o suporte institucional e técnico às ações e às atividades a
ela inerentes 39.
- A participação da Ouvidora-Geral da Secretaria de Infraestrutura e Fomento da Pesca
e Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura (SEIF-MPA) teve importância,
devido ao fato do órgão ser responsável pela implantação de políticas pesqueiras e
aquícolas no país, transformando esta atividade econômica em uma fonte sustentável
de trabalho, de renda e de riqueza. O MPA foi extinto no Governo Dilma Rousseff, na
reforma ministerial de outubro de 2015 40.
- O Prefeito do Município de Cabedelo (PB) teve sua participação vinculada às
seguintes questões: ser parte da Região Metropolitana de João Pessoa, no estado da
Paraíba; e possuir medidas singulares, de 18 quilômetros de extensão por apenas três
quilômetros de largura 41, tendo, de um lado, o rio Paraíba e, do outro, o Oceano
Atlântico, gerando grande potencial pesqueiro.
- A participação da Prefeitura Municipal de Imaruí, integrante da Região dos Lagos de
Santa Catarina, tem sua lógica, devido aos seus recursos naturais, pois o município é
um viveiro natural de reprodução de camarões 42, em que a pesca artesanal é segunda
maior atividade econômica, com grande potencial para implantação de um TPP.
- A Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura do Rio de Janeiro, que detém o
controle administrativo do Terminal Pesqueiro Público de Niterói, teve participação
fundamental no debate sobre a participação das prefeituras na administração dos TPPs.
A Superintendência é unidade representativa do Ministério da Pesca e Aquicultura,
com sede no Rio de Janeiro, responsável por promover o desenvolvimento e a defesa
da produção pesqueira 43.
- A presença do Coordenador do Programa Vida Melhor, da Secretaria Particular do
Governo da Bahia, esteve vinculada ao conjunto de estratégias proposta para o

39
Fonte: sítio https://sepaq.ma.gov.br/sobre-sepaq/, acessado em 27/08/2020.
40
Fonte: sítio http://www.abc.gov.br/zopacas/informacoes/InstituicaoMPA.aspx, acessado em 27/08/2020.
41
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabedelo<https://cabedelo.pb.gov.br, acessado em 27/08/2020.
42
Fonte: sítio https://www.imarui.sc.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
43
Os dados da Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura do Rio de Janeiro ficavam no site do Ministério
da Pesca e Aquicultura (www.mpa.gov.br), porém, após a extinção do órgão, estes se tornaram indisponíveis.
94

programa, que busca a inclusão socioprodutiva, pelo trabalho decente, de pessoas em


situação de pobreza. Um dos grandes diferenciais do Programa Vida Melhor, segundo
a sua Coordenação, é identificar as diferentes modalidades de trabalho e promover
ações especificamente direcionadas para os empreendimentos de economia dos setores
populares e solidários, apoiando os produtores individuais, familiares ou associados,
tanto nos espaços urbanos como nos rurais. O Programa é direcionado a pessoas
prioritariamente inscritas no CadÚnico, na faixa etária de 18 a 60 anos, e tem, além
deste público prioritário, os povos e as comunidades tradicionais 44. A partir dessas
informações, pode-se notar o interesse nas atividades pesqueiras artesanais do estado
da Bahia e de suas secretarias na audiência pública.
- A atuação do Coordenador-geral da Auditoria da Área de Agricultura e Diretor da
Diretoria das Áreas de Produção e Comunicação da Controladoria-Geral da União
(CGU) está vinculada diretamente ao próprio órgão, responsável pelo controle interno
do Governo Federal, quanto às atividades relacionadas à defesa do patrimônio público
e ao incremento da transparência da gestão, por meio de ações de auditoria pública, de
correição, de prevenção e de combate e ouvidoria à corrupção 45, exatamente a
proposta da audiência pública dos TPPs.
- A Prefeitura de Santos tem um interesse especial na área do TPP de Santos, portanto
sua participação, através do Secretário de Assuntos Portuários da Prefeitura Municipal
de Santos (SP) pode estar vinculada às mudanças das regras do controle administrativo
dos TPPs, já que o ponto estratégico da secretaria está na relação do porto com a
cidade, por meio de políticas focadas na promoção do crescimento econômico, aliadas
à inclusão social e à sustentabilidade, além de articular ações do governo municipal
pela modernização e pela expansão de atividades portuárias e retroportuárias, de
indústrias manufatureiras ou de montagem de plataformas logísticas 46.
- Uma das propostas da Lei que deu origem aos TPPs trata da inserção da aquicultura no
parecer do entreposto, para abastecimento, tanto do mercado local quanto do nacional
e, até, do internacional, aguçando o interesse do presidente da Associação Brasileira
dos Criadores de Camarão (ABCC) por uma fatia de mercado, levando-o a participar

44
Fonte: sítio http://www.setre.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=50, acessado em
27/08/2020.
45
Fonte: sítio https://www.gov.br/cgu/pt-br/acesso-a-informacao/institucional, acessado em 27/08/2020.
46
Fonte: sítio https://www.santos.sp.gov.br/?q=institucional/assuntos-portuarios-industria-e-comercio, acessado
em 27/08/2020.
95

da audiência e a colaborar com a reformulação da Lei. A Associação é uma sociedade


civil, com abrangência em todo o território nacional, com sede e foro na cidade de
Natal, capital do Rio Grande do Norte47.
- Foi importante a participação do representante da Prefeitura Municipal e Diretor do
Departamento de Agricultura e Pesca de Cananeia (SP), pois o município está situado
no extremo sul do Litoral Paulista, no centro de um corredor biológico de 110 km, que
se estende da foz do rio Ribeira, em Iguape (SP), até a baia de Paranaguá (PR), espaço
considerado um dos últimos remanescentes intocados de Mata Atlântica da costa
brasileira e um dos maiores berçários de vida marinha do planeta 48, com história na
atividade pesqueira.
- O interesse em assumir o TPP de Niterói levou à participação do Prefeito do
Município de Niterói (RJ) e da Subsecretaria de Pesca na reformulação da Lei. Niterói
é parte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e, individualmente, é o segundo
município com maior média de renda domiciliar per capita mensal do Brasil,
aparecendo na 13ª posição entre os municípios com melhores indicadores sociais do
país, referentes à educação 49, que, em relação à atividade pesqueira, encerra diversa
comunidades tradicionais, sendo a de Jurujuba uma das mais conhecidas.
- Outro representante com interesse na implantação de TPPs e, portanto, no debate da
audiência pública, foi a Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário
e da Pesca de Sergipe (SEAGRI), órgão componente da administração pública direta
do estado de Sergipe, ao qual competem a definição e a gestão da política
agropecuária do estado e, portanto, a indução do seu desenvolvimento rural. A Lei nº
7.116, de 25 de março de 2011, que dispõe sobre a estrutura organizacional básica da
Administração Pública Estadual, estabelece que compete à SEAGRI definir as
políticas de incentivo à agricultura, à pecuária, à aquicultura e à pesca 50.
- A Região Sul possui uma das frotas mais modernas de pesca, que costuma atuar em
diversos pontos do litoral brasileiro. Santa Catarina tem um dos poucos Terminais
Pesqueiros Públicos em funcionamento e isto demonstra o motivo do interesse do
Gerente de Infraestrutura Aquaviária da Secretaria de Estado da Infraestrutura de

47
Fonte: sítio https://abccam.com.br/quem-somos/, acessado em 27/08/2020.
48
Fonte: sítio https://cananeia.sp.gov.br/cidade, acessado em 27/08/2020.
49
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Niterói, acessado em 27/08/2020.
50
Fonte: sítio https://www.seagri.se.gov.br/informacoes/2/a-secretaria, acessado em 27/08/2020.
96

Santa Catarina na regulamentação das políticas públicas dos TPPs. A secretaria tem os
objetivos de planejar, de formular e de normatizar políticas, programas, projetos e
ações, referentes aos sistemas portuário e de mobilidade rodoviária, ferroviária,
hidroviária, aeroviária, cicloviária e de pedestres, além de administrar, de coordenar,
de elaborar e de executar convênios de delegação de encargos, firmados com a União
ou com os municípios do estado, de que resultem estudos, projetos, planos, programas,
construções, conservações, restaurações, reconstruções, melhoramento, ampliações e
operações da infraestrutura de transportes, de edificações e de obras hidráulicas, que
integram a infraestrutura de transportes, vinculada à SIE, aos sistemas viários, às
rodovias, às ferrovias, às vias navegáveis e aeroviárias e às instalações portuárias 51.
- A participação do Subsecretário de Aquicultura e Pesca do Município de Itapemirim
(ES) está ligada à história do município no início do século XX, período que foi
marcado pela possibilidade de construção do entreposto da Colônia do Rio Novo, que
seria ligado por um canal artificial, denominado Canal do Pinto 52. Com a possibilidade
de implantação de TPPs em comunidades ribeirinhas, sua participação na audiência
pública era de extremo interesse.
- A presença da Secretaria de Pesca da Prefeitura de Angra dos Reis na audiência
pública está vinculada à extensa história das atividades pesqueira na cidade, bem como
à preocupação com as mudanças na Lei dos TPPs. O município, situado no sul do
estado do Rio de Janeiro, conta com 365 ilhas 53, que, além de potencial pesqueiro, têm
forte apelo turístico.
- Uma participação bem peculiar na audiência, voltada para a normatização de um
espaço de comercialização de pescado, foi a da Gehr International. A empresa atua em
marketing, em venda, em instalação e em apoio logístico pós-venda de equipamentos e
de sistemas de alta tecnologia nos segmentos marítimo comercial/offshore, de meio
ambiente, militar, de segurança pública, de aviação comercial, de portos, de aeroportos
e de comunicações, no mercado brasileiro. A Gehr International é representante
exclusiva, no Brasil, das principais empresas atuantes no mercado de defesa, tais
como: General Dynamics, Astronautics Corporation of America, Krauss Maffei

51
Fonte: sítio https://www.sie.sc.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
52
Fonte: sítio https://www.itapemirim.es.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
53
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Angra_dos_Reis/, acessado em 27/08/2020.
97

Wegmann, Israel Military Industries e outras. A Gehr International é uma companhia


do Grupo Gehr 54.
- A audiência pública dos TPPs contou com as presenças de diversas empresas públicas,
com possibilidade de subsidiar ou de implantar, ou, ainda, de gerir um TPP, como a
SUB/SAPE. A Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (SAPE)
tem, como objetivo, coordenar as políticas públicas voltadas ao desenvolvimento do
setor agropecuário do Rio Grande do Norte, quer diretamente, quer por meio de suas
entidades vinculadas, como EMPARN, IDIARN e CEASA, através de abastecimento
dos mercados interno e externo com alimentos, com matérias-primas e com insumos,
para promover a industrialização 55.
- A audiência pública dos TPPs também contou com a Secretaria da Agricultura, Pesca
e Aquicultura do Estado do Ceara (SEAPA/CE), que tem a possibilidade de subsidiar
ou de implantar, ou, ainda, de gerir um TPP. Esta secretaria tem, como premissas,
formular, planejar, coordenar e executar políticas e diretrizes, para o desenvolvimento
sustentável da pesca e da aquicultura do estado. Além de suas atribuições, a SEAPA
busca atualizar e manter o Cadastro Único da Pesca e da Aquicultura do estado, em
parceria com o órgão federal competente, e ordenar e fiscalizar a pesca nas águas
continentais, costeiras e marinhas, estaduais ou delegadas pela União, além de
trabalhar na promoção da formação, na profissionalização e no aperfeiçoamento da
pesca artesanal, da pesca industrial, da pesca esportiva, da pesca ornamental e das
aquiculturas continental e marinha 56.
- A Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura do Espírito Santo, responsável por
promover o desenvolvimento e a defesa da produção pesqueira no estado, também
tomou parte na reunião.
- Uma presença icônica foi a do Ministério do Turismo, que tem o papel de desenvolver
o turismo, como uma atividade econômica sustentável, com ação relevante na geração
de empregos e de divisas, proporcionando a inclusão social 57. Este órgão não possui
nenhuma ação direta, voltada ao incentivo ou a melhorias da atividade pesqueira.

54
Fonte: sítio http://www.gehrinternationalbr.com/, acessado em 27/08/2020.
55
Fonte: sítio http://www.sape.rn.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
56
Fonte: sítio http://www.spa.ce.gov.br/index.php/indentidade-organizacional/, acessado em 27/08/2020.
57
Fonte: sítio http://www.turismo.gov.br/institucional.html/, acessado em 27/08/2020.
98

- A participação do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (SINDIFRIO) não


estava vinculada à probabilidade de obtenção do controle administrativo de um TPP,
mas, sim, à obtenção de informações sobre a constituição e sobre a questão da
representatividade, dentro das possíveis funcionalidade dos TPPs, mediante às
alterações resultantes da audiência pública, já que o Sindicato é representante das
empresas de pesca ‒ exportadoras e produtoras ‒ do Ceará, as quais têm foco na
produção de lagosta e de camarão 58.
- Interessante foi a participação de uma entidade com pouca visibilidade, frente ao
público em geral, devido a sua participação no setor produtivo de maior tecnologia da
pesca. O Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura (CONEPE) é uma sociedade civil,
sem fins lucrativos, que agrega entidades representativas dos setores pesqueiro e
aquícola do Brasil, como sindicatos de armadores e indústrias processadoras de
pescados. Ela promove a articulação entre os diversos segmentos do setor, da
produção à distribuição, atuando em parceria com o Governo e com instituições
públicas e privadas, para o desenvolvimento sustentável da atividade da pesca.
Também apresenta vinculações internacionais, buscando intercâmbios nas áreas
produtivas científicas e tecnológicas 59.
- O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
como órgão regulamentador, teve participação fundamental na audiência pública dos
TPPs. O Ibama é uma autarquia federal, dotada de personalidade jurídica de direito
público, de autonomias administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente (MMA), conforme Art. 2º da Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. De
acordo com o Art. 5º da Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007, o Ibama tem, como
principais atribuições:

I. Exercer o poder de polícia ambiental;


II. Executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições
federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à
autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle
ambiental, observadas as diretrizes emanadas do Ministério do Meio Ambiente;
III. Executar as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a
legislação ambiental vigente. [...] (BRASIL, 2007)60

58
Fonte: sítio https://www.sindfrio.com.br/, acessado em 27/08/2020.
59
Fonte: sítio https://www.conepe.org.br/, acessado em 27/08/2020.
60
Fonte: sítio https://www.gov.br/ibama/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/sobre-o-ibama/, acessado em
27/08/2020.
99

- Uma participação na audiência pública, marcada pelo interesse, não, somente, em


implantar, mas na possível gerencia de um TPPs, foi a da Prefeitura Municipal de
Bragança (PA). O município é o maior polo pesqueiro do estado do Pará, exportando
sua produção, principalmente, para as capitais do Nordeste e para todo o estado do
Pará 61.
- Como ficou dito, a Prefeitura de Santos tem um interesse especial na área do TPP de
Santos, portanto, além de sua participação, através do Secretário de Assuntos
Portuários, houve, também, a participação de representante executivo da Prefeitura,
uma vez que este município portuário é sede da Região Metropolitana da Baixada
Santista, localizada no litoral do estado de São Paulo, e abriga o maior porto da
América Latina 62.
- Um órgão fundamental na proposta dos TPPs e com participação importante na
audiência pública foi a Divisão de Inspeção de Pescado e Derivados (DIPES),
representado, nas Unidades Federativas, pela estrutura da Superintendência Federal de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento 63.
- O evento também teve a participação da instituição COLIE, cuja pesquisa, através de
buscas na Internet, não revelou mais dados.
- Como a audiência pública foi para abrir debate sobre uma legislação, não poderia
faltar um representante da Câmara dos Deputados, que acompanhou todo o processo,
segundo registro da ata.
- A Prefeitura Municipal de Camocim, cidade do estado do Ceará, localizada na foz do
rio Coreaú 64, com grande potencial pesqueiro, fez parte da audiência pública, com
interesse na nova regulamentação dos TPPs, vinculada à administração da produção e
do espaço físico.
- A audiência pública teve a participação do coordenador da Divisão de Qualidade e
Logística dos Alimentos (DILOG) da Prefeitura de São Paulo. Entre suas atribuições,
destacam-se receber e atestar a qualidade dos alimentos entregues pelas empresas
contratadas; monitorar estoques e planejar logísticas de abastecimento; e desempenhar

61
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Bragança_(Pará)/, acessado em 27/08/2020.
62
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Santos/, acessado em 27/08/2020.
63
Fonte: sítio https://www.gov.br/agricultura/pt-br/, acessado em 27/08/2020.
64
Fonte: sítio https://camocim.ce.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
100

atividades correlatas, que lhe forem atribuídas pelo Gabinete da CODAE 65. Como seu
principal interesse, poderíamos destacar uma formatação do controle do pescado e de
seu processamento, prevista na legislação.
- Outro participante bem peculiar foi o Sistema CNA, que é composto por três
entidades: a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que representa
os produtores rurais brasileiros de pequeno, de médio e de grande portes, o Serviço
Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), que atua como instrumento de formação
profissional rural e de promoção social e de qualidade de vida de homens e de
mulheres do campo, e o Instituto CNA, que desenvolve estudos e pesquisas na área
social e no agronegócio 66. Aparentemente, esta instituição não tem ligação com a
atividade pesqueira, mas possui possíveis interesses na aquicultura.
- Na audiência pública, houve a participação de um assessor parlamentar, cuja principal
função é auxiliar o parlamentar nas matérias legislativas de seu interesse, podendo
elaborar minutas e assessorar o parlamentar em reuniões 67. Como não foi possível
identificar o gabinete ao qual estava vinculado, não é viável dizer a qual setor ele se
reportaria.
- Da mesma forma que o assessor parlamentar não foi identificado, também houve a
presença de um Assessor de Comunicação, que não foi possível vincular a uma
entidade ou a um órgão. A função de uma assessoria de comunicação é de praticar a
comunicação social, que estabelece uma ligação entre uma entidade (indivíduo ou
instituição) e o público (a sociedade exposta à mídia). Em outras palavras, uma
assessoria de comunicação faz a administração de informação 68.
- Como já mencionado, o governo de Santa Cataria teve grande interesse na audiência
pública do TPPs, enviando diversas secretarias. Logo, a sessão também contou com
um representante da Secretaria de Agricultura de Santa Catarina, vinculado,
principalmente, aos produtores e aos pescadores do estado, dando-lhes suporte, para

65
Fonte: sítio https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/aba/divisao-de-qualidade-e-logistica-dos-alimentos-
dilog/4/, acessado em 27/08/2020.
66
Fonte: sítio https://www.cnabrasil.org.br/cna/, acessado em 27/08/2020.
67
Fonte: sítio https://www2.camara.leg.br/comunicacao/camara-noticias/camara-destaca/56a-legislatura/no-
exercicio-do-mandato/verba-de-gabinete/gestao-de-pessoas-do-gabinete/, acessado em 27/08/2020.
68
Fonte: sítio https://pt.wikipedia.org/wiki/Assessoria_de_comunicação/, acessado em 27/08/2020.
101

que possam seguir em frente, em suas atividades, trabalhando para produzir alimentos
e para seguir movimentando a economia de Santa Catarina 69.
- Na escala federal, houve ainda a participação do DRAER, órgão da Controladoria-
Geral da União (CGU), que é responsável por realizar atividades relacionadas à defesa
do patrimônio público, além da supervisão técnica dos órgãos, que compõem o
Sistema de Controle Interno, o Sistema de Correição e o Sistema de Ouvidoria do
Poder Executivo Federal, prestando a orientação normativa necessária 70.
- Uma participação interessante foi a da Associação dos Pequenos Produtores da
Agricultura Familiar (ASPAF), com sede em General Carneiro (MT), cidade instalada
à margem do rio das Graças. A associação tem, como principal ramo de atividade,
atuar em causas de caráter social, tais como a defesa dos direitos humanos, do meio
ambiente, das minorias étnicas 71.
- Uma participação bem burocrática foi a da Assessoria Especial de Controle Interno
(AECI), que tem os seguintes atributos:

I - assessorar diretamente o Ministro de Estado nas áreas de controle, risco,


transparência e de integridade da gestão;
II - assistir o Ministro de Estado no pronunciamento previsto no art. 52 da Lei nº
8.443, de 16 de julho de 1992;
III - prestar orientação técnica ao Secretário-Executivo, aos gestores do ministério e
aos representantes indicados pelo Ministro de Estado em Conselhos e Comitês, nas
áreas de controle, risco, transparência e integridade da gestão;
IV - prestar orientação técnica e acompanhar os trabalhos das unidades do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que visam a subsidiar a
elaboração da prestação de contas anual do Presidente da República e o relatório de
gestão;
V - prestar orientação técnica na elaboração e na revisão de normas internas e de
manuais;
VI - interagir com as unidades de auditoria interna das entidades vinculadas ao
Ministério, com vistas a subsidiar a supervisão ministerial, inclusive no que tange ao
planejamento e aos resultados dos trabalhos;
VII - auxiliar na interlocução sobre assuntos relacionados a ética, ouvidoria e
correição entre as unidades responsáveis no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento e os órgãos de controle interno e externo e de defesa do Estado;
VIII - acompanhar processos de interesse do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento junto aos órgãos de controle interno e externo e de defesa do Estado;
IX - acompanhar a implementação das recomendações da Controladoria-Geral da
União e das deliberações do Tribunal de Contas da União, relacionadas ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além do atendimento a outras
demandas provenientes dos órgãos de controle interno e externo e de defesa do
Estado;

69
Fonte: sítio https://www.agricultura.sc.gov.br/, acessado em 27/08/2020.
70
Fonte: sítio https://www.gov.br/cgu/pt-br/acesso-a-informacao/institucional/, acessado em 27/08/2020.
71
Fonte: sítio https://cnpj.biz/14633710000163/, acessado em 27/08/2020.
102

X - apoiar as ações de capacitação nas áreas de controle, risco, transparência e


integridade de gestão. (BRASIL, 2019)72

- Para a divulgação da audiência pública e de seus resultados, ocorreu a participação da


Assessoria de Comunicação Social (ASCOM) do antigo Ministério da Pesca e
Aquicultura (MPA).
- Fez parte da audiência o senhor Fernando Costa, de São Paulo, cujo vínculo também
não foi identificado, através de buscas na Internet.
- A Federação dos Pescadores e Aquicultores do Estado de Sergipe (FEPESE), entidade
de classe representativa dos pescadores de Sergipe esteve presente, igualmente.
- Outro órgão a garantir a realização da audiência pública foi a Consultoria Jurídica
(CONJUR) do antigo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).
- A Secretaria do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca da Paraíba
(SEDAP/PB) registrou sua participação, voltada para a implantação de TPPs no
estado.
- O interesse do governo da Bahia, quanto à audiência pública, está vinculada à
continuidade do funcionamento do TPP instalado no estado, portanto a participação da
Casa Civil do Estado da Bahia é justificada, pois tal órgão tem, como finalidade,
assistir ao Governador do Estado no desempenho de suas atribuições constitucionais,
políticas e administrativas.
- Outro órgão do Ministério da Pesca e Aquicultura que participou da audiência pública
foi o Sistema de Gestão de Processos Disciplinares (CGUPAD/MPA), cuja base de
dados é constituída de informações públicas acerca de processos disciplinares
registrados no Sistema CGU-PAD, mantido pela CGU e alimentado pelos órgãos e
pelas entidades do Poder Executivo Federal73.
- Na audiência pública, houve a presença de algumas empresas, com interesse na gestão
de TPPs ou de partes deles. Uma delas é a PROSEPESCA, empresa especializada em
gerenciamento de relações governamentais com empresas dos setores de pesca e de
aquicultura 74.

72
Fonte: sítio http://agronet.agricultura.gov.br/institucional/areas-do-ministerio/controle-interno/assessoria-
especial-de-controle-interno/, acessado em 27/08/2020.
73
Fonte: sítio http://dados.gov.br/dataset/cgu-pad-sistema-de-gestao-de-processos-disciplinares/, acessado em
27/08/2020.
74
Fonte: sítio http://www.projepesca.com.br/, acessado em 27/08/2020.
103

- Uma participação relevante foi a da administração do Terminal Pesqueiro Público de


Laguna, que é um dos poucos que, de fato, funciona e que possui resultados positivos,
dentro da atividade pesqueira nacional, portanto a participação de seu representante na
audiência pública foi mais que importante. Com um cais de 300 metros de extensão e
com três esteiras de recepção de pescados, podendo atracar até dez embarcações por
vez, este terminal estava sob responsabilidade da Companhia Docas do Estado de São
Paulo (Codesp), empresa pública, vinculada ao Ministério da Infraestrutura75.
- Outra participação, que demostra o interesse do setor financeiro no projeto dos TPPs,
foi a do Banco do Nordeste do Brasil S.A., que é o maior banco de desenvolvimento
regional da América Latina e que tem, como premissa, executar uma política de
desenvolvimento ágil e seletiva, capaz de contribuir, de forma decisiva, para a
superação dos desafios e para a construção de um padrão de vida compatível com os
recursos, com as potencialidades e com as oportunidades da Região 76. Temos que ter
em mente que uma instituição financeira desse porte tinha a sua presença, na
audiência, muito mais voltada para o diálogo entre as entidades públicas ou privadas,
que possivelmente assumiriam os TPPs, do que com os pescadores e com suas
demandas.
- A participação da Coordenação de Pesquisas Sistemáticas e Especiais (COPESE)
demostra que os TPPs têm, em sua estrutura, uma política muito maior do que a de ser
um simples polo de comercialização de pescado. A COPESE realiza pesquisas,
elaboradas ou não pela SEI, além de coordenar a realização mensal de duas pesquisas
permanentes: IPC (1977) e PED (1996), promovendo, ainda, pesquisas de avaliação de
políticas públicas, como PRONAF e Abandono Escolar, além de pesquisas aplicadas e
de atualização da cesta de produtos e de serviços e dos ponderadores do IPC, com base
nos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares. Ademais, esta instituição
organiza e mantém atualizado o banco de dados sobre informações socioeconômicas,
no âmbito da RMS e de Salvador, e possui um boletim anual sobre a PMC, a PED e o
IPC 77.

75
Fonte: sítio https://www.scc.sc.gov.br/index.php/noticias/821-estado-assume-terminal-pesqueiro-de-laguna-e-
projeta-criacao-de-empregos, acessado em 27/08/2020.
76
Fonte: sítio https://www.bnb.gov.br/sobre-o-bnb, acessado em 27/08/2020.
77
Fonte: sítio https://www.sei.ba.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=107&Itemid=274,
acessado em 27/08/2020.
104

- Como a proposta inicial partiu do poder executivo, a Secretaria Geral da Presidência


da República (SGPR) não poderia faltar à audiência, uma vez que ela assiste, direta e
imediatamente, o Presidente da República no desempenho de suas atribuições, além de
formular e de implementar a política de comunicação e de divulgação social do
Governo Federal78. Portanto, seu papel, na audiência pública. está ligado à construção
de uma narrativa do processo, para posterior divulgação.
- O Serviço de Inspeção Federal (SIF) é vinculado ao Departamento de Inspeção de
Produtos de Origem Animal (DIPOA), órgão responsável por assegurar a qualidade de
produtos de origem animal comestíveis e não comestíveis, destinados aos mercados
interno e externo. Todos os produtos de origem animal, sob responsabilidade do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, são registrados e aprovados pelo
SIF79. A participação do órgão é fundamental, para certificar, tanto a origem e a
qualidade do pescado quanto os possíveis produtos beneficiados, dentro das estruturas
dos TPPs.
- Os últimos órgãos a registrar participação na audiência pública foram a Assessoria de
Assuntos Estratégicos e Relações Institucionais e a Assessoria do Gabinete do
Ministro do antigo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

Dessa audiência, resultou uma proposta de alteração regulamentar, cujo principal


ponto foi a mudança das estruturas administrativas e do conselho gestor dos TPPs (ANEXO
A). As mudanças levadas a cabo ficam claras, a partir da avaliação dos participantes da
audiência, ligados, em sua maioria, a órgãos de governo e do setor privado, quase sem a
participação de pescadores, os mais impactados pelos Terminais Pesqueiros Públicos. Entre as
mudanças, podemos citar: “Não é mais prioridade o beneficiamento do pescado, tendo, como
principal atividade, a descarga e a comercialização, priorizando as estruturas de porto e de
transporte”. Esse ponto, que foi retirado na alteração da legislação, era fundamental para a
atividade pesqueira de cada localidade, em que os TPPs seriam implantados, pois, além de
gerar mais empregos, possibilitaria a valorização do pescado, através do beneficiamento.
A retirada do beneficiamento demonstra a real intenção dos interessados em
administrar os TPPs, deixando de lado a ideia inicial, de fortalecimento do setor pesqueiro, e
explicitando o cunho mercantil dos terminais.

78
Fonte: sítio http://dados.gov.br/organization/about/secretaria-geral-sgpr/, acessado em 27/08/2020.
79
Fonte: sítio https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/sif/, acessado em
27/08/2020.
105

Eis outro ponto relevante: “Os TPPs deverão ser instalados um por município,
priorizando local que demostre a maior necessidade.” A solicitação oriunda dessa reunião
pode ser vista como uma tentativa de igualar espacialmente os TPPs, quanto às leis que regem
as entidades de classe, como as Colônias de Pescadores, que também são municipais e
unitárias.
No Artigo 5º, que substitui o Artigo 3º, demonstra-se o interesse pela criação e pela
anexação dos mercados locais, incluindo os da aquicultura: “O Terminal Pesqueiro Público é
uma infraestrutura de apoio à cadeia logística da pesca e da aquicultura e serve de entreposto
do pescado nas áreas costeira e continentais, de acordo com as necessidades e interesse
público”
Essa absorção dos mercados locais de beira de praia, das Colônias de Pesca, dos píeres
dos armadores, entre outros, pode representar um domínio do mercado, através da única
opção de venda para o pescador. Isto acaba enfraquecendo as Colônias, que tiveram esse
benefício, desde a década de 1920, juntamente com outras entidades de classe, que receberam,
posteriormente, o direito de comercialização do seu pescado.
No Artigo 6º, que substitui o Artigo 4º, o principal ponto é a inclusão do
monitoramento do desembarque nos terminais, tanto da pesca como da aquicultura, para um
maior controle da produção e da comercialização.
Na audiência, houve uma grande pressão, por parte das pessoas jurídicas, que tinham,
como objetivo, administrar os TPPs, quanto a retirar ou a tornar opcional o beneficiamento do
pescado (Art. 7º), pois demandaria um maior investimento em manutenção e na adequação às
normas sanitárias, o que poderia causar frequentes interrupções nas operações.
Outra mudança marcante está no Artigo 15 (antigo Artigo 11), que trata dos Conselhos
dos TPP (CTP), os quais tinham a “Colônia de Pescadores Artesanais” como membro, e que
passam a ser uma “entidade de classe representativa dos pescadores profissionais artesanais,
no âmbito do município”. Tal mudança teve reflexos, também, para a pesca industrial e para
os armadores, dos quais as associações de pescadores foram retiradas. Essas mudanças
tiveram a seguinte justificativa, documentada:

Justificativa: é fato que os poderes públicos Estaduais e Municipais são detentores


da concessão de serviços essenciais como fornecimento de energia elétrica e água,
do qual poderá deliberar junto aos setores responsáveis subsídios e ou serviços
necessários ao TPP, além disto, os segmentos produtivos da pesca devem
obrigatoriamente participar prevendo ali ações de controle, manutenção da
sustentabilidade dos estoques e ações de fomento e regulação respectivos ao TPP e
ao setor. (BRASIL, 2004)
106

A instalação dos Terminais Pesqueiros Públicos e a interferência direta deles na pesca


podem criar nova territorialização e a reorganização espacial da pesca artesanal brasileira, em
consonância com os interesses do Estado e com normativas internacionais, e, não, com
necessidades sociais locais.
O processo modernizador, que está ocorrendo no território brasileiro, tem reduzido as
áreas de pesca, a partir da demanda solicitada pelos TPPs, e cunhando a possibilidade de
conflitos, que se aprofundam, principalmente, os relacionados ao Estado e as suas ações.
O limite das lutas dos pescadores está ligado, no decorrer do século XX e no início do
XXI, às instituições representativas da atividade pesqueira, que, em boa parte, pertencem à
ossatura do Estado (POULANTZAS, 2000) e que, portanto, têm, na sua estrutura, a
territorialização estatal denominada “território normado” (SANTOS, 2002), que "termina por
ser a grande mediação entre o mundo e a sociedade nacional e local, já que sua
funcionalização, o ‘mundo’ necessita de mediação dos lugares”.
Compreendendo teoricamente os processos de modernização do território nacional, a
presente fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil mostra a inserção do país na
globalização e demonstra como este modelo nega a história dos lugares. Portando, a origem
da política de implantação dos terminais passa a ter um papel extremamente importante na
tese, que será tratado no próximo capítulo.
107

3 APROFUNDAMENTO DA POLÍTICA DOS TERMINAIS PESQUEIROS


PÚBLICOS

Um ponto fundamental desta tese é a construção da política dos Terminais Pesqueiros


Públicos, que não é, simplesmente, uma política nacional de desenvolvimento, mas, sim, uma
forma de reestruturação de toda a cadeia produtiva da pesca, indo além do conjunto de
necessidades locais, uma vez que acompanha o cumprimento de imperativos de acordos
internacionais.
Em seu livro Mar de oportunidades: o potencial da pesca e aquicultura, a criação do
Ministério e as políticas de estímulo ao setor, Altemir Gregolin (2014), que foi ministro da
pesca de 2006 a 2011, cria uma narrativa, não, só, de seu mandato, mas de períodos
anteriores, demonstrando as carências do setor pesqueiro, a nível nacional, quanto a políticas
públicas mais estruturadas, através de propostas apresentadas 80 e executadas, a partir do
primeiro governo Lula. Frise-se que, nesse período, o governo segue uma estratégia de
“contemplar, com políticas públicas, seguimentos sociais e econômicos esquecidos por
governos anteriores”, o que resultou na criação de órgãos, como: a Secretaria de Políticas
Públicas para as Mulheres, a Secretaria de Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos
Humanos. Mas, no caso da atividade pesqueira da Secretaria de Aquicultura e Pesca (SEAP),
“era a única que iria tratar de desenvolvimento de um atividade econômica”, como especifica
Gregolin (2014).
Como visto no capítulo anterior, desde o início do século XX, não havia uma política
de desenvolvimento do setor pesqueiro que alterasse, de forma efetiva, a estrutura da
atividade pesqueira. O Brasil apresenta um gigantesco potencial pesqueiro, pois conta com
cerca de 13% da água doce do planeta, 8,4 mil km de costa marítima, 3,5 milhões de km² de
Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e 5,5 milhões de hectares de lâmina d’água represada 81.
Além disso, o país conta com “clima favorável, espécies nobres, matéria-prima abundante,
para a produção de ração para a aquicultura, e um mercado interno com grande potencial”
(GREGOLIN, 2014).
80
Proposta inicialmente em debates, durante a campanha presidencial de Lula, em 2002, gerando a Carta de
Apoio aos Pescadores (texto cuja íntegra não foi possível localizar; somente fragmentos, em textos e em
livros), Esse texto é referência para outro documento da campanha de 2002, de caráter muito mais estratégico,
evidentemente: a Carta ao Povo Brasileiro, em que o Partido dos Trabalhadores se comprometia com certas
diretrizes econômicas, evitando, assim, rumores de que poderia romper contratos e comprometer a estabilidade
do país (GREGOLIN, 2014).
81
Fonte: Gregolin (2014).
108

Nesse sentido, a pesca vê, no primeiro mandato do governo Lula, uma reestruturação,
baseada em uma independência político-administrativa nunca vista, a nível governamental.
No início do século XXI, com a criação da Secretaria de Aquicultura e Pesca e,
posteriormente, com a formação do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a atividade
pesqueira deixa de estar sob a tutela da Marinha brasileira, em relação a documentações, além
de não ser mais uma secretaria, com um orçamento limitado, dentro do Ministério da
Agricultura, que sempre teve outras prioridades, vinculada à matriz econômica
agroexportadora brasileira.
Em seu livro, Gregolin (2014, posição 1013) destaca alguns pontos interessantes, para
termos uma noção da dificuldade e da importância da atividade pesqueira: um potencial de
produção de 20 milhões de toneladas/ano, do qual temos utilizados, em média, 10%; a Zona
Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira representa metade do território nacional; e a produção
de pescado possui um gasto de energia muito inferior ao de produção de outras carnes.
Outro ponto fundamental deste trabalho, observado nos textos de Gregolin (2014), é a
ligação tênue entre a política nacional, voltada para a atividade pesqueira, e as diretrizes
resultantes dos acordos internacionais firmados pelo Brasil, nos últimos 60 anos, sobre os
usos das águas e de seus recursos.
Gregolin (2014, posição 991) utiliza a declaração da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO) sobre a importância do potencial de produção de
pescado/ano brasileiro, para atender à crescente demanda mundial. A partir da leitura desse
documento, Gregolin ressalta a importância da utilização da Zona Econômica Exclusiva
(ZEE) brasileira e apresenta as orientações da FAO, sobre o valor da criação da Secretaria
Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) para a atividade pesqueira nacional. Contudo, a
criação da secretaria demostrou a fragilidade orçamentaria do governo, devido a esta ser um
órgão de assessoramento à Presidência da República, subordinado à Casa Civil. Portanto, a
falta de autonomias administrativa e financeira (quadro de pessoal concursado pequeno e com
alta exposição política) impossibilitou ou dificultou o tratamento das demandas do setor, com
discernimentos técnicos e legais específicos, conforme Gregolin (2014).
A partir dessa realidade, ressalta Gregolin (2014, posição 1340), a FAO propôs ao
governo brasileiro “centralizar as competências em uma única instituição: fomento,
ordenamento, fiscalização, pesquisa, estatística, sanidade, para citar somente essas, dentre as
várias competências”. Esse modelo de órgão de pesquisa, de fomento, de ordenamento e de
fiscalização esbarrou em outras instituições do Estado, que deveriam abrir mão de suas
atribuições sobre a atividade pesqueira. Um exemplo, citado por Gregolin (2014), é o Ibama.
109

Mas o modelo adotado na criação do Ministério da Pesca e Aquicultura foi o de


compartilhamento e, não, o proposto pela FAO, com gestão unificada em um único órgão.
Apesar de o resultado não ter seguido as orientações internacionais, as diretrizes tomadas pelo
governo brasileiro na administração da pasta e na construção da legislação nacional da pesca
seguiram diversos acordos internacionais, mediados, principalmente, pela Organização das
Nações Unidas (ONU), como demostrarei, mais tarde.
Fechando os argumentos de Gregolin (2014) sobre a atividade pesqueira no período do
seu mandato, é apresentada, de forma resumida, a questão dos Terminais Pesqueiros Públicos,
não, mais, fazendo ligação com a FAO, mas, sim, com a necessidade de termos uma rede de
entrepostos de abastecimento de pescado, vinculada ao Governo Federal, em todo o território
nacional, sob controle de uma parceria público-privada, composta, inicialmente, pela SEAP e,
posteriormente, por parte do MPA. Um ponto fundamental de sua análise é:

Importante destacar que todos tiveram sua construção precedida por estudos de
viabilidade. Em 2003, foi realizado pela SEAP um seminário internacional com o
objetivo de estudar as melhores experiências para viabilizar a gestão dos terminais
existentes. A concessão por longo período (10 anos com renovação para mais 10
anos) à iniciativa privada foi a forma considerada mais viável. Assim iniciou-se o
processo de concessões. O resultado foi negativo pelo total desinteresse do setor
privado em assumir esses terminais. (...) O principal problema é que os terminais são
economicamente deficitários. Não são viáveis economicamente. Isso se deve ao fato
da existência de um setor ainda sendo desenvolvido, com volume de desembarque
insuficiente em alguns polos, ou a existência de terminais privados em outros, ou
ainda as dificuldades de pescadores artesanais pagarem taxas de desembarque que
permitam a manutenção desses terminais. Ou seja, o modelo de gestão desenvolvido
não dá conta da realidade do setor pesqueiro brasileiro. O setor Privado não tem
interesse em assumir terminais que não deem lucro. (GREGOLIN, 2014, posição
2660)

Fechando o tema dos Terminais Pesqueiros Públicos (TPP), Gregolin (2014) apresenta
proposta, como ministro, de que a gestão dos TPPs deveria ser feita por uma empresa pública,
criada exclusivamente para essa função, devido às alegações, feitas pelos parceiros privados,
de não haver lucro nos terminais. Mas ele comenta que tal forma de gestão passaria para o
público-privado, assim que os TPPs se estruturassem e se tornassem superavitários.
Interessantemente, a posição do então ministro é bem semelhante à apresentada pela FAO, no
tocante ao modo como deveria ser o órgão governamental voltado ao setor pesqueiro 82. A

82
A FAO também relatava quais deveriam ser as atribuições de um órgão governamental voltado ao setor
pesqueiro. Tal órgão deveria ter:
• A capacidade de integrar as dimensões sociais, econômicas e ambientais do desenvolvimento sustentável;
• Um marco legal adequado e atualizado, favorecendo, em especial, a criação de leis de pesca e de
aquicultura;
• Hierarquia institucional, que permitisse autonomia administrativa, financeira e de gestão;
110

FAO, no sentido de ajudar os países a assumir um enfoque mais responsável no manejo da


pesca, baseado nos ecossistemas, propõem, também, que o país deveria seguir os seguintes
itens:

Meta Nacional: Em nível nacional, não é fácil ter, implementar e impor planos de
manejo efetivos para a pesca e elaborar leis necessárias para controlar a explotação
em suas zonas exclusivas de pesca. Portanto, poucos países manejam bem este
assunto.
Os princípios-chave do Código incluem:
• Basear o manejo de pesca nos mais fidedignos dados científicos
disponíveis;
• Utilizar enfoques conservadores de manejo quando sejam incertos os
efeitos das práticas pesqueiras (o princípio da precaução);
• Evitar a sobrexploração, prevenindo ou eliminando a pesca além da
capacidade suporte;
• Minimizar os descartes e a pesca incidental;
• Proibir os métodos de pesca destrutivos;
• Restabelecer os estoques esgotados;
• Implementar leis nacionais, planos de manejo e mecanismos de vigilância
adequados;
• Monitorar os efeitos da pesca sobre todas as espécies do ecossistema e não
somente nas populações de espécies particulares;
• Trabalhar em cooperação com outras nações para coordenar as políticas de
manejo e controle e vigilância;
• Reconhecer a importância da pesca artesanal e de pequena escala e o valor
das práticas tradicionais de manejo;
• Desenvolver uma aquicultura ambiental e socialmente responsável. 83

O então ministro teve duas opções (GREGOLIM, 2014, posição 2662): criar uma nova
empresa pública para gerir os TPPs; e utilizar a parceria de uma empresa pública já existente.
A segunda opção foi a escolhida, e a empresa selecionada para gerir os TPPs, com
participação do Ministério, foi a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), através da
qual cada TPP teria um plano de gestão, visando a sua autossuficiência, e os déficits seriam
cobertos com recursos do MPA. Mas, com o fim do segundo mandato do governo Lula e o
início do governo Dilma, a troca de ministros levou ao fim da parceria, deixando os TPPs na

• Capacidade suficiente de contratação pública e privada, de negociação interinstitucional e de participação


no âmbito internacional;
• Estrutura especializada que permitisse um enfoque na cadeia produtiva, e alto nível técnico de análise e
multidisciplinaridade nos enfoques e métodos de trabalho;
• Investimento em pesquisa, com informação quantitativa e analítica completa e atualizada do setor;
• Formulação e análise técnica de recursos humanos;
• Serviços eficientes de controle e vigilância;
• Instrumentos de consulta e participação para formulação de políticas públicas;
• Quadro funcional preparado para lidar com assuntos técnicos e legais específicos;
(GREGOLIN, 2014, posição 1181)
83
Disponível em: https://www.mma.gov.br/estruturas/205/_publicacao/205_publicacao29112010050729.pdf,
acessado em 30/01/2020
111

política antiga e sem uma definição de gerência, mantendo muitos fechados e sem usos
definidos.
A atividade pesqueira nacional é muito frágil, historicamente, e localmente
fragmentada, se levarmos em consideração os termos organizacionais, a partir de suas
lideranças, devido, principalmente, ao ritmo de trabalho ao qual o pescador se submete,
quando em pequenas embarcações, com saídas diárias exaustivas, para garantir o sustento de
sua família, e, quando em embarcações maiores, com longos períodos no mar, que podem ser
de uma semana, de um mês ou, até, de mais do que isso, gerando uma representatividade
política efêmera, tanto a nível nacional quanto local, diferente de outros setores da economia,
que, além de estarem presentes nas respectivas Câmaras, ainda possuem força institucional,
para pressionar todos os processos legislativos.
Esta situação acaba gerando, no setor, uma pressão legislativa que, em alguns pontos,
são avanços e, em outros, são barreiras ao desenvolvimento. E, como demonstrado neste
trabalho, boa parte das leis construídas para gerir a atividade pesqueira não é demandada pelo
setor.
Tal realidade revela outro exemplo de descaso, para com a atividade: no primeiro
mandato do governo Lula, houve a 1ª Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca, que foi
resultado de uma política de proximidade com o setor. Contudo, as conferências não são
ideias novas, pois já estavam previstas nas legislações de outros setores, desde a década de
1930 84.
Foram 27 conferências, em todos os estados da Federação e no Distrito Federal, as
quais geraram a 1ª Conferência Nacional de Aquicultura e Pesca, realizada de 25 a 27 de
novembro de 2003, na qual 953 delegados e delegadas, de um universo de 1.056
representantes, discutiram e aprovaram subsídios, para a construção de uma política de
desenvolvimento sustentável da aquicultura e da pesca, que respeitasse às particularidades
regionais e à pluralidade de opiniões 85. Tal Conferência teve 55% de suas deliberações
abarcadas na agenda do Governo Federal86. Petinelli (2011, p. 239) observa que o alto índice
de deliberações ocorreu, devido a um grande volume de atores estatais (50%), somado a
representantes de associações profissionais e de empresários, mas era esperado um índice
84
Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937.
85
Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/conferencias/Aquicultura_Pesca/deliberacoes_1_conferencia
_aquicultura_pesca.pdf, com acesso em 25/01/2020.
86
PETINELLI, V. As Conferências Públicas Nacionais e a formação da agenda de políticas públicas do Governo
Federal (2003-2010). Opinião pública, Campinas, v. 17, n. 1, jun. 2011. p. 228-250.
112

ainda maior de inclusões na agenda do Governo, por parte desses grupos, pois, na verdade,
eles possuíam ampla capacidade inclusiva.
Isso nos leva a outro ponto, que toca às políticas voltadas à atividade pesqueira,
adotadas nacionalmente, no início do século XXI. Como abordarei mais detalhadamente, após
a Constituição de 1988, o Brasil vem assinando diversos acordos internacionais, vinculados
ao uso das águas. Do meu ponto de vista, o mais importante foi a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, realizada em Montego Bay, em 10 de dezembro de 1982, que
foi aprovada, pelo Congresso Nacional, através do Decreto Legislativo nº 5, de 9 de
novembro de 1987, ratificada, pelo Brasil, em 22 de dezembro de 1988, e promulgada, pelo
Presidente da República, por meio do Decreto nº 99.165, de 12 de março de 1990.
O texto do acordo também pode ser visto em uma publicação do Ministério do Meio
Ambiente sobre a pesca, no qual a Convenção sobre o Direito do Mar das Nações Unidas é
apresentada como fonte para a regulamentação:

Agora e no futuro, para que se obtenha sucesso no manejo sustentável da pesca, a


alternativa desejável ao manejo individual da pesca e de espécies alvo, será o
enfoque ecossistêmico. Infelizmente, muitos governos ainda preferem a primeira
opção para suas práticas de manejo. A Convenção sobre o Direito do Mar das
Nações Unidas (CONVEMAR) outorgou aos países costeiros, em 1994, direitos
exclusivos de explotação de 200 milhas náuticas a partir da costa. Esta área é
chamada Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e é onde se realiza 90% da pesca
marinha. Esse acordo reduziu significativamente a área de “livre acesso”, ou águas
internacionais, onde não há um controle sobre explotação (atualmente, somente 5%
da pesca mundial provém dessa área de “águas internacionais”). Portanto, em geral,
a decisão foi vista como algo positivo. Contudo, algumas metas devem ser seguidas.
Meta Internacional: os peixes não “reconhecem” os limites das ZEEs (como o atum
e o peixe-espada, que são conhecidos por nadarem milhares de quilômetros),
passando para as águas internacionais. Assim, para se pescar algumas espécies que
facilmente cruzam essas áreas é necessário a colaboração formal de países vizinhos.
Um estudo recente estima que os acordos bilaterais ou multilaterais efetivos sejam
exceção e não regra 87.

Esses acordos não tratam, diretamente, dos Terminais Pesqueiros Públicos ou da


atividade pesqueira artesanal ou industrial, mas, sim, dos usos das águas, principalmente, dos
mares e, em especial, da Zona Econômica Exclusiva, forçando o Brasil a adotar certos
cuidados nas suas novas legislações, para cumprir com as normativas internacionais.
Para construir uma narrativa sobre o período de elaboração do Decreto-Lei nº 5.231,
tenho que ir além da narrativa da própria normatização e entender melhor o período em que
ela foi escrita, ou seja, o governo do PT, mas precisamente, o primeiro mandato do governo

87
Disponível em: https://www.mma.gov.br/estruturas/205/_publicacao/205_publicacao29112010050729.pdf,
com acesso em 30/01/2020.
113

Lula. Portanto, no próximo subcapítulo, tratarei de compor uma breve narrativa sobre esse
governo e sobre as suas políticas.

3.1 Uma breve análise sobre o Governo do PT

Para construir uma narrativa sobre o governo do PT, é necessário entender, mesmo
que de maneira sucinta, o governo anterior, pois o Plano Real, instituído por Fernando
Henrique Cardoso, continuou presente no primeiro mandato do governo Lula.
Em seu livro, Sampaio Jr. (2017, posição 233) observa que “após uma década de
ajuste à crise da dívida externa, no início dos anos 90, a sociedade brasileira abraçou
definitivamente as recomendações do Consenso de Washington” 88. Ele ainda ressalta que foi
no governo de Fernando Henrique Cardoso que a “desarticulação do mercado interno como
eixo dinâmico do crescimento e a elevada vulnerabilidade da economia às vicissitudes do
capital internacional” afetaram a capacidade econômica brasileira de geração de empregos
com qualidade e com boa remuneração para a população mais jovem, chegando ao mercado
de trabalho.
O resultado foi que, na segunda metade da década de 1990, o Brasil possuía,
aproximadamente, 40% da sua força de trabalho subempregada ou, simplesmente,
desempregada. Com o agravante, ainda, da impossibilidade de incorporação “às indústrias
modernas, as massas urbanas marginalizadas vivem na desesperança, alienadas nas ilusões de
um misticismo mercantilizado”. Outra característica marcante desse período da história
brasileira era o quanto a população estava sujeita ao descaso, por parte do poder público, e à
violência, por parte do crime organizado, no seu cotidiano (SAMPAIO JR., 2017, posição
240).
Pensando em termos macroeconômicos, segundo Sampaio Jr. (2017, posição 325), nos
oito anos de mandato FHC são evidentes os elevados custos econômico e social da frágil
estabilidade inflacionária construída pelo plano Real. “Incapaz de enfrentar as causas
estruturais da instabilidade monetária – as crônicas fragilidades cambial e fiscal da economia
brasileira –, FHC sacrificou as condições de vida da população e hipotecou o futuro da

88
Resumidamente, as dez medidas do Consenso de Washington são: disciplina fiscal; reordenamento nas
prioridades dos gastos públicos; reforma tributária; liberalização do setor financeiro; manutenção de taxas de
câmbio competitivas; liberalização comercial; atração de investimentos diretos estrangeiros; privatização de
empresas estatais; desregulamentação da economia; e proteção a direitos autorais.
114

nação”, tudo, para manter estáveis os preços dos produtos, através de uma “política
econômica, que asfixiou o crescimento econômico, aumentou dramaticamente a
vulnerabilidade externa e comprometeu a dívida interna, como instrumento de financiamento
de políticas públicas”. Para Sampaio Jr. (2017):

[...] a defesa da estabilidade como um fim em si camufla o caráter antissocial,


antinacional e antidemocrático do Plano Real, cujo verdadeiro objetivo é defender os
interesses do grande capital nacional e internacional e promover a modernização dos
padrões de consumo de uma exígua parcela da sociedade brasileira. (SAMPAIO JR.,
2017, posição 325)

Sampaio Jr. (2017) faz, em seu livro, um comparativo, para tornar possível uma visão
mais clara do Plano Real e de suas características na economia nacional:

O fraco desempenho da economia brasileira ampliou ainda mais a distância que nos
separa dos países desenvolvidos. Medida em dólar, em 2002 a renda per capita deve
ficar em torno de US $ 2,9 mil dólares, 19% inferior à registrada em 1994 e 42%
abaixo do nível atingido em 1997, no ápice do Plano Real . Em comparação com a
renda per capita norte-americana, a diferença relativa, que girava em torno de sete
vezes quando FHC tomou posse, deve elevar - se para dez vezes em sua saída. O
hiato de riqueza entre o Brasil e as economias desenvolvidas deve ampliar - se ainda
mais, pois a promessa de que a privatização elevaria o investimento não se cumpriu.
Nos anos FHC, a taxa de investimento da economia ficou deprimida em torno de
17% do PIB, marca bem inferior à verificada nos anos oitenta, a chamada década
perdida. Após o reinado tucano, a famigerada “modernização”, isto é, a corrida atrás
dos padrões de consumo das economias centrais, ficou ainda mais restrita a um
reduzido número de brasileiros. (SAMPAIO JR., 2017, posição 338)

A partir da análise do último mandato de FHC, que foi marcado por um crescimento
do desemprego, sendo acompanhado de forte deterioração dos rendimentos da população,
Sampaio Jr. (2017, posição 352) apresenta pontos importantes, que demostram como o
governo Lula recebeu o Brasil para governar, em seu primeiro mandato:

A natureza altamente regressiva do modelo econômico brasileiro fica demostrada na


sua absoluta incapacidade de transferir os aumentos na produtividade do trabalho
para o salário real. O comportamento da indústria de transformação é emblemático.
Enquanto entre 1994 e 2001 a produtividade por trabalhador registrou um aumento
superior a 50%, a renda real média dos ocupados registrou uma diminuição de 8%.
Nesse contexto, não é de estranhar que a participação do salário na renda nacional
tenha sofrido expressiva diminuição, caindo de 36% do PIB em 1993 para 27% em
2000 (desempenho que contrasta com o comportamento dos lucros, que aumentaram
de 35% para 41% do PIB). (SAMPAIO JR., 2017, posição 352)

A partir da crítica realizada por Sampaio Jr. (2017), foi possível dizer que, no final do
mandato de FHC e no início do primeiro mandato de Lula, temos uma população destituída de
115

seu poder de compra, com um salário reduzido, perante o crescimento da economia e o


aumento dos lucros, em relação ao PIB.

A herança fiscal de FHC é incompatível com seu autoproclamado compromisso com


a responsabilidade fiscal. De nada adianta elevar a carga fiscal e produzir crescentes
superávits primários (recursos deduzidos da receita fiscal para pagar parcela dos
juros) se tal esforço não redundar em aumento nos gastos públicos e redução relativa
da dívida pública. Nesse caso, o ajuste fiscal é em vão e só serve para protelar a crise
de inadimplência. É o que aconteceu no Brasil de FHC. O aumento da carga
tributária em quatro pontos percentuais entre 1994 e 2002 (levando-a 34 % do PIB)
foi quase que integralmente consumido na formação de crescentes superávits
primários . Reféns da dívida pública, União, estados e municípios viram sua
capacidade de fazer políticas públicas esvair - se em nome da necessidade,
sacramentada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, de cumprir os compromissos
financeiros com seus credores. Nem assim a trajetória exponencial de elevação da
dívida pública foi revertida. (SAMPAIO JR., 2017, posição 426)

Para Sampaio Jr. (2017, posição 527), a transição entre o governo FHC e o governo
Lula é marcada por poucas mudanças, em relação à política econômica, como um todo. Na
agenda de transição ao governo Lula, o conteúdo das reformas propostas no legislativo é
similar ao das pautas assumidas pelo governo FHC com o FMI (notadamente, quanto à
reforma da previdência, à reforma tributária e à autonomia para o Banco Central). Para
Sampaio Jr. (2017), os compromissos explicitados na Carta de Intenções, de agosto de 2002, e
reafirmados, em fevereiro de 2003, pelo governo Lula: “são verdadeiras contrarreformas,
medidas desenhadas, para aprofundar o neoliberalismo no Brasil, reforçando ainda mais a
blindagem institucional, que fecha a possibilidade de políticas econômicas alternativas”. Não
se estranhou, portanto, o entusiasmo e o assanhamento do mercado nesse período.
Mas Sampaio Jr. (2017, posição 2225) ressalta dados relevantes sobre o governo Lula:

[...] a noção de que a economia brasileira vive um momento ímpar de sua história
apoia - se em diversos elementos da realidade. Afinal, após duas décadas de
estagnação, entre 2003 e 2011 a renda per capita dos brasileiros cresceu à taxa média
de 2,8 % ao ano. Nesse período, o país manteve a inflação sob controle e, salvo a
turbulência do último trimestre de 2008, no ápice da crise internacional, não sofreu
nenhuma ameaça de estrangulamento cambial. Desde a segunda metade da primeira
década do milênio o volume de divisas internacionais supera o estoque de dívida
externa com os bancos internacionais, configurando [...] uma situação na qual o
Brasil aparece como credor internacional, dando a impressão de que, finalmente, os
problemas crônicos com as contas externas teriam sido superados. A população
sentiu os efeitos da nova conjuntura de maneira bem palpável. Após décadas de
demanda reprimida, o aumento da massa salarial e o acesso ao crédito provocaram
uma corrida ao consumo. O governo calcula que o número de empregos gerados no
período Lula – 2003 - 2010 – tenha ultrapassado 14 milhões. Associando grandes
negócios, crescimento econômico, aumento do emprego e modernização dos
padrões de consumo à noção de desenvolvimento, o discurso do PT apresentou a
nova conjuntura como demonstração inequívoca de que o Brasil teria, finalmente,
criado condições objetivas para um desenvolvimento capitalista autossustentável.
(SAMPAIO JR., 2017, posição 2229)
116

Para compreender melhor esse momento da história brasileira (do governo PT),
retomemos, de modo um pouco mais aprofundado, o livro 10 anos de governos pós-
neoliberais no Brasil: Lula e Dilma, organizado por Sader (2013). Em sua entrevista com
Luiz Inácio Lula da Silva, o cientista afirma que ele é um político prático, intuitivo, buscando
uma resolução sólida dos problemas. Tomando esse ponto como base e graças a essa aptidão,
o governo Lula “desenvolveu, no país, um complexo processo de articulação política, que
tornou viável a prioridade do social e a promoção de políticas igualitárias, a soberania externa
e a recuperação do papel ativo do Estado na construção dos direitos dos cidadãos” (SADER,
2013, posição 111).
Respondendo a Sader (2013), sobre o desenvolvimento da economia, Lula diz:

O que eu guardo é o seguinte: eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida como
ganharam no meu governo. Nem as emissoras de televisão, que estavam quase todas
quebradas; os jornais, quase todos quebrados quando assumi o governo. As
empresas e os bancos também nunca ganharam tanto, mas os trabalhadores também
ganharam. Agora, obviamente que eu tenho clareza que o trabalhador só pode
ganhar se a empresa for bem. Eu não conheço, na história da humanidade, um
momento em que a empresa vai mal e que os trabalhadores conseguem conquistar
alguma coisa a não ser o desemprego. (SADER, 2013, posição 285)

Quanto à política externa, parte importante na tese, Garcia (2013, posição 1299) indica
que predominavam debates sobre a nova ordem mundial multipolar, relativamente aos seus
aspectos econômico e político. A situação internacional necessitava saber mais claramente
qual seria o papel que a América do Sul poderia desempenhar: “A disjuntiva era: o Brasil
podia (ou queria) ser, isoladamente, um polo na nova ordem global em construção ou buscaria
ocupar um lugar de destaque nela, junto a todos os países da América do Sul?”. O Brasil
escolheu se destacar como um polo na nova ordem global.
Podemos destacar alguns fatos narrados por Garcia (2013):

A nacionalização dos ativos da Petrobras pelo governo Evo Morales provocou uma
onda de protestos no Brasil , onde não estavam ausentes manifestações racistas ( “
até quando vamos aguentar este índio ” ) ou propósitos belicistas , como a sugestão
de que o governo concentrasse tropas na fronteira e pudesse , até mesmo , invadir a
Bolívia . Esses protestos não levavam em conta o fato de que o governo boliviano
havia utilizado critérios legais semelhantes aos da legislação brasileira. Omitia - se
também que a Petrobras tenha sido devidamente indenizada e lá continue operando.
A renegociação das tarifas de Itaipu foi outra batalha difícil e a aprovação do acordo
firmado entre os presidentes Lula e Lugo só foi obtida após intensa batalha
parlamentar, na qual opositores não economizaram considerações chauvinistas. As
dificuldades nas relações comerciais com a Argentina, ainda que em certas
oportunidades os processos administrativos utilizados por autoridades de Buenos
Aires sejam objetáveis, não podem esconder um elemento central: a enorme
importância do mercado daquele país para o sistema produtivo brasileiro. Não deve
117

ser desconsiderado, tampouco, o considerável superávit brasileiro que tem marcado


as relações entre os dois países nos últimos anos. (GARCIA, 2013, Posição 1398)

Além das questões sul-americanas, o Brasil se teve papel ativo em outras ações
internacionais:

[...] país com mais de 10 milhões de imigrantes de origem árabe , mas não só por
essa razão , o Brasil passou a dar enorme importância ao Oriente Médio , região que
, por sua relevância econômica , política e cultural , tem significação estratégica para
os destinos da humanidade e da paz mundial .[...] A proposta turco - brasileira aceita
por Teerã foi objeto de consultas e negociações prévias nos meses que antecederam
o acordo e coincidiu com a posição do presidente Obama , expressa a Lula em carta
reservada , só mais tarde tornada pública . Pouco depois, a recusa do acordo e a
adoção de novas sanções pelo Conselho de Segurança da ONU (contra os votos da
Turquia e do Brasil) mostravam mais do que uma rigidez das grandes potências.
Revelavam a inconformidade delas com o fato de que países “periféricos” tivessem
obtido diplomaticamente do Irã o que elas não haviam conseguido com suas
ameaças. O desfecho do episódio revelou a precariedade do sistema multilateral e
uma visão distorcida dos instrumentos de resolução de contenciosos. Três anos após
a recusa do Acordo de Teerã, o mundo encontra - se mais longe de uma solução do
problema nuclear iraniano. (GARCIA, 2013, posição 1480)

Segundo Garcia (2013, posição 1522), o Brasil foi em busca da firmação de sua nova
posição internacional, através, principalmente, do pleito de integrar o Conselho de Segurança
da ONU na condição de membro permanente, não, somente, pela visibilidade, mas “trata-se,
antes, de dar eficácia à ONU e legitimidade a seu Conselho de Segurança, que reflete, hoje,
em sua composição, uma correlação de forças internacionais ultrapassada, de mais de sessenta
anos”.
Esse novo posicionamento brasileiro no cenário mundial multipolar, de acordo com
Garcia (2013, posição 1543), implicava atuar em múltiplas frentes, como no caso da atuação
do Brasil no “Haiti, ao abrigo das Nações Unidas e do Direito Internacional, ele está não
apenas participando de uma iniciativa multilateral, mas dando sentido próprio a esse tipo de
missão, distinto das intervenções internacionais passadas em países demandantes de
estabilização”. Além dessas questões, o governo brasileiro teve ações em terrenos muito
diversificados, como a participação intensa na reforma de instituições, como o FMI, o Banco
Mundial, a FAO ou a Organização Mundial do Comércio. Para Garcia (2013, posição 1570),
“A voz altiva da política externa brasileira fazia-se ouvir, uma vez mais, na maior caixa de
ressonância mundial”, ressaltando o discurso do governo Lula sobre a construção de um
“Estado democrático, para corrigir distorções – de consequências sociais catastróficas –, que a
irracionalidade dos mercados acarretara”.
118

A nova dinâmica social, construída nos governos liderados pelo PT, era “capaz de
ampliar a justiça e a coesão social e de romper com uma das maiores vergonhas nacionais: a
profunda desigualdade social”, de acordo com Mattoso (2013, posição 2629), graças ao
conjunto de programas e às ações do Estado, com o intuito de garantir renda, acesso a bens e a
serviços e a regulação, através do salário mínimo, gerando uma maior capacidade política de
enfrentar a pobreza e a desigualdade endêmicas e favorecendo à ampla recuperação do
mercado interno.

Em um país como o Brasil, marcado historicamente por uma extraordinária


desigualdade, a redução da pobreza e a redistribuição da renda ocorridas nos últimos
dez anos são claramente inovadoras e caracterizam um novo período de ampliação
da democracia e de massiva inserção de vários milhões de brasileiros na sociedade e
no consumo. Os efeitos da elevação do gasto social agregado (cerca de 23 % do
PIB) , da conformação de inovadoras políticas sociais e do aumento do salário -
mínimo impactaram positivamente a distribuição da renda e a redução da pobreza ,
favorecendo também a elevação do rendimento médio do trabalho , do salário -
mínimo real (mais de 70 % na última década) e o consequente fortalecimento do
mercado de trabalho (com redução da informalidade e do desemprego) e a expansão
do mercado interno . Nesse período, a taxa de pobreza (percentual de membros da
classe E no total da população) despencou de 26,7 % em 2002 para cerca de 12,8 %
em 2012. A porcentagem de brasileiros pertencentes à mal denominada classe
média2 saltou de 38 % para mais de 52 % da população total no mesmo intervalo, e
o medidor da desigualdade (índice de Gini) caiu de 0,589 em 2002 para 0,527 em
2011 (dados recentes do Ipea indicam 0,522 para até setembro de 2012).
(MATTOSO, 2013, posição 2629)

Para Mattoso (2013, posição 2670), o sucesso dos governos do PT não se deveu,
exclusivamente, às esferas econômica ou social, “mas ao uso de políticas inovadoras, capazes
de articular o econômico e o social e de potencializar o crescimento, a produtividade e a
institucionalidade, gerando algo inexistente, ao longo das duas décadas anteriores”.
Mattoso (2013, posição 2708) destaca a continuidade das políticas de desenvolvimento
no governo de Dilma Rousseff:

[...] com a preservação da valorização do mercado interno e das políticas sociais,


mas insistindo agora em algumas mudanças estruturais da economia, como a
redução dos juros, da sobrevalorização do real e o fortalecimento da
competitividade. Apesar do crescimento restrito e da menor relação investimento -
PIB verificados em 2011 e 2012, graças às mudanças implementadas já se pode
identificar o início de um novo ciclo de crescimento econômico favorecido pela
retomada dos investimentos. O Investimento Direto Estrangeiro continuou
ingressando massivamente no país , alcançando 65 bilhões de dólares em 2012 , e os
investimentos feitos pelo Governo Federal com recursos do orçamento somaram , no
mesmo ano , R $ 59,4 bilhões – um crescimento de 13 % sobre o ano de 2011 ,
sendo que os investimentos destinados ao PAC apresentaram elevação de 28 %
sobre o ano anterior. (MATTOSO, 2013, posição 2708)
119

Todas a políticas apresentadas geraram uma estabilidade, que não foi alcançada, no
mesmo nível, por governos anteriores. Seguindo com essa linha descritiva, Pochmann (2013,
posição 3330, inserção nossa) relembra que, “[em] relação à desigualdade, no sentido da
reversão, na distribuição pessoal da renda do trabalho é compatível com a elevação da renda
per capita dos brasileiros nos anos 2000”. Ele sustenta que houve um aumento na participação
dos rendimentos do trabalho em toda a renda nacional, bem como ocorreu uma ampliação na
taxa de ocupação, em relação ao total da força de trabalho.
Pochmann (2013, posição 3416) declara, ainda, que o estado de bem-estar social
brasileiro, com referência ao âmbito da seguridade social (saúde, previdência e assistência
social), foi paralisado pela política neoliberal da década de 1990, impossibilitando o avanço
do gasto social, sendo que tais investimentos foram retomados no governo do PT. Outro dado
marcante dessa nova política econômica, liderada pelos investimentos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foi que o Brasil passou a constituir suas
grandes corporações transnacionais (nas áreas de construção civil, de alimentos, de energia,
de siderurgia e de transporte, entre outras), “cujo objetivo era de se recolocar no espaço
restrito da ultra monopolização da competição capitalista mundial, guiada por não mais do
que quinhentas corporações transnacionais. As três maiores delas possuem um faturamento
anual que equivale ao PIB brasileiro” (POCHMANN, 2013, posição 3455).
Em seu livro, Pochmann (2013, posição 3509) afirma que o governo Lula, com forte
ênfase nas políticas sociais, possibilitou ao Brasil emergir e se reorganizar, em torno de um
novo projeto de desenvolvimento nacional, em que os gastos sociais passaram a ser
considerados uma ferramenta fundamental na coesão da sociedade brasileira e um
multiplicador da incorporação pelo mercado de consumo.
Pochmann (2013) destaca, ainda, que:

o governo Lula ousou ao romper com o passado, o que permitiu substituir o déficit
pelo superávit comercial e fazer do mercado interno a principal fonte do presente
dinamismo da economia nacional. Para isso, fortaleceu gradualmente a gestão
operacional e técnica do Estado, paralisando a privatização e reativando o
planejamento reorganizador do investimento público e da coordenação das
expectativas do setor privado. (POCHMANN, 2013, posição 3535)

Em tom crítico, Duarte (2018, posição 306) declara que, durante o governo Lula, suas
bases políticas se sustentariam na democracia de cooptação, formando um apaziguamento da
classe trabalhadora e uma tranquilidade para os negócios, mas que essas bases teriam sido
fincadas de maneira frágil, criando dependência do bom andamento, uma da outra. Além
120

disso, a relação de dependência externa foi se agravando, ao longo dos anos, e essa fragilidade
ficou visível, logo no primeiro ano do governo Dilma, estagnando a economia brasileira e
causando a ampliação das reivindicações dos movimentos populares.

E o que ocorre não é nada além do recorrente, a classe capitalista que estava
ganhando altas taxas de lucro enquanto a democracia de cooptação estava em pleno
funcionamento, quando chega a crise de acumulação continua tentando manter seus
ganhos. Nestas condições, já não há mais bases para a democracia de cooptação na
forma de antes e o governo de conciliação de classes chega a seu fim. (DUARTE,
2018, posição 317)

Em seu livro, Brum (2019) apresenta um ponto importante, para descrever esse
momento da história brasileira, principalmente, para o entendimento do comportamento da
sociedade no pós-governo Lula:

O Brasil é tão desigual e tão racista, porém, que mesmo o que era pouco provocou
uma reação que só se tornou explícita no governo de Dilma Rousseff, já no início da
segunda década do século. Ainda que esta não seja uma revolução, a possibilidade
de um pobre poder voar de avião" ou de um filho da classe trabalhadora ter um
diploma universitário, dois marcos simbólicos do final do governo Lula, muda o
Brasil. Ao ter acesso a outras experiências, as pessoas se transformam. isso tem
impacto sobre as aspirações cotidianas e sobre a forma de olhar para si mesmas e de
se relacionar com os outros. E impacta de muitas maneiras. inclusive no desejo de
consumir ainda mais. Ao mesmo tempo, ao aproximar os mais pobres de bens
materiais e de espaços até então exclusivos da classe média, o governo Lula atinge
algo caro para essa classe média que era definida como “tradicional”: atinge aquilo
que a diferenciava dos mais pobres. Essa perda foi sentida. Para essa parcela da
sociedade, não eram os mais pobres que ampliavam seus direitos, mas ela que perdia
seus privilégios — ou sua diferença “positiva” de classe (BRUM, 2019, posição
444).

Ainda nessa linha de pensamento, Margingoni (2017) constrói uma narrativa, para
compreendemos um pouco a elite brasileira, na qual, como ele argumenta, cabe um pouco de
tudo: empresários, artistas, banqueiros, pastores, milionários, jornalistas, políticos
conservadores, estrelas da indústria cultural, etc.

A verdade, contudo, é que parte importante da “elite”, ou melhor, da burguesia,


apoiou ativamente os governos do PT. Durante o segundo governo Lula da Silva e o
primeiro governo Dilma Rousseff, mormente no biênio 2011-2012, importantes
associações do grande empresariado nacional manifestaram, sistematicamente, apoio
à política econômica, social e externa desses governos – associações do agronegócio
e da indústria, grandes bancos nacionais, grandes empresas do ramo das
telecomunicações etc. As associações da grande burguesia interna identificavam
nesses governos seus representantes políticos. As críticas que faziam à política
econômica eram secundárias ou seguiam a linha do “está bom, mas queremos mais”.
É impreciso e incorreto, portanto, afirmar que as “elites” eram oposição aos
governos do PT. (MARGINGONI, 2017, posição 588)
121

Mas Margingoni (2017), em uma elaboração secundária, entende que essa burguesia
não via, no governo PT, uma solução para a crise econômica e, principalmente, para o
controle dos movimentos populares, gerando uma crise:

A crise econômica e a ascensão do movimento reivindicativo tiveram, de fato, forte


impacto na crise política. Contudo, o dado empírico incômodo para o tipo de análise
que agora nos ocupa é que parte da burguesia, a sua fração associada ao capital
internacional, sempre se opôs aos governos do PT. Essa oposição não nasceu no
momento da crise. Ela esteve a cargo, no plano partidário, do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) e do Democratas (DEM), que são partidos burgueses
e neoliberais, e fez-se fortemente presente, também, na grande imprensa. O defeito
principal desse tipo de análise é ignorar que a burguesia não age como bloco
homogêneo na política brasileira; ignorar que a burguesia está dividida, ainda que de
modo flexível, em frações com interesses específicos e conflitantes. É verdade que
os interesses e posições da burguesia associada não são vocalizados de maneira tão
aberta quanto aqueles da burguesia interna, cujas associações corporativas estampam
clara e publicamente suas posições. Contudo, os interesses e posições do capital
internacional e da burguesia associada são vocalizados por instituições
internacionais – como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo
Monetário Internacional (FMI) –, pelos governos imperialistas e por blocos
regionais como a União Europeia. Dentro do Brasil, existem também associações
empresariais atuando em setores estratégicos e importantes da economia nacional,
como é o caso do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que vocalizam os interesses
do capital internacional e da burguesia associada. O IBP representa os interesses das
petroleiras e estaleiros navais estrangeiros e ganhou proeminência política no
processo de aprovação do novo regime de exploração do petróleo já sob o governo
Michel Temer. (MARGINGONI, 2017, posição 602)

Portanto, para Margingoni (2017):

A ofensiva política iniciada em 2013, já no decorrer das manifestações de junho, e


que cresceu progressivamente com a polarização da campanha eleitoral de 2014 e
com a luta de rua pelo impeachment em 2015, era uma ofensiva do grande capital
internacional e da fração da burguesia brasileira a ele integrada que, apoiada na alta
classe média descontente com a política social dos governos do PT. Ela visava a
restaurar o neoliberalismo puro e duro da década de 1990. Poder-se-ia esperar que a
grande burguesia interna defendesse o governo, mas não foi o que aconteceu.
Porém, não aconteceu tampouco a adesão massiva e militante da burguesia interna
ao golpe do impeachment. As posições políticas no seio dessa fração foram variadas.
Tivemos, num dos extremos, a atividade pública e militante da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pelo golpe de Estado e, noutro, a posição
de resistência do segmento da construção pesada à perseguição que lhe faz a
operação Lava Jato. (MARGINGONI, 2017, posição 681)

Fechando essa breve narrativa do governo PT com o impeachment da presidente


Dilma Rousseff, demostro como foi a interrelação nacional/internacional nos diversos
momentos das políticas adotadas. O próximo subcapítulo tratará de evidenciar mais
profundamente a relação das políticas dos Terminais Pesqueiros Públicos com as ações do
período político apresentado e, principalmente, com as políticas internacionais.
122

3.2 Apontamentos sobre a política internacional no governo Lula e a construção


institucional dos Terminais Pesqueiros Públicos

Retomando o debate sobre o governo Lula, que foi caracterizado por uma maior
visibilidade internacional, tendo, como um dos marcos dessa diplomacia, a tentativa de
inserção do país no Conselho de Segurança da ONU, como membro permanente, é
interessante o posicionamento de Alles (2015, posição 292): “a diplomacia de Lula buscou
uma inserção internacional, com vistas, ostensivamente, a ampliar o perfil político do país e,
sem confessá-lo, mas de maneira igualmente evidente, contribuir a que o presidente adquirisse
estatura de estadista”.
Para tanto, temos que avaliar alguns pontos: ao iniciar seu primeiro mandato, em 2003,
Lula deu continuidade às políticas macroeconômicas, iniciadas pelo governo anterior. Com a
estabilidade econômica alcançada pelo Plano Real 89, conquistada com o sacrifício de políticas
sociais, foi possível implementar, finalmente, políticas de infraestrutura e de inclusão social e
buscar, nas relações exteriores, um novo posicionamento para o Brasil, como liderança sul-
americana, visando a uma maior participação nos conselhos da ONU.
Lula, em seu discurso de posse, em 2003, analisado por Alles (2015, posição 984),
defende a democratização das relações internacionais e a reestruturação do Conselho de
Segurança da ONU, demandando mais representatividade, não, somente, dos países
desenvolvidos, mas, também, dos países em desenvolvimento. Também, destaca-se que os
novos fios condutores da política externa brasileira seguiriam na busca de uma “globalização
solidaria e humanista” 90. Tal diplomacia solidária poderia ser entendida como a aplicação de
uma ação coletiva internacional, feita por países intervenientes, num conflito interno ou

89
Conjunto de medidas econômicas, elaborado no início da década de 1990, na sequência de tentativas de
estabilização da economia brasileira, depois da crise da dívida externa, no início da década de 1980, que tinha
duas características básicas: a intenção deliberada de fugir aos movimentos bruscos e do elemento-surpresa,
que fizeram a glória e o fracasso de seus antecessores, e que atingiram o paroxismo no Plano Collor; e a
insistência da equipe de governo em anunciar o plano, como uma estratégia multifásica de estabilização, da
qual a reforma monetária seria apenas um momento; não, necessariamente, o mais importante. Essas duas
características tinham o objetivo de desarmar os espíritos dos agentes econômicos, que tinham se habituado a
associar programas de estabilização a perdas súbitas de direitos. Disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/plano-real, acessado em 26/01/2020.
90
Alles (2015, posição 1103).
123

internacional, em que tenham interesses, de ordem material ou estratégica, e sendo movidos


por dever de consciência 91.
O governo Lula acabou tomando o caminho da diplomacia internacional, no anseio de
se diferenciar da gestão anterior, como afirma Alles (2015, posição 2788): “sob o discurso da
não indiferença. Esse princípio inusitado, contraponto ao da não intervenção 92, busca
conciliar o apreço pela soberania com as transformações do ambiente normativo global”.
Para Alles (2015, posição 2849), “A política externa brasileira do período 2003-2010
foi bem-sucedida, alcançando os objetivos fixados”, que eram uma maior visibilidade
internacional e o reconhecimento da liderança regional brasileira. “Claro que ao preço de se
converter em uma política ‘de governo’ e, não, ‘de Estado’”. Contudo, o governo não
conseguiu seu maior objetivo: o acento permanente no Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas.
Todos esses esforços diplomáticos e tais acordos internacionais levaram a uma ligação
intrínseca entre as tomadas de rumos das políticas internas voltadas para o setor da pesca e as
convenções internacionais adotadas.
Entre os principais acordos e tratados assinados pelo Brasil 93, com interferência em
recursos hídricos e, posteriormente, com impactos nas atividades pesqueiras nacionais,
podemos citar, primeiramente, os acordos multilaterais e, posteriormente, os bilaterais
(ANEXO B).
Todos os tratados, acordos e resoluções assinados ou regulamentados pelo governo
brasileiro são de extrema importância, para futuros debates sobre impactos internacionais nas
legislações brasileiras e, principalmente, aqueles envolvendo a atividade pesqueira artesanal,
não podendo deixar de lado o Código de Conduta para a Pesca Responsável 9495, que tem
papel na regulamentação ambiental, buscando diminuir a perda populacional das espécies
marinhas e a poluição dos oceanos. Mas enfatizarei, neste trabalho, somente a Convenção das

91
Alles (2015, posição 1142).
92
Constituição Federal de 1988:
TÍTULO I - DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
IV - Não-intervenção;
93
Disponível em: http://www.cnrh.gov.br/composicao-ctgrht/81-ctgrht/148-acordos-e-tratados-internacionais,
acessado em 27/01/2020.
94
Disponível em: http://www.fao.org/3/to970en/TO970EN.pdf, acessado em 30/01/2020.
95
Disponível em: http://www.fao.org/3/i4356pt/I4356PT.pdf, acessado em 30/01/2020.
124

Nações Unidas sobre o Direito do Mar, promulgada pelo Presidente da República, por meio
do Decreto nº 99.165, de 12 de março de 1990, que teve, como principal objetivo:

Reconhecendo a conveniência de estabelecer por meio desta Convenção, com a


devida consideração pela soberania de todos os Estados, uma ordem jurídica para os
mares e oceanos que facilite as comunicações internacionais e promova os usos
pacíficos dos mares e oceanos, a utilização equitativa e eficiente dos seus recursos, a
conservação dos recursos vivos e o estudo, a proteção e a preservação do meio
marinho, (...) Tendo presente que a consecução destes objetivos contribuirá para o
estabelecimento de uma ordem econômica internacional justa e equitativa que tenha
em conta os interesses e as necessidades da humanidade em geral e, em particular,
os interesses e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento, quer
costeiros quer sem litoral [...]. (BRASIL, 1990)

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar traz, em seu corpo,
delimitações a serem cumpridas, pelos países que a ratificaram ou que a ela aderiram, no
intuito de preservar a soberania e o meio ambiente de cada país. Portanto, ela determina o
regime jurídico do Mar Territorial, acompanhado de seus espaços aéreo e sobrejacente, leito e
subsolo. Para isso, a soberania do Estado Costeiro se estende, além do seu território e das suas
águas interiores, designadas pelo nome de Mar Territorial.
O alcance estabelecido para o Mar Territorial se estende, até o limite de 12 milhas
marítimas, medidas a partir de linhas de base, determinadas pela Convenção. Em
contrapartida, as águas situadas no interior da linha de base do Mar Territorial fazem parte das
águas interiores do Estado.
Um ponto interessante é o de que alguns locais poderiam ou poderão implantar os
Terminais Pesqueiros Públicos, ampliando o Mar Territorial brasileiro, pois, no Artigo 11 da
Convenção, frisa-se que, para efeitos de delimitação do Mar Territorial, as instalações
portuárias permanentes, ao largo da costa, que sejam parte integrante do sistema portuário,
são consideradas parte da costa. Portanto, são parte das linhas de base, que determinam o
início do Mar Territorial.
Na Convenção, existe, ainda, uma grande preocupação com a paz e com o meio
ambiente, mas, sobretudo, com a soberania do país, quanto ao seu território, portanto o Artigo
17, que trata do Direito de passagem inocente 96, coloca que um navio estrangeiro será
considerado prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Estado Costeiro, se realizar, no
Mar Territorial, algumas atividades proibidas. Considerando a atividade pesqueira brasileira,

96
"Passagem" significa navegação no mar territorial, com o fim de: a) Atravessar esse mar, sem penetrar nas
águas interiores, nem fazer escala em ancoradouro ou em instalação portuária situada fora das águas interiores;
e b) Dirigir-se a águas interiores ou delas sair ou fazer escala num desses ancoradouros ou instalações
portuárias.
125

estas atividades proibidas incluem pesca e atos intencionais e graves de poluição. Mas o
Artigo 24 deixa claro que o Estado Costeiro não deve impor dificuldades à passagem inocente
de navios estrangeiros pelo Mar Territorial.
Outro ponto interessante está no Artigo 33, que delimita a zona contígua, que não pode
se estender, além de 24 milhas marítimas, contadas das linhas de base, que servem para medir
a largura do Mar Territorial. Dentro dessa área, o país pode tomar as medidas de fiscalização
necessárias, de modo a evitar infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de
imigração ou sanitários, no seu território ou no seu Mar Territorial. Esse artigo traz alguma
luz a pontos inseridos na legislação dos Terminais Pesqueiros Públicos, como os artigos 2º, 3º
e 4º 97, que tratam sobre a competência de criar, de implementar, de organizar, de administrar
e de fiscalizar os TPPs e acabam dando, por meio dos seus incisos, meios para cumprir o
Artigo 33 da Convenção.

§ 1º A fiscalização sanitária do pescado e de seus derivados nos entrepostos e


unidades de beneficiamento dos Terminais Pesqueiros Públicos é da competência do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
§ 2º Ficam resguardadas as competências da autoridade portuária nas áreas e
infraestruturas de proteção e acesso aquaviário utilizadas concomitantemente por
portos organizados e Terminais Pesqueiros Públicos.
Art. 3º Os Terminais Pesqueiros Públicos são parte fundamental da infraestrutura
aquícola e pesqueira do País e funcionarão como entrepostos de pesca nas áreas
litorâneas ou ribeirinhas, de acordo com a necessidade e o interesse público.
Art. 4º Terminal Pesqueiro Público é a estrutura física construída e aparelhada para
atender às necessidades das atividades de movimentação e armazenagem de pescado
e de mercadorias relacionadas à pesca, podendo ser dotado de estruturas de
entreposto de comercialização de pescado, de unidades de beneficiamento de
pescado e de apoio à navegação de embarcações pesqueiras. (BRASIL, 1990)

O único ponto da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar que trata da
pesca tradicional é o Artigo 51, inciso 1, cujo texto traz um normativo restrito aos estados
denominados arquipélagos:

Artigo 51
Acordos existentes, direitos de pesca tradicionais e cabos submarinos existentes
1. Sem prejuízo das disposições do artigo 49, os Estados arquipélagos
respeitarão os acordos existentes com outros Estados e reconhecerão os direitos de
pesca tradicionais e outras atividades legítimas dos Estados vizinhos imediatamente
adjacentes em certas áreas situadas nas águas arquipelágicas. As modalidades e
condições para o exercício de tais direitos e atividades, incluindo a natureza, o
alcance e as áreas em que se aplicam, serão, a pedido de qualquer dos Estados
interessados, reguladas por acordos bilaterais entre eles. Tais direitos não poderão
ser transferidos a terceiros Estados ou a seus nacionais, nem por eles
compartilhados. (BRASIL, 1990)

97
Decreto nº 5.231, de 6 de outubro de 2004.
126

Na Parte V, artigos 55 a 60, é delimitada a Zona Econômica Exclusiva, extremamente


importante, para o desenvolvimento, não, só, pesqueiro, mas para a economia extrativista
mineral brasileira. Na relação com a atividade pesqueira, destaca-se a relevância da criação
dessa zona, devido à migração de várias espécies, que estão inseridas no cotidiano da
atividade pesqueira litorânea brasileira.

A zona econômica exclusiva é uma zona situada além do Mar Territorial e a este
adjacente, sujeita ao regime jurídico específico estabelecido na presente Parte,
segundo o qual os direitos e a jurisdição do Estado Costeiro e os direitos e
liberdades dos demais Estados são regidos pelas disposições pertinentes da presente
Convenção.

Artigo 56
Direitos, jurisdição e deveres do Estado Costeiro na zona econômica exclusiva
1. Na zona econômica exclusiva, o Estado Costeiro tem:
a) direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e
gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do
mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vista à
exploração e aproveitamento da zona para fins econômicos, como a produção de
energia a partir da água, das correntes e dos ventos;
c) jurisdição, de conformidade com as disposições pertinentes da presente
Convenção, no que se refere a:
i) colocação e utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas;
ii) investigação cientifica marinha;
iii) proteção e preservação do meio marinho
2. No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona
econômica exclusiva nos termos da presente Convenção, o Estado Costeiro terá em
devida conta os direitos e deveres dos outros Estados e agirá de forma compatível
com as disposições da presente Convenção.
3. Os direitos enunciados no presente artigo referentes ao leito do mar e ao seu
subsolo devem ser exercidos de conformidade com a Parte VI da presente
Convenção.
Artigo 57
Largura da zona econômica exclusiva
A zona econômica exclusiva não se estenderá além de 200 milhas marítimas das
linhas de base a partir das quais se mede a largura do Mar Territorial.
Artigo 58
Direitos e deveres de outros Estados na zona econômica exclusiva
1. Na zona econômica exclusiva, todos os Estados, quer costeiros quer sem
litoral, gozam, nos termos das disposições da presente Convenção, das liberdades de
navegação e sobrevoo e de colocação de cabos e dutos submarinos, a que se refere o
artigo 87, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados
com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios, aeronaves,
cabos e dutos submarinos e compatíveis com as demais disposições da presente
Convenção.
2. Os artigos 88 a 115 e demais normas pertinentes de direito internacional
aplicam-se à zona econômica exclusiva na medida em que não sejam incompatíveis
com a presente Parte.
3. No exercício dos seus direitos e no cumprimento dos seus deveres na zona
econômica exclusiva, nos termos da presente Convenção, os Estados terão em
devida conta os direitos e deveres do Estado Costeiro e cumprirão as leis e
regulamentos por ele adotados de conformidade com as disposições da presente
Convenção e demais normas de direito internacional, na medida em que não sejam
incompatíveis com a presente Parte.
Artigo 60
Ilhas artificiais, instalações e estruturas na zona econômica exclusiva
127

1. Na zona econômica exclusiva, o Estado Costeiro tem o direito exclusivo de


construir e de autorizar e regulamentar a construção, operação e utilização de:
a) ilhas artificiais;
b) instalações e estruturas para os fins previstos no artigo 56 e para outras
finalidades econômicas;
c) instalações e estruturas que possam interferir com o exercício dos direitos do
Estado Costeiro na zona.
2. O Estado Costeiro tem jurisdição exclusiva sobre essas ilhas artificiais,
instalações e estruturas, incluindo jurisdição em matéria de leis e regulamentos
aduaneiros, fiscais, de imigração, sanitários e de segurança.
3. A construção dessas ilhas artificiais, instalações ou estruturas deve ser
devidamente notificada e devem ser mantidos meios permanentes para assinalar a
sua presença. As instalações ou estruturas abandonadas ou inutilizadas devem ser
retiradas, a m de garantir a segurança da navegação, tendo em conta as normas
internacionais geralmente aceitas que tenham sido estabelecidas sobre o assunto pela
organização internacional competente. Para efeitos de remoção deve ter-se em conta
a pesca, a proteção do meio marinho e os direitos e obrigações de outros Estados.
Deve dar-se a devida publicidade da localização, dimensão e profundidade das
instalações ou estruturas que não tenham sido completamente removidas.
4. O Estado Costeiro pode, se necessário, criar em volta dessas ilhas artificiais,
instalações e estruturas, zonas de segurança de largura razoável, nas quais pode
tomar medidas adequadas para garantir tanto a segurança da navegação como a das
ilhas artificiais, instalações ou estruturas.
5. O Estado Costeiro determinará a largura das zonas de segurança, tendo em
conta as normas internacionais aplicáveis. Essas zonas de segurança devem ser
concebidas de modo a responderem razoavelmente à natureza e às funções das ilhas
artificiais, instalações ou estruturas, e não excederão uma distância de 500 metros
em volta destas ilhas artificiais, instalações ou estruturas, distância essa medida a
partir de cada ponto do seu bordo exterior, a menos que o autorizem as normas
internacionais geralmente aceitas ou o recomende a organização internacional
competente. A extensão das zonas de segurança será devidamente notificada.
6. Todos os navios devem respeitar essas zonas de segurança e cumprir as
normas internacionais geralmente aceitas relativas à navegação nas proximidades
das ilhas artificiais, instalações, estruturas e zonas de segurança.
7. Não podem ser estabelecidas ilhas artificiais, instalações e estruturas nem
zonas de segurança em sua volta, quando interfiram na utilização das rotas
marítimas reconhecidas essenciais para a navegação internacional.
8. As ilhas artificiais, instalações e estruturas não têm o estatuto jurídico de
ilhas. Não têm Mar Territorial próprio e a sua presença não afeta a delimitação do
Mar Territorial, da zona econômica exclusiva ou da plataforma continental.
(BRASIL, 1990)

Os Terminais Pesqueiros Públicos são um instrumento de enquadramento do Brasil


nos artigos 61 e 62, a partir dos pontos IX e XII do Artigo 9º do Decreto nº 5.231, que dizem:

IX - adotar, no âmbito de sua competência, as medidas solicitadas pelas autoridades


pesqueira, trabalhista, sanitária, fazendária, aduaneira, ambiental e marítima
[...]
XII - realizar coleta de dados para a elaboração de estudos estatísticos sobre
espécies, quantidades e valores de comercialização do pescado na área do Terminal
Pesqueiro Público.

Artigo 61
Conservação dos recursos vivos
1. O Estado Costeiro deixará as capturas permissíveis dos recursos vivos na sua
zona econômica exclusiva.
128

2. O Estado Costeiro, tendo em conta os melhores dados científicos de que


disponha, assegurará, por meio de medidas apropriadas de conservação e gestão, que
a preservação dos recursos vivos da sua zona econômica exclusiva não seja
ameaçada por um excesso de captura. O Estado Costeiro e as organizações
competentes sub-regionais, regionais ou mundiais, cooperarão, conforme o caso,
para tal fim.
3. Tais medidas devem ter também a finalidade de preservar ou restabelecer as
populações das espécies capturadas a níveis que possam produzir o máximo
rendimento constante, determinado a partir de fatores ecológicos e econômicos
pertinentes, incluindo as necessidades econômicas das comunidades costeiras que
vivem da pesca e as necessidades especiais dos Estados em desenvolvimento, e
tendo em conta os métodos de pesca, a interdependência das populações e quaisquer
outras normas mínimas internacionais geralmente recomendadas, sejam elas sub-
regionais, regionais ou mundiais.
4. Ao tomar tais medidas, o Estado Costeiro deve ter em conta os seus efeitos
sobre espécies associadas às espécies capturadas, ou delas dependentes, a m de
preservar ou restabelecer as populações de tais espécies associadas ou dependentes
acima de níveis em que a sua reprodução possa ficar seriamente ameaçada.
5. Periodicamente devem ser comunicadas ou trocadas informações científicas
disponíveis, estatísticas de captura e de esforço de pesca e outros dados pertinentes
para a conservação das populações de peixes, por intermédio das organizações
internacionais competentes, sejam elas sub-regionais, regionais ou mundiais, quando
apropriado, e com a participação de todos os Estados interessados, incluindo aqueles
cujos nacionais estejam autorizados a pescar na zona econômica exclusiva.
Artigo 62
Utilização dos recursos vivos
1. O Estado Costeiro deve ter por objetivo promover a utilização ótima dos
recursos vivos na zona econômica exclusiva, sem prejuízo do artigo 61.
2. O Estado Costeiro deve determinar a sua capacidade de capturar os recursos
vivos da zona econômica exclusiva. Quando o Estado Costeiro não tiver capacidade
para efetuar a totalidade da captura permissível deve dar a outros Estados acesso ao
excedente desta captura, mediante acordos ou outros ajustes e de conformidade com
as modalidades, condições e leis e regulamentos mencionados no parágrafo 4º, tendo
particularmente em conta as disposições dos artigos 69 e 70, principalmente no que
se refere aos Estados em desenvolvimento neles mencionados.
3. Ao dar a outros Estados acesso à sua zona econômica exclusiva nos termos
do presente artigo, o Estado Costeiro deve ter em conta todos os fatores pertinentes,
incluindo, interfialia, a importância dos recursos vivos da zona para a economia do
Estado Costeiro correspondente e para os seus outros interesses nacionais, as
disposições dos artigos 69 e 70, as necessidades dos países em desenvolvimento da
sub-região ou região no que se refere à captura de parte dos excedentes, e a
necessidade de reduzir ao mínimo a perturbação da economia dos Estados, cujos
nacionais venham habitualmente pescando na zona ou venham fazendo esforços
substanciais na investigação e identificação de populações.
4. Os nacionais de outros Estados que pesquem na zona econômica exclusiva
devem cumprir as medidas de conservação e as outras modalidades e condições
estabelecidas nas leis e regulamentos do Estado Costeiro. Tais leis e regulamentos
devem estar em conformidade com a presente Convenção e podem referir-se,
interfialia, às seguintes questões:
a) concessão de licenças a pescadores, embarcações e equipamento de pesca,
incluindo o pagamento de taxas e outros encargos que, no caso dos Estados costeiros
em desenvolvimento, podem consistir numa compensação adequada em matéria de
financiamento, equipamento e tecnologia da indústria da pesca;
b) determinação das espécies que podem ser capturadas e fixação das quotas de
captura, que podem referir-se seja a determinadas populações ou a grupos de
populações, seja à captura por embarcação durante um período de tempo, seja à
captura por nacionais de um Estado durante um período determinado;
c) regulamentação das épocas e zonas de pesca, do tipo, tamanho e número de
aparelhos, bem como do tipo, tamanho e número de embarcações de pesca que
podem ser utilizados;
129

d) fixação da idade e do tamanho dos peixes e de outras espécies que podem ser
capturados;
e) indicação das informações que devem ser fornecidas pelas embarcações de
pesca, incluindo estatísticas das capturas e do esforço de pesca e informações sobre
a posição das embarcações;
f) execução, sob a autorização e controle do Estado Costeiro, de determinados
programas de investigação no âmbito das pescas e regulamentação da realização de
tal investigação, incluindo a amostragem de capturas, destino das amostras e
comunicação dos dados científicos conexos;
g) embarque, pelo Estado Costeiro, de observadores ou de estagiários a bordo de
tais embarcações;
h) descarga por tais embarcações da totalidade das capturas ou de parte delas
nos portos do Estado Costeiro;
i) termos e condições relativos às empresas conjuntas ou a outros ajustes de
cooperação;
j) requisitos em matéria de formação de pessoal e de transferência de tecnologia
de pesca, incluindo o reforço da capacidade do Estado Costeiro para empreender
investigação de pesca;
k) medidas de execução.
5. Os Estados costeiros devem dar o devido conhecimento das leis e regulamentos
em matéria de conservação e gestão.
(BRASIL, 1990)

A Convenção traz, ainda, artigos, cuja preocupação está nas espécies altamente
migratórias, como as de mamíferos marinhos, de peixes anádromos e de espécies catádromas,
gerando direitos e deveres para o Estado, em suas Zonas Econômicas Exclusivas.
O Estado Costeiro tem a obrigação de proteger e de preservar o meio marinho,
mantendo o direito de soberania, para aproveitar dos seus recursos naturais, conforme o
Artigo 193 da Convenção.
Os demais artigos tratam da cooperação entre Estados, tanto para a preservação quanto
para a circulação das embarcações e para o controle das espécies, ressaltando a preocupação,
quanto aos usos do mar aberto, que é apresentado como patrimônio da humanidade e,
portanto, não pode ser requerido para o bem de um único Estado.
Não entrarei no debate das legislações impactantes a atividade de pesca, que não
estejam ligadas, diretamente, à criação ou à manutenção da política dos Terminais Pesqueiros
Públicos, mas apresento, no ANEXO C, uma breve coleção dessas legislações, começando
pelos Atos Internacionais 98.
A partir desse panorama legislativo direto e indireto sobre a atividade pesqueira e,
consequentemente, sobre os Terminais Pesqueiros Públicos, o próximo subcapítulo abordará
as condições físicas dos terminais propostos, demonstrando a capacidade de alteração do lugar
pela legislação em vigor.

98
BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação sobre pesca e sobre aquicultura [recurso eletrônico]:
dispositivos constitucionais, leis e decretos relacionados à pesca e à aquicultura / Câmara dos Deputados.
Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015. 231 p. (Série Legislação, n. 137).
130

3.3 Situação atual dos Terminais Pesqueiros Públicos implantados ou em projeto

Em 2015, foi apresentada uma lista com 18 Terminais Pesqueiros Públicos (Santana,
Belém, Bragança, Camocim, Beberibe, Natal, Cabedelo, Recife, Aracaju, Salvador, Ilhéus,
Vitória, Campos dos Goytacazes, Niterói, Angra dos Reis, Santos, Cananeia e Laguna),
divididos entre: em operação, em pré-operação, em construção/aparelhamento, em
projeto/licenciamento e em planejamento. Mesmo depois de tantas turbulências, como as
apresentadas nesta tese, as políticas dos TPPs continuam em execução ou, pelo menos, em
debate, em alguns setores, principalmente, no âmbito municipal. Alguns dos
empreendimentos apresentam parcerias público-privadas já constituídas, enquanto outros nem
saíram do papel. A seguir, veremos a situação atual de cada um deles.
O Terminal Pesqueiro Público de Aracajú 99, na capital de Sergipe (Figura 2), teve suas
obras iniciadas em 2015, com previsão da entrega no ano de 2017. No entanto, sua construção
continua parada, em 2019, por falta de recursos, e, até a última pesquisa, não há previsão de
entrega. Os pescadores, principalmente os artesanais, continuam utilizando uma área
improvisada, na lateral do futuro terminal, para o beneficiamento e para a comercialização dos
pescados.

Figura 2 ‒ Placa da obra do TPP de Aracaju

Fonte: Infonet (2020)100

99
Aracaju é a capital do estado de Sergipe, na costa nordeste do Brasil. É conhecida pelas praias, incluindo a
Praia de Atalaia. Junto à praia, há o Oceanário de Aracaju, em forma de tartaruga, que possui arraias, tubarões,
enguias e tartarugas marinhas, além de exposições práticas. O passeio da marginal, a Passarela do Caranguejo,
está repleta de restaurantes de peixes e de mariscos e é marcada por uma enorme escultura de caranguejo.
Disponível em: https://www.google.com/maps/place/Aracaju,+SE/@-11.0059758,-
37.2432428,11z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x71ab04015be27cd:0x804434fd92ec3b36!8m2!3d-
10.9472468!4d-37.0730823, acessado em 31/08/2020.
100
Disponível em: https://infonet.com.br/noticias/economia/obra-do-terminal-pesqueiro-de-aracaju-continua-
parada/, acessado em 30/01/2020.
131

O Terminal Pesqueiro Público de Laguna 101, em Santa Cataria (Figura 3), é uns dos
poucos em funcionamento pleno, desde 2019. Ele foi assumido pelo Estado de SC e sua
administração foi entregue à SCPar Porto de São Francisco do Sul102, com promessas de
revitalização e de geração de mais empregos. Sua estrutura conta com um cais de 300 metros
de extensão e com três esteiras de recepção de pescados, podendo atracar até dez embarcações
por vez. Ele tem sua origem antes das políticas do TPPs, tendo sido reestruturado, em 2004,
para corresponder à nova legislação, e sua administração, pela Companhia Docas do Estado
de São Paulo (Codesp), empresa pública vinculada ao Ministério da Infraestrutura, vem desde
a década de 1990.

Figura 3 ‒ Imagem do TPP Laguna

Fonte: sítio www.scc.sc.gov.br (2020)103

101
Com uma economia voltada principalmente para a pesca, Laguna se destaca pela forte produção de camarão e
siri nas lagoas e de pescados na costa do Atlântico Sul. Banhada pelas lagoas Santo Antônio dos Anjos, Imaruí
e Mirim, a cidade atrai turistas à procura do famoso “Camarão Laguna” . Reconhecido como um dos melhores
do Brasil, o crustáceo é capturado através da pesca artesanal, nos meses de dezembro a junho, do entardecer ao
amanhecer. A atividade utiliza como arte de pesca para a captura do camarão a rede conhecida como
“aviãozinho”, propícia à baixa profundidade das lagoas, inferior a dois metros. A baixa profundidade, por outro
lado, favorece o desenvolvimento do camarão. A técnica utiliza redes com argolas e luz à bateria, para atrair o
crustáceo. À noite, as lagoas são cobertas de luzes, semelhante a uma cidade iluminada, proporcionando um
espetáculo aos visitantes. No Canal de Laranjeiras, na lagoa Santo Antônio, com cinco metros de profundidade,
a captura deve ser feita com tarrafas e somente por pescadores artesanais profissionais. De 15 de julho a 15 de
novembro, período de defeso do camarão, a pesca é proibida no complexo lagunar. Espécies que habitam as
lagoas da região: camarão-rosa (Penaeus paulensis) e camarão-branco (Penaeus Schimitti). Disponível em:
https://www.laguna.sc.gov.br/cms/pagina/ver/codMapaItem/100438, acessado em 31/08/2020.
102
SCPar Porto de São Francisco do Sul S.A., sociedade por ações de propósito específico, com sede na Avenida
Engenheiro Leite Ribeiro, nº 782, Centro, São Francisco do Sul - SC, exerce a gestão do Porto Organizado de
São Francisco do Sul, até o ano de 2036, conforme Convênio de Delegação nº 01/2011, celebrado ente a União
e o Estado de Santa Catarina. Com uma administração autônoma, o porto funciona com a agilidade e com a
eficiência de um terminal privado, respondendo por mais da metade da movimentação portuária do Estado.
103
Disponível em: http://www.scc.sc.gov.br/index.php/noticias/821-estado-assume-terminal-pesqueiro-de-
laguna-e-projeta-criacao-de-empregos, acessado em 30/01/2020.
132

O Terminal Pesqueiro Público de Santos 104, em São Paulo (Figura 4), não está em
funcionamento, atualmente, e passa por uma ação, junto ao Ministério Público, devido à
Prefeitura ter apresentado um projeto para construir, no local, um Centro de Atividades
Turísticas (CAT), a partir de uma parceria público-privada. Segundo o MP, não se pode
utilizar a área para outros fins, que não os voltados à pesca.

Figura 4 ‒ Imagem do TPP de Santos

Fonte: sítio www.diariodolitoral.com.br (2020)105

O Terminal Pesqueiro Público de Ilhéus 106, na Bahia (Figura 5), está em


funcionamento, sendo administrado pela empresa pública Bahia Pesca 107. Tem, como

104
Cidade de praia, privilegiada pelo sol e pelo mar de águas calmas, mas com infraestrutura de metrópole e
repleta de belezas e de atrações para todas as idades, o ano todo. Assim é Santos, localizada em uma ilha, onde
a cordialidade, a segurança e a diversidade de cenários se aliam a uma riqueza cultural, histórica e ecológica,
transformando a cidade em um destino único, que encanta e apaixona. E tudo isso a apenas 70 km de São
Paulo, a maior metrópole brasileira, perto dos principais aeroportos nacionais e internacionais, e com fácil
acesso por modernas rodovias. Bela e esportiva, Santos é, ainda, uma das principais rotas de cruzeiros
marítimos e se destaca no turismo de negócios, com um dos mais completos complexos de eventos do Brasil.
Santos possui uma economia crescente. Em 2016, a cidade era a 33ª mais rica do país, com produto interno
bruto de 21 954 556,74 de reais. Durante um bom tempo, sua economia se centrou na comercialização do café.
O Complexo Portuário de Santos responde por mais de um quarto da movimentação da balança comercial
brasileira é o principal porto do país, e inclui, na pauta de suas principais cargas, produtos como açúcar, soja,
café, milho, trigo, sal, polpa cítrica, suco de laranja, papel, automóveis, álcool e outros granéis líquidos, em
cargas transportadas em contêineres via porto, trilhos e estradas. A área de influência econômica do porto
concentra mais de 50% do produto interno bruto (PIB) do país e abrange, principalmente, os estados de São
Paulo, de Minas Gerais, de Goiás, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Aproximadamente 90% da base
industrial paulista está localizada a menos de 200 quilômetros do porto santista. Em 2007, o Porto de Santos
foi considerado o 39ª maior do mundo por movimentação de contêineres pela publicação britânica Container
Management, sendo o mais movimentado da América Latina. Disponível em:
https://www.turismosantos.com.br/?q=pt-br/cidade e
https://pt.wikipedia.org/wiki/Santos#:~:text=Santos%20possui%20clima%20tropical%20litor%C3%A2neo,car
acterizam%20como%20esta%C3%A7%C3%B5es%20de%20transi%C3%A7%C3%A3o, acessado em
31/08/2020.
105
Disponível em: https://www.diariodolitoral.com.br/cotidiano/area-do-terminal-pesqueiro-publico-de-santos-
so-pode-utilizada-para-a/122475/, acessado em 30/01/2020.
133

principal serviço, a venda de gelo aos pescadores da região, oferecendo, ainda, combustível
para embarcações, unidade de beneficiamento de pescado, soprador de gelo (equipamento que
coloca o gelo diretamente na embarcação, sem necessidade de esforço físico, por parte dos
pescadores), estrutura de peixaria, caminhão frigorífico e um píer, que comporta cerca de 15
embarcações, simultaneamente.

Figura 5 ‒ Imagem do TPP de Ilhéus

Fonte: sítio http://www.bahiapesca.ba.gov.br/ (2020)108

O Terminal Pesqueiro Público de Camocim 109, no Ceará (Figura 6), gera grande
interesse dos empresários do ramo, de acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária,

106
É a cidade com o mais extenso litoral entre os municípios do estado. Ilhéus foi fundada em 1536, como "Vila
de São Jorge dos Ilheos", e foi elevada a cidade, em 1881. É conhecida por ambientar os romances de Jorge
Amado, famoso escritor baiano, como Gabriela, Cravo e Canela e Terras do Sem Fim. É considerada a capital
do cacau e denominada, por seus habitantes, como a "Princesinha do Sul". Sua economia se baseia na
agricultura, no turismo e na indústria. Já foi o primeiro produtor de cacau do mundo, mas, depois da
enfermidade conhecida como vassoura-de-bruxa, que infestou as plantações, reduziu consideravelmente a sua
produção. Conhecida também como "IOS", sigla que respeita à grafia antiga do nome da cidade, "São Jorge
dos Ilheos", que é utilizada nos bilhetes de transporte aéreo. Após a década de 1990, com a crise gerada pela
monocultura do cacau, resultante da disseminação do fungo da vassoura de bruxa, que dizimou toda a lavoura
cacaueira da região sul da Bahia, surgiu a necessidade de alternativas de desenvolvimento econômico, dentre
as quais, destacam-se o turismo e a atividade industrial (a criação do polo de Informática). A economia
ilheense deverá experimentar uma nova onda de progresso econômico com a implantação de um novo porto, o
Porto Sul, instalado em águas profundas, e com a chegada da ferrovia integrada à Ferrovia Leste-Oeste.
Também está prevista a construção de um aeroporto capaz de operar voos internacionais. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilh%C3%A9us, acessado em 31/08/2020.
107
Criada em 1982, a Bahia Pesca, empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e
Aquicultura da Bahia (SEAGRI), tem, como finalidade, fomentar a aquicultura e a pesca, mediante a
implantação de projetos sustentáveis, observando a natureza econômica, social, ambiental e cultural, como
forma de contribuir para o desenvolvimento do estado da Bahia. A empresa atua na atração de investimentos,
no desenvolvimento científico, tecnológico, na criação de polos produtores e no fortalecimento das cadeias
produtivas. Disponível em: http://www.bahiapesca.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=6,
acessado em 30/01/2020.
108
Disponível em: http://www.bahiapesca.ba.gov.br/2019/12/686/Pescadores-ja-podem-comprar-gelo-no-
Terminal-Pesqueiro-de-Ilheus.html, acessado em 30/01/2020
134

Irrigação, Pesca e Aquicultura. Passou por uma readequação de sua estrutura, em 2010, que
custou R$ 12,5 milhões aos cofres públicos e, menos de dez anos depois, está desativado. O
terminal de Camocim aguarda que a Secretaria de Pesca lance um edital de concessão. A
intenção do Governo é a de repassar a responsabilidade por esse Terminal para a Companhia
Docas, ainda em 2020 110.

Figura 6 ‒ Imagem do TPP de Camocim

Fonte: sítio http://www.camocimportaldenoticias.com/ (2020) 111

O Terminal Pesqueiro Público de Santana 112, no Amapá (Figura 7), teve suas obras
iniciadas, em 2005, e concluídas, em 2009, tendo sido entregue, em 2012, mas nunca foi

109
Camocim se localiza em um território com uma rica história de intercambio e de conflitos entre povos. Os
primeiros habitantes foram os indígenas de várias etnias, tais como os Tremembé, os Tabajara, os Jurema, os
Jenipaboaçu e os Cambida. As bases da economia do município são extração de sal marinho e a pesca,
complementadas pelas culturas de caju, de arroz sequeiro, de mandioca e de feijão. Na pecuária, há o
desenvolvimento dos rebanhos bovino, suíno e avícola. Na indústria, há 20 unidades no município (uma têxtil,
cinco extrativas minerais, uma de perfumaria, sabão e velas, uma editorial e gráfica, oito de produtos
alimentares, uma de vestuário, calçados e artigos de couro e peles). Disponível em:
http://www.camocim.ce.gov.br, acessado em 31/08/2020.
110
Disponível em: http://site.cdljuazeirodonorte.org.br/dn-dois-terminais-pesqueiros-no-ce-devem-ser-
privatizados-em-2020/, acessado em 30/01/2020.
111
Disponível em: http://www.camocimportaldenoticias.com/2019/12/terminal-pesqueiro-de-camocim-entra-
na.html, acessado em 30/01/2020.
112
Santana tem uma conurbação com o município de Macapá, a capital do estado, formando a Região
Metropolitana de Macapá. As duas totalizavam quase 630 mil habitantes, em 2018. É o segundo município
mais populoso do estado, com cerca de 120 mil habitantes, conforme estatísticas de 2018 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O município de Santana tinha, segundo dados do IBGE de 2016,
o Produto Interno Bruto de cerca de R$ 1.809.277.000,00 e o PIB per capita era de R$ 15.891,21. O setor
econômico é comandado pela criação de gados bovino, bubalino e suíno, além da atividade pesqueira e a
extração da madeira, ademais da venda de produtos tipicamente nortistas (madeira e açaí), que também
contribuem para o desenvolvimento econômico de Santana. No setor primário do município, há um total de 14
empresas, segundo o CAGED. Santana mantém, sob o seu domínio, o Distrito Industrial de Santana, cujo
parque sofre constante ampliação. Entretanto, funcionam as empresas Flórida e Equador e, também, as
empresas Reama (que industrializa a Coca-Cola no estado) e Amcel (responsável pela plantação de pinhos e de
eucalipto), entre outras. Segundo o CAGED, há um total de 119 estabelecimentos (sendo 116 industriais e 3
extrativos) atuando na cidade. O comércio (incluindo a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana
135

usado por pescadores. O Ministério Público e a Controladoria-Geral da União identificaram,


através de auditoria, diversas irregularidades na obra. A CGU apontou a falta de manutenção
no local, a inadequação do sistema de abastecimento de água, as instalações incompatíveis
para a atividade, a falta de licença de operação, além de erros na execução da obra. A
ausência de atividades no local, desde 2009, está provocando prejuízos à estrutura e aos
equipamentos, além da depredação do prédio e do furto de objetos. Atualmente, o Terminal
pertence ao Ministério de Indústria, Comércio e Desenvolvimento, que teria o intuito de
repassar a obra para a Prefeitura 113.

Figura 7 ‒ Imagem do TPP de Santana

Fonte: sítio https://www.diariodoamapa.com.br/ (2020)

O Terminal Pesqueiro Público de Natal114, no Rio Grande do Norte (Figura 8), ficará
situado no Porto de Natal, na Ribeira, e a concessão do equipamento passará a ser,
oficialmente, de domínio do estado do Rio Grande do Norte. O governo do estado do RN

(ALCMS)) e os serviços contribuem economicamente. Os funcionários do serviço público são os que recebem
as maiores remunerações, movimentando o comércio. Segundo o CAGED, há no total 1.407 estabelecimentos
de setor terciário, atuando na cidade. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Santana_(Amap%C3%A1),
acessado em 31/08/2020.
113
Disponível em: https://www.diariodoamapa.com.br/cadernos/cidades/ministerio-publico-do-trabalho-faz-
audiencia-publica-sobre-terminal-pesqueiro-de-santana/, acessado em 30/01/2020.
114
A cidade de Natal tem uma boa infraestrutura básica. Hoje, quase 100% de seus domicílios são atendidos pela
rede elétrica e mais de 93% são ligados ao abastecimento de água. Por outro lado, menos de 30% tem
saneamento básico. Sua economia é baseada no turismo, sendo o estado do Rio Grande do Norte forte em
petróleo e em sal e em produtos de exportação, como: melão, coco, camarão, castanha, café, cana-de-açúcar.
Em Natal há um bom número de pousadas e de hotéis, sendo alguns de grande porte, principalmente, na Via
Costeira, embora seus principais atrativos naturais estejam ao longo da costa potiguar. O comércio em Natal é
diversificado e possui boa oferta de produtos. O serviço portuário vem se modernizando e já apresenta tarifas
competitivas. O aeroporto Augusto Severo, localizado no município de Parnamirim, foi ampliado para 10 mil
metros quadrados, oferecendo condições adequadas ao embarque e ao desembarque anual de 1,5 milhão de
passageiros e uma movimentação de 8 milhões de toneladas de carga. Outro aeroporto está sendo construído no
município de São Gonçalo do Amarante e a previsão é de que esteja concluído em 2014. Natal aparece no
censo qualitativo da hotelaria nacional, da Associação Brasileira da Industria Hoteleira (ABIH), na oitava
posição, no que diz respeito à disponibilidade de hotéis, respondendo por 1,2% da hospedagem no mercado
nacional. O censo toma por base uma pesquisa feita em 7.003 hotéis e pousadas distribuídos pelo país.
Disponível em: http://turismo.natal.rn.gov.br/simb.php, acessado em 31/08/2020.
136

entregou um projeto de concessão do Terminal para a iniciativa privada, que será feita, por
meio de licitação pública. A construção do Terminal Pesqueiro foi iniciada em 2009 e
paralisada, por descumprimento de contrato, por parte da construtora. O RN é o maior
exportador de atum do Brasil, que compreende uma cadeia produtiva, que engloba a pesca
artesanal, em especial, na região de Areia Branca, e a pesca industrial. Os recursos financeiros
para a reconstrução do Terminal Pesqueiro são do próprio governo do estado, em parceria
com a União. Com relação ao projeto de retomada da obra, que está sendo concebido pela
Secretaria de Infraestrutura (SIN), este ainda não tem cronograma definido 115.

Figura 8 ‒ Imagem do TPP de Natal

Fonte: sítio http://www.pontodevistaonline.com.br (2020)116

O Terminal Pesqueiro Público de Cabedelo 117, na Paraíba (Figura 9), está desativado
e, segundo o Ministério Público Federal, não possui vigilância, energia ou água, além da
depredação e do abandono do prédio, cujos portões estão derrubados. Ainda de acordo com a
ação, o local se tornou fonte de insegurança para a população. A vistoria do MPF ocorreu em

115
Disponível em: https://www.blogdobg.com.br/tag/obra/, acessado em 30/01/2020.
116
Disponível em: http://www.pontodevistaonline.com.br/justica-determina-estado-assuma-terminal-pesqueiro-
provisoriamente/, acessado em 30/01/2020.
117
Cabedelo é município da Região Metropolitana de João Pessoa, no estado da Paraíba. Tem uma área de 31,42
quilômetros quadrados, com medidas singulares: 18 quilômetros de extensão por apenas três quilômetros de
largura. Sua população, em 2018, foi estimada, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 66.680
habitantes. Cabedelo conquistou e perdeu autonomia, por algumas vezes, para a cidade de João Pessoa. Através
da Lei nº 283, de 17 de março de 1908, obteve autonomia, ficando o povoado elevado à condição de vila.
Perdeu os foros de vila e de município, pela Lei Estadual nº 676, de 20 de novembro de 1928, a qual anexou o
seu território ao município da capital. Possui um produto interno bruto superior a 2,2 bilhões de reais, segundo
dados atualizados de 2007, ou seja, mais da metade da economia de Campina Grande (outra grande cidade do
estado) numa área muito menor e com população também bastante inferior. Possui um dos maiores Produtos
Internos Brutos proporcionais do Nordeste, comparável ao de cidades, como Ipojuca e Guamaré. Disponível
em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cabedelo, acessado em 30/01/2020.
137

agosto de 2018, junto com a Polícia Federal e com a Advocacia-Geral da União (AGU), e, em
setembro de 2018, houve um vazamento de amônia, que causou a interdição do local. Após
outra ação do órgão, a segurança foi restabelecida, em outubro do mesmo ano 118.

Figura 9 ‒ Imagem do TPP Cabedelo

Fonte: sítio https://g1.globo.com/ (2020)

O Terminal Pesqueiro Público de Belém 119, no Pará (Figura 10), ainda se encontra em
fase de conclusão de obras, aguardando investimentos do Governo Federal, com proposta de
impulsionar o desenvolvimento regional e de fomentar redes de arranjos produtivos locais,
ligados à Rota do Peixe, estratégia do programa Rotas da Integração Nacional 120.

118
Disponível em: https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/09/23/uniao-deve-apresentar-projeto-para-o-
terminal-pesqueiro-de-cabedelo-decide-jfpb.ghtml, acessado em 30/01/2020.
119
Santa Maria de Belém do Grão Pará, ou simplesmente Belém do Pará, está localizada ao nordeste do estado, à
120 km do mar e à 160 km da linha do equador. Possui, aproximadamente, 1.059,406 km² (IBGE) de área
territorial, sendo a capital do estado do Pará. A economia belenense se baseia, primordialmente, nas atividades
de comércio e de serviços, embora seja também desenvolvida a atividade industrial, com grande número de
indústrias alimentícias, navais, metalúrgicas, pesqueiras, químicas e madeireiras. A Grande Belém se localiza
na região mais dinâmica do estado e, juntamente com o município de Barcarena, integra o segundo maior
parque industrial da Amazônia. A cidade conta com os portos brasileiros mais próximos da Europa e dos
Estados Unidos (Belém, Miramar e Outeiro). Com a revitalização dos distritos industriais de Icoaraci e de
Ananindeua, a implantação da Hidrovia do Tocantins e com a chegada da Ferrovia Norte-Sul, a cidade aguarda
um novo ciclo de desenvolvimento. Podemos ter, como exemplo, o Círio de Nazaré, uma das maiores
procissões cristãs do planeta, que movimenta a economia da Cidade. Disponível em:
http://www.belem.pa.gov.br/, acessado em 31/08/2020.
120
Disponível em: https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-391179-terminal-pesqueiro-de-belem-
recebera-r-33-mi.html, acessado em 30/01/2020.
138

Figura 10 ‒ Imagens do projeto do TPP Belém

Fonte: sítio http://pactoseimpactos.blogspot.com (2020)121

O Terminal Pesqueiro Público de Bragança 122 (Figura 11) ainda se encontra em


estágio de projeto, sem informações complementares.

Figura 11 ‒ Imagens do projeto do TPP Bragança

Fonte: http://www.alleanzaprojetos.com.br/projetos/?pagina=5

O Terminal Pesqueiro Público de Beberibe 123, no Ceará (Figura 12) está em uma
situação, que reflete uma realidade nacional: pensado para alavancar o mercado de pescados,
está inutilizado. Previa a ampliação do cais de atracação das embarcações em 50 metros e a

121
Disponível em: http://pactoseimpactos.blogspot.com/2012/03/terminal-pesqueiro-de-belem-tera-32-mil.html,
acessado em 30/01/2020.
122
A cidade de Bragança é o maior polo pesqueiro do Estado do Pará, exportando sua produção, principalmente,
para as capitais do Nordeste e do estado do Pará. Há grandes atividades, em termos de pecuária, de agricultura
e de extrativismo de caranguejos. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bragan%C3%A7a_(Par%C3%A1), acessado em 31/08/2020.
123
Beberibe é um município brasileiro do estado do Ceará, localizando-se na microrregião de Cascavel, na
mesorregião do Norte Cearense. Sua população, estimada em 2017, era de 53.110 habitantes. Sua economia é
ainda baseada na cultura de cana-de-açúcar, bem como na cultura do caju, do coco-da-Bahia, da mandioca, do
milho e do feijão. Na pecuária, há destaque para a produção dos rebanhos bovino, suíno e avícola. Em suas
terras, registram-se ocorrências de Lepidolita, fonte de obtenção do Lítio, de Moscavita, de Biotita e de
grandes jazidas de Quartzo e de Feldspato. No setor da indústria, Beberibe é um dos grandes produtores de
tijolos do Ceará, sediando, ainda, dez indústrias (cinco de produtos minerais não metálicos, duas de produtos
alimentares, uma de extração mineral e duas de vestuário, de calçados e de artigos de couro e peles).
Disponível em: https://www.beberibe.ce.gov.br/omunicipio.php, acessado em 31/08/2020.
139

construção de um imóvel de dois pavimentos, com 536 m² de área. A estrutura seria feita para
comportar as unidades de recepção, de seleção e de classificação de pescados, de
processamento, de conservação, de expedição dos produtos, além de servir como apoio
administrativo. A construtora executou, apenas parcialmente, o objeto do contrato e
abandonou a obra, que teve início em 2007 124.

Figura 12 ‒ Imagem do TPP de Beberibe

Fonte: sítio https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ (2020)

O Terminal Pesqueiro Público de Recife 125, em Pernambuco, é da maior relevância,


porque demonstra potencial e necessidade de mais infraestrutura. Desde 2006, existe a
demanda por um local para a sua construção, mas, em 2010, este local ainda não havia sido
definido. O Estado de Pernambuco corre o risco de ter a verba do Governo Federal devolvida,
por essa indefinição. A construção do TPP do Recife está na Lei de Diretrizes Orçamentárias
do Governo Federal, desde 2008. O Terminal estava enquadrado entre os projetos de grande
vulto do Ministério da Pesca, que o considerava de grande relevância para Pernambuco 126.

124
Disponível em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/negocios/parado-ha-anos-terminal-
pode-ser-privatizado-1.1293762, acessado em 30/01/2020.
125
Recife é a capital do estado de Pernambuco, localizado na Região Nordeste do país. Com área territorial de,
aproximadamente, 218 km², é formado por uma planície aluvial, tendo as ilhas, penínsulas e manguezais como
suas principais características geográficas. Cidade nordestina com o melhor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH-M), o Recife é a quarta capital brasileira na hierarquia da gestão federal, após Brasília, Rio de
Janeiro e São Paulo, e possui o quarto aglomerado urbano mais populoso do Brasil, com 4 milhões de
habitantes, em 2017. Existem, na metrópole pernambucana, áreas industriais, como o Polo Automotivo Fiat
Chrysler Automobiles e o Complexo Industrial e Portuário de Suape (que abriga, entre muitos
empreendimentos, a Refinaria Abreu e Lima e o Estaleiro Atlântico Sul ‒ maior estaleiro do Hemisfério Sul.
Também merece destaque a indústria da construção civil da cidade. O Recife possui centenas de arranha-céus
residenciais e comerciais, sendo superada, neste indicador, no país, apenas por São Paulo e pelo Rio de Janeiro,
que têm áreas municipais mais de cinco vezes superior à da capital pernambucana. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Recife, acessado em 31/08/2020.
126
Disponível em: http://www.recife.pe.leg.br/noticias_antigas/terminal-pesqueiro-do-recife-ainda-nao-tem-
local-definido, acessado em 30/01/2020.
140

O Terminal Pesqueiro Público de Salvador 127, na Bahia (figura 13), foi inaugurado em
2012, está em funcionamento e é administrado pela empresa pública Bahia Pesca, tendo,
como principal serviço, a venda de gelo aos pescadores da região. Está localizado no Largo da
Ribeira. O TPP pode realizar descarga, recepção, manuseio, armazenagem, classificação,
pesagem e estatística do pescado; fabricar e armazenar gelo; fazer reparos e manutenções de
embarcações; além de dar acesso a combustível subsidiado.

Figura 13 ‒ Imagem do TPP de Salvador

Fonte: sítio https://leiamais.ba/ (2020)

O Terminal Pesqueiro Público de Vitória 128, no Espírito Santo (Figura 14), está sob
investigação do Ministério Público Federal (MPF), desde o final de 2018. O prédio foi
entregue à Superintendência de Pesca e Aquicultura do Espírito Santo. O TPP está em
funcionamento, mas com “Reboco caindo, ferrugem, pintura descascando, lugares precisando
de reforma, com muito lixo, muita sujeira em um ambiente que precisava andar limpo, com

127
Salvador é um município brasileiro e capital do estado da Bahia. Situada na Zona da Mata da Região
Nordeste do Brasil, Salvador é notável em todo o país pela sua gastronomia, por sua música e por sua
arquitetura. Nas últimas décadas, com o rápido crescimento da sua população, bem como pela necessidade de
moradias e de empregos, vários prédios de escritórios e de apartamentos foram construídos, muitas vezes, no
lugar das antigas edificações do período colonial, o que causou uma perda irreparável na história da cidade.
Conta com uma grande refinaria de petróleo, um polo petroquímico, centros de abastecimento e galpões
industriais em seu território e em seu entorno. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador, acessado
em 31/08/2020.
128
Vitória é um município brasileiro, capital do estado do Espírito Santo, localizado na Região Sudeste do país.
É uma das três capitais do país, cujo centro administrativo e a maior parte do município estão localizados em
uma ilha, a Ilha de Vitória. A economia de Vitória é voltada para as atividades portuárias, ao comércio ativo, à
indústria, à prestação de serviços e ao turismo de negócios. A capital capixaba conta com dois portos, que são
dos mais importantes do país: o Porto de Vitória e o Porto de Tubarão. As indústrias mais importantes da
capital são a ArcelorMittal Tubarão (antiga CST) e Vale SA (antiga CVRD/Companhia Vale do Rio Doce).
Esses portos, junto com vários outros do estado, formam o maior complexo portuário do Brasil. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vit%C3%B3ria_(Esp%C3%ADrito_Santo), acessado em 31/08/2020.
141

higiene 100%” 129. Além da deterioração física, o abandono também prejudica documentos
importantes para os pescadores, incluindo a confecção de documentações solicitadas pela
Fundação Renova, para embasar o cadastramento dos atingidos pelo crime da Samarco/Vale-
BHP.

Figura 14 ‒ Imagem do TPP de Vitória

Fonte: https://seculodiario.com.br/130

O Terminal Pesqueiro Público de Campos dos Goytacazes 131, no Rio de Janeiro,


apresenta poucas informações; a última, em relação a sua implantação, pelo poder público, é
de 2014, e exibe o seu anteprojeto, apresentado pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes,
elaborado pela UFF, com a proposta, em reunião ocorrida no mesmo ano, de apresentar o
projeto conceitual e de ouvir sugestões de aprimoramento, conforme as necessidades dos
pescadores e dos demais agentes da cadeia produtiva da pesca 132.

129
Disponível em: https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/pescadores-denunciam-abandono-do-
terminal-pesqueiro-da-praia-do-sua, acessado em 30/01/2020.
130
Disponível em: https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/pescadores-denunciam-abandono-do-
terminal-pesqueiro-da-praia-do-sua, acessado em 30/01/2020.
131
Campos dos Goytacazes é um município brasileiro situado no interior do estado do Rio de Janeiro, na Região
Sudeste do país. Durante toda a República, a economia regional viveu períodos de altos e de baixos, em função
do preço internacional do açúcar, mas sempre mantendo sua importância de mercado nas economias estadual e
nacional. Ao final dos anos 1980, os municípios de Campos, de Macaé e de Conceição de Macabu tinham uma
agroindústria açucareira expressiva. A ascensão de São Paulo, como maior produtor nacional, seus altos níveis
de produtividade, além da expansão da área cultivada no Nordeste do país, aliados à falta de modernização do
complexo campista, fizeram com que a região passasse a ser coadjuvante no contexto nacional. O
endividamento de algumas usinas obrigou muitas delas a fechar, atingido, consequentemente, a economia da
região Norte Fluminense. A descoberta de petróleo na bacia de Campos, nos anos 1970, e a construção do
Superporto do Açu têm contribuído, para a recuperação da região, nos dias de hoje. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Campos_dos_Goytacazes, acessado em 31/08/2020.
132
Disponível em: https://www.campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=27557, acessado em 30/01/2020.
142

O Terminal Pesqueiro Público de Niterói133, no Rio de Janeiro (Figura 15), foi


inaugurado em 2013, porém nunca funcionou e, desde então, é objeto de discussão entre o
poder público, pois o local é um patrimônio do Governo Federal, e a Prefeitura, que vem
tentando realizar sua administração, junto com uma empresa privada. O TPP de Niterói possui
um cais com 95 metros de extensão e uma área de, aproximadamente, 7,2 mil metros
quadrados. As estimativas eram de que mais de 15 mil pescadores seriam beneficiados e de
que 500 pessoas circulariam pelo local, diariamente, além de movimentar 25 toneladas/dia de
pescado, que poderiam chegar a 120 toneladas/dia 134. Em 2019, a Prefeitura de Niterói
apresentou um projeto de ampliação da estrutura do TPP, que passaria a contar com uma área
total de 23.000 m², entre o espaço total das instalações e o pátio de caminhões. A obra será
realizada com recursos provenientes do Governo Federal e da Prefeitura de Niterói135.

Figura 15 ‒ Imagem do TPP de Niterói

Fonte: sítio https://www.atribunarj.com.br/ (2020)136

133
Niterói é um município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, no estado do Rio de Janeiro, na Região
Sudeste do Brasil. Foi a capital estadual. Niterói é um dos principais centros financeiros e comerciais do estado
do Rio de Janeiro. O município vem acompanhando um alto índice de investimentos na Região Metropolitana
da cidade do Rio de Janeiro, com a qual é altamente conurbada, com investimentos no setor imobiliário, em
atividades financeiras e no setor de comércio. Segundo os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística de 2010, a cidade possui a maior renda per capita domiciliar do Brasil, com média de R$ 3.037,30
por pessoa, fazendo com que seja considerada a “cidade com a população mais rica do Brasil”. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Niter%C3%B3i#Economia, acessado em 31/08/2020.
134
Disponível em: https://www.atribunarj.com.br/burocracia-atrasa-retomada-do-terminal-pesqueiro-de-niteroi/,
acessado em 30/01/2020.
135
Disponível em: https://www.atribunarj.com.br/niteroi-tera-o-maior-terminal-pesqueiro-do-brasil-diz-
secretario/ acessado em 30/01/2020.
136
Disponível em: https://www.atribunarj.com.br/terminal-pesqueiro-precisa-de-us-16-milhoes-para-operar/,
acessado em 30/01/2020.
143

O Terminal Pesqueiro Público de Angra dos Reis 137, no Rio de Janeiro, segundo a
última pesquisa feita, continua em estudo preliminar. O projeto inicial foi apresentado à
Prefeitura do município e seu o esboço prevê, além das áreas voltadas para a pesca,
tratamento de esgoto e reforma dos banheiros públicos locais (que estão interditados); um
centro gastronômico, com restaurantes à beira-mar; e uma praça pública, com pista de skate,
para o lazer da população. A forma de viabilizar a construção do TPP será pela realização de
parceria público-privada 138.
O Terminal Pesqueiro Público de Cananeia 139, em São Paulo (Figura 16), apresenta
uma estrutura de, aproximadamente, 27 mil metros quadrados, que já conta com toda a
infraestrutura, para receber os pescados, porém, hoje, se encontra sucateado, trabalhando
apenas com 10% de sua capacidade. O poder legislativo local busca a revitalização do TPP,
com os objetivos de diminuir o preço final dos pescados e de gerar novos postos de trabalho,
propondo, ainda, que ele seja mais do que um entreposto pesqueiro e que vire um polo
turístico, que poderia abrigar boxes de venda de pescado e, até mesmo, um restaurante140.

137
Angra dos Reis é um município brasileiro situado no sul do estado do Rio de Janeiro. As usinas nucleares da
Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto se situam em Angra dos Reis, no distrito de Mambucaba, e são
responsáveis pelo fornecimento de grande parte da energia elétrica consumida no estado do Rio de Janeiro. As
atividades econômicas giram em torno da pesca, de atividades portuárias, da geração de energia nas usinas
Angra I e Angra II, de comércio e de serviços, da indústria naval ‒ por meio do estaleiro Keppel Fels, antigo
Verolme ‒ e, também, do turismo, em suas praias, ilhas e locais de mergulho submarino, principalmente, os da
localidade de Ilha Grande. A cidade conta as principais redes do varejo. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Angra_dos_Reis, acessado em 31/08/2020.
138
Disponível em: http://angranews.com.br/projeto-do-terminal-pesqueiro-publico-de-angra-foi-apresentado/,
acessado em 30/01/2020.
139
Cananeia é situada no litoral sul do Estado de São Paulo, junto à divisa com o Paraná, e é constituída por
vasto arquipélago, com inúmeras ilhas e parques florestais, com áreas de restrições ambientais e com reservas
marítimas. O turismo é, junto com a pesca, a alavanca econômica local, com a agricultura também
contribuindo, porém de forma incipiente, dadas as restrições ambientais, que lhe são impostas. o município
abriga a Praça Martim Afonso, em seu lugar mais central, entre a foz do rio Olaria e a bancada de residências
centenárias, existentes defronte ao Mar de Dentro. Disponível em: http://cidadeilustre.blogspot.com/2013/12/o-
entreposto-ceagesp-de-cananeia-e-o.html acessado em 31/08/2020.
140
Disponível em: http://www.lincolnreis.com.br/index.php/artigos/item/1393-vereador-busca-apoio-para-
revitalizacao-de-terminal-pesqueiro-publico-de-santos, acessado em 30/01/2020.
144

Figura 16 ‒ Imagem do TPP de Cananeia

Fonte: sítio http://cidadeilustre.blogspot.com/ (2020)141

A implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos, como observado, vem se tornando,


na última década, desperdício de dinheiro público por um simples motivo, apresentado por
Gregolin (2014): o desinteresse do setor privado pelos projetos dos TPPs, por não serem
economicamente viáveis, pois a pesca nacional, principalmente, a artesanal, é um setor muito
pouco desenvolvido, gerando, para os administradores privados, um volume de desembarque
insuficiente, na maiorias dos polos. Para resolver este entrave, Gregolin (2014) propôs que a
administração dos TPPs fosse entregue a empresas públicas e, posteriormente, quando os
terminais já estivessem estruturados, estes poderiam ser gerenciados por parcerias público-
privadas, como orienta o Decreto-Lei nº 5.231, de 2004.
Os terminais que seguiram essa lógica estão em pleno funcionamento, como o de
Laguna, que estava sob o controle da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e,
agora, passou para o controle da SCPar Porto de São Francisco do Sul; e o de Ilhéus e o de
Salvador, que estão sob administração da empresa pública Bahia Pesca;
Ainda dentro da lógica da administração pública inicial, o TPP de Camocim deve
passar para a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), ainda em 2020. Os demais
TPPs estão fechados ou em funcionamento precário, seja com administração privada, seja
com administração pública local.
Essa pequena descrição dos TPPs demostra o quanto a pesca é importante, embora não
seja valorizada pelo mercado e pelos governantes locais, visto que alguns estão mais

141
Disponível em: http://cidadeilustre.blogspot.com/2013/12/o-entreposto-ceagesp-de-cananeia-e-o.html,
acessado em 30/01/2020.
145

interessado na busca incessante pelo lucro rápido, enquanto outros estão centrados na procura
por políticas de maior visibilidade social.
146

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer dos últimos dezessete anos de pesquisa, venho tentando compreender a


atividade pesqueira, principalmente, a atividade pesqueira artesanal. Meu primeiro trabalho de
pesquisa, durante minha graduação, foi sobre a Colônia de Pesca Z8, que tem sua abrangência
nos municípios de São Gonçalo e de Niterói, e cuja sede fica no centro do Município de
Niterói, próxima ao Mercado de Peixe São Pedro, bem tradicional e de abrangência local.
Durante esse período, me inquietava a questão da submissão da atividade pesqueira ao Estado.
Durante o mestrado, busquei entender, em minhas pesquisas, a origem das Colônias de
Pesca brasileiras, continuando o aprofundamento nesta análise e chegando à compreensão de
que elas foram formadas, a partir de uma demanda do Estado, pelo controle territorial do país,
no início do século XX, na Primeira República, mais precisamente, pela Marinha do Brasil,
que, naquele período, necessitava ampliar sua frota e marcar a sua importância, dentro da
nova organização política brasileira.
A inquietação do curso de mestrado não acabou na defesa da dissertação; pelo
contrário, continuou levando a pesquisa a outro questionamento: quais eram as origens das
novas políticas nacionais da pesca?. Estas não poderiam mais ser explicadas, sob o viés da
necessidade de controle territorial, por parte do Estado, e, ainda menos, sob a justificativa da
necessidade de uma força armada, no intuito de ampliar seus poderes, perante o Estado, como
ocorrido no início do século XX.
Para tentar solucionar tal inquietação, busquei, finalmente, na pesquisa sobre as leis
que impactaram e que impactam a atividade pesqueira, o entendimento das mudanças no
setor. Segundo o levantamento realizado, o ponto mais marcante foi a Lei de Pesca, de 1967.
Na transição desta para a nova legislação, de 2009, percebi que, apesar das alterações
indicarem as necessidades das pessoas afetadas, os pescadores, havia referências a demandas
de outros agentes. Quem eram esses agentes? Na legislação de 1967, não havia indicativos e,
na nova legislação, de 2009, tal informação não ficava clara, embora o novo texto deixasse
transparecer o momento de mudança importante.
Em minha análise, o marco de transformação da legislação pesqueira, que gerou tal
transparência, permitindo a visualização dos agentes constituintes da política pesqueira,
estava na legislação de implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos, de 2004, a qual
tornou clara a participação do setor privado (grande empresas nacionais e internacionais dos
ramos alimentício e de transporte e de logística), além de toda a relação de acordos e de
147

normativas internacionais, como apresentado na lista de presença da audiência pública de


2015, para regulamentar o Decreto nº 5.231.
Para compreender o significado e a importância dos Terminais Pesqueiros Públicos,
foi necessário fazer um levantamento legislativo, que se iniciou na Câmara de Deputados,
com o Decreto nº 5.231, por meio do qual eu pude aprender que uma lei ou decreto possui um
texto original, que também pode ser denominado texto publicado, mas que o texto publicado
pode ser diferente, se tiver alterações. No caso do decreto citado, o texto publicado é igual ao
do original. Também é possível avaliar as emendas, às quais a lei ou o decreto foi submetido,
caso haja alterações; observar se a situação da lei ou do decreto é de revogada ou não;
verificar a existência de normativa para a lei ou para o decreto; e, um ponto extremamente
importante para a pesquisa da tese, constatar o ponto de origem da lei ou do decreto, que,
neste caso, foi o poder executivo.
Toda lei tem um ponto de origem. Quando vem de uma demanda popular ou de um
representante do legislativo, é possível rastrear tal ascendência, até a fonte, mas, no caso do
decreto que cria os Terminais Pesqueiros Públicos, esta necessidade proveio do poder
executivo, e não há informação, além desta. Chegamos, portanto, ao ponto embrionário da
tese, que cria minha hipótese, confirmada, nesses anos de pesquisa.
Para a corroboração desta hipótese, tive que avaliar o cenário político e todas as leis e
os decretos, que envolveram a atividade pesqueira, desde o final do século XX, como
apresentado nos capítulos iniciais, até a primeira década do século XXI, momento em que as
mudanças legislativas da atividade pesqueira foram mais contundentes, durante o primeiro e o
segundo mandatos do governo Lula. Note-se, entretanto, que estas alterações já vinham sendo
tecidas. A hipótese recaía sobre a intervenção, mesmo que indireta, de agentes internacionais
na atividade pesqueira nacional, mas pude perceber que, de fato, as legislações deste último
período sofreram influencias, principalmente, da Organização das Nações Unidas, mas,
diferentemente do meu primeiro pensamento, os interesses não eram relacionados somente à
pesca, incluindo, também, a regulamentação de todas as atividades marinhas existentes na
delimitação das Zonas Econômicas Exclusivas e do Mar Territorial e, principalmente, a não
utilização dos recursos das águas internacionais ou da área (o leito do mar, os fundos
marinhos e o seu subsolo, além dos limites da jurisdição nacional).
Então, com efeito, confirmei minha hipótese, ou seja, mesmo no mandato de um
presidente que demostrou preocupação, para com a atividade pesqueira, ao nível de manter o
diálogo com as localidades, através das conferências estaduais e da nacional, a interferência
dos acordos e das convenções internacionais pressionou, para a formação de uma nova
148

legislação, pela qual o Estado propõem a reestruturação da atividade pesqueira, sem que esta
fosse uma demanda direta dos pescadores.
Não estou descontruindo todo o trabalho das últimas décadas das lideranças locais dos
pescadores, que pressionaram os governos, em todas as escalas, apontando problemas e
procurando soluções para a categoria, mas não posso deixar de lado, ao contrário, que os
acordos internacionais, principalmente, o da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar (CONUDM), que teve sua origem no pós-Guerra, em meados do século XX,
pressionaram o governo brasileiro a construir uma legislação, que respeitasse os usos
propostos para os recursos marinhos e que, também, influenciasse a utilização dos recursos
fluviais.
Essa influência internacional na legislação tem sua origem na Convenção sobre o
Direito do Mar das Nações Unidas e continua, com a ação da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO), pela introdução, no final do século XX, do Código de
Conduta para a Pesca Responsável, no intuito de ajudar os países a assumirem um enfoque
mais responsável no manejo da pesca, baseado nos ecossistemas.
Como pudemos observar no decorrer da tese, os pontos apresentados pela FAO são
bem semelhantes aos expostos na legislação brasileira sobre a atividade pesqueira. A
atividade pesqueira nacional vem sendo construída e reconstruída, durante o último século,
não, somente, no intuito de sustentar plenos direitos aos pescadores, mas na geração de
garantias, para o Estado, do seu controle territorial, como demostrei, inicialmente, ao abordar
a legislação de formação das Colônias de Pescadores, no início do século XX, e,
posteriormente, com os Terminais Pesqueiros Públicos e com as demais legislações que o
acompanharam, para fortalecer o controle da Zona Econômica Exclusiva, por meio de
parcerias público-privadas.
Portanto, a atividade pesqueira nacional continua sofrendo o controle do Estado, no
início do século XXI, porém, agora, com um viés internacional, por meio do qual o país se
esforça para ter uma colocação de maior prestígio no mercado internacional.
Por esse caminho, posso afirmar que, em tese, os Terminais Pesqueiros Públicos e sua
regulamentação, pelo Estado, acabam gerando, direta ou indiretamente, uma fragmentação ou,
até, a extinção dos núcleos pesqueiros locais, por meio de acontecimentos, como os leilões de
pescado, que ocorrem nas madrugadas, em praticamente todas as Colônias de Pescadores,
com o intuito de escoar a produção do dia anterior, e a limitação de uso dos pequenos
atracadouros das associações e dos armadores, que, no último século, se tornaram referência
para a atividade pesqueira regional, escoando as produções locais e regionais e procurando
149

um bom preço para o pescado. Tais pontos são um lastro da identidade, não, somente, para os
pescadores, mas para todas a pessoas que vivem em seu entorno, que utilizam estes espaços
como fonte de trabalho ou como origem de seu alimento.
Tal rompimento não é um fato novo; ele já foi realizado, pelo Estado, no início do
século XX, como demostrando neste trabalho. Em minha dissertação, referida no início desta
tese, e no decorre das descrições legislativas, usando, não, somente, os campos da História,
mas os da Geografia e os do Direito, busquei chegar a uma compreensão do processo
legislativo, que serviu como alicerce para a implantação dos Terminais Pesqueiros Públicos,
caracterizados, pelo Estado, como nova forma geradora de parcerias público-privadas,
trazendo uma nova compreensão do território, da soberania e da regulação, que ainda não
havia sido aplicada à atividade pesqueira.
Um ponto marcante do primeiro capítulo teórico foi o de que, mesmo com essas
parcerias público-privadas, o Estado, em seu exercício cotidiano de hegemonia soberana, que
lhe confere o monopólio dos meios de produção, através das normas jurídicas, não perde sua
função, a partir da desregulamentação da economia. Com isso, tal construção legislativa,
mesmo que influenciada por demandas estatais, conjugadas com normativas de convenções e
com acordos internacionais, leva os Terminais Pesqueiros Públicos e seus múltiplos agentes
produtores de normas a delimitar novos contextos políticos, ainda que sem extinguir o poder
do Estado, pois fica claro que a nova política se torna externa aos indivíduos, porém exige
uma adesão interna, por parte dos sujeitos.
Nesse sentido, os Terminais Pesqueiros Públicos, além de serem uma reestruturação
política da cadeia produtiva da pesca, configuram, também, uma forma de difusão de
infraestruturas pelo território, que adquirem uma centralidade e que interligam diferentes
regiões, remontando ao passado da atividade pesqueira e a sua participação na formação
territorial do país, na qual o Estado tem um papel definido e a corporação, igualmente,
embora, neste novo momento da História, tenhamos a inserção do sujeito trabalhador como
mero objeto da legislação e como validador do programa jurídico, conforme demonstrado na
regulamentação dos TPPs, dentro da qual os conselhos de pescadores têm pouca participação
nas demandas necessárias para gerir toda a atividade, mas estão presentes para ratificar as
ações dos agentes administrativos oficiais, sejam públicos, sejam privados.
Na audiência pública de 18 maio de 2015, para regulamentar o Decreto nº 5.231, de 6
de outubro de 2004, pode-se notar a participação de vários agentes públicos e privados na
busca da normatização perfeita para os interesses do mercado. No setor público, além dos
órgãos já esperados, como o antigo Ministério da Pesca e Aquicultura, junto com a Marinha
150

do Brasil, que nunca se afastou, de fato, da atividade pesqueira, seguidos do Ministério da


Agricultura e dos ministérios ligados à infraestrutura e ao transporte, entre outros, nos níveis
federal e estadual, houve a presença de prefeituras, que viam, no controle dos TPPs, formas de
ampliação do poder político local sobre uma parcela da população, que só vê o Estado na
figura da Colônia de Pescadores e, não, nas esferas municipais.
Mas o mais marcante dessa audiência pública foi a presença do setor privado,
destrinchado a lei e a normatizando, para a ampliação de seu lucro. Estavam presentes
empresas vinculadas aos setores petroquímico, que veem, nos Terminais Pesqueiros Públicos,
um ponto centralizador para a distribuição de combustivos e de insumos para embarcações,
como a Atlântica Combustíveis Ltda, a Posto Náutico Farol Ltda e a Gehr International, e aos
setores financeiros, como o Banco do Nordeste do Brasil S.A., além de representantes de
terminais pesqueiros em funcionamento, como o de Laguna e o da Bahia Pesca.
Entre as demais empresas participantes, temos a PROSEPESCA (de consultoria), a
Federação Nacional dos Engenheiros de Pesca do Brasil, a CONAPE (de anistiados do
sistema Petrobrás), a Organização das Cooperativas Brasileiras, a Associação dos Pequenos
Produtores da Agricultura Familiar e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil ‒ já
vinculadas à agricultura nacional ‒, além da ONG Coletivo Nacional da Pesca e Aquicultura e
do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará.
Na representatividade da pesca, houve somente a presença da Confederação Nacional
dos Pescadores Artesanais, da Federação dos Pescadores e Aquicultores do Estado de Sergipe
e da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão.
Portanto, em um Estado capitalista, a base da ossatura institucional está relacionada
com a produção capitalista, que transforma a força de trabalho em mercadoria e o excesso de
trabalho em mais-valia, gerando uma relação estreita entre Estado, capitalismo e economia,
ainda que com uma separação relativa. Por essa perspectiva, as estruturas dos Terminais
Pesqueiros Públicos, como instâncias centralizadoras da produção local e distribuidoras para
os demais mercados, poderão fazer parte da ossatura do Estado, como ocorreu com as
Colônias de Pescadores, anteriormente. Outro ponto observado na pesquisa foi o da
permanência, mesmo que indireta, da tutela do Estado, como também ocorreu na formação
das Colônias.
Como a lei é uma forma de controlar o comportamento social, é necessário lembrar
que os imperativos instrumentais do Estado impulsionam o conhecimento jurídico, bem como
aprofundar a visão crítica, acerca do poder, advertindo que a lei não se presta só para
comandar, senão, ainda, para redefinir, para capacitar, para construir, para dividir, para
151

encerrar e para ofuscar o espaço, dando um corpo completo à política dos Terminais
Pesqueiros Públicos e gerando, ao pescador, a visualização dessa possível nova dependência
dos fixos, implantados pelo Estado, mesmo sob o viés da relação entre políticas público-
privadas e Administração Federal.
Outro ponto é o do limite das lutas dos pescadores. Hoje, tal limite está ligado às
instituições representativas da atividade pesqueira, que ainda são parte da ossatura do Estado,
mesmo que não aparentem, pois são regidas e alimentadas, a partir de políticas públicas, e têm
sua ação ainda vinculada à regulamentação e à normatização da vida do pescador, junto ao
Estado, portanto têm, na sua estrutura, a territorialização estatal, estando inseridas no que se
pode denominar território normado, que termina por ser a grande mediação entre o mundo e
as sociedades locais e a nacional, já que, para a sua funcionalização, o mundo necessita de
mediação com os lugares, cuja descrição, ressalto, penso ter alcançado nesta tese, ou seja,
acredito ter obtido uma maior compreensão sobre todo o processo de criação dos Terminais
Pesqueiros Públicos, o que poderá ampliar o debate sobre seus usos, no futuro.
Como já mencionado nesta tese, o Brasil tem um gigantesco potencial para a atividade
pesqueira, detendo cerca de 13% da água doce do planeta, 8,4 mil km de costa marítima, que
apresenta uma diversidade de fauna e de flora comparada à encontrada na Amazônia, além de
contar com 3,5 milhões de km² de Zona Econômica Exclusiva (ZEE), para a exploração, tanto
dos recursos naturais quanto dos recursos minerais, e com 5,5 milhões de hectares de lâmina
d’água represada. Mas, mesmo com a criação do Ministério da Pesca e com todo o processo
legislativo aplicado na execução dos Terminais Pesqueiros Públicos, ainda se pode notar, no
último capítulo da tese, como ressaltado pela FAO, no início do trabalho, a falta de autonomia
administrativa e financeira, pela alta exposição política das instituições envolvidas, o que
impossibilitou ou dificultou o tratamento das demandas do setor pesqueiro, com
discernimentos técnicos e legais específicos para um funcionamento pleno, seja por parceria
público-privada, seja pelo controle estatal, tornando a política dos Terminais Pesqueiros
Públicos ainda incompleta, em nível local, como fixo, mas bem-sucedida, no campo
legislativo, no que concerne ao cumprimento dos acordos internacionais.
152

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161

ANEXO A - Audiência pública - realizada em 18 maio de 2015 – Terminais Pesqueiros


Públicos.

AUDIÊNCIA PÚBLICA nº /2015


EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE AUDIÊNCIA

O MINISTRO DE ESTADO DA PESCA E AQUICULTURA, no uso de suas atribuições


legais e institucionais, no uso da competência que lhe foi atribuída pela Lei nº 10.683, de 28
de maio de 2003, alterada pela Lei nº 11.958, de 26 de junho de 2009, bem como em face do
que dispõe o art. 32 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, torna público que será realizada
Audiência Pública para discutir a edição de novo regramento legal com vistas a regulamentar
a criação, organização e administração dos Terminais Pesqueiros Públicos – TPPs.
Art. 1º. A referida audiência pública realizar-se-á no dia 18/ 05 /2015, das 9:00 hs as 13:00 hs,
no Auditório do Ministério da Pesca e Aquicultura Setor Bancário Sul - SBS – Quadra,02-
Bloco J- Edifício Carlton Tower – Térreo CEP: 70.070-120 - Brasília - DF – Brasil, e será
coordenada pelo Gabinete do Ministro e a Secretaria de Infraestrutura, facultada a
participação de todos os seguimentos sociais interessados.

DOS OBJETIVOS
Art. 2º. A audiência tem por objetivo debater sobre a proposta de nova regulamentação da
criação e administração dos Terminais Pesqueiros Públicos – TPPS, bem como prestar
esclarecimentos à população, permitindo-se a manifestação de eventuais interessados, desde
que previamente inscritos.

DAS FORMAS DE PARTICIPAÇÃO


Art. 3º. Serão convidados a participar da audiência pública setores governamentais,
organizações de classe e empresas públicas e privadas.
Parágrafo único. Cada expositor disporá de 10 (dez) minutos para sua explanação, com
tolerância máxima de até 5 (cinco) minutos.
Art. 4º. A participação da plenária observará os seguintes procedimentos:
I. É assegurado ao participante o direito de manifestação oral;
II. As manifestações orais observarão a ordem sequencial do registro da intenção para
manifestação, devendo, quando for o caso, informar o nome do participante;
III. O tempo para manifestação oral será definido em função do número de participantes e da
duração total prevista na agenda.
Parágrafo único. Situações não previstas no procedimento da audiência pública serão
resolvidas pelo Coordenador da audiência pública.
Art. 5º. Os interessados poderão participar do presente processo mediante envio de críticas e
sugestões ao projeto, previamente divulgado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura em sua
página eletrônica www.mpa.gov.br, desde que apresentadas em português, no período
compreendido entre a publicação do aviso da Audiência, no Diário Oficial da União, e o dia
imediatamente anterior ao previsto para a abertura da sessão, para um dos seguintes
endereços:
I - Por correspondência, para o endereço: Ministério da Pesca e Aquicultura, Assessoria de
Assuntos Estratégicos e Relações Institucionais, Setor Bancário Sul - SBS – Quadra 02 -
Bloco J-Edifício Carlton Tower – 14 andar -CEP: 70.070-120 - Brasília - DF – Brasil.
II - Por fac-símile, para o nº. (61) 2023-3916;
162

III - Por via eletrônica, para o endereço: [email protected]


DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 6º. A minuta deste edital encontra-se à disposição dos interessados no sítio da Ministério
da Pesca e Aquicultura (http://www.mpa.gov.br/editais/editais-2015), bem como será afixado
nas sedes das Superintendências Federais da Pesca e Aquicultura nos Estados, além de
publicado, por extrato, no Diário Oficial da União, buscando, com tal procedimento, dar
ampla publicidade ao evento.
Art. 7º. O Ministério da Pesca e Aquicultura divulgará, em sua página eletrônica
(http://www.mpa.gov.br/editais/editais-2015), no prazo de 10(dez) dias, após sua realização, a
ata da presente Audiência Pública.
HELDER BARBALHO
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ANEXO B – Principais acordos e tratados assinados pelo Brasil:

Globais:
- Convenção Sobre a Instalação de Forças Hidráulicas de Interesse de Vários Estados,
adotada em Genebra, em 9 de dezembro de 1923 (r.t.s.d.n., n° 36, 1925, p. 76);
- Convenção sobre a Proteção e o uso dos Cursos D’água Transfronteiriços e dos
Lagos Internacionais (Helsinque, 1992).

Regionais:
- Tratado da Bacia do Prata (Brasília, 23/04/1969);
- Convenção que Constitui um Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do
Prata (Fonplata) (Buenos Aires, 12/06/1974);
- Acordo Tripartite de Cooperação Técnica e Operacional, entre Itaipú e corpus, entre
Argentina, Brasil & Paraguai (Ciudad Presidente Stroessner, 19/10/1979).

E, posteriormente, os acordos Bilaterais:


- Brasil & Argentina: Troca de Notas para Criação de uma Comissão Mista para
Construção de uma Ponte sobre o Rio Iguaçu (Brasília, 17 de maio de 1980);
- Brasil & Argentina: Acordo Referente à Construção de uma Ponte sobre o Rio
Uruguai, Entre as Cidades de São Borja e São Tomé (Uruguaiana, 22 de agosto de
1989);
- Brasil & Argentina: Tratado para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos
Compartilhados dos Trechos Limítrofes do Rio Uruguai e de seu Afluente, o Rio
Pepiri-Guaçu (Buenos Aires, 17 de maio de 1980);
- Brasil & Argentina: Acordo sobre Sanidade Animal em Áreas de Fronteira (Buenos
Aires, 17 de maio de 1980);
- Brasil & Argentina: Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica (Buenos Aires,
17 de maio de 1980) (com entrada em vigor em 18/08/1982);
- BRASIL & Paraguai: Tratado de Cooperação para um Estudo Relativo ao Uso da
Energia Hidro-Elétrica dos rios Acaray e Monday (Rio de Janeiro, 20/01/1956);
- Brasil & Paraguai: Ato das Cataratas (ou Ato d'Iguaçu) (Foz do Iguaçu, 22/06/1966);
- Brasil & Paraguai: Tratado Sobre o Aproveitamento Hidro-Elétrico das Águas do
Rio Paraná de Soberania Compartilhada entre o Brasil e o Paraguai a Partir de Salto
179

Grande de Sete Quedas ou Salto Del Guairá até a Foz do Iguaçu (Brasília,
26/04/1973);
- Brasil & Paraguai, Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável e a
Gestão Integrada da Bacia Hidrográfica do Rio Apa (Brasília, 11/09/2006);
- Brasil & Uruguai: Acordo Referente ao Transporte Fluvial e Lacustre (Rivera,
Uruguai, 12 de junho de 1975);
- Brasil & Uruguai: Acordo de Cooperação para o Aproveitamento dos Recursos
Naturais e o Desenvolvimento da Bacia do Rio Quaraí (Artigas, Uruguai, 11 de março
de 1991);
- Brasil & Uruguai: Troca de Notas Constituindo um acordo para a Aplicação, de
Forma Provisória, do Acordo de Cooperação para a o Aproveitamento dos Recursos
Naturais e o Desenvolvimento da Bacia do Rio Quaraí (Artigas, Uruguai, 11 de março
de 1991);
- Brasil & Uruguai: Tratado de Cooperação para o Aproveitamento dos Recursos
Naturais e o Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim (Brasília, 7 de julho de
1977);
- Brasil & Uruguai: Protocolo para o Aproveitamento dos Recursos Hídricos do
Trecho Limítrofe do Rio Jaguarão (Protocolo do Rio Jaguarão – Anexo ao Tratado da
Bacia da Lagoa Mirim) (Brasília, 7 de julho de 1977);
- Brasil & Uruguai: Estatuto da Comissão Mista Brasil & Uruguay, para o
Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim (Brasília, 7 de julho de 1977);
- Brasil & Uruguai: Troca de Notas para Aumentar o Número de Membros de cada
uma das Partes na Comissão da Lagoa Mirim (Brasília, 16 de setembro de 1991);
- Brasil & Uruguai: Troca de Notas Constituindo um Acordo que estabelece uma
comissão Mista para o Aproveitamento da Lagoa Mirim (Montevideo, Uruguai, 26 de
abril de 1963);
- Brasil & Uruguai: Troca de Notas Constituindo um Acordo referente à Comissão
Mista para o Aproveitamento da Lagoa Mirim (Brasília, 20 de maio de 1974);
- Argentina & Paraguai: Convenção Referente à Realização de Estudos Técnicos sobre
a Produção de Energia Elétrica no Rio Paraná, na Altura das Ilhas de Yacyretá e Apipé
(Buenos Aires, 23/01/1958);
- Argentina & Paraguai: Convenção sobre o uso do Rio Paraná no Trecho entre a Foz
do Rio Iguaçú e a Seção Encarnación-Posadas (Buenos Aires, 16/06/1971);
- Argentina & Paraguai: Tratado de Yacyreta (Asunción, 03/12/1973);
180

- Argentina & Uruguai: Convenção sobre o Aproveitamento das Quedas do Rio


Uruguai na Zona de Salto Grande (Montevideo, 30/12/1946);
- Bolívia & Peru: Convenção Preliminar sobre um Estudo para o uso Conjunto das
Águas do Lago Titicaca (Lima, 30/07/1955).

Acordos de Delimitação de Fronteira:


- Brasil & Bolívia: Tratado de Delimitação (Petrópolis, 17/11/1903);
- Brasil & Uruguai: Tratado de Limites (Rio de Janeiro, 12/10/1851);
- Brasil & Uruguai: Tratado de Delimitação (Rio de Janeiro, 30/10/1909);
- Bolívia & Chile: Tratado de Delimitação e de Partilha (Santiago, 10/08/1866);
- Brasil, Argentina & Uruguai: Declaração Conjunta Sobre o Limite Exterior do Rio
de La Plata (30/01/1961);
- Brasil, Argentina & Uruguai: Tratado Referente à Fronteira Sobre o Uruguai
(Montevidéu, 07/04/1961);
- Brasil, Argentina & Uruguai: Tratado do Rio de La Plata e de sua Fronte Marítima
(Montevidéu, 19/11/1973);
- Brasil, Equador & Peru: Protocolo de Paz, de Amizade e de Limites (Rio de Janeiro,
29/01/1942).

Ainda, temos alguns acordos e atos de relevância:


Declarações:
- Declaração de Asunción, sobre o uso dos Rios Internacionais, Resolução n° 25,
proclamada no Uruguai, em 03/06/1971, pelos ministros de Relações Exteriores dos
Cinco Estados-Partes do Tratado da Bacia do Rio de La Plata;
- Declaração Conjunta dos Chanceleres dos Países da Bacia do Prata, de 27/02/1967;
- Declaração de Dublin - O.M.M./Conferência Internacional Sobre Água e Meio
Ambiente: o Desenvolvimento na Perspectiva do Século 21, Declaração de Dublin e
Relatório da Conferência, de 26/31 de janeiro de 1992, em Dublin, Irlanda.

Diretivas:
- Diretiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23/10/2000, que
estabelece Um Quadro de Ação Comunitária no Domínio da Política da Água.

Resoluções:
181

- ONU, Conselho Econômico para a Europa, Código de Conduta Sobre a Poluição


Acidental de Águas Transfronteiriças Interiores e Diretivas sobre a Responsabilidade
em Matéria de Poluição das Águas Transfronteiriças.

Diversos:
- International Law Association: Regras de Helsinque sobre o uso de Águas de Rios
Internacionais, Relatório da 52ª Conferência, em Helsinque, de 14 a 20 de agosto de
1966;
- Conselho da Europa, Carta Européia da Água, em Estrasburgo, em 06/05/1968.

Também é possível ver alguns acordos ou atos, que envolvem a temática do meio
ambiente, os quais impacta diretamente a pesca artesanal. Dentre esses, se destacam os
multilaterais:

Globais:
- Convenção Relativa às Zonas Úmidas de Importância Internacional, Particularmente
como Habitat de Pássaros Aquáticos (Ramsar, 02/02/1971);
- Convenção sobre Diversidade Biológica (Rio de Janeiro, 05/06/1992);
- Convenção sobre a Luta Contra a Desertificação nos Países Gravemente Atingidos
pela Seca e/ou Desertificação, Particularmente na África (Paris, 17/06/1994);
- Convenção sobre os Povos Indígenas e Tribais nos Países Independentes, organizada
pela OIT (Genebra, 07/06/1989 – ratificada pelo Brasil, em 25/07/2002);
- Convenção sobre a Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades
Perigosas para o Meio Ambiente, organizada pela CE (Lugano, 21/06/1993).

Regionais (América do Sul)


- Tratado de Cooperação Amazônica (Brasília, 03/07/1978 – ratificação, pelo Decreto
Legislativo nº 69, de 18/10/1978, e promulgação, pelo Decreto n° 85.050, de
18/08/1980);
- Tratado sobre a Criação do Mercado Comum do Sul ‒ Mercosul, entre a Argentina, o
Brasil, o Uruguai e o Paraguai (Asunción, 26/03/1991);
- Acordo-quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul, de 22/06/2001.
182

Além dos multilaterais, com a problemática do meio ambiente, temos alguns acordos
bilaterais, que também impactam a atividade pesqueira:
Brasil x ...
- Brasil & Uruguai: Tratado de Amizade, Cooperação e Comércio (Rivera, Uruguai,
12 de junho de 1975 ‒ entrada em vigor em 09/07/1976);
- Brasil & Uruguai: Acordo Básico de Cooperação Científica e Técnica (Rivera,
Uruguai, 12 de junho de 1975 ‒ entrada em vigor em 09/07/1976);
- Brasil & Uruguai: Acordo de Pesca e Preservação de Recursos Vivos, com
ratificação pelo Decreto-Lei nº 412, de 09/01/1969;
- Brasil & Colômbia: Acordo para a Conservação da Flora e da Fauna dos Territórios
Amazônicos, com ratificação pelo Decreto Legislativo n° 72, de 03/12/1973, com
promulgação pelo Decreto nº 78.017, de 12/07/1976;
- Argentina & Chile: Convenção para a Proteção das Florestas Contra Incêndios
(Santiago, 29/12/1961).

Além dos acordos relacionados ao meio ambiente, existem outros atos, que também
impactam a atividade pesqueira:
Declarações:
- Declaração Da Conferência Das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente (Estocolmo,
1972);
- Carta Mundial da Natureza (ONU, Resolução nº 37/7, de 1982);
- Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992);
- Declaração de Princípios, Juridicamente Não Compulsória, mas Tendo Autoridade
Para Um Consenso Mundial Sobre A Gestão, A Conservação E A Exploração
Ecologicamente Viável De Todos Os Tipos De Florestas (Rio de Janeiro, 05/06/1992);
- Declaração de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável (Joanesburgo,
04/09/2002);
- Declaração de São Francisco de Quito, em 07/03/1989, feita pela Bolívia, Brasil,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

Resoluções:
- Disposições Institucionais E Financeiras Sobre A Cooperação Internacional Em
Matéria De Meio Ambiente (ONU, Resolução nº 2997, de 1972);
183

- Arranjos Institucionais para o Acompanhamento Da Conferência Das Nações Unidas


Sobre O Meio Ambiente E O Desenvolvimento (ONU, Resolução nº 47/191, de 1992);
- Resolução ONU Assembleia Geral Nº 34/186, que Aprova O Projeto De Princípios
Referentes À Conduta Dos Estados Na Conservação E Na Utilização De Recursos
Naturais Compartilhados Por Dois Ou Mais Estados (PNUMA, 1975);
- Comitê do Comércio e Meio Ambiente (Reunião Ministerial GATT/OMC, em
Marrakesh, em 14/04/1994).
184

ANEXO C – Legislações impactantes a atividade de pesca

• CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DIREITO DO MAR -


DECRETO LEGISLATIVO Nº 5, DE 9 DE NOVEMBRO DE 1987 - Aprova o texto
da Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, concluído em Montego Bay,
Jamaica, em 10 de dezembro de 1982;
• DECRETO Nº 1.530, DE 22 DE JUNHO DE 1995 - Declara a entrada em vigor da
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, concluída em Montego Bay,
Jamaica, em 10 de dezembro de 1982;
• CONVENÇÃO SOBRE O ALOJAMENTO A BORDO DOS NAVIOS DE PESCA,
de 1966;
• DECRETO LEGISLATIVO Nº 10, DE 8 DE FEVEREIRO DE 1994 - Aprova o texto
da Convenção nº 126, da Organização Internacional do Trabalho, sobre Alojamento a
Bordo dos Navios de Pesca, adotada, por ocasião da 50ª Sessão da Conferência
Internacional do Trabalho, realizada em Genebra, em 1966;
• DECRETO Nº 2.420, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1997 - Promulga a Convenção nº
126, da Organização Internacional do Trabalho, sobre Alojamento a Bordo dos Navios
de Pesca, concluída em Genebra, em 21 de junho de 1966.

Continuando com a Leis e com os Decretos-Leis, que não estão ligadas diretamente
aos TPPs, mas os impactam, indiretamente:
• DECRETO-LEI Nº 221, DE 28 DE FEVEREIRO DE 1967 - Código de Pesca -
Dispõe sobre a proteção e sobre os estímulos à pesca e dá outras providências;
• LEI Nº 7.356, DE 30 DE AGOSTO DE 1985 - Determina a inclusão de parágrafo no
art. 5º da Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960 (Lei Orgânica da Previdência Social),
regulando a inclusão dos pescadores, no regime dessa lei;
• LEI Nº 7.643, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1987 - Proíbe a pesca de cetáceo nas águas
jurisdicionais brasileiras e dá outras providências;
• LEI Nº 8.171, DE 17 DE JANEIRO DE 1991 - Dispõe sobre a política agrícola;
• LEI Nº 8.617, DE 4 DE JANEIRO DE 1993 - Dispõe sobre o mar territorial, a zona
contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros e dá outras
providências;
185

• LEI Nº 9.445, DE 14 DE MARÇO DE 1997 - Concede subvenção econômica ao


preço do óleo diesel consumido por embarcações pesqueiras nacionais;
• LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 (Lei de Crimes Ambientais) - Dispõe
sobre as sanções penais e administrativas, derivadas de condutas e de atividades
lesivas ao meio ambiente e dá outras providências;
• LEI Nº 10.683, DE 28 DE MAIO DE 2003 - Dispõe sobre a organização da
Presidência da República e dos ministérios e dá outras providências;
• LEI Nº 10.779, DE 25 DE NOVEMBRO DE 2003 - Dispõe sobre a concessão do
benefício de seguro-desemprego, durante o período de defeso, ao pescador
profissional que exerce a atividade pesqueira de forma artesanal;
• LEI Nº 10.849, DE 23 DE MARÇO DE 2004 - Cria o Programa Nacional de
Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional (Profrota
Pesqueira) e dá outras providências;
• LEI Nº 11.326, DE 24 DE JULHO DE 2006 - Estabelece as diretrizes para a
formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos
Familiares Rurais;
• LEI Nº 11.380, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2006 - Institui o Registro Temporário
Brasileiro para embarcações de pesca estrangeiras arrendadas ou afretadas, a casco nu,
por empresas, armadores de pesca ou cooperativas de pesca brasileiras e dá outras
providências;
• LEI Nº 11.524, DE 24 DE SETEMBRO DE 2007 - Dispõe sobre a utilização de
recursos das exigibilidades de aplicação em crédito rural, oriundos da poupança rural e
dos depósitos à vista, para financiamentos destinados à liquidação de dívidas de
produtores rurais ou suas cooperativas com fornecedores de insumos, relativas às
safras 2004/2005 e 2005/2006; altera as Leis n os 11.076, de 30 de dezembro de 2004,
e 11.322, de 13 de julho de 2006, 10.194, de 14 de fevereiro de 2001, 10.696, de 2 de
julho de 2003, 7.827, de 27 de setembro de 1989, 8.427, de 27 de maio de 1992,
11.442, de 5 de janeiro de 2007, 11.488, de 15 de junho de 2007, 11.491, de 20 de
junho de 2007, e a Medida Provisória nº 2.199-14, de 24 de agosto de 2001 e dá outras
providências;
• LEI Nº 11.699, DE 13 DE JUNHO DE 2008 - Dispõe sobre as Colônias, Federações e
Confederação Nacional dos Pescadores, regulamentando o parágrafo único do art. 8º
186

da Constituição Federal e revoga dispositivo do Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro


de 1967;
• LEI Nº 11.958, DE 26 DE JUNHO DE 2009 - Altera as Leis n os 7.853, de 24 de
outubro de 1989, e 10.683, de 28 de maio de 2003 - dispõe sobre a transformação da
Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República em Ministério
da Pesca e Aquicultura; cria cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento
Superiores (DAS) e Gratificações de Representação da Presidência da República e dá
outras providências;
• LEI Nº 11.959, DE 29 DE JUNHO DE 2009 - Dispõe sobre a Política Nacional de
Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as atividades
pesqueiras, revoga a Lei nº 7.679, de 23 de novembro de 1988, e dispositivos do
Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967 e dá outras providências;
• DECRETOS DECRETO Nº 64.618, DE 2 DE JUNHO DE 1969 - Aprova o
Regulamento de Trabalho a Bordo de Embarcações Pesqueiras;
• DECRETO Nº 1.694, DE 13 DE NOVEMBRO DE 1995 - Cria o Sistema Nacional de
Informações da Pesca e Aquicultura (Sinpesq) e dá outras providências;
• DECRETO Nº 3.939, DE 26 DE SETEMBRO DE 2001 - Dispõe sobre a Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm) e dá outras providências;
• DECRETO Nº 4.810, DE 19 DE AGOSTO DE 2003 - Estabelece normas para
operação de embarcações pesqueiras nas zonas brasileiras de pesca, alto-mar e por
meio de acordos internacionais e dá outras providências;
• DECRETO Nº 4.895, DE 25 DE NOVEMBRO DE 2003 - Dispõe sobre a autorização
de uso de espaços físicos de corpos-d’água de domínio da União para fins de
aquicultura e dá outras providências;
• DECRETO Nº 5.069, DE 5 DE MAIO DE 2004 - Dispõe sobre a composição,
estruturação, competências e funcionamento do Conselho Nacional de Aquicultura e
Pesca (Conape) e dá outras providências;
• DECRETO Nº 5.231, DE 6 DE OUTUBRO DE 2004 - Dispõe sobre os princípios a
serem observados pela administração pública federal na criação, organização e
exploração de terminais pesqueiros públicos;
• DECRETO Nº 5.377, DE 23 DE FEVEREIRO DE 2005 - Aprova a Política Nacional
para os Recursos do Mar (PNRM);
187

• DECRETO Nº 5.474, DE 22 DE JUNHO DE 2005 - Regulamenta a Lei nº 10.849, de


23 de março de 2004, que cria o Programa de Financiamento da Ampliação e
Modernização da Frota Pesqueira Nacional (Profrota Pesqueira), institui o Grupo
Gestor do Profrota Pesqueira e dá outras providências;
• DECRETO Nº 5.583, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2005 - Regulamenta o § 6º do art.
27 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e dá outras providências;
• DECRETO Nº 6.241, DE 19 DE OUTUBRO DE 2007 - Regulamenta os arts. 17, 18 e
19 da Lei nº 11.524, de 24 de setembro de 2007, que trata da indenização aos
proprietários de redes de espera do tipo caçoeira e compressores de ar utilizados para a
pesca da lagosta, e da assistência financeira mensal aos pescadores impedidos de
exercerem a pesca de lagostas e dá outras providências;
• DECRETO Nº 6.440, DE 23 DE ABRIL DE 2008 - Promulga o Acordo Relativo à
Implementação da Parte XI da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
de 10 de dezembro de 1982, concluído em Nova York, em 29 de julho de 1994;
• DECRETO Nº 6.981, DE 13 DE OUTUBRO DE 2009 - Regulamenta o art. 27, § 6º,
inciso I, da Lei nº 10.683, de 2003, dispondo sobre a atuação conjunta dos ministérios
da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente nos aspectos relacionados ao uso
sustentável dos recursos pesqueiros;
• DECRETO Nº 7.024, DE 7 DE DEZEMBRO DE 2009 - Regulamenta a alínea e do
inciso XXIV do art. 27 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 - Dispõe sobre a
Organização da Presidência da República e dos Ministérios e dá outras providências;
• DECRETO Nº 7.077, DE 26 DE JANEIRO DE 2010 - Regulamenta a Lei nº 9.445, de
14 de março de 1997, que concede subvenção econômica ao preço do óleo diesel
consumido por embarcações pesqueiras nacionais;
• DECRETO Nº 8.424, DE 31 DE MARÇO DE 2015 - Regulamenta a Lei nº 10.779, de
25 de novembro de 2003, para dispor sobre a concessão do benefício de seguro-
desemprego, durante o período de defeso, ao pescador profissional artesanal que
exerce sua atividade exclusiva e ininterruptamente;
• DECRETO Nº 8.425, DE 31 DE MARÇO DE 2015 - Regulamenta o parágrafo único
do art. 24 e o art. 25 da Lei nº 11.959, de 29 de junho de 2009, para dispor sobre os
critérios para inscrição no Registro Geral da Atividade Pesqueira e para a concessão
de autorização, permissão ou licença para o exercício da atividade pesqueira;
188

Ainda, existem outras normas e informações, que afetam a produção e a


comercialização do pescado ver ANEXO F.
• LEI Nº 1.283, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1950 - Dispõe sobre a inspeção industrial
e sanitária dos produtos de origem animal. Publicação: DOU-1 de 19-12-1950;
• LEI DELEGADA Nº 10, DE 11 DE OUTUBRO DE 1962 - Cria a Superintendência
do Desenvolvimento da Pesca e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 12-10-
1962; retificação: DOU-1 de 16-10-1962 (observação: essa lei delegada não foi
explicitamente revogada, mas a Sudepe foi extinta, pela Lei nº 7.735, de 1989);
• LEI Nº 7.661, DE 16 DE MAIO DE 1988 - Institui o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 18-5-1988;
• LEI Nº 7.735, DE 22 DE FEVEREIRO DE 1989 - Dispõe sobre a extinção de órgão e
de entidade autárquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 23-2-1989;
• LEI Nº 7.889, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1989 - Dispõe sobre inspeção sanitária e
industrial dos produtos de origem animal e dá outras providências. Publicação: DOU-1
de 24-11-1989;
• LEI Nº 9.537, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1997 - Dispõe sobre a segurança do
tráfego aquaviário em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências.
Publicação: DOU-1 de 12-12-1997;
• LEI Nº 10.893, DE 13 DE JULHO DE 2004 - Dispõe sobre o Adicional ao Frete para
a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM) e o Fundo da Marinha Mercante
(FMM) e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 14-7-2004;
• LEI Nº 11.105, DE 24 DE MARÇO DE 2005 - Regulamenta os incisos II, IV e V do §
1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos
de fiscalização de atividades que envolvam Organismos Geneticamente Modificados
(OGM) e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS),
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), dispõe sobre a
Política Nacional de Biossegurança (PNB), revoga a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de
1995, e a Medida Provisória nº 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5º, 6º, 7º,
8º, 9º, 10 e 16 da Lei nº 10.814, de 15 de dezembro de 2003 e dá outras providências.
Publicação: DOU-1 de 28-3-2005;
• LEI Nº 11.786, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008 - Autoriza a União a participar em
Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN) para a formação de seu
189

patrimônio; altera as Leis n os 9.365, de 16 de dezembro de 1996, 5.662, de 21 de


junho de 1971, 9.019, de 30 de março de 1995, 11.529, de 22 de outubro de 2007,
6.704, de 26 de outubro de 1979, e 9.818, de 23 de agosto de 1999 e dá outras
providências. Publicação: DOU-1 de 26-9-2008;
• LEI Nº 12.068, DE 29 DE OUTUBRO DE 2009 - Institui o Dia do Pescador Amador
[comemorado em 29 de junho, data em que também se comemora o Dia do Pescador
Profissional, embora não haja norma legal neste sentido]. Publicação: DOU-1 de 30-
10-2009;
• LEI Nº 12.531, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2011 - Institui o Dia Nacional da
Aquicultura [comemorado em 20 de março]. Publicação: DOU-1 de 5-12-2011;
• LEI Nº 12.820, DE 5 DE JUNHO DE 2013 - Institui o Dia Nacional do Engenheiro de
Pesca a ser comemorado na data de 14 de dezembro. Publicação: DOU-1 de 6-6-2013;
• DECRETO Nº 1.697, DE 13 DE NOVEMBRO DE 1995 - Cria o Grupo-Executivo do
Setor Pesqueiro (Gespe) e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 14-11-1995;
• DECRETO Nº 5.300, DE 7 DE DEZEMBRO DE 2004 - Regulamenta a Lei nº 7.661,
de 16 de maio de 1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
(PNGC), dispõe sobre regras de uso e ocupação da zona costeira e estabelece critérios
de gestão da orla marítima e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 8-12-
2004;
• DECRETO Nº 5.591, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2005 - Regulamenta dispositivos
da Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005, que regulamenta os incisos II, IV e V do §
1º do art. 225 da Constituição e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de 23-11-
2005;
• DECRETO Nº 5.996, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2006 - Dispõe sobre a criação do
Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) de que trata a
Lei n° 11.326, de 24 de julho de 2006, e o art. 13 da Lei n° 11.322, de 13 de julho de
2006, para as operações contratadas sob a égide do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e dá outras providências. Publicação:
DOU-1 de 21-12-2006;
• DECRETO Nº 6.514, DE 22 DE JULHO DE 2008 - Dispõe sobre as infrações e
sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo
federal para apuração destas infrações e dá outras providências. Publicação: DOU-1 de
23-7-2008;
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• DECRETO Nº 6.678, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2008 - Aprova o VII Plano Setorial


para os Recursos do Mar [definindo as diretrizes e prioridades para o setor, no período
de 2008 a 2011]. Publicação: DOU-1 de 9-12-2008;
• DECRETO Nº 6.698, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2008 - Declara as águas
jurisdicionais marinhas brasileiras santuário de baleias e golfinhos do Brasil.
Publicação: DOU-1 de 18-12-2008;
• DECRETO Nº 6.972, DE 29 DE SETEMBRO DE 2009 - Aprova a Estrutura
Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções
Gratificadas do Ministério da Pesca e Aquicultura e dá outras providências.
Publicação: DOU-1 de 30-9-2009;
• INSTRUÇÃO NORMATIVA DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE Nº 5, DE
21 DE MAIO DE 2004 - Reconhece como espécies ameaçadas de extinção e espécies
sobre-explotadas ou ameaçadas de sobre-explotação os invertebrados aquáticos e
peixes constantes dos anexos. Publicação: DOU-1 de 28-5-2004;
• INSTRUÇÃO NORMATIVA DO MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA Nº
6, DE 19 DE MAIO DE 2011 - Estabelece normas e procedimentos para a inscrição e
licenciamento de pessoas físicas ou jurídicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira
(RGP), na categoria de aquicultor. Publicação: DOU-1 de 20-5-2011;
• INSTRUÇÃO NORMATIVA DO MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA Nº
6, DE 29 DE JUNHO DE 2012 - Estabelece normas, critérios e procedimentos para a
inscrição de pessoas físicas no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), nas
categorias de pescador profissional artesanal e pescador profissional industrial.
Publicação: DOU-1 de 3-7-2012.

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