Direito Penal - Parte Especial I e II
Direito Penal - Parte Especial I e II
Direito Penal - Parte Especial I e II
Introdução
Indicação Bibliográfica Introdutória - Criminologia
Crime e Castigo na Cidade: os repertórios da justiça e a questão do homicídio nas periferias de São
Paulo - Gabriel de Santis Feltran.
Homicídio
Bem jurídico: vida humana
→ Vida humana extrauterina: praticado contra qualquer pessoa após o início do parto.
→ Se o homicídio for praticado contra bebê antes do parto, é outro crime - aborto.
Crime comum: não exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo ou passivo do crime.
→ Sujeito ativo: qualquer indivíduo culpável.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa após o início do parto (rompimento da bolsa amniótica).
Consumação: morte.
→ Momento da morte: momento da morte encefálica (art. 3º Lei 9.434/97).
PARTE ESPECIAL
Homicídio Simples
III - Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
ou de que possa resultar perigo comum;
→ Meio insidioso: velado, dissimulado, revela maior malícia do agente e impossibilidade de
defesa por parte da vítima.
- Ex: veneno, troca de remédio, freio do carro.
→ Meio cruel: brutalidade fora do comum, aumentando gratuitamente o sofrimento da vítima.
- Ex: asfixia, fogo, tortura.
- Vários tiros ou várias facadas configura meio cruel? Depende (se morreu no primeiro
ou no último, p. ex). Depende da argumentação da defesa/acusação.
→ Tortura: homicídio por meio de tortura. Dolo no homicídio e a tortura foi apenas o meio.
- Tortura seguida de morte (Art. 1º, § 3º, in fine, da Lei 9.455/97): dolo na tortura e culpa
na morte (crime preterdoloso). O que diferencia é a intenção.
→ Meio que possa resultar perigo comum: pode causar dano a nº indeterminado de pessoas.
IV - À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
→ “Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido” é esta frase que faz
com que quase todos os homicídios sejam qualificados. Ex: facada pelas costas, sonífero.
→ Modos de execução: surpresa ocasionada na vítima, dificultando ou impossibilitando sua
defesa.
→ Traição: quebra de confiança, deslealdade.
→ Emboscada: tocaia, armadilha.
→ Dissimulação: expediente fraudulento.
[Vamos pular o inciso VI que é a hipótese de Feminicídio e continuar com os demais homicídios
qualificados]
VII - Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição.
VIII - Com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.
IX - Contra menor de 14 anos.
§ 2º-B. A pena do homicídio contra menor de 14 anos é aumentada de: [3 hipóteses de aumento]
Feminicídio
VI - Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Lei 13.104/2015)
→ Foi incluído pela Lei 13.104/2015.
→ A Lei 14.717/2023 institui pensão especial para os descendentes das vítimas de
feminicídio.
→ Feminicídio é uma das hipóteses de homicídio qualificado.
→ O Congresso trocou a redação original de gênero feminino pra sexo.
→ As trans e travestis ficaram de fora. É verdade que dá pra qualificar de outra forma o
homicídio delas, mas o feminicídio tem causas de aumento bem específicas no § 7º que
passam a não ser aplicadas a elas.
→ Na lei maria da penha a definição é gênero.
→ Pode haver feminicídio praticado por mulher (na Argentina não, só se for praticado por
homem).
→ Lei traz hipóteses no § 2º-A.
§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - Violência doméstica e familiar;
II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
→ Nesses casos, há presunção de que é feminicídio, mas a presunção pode ser afastada.
→ Ex: se ocorre em âmbito de violência doméstica e familiar, é possível afastar a incidência
do feminicídio se ficar comprovado que um irmão matou os outros irmão e irmã por causa
de herança.
Aumento de Pena
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 até a 1/2 se o crime for praticado:
III - Durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
IV - Contra pessoa maior de 60 anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que
acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
V - Na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
VI - Em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas no art. 22 da Lei
11.340/2006.
→ Lembrando que o descumprimento de MPU é, por si só, outro crime. Só que nesse caso, se
o descumprimento de MPU for feito para matar a mulher, o crime do 24-A da Lei Maria da
Penha vai ser absorvido pelo homicídio qualificado (feminicídio).
Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o crime resulta de inobservância de
regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
[...]
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se
torne desnecessária.
→ Perdão judicial = pessoa que mata o próprio filho, família, etc.
Há ainda, outros 3 crimes, além do homicídio doloso, que são julgados pelo tribunal do júri, pois
também são dolosos:
→ Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio
→ Infanticídio
→ Aborto
Suicídio
Suicídio é a supressão direta e voluntária da própria vida.
O crime é para quem induz, instiga ou auxilia outra pessoa a cometer suicídio.
→ No Código Penal de 1830, era uma modalidade de homicídio. No Código atual, ele se
destaca e forma um crime autônomo.
Tentativa: não dá pra ser tentado - a instigação se consuma, mas produz outro resultado.
→ Não se pune o autor da tentativa de suicídio (como já se fez antigamente) por política
criminal.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio
material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos.
→ Induzimento = criação de um propósito inexistente, fazer surgir a ideia. Ex: caso Jim Jones.
→ Instigação = reforçar propósito existente, o agente consolida tal pensamento em sua
mente. Ex: caso de populares que gritam incentivando.
→ Auxílio = colaboração, facilitação ou ajuda à concretização do ato suicida; criar condições
de viabilidade do suicídio. Ex: caso de fornecimento de veneno ou revólver.
- PS: Se a participação for direta é homicídio.
- Auxílio por omissão? Pode sim. se a pessoa tem o dever de cuidado (ex: agente
penitenciário que deixa a pessoa morrer em greve de fome).
→ Tipo misto alternativo: perpetrando o agente uma, duas ou todas as condutas, haverá a
prática de um único crime.
→ Lembrando que é preciso haver um nexo causal direto entre o sujeito passivo e o ativo. Por
isso, autores de obras artísticas não são enquadrados nesse artigo.
Se o induzimento produzir lesão grave ou morte, vamos para outras penas, as dos §§s 1º e 2º.
Qualificadoras:
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou
gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
→ Se resultar em lesão corporal de natureza leve = caput.
→ A definição de lesão corporal leve/grave está no artigo 129, de lesão corporal.
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores,
de rede social ou transmitida em tempo real.
§ 5º Aplica-se a pena em dobro se o autor é líder, coordenador ou administrador de grupo, de
comunidade ou de rede virtual, ou por estes é responsável.
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e
é cometido contra menor de 14 anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 anos ou contra
quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121
deste Código.
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de 2 a 6 anos.
Espécie de homicídio com pena abrandada.
Não pode haver perdão judicial, pois não há essa previsão no artigo - ou seja, o juiz togado não
pode conceder o perdão, mas o júri pode inocentar.
Crime próprio:
→ Sujeito ativo: mãe em estado puerperal.
→ Sujeito passivo: filho que está nascendo (nascente) ou que acaba de nascer (neonato).
Se for outro filho, homicídio.
c) Batimentos cardíacos = a vida se torna factível a partir deste momento; até aqui, haveria
mera expectativa de vida (3ª ou 4ª semana de gestação).
→ Existe, mas não é nem a corrente jurídica minoritária mais importante.
d) Impulsos cerebrais = denotaria uma vida humana viável em formação (9ª semana).
→ Essa posição foi usada para permitir o aborto do feto anencéfalo.
→ Interpretação sistemática levando em consideração a lei do transplante (morte
como morte encefálica - Art. 3º Lei 9.434/97).
→ Posição minoritária mais importante; a disputar campo jurídico com a letra b).
Tentativa: se, em virtude de manobras abortivas, ocorre uma simples aceleração do parto, vindo o
produto da concepção a sobreviver, há tentativa de aborto.
Concurso de pessoas: no direito penal, a regra geral é a teoria monista (quem concorre para o
crime responde pelo mesmo crime). O aborto é uma exceção a essa teoria. Se houver concurso de
pessoas, a mãe responde por um crime e o terceiro por outro.
→ Mãe: responde pelo artigo 124.
→ Terceiro: responde pelos artigos 125 ou 126.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF 54)
Pena - detenção, de 1 a 3 anos.
→ Crime próprio: somente a mulher gestante pode auto-abortar ou consentir ao aborto.
→ Autoaborto: é a própria gestante quem provoca, por ação (comissiva) ou omissão
(comissiva por omissão), a manobra abortiva.
- Ex: ingestão de substância abortiva.
Ex: deixa de tomar medicação prescrita em gravidez de risco, para o fim de abortar.
→ Consentimento ao aborto: a gestante anui a que outrem realize a manobra abortiva
(conduta omissiva). A mãe responde pelo 124 e a outra pessoa pelo 126.
→ Caso: tentativa de suicídio de gestante. Dolo?
Formas:
a) Violência: agressão, escada.
b) Grave ameaça: matar o outro filho.
c) Fraude: substância abortiva na bebida.
d) Incapacidade da gestante para decidir: menor de 14 anos, pessoa sem discernimento.
Agente agride a gestante, que morre:
a) Sabendo da gravidez: art. 121 + 125, concurso formal.
b) Sem saber: art. 121. (*)
c) Dolo de lesão e culpa na provocação ao aborto: art. 129, § 2º, inciso V.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é
alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência
→ Caso esse crime não existisse, o terceiro responderia pelo crime do art. 124, em concurso
com a gestante.
Forma Qualificada:
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.
Caso: dolo de aborto, mata a gestante durante a manobra abortiva, sobrevivendo o produto da
concepção. Poderia ser:
(i) Aborto tentado + homicídio culposo → é isso.
(ii) Aborto qualificado tentado → não, pois não existe tentativa de crime qualificado pelo
resultado.
Aborto legal
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário:
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
→ É o estado de necessidade.
→ O caput trata de aborto praticado por médico, mas a doutrina entende que também é legal
se feito por outra pessoa, se for estado de necessidade.
(3) Habeas Corpus 124.306 = mulher que abortou e foi presa entrou com HC no STF para reverter
a prisão e declarar que o aborto não foi crime.
→ Tribunal decidiu que aborto não foi criminoso e entendeu que até a 12ª semana (primeiro
trimestre) é legal realizá-lo por conta da ausência das funções cerebrais do feto.
→ Interpretação conforme a Constituição: direitos sexuais e reprodutivos da mulher,
autonomia da mulher, integridade física e psíquica da gestante, igualdade da mulher,
princípio da proporcionalidade.
→ Não tem RE, foi em habeas corpus.
(4) ADPF 442 = tentando fazer valer pra geral a decisão do Barroso dada no habeas corpus.
(5) Aborto e sigilo médico = STJ decidiu que os médicos não podem denunciar a pessoa que vai
fazer aborto porque isso violaria o sigilo médico.
→ Então se o médico denunciou o caso, a mulher vai ser inocentada.
Lesão Corporal
Bem jurídico: incolumidade física e psíquica do ser humano (integridade corporal e saúde).
→ Ofender = prejudicar, lesionar, danificar, ferir.
→ Integridade corporal = dano anatômico fruto de uma agressão, externo ou interno.
- Comprova-se principalmente pelo laudo de exame de corpo de delito.
- Ex: escoriações, cortes, equimoses, hematomas, luxações, fraturas, fissuras,
queimaduras, mutilações.
→ Ofensa à saúde = perturbações fisiológicas ou mentais.
- Fisiológicas: alteração no funcionamento de algum órgão. Ex: vômitos, diarréias,
náuseas.
- Mental: alteração prejudicial no funcionamento cerebral. Ex: convulsões, depressão,
choque nervoso.
A ofensa à saúde mental foi por muito tempo negada. Hoje em dia isso já começa a
mudar, com a existência dos laudos psicológico/psiquiátrico, etc.
E também vai ter que se provar ao longo do processo o nexo de causalidade entre a
ofensa e o prejuízo à saúde mental.
Crime comum: não exige qualquer qualidade especial do sujeito ativo ou passivo do crime.
Forma livre: omissão, socos, facas, tiro sem vontade de matar, etc.
→ Um ou mais golpes = crime único.
→ Mas, se as agressões ocorrerem muitas vezes ao longo de um longo período de tempo, é
possível reconhecer o concurso de crimes ou crime continuado.
→ Tatuagem: consentimento do ofendido.
→ MMA: exercício regular do direito.
→ Furo de orelha de criança: adequação social.
Consentimento: hoje, entende-se que pode haver atipicidade de conduta, caso haja consentimento.
→ Nelson Hungria = incabível o consentimento do ofendido.
→ Penalismo contemporâneo = admite sua relativa disponibilidade, i.e., se aceita
pacificamente que haja o consentimento do ofendido. Deve ser analisado o caso concreto.
→ Consentimento = anuência livre, consciente e anterior, ou ao menos concomitante.
→ Autolesão não é criminalmente punida. Porém, se um incapaz é induzido à autolesão,
quem o induziu é culpável (Art. 20 § 2º).
Tentativa: existe a possibilidade, mas não pode chegar a agredir. Se agredir, é LC ou vias de fato.
CAPÍTULO II - DAS LESÕES CORPORAIS
A lesão corporal leve é um crime residual (se não for qualificado, é leve).
LC Leve vs. Vias de Fato (Lei das Contravenções Penais, Art. 21)
→ Vias de fato = houve agressão, mas não há lesão aparente, não fica marca.
→ São diferenciados principalmente a partir do laudo de exame de corpo de delito.
→ Problema = muitas vezes, a vítima não vai até o IML fazer o laudo. Nesses casos, o
agressor deve ser punido pelas vias de fato.
LC Leve vs. Injúria Real (Art. 140, § 2º)
→ Injúria real = realizar algum ato de violência com o intuito de ofender a dignidade alheia.
Ex: raspar o cabelo de alguém.
→ Art. 140 § 2º: Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou
pelo meio empregado, se considerem aviltantes.
II - Perigo de vida;
→ Probabilidade concreta e iminente de morte da vítima.
→ Se o dolo era lesionar e há culpa no resultado de perigo de vida, aplica-se este inciso.
→ Porém, esses casos geralmente entram em tentativa de homicídio (se acusa alegando que
o dolo era assinar).
III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função;
→ Dinâmica prejudicada, ou enfraquecida, mas não completamente aniquilada.
→ Membro = partes ligadas ao tronco: braços, pernas, pés e mãos.
→ Sentido = tato, olfato, audição, visão e paladar.
→ Função = atividades dos órgãos do corpo, como a digestão, circulação e respiração.
- STJ (REsp. 1.620.158-RJ): reconheceu a perda de 2 dentes como LC grave por conta
do prejuízo à função da mastigação.
IV - Aceleração de parto:
→ Parto prematuro, porém bem sucedido.
→ Se morrer, pode ser LC gravíssima (Art 129, § 2°) ou mesmo provocação ao aborto (Art.
125, 126) - tudo depende da intenção (dolo).
II - enfermidade incuravel;
→ É admitida tal qualificadora em casos em que a cura só é possível em situações
excepcionais ou requeira intervenções de arriscado resultado.
→ Transmissão dolosa de HIV?
IV - deformidade permanente;
→ Visível a ponto de constranger a vítima, causar-lhe vexame.
→ Cirurgia plástica?
V - aborto:
→ Nesse caso: lesão corporal dolosa e o resultado culposo de aborto.
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de 1/6 a 1/3.
→ Nesta hipótese, o juiz pode aplicar a diminuição e ainda substituir a pena por multa,
conforme o parágrafo seguinte.
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de
duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - Se as lesões são recíprocas.
→ Veja, não é alguém atacou e eu me defendi, isso seria legítima defesa.
→ É, na verdade, o caso de briga marcada, por exemplo.
→ Na prática, se houver lesão recíproca, é mais comum absolver os dois do que aplicar multa.
→ PS: não se usa mais uma tabela com valor FIXO. As multas são normalmente calculadas
em torno do valor do “dia-multa”.
Aumento de pena
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 do CP
→ LC culposa: § 4º Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
→ LC dolosa: § 4º Se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.
→ § 6º Se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
→ § 5º O juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o
próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 12º Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de 1/3 a 2/3.
Violência Doméstica
→ Forma de LC qualificada criada com a Lei Maria da Penha.
→ Mas atenção: não se aplica mais a hipóteses de violência contra a mulher por razões do
sexo feminino - isso agora é qualificado pelo § 13º (adicionado em 2021).
→ Se aplica então a outras hipóteses de violência doméstica - contra ascendente,
descendente, cônjuge ou companheiro.
§ 10º Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §
9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3.
→ Ou seja, se for LC simples praticada contra cônjuge, ascendente, descendente, etc.,
aplica-se apenas o § 9º.
→ Se for LC grave/gravíssima/seguida de morte praticada contra cônjuge, asc, desc, etc.,
aplica-se o aumento do § 10º.
§ 11º Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 se o crime for cometido
contra pessoa portadora de deficiência.
§ 13º Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do § 2º-A do art. 121 deste Código: (Lei 14.188/2021)
Pena - reclusão, de 1 a 4 .
→ Ou seja, se for praticada contra a MULHER, a pena-base sim aumenta.
Direito Penal e Gênero
Crimes de Dano (materiais): até aqui (Arts. 121 - 129), estudamos crimes de dano.
→ Constatação do resultado naturalístico para sua consumação.
(a) Perigo concreto (formal) = tipo penal prevê a conduta que pode, mas não precisa, chegar no
resultado. É preciso que a acusação comprove que exista um perigo.
→ Art. 317 (corrupção - resultado seria a vantagem indevida).
(b) Perigo abstrato (mera conduta) = é só a prática da conduta, não precisa provar que algum bem
jurídico estava minimamente em um contexto de risco.
→ Categoria foi criada por conta da produção legislativa no contexto brasileiro e mundial
atual que criminaliza praticamente tudo.
→ Mais atrelados à noção de bens jurídicos superindividuais (atingem potencialmente mais
de uma pessoa, pessoas difusas).
→ Ex: tráfico de drogas, porte de armas, omissão de socorro.
Outra classificação:
a) Perigo individual: é aquele que atinge indivíduos determinados (art. 130 e ss);
b) Perigo coletivo/comum: é o que afeta pessoas indeterminadas (art. 250 e ss).
Crime próprio:
→ Sujeito ativo: pessoa contaminada por moléstia venérea.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa.
Crime de perigo concreto: aferição real do perigo.
→ Consumação: não é necessário que haja a contaminação, basta a exposição ao perigo
através do contato sexual ou libidinoso.
→ Eventual contaminação revela-se como mero exaurimento.
→ Tentativa: o agente inicia preliminares sexuais, mas não consegue a sua concretização.
Crime de forma vinculada: a exposição a perigo de contágio deve se dar por intermédio de
relações sexuais ou qualquer outro ato libidinoso.
→ O perigo de contágio ocasionado por contato físico extrassexual, como um aperto de mão,
não configura o tipo.
Moléstia venérea: doenças transmitidas por meio de contato sexual, como sífilis, cancro mole,
gonorreia, HPV.
→ HIV não entra pq não é classificada como doença venérea, vez que pode ser transmitida
por outros meios.
Qualificadoras:
Crime próprio:
→ Sujeito ativo: pessoa contaminada por moléstia grave que é contagiosa.
- Caso o agente não seja portador da moléstia, mas a transmita por meio de objetos,
não haverá o presente crime por ausência da elementar “está contaminado”.
- Nessa hipótese, poderá ocorrer a prática do delito previsto no art. 132.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa.
- Contudo, caso já seja portador da mesma moléstia grave, não há crime.
- Contra uma pessoa determinada. Caso contrário, art. 267 (epidemia).
Forma livre: aperto de mão, beijo, abraço, aleitamento; copos, garfos ou seringas, sexo.
→ Por meio de ato sexual, se não for doença venérea.
Abandono de Incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por
qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
Crime próprio: necessário que haja uma relação especial de assistência entre o sujeito ativo e
passivo, que pode ser oriunda de várias fontes (lei, contrato, etc).
→ Sujeito ativo: relação de “cuidado, guarda, vigilância ou autoridade” com relação à vítima.
- Ex.médico, enfermeiro, cuidador, policial etc.
→ Sujeito passivo: pessoa faticamente incapaz, exposta a perigo decorrente do abandono.
- Incapaz não no sentido do direito civil, é no sentido de pessoa que não consegue se
cuidar.
- Necessário que a vítima seja exposta a risco efetivo, concreto, ocasionado pela
situação do abandono.
Dolo de perigo: o dolo de dano afasta a incidência, podendo caracterizar homicídio tentado ou
lesão corporal tentada.
→ Não há previsão da modalidade culposa. Se o abandono decorrer de culpa, sobrevindo
dano para a vítima, o agente poderá responder por LC culposa ou homicídio culposo.
Qualificadoras
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
→ Caso do motorista de aplicativo que levou uma mulher ao local, deixou ela no chão e foi
embora. Depois passou um sujeito e estuprou a moça.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - Se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - Se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III - Se a vítima é maior de 60 anos.
Qualificadoras
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Omissão de socorro
Acusado consegue fazer acordo para não ser julgado, suspende-se o processo (366 CPP).
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
→ Quando possível fazê-lo sem risco pessoal!
→ Caso 2 ou mais pessoas recusem o socorro? todas respondem pelo crime.
Crime próprio: só pode ser praticado contra um rol taxativo de sujeitos.
→ Sujeito passivo: enumeração taxativa!
a) criança abandonada ou extraviada;
b) pessoa inválida ou ferida, ao desamparo;
c) qualquer pessoa em grave e iminente perigo.
Exemplos:
→ Caso do porteiro
→ Médico que recusa atendimento? não pode.
Aumento
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de
natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
→ Caso dessa recusa de atendimento a vítima venha a se lesionar ou a morrer, o crime de
omissão de socorro cede lugar ao reconhecimento do delito de lesões corporais ou
homicídio, a depender de dolo ou culpa no caso concreto.
Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância,
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou
cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de
meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.
Bem jurídico: incolumidade
Sujeito ativo: somente a pessoa que tem essa relação de autoridade + especial finalidade.
→ Pais e filhos;
→ Enfermeiros e pacientes;
→ Professores e crianças.
Elemento objetivo: não é qualquer mau-trato!
→ Privando de alimentação
→ Privando de cuidados indispensáveis
→ Sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado
→ Abusando de meios de correção ou disciplina
Dolo de perigo.
Lei da Palmada (Lei nº 13.010/2014) alterou os artigos 18-A e 18-B do ECA.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
→ Nota-se que esses artigos não prescrevem pena. Ou seja, nem todo ilícito é crime.
→ As consequências estão no Art. 18-B.
→ A palmada então pode levar à perda da guarda ou levar a alguma consequência cível.
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de
adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão
sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de
acordo com a gravidade do caso:
Estatuto do Idoso (artigo 99): submissão e condições desumanas ou degradantes.
→ Idoso: +60.
Qualificadoras:
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de 4 a 12 anos.
Causas de Aumento:
§ 3º - Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
Rixa
Briga entre 3 ou mais pessoas. Um grupo contra outro.
Professor coloca em dúvida a legalidade do artigo, dado que não define o que é rixa - e ninguém
da sala soube dar uma definição precisa.
Professor nunca viu.
CAPÍTULO IV - DA RIXA
Rixa
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da
participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos.
Calúnia
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
→ Dos crimes contra a honra, é o mais grave.
→ Cifra oculta: diferença entre os crimes que de fato ocorrem na sociedade e aqueles que
chegam ao conhecimento das autoridades.
→ Tem que ser um fato, não pode só ser um xingamento “ladrão!”. Tem que ser “A Raquel
roubou o computador da Júlia semana passada”.
→ Mas tb não precisa revelar maiores detalhes, nem referir-se expressamente a qualquer
figura da lei penal, bastando que se possa antever minimamente um fato, o qual
corresponde a um crime.
→ Tem que ser fato determinado. Não pode ser “já matou alguém”, “é ladra” (nesses casos, é
injúria).
→ Dolo de ofender a honra (animus calumniandi).
Subsidiária: existem formas específicas de calúnia na lei eleitoral, etc.
Bem jurídico: Honra (bem jurídico imaterial) - somente a objetiva é protegida.
→ Objetiva: reputação que o sujeito detém num contexto social
→ Subjetiva: sentimento da própria dignidade ou decoro.
Jornal: só vai praticar o crime se ele souber se o fato não existiu. O fato está sendo investigado?
Na teoria não seria calúnia.
Pessoa jurídica:
→ Doutrina dizia que PJ não podia ser vítima, mas hoje em dia isso já foi revisto.
→ Não pode ser acusada de praticar, PJ só pratica crimes ambientais.
Crianças, adolescentes e enfermos mentais:
→ Não são culpáveis, são inimputáveis. Ou seja, não praticam.
→ Mas podem ser vítimas.
Não são punidos como calúnia:
a) E se você falou que a pessoa roubou algo (o que é mentira), mas você achou que ela de
fato roubou -> Erro. Não é punível.
b) Animus jocandi - em tom de brincadeira, não é punível.
c) Difamação
d) Injúria
Tentativa - não existe muito né.
→ Exemplo de livro: carta, email que ninguém nunca abriu.
Contravenção penal: é difamação.
→ Falar que alguém tá jogando no bicho é calúnia? Não, pois bicho é contravenção, não
crime.
Ação penal privada: só se procede mediante queixa da vítima.
→ MP não pode processar, somente a vítima.
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Tipicidade objetiva: imputar a alguém fato ofensivo à sua reputação, atribuir a outrem um
acontecimento humano capaz de macular seu conceito social, “causar má fama”.
Imputar fato ofensivo à reputação da pessoa. Ofensivo, porém não criminoso.
→ Fato pode ser até verdadeiro.
→ Não é lícito você ficar falando mal das pessoas, mesmo quando verdadeiro.
→ E a liberdade de expressão? Não posso falar a verdade? O cara traiu a companheira? Pois
é, não pode. Resquícios de um Código de 1940.
→ Crime acontece todo dia no Twitter (cancelamento) - mas é possível processar todo
mundo?
Mas: o que é ofensivo? Precisamos analisar de caso a caso, dado que o que é ofensivo para um
pode não ser para outro.
→ Jornalista, imprensa: vai ter que auferir o dolo do jornalista de querer difamar a pessoa.
Defesa vai dizer que tá noticiando um fato (aí, realmente, pode ser que não haja dolo).
Pessoa jurídica: parte da doutrina acha que é possível cometer difamação contra empresas,
professor discorda.
Mortos:
Propalar: tipo cancelamento, twitter. Se encaixa no crime, mas é difícil processar todos.
Opinião prof.: nem todo ilícito é crime. Às vezes ela não praticou um crime, mas praticou ilícito
cível. Muitos casos de difamação vão pra esfera cível.
Exceção da verdade
Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a
ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
→ Só casos de interesse público.
→ Não é a mesma exceção da verdade da calúnia, dado que o crime aqui se aplica mesmo se
o fato for verdadeiro.
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Quando você não imputa um fato, mas imputa uma qualidade da pessoa - “ladrão! bicheiro! corno!
maconheiro! cheirador! filho da puta!”
→ Sexualidade? “viado!”, “sapatão!”: entende-se que é crime - injúria discriminatória.
Ação ou expressão que lesiona o sentimento da própria respeitabilidade de outra pessoa,
menosprezando sua fama ou atentando contra seus aspectos físico-psíquicos.
Manifestação intencional de desprezo, menoscabo ou desrespeito, para com o ofendido, por meio
da realização de um comportamento negativo, humilhante.
Há duas hipóteses de injúria:
1) Injúrias simples - caput.
2) Parágrafos: qualificadoras.
Injúrias discriminatórias: racial e outras.
Ação penal privada.
Perdão judicial:
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I - Quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II - No caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
→ O cara que responde é perdoado, mas o primeiro cara que xingou, não!
Qualificadoras
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio
empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
→ Injúria real: quando você quer humilhar a pessoa. Raspa a cabeça da pessoa, dá chicotada,
tatuagem na testa.
→ Nesse caso, responde por injúria e lesão corporal ou a outra pena correspondente.
Somam-se as penas.
→ Trote? É possível discutir se há dolo ou apenas animus jocandi.
Exclusão do crime
Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível:
I - A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II - A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a
intenção de injuriar ou difamar;
III - O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que
preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá
publicidade.
Retratação
Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação,
fica isento de pena.
Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação
utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o ofendido, pelos
mesmos meios em que se praticou a ofensa.
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se
julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando,
no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do
caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do
mesmo artigo, bem como no caso do § 3o do art. 140 deste Código.
Crimes Contra a Liberdade Individual
Bem jurídico geral tutelado: autodeterminação dos indivíduos em seus diversos aspectos (como a
liberdade pessoal).
Liberdade pessoal: direito à independência de injusto poder estranho sobre a nossa pessoa.
Arts. 146, 147 e 148: crimes subsidiários: só vão ocorrer se naquela situação fática não houver
algum outro elemento especializante.
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou
a fazer o que ela não manda:
Pena - detenção, de 3 meses 1 ano, ou multa.
Subsidiário: sozinho, ele não aparece tanto. Normalmente estamos discutindo outro crime e aí
vê-se que faltou algum elemento pra caracterizar aquele crime, então se desclassifica para C. I.
→ Ameaça pura e simples é mais subsidiário ainda que o CI: “Vou te matar heim”.
Crime comum:
→ Ativo: qualquer pessoa pode praticar, mas se for praticado por funcionário público, ele pode
se especializar para abuso de autoridade (art. 322, 350).
→ Passivo: qualquer pessoa que tenha plena capacidade de entender. Se for criança ou
adolescente, tem uma figura específica no art. 232 do ECA.
Tentativa: é possível; quando há emprego de meio idôneos para constranger o indivíduo, mas a
vitima não atende à conduta desejada.
→ Ou seja, é um crime material, de resultado.
→ Se a vítima não proceder à ação/omissão desejada, pode configurar tentativa.
Aumento de pena
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se
reúnem mais de 3 pessoas, ou há emprego de armas.
Ameaça
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de
causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
→ Crime MUITO comum, sobretudo em situações de violência doméstica contra a mulher.
→ Pena bem baixinha.
→ Representação: se a vítima ameaçada não quiser, não tem como processar o autor do fato.
Dentro do contexto de violência contra a mulher, é comum que venha junto com Lesão Corporal.
→ A ameaça fica absorvida pela LC? Somente se o autor ameaçar bater e realiza a lesão no
mesmo contexto. Se for ameaça em um contexto e LC em outro, não absorve.
→ Ex: ameaçar de manhã, e bater de tarde.
Bem jurídico: autodeterminação humana.
Crime comum: qualquer pessoa pode ameaçar e sofrer, desde que tenha capacidade de
compreender a ameaça (ex: bebe).
→ Deve ser dirigido a pessoa determinada ou a grupo determinado de pessoal.
→ Pode ser indireta: relativa a terceiro ligado ao sujeito passivo por especial relação de afeto
(Ex: matar o filho).
Tipicidade objetiva:
Ameaçar = provocar medo, causar intimidação em alguém, prometendo-lhe causar mal injusto e
grave.
→ Deve ser vista sob aspecto objetivo, segundo “a média da sensibilidade humana”,
observando-se o que normalmente acontece. Não abre espaço para simples melindres
pessoais.
→ O mal prometido deve referir-se ao atingimento de um bem jurídico de natureza penal,
ademais considerado significativo para o sujeito passivo, como vida, integridade física,
liberdade, honra, patrimônio, etc.
→ Não importa se o agente estava ou não disposto a cumprir a ameaça - o que importa é que
ela tenha sido idônea para incutir medo (tenha ela a aparência de séria e o agente possuía
consciência disso).
→ Caso: se a vítima não se sentir ameaçada? Ação penal condicionada à representação. Art.
16, LMP.
Grave = é o mal sério, relevante. Deve ser verossímil para aquele a quem é encaminhada.
Excludente de tipicidade: não configura o crime o praguejar, a afirmação genérica (ex. "vai ver só").
→ Ameaça em momento de ira ou cólera: art. 28, I, CP - não exclui o crime. Mas, se verificado
o contexto, foi "da boca pra fora", não configura o crime.
Antes de 2021, o fato não era atípico, mas era uma contravenção penal (Lei de Contravenções
Penais, artigo 65). Esse artigo foi revogado pela lei de 2021.
LCP, Art. 65 - "Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável".
Principais mudanças:
→ Reiteração
→ Formas específicas
→ Necessidade de representação
→ Pena
→ Causas de aumento
→ Concurso da pena pela violência.
Aumento
§ 1º A pena é aumentada de 1/2 se o crime é cometido:
I - Contra criança, adolescente ou idoso;
II - Contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121
deste Código;
III - Mediante concurso de 2 ou mais pessoas ou com o emprego de arma.
§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.
Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Seqüestro e cárcere privado (Vide Lei 10.446/2002)
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
Bem jurídico: liberdade individual, especialmente liberdade de locomoção (direito de ir, vir e ficar).
→ Normalmente relacionado a questões de gênero (diferentemente da extorsão mediante
sequestro, em que se demanda uma recompensa patrimonial).
Crime comum:
→ Sujeito ativo. Se funcionário público: abuso de autoridade.
→ Sujeito passivo. Se adolescente privado de liberdade, art. 235 do ECA.
Tipicidade objetiva: a lei não trouxe definição de sequestro nem de cárcere privado. Cabe à
doutrina diferenciar os dois, mas não há diferença prática nas consequências.
→ Sequestro: a vítima tem sua liberdade cerceada em local aberto, com alguma possibilidade
de movimentação (ex. sítio)
→ Cárcere privado: a vítima tem sua liberdade cerceada em local fechado (ex. casa, quarto).
Qualificadoras
§ 1º - A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos:
I - Se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60
anos;
→ Relacionados a questões de confiança, não inclui irmãos.
II - Se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III - Se a privação da liberdade dura mais de 15 dias.
IV - Se o crime é praticado contra menor de 18 anos;
V - Se o crime é praticado com fins libidinosos.
→ Basta a demonstração dessa finalidade para qualificar, não precisa fazer atos libidinosos.
→ Se ocorrer violência sexual, concurso material.
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer
restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador
ou preposto: (Redação dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
→ Pena-base bem pequena (2 anos de reclusão).
Tipicidade objetiva:
Reduzir = sujeitar, submeter, subjugar, no sentido de forçar alguém a suportar uma situação
comparável a um regime de escravidão.
→ É irrelevante que a vítima possua no caso concreto relativa liberdade ou mesmo que tenha
consentido com a situação.
→ Tampouco é necessário clausura, confinamento, tortura ou maus tratos. A vítima pode até
receber salário pelo trabalho realizado, o que não desnatura o crime.
Modos:
→ Trabalho forçado
→ Jornada exaustiva (ainda que a pessoa receba salário)
→ Condições degradantes de trabalho (sem acesso ao banheiro, água, excesso de barulho)
→ Restrição de locomoção em razão de dívida.
Consumação: quando a vítima tem atingida sua autodeterminação, isto é, quando tem sua
liberdade tolhida.
Figuras equiparadas:
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - Cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho;
II - Mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos
pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
Causas de aumento
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I - Contra criança ou adolescente;
II - Por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Também, apesar dos enormes números de pessoas resgatadas, é bem difícil encontrar
jurisprudência nesse sentido - poucas pessoas são de fato condenadas (a exemplo do
desembargador).
Incluído em 2016 após uma série de reportagens do Fantástico e por ser algo que acontece
bastante.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - Submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - Submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - Adoção ilegal;
V - Exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.
Elementos subjetivos do tipo: cinco finalidades específicas para o cometimento do crime (incisos).
→ Se não foi para nenhuma dessas finalidades específicas, não incide esse crime.
Crime formal: estará consumado ainda que o específico objetivo visado, descrito como um dos
elementos subjetivos especiais do tipo, não seja atingido.
→ Não é preciso que se produza um resultado material.
→ A efetiva remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo, bem como sua comercialização,
são fatos por si sós criminosos, previstos, respectivamente, nos arts. 14 e 1512 da Lei
9.434/1997 – Lei de Transplantes. Nesse caso, há concurso material com o tráfico de
pessoas.
Decreto nº5.017/2004: ratificou a adoção do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de
Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
→ Consentimento: Art. 3º, alínea b, do Protocolo: “o consentimento dado pela vítima de tráfico
de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente
Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos
na alínea a)”
→ Ex: prometer dinheiro.
→ Ou seja, mesmo que ela vá consentindo, sem grave ameaça, isso não é aceito.
Causas de Aumento:
§ 1º A pena é aumentada de um 1/3 até 1/2 se:
I - O crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las;
II - O crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - O agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de
hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - A vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
Causas de Diminuição:
§ 2º A pena é reduzida de 1/3 a 2/3 se o agente for primário e não integrar organização criminosa.
Seção II - Dos Crimes Contra a Inviolabilidade do Domicílio
Violação de domicílio
Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou
tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena - detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
→ Acontece bastante em situação de violência de gênero.
Delito só ocorre quando a invasão for o próprio fim mesmo. Se ele for um meio pra outro crime, ele
vai ser absorvido.
→ Ex: invadir uma casa de noite pra furtar algo de lá.
→ Violar domicílio para descumprir MPU, o professor entende que é um crime só.
Qualificadora:
§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou
de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.
Excludentes:
§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I - Durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra
diligência;
II - A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na
iminência de o ser.
Casa:
§ 4º - A expressão "casa" compreende:
I - Qualquer compartimento habitado;
II - Aposento ocupado de habitação coletiva;
III - Compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
Violação de correspondência
Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Causas de Aumento
§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
Qualificadora
§ 3º - Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico,
radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e do § 3º.
Correspondência comercial
Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial
para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a
estranho seu conteúdo:
Pena - detenção, de três meses a dois anos.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.
Divulgação de segredo
Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de
correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir
dano a outrem:
Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa, de 300 mil réis a 2 contos de réis.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei,
contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1a 4 anos, e multa.
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada.
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Crime de maior incidência no Brasil, mas não necessariamente tem mais pessoas presas. Isso
porque há muitos casos de furto privilegiado (réus primários e coisa furtada de pequeno valor):
→ Não se podem ser presos preventivamente → isso porque a pena máxima para réus
primários em furto não dá regime fechado. Isso é impedido pelo CPP.
→ Réus primários também podem celebrar acordo de não persecução penal (ANPP).
→ Quando condenados, a pena dificilmente gera regime fechado.
Crime comum.
→ Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário do bem.
- Legítimo possuidor: não pratica furto, pratica apropriação indébita (pois já está em
posse da coisa, não a subtrai). Ex: alguém me emprestou um computador e eu me
recuso a devolver.
- Funcionário público: pratica peculato.
→ Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica.
Forma livre: mas não pode haver violência contra a pessoa (crime de roubo). Ou seja, pode ser
utilizada violência contra a coisa (ex: quebrar o vidro do carro pra pegar o estepe).
Tipicidade objetiva:
(b) Coisa móvel = é tudo aquilo que possui delimitação física e espacial (carro, telefone).
→ Móvel, aquilo que pode ser transportado, o que pode ser apreendido pelo ser humano.
→ Ser humano não é coisa.
→ Parte do corpo humano: é crime mais específico (Art. 14 da Lei nº 9.434/97 - Lei de
transplantes).
- Cabelo: é parte do ser humano, não é coisa, vai ser injúria real ou lesão corporal.
→ Animais: furto de pets é furto comum (exceção do gado).
- Animais silvestres: é crime ambiental.
- Gado: é furto e ainda qualificado! Os fazendeiros conseguiram colocar isso no
código penal (semovente).
Excludentes:
→ Furto de uso = furta para um fim lícito e restitui integralmente o bem → não é crime.
- Se a pessoa tiver um prejuízo por não poder usar o bem nesse meio tempo, é
questão civil e pode pedir perdas e danos. Mas mesmo assim, não é crime.
- O uso tem que ser imediato e a restituição tem de ser rápida, logo depois de usar o
objeto para cumprir o fim lícito.
- Ex: pegar o carro de alguém para levar alguém que está passando mal ao hospital.
→ Furto insignificante: questão mais discutida.
- Ver documentário Bagatela.
Consumação:
→ Doutrina majoritária (quase unânime): o crime se consuma quando o agente detém a posse
mansa e pacífica do bem, ou seja, fora da esfera de alcance do proprietário.
- Importante para situações em que uma pessoa pratica um furto, sai correndo e é pega
depois, devolvendo o bem. Ou seja, todo esse lapso decorre ainda sob a vigilância do
proprietário. Mesma situação abarca o crime de roubo.
- Nessa situação, a doutrina majoritária (ao redor do mundo e também no Brasil) é de
que é furto TENTADO, pois o furtador não tem a posse mansa e tranquila da coisa,
ainda tá na esfera de vigilância do proprietário.
→ Porém, como ainda tinha casos de juizes que aplicavam entendimento diverso, o STJ
emitiu uma súmula para pacificar a questão… e decidiu no sentido contrário da doutrina
majoritária! Súmula para o crime de roubo, mas se aplica ao furto também.
→ Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à
perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada.
→ Esse é um dos casos em que a divergência é GRITANTE entre doutrina e jurisprudência.
→ Súmula vergonhosa do ponto de vista da dogmática.
Vigilância e crime impossível: tem-se que, em estabelecimentos comerciais que tem enormes
sistemas de vigilância (câmeras, seguranças, etc.), não há qualquer chance de consumar o furto,
pois a pessoa será pega pelo segurança. Nesses casos, seria crime impossível.
→ Somente se aplica a situações de vigilância completa durante toda a ação. Esse é o
entendimento da doutrina (e de boa parte da jurisprudência). E é crime impossível (nem
tentado ele é!).
→ Porém, os institutos de defesa tentaram alargar um pouco demais esse entendimento,
propondo que todo estabelecimento com sistema de vigilância levasse a um crime
impossível (prof. acha que eles tentaram alargar demais o conceito).
→ Em razão disso, o STJ emitiu outra súmula - 567.
→ Súmula 567: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por
existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.
→ Isso significa que, no caso concreto, pode existir uma situação de vigilância de tal maneira
que o crime se torne impossível, mas há que se analisar o caso concreto. Mas, na prática,
com essa súmula o STJ restringiu bastante a aplicação do crime impossível.
Aumento
§ 1º - A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
→ Furto noturno: Ideia de maior facilidade do crime, deve ser aferida consoante o caso
concreto.
→ Tem que ser durante o período de ausência de luz solar + durante o REPOUSO. Se tiver
rolando um pagode com geral acordado, não incide o aumento.
→ Não incide se o furto ocorre na rua, como subtração de veículo estacionado na via pública.
É preciso que o local seja efetivamente habitado, com pessoas repousando.
→ Só incide para o furto simples - Tema 1087 STJ.
Privilegiado
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena
de reclusão pela de detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou aplicar somente a pena de multa.
→ Requisitos: coisa de pequeno valor + agente primário.
→ Aqui, é necessário diferenciar o que é de pequeno valor e valor insignificante. E isso não tá
bem consolidado nem na doutrina, nem na jurisprudência.
→ A jurisprudência tem entendido que pequeno valor = até 1 salário mínimo.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:
I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
→ Arrombar porta, destruição de muros, portas, gavetas, cadeados, vidros de carro.
→ Obstáculo não pode ser a própria coisa furtada.
→ Também não incide a qualificadora quando você quebra uma coisa de valor maior pra
roubar algo de valor menor (ex: quebrei o vidro do carro para roubar um estepe). Claro que
aí vc tem responde civilmente por dano.
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por
meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei 14.155/2021)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
I - Aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido
fora do território nacional;
II - Aumenta-se de 1/3 ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela Lei 9.426/1996)
→ Era comum levar pro Paraguai pra clonar e voltar pro Brasil e vender.
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem
legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem
direito o agente.
Apropriação indébita
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
→ Ou seja, mesma pena do furto simples.
Bem jurídico: tutela-se o patrimônio (propriedade e a posse das coisas móveis alheias).
Crime comum:
→ Sujeito ativo: qualquer pessoa diversa do proprietário.
- Condômino, sócio ou coerdeiro podem ser autores na parte que não lhes pertence.
- Se funcionário público, peculato.
→ Sujeito passivo: proprietário ou possuidor.
Tipicidade objetiva:
Tipicidade subjetiva: dolo - vontade livre e consciente de não restituir a coisa ou desviá-la do fim
para o qual foi entregue.
→ Elemento subjetivo especial do tipo: fim de obtenção para si ou para outrem de um proveito
injusto, que pode ou não ser econômico. Fim ulterior à apropriação.
Tentativa: parte da doutrina entende que não há possibilidade de tentativa, inexistindo iter criminis
a percorrer estando configurado o delito.
→ Basta a simples inversão de ânimo do agente para com a coisa recebida legitimamente.
→ Atos de recusa na devolução da coisa, ou de sua disposição, apenas demonstrariam
objetivamente a consumação de um crime já ocorrida, mas de difícil aferição prática.
→ Se o sujeito iria vender o bem ou mudá-lo de local de guarda é pq já agia como proprietário.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3, quando o agente recebeu a coisa:
I - Em depósito necessário;
→ Depositário em situação de emergência, como enchente, incêndio. Casos em que não há
escolha do depositante.
→ Alguém tem que depositar um bem com alguém, e o depositário se apropria.
Caso: vc deixou um carro no valet e, dentro do carro, ficou algum bem (óculos escuros). Só um
tempo depois você percebe que o vallet retirou os óculos do carro.
→ Tem pessoas que acham que é apropriação indébita, outros acham que é furto.
→ De qualquer forma, a pena-base é a mesma.
Sistema financeiro: se houver implicações pro sistema financeiro - Lei específica 7.492/86, art. 5º.
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes,
no prazo e forma legal ou convencional:
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
reembolsados à empresa pela previdência social.
§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o
pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele
estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o
ajuizamento de suas execuções fiscais.
Nas figuras do caput e do § 1º, incisos I e II, o sujeito ativo (normalmente, o empresário) nada
recebe, não havendo qualquer sentido lógico em se falar em apropriação indébita, em que
necessariamente o agente recebe de boa-fé a coisa e depois inverte o animus em relação a ela. O
sujeito ativo simplesmente não efetua o pagamento de um tributo.
O bem jurídico tutelado é supraindividual: as fontes de custeio da Previdência Social. Não se trata
de tutela do patrimônio individual, comparável a furto, roubo, extorsão, estelionato etc.
Crime próprio:
- Crime próprio em relação ao sujeito ativo.
- O sujeito passivo é o Estado, representado pela Previdência Social. Apenas no tipo do
inciso III do § 1º do art. 168-A, o empregado é também vitimado.
Normas penais em branco: fonte de complementação a Lei nº 8.212/1991. É impossível
compreender o que fixou o legislador penal, a menos que se tenha previamente noções básicas do
fenômeno previdenciário.
O sistema de seguridade social é composto pelo seguinte tripé: previdência social, assistência
social e saúde. A lógica previdenciária é a de que os trabalhadores ativos financiam os inativos. A
contribuição previdenciária advém desse contexto.
A relação de trabalho representa o fato gerador da contribuição previdenciária. O trabalhador terá
descontado de seu salário um determinado valor, o que é levado a efeito pelo empregador. Esse
último efetua inicialmente um dispêndio menor, pois deverá pagar posteriormente no banco uma
guia – em favor do INSS – com o valor “economizado” no pagamento de seu empregado.
Esse empregador, empresário ou titular da firma individual, poderá dolosamente não adimplir o
débito previdenciário, o que caracteriza o crime previsto no art. 168-A, § 1º, inciso I (deixar de
recolher contribuições descontadas).
Quando o empregador efetua o correto adimplemento da guia previdenciária, ocorre, por parte do
banco receptor, a chamada “arrecadação”. Tal é feito pela rede arrecadadora, composta por
bancos, que são substitutos tributários. A obrigação desses últimos, a seguir, é a de realizar o
repasse para o caixa único do tesouro. Se os prepostos do banco dolosamente não realizam
referido repasse, incidem no delito previsto no caput do art. 168-A (deixar de repassar
contribuições recolhidas).
Outra hipótese: o trabalhador não tem descontado nada de seu salário e, ao revés, deveria receber
um benefício oriundo do INSS, em que a empresa ou firma individual é reembolsada pela
previdência. Nesses casos, se o empregador deixa de pagar o trabalhador, incide no crime do art.
168-A, § 1º, inciso III (deixar de pagar benefício recebido do INSS). É a única hipótese de
apropriação indébita, que não é previdenciária, pois o valor ilicitamente auferido pertence ao
particular, empregado. Em realidade, nem precisaria haver a presente previsão, vez que estaria
abarcada pelo art. 168 do Código Penal. As formas delitivas em análise somente se perfazem no
instante em que se esgotar o prazo legal ou convencional para a transferência do recurso.
Crime doloso. Questão: dificuldade financeira.
Crime omissivos próprios: incabível tentativa.
Consequências do pagamento:
a) se houver o pagamento antes do início da ação fiscal, haverá extinção da punibilidade;
b) se o pagamento for posterior a esta, mas antes do oferecimento da denúncia, sendo o
agente primário e de bons antecedentes, haverá o perdão judicial ou apenas multa;
c) se o pagamento for posterior ao oferecimento da denúncia, mas antes do seu recebimento,
haverá o reconhecimento do arrependimento posterior, causa de diminuição de pena
prevista no art. 16 do Código Penal;
d) se o pagamento for posterior ao recebimento da denúncia, haverá o reconhecimento de
atenuante genérica (art. 65, III, “b”, do Código Penal).
Perdão judicial ou aplicação isolada de multa: art. 168-A, § 3º, inciso II, CP.
O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido
pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais.
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força
da natureza:
Apropriação de tesouro
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que
tem direito o proprietário do prédio;
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro
no prazo de quinze dias.
Apropriação privilegiada
Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.
CAPÍTULO II - DO ROUBO E DA EXTORSÃO
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência
a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Junto com tráfico de drogas e furto, forma a grande massa prisional brasileira.
→ Grande rigor interpretativo do poder Judiciário (ex. regime inicial de cumprimento de pena).
→ O erro judiciário e o racismo: o reconhecimento.
Crime comum: sujeito passivo: pode ter 2 vítimas de natureza diferente: a que sofreu prejuízo
econômico (loja), mas também o indivíduo sobre o qual recaiu a violência ou grave ameaça.
- Ex: frentista que recebe a grave ameaça e o dono do estabelecimento vítima.
Tipicidade objetiva: Subtrair = retirar algo de outrem, no caso, o objeto material coisa alheia móvel.
Tipicidade subjetiva: dolo. Prescinde-se de intenção de lucro, não importando o motivo do agente.
Modos:
(a) Grave ameaça = é a violência moral, a promessa feita à vítima de mal grave e iminente, a incidir
sobre ela própria ou a terceiro, caso não concorde com a subtração da coisa.
→ Ex: promessa de morte, agressão, violência sexual.
→ Dependendo do contexto, não precisa ser explícita, externalizada (ex: simulação de
emprego de arma, forma dos gritos de exigência).
→ Mas, e se 2 criancinhas te ameaçam para você passar o celular? Dependendo do contexto,
pode não se configurar grave ameaça. Pode até desclassificar pra furto.
Concurso de crimes: imagine que você tá num restaurante, chega um cara e rouba todo mundo
que tá lá dentro. É crime único? Concurso formal? Concurso material?
→ É concurso formal = com uma conduta, rouba-se diversos patrimônio de vítimas distintas.
Ou seja, vários crimes praticados com uma só ação. Essa é a posição majoritária.
→ Ver posição do Alamiro (minoritária)
Consumação: Súmula 582 do STJ - inversão da posse do bem (contra a doutrina majoritária, que
propõe a posse mansa e pacífica do bem).
Roubo impróprio:
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para
si ou para terceiro.
Causas de Aumento
I - (revogado);
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou
para o exterior;
→ Deve efetivamente cruzar a fronteira.
2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído Lei 13.964/2019)
Roubo qualificado
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para
si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa:
Tipicidade objetiva: Constranger alguém a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer. Há uma
exigência de comportamento ativo ou omissivo da vítima.
→ Formas de execução: violência ou grave ameaça. Não pode ser praticada mediante
violência imprópria, como o roubo.
a) Fazer algo = entregar o bem, realizar um depósito de dinheiro em conta bancária, fornecer a
senha do cartão
b) Tolerar que se faça algo = permitir que um bem infungível (como imóvel ou veículo) seja
gratuitamente usufruído;
c) Deixar de fazer alguma coisa = não se candidatar a emprego, não ajuizar uma ação judicial.
Questão: rouba e pede PIX. A pena acaba sendo maior do que seria no caso de homicídio!
→ Pena de roubo + pena de extorsão, em concurso – a pena chega a quase 20 anos.
→ Prof. diz q é bem desproporcional. Para ele, deveria ser visto como um ato único.
Consumação: é um crime formal; consuma-se mesmo sem a vantagem.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
pena de um 1/3 até 1/2.
Qualificadas
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como
condição ou preço do resgate:
Tipicidade objetiva: sequestrar, privar a liberdade de alguém por tempo juridicamente relevante.
→ Alguém = vítima deve ser pessoa humana. Se for animal, será o crime de extorsão.
- Sequestrou o pet e pede dinheiro = é apenas extorsão.
→ Sequestro relâmpago É SÓ EXTORSÃO (no caso da vítima). No mediante sequestro, tem
que ser por tempo juridicamente relevante. No sequestro relâmpago, vai ter aumento por
restrição de liberdade.
→ Crime permanente.
EMS e tortura: por estar em um cativeiro muito ferrado, o agente responde também por tortura?
→ O prof entende que é complicado, que não.
→ É diferente quando há de fato tortura durante o cativeiro (para que a pessoa dê senhas ou
algo assim).
Consumação: no instante em que o sujeito passivo tem sua liberdade cerceada por período
juridicamente relevante, protraindo-se no tempo a consumação enquanto durar esse cerceamento.
Tentativa: ex: vítima que foge da abordagem; é raro. Ela teria que fugir antes do tempo relevante
para se configurar uma extorsão mediante sequestro.
Qualificadoras
§ 3º Se resulta a morte:
Causa de diminuição
Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento
que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
CAPÍTULO IV - DO DANO
Estelionato
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Emprego de artifício, ardil ou fraude: a vítima age imbuída por erro, deflagrado pelo sujeito ativo, ou
por ele aproveitado, mediante sua confirmação ou silêncio.
→ Artifício = é a esperteza empregada por meio de algum artefato, como disfarces,
documento inverídico, falso bilhete premiado;
→ Ardil = é o estratagema verbal, mediante a comunicação de mentiras, como a solicitação
de doação a uma entidade inexistente;
→ Qualquer outro meio fraudulento = fórmula genérica que abarca a generalidade de
maneiras concretas de induzir ou manter a vítima em erro.
→ IMPORTANTE: os mecanismos grosseiros de engodo afastam o delito. Se o meio não for
idôneo para enganar a vítima: crime impossível (pastor que vende terreno no céu).
Sujeito fica pedindo todo o dinheiro da esposa e ela dá. Não necessariamente. Precisa de uma
fraude, um ardil, que a pessoa conte uma mentira.
Vantagem deve ser ilícita, se não estamos diante do exercício arbitrário das próprias razões.
Estelionato x Furto mediante fraude: a vítima é iludida a entregar a coisa no estelionato; no furto
mediante fraude, ela é distraída fraudulentamente para que se dê a subtração clandestina.
Tentativa: vítima percebe o engodo e não envia o dinheiro; vítima vai entregar e é interrompida;
envio é extraviado.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: [cada inciso é um crime, olhar no CP p/ ver a tipificação]
I - Disposição de coisa alheia como própria
II - Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
III - Defraudação de penhor
IV - Fraude na entrega de coisa
V - Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
VI - Fraude no pagamento por meio de cheque
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 a 2/3, se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional.
Atualização legislativa, de 2021. Mas é muito difícil descobrir a autoria desse tipo de golpe.
Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte
sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Pendura: não é crime porque você tem os recursos (mas é um ilícito civil). Se você for pobre,
deixar de pagar um restaurante é crime (pois você não dispõe dos recursos para pagamento).
Art. 172. Duplicata simulada; Art. 173. Abuso de incapazes; Art. 174. Induzimento à especulação;
Art. 175. Fraude no comércio; Art. 177. Fraudes e abusos na fundação ou admin. de sociedade por
ações; Art. 178. Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"; Art. 179. Fraude à
execução.
CAPÍTULO VII - DA RECEPTAÇÃO
Receptação
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa
que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Crime com grande incidência e com muita seletividade penal; ocorre em bens adquiridos pela
população de baixa renda.
Receptação simples própria (art. 180, caput, 1ª parte): perpetrada pelo agente que aufere ou
possui coisa que sabe ser produto de crime.
Receptação simples imprópria (art. 180, caput, 2ª parte): o agente, dolosamente, influencia
terceiro de boa-fé a adquirir, receber ou ocultar a coisa. O transporte, aqui, é atípico.
Casos possíveis:
→ Roubo e venda: a pessoa que rouba E vende pratica apenas o crime de roubo (a venda é
mero exaurimento).
→ Roubo e receptação: não pode ser sujeito ativo da receptação o coautor ou partícipe do
crime antecedente (roubo/furto). A receptação para eventual participante do crime
antecedente constitui pós-fato impunível.
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que
proveio a coisa.
→ Basta a certeza quanto à origem ilícita do bem.
Tipicidade subjetiva: sabe ser x deve saber x deve presumir-se. Existe um problema probatório.
→ Receptação simples: sabe ser; dolo direto.
→ Receptação qualificada: deve saber ser produto de crime; dolo eventual?
→ Receptação culposa: deve presumir-se; culpa.
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
→ Objetivo da receptação qualificada: atingir comerciantes ou industriais envolvidos na
receptação de bens, principalmente veículos automotores, especialmente "desmanche".
→ Elemento subjetivo: “deve saber”. Dolo eventual? Tratamento ilógico. Posição minoritária: a
expressão “que deve saber” é imperativa, não condicional.
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço,
ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as
circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Culpa = violação do dever objetivo de cuidado (ao obter aquele produto).
→ No caso da receptação, o dever objetivo de cuidado é descrito pela lei por meio de
situações em que as condições fáticas indicam que o bem é de origem criminosa.
→ Natureza da coisa: refere-se a um traço distintivo do bem (livro com carimbo da biblioteca);
→ Desproporção entre o valor e o preço da coisa: o valor oferecido é muito inferior ao real
(celular por 100 reais);
→ Condição de quem a oferece: atividades exercidas e a situação econômica de quem deseja
vender o bem (joia valiosa por pessoa em situação de rua) - espaço para a seletividade.
Mas o que ocorre no mundo real é que as pessoas acham que tá mais barato porque é usado. Tem
casos em que é tênue o dever de desconfiança e aceitar o preço mais baixo por ser usado.
→ E a jurisprudência inverte o ônus da prova!!! Fica uma prova diabólica, você precisa provar
que não deveria presumir que o bem era roubado.
→ E o MP tem que comprovar que ela não observou os deveres objetivos de cuidado para
comprar aquele bem.
Causa de aumento
Receptação de animal
Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a
finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que
abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
→ Pegou dinheiro do cônjuge - é isento de pena.
→ Essa isenção de pena tem como fundamento a proteção da unidade e harmonia familiar,
uma vez que a punição do autor do crime pode agravar ainda mais a situação de conflito e
desavença entre os membros da família. Dessa forma, o Estado opta por não aplicar
sanções penais em situações em que os crimes foram cometidos entre pessoas que
possuem vínculos familiares.
→ Isso para resolver na esfera cível.
→ Está sendo decidido no STF violência patrimonial mulher x mulher.
→ ADPF 1185: pedindo pra essa norma não se aplicar quando houver opressão de gênero.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido
em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
O Direito Penal Sexual foi historicamente centrado na figura da mulher, dando origem a uma
distinção legal de gênero, ao mesmo tempo em que era marcado por uma preocupação muito mais
moralizante do que protetiva da liberdade de autodeterminação sexual. Por essa razão, alguns
crimes tinham somente como sujeito passivo a mulher honesta, por exemplo.
Colônia
A mulher negra na situação de escrava sofreu as consequências da negação dos vestígios de
humanidade, com exploração de todo tipo, notadamente física e sexual. Também, as mulheres
indígenas que resistiam sofriam violência de maneira cruel.
→ Caso: Honorata era uma escrava de aproximadamente 12 anos, virgem, que foi “deflorada”
por seu senhor (estuprada). Ela conseguiu levar os fatos ao conhecimento das autoridades,
mas durante o processo teve de permanecer sob a guarda do seu senhor, que foi acusado
pelo crime do art. 219 do Código Criminal: “deflorar mulher virgem, menor de 17 anos”, cuja
pena era de desterro e necessidade de constituição de dote. No entanto, a acusação foi
afastada sob dois argumentos formais:
→ Primeiro, em caso de escravos, quem possuía a legitimidade para realizar uma acusação
era o próprio senhor do escravo, o que não havia ocorrido no presente caso.
→ Segundo, o de que ele não poderia ser punido, pois a pena não faria sentido: se desterrado,
Honorata deveria, como sua propriedade, acompanhá-lo. E não poderia haver constituição
de dote, pois ela era escrava e não poderia se casar.
→ Conclusão: uma criança escravizada poderia ser estuprada livremente por seu senhor.
Atualmente:
A residência é o principal local no qual as mulheres são vítimas de violência.
Há também uma enorme cifra oculta com relação a esse tipo de crime.
→ Motivos: vergonha, sentimento de culpa, medo do autor, receio da conduta dos agentes
públicos, etc.
→ Estimativa de casos de estupro por ano no BR: 822 mil, o equivalente a 2 por minuto.
→ Apenas 8,5% chegam ao conhecimento da polícia e 4,2% são identificados pelo sistema de
saúde (IPEA, 2023).
“Cultura do estupro” = termo utilizado no feminismo estadunidense desde os anos 1970 para se
referir a um conjunto de comportamentos e ações que toleram o estupro praticado contra
mulheres em nossa sociedade. A expressão ganhou notoriedade no Brasil após o estupro coletivo
praticado contra uma adolescente de 16 anos, na cidade do Rio de Janeiro, em 2016.
→ A criminologia feminista destacou o processo de revitimização pelo qual passam as
mulheres vítimas de estupro.
Efeitos sociais para o estuprador: há efeitos que decorrem do etiquetamento de “estuprador” que
impõem uma especial gravidade no cumprimento de pena desse tipo de crime.
→ O estigma do estuprador impede sua aceitação no chamado “mundo do crime”, em
especial nas prisões. Tais pessoas não podem conviver com as demais sob risco de morte.
→ Em razão disso, cumprem pena em espaços conhecidos como “seguro” ou mesmo em
prisões que abrigam apenas pessoas condenadas por crimes sexuais, como o Presídio
José Parada Neto, em Guarulhos-SP.
→ Em decorrência de estarem sob constante ameaça, tais presos precisam se sujeitar por
completo à administração prisional, já que estão sob sua proteção, e qualquer reclamação,
ainda que justa, pode ter como consequência o fim da proteção e a transferência.
→ Assim, na prática, cria-se uma classe de presos que não pode reclamar por seus direitos,
motivo pelo qual submetem-se às piores condições de aprisionamento no sistema
penitenciário brasileiro.
→ Materialmente, portanto, é o crime que tem o cumprimento de pena mais dura.
Histórico legislativo
Ordenações Filipinas (título XVI): referências à mulher virgem, viúva honesta e à escrava branca de
guarda a diferenciar a resposta penal.
Código Criminal do Império (1830): previa o estupro contra mulher honesta, com penas de prisão e
pagamento de dote; porém, se a vítima fosse prostituta, a pena seria reduzida. Ademais, a
punibilidade poderia ser extinta com o casamento.
Código Penal de 1890: mantem-se a ideia de que o estupro somente é praticado em face de mulher
honesta (virgem ou não). Mas, se a mulher fosse “pública ou prostituta”, redução de pena.
Também trazia o crime de adultério ou infidelidade conjugal, dirigido exclusivamente à mulher
casada (no caso de maridos, demandava-se a manutenção de um concubinato, uma relação
estável).
Código Penal de 1940: no título “Crimes Contra os Costumes”, previu que o estupro somente
poderia ser praticado por homens e contra mulheres. Havia outra figura (atentado violento ao
pudor) para o constrangimento para ato diverso da conjunção carnal. Também manteve a previsão
de “mulher honesta” nos demais crimes sexuais que continha. Procedia-se somente mediante
representação.
→ A doutrina não recebeu o termo “mulher honesta” com maiores preocupações até
praticamente a virada do século.
→ Outra questão que teve apoio doutrinário foi o “direito do marido a ter relações sexuais
com a mulher”, sendo inexistente o estupro entre marido e mulher, que não poderia de opor
à vontade masculina.
→ Os chamados “crimes contra os costumes” adentraram o século XXI e só sofreram
alteração em 2005 por reforma legislativa efetivada pela Lei 11.106/2005.
Lei 11.106/2005: importante lei que:
→ Descriminalizou os crimes de sedução e rapto;
→ Retirou a categoria de “mulher honesta” do CP.
→ Retirou a extinção da punibilidade pelo casamento nos crimes sexuais.
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Divergência: se a pessoa pratica mais de uma das figuras, é crime único ou continuado? Principal
corrente: crime único.
O dissenso da vítima não precisa acompanhar a vítima durante todo o ato sexual. Pode começar
consensual, mas se surgir um dissenso no meio do ato e a outra pessoa não para, é estupro.
Modus operandi: violência ou grave ameaça. Além da própria vítima, a grave ameaça pode se
voltar a terceiro.
Qualificadoras:
Art. 214 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com
ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal: Pena - reclusão, de 6 a 10 anos.
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos:
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2º (VETADO)
Sujeito passivo: vulnerável (menor de 14 anos, deficientes mentais e pessoas que no momento
estão incapazes de oferecer resistência).
→ Criança: jurisprudência x doutrina. ECA - criança é até 12 anos.
- Entre adolescentes, não se criminaliza a conduta (mesmo se for de 15 e de 13).
Formalmente, seria um ato infracional. Mas é irracional e não se criminaliza esse tipo
de conduta.
- PS: pessoa de 15 anos que tem relação consensual, sem violência ou grave ameaça,
com pessoa de 50 anos: não é estupro.
→ Questão: deficientes mentais não podem ter sua liberdade sexual ceifada.
- Estatuto da Pessoa com Deficiência, Art. 6º: A deficiência não afeta a plena
capacidade civil da pessoa, inclusive para: II-exercer direitos sexuais e reprodutivos.
- Isso não significa que a pessoa pode praticar sexo livremente, mas as coisas têm que
ser avaliadas no caso concreto.
- Ou seja, se uma pessoa com deficiencia mental esta transando, não é logo de cara
estupro de vulnerável, tem que se avaliar a intensidade do transtorno mental.
→ Incapacidade de oferecer resistência: embriaguez, pessoa dopada.
Violência é presumida: não importa se tem violência, grave ameaça OU MESMO se houve
consentimento da vítima.
Estupro por omissão: É possível, em caso de crimes omissivos impróprios. Aqueles em que a
pessoa, devido à sua posição de garantidora do bem jurídico (garante), tem o dever de agir para
evitar determinado resultado, mas não o faz, mesmo podendo, e assim contribui para tal desfecho.
→ Ex: mãe que não impede estupro de filha pelo padrasto.
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 6 anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
Estupro: é mediante violência ou grave ameaça.
Violação sexual mediante fraude: é mediante fraude, indução ao engano ou com a possibilidade de
livre manifestação de sua vontade turbada.
→ Erro sobre a identidade do agente: caso do irmão gêmeo idêntico.
→ Erro quanto à legitimidade da prática sexual ou libidinosa: ato sexual consentido ao
curandeiro para fins de se supostamente atingir a cura da doença.
→ João de Deus, curandeiro.
→ Furar camisinha? Por si só parece que não vai ser fraude.
Nem toda fraude caracteriza o crime, apenas aquela de relativa gravidade que leva a erro sobre a
identidade do agente ou acerca da legitimidade da prática sexual ou libidinosa.
Não abrange a hipótese em foco o erro sobre o estado civil do agente, a sua condição econômica
ou importância social.
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído - Lei 13.718/2018)
Antes da inclusão desse artigo, não havia um meio termo entre o crime de estupro e a
contravenção penal de Importunação ao pudor (art. 61, LCP) - que, inclusive, foi revogado.
→ Mudou com o caso do cara que ejaculou na moça no ônibus. Porque não é bem esturpo,
nem a contravenção penal.
→ Ex: cara que apertou a bunda da mulher no elevador.
Crime que opera sobre vítimas adultas. Quando a vítima é menor, a doutrina/jurisprudência
identifica como estupro de vulnerável.
Tipicidade objetiva: Praticar contra = traz a ideia de que o ato libidinoso deve ser dirigido a uma ou
a algumas vítimas específicas.
→ Ou seja, masturbação direcionada a uma vítima determinada, é importunação (Art. 215-A).
→ Mas masturbação em público, sem alguém específico em mira, é ato obsceno (Art. 233).
“Se não constituir crime mais grave”: somente resta configurada a figura delitiva em destaque
quando não houver elementares de outros crimes sexuais, como estupro, violação sexual
mediante fraude e estupro de vulnerável.
Art. 216. Induzir mulher honesta, mediante fraude, a praticar ou permitir que com ela se pratique
ato libidinoso diverso da conjunção carnal: (Redação original do CP 1940)
Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a praticar ou submeter-se à prática de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal: (Redação - Lei 11.106/2005)
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função.
Foi a primeira manifestação na lei penal que se deu em razão do movimento feminista, em 2001.
→ Crítica: “constranger”, neste tipo penal, não tem o mesmo significado que no crime de
estupro; não significa “forçar”.
→ No geral, deve ocorrer com insistência. Mas algum molestamento sério, ainda que por ato
único, pode configurar o tipo.
→ Ex.: beijar o pescoço da vítima ou apalpar-lhe as nádegas no local de trabalho, convidá-la
para o motel, condicionar a sua promoção ao sexo.
→ "Limitada e educada paquera" (elogios pontuais, breves e gentis, um único convite para
jantar ou um único flerte): atipicidade. Ultima ratio do direito penal.
→ Atenção: a ação constrangedora deve ser idônea para incutir medo, insegurança. Se for
tamanho a ponto de ser grave ameaça (tranca na sala o funcionário e exige sexo) o crime
será de estupro, consumado ou tentado.
Crime próprio: não distinção acerca do gênero dos sujeitos ativos e passivos.
Assédio, no geral, é crime? Não, somente assédio sexual (relacionado a questões LABORAIS).
→ Assédio fora das relações de trabalho: pode ser stalking, crime contra a honra, etc. A não
ser tb que se manifeste de maneira mais grave.
→ Mas quando falamos corriqueiramente em assédio geralmente pensamos em condutas
que caem em importunação sexual.
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 meses a 1 ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou
qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso
de caráter íntimo.
Tipificação veio em 2018, com má redação legislativa. O título do Capítulo I-A (Exposição da
intimidade sexual) destoa da rubrica e do conteúdo do art. 216-B, que trata do simples registro não
autorizado da intimidade sexual.
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar
ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de
informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de
estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Problemas de redação:
→ Por mais que esteja no capítulo de crimes contra vulnerável, não se aplica somente a
vítimas vulneráveis.
→ Ademais, o tipo mistura condutas de gravidades diferentes: divugação de foto de pessoa
seminua e divulgação de vídeo de estupro, por exemplo.
Vítima for menor de 18 anos: tem uma série de crimes no ECA (Arts. 240, 241, 241-A e 241-B).
Receptor: a pessoa que recebe a mídia que foi disseminada pelo agente, nada fazendo a respeito
(não retransmitindo, distribuindo, vendendo etc.), não comete o delito do art. 218-C. Porém, no
caso de registro de cena sexual ou pornográfica de menor de 18 anos, o receptor deve, ao tomar
ciência de seu conteúdo, promover à sua exclusão imediata, sob pena de ser-lhe atribuída a prática
do crime previsto no art. 241-B do ECA, nas modalidades possuir ou armazenar.
Aumento de pena
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha
mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
→ Caso da pornografia de vingança.
Exclusão de ilicitude
Corrupção de menores
Tipicidade objetiva: Induzir = incutir uma ideia, criar um propósito inexistente, convencer.
→ Pode se dar com ou sem promessa de vantagem de qualquer tipo (mediante pagamento,
presentes ou mesmo porque cedeu a argumentos do agente de que seria bom para a sua
maturidade, por ex.).
O agente realiza ato sexual ou libidinoso consciente de que é assistido por um menor de 14 anos.
O menor de 14 anos tem de assistir aos referidos atos, sem participar deles. Presença física.
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
§ 1º Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de
14 anos na situação descrita no caput deste artigo;
Vítima menor de 14 anos submetida à prostituição e chegar a praticar relação sexual ou libidinosa,
é estupro de vulnerável.
→ E o agente que contribuiu para a prostituição da vítima responde exclusivamente como
partícipe do crime mais gravoso.
Havia a figura de prostituição infantil no Art. 244-A do ECA (incluído em uma lei de 2000). Houve
revogação tácita desse artigo do ECA pelo Art. 218-B do CP (incluído em 2009).
→ Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta
Lei, à prostituição ou à exploração sexual: (Incluído - Lei 9.975/2000)
Porém, em 2017, veio uma lei que aumentou a pena do Art. 244-A do ECA, havendo revogação
parcial do CP.
→ Pena – reclusão de 4 a 10 anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na
prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade
da Federação em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
(Redação - Lei 13.440/2017)
Ou seja: como o Código Penal é mais amplo que o ECA, ele apenas vigora não é abarcado no ECA.
Disposições Gerais
Ação penal
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal
pública incondicionada. Parágrafo único. (Revogado).
Aumento de pena
III - (Revogado)
Aumento de pena
I - (VETADO);
II - (VETADO);
IV - de 1/3 a 2/3, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe
ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência. (Redação
- Lei 13.718/ 2018)
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de
justiça.
Crime comum: qualquer pessoa pode praticá-lo, mas a vítima precisa ser maior de 18 anos e
capaz (se não, incide o Art. 218-B).
Qualificadas
§ 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação
de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos.
→ Diante do dever de proteção, a reprovabilidade da conduta desses agentes é mais elevada.
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de 4 a 10 anos, além da pena correspondente à violência.
→ Fraude: forma de viciar a vontade. Porém, se você entende a prostituição como algo sem
voluntariedade, qualquer entrada na atividade, terá vício de vontade.
Casa de prostituição
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração
sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de 2 a 5 anos, e multa.
→ Redação original: “casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim libidinoso”.
Motel, casas de swing, saunas, etc. eram criminalizadas. Isso só cai em 2009.
→ Redação atual: inclui apenas exploração sexual, não prostituição. Na visão do prof.
visitante, a redação não tem problemas e está correta. Porém, o título do crime fala em
“casa de prostituição”.
→ Jurisprudência - STF (2001): condenou uma casa de prostituição, equivalendo a
prostituição com a exploração sexual. O STF não enfrentou mais esse crime recentemente.
→ Jurisprudência mais atual - STJ (2018): alterou o entendimento do tribunal, deixando claro
que a exploração deve ser lida como a violação da liberdade pessoal.
→ Qual é a vítima desse crime? Apesar de não estar aparente no tipo penal, o professor
entende que deve ser a pessoa submetida à exploração sexual, e não a coletividade (pois já
não se trata mais de crimes contra os costumes).
→ Crime permanente: enquanto a casa de exploração sexual estiver sendo mantida, há a
ocorrência de crime.
→ Tipo subjetivo: dolo de manutenção do estabelecimento no qual se sabe que existe
exploração sexual.
- Não se criminaliza o proprietário que aluga um imóvel sem saber a finalidade.
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
→ Rufianismo: é o cafetão, a pessoa que tira proveito da atividade de prostituição de forma
parasitária.
→ Exemplo claro de criminalização do entorno da prostituição.
Qualificadas
§ 1º Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por ascendente,
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 a 6 anos, e multa.
→ Vítima = pessoa exercendo a prostituição.
§ 2º Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça
ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
→ Importante. É o único dispositivo que fala em livre manifestação da vontade.
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem
econômica, a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país
estrangeiro.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se:
I - o crime é cometido com violência; ou
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações
conexas.
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Bem jurídico: pudor público, sentimento coletivo de vergonha perante alguns atos.
→ Não é o pudor individual de quem viu uma pessoa pelada na rua. É o pudor coletivo. Está
na lógica dos crimes contra os costumes.
→ PS: existe uma corrente minoritária que tenta salvar o artigo dizendo que na verdade o bem
tutelado é a liberdade individual da pessoa que não é obrigada a ficar vendo pessoas
peladas em público.
Condutas que o TJ recentemente julgou como atos obscenos: urinar na rua, masturbação, sexo no
carro, sexo em praça pública. Também julgaram um caso de andar de cueca na rua (mas foi
julgado como fato atípico, não consideraram ato obsceno).
Legislador estabeleceu três lugares em que os atos não podem ser cometidos:
→ Lugar público = pleno acesso ao público (rua, avenida, shopping praça);
→ Lugar aberto ao público = é aberto, mas vc precisa de título pra entrar (teatro, cinema,
museu);
→ Lugar exposto ao público = lugar privado que pessoas em lugares públicos podem
visualizar (transar no carro, na varanda, no jardim de uma casa).
Se o ato obsceno for praticado em lugar privado, ele não é típico. E se o observador se esforça pra
ver o ato, a conduta tb não é típica.
Tipicidade subjetiva: dolo, vontade de praticar o ato obsceno. Irrelevante se o animus é jocante, se
é pra vender, se é pra satisfazer a lascívia de terceiro.
Legitimidade: faz sentido a criminalização desse tipo penal? Coisas que o prof. aponta:
→ Pro prof., há um problema de taxatividade muito clara - ato obsceno é uma expressão
muito ampla e tira qualquer sorte de segurança jurídica.
→ Bem jurídico também é um problema - o ultraje público ao pudor. Vc acaba por limitar o
autodesenvolvimento da personalidade das pessoas. Ao criminalizar atos que atentem
contra um suposto pudor público (ex: beijo forte), você tá impondo uma moral dominante.
Direito penal não deveria intervir - ultima ratio - são condutas que muito bem poderiam ser
resolvidas por outros meios - ex: urinar na rua - SP e Rio têm leis específicas pro caso de vc
ser pego urinando na rua, vc toma uma multa de 500 reais. simples e fácil.
- E as exceções que são mais graves, elas podem ser encaixadas em importunação
sexual.
Há ainda um cenário mais grave quando se usa esse crime pra censurar manifestações artísticas
e políticas de diversas naturezas.
→ Ex: na época do Bolsonaro, várias exposições artísticas que continham nudez foram
censuradas e o artistas processados por ato obsceno.
→ Ou seja, censura a arte, a liberdade de expressão, manifestação e pensamento.
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de
distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto
obsceno:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição
cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo
caráter;
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de
caráter obsceno.
As críticas que recaem ao ato obsceno podem ser rigorosamente feitas ao objeto obsceno.
Ou seja, sex shop, qqr loja que venda camisetas com alguma estampa de nudez, todas as
plataformas de pornografia.
→ O consumidor não está abarcado (o adquirir é adquirir para fins de comércio), somente o
vendedor
→ Se o MASP trouxer qqr quadro de nudez, ele tá enquadrado nesse artigo.
→ Cinema com nudez não pode tb.
Mas não há aplicação jurisprudencial desse artigo, caiu em desuso. Adequação social.
Extras
PS: na medida de segurança (Art. 98), define-se o que é detenção/reclusão, mas tá caindo em
desuso, ninguém aplica.
Autor que o prof. gosta que estuda a aplicação da pena - Salo de Carvalho. Existem pouquíssimos
que se debruçam de forma séria.
primeira etapa => só vai se aplicar se houver penas alternativas PPL OU multa.
→ se não houver justificativa de gravidade, ele tem que escolher a mais leve (multa)
→ se ele quiser aplicar a PPL, tem que fundamentar.
→ são poucos os crimes que tem esse tipo de pena alternativa.
CONCURSO DE QUALIFICADORAS - Você usa uma delas pra qualificar e a segunda como
circunstância judicial negativa.
REGIME
Reincidente = em princípio, pelo código, iria tudo pro fechado. Mas a jurisprudência atuou pra
mudar isso. geralmente, se é reincidente, sobe um grau nos regimes.
CJ negativa = tb é usada pra subir um degrau.
Prova 1