Direito Penal - Parte Especial I e II

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DIREITO PENAL: PARTE ESPECIAL I e II

Prof. Patrick Cacicedo

Introdução
Indicação Bibliográfica Introdutória - Criminologia
Crime e Castigo na Cidade: os repertórios da justiça e a questão do homicídio nas periferias de São
Paulo - Gabriel de Santis Feltran.

Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (2016)

Toda a construção da teoria do delito se deu com base no homicídio.


O Brasil é um país que tem índices muito altos de homicídio e um dos países que menos investiga
os homicídios que ocorrem.
Porém, o homicídio não é o crime que tem o maior índice de pessoas presas.
- Crimes patrimoniais: roubo, furto, receptação (41%)
- Tráfico (26%)

Homicídio também não é o crime com maior pena no nosso ordenamento.


- Latrocínio
- Extorsão mediante sequestro
São Paulo, na verdade, possui menores índices de homicídio. Existem algumas razões para isso,
entre elas, o PCC.
Crimes contra a Pessoa

Homicídio
Bem jurídico: vida humana
→ Vida humana extrauterina: praticado contra qualquer pessoa após o início do parto.
→ Se o homicídio for praticado contra bebê antes do parto, é outro crime - aborto.

Crime comum: não exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo ou passivo do crime.
→ Sujeito ativo: qualquer indivíduo culpável.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa após o início do parto (rompimento da bolsa amniótica).

Formas: simples, qualificado, doloso e culposo.

Julgamento: perante tribunal do júri (exceto homicídio culposo).

Consumação: morte.
→ Momento da morte: momento da morte encefálica (art. 3º Lei 9.434/97).

Tentativa: existe a possibilidade.

PARTE ESPECIAL

TÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Homicídio Simples

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
→ Crime de forma livre: por ação ou omissão.
→ Não tem caráter hediondo (nesses, o cumprimento da pena é mais gravoso).
→ Mas são tantas hipóteses no rol do homicídio qualificado que é raríssimo ter um homicídio
simples.

Caso de diminuição de pena [Privilegiado]


→ O nome “privilegiado” não está no código, é uma construção doutrinária.
→ Entende-se que o crime é “privilegiado” quando incide a causa especial de diminuição de
pena.
→ Menor desvalor na conduta.
→ Possuem natureza subjetiva: em razão de determinada motivação do agente, o autor
recebe tratamento mais benéfico pelo legislador.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de (a) relevante valor social ou (b) moral, ou
(c) sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.
→ “Relevante valor social” = a morte da vítima é consentânea com os interesses da
coletividade em geral. Ex: homicídio de um garimpeiro por um grupo de indígenas.
→ “Relevante valor moral” = sentimentos pessoais, aprovados pela moralidade coletiva. Ex:
eutanásia ou pessoa que mata o próprio estuprador.
→ “Injusta provocação da vítima que leva a violenta emoção no autor” = a provocação deve
ser deliberada, injusta e com o mínimo de gravidade. A violenta emoção deve ser súbita e
aguda. O lapso temporal deve ser breve, não necessariamente imediato. Ex: em briga de
bar, o ofendido volta pra casa e busca arma para matar.

Homicídio Qualificado (*)


§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
→ Motivo torpe: motivo abjeto, repugnante, vil, ignóbil, imoral. Ex. preconceitos racial, de
religião, origem ou orientação sexual. (*)
→ Homicídio mercenário (matador de aluguel): espécie de motivo torpe que ficou explicitada.
→ Pressupõe concurso de agentes (mandante e executor).
→ Apenas o executor incide na qualificadora; a qualificadora não incide para o mandante.
→ Não é necessário que o pagamento ocorra ou que a promessa se cumpra, bastando que a
ação tenha sido motivada por uma dessas razões.

II - Por motivo fútil;


→ Motivo fútil: o desarrazoado, desproporcional, insignificante.
→ Ex. trânsito; futebol.
→ E o ciúme? A jurisprudência não reconhece casos de ciúme como privilégio (não é
relevante valor moral), mas também não reconhece como qualificadora (motivo fútil).
→ E a ausência de motivo? Não vai ser qualificado como fútil, será apenas homicídio simples.

III - Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum;
→ Meio insidioso: velado, dissimulado, revela maior malícia do agente e impossibilidade de
defesa por parte da vítima.
- Ex: veneno, troca de remédio, freio do carro.
→ Meio cruel: brutalidade fora do comum, aumentando gratuitamente o sofrimento da vítima.
- Ex: asfixia, fogo, tortura.
- Vários tiros ou várias facadas configura meio cruel? Depende (se morreu no primeiro
ou no último, p. ex). Depende da argumentação da defesa/acusação.
→ Tortura: homicídio por meio de tortura. Dolo no homicídio e a tortura foi apenas o meio.
- Tortura seguida de morte (Art. 1º, § 3º, in fine, da Lei 9.455/97): dolo na tortura e culpa
na morte (crime preterdoloso). O que diferencia é a intenção.
→ Meio que possa resultar perigo comum: pode causar dano a nº indeterminado de pessoas.
IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
→ “Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido” é esta frase que faz
com que quase todos os homicídios sejam qualificados. Ex: facada pelas costas, sonífero.
→ Modos de execução: surpresa ocasionada na vítima, dificultando ou impossibilitando sua
defesa.
→ Traição: quebra de confiança, deslealdade.
→ Emboscada: tocaia, armadilha.
→ Dissimulação: expediente fraudulento.

V - Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:


→ Especiais fins de agir: conexão (teleológica ou consequencial) com outro crime.
→ Execução: permitir a realização subsequente de outro delito com maior facilidade. Ex.
segurança para sequestro/roubo.
→ Ocultação: não permitir a descoberta de delito anterior. Ex. vítima de outro crime.
→ Impunidade. Ex. testemunha.
→ Vantagem. Ex. comparsa.

[Vamos pular o inciso VI que é a hipótese de Feminicídio e continuar com os demais homicídios
qualificados]

VII - Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição.
VIII - Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
IX - Contra menor de 14 anos.

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 anos é aumentada de: [3 hipóteses de aumento]

Feminicídio
VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Lei 13.104/2015)
→ Foi incluído pela Lei 13.104/2015.
→ A Lei 14.717/2023 institui pensão especial para os descendentes das vítimas de
feminicídio.
→ Feminicídio é uma das hipóteses de homicídio qualificado.
→ O Congresso trocou a redação original de gênero feminino pra sexo.
→ As trans e travestis ficaram de fora. É verdade que dá pra qualificar de outra forma o
homicídio delas, mas o feminicídio tem causas de aumento bem específicas no § 7º que
passam a não ser aplicadas a elas.
→ Na lei maria da penha a definição é gênero.
→ Pode haver feminicídio praticado por mulher (na Argentina não, só se for praticado por
homem).
→ Lei traz hipóteses no § 2º-A.

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - Violência doméstica e familiar;
II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
→ Nesses casos, há presunção de que é feminicídio, mas a presunção pode ser afastada.
→ Ex: se ocorre em âmbito de violência doméstica e familiar, é possível afastar a incidência
do feminicídio se ficar comprovado que um irmão matou os outros irmão e irmã por causa
de herança.

Aumento de Pena
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for praticado:
III - Durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
IV - Contra pessoa maior de 60 anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
V - Na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
VI - Em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas no art. 22 da Lei
11.340/2006.
→ Lembrando que o descumprimento de MPU é, por si só, outro crime. Só que nesse caso, se
o descumprimento de MPU for feito para matar a mulher, o crime do 24-A da Lei Maria da
Penha vai ser absorvido pelo homicídio qualificado (feminicídio).

Causas de Aumento aplicáveis a todos os homicídios dolosos


§ 4º [final] Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra
pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for praticado por milícia privada, sob o
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
→ A definição de milícia está no Art. 288-A do código Penal.
→ Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia
particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos
neste Código. Pena - reclusão, de 4 a 8 anos.

Casos para discussão:


1) Homicídio premeditado
2) Emprego de arma (de fogo ou branca mesmo) = por si só não qualifica o homicídio, pode ser
homicídio simples (sei lá né, é o meio tradicional de praticar homicídio, vai matar como se não for
com arma?).
Homicídio Culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
→ Requisitos = violação do dever objetivo de cuidado, resultado, nexo causal e previsibilidade.
→ Não vi para o tribunal do júri.
→ Homicídio culposo tem tratamento diverso quando cometido na condução de veículo
automotor. Regido pelo Art. 302 do CTB e com pena maior (de 2 a 3 anos para 3 a 4 anos).
→ Com influência de álcool, aumenta ainda mais a pena base (para 5 a 8 anos). A doutrina
critica muito o tratamento pois o aproxima muito à pena-base do homicídio simples (que é
doloso), de 6 a 20 anos de reclusão. Ou seja, haveria uma desproporcionalidade entre o
homicídio culposo praticado na condução de um veículo sob influência de álcool e o
homicídio doloso simples.

Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
[...]
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.
→ Perdão judicial = pessoa que mata o próprio filho, família, etc.

Há ainda, outros 3 crimes, além do homicídio doloso, que são julgados pelo tribunal do júri, pois
também são dolosos:
→ Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio
→ Infanticídio
→ Aborto

Suicídio
Suicídio é a supressão direta e voluntária da própria vida.
O crime é para quem induz, instiga ou auxilia outra pessoa a cometer suicídio.
→ No Código Penal de 1830, era uma modalidade de homicídio. No Código atual, ele se
destaca e forma um crime autônomo.

Bem jurídico: vida humana.


→ Forma especial de ataque ao mesmo bem jurídico tutelado pelo crime de homicídio.
→ Desvalor da conduta daquele que colabora decisivamente para o suicídio alheio.

Crime próprio: exige qualidade especial do sujeito passivo do crime.


→ Sujeito ativo: qualquer indivíduo culpável.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa com capacidade para entender que o ato é suicida.
→ Do contrário: se o suicida não tem capacidade para entender seu ato, é homicídio por
autoria mediata. Da mesma forma, é homicídio se o suicídio for por fraude ou coação.
→ Cabível a participação.

Julgamento: perante tribunal do júri.

Consumação: é um crime de perigo concreto.


→ Crime formal (perigo concreto) = mera instigação induzimento/auxílio.
→ Crime de dano = produz o resultado de morte ou lesão corporal de natureza grave.
→ Se for mera instigação sem resultado, ou se produzir lesão corporal leve, aplica-se a pena
do caput. Se produzir lesão corporal grave ou morte, incide os parágrafos qualificadores.

Tentativa: não dá pra ser tentado - a instigação se consuma, mas produz outro resultado.
→ Não se pune o autor da tentativa de suicídio (como já se fez antigamente) por política
criminal.

Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos.
→ Induzimento = criação de um propósito inexistente, fazer surgir a ideia. Ex: caso Jim Jones.
→ Instigação = reforçar propósito existente, o agente consolida tal pensamento em sua
mente. Ex: caso de populares que gritam incentivando.
→ Auxílio = colaboração, facilitação ou ajuda à concretização do ato suicida; criar condições
de viabilidade do suicídio. Ex: caso de fornecimento de veneno ou revólver.
- PS: Se a participação for direta é homicídio.
- Auxílio por omissão? Pode sim. se a pessoa tem o dever de cuidado (ex: agente
penitenciário que deixa a pessoa morrer em greve de fome).
→ Tipo misto alternativo: perpetrando o agente uma, duas ou todas as condutas, haverá a
prática de um único crime.
→ Lembrando que é preciso haver um nexo causal direto entre o sujeito passivo e o ativo. Por
isso, autores de obras artísticas não são enquadrados nesse artigo.

Se o induzimento produzir lesão grave ou morte, vamos para outras penas, as dos §§s 1º e 2º.

Qualificadoras:
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
→ Se resultar em lesão corporal de natureza leve = caput.
→ A definição de lesão corporal leve/grave está no artigo 129, de lesão corporal.

§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:


Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.
Causas de Aumento:
§ 3º A pena é duplicada:
I - Se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
→ Menor = como não foi definido, usa-se por analogia a idade de estupro de vulnerável - 14
anos (Art. 217-A, CP).

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores,
de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aplica-se a pena em dobro se o autor é líder, coordenador ou administrador de grupo, de
comunidade ou de rede virtual, ou por estes é responsável.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e
é cometido contra menor de 14 anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 anos ou contra
quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121
deste Código.

Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de 2 a 6 anos.
Espécie de homicídio com pena abrandada.
Não pode haver perdão judicial, pois não há essa previsão no artigo - ou seja, o juiz togado não
pode conceder o perdão, mas o júri pode inocentar.

Bem jurídico: vida humana (do ser nascente ou recém-nascido).

Crime próprio:
→ Sujeito ativo: mãe em estado puerperal.
→ Sujeito passivo: filho que está nascendo (nascente) ou que acaba de nascer (neonato).
Se for outro filho, homicídio.

Estado puerperal: situação peculiar de anormalidade psíquico-física em razão do parto.


→ Noção da medicina obstetrícia.
→ Perícia.

Elemento normativo temporal: durante o parto ou logo após.


→ “Logo após” abarca todo o período do puerpério (aprox. 6 semanas).
Aborto

Aborto é a interrupção da gravidez, com a consequente morte do produto da concepção.

Bem jurídico: vida humana intrauterina; secundariamente, a integridade física da mulher.


→ Desde de 1940, não houve alteração dos artigos, o que houve foi só mudança de
jurisprudência em razão da discussão sobre o momento em que se inicia a vida.
→ “Produto da concepção”: pode ser tanto o zigoto, quanto o embrião ou o feto.
→ O que difere é o momento do desenvolvimento.

a) Fecundação = junção dos gametas masculino e feminino no interior do corpo da mulher, o


óvulo materno é penetrado pelo espermatozóide.
→ Impediria o uso da pílula do dia seguinte.
→ Não há mais posição jurídica que defenda essa teoria.

b) Nidação = momento em que o óvulo fecundado é implantado no útero (cerca de 7 dias


após a fecundação).
→ Doutrina e jurisprudência tradicionais.

c) Batimentos cardíacos = a vida se torna factível a partir deste momento; até aqui, haveria
mera expectativa de vida (3ª ou 4ª semana de gestação).
→ Existe, mas não é nem a corrente jurídica minoritária mais importante.

d) Impulsos cerebrais = denotaria uma vida humana viável em formação (9ª semana).
→ Essa posição foi usada para permitir o aborto do feto anencéfalo.
→ Interpretação sistemática levando em consideração a lei do transplante (morte
como morte encefálica - Art. 3º Lei 9.434/97).
→ Posição minoritária mais importante; a disputar campo jurídico com a letra b).

Formas: natural e culposo (irrelevantes penalmente); legal ou criminoso.


→ Natural: espontâneo
→ Legal: razões traumáticas não queridas (acidente de carro, muito uso de drogas, por ex).

Tentativa: se, em virtude de manobras abortivas, ocorre uma simples aceleração do parto, vindo o
produto da concepção a sobreviver, há tentativa de aborto.

Concurso de pessoas: no direito penal, a regra geral é a teoria monista (quem concorre para o
crime responde pelo mesmo crime). O aborto é uma exceção a essa teoria. Se houver concurso de
pessoas, a mãe responde por um crime e o terceiro por outro.
→ Mãe: responde pelo artigo 124.
→ Terceiro: responde pelos artigos 125 ou 126.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
→ Crime próprio: somente a mulher gestante pode auto-abortar ou consentir ao aborto.
→ Autoaborto: é a própria gestante quem provoca, por ação (comissiva) ou omissão
(comissiva por omissão), a manobra abortiva.
- Ex: ingestão de substância abortiva.
Ex: deixa de tomar medicação prescrita em gravidez de risco, para o fim de abortar.
→ Consentimento ao aborto: a gestante anui a que outrem realize a manobra abortiva
(conduta omissiva). A mãe responde pelo 124 e a outra pessoa pelo 126.
→ Caso: tentativa de suicídio de gestante. Dolo?

Aborto provocado por terceiro


Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de 3 a 10 anos.
→ É o não consentido pela mãe.

Formas:
a) Violência: agressão, escada.
b) Grave ameaça: matar o outro filho.
c) Fraude: substância abortiva na bebida.
d) Incapacidade da gestante para decidir: menor de 14 anos, pessoa sem discernimento.
Agente agride a gestante, que morre:
a) Sabendo da gravidez: art. 121 + 125, concurso formal.
b) Sem saber: art. 121. (*)
c) Dolo de lesão e culpa na provocação ao aborto: art. 129, § 2º, inciso V.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é
alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência
→ Caso esse crime não existisse, o terceiro responderia pelo crime do art. 124, em concurso
com a gestante.

Forma Qualificada:
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.
Caso: dolo de aborto, mata a gestante durante a manobra abortiva, sobrevivendo o produto da
concepção. Poderia ser:
(i) Aborto tentado + homicídio culposo → é isso.
(ii) Aborto qualificado tentado → não, pois não existe tentativa de crime qualificado pelo
resultado.

Aborto legal
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
→ É o estado de necessidade.
→ O caput trata de aborto praticado por médico, mas a doutrina entende que também é legal
se feito por outra pessoa, se for estado de necessidade.

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: [“Aborto humanitário”]


II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.
→ Em caso de estupro, não há especificação da fase da gravidez.
→ e como provar que é produto de estupro pra que o médico realize o aborto? não dá pra
esperar processar e julgar o estuprador pq né 9 meses.
→ por isso, não se exige maiores formalidades. a gestante vai fazer um BO e vai ser
autorizada à prática do aborto.

Casos levados ao STF:


(1) ADPF 54 = aborto de anencéfalos.
(2) Zika vírus = bebês nasciam com microcefalia
→ Foi concedido o direito ao aborto pela analogia aos fetos anencéfalos.

(3) Habeas Corpus 124.306 = mulher que abortou e foi presa entrou com HC no STF para reverter
a prisão e declarar que o aborto não foi crime.
→ Tribunal decidiu que aborto não foi criminoso e entendeu que até a 12ª semana (primeiro
trimestre) é legal realizá-lo por conta da ausência das funções cerebrais do feto.
→ Interpretação conforme a Constituição: direitos sexuais e reprodutivos da mulher,
autonomia da mulher, integridade física e psíquica da gestante, igualdade da mulher,
princípio da proporcionalidade.
→ Não tem RE, foi em habeas corpus.

(4) ADPF 442 = tentando fazer valer pra geral a decisão do Barroso dada no habeas corpus.

(5) Aborto e sigilo médico = STJ decidiu que os médicos não podem denunciar a pessoa que vai
fazer aborto porque isso violaria o sigilo médico.
→ Então se o médico denunciou o caso, a mulher vai ser inocentada.
Lesão Corporal

Lesão corporal = ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.

Bem jurídico: incolumidade física e psíquica do ser humano (integridade corporal e saúde).
→ Ofender = prejudicar, lesionar, danificar, ferir.
→ Integridade corporal = dano anatômico fruto de uma agressão, externo ou interno.
- Comprova-se principalmente pelo laudo de exame de corpo de delito.
- Ex: escoriações, cortes, equimoses, hematomas, luxações, fraturas, fissuras,
queimaduras, mutilações.
→ Ofensa à saúde = perturbações fisiológicas ou mentais.
- Fisiológicas: alteração no funcionamento de algum órgão. Ex: vômitos, diarréias,
náuseas.
- Mental: alteração prejudicial no funcionamento cerebral. Ex: convulsões, depressão,
choque nervoso.
A ofensa à saúde mental foi por muito tempo negada. Hoje em dia isso já começa a
mudar, com a existência dos laudos psicológico/psiquiátrico, etc.
E também vai ter que se provar ao longo do processo o nexo de causalidade entre a
ofensa e o prejuízo à saúde mental.

Crime comum: não exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo ou passivo do crime.

Forma livre: omissão, socos, facas, tiro sem vontade de matar, etc.
→ Um ou mais golpes = crime único.
→ Mas, se as agressões ocorrerem muitas vezes ao longo de um longo período de tempo, é
possível reconhecer o concurso de crimes ou crime continuado.
→ Tatuagem: consentimento do ofendido.
→ MMA: exercício regular do direito.
→ Furo de orelha de criança: adequação social.

Consentimento: hoje, entende-se que pode haver atipicidade de conduta, caso haja consentimento.
→ Nelson Hungria = incabível o consentimento do ofendido.
→ Penalismo contemporâneo = admite sua relativa disponibilidade, i.e., se aceita
pacificamente que haja o consentimento do ofendido. Deve ser analisado o caso concreto.
→ Consentimento = anuência livre, consciente e anterior, ou ao menos concomitante.
→ Autolesão não é criminalmente punida. Porém, se um incapaz é induzido à autolesão,
quem o induziu é culpável (Art. 20 § 2º).

Formas: simples (leve), qualificado (grave e gravíssima), doloso e culposo.

Consumação: lesão corporal comprovada.


→ Comprova-se principalmente por laudo de exame de corpo de delito.
→ É possível comprovar a lesão corporal sem laudo, mas é muito raro. Se não há laudo,
normalmente se desclassifica para a contravenção penal de vias de fato.

Tentativa: existe a possibilidade, mas não pode chegar a agredir. Se agredir, é LC ou vias de fato.
CAPÍTULO II - DAS LESÕES CORPORAIS

Lesão Corporal Simples (Leve)


Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano.

A lesão corporal leve é um crime residual (se não for qualificado, é leve).
LC Leve vs. Vias de Fato (Lei das Contravenções Penais, Art. 21)
→ Vias de fato = houve agressão, mas não há lesão aparente, não fica marca.
→ São diferenciados principalmente a partir do laudo de exame de corpo de delito.
→ Problema = muitas vezes, a vítima não vai até o IML fazer o laudo. Nesses casos, o
agressor deve ser punido pelas vias de fato.
LC Leve vs. Injúria Real (Art. 140, § 2º)
→ Injúria real = realizar algum ato de violência com o intuito de ofender a dignidade alheia.
Ex: raspar o cabelo de alguém.
→ Art. 140 § 2º: Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou
pelo meio empregado, se considerem aviltantes.

Eritemas: apenas a vermelhidão momentânea decorrente de breve deslocamento sanguíneo.


→ É possível incidir o princípio da insignificância em caso de lesão corporal que apenas deixa
eritema.
→ Inclusive, a primeira vez que o STF reconheceu o princípio da insignificância foi num
acidente de trânsito que deixou eritemas.
→ MAS: Súmula do STJ = não se pode aplicar o princípio da insignificância em caso de
violência doméstica.

Questões: a pena de lesão corporal é desproporcional?


→ Pena: 3 meses a um 1 ano de detenção.
→ Escancara a diferença de tratamento que nosso código dá a crimes contra a pessoa e
crimes contra o patrimônio.

Lesão Corporal Grave


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
→ Ocupação habitual = qualquer ocupação que seja realizada com constância pela vítima.
→ Ex. caminhar, praticar esportes, trabalhar, tomar banho, ler, manter relações sexuais.
→ Necessário exame pericial complementar após os 30 dias.

II - Perigo de vida;
→ Probabilidade concreta e iminente de morte da vítima.
→ Se o dolo era lesionar e há culpa no resultado de perigo de vida, aplica-se este inciso.
→ Porém, esses casos geralmente entram em tentativa de homicídio (se acusa alegando que
o dolo era assinar).
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
→ Dinâmica prejudicada, ou enfraquecida, mas não completamente aniquilada.
→ Membro = partes ligadas ao tronco: braços, pernas, pés e mãos.
→ Sentido = tato, olfato, audição, visão e paladar.
→ Função = atividades dos órgãos do corpo, como a digestão, circulação e respiração.
- STJ (REsp. 1.620.158-RJ): reconheceu a perda de 2 dentes como LC grave por conta
do prejuízo à função da mastigação.

IV - Aceleração de parto:
→ Parto prematuro, porém bem sucedido.
→ Se morrer, pode ser LC gravíssima (Art 129, § 2°) ou mesmo provocação ao aborto (Art.
125, 126) - tudo depende da intenção (dolo).

Pena - reclusão, de um a cinco anos.


→ Crítica: lesão corporal de natureza GRAVE recebe uma pena base equivalente ao furto.

Lesão Corporal Gravíssima


Esse nome não é do código, é uma construção doutrinária p/ separar os §s. Tem caráter hediondo.
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
→ Discussões doutrinárias sobre o que isso significa:
a) Qualquer atividade laboral, não consegue mais exercer nenhuma atividade remunerada.
b) Trabalho que a pessoa já exercia.
c) Ramo de atuação da vítima (medicina, docência, esporte profissional); incapacidade
permanente relativa. Essa é a corrente que prevalece.

II - enfermidade incuravel;
→ É admitida tal qualificadora em casos em que a cura só é possível em situações
excepcionais ou requeira intervenções de arriscado resultado.
→ Transmissão dolosa de HIV?

III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;


→ Perda de membro: mutilação, amputação.
→ Inutilização: não é preciso que seja retirada a parte do corpo.

IV - deformidade permanente;
→ Visível a ponto de constranger a vítima, causar-lhe vexame.
→ Cirurgia plástica?

V - aborto:
→ Nesse caso: lesão corporal dolosa e o resultado culposo de aborto.

Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.


→ Pena mínima de 2 ANOS!!
Lesão Corporal Seguida de Morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
→ Normalmente acontece essa desclassificação lá no júri
→ Dolo na lesão corporal e culpa na morte.

Diminuição de pena [Privilegiado]

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de 1/6 a 1/3.
→ Nesta hipótese, o juiz pode aplicar a diminuição e ainda substituir a pena por multa,
conforme o parágrafo seguinte.

Substituição da pena [Privilegiado]

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - Se as lesões são recíprocas.
→ Veja, não é alguém atacou e eu me defendi, isso seria legítima defesa.
→ É, na verdade, o caso de briga marcada, por exemplo.
→ Na prática, se houver lesão recíproca, é mais comum absolver os dois do que aplicar multa.
→ PS: não se usa mais uma tabela com valor FIXO. As multas são normalmente calculadas
em torno do valor do “dia-multa”.

Lesão Corporal Culposa


§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano.
→ Há causas de aumento específicas para a LC culposa.
→ Cabe aqui, ainda, o perdão judicial (§ 8º).

Aumento de pena

§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 do CP
→ LC culposa: § 4º Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
→ LC dolosa: § 4º Se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.
→ § 6º Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
→ § 5º O juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

§ 12º Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3.

Violência Doméstica
→ Forma de LC qualificada criada com a Lei Maria da Penha.
→ Mas atenção: não se aplica mais a hipóteses de violência contra a mulher por razões do
sexo feminino - isso agora é qualificado pelo § 13º (adicionado em 2021).
→ Se aplica então a outras hipóteses de violência doméstica - contra ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro.

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou


com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 meses a 3 anos.


→ O que muda aqui desse parágrafo pra LC simples é a pena máxima.
→ Mas como a pena-base parte do mínimo, na dosimetria da pena não tem muita diferença. O
que faz diferença são outras consequências que a aplicação da Lei Maria da Penha tem -
por exemplo, impede a substituição de PPL por PRD.
→ Repare que aqui não há recorte de gênero. Esse recorte é feito no § 13.

Aumento em caso de Violência Doméstica

§ 10º Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §
9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3.
→ Ou seja, se for LC simples praticada contra cônjuge, ascendente, descendente, etc.,
aplica-se apenas o § 9º.
→ Se for LC grave/gravíssima/seguida de morte praticada contra cônjuge, asc, desc, etc.,
aplica-se o aumento do § 10º.

§ 11º Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 se o crime for cometido
contra pessoa portadora de deficiência.

Lesão Contra Mulher

§ 13º Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Lei 14.188/2021)
Pena - reclusão, de 1 a 4 .
→ Ou seja, se for praticada contra a MULHER, a pena-base sim aumenta.
Direito Penal e Gênero

A mulher na sociedade patriarcal é representada no papel passivo. Quando solteira, sujeita à


vontade do pai; quando casada, sujeita à vontade do marido.
Como regra, nessa sociedade patriarcal representam o papel de vítima – um ser frágil, doméstico,
dependente, pouco ou nenhum perigo oferecia ao direito penal. O papel de cometer crimes cabia
ao homem, sujeito ativo, dominador e perigoso. À mulher restava a fragilidade das vítimas.
O DP preocupou-se sempre em categorizar a mulher na condição de sujeito passivo dos crimes
sexuais: virgem, honesta e prostituta são algumas das qualificações conferidas na história da
nossa legislação.
No título XVI das Ordenações Filipinas há referências à mulher virgem, viúva honesta e à escrava
branca de guarda a diferenciar a resposta penal.
No CC1830, o art. 219 previa como crime “deflorar mulher virgem, menor de dezasete annos”,
extinguindo-se a punibilidade com o casamento. No art. 222, era previsto o estupro de mulher
honesta, com pena reduzida em caso de vítima prostituta. Ainda no mesmo CP havia a previsão da
sedução de mulher honesta (art. 224) e o rapto de mulher virgem “ou reputada tal”, igualmente
seguidos de cláusula de extinção de punibilidade pelo casamento.
No CP1980, o estupro tinha semelhante previsão: “mulher virgem ou não, mas honesta”, dizia o art.
268. Já o art. 279 trazia o crime de adultério ou infidelidade conjugal, cujo caput direcionava-se
exclusivamente à mulher casada. A punição do marido, prevista no pár. 1º, demandava a
manutenção de um concubinato, uma relação estável.
O CP40 trouxe no título dos “crimes contra os costumes” o estupro com previsão de vítima apenas
mulher, criando outra figura, a do atentado violento ao pudor para o constrangimento mediante
grave ameaça para ato diverso da conjunção carnal. Nos arts. 215 e 216, previu a posse sexual
mediante fraude e o atentado ao pudor mediante fraude, respectivamente, tendo como vítima a
“mulher honesta”. Da mesma forma no art 219, o rapto violento ou mediante fraude também previa
a mesma figura como vítima.
“E a vítima deve ser mulher honesta, e como tal se entende, não somente aquela cuja conduta, sob
o ponto de vista da moral sexual, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não rompeu
com o minimum de decência exigido pelos bons costumes. Só deixa de ser honesta (sob o prisma
jurídico-penal) a mulher francamente desregrada, aquela que, inescrupulosamente, multorum libini
patet, ainda que não tenha descido à condição de autêntica prostituta. Desonesta é a mulher fácil,
que se entrega a uns e outros, por interesse ou mera depravação (cum vel sine pecunia accepta).
Não perde a qualidade de honesta nem mesmo a amásia, a concubina, a atriz de cabaré, desde
que não se despeça dos banais preconceitos ou elementares reservas de pudor” (HUNGRIA,
Nelson. Comentários ao Código Penal, v. VIII, 1959, p. 150).
“A expressão mulher honesta repudia a que, embora sem ser meretriz, é fácil prodigalizadora de
seus favores. Mulher desonesta não é somente a que faz mercancia do corpo. É também a que,
por gozo, depravação, espírito de aventura etc., entrega-se a quem a requesta. Não é só o intuito
de lucro que infama a posse da fêmea. A conduta da horizontal, muita vez, é digna de
comiseração, o que se não dá com a de quem, livre das necessidades, se entrega tão-só pelo gozo,
volúpia ou luxúria” (NORONHA, Edgard Magalhães, Direito Penal, 1969, ver p.147).
Já no presente século, Júlio Fabbrini Mirabete (Manual de direito penal, v.2, 2004) reproduzia o
conceito de Hungria, enquanto Cezar Roberto Bitencourt (Tratado de DP, v.4, 2004) aduzia que o
conceito de mulher honesta “deve obedecer aos padrões ético-sociais vigentes na comunidade e
revelados pelos costumes”.
Outra questão sobre o gênero que perdurou por décadas com apoio doutrinário foi o “direito do
marido a ter relações sexuais com a mulher”. A doutrina nacional durante década igualmente
posicionou-se pela inexistência de estupro entre marido e mulher, pois a relação sexual era um
direito do homem e dever da mulher, que não poderia de opor à vontade masculina.
Magalhães Noronha (1969): “As relações sexuais são pertinentes à vida conjugal, constituindo
direito e dever recíprocos dos que casaram. O marido tem direito à posse sexual da mulher, ao
qual ela não se pode opor. Casando-se, dormindo sob o mesmo teto, aceitando a vida em comum,
a mulher não pode furtar ao congresso sexual, cujo fim mais nobre é o da perpetuação da espécie.
A violência por parte do marido não constituirá, em princípio, crime de estupro, desde que a razão
da esposa para não aceder à união sexual seja mero capricho ou fútil motivo, podendo, todavia, ele
responder pelo excesso cometido”.
Nelson Hungria e Romão Lacerda (1959): “Questiona-se sobre se o marido pode ser, ou não,
considerado réu de estupro, quando, mediante violência, constrange a esposa à prestação sexual.
A solução justa é no sentido negativo. O estupro pressupõe cópula ilícita (fora do casamento). A
cópula intra matrimonium é recíproco dever dos cônjuges. (...) O marido violentador, salvo excesso
inescusável, ficará isento até mesmo da pena correspondente à violência física em si mesma (...),
pois é lícita a violência necessária para o exercício regular de um direito. É bem de ver que solução
diversa tem de ser dada no caso em que a mulher se recuse à cópula por achar-se o marido
afetado de moléstia venérea. Já aqui, o marido, ao invés de pretender exercer um direito, está
incidindo na órbita do ilícito penal (art. 130 do CP)”.
Na década passada, manuais de grande sucesso editorial ainda relativizavam a questão. Damásio
de Jesus, em 2012, condicionava a negativa da mulher à “justa causa” “desde que tal negativa não
se revista de caráter mesquinho” (JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal, 2012), enquanto
Mirabette, em 2010, embora reconhecesse a prática do estupro, o fazia por ser um “abuso de
direito” que feria a “respeitabilidade do lar” (Manual de direito penal, v.2, 2010).
Com a reforma da PG do CP de 1984, novas questões relacionadas ao gênero foram incluídas na
legislação. No art. 59, foi incluído o comportamento da vítima como circunstância judicial a ser
analisada na primeira fase de aplicação da pena. Embora no texto legal em si não haja qualquer
especificação sobre o gênero da vítima, na exposição de motivos consta o “pouco recato da vítima
nos crimes contra os costumes” como estímulo à conduta criminosa.
Essa estrutura dos então chamados “crimes contra os costumes” adentrou o século XXI e só
sofreu alteração em 2005 por reforma legislativa efetivada pela lei 11.106. Por meio dela,
descriminalizou-se os crimes de sedução e rapto, retirou-se a categoria de “mulher honesta” do CP,
de modo que pela primeira vez, desde as Ordenações Filipinas, o direito penal brasileiro deixou de
diferenciar as mulheres vítimas de crimes sexuais. Por fim, retirou-se igualmente a extinção da
punibilidade pelo casamento nos crimes sexuais.
Cinco antes, contudo, já no século XXI, foi realizada a primeira alteração no CP que decorreu de
uma demanda do movimento feminista: a tipificação do assédio sexual no art. 216-A. Embora o
tipo legal não preveja explicitamente que a vítima precisa ser do gênero feminino, as relações
sociais concretas dão conta de que geralmente tal conduta ocorre por uma opressão masculina.
Em 2009, pela lei 12.015, crimes contra os costumes passam ser considerados contra a dignidade
sexual e os crimes em que a vítima só poderia ser mulher (ex: estupro) passam a ter, como sujeito
passivo, qualquer pessoa. Em 2015 cria-se a figura do feminicídio como forma de homicídio
qualificado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino e o texto do CP atualmente
já não tem o mesmo enquadramento tão violentamente machista como na sua redação original.
No plano legislativo, a maior e mais simbólica transformação nas relações de gênero deu-se em
2006 com a edição da Lei 11.340, a Lei Maria da Penha. Originada desta condenação
internacional, da adesão à Convenção de Belém do Pará, mas sobretudo da luta do movimento
feminista brasileiro, a LMP criou um sistema integrado de proteção à mulher em situação de
violência doméstica. Sua edição foi também uma reação aos efeitos da Lei 9099/95 para a
violência contra a mulher: os crimes de ameaça e lesão corporal, os mais comuns no cotidiano da
VDM, em razão das penas cominadas, submeteram-se aos ditames da Lei 9099, de modo que aos
serem aplicados os institutos da CCD, TP e SPC, gerou um desestímulo das mulheres em procurar
as autoridades.
A LMP definiu as formas de violência contra a mulher que determinam sua incidência para além da
violência física. Definiu as formas de violência contra a mulher em física, psicológica, moral,
patrimonial e sexual (art. 7o). Criou, ainda, os JVD, além de uma rede de assistência em vários
campos, da saúde à assistência social, psicológica e jurídica. Regulou a forma de atendimento em
sede policial, tradicionalmente um ambiente masculinizado que praticamente compelia as
mulheres a não entrarem no ambiente. DDMs.
Na esfera criminal, vedou algumas formas de pena, notadamente aquelas que se assemelham aos
institutos da Lei 9099, como a vedação à “pena de cesta básica” e a pena de multa aplicada
isoladamente.
Reconhecida como a principal inovação da lei – e também a mais efetiva – foi a criação das MPU,
que obrigam o acusado a, por exemplo, não se aproximar, não estabelecer contato, prestar
alimentos, etc, como forma de proteção imediata a casos de perigo à integridade física e à vida
das mulheres. Hoje reconhecida como de natureza cível, as MPU possuem importante papel na
vida das mulheres vítimas de violência doméstica. Em 2018, o primeiro tipo penal foi inserido na
lei, justamente o de descumprimento das medidas protetivas de urgência (art. 24-A).
Foi apenas em 2022, por meio da jurisprudência do STJ, que se consolidou o entendimento da sua
ampla abrangência em termos de gênero: também a LMP é aplicável a mulheres transexuais. Em
2023, CNJ, Res. 492: Julgamento com Perspectiva de Gênero no Poder Judiciário.
Periclitação da Vida e da Saúde

Crimes de Dano (materiais): até aqui (Arts. 121 - 129), estudamos crimes de dano.
→ Constatação do resultado naturalístico para sua consumação.

Crimes de Perigo: Arts. 130 a 136.


→ Expõem um bem jurídico a um perigo
→ Antecipa-se a tutela penal para um momento anterior a qualquer dano.

(a) Perigo concreto (formal) = tipo penal prevê a conduta que pode, mas não precisa, chegar no
resultado. É preciso que a acusação comprove que exista um perigo.
→ Art. 317 (corrupção - resultado seria a vantagem indevida).

(b) Perigo abstrato (mera conduta) = é só a prática da conduta, não precisa provar que algum bem
jurídico estava minimamente em um contexto de risco.
→ Categoria foi criada por conta da produção legislativa no contexto brasileiro e mundial
atual que criminaliza praticamente tudo.
→ Mais atrelados à noção de bens jurídicos superindividuais (atingem potencialmente mais
de uma pessoa, pessoas difusas).
→ Ex: tráfico de drogas, porte de armas, omissão de socorro.

Outra classificação:
a) Perigo individual: é aquele que atinge indivíduos determinados (art. 130 e ss);
b) Perigo coletivo/comum: é o que afeta pessoas indeterminadas (art. 250 e ss).

CAPÍTULO III - DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

Perigo de contágio venéreo


Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de
moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
→ Sinalização da significativa preocupação social com doenças venéreas no final do século
XIX e início do século XX, principalmente a sífilis.
→ Rara ocorrência forense.

Bem jurídico: saúde dos indivíduos, incolumidade física.

Crime próprio:
→ Sujeito ativo: pessoa contaminada por moléstia venérea.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Crime de perigo concreto: aferição real do perigo.
→ Consumação: não é necessário que haja a contaminação, basta a exposição ao perigo
através do contato sexual ou libidinoso.
→ Eventual contaminação revela-se como mero exaurimento.
→ Tentativa: o agente inicia preliminares sexuais, mas não consegue a sua concretização.

Tipicidade objetiva: “expor” a contágio; submeter outro indivíduo ao perigo de contaminação.


→ Só pode ser praticado pelo indivíduo que sabe (ou deve saber) que está contagiado.
→ Não é o simples fato de ter várias relações sexuais sem camisinha, é mais ter algum
sintoma de doença venérea.
→ O uso de preservativos pode afastar o delito, desde que tal proteção impeça a ocorrência
do núcleo do tipo (expor).
→ Vítima já contaminada ou com especial imunidade? Crime impossível, fato atípico.
→ Piora do quadro do já contaminado? Também é atípico.

Crime de forma vinculada: a exposição a perigo de contágio deve se dar por intermédio de
relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso.
→ O perigo de contágio ocasionado por contato físico extrassexual, como um aperto de mão,
não configura o tipo.

Moléstia venérea: doenças transmitidas por meio de contato sexual, como sífilis, cancro mole,
gonorreia, HPV.
→ HIV não entra pq não é classificada como doença venérea, vez que pode ser transmitida
por outros meios.

Dolo: é o de manter relações sexuais, ciente de que há a possibilidade de transmissão de doença


venérea ao parceiro.
→ Dolo é de perigo, não de dano.
→ Se houver dolo no dano, então vamos ao parágrafo primeiro.

Perigo de contágio venéreo x Lesão corporal:


→ Se houver transmissão de doença que gere lesão grave ou gravíssima, prevalece a lesão.
→ Se for lesão corporal leve, prevalece o art. 130.
→ Se resultar morte, lesão seguida de morte.

Qualificadoras:

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
→ Crime de perigo com dolo de dano.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.


→ ação penal pública = MP que denuncia.
→ ação penal pública mediante representação = vítima avisa e MP denuncia.
→ queixa = é o privado que entra com a denúncia.
Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato
capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
→ Aqui entra o HIV, hepatite, febre amarela, lepra, tuberculose, tifo, difteria, cólera, meningite,
sarampo, gripe suína.
→ Caso da seringa no metrô

Crime próprio:
→ Sujeito ativo: pessoa contaminada por moléstia grave que é contagiosa.
- Caso o agente não seja portador da moléstia, mas a transmita por meio de objetos,
não haverá o presente crime por ausência da elementar “está contaminado”.
- Nessa hipótese, poderá ocorrer a prática do delito previsto no art. 132.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa.
- Contudo, caso já seja portador da mesma moléstia grave, não há crime.
- Contra uma pessoa determinada. Caso contrário, art. 267 (epidemia).

Forma livre: aperto de mão, beijo, abraço, aleitamento; copos, garfos ou seringas, sexo.
→ Por meio de ato sexual, se não for doença venérea.

Elemento subjetivo especial do tipo: “fim de transmitir a outrem”.


→ Crime somente admite forma dolosa; não há forma culposa.
→ Caso o indivíduo ignore a contagiosidade da moléstia e pratique atos idôneos para
contágio, não há crime.

Se a transmissão trouxer ao indivíduo contagiado:


→ Lesões corporais leves, será mero exaurimento.
→ Lesões corporais graves, gravíssimas ou lesão corporal seguida de morte, afasta-se o
crime do art. 131, para fins de reconhecimento das espécies mais gravosas de lesões
corporais.

Perigo para a vida ou saúde de outrem


Atenção: não se trata mais de doença.

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
A intenção original do tipo era a de prevenir acidentes de trabalho, muitos deles ocorridos por
conta da escassa estrutura do meio laboral proporcionada pelos patrões no século XX.
→ Raro, os exemplos são mais de livro.
→ Não importa o motivo, se você colocou a pessoa em perigo, entra neste artigo.
→ Criação de uma situação efetivamente arriscada.

Crime de perigo: o delito resta caracterizado independentemente da motivação. Dolo de perigo.


Forma livre: exemplos:
→ Abalroamento doloso do carro da vítima com ela em seu interior;
→ Fechamento proposital de outro veículo em movimento na estrada;
→ Aceleração intencional do carro em direção ao pedestre para fazê-lo correr.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde


de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

Abandono de Incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.

Bem jurídico: vida e a saúde da pessoa faticamente incapaz.

Crime próprio: necessário que haja uma relação especial de assistência entre o sujeito ativo e
passivo, que pode ser oriunda de várias fontes (lei, contrato, etc).
→ Sujeito ativo: relação de “cuidado, guarda, vigilância ou autoridade” com relação à vítima.
- Ex.médico, enfermeiro, cuidador, policial etc.
→ Sujeito passivo: pessoa faticamente incapaz, exposta a perigo decorrente do abandono.
- Incapaz não no sentido do direito civil, é no sentido de pessoa que não consegue se
cuidar.
- Necessário que a vítima seja exposta a risco efetivo, concreto, ocasionado pela
situação do abandono.

Consumação: abandono físico.


→ Se pune o afastamento ou inação em face da pessoa desvalida, relegada às intempéries, e
não exatamente a omissão do dever de assistência.
→ O crime não se perfaz se, p. ex., ao afastar-se da vítima, o agente procura evitar o risco
permanecendo na espreita, aguardando e observando alguém prestar o devido e eficaz
socorro.

Dolo de perigo: o dolo de dano afasta a incidência, podendo caracterizar homicídio tentado ou
lesão corporal tentada.
→ Não há previsão da modalidade culposa. Se o abandono decorrer de culpa, sobrevindo
dano para a vítima, o agente poderá responder por LC culposa ou homicídio culposo.

Qualificadoras
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
→ Caso do motorista de aplicativo que levou uma mulher ao local, deixou ela no chão e foi
embora. Depois passou um sujeito e estuprou a moça.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - Se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III - Se a vítima é maior de 60 anos.

Exposição ou abandono de recém-nascido


Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
→ Olha que artigo ridículo! O começo vai bem, mas ele fode depois da vírgula.
→ Para doutrinadores antigos, era só a mãe que podia fazer isso.
- Nelson Hungria: sujeito ativo somente será “mãe que concebe extra matrimonium
ou, quando muito, o pai adulterino ou incestuoso”.
- Bitencourt: sujeito ativo apenas a mãe.
→ Código de 1940 = sociedade machista em que se estigmatizava filhos fora do casamento.
Professor: acha esse artigo inconstitucional.
→ Se for abandono por razões econômicas, não se aplica este artigo, aplica-se o 133.
→ Recém-nascido: um mês.
→ Dolo de perigo.
→ Especial fim de agir: “ocultar desonra própria”.

Qualificadoras
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.

§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Omissão de socorro
Acusado consegue fazer acordo para não ser julgado, suspende-se o processo (366 CPP).
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
→ Quando possível fazê-lo sem risco pessoal!
→ Caso 2 ou mais pessoas recusem o socorro? todas respondem pelo crime.
Crime próprio: só pode ser praticado contra um rol taxativo de sujeitos.
→ Sujeito passivo: enumeração taxativa!
a) criança abandonada ou extraviada;
b) pessoa inválida ou ferida, ao desamparo;
c) qualquer pessoa em grave e iminente perigo.

Exemplos:
→ Caso do porteiro
→ Médico que recusa atendimento? não pode.

Há tb hipóteses específicas no CTB (aumentos de pena e crimes específicos).


→ CTB: a) art. 302, § 1º , inciso III; b) art. 303, § 1º; c) art. 304.

Aumento
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
→ Caso dessa recusa de atendimento a vítima venha a se lesionar ou a morrer, o crime de
omissão de socorro cede lugar ao reconhecimento do delito de lesões corporais ou
homicídio, a depender de dolo ou culpa no caso concreto.

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (Lei 12.653/2012)


Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o
preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento
médico-hospitalar emergencial:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão
corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
No ano de 2012, em virtude de uma prática que até então era comum, morreu um integrante do
Governo Federal - Secretário X
→ Foi ao hospital, pediram garantia de que ele ia pagar, ele tava sem como conseguir provar,
foi a outro hospital, também não atenderam. Ele morreu.
→ Era um senhor negro.
→ Esse caso repercutiu muito na mídia então essa conduta foi especificamente
criminalizada.
Omissão de socorro sui generis: é uma espécie de ODS com elementos específicos - omissão de
socorro quando se exigem garantias e formalidades:
→ Exigir cheque-caução, cheque, nota promissória ou outros formulários administrativos.
→ Ou seja, em situações emergenciais, SE ATENDE A PESSOA e depois se exigem os
documentos.
Sujeito ativo: atendente, recepcionista, enfermeiro, médico.
→ Professor: isso é bem delicado pq julgar o atendente livra a direção que deu ordem pra ele
agir dessa forma.
→ Atendente é na verdade, um instrumento da prática do crime. Por isso, o professor sugere
pensar em algo do tipo autoria mediata, coautoria.
Mas não é algo que tem acontecido mais.

Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou
cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.
Bem jurídico: incolumidade
Sujeito ativo: somente a pessoa que tem essa relação de autoridade + especial finalidade.
→ Pais e filhos;
→ Enfermeiros e pacientes;
→ Professores e crianças.
Elemento objetivo: não é qualquer mau-trato!
→ Privando de alimentação
→ Privando de cuidados indispensáveis
→ Sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado
→ Abusando de meios de correção ou disciplina
Dolo de perigo.
Lei da Palmada (Lei nº 13.010/2014) alterou os artigos 18-A e 18-B do ECA.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
→ Nota-se que esses artigos não prescrevem pena. Ou seja, nem todo ilícito é crime.
→ As consequências estão no Art. 18-B.
→ A palmada então pode levar à perda da guarda ou levar a alguma consequência cível.
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de
adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão
sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de
acordo com a gravidade do caso:
Estatuto do Idoso (artigo 99): submissão e condições desumanas ou degradantes.
→ Idoso: +60.
Qualificadoras:
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.

Causas de Aumento:
§ 3º - Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.

Rixa
Briga entre 3 ou mais pessoas. Um grupo contra outro.
Professor coloca em dúvida a legalidade do artigo, dado que não define o que é rixa - e ninguém
da sala soube dar uma definição precisa.
Professor nunca viu.

CAPÍTULO IV - DA RIXA
Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da
participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.

Crimes Contra a Honra


Professor: acha que deveria ser descriminalizado - aplicar apenas responsabilidade civil (danos
morais).
→ Muitos entram em conflito com a liberdade de expressão ou de imprensa.
→ Também merece revisão por conta do princípio da intervenção mínima - é possível tirá-los
da espera penal pra esfera cível.

CAPÍTULO V - CRIMES CONTRA A HONRA

Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
→ Dos crimes contra a honra, é o mais grave.
→ Cifra oculta: diferença entre os crimes que de fato ocorrem na sociedade e aqueles que
chegam ao conhecimento das autoridades.
→ Tem que ser um fato, não pode só ser um xingamento “ladrão!”. Tem que ser “A Raquel
roubou o computador da Júlia semana passada”.
→ Mas tb não precisa revelar maiores detalhes, nem referir-se expressamente a qualquer
figura da lei penal, bastando que se possa antever minimamente um fato, o qual
corresponde a um crime.
→ Tem que ser fato determinado. Não pode ser “já matou alguém”, “é ladra” (nesses casos, é
injúria).
→ Dolo de ofender a honra (animus calumniandi).
Subsidiária: existem formas específicas de calúnia na lei eleitoral, etc.
Bem jurídico: Honra (bem jurídico imaterial) - somente a objetiva é protegida.
→ Objetiva: reputação que o sujeito detém num contexto social
→ Subjetiva: sentimento da própria dignidade ou decoro.
Jornal: só vai praticar o crime se ele souber se o fato não existiu. O fato está sendo investigado?
Na teoria não seria calúnia.
Pessoa jurídica:
→ Doutrina dizia que PJ não podia ser vítima, mas hoje em dia isso já foi revisto.
→ Não pode ser acusada de praticar, PJ só pratica crimes ambientais.
Crianças, adolescentes e enfermos mentais:
→ Não são culpáveis, são inimputáveis. Ou seja, não praticam.
→ Mas podem ser vítimas.
Não são punidos como calúnia:
a) E se você falou que a pessoa roubou algo (o que é mentira), mas você achou que ela de
fato roubou -> Erro. Não é punível.
b) Animus jocandi - em tom de brincadeira, não é punível.
c) Difamação
d) Injúria
Tentativa - não existe muito né.
→ Exemplo de livro: carta, email que ninguém nunca abriu.
Contravenção penal: é difamação.
→ Falar que alguém tá jogando no bicho é calúnia? Não, pois bicho é contravenção, não
crime.
Ação penal privada: só se procede mediante queixa da vítima.
→ MP não pode processar, somente a vítima.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.


→ Deu RT? Caluniou.
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
→ É possível no processo, pedir a “exceção da verdade”, quando se tenta provar que não se
está imputando fato falso.
→ Exceção da verdade = provar que o fato é verdadeiro.
→ Cabe em todas as situações, EXCETO as hipóteses do parágrafo 3º.
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - Se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por
sentença irrecorrível;
II - Se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;
III - Se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença
irrecorrível.

Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Tipicidade objetiva: imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação, atribuir a outrem um
acontecimento humano capaz de macular seu conceito social, “causar má fama”.
Imputar fato ofensivo à reputação da pessoa. Ofensivo, porém não criminoso.
→ Fato pode ser até verdadeiro.
→ Não é lícito você ficar falando mal das pessoas, mesmo quando verdadeiro.
→ E a liberdade de expressão? Não posso falar a verdade? O cara traiu a companheira? Pois
é, não pode. Resquícios de um Código de 1940.
→ Crime acontece todo dia no Twitter (cancelamento) - mas é possível processar todo
mundo?
Mas: o que é ofensivo? Precisamos analisar de caso a caso, dado que o que é ofensivo para um
pode não ser para outro.
→ Jornalista, imprensa: vai ter que auferir o dolo do jornalista de querer difamar a pessoa.
Defesa vai dizer que tá noticiando um fato (aí, realmente, pode ser que não haja dolo).
Pessoa jurídica: parte da doutrina acha que é possível cometer difamação contra empresas,
professor discorda.
Mortos:
Propalar: tipo cancelamento, twitter. Se encaixa no crime, mas é difícil processar todos.
Opinião prof.: nem todo ilícito é crime. Às vezes ela não praticou um crime, mas praticou ilícito
cível. Muitos casos de difamação vão pra esfera cível.

Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
→ Só casos de interesse público.
→ Não é a mesma exceção da verdade da calúnia, dado que o crime aqui se aplica mesmo se
o fato for verdadeiro.

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Quando você não imputa um fato, mas imputa uma qualidade da pessoa - “ladrão! bicheiro! corno!
maconheiro! cheirador! filho da puta!”
→ Sexualidade? “viado!”, “sapatão!”: entende-se que é crime - injúria discriminatória.
Ação ou expressão que lesiona o sentimento da própria respeitabilidade de outra pessoa,
menosprezando sua fama ou atentando contra seus aspectos físico-psíquicos.
Manifestação intencional de desprezo, menoscabo ou desrespeito, para com o ofendido, por meio
da realização de um comportamento negativo, humilhante.
Há duas hipóteses de injúria:
1) Injúrias simples - caput.
2) Parágrafos: qualificadoras.
Injúrias discriminatórias: racial e outras.
Ação penal privada.

Perdão judicial:
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
→ O cara que responde é perdoado, mas o primeiro cara que xingou, não!

Qualificadoras
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
→ Injúria real: quando você quer humilhar a pessoa. Raspa a cabeça da pessoa, dá chicotada,
tatuagem na testa.
→ Nesse caso, responde por injúria e lesão corporal ou a outra pena correspondente.
Somam-se as penas.
→ Trote? É possível discutir se há dolo ou apenas animus jocandi.

§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à condição de pessoa


idosa ou com deficiência: (Redação dada pela Lei 14.532/2023)
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.
→ Injúria discriminatória. É a injúria racial.
→ Xingamentos ligados à sexualidade: aplica-se por analogia, jurisprudência igualou.
Injúria racial é diferente do crime de racismo: Lei nº 7.716/89.
→ Injúria: é xingar.
→ Racismo: condutas - não deixa entrar no shopping pq a pessoa é negra.
→ O que ocorre é que as consequências foram igualadas. Os efeitos foram estendidos (STF).

Disposições comuns [Causas de Aumento]


Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de 1/3, se qualquer dos crimes é
cometido:
I - Contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II - Contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado,
da Câmara dos Deputados ou do STF;
III - Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da
difamação ou da injúria.
IV - Contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 anos ou pessoa com deficiência, exceto
na hipótese prevista no § 3º do art. 140 deste Código.
§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em
dobro.
§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede
mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena.

Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de injuriar ou difamar;
III - O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que
preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.

Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos
mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se
julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do
caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do
mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.
Crimes Contra a Liberdade Individual

Bem jurídico geral tutelado: autodeterminação dos indivíduos em seus diversos aspectos (como a
liberdade pessoal).

Liberdade pessoal: direito à independência de injusto poder estranho sobre a nossa pessoa.

Arts. 146, 147 e 148: crimes subsidiários: só vão ocorrer se naquela situação fática não houver
algum outro elemento especializante.

→ Podem consubstanciar-se em meios da prática de outros crimes, caso tenham elementos


especializantes.
→ Ex: grave ameaça é meio para ocorrência de roubo.
→ Ex: estupro, assédio sexual, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro.

CAPÍTULO VI - CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL

Seção I - Dos Crimes Contra a Liberdade Pessoal

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou
a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de 3 meses 1 ano, ou multa.

Bem jurídico: autodeterminação humana (liberdade individual), que abarca tanto:


→ Liberdade psíquica (livre formação da vontade, sem qualquer coação);
→ Liberdade física (liberdade de movimentar-se).
CF, Art. 5º, II - ngm será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Subsidiário: sozinho, ele não aparece tanto. Normalmente estamos discutindo outro crime e aí
vê-se que faltou algum elemento pra caracterizar aquele crime, então se desclassifica para C. I.
→ Ameaça pura e simples é mais subsidiário ainda que o CI: “Vou te matar heim”.

Crime comum:
→ Ativo: qualquer pessoa pode praticar, mas se for praticado por funcionário público, ele pode
se especializar para abuso de autoridade (art. 322, 350).
→ Passivo: qualquer pessoa que tenha plena capacidade de entender. Se for criança ou
adolescente, tem uma figura específica no art. 232 do ECA.

Meios: forma livre.


→ Violência, grave ameaça ou qualquer outro meio.
→ Ex: dopar a vítima.
Tipicidade objetiva:
Constranger = coagir, forçar, compelir alguém a um fazer ou a um não fazer.
→ Precisa ser um constrangimento ilícito; constranger alguém para que a pessoa não
pratique um crime não é ilegal.
→ Prof: mas se alguém quiser impedir alguém de cometer algo “imoral” (impedir alguém de
se prostituir)? É ilegal SIM.
→ Constranger alguém a não fazer o que quer: homem impede mulher de viajar? É
constrangimento ilegal, fazer ou não fazer tatuagem, etc.
→ Se houver uma pretensão legítima do sujeito ativo, exigível judicialmente, pode configurar
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345, crime de cobrar as coisas devidas
mediante violência/grave ameaça) → não é constrangimento ilegal.
Consentimento = o constrangimento deve perdurar durante todo o período em que o sujeito
passivo realiza a conduta exigida. Se no meio da conduta, a pessoa consentir, o fato resta atípico.
→ “Ah, é, vc tem razão, melhor não ir viajar” ou “é verdade, melhor não fazer tatuagem”,
“melhor contar tal coisa pra outra pessoa”.

Crime doloso: a depender da finalidade, pode incorrer em outros crimes:


→ Tortura: Lei 9.455/1997:
- Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
→ Eleitoral: forçar eleitoral a votar em determinada candidatura (Código Eleitoral, art. 301)
→ Consumidor: compelir consumidor a pagar divida (CDC, art. 71)
→ Idosos: obrigar idoso a doar, a testar ou a outorgar procuração (Estatuto do Idoso, art. 107)

Tentativa: é possível; quando há emprego de meio idôneos para constranger o indivíduo, mas a
vitima não atende à conduta desejada.
→ Ou seja, é um crime material, de resultado.
→ Se a vítima não proceder à ação/omissão desejada, pode configurar tentativa.

A doutrina aponta a desproporcionalidade da pena entre o crime de constrangimento ilegal que


atinge apenas a liberdade pessoal (ex: obrigar a tatuar ou a ficar nu em público, pena de 3 meses a
1 ano) x crimes que constrangem a entregar patrimônio (obrigar a entregar um celular = roubo, 4
anos).

Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se
reúnem mais de 3 pessoas, ou há emprego de armas.

Concurso material: as penas resultantes da violência.


§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
Excludentes de tipicidade:
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
I - A intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;
→ Ex: caso Testemunhas de Jeová.
II - A coação exercida para impedir suicídio.

Intimidação sistemática (bullying)


Art. 146-A. Intimidar sistematicamente, individualmente ou em grupo, mediante violência física ou
psicológica, uma ou mais pessoas, de modo intencional e repetitivo, sem motivação evidente, por
meio de atos de intimidação, de humilhação ou de discriminação ou de ações verbais, morais,
sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais ou virtuais: (Incluído - Lei 14.811/2024)
Pena - multa, se a conduta não constituir crime mais grave.
→ Prof: redação horrorosa, feita por alguém inimigo da língua portuguesa.
→ Sem motivação evidente???? Mas não é um crime doloso cuja motivação é a intimidação??
Além disso, e se houver motivação?? Fato atípico??
→ Intimidar por atos de intimidação!!
→ Crime deste ano, vamos ainda ver se vai reverberar.
→ Pena é apenas multa = direito penal simbólico.

Intimidação sistemática virtual (cyberbullying)


Parágrafo único. Se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social, de
aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em
tempo real:
Pena - reclusão, de 2 anos a 4 anos, e multa, se a conduta não constituir crime mais grave.
→ Ou seja, a pena aumenta MUUITO.

Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de
causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
→ Crime MUITO comum, sobretudo em situações de violência doméstica contra a mulher.
→ Pena bem baixinha.
→ Representação: se a vítima ameaçada não quiser, não tem como processar o autor do fato.

Dentro do contexto de violência contra a mulher, é comum que venha junto com Lesão Corporal.
→ A ameaça fica absorvida pela LC? Somente se o autor ameaçar bater e realiza a lesão no
mesmo contexto. Se for ameaça em um contexto e LC em outro, não absorve.
→ Ex: ameaçar de manhã, e bater de tarde.
Bem jurídico: autodeterminação humana.

Crime comum: qualquer pessoa pode ameaçar e sofrer, desde que tenha capacidade de
compreender a ameaça (ex: bebe).
→ Deve ser dirigido a pessoa determinada ou a grupo determinado de pessoal.
→ Pode ser indireta: relativa a terceiro ligado ao sujeito passivo por especial relação de afeto
(Ex: matar o filho).

Tipicidade objetiva:
Ameaçar = provocar medo, causar intimidação em alguém, prometendo-lhe causar mal injusto e
grave.
→ Deve ser vista sob aspecto objetivo, segundo “a média da sensibilidade humana”,
observando-se o que normalmente acontece. Não abre espaço para simples melindres
pessoais.
→ O mal prometido deve referir-se ao atingimento de um bem jurídico de natureza penal,
ademais considerado significativo para o sujeito passivo, como vida, integridade física,
liberdade, honra, patrimônio, etc.
→ Não importa se o agente estava ou não disposto a cumprir a ameaça - o que importa é que
ela tenha sido idônea para incutir medo (tenha ela a aparência de séria e o agente possuía
consciência disso).
→ Caso: se a vítima não se sentir ameaçada? Ação penal condicionada à representação. Art.
16, LMP.

Injusta = é a ameaça contrária ao direito, ilícita.


→ Se for justo o mal prometido, o fato é atípico.
→ Ex: ameaça de processar, de disputar a guarda de filho, de reprovar aluno.

Grave = é o mal sério, relevante. Deve ser verossímil para aquele a quem é encaminhada.

Forma: por palavra, escrita ou por gestos.


→ É possível ter ameaça implícita (às vezes por gestos, mas não apenas).
→ Ex: vai preso e antes de ir pra cadeia fala “cadeia não é pra sempre não, eu vou mas eu
saio…”.

Ameaça condicional: subordinada a algum fato ou evento.


→ Se a condição se atrelar a algum comportamento exigido da vítima: constrangimento ilegal
(Ex: matará a pessoa se ela for a uma festa, se fizer um BO).
→ Se o condicionamento incidir sobre evento não controlável pelo sujeito passivo, o crime
será de ameaça (Ex: "se o Santos não subir, eu te mato!").

Excludente de tipicidade: não configura o crime o praguejar, a afirmação genérica (ex. "vai ver só").
→ Ameaça em momento de ira ou cólera: art. 28, I, CP - não exclui o crime. Mas, se verificado
o contexto, foi "da boca pra fora", não configura o crime.

Consumação: consuma-se quando o sujeito passivo tem conhecimento da ameaça.

Tentativa: é possível. Ex: gravação ameaçadora não chega ao conhecimento da vítima.


Perseguição
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade
física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma,
invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. (Incluído - Lei 14.132/2021)
Pena – reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa.

Antes de 2021, o fato não era atípico, mas era uma contravenção penal (Lei de Contravenções
Penais, artigo 65). Esse artigo foi revogado pela lei de 2021.
LCP, Art. 65 - "Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável".

Principais mudanças:
→ Reiteração
→ Formas específicas
→ Necessidade de representação
→ Pena
→ Causas de aumento
→ Concurso da pena pela violência.

Aumento
§ 1º A pena é aumentada de 1/2 se o crime é cometido:
I - Contra criança, adolescente ou idoso;
II - Contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código;
III - Mediante concurso de 2 ou mais pessoas ou com o emprego de arma.

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

§ 3º Somente se procede mediante representação.

Violência psicológica contra a mulher (Incluído - Lei 14.188/2021)


Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno
desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem,
ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua
saúde psicológica e autodeterminação:
→ Redação também um pouco confusa.
→ Tem que ter o dolo de violentar psicologicamente a mulher.
→ Um simples término de relacionamento e as palavras que se proferem nesse caso não
caracterizam.

Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Seqüestro e cárcere privado (Vide Lei 10.446/2002)
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.

Bem jurídico: liberdade individual, especialmente liberdade de locomoção (direito de ir, vir e ficar).
→ Normalmente relacionado a questões de gênero (diferentemente da extorsão mediante
sequestro, em que se demanda uma recompensa patrimonial).

Crime comum:
→ Sujeito ativo. Se funcionário público: abuso de autoridade.
→ Sujeito passivo. Se adolescente privado de liberdade, art. 235 do ECA.

Tipicidade objetiva: a lei não trouxe definição de sequestro nem de cárcere privado. Cabe à
doutrina diferenciar os dois, mas não há diferença prática nas consequências.
→ Sequestro: a vítima tem sua liberdade cerceada em local aberto, com alguma possibilidade
de movimentação (ex. sítio)
→ Cárcere privado: a vítima tem sua liberdade cerceada em local fechado (ex. casa, quarto).

Fatos atípicos: privação de liberdade legítima.


→ Ex: prisão por qualquer do povo, reter paciente no hospital.
→ A privação pode começar legítima e se deslegitimar com o tempo: não libera paciente do
hospital após a alta.

Crime doloso: mas intenção especial pode configurar outro tipo:


→ Extorsão mediante sequestro (art. 159)
→ Tortura (art. 1º, § 4º, inciso III, da Lei nº 9.455/97)
→ Subtração de incapaz (art. 249)

Consumação: consuma-se com a efetiva privação da liberdade por tempo relevante.


→ O que é um tempo juridicamente relevante? Não tá definido em lei e nem foi
suficientemente construído pela doutrina, mas entende-se algo relacionado a poucos
minutos não configura (alguém retém alguém por alguns minutos).

Crime permanente: a consumação se delonga no tempo (não é crime continuado).


→ Tem consequências práticas: durante o tempo da privação de liberdade, o crime está sendo
consumado, é um flagrante (não mero exaurimento).
→ A prescrição só começa a correr no final da conduta.
→ Se vier uma lei nova aprovada durante o decorrer do sequestro, a nova lei se aplica sim,
porque o crime ainda não terminou.

Tentativa: surpreendido quando tenta levar a vítima ao cativeiro.

Qualificadoras
§ 1º - A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos:
I - Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
anos;
→ Relacionados a questões de confiança, não inclui irmãos.
II - Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - Se a privação da liberdade dura mais de 15 dias.
IV - Se o crime é praticado contra menor de 18 anos;
V - Se o crime é praticado com fins libidinosos.
→ Basta a demonstração dessa finalidade para qualificar, não precisa fazer atos libidinosos.
→ Se ocorrer violência sexual, concurso material.

§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento


físico ou moral:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos.
→ Mas quase sempre configura um grave sofrimento moral, pelo menos.

Redução a condição análoga à de escravo

O crime não é escravizar, é menos do que escravizar.


→ Importante, pois não é necessária a sujeição absoluta da vítima a um escravo, pode ser
qualquer uma das hipóteses do artigo.
→ Basta situação degradante, a qual se mostra semelhante, com a de uma escravo.
→ A vítima pode até receber salário!
→ "Escravidão moderna"

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer
restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador
ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
→ Pena-base bem pequena (2 anos de reclusão).

Tipicidade objetiva:
Reduzir = sujeitar, submeter, subjugar, no sentido de forçar alguém a suportar uma situação
comparável a um regime de escravidão.
→ É irrelevante que a vítima possua no caso concreto relativa liberdade ou mesmo que tenha
consentido com a situação.
→ Tampouco é necessário clausura, confinamento, tortura ou maus tratos. A vítima pode até
receber salário pelo trabalho realizado, o que não desnatura o crime.

Modos:
→ Trabalho forçado
→ Jornada exaustiva (ainda que a pessoa receba salário)
→ Condições degradantes de trabalho (sem acesso ao banheiro, água, excesso de barulho)
→ Restrição de locomoção em razão de dívida.
Consumação: quando a vítima tem atingida sua autodeterminação, isto é, quando tem sua
liberdade tolhida.

Tentativa: o agente é surpreendido levando os trabalhadores à fazenda para fins de submetê-los a


trabalhos forçados.

Figuras equiparadas:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - Cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho;
II - Mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos
pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Causas de aumento
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I - Contra criança ou adolescente;
II - Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Criminologicamente falando, é muito interessante que é quase sempre o Ministério do Trabalho


(através de seus fiscais) que resgatam pessoas nessa situação - e não a polícia.

Também, apesar dos enormes números de pessoas resgatadas, é bem difícil encontrar
jurisprudência nesse sentido - poucas pessoas são de fato condenadas (a exemplo do
desembargador).

Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei 13.344/2016)

Incluído em 2016 após uma série de reportagens do Fantástico e por ser algo que acontece
bastante.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - Submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - Submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - Adoção ilegal;
V - Exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.

Bem tutelado: dignidade e liberdade da pessoas humana.

Crime comum: a depender do sujeito passivo, incide qualificadora.


Tipicidade objetiva: oito condutas típicas.
→ Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher.
→ Tipo misto alternativo.

Meios executórios: cinco formas.


→ Grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso.

Elementos subjetivos do tipo: cinco finalidades específicas para o cometimento do crime (incisos).
→ Se não foi para nenhuma dessas finalidades específicas, não incide esse crime.

Crime formal: estará consumado ainda que o específico objetivo visado, descrito como um dos
elementos subjetivos especiais do tipo, não seja atingido.
→ Não é preciso que se produza um resultado material.
→ A efetiva remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo, bem como sua comercialização,
são fatos por si sós criminosos, previstos, respectivamente, nos arts. 14 e 1512 da Lei
9.434/1997 – Lei de Transplantes. Nesse caso, há concurso material com o tráfico de
pessoas.

Decreto nº5.017/2004: ratificou a adoção do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
→ Consentimento: Art. 3º, alínea b, do Protocolo: “o consentimento dado pela vítima de tráfico
de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente
Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos
na alínea a)”
→ Ex: prometer dinheiro.
→ Ou seja, mesmo que ela vá consentindo, sem grave ameaça, isso não é aceito.

Causas de Aumento:
§ 1º A pena é aumentada de um 1/3 até 1/2 se:
I - O crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las;
II - O crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - O agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de
hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - A vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.

Causas de Diminuição:
§ 2º A pena é reduzida de 1/3 a 2/3 se o agente for primário e não integrar organização criminosa.
Seção II - Dos Crimes Contra a Inviolabilidade do Domicílio

Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
→ Acontece bastante em situação de violência de gênero.

Bem jurídico: liberdade individual, sobretudo em seus aspectos de intimidade e privacidade.


→ CF, Art. 5º, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (Vide - Lei 13.105/2015)

Crime próprio: sujeito ativo = qualquer um; sujeito passivo = morador.


→ Proprietário entrando em apartamento alugado? Não pode! Não é porque vc é proprietário
que você pode invadir o domicílio da pessoa.

Delito só ocorre quando a invasão for o próprio fim mesmo. Se ele for um meio pra outro crime, ele
vai ser absorvido.
→ Ex: invadir uma casa de noite pra furtar algo de lá.
→ Violar domicílio para descumprir MPU, o professor entende que é um crime só.

Qualificadora:
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou
de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.

§ 2º (Revogado - Lei 13.869/2019)

Excludentes:
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - Durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência;
II - A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na
iminência de o ser.

Casa:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - Qualquer compartimento habitado;
II - Aposento ocupado de habitação coletiva;
III - Compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":


I - Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a
restrição do n.º II do parágrafo anterior;
II - Taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Seção III - Dos Crimes Contra a Inviolabilidade de Correspondência

Violação de correspondência
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Sonegação ou destruição de correspondência


§ 1º - Na mesma pena incorre:
I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo
ou em parte, a sonega ou destrói;

Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica


II - quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação
telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras
pessoas;
III - quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;
IV - quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição
legal.

Causas de Aumento
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.

Qualificadora
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico,
radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de um a três anos.

§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.

Correspondência comercial
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial
para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a
estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Seção IV - Dos Crimes Contra a Inviolabilidade dos Segredos

Divulgação de segredo
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de
correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir
dano a outrem:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa, de 300 mil réis a 2 contos de réis.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei,
contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1a 4 anos, e multa.
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.

Violação do segredo profissional


Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa de 1 conto a 10 contos de réis.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Invasão de dispositivo informático (Incluído - Lei 12.737/2012)


Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à internet, com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário
do dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou
programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 a 2/3 se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,
segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle
remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação,
comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
§ 5º Aumenta-se a pena de 1/3 à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do STF;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal;
IV - Dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do DF.

Ação penal (Incluído - Lei 12.737/2012)


Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação,
salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos
Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de
serviços públicos.
Crimes Contra o Patrimônio

TÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


CAPÍTULO I - FURTO

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

Crime de maior incidência no Brasil, mas não necessariamente tem mais pessoas presas. Isso
porque há muitos casos de furto privilegiado (réus primários e coisa furtada de pequeno valor):
→ Não se podem ser presos preventivamente → isso porque a pena máxima para réus
primários em furto não dá regime fechado. Isso é impedido pelo CPP.
→ Réus primários também podem celebrar acordo de não persecução penal (ANPP).
→ Quando condenados, a pena dificilmente gera regime fechado.

Crimes que mais PRENDEM no Brasil são tráfico e roubo.

Bem jurídico: patrimônio e, eventualmente, a posse ou a detenção da coisa.

Crime comum.
→ Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário do bem.
- Legítimo possuidor: não pratica furto, pratica apropriação indébita (pois já está em
posse da coisa, não a subtrai). Ex: alguém me emprestou um computador e eu me
recuso a devolver.
- Funcionário público: pratica peculato.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica.

Crime patrimonial de apoderamento: o agente retira a coisa do poder da vítima.

Em geral, cometido na clandestinidade. É possível cometê-lo ostensivamente?

Forma livre: mas não pode haver violência contra a pessoa (crime de roubo). Ou seja, pode ser
utilizada violência contra a coisa (ex: quebrar o vidro do carro pra pegar o estepe).

Tipicidade objetiva:

(a) Subtrair = diminuição do patrimônio de outra pessoa.

(b) Coisa móvel = é tudo aquilo que possui delimitação física e espacial (carro, telefone).
→ Móvel, aquilo que pode ser transportado, o que pode ser apreendido pelo ser humano.
→ Ser humano não é coisa.
→ Parte do corpo humano: é crime mais específico (Art. 14 da Lei nº 9.434/97 - Lei de
transplantes).
- Cabelo: é parte do ser humano, não é coisa, vai ser injúria real ou lesão corporal.
→ Animais: furto de pets é furto comum (exceção do gado).
- Animais silvestres: é crime ambiental.
- Gado: é furto e ainda qualificado! Os fazendeiros conseguiram colocar isso no
código penal (semovente).

(c) Alheia = tem que ter dono!


→ Res nullius, animais de rua; bens jogados no lixo não são passíveis de furto.
→ Prof. já fez vários habeas corpus de pessoas que foram presas por pegar bens que
estavam no lixo. Famoso furto de lixo: não é furto.

Excludentes:
→ Furto de uso = furta para um fim lícito e restitui integralmente o bem → não é crime.
- Se a pessoa tiver um prejuízo por não poder usar o bem nesse meio tempo, é
questão civil e pode pedir perdas e danos. Mas mesmo assim, não é crime.
- O uso tem que ser imediato e a restituição tem de ser rápida, logo depois de usar o
objeto para cumprir o fim lícito.
- Ex: pegar o carro de alguém para levar alguém que está passando mal ao hospital.
→ Furto insignificante: questão mais discutida.
- Ver documentário Bagatela.

Consumação:
→ Doutrina majoritária (quase unânime): o crime se consuma quando o agente detém a posse
mansa e pacífica do bem, ou seja, fora da esfera de alcance do proprietário.
- Importante para situações em que uma pessoa pratica um furto, sai correndo e é pega
depois, devolvendo o bem. Ou seja, todo esse lapso decorre ainda sob a vigilância do
proprietário. Mesma situação abarca o crime de roubo.
- Nessa situação, a doutrina majoritária (ao redor do mundo e também no Brasil) é de
que é furto TENTADO, pois o furtador não tem a posse mansa e tranquila da coisa,
ainda tá na esfera de vigilância do proprietário.
→ Porém, como ainda tinha casos de juizes que aplicavam entendimento diverso, o STJ
emitiu uma súmula para pacificar a questão… e decidiu no sentido contrário da doutrina
majoritária! Súmula para o crime de roubo, mas se aplica ao furto também.
→ Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à
perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada.
→ Esse é um dos casos em que a divergência é GRITANTE entre doutrina e jurisprudência.
→ Súmula vergonhosa do ponto de vista da dogmática.

Tentativa: é um crime de resultado (material), portanto admite tentativa.

Vigilância e crime impossível: tem-se que, em estabelecimentos comerciais que tem enormes
sistemas de vigilância (câmeras, seguranças, etc.), não há qualquer chance de consumar o furto,
pois a pessoa será pega pelo segurança. Nesses casos, seria crime impossível.
→ Somente se aplica a situações de vigilância completa durante toda a ação. Esse é o
entendimento da doutrina (e de boa parte da jurisprudência). E é crime impossível (nem
tentado ele é!).
→ Porém, os institutos de defesa tentaram alargar um pouco demais esse entendimento,
propondo que todo estabelecimento com sistema de vigilância levasse a um crime
impossível (prof. acha que eles tentaram alargar demais o conceito).
→ Em razão disso, o STJ emitiu outra súmula - 567.
→ Súmula 567: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por
existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.
→ Isso significa que, no caso concreto, pode existir uma situação de vigilância de tal maneira
que o crime se torne impossível, mas há que se analisar o caso concreto. Mas, na prática,
com essa súmula o STJ restringiu bastante a aplicação do crime impossível.

Aumento
§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
→ Furto noturno: Ideia de maior facilidade do crime, deve ser aferida consoante o caso
concreto.
→ Tem que ser durante o período de ausência de luz solar + durante o REPOUSO. Se tiver
rolando um pagode com geral acordado, não incide o aumento.
→ Não incide se o furto ocorre na rua, como subtração de veículo estacionado na via pública.
É preciso que o local seja efetivamente habitado, com pessoas repousando.
→ Só incide para o furto simples - Tema 1087 STJ.

Privilegiado
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
→ Requisitos: coisa de pequeno valor + agente primário.
→ Aqui, é necessário diferenciar o que é de pequeno valor e valor insignificante. E isso não tá
bem consolidado nem na doutrina, nem na jurisprudência.
→ A jurisprudência tem entendido que pequeno valor = até 1 salário mínimo.

Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
→ Arrombar porta, destruição de muros, portas, gavetas, cadeados, vidros de carro.
→ Obstáculo não pode ser a própria coisa furtada.
→ Também não incide a qualificadora quando você quebra uma coisa de valor maior pra
roubar algo de valor menor (ex: quebrei o vidro do carro para roubar um estepe). Claro que
aí vc tem responde civilmente por dano.

II - Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;


→ São forma insidiosas de praticar o furto.
→ Destreza = habilidade manual, sagacidade, para cometimento do furto (ex: pick pockets).
→ Abuso de confiança = traição a uma relação de proximidade entre o furtador e vítima (ex:
furto pelo amigo que recebe em casa).
→ Fraude = artifício ardil destinado a distrair a vítima para facilitar a subtração (ex: duas
pessoas vão furtar uma loja; uma distrai o vendedor tirando alguma dúvida e a outra furta;
você não tá tirando dúvida com a pessoa, você está distraindo ela pra poder furtar).
- Muita discussão porque o furto mediante fraude pode parecer o estelionato. Mas
temos critérios para distinguir esses dois.
→ Escalada = utilização de via anormal para adentrar o local do furto (ex: pular muro).

III - Com emprego de chave falsa;


→ Objeto não verdadeiro que pode ser utilizado para abertura de fechaduras (mixa ou gazua)
→ Cópia da chave não é qualificadora.

IV - Mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído - Lei 13.654/2018)
→ Caixas eletrônicos. Hediondo.

§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por
meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei 14.155/2021)

§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
I - Aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido
fora do território nacional;
II - Aumenta-se de 1/3 ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.

§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei 9.426/1996)
→ Era comum levar pro Paraguai pra clonar e voltar pro Brasil e vender.

§ 6º A pena é de reclusão de 2 a 5 anos se a subtração for de semovente domesticável de


produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. (Incluído - Lei
13.330/2016)
→ Furto de gado! Cachorro de reprodução e venda também incide a qualificadora, pois
aufere-se lucro com sua produção.
→ Pet ficou fora (não é de produção), porque a preocupação não é o animal, é o lucro com a
sua produção/reprodução.

§ 7º A pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou


de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou
emprego. (Incluído - Lei nº 13.654/2018)
Furto de coisa comum

Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.

CAPÍTULO V - DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Apropriação indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
→ Ou seja, mesma pena do furto simples.

Historicamente, a apropriação indébita era uma modalidade do furto. No Brasil, só ganhou


autonomia em 1940 e, desde então, não sofreu alterações em sua redação.

Bem jurídico: tutela-se o patrimônio (propriedade e a posse das coisas móveis alheias).

Crime comum:
→ Sujeito ativo: qualquer pessoa diversa do proprietário.
- Condômino, sócio ou coerdeiro podem ser autores na parte que não lhes pertence.
- Se funcionário público, peculato.
→ Sujeito passivo: proprietário ou possuidor.

Tipicidade objetiva:

Apropriar-se = tomar para si, fazer sua a coisa alheia.


→ Ao invés de ser uma apropriação contemporânea (como no furto/roubo), a apropriação
sucede à posse ou à detenção da coisa, obtida sem clandestinidade, violência ou fraude.
→ Inverte-se a natureza da posse da coisa que foi recebida licitamente.
→ Há um estado anímico posterior que caracteriza o crime, o que é de dificílima verificação.
- É aferida objetivamente pelo consumo da coisa, sua alienação, negativa de
restituição etc.

Coisa alheia móvel = deve também ser coisa corpórea.


→ Caso: dinheiro dado em empréstimo, com posterior inadimplemento? Não é crime.

Apropriação indébita x Furto:


→ Na apropriação indébita, eu recebo a coisa de maneira legítima. Somente após deter a
posse/detenção, o estado anímico passa a ser o de proprietário.
→ É preciso ter o dolo de se manifestar como dono.
→ Ex: emprestei um livro e a pessoa não devolve.
Apropriação indébita x delito civil:
→ Empréstimo de dinheiro e a pessoa não paga de volta.
→ Não é crime. Aqui, você rompeu uma obrigação contratual cível.
→ Qual a diferença: no caso do livro, eu empresto o livro, mas não transfiro a propriedade. No
empréstimo de dinheiro, eu transfiro a propriedade e o sujeito se compromete a entregar a
mesma quantia. Há, neste caso, apenas um contrato descumprido.
→ Mas, o que acontece é que credores mais espertinhos vão e fazem um BO pra pressionar o
devedor. E delegados mais burrinhos consentem em lavrar esse BO.

Tipicidade subjetiva: dolo - vontade livre e consciente de não restituir a coisa ou desviá-la do fim
para o qual foi entregue.
→ Elemento subjetivo especial do tipo: fim de obtenção para si ou para outrem de um proveito
injusto, que pode ou não ser econômico. Fim ulterior à apropriação.

Excludente: existe a mesma coisa do furto de uso - apropriação indébita de uso.


→ Ex: deixou o carro no mecânico - o cara sua teu carro pra comprar uma peça e volta.
→ Ex: funcionária de uma joalheria que utiliza um colar para ir a uma festa, devolvendo-o no
dia seguinte.

Tentativa: parte da doutrina entende que não há possibilidade de tentativa, inexistindo iter criminis
a percorrer estando configurado o delito.
→ Basta a simples inversão de ânimo do agente para com a coisa recebida legitimamente.
→ Atos de recusa na devolução da coisa, ou de sua disposição, apenas demonstrariam
objetivamente a consumação de um crime já ocorrida, mas de difícil aferição prática.
→ Se o sujeito iria vender o bem ou mudá-lo de local de guarda é pq já agia como proprietário.

Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3, quando o agente recebeu a coisa:
I - Em depósito necessário;
→ Depositário em situação de emergência, como enchente, incêndio. Casos em que não há
escolha do depositante.
→ Alguém tem que depositar um bem com alguém, e o depositário se apropria.

II - Na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou


depositário judicial;
→ Tutor = pessoa nomeada judicialmente para cuidar dos interesses de menor.
→ Curador = pessoa nomeada judicialmente para cuidar dos interesses de maior incapaz.
→ Síndico = administrador judicial da falência.
→ Liquidatário = figura jurídica que não existe mais atualmente.
→ Inventariante = quem administra os bens de herança.
→ Testamenteiro = quem se incumbe de administrar os bens deixados em testamento.
→ Depositário judicial = pessoa nomeada pelo juiz para guarda e conservação de bens sob
pendência judicial (bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados).
III - Em razão de ofício, emprego ou profissão.
→ Há necessidade de relação causal entre o ofício, emprego ou profissão e a apropriação.
→ Ex: deixou uma barra de ouro com um ourives pra fazer uma joia.
→ Ex: advogado que se apropria do dinheiro do cliente.

Caso: vc deixou um carro no valet e, dentro do carro, ficou algum bem (óculos escuros). Só um
tempo depois você percebe que o vallet retirou os óculos do carro.
→ Tem pessoas que acham que é apropriação indébita, outros acham que é furto.
→ De qualquer forma, a pena-base é a mesma.

Estatuto do idoso - Art. 102 - apropriação indébita no caso de pessoa idosa.


→ Pelo princípio da especialidade, aplica-se o estatuto.
→ PORÉM: a pena é a mesma!!! e PIOR! não tem causa de aumento!
→ Prof: o legislador é muito ruim mesmo.

Sistema financeiro: se houver implicações pro sistema financeiro - Lei específica 7.492/86, art. 5º.

Apropriação indébita privilegiada


→ CP, Art. 170: coisas de pequeno valor + agente primário (igual furto).
→ Também se aplica insignificância.

Apropriação indébita previdenciária (Incluído pela Lei 9.983/2000)

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes,
no prazo e forma legal ou convencional:

Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.

→ Falta de técnica legislativa.


→ Violação da ultima ratio.
→ Simples reforço administrativo, erigido para forçar o contribuinte a adimplir tributos.
→ Em 2000, entrou no título dos crimes contra o patrimônio, como modalidade de
apropriação indébita.
→ Todavia, nem se trata de crime contra o patrimônio, nem de apropriação indébita.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social


que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada
do público;

II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas


contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;

III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o
pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.

§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:

I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o


pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou

II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais.

§ 4º A faculdade prevista no § 3º deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de


contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.

Nas figuras do caput e do § 1º, incisos I e II, o sujeito ativo (normalmente, o empresário) nada
recebe, não havendo qualquer sentido lógico em se falar em apropriação indébita, em que
necessariamente o agente recebe de boa-fé a coisa e depois inverte o animus em relação a ela. O
sujeito ativo simplesmente não efetua o pagamento de um tributo.
O bem jurídico tutelado é supraindividual: as fontes de custeio da Previdência Social. Não se trata
de tutela do patrimônio individual, comparável a furto, roubo, extorsão, estelionato etc.
Crime próprio:
- Crime próprio em relação ao sujeito ativo.
- O sujeito passivo é o Estado, representado pela Previdência Social. Apenas no tipo do
inciso III do § 1º do art. 168-A, o empregado é também vitimado.
Normas penais em branco: fonte de complementação a Lei nº 8.212/1991. É impossível
compreender o que fixou o legislador penal, a menos que se tenha previamente noções básicas do
fenômeno previdenciário.
O sistema de seguridade social é composto pelo seguinte tripé: previdência social, assistência
social e saúde. A lógica previdenciária é a de que os trabalhadores ativos financiam os inativos. A
contribuição previdenciária advém desse contexto.
A relação de trabalho representa o fato gerador da contribuição previdenciária. O trabalhador terá
descontado de seu salário um determinado valor, o que é levado a efeito pelo empregador. Esse
último efetua inicialmente um dispêndio menor, pois deverá pagar posteriormente no banco uma
guia – em favor do INSS – com o valor “economizado” no pagamento de seu empregado.
Esse empregador, empresário ou titular da firma individual, poderá dolosamente não adimplir o
débito previdenciário, o que caracteriza o crime previsto no art. 168-A, § 1º, inciso I (deixar de
recolher contribuições descontadas).
Quando o empregador efetua o correto adimplemento da guia previdenciária, ocorre, por parte do
banco receptor, a chamada “arrecadação”. Tal é feito pela rede arrecadadora, composta por
bancos, que são substitutos tributários. A obrigação desses últimos, a seguir, é a de realizar o
repasse para o caixa único do tesouro. Se os prepostos do banco dolosamente não realizam
referido repasse, incidem no delito previsto no caput do art. 168-A (deixar de repassar
contribuições recolhidas).
Outra hipótese: o trabalhador não tem descontado nada de seu salário e, ao revés, deveria receber
um benefício oriundo do INSS, em que a empresa ou firma individual é reembolsada pela
previdência. Nesses casos, se o empregador deixa de pagar o trabalhador, incide no crime do art.
168-A, § 1º, inciso III (deixar de pagar benefício recebido do INSS). É a única hipótese de
apropriação indébita, que não é previdenciária, pois o valor ilicitamente auferido pertence ao
particular, empregado. Em realidade, nem precisaria haver a presente previsão, vez que estaria
abarcada pelo art. 168 do Código Penal. As formas delitivas em análise somente se perfazem no
instante em que se esgotar o prazo legal ou convencional para a transferência do recurso.
Crime doloso. Questão: dificuldade financeira.
Crime omissivos próprios: incabível tentativa.
Consequências do pagamento:
a) se houver o pagamento antes do início da ação fiscal, haverá extinção da punibilidade;
b) se o pagamento for posterior a esta, mas antes do oferecimento da denúncia, sendo o
agente primário e de bons antecedentes, haverá o perdão judicial ou apenas multa;
c) se o pagamento for posterior ao oferecimento da denúncia, mas antes do seu recebimento,
haverá o reconhecimento do arrependimento posterior, causa de diminuição de pena
prevista no art. 16 do Código Penal;
d) se o pagamento for posterior ao recebimento da denúncia, haverá o reconhecimento de
atenuante genérica (art. 65, III, “b”, do Código Penal).
Perdão judicial ou aplicação isolada de multa: art. 168-A, § 3º, inciso II, CP.
O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza

Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força
da natureza:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Parágrafo único - Na mesma pena incorre:

Apropriação de tesouro

I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que
tem direito o proprietário do prédio;

Apropriação de coisa achada

II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro
no prazo de quinze dias.

Apropriação privilegiada

Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
CAPÍTULO II - DO ROUBO E DA EXTORSÃO

Roubo

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.

Junto com tráfico de drogas e furto, forma a grande massa prisional brasileira.
→ Grande rigor interpretativo do poder Judiciário (ex. regime inicial de cumprimento de pena).
→ O erro judiciário e o racismo: o reconhecimento.

Bem jurídico: o patrimônio, a liberdade individual e a integridade corporal (pluriofensividade do


delito de roubo).

Crime comum: sujeito passivo: pode ter 2 vítimas de natureza diferente: a que sofreu prejuízo
econômico (loja), mas também o indivíduo sobre o qual recaiu a violência ou grave ameaça.
- Ex: frentista que recebe a grave ameaça e o dono do estabelecimento vítima.

Tipicidade objetiva: Subtrair = retirar algo de outrem, no caso, o objeto material coisa alheia móvel.

Tipicidade subjetiva: dolo. Prescinde-se de intenção de lucro, não importando o motivo do agente.

Modos:

(a) Grave ameaça = é a violência moral, a promessa feita à vítima de mal grave e iminente, a incidir
sobre ela própria ou a terceiro, caso não concorde com a subtração da coisa.
→ Ex: promessa de morte, agressão, violência sexual.
→ Dependendo do contexto, não precisa ser explícita, externalizada (ex: simulação de
emprego de arma, forma dos gritos de exigência).
→ Mas, e se 2 criancinhas te ameaçam para você passar o celular? Dependendo do contexto,
pode não se configurar grave ameaça. Pode até desclassificar pra furto.

(b) Violência = emprego de força física contra o corpo da vítima.


→ Ex: soco, derrubar ao chão, imobilizar.
→ Tem diferença entre forte trombada para roubar (violência) e leve esbarrada (para furtar).

(c) Impossibilidade de resistência da vítima = violência imprópria.


→ Ex: boa noite Cinderela.

Concurso de crimes: imagine que você tá num restaurante, chega um cara e rouba todo mundo
que tá lá dentro. É crime único? Concurso formal? Concurso material?

→ É concurso formal = com uma conduta, rouba-se diversos patrimônio de vítimas distintas.
Ou seja, vários crimes praticados com uma só ação. Essa é a posição majoritária.
→ Ver posição do Alamiro (minoritária)

OBS: não existe ”roubo de uso”.

Consumação: Súmula 582 do STJ - inversão da posse do bem (contra a doutrina majoritária, que
propõe a posse mansa e pacífica do bem).
Roubo impróprio:

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.

→ Roubo próprio: caput.


a) A violência ou a grave ameaça são empregadas antes ou durante a subtração;
b) A finalidade da violência/grave ameaça é subjugar a vítima e viabilizar a subtração;
c) admite a violência imprópria.
→ Roubo impróprio (§ 1º): furto + violência/grave ameaça.
d) A violência ou a grave ameaça são empregadas somente após a subtração;
e) A finalidade da violência ou grave ameaça é garantir a impunidade do crime de furto
que estava em andamento ou a detenção do bem que fora furtado;
f) não admite a violência imprópria.
→ Consumação: para jurisprudência, ocorre após o furto.
→ Doutrina majoritária (não seguida pela jurisprudência) é exigência para a configuração do
roubo impróprio que, anteriormente à consumação do furto, ou seja, depois de subtraída a
coisa e antes da posse mansa e pacífica do objeto, o agente faça uso da violência ou grave
ameaça contra a pessoa que o flagrou.

Causas de Aumento

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 até 1/2: (Redação - Lei 13.654/2018)

I - (revogado);

II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;


→ Se houver associação criminosa (Art. 288), não se aplica esta causa de aumento pra não
incorrer em bis in idem. Vai ser roubo simples + associação criminosa.

III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.

IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior;
→ Deve efetivamente cruzar a fronteira.

V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.


→ A restrição da liberdade, que não seria necessária para a consecução do roubo, agrava a
ação, atingindo com maior potencialidade a liberdade individual.
→ Ex: motorista levado; pessoa mantida nos fundos da loja.

VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou


isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. (Lei 13.654/2018)
→ Explosivo é o objeto material do roubo, não o meio pelo qual ele é praticado.

VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;


→ Faca, tesoura, canivete.
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3: (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
→ Se for arma de brinquedo (simulacro): roubo simples (pois houve grave ameaça), mas não
incide causa de aumento (pois não é uma arma de fogo) - princípio da legalidade.
Perícia importante para verificar se a arma é de brinquedo ou real.
→ E arma não municiada? A doutrina entende que não se reconhece a causa de aumento,
pois naquele caso concreto a vítima não estava com risco de tomar tiro. Por isso, é sempre
necessário fazer perícia.
→ Ou seja, devido ao princípio da legalidade, toda arma apreendida tem que ser periciada.
→ MAS jurisprudência aceita que, se não há arma apreendida, há presunção de que é um
revólver apto para uso - mesmo sem perícia! O que não faz sentido pq in dubio pro réu. E
quando vc apreende a arma, vc PRECISA periciar pra ter certeza da a causa de aumento!
II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de
artefato análogo que cause perigo comum.

2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído Lei 13.964/2019)

Roubo qualificado

§ 3º Se da violência resulta: (Redação - Lei 13.654/2018)


I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 a 18 anos, e multa;
→ Lesão corporal prevista o artigo 129.
→ Aqui entra grave e gravíssima.

II - morte, a pena é de reclusão de 20 a 30 anos, e multa.


→ É o LATROCÍNIO - roubo qualificado pelo resultado morte (nome dado pela doutrina e juris).
→ Algumas questões sobre o latrocínio:
a) Várias vítimas fatais, lesando apenas um patrimônio? Ex: roubou um carro e matou todas
as pessoas que estavam dentro → um crime de latrocínio só.
b) Roubei uma pessoa, atirei e acertei outra pessoa, que morre → latrocínio. Ou seja,
resultado morte é decorrência de um roubo.
c) Morte de um coautor → Não é latrocínio! Porque não pode ter sujeito ativo e passivo no
mesmo crime, na mesma ocasião. Vai ser roubo de uma pessoa + homicídio de outra.
d) Questão polêmica (consumação do latrocínio): patrimônio subtraído e vítima ferida. Ex:
pega o patrimônio de alguém + atira em outra, mas não se sabe se ela ficou ferida ou se
morreu → 2 hipóteses:
- Roubo + lesão corporal simples (isso porque para ser LC grave/gravíssima, precisa
se comprovar a incidência das hipóteses específicas do art. 129).
- Latrocínio tentado → essa é a que prevalece.
e) Patrimônio não subtraído, mas mata a vítima. Hipóteses:
- STF = latrocínio consumado! Pro prof. é absurdo pq o patrimônio não foi subtraído!
- Doutrina = tem várias teorias diferentes. Ex: tentativa de roubo + homicídio.
Extorsão

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para
si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa:

Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, e multa.

Bem jurídico: crime pluriofensivo: patrimônio, liberdade individual e integridade corporal.

Tipicidade objetiva: Constranger alguém a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer. Há uma
exigência de comportamento ativo ou omissivo da vítima.
→ Formas de execução: violência ou grave ameaça. Não pode ser praticada mediante
violência imprópria, como o roubo.
a) Fazer algo = entregar o bem, realizar um depósito de dinheiro em conta bancária, fornecer a
senha do cartão
b) Tolerar que se faça algo = permitir que um bem infungível (como imóvel ou veículo) seja
gratuitamente usufruído;
c) Deixar de fazer alguma coisa = não se candidatar a emprego, não ajuizar uma ação judicial.

Tipicidade subjetiva: dolo + intenção de lucro econômico indevido.


→ Escopo econômico: caso contrário, pode ser estupro, constrangimento ilegal.
→ Vantagem devida: exercício arbitrário das próprias razões (quando o cara realmente deve
dinheiro e o agente fala me paga agora senão atiro, é outro tipo penal).

O que diferencia a extorsão do roubo?


a) Bem jurídico atingido: prevalece o ataque à liberdade individual sobre o patrimônio
(“constranger”, em vez de “subtrair”).
b) Objeto material: indevida vantagem econômica, e não “coisa alheia móvel”.
c) Comportamento da vítima: há diferenças doutrinárias.
- Hungria e Fragoso: na extorsão, sem a colaboração da vítima, a vantagem patrimonial
é inalcançável. No roubo, o agente pode subtrair o bem sem o auxílio da vítima.
- Crítica: mostra-se irreal, sobretudo no roubo próprio mediante grave ameaça, que
perderia o sentido prático, pois o agente não precisaria empregar qualquer grave
ameaça se pudesse já tomar a coisa diretamente por si.
- Noronha e Bitencourt: momento de realização do mal: no roubo, o mal seria imediato e
o proveito visado contemporâneo; na extorsão, o mal e a vantagem seriam futuros.
- Crítica: falta de clareza quanto ao que seria atual e futuro; a prática da violência
na extorsão não se cuida de algo futuro e sim simultâneo à ação.
- Alberto Silva Franco e Luciano Anderson: imprescindibilidade ou não do
comportamento da vítima; na extorsão a colaboração da vítima é imprescindível para a
obtenção da indevida vantagem econômica.

Questão: rouba e pede PIX. A pena acaba sendo maior do que seria no caso de homicídio!
→ Pena de roubo + pena de extorsão, em concurso – a pena chega a quase 20 anos.
→ Prof. diz q é bem desproporcional. Para ele, deveria ser visto como um ato único.
Consumação: é um crime formal; consuma-se mesmo sem a vantagem.

→ Súmula 96 STJ: o crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da


vantagem indevida.
→ Ou seja, a obtenção da vantagem constitui mero exaurimento, que só interessa para a
fixação da pena.
→ Crime tentado: apenas naqueles exemplos doutrinários muito específicos (carta
interceptada).
→ Porém, há quem diga que é crime material (Luciano Anderson e João Florêncio Gomes
Júnior). Para eles, o tipo descreve resultado ("fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa") destacado da conduta ("constranger, mediante violência ou grave ameaça"),
o que é típico de crime material.
Nesse caso, seria crime tentado se houve o constrangimento, mas a vítima resistiu ou a
polícia chegou antes que o ato se consumasse.
→ Exemplo: se você tenta pedir PIX, a pessoa não faz, você tira a arma e mata. Para a maioria
da doutrina é consumado. Pro Luciano, é tentado.
→ Praticada com arma, a pena é menor que a do roubo - desleixo do legislador que aumentou
na do roubo e esqueceu de aumentar na extorsão com arma.

Causas de aumento (extorsão majorada)

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
pena de um 1/3 até 1/2.

→ Redação diversa da do roubo ("cometimento").


→ Só autores, não partícipes.
→ Emprego de arma (própria ou imprópria): aumento menor que o do roubo. Pacote Anticrime
aumentou a pena para o roubo com arma, mas esqueceu de aumentar o da extorsão.

Qualificadas

§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

→ Extorsão qualificada pelo resultado. Se da violência empregada resultar lesão corporal


grave, a pena é de reclusão de 7 a 18 anos, e multa; se da violência empregada resultar
morte, a pena é de reclusão de 20 a 30 anos, e multa.

§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é


necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 a 12 anos, além
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§
2º e 3º, respectivamente.

→ "Sequestro relâmpago": sequestro por período de tempo curto. Há diferença de tipo a


depender de quem é a pessoa sendo extorquida:
→ Se o extorquido é a própria vítima, é mera extorsão.
→ Se o extorquido for terceiro, será extorsão mediante sequestro (art. 159).
→ Por isso, difere do roubo com restrição da liberdade.
Extorsão mediante sequestro

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.

Crime pluriofensivo: patrimônio, liberdade individual e integridade corporal.

Crime complexo: extorsão + sequestro.

Crime comum: sem especificidade quanto ao autor.


→ Se a vítima for menor de 18 anos ou maior de sessenta, há qualificadora.

Tipicidade objetiva: sequestrar, privar a liberdade de alguém por tempo juridicamente relevante.

→ Alguém = vítima deve ser pessoa humana. Se for animal, será o crime de extorsão.
- Sequestrou o pet e pede dinheiro = é apenas extorsão.
→ Sequestro relâmpago É SÓ EXTORSÃO (no caso da vítima). No mediante sequestro, tem
que ser por tempo juridicamente relevante. No sequestro relâmpago, vai ter aumento por
restrição de liberdade.
→ Crime permanente.

Questão: a vantagem deve ser patrimonial ou não?


→ Bom, o crime está localizado no título “Crimes contra o patrimônio”.
→ Mas o tipo penal descreve literalmente “qualquer vantagem”, como "condição ou preço".
Por conta disso, o prof. acha que pode sim ter extorsão mediante sequestro (EMS) com
outras finalidades que não a patrimonial.
→ Ex: crimes políticos - "retire sua candidatura".

EMS e tortura: por estar em um cativeiro muito ferrado, o agente responde também por tortura?
→ O prof entende que é complicado, que não.
→ É diferente quando há de fato tortura durante o cativeiro (para que a pessoa dê senhas ou
algo assim).

Consumação: no instante em que o sujeito passivo tem sua liberdade cerceada por período
juridicamente relevante, protraindo-se no tempo a consumação enquanto durar esse cerceamento.

→ Obtenção de resgate é mero exaurimento.


→ Não é preciso que tenham feito contato com terceiros manifestando a exigência, desde
que se prove que essa era a intenção.
→ O prof. fala que é um tipo penal cada vez menos comum, por conta dos avanços
tecnológicos que dificultam a sua consumação (a polícia tem meios de rastrear o celular
de onde as ordens estão sendo feitas, etc).

Tentativa: ex: vítima que foge da abordagem; é raro. Ela teria que fugir antes do tempo relevante
para se configurar uma extorsão mediante sequestro.
Qualificadoras

§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 horas, se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos,


ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.

Pena - reclusão, de 12 a 20 anos.

→ O cômputo se inicia com o arrebatamento, ou captura, até sua efetiva libertação.

§ 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 16 a 24 anos.

§ 3º Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de 24 a 30 anos.

Causa de diminuição

§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a


libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de 1/3 a 2/3.

→ Causa de diminuição: delação premiada.

Extorsão indireta

Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:

Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa.

CAPÍTULO III - DA USURPAÇÃO

(Arts. 161 - 162)

CAPÍTULO IV - DO DANO

(Arts. 163 - 170)

CAPÍTULO VI - DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa.

É um delito de natureza patrimonial, perpetrado mediante fraude.


Crime comum:
→ Sujeito ativo: nem sempre aquele que emprega a fraude é o mesmo indivíduo que recebe a
vantagem ilícita.
- Se houver liame subjetivo, há coautoria.
- Caso o agente que receba a coisa não tenha qualquer participação, material ou
moral, mas saiba de sua procedência espúria, responderá pelo crime de receptação
dolosa.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que certa e determinada.
- Não há estelionato contra pessoas indeterminadas (ex.: crime contra a economia
popular, Lei nº 1.521/1951). Tem que ser golpe em alguém.
- Se a vítima não possuir o necessário discernimento, em razão da idade ou saúde
mental, o crime será de abuso de incapaz (art. 173).

Emprego de artifício, ardil ou fraude: a vítima age imbuída por erro, deflagrado pelo sujeito ativo, ou
por ele aproveitado, mediante sua confirmação ou silêncio.
→ Artifício = é a esperteza empregada por meio de algum artefato, como disfarces,
documento inverídico, falso bilhete premiado;
→ Ardil = é o estratagema verbal, mediante a comunicação de mentiras, como a solicitação
de doação a uma entidade inexistente;
→ Qualquer outro meio fraudulento = fórmula genérica que abarca a generalidade de
maneiras concretas de induzir ou manter a vítima em erro.
→ IMPORTANTE: os mecanismos grosseiros de engodo afastam o delito. Se o meio não for
idôneo para enganar a vítima: crime impossível (pastor que vende terreno no céu).

Sujeito fica pedindo todo o dinheiro da esposa e ela dá. Não necessariamente. Precisa de uma
fraude, um ardil, que a pessoa conte uma mentira.

Induzimento ou manutenção de erro:


→ Induzimento é a criação de um propósito inexistente; o sujeito ativo deflagra o
comportamento apto a ludibriar a vítima.
→ A manutenção consiste no aproveitamento malicioso de um erro prévio da vítima, que se
confundira.

Vantagem deve ser ilícita, se não estamos diante do exercício arbitrário das próprias razões.

Estelionato x Furto mediante fraude: a vítima é iludida a entregar a coisa no estelionato; no furto
mediante fraude, ela é distraída fraudulentamente para que se dê a subtração clandestina.

Estelionato x Extorsão: o estelionato é um delito de aproveitamento, o sujeito passivo participa


significativamente do fato típico, sob fraude. Na extorsão, o faz sob violência ou grave ameaça.

Estelionato x Apropriação indébita: momento do dolo (autor) e erro (vítima).


→ No estelionato, eu conto uma história já com vontade de ficar com o negócio. Na
apropriação indébita, a vontade de ficar com a a coisa é posterior.

Fraude penal x Fraude civil: dificuldade doutrinária. Princípio da intervenção mínima.


→ Golpe da fruta no Mercadão.
Consumação: é crime de duplo resultado: vantagem ilícita e prejuízo alheio.

Tentativa: vítima percebe o engodo e não envia o dinheiro; vítima vai entregar e é interrompida;
envio é extraviado.

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena


conforme o disposto no art. 155, § 2º.
→ Estelionato privilegiado. Insignificância

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: [cada inciso é um crime, olhar no CP p/ ver a tipificação]
I - Disposição de coisa alheia como própria
II - Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
III - Defraudação de penhor
IV - Fraude na entrega de coisa
V - Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
VI - Fraude no pagamento por meio de cheque

Fraude eletrônica (Incluído - Lei 14.155/2021)

§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de


informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais,
contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.

§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional.

§ 3º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito


público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

Atualização legislativa, de 2021. Mas é muito difícil descobrir a autoria desse tipo de golpe.

Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte
sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.

Pendura: não é crime porque você tem os recursos (mas é um ilícito civil). Se você for pobre,
deixar de pagar um restaurante é crime (pois você não dispõe dos recursos para pagamento).

Art. 172. Duplicata simulada; Art. 173. Abuso de incapazes; Art. 174. Induzimento à especulação;
Art. 175. Fraude no comércio; Art. 177. Fraudes e abusos na fundação ou admin. de sociedade por
ações; Art. 178. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"; Art. 179. Fraude à
execução.
CAPÍTULO VII - DA RECEPTAÇÃO

Receptação

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.

Crime com grande incidência e com muita seletividade penal; ocorre em bens adquiridos pela
população de baixa renda.

Receptação simples própria (art. 180, caput, 1ª parte): perpetrada pelo agente que aufere ou
possui coisa que sabe ser produto de crime.

Receptação simples imprópria (art. 180, caput, 2ª parte): o agente, dolosamente, influencia
terceiro de boa-fé a adquirir, receber ou ocultar a coisa. O transporte, aqui, é atípico.

Casos possíveis:
→ Roubo e venda: a pessoa que rouba E vende pratica apenas o crime de roubo (a venda é
mero exaurimento).
→ Roubo e receptação: não pode ser sujeito ativo da receptação o coautor ou partícipe do
crime antecedente (roubo/furto). A receptação para eventual participante do crime
antecedente constitui pós-fato impunível.

§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
→ Basta a certeza quanto à origem ilícita do bem.

Tipicidade subjetiva: sabe ser x deve saber x deve presumir-se. Existe um problema probatório.
→ Receptação simples: sabe ser; dolo direto.
→ Receptação qualificada: deve saber ser produto de crime; dolo eventual?
→ Receptação culposa: deve presumir-se; culpa.

Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
→ Objetivo da receptação qualificada: atingir comerciantes ou industriais envolvidos na
receptação de bens, principalmente veículos automotores, especialmente "desmanche".
→ Elemento subjetivo: “deve saber”. Dolo eventual? Tratamento ilógico. Posição minoritária: a
expressão “que deve saber” é imperativa, não condicional.

§ 5º [segunda parte] Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.


→ Na receptação dolosa, pode incidir o privilégio.
Culposa

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Culpa = violação do dever objetivo de cuidado (ao obter aquele produto).
→ No caso da receptação, o dever objetivo de cuidado é descrito pela lei por meio de
situações em que as condições fáticas indicam que o bem é de origem criminosa.
→ Natureza da coisa: refere-se a um traço distintivo do bem (livro com carimbo da biblioteca);
→ Desproporção entre o valor e o preço da coisa: o valor oferecido é muito inferior ao real
(celular por 100 reais);
→ Condição de quem a oferece: atividades exercidas e a situação econômica de quem deseja
vender o bem (joia valiosa por pessoa em situação de rua) - espaço para a seletividade.

Mas o que ocorre no mundo real é que as pessoas acham que tá mais barato porque é usado. Tem
casos em que é tênue o dever de desconfiança e aceitar o preço mais baixo por ser usado.
→ E a jurisprudência inverte o ônus da prova!!! Fica uma prova diabólica, você precisa provar
que não deveria presumir que o bem era roubado.
→ E o MP tem que comprovar que ela não observou os deveres objetivos de cuidado para
comprar aquele bem.

Possibilidade de perdão judicial.

Causa de aumento

§ 6º - Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou


de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

Receptação de animal

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:

Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.


CAPÍTULO VIII - DISPOSIÇÕES GERAIS
Imunidades
Imunidades que se aplicam a crime patrimoniais:

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
→ Pegou dinheiro do cônjuge - é isento de pena.
→ Essa isenção de pena tem como fundamento a proteção da unidade e harmonia familiar,
uma vez que a punição do autor do crime pode agravar ainda mais a situação de conflito e
desavença entre os membros da família. Dessa forma, o Estado opta por não aplicar
sanções penais em situações em que os crimes foram cometidos entre pessoas que
possuem vínculos familiares.
→ Isso para resolver na esfera cível.
→ Está sendo decidido no STF violência patrimonial mulher x mulher.
→ ADPF 1185: pedindo pra essa norma não se aplicar quando houver opressão de gênero.

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, civil ou natural.

→ Dar golpe em familiar então não é crime.


→ Roubo e extorsão não vale - pois é com violência ou grave ameaça.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça
ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

TÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL

(Arts. 184 - 186) (Arts. 187 - 196 - REVOGADOS)

TÍTULO IV - DOS CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

(Arts. 197 - 207)

TÍTULO V - CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS

(Arts. 208 - 212)


Crimes Contra a Dignidade Sexual

O Direito Penal Sexual foi historicamente centrado na figura da mulher, dando origem a uma
distinção legal de gênero, ao mesmo tempo em que era marcado por uma preocupação muito mais
moralizante do que protetiva da liberdade de autodeterminação sexual. Por essa razão, alguns
crimes tinham somente como sujeito passivo a mulher honesta, por exemplo.

No âmbito doméstico-familiar, a figura paterna mantém autoridade sobre as mulheres e as


crianças. Tudo isso ancorado na histórica ideia de uma natural ou normal divisão sexual do
trabalho. A cultura machista é um obstáculo para um ideário de justiça e igualdade no Brasil.

Colônia
A mulher negra na situação de escrava sofreu as consequências da negação dos vestígios de
humanidade, com exploração de todo tipo, notadamente física e sexual. Também, as mulheres
indígenas que resistiam sofriam violência de maneira cruel.
→ Caso: Honorata era uma escrava de aproximadamente 12 anos, virgem, que foi “deflorada”
por seu senhor (estuprada). Ela conseguiu levar os fatos ao conhecimento das autoridades,
mas durante o processo teve de permanecer sob a guarda do seu senhor, que foi acusado
pelo crime do art. 219 do Código Criminal: “deflorar mulher virgem, menor de 17 anos”, cuja
pena era de desterro e necessidade de constituição de dote. No entanto, a acusação foi
afastada sob dois argumentos formais:
→ Primeiro, em caso de escravos, quem possuía a legitimidade para realizar uma acusação
era o próprio senhor do escravo, o que não havia ocorrido no presente caso.
→ Segundo, o de que ele não poderia ser punido, pois a pena não faria sentido: se desterrado,
Honorata deveria, como sua propriedade, acompanhá-lo. E não poderia haver constituição
de dote, pois ela era escrava e não poderia se casar.
→ Conclusão: uma criança escravizada poderia ser estuprada livremente por seu senhor.

Atualmente:
A residência é o principal local no qual as mulheres são vítimas de violência.
Há também uma enorme cifra oculta com relação a esse tipo de crime.
→ Motivos: vergonha, sentimento de culpa, medo do autor, receio da conduta dos agentes
públicos, etc.
→ Estimativa de casos de estupro por ano no BR: 822 mil, o equivalente a 2 por minuto.
→ Apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de
saúde (IPEA, 2023).

“Cultura do estupro” = termo utilizado no feminismo estadunidense desde os anos 1970 para se
referir a um conjunto de comportamentos e ações que toleram o estupro praticado contra
mulheres em nossa sociedade. A expressão ganhou notoriedade no Brasil após o estupro coletivo
praticado contra uma adolescente de 16 anos, na cidade do Rio de Janeiro, em 2016.
→ A criminologia feminista destacou o processo de revitimização pelo qual passam as
mulheres vítimas de estupro.
Efeitos sociais para o estuprador: há efeitos que decorrem do etiquetamento de “estuprador” que
impõem uma especial gravidade no cumprimento de pena desse tipo de crime.
→ O estigma do estuprador impede sua aceitação no chamado “mundo do crime”, em
especial nas prisões. Tais pessoas não podem conviver com as demais sob risco de morte.
→ Em razão disso, cumprem pena em espaços conhecidos como “seguro” ou mesmo em
prisões que abrigam apenas pessoas condenadas por crimes sexuais, como o Presídio
José Parada Neto, em Guarulhos-SP.
→ Em decorrência de estarem sob constante ameaça, tais presos precisam se sujeitar por
completo à administração prisional, já que estão sob sua proteção, e qualquer reclamação,
ainda que justa, pode ter como consequência o fim da proteção e a transferência.
→ Assim, na prática, cria-se uma classe de presos que não pode reclamar por seus direitos,
motivo pelo qual submetem-se às piores condições de aprisionamento no sistema
penitenciário brasileiro.
→ Materialmente, portanto, é o crime que tem o cumprimento de pena mais dura.

Histórico legislativo

O DP preocupou-se sempre em categorizar a mulher na condição de sujeito passivo dos crimes


sexuais, mas com preocupação moralizante, conferindo diferentes tratamentos dependendo da
mulher: virgem, honesta e prostituta.

Ordenações Filipinas (título XVI): referências à mulher virgem, viúva honesta e à escrava branca de
guarda a diferenciar a resposta penal.

Código Criminal do Império (1830): previa o estupro contra mulher honesta, com penas de prisão e
pagamento de dote; porém, se a vítima fosse prostituta, a pena seria reduzida. Ademais, a
punibilidade poderia ser extinta com o casamento.

Código Penal de 1890: mantem-se a ideia de que o estupro somente é praticado em face de mulher
honesta (virgem ou não). Mas, se a mulher fosse “pública ou prostituta”, redução de pena.
Também trazia o crime de adultério ou infidelidade conjugal, dirigido exclusivamente à mulher
casada (no caso de maridos, demandava-se a manutenção de um concubinato, uma relação
estável).

Código Penal de 1940: no título “Crimes Contra os Costumes”, previu que o estupro somente
poderia ser praticado por homens e contra mulheres. Havia outra figura (atentado violento ao
pudor) para o constrangimento para ato diverso da conjunção carnal. Também manteve a previsão
de “mulher honesta” nos demais crimes sexuais que continha. Procedia-se somente mediante
representação.
→ A doutrina não recebeu o termo “mulher honesta” com maiores preocupações até
praticamente a virada do século.
→ Outra questão que teve apoio doutrinário foi o “direito do marido a ter relações sexuais
com a mulher”, sendo inexistente o estupro entre marido e mulher, que não poderia de opor
à vontade masculina.
→ Os chamados “crimes contra os costumes” adentraram o século XXI e só sofreram
alteração em 2005 por reforma legislativa efetivada pela Lei 11.106/2005.
Lei 11.106/2005: importante lei que:
→ Descriminalizou os crimes de sedução e rapto;
→ Retirou a categoria de “mulher honesta” do CP.
→ Retirou a extinção da punibilidade pelo casamento nos crimes sexuais.

Lei 12.015/2009: marco importantíssimo (com alguns problemas de redação, é verdade):


→ Crimes "contra os costumes" passam a ser considerados "contra a dignidade sexual";
→ Crimes em que a vítima só poderia ser mulher (ex. estupro) passam a ter, como sujeito
passivo, qualquer pessoa.
→ Unificou o estupro (era somente conjunção carnal) e o atentado violento ao pudor (atos
libidionsos) no Art. 213 do Código Penal, inserindo no rol de crimes hediondos.
→ Incluiu no CP o estupro de vulnerável no Art. 217, também crime hediondo.

Lei 13.718/2018: trouxe outras três importantes inovações na matéria.


→ Criminalizou a importunação sexual no Art. 215-A (revogando a contravenção penal do Art.
61) da Lei de Contravenções Penais.
→ Incluiu as figuras do estupro coletivo e corretivo como formas qualificadas do crime de
estupro.

A conformação atual e suas decorrências dogmáticas


Recusa da noção de bem jurídico no costume: aspecto tão vago e sujeito a interpretações
subjetivas como os bons costumes legitimava o antigo estado de coisas.
Atualmente, fala-se em dignidade sexual ou autodeterminação sexual das pessoas, a capacidade
de uma pessoa poder escolher sua disponibilidade sexual.
Ainda há moralismos e preconceitos não apenas na legislação como também na jurisprudência.
Sobre esta última, destacase a emblemática decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
em que se rechaça a possibilidade de crime sexual apenas porque o indivíduo encontrava-se em
local de sexo grupal.
“Apelação criminal. Atentado violento ao pudor. Sexo grupal. Absolvição. Mantença. Ausência de
dolo. 1. A prática de sexo grupal é ato que agride o amoral e os costumes minimamente
civilizados. 2. Se o indivíduo, de forma voluntária e espontânea, participa de orgia promovida por
amigos seus, não pode ao final do contubérnio dizer-se vítima de atentado violento ao pudor. 3.
Quem procura satisfazer a volúpia sua ou de outrem, aderindo ao desregramento de um bacanal,
submete-se conscientemente a desempenhar o papel de sujeito ativo ou passivo, tal é a
inexistência de moralidade e recto neste tipo de confraternização. 4. Diante de um ato
induvidosamente imoral, mas que não configura o crime noticiado na denúncia, não pode dizer-se
vítima de atentado violento ao pudor aquele que ao final da orgia viu-se alvo passivo do ato sexual.
5. Esse tipo de conchavo concupiscente, em razão de sua previsibilidade e consentimento prévio,
afasta as figuras do dolo e da coação. 6. Absolvição mantida. Apelação ministerial improvida”.
TÍTULO VI - DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CAPÍTULO I - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.

Sujeito passivo: qualquer pessoa, independentemente de gênero.


→ Antes, poderia não ser aplicado em caso de cônjuge (débito conjugal) ou prostituta (mulher
não honesta).

Tipicidade objetiva: Constranger = forçar, compelir, obrigar a pessoa.


→ Conjunção carnal: contato de carne, interpretado como introdução peniana na vagina.
→ Ato libidinoso: problema - é um tipo penal aberto, possível tratamento desproporcional de
condutas sem a mesma gravidade. Para o prof., há violação ao princípio da legalidade.
- Condutas invasivas perfazem o tipo: sexo anal, oral, introdução de objeto. Ou seja,
outro ato libidinoso equiparado à conjunção carnal.
- E condutas menos invasivas? Beijo lascivo, contemplação lasciva, passada de mão?
Nesses casos, é possível haver a desclassificação para Importunação Sexual.
- No caso de estupro de vulnerável, há um maior rigor interpretativo e essas figuras
menos invasivas podem configurar sim estupro de vulnerável.

Divergência: se a pessoa pratica mais de uma das figuras, é crime único ou continuado? Principal
corrente: crime único.

O dissenso da vítima não precisa acompanhar a vítima durante todo o ato sexual. Pode começar
consensual, mas se surgir um dissenso no meio do ato e a outra pessoa não para, é estupro.

Modus operandi: violência ou grave ameaça. Além da própria vítima, a grave ameaça pode se
voltar a terceiro.

Tentativa: o constrangimento violento ou ameaçador não é seguido da invasão sexual.

Aumento de pena: está no fim do título, nas disposições gerais:


→ Estupro coletivo: mediante concurso de dois ou mais agentes.
→ Estupro corretivo: controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

Qualificadoras:

§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 ou


maior de 14 anos:
Pena - reclusão, de 8 a 12 anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.
Atentado violento ao pudor (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com
ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.

→ Era o atentado violento ao pudor. O estupro só se aplicava a mulheres, o atentado a todos.

Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos:

Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.

§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2º (VETADO)

§ 5º As penas previstas neste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima


ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

Sujeito passivo: vulnerável (menor de 14 anos, deficientes mentais e pessoas que no momento
estão incapazes de oferecer resistência).
→ Criança: jurisprudência x doutrina. ECA - criança é até 12 anos.
- Entre adolescentes, não se criminaliza a conduta (mesmo se for de 15 e de 13).
Formalmente, seria um ato infracional. Mas é irracional e não se criminaliza esse tipo
de conduta.
- PS: pessoa de 15 anos que tem relação consensual, sem violência ou grave ameaça,
com pessoa de 50 anos: não é estupro.
→ Questão: deficientes mentais não podem ter sua liberdade sexual ceifada.
- Estatuto da Pessoa com Deficiência, Art. 6º: A deficiência não afeta a plena
capacidade civil da pessoa, inclusive para: II-exercer direitos sexuais e reprodutivos.
- Isso não significa que a pessoa pode praticar sexo livremente, mas as coisas têm que
ser avaliadas no caso concreto.
- Ou seja, se uma pessoa com deficiencia mental esta transando, não é logo de cara
estupro de vulnerável, tem que se avaliar a intensidade do transtorno mental.
→ Incapacidade de oferecer resistência: embriaguez, pessoa dopada.

Violência é presumida: não importa se tem violência, grave ameaça OU MESMO se houve
consentimento da vítima.

Estupro por omissão: É possível, em caso de crimes omissivos impróprios. Aqueles em que a
pessoa, devido à sua posição de garantidora do bem jurídico (garante), tem o dever de agir para
evitar determinado resultado, mas não o faz, mesmo podendo, e assim contribui para tal desfecho.
→ Ex: mãe que não impede estupro de filha pelo padrasto.

Hipóteses limites são discutidas no caso concreto.


→ Ex: menina de 11 namora com cara 15 e ao longo dos anos, continuam o relacionamento e
começam a ter relação sexual. Quando ela tem 13, ele tem 17, mas aí completa 18 antes
dela completar 14. Pode ser processado por estupro?
Qualificadoras:

§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena - reclusão, de 10 a 20 anos.
§ 4º Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 a 30 anos.

Violação sexual mediante fraude

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
Estupro: é mediante violência ou grave ameaça.
Violação sexual mediante fraude: é mediante fraude, indução ao engano ou com a possibilidade de
livre manifestação de sua vontade turbada.
→ Erro sobre a identidade do agente: caso do irmão gêmeo idêntico.
→ Erro quanto à legitimidade da prática sexual ou libidinosa: ato sexual consentido ao
curandeiro para fins de se supostamente atingir a cura da doença.
→ João de Deus, curandeiro.
→ Furar camisinha? Por si só parece que não vai ser fraude.

Nem toda fraude caracteriza o crime, apenas aquela de relativa gravidade que leva a erro sobre a
identidade do agente ou acerca da legitimidade da prática sexual ou libidinosa.

Não abrange a hipótese em foco o erro sobre o estado civil do agente, a sua condição econômica
ou importância social.

Importunação sexual

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído - Lei 13.718/2018)

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, se o ato não constitui crime mais grave.

Antes da inclusão desse artigo, não havia um meio termo entre o crime de estupro e a
contravenção penal de Importunação ao pudor (art. 61, LCP) - que, inclusive, foi revogado.
→ Mudou com o caso do cara que ejaculou na moça no ônibus. Porque não é bem esturpo,
nem a contravenção penal.
→ Ex: cara que apertou a bunda da mulher no elevador.

Crime que opera sobre vítimas adultas. Quando a vítima é menor, a doutrina/jurisprudência
identifica como estupro de vulnerável.
Tipicidade objetiva: Praticar contra = traz a ideia de que o ato libidinoso deve ser dirigido a uma ou
a algumas vítimas específicas.
→ Ou seja, masturbação direcionada a uma vítima determinada, é importunação (Art. 215-A).
→ Mas masturbação em público, sem alguém específico em mira, é ato obsceno (Art. 233).

Ato libidinoso: atitude voluptuosa, revestida de conotação sexual, destinada à satisfação da


lascívia.
→ Conjunção carnal, sexo oral e anal, por sua gravidade, não integram o tipo penal da
importunação sexual.

“Se não constituir crime mais grave”: somente resta configurada a figura delitiva em destaque
quando não houver elementares de outros crimes sexuais, como estupro, violação sexual
mediante fraude e estupro de vulnerável.

Atentado ao pudor mediante fraude (Revogado pela Lei nº 12.015/2009)

Art. 216. Induzir mulher honesta, mediante fraude, a praticar ou permitir que com ela se pratique
ato libidinoso diverso da conjunção carnal: (Redação original do CP 1940)

Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal: (Redação - Lei 11.106/2005)

Assédio sexual (Incluído pela Lei 10.224/2001)

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função.

Pena – detenção, de 1 a 2 anos. Parágrafo único. (VETADO)

§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 anos.

Foi a primeira manifestação na lei penal que se deu em razão do movimento feminista, em 2001.

Bem jurídico: autodeterminação sexual + normalidade nas relações de trabalho.

Tipicidade objetiva: constranger = importunar, embaraçar, aborrecer, molestar.

→ Crítica: “constranger”, neste tipo penal, não tem o mesmo significado que no crime de
estupro; não significa “forçar”.
→ No geral, deve ocorrer com insistência. Mas algum molestamento sério, ainda que por ato
único, pode configurar o tipo.
→ Ex.: beijar o pescoço da vítima ou apalpar-lhe as nádegas no local de trabalho, convidá-la
para o motel, condicionar a sua promoção ao sexo.
→ "Limitada e educada paquera" (elogios pontuais, breves e gentis, um único convite para
jantar ou um único flerte): atipicidade. Ultima ratio do direito penal.
→ Atenção: a ação constrangedora deve ser idônea para incutir medo, insegurança. Se for
tamanho a ponto de ser grave ameaça (tranca na sala o funcionário e exige sexo) o crime
será de estupro, consumado ou tentado.
Crime próprio: não distinção acerca do gênero dos sujeitos ativos e passivos.

→ Sujeito ativo: indivíduo com superioridade hierárquica ou ascendência em relação à vítima,


necessariamente, em relação de trabalho.
→ Sujeito passivo: indivíduo em uma posição de subordinado, subalterno, em relação ao
agente do crime.

Assédio, no geral, é crime? Não, somente assédio sexual (relacionado a questões LABORAIS).
→ Assédio fora das relações de trabalho: pode ser stalking, crime contra a honra, etc. A não
ser tb que se manifeste de maneira mais grave.
→ Mas quando falamos corriqueiramente em assédio geralmente pensamos em condutas
que caem em importunação sexual.

Ambiente de trabalho: exercício de emprego, cargo ou função.


→ Não precisa ser necessariamente no trabalho, pode ser na festa da firma. Ou seja, a vítima
pode sofrer assédio sexual fora desse ambiente, desde que o agente se valha das
condições de ascendência.
→ Relação docente x discente: divergência doutrinária.
- LR Prado: poderia ser contemplado como assédio sexual (relação de ascendência).
- PC Busato: não admite por ser uma interpretação extensiva do direito penal.

CAPÍTULO I-A - DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL

Registro não autorizado da intimidade sexual (Incluído - Lei 13.772/2018)

Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou
qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo.

Tipificação veio em 2018, com má redação legislativa. O título do Capítulo I-A (Exposição da
intimidade sexual) destoa da rubrica e do conteúdo do art. 216-B, que trata do simples registro não
autorizado da intimidade sexual.

Registro: registro por qualquer meio, inclusive capturas sonoras.


→ Exemplos: filma ato sexual de terceiros por câmeras escondidas no imóvel que aluga;
fotografa cenas de nudez dos vizinhos; filma a relação com a parceiro sem o seu
consentimento; fotografa por debaixo da saia da vítima.
→ Filmar pés não chega a ser crime porque não é nudez.
→ Parcialmente desnuda: é preciso haver análise do contexto. Se o registro ocorrer na praia,
no carnaval, não ocorre o comportamento invasivo que a lei procura vedar, visto que a
vítima se expôs publicamente. O consentimento do ofendido afasta a tipicidade do delito.
Exposição: tornar tal registro acessível a número indeterminado de pessoas, tipificado no Art.
218-C (que também tem uma redação horrível, mistura coisas de gravidades diferentes).
→ Concurso de crimes: se a intenção inicial do agente é efetuar o registro para sua própria
satisfação sexual e depois resolve divulgar o conteúdo (Art. 216-B e 218-C).
→ Mas: se filmar já com o intuito de divulgar, o registro (meio) fica absorvido pela divulgação
(crime fim). Mesma coisa com relação à extorsão.

Armazenamento: armazenar vídeo íntimo de pessoa maior de idade não é crime.


→ Mas: se a pessoa for menor de idade, é crime pelo ECA.

CAPÍTULO II - DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

Divulgação de cena de estupro ou estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar
ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de
informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de
estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:

Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Problemas de redação:
→ Por mais que esteja no capítulo de crimes contra vulnerável, não se aplica somente a
vítimas vulneráveis.
→ Ademais, o tipo mistura condutas de gravidades diferentes: divugação de foto de pessoa
seminua e divulgação de vídeo de estupro, por exemplo.

Vítima for menor de 18 anos: tem uma série de crimes no ECA (Arts. 240, 241, 241-A e 241-B).

Receptor: a pessoa que recebe a mídia que foi disseminada pelo agente, nada fazendo a respeito
(não retransmitindo, distribuindo, vendendo etc.), não comete o delito do art. 218-C. Porém, no
caso de registro de cena sexual ou pornográfica de menor de 18 anos, o receptor deve, ao tomar
ciência de seu conteúdo, promover à sua exclusão imediata, sob pena de ser-lhe atribuída a prática
do crime previsto no art. 241-B do ECA, nas modalidades possuir ou armazenar.

Aumento de pena

§ 1º A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha
mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
→ Caso da pornografia de vingança.

Exclusão de ilicitude

§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput em publicação de


natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite
a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 anos.
Sedução (Revogado - Lei 11.106/2005)
Art. 217. Seduzir mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de quatorze, e ter com ela
conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança:

Estupro de vulnerável [tratado acima]

Corrupção de menores

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de 2 a 5 anos.

Parágrafo único. (VETADO)

Tipicidade objetiva: Induzir = incutir uma ideia, criar um propósito inexistente, convencer.

→ Pode se dar com ou sem promessa de vantagem de qualquer tipo (mediante pagamento,
presentes ou mesmo porque cedeu a argumentos do agente de que seria bom para a sua
maturidade, por ex.).

Problema: mistura com outros tipos penais.


→ Existe outro crime de corrupção de menores (244-B, do ECA). Legislador simplesmente
esqueceu desse fato. O crime do ECA, no entanto, não se trata de crime sexual. Trata-se da
prática de crimes em concurso com pessoa menor de 18 anos.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la.
→ Corrupção de menores x Estupro de vulnerável: há uma linha muito tênue. A corrupção do
Art. 218 abarca comportamentos não invasivos não invasivos de práticas contemplativas,
pois a maioria dos comportamentos lascivos, no caso de vulneráveis, configura estupro de
vulnerável. Neste caso, o sujeito indutor seria coautor do estupro de vulnerável.
- Ex: atividades de observação da vítima tirando a roupa, fazendo poses eróticas,
dançando nua, realizando um striptease etc. (*)
→ Se a vítima for maior de 14 anos, o delito será o de Mediação para servir a lascívia de
outrem na forma simples (art. 227, caput).

→ A terceira pessoa precisa ser certa e determinada: tratando-se da satisfação da lascívia de


pessoas indeterminadas, art. 218-B (divulgação).

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar,


conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:

Pena - reclusão, de 2 a 4 anos.

O agente realiza ato sexual ou libidinoso consciente de que é assistido por um menor de 14 anos.
O menor de 14 anos tem de assistir aos referidos atos, sem participar deles. Presença física.

→ Material pornográfico: art. 241-D do ECA.


Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente
ou de vulnerável

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:

Pena - reclusão, de 4 a 10 anos.

§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

§ 2º Incorre nas mesmas penas:

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de
14 anos na situação descrita no caput deste artigo;

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas


referidas no caput deste artigo.

§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da


licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

Vítima menor de 14 anos submetida à prostituição e chegar a praticar relação sexual ou libidinosa,
é estupro de vulnerável.
→ E o agente que contribuiu para a prostituição da vítima responde exclusivamente como
partícipe do crime mais gravoso.

Abrange figuras de diversa gravidade.

Havia a figura de prostituição infantil no Art. 244-A do ECA (incluído em uma lei de 2000). Houve
revogação tácita desse artigo do ECA pelo Art. 218-B do CP (incluído em 2009).
→ Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta
Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Incluído - Lei 9.975/2000)

Porém, em 2017, veio uma lei que aumentou a pena do Art. 244-A do ECA, havendo revogação
parcial do CP.
→ Pena – reclusão de 4 a 10 anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na
prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade
da Federação em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
(Redação - Lei 13.440/2017)

Ou seja: como o Código Penal é mais amplo que o ECA, ele apenas vigora não é abarcado no ECA.

CAPÍTULO III - DO RAPTO

(Arts. 219, 220, 221, 222 → REVOGADOS)


CAPÍTULO IV - DISPOSIÇÕES GERAIS

(Arts. 223 e 224 → Revogados)

Disposições Gerais

Ação penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada. Parágrafo único. (Revogado).

→ Antes era condicionada à representação da vítima, hoje já não é mais.

Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada:

I - de 1/4, se o crime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas;

II - de 1/2, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,


tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela;

III - (Revogado)

IV - de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado:

a) Estupro coletivo → mediante concurso de 2 ou mais agentes;

b) Estupro corretivo → para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.

CAPÍTULO VII - DISPOSIÇÕES GERAIS


(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Aumento de pena

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:

I - (VETADO);

II - (VETADO);

III - de 1/2 a 2/3, se do crime resulta gravidez; (Redação - Lei 13.718/2018)

IV - de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe
ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência. (Redação
- Lei 13.718/ 2018)

Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de
justiça.

Art. 234-C. (VETADO).encínio e Prostituição


CAPÍTULO V - DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
(Redação dada pela Lei 12.015/2009)
Lenocínio e Prostituição
A redação original desses artigos foi mudada em 2009. O bem jurídico tutelado passou de “crimes
contra os costumes” para “crimes contra a dignidade sexual”.
→ Professor convidado prefere o termo autonomia ou autodeterminação sexual. Ele acha que
dignidade sexual ainda carrega moralismos.

Lenocínio: assistência à libidinagem de outra pessoa (está muito associada à prostiuição).

Prostituição: práticas de atos sexuais voluntários mediante algum tipo de vantagem.

Exploração sexual: forma de constrangimento. Submeter outrapessoa à situação de prostituição


contra a vontade dela.
→ A voluntariedade é importante para separar a prostituição da exploração sexual. Nem
sempre é uma linha tão fácil de ser marcada (em casos de pessoas que são levadas a essa
situação por questões sociais e econômicas).
→ Jurisprudência: em menor de 18 anos, presume-se a exploração sexual.

Há diversos modelos ao redor do mundo:


→ Proibicionista: criminalização do cliente e do lenocínio (cafetão) - alguns estados dos EUA;
→ Neoproibicionista: não criminaliza a atividade, somente o cliente - alguns estados dos EUA;
→ Regulamentador: prostiuição pode ser exercida, mas com regras (ex: espaços específicos,
exigências de leis sanitárias).
→ Abolicionista: criminaliza-se o entorno da prostiuição, somente o lenocínio (não há crime
para o cliente ou a prostituta/o) - Brasil.
- Esse modelo que adotamos acaba por dificultar a existência das/os prostitutas/os.
- E há uma quantidade de pessoas que fazem isso de forma voluntária.
→ Laboral: a pessoa prostituída tem direitos trabalhistas como qualquer outro trabalhador -
Holanda.
DÚVIDA

Mediação para servir a lascívia de outrem


Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
Problema: abarca qualquer situação! Mesmo em situações sem violência, fraude, etc.
Consumação: seria no ato de induzimento -quando a pessoa convencida se comporta no sentido
pretendido pelo autor, satisfazendo a lascívia de outrem.
Tentativa: sim.
Se o induzido for menor de 14 anos = Art. 218.
Qualificadoras
§ 1º Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, ou se o agente é seu ascendente, descendente,
cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de
educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.
→ Único caso que o artigo parece ter algum tipo de legitimidade.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual


Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
→ Há correntes que apontam que há um problema na redação do artigo por conta da
equiparação da prostituição com a exploração sexual. Sendo que, na teoria, uma seria
voluntária, a outra não.
→ Outro problema: se você vê voluntariedade e autodeterminação na prática da prostituição,
a indução, atração ou facilitação não apresentariam ofensivdade ao bem jurídico de
autodeterminação sexual.

Tipicidade obetiva: existem dois momentos, um anterior à prostituição (indução ou atração) e


posterior (facilitação e impedimento ou dificultamento ao abandono).

Tipicidade subjetiva: dolo.

Crime comum: qualquer pessoa pode praticá-lo, mas a vítima precisa ser maior de 18 anos e
capaz (se não, incide o Art. 218-B).

Consumação: pode se dar de duas formas:


→ Indução ou atração: quando, por conta do comportamento do autor, a pessoa começa a
praticar a prostituição.
→ No caso do impedimento ou dificultamento à saída, há divergência doutrinária a respeito de
ser um crime pontual (no momento em que o agente impede/dificulta) ou permanente
(somente cessando quando a pessoa deixa a prostituição).

Qualificadas
§ 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação
de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos.
→ Diante do dever de proteção, a reprovabilidade da conduta desses agentes é mais elevada.
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, além da pena correspondente à violência.
→ Fraude: forma de viciar a vontade. Porém, se você entende a prostituição como algo sem
voluntariedade, qualquer entrada na atividade, terá vício de vontade.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.


Diferença com relação ao Art. 218-B (Favorecimento da prostituição ou de outra forma de
exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável)
→ Sujeito passivo diferente: alguém menor de 18 anos ou vulnerável.
→ Bem jurídico tutelado é o mesmo? É difícil falar em autodeterminação sexual de pessoa
menor de 14 anos. Mas mesmo entre 14 e 18 anos, a consciência, personalidade e desejo
sexual ainda não está bem formada. Bem jurídico pode ser o bom desenvolvimento
psicológico e físico de criança e adolescente.
→ Criminalização do cliente: no caso do Art. 218-B, o cliente incide nas mesmas penas.
→ E o intermediário: a doutrina majoritária acha que é necessário que haja um intermediário
para que exista o crime. Doutrina minoritária e jurisprudência (STJ) acha que não é
necessário que haja um intermediário na prostituição para que se consume o crime do
218-B.

Casa de prostituição
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração
sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
→ Redação original: “casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso”.
Motel, casas de swing, saunas, etc. eram criminalizadas. Isso só cai em 2009.
→ Redação atual: inclui apenas exploração sexual, não prostituição. Na visão do prof.
visitante, a redação não tem problemas e está correta. Porém, o título do crime fala em
“casa de prostituição”.
→ Jurisprudência - STF (2001): condenou uma casa de prostituição, equivalendo a
prostituição com a exploração sexual. O STF não enfrentou mais esse crime recentemente.
→ Jurisprudência mais atual - STJ (2018): alterou o entendimento do tribunal, deixando claro
que a exploração deve ser lida como a violação da liberdade pessoal.
→ Qual é a vítima desse crime? Apesar de não estar aparente no tipo penal, o professor
entende que deve ser a pessoa submetida à exploração sexual, e não a coletividade (pois já
não se trata mais de crimes contra os costumes).
→ Crime permanente: enquanto a casa de exploração sexual estiver sendo mantida, há a
ocorrência de crime.
→ Tipo subjetivo: dolo de manutenção do estabelecimento no qual se sabe que existe
exploração sexual.
- Não se criminaliza o proprietário que aluga um imóvel sem saber a finalidade.
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
→ Rufianismo: é o cafetão, a pessoa que tira proveito da atividade de prostituição de forma
parasitária.
→ Exemplo claro de criminalização do entorno da prostituição.

Consumação: é um crime habitual.


→ Crime habitual: eu preciso realizar vários atos da mesma natureza para que se conforme
um crime. Difere do crime permanente pq os atos aqui são pontuais, mas vários.
→ Pegar dinheiro uma vez de uma pessoa que está exercendo a prostituição não configura
rufinismo.
→ Isso é importante para definir o momento da consumação.A partir do momento em que há
essa habitualidade, o crime está aperfeiçoado (consumado).

Qualificadas
§ 1º Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por ascendente,
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
→ Vítima = pessoa exercendo a prostituição.

§ 2º Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça
ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
→ Importante. É o único dispositivo que fala em livre manifestação da vontade.

Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (REVOGADOS)


Arts. 231, Art. 231-A, Art. 232.

Promoção de migração ilegal


Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal
de estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
Antes, os artigos revogados (231, 231-A e 232) tinham como objetivo previnir o tráfico de pessoas
para o fim de exploração sexual. Esses artigos foram revogados e foi incluído o Art. 232-A, que
não tem nada a ver com exploração sexual, não objetiva proteger o bem jurídico da dignidade ou
autodeterminação sexual.
O Art. 149-A é o artigo que na verdade se volta contra o tráfico para fins de exploração sexual
(crime contra a liberdade individual).
→ De 2012 a 2019 = tivemos mais de 5 mil denúncias de tráfico humano. Imagina a
quantidade NÃO COMUNICADA às autoridades. Ou seja, aqui existe de fato um interesse
verdadeiramente relevante a er tutelado (lembrando, na visão do prof. visitante, a
prostituição de livre vontade não ensejaria uma proteção do DP).
→ Agr em RE STJ 1.625.279 (2020)= não consegui ouvir direito, ver a ementa.

§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem
econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país
estrangeiro.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se:
I - o crime é cometido com violência; ou

II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.

§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações
conexas.

Ultraje Público ao Pudor

CAPÍTULO VI - DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

Ato obsceno

Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:

Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

Bem jurídico: pudor público, sentimento coletivo de vergonha perante alguns atos.
→ Não é o pudor individual de quem viu uma pessoa pelada na rua. É o pudor coletivo. Está
na lógica dos crimes contra os costumes.
→ PS: existe uma corrente minoritária que tenta salvar o artigo dizendo que na verdade o bem
tutelado é a liberdade individual da pessoa que não é obrigada a ficar vendo pessoas
peladas em público.

Condutas que o TJ recentemente julgou como atos obscenos: urinar na rua, masturbação, sexo no
carro, sexo em praça pública. Também julgaram um caso de andar de cueca na rua (mas foi
julgado como fato atípico, não consideraram ato obsceno).

Tipicidade objetiva: Praticar ato obsceno


→ Conduta ativa, fazer algo para configurar o tipo.
→ Mas o que é ato obsceno, conceitualmente? Dogmaticamente, ele é considerado um
elemento normativo, ou seja, que demanda uma interpretação profunda para você extrair o
seu conteúdo.
→ Hungria o definia como qqr ato que ofenderia o sentimento médio contra os costumes,
atos somente de natureza somente sexual e deve ser visto à luz do contexto em que é
produzido (fazer coisas na Peruada é diferente de fazer as mesmas coisas num dia
comum na frente de uma escola). Adequação social entra pra excluir a tipicidade de alguns
comportamentos que pra uns seria obsceno e pra outros seria normal (ex: topless, beijo
intenso em público).

Legislador estabeleceu três lugares em que os atos não podem ser cometidos:
→ Lugar público = pleno acesso ao público (rua, avenida, shopping praça);
→ Lugar aberto ao público = é aberto, mas vc precisa de título pra entrar (teatro, cinema,
museu);
→ Lugar exposto ao público = lugar privado que pessoas em lugares públicos podem
visualizar (transar no carro, na varanda, no jardim de uma casa).

Se o ato obsceno for praticado em lugar privado, ele não é típico. E se o observador se esforça pra
ver o ato, a conduta tb não é típica.

Tipicidade subjetiva: dolo, vontade de praticar o ato obsceno. Irrelevante se o animus é jocante, se
é pra vender, se é pra satisfazer a lascívia de terceiro.

Consumação: para a doutrina, é a prática do ato, irrelevante se alguém viu ou se ofendeu.

Legitimidade: faz sentido a criminalização desse tipo penal? Coisas que o prof. aponta:
→ Pro prof., há um problema de taxatividade muito clara - ato obsceno é uma expressão
muito ampla e tira qualquer sorte de segurança jurídica.
→ Bem jurídico também é um problema - o ultraje público ao pudor. Vc acaba por limitar o
autodesenvolvimento da personalidade das pessoas. Ao criminalizar atos que atentem
contra um suposto pudor público (ex: beijo forte), você tá impondo uma moral dominante.
Direito penal não deveria intervir - ultima ratio - são condutas que muito bem poderiam ser
resolvidas por outros meios - ex: urinar na rua - SP e Rio têm leis específicas pro caso de vc
ser pego urinando na rua, vc toma uma multa de 500 reais. simples e fácil.
- E as exceções que são mais graves, elas podem ser encaixadas em importunação
sexual.
Há ainda um cenário mais grave quando se usa esse crime pra censurar manifestações artísticas
e políticas de diversas naturezas.
→ Ex: na época do Bolsonaro, várias exposições artísticas que continham nudez foram
censuradas e o artistas processados por ato obsceno.
→ Ou seja, censura a arte, a liberdade de expressão, manifestação e pensamento.

Escrito ou objeto obsceno

Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de
distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto
obsceno:

Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.

Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:

I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição
cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo
caráter;

III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de
caráter obsceno.

As críticas que recaem ao ato obsceno podem ser rigorosamente feitas ao objeto obsceno.
Ou seja, sex shop, qqr loja que venda camisetas com alguma estampa de nudez, todas as
plataformas de pornografia.
→ O consumidor não está abarcado (o adquirir é adquirir para fins de comércio), somente o
vendedor
→ Se o MASP trouxer qqr quadro de nudez, ele tá enquadrado nesse artigo.
→ Cinema com nudez não pode tb.

Mas não há aplicação jurisprudencial desse artigo, caiu em desuso. Adequação social.
Extras

Reclusão e Detenção = são regimes jurídicos diferentes de PPL.

a) Detenção: para crimes mais leves


→ regime aberto ou semiaberto
→ Mas: se a pessoa cometer uma falta grave, a maioria da jurisprudência entende que pode
regredir de regime e ir pro fechado. Alguns acham que não.
→ Progressão só pode ir de um regime pro imediatamente do lado. A regressão pode ir do
aberto pro fechado (pular)..
→ A questão é = se um crime é punido com detenção, a jurisprudência entende que vc pode
regredir pro fechado. Ou seja, detenção/regressão do tipo penal é somente o regime
INICIAL.

b) Reclusão: para crimes mais graves


→ regime fechado, semiaberto ou aberto

PS: na medida de segurança (Art. 98), define-se o que é detenção/reclusão, mas tá caindo em
desuso, ninguém aplica.

REVISÃO - APLICAÇÃO DA PENA - INTRODUÇÃO

Autor que o prof. gosta que estuda a aplicação da pena - Salo de Carvalho. Existem pouquíssimos
que se debruçam de forma séria.

primeira etapa => só vai se aplicar se houver penas alternativas PPL OU multa.
→ se não houver justificativa de gravidade, ele tem que escolher a mais leve (multa)
→ se ele quiser aplicar a PPL, tem que fundamentar.
→ são poucos os crimes que tem esse tipo de pena alternativa.

segunda etapa => critério trifásico

primeira fase - circunstâncias judiciais (art. 59).


→ culpabilidade: prof diz que juízes às vezes fazem menção a “intensidade do dolo”, “grau da
culpa”, que eram conceitos que estavam no código anterior. eles foram eliminados. dolo e
culpa não são analisados aqui há muito tempo, são analisados na tipicidade do crime. o
pode se fazer aqui é analisar se aquela conduta foi mais gravosa do que aquela prevista no
tipo penal, valorizando-a negativamente.
→ conduta social: modo de ser na família e na comunidade, mas quando que a conduta social
seria suficientemente grave pra interferir na pena? além disso - essas condutas sociais não
foram postas à prova em julgamento. Jéssica: essa circunstância só poderia ser usada
para abrandar a pena. propostas de reforma do código sempre tentam tiram esse negócio.
→ personalidade: não tem precisão conceitual.
→ motivos: além dos motivos já elencados nos tipos penais, pode haver outro motivo
encontrado no caso concreto. exemplo - ciúme. Só o que não pode é entrar no bis in idem.
→ circunstâncias: aspectos exteriores ao delito, modo de execução, meio utilizado, local, etc.
→ consequências: não pode ser o próprio resultado do delito. ex do motorista do uber - teve a
consequência de estupro da vítima. traumas precisam ser comprovados.
→ comportamento da vítima: origem sexista (pouco recato da íntima nos crimes contra os
costumes), por isso não é muito usado.
→ antecedentes: condenações que não configuram reincidência. antecedentes podem ser:
a. Extinção da pena entre 5 a 10 anos - até 5 anos é Reincidência (antes, não tinha
esse limite de 10 anos, criado na prática pelo STJ)
b. Fato anterior ao delito, mas TJ posterior.
c. contravenção penal não pode ser considerado reincidente? NÃO, tem que ser crime
e posse de drogas pra uso pessoal? TAMPOUCO - pq a pena é advertência. a ideia é
não usar ilícitos que não geram cadeia pra reincidência/maus antecedentes.
- professor: antecedentes + reincidência não configura bis in idem? tdo bem, podem ser
crimes diferentes, mas você ainda está julgando os antecedentes criminais duplamente
negativamente.
- PS: reincidente é mais grave por conta do cumprimento de pena - regime é mais grave,
depois quando começar a cumprir a pena, tudo é mais difícil, os prazos são mais longos.
ela incide em diversos momentos.
- mas e aí - como aumentar? o artigo não fala o quantum! a doutrina teve que se manifestar.
- parte da doutrina falou - olhar, são 8 circunstâncias, então cada um aumenta 1/8.
- mas a jurisprudência não acolheu - entende-se que o aumento deve ser de 1/6 por
cada circunstância (analogia com agravantes/atenuantes).

segunda fase - agravantes e atenuantes -> preponderante perguntar -> concurso de


agravantes/atenuantes
→ agravantes dão menos problemas pq elas não são tão abertas. maior obediência ao
princípio da legalidade do que na fase anterior.
→ Reincidência: cometimento de novo crime depois de TJ um crime anterior e até 5 anos da
extinção da pena.
- Livramento condicional: se vc ganhou o LC, os 5 anos começam a valer desde esse
momento, e não a partir da extinção da pena. (pegadinha de concurso)
- contravenção penal tem disposição específica. (art. 7º lei de contravenções)
- pena de multa e porte de droga pra uso pessoal não gera reincidência.
→ Atenuante: é mais amplo que as agravantes pq pode ser por outra circunstância relevante,
anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei (art. 66).
(exemplo - baixo grau de instrução ou vulnerabilidade social do agente, doença grave, tipo
sofreu um AVC depois do crime).
- Confissão: súmula 545 STJ - não precisa ser uma confissão plena, se ela confessar um
pouco, já incide.
- Questão sendo julgada no STJ ESTA SEMANA: art. 65 tá escrito SEMPRE. de que
maneira a jurisprudencia interpretou esse sempre? que não se aplica em caso de
diminuir a pena pra abaixo da pena base. ou seja, a interpretação da jurisprudência é
NEM SEMPRE. Sumula 231 do STJ consolidou a visão de que é NEM SEMPRE. PORÉM
essa discussão voltou ao STJ pra ver se essa súmula 232 vai ser cancelada ou não.
- A doutrina é unânima nesse caso de que pode abaixar pra mais baixo da pena base.
→ Circunstâncias preponderantes: prevalece a reincidência, os relacionados à personalidade
e os motivos.
- Ideia era; prevalente não se compensa integralmente. Ou seja, circunstância
prevalecente deveria ter aumento/diminuição maior/menor que 1/6, pra não poder ser
compensada integralmente,
- Na prática, não se faz isso e se compensa integralmente.
- Professor: esse artigo é muito mal escrito e mal compreendido - pelo que eu entendi,
nem ele entende muito bem.
- Acabou segunda fase é a pena provisória.

terceira fase - causas de aumento e diminuição


- não tem maiores complexidades.
- majorante = causa de aumento/diminuição.
- concurso de causas de aumento (concurso de majorantes) = tem duas, uma de 1/3 e outra
de 1/3. como faz?
- 6 anos + 1/3 = 8 + 1/3 = 10,7 anos
- 6 anos + 2/3 = 10 anos.
- POR ESSA RAZÃO TEM QUE SER SOMA DE FRAÇÕES - ou seja, 2/3.
- concurso de minorante (causas de diminuição) = nesse caso, tem que aplicar em seguida e
não somar! isso pq pode ir a 0.
- exemplo: diminuição de 2/3 e outra 1/3. não pode somar e aplicar pq se não vc
diminui de 1 e a pena dá 0.
- concurso de causas de aumento e diminuição = NÃO SOMA. aplica elas sucessivamente
(não importa a ordem).

CONCURSO DE QUALIFICADORAS - Você usa uma delas pra qualificar e a segunda como
circunstância judicial negativa.

REGIME
Reincidente = em princípio, pelo código, iria tudo pro fechado. Mas a jurisprudência atuou pra
mudar isso. geralmente, se é reincidente, sobe um grau nos regimes.
CJ negativa = tb é usada pra subir um degrau.

Prisão preventiva e detração=

Prova 1

Questão 1: Homicídio - matador de aluguel.


- Ciúme não é motivo fútil.
- Qualificadora do crime mediante pago se aplica somente ao matador.
- Fato de não ter pago o valor combinado não tem nenhuma influência - basta a promessa.
- 31 disparos de metralhadora - quantidade de tiros por si só não configura meio cruel, mas
pode qualificar por tornar mais difícil a defesa da vítima.

Questão 2: Lesão corporal no contexto do futebol.


- Não há crime nenhum.

Questão 3: Casos de aborto julgados pel STF


- Todos os casos relacionados com o momento de início da vida:
- Feto anencéfalo
- Barroso HC
- ADPF

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